Você está na página 1de 13

CURSOS ENGEDUCA

www.cursos.engeduca.com.br

PROJETO E EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES


PROFUNDAS COM ESTACAS
(Estaqueamentos simétricos com estacas verticais)

PROFESSOR

Urbano Rodriguez Alonso


MÊS DE 2016

DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS

contato@engeduca.com.br
CÁLCULO DE ESTAQUEAMENTOS SIMÉTRICOS COM ESTACAS VERTICAIS

Urbano Rodriguez Alonso

1) Introdução e recomendação prática para se estimar a altura de bloco sobre estacas

O procedimento normal de um projeto de estaqueamento consiste em usar estacas do


mesmo tipo e diâmetro em cada bloco não se misturando estacas de diferentes diâmetros em um
mesmo bloco. Além disso, se atuam apenas cargas verticais nesse bloco a quantidade de estacas
a adotar será:

Nestacas = carga atuante no pilar + peso próprio do bloco


carga admissível (ou de trabalho) da estaca

É claro que se podem usar estacas de diferentes tipos e diâmetro em um mesmo bloco,
como frequentemente ocorre em reforço de fundações, pois, na maioria das vezes não é possível
realizar esse reforço com o mesmo tipo de estacas usadas no projeto, mas nesse caso o cálculo
das cargas atuantes nas estacas deve levar em conta a rigidez relativa das mesmas, assunto que
será abordado mais adiante.

Por enquanto vamos abordar o caso de estaqueamentos submetidos apenas a cargas


verticais, usando também estacas verticais e de mesmo tipo e diâmetro, em cada bloco, onde a
expressão acima pode ser aplicada.

Para se levar em conta o peso próprio do bloco, ou já se dispõe de experiência suficiente


para estimar as dimensões do mesmo (planta e altura) ou se adotaos, em primeira aproximação
o recomendado pela NBR 6122:2010, ou seja, estimar o peso próprio do bloco igual a 5% da carga
do pilar.

Mas pode-se, também, lançar mão de alguns cálculos preliminares para blocos padrões
conforme se expõe a seguir:

1.1) Recomendações de ordem prática:

Na Figura 1 indicam-se as dimensões mínimas contadas do centro das estacas externas ao


bloco até sua face externa:

Figura 1: Dimensões mínimas, em planta, em relação ao centro das estacas extremas

2
1.2) Distribuição, em planta, das estacas em relação ao centro de cargas do(s) pilar(es)

As estacas serão distribuídas de modo simétrico em relação ao centro de carga (C.C.) de


modo que atuem cargas iguais nas mesmas calculadas pela expressão acima. É claro que também
se poderão distribuir as estacas sem que seu centro de estaqueamento coincida com o centro de
cargas, mas neste caso surgirão momentos no bloco assunto que será abordado mais à frente.
Por ora vamos nos concentrar em estaqueamentos simétricos em relação ao centro de cargas,
conforme mostrado na Figura 2. Nessa Figura “e” corresponde ao espaçamento entre o eixo das
estacas (geralmente 3 vezes o diâmetro da estaca ou 2 vezes no caso de estacas de grande
diâmetro, desde que se atenda ao preconizado no item 8.3 da NBR 6122:2010 “Efeito de grupo”).

Figura 2 (1ª parte)

3
Figura 2: (2ª parte)
4
1.3) Altura mínima dos blocos

Os blocos são dimensionados como “rígidos” e para tal, sua altura mínima deverá ser
conforme se mostra a seguir :

a) Bloco sobre uma estaca

A altura do bloco deverá ser da ordem de grandeza de 1,2 vezes o diâmetro da estaca e, no
mínimo, igual ao comprimento de ancoragem dos ferros de espera do pilar. É recomendável que
blocos sobre uma única estaca sejam travados “ortogonalmente” por vigas aos blocos vizinhos.
Essas vigas devem ser dimensionadas para absorver uma excentricidade de 10% do diâmetro da
estaca. Embora a NBR 6122:2010 dispense esse travamento em estacas com diâmetro superior
a 30 cm, é sempre conveniente fazer esse travamento pois cria uma rigidez horizontal ao nível
dos blocos, principalmente se o estaqueamento estiver em solo de baixa resistência (argila moles
ou areias fofas). Somente em casos bem definidos é que se pode dispensar esse travamento,
desde que essas estacas sejam dimensionadas à flexão para absorver essa excentricidade
correspondente a 10% do seu diâmetro.

b) Blocos sobre duas estacas

O esquema estrutural para o dimensionamento desse bloco é mostrado na Figura 3.

Figura 3: Dados para dimensionamento de bloco sobre duas estacas

Inicialmente, parte-se de um valor d≥ e/2, verificando-se, a seguir, se não corre


esmagamento da biela comprimida. Para tanto, o valor deverá estar situado na área hachurada
da Figura 4, ou seja:

2.ftk (blocos com relação a/d ≤ 1)


γ .V
≤ ftk (blocos com relação 1 <a/d < 1,5
bw .d
0,4.ftk (blocos com relação a/d > 2
em que:
V é o valor do cortante. No caso de 2 estacas V = carga do pilar/2 = carga nas estacas
a = distância do centro da estaca ao centro da biela (a = e/2)
bw = largura da biela. No caso de 2 estacas bw = diâmetro da estaca.
d = altura útil do bloco. A altura total será h = d + 5 cm
γ = γf.γc ≈ 1,96
ftk = tensão de tração característica do concreto.
5
No passado calculava-se ftk por:

0,1.fck para fck ≤ 180 kgf/cm2


ftk =
0,06.fck + 7 kgf/cm2 para fck > 180 kgf/cm2

A atual NBR 6118 utiliza a expressão:

ftk = 0,3.fck2/3 (MPa)

Figura 4: Gráfico apresentados pelo prof. Lobo Carneiro (anotações de aula)

c) Bloco sobre três estacas

Figura 5: Dados para dimensionamento de bloco sobre três estacas

Também neste caso parte-se de uma relação d ≥ e/2, verificando-se, a seguir, se não ocorre
esmagamento da biela comprimida, analogamente ao que foi exposto para o bloco sobre duas
estacas.

6
d) Bloco sobre quatro estacas
e 2
Neste caso parte-se, inicialmente da relação d ≥ e faz-se a verificação da não
2
ocorrência do esmagamento da biela comprimida.

1.4) Volumes de concreto dos blocos para primeira estimativa do peso próprio dos mesmos

Como neste capítulo não estamos entrando excessivamente no mérito do dimensionamento


estrutural dos blocos, mas apenas tentando pré-definir suas dimensões em planta e em corte para
permitir melhor avaliar o peso próprio dos blocos, apresentamos, a seguir, para os blocos padrão
das empresas que executam estaqueamento, conforme se mostra nas Tabela 1 e 2 extraídas,
respectivamente, da Franki e da SCAC que servem para estimar o peso próprio do bloco. Nessas
Tabelas também se apresentam os valores de “d” para permitir calcular os momentos no plano da
cota de arrasamento das estacas, quando existam cargas horizontais (e momentos) no pé dos
pilares.

Tabela 1: Volume e altura útil mínimos dos blocos sobre estacas Franki
Qde Φ (mm) 300 350 400 450 520 600 700
1Φ V (m3) 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,60 0,70
d (cm) 70 70 70 80 80 90 90
3
2Φ V (m ) 0,45 0,55 0,75 0,95 1,40 2,00 3,00
d (cm) 70 70 70 80 80 100 110
3Φ V (m3) 0,85 1,25 1,60 2,20 3,00 4,70 6,20
d (cm) 70 70 70 80 100 120 140
4Φ V (m3) 1,50 2,10 2,70 3,50 5,50 7,50 11,70
d (cm) 70 70 75 80 100 120 140
5Φ V (m3) 2,55 4,10 5,50 7,50 9,50 12,50 18,50
d (cm) 70 80 90 110 120 130 150

Tabela 2: Volume e altura útil mínimos dos blocos sobre estacas SCAC
Qde Φ(cm) 23 26 33 38 42 50 60 70
1Φ V (m3) 0,15 0,15 0,20 0,25 0,30 0,40 0,60 0,80
d (cm) 60 60 60 70 70 80 90 100
2Φ V (m3) 0,35 0,40 0,50 0,65 0,80 1,50 2,00 3,00
d (cm) 60 60 60 70 70 80 100 120
3Φ V (m3) 0,55 0,60 0,90 1,10 1,30 2,50 4,20 6,50
d (cm) 60 60 70 70 70 90 110 130
3
4Φ V (m ) 0,80 0,90 1,60 2,00 2,40 4,00 6,50 11,00
d (cm) 60 60 80 80 80 100 120 140
5Φ V (m3) 1,30 1,40 2,50 3,50 4,00 7,00 11,00 17,50
d (cm) 60 60 80 90 100 120 140 160
3
6Φ V (m ) 2,00 2,50 3,50 4,50 6,00 10,00 15,00 24,00
d (cm) 80 80 100 110 120 140 160 180
7Φ V (m3) 2,00 2,50 3,50 4,50 6,00 10,00 15,50 24,00
d (cm) 80 80 90 100 110 130 150 170
8Φ V (m3) 2,50 3,00 5,00 6,50 8,50 14,00 21,00 31,00
d (cm) 80 80 100 110 120 140 160 180

7
1.5) Considerações complementares

a) O espaçamento “e” entre estacas deve ser respeitado, não só entre as estacas o próprio bloco,
mas também entre estacas de blocos contíguos (Figura 6)

Figura 6: espaçamento mínimo entre estacas de blocos contíguos

b) A distribuição das estacas deve ser feita, sempre que possível, no sentido da maior dimensão
do pilar, conforme se mostra na Figura 7. Esta recomendação visa otimizar a altura e a
armadura do bloco, conforme se pode deduzir da análise da Figura 3.

Figura 7: Distribuição “recomendável” e “menos recomendável” das estacas

c) Para blocos com mais de um pilar, o “centro de carga” deve coincidir com o “centro do
estaqueamento” (Figura 8).

Figura 8: Bloco de estacas com mais de um pilar

d) Deve-se evitar a distribuição de estacas indicadas na Figura 9a porque essa distribuição


introduz momento torsor no bloco.

8
Figura 9: Distribuição de estacas para evitar momento torsor no bloco

e) No caso de bloco com duas estacas para dois pilares, deve-se evitar a posição de uma das
estacas sob o pilar (Figura 10).

Figura 10: Bloco com duas estacas para apoio de dois pilares

1.6) Exemplos de aplicação.

1º exemplo: Projetar o estaqueamento para os pilares abaixo sendo dados:


Diâmetro das estacas 40 cm
Espaçamento entre eixo das estacas e = 100 cm
Distância do eixo das estacas à divisa 50 cm
Carga admissível das estacas 700 kN

Solução:

1º caso:
Verifica-se que não há possibilidade de projetar o estaqueamento para cada pilar
independentemente. Assim sendo, deve-se associar os dois pilares num único bloco. Para tanto
calcularemos o centro de carga, por exemplo em relação ao centro do P1:

2.400 x170
x= = 80 cm distância ao centro do P2 = 170 - 80 =90 cm
(2.700 + 2.400)
9
Estimativa do peso próprio do bloco: 0,05 x (2.700 + 2.400) = 255 kN

5.100 + 255
No de estacas n = = 8 estacas
700

2º caso:
A quantidade de estacas e o centro de carga é o mesmo calculado acima. O problema é que
não se pode usar o bloco acima pois, neste caso, a distância do centro dos pilares á divisa é 80
cm. Entretanto, como a primeira linha de estacas deve ficar a pelo menos 50 cm da divisa, sobra
entre esta primeira linha de estacas e o centro de carga de uma distância de 80 – 50 = 30 cm.
Como a segunda linha de estacas deve ser simétrica da primeira em relação ao centro de
carga, a distância entre as duas linhas será 2 x 30 = 60 cm.
Para se garantir a distância mínima de 100 cm entre estacas, faz-se uma construção
geométrica, como se indica a seguir:

2º exemplo: Na figura abaixo estão apresentadas algumas partes de um projeto de


estaqueamento por estacas pré-moldadas de 40 cm de diâmetro para 700 kN.
Sabendo-se que as distâncias mínimas para projetos com essas estacas são:
a) 50 cm (centro das estacas à divisa)
b) 100 cm (distância mínima entre eixos de estacas)
Em função dessas informações, deve-se fazer uma revisão do projeto de
estaqueamento, comentando erros e apresentando qual deve ser a solução
correta, desenhando-a.

10
Solução:

A quantidade de estacas por pilar está correta, entretanto o desenho de estaqueamento


apresenta os seguintes erros:

a) A viga de equilíbrio não passa pelo centro do pilar P1 pois começa na interseção da linha
de cota horizontal com a face do pilar.
b) O centro do estaqueamento do P1 não coincide com o centro de carga pois para que isso
ocorra as estacas de cada linha devem estar dispostas simetricamente em relação ao
eixo da viga de equilíbrio.
c) Ao se fazer a correção acima, a estaca P1b fica praticamente à frente da estaca P1a, o
mesmo ocorrendo com as estacas P1c e P1 d. Portanto o espaçamento entre as duas
linhas de estacas do P1 deve ser aumentada de 86,7 cm para 100 cm.
d) A distância entre as estacas P2a + P2b e P2d + P2e ao centro do pilar P2 pode ser
diminuída de 100 cm para 86,7 cm.

11
1.7) Estaqueamento simétrico com estacas verticais e cargas vertical, horizontal e
momentos

O método tradicional, conforme se mostra na Figura abaixo, consiste em transladar os


carregamentos para o plano da cota de arrasamento das estacas.

Para o caso genérico em que atuam cargas verticais, horizontais e momentos costuma-se
calcular as cargas axiais (compressão ou tração) que atuam nas estacas devido apenas às cargas
verticais e aos momentos. Quanto às cargas horizontais, elas serão resistidas por flexão nas
estacas (assunto que será tratado em outro capítulo) ou criando-se “cavaletes” com estacas
inclinadas que também será tratado em outro capítulo.

Assim, o cálculo das cargas axiais nas estacas será obtido por superposição, que consiste
em calcular a carga de cada estaca somando-se separadamente os efeitos da carga vertical e dos
momentos.

H x2 + H y2
A carga horizontal atuante nas estacas Hi = fará parte de outro capítulo
n
(estacas carregadas transversalmente ou criação de cavaletes com estacas inclinadas).

A carga atuante em uma estaca genérica “i” de coordenadas xi e yi é obtida por:

P + p. pbloco ( M x + H y .d ).xi ( M y + H x .d ) y i
Pi = ± +
n Σxi2 Σy i2

É importante ressaltar que para os cálculos abaixo só valerão se os eixos X e Y forem os


eixos principais de inércia e as estacas forem verticais, de mesmo tipo, diâmetro e comprimento.
Além disso deve-se usar os sinais + e – levando-se em conta a orientação dos eixos (por exemplo
a “regra da mão direita” ou “regra do saca-rolha”). Na Figura acima as estacas da esquerda do
eixo y tem sinais de x negativos e as da direita sinais de x positivos. Analogamente as estacas
abaixo do eixo x tem sinais de y negativos e as de cima sinais de y positivos.
12
O problema de estaqueamento sujeito a momentos é resolvido por tentativas, lançando-se
um estaqueamento e calculando-se as cargas atuantes nas estacas. O estaqueamento será aceito
se a carga nas estacas forem, no máximo, igual às cargas admissíveis de compressão e de tração.

Exemplo: Calcular as cargas atuantes nas estacas do bloco abaixo, sabendo-se que as mesmas
atuam na cota de arrasamento das estacas e já se incluiu o peso próprio do bloco.

N = 2.000 kN
Mx = - 500 kN.m
My = + 400 kN/m
Desprezar as cargas horizontais.

Solução:
ΣX i2 = 4x1,52 + 2x0,52 = 9,5 m2
ΣYi 2 = 4x12 = 4 m2
Carga nas estacas:

2.000 400 x1,5 500 x1


P1 = − + = 395 kN
6 9,5 4
2.000 400 x1,5 500 x1
P2 = + + = 521 kN
6 9,5 4
2.000 400 x0,5
P3 = − = 312 kN
6 9,5
2.000 400 x0,5
P4 = + = 354 kN
6 9,5
2.000 400 x1,5 500 x1
P5 = − − = 145 kN
6 9,5 4
2.000 400 x1,5 500 x1
P6 = + − = 271 kN
6 9,5 4

13

Você também pode gostar