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FUNDAÇÕES COM ESTACAS (DEFINIÇÃO E TIPOS DE ESTACAS MAIS COMUNS
ATUALMENTE EM NOSSO MERCADO – Métodos executivos)
Mas existe uma classificação pouco divulgada que se refere aos controles durante a sua
execução. Neste contexto podem-se dividir as estacas em dois grupos: as que permitem um
controle abrangente durante sua execução e as que esse controle é pouco abrangente.
Já no caso das estacas com controle pouco abrangente não existem medidas de campo que
permitam verificar, durante sua execução, a capacidade de carga das mesmas. Neste grupo
incluem-se as estacas Strauss, as escavadas (com ou sem uso de fluido estabilizante) e as
estacas hélice contínua.
Estas estacas são cravadas por prensagem utilizando-se macacos hidráulicos (Figura 1) e
eram muito utilizadas no passado como fundações, nos casos em que se queria evitar vibrações,
barulhos e retirada de material escavado, principalmente se o solo for contaminado.
Quando se pretende usar estas estacas como fundação “normal” pode-se empregar uma
plataforma com sobrecarga (“cargueira”), hoje em dia praticamente em desuso (Figura 2), ou a
própria estrutura. Neste caso executa-se uma fundação rasa dotada de furos para a permitir a
passagem das estacas conforme se mostra na Figura 3a e se executa parte da estrutura
compatível com a capacidade de carga das fundações rasas. A partir daí, usando a própria
estrutura como reação, cravam-se as estacas. Neste caso a cravação das estacas deve ser feita
aos pares e simetricamente em relação ao eixo do pilar, enquanto as demais estacas permanecem
incorporadas provisoriamente (Figura 3b).
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Figura 1: Estacas MEGA sendo usadas com reforço de fundação
Figura 3: Estacas MEGA como fundação usando a própria estrutura como reação
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Como a cravação das estacas é feita com macaco hidráulico, a carga resistida pela estaca,
é conhecida durante a instalação. Por isso as estacas vão sendo testadas à medida que se avança
o estaqueamento. Este processo de instalação confere a este tipo de estacas maior confiabilidade
do ponto de vista de desempenho, pois permitem a realização de provas de carga, geralmente
realizadas em fins de semana quando os serviços de cravação estão parados.
Em decorrência disto, são as estacas que apresentam menor dispersão de seus resultados,
ou seja, o valor médio de carga admissível é praticamente atingido por todas as estacas
(baixíssimos desvios padrão e coeficiente de correlação).
Em situações específicas podem ser utilizadas para permitir executar subsolos em obras já
existentes, conforme se mostra na Figura 4. Neste caso as estacas podem ser construídas por
perfis metálicos emendados à medida que são cravados (menos comum) ou tubos rosqueados
(mais frequente) face à sua velocidade de emenda, ao contrário de perfis soldados.
Paras aumentar a capacidade de carga dessas estacas, foi desenvolvido um “plus” nas
mesmas onde após sua cravação se injeta calda de cimento sob a ponta das mesmas (Figura 5).
2.2) Estacas escavadas com auxílio de fluido estabilizante (lama bentonítica ou polímero)
a) Generalidades
O processo executivo deste tipo de estacas é mostrado na Figura 6. Essas estacas tanto
podem ser confeccionadas com caçambas o que lhes confere uma forma circular (Figura 7), neste
caso denominadas “estacões” ou usando clam-shell que lhes confere uma forma retangular, neste
caso denominadas “barretes” (Figura 8).
Figura 6: Fases executivas de uma estaca escavada com auxílio de fluido estabilizante
O controle de campo, neste tipo de estacas, se restringe a uma análise táctil visual do
material escavado para compará-lo com a sondagem mais próxima à estaca e também ao controle
das características exigidas para o fluido estabilizante (pH, viscosidade, teor de areia), conforme
Tabela 2 bem como a manter uma diferença de nível entre o fluido estabilizante e o lençol freático
superior a 1,5 m (quanto maior for esse desnível, melhores são as condições de escavação e de
concretagem). Por esta razão, normalmente se executa um dique à volta da estaca para garantir
um desnível superior a 1,5 m (Figura 9).
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Tabela 2: Características do fluido estabilizante
Propriedades Valores Eqto ensaio
Lama bentonítica Polímero
Densidade (g/cm3) 1,025 a 1,10 1,005 a 1,05 Densímetro
Viscosidade (s) 30 a 90 35 a 120 Funil Marsh
pH 7 a 11 8 a 12 Papel tornassol
Teor de areia (%) ≤3 ≤3 Baroid sand
Cake (mm) (*) 1a2 não forma “cake)
(*) este ensaio não é mais feito na obra, mas deve ser cobrado do fornecedor da bentonita
Camisa guia
Figura 7: Equipamento para executar estacas circulares (“estacões”)
Conforme já informamos acima o “cake” não é mais medido na obra. Porém o mesmo deve
ser solicitado oficialmente ao fornecedor a cada partida de bentonita recebida na obra. A medição
desta propriedade, no passado, era realizada, na obra, utilizando-se o “filter press” (Figura 11).
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Figura 11: Medida do “cake”
b.2) Teor de areia
Utiliza-se o frasco fabricado pela Baroid. O ensaio é feito colocando-se no frasco uma
quantidade de lama até a marca “Mud to Here” e completando-se com água até a marca “Water
to Here”. A seguir tampa-se, com o polegar, a boca do frasco e agita-se a mistura que a seguir é
derramada no recipiente que contém a peneira para reter as partículas de areia. Lava-se, a seguir,
o frasco e o recipiente que contém a areia fazendo passar pela peneira a água de modo a carrear
toda a lama e deixar apenas a areia. A seguir é colocado o funil no frasco e virado sobre o mesmo
o recipiente que contém a areia fazendo passar por ela água que carreará a areia para o frasco.
A areia decantada no fundo do frasco fornece, de maneira direta, a % de areia (Figura 12).
A viscosidade corresponde ao tempo necessário para que o volume colocado no cone (com
a ponta fechada com o polegar) escoa pelo frasco de viscosidade (Figura 13a).
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(a) viscosidade (d) densidade
Foto 13: Medidas da densidade e da viscosidade
b.4) Medida do pH
É medido com uma tira de papel de tornassol que será mergulhado na bentonita e se
compara a cor por essa tira mostrada com a tabela de cor padrão.
c) Aspectos relevantes das fases executivas das estacas escavadas com fluido
estabilizante
c.1) Instalação da camisa-guia (no caso de estacões) ou mureta-guia (no caso de barretes)
c.2) Perfuração
Após a instalação da camisa-guia (ou execução da mureta-guia no caso das estacas barrete)
inicia-se a perfuração com caçamba (estacões) ou clam-shell (barretes) adicionando o fluido
estabilizante (lama bentonítica ou polímero) e mantendo-se, sempre, um desnível entre o topo do
fluido e o lençol freático (natural ou rebaixado) mínimo de 1,5 m. Esta diferença de nível é muito
importante (e quanto maior for esse desnível melhores serão as condições de execução da
estaca). Para tal pode-se executar um dique como mostrado na Figura 9.
Após se atingir a cota de ponta prevista para a estaca deve ser feita a desarenação ou até
a troca de lama contaminada por nova. O máximo de areia permitido para poder descer a armadura
e realizar a concretagem é 3%, além das demais características conforme se mostra na Tabela 4.
No caso de rochas brandas a perfuração pode ser realizada trocando a caçamba por trado
helicoidal com “wídia” nas bordas (Figura 14).
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Figura 14: Troca da caçamba por trado com “wídia” para escavar em rocha
Também é possível escavar estacões em rocha mais resistente do que a que aquela que a
“widia” perfura utilizando-se perfuração com “circulação reversa” conforme se mostra na Figura
15. Neste caso a camisa metálica é cravada até a rocha com martelo vibratório ou por percussão,
faz-se a limpeza interna da camisa com benoto (ou até caçamba) e a seguir instala-se o sistema
de perfuração com circulação reversa. Neste caso a camisa metálica poderá ser perdida (mais
frequente) ou recuperada, com o uso do martelo vibratório quando este for usado na cravação.
O sistema de perfuração com circulação reversa também pode ser substituído por martelo
de fundo similar ao que se utiliza em estacas raiz com perfuração em rocha, conforme se mostra
na Figura 16.
No caso de estacas barrete escavados em rocha, usa-se a “fresa” conforme Figura 17. Neste
caso não se recomenda o uso de polímero pois o mesmo “entope” a bomba de recalque.
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Figura 16: Perfuração em rocha com martelo de fundo
Ao final da escavação (por qualquer um dos processos acima citados) e antes da instalação
da armadura é feita a limpeza do fundo da escavação e, eventualmente a troca de lama, utilizando-
se uma bomba submersa (tipo flyght) apoiada no fundo, (como se fazia no passado) ou a pequena
distância do fundo, (hoje mais frequente) com prolongamento de tubo até o fundo (Figura 18).
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Figura 18: Bomba para limpeza e troca de lama
Também se costuma usar, para essa limpeza de fundo e/ou troca de lama, uma bomba de
superfície com mangote ligado ao tubo tremonha conforme se mostra na Figura 19. Mas este
processo em estacas longas é questionável, sendo preferível o mostrado na Figura 18.
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c.3) Concretagem
Após a limpeza (teor de areia inferior a 3%) e/ou troca da lama e instalação da armadura,
inicia-se a concretagem que é feita por gravidade usando-se o processo submerso, através de um
tubo metálico (tremonha) central ao furo (estacão ou barrete) e com sua ponta próxima da ponta
da estaca. Para barretes “longos em planta” utilizam-se dois ou mais tubos tremonhas (Foto 20).
Foto 20: Uso de duas tremonhas para concretar um barrete “longo em planta”
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Para aferir a homogeneidade do concreto fornecido devem-se moldar 4 corpos de prova de
cada caminhão recebido, rompendo-se 2 a 7 dias e 2 a 28 dias. Há que prefira romper 2 a 7 dias,
1 a 28 dias e deixar o 4º de testemunho para romper a 63 dias (critério que temos usado). Esse
controle já deve ser feito com os resultados a 7 dias para ver a consistência das resistências e,
caso contrário, “acender a luz amarela”.
As cargas normalmente adotas neste tipo de estaca são apresentadas na Tabela 5 para os
estacões e na Tabela 3 para os barretes.
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Figura 22: Detalhe típico da armadura de estacas escavadas
Tabela 5: Quantidade de barras longitudinais (N1) e comprimento l dos estribos (N2 = N3)
D 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 200
N1 8 10 12 14 16 18 20 22 23 26 28 30 34
l(cm) 220 265 295 330 360 360 425 455 490 520 550 585 650
Face ao processo executivo destas estacas, não há garantia de um perfeito contato da ponta
da estaca com o solo, pois não se pode garantir uma limpeza de fundo perfeita. Por isso a NBR
6122 (ora em revisão, porém ainda dependendo do consenso da comissão técnica) que a carga
de ruptura por atrito lateral (PL) seja, no mínimo, 1,25 vezes a carga de trabalho (P). Em outras
palavras, 0,8 PL = P PL = P/0,8 PL = 1,25P.
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2.3) Estacas Strauss
Estas estacas cujo método executivo é mostrado na Figura 23 também carece de controles
de capacidade de carga durante sua execução, pois não se medem as resistências do solo nem
é possível analisar o mesmo pois vem misturado com a lama dentro da “piteira”.
A piteira é deixada cair dentro do tubo e quando bate no fundo da escavação e a lama ali
existente força a tampa para cima permitindo, assim, a entrada do solo, geralmente misturado com
água que é lançada na perfuração para que esse solo tome consistência de lama. Ao ser levantada
essa lama dentro da piteira empurra a tampa para baixo fechando-a. Essa lama é então retirada
de dentro da piteira levantando-se a mesma até a superfície do terreno e virando-a de cabeça
para baixo, de tal forma que a lama sai “pelas janelas”.
Atingida a profundidade desejada é lançada água no interior da tubulação para limpeza dos
tubos. Essa água é totalmente removida com uso da piteira. Após se “secar” a perfuração, lança-
se um “concreto seco” com cerca de 1 m de coluna que é apiloado por um pilão metálico maciço
com cerca de 300 kg para garantir a estanqueidade da perfuração e formar uma espécie de bulbo.
A seguir lança-se quantidades pré-fixadas de “concreto normal” com consumo mínimo de cimento
de 300 kg/m3 e slump-test da ordem de 8 cm a 12 cm que são apiloadas à medida que se remove
o tubo com uso do guincho, tomando-se o cuidado para que a ponta do mesmo esteja sempre
abaixo da cota do concreto para evitar os problemas mostrados em detalhe na figura 23.
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As cargas normalmente utilizadas neste tipo de estacas são as seguintes:
Estas estacas quando sujeitas apenas a cargas de compressão não são armadas, sendo
colocados penas 4 ferros na cabeça, com cerca de 2 m de comprimento e “cravados manualmente”
um a um após o término da concretagem, cuja finalidade é apenas de ligação com o bloco de
coroamento.
Quanto às estacas tipo raiz, também, se encontra uma deficiência no controle da capacidade
de carga durante a execução, pois também aqui, como se mostrou para as estacas Strauss, o solo
escavado vem totalmente desagregado e misturado com a água, durante a perfuração, conforme
se mostra no processo executivo (Figuras 24 e 25).
Durante o enchimento com argamassa, aplicam-se pressões com ar comprimido (ou usando
a própria bomba de injeção de argamassa) com baixas pressões (inferiores a 5 kg/cm2) que visam
apenas garantir a integridade da estaca.
Quando a estaca raiz necessita atravessar matacões ou se embutir na rocha ela é executada
por processo roto-percussivo usando martelo de fundo (Foto 26a) tipo DHT (“down the hole”) com
consequente redução do diâmetro nesse trecho. Caso se use um “bit” excêntrico (Foto 26b) é
possível o recorte no matacão ou na rocha com o diâmetro igual ao externo do revestimento.
(a) martelo de fundo tipo DHT (“down the hole”) (b) “bit” excêntrico
Figura 26: Martelos de fundo para atravessar matacões ou embutimento em rocha.
A argamassa das estacas raiz é injetada por tubo com pequeno diâmetro (geralmente com
diâmetro de 11/2”), portanto com baixa eficiência no arraste necessário da lama bentonítica na face
da parede da estaca com o solo. Daí porque a atual NBR 6122:2010 exige perfuração revestida
integralmente para se evitar uso de lama bentonita ou polímero.
Tabela 7: Tubos de revestimento de estacas raiz e diâmetro dos martelos de fundo DHT
Diâmetro da estaca (mm) 100(*) 120(*) 150 160 200 250 310 400 450
Diâmetro nominal do tubo (pol.) 1 1
3 3 /2 4 /2 5 6 8 10 14 16
Diâmetro externo do tubo (mm) 82 102 127 140 168 220 275 355 405
Peso aproximado do tubo (kg/m) 15 19 28 31 43 65 81 127 160
1 1 5 1
Diâmetro DHT (pol.) - - 3 /2 4 5 /8 7 /8 9 /8 12 14
Nota: (*) Não constam na NBR 6122:2010
Para possibilitar a perfuração dos mais diversos materiais (alvenaria, concreto ou rocha)
podem-se utilizar sapatas de perfuração com pastilhas de carbonato de tungstênio (‘widia”) ou de
diamante ou então realizar a perfuração por roto-percussão com martelo de fundo (Figura 26),
acionados por ar comprimido. Na Tabela 7 apresentam-se as características principais dos tubos
de revestimento e os diâmetros dos martelos de fundo (DHT´s) em relação ao diâmetro final das
estacas.
Após a perfuração atingir a cota de projeto continua-se a injetar água (ou ar comprimido)
sem avançar a perfuração para promover a limpeza do furo. A seguir instala-se a armadura (Figura
27), de seção constante ou variável, geralmente constituída por barras de aço montadas em
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gaiolas. No caso de estacas de menor diâmetro (abaixo de 16 cm) costuma-se usar uma só barra
ou barras dispostas em feixes, dotadas de espaçadores.
Nas estacas trabalhando à compressão as emendas das barras podem ser feitas por
transpasse (devidamente fretado), porém nas estacas tracionadas as emendas devem ser feitas
por luvas prensadas ou luvas rosqueadas. Excepcionalmente as barras poderão ser emendadas
por solda desde que a mesma seja feita por soldador qualificado e as emendas sejam testadas.
Uma vez instalada a armadura é introduzido o tubo de injeção (geralmente de PVC com
diâmetro de 11/2 pol. ou 11/4 pol.) até o final da perfuração para proceder à injeção, de baixo para
cima, da argamassa até que a mesma extravase pela boca do revestimento, garantindo-se que a
água ou a lama de perfuração seja substituída pela argamassa. Esta é confeccionada em
misturador de alta turbulência para garantir a homogeneidade da mistura.
Para atender ao consumo mínimo de cimento estipulado pela NBR 6122:2010, ou seja, 600
kg/m3 utiliza-se o seguinte traço:
1 saco de 50 kgf de cimento
60 a 80 litros de areia média lavada e peneirada
20 a 25 litros de água (fator água cimento da ordem de 0,6)
Notas: 1) A NBR 6122:2010 exige 600 kgf de cimento por metro cúbico a fim de que a argamassa possa
ser bombeada. Testes feitos com consumo inferior a este têm fracassado.
2) O traço especificado pela NBR 6122:2010 confere à argamassa uma resistência característica
elevada e superior a 200kgf/cm2 (20 MPa). Entretanto a Norma limita o fck a 200 kgf/cm2 face
às condições de cura dessa argamassa dentro do terreno, portanto, em ambiente sem um
controle sobre a cura da mesma. Por esta razão o controle da argamassa na obra deve ser
realizado pelo consumo de cimento e não pela resistência característica.
À medida que os tubos vão sendo extraídos o nível da argamassa vai abaixando necessitando
ser completada antes da aplicação de uma nova pressão sobre a mesma. Esta operação é repetida
várias vezes d u r a n t e a retirada do revestimento e, principalmente na região das emendas onde
existe o dobro das barras longitudinais e um menor espaçamento entre os estribos (fretagem).
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2.4.4) Capacidade de carga estrutural à compressão (estacas totalmente enterradas)
A carga admissível estrutural à compressão das estacas raiz é fornecida pela resistência
estrutural dos materiais que as compõem. Esta carga é a máxima possível a adotar para a estaca,
devendo a carga admissível final ser calculada pelos métodos de transferência de carga para o solo
(cálculo geotécnico). Para este cálculo a NBR 6122:2010 separa as estacas em dois grupos:
1º grupo: estacas com percentagem de aço inferior a 6% e aço com fyk < 6.000 kgf/cm2
2º grupo: estacas com percentagem de aço superior a 6%.
a) Estacas c/ percentagem de aço inferior a 6% e aço com fyk < 6.000 kgf/cm2 (600 MPa)
Neste caso o dimensionamento será feito como pilar de concreto armado considerando-se
para a seção transversal da argamassa (ou da calda) a área da seção transversal da estaca
reduzida da área da armadura.
A NBR 6122:2010 em seu item 9.2.2.2 impõe que em uma prova de carga a estaca deverá
resistir até duas vezes a carga de trabalho (P). Para evitar que nessa carga não ocorra ruptura
dos materiais que compõe a estaca deve-se esgotar apenas 95% das suas resistências. Com esta
hipótese, pode-se escrever:
2.P = 0,95(0,85. Ac . f ck + As . f yk )
em que:
Ac = área da seção da argamassa
As = área da seção de aço
P = carga máxima de compressão resistida pela estaca
fck = resistência característica da argamassa. A NBR 6122:2010 restringe esse valor a 200
kgf/cm2 (20 MPa) pelas razões já expostas acima.
fyk = resistência característica do aço.
Como nas estacas raiz a densidade de armadura é superior àquela que se utiliza em outros
tipos de estacas, a área da seção da argamassa será:
π .D 2
Ac = − As
4
sendo D é o diâmetro nominal da estaca
2.P − 0,6.D 2 . f ck
As =
0,95. f yk − 0,765. f ck
Com base nesta expressão foi possível elaborar a Tabela 8 que apresenta a armadura
necessária para estacas raiz em função da carga nelas atuantes e sem ocorrência de flambagem.
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Tabela 8: Cargas admissíveis à compressão em (tf) para estacas raiz, sem flambagem
Aço Diâmetro nominal das estacas (cm)
CA 50 A 10 12 15 16 20 25 31 40 45 50
1Φ16 mm 10
1Φ20 mm 15
4Φ12,5 mm 20 25
4Φ16 mm 30 35
4Φ20 mm 40 50 60 80 120
5Φ20 mm 55 70 90 130 150 180
6Φ20 mm 95 135 160 190
7Φ20 mm 100 140 170 200
Estribos c/20cm - - - - 5,0 6,3 6,3 6,3 6,3 6,3
Dest ≈ D-15 cm CA 25 CA 25 CA 25 CA 25 CA 25 CA 25
Notas:
1) As cargas indicadas na Tabela poderão ser as cargas de trabalho das estacas à compressão desde que seja
verificada a capacidade de carga na interação estaca-solo (capacidade de carga geotécnica). São, portanto,
cargas “máximas limites”.
2) Como nas estacas raiz as emendas são feitas na mesma seção (por questões executivas), deve-se “fretar”
a região da emenda alterando-se o espaçamento entre os estribos (ou espiral) para 10 cm ou até 7,5 cm.
Além disso, durante o lançamento da argamassa, quando esta estiver poucos centímetros acima do topo
da emenda deve-se proceder a aplicação de pressão (com ar comprimido ou com a própria bomba de
injeção) a fim de garantir eficiente envolvimento da armadura nessa região cuja densidade de aço é o dobro
do restante da estaca.
Quando se necessita emendar as barras esta emenda ocorre em uma única seção pois o
processo executivo das estacas raiz dificulta (e muito) o transpasse com defasagem das emendas.
Para calcular o comprimento de transpasse utiliza-se a NBR 6118:2013 conforme exemplo a
seguir:
α .Φ. f yd
NBR 6118:2003 l = 0,6 (itens 9.4.5.1 e 9.5.2.3)
4.η1 .η 2 .η 3 . f ctd
2 x 2 x 4.347
l = 0,6 = 150 cm
4 x 2,25 x1x 0,7 x11
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b) Estacas c/ percentagem de aço superior a 6% e aço com fyk ≥ 6.000 kgf/cm2 (600 MPa)
Nas estacas raiz tracionadas toda a carga deverá ser resistida pela armadura. Neste caso
deve-se desprezar 1 mm da espessura da armadura em contato com o solo. Na Tabela 9
apresenta-se o diâmetro útil da barra igual ao diâmetro nominal descontado 2 mm e a área útil
decorrente da corrosão. Estes valores só se aplicam em solos não agressivos ao aço (método
simplificado da NBR 6122:2010). Onde não se possa utilizar esse cálculo simplificado de corrosão
(solos agressivos ou estacas acima do nível do terreno) deve-se seguir o critério de cálculo
exposto na NBR 6118:2003.
Tabela 9: Área útil das barras de aço para as estacas raiz tracionadas
Φ (mm) 12,5 16 20 25 32
Φútil (mm) 10,5 14 18 23 30
2
As,útil (cm ) 0,87 1,54 2,54 4,15 7,07
Tabela 10: Armadura necessária (número de barras) em estacas tracionadas com carga T
Carga Aço CA 50 A (Φ em mm) DYWIDAG(St85/105) INCOTEP
T (tf) Φ12,5 Φ16 Φ20 Φ25 Φ32 T (tf) Φ(mm) T (tf) Tipo
5 3 1 8 15 20 22D
10 5 2 1 34 32 35 35D
15 8 3 1 43 36 43 45D
20 6 2 51 50D
25 7 4 GEWI(50/55) 60 60D
30 9 6 3 2 T (tf) Φ(mm) 70 70D
35 14 25 85 90D
40 8 4 3 21 32 100 100D
60 6 4 50 50
70 7 5
100 7
Cabe lembrar que estacas somente tracionadas (sem esforço horizontal) dispensam
estribos, podendo a armadura ser constituída apenas de barras isoladas.
Conforme já exposto acima as emendas devem ser feitas, preferencialmente, por luvas
prensadas (caso de barras CA 50A) ou luvas rosqueadas (DYWIDAG ou INCOTEP). Não se
recomenda fazer emendas por solda, pois essas emendas seriam feitas na obra e sem controle.
O mesmo se aplica às emendas de topo. Esses procedimentos somente poderão ser aceitos se
existir soldadores qualificados e se realizarem ensaios de tração para validar a qualidade da
emenda.
Outro aspecto importante é que a carga de tração varia desde um máximo T (na cota de
arrasamento da estaca) até zero (na cota de ponta). Por esta razão a seção de aço poderá diminuir
com a profundidade, em função da transferência de carga para o solo, por atrito lateral.
24
Entretanto quando a estaca tem comprimento maior do que o necessário para transferir a
carga de tração para o solo, não há necessidade de se armar a mesma em todo comprimento.
α .Φ. f yd
l= (item 9.4.5.1 e 9.5.2.3)
4.η1 .η 2 .η 3 . f ctd
700 cm
Tabela 9.4 100% barras emendadas α =2
fck =200 kgf/cm2 =20 MPa f ctm = 0,3.3 fck 2 =2,2 MPa fctd = 2,2/2 = 1,1 MPa ou 11 kgf/cm2
2 x3,2 x7.390
l= ≈ 700 cm
4 x 2,25 x1x0,7 x11
2.5.1) Generalidades
Estas estacas são confeccionadas com concreto armado ou protendido, com fck mínimo de
40 MPa (400 kgf/cm2) e permitem, durante sua execução, um grande número de medidas que
visam controlar e garantir seu desempenho. Esse controle é feito, via de regra, pelo diagrama de
cravação (onde se mede o número de golpes necessário à cravação de cada 50 cm da estaca
com o pilão caindo de altura constante). Este diagrama permite aferir a qualidade das sondagens,
pois o mesmo deverá estar em consonância com os SPT´s. Utilizam-se também a nega, o repique
e os ensaios dinâmicos conforme se exporá a seguir.
As estacas pré-moldadas podem ser associadas com outros materiais (madeira, aço,
estacas raiz, etc) formando as denominadas estacas mistas conforme definição da NBR 6122 e
apresentado nas Figuras 28 e 29. No primeiro caso (Figura 28b) o segmento metálico tem por
finalidade permitir a cravação de um comprimento significativo da estaca em solos de alta
resistência sem provocar o fenômeno de levantamento decorrente da cravação de estacas
próximas. Também é usado em obras marítimas onde a estaca deve atingir profundidades
significativas sem quebrar e permitir capacidade de carga da estaca após a dragagem.
25
Figura 28: Exemplo de estacas mistas
Na Figura 29 o segmento metálico tem por finalidade permitir que a estaca possa ser cravada
até atingir a rocha (após passar por solo de alteração) sem romper o segmento de concreto pois
o perfil metálico é um material mais dúctil do que o concreto. Entretanto quando a superfície da
rocha é muito inclinada esta solução não é adequada pois o perfil ao atingir a rocha pode
escorregar quebrando a estaca por flexão. Uma solução frequentemente utilizada, neste caso, se
a estaca de concreto for vazada é se executar uma estaca raiz embutida na rocha como se mostra
esquematicamente na Figura 28d.
Figura 29: estacas mistas com segmento metálico para “apoio efetivo” em rocha
26
Figura 30: Detalhes do anel metálico solidário à armadura da estaca e emenda por solda
O adensamento do concreto das estacas pode ser por centrifugação (hoje em dia menos
utilizado) ou por vibração, este de uso mais frequente inclusive utilizando-se concreto auto
adensável.
Devido à alta velocidade de giro da fôrma, o concreto em seu interior fica submetido a uma
força centrífuga que faz com que o mesmo seja uniformemente distribuído ao longo da face interna
da forma, obtendo-se uma estaca circular, com seção vazada. A força centrífuga, por unidade de
volume, é obtida pela expressão:
m. v 2 γ c v
2
fc = = .
R g R
em que fc é a força, por unidade de volume, que o concreto exerce sobre a face interna
da forma, γc é o peso específico do concreto (2,2 tf/m3), g é a aceleração da gravidade (≅10 m/s2),
v é a velocidade tangencial decorrente da rotação e R é o raio interno da forma.
Por exemplo, o concreto dentro de uma fôrma com 60 cm de diâmetro girando a 600 rpm
fica submetido a uma força centrífuga (por unidade de volume da massa em rotação) de cerca de
120 vezes o seu peso específico, conforme se mostra a seguir.
2. π .0,30
v = 600. ≅ 19m / s e
60
2,2 19 2
fc = . ≅ 265 tf/m3
10 0,30
A cura do concreto pode ser feita normalmente (usando-se cimento ARI) ou a vapor. Cabe
lembrar que a cura a vapor só acelera o ganho de resistência nas primeiras horas, mas não diminui
o tempo total necessário para que o concreto atinja a resistência final. Por isso as estacas devem
permanecer no estoque por um período que independe de serem ou não inicialmente curadas a
vapor.
29
A carga máxima estrutural das estacas pré-moldadas é comumente indicada nos catálogos
técnicos das empresas fabricantes. Alguns exemplos são apresentados nas Tabelas 12 a 15.
30
Tabela 14: Cargas em estacas de seção circular centrifugadas
Para suprir esta lacuna, pode-se adotar a classificação e os limites a seguir indicados, para
as estacas total e permanentemente enterradas:
31
Classe 1: Fissuras transversais, isto é aquelas que apresentam abertura máxima de 1mm em
plano transversal ao eixo da peça. Neste caso, segundo o anexo da NBR 7480 (antiga
EB3), a fissuração não é nociva quando as fissuras (ou pelo menos 85% delas) não
ultrapassam os valores:
a) 0,3 mm para estruturas protegidas com revestimento;
b) 0,2 mm para estruturas expostas em meio não agressivo;
c) 0,1 mm para estruturas expostas em meio agressivo.
Assim, se as fissuras estiverem dentro destas faixas, nenhuma providência especial
precisa ser tomada. Quando as fissuras ultrapassam estes valores, porém não atingem
1 mm, a estaca deverá ser marcada, riscando-se com lápis de cera especial junto às
fissuras para identificação das mesmas.
Estas estacas deverão ser cuidadosamente acompanhadas durante seu içamento e
aprumo junto ao bate-estacas, após o que novo exame deverá se efetuado junto às
marcas de lápis.
Caso as fissuras tenham-se fechado até os limites acima mencionados, indicando que
a armadura longitudinal não ultrapassou o estado elástico, a estaca será cravada
normalmente. Em caso contrário a estaca deverá ser rejeitada.
Caso 3: Trincas transversais, isto é aquelas que apresentam abertura superior a 1 mm em plano
transversal ao eixo da peça são prenúncio de que a armadura longitudinal superou o
estado elástico e a estaca deverá ser rejeitada.
Caso 4: Trincas longitudinais deverão ser tratadas da mesma forma que o caso 2.
Caso 5: Desagregações isto é, pequenas partes superficiais da peça que se soltam por motivos
diversos, geralmente golpes e batidass acidentais. Neste caso a estaca deve ser
recuperada na região da área afetada.
32
Figura 34: Detalhe do capacete
Quando a cravação for feita utilizando-se pilões de queda livre estes deverão ter um peso
mínimo de 70% do peso da estaca. Quando esta relação conduzir a pilões muito pesados, pode-
se recorrer a estudos de cravabilidade baseadas na teoria da equação da onda. Na Tabela 16
apresentam-se os pesos dos pilões normalmente utilizados entre nós.
33
Quando a cota de arrasamento das estacas estiver abaixo da cota de cravação, pode-se
utilizar um elemento suplementar, geralmente metálico, denominado prolonga ou suplemento,
desligado da estaca propriamente dita, que será retirado após a cravação (Figura 35). A não ser
que se usem dispositivos especiais, devidamente comprovados e que garantam o posicionamento
da estaca até as profundidades de projeto sem redução da eficiência da cravação, a profundidade
do suplemento está limitado a 2,5 metros abaixo da cota de cravação.
Durante a cravação das estacas deve-se proceder aos controles de campo, verificando-se
as profundidades atingidas e comparando-as com as previstas. Também se deve verificar se
ocorre o fenômeno de relaxação (perda de capacidade de carga com o tempo após a cravação),
de cicatrização (aumento de capacidade de carga com o tempo após a cravação) e do
levantamento de estacas vizinhas durante a cravação de estacas próximas. Caso se constate o
fenômeno de relaxação ou de levantamento deve-se proceder a recravação das estacas
comprometidas e, neste caso, as emendas das mesmas deverão ser, obrigatoriamente por solda,
para evitar separação dos elementos emendados. Para esses controles de campo usam-se os
gráficos de cravação (contagem do número de golpes do pilão caindo de altura constante
necessários para cravar cada 50 ou 100 cm da estaca), as negas, os repiques, os ensaios de
carregamento dinâmico e as provas de carga estáticas.
Apesar das críticas às formulas das negas, as mesmas têm uma aplicação no controle da
uniformidade do estaqueamento quando se procura manter, durante a cravação, negas
aproximadamente iguais para as estacas com carga e comprimentos iguais. Entre as várias
fórmulas de nega serão apresentadas as duas mais divulgadas, respectivamente de Brix e a dos
holandeses:
4.W 2 .P.h
Fórmula de Brix s=
R.(W + P )
2 que adotando um fator de correlação 20 se escreve:
34
W 2 .h
Fórmula dos holandeses s =
R.(W + P )
que adotando um fator de correlação 10 se escreve:
W 2 .h W 2 .h
s= ou ainda Padm =
10 Padm (W + P ) 10.s.(W + P )
Cabe ressaltar que as fórmulas de nega foram estabelecidas a partir da teoria de choque de
Newton que só se aplica a corpos rígidos, ou seja, quando a aplicação do golpe impõe movimento
instantâneo da extremidade oposta ao golpe (ponta da estaca). Isso vale para estudo de
movimento de bolas de bilhar mas está muito longe do fenômeno da cravação de uma estaca à
medida que a mesma se torna mais esbelta. É por esta razão que os resultados obtidos são muito
dispersos o que obriga a se adotar fatores de correlação tão elevados (10 a 20). Por esta razão,
hoje em dia, essas fórmulas são utilizadas apenas para o controle da uniformidade do
estaqueamento e não para definir capacidade de carga das estacas. O controle pelo repique
elástico oferece menos dispersão nos resultados e costuma ser um dos elementos de controle de
campo na estimativa da capacidade de carga das estacas cravadas.
35
b) Controle pelo repique
K = C2 + C3
C2 = K - C3 = K – S
Vê-se, portanto, que para os casos normais em que a estaca trabalha por ponta + atrito
lateral, o valor de C2 varia de (0,5 a 1)Pl/AE, podendo-se adotar, na fase de projeto, um valor
intermediário, ou seja:
0,7. P. l
C2 ( calculado ) =
A. E
A expressão acima tanto permite comparar o valor de C2 calculado com o medido no campo,
como também permite, a partir do valor medido, obter a carga esperada para a estaca na
profundidade onde se mede o repique, ou seja conhecido C2, obtém-se:
C2 . A. E
P=
0,7. l
Outro controle de campo muito usado nas estacas pré-moldadas é o ensaio de carregamento
dinâmico (Figura 39), também conhecido como ensaio PDA = Pile Driving Analyser. Este ensaio é
calcado na equação de Smith (1960).
37
O ensaio é regido pela norma NBR 13208 e consiste em acoplar à estaca um par de
transdutores de deformação específica e um par de acelerômetros, posicionados diametralmente
para compensar eventuais efeitos de flexão devidos aos golpes do pilão sobre a estaca. Esses
instrumentos estão conectados ao analisador PDA (Pile Driving Analyse). Trata-se de um circuito
eletrônico especial que processa uma série de cálculos “on line” durante cada golpe do pilão.
Para se estimar a carga mobilizada costuma-se utilizar dois métodos: CASE (geralmente
durante o ensaio no campo) e o CAPWAP (ou, mais recentemente, o CAPWAPC) realizado no
escritório, que permite obter a carga mobilizada bem como sua distribuição ao longo do fuste e
sob a ponta da estaca, como se apresenta na Figura 41.
Nota: Para as estacas com diâmetro superior a 80 cm devem ser usados 6 transdutores (2
acelerômetros e 4 medidores de deformação específica.
38
d) Manuseio de estacas
Para se reduzir a armadura das estacas devido aos esforços que ocorrem durante a
operação de manuseio e levantamento, além da redução do peso próprio da mesma, quando esta
for longa, costuma-se utilizar seção vazada e devem-se selecionar pontos para levantá-la. No caso
do levantamento ser por um ou por dois pontos procura-se obter igualdade de módulo de
momentos fletores (Figura 42). Nestes casos, sendo p o peso por metro de estaca, tem-se:
2
p.x 2 p.l 2 l
= − x
2 2(l − x ) 2
onde o primeiro membro representa o momento negativo no ponto de suspensão e o segundo
membro o momento positivo máximo no vão entre o ponto de suspensão e a ponta da estaca que
toca o solo.
x
= 0,29
l
x 1
ou aproximadamente ≅ , donde se denominar “levantamento pelo terço”.
l 3
p.x 2 (1 − 2.x )2 x 2 x x 1
= p. − onde = 0,207 ou ≅
2 8 2 l l 5
o que justifica dizer-se “levantamento pelos quintos”.
39
Na Figura 43 resumem-se a posição dos pontos de levantamento de estacas por 3, 4 e 5
pontos. Ao contrário do levantamento por 1 e 2 pontos (onde se procurou ter momentos fletores
com módulos iguais), nestes outros casos, esses pontos são escolhidos de modo a se obter a
mesma carga por ponto. Na Figura 44 mostra-se uma estaca mista com 52 m de comprimento (42
m em concreto vazado e 10 m em tubo metálico) sendo levantada por 4 pontos.
Figura 44: Estaca mista com 52 m sendo içada por quatro pontos
40
2.6) Estacas metálicas
Quando se usam estacas tubulares, aço ASTM A-36 (fyk = 2.400 kgf/cm2 = 240 MPa)
cravadas à percussão há necessidade de dotá-las de uma espessura mínima para evitar danos
(Figura 45). Essa espessura da chapa deve ser:
D
e ≥ 6,35 +
30
Nesta expressão “e” é obtido em mm para D (diâmetro do tubo) expresso em cm.
Outra situação onde pode ocorrer “sanfonamento” de estacas metálicas ocorre quando se
usam, na sua cravação martelos automáticos e o projetista exige “nega apertada”. Como já se
expôs acima a nega não deve ser usada para controle da capacidade de carga. Para tal deve-se
utilizar o repique ou os ensaios de carregamento dinâmico, como já foi exposto para as estacas
pré-moldadas. Por isso, hoje em dia, as negas são empregadas, não mais para avaliar a
capacidade de carga das estacas, mas para o controle da homogeneidade do estaqueamento.
Entretanto alguns projetistas ainda quererem controlar a capacidade de carga pela nega, o
que tem provocado muita discussão quando se exige negas “muito fechadas”. Esse procedimento,
vem do “vicio antigo” quando a cravação era realizada com martelos de queda livre que permitiam
obter essas negas fechadas sem qualquer problema para esse tipo de martelos. Entretanto com
o advento dos martelos automáticos esta exigência não mais se sustenta, inclusive com o apoio
da NBR 6122:2010 que no item C.3 do Anexo C expõe: No uso de martelos automáticos ou
vibratórios, deve-se seguir as recomendações dos fabricantes.
Nossa experiência com esse tipo de martelos mostrou que negas inferiores a 2mm/golpe
são inaceitáveis para os martelos automáticos, pois estas negas “fechadas” causam danos a
esses martelos. Já assistimos a uma perda total de um martelo automático, em uma obra em
Santos, quando o projetista exigia negas próximas de zero, apesar dos ensaios dinâmicos
mostrarem que com negas próximas de 2 mm/golpe as estacas já apresentavam a capacidade de
carga exigida no projeto.
41
Não se pode esquecer que além de se impor “desgaste” e eventual perda do martelo, há
ainda o risco de inutilizar a estaca por “sanfonamento” devido à alta energia a ela imposta,
conforme se mostrou nas Figuras 45 e 46.
Um aspecto importante quando se usam trilhos usados (ou de maneira mais geral “peças
reutilizadas é que a norma NBR 6122:2010 só permite que sejam utilizadas como estacas se a
perda de massa for no máximo 20% do valor nominal da peça nova. Além disso, ao contrário de
peças novas, onde se permite usar como tensão estrutural admissível 0,5 fyk, nas peças
reutilizadas esse valor não pode ser superior a 0,3 fyk.
42
Tabela 18: Cargas máximas de algumas estacas tubulares (aço ASTM A 36)
D E Peso (kg) Aútil Padm(estrutural)
(cm) (mm/pol) chapa(kgf/m2) estaca(kg/m) (cm2) (tf)
60 8 (5/16”) 63 120 132 150
70 10 (3/8”) 80 176 198 235
80 10 (3/8”) 80 201 226 270
90 10 (3/8”) 80 226 255 300
100 10 (3/8”) 80 246 283 340
110 12 (1/2”) 100 346 380 450
120 12 (1/2”) 100 377 415 500
Aútil = Atotal – área correspondente à redução de 1 mm externo (corrosão em solos naturais)
Tabela 19: Resistências mecânicas de algumas estacas tubulares (aço ASTM A 36)
D e Dm I W
(cm) (cm) (cm) (cm4) (cm3)
60 0,8 59,2 65.180 2.173
70 1,0 69 129.005 3.686
80 1,0 79 193.616 4.840
90 1,0 89 276.841 6.152
100 1,0 99 381.036 7.621
110 1,2 108,8 606.915 11.035
120 1,2 118,8 790.115 13.169
2.6.3) Corrosão
Na Figura 47 mostram-se estacas metálicas constituídas por duplo I 10”x45/8” da CSN que
serviram de fundação à ponte na Rua Wandenkolk sobre o rio Tamanduateí, afluente do Rio Tietê,
em São Paulo, por mais de 20 anos e que foram removidas quando do alargamento desse rio. A
separação entre o trecho acima e abaixo do nível de água está destacada nessas fotos.
Figura 47: Estacas metálicas com mais de 20 anos em uso (margens do rio Tamanduateí)
43
Verifica-se, por essas fotos que no trecho enterrado a corrosão não ocorreu. Entretanto, a
favor da segurança, a NBR 6122:2010 exige que nas estacas metálicas enterradas,
independentemente da posição do nível de água, dispensam tratamento especial desde que seja
descontada uma espessura mostrada na Tabela 20 da superfície em contato com o solo resultando
uma área útil menos que a real (Figura 48).
O Eurocode 3: Design of Steel Structures (parte 5) trata do assunto através de duas Tabelas
que estão transcritas nas Tabelas 21 (estacas em solo) e 16 (estacas em água limpa e água do
mar). Para este último caso apresenta o exposto na Figura 22.
O conceito apresentado no Eurocode (que em princípio foi adaptado para a nova revisão da
NBR 6122 em 2010) apresenta a evolução da corrosão com o tempo e fixa valores para diversas
vidas úteis de estacas prancha (contenção) com apenas uma face exposta à água.
Tabela 21: Perda de espessura (mm) por corrosão em solos com e sem água
Vida útil da obra (anos) 5 25 50 75 100
Solo natural não remoldados 0,00 0,30 0,60 0,90 1,20
Solo natural poluído e “sites” industriais 0,15 0,75 1,50 2,25 3,00
Pântanos e turfas 0,20 1,00 1,75 2,50 3,25
Aterros de solos não agressivos (argila, etc) 0,18 0,70 1,20 1,70 2,20
Aterros com cinzas e escória 0,50 2,00 3,25 4,50 5,75
Notas:
1) A velocidade de corrosão em aterros compactados é mais baixa do que nos não
compactados.
2) Os valores para 5 e 25 anos baseiam-se em medidas. Os outros foram extrapolados.
Tabela 22: Perda de espessura (mm) por corrosão em água limpa e água do mar
Vida útil da obra (anos) 5 25 50 75 100
Água fresca (rios e canais de navios) 0,15 0,55 0,90 1,15 1,40
Água poluída (despejos, efluentes industriais) 0,30 1,03 2,30 3,30 4,30
Água do mar em clima temperado 0,55 1,90 3,75 5,60 7,50
Idem em zona permanentemente imersa 0,25 0,90 1,75 2,60 3,50
Notas:
1) A maior velocidade de corrosão ocorre nas zonas de “respingos” e de variação de maré.
2) Os valores para 5 e 25 anos baseiam-se em medidas. Os outros foram extrapolados.
44
Figura 49: Velocidade de corrosão em água do mar (Eurocode EN 1993-5: 2005)
Até 2006, as estacas metálicas só eram projetadas utilizando-se perfis de seção constante.
Entretanto em 2005 este autor desenvolveu para a GERDAU o conceito de “Estacas metálicas
de seção decrescente com a profundidade“ visto que, no caso de estacas comprimidas a carga
axial decresce com a profundidade, desde o valor máximo (PR), no topo, até um valor mínimo na
ponta (PP), conforme se mostra na Figura 50.
Figura 50: Transferência de carga de uma estaca para o solo (sem “atrito negativo”)
45
Como estes valores de carga são decorrentes dos valores de transferência de carga para o
solo, a carga (admissível ou característica) a ser resistida pela estaca equivale à metade deste
valor, ou seja, P = PR/2 no topo. Assim, pode-se concluir que a seção transversal da estaca
metálica (ou de qualquer outro tipo de estaca) não necessita apresentar resistência estrutural
constante ao longo de todo seu comprimento, já que a carga que nela irá atuar decresce com a
profundidade. Ou seja, para o caso das estacas metálicas a seção da mesma poderá variar
(decrescer) com a profundidade.
Nota: O raciocínio acima se aplica aos casos em que não ocorre a ação do “atrito negativo”. Neste
caso vale o conceito, mas a seção da estaca na região do atrito negativo, também será
variável, porém crescente com a profundidade até a profundidade onde se encontra o “ponto
neutro”. Daí para baixo a seção poderá ser decrescente como acima exposto.
Este foi um conceito novo desenvolvido por este autor em 2005 e introduzido pela GERDAU
no mercado de estacas em 2006 que tem como vantagem principal a redução do peso das estacas
metálicas para uma mesma carga onde se usava, até então seção constante com a profundidade.
Isto é, com a variação decrescente da seção transversal das estacas, podem-se obter idênticas
capacidades de carga com uma economia substancial no peso das mesmas.
No Brasil, inúmeras fundações já foram realizadas utilizando este novo conceito e para
comprovar a eficiência desta solução, provas de cargas estáticas tem sido regularmente realizadas
permitindo, inclusive, reavaliar os métodos semi-empíricos de capacidade de carga até então
disponíveis (Aoki & Velloso, Décourt & Quaresma e Teixeira) para este tipo de estacas que se
mostraram contra a segurança. Esse método desenvolvido por este autor foi apresentado em 2008
no SEFE VI.
46
Tabela 23: Previsão da transferência de carga usada para compor a estaca de seção
decrescente com a profundidade
47
Figura 51: Composição de uma estaca metálica de seção decrescente com a profundidade
a partir dos valores apresentados na Tabela 18
48
2.6.5) Emendas
As emendas devem ser dimensionadas para resistir a todas as solicitações que possam
ocorrer durante o manuseio, a cravação e a utilização da estaca. No caso de estacas tubulares,
confeccionadas com aço A 36, onde exista equipe treinada e qualificada essas emendas podem
ser feitas com solda de topo e de penetração total como se mostra na Figura 52.
Figura 52: Emenda com solda de topo de penetração total em estacas tubulares
Entretanto nas obras “normais” onde nem sempre se conta com soldadores qualificados (que
no jargão de obra são chamados “queimadores de eletrodo”) é comum se empregar talas
soldadas, seguindo-se a orientação geral contida no Manual da ABEF (Associação Brasileira de
Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia).
As talas podem ser obtidas de chapas de aço com resistência equivalente à dos perfis.
Entretanto por uma questão de praticidade, as emendas são tradicionalmente executadas
utilizando-se um segmento do próprio perfil, recortado conforme Figura 53, do qual se obtêm as
talas de mesas e de alma que irão compor as emendas da estaca na obra.
Figura 53: Segmento do perfil que será recortado nas posições indicadas para obter as
talas
49
Figura 54: Emenda com talas (eletrodo de 4 mm e filete de solda com mínimo de 8 mm)
No caso de estacas tracionadas (ou quando a cravação for feita com martelo vibratório) os
comprimentos apresentados na Tabela 24 devem ser aumentados em 5 a 10 cm.
Tabela 24: Critério utilizado para o cálculo das emendas das estacas GERDAU
A principal característica das estacas tipo Franki é possuir uma base alargada que deverá
ser confeccionada com uma energia mínima de 150 tf.m para os últimos 90 l introduzidos se a
estaca tiver diâmetro inferior a 450 mm ou 500 tf.m para os últimos 150 l para os diâmetros
maiores. Essa energia é calculada multiplicando-se o número de golpes do pilão pelo peso do
mesmo e pela altura de queda (constante). Conhecida a altura de queda do pilão (geralmente 6m)
e seu peso, pode-se calcular o número de golpes mínimos para injetar o volume da base alargada.
Quando se executam estacas tipo Franki, deve-se estar atento para os dois principais
problemas que podem danificar a estaca. O primeiro é o estrangulamento do fuste na concretagem
através de solos moles. Para evitar este problema costuma-se reforçar o solo mole pela cravação
prévia do tubo e sua retirada, preenchendo-se o furo com uma mistura de brita e areia e,
eventualmente complementado aumentando-se o diâmetro das barras ou seu número.
O segundo problema é a ruptura por tração do concreto ainda fresco ou a perda de contato
do fuste com a base alargada devido ao levantamento da estaca já cravada pela cravação de
estacas vizinhas. Por isso ao se iniciar um estaqueamento deve ser avaliado esse risco com base
nas sondagens de reconhecimento e na experiência de obras próximas. Apenas a título
orientativo, levantamentos acima de 25 mm não são tolerados.
Outra característica deste tipo de estaca é que o concreto utilizado é submetido a elevada
energia de compactação e, portanto, não se pode usar concreto plástico. Os traços já
padronizados são indicados abaixo:
52
• Concreto do fuste apiloado
1 sc de cimento de 50 kg
90 l de areia
80 l de brita 1
60 l de brita 2
fator água/cimento 0,45
Figura 57: Vista de um equipamento Franki e detalhe da base de uma estaca removida
53
2.8) Estacas hélice contínua
2.8.1) Introdução
A estaca hélice contínua (continuous flight auger - CFA) é uma estaca moldada in loco,
executada mediante a introdução no terreno, por rotação, de uma haste tubular (com diâmetro
interno de 4 pol a 5 pol) dotada externamente de uma hélice contínua (trado contínuo) e injeção
de concreto, pela própria haste, simultaneamente com sua retirada. Após a concretagem é
introduzida a armadura. As fases executivas deste tipo de estaca estão apresentadas na Figura
58 e uma vista geral do conjunto de equipamentos utilizados na Figura 59.
Os equipamentos que executam estacas hélice contínua são classificados em função de três
parâmetros: peso, torque e força de arranque do trado sem girar o mesmo (Tabela 27). A escolha
do equipamento depende das características do solo onde se executará as estacas, do diâmetro
e comprimento das mesmas.
O método executivo mostrado na Figura 61 impõe que a armadura só possa ser introduzida
após a concretagem da estaca. Por esta razão o concreto deve ser trazido até o nível do terreno
mesmo que a cota de arrasamento seja profunda para evitar que caia terra sobre o concreto fresco
após a remoção do trado. Essa terra “embuchará” nos estribos e será empurrada pela armadura
criando uma “rolha” de solo dentro do corpo da estaca, conforme se mostra na Figura 60.
Figura 60: Patologia por contaminação do concreto fresco da estaca cuja concretagem foi
interrompida abaixo do terreno e a seguir se introduziu a armadura
55
Este procedimento permite garantir a centralização da armadura e não impede que se
“balance” a mesma quando da sua instalação para forçar sua penetração no concreto. A folga de
7,5 cm ao longo do perímetro da armadura, em relação ao diâmetro do trado, é para permitir esse
“balanceamento” o que fica impedido se existirem muitos roletes ao longo da armadura. O pé da
armadura deve ser reduzido, nos últimos 150 cm, conforme se mostra na Figura 65. Esta redução
visa evitar que a ponta da mesma “se crave” nas paredes de solo que conforma a estaca durante
sua introdução. Daí porque, nessa mudança da armadura, quando a mesma tiver até 6 m, devem
ser dispostos 4 roletes, não só para garantir o cobrimento da armadura como ajudar a que a
mesma não “se crave” na parede de solo. Para armaduras maiores recomenda-se usar roletes a
cada 4 m ou mais. Além disso para que essa armadura possa ser instalada, a mesma deve ser
suficientemente rígida, conforme detalhe típico mostrado na Figura 65.
56
Figura 62: Detalhe típico da armadura e quantidade de roletes
Hoje este tipo de estacas está presente em praticamente todas as fundações profundas com
comprimento de até 24 m (maioria dos casos) e até 34 m (equipamentos mais recentes
introduzidos nesta década). Isto se deve ao fato de que este processo é mais rápido do que
qualquer outro tipo de estaca de mesmo comprimento e, principalmente, em função do baixo nível
de barulho e vibrações, tornado este tipo de estaca “amigável da vizinhança “ que se situa no
entorno da obra.
Durante o período em que esse tipo de estaca está sendo usado no Brasil foram realizadas
inúmeras provas de carga estáticas (e número considerável de ensaios de carregamento
dinâmico) que atestaram a capacidade de carga das mesmas dimensionadas com base em
métodos semi-empíricos de amplo conhecimento em nosso meio geotécnico. Os primeiros
resultados dessa significativa quantidade de provas de carga estáticas fazem parte de um Banco
de Dados apresentado por este autor que veio sendo publicado por nós desde 1996 (Revista
SOLOS E ROCHAS, vol 19, no3 e vol. 21 no 1; SEFE IV, vol 2; SEFE V, vol 2; SEFE VI, vol 1; XII
COBRAMSEG, vol 3 e XIII COBRAMSEG, vol 2) e trabalhos individuais de vários outros autores.
Entretanto, este tipo de estaca também necessita, durante sua execução, de vários cuidados
que nem sempre estão muito claros para aqueles que a utilizam. Por ser uma estaca que tem
todas as fases de execução monitoradas por sensores acoplados a um computador de bordo
(existente na cabine e à frente do operador) muitos pensam que esse monitoramento corresponde
ao controle da estaca. Na realidade, o controle pressupõe uma interpretação desses registros
realizados pelos sensores, no instante da execução (quando é possível tomar decisões) e não a
posteriori, quando a estaca já se encontra executada. É Por isso este tipo de estaca é classificado
como de “controle pouco abrangente”.
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Embora no passado tenham ocorrido vários problemas na concretagem neste tipo de
estacas, hoje esses problemas já podem ser evitados face ao melhor conhecimento da execução
e suas fases consideradas “críticas” principalmente no início do lançamento do concreto após o
término da introdução do trado.
O traço utilizado, pela maioria das concreteiras, conhecido como “concreto para hélice
contínua”, é constituído, basicamente por:
Embora esse concreto assim confeccionado permita obter uma resistência característica
mínima fck = 200 kgf/cm2 (20 MPa), para efeito de dimensionamento estrutural esse valor não pode
ser aumentado devido ao fato de que esses resultados são obtidos em corpos de prova moldados
e curados por ação humana. Já a cura do concreto na estaca é feita dentro do solo, portanto sem
qualquer ação humana sobre a mesma ao contrário de cura de peças estruturais acima do terreno
onde essa cura é controlada. É por esta razão que o controle do concreto, na obra, deve ser feito
pelo consumo de cimento (que deve estar especificado na Nota Fiscal) e não pela resistência à
compressão simples dos corpos de prova.
Além dessas características do concreto, há também que fixar a capacidade das bombas de
injeção do mesmo: 20 m3/h para estacas com diâmetro máximo de 50 cm e 40 m3/h para estacas
com diâmetro superior a 50 cm.
A NBR 6122:2010 exige uma armadura mínima mesmo que a estaca só tenha compressão
e a seção de concreto sozinha possa absorver essa carga. Esta armadura deve ser disposta nos
4 a 5 m abaixo do arrasamento (por isso costuma-se usar ½ barra = 6m).
Tabela 28: Armadura mínima para as estacas comprimidas (detalhes na Figura 62)
Φ estaca Ferragem longitudinal Estribos
(cm) Qde. Φ bitola Comp. total Φ bitola
barras (mm) (m) (mm)
25 a 40 4
50 6 16,0 6,0 6,3
60 8
70 10
80 8
90 11
100 13 20,0 6,0 8,0
110 16
120 18 10,0
130 22
140 16 25,0 6,0 12,5
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Esta armadura tem por finalidade absorver impactos eventualmente provocados por
escavadeiras durante a escavação para se executar o bloco de coroamento. Para minimizar essas
cargas de impacto nas estacas a NBR 6122:2010 exige que as caçambas utilizadas não devam
possuir largura superior a 50% do espaço disponível entre as estacas no bloco a ser escavado.
Alguns traços já testados para se introduzir armaduras com 18 m ou mais são mostrados a
seguir:
Traço 1:
Cimento CPIII 40 RS = 440 kg
Areia média: = 871 kg
Brita zero: = 870 kg
Água: = 230 kg
Aditivo 223XP (BASF): 3,74 litros
Traço 2:
Cimento CPIII 40 RS = 418 kg
Areia média: = 886 kg
Brita zero: = 820 kg
Água: = 230 kg
Aditivos (BASF):
Reonax UW 410: 1,082 kg (=0,9 litros)
Rheotec Telmult 440F: 5,016 kg (4,18 litros)
(mostrar videos 1 e 2)
Todas as fases da execução são registradas em instrumento eletrônico que fica na cabine à frente
do operador (Figura 63) acoplado a sensores instalados em pontos estratégicos que permitem
visualizar e registrar as fases relevantes do processo executivo.
Um dos primeiros cuidados durante a concretagem já foi mostrado na Figura 60 por não se
ter levado a concretagem até o nível do terreno. Entretanto outras patologias podem ser criadas
se não se observarem cuidados específicos durante a execução.
a) Limpeza de rede
Para entender esta patologia deve-se esclarecer que ao final de um dia de trabalho, o
“cocho” é limpo com aplicação de água e óleo. Antes de se começar a execução da primeira estaca
do dia seguinte, a rede precisa ser “lubrificada” para permitir a fluência do concreto.
Para esta lubrificação costuma-se misturar 2 sacos de cimento (com 50 kg cada um) em
cerca de 200 litros de água (calda de lubrificação) dentro do “cocho”. Esta calda se misturará com
o óleo remanescente da limpeza do dia anterior. Se a estaca for de pequeno diâmetro (inferior a
50 cm), o volume desta calda de lubrificação é significativo, de tal sorte que, se a mesma não for
lançada fora, antes de se iniciar a concretagem da primeira estaca, na sua ponta poderá ficar parte
desta calda que é de baixa resistência.
Por isso, antes de se iniciar a primeira estaca da jornada (ou quando houver uma interrupção
na execução do estaqueamento que obrigue a abrir a rede de concretagem), o trado deve ser
levantado e a seguir começa-se a lançar a calda até que toda a rede esteja preenchida com
concreto. Quando toda a calda tiver sido expulsa e se tiver garantia de que toda a rede está cheia
de concreto, interrompe-se o lançamento do mesmo, tampa-se o trado e inicia-se a introdução do
trado no terreno para dar início à execução da estaca.
Figura 65: Vista da tampa metálica e p. carga em estaca com deficiência de ponta
Nota-se nessa Figura 65b que ao se atingir a carga de 95 tf (carga por atrito lateral) a estaca
começa a “escorregar” e só retoma a carga de ponta após um recalque de 175 mm. Este
comportamento ocorre por falta de experiência do operador, tendo sido a causa de alguns
insucessos no comportamento deste tipo de estacas, levando alguns projetistas de fundação a
desconsiderar a carga de ponta nestas estacas, que, convenhamos, é uma posição extremamente
cômoda, porém de custo elevado para as fundações do empreendimento. O certo seria
acompanhar a concretagem das primeiras estacas e verificar se o operador é ou não experiente
para evitar tal patologia.
Lembramos aqui as palavras do saudoso professor Dirceu de Alencar Velloso (1.998) “Para
se adquirir um equipamento basta ter o dinheiro; para formar uma equipe capaz de fazê-lo
funcionar eficientemente, há necessidade de tempo e treinamento”. O que se tem visto na prática
é que as empresas que vendem equipamentos de hélice contínua ensinam a operar os mesmos,
mas não ensinam a fazer uma boa estaca até porque alguns desses fabricantes quanto
compradores/operadores desses equipamentos têm pouco ou nenhum conhecimento de como
trabalha uma estaca. Faltam-lhe conhecimentos básicos de Mecânica dos Solos e de Fundações
e, se “escoram” nos projetistas de fundações da obra. Cabe, portanto a estes, validarem todo o
processo de execução das estacas de sua obra e não simplesmente desprezar a carga de ponta
dessas estacas.
c) Alívio de pressão sobre o concreto durante a concretagem e não armação das mesmas
Figura 66: Patologia causada por alívio de pressão no concreto próximo do nível do
terreno
Conforme se pode ver na Figura 58, o trado dispõe de um trecho sem hélice (“prolonga”) de
modo que o comprimento que se pode executar é bem maior do que o comprimento da torre do
equipamento. Geralmente a prolonga tem 6 a 8 m. No caso de argilas moles superficiais e
submersas (que geralmente são capeadas por aterro, ou rachão, para suportar o equipamento)
não é conveniente executar uma estaca que necessite entrar com a prolonga na argila mole. Um
caso dessa patologia é mostrado na Figura 67a. A argila mole sem o “confinamento” da hélice e
com água tende a formar lama devido ao giro constante da hélice. Como durante a concretagem
a máquina está patolada impondo cargas altas no solo e próximo da hélice para permitir retirar o
trado (agravado pelo fato que o suporte da mesma é um aterro compactado ou rachão) não
permitirá que essa lama saia contaminado o concreto que se misturará com a mesma.
Figura 67: Patologia criada por uso de prolonga em argila mole submersa.
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Para detectar esse tipo de problema a NBR 6122:2010 exige que em todas as estacas
“modadas in loco” que pelo menos 1% das estacas, e pelo menos uma por obra, deve ser exposta
abaixo da cota de arrasamento e, se possível até o nível de água, para verificar sua integridade e
qualidade do fuste.
Este procedimento nas estacas hélice contínua é fácil de realizar, pois existe uma
escavadeira usada para limpeza da terra que sai da estaca e permanece parada em parte do
tempo. Pode-se ver na Figura 70a que o topo da estaca (que se situa no aterro compactado) está
com a seção perfeita, mas escavando-se abaixo do aterro mostrou a contaminação do fuste. Essa
patologia foi corrigida aumentando-se o comprimento do trado conforme se mostra na Figura 70b.
Conforme se mostrou na Figura 63 todas as fases da execução das estacas são registradas
“on line” em computador de bordo acoplado a sensores que medem, durante a introdução do trado,
a profundidade de sua ponta, a velocidade de avanço do trado e o “momento torsor” a ele aplicado.
Na remoção do trado mede-se a velocidade de subida do mesmo, a pressão aplicada ao concreto
e o volume que está sendo introduzido para a confecção da estaca. Dessas medidas resulta o
gráfico mostrado na Figura 68.
durante a concretagem durante a introdução do trado
1º Aspecto: O que se apresenta na coluna MT (torque) não é o momento torsor, mas sim a
pressão de injeção na bomba que aciona o sistema giratório do trado. Por isso na
coluna MT a unidade é bar (kgf/cm2), unidade de pressão. Portanto não se pode
controlar a resistência do solo usando apenas este parâmetro, não só porque numa
mesma bomba de injeção de máquinas iguais, dependendo do desgaste das
mesmas (e também da marcha em que elas se encontram), mesmas pressões de
injeção podem corresponder a momentos torsores diferentes. E claro em máquinas
diferentes pressões de injeção iguais, para medida do torque, podem corresponder
a momentos torsores diferentes.
Foto 69: Exame de fuste da estaca (obrigatório no mínimo em1% das estacas: NBR 6122)
Então para que serve o perfil mostrado na Figura 68? Serve para ver, percentualmente, em
que regiões do solo se consome mais concreto na estaca o que deve corresponder a regiões de
baixa resistência do solo, mostrado nas sondagens. Se isso não ocorrer devem ser questionadas
as sondagens, já que a pressão utilizada durante a concretagem é, praticamente, igual ao longo
de todo comprimento da mesma.
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2.9) Estacas hélice contínua segmentada
A estaca contínua segmentada é uma derivação da estaca hélice contínua onde as hélices
são segmentos emendados na sequência durante a introdução do trado. Esse equipamento foi
introduzido no brasil em 2002 e o trado é dividido em segmentos de 4,5m a 6,0 m, sendo que as
etapas de introdução do trado e extração do mesmo, na concretagem, é feito em até quatro fases.
Este tipo de estaca, analogamente às estacas Strauss e escavadas com auxílio de fluido
estabilizante, também se enquadra na classificação “de controle pouco abrangente durante sua
execução”. São executadas em solo sem presença de água e que tem coesão que impeça o
fechamento da perfuração após a retirada do trado. São, muitas vezes denominadas “brocas
mecânicas” para diferenciá-las das brocas manuais feitas com trado cavadeira e pouca
profundidade.
Para sua execução são utilizados trados acoplados à caminhões (Figura 71a) ou a
escavadeiras (Figura 71b), ou ainda trados de tipo hélice contínua (Figura 71).
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