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ESTACAS CARREGADAS TRANSVERSALMENTE NO TOPO
Em 1955, num trabalho clássico sobre o assunto, Terzaghi definiu o coeficiente de reação
horizontal, kz, de um solo, na profundidade z, como sendo a relação entre a tensão unitária (σz)
atuante nessa profundidade (z) e o deslocamento (y) sofrido pelo solo (Figura 1).
σz
kz =
y
A unidade do coeficiente de reação horizontal é [FL-3] ou seja kgf/cm3; tf/m3; kN/m3, etc.
Cabe lembrar que a utilização do coeficiente de reação horizontal no estudo das estacas
carregadas transversalmente no topo pressupõe que o solo seja admitido como um meio contínuo.
2
Se a estaca é deslocada para um lado, a tensão na face do lado contrário decresce para um
valor muito pequeno. Pelo efeito de arco que aí se desenvolve, esse valor é menor que o
correspondente empuxo ativo, podendo ser desprezado.
Cabe lembrar que esta consideração só é válida para o caso de estacas isoladas ou estacas
em grupo com espaçamento relativo grande, não se aplicando ao caso de cortinas nem mesmo
ao caso de estacas com espaçamento pequeno, pois nestes casos não existe o efeito de arco.
Em função do deslocamento sofrido pela estaca, na face do lado do movimento atuará uma
tensão pp que será maior que a tensão no repouso. O deslocamento para produzir esta variação
é tão pequeno que pode ser desprezado. Então, no início do deslocamento, as tensões nas faces
da estaca a uma profundidade qualquer serão:
Ainda observando a Figura 2, verifica-se que para uma mesma tensão σz, o deslocamento
y aumenta com o aumento da largura (ou diâmetro) da estaca pois seu bulbo de tensões aumenta.
Se admitirmos que para uma largura (diâmetro) da estaca D1 o bulbo de tensões é L1 ao se
comparar com outra estaca de largura n*D1 teremos um bulbo de tensões n*L1 ou seja, para a
mesma tensão σz, o deslocamento aumentará de y para n*y. Como o coeficiente de reação é a
relação entre a tensão e o deslocamento ocorrido, verifica-se que esse coeficiente diminui à
medida que a largura (diâmetro) da estaca aumenta (efeito de escala). Daí porque o coeficiente
de reação horizontal não é uma característica do solo pois depende também da largura carregada,
com mesma tensão σz.
Para eliminar o inconveniente acima exposto, em 1956, Matlock e Reese propuseram utilizar
o módulo de reação K definido como sendo a tensão aplicada ao solo pela estaca, concentrada
ao longo do seu eixo, dividido pelo deslocamento (Figura 3).
p
K=
y
p σz * D
K= = ou seja: K = kz*D
y y
Esta nova maneira de expressar a reação do solo elimina o problema do efeito de escala
uma vez que a largura (diâmetro) D da estaca já está embutido no valor de p e, portanto, o valor
de K pode ser tabelado em função do tipo de solo, como se verá adiante.
A unidade do módulo de reação é [FL-2] ou seja tf/m2; kN/m2, etc, analogamente ao “módulo
de elasticidade”.
Neste caso define-se coeficiente de mola Km,i a relação entre a força resistida pela mola e
o deslocamento por ela sofrido.
Fi p *∆z
K mi = =
yi yi
Embora este modelo de Winkler não represente, na totalidade, a realidade física do
problema, é o que tem sido mais utilizado no estudo de deslocamentos e esforços em estacas
carregadas transversalmente, ainda mais que hoje em dia o uso de programas de computador
permite utilizar esse modelo empregando métodos de elementos finitos e método de diferença
finitas.
O estudo utilizando elementos finitos ou ainda diferenças finitas foge ao escopo deste
trabalho e, portanto, nos basearemos em métodos elásticos em meios contínuos.
4
(a) (b)
Figura 5: Variação do módulo de reação horizontal com a profundidade
p
K= = constante
y
O segundo caso corresponde aos solos que apresentam características de deformação
proporcionais à profundidade, como, por exemplo, os solos de comportamento granular (areias) e
as argilas normalmente adensadas (Figura 2b e 5b). Para esses solos pode-se escrever:
K = ηh*z
5
Vários outros valores de ηh podem ser obtidos na Tese de Mestrado de Zammataro (2007).
Entretanto conforme Terzaghi, os erros na avaliação de K (constante ou variando com a
profundidade) tem pouca influência nos cálculos dos momentos e cortantes, pois a equação para
sua determinação engloba uma raiz quarta (quando K = cte.) ou uma quinta (quando K = ηh.z). A
influência ocorre nos deslocamentos previstos.
E.I
T =5
ηh
E.I
R=4
K
6
Figura 6: Variações do módulo de reação horizontal estudados por Sherif
Davisson sugere que, mesmo para o caso de argilas pré-adensadas, admita-se uma
variação de K em degrau conforme mostrado na Figura 7
a) cálculo dos esforços nas estacas que permitam seu dimensionamento estrutural e obtenção
dos deslocamentos sofridos sob a ação dessas cargas.
Para se atingir o primeiro objetivo, tem que se lançar mão de um esquema estrutural
conveniente, havendo dois casos extremos conforme se indica na Figura 8. O primeiro
(denominada estaca longa ou também “flexível”) é o que fornece resistência de ponta nula devido
apenas aos carregamentos transversais no topo. O segundo (denominada estaca curta ou também
“rígida”) é aquele em que a resistência do solo sob a ponta da estaca é significativa para o
equilíbrio dos carregamentos transversais aplicadas no topo da estaca.
7
Para o caso da estaca curtas a mesma se comporta como corpo rígido, sendo a
estabilidades da mesma estudada com base nas três equações da estática, após se estabelecer
uma lei de variação do módulo de reação horizontal do solo. Por outro lado, o diagrama de
momentos, ao longo do eixo da estaca, neste caso, não será nulo no pé da mesma.
Entre esses dois casos extremos situam-se as estacas “intermediárias”, porém não
conhecemos um procedimento de cálculo adequado para as mesmas na literatura disponível.
Assim sendo, nestas notas sobre o assunto nos dedicaremos apenas as estacas longas e curtas.
Cabe lembrar que tanto na análise do primeiro como do segundo objetivos torna-se
necessário levar em conta as condições de contorno do topo e do pé da estaca, bem como da
posição do carregamento transversal sobre a mesma em relação ao nível do terreno.
A equação diferencial de uma estaca longa imersa em meio elástico, Figura 9, segundo
Hetenyi (1946) é:
d4y d2y
EI + P + Ky = 0
dz 4 dz 2
d4y
EI 4 + Ky = 0
dz
8
em que: E = módulo de elasticidade do material da estaca
I = momento de inércia da seção transversal da estaca em relação ao eixo baricêntrico,
normal ao plano de flexão.
O método numérico mais empregado é o das diferenças finitas. Este método, abaixo
exposto, facilita o estudo das estacas longas imersas em solo com qualquer lei de variação do
coeficiente de reação.
Já os métodos analíticos têm sido desenvolvidos quase que exclusivamente para os casos
em que o módulo de reação horizontal é constante ou cresce linearmente com a profundidade.
y1 − 2 y 0 + y −1
Momento M0 = M M = E.I 2
L
n
y 2 − 2 y1 + 2 y −1 − y − 2
Cortante Q0 = H H = E.I 3
L
2
n
Finalmente existem mais duas equações que devem ser introduzidas para resolver o
problema que são as do equilíbrio estático (ΣH =0 e ΣM=0), já que P = 0.
Com base neste procedimento, Sherif (1974) apresentou uma série de Tabelas cobrindo 13
variações do módulo de reação horizontal conforme mostrado na Figura 6.
10
6- MÉTODOS ANALÍTICOS
Este autor parece ter sido o primeiro a integrar a equação diferencial de uma estaca longa
(L>4T) imersa em meio elástico com coeficiente de reação horizontal linearmente crescente com
a profundidade (ainda não existia, àquela época, o conceito de módulo de reação) e sujeita
apenas a carga horizontal H (M = 0), conforme Figura 12.
As linhas de estado obtidas por Miche estão apresentadas na Figura 13, obtendo-se:
T 3 .H
Deslocamento horizontal no topo: y 0 = 2,4
E .I
11
6.2) Solução de Hetenyi (1946)
Este autor estudou o caso de uma viga sobre apoio elástico (apoio de trilhos de trem),
portanto pode ser aplicado às estacas com coeficiente (ou módulo) de reação horizontal constante
com a profundidade (Figura 14). Analogamente ao estudo de Miche este autor usa o conceito de
coeficiente de reação horizontal pois à época de seu estudo ainda não existia o conceito de
módulo de reação.
EI
Figura 14: Linhas de estacas segundo Hetenyi para estacas longas com λ.L>4 = R = 4
4
Na Tabela 3 apresentam-se os coeficientes propostos por Hetenyi, seguno os quais se
verifica que:
2 Hλ 2 Mλ2
Deslocamento no topo da estaca: y 0 = +
K K
H
Momento máximo que ocorre em λ.z = 0,7 M máx = 0,32 + 0,7 M
λ
Tabela 3: Coeficientes propostos por Hetenyi
12
6.3) Método de Matlock e Reese (1956)
H oT 3 M T2
y = Ay + By o
EI EI
em que Ho e Mo são a força horizontal e o o momento aplicados no topo da estaca, admitido livre.
E.I
Ay e By parâmetros adimensionais conforme Tabela 4 e T = 5
ηh
Por diferenciações sucessivas da equação acima obtém-se:
H 0T 2 M T
θ = Aθ + Bθ o
EI EI
M = Am H oT + M m M o
M
Q = Aq H o + BQ o
T
H M
p = A p o + B p 2o
T T
Estes autores resolveram a equação diferencial que rege o fenômeno das estacas longas
(L>4T ou 4R) carregadas transversalmente procurando analisar não só o problema dos esforços
transversais, mas também o problema de flambagem. Para tanto a estaca é substituída por outra
equivalente (Figura 15), engastada a uma certa profundidade, de tal sorte que se atendam dois
requisitos:
14
1º Caso: Solo com K = cte
Lu
JR =
R
LS = SR.R
Lu
JT =
T
LS = ST.T
π 2 .E .I
Pfl
L fl
Para o caso mostrado na Figura 15 (topo livre e pé engastado) Lfl = 2*Le onde:
π 2 EI π 2 EI
Pfl = para K=cte e Pfl = para K =ηh.z
4R 2 (S R + J R ) 2 4T 2 ( S T + J T ) 2
Para o caso do topo da estaca ser também engastado permitindo translação, tem-se Lfl =Le
e, portanto:
15
π 2 EI π 2 EI
Pfl = para K = cte e Pfl = para K = ηh.z
R 2 (S R + J R ) 2 T 2 (ST + J T ) 2
A solução de estacas curtas imersas em meio elástico é obtida a partir das três equações
de equilíbrio da estática, uma vez que se admite que as mesmas sofram deslocamentos de corpo
rígido.
Tendo em vista que a estaca é curta e o mostrado na Figura 7 o estudo neste caso costuma
ser feito para solos com K = ηh.z, mesmo em argilas pré-adensadas.
O método mais difundido entre nós é o chamado método russo, adaptado pelo engenheiro
Paulo Faria, para o caso de tubulões circulares com a base alargada, conforme Velloso (1973),
cujo resumo das expressões é apresentado a seguir. Mais recentemente o prof. Dirceu Velloso
juntamente com Francisco Lopes apresentaram o livro de Fundações (vol 2) que é uma fonte que
pode ser consultada.
Chamando KV o coeficiente de reação vertical (levando em conta o diâmetro da base) do solo que
serve de apoio à base do tubulão; Kl=ηhl./Df, o módulo de reação horizontal, na profundidade l e
Ab a área da base do tubulão, as equações de equilíbrio conduzem às seguintes expressões:
2H 2
∆y = + .l.ϕ
K l .l.D f 3
P
∆z =
K v . Ab
2 H .l + 3M
ϕ=
1 3
K l .l 3 .D f + K p . Ab .Db2
12 16
16
Tensões ao longo do fuste e sob a base
Kl K
σz = z.∆y + l z 2 .ϕ cujos valores máximo são:
l l
K l ∆y 2
σ z ,máx = −
4.ϕ .l
σ a ´= K l (l.ϕ − ∆y )
V K .D
σ a ,b = ± v bϕ
Ab 2
∆y
Ponto de giro: z o =
y
σ a ´< γ .l (K P − K a )
σa +σb
≤σs
2
em que: γ é peso específico do solo que envolve o tubulão (em termos de tensão efetiva)
Ka e KP coeficientes de empuxo, ativo e passivo
σs tensão admissível do solo de apoio da base do tubulão.
Este autor estudou as estacas carregadas transversamente pelo método da ruptura. Para
tanto, estabeleceu mecanismos possíveis de ruptura apresentados nas Figura 18 e 19, admitindo
que as estacas longas rompem pela formação de uma ou duas rótulas plásticas e as curtas quando
a resitência do solo é vencida.
As cargas de ruptura horizontais são obtidas da Figura 20a e 20b para os solos coesivos e
Figuras 21a e 21b para os solos granulares, usando-se o seguinte procedimento:
Figura 20 entra-se na Figura 20a com a relação MR/su.d3 (sendo MR o momento de ruptura
estrutural da estaca) e a seguir na Figura 20b com a relação L/d. O valor de HR será o obtido nessa
análise das duas Figuras 20a e 20b.
19
Figura 21: Carga de ruptura lateral de estacas em solos granulares
As provas de carga horizontal podem ser realizadas usando o solo como elemento de reação
(Foto 1) ou reagindo estaca contra estaca (Foto 2).
e, portanto, obter o valor de T aí pode-se obter o valor de ηh para esse terreno e tipo de estaca
empregada por:
E .I
ηh =
T5
Sobre este assunto recomendo a leitura de Alonso (2000) onde se obteve a constante do
módulo de reação para estacas hélice contínua longas. Tendo em vista as duas equações acima
pode-se também obter diretamente o valor de ηh a partir de H e y, ou seja:
5
3
4,42 H
ηh =
( E. I ) 2 3
5
3
y
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alonso, U.R. (2000) “Estacas Hélice Contínua Carregadas Transversalmente em Solos com
Coeficiente de Reação Crescendo com a Profundidade” – SEFE IV – vol 2, p. 413 a 424.
Broms, B.B. (1964) “Lateral Resistance of Piles in Cohesive Soils” – Journal of SMFE, ASCE,
março.
Broms, B.B. (1964) “Lateral resistance of Piles in Cohesionless Solis” – Journal of SMFE, ASCE,
maio.
Broms, B.B. (1965) “Design of Lateral Loaded Piles” – Journal of SMFE, ASCE, maio.
Broms, B.B. (1972) “Stability of Flexible Structures” – 5th European Conference on SMFE, Madrid.
Davisson, M.T. (1963) “Estimating Buckling Loads for piles” – 2o PCSMFE – São Paulo.
Davison, M.T. e K.E.Robinson (1965) “Bending and Buckling of Partially Embebed Piles” – 6th
ICSMFE – Canadá.
Diniz, R.A.C. (1972) “Análise de Esforços em Estruturas Aporticadas com Fundações em Estacas”
– COPPE-UFRJ, Rio de Janeiro.
Matlock, H. e L.C.Reese (1956) “Non Dimensional Solution for Laterally Loaded Piles with Soil
Modulus Assumed Proportional to Depth” – 8th Texas Conf. on SMFE.
Miche, R.J. (1930) “Investigation of Piles Subject to Horizontal Forces. Application to Quay Walls”
– Journl of the School of Engineering, no 4, Giza, Egito.
Reese,L.C. e W.R.Cox (1969) “Soil Behavior from Analysis of Tests of Instrumented Piles under
Lateral Loading” - Performance of Deep Foundation – ASTM – Publication 444.
Reese,L.C. e W.R.Cox (1975) “Field Testing and Analysis of Laterally Load Piles in Stiff Clay” -
Offshore Technology Conference, Texas.
Sherif, G. (1974) “ Elasticaly Fixed Structures” – Verlag Von Wilhelm Ernest & Sohn.
Winkler, E. (1875) “Deresenbahn-oberbau” citado por Kerr, A.D. “On the stress analysis of rails
and ties” – American Railway Engineering Association (AREA), Bulletin 659, 1978, pp. 19-43.
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Zammataro, B. B. (2007) “Comportamento de Estacas Tipo Hélice Contínua, Submetidas a
Esforços Horizontais” – Universidade Estadual de Campinas – Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo.
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