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ESTRUTURAS E FUNDAÇÕES

FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS
CAPACIDADE DE CARGA

THIAGO CALIMAN CESCHIM, M.Sc.


2019/02
CAPACIDADE DE CARGA
Consideremos uma sapata de concreto armado, de base retangular com largura 𝐵 e comprimento 𝐿,
embutida no maciço de solo a uma profundidade ℎ em relação a superfície.

A aplicação de uma força vertical de compressão no topo da sapata gera


a mobilização de tensões resistentes no maciço de solo que, no contato
sapata-solo, são normais à base da sapata, com valor médio 𝜎 dado por:

𝑃 𝐵 : largura da sapata
𝜎=
𝐵∙𝐿 𝐿 : comprimento da sapata

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CAPACIDADE DE CARGA
Pelo princípio de ação e reação, essa tensão é aplicada no solo pela sapata. Desta forma, o elemento
isolado de fundação por sapata caracteriza um sistema sapata-solo, formado pelo elemento estrutural
(sapata) e pelo elemento geotécnico (maciço de solo)

O aumento gradativo da força 𝑃 (e, consequentemente, da tensão 𝜎)


vai provocar o surgimento de uma superfície potencial de ruptura no
interior do maciço de solo. Na iminência da ruptura, teremos a
mobilização da resistência máxima do sistema sapata-solo, que
denominamos capacidade de carga do elemento de fundação por
sapata e representamos por 𝜎𝑟

Portanto, para uma sapata suficientemente resistente como peça


estrutural de concreto armado, a capacidade de carga do elemento de
fundação é a tensão que provoca a ruptura do maciço de solo em que a
sapata está embutida ou apoiada.

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MODOS DE RUPTURA
A observação de catástrofes e ensaios permite distinguir que a capacidade de carga se dá a partir de três
diferentes modos:

Ruptura geral
Ruptura local
Ruptura por puncionamento

O modo de ruptura é definido por:

Carregamento
Compressibilidade do solo
Geometria da fundação
Embutimento

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RUPTURA GERAL
Ruptura repentina e drástica

Solos mais rígidos, pouco compressíveis (areias compactas a muito


compactas e argilas rijas a duras)

Fundações rasas

Tombamento da sapata

Formação de protuberância na superfície do terreno.

Carga de ruptura é atingida para pequenos valores de recalque

Ruptura frágil, em que a sapata pode girar, levantando uma porção de


solo para cima da superfície do terreno

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RUPTURA POR PUNCIONAMENTO
Ruptura dúctil

Solos mais compressíveis (areias pouco compactas a fofas e argilas moles a


muito moles)

Deslocamento incessantes e significativos da sapata para baixo

Penetração devido à compressão do solo subjacente

Tendência do solo na borda de acompanhar o recalque da sapata

Como não é comum projetarmos fundações por sapatas em solos


compressíveis, a ruptura por puncionamento é limitada.

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RUPTURA LOCAL
Solos de média compacidade ou consistência (areias
medianamente compactas e argilas médias)

Não apresenta mecanismo típico

Caso intermediário dos outros dois modos de ruptura

Para solos 𝑐 − 𝜙, o modo de ruptura pode ser estimado


de acordo com o gráfico ao lado.

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TENSÃO ADMISSÍVEL
• Tensão adotada em projeto que, aplicada ao terreno pela fundação superficial, atende com coeficientes
de segurança predeterminados, ao ELU e ELS para cada elemento de fundação isolado e para o conjunto

• Ou seja, consiste no valor de tensão que as sapatas podem aplicar ao maciço de solo com segurança à
ruptura geotécnica, sem provocar recalques superiores ao valor admissível

𝜎𝑟𝑢𝑝
𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝜌 ≤ 𝜌𝑎𝑑𝑚
𝐹𝑆

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TENSÃO ADMISSÍVEL
Para a determinação da tensão admissível em fundações por sapatas, a partir do ELU, a NBR 6122/2010
prescreve a utilização de um ou mais dos três seguintes procedimentos:

Métodos teóricos
Métodos semiempírircos
Prova de carga em placa

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TENSÃO ADMISSÍVEL
Nas versões anteriores da NBR 6122, constava uma tabela de valores básicos de tensão admissível, de
natureza empírica, com base na descrição do terreno

Na versão atual, essa tabela foi excluída, assim como foi desconsiderado o uso de métodos empíricos
como procedimento para a determinação da tensão admissível, em termos de ELU

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MÉTODOS TEÓRICOS
Método teórico mais utilizado é a fórmula de Terzaghi com os fatores de capacidade de carga e de forma
recomendados por Vesic.

Com ele é possível calcular a tensão de ruptura e, aplicando o fator de segurança de norma, obter a
tensão admissível.

𝜎𝑟𝑢𝑝
𝜎𝑎𝑑𝑚 =
3

A zona I movimenta-se para baixo como uma cunha,


deslocando lateralmente a zona II, que, por sua vez,
empurra para cima a zona III.

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MÉTODOS TEÓRICOS
FÓRMULA DE TERZAGHI COM FATORES DE VESIC

Desenvolvida sob a hipótese de ruptura geral

Capacidade de carga depende de três tipos de variáveis:

• Parâmetros do solo

• Dimensões da base da sapata

• Embutimento da sapata no maciço de solo

Isso demonstra que o elemento de fundação por sapata constitui mesmo um sistema sapata-solo e que,
portanto, não devemos mencionar capacidade de carga da sapata nem do solo, mas sempre do sistema

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MÉTODOS TEÓRICOS
FÓRMULA DE TERZAGHI COM FATORES DE VESIC

onde:

𝑆𝑐 , 𝑆𝑞 e 𝑆𝛾 são os fatores de forma

𝑁𝑐 , 𝑁𝑞 e 𝑁𝛾 são os fatores de capacidade de carga e dependem unicamente de 𝜙


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MÉTODOS TEÓRICOS

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MÉTODOS TEÓRICOS
RUPTURA POR PUNCIONAMENTO

Usamos a mesma equação, mas com a redução empírica de Terzaghi nos parâmetros de resistência do
solo (c e 𝜙), da seguinte maneira:

2 2

𝑐 = 𝑐 tan 𝜙 ∗ = tan 𝜙
3 3

RUPTURA LOCAL

No caso intermediário, de ruptura local, podemos efetuar separadamente os dois cálculos (geral e
puncionamento) para encontrarmos um valor médio

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MÉTODOS TEÓRICOS
Quando não dispomos de resultados de ensaios de laboratório, os parâmetros do solo podem ser
estimados a partir de correlações com o índice de resistência a penetração Nspt

COESÃO NÃO DRENADA 𝑐= 10 𝑁𝑆𝑃𝑇 𝑘𝑃𝑎 𝑇𝑒𝑖𝑥𝑒𝑖𝑟𝑎 𝑒 𝐺𝑜𝑑𝑜𝑦

ÂNGULO DE ATRITO NÃO DRENADA 𝜙= 28° + 0,4 𝑁𝑆𝑃𝑇 𝐺𝑜𝑑𝑜𝑦 𝜙= 20 𝑁𝑆𝑃𝑇 + 15° 𝑇𝑒𝑖𝑥𝑒𝑖𝑟𝑎

PESO ESPECÍFICO
OBS: No caso de areia saturada,
o valor apresentado refere-se ao
peso específico submerso. Como
para o cálculo de capacidade de
carga precisamos sempre do peso
específico efetivo, é necessário
descontar o peso específico da
água (10 kN/m³).

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EX. 02
Estimar a capacidade de carga de um elemento de fundação por sapata, com as seguintes
condições de solo e valores médios no bulbo de tensões:
a) Argila rija com NSPT = 15
b) Areia compacta com NSPT = 30
c) Areia argilosa com 𝝓 = 25º e c = 50 kPa (valores não drenados)

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EX. 03
Estimar a capacidade de carga de um elemento de fundação por sapata, com as seguintes
condições de solo e valores médios no bulbo de tensões:
a) Argila mole com NSPT = 4
b) Areia pouco compacta com NSPT = 6
c) Areia argilosa com 𝝓 = 20º e c = 10 kPa (valores não drenados)

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EX. 04
Estimar a capacidade de carga de um elemento de fundação por sapata, com as seguintes
condições de solo e valores médios no bulbo de tensões:
a) Argila média com NSPT = 8
b) Areia medianamente compacta com NSPT = 12
c) Argila arenosa com φ = 20º e c = 40 kPa (valores não drenados)

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MÉTODOS SEMIEMPÍRICOS
Relacionam resultados de ensaios (tais como o SPT, CPT, etc) com tensões admissíveis

Devem ser observados os domínios de validade de suas aplicações, bem como as dispersões dos dados e
as limitações regionais associadas a cada um dos métodos

Para o Fator de Segurança Global, o valor a ser atribuído é 3

Entretanto, as correlações consagradas na prática de projeto de fundações diretas fornecem diretamente


o valor da tensão admissível, com segurança implícita, o que dispensa a aplicação de fator de segurança

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MÉTODOS SEMIEMPÍRICOS
SOLOS ARGILOSOS

𝑁𝑆𝑃𝑇
𝜎𝑎 = + 𝑞 𝑀𝑃𝑎 𝑐𝑜𝑚 5 ≤ 𝑁𝑆𝑃𝑇 ≤ 20
50
Correlação desenvolvida para solos argilosos

Entretanto, é utilizada na prática sem distinção de solos

O intervalo de validade procura:

• Não permitir o emprego de fundação direta quando o solo for mole ou fofo (N<5)

• Limitar a tensão admissível máxima a 0,4 MPa

• Valores mais elevados somente com ensaios complementares e/ou assistência de especialista de fundações
OBS: 1 kgf/cm²= 100 kN/m² = 100 kPa = 0,1 MPa.
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MÉTODOS SEMIEMPÍRICOS
SEM DISTINÇÃO DE SOLOS

𝜎𝑎 = 0,1 × 𝑁𝑆𝑃𝑇 − 1 𝑀𝑃𝑎 𝑐𝑜𝑚 4 ≤ 𝑁𝑆𝑃𝑇 ≤ 16

AREIAS

𝑁𝑆𝑃𝑇
𝜎𝑎 = 0,05 + 1 + 0,4 𝐵 𝑀𝑃𝑎
100

OBS: 1 kgf/cm²= 100 kN/m² = 100 kPa = 0,1 MPa.


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EX. 05
Estimar a capacidade de carga de um elemento de fundação por sapata, utilizando Métodos
Semiempíricos com as seguintes condições de solo e valores médios no bulbo de tensões:
a) areia medianamente compacta com NSPT = 15
b) areia compacta NSPT = 20
c) argila média com NSPT = 10

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PROVA DE CARGA EM PLACA
Consiste na instalação de uma placa na mesma cota de
projeto da base das sapatas, e aplicação de carga, em
estágios com medida simultânea de recalques.

Da prova de carga, obtemos uma curva tensão x


recalque.

O valor a ser atribuído para o Fator de Segurança


Global é 2.

Para a tensão admissível obtida pelo ensaio de placa,


devemos verificar que o recalque extrapolado da placa
para a sapata não atinja o valor do recalque admissível.

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SOLO ESTRATIFICADO
Para adotar os parâmetros c, 𝜙 e 𝛾 do maciço de solo situado sob a base da sapata (método teórico), ou o
valor de NSPT a ser utilizado (método empírico), devemos considerar apenas a espessura atingida pelo
bulbo de tensões

No bulbo de tensões, a uma certa profundidade, as tensões transmitidas ao


solo são tão baixas que podem ser desconsideradas
Para efeito de cálculo de capacidade de carga, deve-se considerar a
profundidade definida como a que corresponde à propagação de 10% de 𝜎0
Para efeitos práticos em fundações, podemos considerar:
• Sapata circular ou quadrada (L=B): Z = 2B
• Sapata retangular (L=2 a 4B) : Z = 3B
• Sapata corrida (L>=5B) : Z = 4B

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SOLO ESTRATIFICADO
A consequência mais imediata dessa observação é que, mesmo que exista
uma camada fraca de solo sob uma camada resistente, é possível projetar
uma fundação direta desde que a camada resistente atinja uma
profundidade mínima, a depender da maior dimensão da sapata.

Se for uma camada de mesmo solo, mas com alguma variação em seus
parâmetros (c, 𝜙 e 𝛾) ou no índice de resistência a penetração (NSPT),
podemos determinar o valor médio de cada um dentro do bulbo de tensões

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EX. 06
Para a construção de um edifício de dez andares, foram realizadas sondagens a percussão SPT, cuja
sondagem representativa está apresentada abaixo.
Admitindo que a carga média de um edifício de concreto seja da ordem de 12 kPa por andar e que a área
de influência de cada pilar seja da ordem de 16m², indicar qual será a tensão admissível do solo para
fundações rasas apoiadas na cota -2m.
Utilizar métodos semi-empíricos.

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EX. 07
Estimar a capacidade de carga de um elemento de fundação por sapata, utilizando a equação de
Terzaghi, com as seguintes posições do N.A.:
a) -5 m
b) -7 m
c) -1 m

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SOLO ESTRATIFICADO
A existência de uma segunda camada distinta, sob a base da sapata, deve ser considerada somente se for
atingia pelo bulbo de tensões

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SOLO ESTRATIFICADO

1 Determina-se a capacidade de carga considerando apenas a primeira camada ( 𝜎𝑟1 )

2 Determina-se a capacidade de carga para uma sapata fictícia apoiada no topo da segunda camada

(𝜎𝑟2 )

3 Se 𝜎𝑟1 ≤ 𝜎𝑟2 , a parte inferior da superfície de ruptura se desenvolve em solo mais resistente e,
então, pode-se adotar, a favor da segurança, 𝜎𝑟 = 𝜎𝑟1

4 No caso da segunda camada ser menos resistente, adotamos uma solução prática aproximada, que

consiste em obter a média ponderada dos dois valores:


𝑎 𝜎𝑟1 + 𝑏 𝜎𝑟2
𝜎𝑟1,2 =
𝑎+𝑏
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SOLO ESTRATIFICADO

5 Verifica-se se não haveria a ruptura da segunda camada, na iminência de a sapata aplicar esse valor

de tensão. Para isso calculamos a parcela propagada dessa tensão até o topo da segunda camada (Δ𝜎) e,

depois, comparamos com 𝜎𝑟2

𝜎𝑟1,2 𝐵 𝐿 Então a capacidade de carga do sistema será a própria


Δ𝜎 ≅ ≤ 𝜎𝑟2 ⟶ 𝑜𝑘! 𝜎𝑟 = 1,2
𝐵+𝑧 𝐿+𝑧 capacidade de carga média do bulbo

6 Caso a verificação não seja satisfeita, será necessário reduzir o valor da capacidade de carga média, de

modo que o valor propagado não ultrapasse 𝜎𝑟2


𝜎𝑟2
𝜎𝑟 = 𝜎𝑟1,2
Δ𝜎
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EX. 08
Estimar a capacidade de carga do elemento de fundação por sapata indicado.

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EX. 09
Estimar a capacidade de carga de um elemento de fundação por sapata com as seguintes
condições de solo na segunda camada:
a) argila rija com NSPT = 15
b) argila mole com NSPT = 4

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EX. 10
Dado o perfil representativo do terreno, determinar a tensão admissível para o projeto das
fundações por sapatas de um edifício residencial com um subsolo, considerando sapatas
quadradas de 1 a 3 m de lado, apoiadas à cota -4m utilizando o Método Teórico e o Método
Semiempírico.

OBS:

• Como haverá uma escavação de cerca de 3m em


toda a área de construção para a execução do
subsolo, os 3m não serão contados para efeitos de
embutimento

• NA na cota -4 m

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TENSÃO ADMISSÍVEL
Assim como a capacidade de carga e o recalque de fundações por sapatas, a tensão admissível também
depende das dimensões da base, em planta.

Mas estas, por sua vez, dependem da tensão admissível

Para resolver esse impasse, costumamos adotar um intervalo de variação para a largura B das sapatas
(supostas quadradas) e construir gráficos de 𝜎𝑎 em função de B

Da análise desses gráficos, tiramos um valor único de 𝜎𝑎 para o projeto de todas as sapatas da obra ou
de cada região representativa, valor esse válido para o intervalo adotado de B

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