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Teste de Infiltração por Permâmetro de Anel

10. CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA - de um solo saturado é diretamente proporcional a


TESTE DE INFILTRAÇÃO POR carga hidráulica e inversamente proporcional a
PERMEÂMETRO DE ANEL coluna de solo, donde:
Q = K i A ......................................................(1)
1 - INTRODUÇÃO Sendo
Q = descarga (cm³/h)
O teste é comumente empregado com a K = condutividade hidráulica (cm/h)
finalidade principal de se detectar a presença de A = área de fluxo (cm²)
barreiras ao fluxo vertical, em condições de I = gradiente hidráulico, que de acordo com a
saturação, em estudo de classificação de terras figura 1 é igual a H/L .................(2)
para irrigação, bem como em investigações de H = carga hidráulica (cm)
drenabilidade. Na sua condução são empregados L = altura da coluna de solo testada (cm)
geralmente dois anéis, nos quais são fixadas bóias
do tipo usado em caixa d'água doméstica, para Tomando -se (1) e (2) tem-se:

manutenção do nível constantes da água. O


fornecimento de água aos cilindros é feito por meio
de vasilhames de plástico com a capacidade de Calculando-se para "K", tem-se:

40 a 100L. O vasilhame alimentador do cilindro


interno deve conter uma escala calibrada para
leituras em litros, com subdivisões de 250ml.
Dependendo do material, o teste poderá estender- Fig. 1, Desenho esquemático de teste de
se por um período de 1 a 3 dias, sendo de 8 horas condutividade hidráulica vertical.
a duração mínima.
2- ESTIMATIVA DO NÚMERO DE TESTE, LOCAIS
São feitas leituras com intervalos de uma E PROFUNTIDADES.
hora, duas horas ou em períodos maiores,
dependendo da disponibilidade de tempo. Pode- O teste é comumente conduzido em camadas de
se trabalhar com intervalos entre leituras solo situadas entre 0,30 e 1,0m de profundidade.
superiores a 12 horas, nos casos em que as Pode ser conduzido em qualquer profundidade,
leituras são suspensas durante a noite e sendo no entanto pouco prática e dispendiosa a
continuadas no dia seguinte, sem que no entanto sua condução além de 3.0m. Nesses casos é
seja interrompido o fluxo contínuo de água para o recomendada a sua substituição por teste de furo
teste. Logo que forem feitas, após a saturação, de trado em presença ou ausência de lençol
três leituras de no mínimo 0,5 horas de intervalos freático, obtendo-se dessa forma a condutividade
e cujos valores possam ser considerados hidráulica lateral, que dará uma idéia da ordem de
constantes, o teste pode ser dado como concluído. grandeza da c. hidráulica vertical.
O teste de condutibilidade hidráulica de A presença de barreira pode, por outro lado, ser
campo baseia-se, em seus princípios gerais, na identificada durante os estudos pedológicos e
lei de Darcy para o movimento de água através de classificação de terras para irrigação ou
um meio saturado. drenabilidade, simplesmente pela resistência
A figura 01 mostra desenho esquemático oferecida por uma camada de solo a tradagem ou
de corte de um cilindro interno em operação. a abertura de trincadeira, podendo ser um fragipan,
Tensiômetros e piezômetros podem ser instalados argilito, rocha maciça ou outros.
para confirmar o preenchimento dos requisitos da O teste pode ser conduzido em diferentes
lei acima mencionadas. profundidades de uma mesma camada de solo,
Segundo a Lei de Darcy, o fluxo de água através desde que o anel fique inteiramente dentro da

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camada. Conforme a figura 02 os valores de c. hidráulica nos locais 1 e 2 devem ser idênticos.

.
.

Fig. 2, Testes de anel em diferentes profundidades de uma mesma camada de solo.

O número de teste a ser conduzido em uma área e a escolha dos locais de condução vai depender da
uniformidade e extensão de cada tipo de solo ou mancha, bem como do nível de estudo desejado.
Para uma camada argilosa que pareça possuir baixa c. hidráulica e seja uniformemente distribuída
numa área vasta, dois ou três teste com repetição podem ser suficientes, desde que os resultados
sejam consistentes.
.
1- MATÉRIAIS E MÉTODOS.

A quantidade e o tipo de material a ser utilizado em cada teste é definida de acordo com as condições
específicas de cada área a ser estudada.
- Pick-up para carregar o material, servir de transporte de pessoal e conduzir água para abastecer
os testes.
- Vasilhames alimentadores, sendo um deles calibrado, para alimentar o cilindro interno. Quando
for usada pick-up para carregar água é muito útil dispor-se de vasilhames adicionais para o
reabastecimento dos testes.
- Funil para facilitar o abastecimento dos vasilhames utilizados nos testes.
A seguir mostra-se esquema de um teste em operação, conforme a figura 3, conduzido em uma camada
de solo situado próxima da superfície do terreno.

Fig.3 - Teste em operação, vendo-se cilindro interno, cilindro externo, bóias e vasilhames alimentadores.

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Quando a permeabilidade da zona a ser A esse cilindro devem ser soldadas alças de
testada for alta, ou quando os intervalos de leituras vergalham de ½ polegada, que são bastante úteis
forem longos é aconselhável unir dois vasilhames para facilitar a operação de desenterra-lo e também
alimentares ao cilindro externo por meio de um para tornar o seu transporte mais prático.
"T" de ½ polegadas acoplado a três bicos de Batente de cilindro interno. Deve ser feito
torneira de jardim. Esse procedimento também da chapa espessa e circular, com 35cm de
pode ser necessário para testes que passem de diâmetro, tendo um outro disco ajustado á parte
uma dia para o outro sem que sejam feitas leituras inferior, com diâmetro ligeiramente inferior ao
durante a noite. diâmetro do cilindro interno para que o batente se
Atualmente são usados vasilhames de ajuste ao mesmo.
plástico, de 40, 50 ou 100L. Na parte central desse disco, solda-se um
Para a colibragem o vasilhame é colocado tubo galvanizado de uma polegada de diâmetro e
em cima de um suporte com altura suficiente para 60cm de comprimento, que servia como condutor
ser coletar-se a água por meio de proveta, ou frasco guia da peça móvel utilizada como soquete. Essa
tarado para a remoção de água em volumes de ½ peça deve pesar em torno de 30kg e ser feita
litros. Enche-se o vasilhame para a seguir retirar- utilizando-se um disco de aço com furo no centro.
se a água em volumes de 1/2L. Para cada volume Nele será soldado um tubo que se ajuste ao tubo
de água drenado marca-se, na fita, o traço guia da parte fixa. O diâmetro interno desse tubo
correspondente ao nível do menisco no vaso deve ser de 1.1/4. Na figura 4 apresenta-se um
comunicante. São então feitas numerações nos esquema de batente em corte lateral, onde são
traços com divisões de litro e de 1/2L. indicadas as dimensões aproximadas das peças
Pode-se depois fazer as marcações componentes.
intermediárias correspondentes ás frações de Na construção do batente deve ser levado
250ml, o que é menos trabalhoso. em consideração que uma serie de opções podem
A água é drenada por meio de sifão de tubo plástico ser feitas quanto a forma do mesmo e tipo de chapa
de ½", que por ser pouco denso, é amarrado a empregado, desde que o peso do soquete situe-
pedaço de vergalhão para ser mantido no interior se em torno de 30kg e também que a parte fixa do
do reservatório, devendo ser deixado um pequeno conjunto se ajuste ao cilindro a ser introduzido no
espaço para decantação de impurezas da água. solo.
É conveniente que o vasilhame alimentador Deve ser deixado um espaço entre o soquete (parte
do cilindro interno seja nivelado, o que é facilitado móvel) e a extremidade da chapa base do batente
com a utilização de três peças de madeira para para que o operador possa colocar os pés;no caso
apoio de aproximadamente 15cm, de comprimento do nosso desenho esse espaço é de 9cm.
por 8 cm² de seção. As chapas poderão ser unidas por meio de solda ou
- Cilindro interno, de chapa nº14, reforçado parafusos, sendo que no caso de se usar parafusos, estes
na parte superior com anel de chapa nº 3 ou 5 de devem ficar encaixados onde as superfícies forem atritantes.
aproximadamente 8 cm de largura. O diâmetro
interno do cilindro deve ser de aproximadamente
30cm e a altura de 45cm.
Deve-se fazer um furo de 2,7cm, a uma
distância de 34cm da base do cilindro, para
adaptar-se o suporte de bóia ou válvula.
Aparte inferior do cilindro é afiada, em bisel,
através de desbaste na parte externa.
- Cilindro externo de chapa nº13 ou 14, com
aproximadamente 60cm de diâmetro. Fig. 4- Desenho esquemático de um batente.

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· Batente, conforme descrito, pode ser O diâmetro da escavação deve ser igual ou
substituído por uma travessa de madeira dura, superior a 60cm, devendo ter o fundo nivelado.
de 12cm x 8cm x 30cm e uma marreta de 8ª Cuidados especiais devem ser tomados para não
10g. Dessa forma são aplicadas pancadas na pisotear a área onde será instalado o cilindro
madeira acima das paredes dos cilindros, interno:
batendo e girando gradativamente a madeira Os cilindros são então marcados a 15cm e
para que os cilindros percorram um eixo vertical a 30cm da base. Depois
ao ser introduzido no solo, principalmente o de marcados são introduzidos no solo até a
cilindro interno. primeira marca. É importante que o cilindro interno
· Tubo plástico flexível incolor (tubo cristal) de seja mantido em nível durante todo o tempo em
½ . que for introduzido no solo para percorrer um eixo
· Conjuntos de válvulas ou bóias do tipo usado perfeitamente vertical. Quanto ás pancadas, estas
em caixa d'água doméstica, tendo cada devem ser firmes para evitar vibrações. Neste
conjunto um bico de torneira de jardim de1/ trabalho o operador deverá ficar em cima da parte
2polegada. fixa do batente, devendo manter o seu peso bem
· Nível de pedreiro para nivelar o tambor calibrado distribuído, conforme a figura 05.
antes de cada teste.
· Trena de aço de 2 ou 3m para os trabalhos de
marcação dos cilindros e também para medir
a profundidade dos testes.
· Pranchetas escolar e fichas de anotações dos
testes.
· Marretas de 8 a 10kg com cabo de ferro.
· Pedaço de lamina plástica para cobrir o cilindro
interno e evitar a evaporação.
· Areia lavada fina, para ser colocada no interior
do cilindro interno. Fig. 5- Desenho esquemático do batente e cilindro.
· Pedaço de vergalho de 1/8 de diâmetro e
1,5metros de comprimento para comprimir, Depois de introduzir o cilindro até a profundidade
quando necessário, a terra junto da parede desejada, o solo em contato com as paredes
interior do cilindro interno. internas e externa deste é comprimido levemente
· Planta da aérea com as marcações prévias com uso de um pedaço de vergalhão de 1/8, para
dos locais dos teste. evitar o movimento de água entre o solo e as
Enxadão, enxada, chibança e pá. O material paredes do cilindro. A seguir coloca-se 2,5cm de
deve ser de uso pratico e fácil aquisição. areia fina e limpa dentro do cilindro para evitar a
Muitas vezes algumas improvisações podem formação de suspensão durante a colocação de
ser feitas sem prejudicar a precisão dos testes. água.
O uso de um cilindro externo é aconselhável
2- INSTALAÇÃO E CONDUÇÃO DO TESTE para testes conduzidos próximos da superfície do
terreno. O cilindro externo é também marcado a
3.1- Instalação do Teste. 15 e 30cm da base, porque será introduzido no
Depois de escolhidos os locais de testes e suas solo na mesma profundidade que o interno,
profundades serão feitos a escavação e a devendo trabalhar com a mesma altura de lâmina
instalação do equipamento. d'água. Caso não seja usado cilindro externo, em
Nos trabalhos de escavação alguns entalhes caso de trincheiras mais profundas, faz-se uma
devem ser considerados como: adaptação para fixar o suporte de válvula ao cilindro

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interno ou a uma estaca fincada no fundo da escavação.

3.2- Condução do teste.

É mantida uma lâmina de água de aproximadamente 15cm durante todo o período do teste,
tanto no cilindro interno, como no externo.
São feitas a seguir leituras com intervalos que dependerão da velocidade de infiltração e do
tempo disponível do operador.
Os intervalos de podem variar desde ½ horas até valores superiores a uma hora, como acontece
quando é conduzido mais de uma teste ao mesmo tempo.
Sempre que necessário completa-se o volume de água dos vasilhames alimentadores, não devendo
faltar água em nenhum momento.
Terminando o teste, escava-se ao redor do cilindro interno para vira-lo, a fim de verificar se na
parte inferior do mesmo existem canais feitos por raizes. rachaduras, fragmentos de rocha de volume
apreciável, ou qualquer outra anormalidade que possa influir significativamente no resultado da c.
hidráulica.

5 - CÁLCULO DA VAZÃO AJUSTADA

Podem ser feitas correções de viscosidade, em valores constantes da tabela1, para oscilações de
temperatura superiores a 2ºC. Em nossas condições pode, na maioria das vezes, ser dispensados.

Tabela 1- Viscosidade da água em centipoise.

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Os ajustes são relativos a viscosidade da água na primeira leitura feita após a estabilização do teste.
No exemplo abaixo, tabela 2, parte-se da vazão "Q", obtida nas leituras de campo e chega-se ao "Q",
ajustado.

Vazão Lida Temp. da água Viscosidade da água Q Ajustada


(1/h) ( C) (Centipoise) (1/h)

14,25 19,0 1,0299 14,25


14,97 23,0 0,9358 13,60
15,63 25,0 0,8637 13,58

Tabela:2 Valores de vazão lida e ajustada.

Pode-se dar o teste por encerrado após três leituras consecutivas e que apresentem valores
iguais ou muito próximos. Conserva-se a primeira leitura e faz-se as correções de viscosidade das duas
seguintes em relação á esta.
Para corrigir a segunda leitura, procede-se da seguinte forma:

Q obtido = 14,97 litros

Q ajustado = Q obtido

Q ajustado 13,60 1/h

Para a correção seguinte basta repetir o mesmo raciocínio.

6- Calculo da Condutividade Hidráulica.

É feito utilizando-se a seguinte fórmula: , sendo:

K = C. hidráulica (cm/ h)
Q = vazão ajuntada cm3/h)
L = altura da coluna de solo testada(cm)
A = área da base do cilindro (cm²)
H = altura da lâmina de água incluindo a camada de solo (cm)

É apresentado em anexo, a titulo de ilustração, resultado de teste conduzido na área do projeto de


Irrigação de Mandacaru, conforme a tabela 3.

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7- LIMITAÇÕES QUANTO AO USO DO TESTE.

· Solo situado imediatamente abaixo da camada a ser testada deve possuir uma condutividade
hidráulica igual ou superior a C.H. desta.
· Qualquer camada de permeabilidade inferior aquela do material a ser testado deve situar-se a
uma profundidade que permita que um fluxo constante seja alcançado, no mínimo por um período três
leituras consecutivas, antes que o lençol d'água formado atinja a parte inferior do anel interno.
· Um fluxo constante não é alcançado quando as camadas inferiores aquela testada vão se tornando
progressivamente mais compactadas. Nessa condição a condutividade hidráulica diminui, á medida
que o teste continua.
· teste não pode ser conduzido em camadas com cascalho ou material rochoso devido a dificuldade
de se introduzir o cilindro, que, neste caso, tanto pode ser danificado, como também pode facilitar a
formação de rachaduras na camada de solo situada no seu inferior.
· teste é muito demorado quando feito em material de baixa permeabilidade, podendo levar ate
dois dias para que sejam obtidos valores confiáveis.

8 - CONCLUSÕES.

Este teste, comparado com o teste de furo de trado em ausência de lençol freático é mais demorado e
mais trabalhoso, o que o torna mais oneroso. É muito útil na obtenção da condutividade hidráulica
vertical, necessária para se identificar a presença de barreira ao fluxo vertical saturado.
A amostra testada é bastante volumosa e o procedimento descrito evita ao máximo alterar as condições
naturais do solo; desta forma obtém-se resultados coerentes e seguros.
Geralmente o teste é feito para camadas mais argilosas e adensadas de solo, quando há suspeita de
condutividade hidráulica muito baixa.
Em projetos de irrigação e drenagem julga-se suficiente conduzir de 2 a 3 testes por camada de solo
que se queira obter a c hidráulica vertical; caso a extensão dos diversos tipo de solo em estudos seja
muito grande ou se repita muito dentro da área em estudo, a condução de mais testes pode ser
vantajosa.

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8- BIBLIOGRAFIA.

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