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1.1 Introdução
Hoje teremos uma introdução à disciplina e faremos um estudo da estrutura dos solos.
Como bibliografia básica utilizaremos principalmente o livro “Introdução à Mecânica dos
solos” (BODÓ e JONES, 2017) e “Mecânica dos Solos e suas aplicações” (CAPUTO, 1996). 1
Durante o semestre estudaremos o comportamento mecânico do solo, desde a formação
dos solos e sua estrutura até suas análises de adensamento e de resistência. Vocês vão perceber
que é uma disciplina bastante simples, sendo uma introdução para as linhas de fundação, obras
de terra e estradas. Mesmo com muitas equações e cálculos, estes são bastante simples, sendo o
mais importante entender os conceitos, já que estão mais do que acostumados com o tipo de
continha que verão aqui.
Por ser uma disciplina jovem (formalizada no início do século passado, com seu grande
expoente Karl Terzaghi) e com grande quantidade de análises experimentais, verão que, em
alguns casos, há mais de uma formulação matemática para a mesma situação, buscando se
aproximar da realidade. Diferentes teorias, com pequenas modificações, tentam apresentar
resultados mais verossímeis possíveis ou mais simplificados, a depender do grau de sofisticação
esperado.
Vamos lá...
Primeiro, o que são os solos e como são formados?
O solo é uma composição de partículas sólidas que inclui vazios (poros), formado pelo
intemperismo ou meteorização das rochas, por desintegração mecânica ou decomposição
química.
A desintegração mecânica ocorre pela ação de agentes, geralmente naturais, como o
vento e a chuva, reduzindo as rochas em pedregulhos, areia (solos de partículas grossas), siltes
(solos de partículas intermediárias) e até argila (solo de partículas finas), em alguns casos. O solo
formado unicamente por desintegração mecânica mantém as características químicas idênticas às
de sua rocha mãe.
Quando há uma modificação química ou mineralógica da rocha mãe, para a formação do
solo, diz-se que foi resultado de uma decomposição química. Tais efeitos tem como principais
agentes a água e a vegetação.
É importante saber, porém, que a maioria dos solos é formado por ambos processos
simultaneamente, mesmo que um tenha predominância sobre o outro.
1.2 – Índices Físicos
Como vimos, a estrutura do solo, além das partículas sólidas, é composta por poros. Esses
poros podem conter apenas ar, estar cheios de água (quando dizemos estar saturado) ou estar
parcialmente saturado (alguns vazios tem água, outros apenas ar).
A água pode ser encontrada no solo das seguintes formas (Figura 1):
1
Todas as imagens são retiradas de ambos os livros de referência.
água adesiva ou adsorvida - é aquela película de água que envolve e adere
fortemente a partícula sólida;
água livre - é a que se encontra em uma determinada zona do terreno, enchendo
todos os seus vazios; o seu estudo rege-se pelas leis da Hidráulica;
água higroscópica - é a que ainda se encontra em um solo seco ao ar livre;
água capilar - é aquela que nos solos de grãos finos sobe pelos interstícios
capilares deixados pelas partículas sólidas, além da superfície livre da água (os
"fenômenos capilares").
As águas livre, higroscópica e capilar são as que podem ser totalmente evaporadas pelo
efeito do calor, a uma temperatura maior que 100°C.
Assim, quando um solo está completamente seco, sem qualquer presença de água, ou seja,
está seco em estufa, temos uma composição de apenas sólidos e ar:
Quando esses espaços vazios estão completamente cheios de água, dizemos que ele está
em um estado saturado:
Figura 3 - Solo saturado
Considerando que o volume total do solo ( ) é composto pela soma do volume de sólidos
( ) e o volume de vazios ( ). Desta forma, temos que o volume total do solo pode ser dado por:
= +
(1.1)
Esse volume de vazios, por sua vez, é a soma dos espaços ocupados pela água ( , o w é
de water) e os espaços ocupados pelo ar ( ). Desta forma, o volume de vazios pode ser
determinado por:
= +
(1.2)
Podemos perceber que o volume de vazios será igual ao volume de água quando o solo
estiver saturado e igual ao volume de ar, quando completamente seco
Logo, o volume total do solo pode ser dado por:
= + +
(1.3)
A partir desses volumes podemos encontrar alguns índices (indicadores. Se trabalha com
diversos aqui na Mecânica dos solos) importantes para o estudo do comportamento do solo. O
primeiro que iremos trabalhar é o índice de vazios ( ). Esse índice é a simples representação da
relação entre o volume de vazios ( ) e o volume de sólidos ( ) do solo analisado:
= 100 ∙ (%)
Esse índice é muito importante ao analisar a compactação do solo, uma vez que a única
variável é o volume de vazios. Assim, quanto menor o for, mais compacto está o solo.
Outro índice importante é o de porosidade (n). A porosidade compara o volume de vazios
com o volume total do solo:
= 100 ∙ (%)
(1.6)
Essa equação pode ser combinada com o índice de vazios a fim de determinar seu valor
por aquele índice:
=
1+
(1.7)
= 946 ; = 533 ; = 303 ³
Ex. 1.3 – Calcule o volume de vazios, o volume de ar, o índice de vazios, a porosidade e
o grau de saturação de determinada areia que foi retirada de um local que ficava abaixo do lençol
freático, com os seguintes volumes medidos:
= 1000 ; = 400 ³
Até aqui vimos apenas relações com o volume dos solos, porém, muitas vezes é mais
interessante trabalhar com seu peso ( , do inglês weight). Aqui, considera-se que o ar não tem
peso. Assim, quanto ao peso, o solo pode ser dividido esquematicamente como:
Logo:
= +
(1.14)
Como o peso é o resultado do produto da aceleração da gravidade e da massa ( ):
= 9,81 ∙ 10 ∙ ( )
(1.15)
A partir desse conceito, podemos entrar nas análises de densidades e peso específicos dos
solos, lembrando que a densidade de massa ( ) e de peso ( ) aparentes, de solo parcialmente
saturado, retirado acima do nível do lençol freático são, respectivamente, de:
(1.16)
e
(1.17)
A densidade do solo pode ser determinada em campo a partir do ensaio de frasco de areia:
= 946 ; = 533 ; = 303 ³
Ex. 1.3 – Calcule o volume de vazios, o volume de ar, o índice de vazios, a porosidade e
o grau de saturação de determinada areia que foi retirada de um local que ficava abaixo do lençol
freático, com os seguintes volumes medidos:
= 1000 ; = 400 ³
Até aqui vimos apenas relações com o volume dos solos, porém, muitas vezes é mais
interessante trabalhar com seu peso ( , do inglês weight). Aqui, considera-se que o ar não tem
peso. Assim, quanto ao peso, o solo pode ser dividido esquematicamente como:
Logo:
= +
(1.14)
Como o peso é o resultado do produto da aceleração da gravidade e da massa ( ):
= 9,81 ∙ 10 ∙ ( )
(1.15)
A partir desse conceito, podemos entrar nas análises de densidades e peso específicos dos
solos, lembrando que a densidade de massa ( ) e de peso ( ) aparentes, de solo parcialmente
saturado, retirado acima do nível do lençol freático são, respectivamente, de:
(1.16)
e
(1.17)
A densidade do solo pode ser determinada em campo a partir do ensaio de frasco de areia:
https://www.youtube.com/watch?v=b66Obf5QQoI
Para relembrar, faça o exercício a seguir:
Ex. 1.4 – Uma areia parcialmente saturada foi ensaiada em um laboratório. Seu volume
medido foi de 75,4 cm³ e sua massa foi de 136,2 g. Calcule o peso unitário em kN/m³.
(1.18)
= 9,81 ∙ 10 ∙
(1.19)
Quando se retira uma amostra que se encontra abaixo do nível do lençol freático, tem-se
que ela se encontra completamente saturada e seu grau de saturação é unitário, logo:
Como a densidade aparente mássica da água é de 1000 kg/m³ e em peso é de 9,81 kN/m³,
temos que a massa total do solo saturado será de:
= + ∙
E o peso saturado:
= + ∙
Logo:
( + ∙ )
= =
(1.20)
E a densidade aparente em peso do solo saturado:
+ ∙
= =
(1.21)
Se já tiver a densidade aparente em massa, podemos determinar a densidade em peso por:
= 9,81 ∙ 10 ∙
(1.22)
Ex. 1.5 – A areia parcialmente saturada do ex. 1.4 foi saturada pela adição de água e então
seca completamente. Mediu-se 122,9 g de massa seca, 29 g de massa de água perdida e seu volume
total era de 75,4 cm³. Calcule o peso específico saturado da amostra.
Para solos que se encontram abaixo no nível do lençol freático, para diversas aplicações
como para a determinação da capacidade do solo e para a tensão efetiva, deve-se considerar o
efeito do empuxo causado pela água, explicado pelo princípio de Arquimedes:
Com isso, temos que o peso específico submerso ( ′):
= −
(1.23)
Outro dado importante, principalmente para análises de compactação, é o peso específico
dos sólidos ( ) que corresponde à relação entre o peso dos sólidos secos e do volume de sólidos:
= 9,81 ∙ 10 ∙
(1.24)
Por fim, podemos citar a densidade ( ) também chamada de massa específica dos
sólidos é uma relação entre o peso/massa dos sólidos solo e da água:
= =
(1.25)
Abaixo seguem alguns valores médios de :
Solo
Argila 2,75
Silte 2,68
Areia 2,65
Cascalho 2,65
O teor de umidade do solo, fator importante para aplicações como dosagem de concreto
e compactação do solo, pode ser determinado pela simples relação entre a massa/peso de água e
a massa/peso de sólidos:
(1.26)
O ensaio pode ser feito com a utilização de uma estufa ou em campo com o speedy test,
como fizemos na disciplina de Materiais de Construção. O Speedy é constituído por um
reservatório metálico fechado que se comunica com um manômetro destinado a medir a pressão
interna. Dentro deste reservatório são colocados, em contato, uma certa quantidade de solo úmido
e uma determinada porção de carbureto de cálcio (CaC2). A água contida no solo combinando-se
com o carbureto de cálcio, gera acetileno, tal como expressa a equação:
Para determinar o quão denso um solo se encontra em seu estado natural é necessário
conhecer a sua densidade relativa ( ), índice que compara seu índice de vazios em estado
natural com aqueles no estado mais solto e mais denso:
á −
= 100 ∙ (%)
á − í
(1.27)
Outra forma de calcular a densidade relativa é a partir da equação 1.28, desta vez em
função do peso específico aparente seco ( ).
( − í )∙ á
= 100 ∙ (%)
( á − í )
=
1+ℎ
(1.31)
f)
= ∙
1+
(1.32)
g)
+
= ∙
1+
(1.33)
h)
−1
= ∙
1+
(1.34)
A partir desse último exercício você deve ter percebido que existe mais de uma forma
para se determinar as diferentes características do solo.
Ex. 1.8 – Uma argila de = 2,8 foi compactada em seis moldes padrão ASTM com
diferentes teores de água. O volume interno de cada molde era de 944 cm³. As massas total e seca
das amostras foram encontradas:
Amostras
Quantidade 1 2 3 4 5 6
( ) 1743 1827 1880 1890 1880 1834
( ) 1449 1502 1533 1542 1510 1467
(1.27)
Outra forma de calcular a densidade relativa é a partir da equação 1.28, desta vez em
função do peso específico aparente seco ( ).
( − í )∙ á
= 100 ∙ (%)
( á − í )
í =
Ex. 1.9 – Determinar a densidade relativa de uma areia que teve os seguintes resultados
nos ensaios e descrevê-la em função disso:
= 58,2%; á = 62,4%; í = 41,5%
Compactação
Amostra 1 2 3 4 5 6
M solo úmido + molde (g) 6141 6498 6602 6556 6441 7271
------
Por mais que exista um valor ótimo do teor de umidade, dificilmente este será atingido
de forma exata e mantido durante todo o processo em campo. Por isso, é razoável que se determine
uma faixa na qual esse teor de umidade é aceitável:
Ex. 1.11 –
(1 − ) ∙ ∙
=
1+ℎ∙
Ex. 1.10 – Com base nos resultados de um ensaio de compactação apresentados abaixo,
construa seu gráfico de compactação, determine seu teor de umidade ótimo e a porcentagem de
ar para esse teor de umidade, sabendo que o molde tinha massa de 1900 g e volume de 2305 cm³.
Compactação
Amostra 1 2 3 4 5 6
M solo úmido + molde (g) 6141 6498 6602 6556 6441 7271
------
Por mais que exista um valor ótimo do teor de umidade, dificilmente este será atingido
de forma exata e mantido durante todo o processo em campo. Por isso, é razoável que se determine
uma faixa na qual esse teor de umidade é aceitável:
Ex. 1.11 –
Ex. 1.12 –
Ex. 1.13 –
Ex. 1.14 –