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CAPACIDADE DE CARGA GEOTÉCNICA DE ESTACAS EM SOLO
A carga de ruptura (PR) de uma estaca (Figura 1) é obtida pelo menor dos dois valores da
expressão:
PL + PP
PR
PR ≤ Padm =
2
PRestrutural Além disso, nas estacas escavadas também se deve
atender: Padm ≤ PL/1,25 quando não houver garantia
na limpeza de fundo
em que:
PL = UΣ∆l.rl = parcela de carga resistida por atrito lateral ao longo do fuste da estaca;
PP = A.rp = parcela de carga resistida pelo solo da ponta da estaca.
U = perímetro da seção transversal da estaca.
A = área da seção transversal da estaca. Se a estaca é do tipo Franki o cálculo de A na
ponta é feito assimilando-se o volume da base alargada a uma esfera.
rl = tensão média de adesão estaca-solo, na camada de espessura ∆l.
rp = tensão de ruptura do solo que dá suporte à ponta da estaca.
Nota: Este assunto está sendo revisto pela atual Comissão Técnica encarregada da revisão da
norma NBR 6122, havendo uma tendência em não mais se trabalhar com fck mas sim com
classes de concreto (por exemplo C40, C35, etc), majorando-se os valores de γf, γc e γs.
Por ser um assinto ainda não consolidado deixa-se de entrar em maiores detalhes.
Já no 2º Caso mostram-se duas estacas com mesmo comprimento, porém com diferentes
valores de perímetro U e de área de ponta A. Neste caso a estaca com maior U e A apresentará
maior capacidade de carga.
3
1º Caso: U e A iguais 2º Caso: U e A diferentes
L diferentes L iguais
É por esta razão que não se pode pré-fixar a carga admissível de estacas como ocorre,
geralmente, nos catálogos das empresas executoras de estacas. O que elas apresentam em seus
catálogos são as cargas máximas do ponto de vista estrutural, ficando a carga admissível
condicionada ao tipo de solo e à profundidade onde as mesmas serão instaladas. Como a
profundidade de instalação das estacas também depende do equipamento e do processo
executivo, vê-se que a carga admissível depende, além dos fatores acima mencionados, também
depende dos sistemas de instalação das estacas (equipamentos). É evidente que sempre se
procurará atingir a carga admissível da estaca o mais próximo possível da sua carga admissível
estrutural. Mas nem sempre tal é possível, pois fica-se limitado à capacidade do equipamento em
levar a estaca até o comprimento que tal situação seja atingida. Isso sem levar em conta os efeitos
que tal objetividade possa criar em relação à vizinhança (aspectos de vibrações, condições de
apoio para equipamentos pesados que pudessem levar as estacas até a profundidade desejada,
condições de acesso desses equipamentos, etc). É por esta razão que na maioria das vezes a
condicionante da carga admissível das estacas é a capacidade de carga geotécnica e não a
estrutural.
Hoje em dia existem diversos métodos para se estimar a capacidade de carga geotécnica das
estacas. Entretanto a diferença entre esses diversos métodos semi-empíricos está na estimativa
de rl e de rp conforme se mostra a seguir, já que a formulação matemática, propriamente dita, é
sempre a mesma.
Um aspecto importante que precisa ser lembrado é que os métodos semi-empíricos, não
são “universais” devendo ser utilizados para as regiões geotécnicas que lhes deram origem e para
os tipos de estacas estudados. Sua utilização fora dessas premissas deve ser feita de maneira
cautelosa, até se obter maior confiabilidade nos resultados evitando-se assim discussões
desgastantes que tenho visto ocorrerem quando alguns colegas procuram “aquele método que dá
o resultado que eles esperariam” sem preocupação quanto a validade ou não desse método por
eles escolhido se aplica à região da obra em análise.
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3.1) Método Aoki & Velloso (1975)
Estes autores propõem no trabalho original (e nas adaptações que a seguir foram feitas) as
seguintes expressões para rp e rl:
qc f s α .K .N
rp = e rp = =
F1 F2 F2
em que: qc é a resistência de ponta medida na ponteira Delft e/ou Begemann no ensaio CPT;
fs e a adesão medida na luva de Begemann (área teórica de 150 cm2);
F1 e F2 são coeficientes de transformação que englobam o tipo de estaca.
Como neste tipo de estaca, a carga a adotar, por imposição de Norma, é muito dependente
da parcela PL, constata-se que o método Aoki-Velloso, para estas estacas, é conservador.
Neste mesmo trabalho propus para cálculo da parcela PL (em tf) das estacas escavadas
com lama bentonítica, a expressão:
UΣ N
PL =
3
em que U, em metros, é o perímetro da estaca, ΣN é a soma dos SPT ao longo do fuste, obtidos
de metro em metro. A partir desta expressão pode-se obter a parcela de adesão:
rl = 0,35NSPT, em tf/m2
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3.2: Método Décourt & Quaresma (1978) (revisto em 82, 87 e 96)
rp = C.Np
em que : C = 12 tf/m2 para as argilas; 20 tf/m2 para os siltes argilosos; 25 tf/m2 para os siltes
arenosos e 40 tf/m2 para as areias
Np = média entre os valores de N na profundidade da ponta da estaca, o imediatamente
acima e o imediatamente abaixo.
β .PL α .PP PR
P= + e P=
1,3 4 2
em que Np é o valor médio entre os índices de resistência NSPT medidos no intervalo quatro
diâmetros acima da ponta da estaca e um diâmetro abaixo.
α e β conforme Tabelas 5 e 6.
O autor lembra que os valores das Tabelas acima não se aplicam ao caso das estacas pré-
moldadas cravadas em argilas moles sensíveis (em particular as argilas moles de Santos), quando
normalmente N é inferior a 3.
Neste caso Teixeira recomenda rl = 3 tf/m2 (para as argilas SFL = sedimentos flúvio
lagunares) e 6 tf/m2 para as argilas AT (argilas transicionais).
Ao contrário dos métodos acima apresentados, este usa os ensaios SPTT (sondagens à
percussão com medida de torque, Ranzini, 1.988 e 1.994). Segundo este autor:
em que fs é a adesão calculada a partir do torque máximo (em kgf.m), e a penetração (h) total (em
cm) do amostrador, no ensaio tradicional de SPT.
100 .Tmáx
fs = (kf/cm2)
41h − 3,2
Para a penetração total h do amostrador igual a 45 cm, a expressão acima assume a forma:
7
Tmáx T
fs = (tf/m2) ou fs = máx (kgf/cm2)
1,8 18
Tmáx = 1,2 N
1,2 N
que fornecerá: rl = 0,65 = 0,43 NSPT (tf/m2)
1,8
1
Tmin + Tmin
2
rp = β
2
1
em que: Tmin = média aritmética dos valores do torque mínimo (em kgf.m) no trecho 8D, medido
para cima, a partir da ponta da estaca, adotando-se nulos os Tmin, acima do nível do
terreno, quando o comprimento da estaca for menor que 8D.
2
Tmin idem, para o trecho 3D, medido para baixo, a partir da ponta da estaca.
Notas: 1) Os valores de Tmin superiores a 40 kgf.m devem ser adotados iguais a 40 kgf.m.
Tmín = N
Cabe ressaltar que as correlações acima foram obtidas para os solos da Bacia Sedimentar
de São Paulo, devendo ser usadas, com reserva, para outras localidades (ver Alonso 2.000 SEFE
VI - vol 2 – pág. 425 a 430) como já expostas no início deste Capítulo.
3.5) Método Alonso para estacas metálicas em solo “pouco competente” (SEFE 2.008)
rl = 0,28.NSPT ≤ 20 tf/m2
este valor é inferior aos propostos por Teixeira (0,4NSPT) e Aoki (α.K/3,5) mostrando que
esses dois métodos são contra a segurança no caso das estacas metálicas.
Para o cálculo da carga de ponta somente se poderá contar com a área envolvente à seção
do perfil se o mesmo estiver em solo de “alta resistência”. Nos casos normais a área a dotar é a
mostrada na Figura 3 e os valores de rp conforme Tabela 7.
8
Figura 3: Área de ponta das estacas metálicas em solo “pouco competente”
A1 = π.Dmédio.e
Figura 4: Área de ponta das estacas tubulares em solo “pouco competente”
O cálculo para este tipo de estacas ainda é de difícil avaliação pois como a ponta da estaca
é reforçada com “alargamentos” internos ou externos há redução da adesão estaca-solo. Via de
regra, pode-se adotar, em primeira aproximação, redução de 50% na adesão no lado em que
existe esse reforço.
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Figura 5: Variação da resistência de ponta com a tensão vertical (Kérisel, 1961)
Na Tabela 7 mostram-se as relações L/D das estacas estudadas por Aoki e por Décour,
mostrando que todas as estacas tinham L/D >> 8.
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Tabela 7: Resumo dos dados relevantes dos trabalhos de Décourt & Quaresma e Aoki &
Velloso (Profundidades/diâmetro das estacas)
DÉCOURT&QUARESMA AOKI&VELLOSO
PC SPT L d L/d PC L d L/d PC L d L/d
n. na ponta (m) (cm) n. (m) (cm) n. (m) (cm)
1 17,5 7,50 35 21,4 1 3,20 35 9,1 42 19,40 49 39,6
2 16,7 7,70 25 30,8 2 9,40 35 26,9 43 18,90 49 38,6
3 9 20,00 40 50,0 3 4,80 35 13,7 44 19,90 49 40,6
4 35,2 7,10 20 35,5 4 10,40 35 29,7 45 19,20 49 39,2
5 44 12,40 50 24,8 5 4,00 40 10,0 46 19,90 49 40,6
6 21 13,00 50 26,0 6 16,20 40 40,5 47 25,60 51 50,2
7 29,7 9,30 35 26,6 7 20,30 40 50,8 48 12,00 32 37,5
8 48,3 8,00 60 13,3 8 23,80 40 59,5 49 9,10 25 36,4
9 19,7 9,75 25 39,0 9 20,60 40 51,5 50 10,70 25 42,8
10 15,7 11,10 28 39,6 10 20,60 40 51,5 51 23,40 25 93,6
11 15 11,20 28 40,0 11 13,60 40 34,0 52 8,30 25 33,2
12 19,7 23,40 50 46,8 12 16,20 40 40,5 53 12,00 25 48,0
13 31,7 22,90 50 45,8 13 30,60 49 62,4 54 16,50 25 66,0
14 24,7 12,00 40 30,0 14 20,00 52 38,5
15 23 34,00 50 68,0 15 26,30 52 50,6
16 40 8,70 40 21,8 16 19,50 52 37,5
17 31 4,05 35 11,6 17 24,60 52 47,3
18 30/10 3,85 40 9,6 18 20,00 52 38,5
19 36 9,95 70 14,2 19 19,50 52 37,5
20 28 12,40 90 13,8 20 5,00 52 9,6
21 7,7 13,90 33 42,1 21 16,70 52 32,1
22 23,7 10,15 25 40,6 22 19,20 52 36,9
23 4,3 20,00 25 80,0 23 16,70 52 32,1
24 5,3 14,00 25 56,0 24 19,90 52 38,3
25 9,3 14,00 25 56,0 25 8,90 52 17,1
26 1,8 13,20 50 26,4 26 12,00 60 20,0
27 13,8 26,60 50 53,2 27 12,60 60 21,0
28 9,7 39,80 50 79,6 28 18,60 60 31,0
29 1,8 22,50 33 68,2 29 23,30 60 38,8
30 2 14,00 25 56,0 30 13,10 60 21,8
31 2,2 12,00 30 40,0 31 16,50 52 31,7
32 11,60 50 23,2 32 9,20 52 17,7
33 25,3 12,00 40 30,0 33 8,40 52 16,2
34 19,3 11,60 40 29,0 34 8,30 52 16,0
35 23,3 15,39 60 25,7 35 23,90 49 48,8
36 30,7 7,00 40 17,5 36 19,40 49 39,6
37 11,7 5,10 25 20,4 37 19,50 49 39,8
38 33 10,15 25 40,6 38 20,10 49 41,0
39 18 8,50 30 28,3 39 19,30 49 39,4
40 10 9,00 23 39,1 40 19,40 49 39,6
41 17,3 12,60 50 25,2 41 19,40 49 39,6
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Ainda não há um consenso de como se reduzir a parcela da carga de ponta das estacas no
intervalo entre o nível do terreno e a profundidade 8D.
Mas o que não se pode adotar, nesse intervalo de comprimento das estacas, é carga plena
da resistência de ponta das mesmas, como ocorreu em um projeto de estaqueamento de um cais
onde se previu executar estacas tubulares com 90 cm de diâmetro (#19 mm) e o projetista, para
reduzir o comprimento cravado dessas estacas, tampou sua ponta para evitar que o solo
“entrasse” pelo espaço interno, já que com esse diâmetro não se conseguia “embuchamento”.
Com esse procedimento, a estaca só conseguia ser cravada 4 m, portanto L/D ≈ 4. O erro
cometido pelo projetista foi considerar carga plena de ponta ao empregar os métodos de Aoki e
de Décourt, como se mostra na Figura 8 e Tabela 8.
Tomando como base NsPT = 45 e solo “areia siltosa” (K = 80 tf/m2) a tensão de ruptura do
solo sob a ponta da estaca calculada pelos métodos Aoki & Velloso e Décourt & Quaresma são:
80x 45
Aoki & Velloso: rp = = 2.000 tf/m2
1,75
Valor médio 1.900 tf/m2
2
Décourt & Quaresma: rp = 40x45 = 1.800 tf/m
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4) Estacas metálicas de seção transversal decrescente com a profundidade
Até 2006, as estacas metálicas só eram projetadas utilizando-se perfis de seção constante.
Entretanto em 2005 este autor desenvolveu para a GERDAU o conceito de “Estacas metálicas
de seção decrescente com a profundidade“ visto que, no caso de estacas comprimidas a carga
axial decresce com a profundidade, desde o valor máximo (PR), no topo, até um valor mínimo na
ponta (PP), conforme se mostrou na Figura 1 e se repete na Figura 9.
Figura 9: Transferência de carga de uma estaca para o solo (sem “atrito negativo”)
Como estes valores de carga são decorrentes dos valores de transferência de carga para o
solo, a carga (admissível ou característica) a ser resistida pela estaca equivale à metade deste
valor, ou seja, P = PR/2 no topo. Assim, pode-se concluir que a seção transversal da estaca
metálica (ou de qualquer outro tipo de estaca) não necessita apresentar resistência estrutural
constante ao longo de todo seu comprimento, já que a carga que nela irá atuar decresce com a
profundidade. Ou seja, para o caso das estacas metálicas a seção da mesma poderá variar
(decrescer) com a profundidade.
Nota: O raciocínio acima se aplica aos casos em que não ocorre a ação do “atrito negativo”. Neste
caso vale o conceito, mas a seção da estaca na região do atrito negativo, também será
variável, porém crescente com a profundidade até a profundidade onde se encontra o “ponto
neutro”. Daí para baixo a seção poderá ser decrescente como acima exposto.
Este foi um conceito novo desenvolvido por este autor em 2005 e introduzido pela GERDAU
no mercado de estacas em 2006 que tem como vantagem principal a redução do peso das estacas
metálicas para uma mesma carga onde se usava, até então seção constante com a profundidade.
Isto é, com a variação decrescente da seção transversal das estacas, podem-se obter idênticas
capacidades de carga com uma economia substancial no peso das mesmas.
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Na Figura 10 mostra-se a composição de uma estaca de seção decrescente com a
profundidade cuja transferência de carga foi obtida utilizando-se o método de Alonso 2008.
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Figura 10: Composição de uma estaca metálica de seção decrescente com a profundidade
a partir dos valores apresentados na Tabela 9.
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