Você está na página 1de 22

Mecânica dos Solos

Movimento de Água no Solo


Permeabilidade

Prof. Paulo Burgos


M.Sc. Geotecnia

OBJETIVOS
Ao final dessa aula, você deverá ter
aprendido:
• Muitos problemas de engenharia
geotécnica estão associados ao fluxo de
água nos solos;
• A Lei de Darcy revelou que a velocidade de
percolação é proporcional ao gradiente
hidráulico;
• O coeficiente de permeabilidade de um
solo pode ser obtido diretamente por
ensaios de laboratório e de campo.

Fonte: Engineersdaily (2020)


INTRODUÇÃO

• Diversos problemas de Engenharia Geotécnica necessitam


do estudo de fluxo de água no solo, pois o movimento da
água no maciço terroso provoca alteração no estado de
tensões. Por consequência, valores de pressão neutra se
modificam, implicando em alterações, também, nas tensões
efetivas;

• Apresentam-se, alguns problemas que estão relacionados


com os conceitos de fluxo de água nos solos:
➢ Estimativa de vazão;
➢ Instalação de poços de bombeamento e rebaixamento do lençol
freático;
➢ Problemas de colapso e expansão em solos não saturados;
➢ Dimensionamento de sistemas de drenagem;
➢ Dimensionamento de “liners” em sistemas de contenção de
rejeitos;
➢ Previsão de recalques diferidos no tempo – Adensamento;
➢ Estabilidade de taludes;
➢ Capacidade de carga de fundações;
➢ Erosão, arraste de material sólido no interior do maciço de solo,
“piping” etc.
• Reynolds (1883) desenvolveu as bases teóricas sobre o regime de
escoamento em condutos forçados, assunto esse que integra os
compêndios de Mecânica dos Fluídos;

• Comprovou que o regime de escoamento pode ser Laminar ou


Turbulento;

• Em sua experiência Reynolds variou o diâmetro “D” e o


comprimento “L” do conduto e a diferença de nível “h” entre os
reservatórios, medindo a velocidade de percolação “v”;

No regime de fluxo laminar as partículas do fluido se movimentam em trajetórias


paralelas, uma não interfere no movimento das outras. Enquanto, no regime de fluxo
turbulento, as trajetórias de fluxo são irregulares, ocorrendo o cruzamento de
partículas de maneira aleatória.

Fonte: Az3 (2020)


• Os resultados do experimento foram anotados na forma
gráfica:
Gradiente Hidráulico (i = h/L) versus Velocidade de Percolação (v)

NA max

NA min

Vc

Experiência de Reynolds: (a) experimento; (b) resultados


Fonte: Tonin, F. (2020)
• Verifica-se que há uma velocidade crítica (vc) abaixo da qual o
regime de fluxo é laminar, havendo proporcionalidade entre o
gradiente hidráulico e a velocidade de percolação. Para velocidade
maiores que vc o regime de fluxo é turbulento, não havendo
linearidade.

Conclusão de Reynolds:

Existe proporcionalidade entre velocidade de percolação (v) e o


gradiente hidráulico (i);

Denominou o coeficiente de proporcionalidade entre v e i de


permeabilidade ou condutividade hidráulica (k):

v=k*i
• Nos solos, por efeito de capilaridade, a água se eleva entre os
interstícios de pequenas dimensões deixados pelas partículas
sólidas, além do nível do lençol freático. Essa altura atingida é
denominada de altura de ascensão capilar (hc), sendo, essa
característica, função da natureza do solo:
Fórmula Empírica de Hazen

hc = C / e . D10
Fórmula Empírica
(Água a 200 C)
Solo Solo C: 0,1 a 0,5 cm2 e: índice de vazios
Grosso Fino
hc (cm) = 0,15 / raio D10: diâmetro efetivo
hc

hc1
hc
hc
hc2

hc3

Fonte: BRAINLY (2019) Fonte: UFMG (2019)


• A altura de ascensão capilar é inversamente proporcional ao
diâmetro dos poros do solo. Assim nos solos finos como os
argilosos e siltosos a altura de ascensão capilar é maior em
comparação aos solos grossos, constituídos de pedregulhos e
areias;

• A determinação da altura de ascensão capilar é obtida pela aplicação


da expressão:

hc = 2 * Ts
r * gw

Onde:

Ts é a tensão superficial da água a 200 C = 0,073 N/m (força por unidade de comprimento)

r é o raio do tubo
gw é o peso especifico da água = 10 kN/m3
ESQUEMA DE ASCENSÃO CAPILAR E GRAU DE SATURAÇÃO DO SOLO

Fonte: G. Engenharia (2020)


EQUILÍBRIO DO FLUIDO NO TUBO CAPILAR

F: Força de ascensão capilar

P: Peso do fluído no tubo

TS: Tensão superficial

a: Ângulo formado pelo menisco e o tubo

d: Diâmetro

h: Altura do nível de água

hc: Altura de ascensão capilar


Fonte: G. Engenharia (2020)
EFEITOS DA CAPILARIDADE EM PAVIMENTOS E
BARRAGENS DE TERRA COMPACTADA

hc

Fonte: SSBI (2020)

hc

Fonte: G. Engenharia (2020)


EFEITOS DA CAPILARIDADE EM AREIA

Segundo Fredlund e Rahardjo (1993), em seu brilhante livro sobre Mecânica dos Solos não
Saturados, definem “coesão aparente” como resultado da tensão superficial da água nos
capilares do solo, formando meniscos de água entre as partículas dos solos parcialmente
saturados, que tendem a aproximá-las entre si.

É fácil você perceber isso, por exemplo, com a areia da praia. Se você tenta fazer um castelo
de areia com a areia no estado seco você não vai conseguir, justamente pela ausência de
“coesão aparente” entre os grãos, pois, trata-se de solo não coesivo que exibe resistência por
atrito entre as partículas. Porém, se você umedecer, sem saturar a areia, você consegue
fazer seu castelo, justamente por essa “coesão aparente”, ocasionada pela tensão superficial.

Fonte: G. Engenharia (2020)


LEI DE DARCY

• O engenheiro francês H. Darcy (1856) obteve


experimentalmente a equação v = k * i , aproximadamente
trinta anos antes do experimento de Reynolds, o que faz
com que essa lei seja referendada como a Lei de Darcy;

• Darcy em seu experimento percolou água através de uma


amostra de solo de comprimento “L” e área da seção
transversal “A”, a partir de dois reservatórios de níveis
constantes, sendo “h” a diferença de cota entre ambos,
conforme modelo esquemático a seguir:
LEI DE DARCY – MODELO DO EXPERIMENTO

NA max
Q=k.h/L.A
i=h/L
Q=k.i.A

NA min v=Q/A = k.i.A/A

v=k.i

k=Q/i.A
A
i=h/L
Figura - Experiência de Darcy
Fonte: Tonin, F. e I. Escola (2020)
Q: vazão
k: coeficiente de permeabilidade
Os resultados indicaram que a velocidade de
h: carga hidráulica disponível
percolação (v) é proporcional ao gradiente hidráulico
(i). Sendo essa Lei, válida, apenas para o regime de L: comprimento de percolação
fluxo laminar A: seção transversal
v: velocidade de percolação
i: gradiente hidráulico
PERMEABILIDADE DOS SOLOS

• O coeficiente de permeabilidade (k) se constitui em uma única


propriedade de engenharia que pode variar em ampla faixa de
valores para um mesmo material. A seguir valores típicos de
permeabilidade de solos saturados:

k( )

I I
Fonte: Machado, S. L. e Machado, M. F. C. - Adaptado (2019)

Comumente, adota-se como solo impermeável aquele que se manifesta com


k ≤ 10-7 cm/s.
• Dentre os fatores que influenciam o coeficiente de permeabilidade
do solo, destacamos a estrutura, a granulometria, o grau de
saturação, o índice de vazios e a viscosidade do fluido;

• Comumente se determina a permeabilidade do solo a uma dada


temperatura da água correspondente à condição de ensaio,
posteriormente, corrige-se esse resultado para a temperatura
padrão da água de 20 0C, com emprego da fórmula a seguir, onde
a relação mT / m20 é o fator de correção:

k20 = kT * mT
m20

KT e mT: Permeabilidade e viscosidade na temperatura de ensaio;

K20 e m20: Permeabilidade e viscosidade na temperatura padrão de 20 0C.


• O conhecimento do coeficiente de permeabilidade do solo pode
ser obtido por métodos diretos, com os ensaios de laboratório e
de campo. Como, também, por métodos indiretos, que empregam
correlações empíricas;

• Os ensaios de laboratório são os mais realizados e, fazem uso dos


aparatos denominados de permeâmetros;

• Os métodos de ensaios laboratoriais de permeabilidade são


nomeados em função do sistema de aplicação de carga hidráulica,
que podem ser do tipo:

➢ Carga Constante

➢ Carga Variável
Permeâmetro de Carga Constante

Fonte: C. Civil e Silva, F. E. (2020)


Permeâmetro de Carga Variável

Buretas

Permeâmetros

Fonte: Bittencourt, D. M. A. e Solotest (2020)


Ensaio de Permeabilidade - Carga Constante
(Método Direto)
Recomendado para solos com quantidades apreciáveis de pedregulho e/ou areia
(Materiais com valores elevados de permeabilidade)

Método Direto - Esquema de Ensaio

K = (V * L)
(A * h * t)
i=h/L

A V; t

Fonte: G. Engenharia (2020)

Procedimento: Inicialmente satura-se o corpo de prova. Fixa-se o gradiente hidráulico


especificado. Mede-se o volume de água que percola pela amostra em intervalos de tempo.
Mede-se a temperatura da água.
Ensaio de Permeabilidade - Carga Variável
(Método Direto)
Método Direto - Esquema de Ensaio

Recomendado para solos predominantemente finos


a
(Materiais com valores médio/baixo de permeabilidade)

Dt

h1
h

h2 A

K = 2,3 * (a * L) * Log h1
(A * Dt) h2

Fonte: UFES (2020)

Procedimento: Inicialmente satura-se o corpo de prova. Realizam-se leituras


correspondentes as alturas da cota de água no interior da bureta graduada em intervalos de
tempo. Mede-se a temperatura da água.
Método Indireto

✓ Proposta Empírica de Estimativa da Permeabilidade de Areia (Hazen)


Deve ser empregada em areia e pedregulho com pouca ou nenhuma quantidade
de finos. Recomenda-se para materiais com Coeficiente de Uniformidade (Cu)
inferior a 5, ou seja, materiais muito uniformes:

Cu = D60 / D10

90 < C < 120

Você também pode gostar