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Mecânica dos Solos

Distribuição de Tensões nos Solos


Tensões Devido às Cargas Aplicadas

Prof. Paulo Burgos


M.Sc. Geotecnia

OBJETIVOS
Ao final dessa aula, você deverá ter
aprendido:
• Nos solos ocorrem tensões decorrentes do
seu peso próprio e dos acréscimos de
tensões induzidos pelo carregamento;
• Boussinesq iniciou os estudos referentes ao
acréscimo de tensões para uma carga
concentrada;
• Outras propostas para a estimativa dos
acréscimos de tensões se desenvolveram
com base na Teoria de Boussinesq (1885).

Fonte: Engineersdaily (2020)


INTRODUÇÃO

Como em todo material utilizado na engenharia, o solo, ao sofrer


solicitações, irá se deformar, modificando o seu volume e a forma inicial. A
magnitude das deformações apresentadas pelo solo irá depender não só de
suas propriedades intrínsecas de deformabilidade, mas também do valor do
carregamento a ele imposto.

O conhecimento das tensões atuantes em um maciço de terra, sejam elas


advindas do peso próprio ou em decorrência de carregamentos (ou até
mesmo do alívio de cargas provocado por escavações) é de vital importância
no entendimento do comportamento de praticamente todas as obras da
engenharia geotécnica.
INTRODUÇÃO

Nos solos ocorrem tensões devidas ao seu peso próprio e as cargas


externas aplicadas, que são denominadas acréscimos de tensão. Assim, o
estado de tensões em cada ponto do maciço depende do peso próprio do
terreno, da intensidade da força aplicada e da geometria da área carregada.
A obtenção de sua distribuição espacial é normalmente feita a partir das
hipóteses formuladas pela Teoria da Elasticidade.

σ0 = tensão devida ao peso próprio do solo;


Δσ 1 = alívio de tensão devido à escavação;
Δσ 2 = tensão induzida pelo carregamento “q”.
INTRODUÇÃO

Carregamento no eixo de uma fundação, produz um diagrama de tensões


verticais finais que representa o somatório dos efeitos das tensões verticais
devidas ao peso próprio do solos e às tensões advindas do carregamento
aplicado. Cabe observar que os maiores valores de tensões e deformações
ocorrem nas proximidades da área carregada:

sv Peso Próprio + Dsz = sv Final

Diagramas
INTRODUÇÃO

Carregamento no Solo

Aumento de Profundidade

Acréscimo de Tensão Área Atingida


(Reduz) (Aumenta)
INTRODUÇÃO

Aumento da Profundidade

Dsz Diminui

Distribuição qualitativa dos acréscimos de tensões em Área Atingida Aumenta


planos horizontais a diferentes profundidades
TENSÕES NOS SOLOS

O conhecimento dos estado de tensões em pontos do subsolo, seja, antes ou


após a construção de uma estrutura qualquer é muito importante no
entendimento de problemas geotécnicos. Como já comentado, essas tensões
decorrem do peso próprio do solo e do carregamento externo induzido.

Os esforços gerados por carregamentos externos (acréscimos de tensões)


tem seu estudo iniciado com hipóteses simples e, posteriormente,
formuladas com base na Teoria da Elasticidade, sendo um tema bastante
complexo.

Para a situação de terreno horizontal, não existem tensões cisalhantes


atuando nos planos vertical e horizontal (em outras palavras, os planos
vertical e horizontal são planos principais de tensão). Portanto, a tensão
vertical em qualquer profundidade é calculada simplesmente considerando o
peso de solo acima daquela profundidade, visto que não há carregamento
externo, conforme perfil esquemático que se segue:
TENSÕES NOS SOLOS
Para uma situação de tensões geostáticas inicias, devido ao peso próprio do
solo, em um terreno horizontal, teremos:

sv = w g = w
A V
Elemento de Solo w=g*v
A=x*y V=x*y*z

Logo:
z sv = w = g * v = g * x * y *z
A A x*y
y
x sv = g * z
Perfil Esquemático
TENSÕES NOS SOLOS

Portanto, a tensão geostática vertical em qualquer profundidade é calculada


simplesmente considerando o peso de solo acima daquela profundidade:

N.T.

g
z
sv = g * z

sv é a tensão geostática vertical no ponto considerado;

g é o peso específico do solo;

Z corresponde a espessura da camada de solo considerada.


TENSÕES NOS SOLOS

Caso exista nível de água no terreno em condições hidrostáticas, ou seja,


sem ocorrência de fluxo, a pressão neutra ou poro-pressão (u) é positiva e
calculada de modo semelhante, utilizando-se a equação a seguir:

u = gw * zw

gw: é o peso específico da água (adotado como gw = 10 kN/m3)


(Caso utilize massa específica, adotar rw = 1,000 g/cm3)

zw: equivale a profundidade do ponto considerado até a superfície do lençol


freático
TENSÕES NOS SOLOS

A partir do perfil geotécnico apresentado a seguir, a tensão geostática


vertical total no ponto A é obtida da seguinte forma:

sv = g * z1 + gsat * z2

Enquanto, a pressão neutra:

u = gw * zw
TENSÕES NOS SOLOS

Terzaghi definiu que o comportamento do solo saturado, em termos de


resistência ao cisalhamento e compressibilidade, sendo, função,
principalmente, da tensão média intergranular, denominada de tensão efetiva
(s’v). Nessa situação parte das tensões normais são suportadas pelo
esqueleto sólido e parte suportada pela fase líquida, constituída pela água,
logo, teremos:

s’v = sv - u
TENSÕES GEOSTÁTICAS VERTICAIS DEVIDO AO PESO PRÓPRIO
Exemplo de Aplicação

Tensões Totais (sv) Tensões Efetivas (s’v)


sv(1) = 17,0 * 1,0 = 17,0 kN/m2 s’v(1) = 17,0 - 0 = 17,0 kN/m2
sv(2) = 17,0 + 18,5 * 2,0 = 54,0 kN/m2 s’v(2) = 54,0 - 20,0 = 34,0 kN/m2
sv(3) = 54,0 + 20,8 * 1,5 = 85,2 kN/m2 s’v(3) = 85,2 - 35,0 = 50,2 kN/m2

Pressões Neutras (u)


u(1) = 0
u(2) = 0 + gw * zw = 10,0 * 2,0 = 20,0 kN/m2
u(3) = 20,0 + 10,0 * 1,5 = 35,0 kN/m2

g = 17,0 kN/m3 Solo (1)

g sat = 18,5 kN/m3 Solo (2)

g sat = 20,8 kN/m3 Solo (3)


TENSÕES NOS SOLOS

Vimos as tensões geostáticas verticais em termos de tensões totais e


tensões efetivas. Contudo, para se conhecer o estado de tensão inicial do
solo, se faz necessário determinar a tensão horizontal, que é uma parcela da
tensão vertical, considerando-se as tensões efetivas.

As tensões geostáticas horizontais existentes em um maciço de solo são


muito importantes no cálculo dos esforços de solo sobre estruturas de
contenção, como os muros de arrimo, cortinas atirantadas etc.

Ocorre uma situação em que as tensões horizontais e verticais efetivas se


correlacionam quando não há deformação lateral do solo e, para essa
condição temos o coeficiente de empuxo de repouso (k0):

K0 = s’h
s’v
TENSÕES NOS SOLOS

Então, a tensão horizontal efetiva é obtida, dessa forma:

s’h = s’v * k0

Elemento de solo e a ilustração das tensões vertical e horizontal :

sv
TENSÕES NOS SOLOS

O valor de k0 pode ser determinado por ensaios de laboratório que


representem as condições de deformações laterais nulas, como, também,
pela realização de ensaio de campo, empregando célula para a requerida
finalidade.

Alguns valores médios e típicos de k0 são mostrados na Tabela:

Tipo de Solo k0

Areia Fofa 0,55

Areia Densa 0,40


Argila de Baixa Plasticidade 0,50

Argila de Alta Plasticidade 0,65


ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS

As cargas aplicadas na superfície de um terreno induzem tensões, com consequentes


deformações, no interior de uma massa de solo. Desta forma, além das tensões
geostáticas, devem-se calcular, também, os acréscimos de tensões promovidos por
eventual estrutura assente no terreno para a verificação da estabilidade de fundação
ou dos efeitos dos carregamentos por ela induzidos nas obras vizinhas ou na
estabilidade de taludes próximos.

A estimativa dos recalques provocados pela construção de uma obra qualquer, requer,
na maioria dos casos, não só o conhecimento das tensões geostáticas iniciais, mas
também dos acréscimos de tensões induzidos pela construção.

A tensão geostática vertical efetiva final (s’v) será o somatório entre as parcelas devida
ao peso próprio do solo (g*z) efetiva e aquela correspondente ao acréscimo de tensão
vertical (Dsz):

s’v (FINAL) = s’ + Dsz


ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS

É importante salientar que a distribuição simplificada de tensões pressupõe que a


tensão vertical em cada plano horizontal seja uniforme , sendo que na realidade
a distribuição real tem uma forma de sino, havendo maior concentração de tensão na
região próxima ao eixo da carga, conforme ilustra a Figura a seguir:
ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS

HIPÓTESE SIMPLES (ANTIGA) OU TENSÕES DE ESPRAIAMENTO

Admite-se que a carga “Q” aplicada se distribui, em profundidade, segundo um ângulo


(f0), denominado ângulo de espraiamento ou de propagação. Nota-se, a partir da analise
da Figura que a propagação de tensões restringe-se à zona delimitada pelas linhas de
espraiamento - MN. Nessa hipótese a carga “Q” é mantida constante, implicando que as
tensões decorrentes se espraiam segundo áreas crescentes, mas sempre se mantendo
uniformemente distribuídas:

Área de comprimento Valores de f0 sugeridos por


infinito
Kogler e Scheidig (1948)

Solos muito moles f0: < 40º


Areias puras f0: 40º a 45º
Argilas rijas e duras f0: 70º
Rochas f0: > 70º

As medições experimentais de tensões


realizadas no interior do subsolo, revelaram
que a tensão distribuída em profundidade
não é uniforme, mas sim variável,
contrariando a Hipótese Simples.
Como Q é constante
P0*b0 = P1*b1 = P2*b2

Notar que para área quadrada ou retangular, teremos: s0 = Po = Q / (b0 x l0)


ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS
TENSÕES DE ESPRAIAMENTO - MÉTODO 2:1

No método 2:1 o ângulo de espraiamento é de 26,560 (comumente adota-se 270), o que


implica em aumentar para cada dimensão a profundidade z:

Q Nota:
Atentar que matematicamente a
L denominação correta do Método seria 1:2
Z
B

Dsz = Q = s*B*L
(B + Z)*(L +Z) (B + Z)*(L +Z)
L+Z

Qual o acréscimo de tensão produzido por


uma sapata (2 x 3 m) carregada com 600 kN
B+Z a 4 metros de profundidade em relação à
sua cota de implantação aplicando o
MÉTODO
Método 2:1
2:1 método 2:1?

Dsz = 600 = 14,3 kPa


(2 + 4)*(3 + 4)
ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS

Em 1885 o estudo da distribuição de tensões causada por uma carga


concentrada (ou pontual), aplicada à superfície de um semi-espaço infinito,
elástico, homogêneo e isotrópico foi iniciado por Boussinesq.
Posteriormente, vários outros pesquisadores partindo da solução proposta
por ele desenvolveram outras teorias.

Aqui são apresentadas apenas algumas das soluções de acréscimos de


tensões verticais usualmente empregadas no meio técnico, fazendo uso de
equações e ábacos.

3Q

Joseph V. Boussinesq
ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS

Ao se aplicar uma tensão na superfície de um terreno, em uma área bem definida, os


acréscimos de tensão em uma certa profundidade não se limitam à projeção da área
carregada, como já exposto. Nas laterais da área carregada, também, ocorre aumentos
de tensão, que se somam aquelas correspondente ao peso próprio do solo:

Distribuição qualitativa dos acréscimos de tensões Representação da variação dos


em planos horizontais a diferentes profundidades acréscimos da tensão vertical ao
longo da linha vertical que passa
pelo eixo de simetria da área
carregada
ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS

Teoria de Boussinesq - (Carga concentrada na superfície do terreno)

Boussinesq (1885) desenvolveu as equações para cálculo dos acréscimos


de tensões vertical, radial e tangencial, causados pela aplicação de uma
carga pontual agindo perpendicularmente a superfície de um terreno. Para
obtenção da solução, assumiu as seguintes hipóteses:
• maciço homogêneo, isotrópico, semi-infinito e de comportamento linearmente elástico
(validade da Lei Hooke), a variação de volume do solo sob aplicação da carga é
negligenciada, dentre outras.

A estimativa dos acréscimos de tensões verticais é muito mais frequente,


em termos práticos, que de tensões radiais, tangenciais e de cisalhamento.
Comumente, determina-se, apenas os acréscimos de tensões verticais
(Dsz).

Este é geralmente realizado por intermédio de um fator de influencia (NB),


apresentado na equação de Boussinesq, utilizando-se de fórmulas e ábacos
específicos para cada tipo de carregamento. Os valores de NB dependem
apenas da geometria do problema, sendo dado em função de r/z, no ábaco.
Observar que o acréscimo de tensão vertical é independente do material, já
que os parâmetros elásticos do solo não entram na equação.
ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS

Teoria de Boussinesq - (Carga concentrada na superfície do terreno)

Dsz = (3*Q*Z3) Se r = 0, temos:

(2*π*R5) Dsz = (0,48*Q)

(Z2)

Q = carga pontual
z = profundidade que vai da superfície do terreno (ponto de aplicação da carga) até a cota onde
deseja-se calcular sz
r = distância horizontal do ponto de aplicação da carga até onde atua sz
R = distância do ponto de aplicação da carga ate onde atua sz
ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS

Teoria de Boussinesq - (Carga concentrada na superfície do terreno)

A solução de Boussinesq não conduz a resultados satisfatórios quando


tratamos com alguns solos sedimentares, onde o processo de deposição
em camadas conduz a obtenção de um material de natureza anisotrópica. A
analise da influência da anisotropia do solo nos valores obtidos por
Boussinesq foi estudada por Westergaard, simulando uma condição
extrema de anisotropia para uma massa de solo impedida de se deformar
lateralmente. As tensões encontradas são inferiores aquelas obtidas na
proposta por Boussinesq, que é o procedimento mais intensamente
utilizado nas aplicações práticas. Observar que o ábaco a seguir, também,
apresenta o fator de influencia (Nw) obtido por Westergaard:
ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS
Teoria de Boussinesq - (Carga concentrada na superfície do terreno)

Ábaco - Fatores de influência para tensões verticais devido a uma carga concentrada
(NB: Solução de Boussinesq e NW: Solução de Westergaard).
ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS

Teoria de Boussinesq - (Carga concentrada na superfície do terreno)

Boussinesq determinou as tensões, as deformações e os deslocamentos no interior


de uma massa elástica, homogênea e isotrópica, num semi-espaço infinito de
superfície horizontal, devidos a uma carga pontual aplicada na superfície deste semi-
espaço, a partir da Teoria da Elasticidade. Concluiu que os acréscimos de tensão
vertical e cisalhante independem do tipo de solo:

Q
NT

Dsz: Acréscimo de tensão vertical


Q: Carga concentrada R z
Z: Profundidade Dsz
r: Afastamento
R2 = r2 + z2
r
ACRÉSCIMOS DE TENSÕES DEVIDO A CARGAS APLICADAS

Teoria de Boussinesq - Exemplo de Aplicação:

1. Considerando a aplicação de uma carga de 1000 kN sobre a superfície de um


terreno, solicita-se:

a) acréscimo de tensão vertical provocado por esta carga a 3 metros de profundidade, afastada 3
metros do seu ponto de aplicação;
b) acréscimo de tensão vertical provocado por esta carga a 3 metros de profundidade e
afastamento nulo.

1000 kN
a) NT

Dsz = (3*1000*(3)3) R2 = 32 + 32
R = 4,24 m R 3m
Dsz
(2*π*(4,24)5)
b) 3m

Dsz = 9,4 kPa Dsz = (0,48*1000)

(3)2

Dsz = 53,0 kPa


BULBO DE TENSÕES
Um aspecto interessante da distribuição de tensões pode ser observado com a
noção do bulbo de tensões. O lugar geométrico de pontos de igual tensão em
qualquer profundidade é uma superfície de revolução, cuja, seção vertical do eixo de
simetria do carregamento tem o aspecto visual mostrado a seguir na Figura 01. As
isóbaras são linhas de mesma tensão e deve-se atentar que para fins práticos,
considera-se que valores inferiores a isóbara de 10 % (0,1so) não tem mais efeito na
deformabilidade do solo, Figura 02:

Figura 01 Figura 02
BULBO DE TENSÕES

Os resultados experimentais mostram que para o caso de áreas carregadas, quanto


maiores as dimensões da fundação, maiores serão as tensões a uma dada
profundidade, ou seja, quanto maiores as dimensões da placa carregada, maior a
massa de solo afetada pelo bulbo de tensões.

O bulbo de tensões atinge uma profundidade (Z = a B), conforme a Figura 03, sendo B
a menor dimensão da área carregada e a um fator que depende da forma dessa área.
Os valores de a são fornecidos pela Teoria da Elasticidade.

Forma da Área a
Circular ou quadrada ~2

Retangular (L/B=5) ~4,5

Retangular (L/B>20) ~6,5

Figura 03
BULBO DE TENSÕES

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