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PROJETO E EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES


PROFUNDAS EM ESTACAS
(Definição e tipos mais comuns de estacas entre nós)

PROFESSOR

Urbano Rodriguez Alonso


MÊS DE 2016

DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS

contato@engeduca.com.br
FUNDAÇÕES COM ESTACAS (DEFINIÇÃO E TIPOS DE ESTACAS MAIS COMUNS
ATUALMENTE EM NOSSO MERCADO – Métodos executivos)

Urbano Rodriguez Alonso

1) Classificação das estacas

As estacas costumam ser classificadas sob diversos aspectos: materiais constituintes


(madeira, concreto, aço), tipo de instalação (prensadas, cravadas, vibradas e escavadas), custos
e prazos (análise de vantagens e desvantagens), etc. Todos esses aspectos fazem parte dos livros
clássicos sobre fundações.

Mas existe uma classificação pouco divulgada que se refere aos controles durante a sua
execução. Neste contexto podem-se dividir as estacas em dois grupos: as que permitem um
controle abrangente durante sua execução e as que esse controle é pouco abrangente.

No primeiro grupo estão as estacas prensadas, também denominadas “estacas MEGA”


(cravadas com uso de macaco hidráulico, onde se mede a carga aplicada durante sua cravação)
e as estacas cravadas com martelos de queda livre ou hidráulicos (pré-moldadas, metálicas e
Franki), estas onde se obtêm gráficos de cravação, negas, repiques e, em casos específicos,
ensaios dinâmicos (ensaios PDA – Pile Driving Analyser).

Já no caso das estacas com controle pouco abrangente não existem medidas de campo que
permitam verificar, durante sua execução, a capacidade de carga das mesmas. Neste grupo
incluem-se as estacas Strauss, as escavadas (com ou sem uso de fluido estabilizante) e as
estacas hélice contínua.

Esta classificação é importante, pois as estacas do segundo grupo necessitam de uma


campanha de investigação geotécnica confiável, uma vez que o comprimento das mesmas é
definido em projeto e não se dispõe de medidas de campo que permitam confirmar a qualidade
dessas investigações geotécnicas, na maioria das vezes apenas sondagens SPT. Isto tem sido a
causa principal de alguns insucessos com este tipo de estacas, já que nos últimos anos já não
existem empresas de sondagens com a qualidade que seria necessária, como já tivemos
oportunidade de expor, inclusive com relatos dos profs. Moacyr Schwab e Carlos Medeiros,
publicados na revista Fundações e obras de Geotecnia em outubro de 2013 e maio de 2014,
respectivamente.

2) Tipo de estacas atualmente mais frequentes no mercado brasileiro

2.1) Estacas prensadas (MEGA)

Estas estacas são cravadas por prensagem utilizando-se macacos hidráulicos (Figura 1) e
eram muito utilizadas no passado como fundações, nos casos em que se queria evitar vibrações,
barulhos e retirada de material escavado, principalmente se o solo for contaminado.

Quando se pretende usar estas estacas como fundação “normal” pode-se empregar uma
plataforma com sobrecarga (“cargueira”), hoje em dia praticamente em desuso (Figura 2), ou a
própria estrutura. Neste caso executa-se uma fundação rasa dotada de furos para a permitir a
passagem das estacas conforme se mostra na Figura 3a e se executa parte da estrutura
compatível com a capacidade de carga das fundações rasas. A partir daí, usando a própria
estrutura como reação, cravam-se as estacas. Neste caso a cravação das estacas deve ser feita
aos pares e simetricamente em relação ao eixo do pilar, enquanto as demais estacas permanecem
incorporadas provisoriamente (Figura 3b).

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Figura 1: Estacas MEGA sendo usadas com reforço de fundação

Figura 2: Cravação de estacas MEGA usando “cargueira”

Figura 3: Estacas MEGA como fundação usando a própria estrutura como reação
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Como a cravação das estacas é feita com macaco hidráulico, a carga resistida pela estaca,
é conhecida durante a instalação. Por isso as estacas vão sendo testadas à medida que se avança
o estaqueamento. Este processo de instalação confere a este tipo de estacas maior confiabilidade
do ponto de vista de desempenho, pois permitem a realização de provas de carga, geralmente
realizadas em fins de semana quando os serviços de cravação estão parados.

Em decorrência disto, são as estacas que apresentam menor dispersão de seus resultados,
ou seja, o valor médio de carga admissível é praticamente atingido por todas as estacas
(baixíssimos desvios padrão e coeficiente de correlação).

Em situações específicas podem ser utilizadas para permitir executar subsolos em obras já
existentes, conforme se mostra na Figura 4. Neste caso as estacas podem ser construídas por
perfis metálicos emendados à medida que são cravados (menos comum) ou tubos rosqueados
(mais frequente) face à sua velocidade de emenda, ao contrário de perfis soldados.

Figura 4: Estacas MEGA usadas para criar subsolos em obras existentes

Paras aumentar a capacidade de carga dessas estacas, foi desenvolvido um “plus” nas
mesmas onde após sua cravação se injeta calda de cimento sob a ponta das mesmas (Figura 5).

Figura 5: Estaca MEGA com injeção de calda de cimento sob a ponta


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As cargas normalmente utilizadas neste tio de estacas bem como a carga de cravação (1,5
vezes a carga de trabalho) estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1: Cargas de trabalho normalmente utilizadas nas estacas MEGA


Tipo Diâmetro Especificação Cargas (tf)
cravação trabalho
Tubo metálico com rosca 31/2” (10 cm) Aço 1070 38 25
5”’ (13 cm) Aço 1070 83 55
Concreto 10” (25 cm) fck = 40 MPa 50 33
12” (30 cm) fck = 40 PMa 90 60

2.2) Estacas escavadas com auxílio de fluido estabilizante (lama bentonítica ou polímero)

a) Generalidades

O processo executivo deste tipo de estacas é mostrado na Figura 6. Essas estacas tanto
podem ser confeccionadas com caçambas o que lhes confere uma forma circular (Figura 7), neste
caso denominadas “estacões” ou usando clam-shell que lhes confere uma forma retangular, neste
caso denominadas “barretes” (Figura 8).

Figura 6: Fases executivas de uma estaca escavada com auxílio de fluido estabilizante

O controle de campo, neste tipo de estacas, se restringe a uma análise táctil visual do
material escavado para compará-lo com a sondagem mais próxima à estaca e também ao controle
das características exigidas para o fluido estabilizante (pH, viscosidade, teor de areia), conforme
Tabela 2 bem como a manter uma diferença de nível entre o fluido estabilizante e o lençol freático
superior a 1,5 m (quanto maior for esse desnível, melhores são as condições de escavação e de
concretagem). Por esta razão, normalmente se executa um dique à volta da estaca para garantir
um desnível superior a 1,5 m (Figura 9).
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Tabela 2: Características do fluido estabilizante
Propriedades Valores Eqto ensaio
Lama bentonítica Polímero
Densidade (g/cm3) 1,025 a 1,10 1,005 a 1,05 Densímetro
Viscosidade (s) 30 a 90 35 a 120 Funil Marsh
pH 7 a 11 8 a 12 Papel tornassol
Teor de areia (%) ≤3 ≤3 Baroid sand
Cake (mm) (*) 1a2 não forma “cake)
(*) este ensaio não é mais feito na obra, mas deve ser cobrado do fornecedor da bentonita

Camisa guia
Figura 7: Equipamento para executar estacas circulares (“estacões”)

Figura 8: Equipamento para se executar estacas de seção retangular (“barretes”)


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Figura 9: Detalhe típico do “dique” usado para garantir desnível superior a1,5 m de entre o
fluido estabilizante e o NA do lençol freático

b) Aparelhos para controle das características do fluido estabilizantes

Para se realizarem os ensaios de campo do fluido estabilizante devem ser retiradas


amostras coletadas no fundo da escavação utilizando-se um recipiente coletor, similar ao
mostrado na Figura 10a. Essas amostras são levadas até o local do ensaio onde se encontram os
aparelhos a utilizar (Figura 10b).

Foto 10: Recipiente para retirada de amostra de lama e realização do ensaio

b.1) Verificação da qualidade da bentonita através do “cake”

Conforme já informamos acima o “cake” não é mais medido na obra. Porém o mesmo deve
ser solicitado oficialmente ao fornecedor a cada partida de bentonita recebida na obra. A medição
desta propriedade, no passado, era realizada, na obra, utilizando-se o “filter press” (Figura 11).

Nota: No polímero não há formação de “cake”.

O ensaio é realizado colocando-se um volume padrão de lama dentro de um cilindro e


submetendo-o a uma pressão constante de 7 kg/cm2 durante 30 min. Nessas condições a água
passa por um papel de filtro colocado no fundo do recipiente escoando pelo orifício sendo recolhida
em um recipiente graduado. A lama cria, então, sobre o filtro, uma película (“cake”) que deve
apresentar uma espessura de 1 a 2 mm.

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Figura 11: Medida do “cake”
b.2) Teor de areia

Utiliza-se o frasco fabricado pela Baroid. O ensaio é feito colocando-se no frasco uma
quantidade de lama até a marca “Mud to Here” e completando-se com água até a marca “Water
to Here”. A seguir tampa-se, com o polegar, a boca do frasco e agita-se a mistura que a seguir é
derramada no recipiente que contém a peneira para reter as partículas de areia. Lava-se, a seguir,
o frasco e o recipiente que contém a areia fazendo passar pela peneira a água de modo a carrear
toda a lama e deixar apenas a areia. A seguir é colocado o funil no frasco e virado sobre o mesmo
o recipiente que contém a areia fazendo passar por ela água que carreará a areia para o frasco.
A areia decantada no fundo do frasco fornece, de maneira direta, a % de areia (Figura 12).

Figura 12: Medida do teor de areia

b.3) Ensaios da viscosidade e da densidade

A viscosidade corresponde ao tempo necessário para que o volume colocado no cone (com
a ponta fechada com o polegar) escoa pelo frasco de viscosidade (Figura 13a).

Para se determinar densidade utiliza-se a balança de densidade (Figura 13b) equilibrando-


se o volume de lama colocado no seu recipiente. A densidade é obtida diretamente na escala da
balança.

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(a) viscosidade (d) densidade
Foto 13: Medidas da densidade e da viscosidade

b.4) Medida do pH

É medido com uma tira de papel de tornassol que será mergulhado na bentonita e se
compara a cor por essa tira mostrada com a tabela de cor padrão.

c) Aspectos relevantes das fases executivas das estacas escavadas com fluido
estabilizante

c.1) Instalação da camisa-guia (no caso de estacões) ou mureta-guia (no caso de barretes)

Para evitar desbarrancamentos do solo junto à superfície, a perfuração é protegida com a


camisa-guia metálica com comprimento mínimo de 1,5 m e com diâmetro interno 10 cm superior
ao diâmetro da estaca (Figura 7). Esta camisa será recuperada após a execução da estaca e será
reutilizada em novas estacas. No caso de barretes a camisa é substituída pela mureta-guia (Figura
8b). Neste caso, como a mureta é de concreto armado, a mesma é perdida.

c.2) Perfuração

Após a instalação da camisa-guia (ou execução da mureta-guia no caso das estacas barrete)
inicia-se a perfuração com caçamba (estacões) ou clam-shell (barretes) adicionando o fluido
estabilizante (lama bentonítica ou polímero) e mantendo-se, sempre, um desnível entre o topo do
fluido e o lençol freático (natural ou rebaixado) mínimo de 1,5 m. Esta diferença de nível é muito
importante (e quanto maior for esse desnível melhores serão as condições de execução da
estaca). Para tal pode-se executar um dique como mostrado na Figura 9.

Após se atingir a cota de ponta prevista para a estaca deve ser feita a desarenação ou até
a troca de lama contaminada por nova. O máximo de areia permitido para poder descer a armadura
e realizar a concretagem é 3%, além das demais características conforme se mostra na Tabela 4.

No caso de rochas brandas a perfuração pode ser realizada trocando a caçamba por trado
helicoidal com “wídia” nas bordas (Figura 14).

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Figura 14: Troca da caçamba por trado com “wídia” para escavar em rocha

Também é possível escavar estacões em rocha mais resistente do que a que aquela que a
“widia” perfura utilizando-se perfuração com “circulação reversa” conforme se mostra na Figura
15. Neste caso a camisa metálica é cravada até a rocha com martelo vibratório ou por percussão,
faz-se a limpeza interna da camisa com benoto (ou até caçamba) e a seguir instala-se o sistema
de perfuração com circulação reversa. Neste caso a camisa metálica poderá ser perdida (mais
frequente) ou recuperada, com o uso do martelo vibratório quando este for usado na cravação.

Figura 15: Execução de estacão em rocha com circulação reversa

O sistema de perfuração com circulação reversa também pode ser substituído por martelo
de fundo similar ao que se utiliza em estacas raiz com perfuração em rocha, conforme se mostra
na Figura 16.

No caso de estacas barrete escavados em rocha, usa-se a “fresa” conforme Figura 17. Neste
caso não se recomenda o uso de polímero pois o mesmo “entope” a bomba de recalque.

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Figura 16: Perfuração em rocha com martelo de fundo

Figura 17: Hidrofresa para se escavar estacões em rocha

c.2) Limpeza de fundo e colocação da armadura

Ao final da escavação (por qualquer um dos processos acima citados) e antes da instalação
da armadura é feita a limpeza do fundo da escavação e, eventualmente a troca de lama, utilizando-
se uma bomba submersa (tipo flyght) apoiada no fundo, (como se fazia no passado) ou a pequena
distância do fundo, (hoje mais frequente) com prolongamento de tubo até o fundo (Figura 18).

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Figura 18: Bomba para limpeza e troca de lama

Também se costuma usar, para essa limpeza de fundo e/ou troca de lama, uma bomba de
superfície com mangote ligado ao tubo tremonha conforme se mostra na Figura 19. Mas este
processo em estacas longas é questionável, sendo preferível o mostrado na Figura 18.

Foto 19: Uso de bomba de superfície para limpeza de fundo/troca de lama

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c.3) Concretagem

Após a limpeza (teor de areia inferior a 3%) e/ou troca da lama e instalação da armadura,
inicia-se a concretagem que é feita por gravidade usando-se o processo submerso, através de um
tubo metálico (tremonha) central ao furo (estacão ou barrete) e com sua ponta próxima da ponta
da estaca. Para barretes “longos em planta” utilizam-se dois ou mais tubos tremonhas (Foto 20).

Foto 20: Uso de duas tremonhas para concretar um barrete “longo em planta”

Para evitar contaminação do concreto com o fluido estabilizante, antes do lançamento do


concreto na tremonha coloca-se uma bola de borracha com mesmo diâmetro do tubo tremonha e
a seguir se lança o concreto. Esta bola vai “empurrando” o fluido estabilizante e, após atingir o
fundo da estaca retorna à superfície podendo ser reutilizada.

Durante a concretagem controla-se o volume aplicado e se compara com o teórico (gráfico


de “subida de concreto”), conforme mostrado na Figura 21. Esta relação deve sempre ser maior
que 1, para se garantir que não houve redução do diâmetro do fuste.

O traço recomendado para este tipo de estacas é:

1) consumo de cimento = 400 kgf/m3 (de preferência cimento de alto forno)


2) percentagem de argamassa superior a 55%.
(massa de cimento + agregados miúdos)x100/(massa total) com fator a/c ≤ 0,6.
3) utilizar brita 1 (dimensão nominal 19 mm)
4) slump-test 22 ± 3 cm.
5) especificar na Nota Fiscal a quantidade de cimento e a quantidade de água que poderá
ser adicionada na obra considerando a água retida na central de concreto mais uma
estimativa de água perdida por evaporação.
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Figura 21: Gráfico de subida de concreto (volume real em relação ao teórico)

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Para aferir a homogeneidade do concreto fornecido devem-se moldar 4 corpos de prova de
cada caminhão recebido, rompendo-se 2 a 7 dias e 2 a 28 dias. Há que prefira romper 2 a 7 dias,
1 a 28 dias e deixar o 4º de testemunho para romper a 63 dias (critério que temos usado). Esse
controle já deve ser feito com os resultados a 7 dias para ver a consistência das resistências e,
caso contrário, “acender a luz amarela”.

d) Cargas normalmente utilizadas neste tipo de estacas

As cargas normalmente adotas neste tipo de estaca são apresentadas na Tabela 5 para os
estacões e na Tabela 3 para os barretes.

Tabela 3: Cargas nas estacas em função da tensão no concreto


(Espaçamento mínimo entre eixos = 2 Ø)
Ø Área I i Perím. Cargas (tf)
2 4 2
(cm) (m ) (m ) (cm) (cm) 40 kgf/cm 50 kgf/cm2 60 kgf/cm2
70 0,385 0,0118 18 220 154 192 231
80 0,502 0,0201 20 257 201 251 302
90 0,636 0,0322 23 283 255 318 382
100 0,785 0,0491 25 314 314 393 471
110 0,950 0,0719 28 346 380 475 570
120 1,131 0,1018 30 377 452 556 679
130 1,327 0,1402 33 408 531 664 797
140 1,539 0,1886 35 440 615 770 924
150 1,767 0,2485 38 471 706 883 1.061
160 2,010 0,3217 40 503 804 1.005 1.206
170 2,270 0,4100 42 534 908 1.135 1.362
180 2,545 0,5153 45 566 1.018 1.273 1.527
190 2,836 0,6397 47 597 1.135 1.418 1.702
200 3,142 0,7854 50 629 1.257 1.571 1.886

Tabela 4: Cargas nos barretes em função da tensão no concreto


Dimensões Área Perím. Cargas (tf)
(cm) (m2) (cm) 40 kgf/cm2 50 kgf/cm2 60 kgf/cm2
30x250 0,75 560 225 300 375
40x250 1,00 580 300 400 500
50x250 1,25 600 375 500 625
60x250 1,50 620 450 600 750
70x250 1,75 640 525 700 875
80x250 2,00 660 600 800 1.000
100x250 2,50 700 750 1.000 1.250
120x250 3,00 740 900 1.200 1.500
40x320 1,28 720 384 512 640
50x320 1,60 740 480 640 800
60x320 1,92 760 960 768 768
70x320 2,24 780 896 896 1.120

Na Figura 22 apresenta-se o detalhe da armadura das estacas escavadas circulares e na


Tabela 5 a quantidade de barras longitudinais (N1 = Φ 20 mm) e o comprimento dos estribos (N2
= Φ 6,3 mm e N3 = Φ 12,5 mm). Devem-se defasar as emendas dos estribos e, se possível, usar
pontos de solda para melhor enrijecer a armadura. Nas estacas de maior diâmetro prever
enrijecimento interno com estribos “quadrados” para evitar dificuldades na descida da tremonha.

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Figura 22: Detalhe típico da armadura de estacas escavadas

Tabela 5: Quantidade de barras longitudinais (N1) e comprimento l dos estribos (N2 = N3)
D 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 200
N1 8 10 12 14 16 18 20 22 23 26 28 30 34
l(cm) 220 265 295 330 360 360 425 455 490 520 550 585 650

Face ao processo executivo destas estacas, não há garantia de um perfeito contato da ponta
da estaca com o solo, pois não se pode garantir uma limpeza de fundo perfeita. Por isso a NBR
6122 (ora em revisão, porém ainda dependendo do consenso da comissão técnica) que a carga
de ruptura por atrito lateral (PL) seja, no mínimo, 1,25 vezes a carga de trabalho (P). Em outras
palavras, 0,8 PL = P PL = P/0,8 PL = 1,25P.

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2.3) Estacas Strauss

Estas estacas cujo método executivo é mostrado na Figura 23 também carece de controles
de capacidade de carga durante sua execução, pois não se medem as resistências do solo nem
é possível analisar o mesmo pois vem misturado com a lama dentro da “piteira”.

Figura 23: Método executivo de estacas Strauss

A execução consiste em se escavar o terreno com a instalação simultânea do tubo de


revestimento (tubos rosqueados com cerca de 2,50 m). A perfuração é feita com auxílio de uma
“piteira” que consiste em um tubo dotado de tampa móvel em sua parte inferior e dois orifícios
laterais (“janelas”) no topo.

A piteira é deixada cair dentro do tubo e quando bate no fundo da escavação e a lama ali
existente força a tampa para cima permitindo, assim, a entrada do solo, geralmente misturado com
água que é lançada na perfuração para que esse solo tome consistência de lama. Ao ser levantada
essa lama dentro da piteira empurra a tampa para baixo fechando-a. Essa lama é então retirada
de dentro da piteira levantando-se a mesma até a superfície do terreno e virando-a de cabeça
para baixo, de tal forma que a lama sai “pelas janelas”.

Atingida a profundidade desejada é lançada água no interior da tubulação para limpeza dos
tubos. Essa água é totalmente removida com uso da piteira. Após se “secar” a perfuração, lança-
se um “concreto seco” com cerca de 1 m de coluna que é apiloado por um pilão metálico maciço
com cerca de 300 kg para garantir a estanqueidade da perfuração e formar uma espécie de bulbo.
A seguir lança-se quantidades pré-fixadas de “concreto normal” com consumo mínimo de cimento
de 300 kg/m3 e slump-test da ordem de 8 cm a 12 cm que são apiloadas à medida que se remove
o tubo com uso do guincho, tomando-se o cuidado para que a ponta do mesmo esteja sempre
abaixo da cota do concreto para evitar os problemas mostrados em detalhe na figura 23.
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As cargas normalmente utilizadas neste tipo de estacas são as seguintes:

Tabela 6: Características das estacas Strauss


Diâmetro (cm) Carga normal Distâncias (cm)
Tubo estaca de trabalho (tf) entre eixos à divisa
22 25 20 75 15
27 32 30 90 20
32 38 40 110 25
42 45 50 a 65 130 30
52 55 80 a 90 150 35

Estas estacas quando sujeitas apenas a cargas de compressão não são armadas, sendo
colocados penas 4 ferros na cabeça, com cerca de 2 m de comprimento e “cravados manualmente”
um a um após o término da concretagem, cuja finalidade é apenas de ligação com o bloco de
coroamento.

Quando, porém, existem esforços de tração ou transversais (horizontais e momentos) a


estaca é armada para esses esforços, sendo recomendável, neste caso, adotar um diâmetro
mínimo de 32 cm.

2.4) Estacas tipo raiz

2.4.1) Informações relevante e método executivo

Quanto às estacas tipo raiz, também, se encontra uma deficiência no controle da capacidade
de carga durante a execução, pois também aqui, como se mostrou para as estacas Strauss, o solo
escavado vem totalmente desagregado e misturado com a água, durante a perfuração, conforme
se mostra no processo executivo (Figuras 24 e 25).

Figura 24: Fases executivas de estacas tipo raiz


18
Ao contrário das estacas Strauss estas estacas são sempre armadas e preenchidas com
argamassa de cimento e areia. A perfuração (sempre com revestimento total) tanto pode ser,
rotativa (com circulação de água), conforme Figura 25a, ou roto-percussiva (uso de ar
comprimido), conforme Figura 25b.

(a) uso de água (b) uso de ar comprimido


Figura 25: Vista da fase de perfuração de estaca tipo raiz

Durante o enchimento com argamassa, aplicam-se pressões com ar comprimido (ou usando
a própria bomba de injeção de argamassa) com baixas pressões (inferiores a 5 kg/cm2) que visam
apenas garantir a integridade da estaca.

Quando se necessita atravessar solos muito resistentes em que a sapata de perfuração


tenha dificuldade de cortar, pode-se utilizar o recurso de auxiliar essa perfuração com uso de
“tricone” e a seguir avançar com o tubo de revestimento até a cota de ponta da estaca (lembrar
que para a estaca ser considerada do tipo raiz deve ter revestimento integral em solo).

Quando a estaca raiz necessita atravessar matacões ou se embutir na rocha ela é executada
por processo roto-percussivo usando martelo de fundo (Foto 26a) tipo DHT (“down the hole”) com
consequente redução do diâmetro nesse trecho. Caso se use um “bit” excêntrico (Foto 26b) é
possível o recorte no matacão ou na rocha com o diâmetro igual ao externo do revestimento.

(a) martelo de fundo tipo DHT (“down the hole”) (b) “bit” excêntrico
Figura 26: Martelos de fundo para atravessar matacões ou embutimento em rocha.

É importante lembrar que para se promover perfuração em rocha há necessidade de


compressores que tenham capacidade adequada ao diâmetro a perfurar. No caso de estacas com
diâmetro igual ou inferior a 310 mm convém utilizar compressores com capacidade de 1.200 pés3
e pressão de 15 kgf/cm2 (garantindo pressão mínima no martelo de 10 kgf/cm2) e para estacas
com diâmetro de 400 a 450 mm compressores com capacidade de 1.400 pés3 e pressão de 25
kgf/cm2 (garantindo pressão mínima no martelo de 15 kgf/cm2).
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No passado executaram-se estacas raiz com revestimento parcial e continuação da
perfuração com uso de lama bentonítica, já que a NBR 6122:1996 o permitia. Exigia que após a
perfuração com lama bentonita esta fosse removida utilizando-se lavagem com água. Acontece
que ocorreram vários insucessos com este procedimento executivo, pois essa limpeza com água
nem sempre era bem-feita e, ao contrário das estacas escavadas, a força de arraste da
argamassa, é sensivelmente inferior à da concretagem submersa utilizando-se tubo tremonha e
concreto.

A argamassa das estacas raiz é injetada por tubo com pequeno diâmetro (geralmente com
diâmetro de 11/2”), portanto com baixa eficiência no arraste necessário da lama bentonítica na face
da parede da estaca com o solo. Daí porque a atual NBR 6122:2010 exige perfuração revestida
integralmente para se evitar uso de lama bentonita ou polímero.

Para diminuir, durante a perfuração, o atrito entre o revestimento e o solo é disposto, na


parte inferior do revestimento, uma ferramenta (sapata de perfuração), com diâmetro ligeiramente
maior ao do tubo. Os detritos resultantes da perfuração são carregadas para a superfície pela
água de perfuração (ou o ar comprimido quando o mesmo é usado na perfuração), que é obrigada
a retornar através do interstício anular que se forma entre o revestimento e o terreno. Portanto o
diâmetro acabado da estaca é sempre maior que o diâmetro externo do revestimento (Tabela 7).

Tabela 7: Tubos de revestimento de estacas raiz e diâmetro dos martelos de fundo DHT
Diâmetro da estaca (mm) 100(*) 120(*) 150 160 200 250 310 400 450
Diâmetro nominal do tubo (pol.) 1 1
3 3 /2 4 /2 5 6 8 10 14 16
Diâmetro externo do tubo (mm) 82 102 127 140 168 220 275 355 405
Peso aproximado do tubo (kg/m) 15 19 28 31 43 65 81 127 160
1 1 5 1
Diâmetro DHT (pol.) - - 3 /2 4 5 /8 7 /8 9 /8 12 14
Nota: (*) Não constam na NBR 6122:2010

Para promover a rotação do revestimento utilizam-se sistemas que operam mecânica ou


hidraulicamente, havendo, para tanto, uma gama ampla de tipos e porte de equipamentos,
desde os menores que podem trabalhar em locais com pé-direito reduzido (da ordem de 3
m) e espaços limitados até equipamentos mais robustos, geralmente sobre esteiras, equipados
com motores diesel de até 60HP e lança operada hidraulicamente permitindo realizar
perfurações verticais e inclinadas.

Para possibilitar a perfuração dos mais diversos materiais (alvenaria, concreto ou rocha)
podem-se utilizar sapatas de perfuração com pastilhas de carbonato de tungstênio (‘widia”) ou de
diamante ou então realizar a perfuração por roto-percussão com martelo de fundo (Figura 26),
acionados por ar comprimido. Na Tabela 7 apresentam-se as características principais dos tubos
de revestimento e os diâmetros dos martelos de fundo (DHT´s) em relação ao diâmetro final das
estacas.

No caso de “bits” excêntricos (Figura 26b) a perfuração em rocha ou em matacões é feita


com diâmetro que permite o avanço do revestimento. O uso deste tipo de “bit” é recomendado
quando se necessita atravessar, por exemplo, enrocamentos onde os martelos DHT tendem a
ficar presos por movimentação das pedras do enrocamento. Ao se utilizar “bits” excêntricos,
concomitantemente com o avanço do revestimento, este problema não mais existe, pois, o
revestimento impede que as pedras caiam sobre o martelo prendendo o mesmo.

2.4.2) Instalação da armadura

Após a perfuração atingir a cota de projeto continua-se a injetar água (ou ar comprimido)
sem avançar a perfuração para promover a limpeza do furo. A seguir instala-se a armadura (Figura
27), de seção constante ou variável, geralmente constituída por barras de aço montadas em

20
gaiolas. No caso de estacas de menor diâmetro (abaixo de 16 cm) costuma-se usar uma só barra
ou barras dispostas em feixes, dotadas de espaçadores.

Figura 27: Detalhes típicos de armaduras

Nas estacas trabalhando à compressão as emendas das barras podem ser feitas por
transpasse (devidamente fretado), porém nas estacas tracionadas as emendas devem ser feitas
por luvas prensadas ou luvas rosqueadas. Excepcionalmente as barras poderão ser emendadas
por solda desde que a mesma seja feita por soldador qualificado e as emendas sejam testadas.

2.4.3) Preenchimento com argamassa

Uma vez instalada a armadura é introduzido o tubo de injeção (geralmente de PVC com
diâmetro de 11/2 pol. ou 11/4 pol.) até o final da perfuração para proceder à injeção, de baixo para
cima, da argamassa até que a mesma extravase pela boca do revestimento, garantindo-se que a
água ou a lama de perfuração seja substituída pela argamassa. Esta é confeccionada em
misturador de alta turbulência para garantir a homogeneidade da mistura.

Para atender ao consumo mínimo de cimento estipulado pela NBR 6122:2010, ou seja, 600
kg/m3 utiliza-se o seguinte traço:
1 saco de 50 kgf de cimento
60 a 80 litros de areia média lavada e peneirada
20 a 25 litros de água (fator água cimento da ordem de 0,6)

Notas: 1) A NBR 6122:2010 exige 600 kgf de cimento por metro cúbico a fim de que a argamassa possa
ser bombeada. Testes feitos com consumo inferior a este têm fracassado.
2) O traço especificado pela NBR 6122:2010 confere à argamassa uma resistência característica
elevada e superior a 200kgf/cm2 (20 MPa). Entretanto a Norma limita o fck a 200 kgf/cm2 face
às condições de cura dessa argamassa dentro do terreno, portanto, em ambiente sem um
controle sobre a cura da mesma. Por esta razão o controle da argamassa na obra deve ser
realizado pelo consumo de cimento e não pela resistência característica.

À medida que se faz o preenchimento com argamassa, é rosqueado, na extremidade superior


do revestimento, um tampão metálico ligado a um compressor (ou à própria bomba de injeção da
argamassa) para permitir aplicar golpes de ar comprimido (com baixas pressões) durante a
extração do revestimento, operação que é auxiliada por macacos hidráulicos ou com uso do próprio
sistema hidráulico do equipamento (mais comum hoje em dia).

À medida que os tubos vão sendo extraídos o nível da argamassa vai abaixando necessitando
ser completada antes da aplicação de uma nova pressão sobre a mesma. Esta operação é repetida
várias vezes d u r a n t e a retirada do revestimento e, principalmente na região das emendas onde
existe o dobro das barras longitudinais e um menor espaçamento entre os estribos (fretagem).
21
2.4.4) Capacidade de carga estrutural à compressão (estacas totalmente enterradas)

A carga admissível estrutural à compressão das estacas raiz é fornecida pela resistência
estrutural dos materiais que as compõem. Esta carga é a máxima possível a adotar para a estaca,
devendo a carga admissível final ser calculada pelos métodos de transferência de carga para o solo
(cálculo geotécnico). Para este cálculo a NBR 6122:2010 separa as estacas em dois grupos:

1º grupo: estacas com percentagem de aço inferior a 6% e aço com fyk < 6.000 kgf/cm2
2º grupo: estacas com percentagem de aço superior a 6%.

O dimensionamento das estacas do 1º grupo é feito como pilar de concreto armado e no


segundo despreza-se a resistência da argamassa sendo toda a carga resistida pela armadura.

a) Estacas c/ percentagem de aço inferior a 6% e aço com fyk < 6.000 kgf/cm2 (600 MPa)

Neste caso o dimensionamento será feito como pilar de concreto armado considerando-se
para a seção transversal da argamassa (ou da calda) a área da seção transversal da estaca
reduzida da área da armadura.

A NBR 6122:2010 em seu item 9.2.2.2 impõe que em uma prova de carga a estaca deverá
resistir até duas vezes a carga de trabalho (P). Para evitar que nessa carga não ocorra ruptura
dos materiais que compõe a estaca deve-se esgotar apenas 95% das suas resistências. Com esta
hipótese, pode-se escrever:

2.P = 0,95(0,85. Ac . f ck + As . f yk )
em que:
Ac = área da seção da argamassa
As = área da seção de aço
P = carga máxima de compressão resistida pela estaca
fck = resistência característica da argamassa. A NBR 6122:2010 restringe esse valor a 200
kgf/cm2 (20 MPa) pelas razões já expostas acima.
fyk = resistência característica do aço.

Como nas estacas raiz a densidade de armadura é superior àquela que se utiliza em outros
tipos de estacas, a área da seção da argamassa será:

π .D 2
Ac = − As
4
sendo D é o diâmetro nominal da estaca

Tendo em vista as equações acima pode-se escrever:

2.P − 0,6.D 2 . f ck
As =
0,95. f yk − 0,765. f ck

Com base nesta expressão foi possível elaborar a Tabela 8 que apresenta a armadura
necessária para estacas raiz em função da carga nelas atuantes e sem ocorrência de flambagem.

22
Tabela 8: Cargas admissíveis à compressão em (tf) para estacas raiz, sem flambagem
Aço Diâmetro nominal das estacas (cm)
CA 50 A 10 12 15 16 20 25 31 40 45 50
1Φ16 mm 10
1Φ20 mm 15
4Φ12,5 mm 20 25
4Φ16 mm 30 35
4Φ20 mm 40 50 60 80 120
5Φ20 mm 55 70 90 130 150 180
6Φ20 mm 95 135 160 190
7Φ20 mm 100 140 170 200
Estribos c/20cm - - - - 5,0 6,3 6,3 6,3 6,3 6,3
Dest ≈ D-15 cm CA 25 CA 25 CA 25 CA 25 CA 25 CA 25
Notas:
1) As cargas indicadas na Tabela poderão ser as cargas de trabalho das estacas à compressão desde que seja
verificada a capacidade de carga na interação estaca-solo (capacidade de carga geotécnica). São, portanto,
cargas “máximas limites”.

2) Como nas estacas raiz as emendas são feitas na mesma seção (por questões executivas), deve-se “fretar”
a região da emenda alterando-se o espaçamento entre os estribos (ou espiral) para 10 cm ou até 7,5 cm.
Além disso, durante o lançamento da argamassa, quando esta estiver poucos centímetros acima do topo
da emenda deve-se proceder a aplicação de pressão (com ar comprimido ou com a própria bomba de
injeção) a fim de garantir eficiente envolvimento da armadura nessa região cuja densidade de aço é o dobro
do restante da estaca.

Quando se necessita emendar as barras esta emenda ocorre em uma única seção pois o
processo executivo das estacas raiz dificulta (e muito) o transpasse com defasagem das emendas.
Para calcular o comprimento de transpasse utiliza-se a NBR 6118:2013 conforme exemplo a
seguir:

α .Φ. f yd
NBR 6118:2003 l = 0,6 (itens 9.4.5.1 e 9.5.2.3)
4.η1 .η 2 .η 3 . f ctd

Exemplo: Estaca D = 31 cm armada com 8 Φ 20 Dest = 31-15 -2x0,63 ≈ 15 cm

Tabela 9.4 100% barras emendadas α=2

9.3.2.1 η1 = 2,25 e η3 = 1,0 pois Φ < 32 mm

9.4.1.1 atende cobrimento de 3 Φ = 3x2 = 6 cm OK!


πx15
não atende distância entre barras 3 Φ = 6 cm d= − 2 = 3,9 cm<6 cm
8
região de má aderência η2 = 0,7

fck = 200 kgf/cm2 = 20 MPa fctm = 0,3x202/3 = 1,1 MPa ou 11 kgf/cm2

fyd = 5.000/1.15 = 4.347 kgf/cm2

2 x 2 x 4.347
l = 0,6 = 150 cm
4 x 2,25 x1x 0,7 x11

23
b) Estacas c/ percentagem de aço superior a 6% e aço com fyk ≥ 6.000 kgf/cm2 (600 MPa)

Neste caso despreza-se a contribuição da capacidade de carga da argamassa (ou da nata)


sendo toda carga resistida pela armadura, analogamente ao cálculo de uma estaca metálica,
inclusive descontando-se 1mm do perímetro da armadura para levar em conta o efeito da corrosão.
2.P
2.P = 0,95. As ,útil . f yk As ,útil =
0,95. f yk

Na expressão acima As,útil é a área útil da armadura obtida descontando-se do perímetro em


contato com o solo 1 mm de espessura.

c) Capacidade de carga estrutural à tração

Nas estacas raiz tracionadas toda a carga deverá ser resistida pela armadura. Neste caso
deve-se desprezar 1 mm da espessura da armadura em contato com o solo. Na Tabela 9
apresenta-se o diâmetro útil da barra igual ao diâmetro nominal descontado 2 mm e a área útil
decorrente da corrosão. Estes valores só se aplicam em solos não agressivos ao aço (método
simplificado da NBR 6122:2010). Onde não se possa utilizar esse cálculo simplificado de corrosão
(solos agressivos ou estacas acima do nível do terreno) deve-se seguir o critério de cálculo
exposto na NBR 6118:2003.

Tabela 9: Área útil das barras de aço para as estacas raiz tracionadas
Φ (mm) 12,5 16 20 25 32
Φútil (mm) 10,5 14 18 23 30
2
As,útil (cm ) 0,87 1,54 2,54 4,15 7,07

Tabela 10: Armadura necessária (número de barras) em estacas tracionadas com carga T
Carga Aço CA 50 A (Φ em mm) DYWIDAG(St85/105) INCOTEP
T (tf) Φ12,5 Φ16 Φ20 Φ25 Φ32 T (tf) Φ(mm) T (tf) Tipo
5 3 1 8 15 20 22D
10 5 2 1 34 32 35 35D
15 8 3 1 43 36 43 45D
20 6 2 51 50D
25 7 4 GEWI(50/55) 60 60D
30 9 6 3 2 T (tf) Φ(mm) 70 70D
35 14 25 85 90D
40 8 4 3 21 32 100 100D
60 6 4 50 50
70 7 5
100 7

Cabe lembrar que estacas somente tracionadas (sem esforço horizontal) dispensam
estribos, podendo a armadura ser constituída apenas de barras isoladas.

Conforme já exposto acima as emendas devem ser feitas, preferencialmente, por luvas
prensadas (caso de barras CA 50A) ou luvas rosqueadas (DYWIDAG ou INCOTEP). Não se
recomenda fazer emendas por solda, pois essas emendas seriam feitas na obra e sem controle.
O mesmo se aplica às emendas de topo. Esses procedimentos somente poderão ser aceitos se
existir soldadores qualificados e se realizarem ensaios de tração para validar a qualidade da
emenda.

Outro aspecto importante é que a carga de tração varia desde um máximo T (na cota de
arrasamento da estaca) até zero (na cota de ponta). Por esta razão a seção de aço poderá diminuir
com a profundidade, em função da transferência de carga para o solo, por atrito lateral.

24
Entretanto quando a estaca tem comprimento maior do que o necessário para transferir a
carga de tração para o solo, não há necessidade de se armar a mesma em todo comprimento.

A seguir comprimento de ancoragem de barra DYWIDAG St 85/105 (Φ = 32 mm)

α .Φ. f yd
l= (item 9.4.5.1 e 9.5.2.3)
4.η1 .η 2 .η 3 . f ctd
700 cm
Tabela 9.4 100% barras emendadas α =2

9.3.2.1 η1 =2,25 e η3 = 1,0, pois Φ ≤ 32 mm

9.4.1.1 região de má aderência η3 = 0,7

fck =200 kgf/cm2 =20 MPa f ctm = 0,3.3 fck 2 =2,2 MPa fctd = 2,2/2 = 1,1 MPa ou 11 kgf/cm2

fyk = 8.500/1,15 = 7.390 kgf/cm2

2 x3,2 x7.390
l= ≈ 700 cm
4 x 2,25 x1x0,7 x11

Nota: Se a barra fosse comprimida o comprimento seria 0,6x700 = 420 cm

Tabela 11 - Características relevantes das estacas raiz


Diâmetro nominal da estaca (cm) 10 12 15 16 20 25 31 40 50
Área de concreto (cm2) 79 113 177 201 314 491 755 1.257 1.963
Momento de inércia (cm4) 491 1.018 2.485 3.217 7.854 19.175 45.333 125.663 306.796
Perímetro (cm) 31 38 47 50 63 79 98 126 157
Distância entre eixos (*) (cm) 60 60 60 60 60 75 95 120 150
Distância à divisa (cm) Dependente do tipo de equipamento
(*) Embora a NBR 6122:2010 não fixe distância mínima entre estacas é comum nas estacas raiz se adotar um
espaçamento mínimo de 3 diâmetros, e não inferior a 60 cm.

2.5) Estacas pré-moldadas de concreto

2.5.1) Generalidades
Estas estacas são confeccionadas com concreto armado ou protendido, com fck mínimo de
40 MPa (400 kgf/cm2) e permitem, durante sua execução, um grande número de medidas que
visam controlar e garantir seu desempenho. Esse controle é feito, via de regra, pelo diagrama de
cravação (onde se mede o número de golpes necessário à cravação de cada 50 cm da estaca
com o pilão caindo de altura constante). Este diagrama permite aferir a qualidade das sondagens,
pois o mesmo deverá estar em consonância com os SPT´s. Utilizam-se também a nega, o repique
e os ensaios dinâmicos conforme se exporá a seguir.
As estacas pré-moldadas podem ser associadas com outros materiais (madeira, aço,
estacas raiz, etc) formando as denominadas estacas mistas conforme definição da NBR 6122 e
apresentado nas Figuras 28 e 29. No primeiro caso (Figura 28b) o segmento metálico tem por
finalidade permitir a cravação de um comprimento significativo da estaca em solos de alta
resistência sem provocar o fenômeno de levantamento decorrente da cravação de estacas
próximas. Também é usado em obras marítimas onde a estaca deve atingir profundidades
significativas sem quebrar e permitir capacidade de carga da estaca após a dragagem.

25
Figura 28: Exemplo de estacas mistas

Na Figura 29 o segmento metálico tem por finalidade permitir que a estaca possa ser cravada
até atingir a rocha (após passar por solo de alteração) sem romper o segmento de concreto pois
o perfil metálico é um material mais dúctil do que o concreto. Entretanto quando a superfície da
rocha é muito inclinada esta solução não é adequada pois o perfil ao atingir a rocha pode
escorregar quebrando a estaca por flexão. Uma solução frequentemente utilizada, neste caso, se
a estaca de concreto for vazada é se executar uma estaca raiz embutida na rocha como se mostra
esquematicamente na Figura 28d.

Figura 29: estacas mistas com segmento metálico para “apoio efetivo” em rocha

Quando as estacas pré-moldada de concreto necessitam emendas, estas devem ser


projetadas e executadas de modo a impedir a separação entre os elementos emendados bem
como manter o alinhamento da estaca e suportar as cargas que ocorrem durante a cravação e o
trabalho da estaca, caso seja submetida a outros esforços que não só de compressão. Por esta
razão raramente se utilizam emendadas por luvas (hoje restrito a obras de pouca
responsabilidade) mas sim emendas por solda em anéis metálicos solidários à armadura das
estacas, conforme se mostra na Figura 30.

26
Figura 30: Detalhes do anel metálico solidário à armadura da estaca e emenda por solda

É importante atentar para o detalhe da armadura soldada ao anel de aço (“cabeleira”)


mostrado na Figura 31 a fim de evitar esmagamento do concreto imediatamente abaixo do anel
metálico (cravação do anel na própria estaca).

Figura 31: Detalhe da emenda da “cabeleira” ao anel de aço

2.5.2) Adensamento do concreto

O adensamento do concreto das estacas pode ser por centrifugação (hoje em dia menos
utilizado) ou por vibração, este de uso mais frequente inclusive utilizando-se concreto auto
adensável.

a) Adensamento por centrifugação

O adensamento por centrifugação é obtido lançando-se o concreto, regularmente distribuído


ao longo de uma fôrma metálica cilíndrica, no interior da qual já se encontra posicionada a
armadura. Esta fôrma a seguir é depositada sobre roletes que giram a velocidade constante, (500
a 660 rpm) como se mostra na Figura 32.
27
Foto 32: Vista de uma centrífuga para confecção de estacas

Devido à alta velocidade de giro da fôrma, o concreto em seu interior fica submetido a uma
força centrífuga que faz com que o mesmo seja uniformemente distribuído ao longo da face interna
da forma, obtendo-se uma estaca circular, com seção vazada. A força centrífuga, por unidade de
volume, é obtida pela expressão:

m. v 2 γ c v
2

fc = = .
R g R
em que fc é a força, por unidade de volume, que o concreto exerce sobre a face interna
da forma, γc é o peso específico do concreto (2,2 tf/m3), g é a aceleração da gravidade (≅10 m/s2),
v é a velocidade tangencial decorrente da rotação e R é o raio interno da forma.

Por exemplo, o concreto dentro de uma fôrma com 60 cm de diâmetro girando a 600 rpm
fica submetido a uma força centrífuga (por unidade de volume da massa em rotação) de cerca de
120 vezes o seu peso específico, conforme se mostra a seguir.

2. π .0,30
v = 600. ≅ 19m / s e
60
2,2 19 2
fc = . ≅ 265 tf/m3
10 0,30

ou seja fc/γc = 265/2,2 ≅ 120

O processo de centrifugação ordena os agregados conforme sua densidade. O cimento, a


brita e a areia, cujas densidades são próximas, tendem para a face de contato com a fôrma, ou
seja, para a face externa da estaca. Ao contrário, os materiais finos (gesso, escória leve, cinzas,
etc) e a água, por possuírem menor densidade tendem para a parte interna da peça. É por essa
razão que neste processo deve-se controlar o tempo de rotação para evitar a separação pura e
simples dos materiais. Além disso, as firmas que executam este processo não recomendam o uso
de cimento de escória de alto forno, pois as paredes da estaca costumam sofrer “queda” ao final
da centrifugação, devido ao maior tempo de pega deste tipo de cimento.
28
b) Adensamento por vibração

Em geral o processo de vibração é obtido através da introdução de uma “agulha vibratória”


diretamente na massa de concreto ou através da fixação de um ou mais vibradores às formas.
Hoje em dia também se utiliza concreto auto adensável que dispensa o uso de vibradores.

2.5.3) Cura do concreto

A cura do concreto pode ser feita normalmente (usando-se cimento ARI) ou a vapor. Cabe
lembrar que a cura a vapor só acelera o ganho de resistência nas primeiras horas, mas não diminui
o tempo total necessário para que o concreto atinja a resistência final. Por isso as estacas devem
permanecer no estoque por um período que independe de serem ou não inicialmente curadas a
vapor.

Neste processo de cura utiliza-se vapor de água em temperatura variando de 50 a 90oC e o


mesmo é bastante usado comercialmente pois permite acelerar o endurecimento do concreto
permitindo a desforma das estacas em menor tempo.

É importante lembrar que existe a necessidade de manter-se inicialmente (antes da


aplicação do vapor) um período inicial de espera (cerca de 1 a 2 horas) para permitir a cristalização
dos cristais responsáveis pela resistência da pasta. Após esse tempo de espera a temperatura do
vapor é elevada até 70 a 80o C que é mantida por cerca de 3 horas e a seguir diminuída
gradativamente até a temperatura natural como se mostra na Figura 33.

Figura 33: Diagrama típico de um ciclo de cura térmica a vapor

2.5.4) Seções transversais

As seções transversais mais comumente empregadas para as estacas pré-moldadas de


concreto são a circular (maciça ou vazada), a quadrada, a hexagonal e a octogonal. Também
existe a estaca tipo “estrela” fabricada pela Foá.

No cálculo da armadura deve-se majorar em 30% o valor dos momentos máximos


decorrentes do manuseio e transporte a fim de levar em conta eventuais choques que ocorrem
nessas operações. Além disso, os estribos devem possuir menor espaçamento nas regiões da
cabeça e da ponta da estaca, locais onde há maior concentração de tensões durante a cravação.

29
A carga máxima estrutural das estacas pré-moldadas é comumente indicada nos catálogos
técnicos das empresas fabricantes. Alguns exemplos são apresentados nas Tabelas 12 a 15.

Tabela 12: Cargas em estacas de seção quadrada (maciças)

Tabela 13: Cargas em estacas de seção circular (vazadas)

30
Tabela 14: Cargas em estacas de seção circular centrifugadas

Tabela 15: Cargas em estacas de seção “estrela”

Nota: As cargas indicadas nas Tabelas 12 a 15 correspondem à resistência estrutural. A carga


admissível deverá ser fixada após a análise do perfil geotécnico e a cravabilidade. É o
denominado cálculo geotécnico ou “interação estaca-solo”.

2.5.5) Fissuras e trincas em estacas

Um problema que frequentemente ocorre nas estacas pré-moldadas de concreto,


principalmente se as mesmas forem vazadas e não protendidas, diz respeito às fissuras (aberturas
inferiores a 1mm) e às trincas (abertura superior a 1 mm) bem como aos critérios que devem ser
adotados para aceitar ou rejeitar essas estacas. Como a NBR 6122 não aborda este assunto, volta
e meia surgem discussões entre o proprietário, o projetista e o fornecedor de estacas, que por
falta de limites normalizados, são de difícil consenso.

Para suprir esta lacuna, pode-se adotar a classificação e os limites a seguir indicados, para
as estacas total e permanentemente enterradas:

31
Classe 1: Fissuras transversais, isto é aquelas que apresentam abertura máxima de 1mm em
plano transversal ao eixo da peça. Neste caso, segundo o anexo da NBR 7480 (antiga
EB3), a fissuração não é nociva quando as fissuras (ou pelo menos 85% delas) não
ultrapassam os valores:
a) 0,3 mm para estruturas protegidas com revestimento;
b) 0,2 mm para estruturas expostas em meio não agressivo;
c) 0,1 mm para estruturas expostas em meio agressivo.
Assim, se as fissuras estiverem dentro destas faixas, nenhuma providência especial
precisa ser tomada. Quando as fissuras ultrapassam estes valores, porém não atingem
1 mm, a estaca deverá ser marcada, riscando-se com lápis de cera especial junto às
fissuras para identificação das mesmas.
Estas estacas deverão ser cuidadosamente acompanhadas durante seu içamento e
aprumo junto ao bate-estacas, após o que novo exame deverá se efetuado junto às
marcas de lápis.
Caso as fissuras tenham-se fechado até os limites acima mencionados, indicando que
a armadura longitudinal não ultrapassou o estado elástico, a estaca será cravada
normalmente. Em caso contrário a estaca deverá ser rejeitada.

Caso 2: Fissuras longitudinais, isto é, aquelas que apresentam abertura máxima de 1 mm


paralelamente ao eixo longitudinal da peça. Este tipo de fissura, relativamente rara, é
suficiente para rejeitar a estaca.

Caso 3: Trincas transversais, isto é aquelas que apresentam abertura superior a 1 mm em plano
transversal ao eixo da peça são prenúncio de que a armadura longitudinal superou o
estado elástico e a estaca deverá ser rejeitada.

Caso 4: Trincas longitudinais deverão ser tratadas da mesma forma que o caso 2.

Caso 5: Desagregações isto é, pequenas partes superficiais da peça que se soltam por motivos
diversos, geralmente golpes e batidass acidentais. Neste caso a estaca deve ser
recuperada na região da área afetada.

Caso 6: Ruptura no corpo da estaca: se a ruptura ocorrer na descarga ou durante o içamento e


for justificável economicamente, a estaca poderá ser recuperada. Se a ruptura ocorrer
durante a cravação deverá ser analisada a causa e, dependendo desta e da
profundidade onde ocorreu a ruptura, a estaca poderá ser extraída, abandonada ou
cortada e recuperada para a continuação da cravação.

Caso 7: Esmagamento da cabeça da estaca caso semelhante ao de nº 6, podendo ser causado


por folgas do capacete, deficiência do “coxim” ou decorrente de uma cravação forçada.
São válidas as recomendações do caso anterior.

2.5.6) Sistemas de cravação e controles

Normalmente as estacas pré-moldadas são cravadas por percussão usando-se martelos de


queda livre ou martelos automáticos (diesel e hidráulicos). Para amortecer os golpes do pilão e
uniformizar as tensões por ele aplicadas à estaca, instala-se no topo desta um capacete dotado
de “cepo” e “coxim”, conforme se mostra na Figura 34.

32
Figura 34: Detalhe do capacete

Quando a cravação for feita utilizando-se pilões de queda livre estes deverão ter um peso
mínimo de 70% do peso da estaca. Quando esta relação conduzir a pilões muito pesados, pode-
se recorrer a estudos de cravabilidade baseadas na teoria da equação da onda. Na Tabela 16
apresentam-se os pesos dos pilões normalmente utilizados entre nós.

Tabela 16: Pesos recomendados para os pilões na cravação de estacas pré-moldadas

33
Quando a cota de arrasamento das estacas estiver abaixo da cota de cravação, pode-se
utilizar um elemento suplementar, geralmente metálico, denominado prolonga ou suplemento,
desligado da estaca propriamente dita, que será retirado após a cravação (Figura 35). A não ser
que se usem dispositivos especiais, devidamente comprovados e que garantam o posicionamento
da estaca até as profundidades de projeto sem redução da eficiência da cravação, a profundidade
do suplemento está limitado a 2,5 metros abaixo da cota de cravação.

Figura 35: Cravação com suplemento metálico

Durante a cravação das estacas deve-se proceder aos controles de campo, verificando-se
as profundidades atingidas e comparando-as com as previstas. Também se deve verificar se
ocorre o fenômeno de relaxação (perda de capacidade de carga com o tempo após a cravação),
de cicatrização (aumento de capacidade de carga com o tempo após a cravação) e do
levantamento de estacas vizinhas durante a cravação de estacas próximas. Caso se constate o
fenômeno de relaxação ou de levantamento deve-se proceder a recravação das estacas
comprometidas e, neste caso, as emendas das mesmas deverão ser, obrigatoriamente por solda,
para evitar separação dos elementos emendados. Para esses controles de campo usam-se os
gráficos de cravação (contagem do número de golpes do pilão caindo de altura constante
necessários para cravar cada 50 ou 100 cm da estaca), as negas, os repiques, os ensaios de
carregamento dinâmico e as provas de carga estáticas.

a) Controle pela nega

Apesar das críticas às formulas das negas, as mesmas têm uma aplicação no controle da
uniformidade do estaqueamento quando se procura manter, durante a cravação, negas
aproximadamente iguais para as estacas com carga e comprimentos iguais. Entre as várias
fórmulas de nega serão apresentadas as duas mais divulgadas, respectivamente de Brix e a dos
holandeses:

4.W 2 .P.h
Fórmula de Brix s=
R.(W + P )
2 que adotando um fator de correlação 20 se escreve:

4.W 2 .P.h W 2 .P.h W 2 .P.h


s= ou s= ou, ainda Padm =
20.Padm (W + P ) 5.Padm (W + P ) 5.s.(W + P )
2 2 2

34
W 2 .h
Fórmula dos holandeses s =
R.(W + P )
que adotando um fator de correlação 10 se escreve:

W 2 .h W 2 .h
s= ou ainda Padm =
10 Padm (W + P ) 10.s.(W + P )

Nessas fórmulas, P representa o peso da estaca, W o peso do pilão, h a altura de queda do


pilão, s a nega e R a resistência oposta pelo solo à cravação da estaca.

Cabe ressaltar que as fórmulas de nega foram estabelecidas a partir da teoria de choque de
Newton que só se aplica a corpos rígidos, ou seja, quando a aplicação do golpe impõe movimento
instantâneo da extremidade oposta ao golpe (ponta da estaca). Isso vale para estudo de
movimento de bolas de bilhar mas está muito longe do fenômeno da cravação de uma estaca à
medida que a mesma se torna mais esbelta. É por esta razão que os resultados obtidos são muito
dispersos o que obriga a se adotar fatores de correlação tão elevados (10 a 20). Por esta razão,
hoje em dia, essas fórmulas são utilizadas apenas para o controle da uniformidade do
estaqueamento e não para definir capacidade de carga das estacas. O controle pelo repique
elástico oferece menos dispersão nos resultados e costuma ser um dos elementos de controle de
campo na estimativa da capacidade de carga das estacas cravadas.

As estacas pré-moldadas permitem reaproveitar elementos que sobram durante a cravação,


desde que tenham um comprimento mínimo de 3 m, pois comprimentos menores são mais difíceis
de mantê-los alinhas com as estacas onde serão emendados. Na Figura 36 mostra-se o
procedimento para esse aproveitamento de sobras de estacas.

Figura 36: Procedimento correto para se aproveitar sobra de estacas

35
b) Controle pelo repique

O repique corresponde à parcela do encurtamento máximo de uma seção da estaca,


decorrente da aplicação de um golpe do pilão. Este valor é obtido através de registro gráfico em folha
de papel fixada na seção considerada da estaca, movendo-se um lápis, apoiado em uma régua fixa, lenta
e continuamente durante os golpes do pilão (Figura 37).

Figura 37: Procedimento para se obter o repique

O repique, mostrado no detalhe A da Figura 37, é composto de duas parcelas.

K = C2 + C3

em que, C2 é o encurtamento elástico do fuste da estaca e C3 é o encurtamento elástico do solo


sob sua ponta. Em primeira aproximação pode-se adotar C3 ≈ S (nega para 1 golpe).

Assim, pode-se obter:

C2 = K - C3 = K – S

Lembrando que C2 corresponde ao encurtamento elástico do fuste da estaca, submetida ao


diagrama de carga axial Ni mostrado na Figura 38. Esse diagrama é obtido descontando-se da
carga P, aplicada ao topo da estaca a carga transferida, por atrito lateral, ao solo. Esta carga lateral
transferida ao solo é prevista, durante a fase de projeto, utilizando-se métodos semi-empíricos de
previsão de capacidade de carga.

Figura 38: Cargas axiais Ni ao longo da estaca


36
Vê-se pela Figura 38 que se a estaca trabalha só de ponta o diagrama Ni é constante e igual
a P ao longo da estaca (transferência de carga nula pelo fuste ao solo). Neste caso tem-se:
P. l
C2( calculado ) =
A. E i
Ao contrário, se a estaca trabalha só por atrito, o diagrama de Ni é aproximadamente
triangular decrescente sendo P no topo da estaca e zero no pé da mesma (carga de ponta igual a
zero). Neste caso tem-se:
1 P. l
C2 ( calculado ) = .
2 A. E i

Vê-se, portanto, que para os casos normais em que a estaca trabalha por ponta + atrito
lateral, o valor de C2 varia de (0,5 a 1)Pl/AE, podendo-se adotar, na fase de projeto, um valor
intermediário, ou seja:
0,7. P. l
C2 ( calculado ) =
A. E
A expressão acima tanto permite comparar o valor de C2 calculado com o medido no campo,
como também permite, a partir do valor medido, obter a carga esperada para a estaca na
profundidade onde se mede o repique, ou seja conhecido C2, obtém-se:

C2 . A. E
P=
0,7. l

c) Controle pelo Ensaio de Carregamento Dinâmico

Outro controle de campo muito usado nas estacas pré-moldadas é o ensaio de carregamento
dinâmico (Figura 39), também conhecido como ensaio PDA = Pile Driving Analyser. Este ensaio é
calcado na equação de Smith (1960).

Foto 39: Aquisição de dados no ensaio PDA

37
O ensaio é regido pela norma NBR 13208 e consiste em acoplar à estaca um par de
transdutores de deformação específica e um par de acelerômetros, posicionados diametralmente
para compensar eventuais efeitos de flexão devidos aos golpes do pilão sobre a estaca. Esses
instrumentos estão conectados ao analisador PDA (Pile Driving Analyse). Trata-se de um circuito
eletrônico especial que processa uma série de cálculos “on line” durante cada golpe do pilão.

Os sinais da aceleração e da deformação específica são processados como dados de


entrada fornecendo, à saída, sinais de velocidade (integração da aceleração registrada nos
acelerômetros) e de força (decorrente da lei de Hooke ao sinal de deformação específica,
registrada nos transdutores). Um sinal típico é apresentado na Figura 40.

Figura 40: Sinal típico do ensaio PDA

Para se estimar a carga mobilizada costuma-se utilizar dois métodos: CASE (geralmente
durante o ensaio no campo) e o CAPWAP (ou, mais recentemente, o CAPWAPC) realizado no
escritório, que permite obter a carga mobilizada bem como sua distribuição ao longo do fuste e
sob a ponta da estaca, como se apresenta na Figura 41.

Figura 41: Análise da capacidade de carga mobilizada utilizando-se o método CAPWAP

Nota: Para as estacas com diâmetro superior a 80 cm devem ser usados 6 transdutores (2
acelerômetros e 4 medidores de deformação específica.
38
d) Manuseio de estacas

Para se reduzir a armadura das estacas devido aos esforços que ocorrem durante a
operação de manuseio e levantamento, além da redução do peso próprio da mesma, quando esta
for longa, costuma-se utilizar seção vazada e devem-se selecionar pontos para levantá-la. No caso
do levantamento ser por um ou por dois pontos procura-se obter igualdade de módulo de
momentos fletores (Figura 42). Nestes casos, sendo p o peso por metro de estaca, tem-se:

d.1) Levantamento por um ponto (Figura 42a).

2
p.x 2 p.l 2  l 
=  − x
2 2(l − x )  2 
onde o primeiro membro representa o momento negativo no ponto de suspensão e o segundo
membro o momento positivo máximo no vão entre o ponto de suspensão e a ponta da estaca que
toca o solo.
x
= 0,29
l
x 1
ou aproximadamente ≅ , donde se denominar “levantamento pelo terço”.
l 3

d.2) Levantamento por dois pontos (Figura 42b)

Analogamente ao caso anterior pode-se escrever:

p.x 2  (1 − 2.x )2 x 2  x x 1
= p. −  onde = 0,207 ou ≅
2  8 2 l l 5
o que justifica dizer-se “levantamento pelos quintos”.

Figura 42: Levantamento de estacas pré-moldadas por um e por dois pontos

39
Na Figura 43 resumem-se a posição dos pontos de levantamento de estacas por 3, 4 e 5
pontos. Ao contrário do levantamento por 1 e 2 pontos (onde se procurou ter momentos fletores
com módulos iguais), nestes outros casos, esses pontos são escolhidos de modo a se obter a
mesma carga por ponto. Na Figura 44 mostra-se uma estaca mista com 52 m de comprimento (42
m em concreto vazado e 10 m em tubo metálico) sendo levantada por 4 pontos.

Figura 43: Locação de pontos de içamento com cargas de reação iguais

Figura 44: Estaca mista com 52 m sendo içada por quatro pontos
40
2.6) Estacas metálicas

Estas estacas, analogamente às pré-moldadas, tem os mesmos controles de campo e,


portanto, são um tipo de estaca com controle abrangente durante sua instalação.
Estas estacas são constituídas por peças de aço laminado ou soldado tais como perfis de
seção I e H, chapas dobradas de seção circular (estacas tubulares), quadrada e retangular bem
como os trilhos (novos ou usados)

2.6.1) Espessura mínima das chapas de estacas tubulares

Quando se usam estacas tubulares, aço ASTM A-36 (fyk = 2.400 kgf/cm2 = 240 MPa)
cravadas à percussão há necessidade de dotá-las de uma espessura mínima para evitar danos
(Figura 45). Essa espessura da chapa deve ser:
D
e ≥ 6,35 +
30
Nesta expressão “e” é obtido em mm para D (diâmetro do tubo) expresso em cm.

Figura 45: Danos na cabeça de estacas tubulares (“sanfonamento”) devido espessura


inadequada da chapa e/ou de cravação excessiva

Outra situação onde pode ocorrer “sanfonamento” de estacas metálicas ocorre quando se
usam, na sua cravação martelos automáticos e o projetista exige “nega apertada”. Como já se
expôs acima a nega não deve ser usada para controle da capacidade de carga. Para tal deve-se
utilizar o repique ou os ensaios de carregamento dinâmico, como já foi exposto para as estacas
pré-moldadas. Por isso, hoje em dia, as negas são empregadas, não mais para avaliar a
capacidade de carga das estacas, mas para o controle da homogeneidade do estaqueamento.

Entretanto alguns projetistas ainda quererem controlar a capacidade de carga pela nega, o
que tem provocado muita discussão quando se exige negas “muito fechadas”. Esse procedimento,
vem do “vicio antigo” quando a cravação era realizada com martelos de queda livre que permitiam
obter essas negas fechadas sem qualquer problema para esse tipo de martelos. Entretanto com
o advento dos martelos automáticos esta exigência não mais se sustenta, inclusive com o apoio
da NBR 6122:2010 que no item C.3 do Anexo C expõe: No uso de martelos automáticos ou
vibratórios, deve-se seguir as recomendações dos fabricantes.

Nossa experiência com esse tipo de martelos mostrou que negas inferiores a 2mm/golpe
são inaceitáveis para os martelos automáticos, pois estas negas “fechadas” causam danos a
esses martelos. Já assistimos a uma perda total de um martelo automático, em uma obra em
Santos, quando o projetista exigia negas próximas de zero, apesar dos ensaios dinâmicos
mostrarem que com negas próximas de 2 mm/golpe as estacas já apresentavam a capacidade de
carga exigida no projeto.
41
Não se pode esquecer que além de se impor “desgaste” e eventual perda do martelo, há
ainda o risco de inutilizar a estaca por “sanfonamento” devido à alta energia a ela imposta,
conforme se mostrou nas Figuras 45 e 46.

Figura 46: Sanfonamento em estaca metálica com exigência de “nega fechada”

2.6.2) Capacidade de carga estrutural

Um aspecto importante quando se usam trilhos usados (ou de maneira mais geral “peças
reutilizadas é que a norma NBR 6122:2010 só permite que sejam utilizadas como estacas se a
perda de massa for no máximo 20% do valor nominal da peça nova. Além disso, ao contrário de
peças novas, onde se permite usar como tensão estrutural admissível 0,5 fyk, nas peças
reutilizadas esse valor não pode ser superior a 0,3 fyk.

Tabela 17: Cargas máximas em perfis da CSN e em trilhos


Tipo de perfil Denominação Área Perímetro Peso Padm máxima
(cm2) (cm) (kg/m) (tf)
Perfis H 6”x 6” 47,3 91 37,1 40
Laminados I 8”x 4” 34,8 81 27,3 30
C.S.N. I 10”x 45/8” 48,1 98 37,7 40
(1a alma) I 12”x 51/4’ 77,3 114 60,6 70
TR 25 31,5 50 24,7 25 (20)
TR 32 40,8 57 32,1 35 (25)
Trilhos TR 37 47,3 61 37,1 40 (30)
C.S.N. TR 45 56,9 67 44,7 45 (35)
TR 50 64,2 71 50,4 55 (40)
TR 57 72,5 75 56,9 60 (45)
Nota: Entre parêntesis cargas para trilhos usados e com perda de massa inferior a 20%

42
Tabela 18: Cargas máximas de algumas estacas tubulares (aço ASTM A 36)
D E Peso (kg) Aútil Padm(estrutural)
(cm) (mm/pol) chapa(kgf/m2) estaca(kg/m) (cm2) (tf)
60 8 (5/16”) 63 120 132 150
70 10 (3/8”) 80 176 198 235
80 10 (3/8”) 80 201 226 270
90 10 (3/8”) 80 226 255 300
100 10 (3/8”) 80 246 283 340
110 12 (1/2”) 100 346 380 450
120 12 (1/2”) 100 377 415 500
Aútil = Atotal – área correspondente à redução de 1 mm externo (corrosão em solos naturais)

Tabela 19: Resistências mecânicas de algumas estacas tubulares (aço ASTM A 36)
D e Dm I W
(cm) (cm) (cm) (cm4) (cm3)
60 0,8 59,2 65.180 2.173
70 1,0 69 129.005 3.686
80 1,0 79 193.616 4.840
90 1,0 89 276.841 6.152
100 1,0 99 381.036 7.621
110 1,2 108,8 606.915 11.035
120 1,2 118,8 790.115 13.169

Hoje se dispõe no mercado de perfis laminados da GERDAU confeccionados em aço de alta


resistência (ASTM A 572 Grau 50). Como o catálogo técnico dessa empresa se encontra
amplamente disponível deixamos (por questão de espaço) de incluí-las neste capítulo.

2.6.3) Corrosão

Hoje em dia o problema da corrosão das estacas metálicas, quando as mesmas


permanecem total e permanentemente enterradas em solos naturais, está bem equacionado, isto
porque a quantidade de oxigênio que ocorre nos solos naturais é tão pequena que a reação
química tão logo começa já esgota completamente este componente responsável pela corrosão.

Na Figura 47 mostram-se estacas metálicas constituídas por duplo I 10”x45/8” da CSN que
serviram de fundação à ponte na Rua Wandenkolk sobre o rio Tamanduateí, afluente do Rio Tietê,
em São Paulo, por mais de 20 anos e que foram removidas quando do alargamento desse rio. A
separação entre o trecho acima e abaixo do nível de água está destacada nessas fotos.

Figura 47: Estacas metálicas com mais de 20 anos em uso (margens do rio Tamanduateí)
43
Verifica-se, por essas fotos que no trecho enterrado a corrosão não ocorreu. Entretanto, a
favor da segurança, a NBR 6122:2010 exige que nas estacas metálicas enterradas,
independentemente da posição do nível de água, dispensam tratamento especial desde que seja
descontada uma espessura mostrada na Tabela 20 da superfície em contato com o solo resultando
uma área útil menos que a real (Figura 48).

Figura 48: Área útil de estacas metálicas totalmente enterradas

Tabela 20: Espessura de compensação de corrosão segundo a NBR 6122:2010


CLASSE Espessura de sacrifício (mm)
Solos em estado natural e aterros controlados 1,0
Argila orgânica; solos porosos não saturados 1,5
Turfa 3,0
Aterros não controlados 2,0
Solos contaminados a 3,2
a
Caso de solos agressivos devem ser estudados especificamente

O Eurocode 3: Design of Steel Structures (parte 5) trata do assunto através de duas Tabelas
que estão transcritas nas Tabelas 21 (estacas em solo) e 16 (estacas em água limpa e água do
mar). Para este último caso apresenta o exposto na Figura 22.

O conceito apresentado no Eurocode (que em princípio foi adaptado para a nova revisão da
NBR 6122 em 2010) apresenta a evolução da corrosão com o tempo e fixa valores para diversas
vidas úteis de estacas prancha (contenção) com apenas uma face exposta à água.

Tabela 21: Perda de espessura (mm) por corrosão em solos com e sem água
Vida útil da obra (anos) 5 25 50 75 100
Solo natural não remoldados 0,00 0,30 0,60 0,90 1,20
Solo natural poluído e “sites” industriais 0,15 0,75 1,50 2,25 3,00
Pântanos e turfas 0,20 1,00 1,75 2,50 3,25
Aterros de solos não agressivos (argila, etc) 0,18 0,70 1,20 1,70 2,20
Aterros com cinzas e escória 0,50 2,00 3,25 4,50 5,75
Notas:
1) A velocidade de corrosão em aterros compactados é mais baixa do que nos não
compactados.
2) Os valores para 5 e 25 anos baseiam-se em medidas. Os outros foram extrapolados.

Tabela 22: Perda de espessura (mm) por corrosão em água limpa e água do mar
Vida útil da obra (anos) 5 25 50 75 100
Água fresca (rios e canais de navios) 0,15 0,55 0,90 1,15 1,40
Água poluída (despejos, efluentes industriais) 0,30 1,03 2,30 3,30 4,30
Água do mar em clima temperado 0,55 1,90 3,75 5,60 7,50
Idem em zona permanentemente imersa 0,25 0,90 1,75 2,60 3,50
Notas:
1) A maior velocidade de corrosão ocorre nas zonas de “respingos” e de variação de maré.
2) Os valores para 5 e 25 anos baseiam-se em medidas. Os outros foram extrapolados.

44
Figura 49: Velocidade de corrosão em água do mar (Eurocode EN 1993-5: 2005)

2.6.4) Estacas metálicas de seção transversal decrescente com a profundidade

Até 2006, as estacas metálicas só eram projetadas utilizando-se perfis de seção constante.
Entretanto em 2005 este autor desenvolveu para a GERDAU o conceito de “Estacas metálicas
de seção decrescente com a profundidade“ visto que, no caso de estacas comprimidas a carga
axial decresce com a profundidade, desde o valor máximo (PR), no topo, até um valor mínimo na
ponta (PP), conforme se mostra na Figura 50.

Figura 50: Transferência de carga de uma estaca para o solo (sem “atrito negativo”)

45
Como estes valores de carga são decorrentes dos valores de transferência de carga para o
solo, a carga (admissível ou característica) a ser resistida pela estaca equivale à metade deste
valor, ou seja, P = PR/2 no topo. Assim, pode-se concluir que a seção transversal da estaca
metálica (ou de qualquer outro tipo de estaca) não necessita apresentar resistência estrutural
constante ao longo de todo seu comprimento, já que a carga que nela irá atuar decresce com a
profundidade. Ou seja, para o caso das estacas metálicas a seção da mesma poderá variar
(decrescer) com a profundidade.

Nota: O raciocínio acima se aplica aos casos em que não ocorre a ação do “atrito negativo”. Neste
caso vale o conceito, mas a seção da estaca na região do atrito negativo, também será
variável, porém crescente com a profundidade até a profundidade onde se encontra o “ponto
neutro”. Daí para baixo a seção poderá ser decrescente como acima exposto.

Este foi um conceito novo desenvolvido por este autor em 2005 e introduzido pela GERDAU
no mercado de estacas em 2006 que tem como vantagem principal a redução do peso das estacas
metálicas para uma mesma carga onde se usava, até então seção constante com a profundidade.
Isto é, com a variação decrescente da seção transversal das estacas, podem-se obter idênticas
capacidades de carga com uma economia substancial no peso das mesmas.

O conceito é muito simples e se baseia na utilização de perfis de um mesmo grupo para


compor as estacas de seção decrescente. Entendam-se como perfis de um mesmo grupo aqueles
cujas bitolas são da mesma altura nominal, com variações na espessura da alma e abas (variação
de massa, porém sem variação significativa no perímetro). Sendo do mesmo grupo, as emendas
dos perfis de diferentes dimensões serão executadas com facilidade, idênticas às de estacas com
perfis de mesma seção.

No Brasil, inúmeras fundações já foram realizadas utilizando este novo conceito e para
comprovar a eficiência desta solução, provas de cargas estáticas tem sido regularmente realizadas
permitindo, inclusive, reavaliar os métodos semi-empíricos de capacidade de carga até então
disponíveis (Aoki & Velloso, Décourt & Quaresma e Teixeira) para este tipo de estacas que se
mostraram contra a segurança. Esse método desenvolvido por este autor foi apresentado em 2008
no SEFE VI.

Na Figura 51 mostra-se um exemplo de composição de uma estaca de seção decrescente


com a profundidade. Essa composição nos segmentos metálicos foi feita com base no catálogo
técnico da GERDAU e com a avaliação da transferência de carga utilizando o método de Alonso
2008.

46
Tabela 23: Previsão da transferência de carga usada para compor a estaca de seção
decrescente com a profundidade

47
Figura 51: Composição de uma estaca metálica de seção decrescente com a profundidade
a partir dos valores apresentados na Tabela 18

48
2.6.5) Emendas

As emendas devem ser dimensionadas para resistir a todas as solicitações que possam
ocorrer durante o manuseio, a cravação e a utilização da estaca. No caso de estacas tubulares,
confeccionadas com aço A 36, onde exista equipe treinada e qualificada essas emendas podem
ser feitas com solda de topo e de penetração total como se mostra na Figura 52.

Figura 52: Emenda com solda de topo de penetração total em estacas tubulares

Entretanto nas obras “normais” onde nem sempre se conta com soldadores qualificados (que
no jargão de obra são chamados “queimadores de eletrodo”) é comum se empregar talas
soldadas, seguindo-se a orientação geral contida no Manual da ABEF (Associação Brasileira de
Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia).

As talas podem ser obtidas de chapas de aço com resistência equivalente à dos perfis.
Entretanto por uma questão de praticidade, as emendas são tradicionalmente executadas
utilizando-se um segmento do próprio perfil, recortado conforme Figura 53, do qual se obtêm as
talas de mesas e de alma que irão compor as emendas da estaca na obra.

Figura 53: Segmento do perfil que será recortado nas posições indicadas para obter as
talas
49
Figura 54: Emenda com talas (eletrodo de 4 mm e filete de solda com mínimo de 8 mm)

A redução do tempo de execução das emendas é um fator importante na produtividade do


processo de cravação. Neste sentido, é prática executar-se previamente as soldas na base da
seção superior a ser cravada. Dessa forma as talas soldadas no segmento superior servem de
guia para seu posicionamento e alinhamento com o segmento inferior já cravado, reduzindo o
tempo de paralisação da cravação apenas ao necessário para a soldagem das talas no segmento
já cravado. Neste sentido é comum se utilizarem dois soldadores.

Na Tabela 24 são apresentados os elementos relevantes para o dimensionamento das talas


de modo a que a resistência da emenda seja igual ou maior que a carga estrutural do perfil,
calculada com base na NBR 8800:2008 e na Figura 58 o detalhe com o posicionamento das talas.

No caso de estacas tracionadas (ou quando a cravação for feita com martelo vibratório) os
comprimentos apresentados na Tabela 24 devem ser aumentados em 5 a 10 cm.

Tabela 24: Critério utilizado para o cálculo das emendas das estacas GERDAU

Figura 55: Detalhe da emenda com posicionamento das talas e soldas


50
2.7) Estacas tipo Franki

Este tipo de estaca, analogamente às estacas pré-moldadas e às metálicas, apresenta,


durante sua execução, um grande número de medidas que visam controlar e garantir sua
qualidade, conforme se expõe a seguir:
Embora as fórmulas que utilizam negas não se apliquem às estacas moldadas “in loco”, a
Franki adaptou a fórmula de Brix para tal fim.
Este tipo de estaca foi muito utilizado no passado recente, mas devido aos problemas de
vibração e barulho que causam durante sua instalação veio perdendo espaço para as estacas
hélice contínua, que não apresentam esse inconveniente e tem cargas admissíveis da mesma
ordem de grandeza (Tabela 25).
Tabela 25: Dados para projeto de estacas tipo Franki
Diâmetro mm 350 400 450 520 600 700
2
Área seção cm 962 1257 1590 2124 2827 3848
Perímetro cm 110 126 141 163 188 220
I cm4 73662 125664 201289 358908 636172 1178588
W cm3 4209 6283 8946 13804 21206 33674
d entre eixos m 1,20 1,30 1,40 1,50 1,70 2,00
L máximo m 18 23 27 40 40 40
C.compressão tf 65 85 110 150 195 260
Tração tf 15 20 25 30 40 50
horiz. tf 3 4 6 8 10 15
Armadura 4Ø16 4Ø16 4Ø16 4Ø20 4Ø25 4 Ø25
Volume m3 0,10 0,13 0,16 0,22 0,29 0,39
Cimento/m sc 50kg 0,70 1,00 1,25 1,50 2,00 3,00
Pedra/m m3 0,10 0,13 0,16 0,22 0,30 0,40
Areia/m m3 0,06 0,08 0,11 0,14 0,19 0,26
EstriboØ6,3/m kg 1,50 1,70 1,80 2,00 2,30 2,70

Figura 56 – Fases de execução de uma estaca tipo Franki


51
Como esta estaca é sempre armada raramente ocorre, durante a remoção do tubo o
seccionamento do fuste como foi exposto para as estacas Strauss, que normalmente não são
armadas (detalhe a da Figura 23a).

A principal característica das estacas tipo Franki é possuir uma base alargada que deverá
ser confeccionada com uma energia mínima de 150 tf.m para os últimos 90 l introduzidos se a
estaca tiver diâmetro inferior a 450 mm ou 500 tf.m para os últimos 150 l para os diâmetros
maiores. Essa energia é calculada multiplicando-se o número de golpes do pilão pelo peso do
mesmo e pela altura de queda (constante). Conhecida a altura de queda do pilão (geralmente 6m)
e seu peso, pode-se calcular o número de golpes mínimos para injetar o volume da base alargada.

Na Tabela 26 apresentam-se os volumes mínimos e normais, para as bases dessas estacas.

Tabela 26 - Volumes das bases alargadas e peso mínimo dos pilões


Volume diâmetro do fuste (mm)
base (l) 300 350 400 450 520 600 700
Mínimo 90 90 180 270 300 450 600
Normal 90 180 270 360 450 600 750
Usual 180 270 360 450 600 750 900
pilão (tf) ≥1.0 ≥1.5 ≥2.0 ≥2.50 ≥2.80 ≥3.00 ≥4.00
d(cm)(*) 18 22 25 31 a 33 38 a 40
Brita brita 1 brita 1 e 2 brita 2 e 3
(*) O diâmetro do pé do pilão deve ser 80% do diâmetro do pilão. Nas estacas 300 e 350 usar
caçambas de 45 l (no máximo 60 l) e enche-las no máximo até a metade. Nas estacas 400 e 450
já pode encher a caçamba. Na 520 ou mais usar caçamba de 150 l.

Nota: Se assimilarmos o volume da base a uma esfera, o diâmetro correspondente será:


d = 23 0,239V

Quando se executam estacas tipo Franki, deve-se estar atento para os dois principais
problemas que podem danificar a estaca. O primeiro é o estrangulamento do fuste na concretagem
através de solos moles. Para evitar este problema costuma-se reforçar o solo mole pela cravação
prévia do tubo e sua retirada, preenchendo-se o furo com uma mistura de brita e areia e,
eventualmente complementado aumentando-se o diâmetro das barras ou seu número.

O segundo problema é a ruptura por tração do concreto ainda fresco ou a perda de contato
do fuste com a base alargada devido ao levantamento da estaca já cravada pela cravação de
estacas vizinhas. Por isso ao se iniciar um estaqueamento deve ser avaliado esse risco com base
nas sondagens de reconhecimento e na experiência de obras próximas. Apenas a título
orientativo, levantamentos acima de 25 mm não são tolerados.

Constatado levantamento deve-se imediatamente mudar o processo executivo, inicialmente


ancorando-se a armadura na base alargada, espaçar mais a sequência de execução e
eventualmente usar o processo de cravação do tubo com ponta aberta (cravação por tração) etc.

Outra característica deste tipo de estaca é que o concreto utilizado é submetido a elevada
energia de compactação e, portanto, não se pode usar concreto plástico. Os traços já
padronizados são indicados abaixo:

• Concreto da base alargada


1 sc de cimento de 50 kg
90 l de areia
140 l de brita
fator água/cimento 0,20 a 0,28

52
• Concreto do fuste apiloado
1 sc de cimento de 50 kg
90 l de areia
80 l de brita 1
60 l de brita 2
fator água/cimento 0,45

Figura 57: Vista de um equipamento Franki e detalhe da base de uma estaca removida

53
2.8) Estacas hélice contínua

2.8.1) Introdução

A estaca hélice contínua (continuous flight auger - CFA) é uma estaca moldada in loco,
executada mediante a introdução no terreno, por rotação, de uma haste tubular (com diâmetro
interno de 4 pol a 5 pol) dotada externamente de uma hélice contínua (trado contínuo) e injeção
de concreto, pela própria haste, simultaneamente com sua retirada. Após a concretagem é
introduzida a armadura. As fases executivas deste tipo de estaca estão apresentadas na Figura
58 e uma vista geral do conjunto de equipamentos utilizados na Figura 59.

Figura 58: Fases de execução das estacas hélice contínua

Figura 59: Vista geral da execução de uma estaca hélice contínua


54
É importante ressalvar que este tipo de estaca não apresenta controles abrangentes durante
sua execução. O que se faz é registrar, “on line”, alguns dados como serão apresentados e
comentados neste capítulo. Por esta razão necessitam, para seu projeto e execução, de uma
campanha geotécnica “confiável”, analogamente às estacas escavadas, raiz e Strauss.

Os equipamentos que executam estacas hélice contínua são classificados em função de três
parâmetros: peso, torque e força de arranque do trado sem girar o mesmo (Tabela 27). A escolha
do equipamento depende das características do solo onde se executará as estacas, do diâmetro
e comprimento das mesmas.

Tabela 27: Características básicas dos equipamentos hoje existentes no Brasil


PESO TORQUE ARRANQUE ΦMÁXIMO LMÁXIMO
(tf) (tf.m) (tf) (cm) (m)
35 11 12 70 18,0
80 22 80 100 27,0
90 22 88 100 29,0
115 36 100 120 32,0
180 40 120 150 38,5

O método executivo mostrado na Figura 61 impõe que a armadura só possa ser introduzida
após a concretagem da estaca. Por esta razão o concreto deve ser trazido até o nível do terreno
mesmo que a cota de arrasamento seja profunda para evitar que caia terra sobre o concreto fresco
após a remoção do trado. Essa terra “embuchará” nos estribos e será empurrada pela armadura
criando uma “rolha” de solo dentro do corpo da estaca, conforme se mostra na Figura 60.

Figura 60: Patologia por contaminação do concreto fresco da estaca cuja concretagem foi
interrompida abaixo do terreno e a seguir se introduziu a armadura

Na Figura 61 mostram-se as fases da introdução da armadura que é feita por gravidade,


após a limpeza da terra sobre o concreto (Figura 61a) com os operários empurrando a mesma e
“balançando-a” para facilitar sua penetração no concreto. Por esta razão não se recomenda a
prática do uso “excessivo” de roletes, pois ao contrário do que ocorre nas estacas escavadas com
auxílio de fluido estabilizante (onde os roletes realmente “rolam”, quando batem nas paredes da
escavação), nas estacas hélice contínua eles “não rolam”, pois, o concreto não deixa. Na realidade
eles “empurram” o concreto. O que se recomenda é que coloquem 4 roletes na mudança da
armadura acima do “pé” da mesma e no topo, conforme se mostra na Figura 62. No caso de
armaduras longas pode-se colocar 4 roletes no meio do comprimento da mesma.

55
Este procedimento permite garantir a centralização da armadura e não impede que se
“balance” a mesma quando da sua instalação para forçar sua penetração no concreto. A folga de
7,5 cm ao longo do perímetro da armadura, em relação ao diâmetro do trado, é para permitir esse
“balanceamento” o que fica impedido se existirem muitos roletes ao longo da armadura. O pé da
armadura deve ser reduzido, nos últimos 150 cm, conforme se mostra na Figura 65. Esta redução
visa evitar que a ponta da mesma “se crave” nas paredes de solo que conforma a estaca durante
sua introdução. Daí porque, nessa mudança da armadura, quando a mesma tiver até 6 m, devem
ser dispostos 4 roletes, não só para garantir o cobrimento da armadura como ajudar a que a
mesma não “se crave” na parede de solo. Para armaduras maiores recomenda-se usar roletes a
cada 4 m ou mais. Além disso para que essa armadura possa ser instalada, a mesma deve ser
suficientemente rígida, conforme detalhe típico mostrado na Figura 65.

Figura 61: Fases da instalação da armadura

56
Figura 62: Detalhe típico da armadura e quantidade de roletes

2.8.2) Considerações relevantes adicionais

Hoje este tipo de estacas está presente em praticamente todas as fundações profundas com
comprimento de até 24 m (maioria dos casos) e até 34 m (equipamentos mais recentes
introduzidos nesta década). Isto se deve ao fato de que este processo é mais rápido do que
qualquer outro tipo de estaca de mesmo comprimento e, principalmente, em função do baixo nível
de barulho e vibrações, tornado este tipo de estaca “amigável da vizinhança “ que se situa no
entorno da obra.

Durante o período em que esse tipo de estaca está sendo usado no Brasil foram realizadas
inúmeras provas de carga estáticas (e número considerável de ensaios de carregamento
dinâmico) que atestaram a capacidade de carga das mesmas dimensionadas com base em
métodos semi-empíricos de amplo conhecimento em nosso meio geotécnico. Os primeiros
resultados dessa significativa quantidade de provas de carga estáticas fazem parte de um Banco
de Dados apresentado por este autor que veio sendo publicado por nós desde 1996 (Revista
SOLOS E ROCHAS, vol 19, no3 e vol. 21 no 1; SEFE IV, vol 2; SEFE V, vol 2; SEFE VI, vol 1; XII
COBRAMSEG, vol 3 e XIII COBRAMSEG, vol 2) e trabalhos individuais de vários outros autores.

Entretanto, este tipo de estaca também necessita, durante sua execução, de vários cuidados
que nem sempre estão muito claros para aqueles que a utilizam. Por ser uma estaca que tem
todas as fases de execução monitoradas por sensores acoplados a um computador de bordo
(existente na cabine e à frente do operador) muitos pensam que esse monitoramento corresponde
ao controle da estaca. Na realidade, o controle pressupõe uma interpretação desses registros
realizados pelos sensores, no instante da execução (quando é possível tomar decisões) e não a
posteriori, quando a estaca já se encontra executada. É Por isso este tipo de estaca é classificado
como de “controle pouco abrangente”.

57
Embora no passado tenham ocorrido vários problemas na concretagem neste tipo de
estacas, hoje esses problemas já podem ser evitados face ao melhor conhecimento da execução
e suas fases consideradas “críticas” principalmente no início do lançamento do concreto após o
término da introdução do trado.

O traço utilizado, pela maioria das concreteiras, conhecido como “concreto para hélice
contínua”, é constituído, basicamente por:

Consumo de cimento (preferencialmente CP III 40 RS) mínimo: 400 kgf/m3


Fator água cimento ≤ 0,6 e brita 0 (dimensão máxima característica 12,5 mm)
Slump-test 22 ± 3 cm
% de argamassa em massa ≥ 55% (massa de cimento + massa de agregados
miúdos)*100/massa de agregados graúdos)
f) Deve ser especificado na Nota Fiscal o tipo e o consumo de cimento por m3 bem como
a quantidade máxima de água a ser adicionada na obra considerando-se a água retida
na central mais uma estimativa da água perdida por evaporação entre a central de
concreto e a obra.

Embora esse concreto assim confeccionado permita obter uma resistência característica
mínima fck = 200 kgf/cm2 (20 MPa), para efeito de dimensionamento estrutural esse valor não pode
ser aumentado devido ao fato de que esses resultados são obtidos em corpos de prova moldados
e curados por ação humana. Já a cura do concreto na estaca é feita dentro do solo, portanto sem
qualquer ação humana sobre a mesma ao contrário de cura de peças estruturais acima do terreno
onde essa cura é controlada. É por esta razão que o controle do concreto, na obra, deve ser feito
pelo consumo de cimento (que deve estar especificado na Nota Fiscal) e não pela resistência à
compressão simples dos corpos de prova.

O controle sistemático do concreto deve ser realizado retirando-se 4 corpos de prova de


cada caminhão betoneira, rompendo-se um a 7 dias, dois a 28 dias e deixando um como
testemunho para romper a 63 dias (é o critério que temos utilizado).

Além dessas características do concreto, há também que fixar a capacidade das bombas de
injeção do mesmo: 20 m3/h para estacas com diâmetro máximo de 50 cm e 40 m3/h para estacas
com diâmetro superior a 50 cm.

A NBR 6122:2010 exige uma armadura mínima mesmo que a estaca só tenha compressão
e a seção de concreto sozinha possa absorver essa carga. Esta armadura deve ser disposta nos
4 a 5 m abaixo do arrasamento (por isso costuma-se usar ½ barra = 6m).

Tabela 28: Armadura mínima para as estacas comprimidas (detalhes na Figura 62)
Φ estaca Ferragem longitudinal Estribos
(cm) Qde. Φ bitola Comp. total Φ bitola
barras (mm) (m) (mm)
25 a 40 4
50 6 16,0 6,0 6,3
60 8
70 10
80 8
90 11
100 13 20,0 6,0 8,0
110 16
120 18 10,0
130 22
140 16 25,0 6,0 12,5

58
Esta armadura tem por finalidade absorver impactos eventualmente provocados por
escavadeiras durante a escavação para se executar o bloco de coroamento. Para minimizar essas
cargas de impacto nas estacas a NBR 6122:2010 exige que as caçambas utilizadas não devam
possuir largura superior a 50% do espaço disponível entre as estacas no bloco a ser escavado.

No caso de estacas submetidas à tração ou a cargas horizontais a armadura deverá ser


dimensionada para esses esforços lembrando-se que há necessidade de “enrijecer” a mesma para
permitir instalá-la após a concretagem. Para armaduras longas deve-se estudar o traço que menor
resistência ofereça a essa penetração da armadura, inclusive com uso de plastificantes ou
aumento do par: cimento – quantidade de água mantendo o fator a/c ≤ 0,6.

Alguns traços já testados para se introduzir armaduras com 18 m ou mais são mostrados a
seguir:
Traço 1:
Cimento CPIII 40 RS = 440 kg
Areia média: = 871 kg
Brita zero: = 870 kg
Água: = 230 kg
Aditivo 223XP (BASF): 3,74 litros

Traço 2:
Cimento CPIII 40 RS = 418 kg
Areia média: = 886 kg
Brita zero: = 820 kg
Água: = 230 kg
Aditivos (BASF):
Reonax UW 410: 1,082 kg (=0,9 litros)
Rheotec Telmult 440F: 5,016 kg (4,18 litros)

(mostrar videos 1 e 2)

Todas as fases da execução são registradas em instrumento eletrônico que fica na cabine à frente
do operador (Figura 63) acoplado a sensores instalados em pontos estratégicos que permitem
visualizar e registrar as fases relevantes do processo executivo.

Figura 63: Sensores acoplados ao computador de bordo durante a execução da estaca


59
É importante lembrar que por ser a concretagem feita sob pressão, e tendo o concreto
abatimento alto, não se pode executar uma estaca próxima a outra recentemente concluída,
principalmente em solos pouco resistentes, pois pode haver ruptura do mesmo entre as estacas.
Como regra geral orientativa, recomenda-se que só se execute uma estaca quando todas, num
raio mínimo de 5 diâmetros, já tenham sido concretadas há pelo menos 12 horas, podendo este
prazo ser reduzido em caso de terrenos que apresentem resistência compatível com as pressões
a ele aplicadas pela concretagem das estacas.

2.8.3) Controles durante a execução para se evitar patologias

Um dos primeiros cuidados durante a concretagem já foi mostrado na Figura 60 por não se
ter levado a concretagem até o nível do terreno. Entretanto outras patologias podem ser criadas
se não se observarem cuidados específicos durante a execução.

a) Limpeza de rede

Para entender esta patologia deve-se esclarecer que ao final de um dia de trabalho, o
“cocho” é limpo com aplicação de água e óleo. Antes de se começar a execução da primeira estaca
do dia seguinte, a rede precisa ser “lubrificada” para permitir a fluência do concreto.

Para esta lubrificação costuma-se misturar 2 sacos de cimento (com 50 kg cada um) em
cerca de 200 litros de água (calda de lubrificação) dentro do “cocho”. Esta calda se misturará com
o óleo remanescente da limpeza do dia anterior. Se a estaca for de pequeno diâmetro (inferior a
50 cm), o volume desta calda de lubrificação é significativo, de tal sorte que, se a mesma não for
lançada fora, antes de se iniciar a concretagem da primeira estaca, na sua ponta poderá ficar parte
desta calda que é de baixa resistência.

Por isso, antes de se iniciar a primeira estaca da jornada (ou quando houver uma interrupção
na execução do estaqueamento que obrigue a abrir a rede de concretagem), o trado deve ser
levantado e a seguir começa-se a lançar a calda até que toda a rede esteja preenchida com
concreto. Quando toda a calda tiver sido expulsa e se tiver garantia de que toda a rede está cheia
de concreto, interrompe-se o lançamento do mesmo, tampa-se o trado e inicia-se a introdução do
trado no terreno para dar início à execução da estaca.

A Figura 64 mostra o comportamento de duas estacas de pequeno diâmetro (25 cm e 12 m


de comprimento), distantes entre si de 1,40 m, uma executada sem a limpeza e outra com limpeza
da rede. A estaca executada com limpeza de rede teve, durante a prova de carga estática, um
comportamento normal, enquanto que a outra, onde não houve essa limpeza, sofreu recalque
brusco ao atingir 350 kN (esgotamento do atrito lateral) só retomando a carga após um recalque
de 40 mm.

Figura 64: Patologia de estacas sem “limpeza da rede de concretagem”.


60
b) Início da concretagem

Patologia similar à acima apresentada também ocorre se a partida da concretagem (Figura


68) não for realizada com critério conforme se expõe a seguir.

Para se iniciar a concretagem (fase 2 da Figura 58) há necessidade de expulsar a tampa


provisória do trado (Figura 65) que é usada para evitar a entrada de água e solo na haste central
durante a introdução do trado no terreno. Para tanto o trado deve ser levantado cerca de 20 a 30
cm criando-se um vazio que deverá ser preenchido pelo concreto “segurando-se” o trado até que
todo o vazio seja preenchido pelo concreto sob pressão. Caso não se garanta esse preenchimento,
a estaca ficará com deficiência na capacidade de carga de ponta e ao se realizar uma prova de
carga estática ter-se-á um comportamento conforme se mostra na Figura 65b: Na Figura 64 a
patologia ocorreu por falta de “limpeza de rede” e na Figura 65 por não preencher adequadamente
o espaço deixado pelo trado para permitir a expulsão da tampa.

Figura 65: Vista da tampa metálica e p. carga em estaca com deficiência de ponta

Nota-se nessa Figura 65b que ao se atingir a carga de 95 tf (carga por atrito lateral) a estaca
começa a “escorregar” e só retoma a carga de ponta após um recalque de 175 mm. Este
comportamento ocorre por falta de experiência do operador, tendo sido a causa de alguns
insucessos no comportamento deste tipo de estacas, levando alguns projetistas de fundação a
desconsiderar a carga de ponta nestas estacas, que, convenhamos, é uma posição extremamente
cômoda, porém de custo elevado para as fundações do empreendimento. O certo seria
acompanhar a concretagem das primeiras estacas e verificar se o operador é ou não experiente
para evitar tal patologia.

Lembramos aqui as palavras do saudoso professor Dirceu de Alencar Velloso (1.998) “Para
se adquirir um equipamento basta ter o dinheiro; para formar uma equipe capaz de fazê-lo
funcionar eficientemente, há necessidade de tempo e treinamento”. O que se tem visto na prática
é que as empresas que vendem equipamentos de hélice contínua ensinam a operar os mesmos,
mas não ensinam a fazer uma boa estaca até porque alguns desses fabricantes quanto
compradores/operadores desses equipamentos têm pouco ou nenhum conhecimento de como
trabalha uma estaca. Faltam-lhe conhecimentos básicos de Mecânica dos Solos e de Fundações
e, se “escoram” nos projetistas de fundações da obra. Cabe, portanto a estes, validarem todo o
processo de execução das estacas de sua obra e não simplesmente desprezar a carga de ponta
dessas estacas.

c) Alívio de pressão sobre o concreto durante a concretagem e não armação das mesmas

Durante a concretagem da estaca é necessário manter a pressão positiva sobre o concreto


mesmo que o consumo seja elevado ou até subir pelo lado do trado quando a concretagem se
aproxima da cota do terreno. Aliviar a pressão no concreto próximo à superfície do terreno imporá
uma redução da seção da estaca.
61
Outra patologia que ocorria no passada por não se armaram as estacas pois as mesmas
estavam sujeitas apenas à cargas de compressão permitido àquela época pela NBR 6122:1996
ocorria quebra da região superior das estacas decorrentes do impacto da caçamba contra as
mesmas durante a escavação para se realizarem o corte e preparo da cabeça das estacas e
execução do bloco de coroamento.

Figura 66: Patologia causada por alívio de pressão no concreto próximo do nível do
terreno

d) Prolonga em argila muito mole e abaixo do NA

Conforme se pode ver na Figura 58, o trado dispõe de um trecho sem hélice (“prolonga”) de
modo que o comprimento que se pode executar é bem maior do que o comprimento da torre do
equipamento. Geralmente a prolonga tem 6 a 8 m. No caso de argilas moles superficiais e
submersas (que geralmente são capeadas por aterro, ou rachão, para suportar o equipamento)
não é conveniente executar uma estaca que necessite entrar com a prolonga na argila mole. Um
caso dessa patologia é mostrado na Figura 67a. A argila mole sem o “confinamento” da hélice e
com água tende a formar lama devido ao giro constante da hélice. Como durante a concretagem
a máquina está patolada impondo cargas altas no solo e próximo da hélice para permitir retirar o
trado (agravado pelo fato que o suporte da mesma é um aterro compactado ou rachão) não
permitirá que essa lama saia contaminado o concreto que se misturará com a mesma.

Figura 67: Patologia criada por uso de prolonga em argila mole submersa.
62
Para detectar esse tipo de problema a NBR 6122:2010 exige que em todas as estacas
“modadas in loco” que pelo menos 1% das estacas, e pelo menos uma por obra, deve ser exposta
abaixo da cota de arrasamento e, se possível até o nível de água, para verificar sua integridade e
qualidade do fuste.
Este procedimento nas estacas hélice contínua é fácil de realizar, pois existe uma
escavadeira usada para limpeza da terra que sai da estaca e permanece parada em parte do
tempo. Pode-se ver na Figura 70a que o topo da estaca (que se situa no aterro compactado) está
com a seção perfeita, mas escavando-se abaixo do aterro mostrou a contaminação do fuste. Essa
patologia foi corrigida aumentando-se o comprimento do trado conforme se mostra na Figura 70b.

e) Considerações relevantes quanto à instrumentação

Conforme se mostrou na Figura 63 todas as fases da execução das estacas são registradas
“on line” em computador de bordo acoplado a sensores que medem, durante a introdução do trado,
a profundidade de sua ponta, a velocidade de avanço do trado e o “momento torsor” a ele aplicado.
Na remoção do trado mede-se a velocidade de subida do mesmo, a pressão aplicada ao concreto
e o volume que está sendo introduzido para a confecção da estaca. Dessas medidas resulta o
gráfico mostrado na Figura 68.
durante a concretagem durante a introdução do trado

Figura 68: Gráficos de registro da execução da estaca


63
Cabe lembrar dois aspectos importantes mostrados na Figura 68:

1º Aspecto: O que se apresenta na coluna MT (torque) não é o momento torsor, mas sim a
pressão de injeção na bomba que aciona o sistema giratório do trado. Por isso na
coluna MT a unidade é bar (kgf/cm2), unidade de pressão. Portanto não se pode
controlar a resistência do solo usando apenas este parâmetro, não só porque numa
mesma bomba de injeção de máquinas iguais, dependendo do desgaste das
mesmas (e também da marcha em que elas se encontram), mesmas pressões de
injeção podem corresponder a momentos torsores diferentes. E claro em máquinas
diferentes pressões de injeção iguais, para medida do torque, podem corresponder
a momentos torsores diferentes.

2º Aspecto: O “perfil” da estaca mostrado na Figura 68 só corresponderá à realidade se o solo


tiver resistência radial uniforme de modo a obter-se uma estaca com simetria em
relação ao eixo da estaca. Isto não ocorre na maioria dos solos, conforme se mostra
na Figura 69. A interpretação “errada” do computador de bordo decorre do fato que
seu programa interno interpreta que o volume consumido pela estaca (em
incrementos de cerca de 20 cm de altura) corresponde a um cilindro de volume igual
ao injetado. É por causa dessa interpretação que o gráfico é sempre simétrico em
relação ao eixo da estaca o que, na maioria dos casos, não corresponde à realidade.

Foto 69: Exame de fuste da estaca (obrigatório no mínimo em1% das estacas: NBR 6122)

Então para que serve o perfil mostrado na Figura 68? Serve para ver, percentualmente, em
que regiões do solo se consome mais concreto na estaca o que deve corresponder a regiões de
baixa resistência do solo, mostrado nas sondagens. Se isso não ocorrer devem ser questionadas
as sondagens, já que a pressão utilizada durante a concretagem é, praticamente, igual ao longo
de todo comprimento da mesma.

Tabela 29: Cargas estruturais características admissíveis à compressão


Um Valores
Φ Cm 30 35 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140
Pk Tf 45 60 80 130 190 255 335 425 525 640 760 895 1035
e(eixos Cm 75 90 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350
d(divisa Cm 120 120 120 120 120 120 120 120 120 120 120 120 120
Ac cm2 707 962 1257 1963 2827 3848 5027 6362 7854 9503 11310 13273 15394
U Cm 94 110 126 157 188 220 251 283 314 346 377 408 440
4 4
I cm x10 3,9 7,4 12,6 30,7 63,6 118 201 322 491 719 1018 1402 1886
3 3 130,7 169,7 215,7 269,4
W cm x10 2,7 4,2 6,3 12,3 21,2 33,7 50,3 71,6 98,2
I cm 7,5 8,8 10,0 12,5 15,0 17,5 20,0 22,5 25,0 27,5 30,0 32,5 35,0
No caso das estacas tracionadas, valem aqui todas as considerações e Tabela de armadura
apresentados para as estacas tipo raiz.

64
2.9) Estacas hélice contínua segmentada

A estaca contínua segmentada é uma derivação da estaca hélice contínua onde as hélices
são segmentos emendados na sequência durante a introdução do trado. Esse equipamento foi
introduzido no brasil em 2002 e o trado é dividido em segmentos de 4,5m a 6,0 m, sendo que as
etapas de introdução do trado e extração do mesmo, na concretagem, é feito em até quatro fases.

A principal característica deste tipo de estaca é a utilização de equipamentos de menor porte


e mais leves do que os tradicionais (Figura 70) permitindo executar estacas em locais confinados.

Figura 70: Equipamento de estaca hélice contínua segmentada.

2.9) Estacas escavadas com trado mecânico, sem fluido estabilizante

Este tipo de estaca, analogamente às estacas Strauss e escavadas com auxílio de fluido
estabilizante, também se enquadra na classificação “de controle pouco abrangente durante sua
execução”. São executadas em solo sem presença de água e que tem coesão que impeça o
fechamento da perfuração após a retirada do trado. São, muitas vezes denominadas “brocas
mecânicas” para diferenciá-las das brocas manuais feitas com trado cavadeira e pouca
profundidade.

Para sua execução são utilizados trados acoplados à caminhões (Figura 71a) ou a
escavadeiras (Figura 71b), ou ainda trados de tipo hélice contínua (Figura 71).

Figura 71: Equipamentos de perfuração de estacas escavadas sem fluido estabilizante.


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Um cuidado que deve ser tomado neste tipo de estaca é lançar o concreto utilizando-se um
funil (de ação ou de madeira) como se mostra na Figura 72 a fim de evitar que o concreto bata
nas paredes da escavação e se misture à terra. Não se admite a prática de não usar funil e
“direcionar” o concreto da calha do caminhão betoneira usando uma pá.

Figura 72: Procedimento correto para se concretar a estaca escavada a seco

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