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Notas de aula nº 2 – Classificação de solos coesivos

Como as propriedades de solos finos não dependem apenas da granulometria, nesta


unidade iremos estudar sobre a plasticidade desses solos, comportamento dependente do teor
de umidade.
Para início vamos definir plasticidade de solos. A plasticidade do solo pode ser definida
como sua capacidade de ser moldado, em certo teor de umidade, sem variação de volume. E os
limites de transformação entre os diferentes estados que pode apresentar são chamados de
limites de Atterberg. Quando um solo coesivo se encontra com um alto teor de umidade, irá se
encontrar em um estado praticamente líquido. Conforme sua umidade é reduzida, deixa o ponto
de uma pasta úmida que se deforma sob o próprio peso e passa a formar uma massa plástica.
Nesse teor de umidade, diz-se que o solo se encontra em seu Limite de Liquidez (LL), ali, o
solo está saturado ( Sr =1). Quando o solo natural se encontra próximo ao seu LL, este solo é
suscetível a grandes de formações e a ruptura, quando carregado.
Ao continuar o ressecamento do solo, ele atingirá um ponto em que deixa de ser plástico
e começa a se desmanchar ao ser trabalhado, este limiar é chamado de Limite de Plasticidade
(LP). Quando o teor de umidade do solo é próximo do seu LP, tem-se uma maior facilidade de
compactação até seu menor volume e de escavação.
A continuidade da secagem do solo fino o leva a reduzir seu volume e a atingir o ponto
em que se encontra completamente seco, no qual não mais se retrai (mesmo continuando a
perder peso), mudança caracterizada pelo Limite de Contração (LC). Esse limite é muito
importante para solos argilosos pois solos com a perca da umidade, solos argilosos tendem a
apresentar redução volumétrica que pode causar maior recalque das estruturas, por exemplo. Por
isso, é importante que se evite instalar tubulações ou assentar fundações em zonas de contração
do solo.

A determinação do LL pode ser feita a partir do aparelho de Casagrande:


Segue o link para um vídeo que mostra a determinação do LL e do LP:
https://www.youtube.com/watch?v=Uggypd-78kI
Já o LC pode ser determinado de forma aproximada utilizando a equação 2.1:

3 M s ( g)
V 0 (c m )−
Gs
LC =100 ∙ (% )
M s ( g)

(2.1)
Onde:
V 0 = volume do solo seco.
O índice de vazios pode ser apresentado em função do LC:
e=LC ∙ Gs

(2.2)
Ex. 2.1 – Uma porção de argila foi lentamente seca e sua massa seca medida como
M s=59,1 g. A amostra seca em estufa foi introduzida em um banho de mercúrio em condições
de laboratório e o deslocamento de Hg foi anotado. O volume fornecido da porção de argila era
V 0=27,67 cm ³. Calcule o LC, o volume de sólidos, o índice de vazios no LC e o volume de
vazios no LC. G s =2,75

R:
Determinar o LC:

M s ( g)

LC =100 ∙
V 0 (c m )−
3
Gs (
( % )=100 ∙
27,67−
59,1
2,75)=10,45 %
Ms (g ) 59,1

Determinar o volume dos sólidos:


Ms ρs
ρ s= ; G s= → ρ s=G s ∙ ρw
Vs ρw
Ms 59,1∙ 10
−3
−6 3
V s= = =21,49 ∙10 m =21,49 cm ³
G s ∙ ρw 2,75∙ 1000

Além de se contrair, argilas podem ter um efeito expansivo ao absorver determinados


níveis de água até um teor de umidade chamado de Limite de saturação (Z%). Essa expansão
pode ser causada por vazamento de tubulações de água e canos, fortes chuvas após um período
prolongado de seca e remoção de árvores antigas e arbustos, por exemplo. Para evitar problemas
de pressão negativa nas fundações, causadas pela expansão do solo pode-se incluir estacas
escavadas ou realizar o reaterro das fundações superficiais compactadas o suficiente para
causar-lhes compressão, compensando a possível expansão. Além disso, devem ser instaladas
juntas entre as fundações ou entre as paredes da construção e do piso.
O Z% é relacionado ao LL pela expressão (2.2):

Z=√ 15,2∙ ( ¿ %−16,3 ) +9 %


(2.3)
A variação de volume da amostra de solo ( f ) pode ser considerada linear entre LC% e Z
%, como indicado na figura abaixo:

V −V 0
f =100 ∙ ( %)
V0

(2.4)
Deste modo, o volume do solo pode ser apresentado em função do seu teor de umidade,
LC%, ângulo da reta formada pela variação volumétrica e o volume seco:
[
V = 1+
tgα
100 ]
∙ ( h %−Lc % ) ∙ V 0

(2.5)
Ex. 2.2 – Calcular o volume máximo de uma argila causada pela contração e expansão,
respectivamente, utilizando:

¿=65 % ; LC =13 % ; h=29,7 % ;V 0 =36,19 c m3 ; α =66,75°

Para o engenheiro a magnitude da contração ou da expansão do solo é mais relevante


que sua variação volumétrica. Para realizar essa estimativa, deve-se considerar a variação do
comprimento de um cubo de lados h, assumindo que cada lado é diminuído de x durante a
contração.

3
Volume inicial: V 1=h

Volume final: V 2=(h−x)³


3
Variação do volume: V 1−V 2 =h −(h−x)³

Temos então que a variação volumétrica percentual pode ser dada por:

h3
Δ f %=100 ∙ −100
( h− x )3
(2.6)
Assim, x , em contração pode ser determinado por:

x=h ∙ 1− ( √ Δ f %+100
3 100
)
(2.7)
Já para a expansão:
x=h ∙ ( √ Δ f100+100 −1)
3

(2.8)

Ex. 2.3 – Uma cabana foi construída de forma que a fundação superficial e a laje do
piso foram apoiadas diretamente no topo de uma argila suscetível à contração. O teor de
umidade natural no momento da construção era de 29,7%. Posteriormente, dias árvores foram
plantadas a uma distância de 6 m da construção. Estimar o valor máximo de contração possível
sob a fundação superficial e a laje nos anos subsequentes, devido às raízes das árvores em
crescimento. A seguir, uma representação esquemática:
OBS: aqui a umidade é apresentada como m para não ser confundida com a altura h

Seguem os dados que não constam na figura: f 1=38,91 % ; f 2=0 %.

Até aqui, vimos como determinar e como utilizar os limites de consistência do solo,
agora veremos como estes índices podem ser utilizados para descrevê-lo em seu estado natural.
Para isso são utilizados os três índices de consistência: índice de plasticidade (IP), índice de
consistência relativa (IC) e índice de liquidez (IL).
O índice de plasticidade indica a faixa de umidade no qual o solo pode ser considerado
plástico:

IP=¿−LP (%)
(2.9)
Quanto maior o IP, mais coesivo é o solo, assumindo que não há contaminação
orgânica.
Já o IC indica a posição da umidade natural (h) com relação ao LL:

IC=100 ∙ ( ¿−LP
¿−h
)=100 ∙ ¿−h
IP
(%)

(2.10)
De modo semelhante o IL indica a posição do teor de umidade natural com relação ao
LP, dentro da faixa de plasticidade:
IL=100 ∙
h−LP
¿−LP
=100 ∙ (
h−LP
IP )
(2.11)

Conhecer esses índices permite avaliar se o solo coesivo em análise é adequado para
obras de construção civil. Tal análise é facilitada pelo seguinte gráfico:

Solos classificados com IC <50 % não devem ser considerados adequados para
carregamentos. Os solos também podem ser classificados em função de seu IP e LL:
Ex 2.4 – De acordo com os gráficos recém estudados, classifique uma argila de
¿=65 % ; LP=21 % ;LC =13 % , h=29,7 % .

Quanto ao tamanho das partículas, os solos podem ser classificados em:

Tipo de solo Faixa de tamanho


(mm)
Argila 0,0001-0,002
Silte 0,02-0,06
Areia 0,06-2
Pedregulhos 2-60
Pedras >60

O procedimento para determinação da granulometria segue o estudado em Materiais de


Construção I. Segue o material para revisão:
Granulometria

Classificação dos agregados em função das porções de diâmetros dos seus grãos.
https://www.youtube.com/watch?v=m5xU9PP8nHE

Resultado de um ensaio hipotético:

Para completar essa tabela e determinar o quão fino (módulo de finura) é o agregado, devemos
avaliar quanto do agregado ficou retido em cada peneira (em %).

A porcentagem de agregado retido em cada peneira, é determinado por:

massa retida
%retida= ∙ 100
massa total
75
%retid a9,5= ∙ 100=4,16 %
1800
A coluna de %acumulada, indica o quanto de material, em porcentagem, ficou retido até aquela
peneira. Ou seja:

%acumulad a9,5 =%retid a 9,5=4,17 %

%acumulad a6,3 =%retid a 6,3+ %acumulad a9,5=1,11+ 4,17=5,28 %

%acumulad a4,8 =%retid a4,8 +%acumulad a6,3 =12,22+ 5,28=17,50 %

O diâmetro máx. é representação dos grãos de maior diâmetro do agregado, e é dado pela
abertura da peneira onde fica retida, acumulada, porcentagem de imediatamente inferior à 5%.

Como, para o caso, a porcentagem acumulada na peneira 6,3 mm é superior a 5%, adotamos a
peneira com diâmetro imediatamente inferior à 5%, no caso, 9,5 mm.

Já o módulo de finura é a indicação do quão fino ou grosso é o agregado. Ele é calculado pela
soma das porcentagens acumuladas (excetuando-se o fundo) e dividindo seu resultado por
100:

%acumulad o 9,5 +%acumulad o6,3 + …+%acumulad o0,15


MF ( Módulode finura ) =
100
100

90

80

70

60
% acumulada

50

40

30

20

10

0
Fundo 0,15 0,3 0,6 1,2 2,4 4,8 6,3 9,5
Abertura das peneiras, mm

A linha azul representa os valores acumulados que você encontrou. As linhas vermelhas,
representam os valores limites de cada diâmetro, representados na tabela a seguir.
A determinação da uniformidade granulométrica do solo (U) depende do diâmetro de
dois pontos relacionados à análise granulométrica, aquele em que apenas 10% das partículas do
solo é menor ( D 10) e aquele em que 60% do solo é menor ( D60). Para isso, convém fazer a
distribuição granulométrica em função da quantidade de partículas passante por cada peneira, ao
invés da quantidade de partícula retida. A conversão pode ser feita a partir da subtração
%acumulada retida de 100%.

D60
U=
D10

(2.12)

A NBR 6502 indica que o solo pode ser classificado como:

Uniforme quando U <5

Medianamente uniforme quando 5 ≤U ≤ 15

Desuniforme quando U >15


Para o dimensionamento adequado de filtros, deve-se garantir que o fluxo d’água não
carregue as partículas de um solo para outro que se quer proteger, isso pode ser garantido por:

D15( filtro )
<4
D85 (solo )

(2.13)

E os vazios dos filtros devem ser grandes o suficiente para permitir o fluxo irrestrito por
eles, prevenindo o aumento de pressões hidrostáticas, garantido por:

D15( filtro )
>4
D15 (solo )

(2,14)

A seguir alguns problemas que podem ser resolvidos com essas análises:

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