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PROJETO E EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES


PROFUNDAS COM ESTACAS
(Estacas carregadas transversalmente no topo)

PROFESSOR

Urbano Rodriguez Alonso


MÊS DE 2016

DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS

contato@engeduca.com.br
ESTACAS CARREGADAS TRANSVERSALMENTE NO TOPO

Urbano Rodriguez Alonso


1- CONCEITOS BÁSICOS (Coeficiente de reação e Módulo de reação)

1.1) Coeficiente de reação horizontal.

Em 1955, num trabalho clássico sobre o assunto, Terzaghi definiu o coeficiente de reação
horizontal, kz, de um solo, na profundidade z, como sendo a relação entre a tensão unitária (σz)
atuante nessa profundidade (z) e o deslocamento (y) sofrido pelo solo (Figura 1).

σz
kz =
y

Figura 1: Conceito do coeficiente de reação horizontal

A unidade do coeficiente de reação horizontal é [FL-3] ou seja kgf/cm3; tf/m3; kN/m3, etc.

Cabe lembrar que a utilização do coeficiente de reação horizontal no estudo das estacas
carregadas transversalmente no topo pressupõe que o solo seja admitido como um meio contínuo.

É importante ressaltar que o coeficiente de reação horizontal não é uma característica do


solo dependendo, dentre outros fatores, da largura (ou diâmetro) da estaca, decrescendo com o
aumento desta, como já alertava Terzaghi em 1955, a seguir resumido (Figura 2).

Figura 2: Deslocamentos horizontais em função da largura (diâmetro) da estaca

Antes da atuação de qualquer carregamento horizontal na estaca, o terreno exerce em


qualquer ponto da superfície lateral da mesma uma tensão po que é igual ao empuxo no repouso
(estacas escavadas) ou maior que este (estacas cravadas).

2
Se a estaca é deslocada para um lado, a tensão na face do lado contrário decresce para um
valor muito pequeno. Pelo efeito de arco que aí se desenvolve, esse valor é menor que o
correspondente empuxo ativo, podendo ser desprezado.

Cabe lembrar que esta consideração só é válida para o caso de estacas isoladas ou estacas
em grupo com espaçamento relativo grande, não se aplicando ao caso de cortinas nem mesmo
ao caso de estacas com espaçamento pequeno, pois nestes casos não existe o efeito de arco.

Em função do deslocamento sofrido pela estaca, na face do lado do movimento atuará uma
tensão pp que será maior que a tensão no repouso. O deslocamento para produzir esta variação
é tão pequeno que pode ser desprezado. Então, no início do deslocamento, as tensões nas faces
da estaca a uma profundidade qualquer serão:

- face do lado do carregamento: pa =0


- face do lado contrário ao carregamento: pp = po´ >po

Ao se completar o deslocamento os valores acima serão, respectivamente:


pa =0 e pp = po´+kz*y

Ainda observando a Figura 2, verifica-se que para uma mesma tensão σz, o deslocamento
y aumenta com o aumento da largura (ou diâmetro) da estaca pois seu bulbo de tensões aumenta.
Se admitirmos que para uma largura (diâmetro) da estaca D1 o bulbo de tensões é L1 ao se
comparar com outra estaca de largura n*D1 teremos um bulbo de tensões n*L1 ou seja, para a
mesma tensão σz, o deslocamento aumentará de y para n*y. Como o coeficiente de reação é a
relação entre a tensão e o deslocamento ocorrido, verifica-se que esse coeficiente diminui à
medida que a largura (diâmetro) da estaca aumenta (efeito de escala). Daí porque o coeficiente
de reação horizontal não é uma característica do solo pois depende também da largura carregada,
com mesma tensão σz.

1.2) Módulo de reação horizontal

Para eliminar o inconveniente acima exposto, em 1956, Matlock e Reese propuseram utilizar
o módulo de reação K definido como sendo a tensão aplicada ao solo pela estaca, concentrada
ao longo do seu eixo, dividido pelo deslocamento (Figura 3).

p
K=
y

Figura 3: Transformação da tensão média em carga linear


3
Verifica-se que o módulo de reação K pode ser correlacionado com o coeficiente de reação
kz tendo em vista que p = σz*D. Assim pode-se escrever:

p σz * D
K= = ou seja: K = kz*D
y y

Esta nova maneira de expressar a reação do solo elimina o problema do efeito de escala
uma vez que a largura (diâmetro) D da estaca já está embutido no valor de p e, portanto, o valor
de K pode ser tabelado em função do tipo de solo, como se verá adiante.

A unidade do módulo de reação é [FL-2] ou seja tf/m2; kN/m2, etc, analogamente ao “módulo
de elasticidade”.

2- Modelo de Winkler (coeficiente de mola horizontal)

Uma outra maneira de se estudar as estacas carregadas transversalmente é a utilização do


modelo proposto por Winkler em 1875. Este modelo é a base da grande maioria dos métodos de
cálculo empregados no estudo de estacas sujeitas a esforços transversais e consiste na
substituição do solo por uma série de molas independentes (meio descontínuo) conforme se
mostra na Figura 4.

Figura 4: Modelo de Winkler

Neste caso define-se coeficiente de mola Km,i a relação entre a força resistida pela mola e
o deslocamento por ela sofrido.

Fi p *∆z
K mi = =
yi yi
Embora este modelo de Winkler não represente, na totalidade, a realidade física do
problema, é o que tem sido mais utilizado no estudo de deslocamentos e esforços em estacas
carregadas transversalmente, ainda mais que hoje em dia o uso de programas de computador
permite utilizar esse modelo empregando métodos de elementos finitos e método de diferença
finitas.

O estudo utilizando elementos finitos ou ainda diferenças finitas foge ao escopo deste
trabalho e, portanto, nos basearemos em métodos elásticos em meios contínuos.

3- Variação do módulo de reação com a profundidade

As variações mais simples do módulo de reação K com a profundidade são “constante”


(Figura 5a) e “crescente linearmente” (Figura 5b).

4
(a) (b)
Figura 5: Variação do módulo de reação horizontal com a profundidade

O primeiro caso corresponderia aos solos que apresentam características de deformação


mais ou menos independentes da profundidade e, portanto, a reação do solo p pode ser
considerada uniforme (Figuras 2a e 5a). Os solos que se enquadram neste tipo são argilas pré-
adensadas (argilas rijas a duras). Para esses solos pode-se escrever:

p
K= = constante
y
O segundo caso corresponde aos solos que apresentam características de deformação
proporcionais à profundidade, como, por exemplo, os solos de comportamento granular (areias) e
as argilas normalmente adensadas (Figura 2b e 5b). Para esses solos pode-se escrever:

K = ηh*z

sendo ηh foi denominado “constantes do módulo de reação horizontal”.

Os valores de K (constante) e ηh podem ser obtidos, por exemplo, em Davisson (1963)


transcritos nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1: Valores do módulo de reação horizontal K das argilas pré-adensadas


Argilas pré-adensadas Valor de K (MPa)
consistência qu (kPa) ordem de grandeza valor provável
Média 20 a 40 0,7 a 4,0 0,8
Rija 100 a 200 3,0 a 6,5 5,0
Muito rija 200 a 400 6,5 a 13,0 10,0
Dura >400 >13,0 19,5
Nota: qu = 2*su = resistência à compressão simples. 1 tf/m = 10kPa e 1MPa = 10 kgf/cm2
2

Tabela 2: Valores da constante ηh do módulo de reação horizontal


Compacidade da areia ou NSPT Valores de ηh (MN/m3)
Consistência da argila Seca Submersa
Areia fofa 4 a 10 2,6 1,5
Areia mte. Compacta 10 a 30 8,0 5,0
Areia compacta 30 a 50 20,0 12,5
Silte muito fofo - - 0,1 a 0,3
Argila muito mole - - 0,55
Nota: Para obter ηh em kgf/cm3 dividir os valores da Tabela por 10 e para obter ηh em tf/m3
multiplicar os valores da Tabela por 100.

5
Vários outros valores de ηh podem ser obtidos na Tese de Mestrado de Zammataro (2007).
Entretanto conforme Terzaghi, os erros na avaliação de K (constante ou variando com a
profundidade) tem pouca influência nos cálculos dos momentos e cortantes, pois a equação para
sua determinação engloba uma raiz quarta (quando K = cte.) ou uma quinta (quando K = ηh.z). A
influência ocorre nos deslocamentos previstos.

Um outro aspecto importante é que o comportamento da estaca é muito influenciado pelo


solo que ocorre nos primeiros metros. Por exemplo, Matlock e Reese concluem que, no caso de
areias, o comportamento da estaca é comandado pelo solo que ocorre até a profundidade z = T,
em que:

E.I
T =5
ηh

No caso das argilas pré-adensadas, conforme se mostra na Figura 7, o refinamento de K


deverá ser restrito à profundidade z = 0,4R, em que:

E.I
R=4
K

Aqueles que quiserem se aprofundar no tema podem recorrer ao trabalho de Zammarato e


também ao livro de Sherif (1974)que apresenta 13 variações de K com a profundidade (Figura 6),
nos quais estão englobados os dois acima.

6
Figura 6: Variações do módulo de reação horizontal estudados por Sherif
Davisson sugere que, mesmo para o caso de argilas pré-adensadas, admita-se uma
variação de K em degrau conforme mostrado na Figura 7

Figura 7: Redução do módulo de reação horizontal em argilas pré-adensadas

3- CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROJETO

O projeto de estacas carregadas transversalmente no topo deve contemplar dois objetivos


simultaneamente:

a) cálculo dos esforços nas estacas que permitam seu dimensionamento estrutural e obtenção
dos deslocamentos sofridos sob a ação dessas cargas.

b) verificação da segurança contra a ruptura do solo que lhe dá suporte.

Para se atingir o primeiro objetivo, tem que se lançar mão de um esquema estrutural
conveniente, havendo dois casos extremos conforme se indica na Figura 8. O primeiro
(denominada estaca longa ou também “flexível”) é o que fornece resistência de ponta nula devido
apenas aos carregamentos transversais no topo. O segundo (denominada estaca curta ou também
“rígida”) é aquele em que a resistência do solo sob a ponta da estaca é significativa para o
equilíbrio dos carregamentos transversais aplicadas no topo da estaca.

Figura 8: Diferenciação entre estacas longas e curtas

7
Para o caso da estaca curtas a mesma se comporta como corpo rígido, sendo a
estabilidades da mesma estudada com base nas três equações da estática, após se estabelecer
uma lei de variação do módulo de reação horizontal do solo. Por outro lado, o diagrama de
momentos, ao longo do eixo da estaca, neste caso, não será nulo no pé da mesma.

Entre esses dois casos extremos situam-se as estacas “intermediárias”, porém não
conhecemos um procedimento de cálculo adequado para as mesmas na literatura disponível.
Assim sendo, nestas notas sobre o assunto nos dedicaremos apenas as estacas longas e curtas.

A estaca será considerada longa quando o comprimento enterrado da mesma for:

L ≥ 4T (solos com K = ηh.z)

L ≥ 4R (solos com K = constante).

Para se atender ao segundo objetivo (segurança contra a ruptura), torna-se necessário


comparar o diagrama de tensões aplicadas pela estaca ao solo com o diagrama de tensões de
ruptura do mesmo.

Cabe lembrar que tanto na análise do primeiro como do segundo objetivos torna-se
necessário levar em conta as condições de contorno do topo e do pé da estaca, bem como da
posição do carregamento transversal sobre a mesma em relação ao nível do terreno.

4- EQUAÇÃO DIFERENCIAL DE UMA ESTACA LONGA IMERSA EM MEIO ELÁSTICO

A equação diferencial de uma estaca longa imersa em meio elástico, Figura 9, segundo
Hetenyi (1946) é:
d4y d2y
EI + P + Ky = 0
dz 4 dz 2

Que para P = 0 se escreve

d4y
EI 4 + Ky = 0
dz

Figura 9: Estaca longa

8
em que: E = módulo de elasticidade do material da estaca
I = momento de inércia da seção transversal da estaca em relação ao eixo baricêntrico,
normal ao plano de flexão.

Para se resolver a equação diferencial acima podem-se usar métodos numéricos ou


analíticos.

O método numérico mais empregado é o das diferenças finitas. Este método, abaixo
exposto, facilita o estudo das estacas longas imersas em solo com qualquer lei de variação do
coeficiente de reação.

Já os métodos analíticos têm sido desenvolvidos quase que exclusivamente para os casos
em que o módulo de reação horizontal é constante ou cresce linearmente com a profundidade.

5- MÉTODO DAS DIFERENÇAS FINITAS

Na Figura 10 apresentam-se as correspondências entre as diversas curvas que interessam


ao problema, expressa em equações diferenciais.

Figura 10: Linhas de estado de estacas longas

As mesmas equações acima, expressas em diferenças finitas, está apresentado na Figura


11, onde a estaca é dividida em n segmentos iguais.

Os n segmentos em que foi dividida a estaca fornece n + 1 onde se pretende obter os


deslocamentos y, a rotação θ, etc.

Figura 11: Divisão da estaca para análise por diferenças finitas


9
Essa equação aplicada aos nós 1 a (n -1) fornecem (n -1) equações. Por outro lado, existem
mais quatro equações (duas no topo e duas no pé da estaca) e duas de equilíbrio estático.

Por exemplo, para o topo livre se escreve (i = 0)

y1 − 2 y 0 + y −1
Momento M0 = M M = E.I 2
L
 
n

y 2 − 2 y1 + 2 y −1 − y − 2
Cortante Q0 = H H = E.I 3
L
2 
n

Analogamente podem-se escrever as equações para o topo engastado e para as condições


de contorno do pé.

Finalmente existem mais duas equações que devem ser introduzidas para resolver o
problema que são as do equilíbrio estático (ΣH =0 e ΣM=0), já que P = 0.

Obtém-se ao final um sistema de (n + 5) equações que, resolvido, fornece os (n + 5)


deslocamentos sendo que nos nós -2, -1, (n +1) e (n + 2) esses deslocamentos são fictícios.

Com base neste procedimento, Sherif (1974) apresentou uma série de Tabelas cobrindo 13
variações do módulo de reação horizontal conforme mostrado na Figura 6.

10
6- MÉTODOS ANALÍTICOS

6.1) Solução de Miche (1930)

Este autor parece ter sido o primeiro a integrar a equação diferencial de uma estaca longa
(L>4T) imersa em meio elástico com coeficiente de reação horizontal linearmente crescente com
a profundidade (ainda não existia, àquela época, o conceito de módulo de reação) e sujeita
apenas a carga horizontal H (M = 0), conforme Figura 12.

Figura 12: Problema resolvido por Miche

As linhas de estado obtidas por Miche estão apresentadas na Figura 13, obtendo-se:

T 3 .H
Deslocamento horizontal no topo: y 0 = 2,4
E .I

Momento fletor máximo: M máx 0,79 H .T na profundidade z= 1,32 T


E.I
sendo T = 5
ηh

Figura 13: Linhas de estado obtidas por Miche

11
6.2) Solução de Hetenyi (1946)

Este autor estudou o caso de uma viga sobre apoio elástico (apoio de trilhos de trem),
portanto pode ser aplicado às estacas com coeficiente (ou módulo) de reação horizontal constante
com a profundidade (Figura 14). Analogamente ao estudo de Miche este autor usa o conceito de
coeficiente de reação horizontal pois à época de seu estudo ainda não existia o conceito de
módulo de reação.

EI
Figura 14: Linhas de estacas segundo Hetenyi para estacas longas com λ.L>4 = R = 4
4
Na Tabela 3 apresentam-se os coeficientes propostos por Hetenyi, seguno os quais se
verifica que:
2 Hλ 2 Mλ2
Deslocamento no topo da estaca: y 0 = +
K K

H
Momento máximo que ocorre em λ.z = 0,7 M máx = 0,32 + 0,7 M
λ
Tabela 3: Coeficientes propostos por Hetenyi

12
6.3) Método de Matlock e Reese (1956)

Estes autores apresentaram uma série de trabalhos sobre estacas carregadas


transversalmente utilizando o conceito de módulo de reação horizontal trabalhando com curvas
p-y. Estes autores, em particular Reese em parceria com Cox e outros (1969, 1974, 1975, etc)
resolveram a equação diferencial usando a técnica da diferenciação com ajuda de computadores
para qualquer variação das curvas p-y.

Para o caso particular do módulo de reação crescente linearmente com a profundidade, a


equação diferencial poderá ser resolvida manualmente, pois neste caso, a equação dos
deslocamentos toma a seguinte forma:

H oT 3 M T2
y = Ay + By o
EI EI

em que Ho e Mo são a força horizontal e o o momento aplicados no topo da estaca, admitido livre.

E.I
Ay e By parâmetros adimensionais conforme Tabela 4 e T = 5
ηh
Por diferenciações sucessivas da equação acima obtém-se:

H 0T 2 M T
θ = Aθ + Bθ o
EI EI
M = Am H oT + M m M o
M
Q = Aq H o + BQ o
T
H M
p = A p o + B p 2o
T T

6.4) Método de Davison e Robinson

Estes autores resolveram a equação diferencial que rege o fenômeno das estacas longas
(L>4T ou 4R) carregadas transversalmente procurando analisar não só o problema dos esforços
transversais, mas também o problema de flambagem. Para tanto a estaca é substituída por outra
equivalente (Figura 15), engastada a uma certa profundidade, de tal sorte que se atendam dois
requisitos:

a) no estudo da flexão a estaca substituta tenha a mesma flecha.

b) no estudo da flambagem a estaca substituta tenha a mesma carga crítica.

Figura 15: Estaca equivalente proposta por Davison e Robinson


13
Tabela 4: Coeficientes propostos por Matlock e Reese (solos com K linearmente crescente)

14
1º Caso: Solo com K = cte

Lu
JR =
R

LS = SR.R

2º Caso: Solo com K = ηh.z

Lu
JT =
T

LS = ST.T

gráficos para flexão gráficos para flambagem


Figura 16: Coeficientes de SR e ST de Davison e Robinson

A carga crítica de flambagem Pfl de uma estaca é:

π 2 .E .I
Pfl
L fl
Para o caso mostrado na Figura 15 (topo livre e pé engastado) Lfl = 2*Le onde:

Le = (SR + JR)R (para K = cte) e Le = (ST + JT)T para K=ηh.z

Assim, para o caso topo livre e pé engastado tem-se:

π 2 EI π 2 EI
Pfl = para K=cte e Pfl = para K =ηh.z
4R 2 (S R + J R ) 2 4T 2 ( S T + J T ) 2

Para o caso do topo da estaca ser também engastado permitindo translação, tem-se Lfl =Le
e, portanto:

15
π 2 EI π 2 EI
Pfl = para K = cte e Pfl = para K = ηh.z
R 2 (S R + J R ) 2 T 2 (ST + J T ) 2

O procedimento de Davison e Robinson é extremamente útil quando se tem que incorporar


as estacas à superestrutura para efeito de análise estrutural. É o caso, por exemplo, de pontes,
cais de portos e estruturas off-shore.

Cabe finalmente lembrar que o procedimento de Davison e Robinson conduz a


deslocamentos do topo da estaca com razoável aproximação. Entretanto, por não levar em conta
a reação do solo na parte enterrada, tende a conduzir a valores do momento fletor muito
desfavoráveis. Sobre este assunto sugere-se recorrer a tese de mestrado de Diniz (1972).

6.5) Solução para “estaca curta” (comprimento < 4T)

A solução de estacas curtas imersas em meio elástico é obtida a partir das três equações
de equilíbrio da estática, uma vez que se admite que as mesmas sofram deslocamentos de corpo
rígido.

Tendo em vista que a estaca é curta e o mostrado na Figura 7 o estudo neste caso costuma
ser feito para solos com K = ηh.z, mesmo em argilas pré-adensadas.

O método mais difundido entre nós é o chamado método russo, adaptado pelo engenheiro
Paulo Faria, para o caso de tubulões circulares com a base alargada, conforme Velloso (1973),
cujo resumo das expressões é apresentado a seguir. Mais recentemente o prof. Dirceu Velloso
juntamente com Francisco Lopes apresentaram o livro de Fundações (vol 2) que é uma fonte que
pode ser consultada.

Figura 17: “Estaca curta”

Chamando KV o coeficiente de reação vertical (levando em conta o diâmetro da base) do solo que
serve de apoio à base do tubulão; Kl=ηhl./Df, o módulo de reação horizontal, na profundidade l e
Ab a área da base do tubulão, as equações de equilíbrio conduzem às seguintes expressões:

2H 2
∆y = + .l.ϕ
K l .l.D f 3
P
∆z =
K v . Ab
2 H .l + 3M
ϕ=
1 3
K l .l 3 .D f + K p . Ab .Db2
12 16
16
Tensões ao longo do fuste e sob a base

Kl K
σz = z.∆y + l z 2 .ϕ cujos valores máximo são:
l l

K l ∆y 2
σ z ,máx = −
4.ϕ .l

σ a ´= K l (l.ϕ − ∆y )

V K .D
σ a ,b = ± v bϕ
Ab 2

∆y
Ponto de giro: z o =
y

Para se considerar o tubulão estável, basta atender às seguintes condições:

σ a ´< γ .l (K P − K a )

σa +σb
≤σs
2
em que: γ é peso específico do solo que envolve o tubulão (em termos de tensão efetiva)
Ka e KP coeficientes de empuxo, ativo e passivo
σs tensão admissível do solo de apoio da base do tubulão.

7- COEFICIENTES DE SEGURANÇA À RUPTURA

O cálculo de estacas submetidas a cargas transversais não se pode restringir apenas à


obtenção dos momentos, cortantes e deslocamentos, que permitem dimensionar a peça. Há
necessidade de se verificar se o solo que serve de suporte à mesma apresenta satisfatório
coeficiente de segurança à ruptura. Para esse cálculo é comum se utilizar o método proposto por
Broms em diversos trabalhos (1964 a 1972).

Este autor estudou as estacas carregadas transversamente pelo método da ruptura. Para
tanto, estabeleceu mecanismos possíveis de ruptura apresentados nas Figura 18 e 19, admitindo
que as estacas longas rompem pela formação de uma ou duas rótulas plásticas e as curtas quando
a resitência do solo é vencida.

Este autor usa o conceito de coeficientes parciais:

Cargas permanentes CS = 1,5


Cargas acidentais CS = 2,0
Coesão do solo cd = 0,75su sendo su o valor da coesão não drenada
Ângulo de atrito tgΦd = 0,75.tgΦ

Na Figura 19 a profundidade f é dada por:


HR HR
Solos coesivos f = e nos solos granulares f = 0,82
9.su .d γ .d .K P

em que HR é a carga horizontal de ruptura


17
Figura 18: Mecanismos possíveis de ruptura em estacas curtas e “intermediárias”
18
Figura 19: Mecanismos de ruptura possíveis para estacas longas

As cargas de ruptura horizontais são obtidas da Figura 20a e 20b para os solos coesivos e
Figuras 21a e 21b para os solos granulares, usando-se o seguinte procedimento:

Figura 20 entra-se na Figura 20a com a relação MR/su.d3 (sendo MR o momento de ruptura
estrutural da estaca) e a seguir na Figura 20b com a relação L/d. O valor de HR será o obtido nessa
análise das duas Figuras 20a e 20b.

Figura 21 Proceder de maneira análoga ao da Figura 20.

Figura 20: Carga de ruptura lateral de estacas em solo coesivo

19
Figura 21: Carga de ruptura lateral de estacas em solos granulares

8- OBTENÇÃO DE ηh ATRAVÉS DE PROVAS DE CARGA HORIZONTAL

As provas de carga horizontal podem ser realizadas usando o solo como elemento de reação
(Foto 1) ou reagindo estaca contra estaca (Foto 2).

Foto 1: Prova de carga horizontal usando o solo como elemento de reação


20
Foto 2: Prova de carga horizontal com o macaco hidráulico entre duas estacas

Qualquer que seja o tipo de reação utilizado obtêm-se a curava carga-deslocamento


horizontal, conforme se mostra na Figura 22.

Figura 22: Curva carga horizontal x deslocamento

Trabalhando no trecho em que H é proporcional a y, pode-se obter o valor de ηh seguindo-


se o roteiro abaixo:

Conhecidos Ho e yo correspondente e utilizando-se a Equação de Matlock e Reese pode-se


escrever:
T 3 .H o T 3 .H o
y o = 2,435 ou Miche (que praticamente a mesma) y o = 2,40
E .I E .I

e, portanto, obter o valor de T aí pode-se obter o valor de ηh para esse terreno e tipo de estaca
empregada por:
E .I
ηh =
T5

Sobre este assunto recomendo a leitura de Alonso (2000) onde se obteve a constante do
módulo de reação para estacas hélice contínua longas. Tendo em vista as duas equações acima
pode-se também obter diretamente o valor de ηh a partir de H e y, ou seja:
5
3
4,42 H
ηh =
( E. I ) 2 3
5
3
y

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alonso, U.R. (1986) “Recomendações para a Realização de Provas de Carga Horizontal em


Estacas de Concreto Armado” – VIII CBMSEF, Porto Alegre.

Alonso, U.R. (2000) “Estacas Hélice Contínua Carregadas Transversalmente em Solos com
Coeficiente de Reação Crescendo com a Profundidade” – SEFE IV – vol 2, p. 413 a 424.

Broms, B.B. (1964) “Lateral Resistance of Piles in Cohesive Soils” – Journal of SMFE, ASCE,
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Broms, B.B. (1964) “Lateral resistance of Piles in Cohesionless Solis” – Journal of SMFE, ASCE,
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Broms, B.B. (1972) “Stability of Flexible Structures” – 5th European Conference on SMFE, Madrid.

Davisson, M.T. (1963) “Estimating Buckling Loads for piles” – 2o PCSMFE – São Paulo.

Davison, M.T. e K.E.Robinson (1965) “Bending and Buckling of Partially Embebed Piles” – 6th
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Diniz, R.A.C. (1972) “Análise de Esforços em Estruturas Aporticadas com Fundações em Estacas”
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Hetenyi, M. (1946) “Beams on Elastic Foundation” – Universaty Michigan Press.

Matlock, H. e L.C.Reese (1956) “Non Dimensional Solution for Laterally Loaded Piles with Soil
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Miche, R.J. (1930) “Investigation of Piles Subject to Horizontal Forces. Application to Quay Walls”
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22
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Esforços Horizontais” – Universidade Estadual de Campinas – Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo.

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