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CARATERIZAÇÃO ACÚSTICA DA CASA

DA CULTURA DE ÍLHAVO

MANUEL JOÃO PEREIRA RIBAS

Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de


MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL — ESPECIALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÕES

Orientador: Professor Doutor António Pedro Oliveira de Carvalho

JULHO DE 2023
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Tel. +351-22-508 1901
 miec@fe.up.pt

Editado por
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Rua Dr. Roberto Frias
4200-465 PORTO
Portugal
Tel. +351-22-508 1400
 feup@fe.up.pt
 http://www.fe.up.pt

Reproduções parciais deste documento serão autorizadas na condição que seja


mencionado o Autor e feita referência a Mestrado Integrado em Engenharia Civil -
2022/2023 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2023.

As opiniões e informações incluídas neste documento representam unicamente o


ponto de vista do respetivo Autor, não podendo o Editor aceitar qualquer
responsabilidade legal ou outra em relação a erros ou omissões que possam existir.

Este documento foi produzido a partir de versão eletrónica fornecida pelo respetivo
Autor.
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar quero agradecer aos meus pais que nunca deixaram de acreditar em mim
e são acima de tudo um exemplo de dedicação e trabalho que me incentiva a fazer mais e
melhor.

Agradeço aos meus amigos e à minha namorada que estiveram sempre do meu lado tanto
nos momentos de bonomia e descontração, como nas situações mais difíceis.

Quero deixar um forte agradecimento ao meu orientador, o professor António Oliveira de


Carvalho, pela sua atenção ao detalhe e pelo facto de não ter desistido de mim.

Agradeço também ao Engenheiro António Eduardo Costa pela sua disponibilidade na


deslocação e na medição do caso de estudo.

iii
iv
RESUMO

A presente dissertação tem como principal objetivo o desenvolvimento e a valorização do


conhecimento acústico através da caraterização e análise de um caso de estudo particular, o
do auditório da Casa da Cultura de Ílhavo (CCI).

Inaugurado em 2008, o projeto da autoria do arquiteto Ilídio Ramos teve um projeto de


acondicionamento acústico gerido pela empresa InAcoustics. O auditório apresenta 491
lugares sentados distribuídos por 19 filas. O palco, com uma área útil de 172 m 2 tem
capacidade para albergar uma grande variedade de atividades culturais com foco na música
e no teatro. Adicionalmente, possui todos os equipamentos técnico-visuais essenciais para a
apresentação artística.

A dissertação principia com uma breve contextualização das várias áreas da acústica que irá
servir de base para a compreensão dos conceitos referidos posteriormente. De seguida,
procedeu-se a uma análise do conhecimento científico mais específico da acústica de
auditórios, observando-se a importância do tempo de reverberação e do coeficiente de
absorção sonora no resultado acústico final. De seguida, são expostas as várias legislações e
recomendações relativamente a diversos parâmetros acústicos, de modo a garantir todas as
exigências funcionais de edificações.

As medições feitas in situ incidem sobre o tempo de reverberação, o ruído de fundo com e
sem o funcionamento do sistema AVAC e a inteligibilidade da palavra medida através do
sistema RASTI.

Os valores obtidos através da análise das medições foram de 1,0 s para o tempo de
reverberação médio (500, 1000 e 2000 Hz), 25 e 36 dB para o L Aeq do ruído de fundo global
médio sem e com o sistema AVAC ligado, 20 e 25 para as curvas NC sem e com o sistema
AVAC ligado, 25 e 27 para as curvas NR sem e com o sistema AVAC ligado e valores de
RASTI compreendidos entre 0,63 e 0,76.

Com base nos resultados obtidos, realizou-se um estudo comparativo com outras seis salas
localizadas em Portugal que já foram previamente alvo de análise acústica. Esta
comparação permitiu concluir que a CCI apresenta bom comportamento acústico para a
música, verificando-se algumas dificuldades para a palavra em condições de funcionamento
do sistema AVAC.

PALAVRAS-CHAVE: Acústica, Absorção sonora, Sala de espetáculos, Tempo de


reverberação, RASTI, Inteligibilidade da palavra

v
vi
ABSTRACT

The following thesis main objectives was the development and enhancement of acoustic
knowledge through the characterization and analysis of a particular case study, the
auditorium of the Casa da Cultura de Ílhavo (CCI).

Opened in 2008, the project was designed by the architect Ilídio Ramos and the acoustic
design was managed by the company InAcoustics. The auditorium has 491 seats distributed
over 19 rows. The stage, with a usable area of 172 m 2, has the capacity to host a wide
variety of cultural activities focusing on music and theatre. Additionally, it has all the
essential technical and visual equipment needed for artistic presentations.

The thesis begins with a brief contextualization of the various areas of acoustics that will
serve as a basis for understanding the concepts referred to later. An analysis of the more
specific scientific knowledge of auditorium acoustics is carried out, observing the
importance of reverberation time and absorption coefficient in the final acoustic result.
Next, the various laws and recommendations regarding the various acoustic parameters are
exposed to ensure all the functional requirements of buildings.

The measurements made in situ focus on the reverberation time, the background noise with
and without the operation of the HVAC system and the speech intelligibility measured
through the RASTI system.

The values obtained through the analysis of the measurements were 1.0 s for the mean
reverberation time (500, 1000 and 2000 Hz), 25 and 36 dB for the global average
background noise (LAeq) without and with the HVAC system on, 20 and 25 for the NC
curves without and with the HVAC system on, 25 and 27 for the NR curves without and
with the HVAC system on, and RASTI values between 0.63 and 0.76.

Based on the results obtained, a comparative study was carried out with other six rooms
located in Portugal that had been previously subjected to acoustic analysis. This comparison
allowed us to conclude that the CCI presents good acoustic behavior for music, while there
are some difficulties for speech under operating conditions of the HVAC system.

KEYWORDS: Acoustics, Absorption, Concert hall, Reverberation, RASTI, Speech


Intelligibility

vii
viii
ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS........................................................................................................................... i

RESUMO.......................................................................................................................................... iii

ABSTRACT......................................................................................................................................... v

ÍNDICE DE FIGURAS........................................................................................................................ xi

ÍNDICE DE QUADROS..................................................................................................................... xv

SÍMBOLOS E ABREVIATURAS...................................................................................................... xvii

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1
1.1. ENQUADRAMENTO E OBJETIVOS............................................................................................ 1

1.2. ESTRUTURA DA TESE................................................................................................................ 2

2. CONCEITOS ACÚSTICOS..................................................................................3
2.1. NOÇÕES TEÓRICAS BÁSICAS ................................................................................................... 3

2.1.1. O SOM .................................................................................................................................... 3

2.1.2. OUVIDO HUMANO.................................................................................................................... 4

2.1.3. CELERIDADE............................................................................................................................ 5

2.1.4. INTENSIDADE E POTÊNCIA SONORA......................................................................................... 5

2.1.5. NÍVEL DE PRESSÃO SONORA.................................................................................................... 6

2.1.6. FREQUÊNCIA........................................................................................................................... 7

2.1.7. RUÍDO BRANCO E RUÍDO ROSA................................................................................................ 9

2.2. ABSORÇÃO SONORA............................................................................................................... 10

2.2.1. DEFINIÇÃO............................................................................................................................ 10

2.2.2. MATERIAIS E SISTEMAS DE ABSORÇÃO SONORA...................................................................11

2.3. TEMPO DE REVERBERAÇÃO .................................................................................................. 12

2.3.1. DEFINIÇÃO............................................................................................................................ 12

ix
2.3.2. TEMPO DE DECAIMENTO CURTO (EDT)................................................................................. 13

2.3.3. RÁCIO DE BAIXOS (BR)......................................................................................................... 13

2.3.4. FÓRMULAS DE PREVISÃO....................................................................................................... 14

2.4. ISOLAMENTO SONORO ........................................................................................................... 14

2.4.1. DEFINIÇÃO............................................................................................................................ 14

2.4.2. ISOLAMENTO SONORO A RUÍDOS AÉREOS................................................................................. 15

2.4.3. ISOLAMENTO SONORO A RUÍDOS DE PERCUSSÃO......................................................................16

2.4.4. RUÍDO DE EQUIPAMENTOS...................................................................................................... 16

2.5. INTELIGIBILIDADE DAS PALAVRAS ....................................................................................... 17

2.5.1. VOZ HUMANA........................................................................................................................ 17

2.5.2. PARÂMETROS DE MEDIDA..................................................................................................... 17

2.6. ACÚSTICA ARQUITETÓNICA .................................................................................................. 18

2.6.1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 18

2.6.2. REFLEXÕES............................................................................................................................ 18

2.6.3. DIFUSÃO................................................................................................................................ 19

2.6.4. CONCHAS ACÚSTICAS............................................................................................................. 19

2.6.5. CANÓPIAS.............................................................................................................................. 20

3. ESTADO DA ARTE.................................................................................................. 21
3.1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA......................................................................................... 21

3.2. EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS...................................................................................................... 24

3.2.1. PRINCÍPIOS GERAIS................................................................................................................. 24

3.2.2. EXIGÊNCIAS PARA A MÚSICA.................................................................................................. 25

3.2.3. EXIGÊNCIAS PARA A PALAVRA................................................................................................ 26

3.2.4. EXIGÊNCIAS PARA O TEATRO.................................................................................................. 26

3.2.5. EXIGÊNCIAS EM SALAS COM MÚLTIPLOS FINS..........................................................................27

3.3. LEGISLAÇÃO PORTUGUESA..................................................................................................... 28

x
4. METODOLOGIA....................................................................................................... 31
4.1. CASA DA CULTURA DE ÍLHAVO ............................................................................................ 31

4.1.1. ENQUADRAMENTO GERAL....................................................................................................... 31

4.1.2. CARATERIZAÇÃO ARQUITETÓNICA E GEOMÉTRICA...................................................................32

4.2. EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO.................................................................................................. 34

4.3. PARÂMETROS ACÚSTICOS MEDIDOS......................................................................................... 35

4.3.1. DEFINIÇÃO............................................................................................................................. 35

4.3.2. METODOLOGIA – TEMPO DE REVERBERAÇÃO..........................................................................35

4.3.3. METODOLOGIA - RUÍDO DE FUNDO (AVAC LIGADO/DESLIGADO)............................................36

4.3.4. METODOLOGIA - RASTI (RAPID SPEECH TRANSMISSION INDEX)...............................................36

5. RESULTADOS OBTIDOS................................................................................... 39
5.1. TEMPO DE REVERBERAÇÃO .................................................................................................. 39

5.2. RUÍDO DE FUNDO..................................................................................................................... 45

5.3. CURVAS DE INCOMODIDADE NC E NR..................................................................................... 50

5.4. RASTI..................................................................................................................................... 54

6. COMPARAÇÃO COM OUTRAS SALAS...............................................57


6.1. INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 57

6.2. TEMPO DE REVERBERAÇÃO..................................................................................................... 57

6.3. RUÍDO DE FUNDO..................................................................................................................... 59

6.3. RASTI..................................................................................................................................... 61

7. CONCLUSÃO............................................................................................................... 65
7.1. CONCLUSÕES .......................................................................................................................... 65

7.2. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ............................................................................................ 67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................69

xi
xii
ÍNDICE DE FIGURAS

Fig.2.1 – Compressão e Rarefação observada numa onda sonora [2]......................................................3

Fig. 2.2 – O ouvido humano subdividido em três zonas [14]...................................................................4

Fig.2.3 – Esquema do mecanismo de funcionamento acústico (em frequência) da cóclea [1]................4

Fig.2.4 – Representação visual da intensidade (I) e da potência sonora (W) [1].....................................5

Fig.2.5 – Exemplos de diferentes níveis de pressão sonora e a sua pressão [16].....................................6

Fig.2.6 – Espetro sonoro de diversos animais [17]...................................................................................7

Fig.2.7 – Representação de sons através de oscilogramas (esquerda) e de espetros sonoros


(direita) [1]................................................................................................................................................7

Fig.2.8 – Variação da sensibilidade auditiva em função da variação na frequência [5]...........................8

Fig.2.9 – Diferença entre ruído rosa (pink noise) e ruído branco (white noise), numa escala
logarítmica [19].........................................................................................................................................9

Fig.2.10 – Comportamento de diferentes sistemas absorventes para diferentes frequências [1]...........11

Fig.2.11– Som direto e som refletido numa sala [20].............................................................................12

Fig.2.12– Medição direta do tempo de reverberação (direita) e a extrapolação (esquerda) [10]...........13

Fig.2.13– Transmissão direta e indireta, ou marginal [22].....................................................................15

Fig.2.14– Diferenciação entre ruídos aéreos (esquerda) e ruídos de percussão (direita) [23]................15

Fig.2.15– Curvas Noise Criterion (esquerda) e Curvas Noise Rating (direita) [62] e [24]....................16

Fig.2.16– Reflectograma com eco [1].....................................................................................................18

Fig.2.17– Difusores comerciais: Quadratic Residue Diffuser (QRD) (esquerda) e Pirâmides


difusoras de som (direita) [63] e [64].....................................................................................................19

Fig.2.18 – Exemplos de conchas acústicas ao ar livre (Wembley Park, Reino Unido) (esquerda)
e no interior (direita) (Alaska Center for the Performing Arts, Estados Unidos da América) [66]
e [67].......................................................................................................................................................19

Fig.2.19 – Púlpito com canópia (Catedral de Genebra, Suíça) [68].......................................................20

Fig.3.1– Teatro Argos (Argos, Grécia) [35]...........................................................................................21

Fig.3.2– Interior de uma igreja Gótica (Colônia, Alemanha) [40].........................................................22

xiii
Fig.3.3– Valores do tempo de reverberação em relação com o estilo arquitetónico (1 -
Visigótico, 2-Românico, 3- Gótico, 4-Manuelino, 5-Renascentista, 6-Barroco, 7-Neoclássico e
8-Contemporâneo) com barra de erro de desvio [42].............................................................................23

Fig.3.4– Plantas para auditórios de música [46].....................................................................................25

Fig.3.5– Cálculo das linhas de visão com base no APS (Arrival Point of Sight) [46]...........................26

Fig.3.6– Palco proscénico (esquerda) e palco central (direita) [45].......................................................27

Fig.3.7– Seção do teatro Milton Keynes (Milton Keynes, Reino Unido) onde se evidencia o teto
móvel [11]...............................................................................................................................................28

Fig.3.8– Exemplos de mecanismos de absorção variável [1].................................................................28

Fig.4.1– Localização da Casa da Cultura de Ílhavo [50] e [59].............................................................31

Fig.4.2– Auditório da Casa da Cultura de Ílhavo [foto do autor]...........................................................32

Fig.4.3– Corte Transversal do auditório [60].........................................................................................32

Fig.4.4– Planta do auditório [61]............................................................................................................33

Fig.4.5– Sonómetro Brüel & Kjær, modelo 2260 (a), Fonte sonora Brüel & Kjær, modelo 4224
(direita) (b) [fotos do autor]....................................................................................................................34

Fig.4.6– Equipamento RASTI [fotos do autor]......................................................................................34

Fig.4.7– Posições das medições para o tempo de reverberação (T1, T2, T3) e da fonte sonora
(FS) no palco [61]...................................................................................................................................35

Fig.4.8– Posições das medições do ruído de fundo (F1, F2) e da fonte sonora (FS) no palco [61]
................................................................................................................................................................36

Fig.4.9– Posições das medições do RASTI (R1, R2, R3, R4, R5, R6) e da fonte sonora (FS) no
palco [61]................................................................................................................................................37

Fig.5.1– Esquema em planta da posição dos lugares do auditório do Centro Cultural de Ílhavo
[51]..........................................................................................................................................................39

Fig.5.2– Valores do tempo de reverberação (s) de cada ponto medido juntamente com a sua
média, nas bandas de frequência de 1/3 oitava entre 100 e 5000 Hz.....................................................41

Fig.5.3– Tempos de reverberação em condições de sala vazia (medido) e com ocupação total
(previsto), nas bandas de frequência de 1/1 oitava entre 125 e 4000 Hz................................................43

Fig.5.4– Níveis de pressão sonora do ruído de fundo em dB por bandas de frequência de 1/3 de
oitava (Hz), com o sistema AVAC desligado e sem ocupação..............................................................48

xiv
Fig.5.5– Níveis de pressão sonora do ruído de fundo em dB por bandas de frequência de 1/3 de
oitava (Hz), com o sistema AVAC ligado e sem ocupação....................................................................48

Fig.5.6– Comparação gráfica entre os valores médios do nível de pressão sonora de ruído de
fundo (dB), em bandas de frequência de 1/3 de oitava com e sem o funcionamento do sistema
de ventilação...........................................................................................................................................49

Fig.5.7– Comparação gráfica entre valores médios do nível de pressão sonora de ruído de fundo
(dB) com o filtro A (L A), em bandas de frequência de 1/3 de oitava com e sem o funcionamento
do sistema de ventilação.........................................................................................................................49

Fig.5.8– Curva da diferença média entre os níveis de pressão sonora do ruído AVAC e ruído de
fundo, em função da frequência..............................................................................................................50

Fig.5.9– Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NC, com o
AVAC desligado.....................................................................................................................................51

Fig.5.10– Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NC, com
o AVAC ligado.......................................................................................................................................51

Fig.5.11– Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NR, com
o AVAC desligado..................................................................................................................................52

Fig.5.12– Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NR, com
o AVAC ligado.......................................................................................................................................52

Fig.6.1– Relação entre os valores do tempo de reverberação médio para as bandas de frequência
de 1/1 oitava entre os 500 e os 2000 Hz e o volume das salas [53], [54], [55], [56], [57], [58]............57

Fig.6.2– Representação entre o RASTI médio das diferentes salas e os seus valores do tempo de
reverberação médio medido para as bandas de frequência de 1/1 oitava entre os 500 e os 2000
Hz [54], [55], [56], [57], [58].................................................................................................................60

Fig.6.3– Representação entre o RASTI médio das diferentes salas e o LAeq do ruído de fundo
sem o funcionamento do sistema de ventilação [54], [55], [56], [57], [58]...........................................60

Fig.6.4– Representação entre o RASTI mínimo das diferentes salas e os seus valores do tempo
de reverberação médio medido para as bandas de frequência de 1/1 oitava entre os 500 e os
2000 Hz [54], [55], [56], [57], [58]........................................................................................................61

Fig.6.5– Representação entre o RASTI mínimo das diferentes salas e o LAeq do ruído de fundo
sem o sistema de ventilação ligado [54], [55], [56], [57], [58]..............................................................61

xv
ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 2.1 – Valores das ponderações do filtro A para bandas de frequências audíveis [18].................9

Quadro 2.2 – Classe de absorção sonora α w , adaptado de [1]................................................................10

Quadro 2.3 – Coeficientes de absorção sonora de alguns materiais e sistemas em função da


frequência [1]..........................................................................................................................................11

Quadro 2.4 – Variabilidade da emissão da voz entre vogais e consoantes [1].......................................17

Quadro 2.5 – Valores dos intervalos dos índices STI e RASTI, e correspondente classificação
em termos de inteligibilidade da palavra (traduzido de [25]).................................................................18

Quadro 3.1 – Parâmetros acústicos subjetivos e objetivos [44]..............................................................24

Quadro 3.2 – Valores recomendados para o tempo de reverberação e a claridade (adaptado de


[1] e [13])................................................................................................................................................25

Quadro 4.1 – Dimensões aproximadas da plateia do auditório..............................................................33

Quadro 5.1 – Resultados das medições do Tempo de Reverberação (T30) no auditório do Centro
da Cultura de Ílhavo................................................................................................................................40

Quadro 5.2 – Verificação do cumprimento do RRAE para o tempo de reverberação com função
assente na “oratória”...............................................................................................................................41

Quadro 5.3 – Parâmetros utilizados para o cálculo do tempo de reverberação com a sala toda
ocupada e com metade da lotação...........................................................................................................42

Quadro 5.4 – Cálculo dos valores estimados para o tempo de reverberação em condições de sala
completamente ocupada e com 50% da lotação nas frequências entre 125 e 4000 Hz em bandas
de 1/1 oitava............................................................................................................................................43

Quadro 5.5 – Comparação dos valores do tempo de reverberação em situação de ocupação total
e nula em função do tipo de utilização [1]..............................................................................................45

Quadro 5.6 – Níveis de ruído de fundo em bandas de 1/3 oitava nas frequências compreendidas
entre 20 e 20000 Hz sem sistema de ventilação em funcionamento, bem como o nível sonoro
equivalente com e sem o filtro A............................................................................................................46

Quadro 5.7 – Níveis de ruído de fundo em bandas de 1/3 oitava nas frequências compreendidas
entre 20 e 20000 Hz com o sistema de ventilação ligado, bem como o nível sonoro equivalente
com e sem o filtro A...............................................................................................................................47

Quadro 5.8 – Valores máximos recomendados para o NC [1]...............................................................53

xvi
Quadro 5.9 – Valores máximos recomendados para o NR [52].............................................................53

Quadro 5.10 – Resultados obtidos para o parâmetro RASTI sem sistema AVAC, juntamente
com a média obtida para cada posição medida.......................................................................................54

Quadro 6.1 – Comparação dos valores do tempo de reverberação médio para as bandas de
frequência de 500, 1000 e 2000 Hz com o volume de cada um dos auditórios [53], [54], [55],
[56], [57], [58]........................................................................................................................................56

Quadro 6.2 – Níveis sonoros médios de ruído de fundo sem AVAC e correspondentes valores
de NC e NR para os diferentes auditórios [54], [55], [56], [57], [58]....................................................58

Quadro 6.3 – Níveis sonoros médios de ruído de fundo com AVAC e correspondentes valores
de NC e NR para os diferentes auditórios [54], [55], [56], [57], [58]....................................................58

Quadro 6.4 – Valores máximos e mínimos do parâmetro RASTI para os diferentes auditórios
[54], [55], [56], [57], [58].......................................................................................................................59

Quadro 7.1 – Resumo dos parâmetros acústicos medidos no Centro da Cultura de Ílhavo...................65

xvii
SÍMBOLOS, ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS

A – Absorção sonora equivalente (m2)

AC – Articulation Class

AI – Índice de Articulação

AutoCAD – Autodesk Computer Aided Design

AVAC – Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado

BR – Bass Ratio

c – Celeridade (m/s)

C80 – Claridade (dB)

CCI – Casa da Cultura de Ílhavo

D50 – Definição

DGARTES – Direção-Geral das Artes

DnT, w – Índice de isolamento sonora a ruídos de condução aérea padronizado (dB)

EDT – Early Decay Time (s)

FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

I – Intensidade sonora (W/m2)

K - Coeficiente de transmissão térmica [W/m2ºK]

NC – Noise Criterion

NR – Noise Rating

NRC – Noise Reduction Coefficient

LI - Nível de intensidade sonora (dB)

LP – Nível de pressão sonora (dB)

LW - Nível de potência sonora (dB)

xviii
p – Pressão sonora (Pa)

r – Distância (m)

R – Redução sonora (dB)

R2 – Coeficiente de determinação

RASTI – Rapid Speech Transmission Index

RF – Ruído de Fundo (dB)

RRAE – Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios

S – Área (m2)

STI – Speech Transmission Index (dB)

T – Temperatura (K)

TR – Tempo de Reverberação (s)

TR20 – Tempo de Reverberação com decaimento de 20 dB (s)

TR30 – Tempo de Reverberação com decaimento de 30 dB (s)

V – Volume (m3)

W – Potência sonora (W)

f – Frequência (Hz)

α – Coeficiente de absorção sonora

λ – Comprimento de onda (m)

ρ – Massa volúmica (kg/m3)

τ – Coeficiente de transmissão

xix
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

1
INTRODUÇÃO

1.1. ENQUADRAMENTO E OBJETIVOS


A acústica define-se como a área científica responsável pelo estudo das ondas sonoras e das suas
interações entre o meio onde se deslocam e o ser humano.
O conhecimento e a aplicação de conceitos acústicos sempre desempenharam um papel crucial na
evolução da espécie humana, iniciando-se na coordenação de atividades coletivas dentro do grupo
tribal, como a caça e a colheita de alimentos, desenvolvendo-se até aos dias de hoje em que a
comunicação verbal representa um aspeto insubstituível na forma como a nossa sociedade se
encontra organizada.
De um ponto de vista da engenharia civil, a acústica refere-se à análise e compressão das
interações entre as ondas sonoras emitidas por uma determinada fonte sonora e a sua envolvente
construtiva.
O caso de estudo considerado nesta dissertação refere-se a uma sala de espetáculos usada no
âmbito do desenvolvimento cultural na região de Ílhavo, com especial foco no teatro e na música.
Como tal, as principais preocupações na sua caraterização acústica devem ser a extinção de ruídos
indesejados, sejam eles a poluição sonora presente no exterior da sala ou até mesmo vibrações
provocadas por mecanismos essenciais para a utilização da própria sala, como é o caso do sistema
de ventilação. Aliado a esta questão, o conforto acústico dos ouvintes é igualmente essencial,
envolvendo o estudo do tempo de reverberação, a direcionalidade, a uniformidade do som, os
sistemas de absorção sonora, entre outros parâmetros cruciais.
Após identificados os principais parâmetros acústicos que definem o comportamento da sala,
procedeu-se a medições in situ. Para tal, recorreu-se a diversos instrumentos de medida entre eles,
um sonómetro, uma fonte sonora e o equipamento RASTI.
Os parâmetros obtidos foram o tempo de reverberação, o ruído de fundo com e sem o
funcionamento do sistema AVAC e a inteligibilidade da palavra.
Seguidamente, estes parâmetros foram alvo de uma análise comparativa com outras salas
previamente estudadas a nível nacional com recurso a dissertações previamente orientadas pelo
meu orientador.
Por último, são apresentadas conclusões referentes à aptidão acústica da sala de espetáculos em
questão e identificam-se possíveis alterações futuras objetivando-se o melhoramento do seu
comportamento acústico.

1
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

1.2. ESTRUTURA
A presente dissertação encontra-se dividida em sete capítulos:
No primeiro capítulo, “Introdução”, é apresentado o enquadramento geral da dissertação, bem
como a estrutura e os objetivos do presente trabalho.
No segundo capítulo, “Conceitos acústicos”, é feita uma organização do conhecimento científico
na área da acústica de modo a estabelecer as bases e as principais preocupações no
desenvolvimento da caraterização acústica do caso de estudo particular.
Seguidamente, no capítulo “Estado da Arte”, é realizado um enquadramento histórico de salas de
espetáculo com objetivos semelhantes ao exemplo em estudo, bem como uma síntese das
principais preocupações legislativas e recomendações profissionais nas edificações onde a
acústica adquire especial relevo.
O quarto capítulo, “Estudo de Caso”, inicia-se com uma análise pormenorizada da Casa da
Cultura de Ílhavo em termos acústicos, e é complementado com uma explanação dos métodos de
medição e equipamentos usados para obter todos os parâmetros necessários para a correta
caraterização da sala.
No quinto capítulo, “Resultados das medições”, são expostos os resultados das medições in situ,
juntamente com a sua análise e verificação regulamentar.
No sexto capítulo, “Comparação com outras salas”, é efetuada uma análise comparativa funcional
de determinados fenómenos acústicos relevantes, entre o caso de estudo em questão e outras salas
de espetáculos com dimensões e funções semelhantes.
O sétimo capítulo, “Conclusão”, oferece de uma forma sintetizada as principais conclusões
obtidas bem como os possíveis desenvolvimentos futuros que poderão ser executados no âmbito
do melhoramento do estudo da sala em questão.
Finalmente, são apresentadas todas as referências bibliográficas consultadas ao longo da
realização da presente dissertação.

2
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

2
CONCEITOS ACÚSTICOS

2.1. NOÇÕES TEÓRICAS BÁSICAS


2.1.1. O SOM
De um ponto de vista físico, o som representa a variação de pressão dentro de um meio elástico
originado pelas sucessivas colisões das nuvens moleculares que provocam zonas de elevada
pressão (compressão), e zonas de baixa pressão (rarefação). Observa-se ainda que o som se
comporta como uma onda longitudinal, ou seja, a sua propagação apenas ocorre devido ao meio
onde se encontra, no presente caso de estudo o ar a sua direção é semelhante à das partículas que
compõe o ambiente [1].

Fig. 2.1 – Compressão e Rarefação observada numa onda sonora [2].

Adicionalmente a um meio, o som necessita também de uma fonte emissora e de um elemento


recetor para poder ser identificado. O emissor tem a função de introduzir um distúrbio no meio,
seja ele uma colisão ou uma vibração, que por sua vez origina uma onda sonora passível de ser
captada pelo recetor [3].
Associado à experiência humana, se um som for desagradável ou não demonstrar significado
auditivo define-se como ruído [1].

3
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

2.1.2. OUVIDO HUMANO


O conhecimento do sistema auditivo humano é crucial para qualquer estudo acústico uma vez que
este define o modo como o som é interpretado e compreendido. Por outras palavras, o ouvido
humano é responsável por fazer a transformação das vibrações sonoras em impulsos nervosos
para o cérbero [4].
O ouvido pode ser dividido em três zonas: ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno como
se demonstra na figura 2.2.

Fig. 2.2 – O ouvido humano subdividido em três zonas [14].

O ouvido externo tem como função a captação do som e o seu encaminhamento para o tímpano
que oscila consoante a vibração recebida [1].
O ouvido médio é composto pelos ossículos que desempenham um papel de amplificador da onda
sonora e possibilita a passagem do meio aéreo para o meio líquido presente no ouvido interno [1].
Por seu lado, o ouvido externo é constituído pela cóclea, um pequeno elemento espiral cónico
emerso num líquido, a perilinfa [1].
Finalmente, situados ao longo da membrana basal presentes na cóclea, encontram-se os cílios que,
através da sua movimentação, convertem a onda mecânica presente na perilinfa em impulso
elétrico para o nosso sistema nervoso como se observa na figura 2.3 [6].

4
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 2.3 – Esquema do mecanismo de funcionamento acústico (em frequência) da cóclea [1].

5
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

2.1.3. CELERIDADE
A celeridade, ou por outras palavras, a velocidade de propagação da onda num determinado meio,
depende de maioritariamente dois fatores. O aumento da pressão atmosférica, que reflete o nível
médio de proximidade entre partículas no meio que compõe o nosso ambiente, origina um
incremento na celeridade da onda [7].
Semelhantemente, a temperatura definida como o nível de energia cinética a nível molecular
apresenta uma relação de proporcionalidade com a velocidade do som na atmosfera, tal como se
pode constatar na expressão 2.1 [1].
c=20,045 ❑√ T (2.1)
Sendo,
 c – Celeridade (m/s);
 T – Temperatura (K).

2.1.4. INTENSIDADE E POTÊNCIA SONORA


A intensidade sonora representada com a letra I, quantifica a quantidade média de energia emitida
por unidade de área. A sua unidade é o W/m2. Por outro lado, a potência sonora (W), refere-se à
energia total emitida pela fonte e a sua unidade de medida é o watt [1].
As duas grandezas supracitadas relacionam-se entre si através da fórmula 2.2.
2
W p
I= 2
= (2.2)
4 π r ρc
Onde,
 I – Intensidade sonora (W/m2);
 W – Potência sonora (W);
 r – Distância (m);
 p – Pressão sonora (Pa);
 ρ – Massa volúmica(kg/m3), para o ar ≈ 1,2 kg/m3;
 c – Celeridade (m/s).
Na figura 2.4 demonstra-se as principais diferenças entre os dois parâmetros.

Figura 2.4 – Representação visual da intensidade (I) e da potência sonora (W) [1].

6
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

2.1.5. NÍVEL DE PRESSÃO SONORA


O ouvido humano saudável apresenta dois limites de pressão sonora, o limite da audição no valor
que ronda os 10-5 pascal e o limiar da dor, cerca de 100 pascal. Adicionalmente, o ouvido humano
não responde ao estímulo auditivo de forma linear, mas sim de maneira aproximadamente
logarítmica [1]. Como tal, a grandeza decibel (dB) referente ao nível de pressão sonora, é
calculada utilizando a pressão segundo fórmula 2.3:
2
p
LP =10 log 2 (2.3)
p0
Em que, p0 é a pressão sonora de referência, 2 × 10-5 Pa.
Na figura 2.5 evidencia-se a escala logarítmica do nível de pressão com o incremento da própria
pressão.

Fig. 2.5 – Exemplos de diferentes níveis de pressão sonora e a sua pressão [16].

Pode-se utilizar o mesmo conceito de nível no estudo da intensidade (I) e potência (W) sonora
através da expressão 2.4 e 2.5 respetivamente.
I
LI =10 log (dB) (2.4)
I0

7
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

W
LW =10 log (dB) (2.5)
W0
Sendo: I 0 = 10-12 (W/m2) e W 0 = 10-12 (W).

2.1.6. FREQUÊNCIA
A frequência, medida em hertz (Hz), é um dos parâmetros mais importantes na caraterização de
uma onda sonora.
O sistema auditivo humano consegue identificar frequências que se encontrem num intervalo
entre 20 e 20000 Hz, sendo que as gamas de frequências inferiores a este intervalo denominam-se
infrassons e, por outro lado, os sons compostos por frequências superiores tem a denominação de
ultrassons como se encontra evidenciado na fig. 2.6 [4].

Fig. 2.6 – Espetro sonoro de diversos animais [17].

Dentro das frequências audíveis podem-se ainda distinguir três zonas de frequências diferentes:
 Frequências graves: 20 a 355 Hz;
 Frequências médias: 355 a 1410 Hz;
 Frequências agudas: 1410 a 20000 Hz.
As ondas sonoras podem ser esquematizadas com base na sua variação de pressão ao longo do
tempo com a utilização de um oscilograma, ou através da relação entre as diferentes frequências e
os seus respetivos níveis de intensidade sonora por intermédio de um espetro sonoro como é
evidenciado na fig. 2.7 [1].

8
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Fig. 2.7 – Representação de sons através de oscilogramas (esquerda) e de espetros sonoros (direita) [1].

Na figura 2.7 é ainda possível observar a diferença entre um som puro, constituído por apenas
uma frequência e um som complexo que é o resultado da sobreposição de várias frequências. É
usual, por motivos de praticidade, subdividir os intervalos das frequências em bandas de frações
de oitavas de modo a facilitar a identificação das bandas de frequência mais relevantes num
determinado som complexo [26].
O ouvido humano não apresenta a mesma sensibilidade para todas as frequências audíveis como
se revela na Fig. 2.8. Esta caraterística deve-se ao facto de, durante o processo de seleção natural
os seres humanos aprimoraram a sua sensibilidade auditiva de determinadas bandas de frequência
em detrimento de algumas zonas de sons graves.

9
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Fig. 2.8 – Variação da sensibilidade auditiva em função da variação na frequência [5].

Como tal, foram criados filtros de ponderação que permitam adaptar os níveis de pressão sonora
de diferentes frequências ao seu verdadeiro valor experienciado pelo ser humano.
No quadro 2.1 evidencia-se os valores das curvas de ponderação do filtro A para as diferentes
bandas de frequências.

Quadro 2.1 – Valores das ponderações do filtro A para bandas de frequências audíveis [18].

10
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

A frequência relaciona-se também com a celeridade da onda através da definição de comprimento


de onda, medido em metros, obtido através da expressão 2.6:
c
λ= (2.6)
f
Sendo que: λ – comprimento de onda (m), c – celeridade (m/s), f – frequência (Hz).

2.1.8. RUÍDO BRANCO E RUÍDO ROSA


Os principais ruídos utilizados no âmbito da análise acústica são o ruído branco e o ruído rosa. O
ruído branco possui uma distribuição uniforme da sua energia em todas as frequências audíveis
assim, para o ouvido humano as junções das frequências geram um som uniforme e constante
[28].
Por outro lado, o ruído rosa possui uma queda de energia proporcional à frequência, ou seja, as
frequências mais altas possuem menos energia que as frequências mais baixas [28].
A diferença entre estes dois ruídos observa-se na figura 2.9.

11
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Fig. 2.9 – Diferença entre ruído rosa (pink noise) e ruído branco (white noise), numa escala logarítmica [19].

2.2. ABSORÇÃO SONORA


2.2.1. DEFINIÇÃO
A absorção sonora refere-se à capacidade que a generalidade dos materiais possui de dissipar uma
fração da energia sonora incidente noutros modos energéticos, habitualmente a energia térmica.
O coeficiente de absorção sonora ( α ), é calculado através do quociente entre a energia sonora
absorvida por determinado material e a energia total que lhe é aplicada [1].
E absorvida
α= (2.7)
E incidente
Adicionalmente ao material em questão, o coeficiente de absorção sonora também varia em
função da inclinação da onda incidente e da sua frequência [29].
No âmbito do estudo acústico de edifícios é ainda possível definir o parâmetro NRC (noise
reduction coeficiente) calculado através da média aritmética dos valores de alfa nas bandas de
oitava dos 250 aos 2000 Hz.
NRC=( α 250 +α 500 +α 1000 +α 2000 ) ∕ 4 (2.8)

A norma europeia EN ISO 11654, introduz o parâmetro α w definido como a média ponderada do
coeficiente de absorção sonora nas frequências de oito bandas de terços de oitava entre 100 e 5000
Hz. Na norma, é também apresentada uma atribuição de classes de absorção sonora ilustrada no
quadro 2.2 [1].
Quadro 2.2 – Classe de absorção sonora α w (adaptado de [1]).

Classe αw
A ≥ 0,90
0,80 ≤ α w ≤
B
0,85

0,60 ≤ α w ≤
C
0,75

0,30 ≤ α w ≤
D
0,55

0,15 ≤ α w ≤
E
0,25

Não classificado ≤ 0,10

12
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

2.2.2. MATERIAIS E SISTEMAS DE ABSORÇÃO SONORA


Os valores do coeficiente de absorção revelam uma grande variabilidade consoante a banda de
frequência sonora em estudo tal como se apresenta no quadro 2.3.
Como tal, é usual agrupar os materiais e sistemas de absorção sonora em três categorias consoante
as frequências que se pretendem absorver (fig. 2.10).
Quadro 2.3– Coeficientes de absorção sonora de alguns materiais e sistemas em função da frequência [69].

13
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Fig. 2.10 – Comportamento de diferentes sistemas absorventes para diferentes frequências [1].

Os materiais porosos e fibrosos, são muito eficazes a absorver frequências relativamente altas
(500 – 4000 Hz) devido à sua elevada densidade de fibras que amplificam as perdas energéticas
originadas devido à fricção entre filamentos em vibração [1].
Em relação a médias frequências, os ressonadores são os equipamentos mais utilizados no seu
tratamento. A sua frequência de eficácia máxima é dada pela expressão 2.9 para ressonadores
isolados e, para ressonadores agrupados a expressão de cálculo utilizado é a 2.10 [1].

f=
c ❑
√ S
2 π V ( l+1 , 6 r )
(2.9)

Onde,
 S – área da abertura (m2);
 V – Volume da cavidade (m3);
 l – Comprimento da abertura (m);
 r – Raio de cada perfuração (m).

f=

10 c ❑ P
2 π ( ⅇ +1 , 6 r ) d
(2.10)

Sendo que,
 P – Percentagem de área perfurada (%);
 e – Espessura da placa perfurada (cm);
 d – Largura da caixa de ar (cm);
 r – Raio de cada perfuração (cm).

Finalmente, para absorção de baixas frequências as membranas ressonantes ou os painéis


vibratórios são os sistemas mais utilizados. A absorção da energia sonora ocorre através da
vibração de toda a estrutura, quando a frequência do som emitido é semelhante à frequência
natural de vibração do sistema, onde o calor gerado é libertado para o exterior através da fricção
das fibras do sistema quando este entra em flexão [1].

2.3. TEMPO DE REVERBERAÇÃO

14
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

2.3.1. DEFINIÇÃO
O som emitido num espaço fechado origina uma onda direta e, uma sequência de ondas indiretas
resultantes das sucessivas reflexões da onda principal com as superfícies do espaço (Fig. 2.11).

Reflexões nas
Paredes
Fig. 2.11 – Som direto e som refletido numa sala [20].

O tempo de reverberação (TR) é um parâmetro de especial importância na acústica que se define


como o tempo necessário para que a energia sonora de um determinado espaço diminua em 60 dB
após o fim da emissão sonora [30].
Devido à existência de ruídos de fundo muito elevados que necessitariam de uma fonte emissora
muito intensa para se poder observar o decaimento em 60 dB, é usual utilizar outros níveis de
decaimento como 30 dB (TR30), ou 20 dB (TR20) procedendo-se posteriormente à extrapolação
dos valores como se encontra evidenciado na fig. 2.12 [10].

Fig. 2.12 – Medição direta do tempo de reverberação (direita) e a extrapolação (esquerda) [10].

2.3.2. TEMPO DE DECAIMENTO CURTO (EDT)


Early decay time (EDT), é um parâmetro acústico muito semelhante ao tempo de reverberação,
contudo apenas contabiliza o decaimento inicial de 10 dB. Para espaços difusos onde o
decaimento sonoro seja linear, o TR e o EDT seriam idênticos [11].

15
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

2.3.3. RÁCIO DE BAIXOS (BR)


O bass ratio (BR), é um indicador do nível de “calor acústico” de um determinado som. É
calculado através da relação entre os tempos de reverberação a baixas frequências (125 e 250 Hz)
e os tempos de reverberação das altas frequências (500 e 1000 Hz) segundo a expressão 2.11.
T R 125 +T R250
BR= (2.11)
T R500 + T R1000

Dependendo da funcionalidade do espaço o BR ideal será diferente. Em situações onde se


pretende originar um som mais “quente”, o BR deverá ser superior ao rácio de baixos presentes
em locais cuja principal preocupação é a inteligibilidade da palavra [12].

2.3.4. FÓRMULAS DE PREVISÃO


Atualmente existem vários métodos de obter uma aproximação do valor do tempo de reverberação
através da sua relação com o volume do local e a absorção sonora. As fórmulas de previsão
geralmente mais utilizadas são:
 Fórmula de Sabine, obtida através da expressão 2.12 é bastante precisa para campos
difusos e com coeficiente de absorção sonora média inferior a 0,20;
0 ,16 × V
T= (2.12)
A
Sendo que,
T – Tempo de reverberação (s);
V – Volume do compartimento (m3);
A – Absorção sonora equivalente (m2).
 Fórmula de Eyring, utiliza o conceito de valor médio do coeficiente de absorção
sonora e é muito utilizada em situações onde todas as superfícies envolventes
apresentam valores semelhantes do coeficiente de absorção sonora;
0 , 16 V
T= (2.13)
−S ln ( 1−α )
Onde,
S – Superfície do compartimento (m2);
α – Média pesada das superfícies Si (m 2), dos coeficientes de absorção sonora da superfície α i,
da superfície envolvente, calculado segundo a expressão 2.14.
∑ α i Si
α i= (2.14)
S

16
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

 Fórmula de Millington-Sette, adequada para locais caraterizadas por possuírem


diferenças significativas entre os coeficientes de absorção da sua superfície.
0 , 16 V
T= N
(2.15)
−∑ S i ln ( 1−α i )
i=1

2.4. ISOLAMENTO SONORO


2.4.1. DEFINIÇÃO
No âmbito da acústica aplicada à engenharia civil, o isolamento sonoro refere-se à capacidade que
determinado espaço possui de não permitir a penetração de ruídos exteriores.
O ruído a ser analisado pode ser proveniente do exterior da envolvente do edifício, como é o caso
do ruído rodoviário, ou do interior através de fontes emissoras em locais contíguos à sala em
estudo.
Relativamente ao modo de propagação identifica-se duas vias de transferência de ruído, a direta e
a marginal que se refere à transmissão de ruído através da passagem por outros elementos
construtivos como se encontra evidenciado na figura 2.13 [31].
Contudo, a distinção mais importante de se introduzir é o modo de condução do ruído, ou através
do ar (ruídos aéreos), ou através da vibração de determinados elementos construtivos (percussão)
ilustrado na figura 2.14 [1].

Figura 2.13 – Transmissão direta e indireta, ou marginal [22].

Figura 2.14 – Diferenciação entre ruídos aéreos (esquerda) e ruídos de percussão (direita) [23].

17
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

2.4.2. ISOLAMENTO SONORO A RUÍDOS AÉREOS


Os ruídos aéreos englobam todo o ruído originado através da excitação direta do ar e a sua difusão
pelo mesmo, por exemplo: televisão, rádio, conversas entre pessoas e a quase totalidade dos
ruídos provenientes do exterior do edifício [23].
O indicador utilizado para quantificar o isolamento sonoro a ruídos aéreos é o R (redução sonora,
em dB), que genericamente se define através da expressão 2.16.

R=log ( 1τ ) (2.16)

Sendo τ o coeficiente de transmissão obtido através do quociente entre a energia sonora


transmitida e a energia sonora incidente.
O comportamento acústico de um elemento construtivo em resposta a um determinado estímulo
sonoro é um fenómeno de elevada complexidade com um grande número de variáveis sendo uma
delas a frequência incidente. Em função da frequência do ruído, o elemento (de uma maneira mais
geral, a parede) apresenta valores da sua redução sonora dependentes de diferentes fatores.

2.4.3. ISOLAMENTO SONORO A RUÍDOS DE PERCUSSÃO


Contrariamente aos ruídos aéreos, os ruídos de percussão propagam-se pelos elementos
construtivos com muita facilidade produzindo desconforto sonoro em zonas muito afastadas da
fonte emissora original [1].
Os métodos mais comuns de atenuação são a aplicação de revestimentos nas superfícies
(alcatifas), ou a criação de descontinuidades ao longo de determinados elementos.
Os ruídos de percussão subdividem-se em função da sua origem:
 Fontes estáticas – ventoinhas, máquinas de lavar, canalização, entre outros;
 Fontes de impacto – portas a fechar, pessoas a caminhar, deslocamento de móveis,
entre outros.

2.4.4. RUÍDO DE EQUIPAMENTOS


A avaliação do ruído de fundo provocado por equipamentos em funcionamento (AVAC e outros)
é crucial para a análise acústica de qualquer edificação com especial importância em auditórios,
teatros, salas de concerto e outros locais onde a audição é uma componente substancial da
utilização do espaço.
As curvas de incomodidade são o método mais comum de avaliação do ruído de fundo, sendo que
o parâmetro frequentemente mais utilizado na Europa é o Noise Rating (NR). O NR medido
através da análise de oito bandas de frequência entre 32 Hz e 8 kHz, define um valor do nível de
pressão sonora que não é excedido por nenhuma banda de frequências como se evidencia na fig.

18
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

2.15 [24]. Por outro lado, nos EUA a curva de incomodidade mais comum é a Noise Criterion
(NC), que apenas engloba as frequências entre 63 e 8000 Hz, ou seja, não é efetuada nenhuma
análise para as frequências mais baixas [1].

Figura 2.15 – Curvas Noise Criterion (esquerda) e Curvas Noise Rating (direita) [62] e [24].

2.5. INTELIGIBILIDADE DA PALAVRA


2.5.1. VOZ HUMANA
A voz humana apresenta uma extensa variabilidade devido à enorme relevância que a humanidade
dedicou à comunicação verbal ao longo da nossa evolução.
De um ponto de vista acústico, a voz humana pode ser analisada mediante quatro domínios:
 Frequência – A gama de frequências utilizadas em discurso encontra-se entre 150 e
7000 Hz, sendo que as vogais usualmente são emitidas a baixa frequência e algumas
consoantes a alta frequência;
 Intensidade – Relativamente ao nível de pressão sonora, usualmente, as vogais são
emitidas com valores 20 dB acima das consoantes de modo a compensar até certo
ponto, o défice na audição de frequências baixas presentes na audição humana;
 Duração – As vogais são emitidas em média com uma duração de cerca de 90 ms,
enquanto as consoantes, são em média expressas em cerca de 20 ms;
 Direccionalidade – É ainda possível identificar uma diferença relativamente à
direccionalidade entre vogais e consoantes, sendo que, as vogais propagam-se de uma
maneira praticamente omnidirecional, por outro lado, as altas frequências perdem
quase 25 dB com a direção do ouvinte.
As diferenças da emissão da voz entre vogais e consoantes encontram-se esquematizadas no
quadro 2.4.
Quadro 2.4 – Variabilidade da emissão da voz entre vogais e consoantes [1].

19
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Tipo Frequência Intensidade Duração Direccionalidade

Vogais baixas Elevado ≈ 90 ms -5 dB p/ -180º

Consoantes Altas Baixo ≈ 20 ms -20 dB p/ -180º

2.5.2. PARÂMETROS DE MEDIDA


Os principais parâmetros objetivos de medição da inteligibilidade da palavra são: o índice de
articulação (AI), a articulation class (AC) e o STI (speech transmission index) e o RASTI (rapid
speech transmission index).
O índice de articulação varia entre zero e um, e define o grau de inteligibilidade média
experienciada pelos ouvintes na presença de um determinado ruído de fundo.
O AC calcula-se por um método muito semelhante ao utilizado para a determinação do AI,
contudo a análise é realizada para uma extensão mais alargada de frequências.
Finalmente, o RASTI, método simplificado de cálculo do STI, é medido através da análise da
perda de qualidade na transmissão sonora efetuada entre uma fonte emissora e um recetor, sendo o
sinal emitido composto por uma gama de frequências e intensidades da voz humana. A taxa de
inteligibilidade que varia entre 0 (inteligibilidade nula) e 1 (ótima inteligibilidade), é uma função
da mutação observada no microfone recetor. No quadro 2.5 apresenta-se a relação entre o valor
numérico de STI/RASTI e a avaliação subjetiva da inteligibilidade da palavra.

Quadro 2.5 – Valores dos intervalos dos índices STI e RASTI, e correspondente classificação em termos de
inteligibilidade da palavra (traduzido de [25]).

2.6. ACÚSTICA ARQUITETÓNICA


2.6.1. INTRODUÇÃO
O conjunto de conceitos e soluções acústicas implementados em situações de necessidade
funcional de determinado espaço denomina-se, Acústica Arquitetónica.
Historicamente, a componente visual da arquitetura de salas de espetáculos superou as exigências
auditivas, contudo, no último século as respostas acústicas têm desempenhado um papel cada vez
mais relevante no projeto arquitetónico final [1].

2.6.2. REFLEXÕES

20
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

A geometria e os materiais utilizados na área envolvente de determinado locais são os fatores


mais importantes para o resultado acústico final devido à reflexão sonora [1].
Os efeitos da reflexão sonora observam-se através da diferenciação entre a onda sonora inicial
denominada som direto, e as ondas sonoras que se detetam posteriormente, provenientes de
reflexões nas superfícies da envolvente da sala.
As reflexões acusticamente desagradáveis denominam-se ecos e caraterizam-se por apresentarem
atrasos sonoros face ao som direto superiores a 50 ms (fig. 2.18). As principais medidas tomadas
para evitar ecos são a modificação do ângulo da superfície e a colocação de material absorvente.
(Fig. 2.16)

Fig. 2.16 – Reflectograma com eco [1].

2.6.3. DIFUSÃO
A implantação de superfícies difusores, ou seja, superfícies capazes de refletir em todas as
direções, desempenha um papel crucial na correção acústica. A difusão ocorre em materiais com
irregularidades na sua superfície onde, as frequências emitidas estão condicionadas pelo tamanho
desse mesmo relevo. Uma superfície com pequenos relevos só será difusa para altas frequências
[1]. Na figura 2.17 encontram-se exemplos de sistemas utilizados para aumentar a difusão sonora.

Figura 2.17 – Difusores comerciais: Quadratic Residue Diffuser (QRD) (esquerda) e Pirâmides difusoras de som
(direita) [63] e [64].

2.6.4. CONCHAS ACÚSTICAS

21
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Conchas acústicas são estruturas arquitetónicas projetadas para melhorar o desempenho acústico
de um determinado palco tal como, um teatro, uma sala de concertos e até mesmo espaços ao ar
livre. Tem como principal função corrigir a direccionalidade do som de modo a centralizá-lo na
direção dos espetadores através da colocação de superfícies refletoras em determinadas zonas
específicas da concha acústica [65]. A figura 2.18 apresenta dois exemplos de conchas acústicas.

Figura 2.18 – Exemplos de conchas acústicas ao ar livre (Wembley Park, Reino Unido) (esquerda) e no interior
(direita) (Alaska Center for the Performing Arts, Estados Unidos da América) [66] e [67].

2.6.4. CANÓPIAS
De forma semelhante às conchas acústicas, as canópias são estruturas que visam melhorar a
qualidade acústica de um determinado orador através do aproveitamento de ondas sonoras, que de
outro modo deslocar-se-iam verticalmente, não sendo detetadas por um ouvinte posicionado na
zona inferior.
Surgiram no século XV juntamente com os púlpitos, localizados numa posição superior, as
canópias reduzem as emissões sonoras que se perderiam verticalmente e refletem-nas para a
localização inferior onde pode ser interpretada pelos ouvintes. Para além da sua componente
acústica, as canópias tornaram-se um elemento artístico da Igreja. Na figura 2.19 ilustra-se um
exemplo de uma concha acústica em contexto eclesiástico [65].

22
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 2.19 – Púlpito com canópia (Catedral de Genebra, Suiça) [68].

3
ESTADO DA ARTE

23
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

3.1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA


A expressão artística acompanha o ser humano desde a sua própria conceção enquanto espécie em
especial desde o Período Paleolítico (2,6 milhões de anos atrás até 10000 a.C.) sendo que, a
pintura, a dança, a música e a escultura foram as primeiras formas de arte a serem praticadas
enquanto rituais de pequenos grupos tribais com a função de promover a coesão dentro do grupo
[32].
Apesar da grande extensão das práticas artísticas praticadas ao longo de milhares de anos, a
preocupação no âmbito do melhoramento acústico dos locais utilizados surgiu, muito
posteriormente na Grécia Antiga. Auxiliado pelo período de prosperidade vivido nessa época,
foram construídos na Grécia as primeiras salas de espetáculo.
Durante este período, a principal função dos teatros era a representação dramática e tinham
frequentemente capacidade para albergar milhares de pessoas, por exemplo, o teatro Argos
localizado nas vertentes do Monte Larissa, Grécia, tinha lugares para 20000 espetadores, o que faz
dele o maior teatro grego [34] (Fig. 3.1).

Figura 3.1 – Teatro Argos (Argos, Grécia) [35].

A escolha do local para a construção dos teatros era fortemente condicionada pela inclinação do
terreno, de forma a tirar melhor partido dos recursos disponíveis e reduzir a despesa construtiva.
Os espetadores dispunham-se pela encosta da colina facilitando a visualização do espetáculo para
o maior número de pessoas [33].
Contudo, as preocupações acústicas dos gregos não se ficavam pela escolha geográfica. Segundo
Marcus Vitrúvio, arquiteto romano do século I a.C., a qualidade acústica dos teatros também se
deve ao facto da existência de vasos circulares, de bronze ou cerâmica, em nichos sob os assentos,
que permitiam que o som emitido no palco se espalhasse e, aumentasse a clareza formando uma
nota uníssona consigo mesma [36]. Outra condicionante favorável para a boa audibilidade dos
teatros era a utilização de máscaras dotadas de um amplificador interno por parte dos atores [37].
Após o colapso da Grécia Antiga, a construção de grandes salas de espetáculo foi retomada pelo
Império Romano, no entanto, o seu propósito passou a ser de palco para arenas de luta

24
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

denominando-se agora de anfiteatros. Apesar de, de um ponto de vista de engenharia, os


anfiteatros romanos serem maiores e mais complexos, as suas preocupações acústicas não eram
tão evidentes como as observadas nos teatros gregos.
Embora bastante similares, os teatros romanos e gregos apresentavam diferenças estruturais muito
relevantes na área da acústica. Contrariamente à Grécia, que procurava construir os seus teatros
suficientemente longe das zonas centrais urbanas de modo a minimizar o ruído de fundo presente
durante as atuações, os Romanos optavam muitas vezes pela construção nos centros urbanos com
o intuito de aumentar a adesão do público. Devido às restrições associadas à construção num
centro urbano, os Romanos não tiraram partido da topografia existente e foram obrigados a iniciar
a edificação no piso térreo. Geometricamente, ambos os períodos também apresentam diferenças
substantivas, sendo que, a plateia dos teatros gregos assemelhava-se a três quartos de um
semicírculo, enquanto o anfiteatro romano era um meio círculo perfeito [38].
Posteriormente à queda do Império Romano, o nível de vida e a segurança de várias regiões foram
postos em causa e, como consequência, houve uma redução drástica nas construções com
propósitos artísticos. A insegurança e a falta de conhecimento científico dessa época criaram as
condições ideais para o crescimento do misticismo e da Igreja, que oferecia respostas concretas
(embora sem fundamento científico) para vários mistérios que assombravam as populações desse
período, conseguindo mesmo em algumas situações operar acima dos próprios reis. Como tal,
durante este período as grandes edificações construídas tinham quase todas propósitos de culto
religioso.
Já nos meados da Idade Média, associado ao enorme poder do clero, as igrejas deixaram de ser
apenas locais de culto religioso e passaram também a demonstrar a beleza e a exaltação do divino
ao povo através de dimensões exageradas que, por sua vez aumentam o tempo de reverberação,
melhorando bastante a tonalidade de algumas músicas eclesiásticas, em detrimento da
inteligibilidade das palavras do orador [39] (Fig. 3.2).

Figura 3.2 – Interior de uma igreja Gótica (Colônia, Alemanha) [40].

No século XV, principiou-se o Renascimento, período caraterizado por uma grande mudança na
forma de abordar todas as áreas do conhecimento, uma mudança epistemológica, caracterizada
por processos de matematização, experimentação e mecanização. Foi durante este período que se
deram as primeiras tentativas de esquematizar e organizar o conhecimento musical através da
análise de fenómenos físicos [41].

25
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Influenciado pelo período reformista vivido, surge um novo ramo do Cristianismo denominado
Igreja Protestante com valores e prioridades muito diferentes. A principal mudança refere-se ao
facto de a inteligibilidade do sermão apresentar maior importância que outros aspetos previamente
valorizados. Consequentemente, a arquitetura utilizada nestes novos locais de culto apresenta
várias novidades com efeitos muito positivos acusticamente, como a redução do volume e as
primeiras aplicações de conchas acústicas. Em resposta a esta divergência, iniciou-se na Igreja
Católica um movimento contrarreformista associado a um novo estilo arquitetónico, o estilo
Barroco, caraterizado pela aplicação de ornamentos com elevado grau de detalhe (bons difusores)
na superfície interior da Igreja. Todos estes fatores contribuíram para a redução do tempo de
reverberação e consequentemente a melhoria na perceção da palavra (Fig. 3.3) [42].

Figura 3.3 - Valores do tempo de reverberação em relação com o estilo arquitetónico (1 - Visigótico, 2-Românico,
3- Gótico, 4-Manuelino, 5-Renascentista, 6-Barroco, 7-Neoclássico e 8-Contemporâneo) com barra de erro de
desvio [42].

Seguidamente, surge o período clássico caraterizado por um grande aumento do interesse musical
das classes mais ricas da sociedade. Foi neste período que várias das grandes obras clássicas ainda
apreciadas nos dias de hoje foram criadas. De modo a dar resposta a este crescente interesse,
foram construídas várias salas de espetáculos com dimensões cada vez maiores e com a função
principal da representação musical.
Apesar dos sucessivos avanços científicos, foi apenas no início do século XIX, que foram
publicados os primeiros livros onde a acústica é analisada enquanto uma ciência, sendo atribuído
a W. C. Sabine o mérito dos primeiros desenvolvimentos na acústica arquitetónica. Graças aos
contributos de Sabine e de outros cientistas, a qualidade acústica das salas de espetáculo tem
vindo a melhorar substancialmente apesar da resistência que vários arquitetos exprimiram ao
longo do tempo relativamente à dificuldade da projeção visual de um espaço sem comprometer o
seu desempenho sonoro [1].
3.2. EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS
3.2.1. PRINCÍPIOS GERAIS
Auxiliado pelos desenvolvimentos tecnológicos, Leo Beranek iniciou uma nova abordagem sobre
a acústica de salas, propondo, para além do tempo de reverberação já estudado por Sabine, uma

26
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

extensa família de parâmetros acústicos que complementariam a definição acústica de uma


determinada sala [44].
Para definir os critérios, Beranek estudou inúmeras salas por todo o mundo. Com base nas
diferenças e nas semelhanças observadas e, comparando com avaliações subjetivas obtidas através
de entrevistas, Beranek consegui organizar um conjunto de parâmetros fundamentais para a
avaliação acústica de salas até à atualidade [44] (Quadro 3.1).
Quadro 3.1 – Parâmetros acústicos subjetivos e objetivos [44].

3.2.2. EXIGÊNCIAS PARA A MÚSICA


O problema do dimensionamento acústico de salas de espetáculos musicais revela-se
significativamente mais complexo que a projeção de salas para a palavra uma vez que, a música
apresenta uma variabilidade sonora muito superior à variabilidade da voz humana. Soma-se a isso

27
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

o facto de usualmente, os auditórios para música possuírem uma audiência muito superior o que
traz consigo ainda mais problemas na vertente acústica.
A primeira variável que deve ser considerada é a geometria da sala. Na Figura 3.4 apresentam-se
os formatos das salas de música mais populares, sendo que a planta shoebox (“caixa de sapato”) é
a mais eficaz devido às fortes reflexões laterais que origina. É ainda usual, devido à sua aparência
dramática a implementação de palcos surround, isto é, palcos envolvidos pela audiência, contudo
devido à direccionalidade de muitos instrumentos, não é uma opção ótima acusticamente [46].

Figura 3.4 – Plantas para auditórios de música [46].

O tempo de reverberação é um parâmetro muito relevante na caraterização acústica de qualquer


sala, sendo que, para salas de música os seus valores ideais variam em função do estilo de música.
No Quadro 3.2 surge uma tabela com os intervalos recomendados do tempo de reverberação
(medidos para as frequências entre 500 e 1000 Hz) e da claridade (C80) em função do tipo de
música.
Quadro 3.2 – Valores recomendados para o tempo de reverberação e a claridade (adaptado de [1] e [13]).

Tipo de música Tempo de reverberação (s) Claridade (dB)

Música popular 0,8 até 1,0 7 até 18

Ópera 1,3 até 1,7 3 até 7

Música sinfónica 1,4 até 2,2 -2 até 3

Música de Órgão 2,5 até 3,5 -12 até -4

Em auditórios com grandes superfícies absorventes deve-se ter especial atenção de modo a
impossibilitar a coloração tonal que introduz uma sensação metálica no som, muito negativa
acusticamente. Esta coloração consiste numa falha no espetro da frequência do som devido à
presença de demasiados materiais absorventes para uma determinada frequência em específico
[11].
A difusão do campo sonoro adquire um papel muito importante na acústica musical, uma vez que
se pretende distribuir o som uniformemente, de modo que todos os espetadores tenham a mesma
perceção sonora independentemente da sua localização na sala [11].

28
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Contrariamente à compreensão do discurso onde a inteligibilidade pode ser medida


unidireccionalmente, a caraterização de uma sala de música envolve um balanceamento cuidado
de vários parâmetros objetivos e subjetivos que muitas vezes dependem uns dos outros [46].

3.2.3. EXIGÊNCIAS PARA A PALAVRA


Associado às necessidades acústicas de salas de aula, auditórios e outros espaços onde a palavra
adquire importância fundamental, Marshall Long enuncia algumas diretrizes para um correto
dimensionamento acústico destes locais [46]:
 Em situações sem reforço eletroacústico, a distância máxima entre a fonte emissora e
o recetor deve ser controlada e não se recomenda um valor superior a 12 metros;
 A relação entre o volume da sala e o número de lugares deve ser mantido baixo sendo
o valor ideal igual a 3,1 m3 por assento;
 O nível de ruído de fundo não deve ultrapassar 35 dBA ou o NC30;
 O tempo de reverberação ideal ronda os 0,8 segundos sendo aceitável um valor
inferior a 1 segundo;
 A sala deve estar livre de defeitos acústicos como é o caso da ressonância ou do
flutter echo.
Uma outra componente já fora do foro da acústica é a inclinação do auditório, que deve assegurar
uma boa visibilidade para toda a audiência através da análise dos ângulos de visão de cada fila de
assentos (Fig. 3.5).

Figura 3.5 – Cálculo das linhas de visão com base no APS (Arrival Point of Sight) [46].

3.2.4. EXIGÊNCIAS PARA O TEATRO


As exigências funcionais para a correto funcionamento de uma sala de espetáculos com
utilizações em teatro expandem-se em três vertentes: boa inteligibilidade da oratória, acústica
favorável para alguns momentos musicais e ainda restrições dimensionais, não sendo
recomendado o posicionamento de assentos a uma distância superior a 20 metros, uma vez que
poderia comprometer a visibilidade dos espetadores tanto para o cenário como para as próprias
expressões faciais dos artistas [11].
Os problemas mais recorrentes em salas de espetáculos ocorrem devido a valores inadequados do
Early Decay Time (EDT). Os lugares intermédios são os mais prováveis de apresentarem
complicações acústicas, sendo aí que as intervenções devem incidir. Superfícies refletoras

29
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

suspensas ou bafflers no teto são uma das soluções mais práticas sendo, contudo necessário
analisar os impactos que tais intervenções terão no sistema de iluminação cénica [11].
A geometria do teatro é a principal condicionante no seu desempenho acústico, sendo que, a
maior influência é proveniente do grau de abertura do palco, que pode variar entre 360 graus no
caso de teatros de arena até teatros proscénios [11] (Fig. 3.6).

Figura 3.6 – Palco proscénico (esquerda) e palco central (direita) [45].

Devido à direccionalidade do discurso humano, quanto mais amplo for o palco, menor será a
distância máxima a que um espetador poderá estar localizado sem identificar falhas na
inteligibilidade do orador. Ainda relativamente à compreensão da oratória, tempos de
reverberação inferiores a 1,0 segundo são recomendados, sendo que para salas de grande volume
esta limitação envolve grandes considerações tanto em termos de materiais absorventes que terão
de ser usados como no próprio volume da sala a ser dimensionada. Sendo assim, conclui-se que as
salas de teatro compactas com pouco volume e superfícies refletoras suspensas no teto são as
diretrizes mais significativas para o correto resultado acústico final [11].
Importa ainda salientar que o ruído de fundo tem um impacto muito negativo no teatro, onde os
momentos de silêncio desempenham um papel crucial, sendo por isso recomendado um valor
máximo de NR20 para o Noise Rating [11].

3.2.5. EXIGÊNCIAS EM SALAS COM MÚLTIPLOS FINS


Tem-se tornado cada vez mais evidente, por razões económicas, que a construção de auditórios
com apenas uma única utilização são muitas vezes irrealistas fora dos grandes centros urbanos.
Um grau de flexibilidade na utilização tornou-se a norma nas pequenas e médias cidades [11].
Para acomodar duas ou mais utilizações acústicas é essencial ocorrerem mudanças no tempo de
reverberação. Recorrendo à fórmula de Sabine, conclui-se que as duas variáveis que influenciam o
tempo de reverberação são o volume e a absorção sonora do espaço. Destas alterações, as
mudanças no volume são em princípio mais apelativas, contudo, na prática, são muitas vezes
difíceis de incorporar dentro de um auditório funcional. Por outro lado, o aumento da absorção
sonora envolve uma penalização em termos de intensidade sonora [11].

30
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

O método mais comum de variação de volume envolve a introdução de tetos móveis que tem a
possibilidade de introduzir um acréscimo/decréscimo de volume que provoca uma variação nos
valores do tempo de reverberação em função das necessidades acústicas do tipo de utilização [11]
(Fig. 3.7).

Figura 3.7 – Seção do teatro Milton Keynes (Milton Keynes, Reino Unido) onde se evidencia o teto móvel [11].

A técnica mais utilizada em salas de espetáculo para absorção variável é a utilização de banners
acústicos. Os banners são usualmente pendurados no teto livremente e podem ser removidos do
auditório através de ranhuras, ou rodados em caixas bem fechadas consoante o modo de utilização
mais favorável [11] (Fig. 3.8).

Figura 3.8 – Exemplos de mecanismos de absorção variável [1].

Atualmente o meio principal de correção acústica é através de sistemas eletroacústicos. Embora


estes sistemas sejam por norma mais baratos e mais versáteis que a sua alternativa física, tem o
efeito negativo de produzir imperfeições no som que podem afetar muito significativamente a
qualidade do som percebido pela audiência [4].

3.3. LEGISLAÇÃO PORTUGUESA

31
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

No momento da realização da seguinte dissertação, os requisitos acústicos de um edifício em


função da sua utilização encontram-se expressos no Regulamento dos Requisitos Acústicos dos
Edifícios (RRAE), originalmente implementado em 2002 pelo Decreto de Lei 129/2002.
Posteriormente, através do DL 96/2008, a regulamentação foi atualizada para abranger unidades
hoteleiras, auditórios, cinemas e salas de espetáculo sendo por isso a legislação mais determinante
na presente tese. Já em 2019, foi ainda definido um novo decreto de lei, DL 95/2019, com vista a
qualificação acústica de obras de reabilitação.
O 1º artigo estipula as diversas utilizações tipo que a legislação deve diferenciar no âmbito do
estudo acústico, sendo elas [43]:

a) Edifícios habitacionais e mistos, e unidades hoteleiras;


b) Edifícios comerciais e de serviços, e partes similares em edifícios industriais;
c) Edifícios escolares e similares, e de investigação;
d) Edifícios hospitalares e similares;
e) Recintos desportivos;
f) Estações de transporte de passageiros;
g) Auditórios e salas.

A Casa da Cultura de Ílhavo é utilizada maioritariamente como auditório para a música, mas
também é utilizada para o teatro e, encontra-se legislada acusticamente através do artigo 10º-A do
RRAE referente a edifícios com tipologia de “Auditórios e salas de espetáculo”, sendo elas:

1 - Os recintos cuja principal valência corresponda a atividades assentes na oratória,


nomeadamente de auditórios, salas de conferência e salas polivalentes, e nas salas de cinema,
estão sujeitos aos seguintes requisitos:

A) O tempo de reverberação médio, T, nas bandas de oitava centradas nas frequências de 500 Hz,
1000 Hz e 2000 Hz, a considerar para estes recintos, quando mobilados normalmente e sem
ocupação, deve satisfazer as expressões 3.1, 3.2 e 3.3.
1
3
T ≤ 0 , 12V 3 , se V < 250 m ; (3.1)
T ≤ 0,32 + 0,17 log(V), se 250 ≤ V < 9000 m3; (3.2)
T ≤ 0,05 V1/3, se V ≥ 9000 m3. (3.3)

Como o auditório da Casa da Cultura de Ílhavo apresenta médias dimensões, a expressão que
deverá ser utilizada para a verificação do valor máximo do tempo de reverberação é a expressão
3.2.

B) O projeto de condicionamento acústico destes espaços deve incluir um estudo específico


destinado a assegurar uma característica de reverberação adequada no restante espectro de
frequências e uma boa inteligibilidade da palavra nos diversos locais do recinto.

2 - Nos auditórios e salas cuja principal valência não corresponda a atividades assentes na
oratória, nomeadamente de auditórios para música ou salas de espetáculo, o projeto de
condicionamento acústico destes espaços deve incluir um estudo específico destinado a assegurar
a conformação acústica adequada à sua utilização funcional.

32
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

3 - As fachadas dos recintos referidos nos artigos 1 e 2 devem assegurar que os valores do índice
de isolamento a sons aéreos, D2 m, nT, w, corrigido do termo de adaptação aplicável, C ou C tr, sejam
os necessários para que o nível sonoro contínuo equivalente do ruído ambiente no interior do
recinto, determinado a partir da média espacial de pontos representativos, na ausência de
funcionamento das instalações técnicas do edifício, LAeq, satisfaça a expressão 3.4.

L Aeq ≤30 dB ; (3.4)

O ponto número 4 apenas diz respeito a complexos de várias salas de cinema, não sendo relevante
para o caso em questão.

5 - No interior dos recintos, o nível sonoro contínuo equivalente do ruído particular, L Aeq,
associado ao funcionamento dos equipamentos e instalações técnicas, designadamente de
instalações de aquecimento, ventilação e ar condicionado, deve, com a sala desocupada, satisfazer
as condições 3.5 e 3.6.
L Aeq ≤38 dB , no caso de cinemas; (3.5)
L Aeq ≤30 dB , nos restantes recintos (3.6)

6 - Os requisitos enunciados nos pontos 1 a 5 são aplicáveis aos recintos que constituem o uso
principal do edifício em que se inserem e aos que se integram em edifícios com outros usos.

7 — A determinação do tempo de reverberação, T, deve ser efetuada em conformidade com o


disposto na normalização portuguesa aplicável ou, caso não exista, na normalização europeia ou
internacional.

8 - Nas avaliações in situ destinadas a verificar o cumprimento dos requisitos acústicos dos
edifícios deve ser tido em conta um fator de incerteza, I, associado à determinação das grandezas
em causa.

9 — O edifício, ou qualquer das suas partes, é considerado conforme aos requisitos acústicos
aplicáveis, quando, cumulativamente:

A) O valor obtido para o tempo de reverberação, T, diminuído do fator I no valor percentual do


limite regulamentar, de acordo com o seguinte, satisfaça o limite regulamentar apresentado nas
expressões 3.7, 3.8 e 3.9.

25 %, se V < 250 m3; (3.7)


35 %, se 250 ≤ V < 9000 m3; (3.8)
40 %, se V ≥ 9000 m3. (3.9)

Tal como referido anteriormente, uma vez que o auditório em estudo apresenta volume
compreendido entre 250 e 9000 m3, a incerteza que deverá ser considerada é de 35%.

B) O valor obtido para o índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea, D 2 m, nT, w ,
acrescido do fator I no valor de 3 dB, satisfaça o limite regulamentar;

C) O valor obtido para o índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea, DnT, w , acrescido
do fator I no valor do 3 dB, e a diferença D nT, oit.63 Hz acrescida do fator I no valor de 5 dB,
satisfaçam o limite regulamentar;

33
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

D) O valor obtido para o nível do ruído particular, LAeq, diminuído do fator I no valor de 3 dB,
satisfaça o limite regulamentar.

4
METODOLOGIA

4.1. CASA DA CULTURA DE ÍLHAVO


4.1.1. ENQUADRAMENTO GERAL
Situado na avenida 25 de Abril no centro de Ílhavo (Fig. 4.1), a Casa da Cultura de Ílhavo, é um
equipamento com capacidades de apresentação artística multidisciplinar, tendo como principal
objetivo introduzir e fomentar o interesse artístico da população da região. Na presente dissertação
apenas o auditório para espetáculos será analisado, contudo a edificação é também composta por
um hall de entrada, uma sala de exposições, camarotes e uma sala de ensaios [47].

Figura 4.1 – Localização da Casa da Cultura de Ílhavo [50] e [59].

Inaugurada em 2008, da autoria do arquiteto Ilídio Ramos, o auditório da Casa da Cultura de


Ílhavo apresenta uma lotação para 491 pessoas, estando preparada para acolher uma extensa gama
de eventos, entre eles: espetáculos, congressos, seminários, convenções, eventos corporativos e
sociais, cursos, exposições e apresentações [48] (Fig. 4.2).
Em 2022, obteve a melhor pontuação (18,2) na primeira edição do Concurso de Apoio à
Programação da Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses desenvolvido pela Direção-Geral das
Artes (DGARTES). A candidatura foi avaliada com base numa série de fatores, entre eles a
relevância da programação e a acessibilidade, tendo sido distinguida pela “inovação, originalidade
e diversidade” da sua programação [49].

34
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 4.2 – Auditório da Casa da Cultura de Ílhavo [foto do autor].

4.1.2. CARATERIZAÇÃO ARQUITETÓNICA E GEOMÉTRICA


O palco totaliza uma área de 245 m2 tendo 172 m2 de área útil. O volume total da plateia foi
calculado utilizando as plantas da figura 4.3 e 4.4, através de um processo de seccionamento
aproximado com recurso à ferramenta de medição de áreas/distâncias do AutoCAD (Quadro 4.1).

Figura 4.3 – Corte Transversal do auditório [60].

35
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 4.4 – Planta do auditório [61].

Quadro 4.1 – Dimensões aproximadas da plateia do auditório.

Secção Área (m2) Pé direito médio (m) Volume (m3)

Zona Inferior (Filas A, 112 11,4 1277


B, C, D)

Zona Intermédia (Filas 161 9,0 1449


E, F, G, H, I, J, K, L)

Zona Superior (Filas 188 5,6 1053


M, N, O, P, Q, R, S, T)

TOTAL 461 3779

Pode-se ainda identificar uma série de pormenores construtivos que realçam preocupações
acústicas entre eles:
 Assentos almofadados;
 Cortinas de veludo para uma possível acústico variável;
 Presença de painéis refletores nas bancadas laterais de modo a evitar flutter echoes;
 Pavimento em madeira sobre amortecimento de neoprene para evitar ruídos de
impacto;
 Concha acústica na zona superior do palco;
 Teto suspenso;
 Paredes com isolamento acústico de lã de rocha;
 Painéis refletores posicionados no teto.

36
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

4.2. EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO


Os equipamentos de medição disponibilizados pelo Laboratório de Acústica da FEUP no âmbito
do levantamento dos ensaios acústicos foram:
 Fonte sonora Brüel & Kjær, modelo 4224 (Fig. 4.5);
 Sonómetro Brüel & Kjær, modelo 2260 (Fig. 4.5);
 Equipamento de RASTI Brüel & Kjær: emissor, modelo 4225 e recetor, modelo 4419
(Fig. 4.6);
 Microfone de 13 mm Brüel & Kjær, modelo 4189;
 Tripé portátil Brüel & Kjær, modelo UA0049;
 Medidor de distância Bosch DLE-40.

Figura 4.5 – Sonómetro Brüel & Kjær, modelo 2260 (a), Fonte sonora Brüel & Kjær, modelo 4224
(direita) (b) [fotos do autor].

37
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 4.6 – Equipamento RASTI [fotos do autor].

4.3. PARÂMETROS ACÚSTICOS MEDIDOS


4.3.1. DEFINIÇÃO
No âmbito da caraterização acústica da sala em questão foram realizadas, no dia 31 de março de
2023 medições com o intuito de identificar o tempo de reverberação da sala, o ruído de fundo
presente com e sem o sistema de ventilação em funcionamento (níveis de pressão sonora) e
finalmente, foi utilizado o RASTI para determinar o nível de inteligibilidade da palavra no
auditório.

4.3.2. METODOLOGIA – TEMPO DE REVERBERAÇÃO


Tal como previamente referido, o tempo de reverberação é o parâmetro mais decisivo no
desempenho acústico de qualquer sala. Com o auxílio de uma fonte de ruído e um sonómetro,
procedeu-se ao levantamento do tempo de reverberação em três lugares distintos da sala (Fig.
4.7).
A definição exata para o tempo de reverberação é o tempo em segundos necessários para que
ocorra um decaimento no valor de 60 dB. Contudo, devido a limitações relativamente à
compatibilização do valor do ruído de fundo (30 – 40 dB) com o ruído máximo que o
equipamento gerador era capaz de fornecer, os parâmetros medidos foram os tempos de
reverberação correspondentes à extrapolação dos decaimentos de 20 e 30 dB (T 20 e T30
respetivamente). Tal como evidenciado no capítulo 2.3, é possível assumir que a curva do
decaimento sonoro se comporta de maneira linear, sendo, portanto, possível extrapolar o valor
para o tempo de reverberação correspondente a um decaimento de 60 dB (T 60). Para o presente
caso de estudo, o tempo de reverberação diretamente medido foi T 30.
A avaliação do tempo de reverberação envolve a emissão de um ruído rosa com uma amplitude
elevada o suficiente de forma que não sejam detetadas interferências devido ao ruído de fundo. A
fonte emissora foi posicionada na região central do palco de forma a replicar as condições de
funcionamento normal, sendo que o sonómetro utilizado foi posicionado nas posições T1, T2 e T3
evidenciadas na figura 4.7.

38
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 4.7 – Posições das medições para o tempo de reverberação (T1, T2, T3) e da fonte sonora (FS) no palco
[61].

4.3.3. METODOLOGIA - RUÍDO DE FUNDO (AVAC LIGADO/DESLIGADO)


Com o auxílio de um sonómetro foram realizadas medições de níveis de pressão sonora em duas
localizações distintas (Fig. 4.8). Estas medições foram efetuadas em condições de máximo
silêncio, isto é, sem plateia e sem fontes de ruído interno. De seguida, para as mesmas posições,
foram levantadas novas medições com o sistema de AVAC ligado de modo a identificar o ruído
produzido por este equipamento em específico. No momento de realização das medições, o
sistema de ventilação da zona superior da plateia não se encontrava disponível sendo, portanto,
medido apenas com o AVAC situado na zona superior do palco.
Posteriormente, realizou-se uma análise com base nas curvas de incomodidade (NC e NR) de
modo a ser possível quantificar o efeito negativo experienciado pelos utilizadores devido ao ruído
de fundo.

39
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 4.8 – Posições das medições do ruído de fundo (F1, F2) e da fonte sonora (FS) no palco [61].

4.3.4. METODOLOGIA - RASTI (RAPID SPEECH TRANSMISSION INDEX)


O RASTI é uma simplificação do STI (Speech Transmission Index) e tem como função atribuir
um valor objetivo para a inteligibilidade da palavra de um determinado local. O procedimento
consiste na aplicação de um ruído através do equipamento emissor acompanhado de um
instrumento recetor em várias posições da sala, que permite quantificar a modulação sonora
transferidas e as suas perdas. A localização da fonte emissora e dos lugares de medição encontra-
se representada na figura 4.9.
Sendo assim, o RASTI revela-se essencial para quantificar objetivamente a inteligibilidade da
palavra no auditório, que para além das suas aplicações musicais, também tem de ter em conta
utilizações baseadas na oratória.
Contrariamente aos parâmetros previamente estudados, o RASTI não necessita da utilização de
um tripé para o posicionamento do elemento recetor, uma vez que este encontra-se colocado ao
peito do operador de modo a facilitar a medição do maior número de pontos possível no mínimo
intervalo de tempo.

40
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 4.9 – Posições das medições do RASTI (R1, R2, R3, R4, R5, R6) e da fonte sonora (FS) no palco [61].

41
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

42
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

5
RESULTADOS OBTIDOS

5.1. TEMPO DE REVERBERAÇÃO


A empresa “23 Milhas”, responsável pela exploração da Casa da Cultura de Ílhavo desenvolveu
uma planta esquemática do posicionamento dos lugares ao longo do auditório tal como
apresentado na figura 5.1, que no contexto na presente dissertação tem o intuito de auxiliar a
perceção do posicionamento dos lugares medidos para os diversos parâmetros.

Figura 5.1 – Esquema em planta da posição dos lugares do auditório do Centro Cultural de Ílhavo [51].

Os resultados obtidos para o tempo de reverberação encontram-se apresentados no quadro 5.1 e na


figura 5.2.
Quadro 5.1 – Resultados das medições do Tempo de Reverberação (T30) no auditório do Centro da Cultura de
Ílhavo.

43
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Tempo de reverberação (T30) (s)

Frequência (Hz) C15 M16 Q23 Desvio Padrão Média

100 1,73 1,87 1,52 0,14 1,71

125 1,77 1,71 1,57 0,08 1,68

160 1,79 1,74 1,41 0,17 1,65

200 1,58 1,52 1,48 0,04 1,53

250 1,34 1,22 1,36 0,06 1,31

315 1,11 1,22 1,19 0,05 1,17

400 1,04 1,07 1,00 0,03 1,04

500 1,01 1,02 1,09 0,04 1,04

630 1,04 0,90 1,06 0,07 1,00

800 1,01 0,97 1,10 0,05 1,03

1000 1,06 0,97 1,01 0,04 1,01

1250 1,01 1,10 1,04 0,04 1,05

1600 1,00 1,09 1,01 0,04 1,03

2000 1,03 1,02 0,98 0,02 1,01

2500 0,96 0,93 1,02 0,04 0,97

3150 0,96 0,91 0,98 0,03 0,95

4000 0,96 0,91 0,91 0,02 0,93

5000 1,19 0,93 0,91 0,13 1,01

44
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 5.2 – Valores do tempo de reverberação (s) de cada ponto medido juntamente com a sua média, nas
bandas de frequência de 1/3 oitava entre 100 e 5000 Hz.

Tal como referido no capítulo 3.3, o Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios (RRAE)
define um valor máximo para o tempo de reverberação em função do volume, para edifícios que
apresentem utilizações assentes na oratória como é o caso do auditório em análise. Aplicando a
expressão presente no regulamento para um espaço com um volume de 3779 m 3, o tempo de
reverberação médio nas bandas de oitava centradas nas frequências de 500, 1000 e 2000 Hz tem
de ser inferior a 0,93 segundos. No quadro 5.2 encontra-se esquematizado os valores utilizados
para comprovar a concordância com o regulamento. Adicionalmente, para avaliações in situ, o
RRAE define ainda fatores de incerteza percentuais (I) em função do volume da sala, sendo que
neste estudo em concreto, o fator I equivale a 35%.
Quadro 5.2 – Verificação do cumprimento do RRAE para o tempo de reverberação com função assente na
“oratória”.

Tempo de
Frequência Tempo de Tempo de Tempo de
reverberação
em bandas de reverberação reverberação reverberação
medido com RRAE
1/1 oitavas médio medido médio total máximo
incerteza de
(Hz) (s) medido (s) RRAE (s)
35% (s)

500 1,03
Cumpre (com
1000 1,03 1,02 0,69 0,93
incerteza I)
2000 1,00

Embora, do ponto de vista de verificação regulamentar, o tempo de reverberação seja calculado


com o auditório vazio, é interessante conhecer o impacto que o aumento do coeficiente de
absorção sonora tem na sala através das próprias pessoas que fazem parte da plateia. Através do
quadro 5.3, procedeu-se ao cálculo do aumento do coeficiente em função da audiência. Os valores

45
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

de referência utilizados para o coeficiente de absorção da cadeira vazia/cheia são os propostos por
Leo Beranek em 1996 para estofos médios nas bandas de frequências entre 125 – 4000 Hz [27].
As áreas de absorção foram aproximadas assumindo uma faixa absorvente de 0,5 e 0,25 metros
em todo o perímetro das cadeiras que visa replicar o efeito dos espetadores em situação de lotação
cheia e a metade respetivamente. Importa salientar que esta é uma análise muito pouco refinada
uma vez que, a assunção de que a absorção provocada por um espetador pode ser substituída por
um alargamento da área em estudo é obviamente falaciosa, e apenas foi utilizada de modo a
simplificar os cálculos, obtendo-se assim um resultado que apenas aponta para a conclusão que se
espera que um estudo mais aprofundado chegue.

Quadro 5.3 – Parâmetros utilizados para o cálculo do tempo de reverberação com a sala toda
ocupada e com metade da lotação

Área da plateia zona


inferior (Filas A – D) 214 Svazio (m2) 1063
(m2)

Área da plateia zona


intermédia (Filas E – 420 Scheio (m2) 1129
M) (m2)

Área da plateia zona


superior (Filas N -T) 429 Smetade da lotação (m2) 1096
(m2)

Frequência (Hz) 125 250 500 1000 2000 4000

α (cadeira vazia) 0,56 0,64 0,70 0,72 0,68 0,62

α (cadeira ocupada) 0,68 0,75 0,82 0,85 0,86 0,86

Δα (lotação cheia) 0,12 0,11 0,12 0,13 0,18 0,24

ΔA =ΔαS (lotação
135 124 135 147 203 271
cheia) (m2)
ΔA =ΔαS (lotação a
68 62 68 74 102 136
metade) (m2)

Uma vez que o volume já foi previamente estimado (3779 m 3), é possível, através da fórmula de
Sabine obter valores aproximados para o tempo de reverberação em condições de sala cheia e de
meia lotação (quadro 5.4).

46
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Quadro 5.4 – Cálculo dos valores estimados para o tempo de reverberação em condições de sala
completamente ocupada e com 50% da lotação nas frequências entre 125 e 4000 Hz em bandas de 1/1 oitava

TR médio
TR TR TR TR médio
A lotação 500/1k/2k Hz
sala A sala vazia A lotação lotação lotação 500/1k/2k Hz
Freq. (Hz) metade previsto
vazia (m2) 2
cheia (m ) cheia metade previsto meia
(m2) lotação cheia
(s) (s) (s) lotação (s)
(s)

125 1,68 360 495 428 1,22 1,41 - -

250 1,34 451 575 513 1,05 1,18 - -

500 1,03 587 722 655 0,84 0,92

1000 1,03 587 734 661 0,82 0,91 0,80 0,90

2000 1,00 605 808 707 0,75 0,86

4000 0,96 630 901 766 0,67 0,79 - -

O tempo de reverberação médio (500/1000/2000 Hz) do auditório deixaria de ser 1,02 segundos e
reduziria para cerca de 0,8 segundos, sendo que não existem variações relevantes entre a situação
de ocupação total e em metade (0,9 segundos). A figura 5.3 ilustra graficamente a diferença de
valores entre os tempos de reverberação em condições de sala cheia e vazia e pode-se também
visualizar o impacto da elevada absorção sonora do público para as baixas frequências (125 – 250
Hz).
Finalmente, através do quadro 5.5 procedeu-se à análise do tempo de reverberação do auditório
em função dos valores recomendados para cada tipo de utilização. Para este efeito, utilizou-se o
tempo de reverberação medido nas frequências de 500 e 1000 Hz para as bandas de uma oitava.
Observa-se nesta análise não foram consideradas as frequências entre 1000 e 2000 Hz de modo a
verificar-se uma comparação justa entre os valores ideais definidos pela literatura (que apenas
compreendem as frequências entre 500 e 1000 Hz) e os resultados obtidos.

TR sala vazia TR sala cheia


1.8
1.6
Tempo de reverberação (s)

1.4
1.2
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
125 250 500 1000 2000 4000
Frequência (Hz)

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Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 5.3 – Tempos de reverberação em condições de sala vazia (medido) e com ocupação total (previsto), nas
bandas de frequência de 1/1 oitava entre 125 e 4000 Hz.

Quadro 5.5 – Comparação dos valores do tempo de reverberação em situação de ocupação total e nula em
função do tipo de utilização [1].

Tempos de Comparação com o Comparação com o


Tipo de utilização reverberação ideais auditório vazio (T500-1000 auditório cheio (T500-1000
(500-1000 Hz) (s) Hz = 1,03 s) Hz = 0,83 s)

Auditório polivalente 1,6 – 1,8 Não adequado Não adequado

Auditório (Palavra) 0,7 – 0,8 Não adequado Aceitável

Cinema 0,8 – 1,0 Aceitável Adequado

Conferências 0,9 – 1,1 Adequado Aceitável

Estúdio de gravação 0,4 – 0,6 Não adequado Não adequado

Música popular 0,8 – 1,0 Aceitável Adequado

Música sinfónica
1,4 – 1,6 Não adequado Não adequado
Barroca

Música sinfónica
1,6 – 1,8 Não adequado Não adequado
Clássica

Música sinfónica
1,4 – 1,9 Não adequado Não adequado
Moderna

Música sinfónica
1,9 – 2,2 Não adequado Não adequado
Romântica

Ópera (não
1,3 – 1,7 Não adequado Não adequado
wagneriana)

Ópera (Wagner) 1,8 – 1,9 Não adequado Não adequado

Teatro 0,7 – 0,9 Não adequado Adequado

48
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

5.2. RUÍDO DE FUNDO


Nos quadros 5.6 e 5.7 são apresentados os resultados obtidos para o nível de pressão sonora de
ruído de fundo presente no auditório com o sistema de ventilação desligado e ligado
respetivamente. Com base nestes quadros pode-se concluir que o sistema AVAC provoca um
aumento de 12 dB no valor do nível de pressão sonora equivalente com o filtro A aplicado.
Nas figuras 5.4 e 5.5 encontram-se representados graficamente os valores dos níveis de pressão
sonora de ruído de fundo em função da frequência, com o equipamento AVAC ligado e desligado.
Na figura 5.4, como AVAC desligado, pode-se ainda observar que o nível de ruído de fundo não
varia significativamente conforme a posição, isto é, o ruído de fundo na zona superior da plateia
(lugar E13) é semelhante ao ruído sentido numa localização mais afastada da plateia (lugar Q23).
Por outro lado, na figura 5.5 onde o sistema de ventilação está em funcionamento, observa-se uma
ligeira diferenciação entre os valores registados nas diferentes localizações.
As figuras 5.6 e 5.7 revelam a variação do nível de pressão sonora quando o sistema de ventilação
é ligado, observar-se que as frequências que se estendem entre 100 e 5000 Hz são as mais
prejudiciais para o conforto acústico da audiência. Este aumento que para algumas frequências
atinge valores superiores a 15 dB pode dificultar significativamente a audibilidade do auditório.
Adicionalmente, a figura 5.8 apresenta graficamente a diferença entre o ruído provocado pelo
sistema de ventilação e o ruído de fundo em função da frequência, observando-se que a frequência
onde o sistema AVAC aumenta mais o ruído de fundo é na banda dos 500 Hz.
O auditório do Centro da Cultura de Ílhavo integra o artigo 10º do RRAE que especifica entre
outros parâmetros, valores máximos para o ruído de fundo audível no interior da edificação de
forma a garantir a integridade acústica. O nível sonoro do ruído de fundo máximo com ausência
de funcionamento de equipamentos e sem audiência definido pelo regulamento são 30 dB(A). A
média energética do valor do ruído de fundo do auditório foi 25 dB com o filtro A aplicado,
verificando-se o cumprimento da restrição acima indicada.
O RRAE define também valores máximos para o nível sonoro contínuo equivalente associado ao
funcionamento de equipamentos e instalações técnicas (como é o caso do AVAC). Para salas onde
a principal utilização não é o cinema, o valor máximo mantém-se em 30 dB (A). A CCI não
verifica esta restrição uma vez que o valor do ruído de fundo médio calculado com o sistema de
ventilação em funcionamento e com a sala vazia é de 36 dB (A), bastante superior ao definido
pelo regulamento mesmo aplicando a incerteza (I) prevista de 3 dB.
Os valores de Leq e LAeq foram obtidos através da soma logarítmica dos níveis sonoras de todas as
frequências compreendidas entre 20 e 20000 Hz, ou seja, o espetro audível.

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Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Quadro 5.6 – Níveis de ruído de fundo em bandas de 1/3 oitava nas frequências compreendidas entre 20 e
20000 Hz sem sistema de ventilação em funcionamento, bem como o nível sonoro equivalente com e sem o filtro
A.
Ruído de fundo sem AVAC (dB)
Posição Média logarítmica

Frequência (Hz) E13 E13 Q23 Q23


Sem filtro Com filtro
(sem (com (sem (com
A A
filtro A) filtro A) filtro A) filtro A)
20 40,8 < 0,0 40,4 < 0,0 40,6 < 0,0
25 43,2 < 0,0 42,7 < 0,0 43,0 < 0,0
31,5 39,9 0,5 39,6 0,2 39,8 0,4
40 39,1 4,5 38,7 4,1 38,9 4,3
50 37,1 6,9 37,0 6,8 37,1 6,9
63 32,7 6,5 32,2 6,0 32,5 6,3
80 28,3 5,8 27,7 5,2 28,0 5,5
100 25,4 6,3 24,8 5,7 25,1 6,0
125 21,8 5,7 21,6 5,5 21,7 5,6
160 22,8 9,4 22,4 9,0 22,6 9,2
200 22,4 11,5 21,8 10,9 22,1 11,2
250 18,3 9,7 17,7 9,1 18,0 9,4
315 14,9 8,3 14,8 8,2 14,9 8,3
400 13,0 8,2 12,6 7,8 12,8 8,0
500 11,9 8,7 11,3 8,1 11,6 8,4
630 15,1 13,2 14,3 12,4 14,7 12,8
800 15,1 14,3 14,2 13,4 14,7 13,9
1000 14,1 14,1 13,3 13,3 13,7 13,7
1250 14,2 14,8 13,4 14,0 13,8 14,4
1600 14,6 15,6 13,8 14,8 14,2 15,2
2000 11,9 13,1 11,2 12,4 11,6 12,8
2500 10,0 11,3 9,6 10,9 9,8 11,1
3150 9,1 10,3 8,9 10,1 9,0 10,2
4000 9,1 10,1 9,0 10,0 9,1 10,1
5000 9,3 9,8 9,1 9,6 9,2 9,7
6300 10,2 10,1 10,1 10,0 10,2 10,1
8000 9,0 7,9 8,9 7,8 9,0 7,9
10000 9,3 6,8 9,2 6,7 9,3 6,8
12500 8,9 4,6 8,9 4,6 8,9 4,6
16000 9,0 2,4 9,0 2,4 9,0 2,4
20000 13,7 4,4 13,6 4,3 13,7 4,4
Leq (dB) 50,9 - 50,4 - 53,7 -

50
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

LAeq (dB) - 24,9 - 24,4 - 27,7

Quadro 5.7 – Níveis de ruído de fundo em bandas de 1/3 oitava nas frequências compreendidas entre 20 e
20000 Hz com o sistema de ventilação ligado, bem como o nível sonoro equivalente com e sem o filtro A.
Ruído de fundo com AVAC (dB)
Posição Média logarítmica
Frequência (Hz) ΔL (com e
E13 (sem E13 (com Q23 (sem Q23 (com Sem filtro Com filtro sem AVAC)
filtro A) filtro A) filtro A) filtro A) A A
20 41,2 < 0,0 42,4 < 0,0 41,8 < 0,0 1,2

25 41,5 < 0,0 44,5 < 0,0 43,3 < 0,0 0,3

31,5 41,2 1,8 44,9 5,5 43,4 4,0 3,6

40 42,0 7,4 42,6 8,0 42,3 7,7 3,4

50 36,6 6,4 39,5 9,3 38,3 8,1 1,2

63 32,9 6,7 36,5 10,3 35,1 8,9 2,6

80 30,4 7,9 32,4 9,9 31,5 9,0 3,5

100 29,2 10,1 31,8 12,7 30,7 11,6 5,6

125 32,5 16,4 32,9 16,8 32,7 16,6 11,0

160 31,9 18,5 33,4 20,0 32,7 19,3 10,1

200 30,8 19,9 32,5 21,6 31,7 20,8 9,6

250 30,8 22,2 32,1 23,5 31,5 22,9 13,5

315 29,5 22,9 30,2 23,6 29,9 23,3 15,0

400 28,2 23,4 28,6 23,8 28,4 23,6 15,6

500 28,3 25,1 27,5 24,3 27,9 24,7 16,3

630 27,2 25,3 27,5 25,6 27,4 25,5 12,7

800 26,7 25,9 27,5 26,7 27,1 26,3 12,4

1000 25,6 25,6 26,9 26,9 26,3 26,3 12,6

1250 26,2 26,8 26,9 27,5 26,6 27,2 12,8

1600 25,2 26,2 26,0 27,0 25,6 26,6 11,4

2000 23,6 24,8 24,9 26,1 24,3 25,5 12,7

2500 21,3 22,6 22,5 23,8 21,9 23,2 12,1

3150 18,2 19,4 20,0 21,2 19,2 20,4 10,2

4000 16,5 17,5 18,8 19,8 17,8 18,8 8,7

5000 17,1 17,6 17,6 18,1 17,4 17,9 8,2

6300 15,3 15,2 16,0 15,9 15,7 15,6 5,5

8000 10,8 9,7 12,6 11,5 11,8 10,7 2,8

10000 10,3 7,8 12,4 9,9 11,5 9,0 2,2

12500 9,4 5,1 10,3 6,0 9,9 5,6 1,0

16000 9,4 2,8 9,7 3,1 9,6 3,0 0,6

20000 13,7 4,4 13,5 4,2 13,6 4,3 -0,1

Leq (dB) 59,1 - 57,1 - 61,2 - 7,5


LAeq (dB) - 35,8 - 36,7 - 39,3 11,6

51
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Posição E13 Posição Q23


50
45
40
Nível de pressão sonora (dB)

35
30
25
20
15
10
5
0
20 .5 50 80 5 0 5 0 0 50 00 50 00 00 0 0
31 12 20 31 50 80 12 20 31 50 80 50 00
12 20
Frequência (Hz)

Figura 5.4 – Níveis de pressão sonora do ruído de fundo em dB por bandas de frequência de 1/3 de oitava (Hz),
com o sistema AVAC desligado e sem ocupação.

Posição E13 Posição Q23


50

45

40
Nível de pressão sonora (dB)

35

30

25

20

15

10

0
20 .5 50 80 5 0 5 0 0 50 00 50 00 00 0 0
31 12 20 31 50 80 12 20 31 50 80 50 00
12 20
Frequência (Hz)

Figura 5.5 – Níveis de pressão sonora do ruído de fundo em dB por bandas de frequência de 1/3 de oitava (Hz),
com o sistema AVAC ligado e sem ocupação.

52
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

50

45

40
Nível de pressão sonora (dB)

35

30
Com AVAC
25
Com AVAC
20
Sem AVAC
15 Sem AVAC
10

0
20 .5 50 80 5 0 5 0 0 50 00 50 00 00 0 0
31 12 20 31 50 80 12 20 31 50 80 50 00
12 20
Frequência (Hz)

Figura 5.6 – Comparação gráfica entre os valores médios do nível de pressão sonora de ruído de fundo (dB), em
bandas de frequência de 1/3 de oitava com e sem o funcionamento do sistema de ventilação.

50

45
Nível de pressão sonora com filtro A (dB)

40

35

30

25
Com AVAC
20

15

10

5
Sem AVAC
0
25 40 63 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 0 0
10 16 25 40 63 10 16 25 40 63 00 00
10 16
Frequência (Hz)

Figura 5.7 - Comparação gráfica entre valores médios do nível de pressão sonora de ruído de fundo (dB) com o
filtro A (LA), em bandas de frequência de 1/3 de oitava com e sem o funcionamento do sistema de ventilação.

53
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

17.9

15.9

13.9

11.9
ΔL(AVAC-RF) (dB)

9.9

7.9

5.9

3.9

1.9

-0.1
25 40 63 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 0 0
10 16 25 40 63 10 16 25 40 63 000 600
1 1
Frequência (Hz)

Figura 5.8 – Curva da diferença média entre os níveis de pressão sonora do ruído AVAC e ruído de fundo, em
função da frequência.

5.3. CURVAS DE INCOMODIDADE NC E NR


Tal como referido anteriormente no capítulo 2.4.4, um dos critérios de análise da incomodidade e
interferência de um dado equipamento na inteligibilidade do discurso são as curvas NC (Noise
Criterion) e NR (Noise Rating). Estas curvas permitem atribuir uma determinada classificação ao
local com base nas medições do ruído de fundo presente em diferentes frequências, sendo que a
classificação atribuída corresponde ao valor máximo da curva que é intercetada pelo caso em
estudo.
Por um lado, o NC avalia o ruído compreendido entre as bandas de frequência 62,5 e 8000 Hz e é
o sistema de análise mais comum nos Estados Unidos, por outro lado, o NR abrange as
frequências entre as bandas de 31,25 e 8000 Hz e é o índice mais utilizado na Europa.
As figuras 5.9 e 5.10 foram elaboradas através da sobreposição entre as curvas gerais no NC e a
curva dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo em bandas de frequência de 1/1 oitavas sem
e com o AVAC ligado respetivamente. Através da figura 5.9 pode-se concluir que a classificação
em condições de não utilização do sistema de ventilação é NC 13, o que corresponde a um valor
muito satisfatório que dificilmente causará problemas na interpretação do discurso. Contudo, com
base na figura 5.10 pode-se concluir que, quando o sistema AVAC encontra-se em funcionamento
o Noise Criterion é NC 25.
De forma semelhante, nas figuras 5.11 e 5.12 encontram-se representadas as curvas NR
sobrepostas com a curva do nível de pressão sonora do ruído de fundo sem e com o sistema de
ventilação em funcionamento respetivamente. As figuras permitem concluir que o Noise Rating

54
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

em condições de não utilização do sistema de ventilação equivale a NR 17.Por outro lado, quando
o AVAC encontra-se ligado, a classificação é NR 27.
Finalmente, os resultados obtidos com base em ambas as curvas de incomodidade foram
organizados nos quadros 5.8 e 5.9 de modo a facilitar a comparação entre os valores do auditório
em estudo e os valores recomendados para cada utilização tipo.

Figura 5.9 – Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NC, com o AVAC
desligado.

55
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 5.10 – Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NC, com o AVAC
ligado.

Figura 5.11 – Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NR, com o AVAC
desligado.

56
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 5.12 - Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NR, com o AVAC
ligado.

Quadro 5.8 – Valores máximos recomendados para o NC [1].

NC da
NC da sala
Valores máximos sala em Verificação Verificação
em estudo
Utilização tipo recomendados estudo (AVAC (AVAC
(AVAC
para o NC (AVAC desligado) ligado)
desligado)
ligado)

Grandes
auditórios, salas
NC 20 Cumpre Não cumpre
de concerto,
salões de ópera

Pequenos
auditórios, NC 13 NC 25
teatros, grandes NC 20 – NC 30 Cumpre Cumpre
salas de
conferência

Pequenas salas
NC 30 – NC 35 Cumpre Cumpre
de conferência

Quadro 5.9 – Valores máximos recomendados para o NR [52].

Utilização Valores máximos NR da sala em NR da sala Verificação Verificação

57
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

em estudo
recomendados estudo (AVAC (AVAC (AVAC
tipo (AVAC
para o NR desligado) desligado) ligado)
ligado)

Salas de
NR 25 Cumpre Não cumpre
concerto

Cinemas, NR 30 Cumpre Cumpre


NR 17 NR 27
Teatros NR 30 Cumpre Cumpre

Salas de
NR 30 Cumpre Cumpre
Conferência

5.4. RASTI
De modo a avaliar a inteligibilidade da palavra procedeu-se ao levantamento de três medições
RASTI em seis pontos distintos. Os diversos pontos escolhidos têm o intuito de simular as
diferentes posições que os espetadores podem ocupar de forma a proporcionarem um intervalo de
resultados que demonstre a variabilidade da facilidade de interpretação do discurso à medida que
o ouvinte se afasta da fonte emissora posicionada no centro do palco.
O RASTI é um parâmetro objetivo que define intervalos de valores (entre 0 e 1) que permitem
classificar o grau de inteligibilidade de um determinado local. Os conjuntos de valores
correspondentes para cada classificação encontram-se apresentados no subcapítulo 2.5.2, sendo
relevante para o caso em particular referir que uma inteligibilidade excelente apresenta RASTI
superior a 0,75 e uma inteligibilidade boa corresponde ao intervalo compreendido entre 0,61 e
0,75.
No quadro 5.10 apresenta-se os valores obtidos para cada medição nos respetivos lugares,
juntamente com a sua média aritmética. Através da análise do quadro 5.10 observa-se que a média
das medições encontra-se entre 0,76 e 0,63 correspondendo a uma inteligibilidade boa e até
mesmo excelente na posição mais perto e frontal da fonte emissora. A variabilidade dos resultados
obtidos deve-se à grande dimensão do auditório e às reflexões inevitavelmente observadas nas
regiões mais marginais do auditório.

58
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Quadro 5.10 – Resultados obtidos para o parâmetro RASTI sem sistema AVAC, juntamente com a média obtida
para cada posição medida.

RASTI (sem AVAC)

Lugares medidos 1ª Medição 2ª Medição 3ª Medição Média aritmética

B15 0,77 0,75 0,76 0,76

B24 0,70 0,71 0,72 0,71

L15 0,68 0,68 0,69 0,68

L24 0,62 0,63 0,63 0,63

Q15 0,66 0,65 0,65 0,65

Q24 0,63 0,63 0,62 0,63

Devido a limitações temporais, a análise da inteligibilidade da palavra apenas foi realizada com o
sistema de ventilação desligado, considerando-se importante a realização de novas medições com o
sistema AVAC ligado de modo a compreender o seu impacto na compreensão oral dos espetadores.

6
COMPARAÇÃO COM OUTRAS
SALAS

6.1 INTRODUÇÃO
Para enquadrar o desempenho acústico observado no auditório do Centro Cultural de Ílhavo foi
realizada uma análise comparativa com outras seis dissertações que analisaram os mesmos
parâmetros noutras edificações similares em Portugal. Os parâmetros que foram comparados são o

59
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

tempo de reverberação, as curvas de incomodidade NR e NC, o ruído de fundo e a classificação


RASTI.
As dissertações que foram utilizadas para as comparações foram: “Caracterização acústica de
Grandes Auditórios. O caso do auditório da FEUP” [55], “Caracterização acústica do cineteatro
Eduardo Brazão (Valadares)” [57], “Análise acústica na reabilitação do cineteatro de Esmoriz”
[53], “Caracterização Acústica do Grande Auditório do Convento de S. Francisco (Coimbra)”
[58], “Caracterização acústica do Centro de Artes de Águeda” [54] e “Caraterização acústica do
centro de congressos do Altice Fórum Braga” [56].

6.2 TEMPO DE REVERBERAÇÃO


No quadro 6.1 apresentam-se os valores dos tempos de reverberação médios das diversas salas e
os seus respetivos volumes. Os tempos de reverberação médios considerados são compostos pelas
bandas de frequência de 1/1 oitava dos 500, 1000 e 2000 Hz, sendo estas as bandas de frequência
para as quais o RRAE impõe valores máximos para o tempo de reverberação para a função
“oratória”.
Através da análise do quadro 6.1, pode-se verificar que o Cineteatro de Esmoriz apresenta o
“pior” tempo de reverberação (1,8 s), o que pode ser explicado pelo facto de no momento da
realização dos seus ensaios, o espaço ainda não se encontrar mobilado. Embora o tempo de
reverberação do Auditório da FEUP seja apenas o terceiro “pior” (1,4 s) é acusticamente muito
insatisfatório, uma vez que a sua utilização principal é a palavra que necessita de tempos de
reverberação muito inferiores para não se encontrar dificuldades na compreensão do discurso. Por
outro lado, apesar do seu grande volume (9150 m3), o Grande Auditório do Altice Fórum Braga
revela um tempo de reverberação muito satisfatório (1,0 s) o que aponta para um bom tratamento
acústico. Apesar de, do ponto de vista da oratória, o Pequeno Auditório do Altice Fórum de Braga
ser ideal, o seu valor do tempo de reverberação muito reduzido (0,47 s) provoca defeitos acústicos
para as outras utilizações uma vez que, é uma sala muito seca.
A figura 6.1 representa graficamente a relação entre o volume e o tempo de reverberação médio. É
possível observar um certo grau de correlação, tal como esperado pela fórmula de Sabine, contudo
o coeficiente de correlação (R2) é muito baixo (0,42) o que pode ser explicado pelos diferentes
pormenores acústicos empregados em cada sala.
O caso particular da Casa da Cultura de Ílhavo não se destaca nem pela positiva nem pela
negativa sendo que a sua posição do seu tempo de reverberação na figura 6.1 praticamente
interceta a linha de regressão ajustada.
Quadro 6.1 – Comparação dos valores do tempo de reverberação médio para as bandas de frequência de 500,
1000 e 2000 Hz com o volume de cada um dos auditórios [53], [54], [55], [56], [57], [58].

TR (500,1000 e 2000
Auditório Volume (m3) TR médio (s)
Hz) (s)

1,03

Casa da Cultura de Ílhavo 3779 1,03 1,02

1,00

Auditório FEUP 3317 1,50 1,40

60
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

1,40

1,20

0,78

Centro de Artes de Águeda 5066 0,88 0,84

0,85

1,60

Cineteatro de Esmoriz 8574 1,77 1,76

1,90

1,10

Cineteatro Eduardo Brazão (Valadares) 2111 1,09 1,12

1,18

1,47
Grande Auditório do Convento S.
12000 1,55 1,52
Francisco (Coimbra)
1,55

1,04

Grande Auditório do Altice Fórum Braga 9150 1,01 1,01

0,99

0,43

Pequeno Auditório do Altice Fórum Braga 1320 0,50 0,47

0,47

61
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

2.0
Cineteatro Esmoriz
1.8

1.6
Auditório FEUP
Tempo de reverberação (s)

1.4 f(x) = 0.347453647548517 ln(x) − 1.77981546687871 Grande Auditório


R² = 0.423730697423576 Coimbra
1.2
Cineteatro Valadares
1.0
C. C. Ílhavo Grande Auditório
0.8 Braga
C. A. Águeda
0.6

0.4
Peq. Auditório Braga
0.2

0.0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000
Volume (m3)

Figura 6.1 – Relação entre os valores do tempo de reverberação médio para as bandas de frequência de 1/1
oitava entre os 500 e os 2000 Hz e o volume das salas [53], [54], [55], [56], [57], [58].

6.3 RUÍDO DE FUNDO


Os resultados das medições efetuadas para o nível sonoro contínuo com o filtro A aplicado (L Aeq),
juntamente com os resultados das curvas NC e NR dos diversos auditórios encontram-se
representados nos quadros 6.2 e 6.3 em condições de sala desocupada, sem e com o sistema de
ventilação em funcionamento, respetivamente. É importante salientar que as medições efetuadas
no Cineteatro de Esmoriz não englobaram o ruído de fundo, sendo por isso que este espaço não
consta em nenhuma das tabelas e, no caso do Cineteatro Eduardo Brazão apenas foram calculados
os valores NR e NC em situação de utilização do sistema AVAC.
Através do estudo do quadro 6.2 (situação sem AVAC), pode-se concluir que, com a exceção do
Cineteatro Eduardo Brazão, todos os auditórios cumprem a restrição presente no RRAE que
define como 30 dB(A) valor máximo do nível sonoro de ruído de fundo. Portanto, é possível aferir
que para todos os outros auditórios os materiais utilizados na sua construção da envolvente
apresentam bom desempenho do ponto de vista do isolamento sonoro. Relativamente aos valores
de NR todos os espaços apresentam uma classificação igual ou inferior a NR 25, sendo este o
valor mais exigente aplicado a salas de concerto. Em relação às curvas NC, também aqui todas as
edificações cumprem as suas exigências, excetuando-se o Centro de Artes de Águeda que
apresenta NC 22, sendo que NC 20 é a maior restrição.
Analisando agora a situação com o sistema de ventilação em funcionamento, os resultados são
muito menos satisfatórios e verificam-se múltiplos incumprimentos tanto do RRAE como de
valores recomendados para as curvas de incomodidade. No que diz respeito ao nível sonoro
contínuo praticamente nenhum dos locais consegue cumprir as exigências do regulamento
português que limita este valor a 30 dB(A), sendo que o Grande Auditório do Convento S.
Francisco foi o único que alcançou este objetivo (30 dB(A)). Em contrapartida, o Auditório FEUP

62
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

apresenta um ruído de fundo extremamente elevado (41 dB(A)). Quanto às curvas NC e NR, mais
uma vez o auditório da FEUP destaca-se negativamente com valores bastante superiores aos
recomendados e apenas o Pequeno Auditório do Altice Fórum Braga e o Grande Auditório do
Convento S. Francisco cumprem as exigências mais rigorosas para ambos os parâmetros.
Relativamente à Casa da Cultura de Ílhavo, o nível sonoro equivalente é o terceiro “pior” dentro
das sete salas analisadas e os valores de NC e NR encontram-se próximos da média das outras
salas.
Em geral, embora quase todas as salas apresentem bons resultados quando o sistema AVAC se
encontra desligado, assim que é exigido o seu funcionamento quase todas as salas apresentam
comportamento insatisfatório de acordo com o regulamento.
Quadro 6.2 – Níveis sonoros médios de ruído de fundo sem AVAC e correspondentes valores de NC e NR para
os diferentes auditórios [54], [55], [56], [57], [58].

Auditórios sem AVAC

LAeq (dB) NC NR

Casa da Cultura de Ílhavo 25 13 17

Auditório FEUP 27 20 23

Centro de Artes de Águeda 26 22 25

Cineteatro Eduardo Brazão (Valadares) 32 (não calculado) (não calculado)

Grande Auditório do Convento S. Francisco


27 12 15
(Coimbra)

Grande Auditório do Altice Fórum Braga 24 15 16

Pequeno Auditório do Altice Fórum Braga 25 15 17

Valores desejáveis ≤ 30 ≤ 20 ≤ 25

Quadro 6.3 – Níveis sonoros médios de ruído de fundo com AVAC e correspondentes valores de NC e NR para
os diferentes auditórios [54], [55], [56], [57], [58].

Auditórios com AVAC

LAeq (dB) NC NR

Casa da Cultura de Ílhavo 36 25 27

Auditório FEUP 41 37 39

Centro de Artes de Águeda 31 25 27

Cineteatro Eduardo Brazão (Valadares) 37 28 28

Grande Auditório do Convento S. Francisco (Coimbra) 30 19 21

Grande Auditório do Altice Fórum Braga 34 23 25

Pequeno Auditório do Altice Fórum Braga 31 18 20

Valores desejáveis ≤ 30 ≤ 20 ≤ 25

63
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

6.4 RASTI
No quadro 6.4 encontram-se organizados os valores máximos e mínimos do RASTI de todas as
salas excluído mais uma vez o Cineteatro de Esmoriz onde também não foram realizadas as
medições para este parâmetro.
O local que mais se destaca é o Pequeno Auditório do Altice Fórum de Braga onde todas as
posições medidas apresentam excelente inteligibilidade da palavra (RASTI>0,75). Por outro lado,
o Auditório FEUP, apresenta um intervalo de valores um pouco abaixo daquilo que seria
desejável num espaço cuja principal valência é a utilização do discurso. Apesar disso, os
auditórios analisados apresentam valor mínimo do RASTI de apenas 0,55 o que se traduz numa
inteligibilidade da palavra razoável.
Quadro 6.4 – Valores máximos e mínimos do parâmetro RASTI para os diferentes auditórios [54], [55], [56], [57],
[58].

RASTI

Auditórios
Valores mínimos Valores máximos

Casa da Cultura de Ílhavo 0,63 0,76

Auditório FEUP 0,57 0,69

Centro de Artes de Águeda 0,61 0,81

Cineteatro Eduardo Brazão (Valadares) 0,55 0,70

Grande Auditório do Convento S. Francisco (Coimbra) 0,55 0,72

Grande Auditório do Altice Fórum Braga 0,60 0,79

Pequeno Auditório do Altice Fórum Braga 0,75 0,84

Valores desejáveis ≥ 0,55 ≥ 0,75

Considerou-se também pertinente proceder com uma análise gráfica entre os valores médios e
mínimos do parâmetro RASTI medido e, os dois parâmetros que intuitivamente teriam maior
impacto na conservação da integridade do som sendo eles o ruído de fundo e o tempo de
reverberação da sala.
A figura 6.2 tem como objetivo demonstrar o impacto que o tempo de reverberação tem na
inteligibilidade da palavra, sendo que se observa uma correlação muito forte (R 2 = 0,91) entre os
dois parâmetros tal como se previa.
Seguidamente, procedeu-se com a mesma análise substituindo o tempo de reverberação com o
ruído de fundo médio experienciado nos diversos auditórios com o AVAC desligado através da
figura 6.3. Neste caso, contrariamente ao esperado, não se verifica uma correlação forte entre as
variáveis uma vez que o coeficiente de determinação (R2) é apenas 0,48.
Finalmente, nas figuras 6.4 e 6.5 foi feita uma análise semelhante com os valores do RASTI
mínimo. Tal como era esperado, verifica-se uma correlação significativa entre o RASTI mínimo e

64
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

o tempo de reverberação (R 2=0,90), enquanto por outro lado, a correlação com o ruído de fundo
sem AVAC é bastante fraca (R2=0,49).

0.85

0.80
Peq. Auditóriof(x) = 0.117282251210286 x² − 0.396127445550268 x + 0.958591068901323
Braga R² = 0.905525994587581
0.75 Grande Auditório
Braga
0.70
RASTI médio

C. A. Águeda C. C. Ílhavo Grande Auditório


Coimbra
0.65

0.60 Cineteatro Valadares Auditório FEUP

0.55

0.50
0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6
Tempo de reverberação (s)

Figura 6.2 – Representação entre o RASTI médio das diferentes salas e os seus valores do tempo de
reverberação médio medido para as bandas de frequência de 1/1 oitava entre os 500 e os 2000 Hz [54], [55],
[56], [57], [58].

0.90

0.85
Pequeno Auditório do Al-
tice Fórum de Braga
0.80

0.75
RASTI médio

C. A. Águeda
0.70 f(x) = 5.54557559681745 x^-0.641405282896738
Grande Auditório
R² =Braga
0.487961550858241
C. C. Ílhavo
0.65 Cineteatro
Valadares
Grande Auditório Coimbra
Auditório FEUP
0.60

0.55

0.50
22 24 26 28 30 32 34
Nível sonoro equivalente de ruído de fundo (dB(A))

65
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 6.3 – Representação entre o RASTI médio das diferentes salas e o LAeq do ruído de fundo sem o
funcionamento do sistema de ventilação [54], [55], [56], [57], [58].

0.90

0.85

0.80 Peq.
Auditório
Braga
0.75
RASTI mínimo

f(x) = 0.195987113930469 x² − 0.570070274724438 x + 0.971273644444713


R² = 0.902485838645676
0.70

0.65 C. C. Ílhavo

C. A. Águeda Grande
0.60 Auditório
Grande Coimbra
Auditório
0.55 Braga
Cineteatro
Valadares
0.50
0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6
Tempo de reverberação (s)

Figura 6.4 – Representação entre o RASTI mínimo das diferentes salas e os seus valores do tempo de
reverberação médio medido para as bandas de frequência de 1/1 oitava entre os 500 e os 2000 Hz [54], [55],
[56], [57], [58].

0.90

0.85

Peq.
0.80 Auditório
Braga
0.75
RASTI mínimo

0.70

C. C. Ílhavo
0.65
f(x) = 6.44428745866689 x^-0.723487793641775
Grande C. A. Águeda
Auditório R² = 0.399661549595954
0.60 Cineteatro
Braga Auditório FEUP Valadares
0.55 Grande
Auditório
Coimbra
0.50
22 24 26 28 30 32 34
Nível sonoro equivalente de ruído de fundo (dB(A))

66
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

Figura 6.5 – Representação entre o RASTI mínimo das diferentes salas e o LAeq do ruído de fundo sem o sistema
de ventilação ligado [54], [55], [56], [57], [58].

67
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

7
CONCLUSÃO

7.1. CONCLUSÕES
Infelizmente, a acústica continua a ser uma das áreas científicas com menos peso no que toca às
condições consideradas pela equipa projetista de modo que determinado espaço apresente o
desempenho pretendido. Apesar disso, é evidente o crescimento do interesse e das preocupações
acústicas em construções públicas.
De forma a desenvolver e a compreender melhor o paradigma acústico em Portugal, procedeu-se à
análise do caso particular do auditório da Casa da Cultura de Ílhavo, onde com base em
parâmetros medidos in situ, foi feita a comparação com outras salas previamente caraterizadas
bem como a verificação dos valores limite estipulados pelo Regulamento dos Requisitos
Acústicos dos Edifícios (RRAE).
Antes de avançar para as conclusões propriamente ditas que os resultados obtidos permitem
avançar, é importante salientar algumas dificuldades e limitações encontradas. Primeiramente, o
tempo estipulado para as medições in situ foi bastante reduzido, não sendo possível obter
amostras muito volumosas de dados o que acarreta alguma incerteza. Embora o auditório
apresente mecanismos de acústica variável estes, não se encontravam em funcionamento e não
foram realizadas quaisquer medições nesse âmbito. No que se refere ao levantamento de
parâmetros com base no funcionamento do sistema de ventilação, importa referir que apenas a
ventilação presente no teto do palco foi ligada, contrariamente à ventilação presente na região
mais afastada do palco.
Passando agora para as conclusões obtidas resultantes dos resultados, o primeiro parâmetro
estudado foi o tempo de reverberação. Foram realizadas várias medições em posições diversas
com a sala desocupada, sendo que o valor médio obtido para o tempo de reverberação nas bandas
de frequência de 500, 1000 e 2000 Hz foi de 1,0 segundos, resultado este que embora por si só
não cumpra o valor máximo estipulado pelo RRAE, após a aplicação da incerteza associada
(35%) verifica-se que respeita o limite legislativo (para a função “oratória”). Tendo em conta a
multifuncionalidade do auditório, o tempo de reverberação é aceitável apesar de nem ser ideal
para utilizações focadas na palavra (0,7—0,8 segundos) nem para funcionalidades onde é
preferível tempos de reverberação mais altos como é o caso da música clássica. Contudo, através

68
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

de mecanismos eletroacústicos seria possível reduzir estas limitações e “ocultar” o verdadeiro


valor do tempo de reverberação em prol do valor ótimo para determinado tipo de música. Em
cenários onde a palavra seja crucial e os mecanismos eletroacústicos não sejam suficientes,
sugere-se a redução do tempo de reverberação através de mecanismos de acústica variável
capazes de aumentar a absorção sonora da sala.
Embora do ponto de vista legislativo o tempo de reverberação a ser respeitado ser medido em
condições de sala vazia, considerou-se pertinente analisar também em condições de sala
totalmente ocupada de forma a obter um resultado mais próximo do valor real experienciado pela
audiência. Para as mesmas bandas de frequência o novo tempo de reverberação calculado foi de
0,8 s, valor este que é satisfatório para a inteligibilidade da palavra, contudo torna a sala mais
“seca” o que condiciona a qualidade musical.
De seguida, analisou-se o ruído de fundo que pode em determinadas condições ser muito
prejudicial acusticamente. Em condições de não funcionamento do sistema de ventilação, o ruído
de fundo global medido em bandas de 1/3 de oitava entre 12,5 e 20000 Hz foi de 25 dB(A), sendo
que os valores das curvas de incomodidade NC e NR foram respetivamente 13 e 17
respetivamente. Todos estes resultados verificam as recomendações sugeridas por vários autores
que definem como limites de NC 20 e NR 25 o ruído presente em grandes salas de concerto não
seja demasiado incomodativo. Por outro lado, considerando agora a situação de funcionamento do
AVAC, observa-se que o valor do ruído médio de fundo aumenta para 36 dB(A), resultado este
que se encontra bastante acima do máximo proposto pelo RRAE (30 dB(A)). No que se refere aos
valores recomendados para as curvas de incomodidade, não respeitam as limitações mais
exigentes, verificando apenas os valores propostos para utilizações tipo cinemas, teatros e salas de
conferências, sendo que os valores obtidos foram de NC 25 e NR 27. Sendo assim, o sistema de
ventilação provoca um aumento do nível sonoro do ruído de fundo global ( Δ L Aeq ) de 11 dB, e um
incremento das curvas de incomodidade de 12 e 10 para o NC e o NR respetivamente, mesmo não
estando a funcionar todos os mecanismos de ventilação da sala (apenas a ventilação localizada no
palco).
Apesar da sala apresentar um nível do ruído de fundo bastante satisfatório com o AVAC
desligado, em condições de funcionamento, o ruído de fundo é prejudicial à audibilidade tanto no
sentido da inteligibilidade da palavra como da qualidade musical recomendando-se assim que se
se implemente medidas que limitem o ruído proveniente deste equipamento tais como, a redução
da sua potência de funcionamento, verificação de condições de contacto entre o equipamento e a
envolvente do edifício que originem propagação de ruídos de percussão e, em última instância
substituição do equipamento por um sistema menos ruidoso.
Por fim, o último parâmetro analisado foi o RASTI que tem como função atribuir uma
classificação da inteligibilidade da palavra da sala. Os valores do RASTI medidos sem o sistema
de ventilação ligado encontram-se entre 0,63 e 0,77, o que corresponde a uma boa inteligibilidade.
Assim sendo, podemos concluir que a sala apresenta uma boa acústica para a palavra.
Após a análise dos diversos parâmetros procedeu-se à comparação com outras salas permitindo
observar-se que em nenhuma das salas analisadas se verificou o cumprimento do limite máximo
do RRAE para o nível de ruído de fundo (30 dB(A)) enquanto o sistema de ventilação se
encontrava em funcionamento. Considerou-se também pertinente encontrar o grau de correlação
entre o RASTI médio e mínimo e, o tempo de reverberação médio, verificando-se em ambos os
casos uma correlação bastante forte (R2=0,91 para o RASTI médio e R2=0,90 para o RASTI
mínimo). Adicionalmente, também se procurou relacionar o tempo de reverberação médio com o

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Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

volume das salas, sendo que o fator de correlação (R 2) foi muito pequeno (0,42) em função
daquilo que se esperaria tendo em conta a fórmula de Sabine, salientando-se assim o papel que os
sistemas de absorção sonora têm em reduzir o tempo de reverberação.
No quadro 7.1 encontram-se esquematizados todos os resultados previamente descritos, bem
como o seu cumprimento ou não relativamente à legislação em vigor (RRAE).
Quadro 7.1 – Resumo dos parâmetros acústicos medidos no Centro da Cultura de Ílhavo.

Valor
Parâmetro Valor Recomendado Avaliação
médio

Não
TR médio medido (500, 1000 e 2000 Hz) com Adequado
1,0 1,4 – 2,2 (para música
a sala vazia (s) (para
sinfónica)
música)
0,7 – 1,0 (para palavra)
Adequado
TR médio previsto (500, 1000 e 2000 Hz)
0,8 (para
para a sala totalmente ocupada (s)
palavra)

sem AVAC 25 Adequado


LAeq (dB) ≤ 30 Não
com AVAC 36
adequado

sem AVAC 13 Adequado


NC ≤ 20 Não
com AVAC 25
adequado

sem AVAC 17 Adequado


NR ≤ 25 Não
com AVAC 27
adequado

RASTI mínimo 0,63 ≥ 0,60 Adequado

RASTI máximo 0,76 ≥ 0,60 Adequado

7.2. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS


Devido a algumas dificuldades de natureza logística e temporal, não foi possível realizar alguns
estudos que seriam muito pertinentes para a melhor compreensão acústica da sala. Os
desenvolvimentos que se demonstram mais relevantes para uma abordagem futura são:
 Medição de outros parâmetros objetivos (como C80, D50 e EDT);
 Realização de testes subjetivos com recurso a inquéritos e a sua posterior comparação
com os resultados da análise objetiva;
 Aprofundamento da análise da inteligibilidade da palavra com recurso ao método
STI;
 Análise e comparação do desempenho da sala com mecanismos de acústica variável
em funcionamento (cortinas);

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Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

 Modelação tridimensional da sala de forma a permitir a utilização de um software


acústico que permita alterar digitalmente a composição de alguns dos materiais que
compõem a envolvente da sala e, o estudo do impacto acústico resultante desta
alteração.

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Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo

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