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Estudos do Lençol Freático

8. ESTUDOS DO LENÇOL FREÁTICO

1. Introdução

Estudos do lençol freático são normalmente feitos De uma maneira geral, poços de observação do
utilizando-se furos de trado ou poços de observação lençol são instalados em uma malha retangular,
do lençol freático, onde são medidas as flutuações espaçados de tal forma que permitam obter leitura
dos níveis de água visando detectar a existência do nível freático que forneçam uma configuração
de áreas mais propícias ao encharcamento e inden- do comportamento do lençol da área.
tificar as causas de sua ascensão.
Não existem regras que regulem o espaçamento
Poço de observação do lençol freático são entre poços de observação. Cada área a ser
instalados em toda a área a ser estudada ou em estudada apresenta características próprias.
pontos específicos da mesma, onde o lençol
freático apresente maiores possibilidades de Em áreas onde as condições de solo, subsolo e
ascender à níveis críticos que venham a causar recarga são idênticas, a forma da superfície do
danos às plantas cultivadas. lençol tende a ser uniforme.

A princípio deve ser assumido um determinado


2. Onde instalar poços espaçamento, podendo o número de poços ser
ampliado, em função dos resultados obtidos, como
• Áreas com lençol freático ou com características no caso de detectar-se um poço com água ao
de solo indicativas da ascensão do lençol. lado de outro seco ou mudanças bruscas de
• Áreas a serem monitoradas quanto a possível gradiente indicando área de recarga ou descarga.
ascensão do lençol freático. Nesses casos a interpolação não é recomendada.
• Em locais apropriados para o estudo do compor-
tamento de sistema de drenagem subterrânea.
• Próximos a canais de irrigação a fim de 4. Profundidade
identificar vazamentos.
É recomendável atingir a camada indicativa de
oxi-redução, representada por mosqueados ou
3. Localização e espaçamento concreções, ou então atingir cerca de 3,0 m de
profundidade. Fora da camada de oxi-redução
De preferência, quando permanentes, os poços dificilmente há formação de lençol freático.
devem ser localizados próximos de cerca, estradas
de serviço ou estruturas permanentes para que De uma maneira geral lençol abaixo 3,0 m de
fiquem protegidos dos tratos culturais. Poços profundidade não é indicativo de problema de
situados dentro das áreas de cultivo são um drenagem, donde se conclui que comumente não
empecilho ao trabalho das máquinas. Nestas é necessário instalar poços com profundidades
condições devem ser protegidas por uma ou duas superiores a esta.
estacas de madeira, fortes e com um mínimo de
1,0 m de altura. A profundidade da camada impermeável é outro
fator limitante, não devendo o poço ultrapassar
essa camada.

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Quando executados na estação seca ou em área devendo ser feitos cerca de 30 cortes por metro de
onde a irrigação esteja suspensa, por período que tubo.
corresponda a rebaixamento significativo do lençol
freático, os poços devem penetrar cerca de 1,0 m Na parte superior do tubo ou poço deve ser fixada
na zona indicativa de flutuações do lençol uma luva liso-rosca onde é atarraxado um tampão,
freático. Se efetuados na estação úmida, é tipo plug, conforme Figura 1.
recomendável que penetrem aproximadamente 1,0
m na zona do lençol.

5. Instalação do poço

Para cada poço a ser instalado deve ser feita uma


descrição do perfil, devendo ser anotados a data
de instalação, localização, cor das camadas de
solo, textura, estrutura, consistência, presença de
mosqueado, concreções, altura do lençol estabi-
lizado e possível presença de barreira, quando
atingida ou conhecida, conforme ficha anexa.

Poço provisório
Fig. 1 - Desenho esquemático de um poço de
Em se tratando de solos estáveis e estudo observação do lençol freático
temporário, pode simplesmente ser feito um furo
de trado para servir como poço de observação. Se
nos estudos for necessário o preparo de mapa de 6. Leituras dos poços
fluxo do lençol é recomendável instalar piquetes e equipamentos utilizados
próximo da boca de cada poço, os quais deverão
ser cotados. Podem ser diárias, semanais, quinzenais ou
mensais, dependendo da utilização a ser dada às
Para leituras de curto período, em solo instável, o informações requeridas.
poço pode constar de um furo de trado onde é
colocado um tubo tipo esgoto, de 50 mm, contendo Em casos de estudos de flutuações do lençol
perfurações ou cortes de serra de 2 mm para permitir freático em áreas onde se deseja avaliar o
que sejam feitas leituras, mesmo que ocorra o desempenho do sistema de drenagem subterrânea
desmoronamento das paredes do furo de trado. podem, inclusive, ser feitas várias leituras por dia.

Poço permanente Para estudos de comportamento do lençol freático,


em áreas irrigadas, as leituras podem ser semanais
Pode constar de um furo de trado revestido com ou mensais, sendo mais comum fazer leituras
tubo, tipo esgoto, de 50 mm de diâmetro interno, mensais por período de alguns meses, ou de acordo
ou tubo de 32 mm, do tipo usado para encana- com o ciclo da planta, ou então completar um
mento doméstico. ciclo de um ano.

O tubo deve ser recortado, com serra de 2 mm, Em anexo são apresentados modelos de fichas de
até um máximo de 1,0 m da superfície do terreno, cadastro, leituras e de anotação das profundidades

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e cotas do lençol freático. O critério adotado tem como orientação enumerar


de cima para baixo (primeiro) e da esquerda para
A maneira mais prática de fazer leituras é com a a direita.
utilização de um "plop" fixado a uma trena de
fibra de vidro, fita métrica ou equivalente. Ao
baixar o "plop" no poço, cuja ponta passa a
corresponder ao zero da trena, este ao tocar a água
produz um som característico, daí a denominação.
O "plop" é nada mais que um peso suficiente para
manter a trena esticada, cuja característica
principal é a de produzir o referido som que indica
o nível da superfície d’água.

Pode ainda ser utilizado equipamento munido de


dispositivo elétrico que ao tocar a água permite
medir a profundidade do lençol. Este equipamento Fig. 2 - Nomenclatura de poços de observação do
não é prático como o anterior, razão porque não lençol freático.
se recomenda o seu uso.
Poços situados em cima das linhas limites superior
Esses equipamentos medem a profundidade do e esquerdo de uma quadrícula passam a pertencer
lençol em relação ao topo do poço. De posse deste a esta.
dado e tendo-se a cota da plataforma do poço ou
do piquete, situado junto ao furo, obtêm-se a O poço nº 1 fica no extremo superior do quadro
profundidade do lençol em relação à superfície de confluência das coordenadas número e letra e
do terreno e também a cota do lençol freático, o no lado esquerdo quando houver mais de um poço
que permite preparar hidrogramas do lençol, seção no mesmo nível de altura.
transversal de linhas de poços, bem como mapa
de isoprofundidade (isóbata) e mapa de fluxo do A seguir, por ordem de prioridade, vem o poço situado
lençol (isohipsa). imediatamente em posição inferior àquele já clas-
sificado, e assim por diante, conforme figura nº 2.

7. Normas para denominação


8. Hidrogramas
Colocar letras no eixo das abcissas (x) e números
no eixo das ordenadas (x), conforme a Figura 2. São representações do nível da água em função
do tempo. Hidrogramas de variações dos níveis
Seguir preferencialmente a direção das coorde- freáticos, em função de possíveis fontes de excesso
nadas geográficas, caso constem do mapa. de água, podem auxiliar no diagnóstico da
drenagem.
Colocar letras e números no meio de cada faixa
correspondente. A informação é pontual, podendo ser feitas leituras
diárias, semanais, quinzenais ou mensais.
Colocar a inicial "p" (de poço) seguida das letras e
números correspondentes, conforme exposto a Em um só gráfico podem ser incluídos, como forma
seguir: de visualizar o problema, os diagramas do poço e
das fontes de recarga.

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9. Seção transversal do lençol 12. Tolerância das culturas


a lençol freático alto
Serve para dar uma idéia do gradiente hidráulico,
indicar zonas de recarga e descarga e indicar onde A maior ou menor tolerância a lençol freático alto
instalar drenos interceptores. é uma característica de cada tipo de cultura.

O efeito danoso da presença de lençol na zona


10. Mapa de fluxo do lençol (Isoypsas) das raízes é uma função do tempo em que o lençol
permanece alto, da freqüência de flutuações do
Indica a direção de fluxo do lençol. lençol, do tipo de solo, da interação ciclo da
cultura - lençol freático alto e das condições
Confecciona-se interpolando as cotas do lençol climáticas reinantes durante o período de lençol alto.
freático obtidas através de leituras dos poços de
observação. O lençol próximo da superfície do terreno cria
condições de oxi-redução, na zona das raízes, com
A escala vai depender do nível de estudos e do a conseqüente formação de gás metano, gás
material cartográfico existente. sulfídrico e sulfato ferroso, devido a ação de
bactérias anaeróbicas sobre a matéria orgânica, o
Em estudos a nível de projeto básico ou a nível de que além dos efeitos tóxicos provoca deficiência
detalhe pode-se trabalhar com escala 1:2.000, de nitrogênio no solo.
5.000, 10.000 ou 1:25.000 e isolinhas de 0,20, 0,50
ou 1,00 m. Em anexo é apresentado exemplo Na Tabela 1 são apresentadas tolerâncias de
ilustrativo de mapa de fluxo (Figura 3). algumas culturas à presença de lençol freático
alto.

11. Mapa de isoprofundidade (Isóbatas) Infelizmente são poucos os dados disponíveis sobre
o efeito do lençol freático alto sobre a produ-
É preparado a partir de dados da profundidade do tividade dos cultivos, no que se conclui pela
lençol em relação à superfície do terreno, obtidos necessidade de mais pesquisa nessa área. Alguns
a partir de leituras dos poços de observação. dos dados apresentados parecem refletir rendi-
mentos obtidos de cultivos submetidos a sistemas
Pode também ser preparado marcando-se a de sub-irrigação ao invés do efeito da elevação
intersecção das linhas de fluxo do lençol freático do lençol freático por excesso de irrigação, o que
com as cotas da superfície do terreno, quando pode ser observado quando ocorre decréscimo de
superpostos. A seguir une-se pontos de mesmas produtividade com o aumento da profundidade do
profundidades e obtêm-se linhas de mesma lençol freático.
profundidade do lençol em relação à superfície
do terreno. Como exemplo, pode-se trabalhar com A título de ilustração pode-se afirmar que na região
faixas de profundidades de planos de níveis freáticos de Mendoza, Argentina, é norma considerar que
que vão de 0- 0,50 m; 0,50 a 1,00; 1,00 a 1,50; para a cultura de uva o lençol deve ser mantido
1,50 a 2,00 m. A partir da escala pré-fixada são a 1,5 m de profundidade; por outro lado, na
feitas interpolações para a obtenção das isóbatas. Fazenda Milano, situada no semi-árido, próximo
da cidade de Petrolina - PE, a uva, tipo itália,
Na Figura 4 é apresentado mapa de isoprofun- produzia em 1985 cerca de 30 ton/ano, em duas
didade. Este é o mapa mais importante para mos- safras, em solo do tipo podzólico inclinado com
trar áreas com problemas de drenagem subterrânea. lençol a 50 cm de profundidade. Na área foi

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Fig. 3 - Mapa de fluxo do lençol freático e esoprofundidade

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Fig. 4 - Mapa de fluxo do lençol

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implantado sistema de drenagem subterrânea, por ao tipo de solo, como por exemplo, se o terreno
valas abertas com 7,0 m de espaçamento e a 50 for arenoso a irrigação deve ser feita por aspersão
cm de profundidade. ou gotejamento.
• Trabalhar com alta eficiência de irrigação,
evitando perdas de água.
13. Como evitar ascensão do lençol • Construir sistema de drenagem superficial e/ou
subterrânea sempre que houver indicativo de locais
Em áreas não irrigadas de acumulação de águas superficiais ou o solo
Fazer drenagem superficial, para evitar o apresentar características de má drenabilidade do
enxarcamento do terreno ou drenagem subterrânea perfil.
quando somente a drenagem superficial não for • Dar manutenção adequada ao sistema de
capaz de resolver o problema. drenagem existente.
• Nas Tabelas 2 e 3 são apresentados exemplos
Em áreas irrigadas de fichas de instalação, leitura e computação das
• Trabalhar com sistema de irrigação adequado cotas de profundidade do lençol.

Tabela 1 - Rendimento Relativo de Alguns Cultivos


em Função da Profundidade do Lençol Freático

CULTURA TIPO DE SOLO PROFUNDIDADE DO NÍVEL FREÁTICO (cm)

30 60 90 120 150
Trigo* Argiloso - 77 95 - 100
Sorgo Argiloso 86 100 -
Milho Franco argilo siltoso 55 70 100 -
Franco arenoso 41 85 85 -
Areia franca 100 83 ? - -
Ervilha Argiloso - 90 100
Feijão Argiloso - 84 90 94
Soja Franco arenoso 63 100 - -
Tomate Franco argiloso 47 60 100 -
Franco arenoso 47 60 100 -
Batatinha Argiloso - 100 95 ? -
Repolho Franco arenoso 80 *** -
Abóbora Franco 48 65 90 100
Feijão** 40 90 99
(40 cm)
Batatinha 90 100 94 ? 32 ?
(40 cm)
Beterraba - 84 92 - 100 ?
Algodão**** 45 80 95 97
Pastagem 50 80 91 100
Trigo 50 76 86 93

* = Decio Cruciani (Drenagem na Agricultura - pag. 24)


** = Agustin Millar (Drenagem de Terras Agrícolas - pag. 28)
*** = 100% de produtividade a 45 cm.
**** = Dados aproximados extraídos de gráficos - Aldo Norero y Miguel Aguire - Procedimientos para estimar la
influencia de la napa freática em la productividad de los cultivos - CIDIAT - apartado 219 Mérida, Venezuela.
? = avaliação errônea; é comum pesquisadores/professores misturarem sub-irrigação com efeito do lençol freático.
Nota: Lençol freático profundo, não afeta a produtividade; o que afeta neste caso é a falta de humidade devido à
irrigação inadequada.

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Tabela 2 - ficha para leituras de nível freático

Projeto: Localidade:

Operador: Data:

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)


Número do Cota Leitura do Cota do Cota do Profundidade Profundidade
Poço(NPO) do Topo Lençol Lençol Terreno do Lençol do Poço(PPO)
do Tubo(CTT) Freático(LLF) Freático(CLF) Natural(CTN) Freático(PLF)

Tabela 3 - Ficha de Campo para Leitura do Lençol Freático

DATA NÚMERO LEITURA OBSERVAÇÕES


DO POÇO

Responsável pela Leitura Visto

Bibliografia

1- MILLAR, Augustin A. Drenagem de terras 3- NORERO, Aldo, AGUIRE, Miguel. Proce-


agrícolas; princípios, pesquisas e cálculos. dimientos para estimar la influência de la
Petrolina: 1974. lv. il. napa freática em la profundidad de los
cuetivos - CIDIAT - Apartado 219 Mérida,
2- CRUCIANI, Decio Eugênio. A drenagem na Venezuela. Venezuela: CIDIAT, s.d. 1v.
agricultura. São Paulo: Nobel, 1980. 333p.
il.

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