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DA CULTURA DE ÍLHAVO
JULHO DE 2023
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
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Editado por
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Rua Dr. Roberto Frias
4200-465 PORTO
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Este documento foi produzido a partir de versão eletrónica fornecida pelo respetivo
Autor.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar quero agradecer aos meus pais que nunca deixaram de acreditar em mim
e são acima de tudo um exemplo de dedicação e trabalho que me incentiva a fazer mais e
melhor.
Agradeço aos meus amigos e à minha namorada que estiveram sempre do meu lado tanto
nos momentos de bonomia e descontração, como nas situações mais difíceis.
iii
iv
RESUMO
A dissertação principia com uma breve contextualização das várias áreas da acústica que irá
servir de base para a compreensão dos conceitos referidos posteriormente. De seguida,
procedeu-se a uma análise do conhecimento científico mais específico da acústica de
auditórios, observando-se a importância do tempo de reverberação e do coeficiente de
absorção sonora no resultado acústico final. De seguida, são expostas as várias legislações e
recomendações relativamente a diversos parâmetros acústicos, de modo a garantir todas as
exigências funcionais de edificações.
As medições feitas in situ incidem sobre o tempo de reverberação, o ruído de fundo com e
sem o funcionamento do sistema AVAC e a inteligibilidade da palavra medida através do
sistema RASTI.
Os valores obtidos através da análise das medições foram de 1,0 s para o tempo de
reverberação médio (500, 1000 e 2000 Hz), 25 e 36 dB para o L Aeq do ruído de fundo global
médio sem e com o sistema AVAC ligado, 20 e 25 para as curvas NC sem e com o sistema
AVAC ligado, 25 e 27 para as curvas NR sem e com o sistema AVAC ligado e valores de
RASTI compreendidos entre 0,63 e 0,76.
Com base nos resultados obtidos, realizou-se um estudo comparativo com outras seis salas
localizadas em Portugal que já foram previamente alvo de análise acústica. Esta
comparação permitiu concluir que a CCI apresenta bom comportamento acústico para a
música, verificando-se algumas dificuldades para a palavra em condições de funcionamento
do sistema AVAC.
v
vi
ABSTRACT
The following thesis main objectives was the development and enhancement of acoustic
knowledge through the characterization and analysis of a particular case study, the
auditorium of the Casa da Cultura de Ílhavo (CCI).
Opened in 2008, the project was designed by the architect Ilídio Ramos and the acoustic
design was managed by the company InAcoustics. The auditorium has 491 seats distributed
over 19 rows. The stage, with a usable area of 172 m 2, has the capacity to host a wide
variety of cultural activities focusing on music and theatre. Additionally, it has all the
essential technical and visual equipment needed for artistic presentations.
The thesis begins with a brief contextualization of the various areas of acoustics that will
serve as a basis for understanding the concepts referred to later. An analysis of the more
specific scientific knowledge of auditorium acoustics is carried out, observing the
importance of reverberation time and absorption coefficient in the final acoustic result.
Next, the various laws and recommendations regarding the various acoustic parameters are
exposed to ensure all the functional requirements of buildings.
The measurements made in situ focus on the reverberation time, the background noise with
and without the operation of the HVAC system and the speech intelligibility measured
through the RASTI system.
The values obtained through the analysis of the measurements were 1.0 s for the mean
reverberation time (500, 1000 and 2000 Hz), 25 and 36 dB for the global average
background noise (LAeq) without and with the HVAC system on, 20 and 25 for the NC
curves without and with the HVAC system on, 25 and 27 for the NR curves without and
with the HVAC system on, and RASTI values between 0.63 and 0.76.
Based on the results obtained, a comparative study was carried out with other six rooms
located in Portugal that had been previously subjected to acoustic analysis. This comparison
allowed us to conclude that the CCI presents good acoustic behavior for music, while there
are some difficulties for speech under operating conditions of the HVAC system.
vii
viii
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS........................................................................................................................... i
RESUMO.......................................................................................................................................... iii
ABSTRACT......................................................................................................................................... v
ÍNDICE DE FIGURAS........................................................................................................................ xi
ÍNDICE DE QUADROS..................................................................................................................... xv
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1
1.1. ENQUADRAMENTO E OBJETIVOS............................................................................................ 1
2. CONCEITOS ACÚSTICOS..................................................................................3
2.1. NOÇÕES TEÓRICAS BÁSICAS ................................................................................................... 3
2.1.3. CELERIDADE............................................................................................................................ 5
2.1.6. FREQUÊNCIA........................................................................................................................... 7
2.2.1. DEFINIÇÃO............................................................................................................................ 10
2.3.1. DEFINIÇÃO............................................................................................................................ 12
ix
2.3.2. TEMPO DE DECAIMENTO CURTO (EDT)................................................................................. 13
2.4.1. DEFINIÇÃO............................................................................................................................ 14
2.6.1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 18
2.6.2. REFLEXÕES............................................................................................................................ 18
2.6.3. DIFUSÃO................................................................................................................................ 19
2.6.5. CANÓPIAS.............................................................................................................................. 20
3. ESTADO DA ARTE.................................................................................................. 21
3.1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA......................................................................................... 21
x
4. METODOLOGIA....................................................................................................... 31
4.1. CASA DA CULTURA DE ÍLHAVO ............................................................................................ 31
4.3.1. DEFINIÇÃO............................................................................................................................. 35
5. RESULTADOS OBTIDOS................................................................................... 39
5.1. TEMPO DE REVERBERAÇÃO .................................................................................................. 39
5.4. RASTI..................................................................................................................................... 54
6.3. RASTI..................................................................................................................................... 61
7. CONCLUSÃO............................................................................................................... 65
7.1. CONCLUSÕES .......................................................................................................................... 65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................69
xi
xii
ÍNDICE DE FIGURAS
Fig.2.9 – Diferença entre ruído rosa (pink noise) e ruído branco (white noise), numa escala
logarítmica [19].........................................................................................................................................9
Fig.2.14– Diferenciação entre ruídos aéreos (esquerda) e ruídos de percussão (direita) [23]................15
Fig.2.15– Curvas Noise Criterion (esquerda) e Curvas Noise Rating (direita) [62] e [24]....................16
Fig.2.18 – Exemplos de conchas acústicas ao ar livre (Wembley Park, Reino Unido) (esquerda)
e no interior (direita) (Alaska Center for the Performing Arts, Estados Unidos da América) [66]
e [67].......................................................................................................................................................19
xiii
Fig.3.3– Valores do tempo de reverberação em relação com o estilo arquitetónico (1 -
Visigótico, 2-Românico, 3- Gótico, 4-Manuelino, 5-Renascentista, 6-Barroco, 7-Neoclássico e
8-Contemporâneo) com barra de erro de desvio [42].............................................................................23
Fig.3.5– Cálculo das linhas de visão com base no APS (Arrival Point of Sight) [46]...........................26
Fig.3.7– Seção do teatro Milton Keynes (Milton Keynes, Reino Unido) onde se evidencia o teto
móvel [11]...............................................................................................................................................28
Fig.4.5– Sonómetro Brüel & Kjær, modelo 2260 (a), Fonte sonora Brüel & Kjær, modelo 4224
(direita) (b) [fotos do autor]....................................................................................................................34
Fig.4.7– Posições das medições para o tempo de reverberação (T1, T2, T3) e da fonte sonora
(FS) no palco [61]...................................................................................................................................35
Fig.4.8– Posições das medições do ruído de fundo (F1, F2) e da fonte sonora (FS) no palco [61]
................................................................................................................................................................36
Fig.4.9– Posições das medições do RASTI (R1, R2, R3, R4, R5, R6) e da fonte sonora (FS) no
palco [61]................................................................................................................................................37
Fig.5.1– Esquema em planta da posição dos lugares do auditório do Centro Cultural de Ílhavo
[51]..........................................................................................................................................................39
Fig.5.2– Valores do tempo de reverberação (s) de cada ponto medido juntamente com a sua
média, nas bandas de frequência de 1/3 oitava entre 100 e 5000 Hz.....................................................41
Fig.5.3– Tempos de reverberação em condições de sala vazia (medido) e com ocupação total
(previsto), nas bandas de frequência de 1/1 oitava entre 125 e 4000 Hz................................................43
Fig.5.4– Níveis de pressão sonora do ruído de fundo em dB por bandas de frequência de 1/3 de
oitava (Hz), com o sistema AVAC desligado e sem ocupação..............................................................48
xiv
Fig.5.5– Níveis de pressão sonora do ruído de fundo em dB por bandas de frequência de 1/3 de
oitava (Hz), com o sistema AVAC ligado e sem ocupação....................................................................48
Fig.5.6– Comparação gráfica entre os valores médios do nível de pressão sonora de ruído de
fundo (dB), em bandas de frequência de 1/3 de oitava com e sem o funcionamento do sistema
de ventilação...........................................................................................................................................49
Fig.5.7– Comparação gráfica entre valores médios do nível de pressão sonora de ruído de fundo
(dB) com o filtro A (L A), em bandas de frequência de 1/3 de oitava com e sem o funcionamento
do sistema de ventilação.........................................................................................................................49
Fig.5.8– Curva da diferença média entre os níveis de pressão sonora do ruído AVAC e ruído de
fundo, em função da frequência..............................................................................................................50
Fig.5.9– Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NC, com o
AVAC desligado.....................................................................................................................................51
Fig.5.10– Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NC, com
o AVAC ligado.......................................................................................................................................51
Fig.5.11– Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NR, com
o AVAC desligado..................................................................................................................................52
Fig.5.12– Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NR, com
o AVAC ligado.......................................................................................................................................52
Fig.6.1– Relação entre os valores do tempo de reverberação médio para as bandas de frequência
de 1/1 oitava entre os 500 e os 2000 Hz e o volume das salas [53], [54], [55], [56], [57], [58]............57
Fig.6.2– Representação entre o RASTI médio das diferentes salas e os seus valores do tempo de
reverberação médio medido para as bandas de frequência de 1/1 oitava entre os 500 e os 2000
Hz [54], [55], [56], [57], [58].................................................................................................................60
Fig.6.3– Representação entre o RASTI médio das diferentes salas e o LAeq do ruído de fundo
sem o funcionamento do sistema de ventilação [54], [55], [56], [57], [58]...........................................60
Fig.6.4– Representação entre o RASTI mínimo das diferentes salas e os seus valores do tempo
de reverberação médio medido para as bandas de frequência de 1/1 oitava entre os 500 e os
2000 Hz [54], [55], [56], [57], [58]........................................................................................................61
Fig.6.5– Representação entre o RASTI mínimo das diferentes salas e o LAeq do ruído de fundo
sem o sistema de ventilação ligado [54], [55], [56], [57], [58]..............................................................61
xv
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 2.1 – Valores das ponderações do filtro A para bandas de frequências audíveis [18].................9
Quadro 2.5 – Valores dos intervalos dos índices STI e RASTI, e correspondente classificação
em termos de inteligibilidade da palavra (traduzido de [25]).................................................................18
Quadro 5.1 – Resultados das medições do Tempo de Reverberação (T30) no auditório do Centro
da Cultura de Ílhavo................................................................................................................................40
Quadro 5.2 – Verificação do cumprimento do RRAE para o tempo de reverberação com função
assente na “oratória”...............................................................................................................................41
Quadro 5.3 – Parâmetros utilizados para o cálculo do tempo de reverberação com a sala toda
ocupada e com metade da lotação...........................................................................................................42
Quadro 5.4 – Cálculo dos valores estimados para o tempo de reverberação em condições de sala
completamente ocupada e com 50% da lotação nas frequências entre 125 e 4000 Hz em bandas
de 1/1 oitava............................................................................................................................................43
Quadro 5.5 – Comparação dos valores do tempo de reverberação em situação de ocupação total
e nula em função do tipo de utilização [1]..............................................................................................45
Quadro 5.6 – Níveis de ruído de fundo em bandas de 1/3 oitava nas frequências compreendidas
entre 20 e 20000 Hz sem sistema de ventilação em funcionamento, bem como o nível sonoro
equivalente com e sem o filtro A............................................................................................................46
Quadro 5.7 – Níveis de ruído de fundo em bandas de 1/3 oitava nas frequências compreendidas
entre 20 e 20000 Hz com o sistema de ventilação ligado, bem como o nível sonoro equivalente
com e sem o filtro A...............................................................................................................................47
xvi
Quadro 5.9 – Valores máximos recomendados para o NR [52].............................................................53
Quadro 5.10 – Resultados obtidos para o parâmetro RASTI sem sistema AVAC, juntamente
com a média obtida para cada posição medida.......................................................................................54
Quadro 6.1 – Comparação dos valores do tempo de reverberação médio para as bandas de
frequência de 500, 1000 e 2000 Hz com o volume de cada um dos auditórios [53], [54], [55],
[56], [57], [58]........................................................................................................................................56
Quadro 6.2 – Níveis sonoros médios de ruído de fundo sem AVAC e correspondentes valores
de NC e NR para os diferentes auditórios [54], [55], [56], [57], [58]....................................................58
Quadro 6.3 – Níveis sonoros médios de ruído de fundo com AVAC e correspondentes valores
de NC e NR para os diferentes auditórios [54], [55], [56], [57], [58]....................................................58
Quadro 6.4 – Valores máximos e mínimos do parâmetro RASTI para os diferentes auditórios
[54], [55], [56], [57], [58].......................................................................................................................59
Quadro 7.1 – Resumo dos parâmetros acústicos medidos no Centro da Cultura de Ílhavo...................65
xvii
SÍMBOLOS, ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS
AC – Articulation Class
AI – Índice de Articulação
BR – Bass Ratio
c – Celeridade (m/s)
D50 – Definição
NC – Noise Criterion
NR – Noise Rating
xviii
p – Pressão sonora (Pa)
r – Distância (m)
R2 – Coeficiente de determinação
S – Área (m2)
T – Temperatura (K)
V – Volume (m3)
f – Frequência (Hz)
τ – Coeficiente de transmissão
xix
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
1
INTRODUÇÃO
1
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
1.2. ESTRUTURA
A presente dissertação encontra-se dividida em sete capítulos:
No primeiro capítulo, “Introdução”, é apresentado o enquadramento geral da dissertação, bem
como a estrutura e os objetivos do presente trabalho.
No segundo capítulo, “Conceitos acústicos”, é feita uma organização do conhecimento científico
na área da acústica de modo a estabelecer as bases e as principais preocupações no
desenvolvimento da caraterização acústica do caso de estudo particular.
Seguidamente, no capítulo “Estado da Arte”, é realizado um enquadramento histórico de salas de
espetáculo com objetivos semelhantes ao exemplo em estudo, bem como uma síntese das
principais preocupações legislativas e recomendações profissionais nas edificações onde a
acústica adquire especial relevo.
O quarto capítulo, “Estudo de Caso”, inicia-se com uma análise pormenorizada da Casa da
Cultura de Ílhavo em termos acústicos, e é complementado com uma explanação dos métodos de
medição e equipamentos usados para obter todos os parâmetros necessários para a correta
caraterização da sala.
No quinto capítulo, “Resultados das medições”, são expostos os resultados das medições in situ,
juntamente com a sua análise e verificação regulamentar.
No sexto capítulo, “Comparação com outras salas”, é efetuada uma análise comparativa funcional
de determinados fenómenos acústicos relevantes, entre o caso de estudo em questão e outras salas
de espetáculos com dimensões e funções semelhantes.
O sétimo capítulo, “Conclusão”, oferece de uma forma sintetizada as principais conclusões
obtidas bem como os possíveis desenvolvimentos futuros que poderão ser executados no âmbito
do melhoramento do estudo da sala em questão.
Finalmente, são apresentadas todas as referências bibliográficas consultadas ao longo da
realização da presente dissertação.
2
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
2
CONCEITOS ACÚSTICOS
3
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
O ouvido externo tem como função a captação do som e o seu encaminhamento para o tímpano
que oscila consoante a vibração recebida [1].
O ouvido médio é composto pelos ossículos que desempenham um papel de amplificador da onda
sonora e possibilita a passagem do meio aéreo para o meio líquido presente no ouvido interno [1].
Por seu lado, o ouvido externo é constituído pela cóclea, um pequeno elemento espiral cónico
emerso num líquido, a perilinfa [1].
Finalmente, situados ao longo da membrana basal presentes na cóclea, encontram-se os cílios que,
através da sua movimentação, convertem a onda mecânica presente na perilinfa em impulso
elétrico para o nosso sistema nervoso como se observa na figura 2.3 [6].
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Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 2.3 – Esquema do mecanismo de funcionamento acústico (em frequência) da cóclea [1].
5
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
2.1.3. CELERIDADE
A celeridade, ou por outras palavras, a velocidade de propagação da onda num determinado meio,
depende de maioritariamente dois fatores. O aumento da pressão atmosférica, que reflete o nível
médio de proximidade entre partículas no meio que compõe o nosso ambiente, origina um
incremento na celeridade da onda [7].
Semelhantemente, a temperatura definida como o nível de energia cinética a nível molecular
apresenta uma relação de proporcionalidade com a velocidade do som na atmosfera, tal como se
pode constatar na expressão 2.1 [1].
c=20,045 ❑√ T (2.1)
Sendo,
c – Celeridade (m/s);
T – Temperatura (K).
Figura 2.4 – Representação visual da intensidade (I) e da potência sonora (W) [1].
6
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Fig. 2.5 – Exemplos de diferentes níveis de pressão sonora e a sua pressão [16].
Pode-se utilizar o mesmo conceito de nível no estudo da intensidade (I) e potência (W) sonora
através da expressão 2.4 e 2.5 respetivamente.
I
LI =10 log (dB) (2.4)
I0
7
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
W
LW =10 log (dB) (2.5)
W0
Sendo: I 0 = 10-12 (W/m2) e W 0 = 10-12 (W).
2.1.6. FREQUÊNCIA
A frequência, medida em hertz (Hz), é um dos parâmetros mais importantes na caraterização de
uma onda sonora.
O sistema auditivo humano consegue identificar frequências que se encontrem num intervalo
entre 20 e 20000 Hz, sendo que as gamas de frequências inferiores a este intervalo denominam-se
infrassons e, por outro lado, os sons compostos por frequências superiores tem a denominação de
ultrassons como se encontra evidenciado na fig. 2.6 [4].
Dentro das frequências audíveis podem-se ainda distinguir três zonas de frequências diferentes:
Frequências graves: 20 a 355 Hz;
Frequências médias: 355 a 1410 Hz;
Frequências agudas: 1410 a 20000 Hz.
As ondas sonoras podem ser esquematizadas com base na sua variação de pressão ao longo do
tempo com a utilização de um oscilograma, ou através da relação entre as diferentes frequências e
os seus respetivos níveis de intensidade sonora por intermédio de um espetro sonoro como é
evidenciado na fig. 2.7 [1].
8
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Fig. 2.7 – Representação de sons através de oscilogramas (esquerda) e de espetros sonoros (direita) [1].
Na figura 2.7 é ainda possível observar a diferença entre um som puro, constituído por apenas
uma frequência e um som complexo que é o resultado da sobreposição de várias frequências. É
usual, por motivos de praticidade, subdividir os intervalos das frequências em bandas de frações
de oitavas de modo a facilitar a identificação das bandas de frequência mais relevantes num
determinado som complexo [26].
O ouvido humano não apresenta a mesma sensibilidade para todas as frequências audíveis como
se revela na Fig. 2.8. Esta caraterística deve-se ao facto de, durante o processo de seleção natural
os seres humanos aprimoraram a sua sensibilidade auditiva de determinadas bandas de frequência
em detrimento de algumas zonas de sons graves.
9
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Como tal, foram criados filtros de ponderação que permitam adaptar os níveis de pressão sonora
de diferentes frequências ao seu verdadeiro valor experienciado pelo ser humano.
No quadro 2.1 evidencia-se os valores das curvas de ponderação do filtro A para as diferentes
bandas de frequências.
Quadro 2.1 – Valores das ponderações do filtro A para bandas de frequências audíveis [18].
10
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
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Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Fig. 2.9 – Diferença entre ruído rosa (pink noise) e ruído branco (white noise), numa escala logarítmica [19].
A norma europeia EN ISO 11654, introduz o parâmetro α w definido como a média ponderada do
coeficiente de absorção sonora nas frequências de oito bandas de terços de oitava entre 100 e 5000
Hz. Na norma, é também apresentada uma atribuição de classes de absorção sonora ilustrada no
quadro 2.2 [1].
Quadro 2.2 – Classe de absorção sonora α w (adaptado de [1]).
Classe αw
A ≥ 0,90
0,80 ≤ α w ≤
B
0,85
0,60 ≤ α w ≤
C
0,75
0,30 ≤ α w ≤
D
0,55
0,15 ≤ α w ≤
E
0,25
12
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
13
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Fig. 2.10 – Comportamento de diferentes sistemas absorventes para diferentes frequências [1].
Os materiais porosos e fibrosos, são muito eficazes a absorver frequências relativamente altas
(500 – 4000 Hz) devido à sua elevada densidade de fibras que amplificam as perdas energéticas
originadas devido à fricção entre filamentos em vibração [1].
Em relação a médias frequências, os ressonadores são os equipamentos mais utilizados no seu
tratamento. A sua frequência de eficácia máxima é dada pela expressão 2.9 para ressonadores
isolados e, para ressonadores agrupados a expressão de cálculo utilizado é a 2.10 [1].
f=
c ❑
√ S
2 π V ( l+1 , 6 r )
(2.9)
Onde,
S – área da abertura (m2);
V – Volume da cavidade (m3);
l – Comprimento da abertura (m);
r – Raio de cada perfuração (m).
f=
√
10 c ❑ P
2 π ( ⅇ +1 , 6 r ) d
(2.10)
Sendo que,
P – Percentagem de área perfurada (%);
e – Espessura da placa perfurada (cm);
d – Largura da caixa de ar (cm);
r – Raio de cada perfuração (cm).
14
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
2.3.1. DEFINIÇÃO
O som emitido num espaço fechado origina uma onda direta e, uma sequência de ondas indiretas
resultantes das sucessivas reflexões da onda principal com as superfícies do espaço (Fig. 2.11).
Reflexões nas
Paredes
Fig. 2.11 – Som direto e som refletido numa sala [20].
Fig. 2.12 – Medição direta do tempo de reverberação (direita) e a extrapolação (esquerda) [10].
15
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
16
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 2.14 – Diferenciação entre ruídos aéreos (esquerda) e ruídos de percussão (direita) [23].
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Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
R=log ( 1τ ) (2.16)
18
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
2.15 [24]. Por outro lado, nos EUA a curva de incomodidade mais comum é a Noise Criterion
(NC), que apenas engloba as frequências entre 63 e 8000 Hz, ou seja, não é efetuada nenhuma
análise para as frequências mais baixas [1].
Figura 2.15 – Curvas Noise Criterion (esquerda) e Curvas Noise Rating (direita) [62] e [24].
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Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Quadro 2.5 – Valores dos intervalos dos índices STI e RASTI, e correspondente classificação em termos de
inteligibilidade da palavra (traduzido de [25]).
2.6.2. REFLEXÕES
20
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
2.6.3. DIFUSÃO
A implantação de superfícies difusores, ou seja, superfícies capazes de refletir em todas as
direções, desempenha um papel crucial na correção acústica. A difusão ocorre em materiais com
irregularidades na sua superfície onde, as frequências emitidas estão condicionadas pelo tamanho
desse mesmo relevo. Uma superfície com pequenos relevos só será difusa para altas frequências
[1]. Na figura 2.17 encontram-se exemplos de sistemas utilizados para aumentar a difusão sonora.
Figura 2.17 – Difusores comerciais: Quadratic Residue Diffuser (QRD) (esquerda) e Pirâmides difusoras de som
(direita) [63] e [64].
21
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Conchas acústicas são estruturas arquitetónicas projetadas para melhorar o desempenho acústico
de um determinado palco tal como, um teatro, uma sala de concertos e até mesmo espaços ao ar
livre. Tem como principal função corrigir a direccionalidade do som de modo a centralizá-lo na
direção dos espetadores através da colocação de superfícies refletoras em determinadas zonas
específicas da concha acústica [65]. A figura 2.18 apresenta dois exemplos de conchas acústicas.
Figura 2.18 – Exemplos de conchas acústicas ao ar livre (Wembley Park, Reino Unido) (esquerda) e no interior
(direita) (Alaska Center for the Performing Arts, Estados Unidos da América) [66] e [67].
2.6.4. CANÓPIAS
De forma semelhante às conchas acústicas, as canópias são estruturas que visam melhorar a
qualidade acústica de um determinado orador através do aproveitamento de ondas sonoras, que de
outro modo deslocar-se-iam verticalmente, não sendo detetadas por um ouvinte posicionado na
zona inferior.
Surgiram no século XV juntamente com os púlpitos, localizados numa posição superior, as
canópias reduzem as emissões sonoras que se perderiam verticalmente e refletem-nas para a
localização inferior onde pode ser interpretada pelos ouvintes. Para além da sua componente
acústica, as canópias tornaram-se um elemento artístico da Igreja. Na figura 2.19 ilustra-se um
exemplo de uma concha acústica em contexto eclesiástico [65].
22
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
3
ESTADO DA ARTE
23
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
A escolha do local para a construção dos teatros era fortemente condicionada pela inclinação do
terreno, de forma a tirar melhor partido dos recursos disponíveis e reduzir a despesa construtiva.
Os espetadores dispunham-se pela encosta da colina facilitando a visualização do espetáculo para
o maior número de pessoas [33].
Contudo, as preocupações acústicas dos gregos não se ficavam pela escolha geográfica. Segundo
Marcus Vitrúvio, arquiteto romano do século I a.C., a qualidade acústica dos teatros também se
deve ao facto da existência de vasos circulares, de bronze ou cerâmica, em nichos sob os assentos,
que permitiam que o som emitido no palco se espalhasse e, aumentasse a clareza formando uma
nota uníssona consigo mesma [36]. Outra condicionante favorável para a boa audibilidade dos
teatros era a utilização de máscaras dotadas de um amplificador interno por parte dos atores [37].
Após o colapso da Grécia Antiga, a construção de grandes salas de espetáculo foi retomada pelo
Império Romano, no entanto, o seu propósito passou a ser de palco para arenas de luta
24
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
No século XV, principiou-se o Renascimento, período caraterizado por uma grande mudança na
forma de abordar todas as áreas do conhecimento, uma mudança epistemológica, caracterizada
por processos de matematização, experimentação e mecanização. Foi durante este período que se
deram as primeiras tentativas de esquematizar e organizar o conhecimento musical através da
análise de fenómenos físicos [41].
25
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Influenciado pelo período reformista vivido, surge um novo ramo do Cristianismo denominado
Igreja Protestante com valores e prioridades muito diferentes. A principal mudança refere-se ao
facto de a inteligibilidade do sermão apresentar maior importância que outros aspetos previamente
valorizados. Consequentemente, a arquitetura utilizada nestes novos locais de culto apresenta
várias novidades com efeitos muito positivos acusticamente, como a redução do volume e as
primeiras aplicações de conchas acústicas. Em resposta a esta divergência, iniciou-se na Igreja
Católica um movimento contrarreformista associado a um novo estilo arquitetónico, o estilo
Barroco, caraterizado pela aplicação de ornamentos com elevado grau de detalhe (bons difusores)
na superfície interior da Igreja. Todos estes fatores contribuíram para a redução do tempo de
reverberação e consequentemente a melhoria na perceção da palavra (Fig. 3.3) [42].
Figura 3.3 - Valores do tempo de reverberação em relação com o estilo arquitetónico (1 - Visigótico, 2-Românico,
3- Gótico, 4-Manuelino, 5-Renascentista, 6-Barroco, 7-Neoclássico e 8-Contemporâneo) com barra de erro de
desvio [42].
Seguidamente, surge o período clássico caraterizado por um grande aumento do interesse musical
das classes mais ricas da sociedade. Foi neste período que várias das grandes obras clássicas ainda
apreciadas nos dias de hoje foram criadas. De modo a dar resposta a este crescente interesse,
foram construídas várias salas de espetáculos com dimensões cada vez maiores e com a função
principal da representação musical.
Apesar dos sucessivos avanços científicos, foi apenas no início do século XIX, que foram
publicados os primeiros livros onde a acústica é analisada enquanto uma ciência, sendo atribuído
a W. C. Sabine o mérito dos primeiros desenvolvimentos na acústica arquitetónica. Graças aos
contributos de Sabine e de outros cientistas, a qualidade acústica das salas de espetáculo tem
vindo a melhorar substancialmente apesar da resistência que vários arquitetos exprimiram ao
longo do tempo relativamente à dificuldade da projeção visual de um espaço sem comprometer o
seu desempenho sonoro [1].
3.2. EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS
3.2.1. PRINCÍPIOS GERAIS
Auxiliado pelos desenvolvimentos tecnológicos, Leo Beranek iniciou uma nova abordagem sobre
a acústica de salas, propondo, para além do tempo de reverberação já estudado por Sabine, uma
26
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
27
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
o facto de usualmente, os auditórios para música possuírem uma audiência muito superior o que
traz consigo ainda mais problemas na vertente acústica.
A primeira variável que deve ser considerada é a geometria da sala. Na Figura 3.4 apresentam-se
os formatos das salas de música mais populares, sendo que a planta shoebox (“caixa de sapato”) é
a mais eficaz devido às fortes reflexões laterais que origina. É ainda usual, devido à sua aparência
dramática a implementação de palcos surround, isto é, palcos envolvidos pela audiência, contudo
devido à direccionalidade de muitos instrumentos, não é uma opção ótima acusticamente [46].
Em auditórios com grandes superfícies absorventes deve-se ter especial atenção de modo a
impossibilitar a coloração tonal que introduz uma sensação metálica no som, muito negativa
acusticamente. Esta coloração consiste numa falha no espetro da frequência do som devido à
presença de demasiados materiais absorventes para uma determinada frequência em específico
[11].
A difusão do campo sonoro adquire um papel muito importante na acústica musical, uma vez que
se pretende distribuir o som uniformemente, de modo que todos os espetadores tenham a mesma
perceção sonora independentemente da sua localização na sala [11].
28
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 3.5 – Cálculo das linhas de visão com base no APS (Arrival Point of Sight) [46].
29
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
suspensas ou bafflers no teto são uma das soluções mais práticas sendo, contudo necessário
analisar os impactos que tais intervenções terão no sistema de iluminação cénica [11].
A geometria do teatro é a principal condicionante no seu desempenho acústico, sendo que, a
maior influência é proveniente do grau de abertura do palco, que pode variar entre 360 graus no
caso de teatros de arena até teatros proscénios [11] (Fig. 3.6).
Devido à direccionalidade do discurso humano, quanto mais amplo for o palco, menor será a
distância máxima a que um espetador poderá estar localizado sem identificar falhas na
inteligibilidade do orador. Ainda relativamente à compreensão da oratória, tempos de
reverberação inferiores a 1,0 segundo são recomendados, sendo que para salas de grande volume
esta limitação envolve grandes considerações tanto em termos de materiais absorventes que terão
de ser usados como no próprio volume da sala a ser dimensionada. Sendo assim, conclui-se que as
salas de teatro compactas com pouco volume e superfícies refletoras suspensas no teto são as
diretrizes mais significativas para o correto resultado acústico final [11].
Importa ainda salientar que o ruído de fundo tem um impacto muito negativo no teatro, onde os
momentos de silêncio desempenham um papel crucial, sendo por isso recomendado um valor
máximo de NR20 para o Noise Rating [11].
30
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
O método mais comum de variação de volume envolve a introdução de tetos móveis que tem a
possibilidade de introduzir um acréscimo/decréscimo de volume que provoca uma variação nos
valores do tempo de reverberação em função das necessidades acústicas do tipo de utilização [11]
(Fig. 3.7).
Figura 3.7 – Seção do teatro Milton Keynes (Milton Keynes, Reino Unido) onde se evidencia o teto móvel [11].
A técnica mais utilizada em salas de espetáculo para absorção variável é a utilização de banners
acústicos. Os banners são usualmente pendurados no teto livremente e podem ser removidos do
auditório através de ranhuras, ou rodados em caixas bem fechadas consoante o modo de utilização
mais favorável [11] (Fig. 3.8).
31
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
A Casa da Cultura de Ílhavo é utilizada maioritariamente como auditório para a música, mas
também é utilizada para o teatro e, encontra-se legislada acusticamente através do artigo 10º-A do
RRAE referente a edifícios com tipologia de “Auditórios e salas de espetáculo”, sendo elas:
A) O tempo de reverberação médio, T, nas bandas de oitava centradas nas frequências de 500 Hz,
1000 Hz e 2000 Hz, a considerar para estes recintos, quando mobilados normalmente e sem
ocupação, deve satisfazer as expressões 3.1, 3.2 e 3.3.
1
3
T ≤ 0 , 12V 3 , se V < 250 m ; (3.1)
T ≤ 0,32 + 0,17 log(V), se 250 ≤ V < 9000 m3; (3.2)
T ≤ 0,05 V1/3, se V ≥ 9000 m3. (3.3)
Como o auditório da Casa da Cultura de Ílhavo apresenta médias dimensões, a expressão que
deverá ser utilizada para a verificação do valor máximo do tempo de reverberação é a expressão
3.2.
2 - Nos auditórios e salas cuja principal valência não corresponda a atividades assentes na
oratória, nomeadamente de auditórios para música ou salas de espetáculo, o projeto de
condicionamento acústico destes espaços deve incluir um estudo específico destinado a assegurar
a conformação acústica adequada à sua utilização funcional.
32
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
3 - As fachadas dos recintos referidos nos artigos 1 e 2 devem assegurar que os valores do índice
de isolamento a sons aéreos, D2 m, nT, w, corrigido do termo de adaptação aplicável, C ou C tr, sejam
os necessários para que o nível sonoro contínuo equivalente do ruído ambiente no interior do
recinto, determinado a partir da média espacial de pontos representativos, na ausência de
funcionamento das instalações técnicas do edifício, LAeq, satisfaça a expressão 3.4.
O ponto número 4 apenas diz respeito a complexos de várias salas de cinema, não sendo relevante
para o caso em questão.
5 - No interior dos recintos, o nível sonoro contínuo equivalente do ruído particular, L Aeq,
associado ao funcionamento dos equipamentos e instalações técnicas, designadamente de
instalações de aquecimento, ventilação e ar condicionado, deve, com a sala desocupada, satisfazer
as condições 3.5 e 3.6.
L Aeq ≤38 dB , no caso de cinemas; (3.5)
L Aeq ≤30 dB , nos restantes recintos (3.6)
6 - Os requisitos enunciados nos pontos 1 a 5 são aplicáveis aos recintos que constituem o uso
principal do edifício em que se inserem e aos que se integram em edifícios com outros usos.
8 - Nas avaliações in situ destinadas a verificar o cumprimento dos requisitos acústicos dos
edifícios deve ser tido em conta um fator de incerteza, I, associado à determinação das grandezas
em causa.
9 — O edifício, ou qualquer das suas partes, é considerado conforme aos requisitos acústicos
aplicáveis, quando, cumulativamente:
Tal como referido anteriormente, uma vez que o auditório em estudo apresenta volume
compreendido entre 250 e 9000 m3, a incerteza que deverá ser considerada é de 35%.
B) O valor obtido para o índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea, D 2 m, nT, w ,
acrescido do fator I no valor de 3 dB, satisfaça o limite regulamentar;
C) O valor obtido para o índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea, DnT, w , acrescido
do fator I no valor do 3 dB, e a diferença D nT, oit.63 Hz acrescida do fator I no valor de 5 dB,
satisfaçam o limite regulamentar;
33
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
D) O valor obtido para o nível do ruído particular, LAeq, diminuído do fator I no valor de 3 dB,
satisfaça o limite regulamentar.
4
METODOLOGIA
34
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
35
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Pode-se ainda identificar uma série de pormenores construtivos que realçam preocupações
acústicas entre eles:
Assentos almofadados;
Cortinas de veludo para uma possível acústico variável;
Presença de painéis refletores nas bancadas laterais de modo a evitar flutter echoes;
Pavimento em madeira sobre amortecimento de neoprene para evitar ruídos de
impacto;
Concha acústica na zona superior do palco;
Teto suspenso;
Paredes com isolamento acústico de lã de rocha;
Painéis refletores posicionados no teto.
36
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 4.5 – Sonómetro Brüel & Kjær, modelo 2260 (a), Fonte sonora Brüel & Kjær, modelo 4224
(direita) (b) [fotos do autor].
37
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
38
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 4.7 – Posições das medições para o tempo de reverberação (T1, T2, T3) e da fonte sonora (FS) no palco
[61].
39
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 4.8 – Posições das medições do ruído de fundo (F1, F2) e da fonte sonora (FS) no palco [61].
40
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 4.9 – Posições das medições do RASTI (R1, R2, R3, R4, R5, R6) e da fonte sonora (FS) no palco [61].
41
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
42
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
5
RESULTADOS OBTIDOS
Figura 5.1 – Esquema em planta da posição dos lugares do auditório do Centro Cultural de Ílhavo [51].
43
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
44
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 5.2 – Valores do tempo de reverberação (s) de cada ponto medido juntamente com a sua média, nas
bandas de frequência de 1/3 oitava entre 100 e 5000 Hz.
Tal como referido no capítulo 3.3, o Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios (RRAE)
define um valor máximo para o tempo de reverberação em função do volume, para edifícios que
apresentem utilizações assentes na oratória como é o caso do auditório em análise. Aplicando a
expressão presente no regulamento para um espaço com um volume de 3779 m 3, o tempo de
reverberação médio nas bandas de oitava centradas nas frequências de 500, 1000 e 2000 Hz tem
de ser inferior a 0,93 segundos. No quadro 5.2 encontra-se esquematizado os valores utilizados
para comprovar a concordância com o regulamento. Adicionalmente, para avaliações in situ, o
RRAE define ainda fatores de incerteza percentuais (I) em função do volume da sala, sendo que
neste estudo em concreto, o fator I equivale a 35%.
Quadro 5.2 – Verificação do cumprimento do RRAE para o tempo de reverberação com função assente na
“oratória”.
Tempo de
Frequência Tempo de Tempo de Tempo de
reverberação
em bandas de reverberação reverberação reverberação
medido com RRAE
1/1 oitavas médio medido médio total máximo
incerteza de
(Hz) (s) medido (s) RRAE (s)
35% (s)
500 1,03
Cumpre (com
1000 1,03 1,02 0,69 0,93
incerteza I)
2000 1,00
45
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
de referência utilizados para o coeficiente de absorção da cadeira vazia/cheia são os propostos por
Leo Beranek em 1996 para estofos médios nas bandas de frequências entre 125 – 4000 Hz [27].
As áreas de absorção foram aproximadas assumindo uma faixa absorvente de 0,5 e 0,25 metros
em todo o perímetro das cadeiras que visa replicar o efeito dos espetadores em situação de lotação
cheia e a metade respetivamente. Importa salientar que esta é uma análise muito pouco refinada
uma vez que, a assunção de que a absorção provocada por um espetador pode ser substituída por
um alargamento da área em estudo é obviamente falaciosa, e apenas foi utilizada de modo a
simplificar os cálculos, obtendo-se assim um resultado que apenas aponta para a conclusão que se
espera que um estudo mais aprofundado chegue.
Quadro 5.3 – Parâmetros utilizados para o cálculo do tempo de reverberação com a sala toda
ocupada e com metade da lotação
ΔA =ΔαS (lotação
135 124 135 147 203 271
cheia) (m2)
ΔA =ΔαS (lotação a
68 62 68 74 102 136
metade) (m2)
Uma vez que o volume já foi previamente estimado (3779 m 3), é possível, através da fórmula de
Sabine obter valores aproximados para o tempo de reverberação em condições de sala cheia e de
meia lotação (quadro 5.4).
46
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Quadro 5.4 – Cálculo dos valores estimados para o tempo de reverberação em condições de sala
completamente ocupada e com 50% da lotação nas frequências entre 125 e 4000 Hz em bandas de 1/1 oitava
TR médio
TR TR TR TR médio
A lotação 500/1k/2k Hz
sala A sala vazia A lotação lotação lotação 500/1k/2k Hz
Freq. (Hz) metade previsto
vazia (m2) 2
cheia (m ) cheia metade previsto meia
(m2) lotação cheia
(s) (s) (s) lotação (s)
(s)
O tempo de reverberação médio (500/1000/2000 Hz) do auditório deixaria de ser 1,02 segundos e
reduziria para cerca de 0,8 segundos, sendo que não existem variações relevantes entre a situação
de ocupação total e em metade (0,9 segundos). A figura 5.3 ilustra graficamente a diferença de
valores entre os tempos de reverberação em condições de sala cheia e vazia e pode-se também
visualizar o impacto da elevada absorção sonora do público para as baixas frequências (125 – 250
Hz).
Finalmente, através do quadro 5.5 procedeu-se à análise do tempo de reverberação do auditório
em função dos valores recomendados para cada tipo de utilização. Para este efeito, utilizou-se o
tempo de reverberação medido nas frequências de 500 e 1000 Hz para as bandas de uma oitava.
Observa-se nesta análise não foram consideradas as frequências entre 1000 e 2000 Hz de modo a
verificar-se uma comparação justa entre os valores ideais definidos pela literatura (que apenas
compreendem as frequências entre 500 e 1000 Hz) e os resultados obtidos.
1.4
1.2
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
125 250 500 1000 2000 4000
Frequência (Hz)
47
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 5.3 – Tempos de reverberação em condições de sala vazia (medido) e com ocupação total (previsto), nas
bandas de frequência de 1/1 oitava entre 125 e 4000 Hz.
Quadro 5.5 – Comparação dos valores do tempo de reverberação em situação de ocupação total e nula em
função do tipo de utilização [1].
Música sinfónica
1,4 – 1,6 Não adequado Não adequado
Barroca
Música sinfónica
1,6 – 1,8 Não adequado Não adequado
Clássica
Música sinfónica
1,4 – 1,9 Não adequado Não adequado
Moderna
Música sinfónica
1,9 – 2,2 Não adequado Não adequado
Romântica
Ópera (não
1,3 – 1,7 Não adequado Não adequado
wagneriana)
48
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
49
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Quadro 5.6 – Níveis de ruído de fundo em bandas de 1/3 oitava nas frequências compreendidas entre 20 e
20000 Hz sem sistema de ventilação em funcionamento, bem como o nível sonoro equivalente com e sem o filtro
A.
Ruído de fundo sem AVAC (dB)
Posição Média logarítmica
50
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Quadro 5.7 – Níveis de ruído de fundo em bandas de 1/3 oitava nas frequências compreendidas entre 20 e
20000 Hz com o sistema de ventilação ligado, bem como o nível sonoro equivalente com e sem o filtro A.
Ruído de fundo com AVAC (dB)
Posição Média logarítmica
Frequência (Hz) ΔL (com e
E13 (sem E13 (com Q23 (sem Q23 (com Sem filtro Com filtro sem AVAC)
filtro A) filtro A) filtro A) filtro A) A A
20 41,2 < 0,0 42,4 < 0,0 41,8 < 0,0 1,2
25 41,5 < 0,0 44,5 < 0,0 43,3 < 0,0 0,3
51
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
35
30
25
20
15
10
5
0
20 .5 50 80 5 0 5 0 0 50 00 50 00 00 0 0
31 12 20 31 50 80 12 20 31 50 80 50 00
12 20
Frequência (Hz)
Figura 5.4 – Níveis de pressão sonora do ruído de fundo em dB por bandas de frequência de 1/3 de oitava (Hz),
com o sistema AVAC desligado e sem ocupação.
45
40
Nível de pressão sonora (dB)
35
30
25
20
15
10
0
20 .5 50 80 5 0 5 0 0 50 00 50 00 00 0 0
31 12 20 31 50 80 12 20 31 50 80 50 00
12 20
Frequência (Hz)
Figura 5.5 – Níveis de pressão sonora do ruído de fundo em dB por bandas de frequência de 1/3 de oitava (Hz),
com o sistema AVAC ligado e sem ocupação.
52
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
50
45
40
Nível de pressão sonora (dB)
35
30
Com AVAC
25
Com AVAC
20
Sem AVAC
15 Sem AVAC
10
0
20 .5 50 80 5 0 5 0 0 50 00 50 00 00 0 0
31 12 20 31 50 80 12 20 31 50 80 50 00
12 20
Frequência (Hz)
Figura 5.6 – Comparação gráfica entre os valores médios do nível de pressão sonora de ruído de fundo (dB), em
bandas de frequência de 1/3 de oitava com e sem o funcionamento do sistema de ventilação.
50
45
Nível de pressão sonora com filtro A (dB)
40
35
30
25
Com AVAC
20
15
10
5
Sem AVAC
0
25 40 63 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 0 0
10 16 25 40 63 10 16 25 40 63 00 00
10 16
Frequência (Hz)
Figura 5.7 - Comparação gráfica entre valores médios do nível de pressão sonora de ruído de fundo (dB) com o
filtro A (LA), em bandas de frequência de 1/3 de oitava com e sem o funcionamento do sistema de ventilação.
53
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
17.9
15.9
13.9
11.9
ΔL(AVAC-RF) (dB)
9.9
7.9
5.9
3.9
1.9
-0.1
25 40 63 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 0 0
10 16 25 40 63 10 16 25 40 63 000 600
1 1
Frequência (Hz)
Figura 5.8 – Curva da diferença média entre os níveis de pressão sonora do ruído AVAC e ruído de fundo, em
função da frequência.
54
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
em condições de não utilização do sistema de ventilação equivale a NR 17.Por outro lado, quando
o AVAC encontra-se ligado, a classificação é NR 27.
Finalmente, os resultados obtidos com base em ambas as curvas de incomodidade foram
organizados nos quadros 5.8 e 5.9 de modo a facilitar a comparação entre os valores do auditório
em estudo e os valores recomendados para cada utilização tipo.
Figura 5.9 – Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NC, com o AVAC
desligado.
55
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 5.10 – Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NC, com o AVAC
ligado.
Figura 5.11 – Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NR, com o AVAC
desligado.
56
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 5.12 - Comparação dos níveis de pressão sonora do ruído de fundo com as curvas NR, com o AVAC
ligado.
NC da
NC da sala
Valores máximos sala em Verificação Verificação
em estudo
Utilização tipo recomendados estudo (AVAC (AVAC
(AVAC
para o NC (AVAC desligado) ligado)
desligado)
ligado)
Grandes
auditórios, salas
NC 20 Cumpre Não cumpre
de concerto,
salões de ópera
Pequenos
auditórios, NC 13 NC 25
teatros, grandes NC 20 – NC 30 Cumpre Cumpre
salas de
conferência
Pequenas salas
NC 30 – NC 35 Cumpre Cumpre
de conferência
57
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
em estudo
recomendados estudo (AVAC (AVAC (AVAC
tipo (AVAC
para o NR desligado) desligado) ligado)
ligado)
Salas de
NR 25 Cumpre Não cumpre
concerto
Salas de
NR 30 Cumpre Cumpre
Conferência
5.4. RASTI
De modo a avaliar a inteligibilidade da palavra procedeu-se ao levantamento de três medições
RASTI em seis pontos distintos. Os diversos pontos escolhidos têm o intuito de simular as
diferentes posições que os espetadores podem ocupar de forma a proporcionarem um intervalo de
resultados que demonstre a variabilidade da facilidade de interpretação do discurso à medida que
o ouvinte se afasta da fonte emissora posicionada no centro do palco.
O RASTI é um parâmetro objetivo que define intervalos de valores (entre 0 e 1) que permitem
classificar o grau de inteligibilidade de um determinado local. Os conjuntos de valores
correspondentes para cada classificação encontram-se apresentados no subcapítulo 2.5.2, sendo
relevante para o caso em particular referir que uma inteligibilidade excelente apresenta RASTI
superior a 0,75 e uma inteligibilidade boa corresponde ao intervalo compreendido entre 0,61 e
0,75.
No quadro 5.10 apresenta-se os valores obtidos para cada medição nos respetivos lugares,
juntamente com a sua média aritmética. Através da análise do quadro 5.10 observa-se que a média
das medições encontra-se entre 0,76 e 0,63 correspondendo a uma inteligibilidade boa e até
mesmo excelente na posição mais perto e frontal da fonte emissora. A variabilidade dos resultados
obtidos deve-se à grande dimensão do auditório e às reflexões inevitavelmente observadas nas
regiões mais marginais do auditório.
58
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Quadro 5.10 – Resultados obtidos para o parâmetro RASTI sem sistema AVAC, juntamente com a média obtida
para cada posição medida.
Devido a limitações temporais, a análise da inteligibilidade da palavra apenas foi realizada com o
sistema de ventilação desligado, considerando-se importante a realização de novas medições com o
sistema AVAC ligado de modo a compreender o seu impacto na compreensão oral dos espetadores.
6
COMPARAÇÃO COM OUTRAS
SALAS
6.1 INTRODUÇÃO
Para enquadrar o desempenho acústico observado no auditório do Centro Cultural de Ílhavo foi
realizada uma análise comparativa com outras seis dissertações que analisaram os mesmos
parâmetros noutras edificações similares em Portugal. Os parâmetros que foram comparados são o
59
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
TR (500,1000 e 2000
Auditório Volume (m3) TR médio (s)
Hz) (s)
1,03
1,00
60
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
1,40
1,20
0,78
0,85
1,60
1,90
1,10
1,18
1,47
Grande Auditório do Convento S.
12000 1,55 1,52
Francisco (Coimbra)
1,55
1,04
0,99
0,43
0,47
61
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
2.0
Cineteatro Esmoriz
1.8
1.6
Auditório FEUP
Tempo de reverberação (s)
0.4
Peq. Auditório Braga
0.2
0.0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000
Volume (m3)
Figura 6.1 – Relação entre os valores do tempo de reverberação médio para as bandas de frequência de 1/1
oitava entre os 500 e os 2000 Hz e o volume das salas [53], [54], [55], [56], [57], [58].
62
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
apresenta um ruído de fundo extremamente elevado (41 dB(A)). Quanto às curvas NC e NR, mais
uma vez o auditório da FEUP destaca-se negativamente com valores bastante superiores aos
recomendados e apenas o Pequeno Auditório do Altice Fórum Braga e o Grande Auditório do
Convento S. Francisco cumprem as exigências mais rigorosas para ambos os parâmetros.
Relativamente à Casa da Cultura de Ílhavo, o nível sonoro equivalente é o terceiro “pior” dentro
das sete salas analisadas e os valores de NC e NR encontram-se próximos da média das outras
salas.
Em geral, embora quase todas as salas apresentem bons resultados quando o sistema AVAC se
encontra desligado, assim que é exigido o seu funcionamento quase todas as salas apresentam
comportamento insatisfatório de acordo com o regulamento.
Quadro 6.2 – Níveis sonoros médios de ruído de fundo sem AVAC e correspondentes valores de NC e NR para
os diferentes auditórios [54], [55], [56], [57], [58].
LAeq (dB) NC NR
Auditório FEUP 27 20 23
Valores desejáveis ≤ 30 ≤ 20 ≤ 25
Quadro 6.3 – Níveis sonoros médios de ruído de fundo com AVAC e correspondentes valores de NC e NR para
os diferentes auditórios [54], [55], [56], [57], [58].
LAeq (dB) NC NR
Auditório FEUP 41 37 39
Valores desejáveis ≤ 30 ≤ 20 ≤ 25
63
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
6.4 RASTI
No quadro 6.4 encontram-se organizados os valores máximos e mínimos do RASTI de todas as
salas excluído mais uma vez o Cineteatro de Esmoriz onde também não foram realizadas as
medições para este parâmetro.
O local que mais se destaca é o Pequeno Auditório do Altice Fórum de Braga onde todas as
posições medidas apresentam excelente inteligibilidade da palavra (RASTI>0,75). Por outro lado,
o Auditório FEUP, apresenta um intervalo de valores um pouco abaixo daquilo que seria
desejável num espaço cuja principal valência é a utilização do discurso. Apesar disso, os
auditórios analisados apresentam valor mínimo do RASTI de apenas 0,55 o que se traduz numa
inteligibilidade da palavra razoável.
Quadro 6.4 – Valores máximos e mínimos do parâmetro RASTI para os diferentes auditórios [54], [55], [56], [57],
[58].
RASTI
Auditórios
Valores mínimos Valores máximos
Considerou-se também pertinente proceder com uma análise gráfica entre os valores médios e
mínimos do parâmetro RASTI medido e, os dois parâmetros que intuitivamente teriam maior
impacto na conservação da integridade do som sendo eles o ruído de fundo e o tempo de
reverberação da sala.
A figura 6.2 tem como objetivo demonstrar o impacto que o tempo de reverberação tem na
inteligibilidade da palavra, sendo que se observa uma correlação muito forte (R 2 = 0,91) entre os
dois parâmetros tal como se previa.
Seguidamente, procedeu-se com a mesma análise substituindo o tempo de reverberação com o
ruído de fundo médio experienciado nos diversos auditórios com o AVAC desligado através da
figura 6.3. Neste caso, contrariamente ao esperado, não se verifica uma correlação forte entre as
variáveis uma vez que o coeficiente de determinação (R2) é apenas 0,48.
Finalmente, nas figuras 6.4 e 6.5 foi feita uma análise semelhante com os valores do RASTI
mínimo. Tal como era esperado, verifica-se uma correlação significativa entre o RASTI mínimo e
64
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
o tempo de reverberação (R 2=0,90), enquanto por outro lado, a correlação com o ruído de fundo
sem AVAC é bastante fraca (R2=0,49).
0.85
0.80
Peq. Auditóriof(x) = 0.117282251210286 x² − 0.396127445550268 x + 0.958591068901323
Braga R² = 0.905525994587581
0.75 Grande Auditório
Braga
0.70
RASTI médio
0.55
0.50
0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6
Tempo de reverberação (s)
Figura 6.2 – Representação entre o RASTI médio das diferentes salas e os seus valores do tempo de
reverberação médio medido para as bandas de frequência de 1/1 oitava entre os 500 e os 2000 Hz [54], [55],
[56], [57], [58].
0.90
0.85
Pequeno Auditório do Al-
tice Fórum de Braga
0.80
0.75
RASTI médio
C. A. Águeda
0.70 f(x) = 5.54557559681745 x^-0.641405282896738
Grande Auditório
R² =Braga
0.487961550858241
C. C. Ílhavo
0.65 Cineteatro
Valadares
Grande Auditório Coimbra
Auditório FEUP
0.60
0.55
0.50
22 24 26 28 30 32 34
Nível sonoro equivalente de ruído de fundo (dB(A))
65
Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 6.3 – Representação entre o RASTI médio das diferentes salas e o LAeq do ruído de fundo sem o
funcionamento do sistema de ventilação [54], [55], [56], [57], [58].
0.90
0.85
0.80 Peq.
Auditório
Braga
0.75
RASTI mínimo
0.65 C. C. Ílhavo
C. A. Águeda Grande
0.60 Auditório
Grande Coimbra
Auditório
0.55 Braga
Cineteatro
Valadares
0.50
0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6
Tempo de reverberação (s)
Figura 6.4 – Representação entre o RASTI mínimo das diferentes salas e os seus valores do tempo de
reverberação médio medido para as bandas de frequência de 1/1 oitava entre os 500 e os 2000 Hz [54], [55],
[56], [57], [58].
0.90
0.85
Peq.
0.80 Auditório
Braga
0.75
RASTI mínimo
0.70
C. C. Ílhavo
0.65
f(x) = 6.44428745866689 x^-0.723487793641775
Grande C. A. Águeda
Auditório R² = 0.399661549595954
0.60 Cineteatro
Braga Auditório FEUP Valadares
0.55 Grande
Auditório
Coimbra
0.50
22 24 26 28 30 32 34
Nível sonoro equivalente de ruído de fundo (dB(A))
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Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
Figura 6.5 – Representação entre o RASTI mínimo das diferentes salas e o LAeq do ruído de fundo sem o sistema
de ventilação ligado [54], [55], [56], [57], [58].
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7
CONCLUSÃO
7.1. CONCLUSÕES
Infelizmente, a acústica continua a ser uma das áreas científicas com menos peso no que toca às
condições consideradas pela equipa projetista de modo que determinado espaço apresente o
desempenho pretendido. Apesar disso, é evidente o crescimento do interesse e das preocupações
acústicas em construções públicas.
De forma a desenvolver e a compreender melhor o paradigma acústico em Portugal, procedeu-se à
análise do caso particular do auditório da Casa da Cultura de Ílhavo, onde com base em
parâmetros medidos in situ, foi feita a comparação com outras salas previamente caraterizadas
bem como a verificação dos valores limite estipulados pelo Regulamento dos Requisitos
Acústicos dos Edifícios (RRAE).
Antes de avançar para as conclusões propriamente ditas que os resultados obtidos permitem
avançar, é importante salientar algumas dificuldades e limitações encontradas. Primeiramente, o
tempo estipulado para as medições in situ foi bastante reduzido, não sendo possível obter
amostras muito volumosas de dados o que acarreta alguma incerteza. Embora o auditório
apresente mecanismos de acústica variável estes, não se encontravam em funcionamento e não
foram realizadas quaisquer medições nesse âmbito. No que se refere ao levantamento de
parâmetros com base no funcionamento do sistema de ventilação, importa referir que apenas a
ventilação presente no teto do palco foi ligada, contrariamente à ventilação presente na região
mais afastada do palco.
Passando agora para as conclusões obtidas resultantes dos resultados, o primeiro parâmetro
estudado foi o tempo de reverberação. Foram realizadas várias medições em posições diversas
com a sala desocupada, sendo que o valor médio obtido para o tempo de reverberação nas bandas
de frequência de 500, 1000 e 2000 Hz foi de 1,0 segundos, resultado este que embora por si só
não cumpra o valor máximo estipulado pelo RRAE, após a aplicação da incerteza associada
(35%) verifica-se que respeita o limite legislativo (para a função “oratória”). Tendo em conta a
multifuncionalidade do auditório, o tempo de reverberação é aceitável apesar de nem ser ideal
para utilizações focadas na palavra (0,7—0,8 segundos) nem para funcionalidades onde é
preferível tempos de reverberação mais altos como é o caso da música clássica. Contudo, através
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Caraterização acústica da Casa da Cultura de Ílhavo
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volume das salas, sendo que o fator de correlação (R 2) foi muito pequeno (0,42) em função
daquilo que se esperaria tendo em conta a fórmula de Sabine, salientando-se assim o papel que os
sistemas de absorção sonora têm em reduzir o tempo de reverberação.
No quadro 7.1 encontram-se esquematizados todos os resultados previamente descritos, bem
como o seu cumprimento ou não relativamente à legislação em vigor (RRAE).
Quadro 7.1 – Resumo dos parâmetros acústicos medidos no Centro da Cultura de Ílhavo.
Valor
Parâmetro Valor Recomendado Avaliação
médio
Não
TR médio medido (500, 1000 e 2000 Hz) com Adequado
1,0 1,4 – 2,2 (para música
a sala vazia (s) (para
sinfónica)
música)
0,7 – 1,0 (para palavra)
Adequado
TR médio previsto (500, 1000 e 2000 Hz)
0,8 (para
para a sala totalmente ocupada (s)
palavra)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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