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DIMENSIONAMENTO DO SANGRADOURO DE UMA BARRAGEM COM VERTEDOR LABIRINTO * Walmnir Fernando Duarte Jardim No presente artigo é apresentado o célculo de wm muro vertedor tipo labirinto, segundo os resultados experimentais obtides por Magalhdes, que fol proposto como alternativa vantajosa a wm ‘sangradouro de superficie, com muro Creager, que estava previsto para wma barragem ora em constru- ‘540 no estado do Ceara. 1 = INTRODUCAO Na concepe&o do arranjo das obras de uma bar- ragem de terra ou enrocamento, to Viebilidade econdmica de todo 0 empreendimento. Via de regra, busca-se como primeira altemativa ‘a locaco do sangradouro em uma sola topogratica fas omibretras Ju raclgu vu au tongy Ua baie Ihde lica para evitar grandes e dispendiosas escavacoes. Se identificado um local como esse verifica-se atra- és de sondagens mecdnicas as caracteristicas geo- légicas do subestrato rochoso. Caso constate-se a presenca de rocha s4 acima da cota de sangria a Indicacdo de um canal livre tipo “soleira espessa” poderd ser a mais adequada (ver figura 1). Caso a Tocha sem alteragbes situe-se pouco abalxo da cota de sangria, digamos até 30m, poderd ser vidvel a fescoha de’ um muro veriedouro tipo “Creager”, de tal forma que a montante do muro (regido de baixa velociiade de fluxo) a escavacao seja realizada pré- xima a cota de sangria e, que a jusante (regio de fluxo répido) seia escavado até a superficie da rocha resistente a erosto (figura 2). + M. Se. Coppe/UFR ~ Professor do Departamento de Enge ‘aria Civil és UNIFOR REVISTA TECNOLOGIA--OUTUBRO/S0 No entanto a adoco dessas altemativas s6 sera viavet caso Sea possive!o reaproveltarnenty do at rial de escavagao do sangradouro no macico da barra~ {gem ou que o volume de bota-fora seja inexpressivo. No entanto se a escavacdo do canal de superficie represente um elevado volume nao utlizével, novas. alternativas devem ser analisadas. Entre das 0 em- prego de um muro vertedouro tipo labirinto poderé Ser extromamento intoreccante. ‘© vertedouro labirinto & caracterizado pelo eixo, fm planta, na forma de zig-zag tal que o fluxo dg se dé por um comprimento de crista maior do que © de um vertedor trontal @ retiineo que ocupe a mesma largura do canal. A soleira 6, em geral, consti- tuide por muros verticals delgados, cujo U.S. Army Engineers Waterways Experiment Station (W.E.S.). ‘A finalidade do uso do vertedor labirinto & 0 ‘aumento da descarga, por unidade de largura de ral, para a mesma lémina de sangria. A sua eficién fem escoar grandee fluxes com uma lémina relativa- ‘mente baixa torna-o ideal em situagdes onde a lamina maxima 6 limitada a baixos valores. Esse tipo de vertedor também permite que 0 nivel maximo maximo- Tum do reservatono permaneca na mesina cola © © da soleira soja alteada, aumentando a capacidade de acurulacdo do reservatério sem acréscimo do ma- cico da barragem. ‘A seguir descreve-se um caso real de uma obra atuaimente em construgo no estado do Ceard, onde a PLANTA _BAIXA Figure 1: Deaes de um songradouro po soles Epes sem revertimante ge come Figura 2: Dewihes de um sangradouro com veredor tbo Creaper 2 REVISTA TECNOLOGIA -OUTUBRO/WO 2 substituig8o da concepe&o do sangradouro por outro Constituido de um canal de superticie com muro verte~ douro em labirinto acarretou na redugao dos custos totals. Apresenta-se também 0 método de célevlo adotado para o seu dimensionamento. 2 — HISTORICO DA OBRA | finalldade da obra 6 a criacdo de um reserva- tério para regularizacéo do rio que cruza @ regio fe suptird'égua perimetros irrigados, situados a jusan- te do elxo, |é implantos ou em implantacao. Pata fou piojetou-se um macigo de torra com tum comprimento de 195.0 m, envolvendo um movi- mento de terra de 154.000,0 m°, com altura maxima de 25,5 me coroamento na cota 122,00 m. Admitiu- uma folga, desnivel ontre 0 coroamento e 0 nivel maximo maximorum do reservatério, de 1,25 m para seguranga contra as ondas e eventuais imprecisoes ‘doe eatenilas hideéulleos. (© sangradouro foi Kealizado numa sela topogra- fica @ 200,0 m da ombreira esquerda consti do um canal de. 60,0 m do Iaepiira anm tacha am nivel, muro tipo Creager e em seguida um canal répido com bacia de dissipagao. Baseado nas poucas infor- ‘mages geotécnicas do local projetou-se um revesti- mento para 9 canal répido constituido por placas de ‘concreto atirantadas e drenagem de combate a sub- pressao hidrostética. O dispositivo de sangria foi cal- culado para escoamento de uma vazéo de 603,88 m/s com uma lamina de 2,83 m. (0 volume de servigos estimado para a realizacao dessa dispositive de sanaria efa 0 seauinte: volume de escavacdo: 340.000 m:. = concreto para as placas: 9.800 m?. = extenséo da drenagem de alivio: 3.400 m. = numero totel do tirantea: 8.600 m. (© custo total do sangradouro representava cerca de 60% de todo o empreendimento, Iniclada @ escavacéo para implantagéo desse sangradouro veriticou-se a existencia de material ro- ‘choso alterado, no detectado nas exiguas sondagens de projeto, cujo desmonte elevariam ainda mais os ‘eustns da sangraduro. [Nese ponto foram interrompidas as obras e no vas solugdes foram analisadas até que optou-se pelo ‘emprogo de um vertadauro em labirinto em canal mais estrelto. A escola desse dispositivo vertedor possibl- Iitou a reducéo em 15,00 m (25%) na largura do canal, a reducso da lémina para a vazo méxima de 2,89 1m para 1,62 m e, resguardando @ folga ante- fiorente adotada, elevar a soleira de sangria (topo do vertedor) acarretando um ganho de 41% no volume de acumulacéo do reservatério. Com isto os servigos para a implantagao do sangradouro passaram a Ser 08 seguintes: = volume de escavagéo: 217.000 ma, — concreto para as placas: 5.900? — extenséo da drenagem de alivio: 910 m. = comprimento total de tirantes: 4.800 m. REVISTA TECNOLOGIA -OUTUBRO/80 3 — CALCULO DO VERTEDOR DE SOLEIRA EM LA- BIRINTO Primeiramente adotou-se valores para a largura do canal tazendo-o igual a 90, 0; 35, 0; 40,0 @ 45,0 Para cada largura do canal estaboleceu-se uma. ‘geometria trapezoidal, vista em planta, para cada m6- dulo do vertedor tal’ que obedecesse as sequintes ‘condiedes pracanizadas por Magalhaes (1) para evitar © afogamento da soleira: i} © Angulo ( c) formado pela parede lateral com a diregéo preferencial de fhuxo, deve ser maior Ou Igual # 00% Ue a six. O valor de a méx @ dado pela expressao: max = arc sen (W/L). Onde W = largura do médulo; L = desenvol- Vimento total do médulo; li) A relacdo entre 0 desenvolvimento total do médulo (L) @ a largura do médulo (W) deve estar compreendida entre 1 @ 8; ov seja: 1S LW So, Fez-se variar, para cada caso, a altura do muro vertedor (p) adotando valores superiores a 2,0 mde forma a atender 2 outres duas condi¢des de nBo afogamento constatadas por Magainaes, que sao’ Til) A relacdo ontre a largura do médulo (W) & a altura do muro (p) deve ser superior ou igual a 2: ou seja Wip > 2: iv) A relagdo entre a lamina d'agua vertente © a altura do muro deve estar compreendia ontro 0,2 0 0,6; ou seja 0,2 < hip ~ 06. Os critérios finals para a cacolha do muro foram que: — 0 canal tivesse menor largura ou seja menor volume de escavacdo —0 muro do vertedor labirinto tivesse a maior cota de soleira possivel para maior acumulagdo do lago reservatorio — 0 muro tivesse @ menor altura para economia de concreto ~ que ‘© nivel maximo maximorum do reservat6rio nao ultr paeeasce o aetahalariia na penjate ‘Chegou-se entéo a um vertedor tabirinto com ag seguintes caracteristicas (figura nt 3): — muro formado por 6 médulos (n apecoblal ei planta, = desenvolvimento total de um médulo (L) igual 2.390 m. = largura do médulo (W) igual @ 7,50 m. = altura do muro (p) de 30 m, espessura oe 0,40 m @ topo de forma circular. — dimensoes em planta a = 0,50 mac = 18,29m = angulo = 8,55" AA seguir apresenta-se 0 roteiro de céloulo para fa determinago da lamina sobre 0 muro vertedor (h) para escoamento da vaz0 maxima prevista de 603,88 ‘m/s, Tal roteiro baseou-se no célculo de um disposi- tivo semelhante empregado na barragem de Dungo, na, Repdbica de Angola, apresentado por Magahes ) de forma ‘As etapas consistem em: a) Arpitrar valores para a altura da lamina (h); ») Caleular a razao (hip): ¢) Calcular a razéo (LW); ¢) Entrar no a’baco experimental (figura nt 4) Figura 3: xqueme do veredouro tipo Latirnto ‘com hp e L/W e obter 0 valor do coeficlente da vazéo (Mw): ©) Calcular a vazo escoada por ummédulo pela express Gm = Mw. W 2g. hi? (nbs); 4) Calular @ verso total Qt = Gm x n, onde 16 0 nimoro de médulos; 9) Construir um grdfico para cada par de valores: ‘ature lamina aroirada (ny); vaza0 Tora (Zt) hy Entrar no gréfico com o valor da vazo méxl- ‘ma prevista (Gméx) e obter @ correspondente itura da lamina vertadoura. Para.o muro labirinto estudado para a substitu 4 ‘¢80 do muro frontal projetado obteve-se os seguintes 278 tae apy = 855" = 25 = 0192. .amax = 11,08" 7 sonaméx= so Figura 4: Coeticiente de vezi de sleea com 8 forma Trapezoid! o__ 855__ 0,77 2 08 atendendopraticamen- em Planta améx 1108 te a condigdo (i) REVISTA TECNOLOGIA- OUTUBRO/90 Para L/W = 5,20 @ p = 3.0m pode-se com ajuda do abéco da figura nt 4 chegar aos valores da tabela 1 ‘TABELA 1 — CALCULO DA VAZAO DO VERTEDOR PARA CADA LAMINA ADOTADA hme | mw | om =mex/Ziae ] ot =nam eae | ox | 207 1437 oo ogo | 02 | 238 3875 rae ogo | os | 209 50.20 355,69 tz} o4 | 170 77 46901 tio | 05 | 156 9521 sri25 sao | os | 138 100,11 65485 ‘A partir dos valores (n)e (Qt) tragou-se o grafico da figura nt § onde, para a vazo maxima de 603,88 m/s, obteve-se a altura da lémina vertedouro de oan. 4.—RESUMO ‘O emprego de canal ae superticie dotauy ue iw vertedor tipo labirinto pode ser a solugdo adequada para sangradouros de barragens onde a vazéo méx- ma aflianta nfo alcance valores muito elevados. No caso da obra analisada 0 emprego desse dispositive pemmitly a redugfo do volume de escavaco do san- gtadouro @ o aumento da capacidade de acumulagao do reservatérie, sem alteragéo da folga 0 da cota 0 coroamento do macigo. Isto representou uma eco- ‘nomia aprectivel no custo total da obra. REVISTA TECNOLOGIA - OUTUBRO/IO a Figure 5: Relagfo Altura de Lamina x Vanfo Toul pip =20 me REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1, MAGALHAES, A, P.—“O Descarregador em labl- ily da bar reyem do Dungo" — Cimpéoio Lu so-Brasilelro sobre skrulacdo e modelacdo em hidraulica © recursos. 2, CASSIDY, J. J; Gardner, A. Cx; Peascock, R. T. ‘—"“‘Bordman Labyrinth — Crest Spiliway” — Journal of Hidraulic Engineering, vol. 111, nt 3, Marco, 1985. 3, HAY, NO: TAYLOR, G.— “Performance and De~ ‘sign of Labyrinth Weirs”” — “\Joumal of Hk

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