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CAPITULO 7 – HIDRÁULICA DOS SOLOS

1. Permeabilidade

Com muita freqüência, a água ocupa a maior parte ou a totalidade dos vazios do solo.
Submetida à diferença de potencias, a água se desloca no seu interior.
Os solos, em geral, têm seus poros conectados entre si, além de apresentar fissuras ou
outros caminhos preferenciais pelos quais fluídos podem circular. A facilidade com que a
água flui através de um meio poroso como o solo, constitui uma importante propriedade
conhecida como permeabilidade de um determinado solo é quantificada pelo coeficiente de
permeabilidade (k).

A figura abaixo ilustra a percolação d’água através de um meio poroso como o solo:

B
Nota-se que a água percola de A para B por meio de um caminho sinuoso formado pela
conexão dos poros.

Já as rochas são comumente consideradas impermeáveis. Entretanto, na análise de um


maciço rochoso, a presença de fissuras e diaclases condicionam a percolação através deste.
O controle do regime de movimentação das águas no interior do solo é muito importante
em diferentes obras de engenharia. A água pode atuar sobre elementos de contenção,
estruturas hidráulicas e pavimentos e gerar condições desfavoráveis à segurança e à
performance destes elementos.

São exemplos práticos onde o estudo da permeabilidade dos solos é importante:

• Determinação do fluxo através ou sob barragens, cortinas ou poços de


rebaixamento;
• Determinação das forças de percolação exercidas sobre estruturas;
• Controle da erosão interna (“piping”) em solos finos;
• Estudo da velocidade de recalques por adensamento, onde ocorrem variações de
volume à medida que a água é expulsa dos vazios da massa de solo.

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2. Carga Hidráulica

Para estudar as forças que controlam o escoamento d’água através de um solo é necessário
avaliar as variações de energia do sistema.

Em geral, a energia num fluxo é representada por meio de Alturas ou Cargas (energia por
unidade de massa).

Para escoamentos em regimes permanentes de fluídos não viscosos e incompressíveis é


válido o emprego da Equação de Bernoulli, onde a soma da carga piezométrica (energia de
pressão) + carga de altura (energia potencial) + carga de velocidade (energia cinética) =
constante.

∗ Carga Piezométrica: h ou hp = p/γa (m) p → pressão


∗ Carga De Altura: z (m) z → cota
∗ Carga De Velocidade: v2/2g (m) v → velocidade

Veja exemplo abaixo:

A Carga Total (H): H = h + z + v2/2g


Ponto A → Ha = pa/γW + za + va2/2g
Ponto B → Hb = pb/γW + zb + vb2/2g

A perda de carga no escoamento de A para B é H, tal que a equação de Bernoulli assim


verifica:

Ha = Hb + ∆H
pa/γW + za + va /2g = pb/γW + zb + vb2/2g + ∆H
2

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No caso do fluxo d'água nos solos, a parcela de energia cinética (carga de velocidade) é
muito pequena, tal que pode ser desprezada. Logo, a carga total em cada ponto é:

H = p/γW + z

Ex: velocidade de escoamento em pedregulhos:

v ≈ 1 cm/s ⇒ v2/2g ≈ 5x10-4 cm ⇒ muito pequena!

Pode-se escrever então: pa/γw + za = pb/γw + zb + ∆H


Onde: Carga Piezométrica (h) → representada pela altura da coluna d’água medida por um
piezômetro instalado no ponto.
Carga de Altura (z) → representada pela cota do ponto em relação a um plano de
referência.

Sempre que houver diferença de carga total entre dois pontos o fluxo será estabelecido.
Analisamos os casos seguintes:

Caso 1

H1 = H2 → não há fluxo
h1 + z1 = h2 + z2

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Ha + Hb = h0 Hc = Hd = h1
Caso 2 Hb ≠ Hc → existe fluxo através do solo
Hb – Hc = ∆H → perda de carga

Define-se como Gradiente Hidráulico (i) a taxa de dissipação da carga total em função da
distância.
i = - lim ∆H/∆L = - dH/dL

2.1 Lei de Darcy

Experimentalmente, Darcy, em 1850, verificou como os diversos fatores geométricos,


influenciavam a vazão da água, expressando a equação que ficou conhecida pelo seu nome:

Q=khA
L

Sendo: Q – Vazão
A – Área do permeâmetro
K–Uma constante para cada solo, que recebe o nome de coeficiente de
permeabilidade.

A relação b (carga que dissipa na percolação) por L (distância ao longo da qual a carga se
dissipa) é chamada de gradiente hidráulico, expresso pela letra i, A lei de Darcy assume o
formato:

Q=k.i.A

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A vazão dividida pela área indica a velocidade com que a água sai da areia. Esta
velocidade, v, é chamada de percolação.

V=k.i

Determinação do coeficiente de permeabilidade

Para a determinação do coeficiente de permeabilidade são empregados os seguintes


procedimentos:

• Permeâmetro de carga constante


• Permeâmetro de carga variável

Permeâmetros são equipamentos de laboratório destinados a medir o coeficiente de


permeabilidade de solos.

Validade da Lei de Darcy

A Lei de Darcy é válida para fluxo LAMINAR, caracterizado por um número de Reynolds
(R) < 2000.

R = vDγ onde: v = velocidade


µg D = diâmetro do tubo
γ = peso específico do líquido
µg = viscosidade do líquido

Para solos verifica-se : 0,1 < R < 75.


Logo pode-se considerar válida a Lei de Darcy para os solos.

Fatores que Influenciam a Permeabilidade

Fatores que influenciam no coeficiente de permeabilidade

Segundo a lei de Poisseville (fluxo d'água em tubos circulares de pequeno diâmetro):

v = γw r2 i onde: r = raio

Para tubos de qualquer forma:

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Q = Cs γw rh2 i a onde: rh = raio hidráulico
µ Rh = a/p (área seção molhada/ perímetro molhado)
Cs = fator de forma
A = seção de passagem a=nSA

Rh = a L (volume disponível p/ fluxo) = Vw = e Vs S


p L (área de contato c/ água) As As

Substituindo:

Q = Cs γw ( e Vs S )2 i (n S A) n = _e__
µ As 1+ e

Q = Cs γw Vs2 e3 s3 i A
µ As2 1 + e

Aplicando a Lei de Darcy:

K = Cs γw Vs2 e3 s3
µ As2 1+e

Sendo Ds = diâmetro específico, que representa a relação Vs/As para uma partícula esférica
do solo:

Vs = 1/6 π Ds3 = Ds
As π Ds2 6

Substituindo:

K = Cs γw e3 Ds2 s3 EQUAÇÃO DE KOZENEY-CARMAN


µ 1 + e 36 válida para areias e pedregulhos

Equação empírica de Hazen:

K = 100 D102 → válida para areias uniformes

Para correção do efeito da temperatura (T):

K = 100 (0,7 + 0,03 T) D102

A partir destas expressões pode-se listar os fatores que influenciam o valor de


permeabilidade nos solos:

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Fatores devido ao permeante:

- Peso específico do fluído;


- Viscosidade do fluído;
- Temperatura → a temperatura básica é 20°C

- K (20°C) = µ(T) K(T)


µ(20°C)

Fatores devido ao solo:

- Granulométrica → K ∝ D2; (solos de estrutura em grãos simples)


- Índice de vazios → K ∝ e3/1 + e, na prática também se observa uma relação do tipo e x
log K;
- Grau de saturação → K ∝ S3;
- Composição;
- Estrutura.

Quanto à estrutura e composição (caso de argilas):

- Composição → ex.: caulinitas apresentam permeabilidades 100x maiores que as


montmorilonitas;
- Estrutura → ex.: a estrutura dispersa apresenta menor permeabilidade que a estrutura
floculada. Partículas orientadas resultam em maiores caminhos de percolação, no
sentido perpendicular à estratificação.

Valores Típicos do Coeficiente de Permeabilidade

Classificação Quanto a
Tipo de Solo K (cm/s)
Permeabilidade
Pedregulhos > 10 - 1 Alta
Areias 10 - 1 a 10 - 3 Média
Siltes e areias argilosas ou siltosas 10 - 3 a 10 - 5 Baixa
-5 -7
Argilas siltosas 10 a 10 Muito baixa
-7
Argilas < 10 Baixíssima

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Medição do Coeficiente de Permeabilidade

Métodos

Laboratório Campo
Métodos Diretos Ensaio de Bombeamento de Poços
Métodos Indiretos Ensaio de Infiltração

3. Ensaios de Laboratório

3.1 Métodos Diretos (Permeâmetros)

Permeâmetro de Carga Constante

Empregado para solos granulares (areias e solos arenosos).


Esquema:

Cálculo:

Q = KiA = K h A e Q = V (volume)
L t (tempo)

Logo: K = V L
Aht

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A carga h é mantida constante durante todo o ensaio.
Procedimento: Mede-se o volume d'água que percola pela amostra (V) em determinados
intervalos de tempo (t).

Permeâmetro de Carga Variável

Usado para solos de baixa permeabilidade, nos quais o volume d'água que percola através
da amostra é pequeno.
Esquema:

Cálculo:

Na bureta: dQ = - a dh Na amostra: dQ = K h A
dt L
Pela equação da continuidade:

K h A = - a dh ou K A dt = dh
L dt La h

Integrando entre h1 e h2 e t1 e t2:


t2 h2 t2 t2
KA t1∫ dt = - h1∫ dh ⇒ [KA t t1] = - [ ln h t1]
La h La

K A (t2 - t1) = ln h1 - ln h2 = ln h1

La h2

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K = La ln h1 ou K = 2,3 L a log h1

A (t2 – t1) h2 A ∆t h2

Procedimento: faz-se leituras das alturas inicial e final da bureta e o intervalo de tempo
correspondente.

3.2 Métodos Indiretos

O coeficiente de permeabilidade pode ser obtido a partir de ensaios destinados a avaliar


outras propriedades. Ex: a partir do ensaio de adensamento (destinado a avaliar recalques
por adensamento).
4. Ensaios de Campo

4.1 Ensaio de Bombeamento

Ensaios empregados em camadas arenosas ou pedregulhosas abaixo do nível d’água.


Hipóteses: massa de solo homogênea e isótropa e permeabilidade média em todo o meio.
Esquema:

A partir do momento em que o nível d’água torna-se estacionário (estabelece-se regime


permanente) é válida a lei de Darcy:

Q = KiA Q = K dy 2πxy
dx
x2
x1∫ dx = 2π K y1∫y2 ydy ⇒ K = Q ln (x2/x1)

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x Q π(y22 - y12)

K = 2,3 log (x2/x1) * Os valores x e y devem ser lidos depois que o fluxo
π(y22 - y12) d'água no poço permaneça estacionário

4.2 Ensaio de Infiltração

Cravado um tubo de sondagem no terreno, mede-se a velocidade com que a água escoa pelo
tubo e infiltra-se no terreno segundo superfícies esféricas concêntricas. É também
empregado em terrenos de grande permeabilidade.
Esquema:

Cálculo:

V = K i = - K dh V = Q = Q (para uma esfera de raio r)


dr Área 4πr2

- K dh = Q ⇒ - K 4π dh = dr
dr 4π r2 Q r2

K 4π h1∫h2 -dh = γ1∫∞ dr ⇒ K 4π (h1 - h2) = 1


Q r2 Q h r1

K = Q
r1 (h) 4π

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5. Capilaridade

5.1. Analogia Física

Imagine uma gota d’água entre duas esferas. A água fica retida contra a ação da gravidade
até que, se for aumentada a gota, alcança-se um limite de sustentação e a gota escorre sobre
a superfície das esferas.

5.2 Teoria do Tubo Capilar

Considerando um tubo de pequeno diâmetro mergulhado em um líquido, no contato


superfície do tubo - líquido surge um estado de tensão superficial cuja resultante de forças é
a Força Capilar (Fc).

Pa Ts
γa . hc
Ascensão Capilar: no tubo capilar, a água sobe até uma altura tal que a componente
vertical seja igual ao peso da coluna hc
d’água suspensa. N

γa .z

π ⋅ D2
Peso da água dentro do tubo: Pa = γ a ⋅ Va = γ a ⋅ ⋅ hc
4

Força de adesão da água na parede do tubo: Fc = Ts ⋅ cosα ⋅ perímetro = Ts ⋅ cosα ⋅ π ⋅ D

Onde, Ts = Tensão superficial da água.

Condição de Equilíbrio: momento quando a água para de subir por ascensão capilar.
Pa = Fc
π ⋅ D2
γa ⋅ ⋅ hc = Ts ⋅ cosα ⋅ π ⋅ D
4

62
4 ⋅ Ts ⋅ cosα
hc = Altura de ascensão capilar (Lei de Jurin)
D ⋅γ a

5.3 Capilaridade nos Solos

Quando se aumenta o teor de umidade de um solo seco, pode se observar a seguinte


seqüência de fenômenos:

1º) A água inicial passa a incorporar a água adsorvida;

Acréscimo
na água adsorvida

2º) A água vai se estabelecendo nos pontos de contato entre partículas. Formam-se vasos
capilares afunilados. Em cada contato, função da abertura do poro, tem-se uma certa
quantidade de água que pode ser mantida em suspensão.

D1
Fc

Pa
D2

3º) Adicionando – se mais água, chega-se a um ponto em que não é possível reter água por
capilaridade. A água passa a ser livre, incorporando-se ao lençol freático.

A altura de ascensão capilar dos solos está relacionada diretamente com os vazios e o
diâmetro das partículas. Existem relações empíricas do tipo:

C
hc = Onde: C = coeficiente (0.1 < C < 0.5 cm²)
e ⋅ D10
e = índice de vazios do solo
D10 = diâmetro efetivo

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Ensaios de capilaridade de campo e laboratório são também empregados com o objetivo de
medir a ascensão capilar.
Alturas capilares atingíveis:

AREIA GROSSA .……………………………………hc = 3cm


SILTES………………………………………………..hc = 60 cm
ARGILAS……………………………………………..hc = 30 cm

5.4 Importância do Efeito Capilar na Geotécnica

a) Na construção de pavimentos e aterros rodoviários:

A água que sobe por capilaridade pode vir a afetar a estabilidade e durabilidade dos
pavimentos rodoviários. Nestes casos, o emprego de materiais granulares de menor
ascensão capilar é benéfico.

Pavimento

Aterro

NA

b) Sifonamento capilar:

Em uma situação comum, a água pode percolar sobre uma barreira impermeável (como por
exemplo, o núcleo de uma barragem), caso a altura capilar ultrapasse a crista da barreira.

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c) Coesão aparente ou sucção:

A componente horizontal da força capilar tende a imprimir uma força de atração entre os
grãos. Esta chamada coesão aparente (aparente, pois desaparece com a saturação do
material) é responsável por uma parcela de resistência dos solos não-saturados.
Esta força capilar de atração é também responsável pelo fenômeno de contração dos solos
durante o processo de secagem.

Fc Fc

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