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PROJETO E EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES


PROFUNDAS COM ESTACAS
(Capacidade de carga geotécnica de estacas em solo)

PROFESSOR

Urbano Rodriguez Alonso


MÊS DE 2016

DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS

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CAPACIDADE DE CARGA GEOTÉCNICA DE ESTACAS EM SOLO

Urbano Rodriguez Alonso


1) Introdução

No Brasil a previsão da capacidade de carga geotécnica de estacas em solo é feita


utilizando-se métodos semi-empíricos que são aqueles que usam correlações com ensaios “in
situ”.

O primeiro método semi-empírico brasileiro para a estimativa da capacidade de carga de


estacas ocorreu em 1975 e foi apresentado pelos engenheiros Nelson Aoki e Dirceu de Alencar
Velloso no V PCSMFE, em Buenos Aires que, por assim dizer, impôs uma sistemática para os
outros métodos que vieram a seguir.

A carga de ruptura (PR) de uma estaca (Figura 1) é obtida pelo menor dos dois valores da
expressão:
PL + PP
PR
PR ≤ Padm =
2
PRestrutural Além disso, nas estacas escavadas também se deve
atender: Padm ≤ PL/1,25 quando não houver garantia
na limpeza de fundo
em que:

PL + PP é a carga de ruptura geotécnica (ver Figura 1).

PRestrutural = 0,85.A.fck + As.fyk é a carga de ruptura estrutural.

PL = UΣ∆l.rl = parcela de carga resistida por atrito lateral ao longo do fuste da estaca;
PP = A.rp = parcela de carga resistida pelo solo da ponta da estaca.
U = perímetro da seção transversal da estaca.
A = área da seção transversal da estaca. Se a estaca é do tipo Franki o cálculo de A na
ponta é feito assimilando-se o volume da base alargada a uma esfera.
rl = tensão média de adesão estaca-solo, na camada de espessura ∆l.
rp = tensão de ruptura do solo que dá suporte à ponta da estaca.

Figura 1: Transferência de carga de uma estaca para o solo


2
Quanto ao dimensionamento estrutural da estaca, os valores de projeto fck, γf, γc e γs são
fixados na NBR 6122:2010 e transcritos na Tabela 1. Cabe lembrar que embora o controle
estatístico do concreto forneça fck superior ao fixado na Tabela, este é o máximo que se poderá
usar para efeito de dimensionamento estrutural (ver item d da Tabela 4 da NBR 6122:2010).

Nota: Este assunto está sendo revisto pela atual Comissão Técnica encarregada da revisão da
norma NBR 6122, havendo uma tendência em não mais se trabalhar com fck mas sim com
classes de concreto (por exemplo C40, C35, etc), majorando-se os valores de γf, γc e γs.
Por ser um assinto ainda não consolidado deixa-se de entrar em maiores detalhes.

Tabela 1: Valores de fck e dos coeficientes de majoração e de minoração (NBR 6122:2010)


Tipo de fckmáxi γf γc γs % armadura e Lmin Tensão abaixo da
estaca mo de incluindo ligação qual só tem que
projeto ao bloco de armar para a
coroamento ligação ao bloco
(MPa) (%) min Lmín (m)
Pré-moldada 40 1,4 1,3 1,15 0,5 integral -
Hélice contínua 20 1,4 1,8 1,15 0,5 6,0 6,0
Escav.s/fluido 15 1,4 1,9 1,15 0,5 2,0 5,0
Escav.c/fluido 20 1,4 1,8 1,15 0,5 6,0 6,0
Strauss 15 1,4 1,9 1,15 0,5 2,0 5,0
Franki 20 1,4 1,8 1,15 0,5 integral -
Tub. C.A. 20 1,4 1,8 1,15 0,5 3,0 5,0
Raiz 20 1,4 1,6 1,15 0,5 integral -
Microestacas 20 1,4 1,8 1,15 0,5 integral -

2) Seleção do comprimento x diâmetro da estaca

Tomemos por base a Figura 1 e as expressões de PL e PP nela apresentadas. Verifica-se


que escolhido um determinado tipo de estaca e a carga que nela atuará (limitada pela resistência
estrutural, conforme acima exposto), há necessidade de se dotar a mesma de um comprimento tal
que permita que essa carga a ela aplicada possa ser resistida pela interface estaca-solo. Este
procedimento constitui o que se denomina “previsão da capacidade de carga” objeto deste
capítulo.

Para ilustrar esse procedimento da escolha do comprimento x diâmetro da estaca apresenta-


se a Figura 2 (1º e 2º Casos). Trata-se de estacas instaladas num mesmo tipo de solo, portanto rl
e rp igual para as duas estacas.

No 1º Caso da Figura 2 mostra-se a situação de duas estacas com comprimentos diferentes,


porém com mesmo perímetro U e mesma área de ponta A. Neste caso a estaca com maior
comprimento apresentará maior capacidade de carga.

Já no 2º Caso mostram-se duas estacas com mesmo comprimento, porém com diferentes
valores de perímetro U e de área de ponta A. Neste caso a estaca com maior U e A apresentará
maior capacidade de carga.

3
1º Caso: U e A iguais 2º Caso: U e A diferentes
L diferentes L iguais

Figura 2: Estacas do mesmo tipo instaladas em um mesmo solo

É por esta razão que não se pode pré-fixar a carga admissível de estacas como ocorre,
geralmente, nos catálogos das empresas executoras de estacas. O que elas apresentam em seus
catálogos são as cargas máximas do ponto de vista estrutural, ficando a carga admissível
condicionada ao tipo de solo e à profundidade onde as mesmas serão instaladas. Como a
profundidade de instalação das estacas também depende do equipamento e do processo
executivo, vê-se que a carga admissível depende, além dos fatores acima mencionados, também
depende dos sistemas de instalação das estacas (equipamentos). É evidente que sempre se
procurará atingir a carga admissível da estaca o mais próximo possível da sua carga admissível
estrutural. Mas nem sempre tal é possível, pois fica-se limitado à capacidade do equipamento em
levar a estaca até o comprimento que tal situação seja atingida. Isso sem levar em conta os efeitos
que tal objetividade possa criar em relação à vizinhança (aspectos de vibrações, condições de
apoio para equipamentos pesados que pudessem levar as estacas até a profundidade desejada,
condições de acesso desses equipamentos, etc). É por esta razão que na maioria das vezes a
condicionante da carga admissível das estacas é a capacidade de carga geotécnica e não a
estrutural.

3) Métodos semi-empíricos de previsão da capacidade de carga geotécnica das estacas

Hoje em dia existem diversos métodos para se estimar a capacidade de carga geotécnica das
estacas. Entretanto a diferença entre esses diversos métodos semi-empíricos está na estimativa
de rl e de rp conforme se mostra a seguir, já que a formulação matemática, propriamente dita, é
sempre a mesma.
Um aspecto importante que precisa ser lembrado é que os métodos semi-empíricos, não
são “universais” devendo ser utilizados para as regiões geotécnicas que lhes deram origem e para
os tipos de estacas estudados. Sua utilização fora dessas premissas deve ser feita de maneira
cautelosa, até se obter maior confiabilidade nos resultados evitando-se assim discussões
desgastantes que tenho visto ocorrerem quando alguns colegas procuram “aquele método que dá
o resultado que eles esperariam” sem preocupação quanto a validade ou não desse método por
eles escolhido se aplica à região da obra em análise.
4
3.1) Método Aoki & Velloso (1975)

Estes autores propõem no trabalho original (e nas adaptações que a seguir foram feitas) as
seguintes expressões para rp e rl:
qc f s α .K .N
rp = e rp = =
F1 F2 F2
em que: qc é a resistência de ponta medida na ponteira Delft e/ou Begemann no ensaio CPT;
fs e a adesão medida na luva de Begemann (área teórica de 150 cm2);
F1 e F2 são coeficientes de transformação que englobam o tipo de estaca.

Tabela 2: Coeficientes de transformação F1 e F2


Tipo de estaca F1 F2
Franki 2,50 5,0
pré-moldada 1,75 3,5
metálica 1,75 3,5
escavada 3,00 6,0

Tabela 3: Coeficientes K e α (Aoki-Velloso, 1975)


Tipo Código K α
2
de solo (kgf/cm ) (MPa) (%)
Areia 100 10 1,00 1,4
Areia siltosa 120 8 0,80 2,0
Areia silto-argilosa 123 7 0,70 2,4
Areia argilosa 130 6 0,60 3,0
Areia argilo-siltosa 132 5 0,50 2,8
Silte 200 4 0,40 3,0
Silte arenoso 210 5,5 0,55 2,2
Silte areno-argiloso 213 4,5 0,45 2,8
Silte argiloso 230 2,3 0,23 3,4
Silte argilo-arenoso 231 2,5 0,25 3,0
Argila 300 2 0,20 6,0
Argila arenosa 310 3,5 0,35 2,4
Argila areno-siltosa 312 3 0,30 2,8
Argila siltosa 320 2,2 0,22 4,0
Argila silto-arenosa 321 3,3 0,33 3,0

Em abril de 1983 tive a oportunidade de analisar quatro provas de carga em estacas


escavadas com auxílio de lama bentonítica, instrumentadas (Revista SOLOS E ROCHAS vol 6 no
1) e constatei que o método Aoki-Velloso, com F1 =3,0 e F2 =6,0, é conservador com respeito à
parcela PL embora apresente valores satisfatórios para PR.

Como neste tipo de estaca, a carga a adotar, por imposição de Norma, é muito dependente
da parcela PL, constata-se que o método Aoki-Velloso, para estas estacas, é conservador.

Neste mesmo trabalho propus para cálculo da parcela PL (em tf) das estacas escavadas
com lama bentonítica, a expressão:
UΣ N
PL =
3
em que U, em metros, é o perímetro da estaca, ΣN é a soma dos SPT ao longo do fuste, obtidos
de metro em metro. A partir desta expressão pode-se obter a parcela de adesão:

rl = 0,35NSPT, em tf/m2
5
3.2: Método Décourt & Quaresma (1978) (revisto em 82, 87 e 96)

Ao contrário do método de Aoki e Velloso, Décourt e Quaresma partem diretamente


dos ensaios SPT.
N SPT
rl = +1 (tf/m2)
3
não se adotando valores de NSPT inferiores a 3 nem superiores a 15, e não se considerando os
valores de NSPT que serão utilizados na avaliação da resistência de ponta rp.

Em 1982, Décourt aumentou o limite superior de NSPT = 15 para 50 para as estacas de


deslocamento, a meu ver não válido para estacas pré-moldadas de concreto que para atingir tal
penetração NSPT podem quebrar se não forem fortemente armadas. Para este tipo de estacas creio
que NSPT acima de 25 (excepcionalmente 30) complica a cravação.

A resistência de ponta é estimada por:

rp = C.Np

em que : C = 12 tf/m2 para as argilas; 20 tf/m2 para os siltes argilosos; 25 tf/m2 para os siltes
arenosos e 40 tf/m2 para as areias
Np = média entre os valores de N na profundidade da ponta da estaca, o imediatamente
acima e o imediatamente abaixo.

Os valores de C foram reduzidos em 1987, para o caso de estacas escavadas. Entretanto,


deixam de ser aqui apresentados, porque, posteriormente em 1996, Décourt volta a utilizar os
valores originais (acima transcritos) e introduz os coeficientes α e β na fórmula de capacidade de
carga (Tabela 4).
PR = αPP + βPL

Décourt propõe a utilização de fatores de segurança parciais para as parcelas de atrito


(FS=1,3) e para a parcela de ponta (FS=4). É um assunto discutível, mas, se aceito, a carga
admissível a adotar para a estaca deve atender, simultaneamente:

β .PL α .PP PR
P= + e P=
1,3 4 2

Tabela 4: Valores de α e β segundo Décourt 1996


Tipo Tipo de estaca
de escavada escavada Hélice injetadas
solo a seco (bentonita) contínua (raiz) sob pressão
valores típicos de α
argilas 0,85 0,85 0,30 0,85 1,00
siltes 0,60 0,60 0,30 0,60 1,00
areias 0,50 0,50 0,30 0,50 1,00
valores típicos de β
argilas 0,80 0,90 1,00 1,50 3,00
siltes 0,65 0,75 1,00 1,50 3,00
areias 0,50 0,60 1,00 1,50 3,00
3.3) Método de Teixeira (SEFE III,1996)

Este autor, analogamente a Décourt, usa, no seu método, os índices de resistência a


penetração do ensaio NSPT, propondo:
6
rp = α Np
rl = β.NSPT

em que Np é o valor médio entre os índices de resistência NSPT medidos no intervalo quatro
diâmetros acima da ponta da estaca e um diâmetro abaixo.
α e β conforme Tabelas 5 e 6.

Tabela 5: Valores de α (tf/m2), segundo Teixeira 1.996


SOLO pré-moldadas tipo escavadas a Raiz
4 < N <40 e metálicas Franki céu aberto
Areia com pedregulhos 44 38 31 29
Areia 40 34 27 26
Areia siltosa 36 30 24 22
Areia argilosa 30 24 20 19
Silte arenoso 26 21 16 16
Silte argiloso 16 12 11 11
Argila arenosa 21 16 13 14
Argila siltosa 11 10 10 10

Tabela 6: Valores de β (tf/m2), segundo Teixeira 1.996


Tipo de estacas β (tf/m2)
Pré-moldadas e metálicas 0,4
tipo Franki 0,5
Escavadas a céu aberto 0,4
Raiz 0,6

O autor lembra que os valores das Tabelas acima não se aplicam ao caso das estacas pré-
moldadas cravadas em argilas moles sensíveis (em particular as argilas moles de Santos), quando
normalmente N é inferior a 3.

Neste caso Teixeira recomenda rl = 3 tf/m2 (para as argilas SFL = sedimentos flúvio
lagunares) e 6 tf/m2 para as argilas AT (argilas transicionais).

3.4) Método Alonso para hélice contínua (1.996)

Ao contrário dos métodos acima apresentados, este usa os ensaios SPTT (sondagens à
percussão com medida de torque, Ranzini, 1.988 e 1.994). Segundo este autor:

20 tf/m2 para solos “normais”


rl =0,65.fs ≤
8 tf/m2 para o massapê e “sabão de caboclo”
(ver SEFE IV - vol 2, pp. 425-431)

em que fs é a adesão calculada a partir do torque máximo (em kgf.m), e a penetração (h) total (em
cm) do amostrador, no ensaio tradicional de SPT.

100 .Tmáx
fs = (kf/cm2)
41h − 3,2

Para a penetração total h do amostrador igual a 45 cm, a expressão acima assume a forma:

7
Tmáx T
fs = (tf/m2) ou fs = máx (kgf/cm2)
1,8 18

Quando não se dispõe do ensaio de torque pode-se utilizar a correlação:

Tmáx = 1,2 N

1,2 N
que fornecerá: rl = 0,65 = 0,43 NSPT (tf/m2)
1,8

Para o cálculo de rp é usado o modelo de De Beer

1
Tmin + Tmin
2
rp = β
2
1
em que: Tmin = média aritmética dos valores do torque mínimo (em kgf.m) no trecho 8D, medido
para cima, a partir da ponta da estaca, adotando-se nulos os Tmin, acima do nível do
terreno, quando o comprimento da estaca for menor que 8D.

2
Tmin idem, para o trecho 3D, medido para baixo, a partir da ponta da estaca.

Notas: 1) Os valores de Tmin superiores a 40 kgf.m devem ser adotados iguais a 40 kgf.m.

2) β (em tf/cm2/kgf.m) =20 para as areias; 15 para os siltes; 10 para as argilas e


8 para o massapé ou o “sabão de caboclo”.

3) Quando não se dispõe de ensaio de torque pode-se usar a correlação:

Tmín = N

Cabe ressaltar que as correlações acima foram obtidas para os solos da Bacia Sedimentar
de São Paulo, devendo ser usadas, com reserva, para outras localidades (ver Alonso 2.000 SEFE
VI - vol 2 – pág. 425 a 430) como já expostas no início deste Capítulo.

3.5) Método Alonso para estacas metálicas em solo “pouco competente” (SEFE 2.008)

Este autor com base em 37 provas de carga estáticas propôs a correlação:

rl = 0,28.NSPT ≤ 20 tf/m2

este valor é inferior aos propostos por Teixeira (0,4NSPT) e Aoki (α.K/3,5) mostrando que
esses dois métodos são contra a segurança no caso das estacas metálicas.

Para o cálculo da carga de ponta somente se poderá contar com a área envolvente à seção
do perfil se o mesmo estiver em solo de “alta resistência”. Nos casos normais a área a dotar é a
mostrada na Figura 3 e os valores de rp conforme Tabela 7.

8
Figura 3: Área de ponta das estacas metálicas em solo “pouco competente”

Para as estacas tubulares onde não ocorra o embuchamento, a capacidade de carga


geotécnica será (Figura 4):

PLext + PLint + PPárea A1


PR ≤
PLext + PPárea total

A1 = π.Dmédio.e
Figura 4: Área de ponta das estacas tubulares em solo “pouco competente”

O cálculo para este tipo de estacas ainda é de difícil avaliação pois como a ponta da estaca
é reforçada com “alargamentos” internos ou externos há redução da adesão estaca-solo. Via de
regra, pode-se adotar, em primeira aproximação, redução de 50% na adesão no lado em que
existe esse reforço.

Neste tipo de estacas a recomendação de provas de carga estáticas é fundamental para


validar o critério de cálculo previsto no projeto.

3.6) Aspecto relevante quanto à capacidade de carga de ponta das estacas

É importante chamar a atenção quanto ao desenvolvimento pleno da carga de ponta das


estacas que depende da relação L/D (comprimento da estaca/diâmetro). É o conceito de
“profundidade crítica” definida como sendo aquela a partir da qual se atinge plena resistência
por carga pela ponta da estaca como mostrado por Kérisel (1961). Para uma mesma profundidade
(mesma tensão vertical σ) a tensão de ruptura do solo, sob a ponta da estaca, se reduz à medida
que seu diâmetro aumenta (Figura 5).

9
Figura 5: Variação da resistência de ponta com a tensão vertical (Kérisel, 1961)

No passado as estacas com comprimento inferior a 8D eram denominadas “estacas


intermediárias” (Figura 6) por se situarem entre as fundações rasas (L/D ≤2) e as profundas (2
<L/D ≤ 8). Mas o mais importante é que a carga de ponta dessas estacas se situava entre o valor
adotado para fundações rasas e para fundações profundas.

Figura 6: Mecanismos de ruptura de fundações rasas (L/D<2) e “intermediárias” (2<L/D< 8)

Figura 7: Profundidade crítica proposta por De Beer (1972)

Na Tabela 7 mostram-se as relações L/D das estacas estudadas por Aoki e por Décour,
mostrando que todas as estacas tinham L/D >> 8.

10
Tabela 7: Resumo dos dados relevantes dos trabalhos de Décourt & Quaresma e Aoki &
Velloso (Profundidades/diâmetro das estacas)
DÉCOURT&QUARESMA AOKI&VELLOSO
PC SPT L d L/d PC L d L/d PC L d L/d
n. na ponta (m) (cm) n. (m) (cm) n. (m) (cm)
1 17,5 7,50 35 21,4 1 3,20 35 9,1 42 19,40 49 39,6
2 16,7 7,70 25 30,8 2 9,40 35 26,9 43 18,90 49 38,6
3 9 20,00 40 50,0 3 4,80 35 13,7 44 19,90 49 40,6
4 35,2 7,10 20 35,5 4 10,40 35 29,7 45 19,20 49 39,2
5 44 12,40 50 24,8 5 4,00 40 10,0 46 19,90 49 40,6
6 21 13,00 50 26,0 6 16,20 40 40,5 47 25,60 51 50,2
7 29,7 9,30 35 26,6 7 20,30 40 50,8 48 12,00 32 37,5
8 48,3 8,00 60 13,3 8 23,80 40 59,5 49 9,10 25 36,4
9 19,7 9,75 25 39,0 9 20,60 40 51,5 50 10,70 25 42,8
10 15,7 11,10 28 39,6 10 20,60 40 51,5 51 23,40 25 93,6
11 15 11,20 28 40,0 11 13,60 40 34,0 52 8,30 25 33,2
12 19,7 23,40 50 46,8 12 16,20 40 40,5 53 12,00 25 48,0
13 31,7 22,90 50 45,8 13 30,60 49 62,4 54 16,50 25 66,0
14 24,7 12,00 40 30,0 14 20,00 52 38,5
15 23 34,00 50 68,0 15 26,30 52 50,6
16 40 8,70 40 21,8 16 19,50 52 37,5
17 31 4,05 35 11,6 17 24,60 52 47,3
18 30/10 3,85 40 9,6 18 20,00 52 38,5
19 36 9,95 70 14,2 19 19,50 52 37,5
20 28 12,40 90 13,8 20 5,00 52 9,6
21 7,7 13,90 33 42,1 21 16,70 52 32,1
22 23,7 10,15 25 40,6 22 19,20 52 36,9
23 4,3 20,00 25 80,0 23 16,70 52 32,1
24 5,3 14,00 25 56,0 24 19,90 52 38,3
25 9,3 14,00 25 56,0 25 8,90 52 17,1
26 1,8 13,20 50 26,4 26 12,00 60 20,0
27 13,8 26,60 50 53,2 27 12,60 60 21,0
28 9,7 39,80 50 79,6 28 18,60 60 31,0
29 1,8 22,50 33 68,2 29 23,30 60 38,8
30 2 14,00 25 56,0 30 13,10 60 21,8
31 2,2 12,00 30 40,0 31 16,50 52 31,7
32 11,60 50 23,2 32 9,20 52 17,7
33 25,3 12,00 40 30,0 33 8,40 52 16,2
34 19,3 11,60 40 29,0 34 8,30 52 16,0
35 23,3 15,39 60 25,7 35 23,90 49 48,8
36 30,7 7,00 40 17,5 36 19,40 49 39,6
37 11,7 5,10 25 20,4 37 19,50 49 39,8
38 33 10,15 25 40,6 38 20,10 49 41,0
39 18 8,50 30 28,3 39 19,30 49 39,4
40 10 9,00 23 39,1 40 19,40 49 39,6
41 17,3 12,60 50 25,2 41 19,40 49 39,6
11
Ainda não há um consenso de como se reduzir a parcela da carga de ponta das estacas no
intervalo entre o nível do terreno e a profundidade 8D.

Mas o que não se pode adotar, nesse intervalo de comprimento das estacas, é carga plena
da resistência de ponta das mesmas, como ocorreu em um projeto de estaqueamento de um cais
onde se previu executar estacas tubulares com 90 cm de diâmetro (#19 mm) e o projetista, para
reduzir o comprimento cravado dessas estacas, tampou sua ponta para evitar que o solo
“entrasse” pelo espaço interno, já que com esse diâmetro não se conseguia “embuchamento”.

Com esse procedimento, a estaca só conseguia ser cravada 4 m, portanto L/D ≈ 4. O erro
cometido pelo projetista foi considerar carga plena de ponta ao empregar os métodos de Aoki e
de Décourt, como se mostra na Figura 8 e Tabela 8.

Figura 8: Estaca com relação L/d ≈ 4 (“fundação intermediária”)

Tomando como base NsPT = 45 e solo “areia siltosa” (K = 80 tf/m2) a tensão de ruptura do
solo sob a ponta da estaca calculada pelos métodos Aoki & Velloso e Décourt & Quaresma são:
80x 45
Aoki & Velloso: rp = = 2.000 tf/m2
1,75
Valor médio 1.900 tf/m2
2
Décourt & Quaresma: rp = 40x45 = 1.800 tf/m

Tabela 8: Valores de rp medidos pelo ensaio CAPWAP


Estaca Carga na ponta rp
no (tf/m2) (tf/m2)
1 350,7 548
2 403,9 631
3 354,1 553
4 491,0 761
5 380,0 594
6 362,3 566
Valor médio 600
Vê-se pela Tabela 8 que a resistência de ponta medida foi cerca de 30% do valor médio
obtido pelos métodos de Aoki & Velloso e Décourt & Quaresma.

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4) Estacas metálicas de seção transversal decrescente com a profundidade

Até 2006, as estacas metálicas só eram projetadas utilizando-se perfis de seção constante.
Entretanto em 2005 este autor desenvolveu para a GERDAU o conceito de “Estacas metálicas
de seção decrescente com a profundidade“ visto que, no caso de estacas comprimidas a carga
axial decresce com a profundidade, desde o valor máximo (PR), no topo, até um valor mínimo na
ponta (PP), conforme se mostrou na Figura 1 e se repete na Figura 9.

Figura 9: Transferência de carga de uma estaca para o solo (sem “atrito negativo”)

Como estes valores de carga são decorrentes dos valores de transferência de carga para o
solo, a carga (admissível ou característica) a ser resistida pela estaca equivale à metade deste
valor, ou seja, P = PR/2 no topo. Assim, pode-se concluir que a seção transversal da estaca
metálica (ou de qualquer outro tipo de estaca) não necessita apresentar resistência estrutural
constante ao longo de todo seu comprimento, já que a carga que nela irá atuar decresce com a
profundidade. Ou seja, para o caso das estacas metálicas a seção da mesma poderá variar
(decrescer) com a profundidade.

Nota: O raciocínio acima se aplica aos casos em que não ocorre a ação do “atrito negativo”. Neste
caso vale o conceito, mas a seção da estaca na região do atrito negativo, também será
variável, porém crescente com a profundidade até a profundidade onde se encontra o “ponto
neutro”. Daí para baixo a seção poderá ser decrescente como acima exposto.

Este foi um conceito novo desenvolvido por este autor em 2005 e introduzido pela GERDAU
no mercado de estacas em 2006 que tem como vantagem principal a redução do peso das estacas
metálicas para uma mesma carga onde se usava, até então seção constante com a profundidade.
Isto é, com a variação decrescente da seção transversal das estacas, podem-se obter idênticas
capacidades de carga com uma economia substancial no peso das mesmas.

O conceito é muito simples e se baseia na utilização de perfis de um mesmo grupo para


compor as estacas de seção decrescente. Entendam-se como perfis de um mesmo grupo aqueles
cujas bitolas são da mesma altura nominal, com variações na espessura da alma e abas (variação
de massa, porém sem variação significativa no perímetro). Sendo do mesmo grupo, as emendas
dos perfis de diferentes dimensões serão executadas com facilidade, idênticas às de estacas com
perfis de mesma seção.
No Brasil, inúmeras fundações já foram realizadas utilizando este novo conceito e para
comprovar a eficiência desta solução, tem sido realizadas muitas provas de cargas estáticas
permitindo, inclusive, reavaliar os métodos semi-empíricos de capacidade de carga até então
disponíveis (Aoki & Velloso, Décourt & Quaresma e Teixeira) para estas estacas que se mostraram
contra a segurança. Esse método foi apresentado em 2008 no SEFE VI.

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Na Figura 10 mostra-se a composição de uma estaca de seção decrescente com a
profundidade cuja transferência de carga foi obtida utilizando-se o método de Alonso 2008.

Tabela 9: Previsão da transferência de carga usada para compor a estaca de seção


decrescente com a profundidade

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Figura 10: Composição de uma estaca metálica de seção decrescente com a profundidade
a partir dos valores apresentados na Tabela 9.
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