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CONCEITOS

O estudo das águas subterrâneas também poder ser denominado como hidrogeologia, ou
como hidrologia de águas subterrâneas. Os conceitos aplicados nesta disciplina fazem interface
com a hidrologia, geologia, física, química e matemática, em diversos graus de complexidade.

Para a compreensão sobre a ocorrência das águas subterrâneas é imprescindível que se tenha
como ponto de partida o entendimento do ciclo hidrológico completo, sobretudo, nas inter-
relações dos processos.

Podemos então separar do ciclo hidrológico a faixa de interações que mais interessa, dando
início pela precipitação e sequencialmente a INFILTRAÇÃO. Após a infiltração a água atinge dois
patamares de interessa, denominados como Fluxos Subterrâneos (ou escoamento de base) e o
Armazenamento Subterrâneo.

À medida que a água infiltra o solo determina duas zonas, a não-saturada, onde os espaços
porosos são preenchidos por ar e água, e a saturada, em que todos os poros são ocupados por
água. É zona saturada que o ocorre vazão de base ou o escoamento subterrâneo propriamente
dito, e que interessa à disciplina de hidrogeologia, e a partir dela determina-se o nível freático
e o armazenamento de água.

A infiltração pode ser considerada como a principal fonte de recarga de água no sistema
subterrâneo e a sua ocorrência e eficiência está diretamente relacionado com fatores como:
textura e porosidade do solo, grau de saturação inicial, compactação por ação humana ou
animais, relevo, cobertura vegetal, etc.

Os rios ditos efluentes são aqueles cujo escoamento de base realiza sua recarga, quando a
linha do freático está acima do nível dos rios, sobretudo na estiagem, trazendo perenidade a
eles e são comuns em locais de clima úmido. Já os rio influentes são aqueles que abastecem os
lençóis quando o nível do freático é inferior ao nível da água do corpo hídrico, imprimindo um
fluxo reverso do escamento de base e são comuns em locais de clima árido e semiárido.

O aumento da impermeabilização e redução da cobertura repercute diretamente na redução


da infiltração e ocorrendo mais problemas de erosão pelo escoamento superficial, enchentes
são mais recorrentes e reduz a recarga dos aquíferos, porém, observa-se uma redução da
contaminação nas camadas subsuperficiais.

É fundamental à hidrogeologia a formação das rochosas responsáveis por armazenar e


transmitir água. Por essas formações definem-se:

 Aquífugo: Não armazena e não transmite água


 Aquiclude: Armazena água, mas não transmite em condições normais
 Aquitardo: Armazena água e transmite muito lentamente
 Aquífero: Armazena água e transmite em condições suficientes para produção de água
(aproveitamento econômico)

Os aquíferos podem ser do tipo livre (freáticos) quando a água se encontra no limite superior
da zona saturada e sujeita a pressão atmosférica, e os confinados (artesianos) que se localizam
entre duas rochas de baixa permeabilidade e com pressões superiores a atmosférica.

Com a delimitação dos aquíferos pode-se estimar o tempo de residência da água no seu
interior. De forma geral, quanto mais profundo for o fluxo maior será trajeto e o tempo de
residência da água variando de dias a milênios.
EXPLORAÇÃO E EXPLOTAÇÃO DE AQUIFEROS

Com o entendimento dos conceitos primários sobre hidrogeologia a Dra. Sueli iniciou sua
abordagem sobre a explotação de águas subterrâneas, os objetivos, repercussões desta
atividade, e os desafios da gestão.

O Brasil, em função de suas dimensões continentais, vários aspectos locais e regionais são
levados em consideração quando analisamos a disponibilidade e gestão de águas subterrâneas,
dos quais podemos destacar as múltiplas paisagens, diferenças em meios físicos, bióticos e
anseios da sociedade. Configura-se, então, diferentes dinâmicas das águas, disponibilidades,
necessidades e conhecimento popular.

No território nacional destacam-se dois grandes aquíferos. Um deles é o Guarani, cuja extensão
atinge as regiões centro-oeste, sudeste e sul, ultrapassando os limites do Brasil. O outro é
denominado por Aquífero Alter do Chão, localizado sob os estados do Amazonas, Para e
Amapá. E sobre esses dois aquíferos ressalta-se as características litológicas e de precipitação
que favorecem sua recarga, visto que são rochas mais permeáveis com grandes índices
pluviométricos. E ao contrário, na região Nordeste encontram-se aquíferos ruins e salinizados,
em função das rochas impermeáveis e baixa pluviometria.

O Atlas - Águas Subterrâneas no Estado de São Paulo define ainda que no domínio sedimentar
estão compreendidas as unidades aquíferas Colúvio-aluvionar, São Paulo, Taubaté, Bauru,
Guarani, Tubarão e Furnas.

A explotação de águas subterrâneas é feita por poços que podem ser separados por dois tipos:

 Poços rasos: Conhecidos como poço caipira, cacimbas ou cisternas; construídos


manualmente; grandes diâmetros; pequena profundidade (aprox. 10m);
abastecimento familiar; não necessita de autorização dos órgãos gestores.
 Poços tubular: Chamados de poço tubular profundo; executado por máquinas
perfuratrizes; com diâmetros pequenos (4” a 36”); profundidades de até centenas de
metros; pode ser revestido com tubulações de ferro, aço ou PVC; podem abastecer
casas e até comunidades; necessita de autorização dos órgãos gestores.

Os poços tubulares podem ser separados em 3 tipos:

 Poço seco com produção de até 1m³/h


 Poço razoável com produção de até 10m³/h
 Poço bom com produção de até 100m³/h

Por ser uma fonte segura mesmo em períodos de secas, reativamente barata de se obter e com
qualidade naturalmente boa, as águas subterrâneas possuem diversos usos, e podemos
destacar:

 Abastecimento humano e criação de animais


 Irrigação
 Industria (a maioria das indústrias de São Paulo possuem postos homologados em
órgãos ambientais)
 Uso balneários (parques de fontes)
 Medicinal (spas, termas)
 Extração mineral para comércio
Importante ressaltar é exigida a outorga de órgãos competentes para a exploração e
explotação desses aquíferos, contudo, a água mineral extraída de poços, tradicionalmente
comercializada engarrafada, não se enquadra na Política Nacional de Recursos Hídricos pois é
qualificada minério cabendo regulamentação pela Agência Nacional de Mineração – ANM.

Quando nos referimos ao mundo, segundo a UNESCO em dados publicados em 2022, estudos
apontaram que captação de água subterrânea foram responsáveis por abastecer 69% do setor
agrário, 22% para uso doméstico, 9% do setor industrial.

GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS

Uma importante ferramenta da gestão das águas subterrânea é o conhecimento de sua


Disponibilidade Hídrica, que a grosso modo é calculado pela diferença quantidade de recurso
disponível menos o consumo, e logicamente busca-se que este saldo seja positivo para que se
tenha um uso saldável do recurso.

E para a estimativa da reserva total que nada mais é que a soma da reserva permanente com a
reserva renovável, definidos como:

 Permanente: volume hídrico acumulado no meio aquífero em função da porosidade


eficaz ou do coeficiente de armazenamento não variável em decorrência da flutuação
sazonal da superfície potenciométrica;
 Variável: volume hídrico no meio aquífero, em função da porosidade eficaz ou do
coeficiente de armazenamento e variável anualmente em decorrência dos aportes
sazonais de água superficial, do escoamento subterrâneo e dos exutórios. Recebe
recarga diretamente da precipitação.

Segundo dados apresentados pela Dra. Sueli, sob estes conceitos de disponibilidade hídrica
subterrânea há já a décadas, cidades paulistas como Holambra e Hortolândia que apresentam
balanços negativos da ordem de -44,5m³/h e -182,4m³/h, respectivamente.

Quando avaliamos cuidadosamente as questões que envolvem os diversos usos das águas
subterrâneas sob a ótica da sustentabilidade ambiental nos deparamos com sérios problemas e
conflitos transparecendo a necessidade de gestão do recursos hídricos de forma ampla.

Podemos adotar como premissa a afirmação de que a opção por explotação de águas
subterrâneas se dá quando a disponibilidade superficial não atende as demandas em
quantidade e/ou qualidade, dito isto, já é inevitavelmente instaurado o plano “B”, ou seja,
captação subterrânea. Tal proposta possivelmente poupa conflitos entre os usuários de uma
bacia hidrográfica, porém, certamente ocorrerá em algum momento o surgimento de novos
conflitos abarcando também as águas subterrâneas.

Superexplotação de aquíferos, contaminação de lençóis e aquíferos por infiltração de efluentes


de todo tipo (agrícola, industrial e urbano), uso de poços não outorgados, falta de
monitoramento quanti-qualitativo dos poços e a inexistência de gestão integrada dos recurso,
poder ser consideradas as ações prejudiciais no uso de águas subterrânea.

Podemos destacar as seguintes recomendações e desafios para a gestão de águas subterrâneas


(Hirata, 2019)

 Promover a gestão integrada de recursos hídricos como preconizada pela Política


Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/97), abrangendo saneamento, águas
subterrâneas, planejamento territorial, atividades econômicas e meio ambiente.
 Realizar mais estudos hidrogeológicos para identificar oportunidades de explotação
sustentável ampliando a oferta de água
 Execução de políticas públicas voltadas à gestão das águas subterrâneas, por meio de
planos de monitoramento e fiscalização.
 Identificar áreas críticas onde os aquíferos apresentam maior perigo de contaminação
e de superexplotação.
 Implementação de ações de proteção dos aquíferos e de suas captações quando a
contaminação antrópica.

https://www.unesco.org/reports/wwdr/2022/en 28/03/2023

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