Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Descrição
Movimento das águas subterrâneas (distribuição, escoamento, recarga, poluição) para sua
adequada exploração.
Propósito
O estudo do movimento de águas subterrâneas é essencial para a formação de profissionais com
competência e habilidades para identificar o escoamento dessas águas, analisar os poços, a
recarga e a poluição das águas subterrâneas. Dessa forma, esses profissionais poderão adotar
medidas que favoreçam sua apropriada exploração.
Objetivos
Módulo 1
Módulo 3
Módulo 4
video_library
Introdução
Assista ao vídeo a seguir para entender sobre o movimento das águas subterrâneas.
Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km) por questões de
tecnologia e didáticas. No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o
número e a unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você
devem seguir o padrão internacional de separação dos números e das unidades.
Introdução
video_library
O escoamento das águas subterrâneas
É esse processo que permite que os rios escoem por longos períodos sem a ocorrência de chuvas.
Sendo assim, neste módulo, estudaremos os conceitos relacionados ao movimento de água
subterrânea, os tipos de aquíferos e as equações que regem esse processo.
Parte da água fica armazenada na matriz do solo. Essa região é chamada de zona não
saturada ou de aeração, e está situada na camada mais superficial do solo, onde ocorre o
desenvolvimento radicular das plantas.
close
No caso da distribuição das águas subterrâneas, a água se movimentará até encontrar uma
camada impermeável ou com permeabilidade muito baixa, o que impede a sua passagem, fazendo
com que a água preencha completamente os poros do solo, formando uma zona saturada, também
chamada de zona freática. O limite entre a zona saturada e não saturada é chamada de superfície
freática, cujo potencial de água no solo é zero.
Distribuição vertical da água subterrânea.
Escudo Setentrional
Amazonas
Escudo Central
Parnaíba
São Francisco
Escudo Oriental
Paraná
Escudo Meridional
Centro-Oeste
Costeira
Em cada província temos diversos aquíferos com grande destaque, como, por exemplo:
Aquífero Guarani
Considerado um dos maiores do mundo e com muita importância econômica.
Aquífero Açu
Aquífero importante, pois abastece indústria e irrigação.
Aquíferos do Parnaíba
Tem destaque pela alta produtividade dos poços.
Na imagem a seguir está apresentado o mapa de vazão dos poços nas diferentes províncias
hidrogeologias do Brasil, sendo mostradas quatro classes de vazão
(< 1; 1 a 5; 5 a 10 e > 10 m h
3 −1
m
−1
) . O destaque está para o cristalino do semiárido, que
apresenta o menor potencial de exploração.
Aquíferos
É denominado de aquífero o manancial que dispõe de água armazenada na zona saturada, e
permite o fluxo natural da água em quantidades consideráveis, sendo possível a sua extração.
Portanto, nem toda água armazenada na zona saturada do subsolo deve ser chamada de aquífero.
Aquífero
Quando se tem água armazenada e ocorre o fluxo natural dela. Como o aquífero pressupõe o
movimento da água, é necessária a formação geológica permeável como areias e arenitos.
close
Aquiclude
Quando se tem água armazenada, mesmo em grandes quantidades, mas não ocorre fluxo de
água naturalmente, é chamado de aquiclude (é o caso de camadas impermeáveis de argila).
Essa é a porção da água armazenada no aquífero de interesse prático, pois pode ser aproveitada
pelo homem, por meio do bombeamento de poços ou pela captação em rios e nascentes.
Em relação à função das características do aquífero, ele pode ser classificado conforme à
permeabilidade e à pressão da camada limítrofe como:
Aquífero confinado
Tipos de aquíferos.
Esquema com os principais tipos de aquíferos.
Os aquíferos livres ou freáticos são delimitados na parte superior pela superfície freática (limite
entre a zona saturada e não saturada) e na parte inferior por uma camada semipermeável ou
impermeável.
Dependendo do tipo da camada na parte inferior, o aquífero poderá ser de tipos diferentes, veja:
Aquífero drenante
Do ponto de vista da agricultura, o aquífero tem grande importância, uma vez que parte das
necessidades hídricas das plantas pode ser suprida por meio da ascensão capilar. Mas caso a
água atinja a zona radicular das plantas, poderá causar prejuízos com redução da produtividade,
sendo necessária a implantação de sistemas de drenagem.
Os aquíferos confinados são delimitados por duas camadas semipermeável ou impermeável, o que
proporciona uma condição em que a pressão na camada superior é superior a zero, de modo que
quando um poço é escavado nesse aquífero, o nível de água no poço ficará acima do limite superior
do aquífero, podendo até atingir a superfície do solo em casos muito específicos (chamados de
poços jorrantes).
Relembrando
Quando uma das camadas é semipermeável, o aquífero é chamado de drenante, sendo que parte
da água pode ser perdida por essa camada. Quando ambas as camadas são impermeáveis, o
aquífero é dito não drenante.
Os aquíferos confinados têm muita importância econômica, uma vez que são explorados por
diversos setores como abastecimento de água, indústria e irrigação.
Quando são drenantes com fluxo ascendente, podem causar problemas de drenagem para as
culturas, por conta do fenômeno denominado de seepage, que é a elevação do nível do lençol
freático, pela entrada de água procedente de um aquífero confinado drenante.
Considerando um meio poroso contido em um conduto com seção transversal conhecida e sujeita
a uma diferença de potencial, conforme a imagem a seguir, podemos facilmente constatar que
quanto maior a diferença de potencial (que corresponde à diferença de pressão entre as duas
extremidades), maior será a vazão escoada pelo meio poroso.
Além disso, quanto maior for o comprimento da bancada, menor será a vazão e, por fim, quanto
maior a área transversal, maior a vazão. Essas constatações foram feitas por Henry Darcy em 1856,
estudando o fluxo de água em filtros de areia. Ele propôs a chamada lei de Darcy (equação a
seguir), por meio da qual é possível determinar a taxa de fluxo em um meio poroso homogêneo de
condutividade hidráulica conhecida.
Saiba mais
Alguns autores a definem como velocidade de Darcy.
Atenção!
O sinal negativo da equação indica que o fluxo ocorrerá no sentido contrário ao do gradiente
hidráulico, ou seja, o potencial diminui no sentido do fluxo.
As características do meio poroso que intervêm na condutividade hidráulica são porosidade, forma,
arranjo e distribuição das partículas, enquanto a viscosidade cinemática e o peso específico
representam as características do fluido. Sendo assim, a condutividade hidráulica representa a
facilidade de o meio poroso conduzir o fluido.
Cabe ressaltar que tanto o peso específico, como a viscosidade variam com a temperatura, desse
modo, foi convencionado que a condutividade deve ser expressa para as condições padrão de
laboratório de 15,6°C (k 15 ), podendo ser corrigida para outras temperaturas em função da
viscosidade cinemática (υ 15 − viscosidade cinemática a 15,6°C, e υ - viscosidade cinemática na
temperatura desejada), conforme apresentamos na equação a seguir:
υ 15
K = K 15
υ
Para que possamos caracterizar o meio poroso, visto que a condutividade hidráulica depende de
características do fluido, podemos fazer uso do conceito de permeabilidade intrínseca (k), que é a
relação entre a condutividade hidráulica, a viscosidade cinemática e o peso específico do fluido
(K = (k×2g)/υ) , sendo expressa normalmente em cm2.
Na tabela a seguir podemos observar os valores de permeabilidade intrínseca para alguns materiais
porosos.
/D
Metro por dia
A equação de Darcy foi desenvolvida para descrever o fluxo unidirecional, ou seja, o fluxo se dá em
uma direção. Entretanto, sabe-se que essa equação pode ser generalizada a fluxos tridimensionais
ou bidimensionais. Nesse caso, a taxa de fluxo e o gradiente hidráulico tornam-se vetores, e a
→
→
condutividade hidráulica um tensor q = k∇h
Exemplo
Um exemplo de regime permanente ocorre durante o bombeamento de água em poços de alguns
aquíferos. Após certo tempo de bombeamento, a vazão que flui do aquífero para o poço e a vazão
captada entram em equilíbrio, ou seja, não há variações de velocidade enquanto as vazões se
mantêm equilibradas, o que é chamado de equilíbrio e será tratado no módulo 2.
Em aquíferos confinados dificilmente isso ocorre, de modo que, teoricamente, o tempo de equilíbrio
é infinito. Entretanto, do ponto de vista prático, podemos considerar que o regime permanente se
desenvolve nessas condições.
Esquema do desenvolvimento do regime permanente em um aquífero freático com captação de água em um poço próximo a um
rio.
2 2
∂ v ∂ v 2R S ∂v
2
+ 2
+ =
∂x ∂y K K√v ∂t
De uma maneira mais simples, vamos considerar um aquífero confinado, com espessura D e com
carga hidráulica h1 e h2, distantes L (direção x), conforme a imagem a seguir. Nesse caso,
estabelecemos que não há fluxo vertical (direção z), uma vez que o aquífero é confinado.
Além disso, estimamos que o gradiente hidráulico na direção y é nulo (direção transversal a L), ou
seja, temos um escoamento unidirecional. Desse modo, considerando o regime permanente,
podemos calcular a vazão que atravessa uma largura unitária do aquífero por meio da equação de
Darcy.
△h h1 − h2
Q = −KD. → Q = −KD.
△x L
h1 − h2
Q = −T .
L
Saiba mais
Escoamentos bidimensionais
O escoamento bidimensional ocorre quando o fluxo de água em uma das direções é inexistente ou
desprezível, o que proporciona uma simplificação da equação geral de movimento de água
subterrânea.
Aquífero confinado
O fluxo de água em uma das direções é inexistente ou desprezível. Isso ocorre no caso de
aquíferos confinados em que camadas impermeáveis são paralelas e horizontais, as quais
fazem com que o fluxo aconteça horizontalmente.
close
Aquífero freático
Sendo assim, para essas situações e considerando um regime permanente, podemos expressar a
equação de movimento de água subterrânea conforme a equação a seguir.
2 2
∂ h ∂ h
Kx 2
+ Ky 2
= 0
∂x ∂y
2 2
∂ h ∂ h
2
+ 2
= 0
∂x ∂y
Para geração das linhas equipotenciais e as linhas de fluxo, chamadas de redes de fluxo, podemos
fazer uso do processo gráfico com traçado à mão livre ou com ferramentas computacionais. Nesse
último caso, além da direção do fluxo é possível expressar a sua intensidade, por meio do vetor
velocidade, que pode ser representado por um traçador de comprimento proporcional à velocidade,
conforme podemos ver na imagem a seguir.
Além do fluxo em aquíferos, as redes de fluxo podem ser aplicadas no estudo da percolação em
estruturas hidráulicas, barragens, canais, valas e estacas pranchas como podemos ver na imagem
a seguir, na qual foi traçado a rede fluxo de água abaixo da barragem.
Rede de fluxo abaixo de uma barragem.
Durante o traçado das linhas de fluxo e equipotenciais, devemos ficar atentos para pelo menos
duas regras:
As linhas equipotenciais devem ter um ângulo de 90° com as barreiras impermeáveis e 0° com
os contornos com carga constante.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A zona saturada é também denominada de
A zona impermeável.
B zona permeável.
D zona insaturada.
E zona freática.
Questão 2
O manancial onde a água fica armazenada na zona freática, possibilitando o natural fluxo da
água em grandes quantidades sendo possível realizar a sua extração, denominamos de
A aquiclude.
B zona de contribuição.
C escoamento rápido.
D aquífero.
E escoamento lento.
Introdução
video_library
Poços
Sendo assim, neste módulo estudaremos a exploração de poços, o regime de equilíbrio em poços
freáticos e artesianos e o regime não permanente.
Exploração de poços
Os poços são classificados como artesianos ou freáticos. Os freáticos são aqueles que captam
água de aquíferos livres (freáticos); os artesianos exploram água de aquíferos confinados ou
semiconfinados, como podemos visualizar na imagem a seguir. No caso dos poços artesianos, eles
podem ser jorrantes ou não, a depender da pressão na camada superior do aquífero.
Os poços jorrantes ocorrem quando a carga de pressão no aquífero confinado é maior que o
desnível até a superfície do solo, de modo que, ao escavar o poço, a água jorra na superfície do solo
sem a necessidade de bombeamento.
Exemplo
Dois exemplos no Brasil são os sistemas Aquífero do Parnaíba e Aquífero Guarani, que apresentam
alguns pontos com poços jorrantes.
Quando a carga de pressão é menor que o desnível entre a camada superior do aquífero e a
superfície do solo, a água não atinge a superfície, o que demanda sistemas de bombeamento para
a captação da água. Esses poços são comumente chamados de poços semiartesianos.
Os poços tubulares, jorrantes ou não, são empregados para atender altas demandas, sendo
a vazão do poço dependente das características geológicas do aquífero, podendo variar de
dezenas a centenas de m3 h-1. A profundidade varia de 150m a 1000m, dependendo da
profundidade do aquífero a ser explorado, sendo empregadas tubulações com diâmetro
entre 4 e 24 polegadas, podendo ser de PVC, aço zincado ou aço inoxidável. Essa tubulação
é colocada em toda a extensão do poço quando o aquífero é granular, mas quando o
aquífero é formado por rochas fissuradas, o tubo é colocado apenas na parte inicial do
poço. A captação de água é feita por meio de bombas submersas de múltiplos estágios e
com eixo vertical, conhecidas popularmente como bombas tipo caneta.
Poços freáticos e artesianos
Regime de equilíbrio em poços freáticos e artesianos
Antes de iniciar o bombeamento de água em um aquífero, o nível de água no poço é chamado de
nível estático do poço, sendo que no caso específico dos poços freáticos, esse nível corresponde
ao nível da superfície freática (lençol freático).
Entretanto, após iniciar a retirada de água do poço, o seu nível é rebaixado, sendo este nível definido
como nível dinâmico do poço. Quanto maior for a vazão e o tempo de retirada, maior será o
rebaixamento, de modo que, quando a retirada de água for interrompida, o poço levará um tempo
para retomar o nível estático. Esse tempo é denominado de tempo de recuperação do poço.
Uma vez iniciado o bombeamento, o nível dinâmico é reduzido continuamente até atingir uma
condição de equilíbrio entre a vazão bombeada e a vazão do poço. Desse momento em diante, o
nível dinâmico do poço permanece estável durante o bombeamento com vazão constante, de modo
que podemos dizer que o poço atingiu o regime de equilíbrio.
Comentário
Para facilitar o entendimento, trataremos de forma separada o regime de equilíbrio em poços
freáticos e artesianos.
2 2
π×K(H −H p )
Q =
r
ln( )
rp
Recomendação
Recomendamos entrar com K em m h-1, H, H0, r e rp em metros, de modo que a unidade de vazão
sairá em m3 h-1.
O raio do cone de influência de poços freáticos varia de 100m a 150m, sendo que a vazão do poço
pode sofrer interferência de poços vizinhos caso os cones de depressão se sobreponham.
Regime de equilíbrio em poços artesianos
Tomando como base as simplificações e os procedimentos feitos para poços freáticos e
assumindo que o poço penetra toda a espessura do aquífero (dada por b), podemos expressar a
vazão do poço em regime de equilíbrio, conforme a equação a seguir.
2π×K×b(h−hp)
Q =
r
ln( )
rp
Recomendação
Quanto às unidades, recomendamos entrar com K em m h-1, b, h, h0, r e r0 em metros, de modo que
a unidade de vazão sairá em m3 h-1.
Um ponto importante na vazão de poços é o raio de cone de depressão que, de modo geral, variam
de 1000m a 1500m. Sendo assim, se dois ou mais poços forem perfurados dentro desse espaço, a
vazão será afetada, sendo mais afetada quanto mais próximos estiverem os poços.
para tempos superiores a , até atingir o regime de equilíbrio, o rebaixamento pode ser
25r S
determinado por meio da equação a seguir, conhecida como fórmula de Theis modificada por
Jacob.
Essa equação considera um meio isotrópico e homogêneo, do mesmo modo que fizemos para o
regime permanente. Em outras palavras, é um modelo simplificado, que pode apresentar
limitações. Entretanto, pode se mostrar uma importante ferramenta para o entendimento do
comportamento do aquífero e de poços.
0,183Q 2,25T ×t
s = log 2
T r S
Atenção!
É recomendada atenção nas unidades, pois o uso de unidades inconsistentes pode nos levar a
informações equivocadas, principalmente quando se trata da caraterização do aquífero, conforme
será apresentado adiante.
O tempo em que o fluxo fica em regime não permanente depende das características hidráulicas do
aquífero, sendo que, teoricamente, para um aquífero de dimensões infinitas esse tempo é também
infinito.
Saiba mais
Do ponto de vista prático, sabemos que, após certo tempo de bombeamento, as condições de
regime permanente são atingidas.
Essa equação pode ser empregada para determinação dos coeficientes de transmissividade e de
armazenamento do aquífero. Para isso, é necessário que tenhamos dois poços a uma distância
conhecida, seja medida a vazão retirada do poço e sejam monitorados os valores de rebaixamento
para diferentes tempos de bombeamento.
Com base nos dados coletados, podemos obter esses parâmetros por meio de processo gráfico,
algébrico ou de regressão linear, a depender de disponibilidade de recursos tecnológicos.
Cabe ressaltar que com a disponibilidade de planilhas eletrônicas a obtenção desses parâmetros
por meio de regressão linear se tornou muito prático, além de proporcionar maior acurácia.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A profundos e rasos.
B alvenaria e concreto.
C artesianos e freáticos.
D zona saturada e profundos.
E artesianos e profundos.
Questão 2
Em um aquífero, antes de começarmos o bombeamento da água, chamamos o nível de água
do poço de
B nível positivo.
C nível dinâmico.
D nível de movimentação.
E nível de controle.
Introdução
video_library
A recarga de águas subterrâneas
Preliminares sobre exploração da água
A exploração da água deve ser feita de forma sustentável, de modo a garantir que este recurso
natural possa ser explorado de forma contínua. Para isso, é necessário que os órgãos de controle
tenham conhecimento do potencial do aquífero, visando a um regime de equilíbrio entre a retirada
de água e a sua reposição natural, com o mínimo de impactos aos ecossistemas.
Essa reposição ocorre principalmente por meio das precipitações pluviométricas, em que parte da
lâmina infiltra no solo e percola em profundidade nas zonas de recarga dos aquíferos.
Recarga de aquíferos
A recarga dos aquíferos é definida como o reabastecimento dos aquíferos, principalmente por meio
de precipitações, podendo em alguns casos ser proveniente de lagos e rios ou mesmo de
atividades humanas que distribuem água no solo, como a irrigação. Sendo assim, a recarga de um
aquífero é a entrada de água no aquífero advinda da zona de aeração e da percolação lateral.
A área de recarga é a região geográfica onde ocorre a recarga do aquífero. Essa região depende se
o aquífero é freático ou artesiano, veja:
Aquíferos artesianos
A área de recarga está normalmente nas partes mais elevadas do relevo, como no topo de
montanhas ou planaltos, onde ocorre o afloramento da camada impermeável.
close
Aquíferos freáticos
A recarga pode ocorrer em diversos pontos do aquífero a depender das características de
permeabilidade do solo e da distribuição de chuva, sendo que, de modo geral, as variações de
armazenamento nesses aquíferos ocorre de forma mais dinâmica que nos aquíferos
artesianos, ou seja, o tempo entre os eventos de precipitação e a recarga do aquífero é mais
curto.
Apesar da precipitação ser um dos principais componentes da recarga dos aquíferos, a sua
contribuição é dependente da lâmina ao longo do tempo e das caraterísticas da área de recarga, de
modo que mesmo precipitações intensas ou com lâminas elevadas podem não contribuir com a
recarga, a depender do déficit hídrico antecedente à precipitação, pois nesse caso a lâmina de água
infiltrada irá primeiramente elevar a umidade do solo até que as forças matriciais do solo sejam
inferiores à força gravitacional, fazendo com que ocorra a percolação profunda.
No que se refere à fonte, a recarga pode ser classificada como recarga direta, recarga indireta e
recarga localizada. A recarga direta é predominante em relação às outras formas de recarga para a
maioria dos aquíferos. Entenda a diferença entre elas:
Recarga direta
Ocorre quando a fonte da água é a precipitação, de modo que a água infiltra no solo, percola em
profundidade até atingir o aquífero. Sendo assim, é uma fração da lâmina total precipitada que
passa pela zona não saturada e contribui com o armazenamento do aquífero.
Recarga indireta
É definida como sendo a recarga de origem natural ou não natural, seja pela aplicação de água em
excesso em atividades, como irrigação e atividades urbanas, ou quando a fonte de água é a água
armazenada na superfície topográfica do terreno, como lagos, rios etc.
Recarga localizada
Ocorre de forma pontual como o próprio nome sugere, e é decorrente de infiltração lateral ao longo
de curtas distâncias.
Em relação ao tempo, a recarga pode ser classificada como curta, sazonal, perene ou histórica.
Recarga curta
Recarga perene
Recarga histórica
Devemos nos atentar para preservar a cobertura vegetal da área de recarga, de modo a
contribuir com o aumento da infiltração de água no solo.
close
Aquíferos com recargas indiretas
Devemos ter cautela com a qualidade da água aplicada, tendo em vista que, em longo prazo,
podemos proporcionar a contaminação do aquífero, principalmente por produtos químicos.
Estimativa da recarga
Estimativa da recarga de um aquífero
O conhecimento da recarga de um aquífero é de extrema importância para o planejamento do uso
da água subterrânea e até mesmo para gerenciamento de bacias hidrográficas, uma vez que as
nascentes são alimentadas pelo aquíferos, sejam eles freáticos ou artesianos.
Sendo assim, para que os gestores possam fazer um planejamento adequado, é necessário o
conhecimento dessa variável, obtida por meio de estudos que permitam sua estimativa.
A estimativa da recarga de um aquífero pode ser realizada com diferentes abordagens. Entretanto,
trataremos a seguir apenas do método do balanço hídrico, destinado à obtenção da recarga
profunda e do método da flutuação da superfície freática, destinada à obtenção da recarga direta.
Esses métodos foram selecionados em consequência da simplicidade e aplicabilidade dos
métodos.
dh △h
R = Sy = Sy
dt △t
A taxa de variação do lençol freático pode ser obtida por meio de medidas em poço de observação
ao longo do tempo, como podemos observar a seguir.
Gráfico: Extrapolação da curva de recessão do nível de água para estimativa da recarga. Extraído de: Barreto et al., 2020.
Perceba que ∆h é obtido pela projeção da tendência de queda do nível de água no poço de
observação. Esse procedimento é recomendado por conta da diferença entre o tempo de início da
precipitação e o início da elevação do lençol freático.
Ao utilizar esse método, devemos observar as suas limitações ou as condições que apresentam
melhores resultados, sendo que as principais são:
Condição 1
Aquíferos freáticos rasos, pois estes apresentam variações súbitas do nível de água o que é uma
demanda do método.
Condição 2
Os poços devem ser alocados de modo a garantir a representatividade das informações, o que, em
alguns casos, é um pouco difícil, em função da variabilidade espacial.
Condição 3
Conhecimento do rendimento e sua variabilidade podem ser pontos limitantes.
Quando se avalia o balanço de água na zona saturada, podemos facilmente obter a estimativa da
recarga profunda (R p ) por meio da equação a seguir, em que S y é o rendimento específico, Δh é a
variação do nível de água no poço de observação, q b é o escoamento base e R d é recarga direta.
R p = S y △h − q b + R d
Esse método apresenta a vantagem de fazer uso de variáveis de fácil medição do escoamento
superficial e nível de água. Por outro lado, a acurácia dessas medidas pode comprometer o seu
resultado.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Podemos definir a recarga dos aquíferos como
A poços artesianos.
E zona de aeração.
Questão 2
E
E
Fonte de água e tempo de recarga
Introdução
video_library
Poluição das águas subterrâneas
Palavras iniciais sobre aquíferos contaminados
Os aquíferos têm uma caraterística de serem bem menos vulneráveis à contaminação que os
mananciais superficiais, uma vez que o fluxo de água se dá de forma muito mais lenta e o solo tem
a capacidade de adsorção de tal maneira que a zona de aeração (não saturada) funciona como um
filtro. Desse modo, o processo de contaminação geralmente ocorre de forma muito lenta.
Entretanto, devemos ter muita cautela em relação aos aquíferos, pois uma vez contaminados, a
dificuldade para a sua recuperação também é maior, inclusive podendo envolver custos muito
elevados, o que pode tornar economicamente inviável a sua recuperação.
Desse modo, uma fonte de água pode ser considerada poluída para uma atividade e não poluída
para outra.
Exemplo
Uma água em que a concentração salina foi elevada pode ser considerada poluída para aplicação
na irrigação, mas pode não ser para atividades de lazer.
Além disso, é muito importante diferenciarmos os termos poluição e contaminação, tendo em vista
que o primeiro é mais amplo do que segundo.
Resumindo
Consideramos que uma água está contaminada quando ela apresenta níveis de radioatividade,
substâncias tóxicas e patógenos que possam oferecer riscos à saúde humana. Devido à maior
aplicabilidade às águas subterrâneas, daremos mais enfoque ao estudo da contaminação.
Do ponto de vista de distribuição espacial, a poluição pode ser pontual, difusa ou linear, sendo que
o conhecimento de cada tipo é de extrema importância para a tomada de decisão quanto às ações
mitigadoras.
Poluição pontual
Dizemos que a poluição ou contaminação de um aquífero é pontual quando está concentrada em
uma área pequena, como, por exemplo, em um poço.
Poluição difusa
É a aquela que ocorre de forma abrangente, ou seja, ao longo de grandes extensões, mesmo que
em baixas concentrações, como, por exemplo, a lixiviação de produtos químicos na agricultura ou
em áreas urbanas.
Poluição linear
Ocorre quando um rio ou um canal é contaminado e com isso passa a ser uma fonte de
contaminação das águas subterrâneas ao longo de sua extensão.
Independentemente do tipo de contaminação, podemos dizer que ela pode ser oriunda de todas as
atividades humanas, como indústria, mineração, atividades urbanas e agricultura.
Indústria
Provocam grandes danos com as disposições de rejeitos e acidentes com a ruptura de barragens.
Atividades urbanas
Apesar de serem materiais sólidos, têm elevado potencial de contaminação dos aquíferos por
conta dos lixiviados (chorume), que são gerados durante muitos anos após a disposição dos
resíduos no solo, em consequência da infiltração de água pelas precipitações.
Saiba mais
O chorume contém substâncias orgânicas e inorgânicas, sendo algumas muito tóxicas, oriundas de
resíduos industriais, que podem atingir grandes extensões e profundidade, a depender das
características do aquíferos.
A seguir, veja algumas práticas que podem contribuir para a contaminação da água:
Mineração expand_more
Uma prática bastante difundida por ser considerada ambientalmente correta é a aplicação
de águas residuárias para a irrigação, uma vez que elas apresentam quantidades
consideráveis de nutrientes que podem ser aproveitados pelas culturas. Isso deve ser visto
com muita cautela, dado que podem gerar problemas de contaminação dos aquíferos e
depender do manejo e da lâmina aplicada. Um dos principias contaminantes oriundos dos
esgotos lançados no solo é o nitrato.
Agricultura expand_more
As atividades agrícolas têm um potencial de gerar contaminantes no solo que podem ser
lixiviados e transportados para os aquíferos. Esses contaminantes são provenientes de
adubos químicos, orgânicos e agroquímicos, sendo que o que mais se destaca é a
contaminação por nitrato.
Petróleo expand_more
Os acidentes envolvendo produtos oriundos do petróleo é algo recorrente e deve ser tratado
com preocupação em relação à contaminação dos aquíferos. Esses acidentes ocorrem
tanto no transporte como nos reservatórios e são mais impactantes em aquíferos freáticos
próximos da superfície e com precipitações pluviométricas de frequentes a abundantes.
Nesse caso, a movimentação dos poluentes ocorre somente na zona não saturada, pois o
óleo diesel e a gasolina têm densidade inferior à densidade da água que faz eles não
penetrarem na zona saturada. Entretanto, isso não significa dizer que eles não oferecem
riscos de contaminação para as águas subterrâneas, pois são compostos de
hidrocarbonetos solúveis em água.
Para que o risco de todas as atividades citadas seja reduzido ao máximo, é necessário que os
projetos sejam bem planejados e que sejam adotadas as melhores práticas que visem à proteção
do meio ambiente, incluindo as águas subterrâneas.
Para simplificar, vamos direcionar nosso estudo apenas para os processos mais frequentes, que
são os que envolvem o nitrogênio, algumas substâncias metálicas, não metálicas e orgânicas.
No caso dos processos envolvendo o nitrogênio, cabe destacar o íon nitrato (N O 3 ), pois é o
−
contaminante mais encontrado nas águas subterrâneas – e o mais preocupante é que a sua
concentração tem aumentado. Provavelmente, esse aumento é consequência da intensificação da
aplicação de fertilizantes na agricultura, bem como do lançamento de esgoto no solo.
Saiba mais
Além do nitrato, podemos encontrar outras formas do nitrogênio como amônio (N H 4 ), amônia
+
(NH3), nitrito (NO2), nitrogênio gasoso (N2), oxido nitroso (N2O) e nitrogênio orgânico (N).
O nitrato pode ser gerado no solo a partir de dois processos: a amonificação e a nitrificação.
Amonificação
É o processo em que o N orgânico é convertido em amônio.
close
Nitrificação
A contaminação por traços de metais é mais rara, tendo em vista que sua movimentação no meio
poroso é muito lenta em comparação com água. Entretanto, isso não significa que esses
contaminantes não apresentem riscos aos aquíferos, pois quando ocorre a contaminação, os
impactos são muito desastrosos.
Os metais que despertam mais interesse são prata, cádmio, cromo, cobre, mercúrio, ferro,
manganês e zinco, pois apresentam limites máximos toleráveis para que a água seja considerada
potável.
Em relação os elementos não metálicos, podemos dizer que os mais importantes são nitrogênio (já
discutido anteriormente), carbono, enxofre, cloro, selênio, fósforo, boro, flúor e arsênio.
Arsênio
Por ser uma substância venenosa, proveniente da queima de carvão e de atividades industriais. A
contaminação das águas subterrâneas por arsênio ocorre na sua forma solúvel que são o arsenato
e o arsenito.
Selênio e flúor
São importantes, pois a sua concentração é usada como critério de definição da potabilidade da
água.
Fósforo
Pode levar à eutrofização dos corpos hídricos quando em concentrações elevadas.
No caso das substâncias orgânicas, o que tem impactos negativos para as águas subterrâneas são
os compostos orgânicos artificiais, provenientes da aplicação de agroquímicos, lançamento de
esgoto e aterros sanitários.
Muitos desses contaminantes têm a sua passagem bloqueada ou retardada por mecanismos do
meio poroso, como precipitação química, degradação química, volatilização, degradação e
consumo biológico e adsorção.
Dependendo da origem dos contaminantes das águas subterrâneas, durante o seu transporte no
meio poroso, podem acontecer diversos processos, como advecção, dispersão, adsorção, reações
químicas e fenômenos de decaimento.
Advecção
Nesse processo, o soluto não interage com o meio poroso e sua velocidade é igual à velocidade da
água.
Dispersão
Ou dispersão hidrodinâmica, é o fenômeno de espalhamento do contaminante e ocorre por conta
de dois fenômenos que são a dispersão mecânica e a dispersão molecular (difusão), sendo a
primeira relacionada às variações de velocidade no meio poroso e a segunda devido ao gradiente
de concentração.
Adsorção
É o processo em que o soluto é acumulado nas partículas do solo, sendo considerado como um
dos processos mais importantes de proteção dos aquíferos, tendo em vista que retarda o avanço
da frente de poluição, como podemos observar na imagem a seguir.
Tendo em vista que retarda o avanço da frente de poluição, como podemos observar a seguir.
Gráfico: Avanço de solutos com adsorção (a) e sem adsorção (b). Adaptado de: Feitosa et al., 2008, p. 399.
Desse modo, o risco de contaminação está relacionado tanto com a vulnerabilidade quanto com a
presença de contaminantes e a sua concentração, ou seja, nem sempre um aquífero com maior
vulnerabilidade apresenta o maior risco de contaminação.
Permeabilidade
Indica o risco de contaminação por advecção, sendo dependente da condutividade hidráulica, de
fatores climáticos e da ocupação do solo, de modo que a combinação desses fatores pode
interferir no tempo de trânsito do poluente, ou seja, o tempo que o poluente leva para ser deslocado
ao longo de uma distância definida.
Gráfico - Tempo de trânsito na zona de aeração para diferentes condições climáticas (equatorial, tropical, temperado e semiárido)
e condutividade hidráulica (K1, K2 e K3). Adaptado de: Feitosa et al., 2008, p. 408.
Além do clima, a ocupação do solo é muito importante, pois algumas atividades contribuem para
aumentar a infiltração efetiva, como a agricultura irrigada e recargas induzidas por lagoas de
oxidação, canais de drenagem, vazamentos de adutoras e da rede de esgotos etc.
Na imagem a seguir, podemos observar que a infiltração efetiva é muito parecida entre as cidades
avaliadas, mesmo que o clima seja distinto.
Além disso, percebemos que a urbanização aumentou a infiltração efetiva em todos os casos, cuja
magnitude depende do seu nível de desenvolvimento.
Gráfico - Recarga em aquíferos não confinados situados em diferentes centros urbanos. Adaptado de: Feitosa et al., 2008, p. 410.
Capacidade de atenuação
Existem vários processos (como estudamos no item anterior) que podem ocorrer de forma
concomitante, como está descrito na imagem a seguir.
Processos que contribuem com a atenuação de contaminantes e sua intensidade, expresso pela espessura das barras, em
sistemas de água subterrâneas.
Os mapas de vulnerabilidade dos aquíferos são uma ferramenta importantíssima para que os
gestores dos recursos hídricos possam tomar decisões junto com poder público em geral, de modo
a proteger os aquíferos, uma vez que esses mapas poderão orientar quais as zonas mais seguras
para se desenvolver as atividades antrópicas, em função do potencial de seus impactos.
Exemplo
Para determinadas áreas que se mostram mais vulneráveis deve ser traçado um plano de
ocupação, considerando atividades menos impactantes ou sem impactos, como é caso dos
mananciais para o abastecimento público.
Além disso, podemos também direcionar o monitoramento para áreas que apresentam maior
vulnerabilidade e desenvolvam atividades com potencial de poluição.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Quando ocorre mudanças provocadas por meios artificiais que podem prejudicar a qualidade
da água conforme os padrões predeterminados para seu uso, dizemos que aconteceu uma
B recarga curta.
C recarga histórica.
D recarga perene.
E recarga sazonal.
Questão 2
As formas principais de contaminação dos aquíferos são
A escoamento lento.
B zona não saturada.
D aquiclude.
E zona de saturação.
Considerações finais
Como vimos, a falta de uniformidade de distribuição das águas subterrâneas contribui para que
ocorra escassez dos recursos hídricos tanto nas regiões de menor disponibilidade hídrica, como
em regiões com elevada densidade populacional e industrial.
Desse modo, é muito importante que a gestão dos recursos hídricos seja efetiva para garantir que o
desenvolvimento do país aconteça de forma sustentável.
Nesse contexto, a águas subterrâneas têm grande importância, visto que são um importante
montante no cenário nacional, além de terem uma dinâmica muito diferente das fontes superficiais.
headset
Podcast
Agora, o especialista Marcos Filgueiras Jorge encerra o tema falando sobre os principais tópicos
abordados.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS. Águas subterrâneas o que são? São Paulo:
ABAS, s. d.
FEITOSA, F. A. C. et al. Hidrogeologia: conceito e aplicações. 3 ed. Rio de Janeiro: CPRM: LABHID,
2008. 812 p.
FREEZE, R. A.; CHERRY, J. A. Redes de fluxo. In: FREEZE, R. A.; CHERRY, J. A. Água Subterrânea. cap.
5, 1979.
Explore +
Pesquise as redes de fluxo e veja como elas se comportam no meio.
Para estudar com mais detalhes sobre águas subterrâneas, acesse o portal da Associação
Brasileira de Águas Subterrâneas.
Para estudar sobre águas subterrâneas, leia o conteúdo Hidrogeologia – conceitos e aplicações, da
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais / Serviço Geológico do Brasil, organizado por
Fernando A. C. Feitosa, João Manoel Filho, Edilton Carneiro Feitosa e J. Geilson A. Demetrio, de
2008.