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Mecânica dos Solos I

Tensões nos solos

Prof. Mario Vicente Riccio Filho


Dep. Geotecnia e Transportes – Eng. Civil - UFJF
1 – Introdução

2 – Tensões normais e cisalhantes

3 – Tensões devidas ao peso prórpio do solo

4 – Exercícios

5 - Bibliografia
Para aplicação da mecânica dos sólidos
deformáveis considera-se que os solos são
constituídos de partículas e que as forças
aplicadas são transmitidas de partícula a
partícula e também suportadas pela água dos
vazios.

A consideração do solo como um meio


contínuo é uma simplificação .
Em qualquer tipo de solo a transmissão das
forças são feitas nos contatos das partículas e
portanto numa área muito reduzida em relação
à área total envolvida.
Planos passando pelo solo

Planos P e Q

P é o plano real e Q um
plano idealizado

Placa
Áreas de contato entre grãos

A consideração dos contatos solo-placa pode


ser estendida para outros planos como o P e o
Q, se ajustando aos contatos dos grãos com a
superfície .

As áreas reais de contato entre grãos são muito


menores que a área do plano, por isso
conduzem a tensões muito maiores na
realidade que em um determinado plano
considerado.
Tensões atuantes

TENSÃO NORMAL


=

TENSÃO CISALHANTE Tensões na placa


=
Tensão real no contato entre grãos

A tensão de 1MPa é pouco usual em


engenharia e considerada muito alta.

As tensões nos contatos entre grãos


chegam a até 700 MPa.

Portanto a definição de tensão com base no


somatório de forças atuando num plano
contínuo conduz a tensões muito menores que
as de contato grão a grão
Simplificação do comportamento real

A consideração de forças atuando em um plano contínuo é uma simplificação


do comportamento real, ou seja, a aplicação do conceito de um meio contínuo
não considera se um determinado ponto é ocupado por um grão ou por um
vazio.
Tensão devido ao peso próprio do solo a uma dada profundidade

O peso próprio do solo em um dado ponto abaixo


da superfície não pode ser desconsiderado, pois
geram tensões consideráveis.

Considerando a profundidade no ponto A a tensão


devido ao peso próprio do solo é dada pelo peso do
prisma de área A acima do ponto A:
Tensão devido ao peso próprio do solo a uma dada profundidade

Sendo o solo constituído de


diversas camadas horizontais a
tensão vertical resulta do
somatório das tensões verticais
atuando nas diversas camadas,
como mostra a figura ao lado.

= ∙
Diagrama sem presença de NA
Tensão devido ao peso próprio do solo a uma dada profundidade

= ∙
Profundidade
considerada
Tensão Peso
vertical específico

3m

• Tensão vertical no ponto A


A
2m σv(a) = 16 kN/m³ x 3m = 48 kN/m²
B
• Tensão vertical no ponto B

σv(b) = 48 kN/m² + 21 kN/m³ x 2m


Diagrama sem presença de NA
σv(b) = 90 kN/m²
Consideração da pressão da água nos vazios do solo

A pressão da água dos vazios do solo, abaixo do nível da água não depende da
porosidade do solo, mas apenas da profundidade do ponto considerado. Assim
no ponto B a pressão de água é representada por:

NT

NA Pressão neutra
ou
z = ∙ Hidrostática
no ponto B
B
Em vista da existência da pressão neutra (hidrostática)
Terzaghi constatou que a tensão total num dado plano
é o resultado da soma de duas parcelas:
1) A tensão devido ao contato entre as partículas
= tensão efetiva (σ’)

2) A pressão da água, chamada de pressão neutra


= pressão da água, chamada também de poro-pressão (u)

σ = tensão total

σ‘ = tensão efetiva
σ = σ’ + u
u = pressão neutra (ou poro-pressão)
Observações quanto à nomenclatura:

As grandezas σ e σ’ são denominadas de tensão


já que estes valores são represenatdos por vetores,
Ou seja, possuem módulo, direção e sentido.

Já a grandeza u é denominada de pressão, ou seja,


traduz um valor representado por um escalar. A
pressão u sendo hidrostática, atua em todas as
direções.

O valor de u também é designado por poro-pressão


Princípio das tensões efetivas
A partir da constatação de que a tensão normal total nun dado plano deve ser
considerada como a soma das parcelas efetiva e neutra (pressão de água ou
poro-pressão) Terzaghi estabeleceu o PRINCÍPIO DAS TENSÕES EFETIVAS
que pode ser expresso em duas partes:

1) A tensão efetiva, para solos saturados, pode ser expressa por:

σ’ = σ - u
Sendo σ a tensão total e u a pressão neutra.

2) Efeitos mensuráveis no solo como compressão, distorção e resistência ao


cisalhamento são devidos a variações de tensões efetivas.
• O comportamento do solo decorre do valor das tensões
efetivas, sendo que os fenômenos de resistência ao cisalhamento,
distorção e deformabilidade devem ser estudados com base
nestas tensões.
No entanto

•Observação importante:

O princípio das tensões efetivas não leva em conta o fenômeno


da viscosidade dos solos, que se manifesta por meio de
deformações sem alteração das tensões efetivas.
Princípio das tensões efetivas

• Os efeitos mensuráveis das variações de tensões nos solos devem-se a


variações de tensões efetivas

• Se a tensão total for aumentada com igual aumento da pressão neutra


(pressão da água) os grãos do solo serão comprimidos por água em todas as
direções e as forças transmitidas partícula a partícula não se alteram, assim a
tensão efetiva não se altera.

• No caso de um aumento na tensão total sem um igual aumento da pressão


neutra, há um acréscimo no valor da tensão efetiva.

O solo se deforma
Analogia mecânica do princípio das tensões efetivas

• Analogia para entendimento do princípio das tensões efetivas pode ser


feita considerando uma esponja imersa em água
Analogia mecânica do princípio das tensões efetivas

a) Com a água até a superfície superior a esponja está em repouso,


sendo as tensões resultantes de seu peso e da pressão da água

b) Ao se aplicar um peso as tensões no interior da esponja aumentam no


mesmo valor do peso e a esponja se deforma devido a este peso.

Há um acréscimo da tensão efetiva.


Analogia mecânica do princípio das tensões efetivas

c) Aumentando o nível da água que gere um igual aumento de tensão


provocado pelo peso verifica-se que a esponja não se deforma. Isto
ocorre porque a pressão da água atua também nos vazios da esponja e a
estrutura sólida não recebe aumento de tensão.

O acréscimo de tensão foi neutro


Acréscimo de tensão efetiva neutro

Devido ao acréscimo de tensão neutro um solo, mesmo estando


a uma grande profundidade pode estar com sua compacidade
ou consistência semelhante a de uma profundidade de poucos
metros, pois o aumento do nível da água promove um acréscimo
igual na pressão total (σ) e na pressão neutra (u), ficando
inalterado o valor da tensão efetiva (σ’).

z = 100m σ’v é a mesma


tanto para lâmina
d’água = 100m ou
z = 1m 1m
B B
Tensões totais e efetivas vertical e horizontal

• Numa massa de solo ocorrem tensões totais e efetivas tanto na direção


horizontal quanto vertical.

• As tensões efetivas são relacionadas pelo coeficiente k (coeficiente de


empuxo).

• Portanto temos que a relação entre as tensões efetivas vertical e horizontal


seguem a relação:

• A pressão neutra é hidrostática e por ser a tensão de cisalhamento da água


igual a zero para fins de engenharia temos que u é igual em todas as direções.
Tensões totais e efetivas vertical e horizontal

• Desta forma tem-se para um dado ponto numa massa de solo:

σv σ’v u

= +
σh σ’h = K ⋅ σ’v u
O coeficiente K=1 no caso da poro-pressão (ou pressão neutra u). Para a
água K=1, pois sua resistência ao cisalhamento é nula para fins de
engenharia geotécnica. Desta forma temos para o princípio das tensões
efetivas:

σv = σ’v + u
σh = σ’h + u = K ⋅ σ’v + u
Aplicação do peso específico aparente no cálculo de tensões
vertivais e horizontais, efetivas e totais.

• Considerando-se que:

onde: γ é o peso específico aparente do solo

γ = γnat, solo não está saturado

• Tem-se, para o valor de γ: γ = γsub, o solo está saturado e submerso


γ = γsat, o solo está saturado e não submerso

A tensão vertical total é dada por:

σv = γnat ⋅ z, sendo u = 0, σv = σ’v → para o solo não sturado


σv = γsat ⋅ z, sendo u = γw⋅z, σ’v = γsat ⋅ z - γw⋅z = γsub ⋅ z → para o solo
saturado e submerso
► Exemplo de situações em que o peso específicos
aparente saturado (γsat) e peso específico aparente
submerso (γsub) podem ser empregados.

(a) (b)

Caso A: o solo está saturado e submerso, portanto suas partículas estão


sob o efeito do empuxo de água;

Caso B: o solo está saturado, mas não submerso, portanto estando todos
os seus vazios preenchidos por água a condição é saturada.
Aplicação do peso específico aparente no cálculo de tensões
vertivais e horizontais, efetivas e totais.

γ = γnat, solo não está saturado

• Tem-se, para o valor de γ: γ = γsub, o solo está saturado e submerso


γ = γsat, o solo está saturado e não submerso

As tensões verticais total e eftiva ficam dadas por:

σv = γnat ⋅ z, sendo u = 0, σv = σ’v → para o solo não sturado

σv = γsat ⋅ z, sendo u = γw⋅z, σ’v = γsat ⋅ z - γw⋅z = (γsat - γw) ⋅z = γsub ⋅ z


→ para um solo saturado e submerso,

Ou ainda:
σv = σ’v + u = γsub ⋅ z + γw⋅z = γsat ⋅ z, uma vez que γsub = γsat - γw
Algumas relações para determinação do peso específico do solo:

onde:
γnat = peso específico aparente natural do solo;
γd = peso específico aparente seco do solo;
w = umidade natural do solo.

Caso a umidade natural w seja tal que S = 1 (S = Vw/Vv), ou seja a


umidade para o qual o solo está saturado, então temos:
Algumas relações para determinação do peso específico do solo:

onde:
Ws = peso do solo;
Vt = volume total;
Dr = densidade relativa dos sólidos = ρs/ρw ( sendo ρs a massa
específica dos sólidos);
e = índice de vazios;
γw = peso específico da água.
Aplicação do peso específico aparente no cálculo de tensões
vertivais e horizontais, efetivas e totais.

Desta forma podem ser calculadas as tensões verticais e horizontais atuantes


ao longo da profundidade do terreno:

a) Cálculo das tensões totais verticais (σv);

b) Cálculo das poro-pressões (u);

c) Cálculo das tensões efetivas verticais (σ’v = σv – u);

d) Cálculo das tensões efetivas horizontais (σ’h = K⋅σ’v).


Aplicação do peso específico aparente no cálculo de tensões
vertivais e horizontais, efetivas e totais.

O cálculo das tensões efetivas horizontais (σ’h) e poro pressão u são de


particular importância na engenharia em problemas envolvendo, por
exemplo, empuxos de terra em obras de contenção.
Exemplo de cálculo de tensões efetivas e totais

Tensões efetivas e totais a -7m de profundidade

σ = (3x19) + (4x16) = 121 kPa


σ’ = σ - u = 121 – 60 = 61 kPa
u = (2x10) + (4x10) = 60 kPa
Exemplo de cálculo de tensões efetivas e totais

Os valores da tensão total (σ)são calculados independentemente


dos valores da pressão neutra (u). Para isso é utilizado o peso
específico natural do material (γn). A tensão efetiva é dada por
σ’ = σ - u

Pode-se entretanto calcular a tensão efetiva diretamente


utilizando o peso específico submerso do solo: γsub = γsat - γw

γsub1 = 19 – 10 = 9 kN/m³
σ’ = 1X 19 + 2 x 9 + 4 x 6 = 61 kPa
γsub2 = 16 – 10 = 6 kN/m³
Observação:

Até o momento foi discutido o uso do peso específico para


obtenção das tensões geostáticas no solo, ou seja, as tensões
devidas ao peso prórpio do material.

Havendo carregamento externo ocorrem acréscimos de


tensões no solo.

σv = σvo + ∆σv
Exercício 1: Calcular as tensões verticais totais, efetivas e pressão
neutra nos pontos A, B, C e D considerando o perfil geotécnico abaixo.

Cota 0,0m A

Areia γnat = 19 kN/m³


Cota -3,0m B NA

Argila mole γsat = 14 kN/m³


Cota -7,0m C

D Solo residual γsat = 17 kN/m³


Cota -10,0m
Exercício 2:
Para o mesmo perfil geotécnico do exercício 1, calcule novamente as tensões
verticais totais, efetivas e pressão neutra, porém agora considerando que o
NA está situado na cota -7,0m. Considere que após o rebaixamento do nível
d´água manteve-se γsat na camada de argila mole devido a presença de uma
franja capilar.
Qual o impacto da variação da tensão efetiva vertical nos pontos C e D ?

Exercício 3:
Considerando o perfil apresentado no exercício 1 e a posição do NA como
estando na cota -7,0m, calcule as tensões efetivas horizontais.
Considere para os cálculos os seguintes valores de K (coeficiente de empuxo):

• Kareia = 0,426;
• Kargila mole = 0,577;
• Ksolo residual = 0,530.
Craig, R. F., 2007, Mecânica dos Solos, 7ª Edição,
Editora LTC.

Souza Pinto, 2006, Curso básico de mecânica dos


solos, 3ª Edição, Editora Oficina de textos.

Caputo, H. P., 1988, Mecânica dos solos e suas


aplicações, 6ª edição.

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