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ROGER G. BARRY
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NONA EDIÇAO

Tradução:
Ronaldo Cataldo Costa
Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição:
Francisco Eliseu Aquino
Geó,grafo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Mestre em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Professor de Climatologia e Oceanografia Física do Departamento de Geografia,
Instituto de Geociências/UFRGS

Versão impressa
desta obra: 2013

2013
Obra originalmente publicada sob o titulo
Atmosphere, Weather and Climate, 9th E-dition
ISBN 9780415465700

Copyright© 2010 by Routledge, 2 Park Square, Milton Park, Abington, Oxon OX14 4RN.
Routledge is an imprint of the Taylor & Francis Group and informa busíness.
Ali Rights Reserved.

Authorised translation from the English language edition published by Routledge, a member of the
Taylor & Francis Group.

Capa: Rogério Grilho (arte sobre capa original)

Imagem da capa: ©2011 Joint Typhoon Warning Center. Ciclone Tropical 08P (Wilma). (NASA/JeffSchmaltz).

Preparação de original: Monica Stefani

Coordenadora editorial: Denise Weber Nowaczyk

Projeto e editoração: Techbooks

Reservados todos os direitos de publicação, e. m língua portuguesa, à


BOOKM.AN EDITORA LTDA., uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A.
Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana
90040�340 - Porto Alegre - RS
Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070

É proibida a duplicação ou reprodução deste vol11me, no todo ou em parte, sob quaisquer


formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico,gravação, fotocópia, distribuição na Web
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Vtla Anastácio - 05095-035 - São Paulo - SP
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SAC 0800 703-3444 - www.grupoa.com.br

IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL

gra ec1mentos

Os autores são gratos ao Sr. A J. Dunn por sua Washington, D.C., auxiliaram na atualização do
considerável contribuição à primeira edição; Capítulo 4, e o Dr. M. Tolbert, da Universidade
ao falecido Professor F. Kenneth Hare, da Uni­ do Colorado, ajudou no âmbito da química am­
versidade de Toronto, Ontário, por suas críti­ biental na sétima edição. Estamos gratos tam­
cas criteriosas e com autoridade ao texto pre­ bém ao Dr. N . Cox, da Durham University, por
liminar e suas valiosas sugestões de melhorias; suas sugestões no te·xto que contribuíram muito
também ao Sr. Alan Johnson, do Barton Peveril para o aprimoramento da sétima edição. Os au­
College, Eastleigh, Hampshire, por seus co­ tores assumem a responsabilidade por eventuais
mentários úteis nos Capítulos 1 a 3; e ao Dr. C. erros textuais remanescentes.
Desmond Walshaw, anteriormente do Caven­ As figuras coloridas red,esenhadas foram
dish Laboratory, Cambridge, e ao Sr. R . H . A . preparadas pelo Sr. Paul Coles, do Departamen­
Stewart, do Nautical College, Pangbourne, pe­ to de Geografia da Universidade de Sheffield,
las críticas e sugestões inestimáveis no estágio Inglaterra, com base na imaginação ilustrativa
inicial de preparação dos manuscritos originais. e na expertise cartográfica do Sr. M. Young,
Nossa gratidão também às seguintes pessoas do Departamento de Geografia da Cambridge
por seus comentários pertinentes em relação University. Os autores agradecem muito a esses
à quarta edição: Dr. Brian Knapp, da Leighton dois profissionais.
Park School, Reading; Dr. L. F. Musk, da Uni­ Agradecimentos também para Natasha
versidade de Manchester; Dr. A. H. Perry, da Vizcarra, Jessica Erven, Jody Hoon-Starr, Sam
University College Swansea; Dr. R. Reynolds, Massey e Mike Laxer, do NSIDC, pelo apoio ad­
da Universidade de Reading; e Dr. P. Smithson, ministrativo para a nona edição; e para a Drª .
da Universidade de Sheffield. O Dr. C. Rama­ Eileen McKim pela preparação do índice.
ge, da Universidade do Havaí, fez inúmeras su­ Os autores gostariam de agradecer as so­
gestões interessantes na revisão do Capítulo 6 ciedades científicas, editoras, organizações e
para a quinta edição. O Dr. Z. Toth e o Dr. D. pessoas pela permissão para reproduzir figuras,
Gilman, do National Meteorological Center de tabelas e pranchas.
Agradecím n· ·os

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Agradec imentos IX

8.8, 10.13, e pelas Pranchas 5.1, 5.6, 5.9, 5.16, PESSOAS


9.4, 11.1, 11.2 e 11.4.
Dr MarkAnderson pelas Pranchas 5.14 e 9.3.
National Snow and Ice Data Center, Boulder,
Dr R.M. Banta pela Figura 6.12.
pela Prancha 3.3.
O falecido Dr R. P. Beckinsale, da Oxford Uni-
New Zealand Alpine Club pela Figura 5.15.
versity, pela modificação sugerida à Figura
New Zealand Meteorological Service, Welling-
9.7.
ton, New Zealand, pelas Figuras 11.26 e 11.57
Dr Otis B. Brown, da University of Miami, pela
de Proceedings of the Symposium on Tropi-
Prancha 7.4.
cal Meteorology por J. W. Hutchings (ed.).
O falecido Dr R. A. Bryson pela Figura 10.15.
Nigerian Meteorological Service pela Figura
O falecido Dr M. I. Budyko pela Figura 4.6.
11.39 de Technical Note S.
Dr N. Caine pela Prancha 5.13.
Quartermas ter Research and Engineering
Dr T. J. Chino , do Institute of Geological
Command , Natick, MA., pela Figura 10.17
Sciences, Dunedin, pela Figura 5.16.
por J. N. Rayner. Dr G. C. Evans, da University of Cambridge,
Ris0 National Laboratory, Roskilde, Denmark, pela Figura 12.18A.
pelas Figuras 6.24 e 10.1 de European Wind O falecido Professor H . Flohn, da University of
Atlas por I. Troen and E. L. Petersen. Bonn, pelas Figuras 7.14 e 11.14.
Smithsonian Institution , Washington, DC, pela Dr S. Gregory, da University of Sheffield, pelas
Figura 2.12A. Figuras 11.13 e 11.53B.
United Nations Food and Agriculture Organi - Dr S. L. Hastenrath, da University ofWisconsin,
zation, Rome, pela Figura 12.17 de ForestIn- pela Figura 4.19.
fluences. Dr R. A. Houze, Jr., da University of
United States Department of Health, Education Washington, pelas Figuras 9.13, 9.14, 11.11 e
and Welfare pela Figura 12.22. 11.12.
United States Department of Agriculture, Dr Patrick Koch pela Prancha 7.2.
Washington, DC, pela Figura 12.16 de Clima- Dr V. E. Kousky, de São Paulo, pela Figura 11.48.
te and Man. Dr Y. Kurihara, de Princeton University, pela
United States Environmental Data Service pela Figura 11.10.
Figura 4.10. Dr Kiuo Maejima, da Tokyo Metropolitan Uni-
United States Geological Survey, Washington, versity, pela Figura 11.36.
DC, pelas Figuras 10.19, 10.21 e 10.23 de Pro- Dr J. Maley, da Université des Sciences et des
fessional Paper 1052 e pela Figura 10.23 so- Techniques du Languedoc, pela Figura 11.40.
bretudo de Circular1120-A . Dr. M. E. Manu da Pennsylvania State Universi-
United States Naval Oceanographic Office pela ty pela Figura 13.6.
Figura 7.29. O falecido Dr J. R. Mather, da University ofDe -
United States Weather Bureau pela Figura 9.21 laware, pela Figura 10.22.
de ResearchPaper40. Dr YaleMintz, da University ofCalifomia, pela
University of Tokyo pela Figura 11.35 de Bulle- Figura 7.17.
tin of the Department of Geography. The late Dr L. F. Musk, da University of Man-
World Meteorological Organization pela Figura chester, pelas Figuras 9.22 e 11.9.
11.50 de GlobalClimateSystem 1982-84; pela Dr T. R. Oke, da University of British Columbia,
Figura 3.24 de GARP PublicationsSeries,Rept pelas Figuras 6.11, 12.2, 12.3, 12.7, 12.15.
No. 16; e pela Figura 13.2 de WMO Publica- 12.19, 12.23, 12.24, 12.25 e 12.29.
tion No. 537. Dr W. Palz pela Figura 11.25.
X Ag radeci mentos

Dr L. R. Ratisbona , do Servicio Meteorologico Dr Glenn E. Shaw, da University of Alaska, pela


Nacional , Rio de Janeiro, pelas Figuras 11.46 Figura 2. lA.
e 11.47. Dr Tao Shi-yan, da Chinese Meteorological So-
Mr D. A. Richter, da Analysis and Forecast ciety, pelas Figuras 11.24 e 11.34.
Division, National Meteorological Center , Dr W G. N. Slinn pela Figura 2.lB.
Washington, DC, pela Figura 9.24. Dr K. Stowe, do California State Polytechnic
Dr J. C. Sadler, do University of Hawaii , pela Fi- College, pela Figura 7.31.
gura 11.19. O falecido Dr. A. N. Strahler, de Santa Barbara,
O falecido Dr B. Saltzman , of Yale University, Califórnia, pelas Figuras 3.3C e 5.10.
pela Figura 8.4.

Se algum deten tor de direito autoral não foi devidamente reconhecido, entre em contato com os
editores da obra original e eles tomarão as providências cabíveis para retificar eventuais erros ou
omissões em edições futuras.
Esta 9ª edição revisada de Atmosfera, Tempo e tempo e clima em latitudes temperadas começa
Clima é inestimável para todos aqueles que es­ com estudos da Europa e América do Norte, es­
tudam a atmosfera da Terra e o clima mundial, tendendo-se para as condições de suas margens
seja a partir da perspectiva ambiental, atmosfé­ subtropicais e de altas iatitudes, incluindo o
rica e das ciências da Terra, geografia, ecologia, Mediterrâneo, a Australásia, a África Setentrio­
agricultura, hidrologia ou perspectivas de disci­ nal, os ventos de oeste meridionais e as regiões
plinas afins. subárticas e polares. O tempo e o clima tropicais
Atmosfera, Tempo e Clima é uma intro­ também são descritos por meio de uma análi­
dução abrangente dos processos atmosféricos se dos mecanismos climáticos de monções na
e das condições climáticas. Começamos com Ásia, África, Austrália e Amazônia., junto com
uma síntese introdutória do desenvolvimento as margens tropicais da África e Austrália e
histórico do campo e de seus principais compo­ os efeitos do movimento dos oceanos e do El
nentes. A seguir, apresentamos uma abordagem Nifi.o-Oscilação Sul e teleconexões. Os climas
expandida da composição atmosférica e ener­ de pequena escala - incluindo climas urbanos -
gia, enfatizando o balanço de calor da Terra e as são considerados pela perspectiva dos balanços
causas do efeito estufa. Depois disso, enfocamos de energia. O último capitulo, revisado pelo Dr.
as manifestações e a circulação da umidade na Mark Serreze do CIRES, enfatiza a estrutura e
atmosfera, incluindo a estabilidade atmosfé­ operação do sistema atmosfera�Terra-oceano e
rica e os padrões de precipitação no espaço e as causas de suas mudanças climáticas. Desde o
no tempo. Uma consideração do movimento lançamento da edição anterior, em 2003, hou­
atmosférico e oceânico ·em pequenas a grandes ve uma aceleração no ritmo da pesquisa sobre
escalas leva a um capítulo sobre a modelagem o sistema climático e na atenção às mudanças
da circulação atmosférica e do clima, que tam­ climáticas globais. Abordamos as diversas estra­
bém discute a previsão do tempo em diferen­ tégias de modelagem adotadas para a previsão
tes escalas temporais. Esse capítulo foi revisado das mudanças climáticas, particularmente em
por meu colega, o Dr. Tom Chase do CIRES e relação aos modelos de 1990-2007 do, IPCC, in­
do Departamento de Geografia da Universi­ cluindo uma consideração sobre outros impac­
dade do Colorado, em Boulder. Em seguida, tos ambientais das mudanças climáticas.
há uma discussão sobre a estrutura de massas A nova era da informação e o amplo uso da
de ar, o desenvolvimento de ciclones frontais e Internet levaram a mudanças significativas nas
não frontais e de sistemas convectivos de me­ formas de apresentação. Além dos Capítulos 8 e
soescala em latitudes médias. A abordagem ao 13 revisados, todas as figuras foram redesenha-
••
XII Prefócio

das em cores . Sempre que possível, as críticas e de seu conhecimento, entus iasmo e inspiração é
sugestões de colegas e revisores foram c.onside- duramente sentida .
radas na preparação desta última edição.
Roger G. Barry
Esta edição teve o grande benefício das
CIRESe Departamentode Geografia
ideias e do trabalho de meu velho amigo e co-
Universidadedo Colorado,Boulder
autor professo r Richard J. Chorley, que infeliz -
mente faleceu em 12 de ma io de 2002 . A falta
, •
umar10

1 Introdução e história da 3 Radiação solar e o balanço


meteorologia e climatologia 1 de energia global 40
A Atmosfera 1 1\Radiação solar 40
B Energia solar 3 1 En:issão solar 40
c Circulação global 3 2 Di$h1ncia do Sol 44
D Climatologia 4 3 Altura do Sol 46
E Distúrbios em latitudes médias 5 4 Duração do d1a 46
F As regiões polares 6 B Incidência da radiação solar na
G Clima tropical 7 superficie e seus efeitos 46
H Paleoclimas 8 1 Transferência de energia dentro
I O sistema climático global 9 do sistema Terra-atmosfera 46
2 O efeito da atmosfera 47
3 O efeito da cobertura de nuvens 49
Composição, massa e 4 O efeito da latitude 50
estrutura da atmosfera 13 5 O efeito da terra e do mar 52
6 O efeito da elevafão e do aspecto 60
A A composição da atmosfera 13
7 Variação da temperatura do ar
1 Principais gases 13 livre com a altitude 60
2 Gases de efeito estufa 14 e Radiação infravem1elha terrestre e
3 Espécies gasosas reativas 15 efeito estufa 63
Aerossóis 16 D Balanço de calor da Terra 65
Variações com a ,altitude 18 E Energia atmosférica e o transporte
6 Variações
: com a latitude e a estação 20 horizontal de calor 69
Variações com o tempo 21 1 O transporte horizontal de calor 70
A massa da atmosfera 29 2 Padrão espacial dos componentes
1 Pressão total 30 do balanço de calor 73
2 Pressão de vapor 31
c A estratificação da atmosfera 32
1 Troposfera 32 4 Balanço da umidade
2 Estratosfera 35
atmosférica 78
Mesosfera 35
4 Termos/era 36 A O cíclo hidcológico global 78
5 Exosfera e magnetosfera 36 B Umidade 80

XIV Sumário

1 Teor de umidade 80 c Ventos locais 151


2 Transporte de umidade 82 1 Ventos de montanha e vale 152
c Evaporação 84 2 Brisas terrestrese marinhas 153
D Condensação 88 3 Ventos causadospor barreiras
E Características e medição da topográficas 155
precipitação 90
1 Formas de precipitação 90
2 Característicasda precipitação 91 7 Movimentos em escala
3 O padrão mundial deprecipi!afão 95 planetária na atmosfera
4 Variaçãesregionais da máxima e no oceano 161
precipitação com a altitude 97
5 Seca 100 A Variação da pressão e velocidade
do vento com a altitude 161
1 Variação vertical de sistemas
5 Instabilidade atmosférica, de pressão 162
forma~ão de nuvens e 2 Padrões médios do ar em níveis

superiores 164
processos de precipitação 107
3 Condiçõesdos ventos de altitude 166
A Mudanças adiabáticas na temperatura 107 4 Condiçõesde pressão na superflcie 171
B Nível de condensação 110 B Os cinturões de ventos globais 174
c Estabilidade e instabilidade do ar 110 1 Os ventos Alisíos 176
D Formação de nuvens 114 2 Os ventos equatoriais de oeste 177
1 Núcleos de condensação 114 3 Os ventos de latitudes médias
2 Tipos de nuvens 116 de oeste (Ferrei) 177
3 Cobertura global de nuvens 118 4 Os ventos polares de leste 178
E Formação da precipitação 122 c A circulação geral 178
1 A teoria de Bergeron-Findeisen 122 1 Circulaçõesnos planos vertical
2 Teorias de coalesc~ncia 126 e horizontal 180
3 Precipitaçãos6lida 129 2 Variaçõesna circulaçãodo
F Tipos de precipitação 129 Hemisfério Norte 187
1 Precipitação do tipo convectivo 129 D Estrutura e circulação dos oceanos 191
2 Precipitação do tipo ciclônico 131 1 Acima da termoclina 191
3 Precipitação orográfica 131 2 Interações de águas no
G Trovoadas 134 oceano profundo 197
1 Desenvolvimento 134 3 Os oceanos e a regulação
2 Eletrificação de nuvens e atmosférica 202
relâmpagos 136

8 Modelos numéricos da
6
. .
Movimentos atmosféricos:
,
pr1nc1p1os 143
circulação geral, previsão
do tempo e do clima 206
A Leis do movimento horizontal 143 A Fundamentos de wn modelo da
1 A força do gradiente de pressão 144 circulação geral (MCG) 206
2 A força defletora rotacional da B Simulações por modelos 209
Terra (Coriolis) 144 1 MCG 209
3 Vento geostrófico 145 2 Modelos mais simples 211
4 A aceleraçãocentrípeta 146 3 Modelos regionais 211
5 Forçasfricionais e a camada limite c Fontes de dados para previsão 211
planetária 147 D Previsão numérica 214
B Divergência, movimento vertical 1 Previsões de curto e médio prazo 215
e vorticidade 149 2 Previsão imedia:ta(nowcasting) 217
1 Divergência 149 3 Perspectivasde longo prazo 218
2 Movimento vertical 150
3 Vorticidade 150
Sum6rio XV

9 Sistemas sinóticos e de 3 O Mediterrâneo 300


mesoescala em latitudes 4 África do norte 305
5 Australásia 307
médias 224 D Altas latitudes 309
A O conceito de massa de ar 224 1 Os ventos de oeste meridionais 309
B A natureza da área-fonte 224 2 O Subártico 311
1 Massas de a-rfrio 225 3 As regiõespolares 313
2 Massas de a-rquente 226
c Modificação de massas de ar 227
1 Mecanismos de modifictlfãO 229 11 O tempo e o clima tropical 322
2 Os resultados da modificaçào: A Convergência intertropical 323
massas de ar secundárias 229 B Perturbações tropicais 326
3 A idade da massa de ar 231 1 Perturbações ondulat6rias 328
D Frontogênes.e 231 2 Ciclones 331
1 Ondas frontais 232 3 Agrupamentos de nuvens tropicais 339
2 A depressãode ondas frontais 232 e As monções da Ásia Meridional 341
E Características frontais 234 1 Inverno 343
1 A frente quente 234 2 Primavera 347
2 A frente fria 236 3 Começo do verão 349
3 A oclusão 239 4 Verão 351
4 Fami1iasde ondasfrontais 241 5 Outono 356
F Zo11as de desenvolvimento de ondas D Monções de verão no leste asiático
e frontogênese 242 e na Austrália 357
G Relações entre o ar superficial e E África Central e Meridional 360
superior e a for1nação de ciclones 1 A monção africana 360
frontais 245 2 África Meridional 367
H Depressões não frontais 248 F Amazónia 368
1 O ciclone de sotavento 250 G Eventos de El Nino-Oscilação Sul
2 A baixa térmica 250 (ENSO) 371
3 Baixas polares 250 1 O Oceano Pacífico 371
4 A baixa fria 252 2 Teleconexões 376
I Sistemas convectivos de mesoescala 252 H Outras fontes de variações climáticas
nos trópicos 379
1 Correntes oceânicasfrias 379
10 O tempo e o clima em 2 Efeitos topográficos 380
latitudes médias e altas 267 3 Variaçõesdiurnas 382
I Previsão do tempo tropical 383
A Europa 267
1 Previsões de curto e médio p-razo 383
1 Condições de vento e pressão 267
2 Previsões de longoprazo 384
2 Maritimidade e continentalidade 268
3 Padrões de vento e suas características
climáticas nas Ilhas Brittlnicas 270
4 Singularidades e o ciclosazonal 274
12 Climas da camada limite 392
5 Anomalias sinótícas 276 A Balanços energéticos em superfície 393
6 Efeitos topográficos 277 B Superfícies naturais sem vegetação 394
B América do Norte 281 1 Rocha e areia 394
1 Sistemas de pressão 282 2 Agua 395
2 A costa oeste temperada e a 3 Neve e gelo 395
cordilheira 286 e Superficies com vegetação 397
3 Interior e leste da América do No-rte 288 1 Cultivas verdes de pequeno po-rte 397
c As margens subtropicais 296 2 Florestas 399
1 O sudoeste semiárido dos D Superfícies urbanas 406
Estados Unidos 296 1 MDdi.fictlfãOda composição
2 O sudeste dos Estados Unidos 299 atmosférica 406

XVI Sumário

2 Modificação do balanço de calor 411 c Classificação genética 478


3 Modificação das características D Classificações de conforto climático 479
da superftcie 419
4 Climas urbanos tropicais 421
Apêndice 2 - Unidades do
Sistema Internacional (SI) 482
13 Mudan~as climáticas 427
A Consideraçôes gerais 427
B Forçantes,feedbacks e respostas Apêndice 3 - Mapas sin6ticos
climáticas 430 do tempo 483
1 Forçante climática 431
2 Feedbacksclimáticos 434
3 Resposú:lclimática 435
4 A importdnci.a do modelo 436 Apêndice 4 - Fontes de dados 485
c O registro climático 437 A Mapas e dados meteorológicos diários 485
1 O registrogeológico 437 B Dados de satélite 485
2 O último cicloglacial e condições
e Dados climáticos 485
pós-glaciais 438 D Fontes selecionadas de informações
3 Os últimos 1000 anos 441 na internet 486
D Entendendo as mudanças
climáticas recentes 447
1 Mudanças na circulação 447 Notas 487
2 Variabilidade solar 450
3 Atividade vulcdnica 450 2 Composição,massa e estrutura da
4 Fatoresantropogénicos 452 atmosfera 487
E Projeções de mudanças na temperatura 3 Radiação solar e balanço de energia
ao longo do século XXI 454 global 487
1 Aplicações de modelos da 5 Instabilidade atmosférica,formação
circulaçãogeral 454 de nuvens e processosde precipitação 488
2 As simulações do IPCC 454 6 Movimentos atmosféricos:princípios 488
F Mudanças projetadas em outros 7 Movimentos em escalaplanetária na
componentes do sistema 459 atmosfera e no oceano 488
1 Ciclo hidrológico e circulação 9 Sistemas sin6ticos e de mesoescala
atmosférica 459 em latitudes médias 488
2 O nível do mar 460 10 O tempo e o clima em latitudes
3 Neve e gelo 462 médias e altas 488
4 Vegetação 466 11 O tempo e o clima tropicais 488
G Posfácio 468 13 Mudanças climáticas 489

Apêndice 1 - Classificação Bibliografia geral 491


climática 473
,
A Classificações genéricas relacionadas com
o crescimento de plantas ou vegetação 473
lndice 495
B Classificações do balanço de energia e
umidade 476
#Ili

lntro u ao
e istória • •

meteoro o 1a e
• •
e 1mato o 1a

OBJETIVOSDE APRENDIZAGEM
Depo is de ler este cap itulo, você:
• estaró fa miliarizado com conceitos b6s icos em meteoro log ia e climatolog ia; e
• sabe r6 ma is sobre a evolução desses campos de estudo e os contr ibuições de indivíduos importantes .

A ATMOSFERA tos adequados, cuja maioria teve uma evolução


longa e complexa . Galileu inventou um termô-
A atmosfera , vital à vida terrestre , envolve a
metro no começo do século XVII , mas os ter -
Terra em uma espessura de apenas 1% do raio
mômetros precisos, com líquidos contidos em
do planeta. Ela evoluiu à sua atual forma e com-
recipientes de vidro e escalas calibradas, não
posição há pelo menos 400 milhões de anos,
existiam até o começo do século XVIII (Fahre-
quando uma considerável cobertura vegetal já
nheit ) ou a década de 1740 (Celsius). Em 1643,
havia se desenvolvido sobre o solo. Em sua base,
Torricelli inventou o barômetro , e demons -
a atmosfera repousa sobre a terra e a superfície
do oceano, o qual, atualmente, c-0bre aproxima - trou que o peso da. atmosfera no nível do mar
damente 71% da superfície do globo . Embora sustentaria uma coluna de l O metros de água,
o ar e a água compartilhem de propriedades ou uma coluna de 760 mm de mercúrio líqui -
físicas um tanto semelhantes, eles diferem em do . Pascal usou o barômetro de Torricelli para
um aspecto importante - o ar é compressível, mostrar que a pressão diminui com a altitude ,
ao passo que a água é basicamente incompres- levando um barômetro até o Puy de Dome na
sível. Em outras palavras, ao contrário da água, França . Esse feito abriu o caminho para Boyle
se fôssemos «apertar " uma determinada amos - (1660) demonstrar a compressibilidade do ar,
tra de ar, seu volume diminuiria. O estudo da propondo sua lei que postula que o volume é
atmosfera tem uma longa história, envolvendo inversamente proporcional à pressão. Somente
observações , teorias e, desde a déca.da de 1960, em 1802 Charles fez a descoberta de que o volu-
modelagem numérica. Como a maioria dos me do ar também é diretamente proporcional à
campos científicos) o progresso incremental foi sua temperatura. Combinando as leis de Boyle e
intercalado com momen tos de grande insighte Charles, tem-se a lei do gás ideal, que relaciona
avanço rápido . a pressão, o volume e a temperatura, uma das
As mensurações científicas somente se tor- relações fundamentais na ciência atmosférica.
naram possíveis com a invenção de instrumen - Ao final do século XIX, os principais consti -
2 Atmosfera , Tempo e Clima

tuintes da atmosfera seca (nitrogênio 78,08%, toda a atmosfera; o calor total do oceano, por
oxigênio 20,98%, argônio 0,93% e dióxido de sua vez, é muito maior do que o da atmosfera.
carbono 0,035%) haviam sido identificados. Como se sabe hoje, esse imenso reservatório de
Há muito se suspeita que as atividades huma- calor na camada superficial dos oceanos e suas
nas possam ter o potencial de alterar o clima . trocas com a atmosfera são fundamentais para a
Embora o "efeito estufà' atmosférico tenha sido compreensão da variabilidade climática. Outro
descoberto em 1824 por Joseph Fourier, a pri- aspecto importante do comportamento do ar e
meira consideração séria de uma relação entre da água aparece durante o processo de evapora -
as mudanças climáticas, o efeito estufa e as al- ção ou condensação. Conforme mostrou Black,
terações na concentração atmosférica de dió - em 1760, durante a evaporação, a energia calo -
xido de carbono, também emergiu no f mal do rífica da água se transforma em energia cinética
século XIX, por meio dos insights do cientista de moléculas de vapor de água (isto é, calor la-
sueco Svante Arthenius. Sua expectativa de que tente), ao passo que a condensação subsequente
os níveis de dióxido de carbono e a temperatura em uma nuvem ou nevoeiro libera energia ci-
aumentariam devido à queima de combustíveis nética, que retorna como energia calorífica . A
fósseis, infelizmente, se mostrou correta. quantidade de água que pode ser armazenada
O higrógrafo de cabelo, que mede a umi- no vapor de água depende da temperatura do
dade relativa ( a quantidade de vapor de água ar. É por isso que a condensação de ar tropical
na atmosfera, relativa a quanto ela pode manter quente e úmido libera grandes quantidades de
em saturação, expressa como porcentagem) , foi calor latente , aumentando a instabilidade das
inventado em 1780 por de Saussure. Existem re- massas de ar tropicais . Isso pode ser considera-
gistros de pluviosidade desde o fmal do século do parte do processo de convecção pelo qual o
XVII na Inglaterra, embora as primeiras medi - ar aquecido se expande, diminui de densidade
ções sejam descritas na fndia no século IV a.e ., e sobe, resultando talvez em precipitação , ao
na Palestina por volta de 100 d .C., e na Coreia passo que o ar frio se contrai, aumenta de den -
na década de 1440. Um esquema de classifica - sidade e desce .
ção das nuvens foi criado por Luke Howard em O uso combinado do barômetro e do ter-
1803, mas não foi plenamente desenvolvido e mômetro permitiu que a estrutura vertical da
implementado na prática observacional até a atmosfera fosse investigada . Embora o fato de
década de 1920. Igualmente vital foi o estabe- que a temperatura tende a diminuir com a al-
lecimento de redes de estações de observação, titude seja uma experiência comum para avia-
seguindo um conjunto padronizado de procedi - dores e montanhistas, o padrão inverso da tem -
mentos para observar o clima e seus elementos , peratura aumentar com a altitude, conhecido
e um meio rápido de trocar os dados (o telégra - como inversão , também é bastante comum e
fo) . Esses dois avanços ocorreram simultanea - predomina em certas regiões e níveis atmosfé-
mente na Europa e na América do Norte nos ricos. Uma inversão térmica de baixo nível (isto
anos 1850-1860. é, perto da superfície) foi descoberta em 1856,
A maior densidade da água, comparada a uma altura de 1 km sobre uma montanha em
com a do ar (um fator de aproximadamente Tenerife . Investigações posteriores revelaram
1000 com a pressão média no nível do mar), que essa chamada Inversão Térmica dos Alísios
confere a ela um calor específico maior. Em é encontrada sobre a área oriental dos oceanos
outras palavras, é necessário muito mais calor subtropicais, onde o ar seco e de alta pressão
para elevar a temperatura de um metro cúbi- descendente se sobrepõe ao ar marítimo frio
co de água em 1ºC do que para elevar a tem - e úmido, localizado próximo da superfície do
peratura de um volume igual de ar na mesma oceano. Essas inversões inibem movimentos
quantidade. É interessante observar que ape - verticais (convectivos ) do ar e, consequente -
nas os 10-15 cm superficiais das águas oceâni - mente, atuam como uma tampa que bloqueia
cas contêm a mesma quantidade de calor que certas atividades atmosféricas. Na década de
CAPÍTULO 1 Introdução e história da meteorologia e climatolog ia 3

1920, demonstrou-se que a Inversão Térmica ao equador, existe um excesso de energia solar
dos Alísios difere em elevação entre 500 m e 2 incidente em relação à energia de ondas lon-
km em diferentes partes do Oceano Atlântico na gas que deixa a Terra, ao passo que, e.ntre essas
faixa de 30ºN a 30ºS. Por volta de 1900, balões latitudes e os polos, a perda de ondas longas
revelaram a existência de uma inversão térmica excede o influxo solar. Se, em cada latitude, a
mais importante, continua e ampla a aproxima- perda de ondas longas para o espaço igualasse
damente 10 km do equador e a 8 km em latitu- o influxo de radiação solar (denominado equi-
des altas. Esse nível de inversão (a tropopausa) líbrio radiativo), esse padrão não seria obser -
foi reconhecido como o topo da chamada tro- vado. Sua existência é evidência direta de que
posfera, dentro da qual se forma e decai a maio - deve haver uma transferência geral de energia
ria dos sistemas climáticos. Em 1930, balões das latitudes menores para as maiores , por meio
equipados com uma variedade de instrumentos das circulações atmosféricas e oceânicas. Dito
para medir a pressão, temperatura e umidade, e de outra forma, enquanto o aquecimento solar
informá -las para a Terra por rád io (ra.diosson- diferencial dá vazão ao gradiente de tempera-
da), investigavam a atmosfera rotineiramente. tura do equador para os polos, os transportes
Observações de pipas e balões também revelam de energia pa ra os polos atuam de maneira a
que inversões fortes, estendendo-se até 1000 m, reduzir esse gradiente . Cálculos pos teriore s e
são uma característica quase ubíqua do Ártico mais refinados mostraram que o fluxo de ener-

no mverno. gia atmosférica no sentido dos polos alcança
um máximo ao redor das latitudes de 30º e 40º ,
com o transporte oceânico máximo ocorrendo
B E.NERGIA SOLAR
em latitudes menores. O t ra.nspo rte total para
O aquecimento solar diferencial de latitudes bai- os polos em ambos os hemisférios é dominado,
xas e altas é o mecanismo que move as circula - por sua vez, pela atmosfera . A quantidade de
ções atmosféricas e oceânicas de grande escala energia solar recebid a e irradiada novamente a
na Terra . A maior parte da energia que vem do partir da superfície da Terra pode ser calculada
Sol e entra na atmosfera como radiação de on- teoricamente por matemáticos e astrônomos.
das curtas (ou insolação ) chega à superfície da Com base em Schmidt, muitos cálculos foram
Terra. Parte dela é refletida de volta para o espa - feitos, notavelme nte por Meech (1857), Wiener
ço; o resto é absorvido pela superfície , que aque- (1877) e Angot (1883), que apuraram a quan-
ce a atmosfera acima A atmosfera e a superfície, tidade de insolação extraterrestre recebida nos
juntas , irradiam rad iação de ondas longas (tér- limites externos da atmosfera em todas as lati-
mica) de volta ao espaço . Embora as porções de tudes. Cálculos teóricos da insolação no passa-
terra e oceano da superfície absorvam quantida- do, realizados por Milankovitch (1920, 1930), e
des diferentes de radiação solar e tenham carac- os valores calculados por Simpson (1928-1929)
terísticas térmicas diferentes, entre as latitudes sobre o balanço da insolação sobre a superfície
baixas e altas, o aquecimento solar diferencial é terrestre, foram contribuições importantes para
preponderante , promovendo um gradiente do a compreensão do s controles astronômicos do
equador aos polos na temperatura da atmosfera clima . No entanto , a radiação solar recebida
e da camada superior dos oceanos. pela Terra somente foi determinada com preci-
Embora o maior aquecimento solar das re - são por satélites na década de 1990.
giões tropica is, se comparado com as altitudes
maiores, seja conhecido há bastante tempo, foi
C
-
CIRCULAÇAO GLOBAL
somente em 1830 que Schmidt fez um cálculo
crucial dos ganhos e das perdas de calor para Considerando que o aquecimento solar diferen-
cada latitude com a radiação solar incidente e cial da superfície e o gradiente da temperatura
a radiação de ondas longas que deixa a Terra . atmosférica que ele gera promovem o trans-
Esse cálculo mostrou que, das latitudes de 35º porte de energia em grande escala da região
4 Atmosfera , Tempo e Clima

equatorial para as regiões polares, quais são os mente preocupado com a deflexão dos ventos
mecanismos pelos quais se dá esse transpor- em um globo em rotação para a direita (esquer-
te atmosférico? Embora saibamos agora que o da) no Hemisfério Norte (Sul). Como Halley,
transporte se dá por intermédio da circulação ele defendia um mecanismo circulatório tér-
de Hadley em latitudes menores e por meio de mico, mas ficou perplexo com a existência dos
perturbações no fluxo ocidental (de oeste para ventos de oeste. Após a análise matemática de
leste) básico na forma de ciclones e anticiclones corpos em movimento em uma Terra rotatória
transitórios nas latitudes maiores, é fascinante por Coriolis (1831), Ferrel (1856) desenvolveu
comentar sucintamente como emergiu a nossa um modelo de três células da circulação atmos-
visão moderna da circulação global. férica hemisférica, sugerindo um mecanismo
A primeira tentativa de explicar a cir- para a produção de alta pressão nos subtrópicos
culação atmosférica global baseia -se em um (isto é, 35º de latitude N e S). A tendência do
conceito convectivo simples. Em 1686, Halley ar frio superior de descer nos subtróp icos, junto
associou os ventos Alísios de leste à conver- com o aumento latitudinal na força deflexiva (a
gência baixa no cinturão equatorial de maior força de Coriolis, o produto da velocidade do
aquecimento (isto é, equador térmico). Esses vento e o parâmetro de Coriolis que aumenta
fluxos são compensados em níveis elevados por com a latitude) aplicada pela rotação terrestre
fluxos de retorno mais altos . Partindo dessas ao ar acima do Cinturão dos ventos Alísios e na
regiões convectivas em direçã .o aos polos, o ar direção dos polos , causaria um acúmulo de ar
esfria e desce, para alimentar os ventos Alísios (e, portanto, de pressão) nos subtrópicos. Mais
de nordeste e sudeste na superfície. Todavia, para o equador em relação a esses picos subtro-
esse mecanismo simples apresentava dois pro - picais, as células térmicas de Hadley dominam
blemas significativos: que mecanismo produ - o Cinturão dos ventos Alísios, mas, em direção
zia a pressão alta observada nos subtrópicos e aos polos, o ar tende a fluir para latitudes maio-
que era responsável pelos cinturões de ventos res na superfície. Esse fluxo de ar, cada vez mais
predominantemente de oeste em direção aos defletido com a latitude, constitui os ventos de
polos nessa zona de alta pressão? É interessan- oeste em ambos os hemisférios. No Hemisfério
te observar que somente em 1883 Teisserenc de Norte , a margem norte altamente variável dos
Bort produziu o primeiro mapa-múndi do nível ventos de oeste está situada onde eles são cor-
médio do mar mostrando as princ ipais zonas tados pelo ar polar no sentido equatorial. Essa
de alta e baixa pressão. A significância climáti- margem foi comparada com uma frente de ba-
ca do trabalho de Halley está também em sua talha por Bergeron, que, em 1922, a denominou
teoria convectiva térmica para a origem das de Frente Polar. Assim, as três células de Ferrel
monções asiáticas , que se baseava no compor - consistiam de duas células térmicas de Hadley
tamento térmico diferencial da terra e do mar; (onde o ar quente sobe e o ar frio desce), sepa-
ou seja, a terra reflete mais e armazena menos radas por uma célula de Ferrei fraca e indireta
da radiação solar incidente e, portanto, se aque - em latitudes médias. A relação entre a distribui -
ce e esfria mais rapidamente. Esse aquecimento ção da pressão e a velocidade e direção do vento
faz as pressões da superfíc ie continental serem foi demonstrada por Buys-Ballot em 1860.
geralmente inferiores às oceânicas no verão e
mais altas no inverno, causando inversões sa-
D CLIMATOLOGIA
zonais dos ventos. O papel dos movimentos
sazonais do equador térmico nos sistemas de Duran te o século XIX, tornou-se possível mon-
monções somente foi reconhecido muito de - tar um grande bane.o de dados climáticos e usá-
pois. Algumas das dificuldades enfrentadas -lo para fazer generalizações regionais. Em 1817,
pela teoria simplista da circulação de grande Alexander von Humboldt produziu seu valioso
escala de Halley começaram a ser abordadas tratado sobre as temperaturas globais, contendo
por Hadley em 1735, o qual estava particular - um mapa de isotermas (linhas de mesma tempe -
CAPÍTULO 1 Introdução e história da meteorologia e climatologia 5

ratura ) anuais médias para o Hemisfério Norte, global média mostrando "centros de ação" ci-
mas foi somente em 1848 que Dove publicou os clônicos e anticiclônicos, nos quais baseia-se a
primeiros mapas-múndi com a temperatura mé- circulação geral. Em 1887, de Bort começou a
dia mensal Um mapa da precipitação mundial produzir mapas de distribuições de pressão no
havia sido produzido por Berghaus em 1845; em ar superior e, em 1889, seu mapa-múndi das
1882, Loomis produziu o primeiro mapa da pre- pressões médias de janeiro nos 4 km inferiores
cipitação mundial empregando isoietas (linhas da atmosfera conseguiu representar o grande
de mesma precipitação); e, em 1886, de Bort cinturão da corrente ocidental entre as latitudes
publicou os primeiros mapas-múndi com a ne- 30º e 50º norte.
bulosidade anual e mensal . Essas generalizações
possibilitaram, nas décadas seguintes do século, ,
E DISTURBIOS EM LATITUDES
tentativas de classificar os climas regionalmente.
MÉDIAS
Na década de 1870, Wladimir Koeppen, biólogo
formado em St. Petersburg, começou a produzir As ideias teóricas sobre a atmosfera e seus sis-
mapas climáticos com base na geografia vegetal, temas climáticos evoluíram em parte por cau-
assim como de Candolle (1875) e Drude (1887). sa das necessidades dos marinheiros do século
Em 1883, surgiu o grande tratado em três vo- XIX por informações sobre ventos e tempesta-
lumes de Hann, Handbook of Climatology, que des, especialmente previsões do comportamento
permaneceu como padrão até 1930-40, quan- futuro. Em níveis baixo s no cinturão ocidental
do o trabalho de Koeppen e Geiger, com cinco (aproximadamente latitudes 40º a 70º), observa-
volumes e mesmo título, o substituiu. Ao final -se um padrão complexo de sistemas móveis
da Primeira Guerra Mundial, Koeppen (19 18) de alta e baixa pressão, enquanto, entre 6.000
produziu a primeira classificação detalhada de me 20.000 m , existe um fluxo de ar constante
climas mundiais com base na cobertura vegetal do oeste. Dove (1827 e 1828) e Fitz Roy {1863)
terrestre. Essa obra foi seguida pela classificação defenderam a teo ria da formação de ciclones
climática de Thornthwaite (1931-1933) empre- segundo "correntes opostas" (isto é, depressão) ,
gando quantidades de evaporação e precipita- onde a energia para os sistemas era produzida
ção, que o autor tornou mais aplicável em 1948 por fluxos de ar convergentes . Espy (1841) pro-
com o conceito teórico de evapotranspiração pôs uma teoria mais clara da convecção para a
potencial. O período entreguerras foi notável produção de energia em ciclones, com a libe-
pelo surgimento de diversas ideias climáticas ração de calor latente (condensação de vapor
que não foram levadas à fruição até a década de d'água) como a fonte principal . Em 1861, Jin-
1950. Entre elas, o uso de frequências de diver- man postulou que as tempestades se desenvol-
sos tipos climáticos (Federov 1921), os conceitos vem onde correntes de ar opostas formam linhas
de variabilidade da temperatura e pluviosidade de confluência (depois denominadas "frentes'').
(Gorczynski 1942 e 1945) e a microclimatologia, Ley {1878) apresentou um quadro tridimensio -
o estudo da estrutura climática fina perto da su- nal de um sistema de baixa pressão, com uma
perfície (Geiger 1927). cunha de ar frio por trás de uma descontinuida -
Apesar dos problemas para obter medidas de abrupta da temperatura cortando o ar mais
detalhadas ao longo de grandes áreas oceânicas, quente, e Abercromby (1883) descreveu siste-
no fmal do século XIX houve muitas pesqui - mas de tempestade em termos de um padrão
sas climáticas interessadas na distribuição da de isóbaras (linhas fechadas de mesma pressão)
pressão e dos ventos. Em 1868, Buchan pro- com os tipos de clima típicos associados. Nessa
duziu os primeiros mapas-múndi da pressão época, embora a energética estivesse longe de
média mensal; oito anos depois, Coffin compôs estar clara, emergia um quadro, correto em seus
as primeiras cartas eólicas mundiais para áreas aspectos básicos, de tempestades de latitude mé-
terrestres e marinhas e, em 1883, L. Teisserenc dia serem geradas pela mistura de ar tropical
de Bort elaborou os primeiros mapas da pressão quente e polar frio como resultado fundamental
6 Atmosfe ra, Tempo e Clima

dos gradientes latitudinais de temperatura cria- até três ondas de Rossby de pequena amplitude
dos pelos padrões de radiação solar incidente causando um forte fluxo zonal (isto é, de oeste
e de rad iação emanante da Terra . Mais para o para leste ). Um gradiente energético hemisféri -
fim do século XIX, dois importantes grupos de co mais fraco (ou seja, índice baixo) é caracteri-
pesquisa europeus estavam lidando com a for- zado por quatro a seis ondas de Rossby de maior
mação de tempestades: o grupo de Viena, com amplitude. Como a maioria dos fluxos amplos e
Margules, incluindo Exner e Schmidt; e o grupo fluidos na natureza, observações realizadas nas
sueco, liderado por Vilhelm Bjerknes. Os pri- décadas de 1920 e 1930, e particularmente aque -
meiros estavam preocupados com as origens da las feitas em aviões na Segunda Guerra Mundial,
energia cinética (energia do movimento) ciclô - demonstraram que as correntes ocidentais supe -
nica, que, aparentemente, advinha de diferenças riores contêm linhas estreitas de alta velocida -
na energia potencial de massas de ar opostas de de, batizadas de ('correntes de jato" por Seilkopf
tempera turas diferentes. A energia potencial em 1939. As correntes de jato mais altas e mais
é a energia associada à altu.ra de parcelas de ar importantes se dispõem aproximadamen te ao
acima da superfície. Os gradientes de energia longo de ondas de Rossby . A princ ipal corren -
potencial em uma superfície de pressão propor- te de jato, localizada a 10 km, afeta o clima su-
cionam condições para converter energia poten- perficial, guiando sistemas de baixa pressão que
cial em cinética. Isso foi proposto no trabalho tendem a se formar abaixo dela. Além disso , o ar
de Margules (1901), que mostrou que a energia descendente abaixo das correntes de jato fortale -
potencial de uma depressão típica é menor que ce as células subtropicais de alta pressão.
10% da energ ia cinética dos ventos que a cons-
tituem. Em Estocolmo, o grupo de V. Bjerknes
F AS REGIÕES POLARES
concentrou-se no desenvolvimento de frentes
(Bjerknes, 1897 e 1902), mas suas pesquisas A visão mais antiga da circulação atmosférica
foram particularmente importantes durante o ártica é atribuída ao trabalho de von Helmholtz ,
período de 1917- 1929, depois que J. Bjerknes no fmal do século XIX, o qual argumentava que
se mudou para Bergen e trabalhou com Berge- a região era dominada por uma célula superfic ial
ron. Em 1918, foi identificada a frente quente, mais ou menos permanente de alta pressão, uma
o processo de oclusão foi descrito em 1919, e a visão desenvolvida na primeira parte do século
teor ia completa da Frente Polar no desenvolvi - XX por Hobbs e sua teoria do "anticiclone gla-
mento de ciclones foi apresen t ada em 1922 (J. ciar'. Em 1945, Hobbs aprofundou essa ideia bá -
Bjerknes e Solberg). Depois de 1930, a pesquisa sica, defendendo a existência de um ant iciclone
meteorológica concentrou-se cada vez mais na permanente sobre a camada de gelo da Groen-
importância de influências da troposfera média lândia, que teria fortes impactos e.m latitudes mé -
e superior para os fenômenos climáticos globais. dias. Devido à falta geral de dados até as décadas
Essa tendência foi liderada por Sir Napier Shaw de 1940 e 1950, essa concepção tão errônea não
na Grã -Bretanha e por Rossby, com Namias e surpreende. As análises da pressão ao nível do
outros, nos Estados Unidos. O fluxo de ar na mar produzidas durante a Segunda Guerra Mun -
ca.mada de 3-1O km de altura do vórtex po lar dial na série de mapas US Histor ical Weather
dos ventos de oeste no Hemisfério Norte forma continham fortes vieses positivos para antes da
ondas horizontais de grande escala (Rossby) de - década de 1930 fora do setor do Atlântico Norte.
vido aos gradientes latitudinais no parâme t ro de Parte do prob lema, conforme observado por Jo-
Coriolis, cuja influência foi simulada em expe- nes, era que esses mapas haviam sido preparados
rimentos com antenas giratórias nas décadas de por analistas relativamente pouco tre in ados, que
1940 e 1950. O número e a amplitude dessas on- tendiam a extrapolar para a região ártica, que ca-
das parecem depender do gradiente ou "índice" recia de dados, com a visão prevalecente de uma
energético hemisférico . Em momentos de índice célula ártica de alta pressão. Mesmo no começo
elevado , especialmente no inverno , pode haver da década de 1950, alguns estudos representa -
CAPÍTULO 1 Introdução e história da meteorologia e climatolog ia 7

ram ciclones móveis erroneamente como restri- Segunda Guerra Mundial, de aplicá -la às con-
tos à periferia do Oceano Ártico. A emergência, dições atmosféricas que predominam nos trópi-
na América do Norte, de visões mais modernas cos (30ºN-30ºS), compreendendo a metade da
da circulação ártica no fmal da década de 1950 e área superficial do planeta . Essa tentativa estava
na de 1960, promovidas pelo crescente banco de condenada ao fracasso, como demonstraram
dados sobre observações da atmosfera superior as observações feitas durante a guerra aérea
e superficial, apareceu no trabalho dos grupos no Pacífico. O fracasso se deveu à ausência de
de pesquisa da McGill University, liderado por descontinuidades frontais na tempera tura en-
F. K. Hare, e da Universidade de Washington, li- tre massas de ar e à ausência de um efeito de
derado por R J.Reed. R. G. Barry participou do Coriolis forte e, portanto, de ondas de Rossby.
trabalho da McGill, e fez muitas contribuições. As descontinuidades nas massas de ar tropicais
É interessante observar que, na União Soviética, baseiam -se em diferenças de umidade . O clima
uma visão relativamente moderna da circulação tropical resulta principalmente de característi-
de verão já havia sido formulada em 1945 por B. cas convectivas intensas, como fluxos de calor ,
L. Dzerdzeevskii. ciclones tropicais (furacões e tufões) e a Zona
O conhecimento da Antártica ficou para de Convergência Intertropical (ZCIT), cujo
trás em relação ao do Ártico . A distância e as eixo representa a linha que separa os ventos
condições extremamente severas desse conti- Alísios de sudeste e nordeste dos hemisférios
nente foram barreiras ao progresso . Além disso, Norte e Sul. A enorme instabilidade das massas
enquanto o Ártico era uma região estratégica de ar tropicais significa que mesmo uma leve
durante a Guerra Fria, levando a extensivas convergência nos ventos Alísios dá vazão a on-
pesquisas e ao rápido estabelecimento de redes das atmosféricas no sentido oeste com padrões
de observação, a Antártica não se beneficiou climáticos característicos.
da atividade da Guerra Fria na mesma medida. Acima dos oceanos Pacífico e Atlântico, a
Alguns aspectos foram reconhecidos há muito, ZCITé semiestac ionári~ com um deslocamen-
como a existência de uma zona de baixa pressão to anual de 5º ou menos, mas , em outros locais ,
ao redor do continente e de fortes ventos cata- ela varia entre as latitudes de l 7ºS e 8ºN em ja-
báticos (descendentes) . Houve um considerável neiro e entre 2ºN e 27ªN em julho - isto é, du-
progresso após as observações feitas durante o rante as estações das monções de verão no sul
Ano Geofísico Internacional (IGY) de 1957- e norte, respectivamente. O movimento sazonal
1958, modelado com base nos Anos Polares da ZCIT e a existência de outras influências
Internacionais de 1882-1883 e 1932-1933 (Qua - convectivas tornam as monções do sul e leste
dro 1.1). Um levantamento preliminar das cor- asiáticos o mais importante fenômeno climáti-
rentes ocidentais do Hemisfério Sul, baseado co sazonal global.
em parte nas observações da atmosfera superior Investigações sobre as condições do tem-
durante o IGY, foi publicado por H. H . Lamb po em grandes extensões dos oceanos tropi-
em 1959. Mesmo hoje, as observações diretas cais começaram a ter o apoio de observa .ções
são muito mais esparsas na Antártica do que por satélite depois de 1960. As observações de
no Ártico . As previsões do tempo nessa região ondas nos ventos de leste tropicais começaram
baseiam-se especialmente em dados coletados no Caribe na metade da década de 1940, mas a
por satélites orbitais . estrutura de mesoescala dos agrupamentos de
nuvens e tempestades associadas somente foi
reconhecida na década d.e 1970. As observa-
G CLIMA TROPICAL
ções por satélite também se mostraram muito
O sucesso da modelagem do ciclo de vida da valiosas para detectar a geração de furacões em
depressão frontal nas latitudes médias e seu grandes áreas dos oceanos tropicais .
valor como instrumento de previsão levaram a No fmal da década de 1940 e subsequente-
tentativas , no período imediatamente antes da mente, foram feitos trabalhos importantes sobre
8 Atmosfera , Tempo e Clima

as relações entre o mecanismo de monções do 1940 até meados da de 1960, mas o trabalho de
sul asiático relacionado com a corrente de jato Berlage (1957), o aumento no número de secas
subtropical de oeste e a barreira de montanhas na índia, de 1865 a 1990, e especialmen te o for -
do Himalaia e o deslocamento da ZCIT. A signi- te El Nino que causou grandes dificuldades eco-
ficativa ausência das monções indianas de verão nôm icas em 1972, levaram a um renascimento
em 1877 levou Blanford (1860) na Índia, Todd no interesse e nas pesquisas. Um aspecto dessa
(1888) na Austrália, e outros a procurarem cor- pesquisa é o estudo minucioso das "telecone-
relações entre a. pluviosidade de monções na xões " ( correlações entre condições climáticas
fndia e outros fenômenos climáticos, como a em regiões bastante separadas da Terra) apon-
quantidade de neve que cai sobre o Himalaia t adas por Sir Gilbert Walker .
(que influencia o aquecimento diferencial de
grande escala entre a ter ra e o oceano) e a in -
H PALEOCLIMAS
tensidade do centro de alta pressão do Oceano
Indico mer idio nal. Essas corr elações foram es- Antes da metade do século XX, 30 anos de regis-
tudadas intensivamente por Sir Gilbert Walker tros eram considerados suficientes para deflilir
e seus colegas na fndia entre 1909 e o final da um determinado clima . Na década de 1960, a
década de 1930 . Em 1924, houve um grande ideia de um clima estático era indefensável. No -
avanço, quando Walker identificou a "Oscilação vas abordagens à paleoclimatologia, o estudo de
Sul" - uma alte rnância de pressão entre leste e climas passados , foram desenvolvidas nas déca -
oeste, com pluviosidade resultante (isto é, cor - das de 1960 e 1970. A teoria astronômica para
relação negativa) entre a Indonésia e o Pacífico explicar as grandes eras glaciais do Pleistoceno,
Oriental. Outras oscilações climáticas norte-sul proposta por Croll (1867) e desenvolvida mate-
foram identificadas no Atlântico Norte (Aço - maticamente por Milankovitch (1920), parecia
res vs. Islândia , conhecida como Oscilação do estar em conflito com evidências de mudanças
Atlântico Norte) e Pacífico Norte (Alasca vs. climáticas datadas. Todavia, em 1976, Hays, Im-
Havaí). Na fase da Oscilação Sul em que existe brie e Shackleton recalcularam a cronologia de
alta pressão sobre o Pacífico Oriental, o movi- Milankovitch usando novas técnicas estatísticas
mento oeste das águas de superfície do Pacífico poderosas e mostraram que ela tinha uma boa
centra l, com uma consequente ressurgência de correlação com registros de temperaturas passa -
água fria rica em plâncton na costa da Amér ica das, especialmente para paleotemperaturas oceâ -
18
do Sul, é associado ao ar asce n dente que causa nicas derivadas de razões isotópicas ( 0 / 160)
fortes chuvas de verão sobre a Indonésia. Perio - em organismos marinhos, registradas em teste -
dicamente, o enfraquecimento e o rompimento munhos oceânicos. A ideia por trás das forçantes
de células de alta pressão no Pacífico Leste le - de Milankovitch é que mudanças periódicas na
vam a consequências importantes, cujas p rinci - excentricidade da órbita da Terra, na inclinação
pais envolvem o ar descendente e secas sobre a do eixo da Terra e no momento dos equinóc ios
fndia e a Indonésia e a remoção do mecanismo causam variações na quantidade de radiação
de ressurgência fria na costa da América do Sul, solar recebida em diferentes momentos do ano
que resulta no fracasso na pesca . A presença de sobre diferentes partes da superfície . Como é
água quente ao longo da costa é denominada amplamente aceito hoje, as grandes eras glaciais
ªEl Nmo ·~Embora o papel central dos sistemas ao longo dos últimos 2 milhões de anos refletem
de alta pressão nas latitudes menores sobre as influências desses ciclos de Milankovitch e feed-
circulações globais da atmosfe ra e dos ocea- backsclimáticos consequentes que amplificam a
nos seja reconhecido, a causa da mudança de mudança . As informações paleoc limáticas obti -
pressão no Pacífico Leste que gera o El Niíio das a partir de testemunhos oceânicos e fontes
ainda não foi totalmente compreendida . Hou - terrestres são complementadas por testemunhos
ve um certo desinteresse na Oscilação Sul e nos de gelo coletados em mantos de gelo da Groen-
fenômenos associados a ela durante a década de lândia e Antártica, campos de gelo no Canadá e
CAPÍTULO 1 Introdução e história da meteorologia e climatolog ia 9

em outros locais. Além de documentar as rela- a superfície de terra, com sua cobertura vegetal
ções climáticas com os ciclos de Milankovitch, (a litosfera e a biosfera). Processos físicos, quí-
esses registros proporcionam evidências de mu - micos e biológicos ocorrem nesses subsistemas
danças rápidas e de grande escala no clima. O complexos e entre eles. A interação mais im-
mais longo registro disponível de testemunhos portante ocorre entre a atmosfera, pela qual a
de gelo do Domo C na região Antártica Leste energia solar entra no sistema, e os oceanos, que
cobre 800.000 anos e mostra que os períodos in- armazenam e transportam grandes quantidades
terglaciais antes de 450.000 anos atrás eram mais de energia (especialmente térmica), agindo as-
fracos (menos quentes) do que os posteriores . Os sim como um regulador para mudanças atmos-
registros de temperatura reconstruídos a partir féricas mais rápidas . Outra complicação advém
dos testemunhos de gelo são obtidos com base da matéria viva da biosfera, que influencia a
18
nas razões entre isótopos de oxigênio (ô 0). radiação incidente e a rerradiação emanante e
Amostras de atmosferas passadas aprisionadas afeta a composição atmosférica por meio dos
como bolhas em testemunhos de gelo documen- gases de efeito estufa. Nos oceanos, a biota ma-
tam uma forte relação entre o clima e as concen - rinha desempenha um papel importante na dis-
trações de dióxido de carbono atmosférico, e solução e no armazenamento de C0 2• Todos os
mostram, de maneira convincente, que as con- subsistemas são ligados por fluxos de massa, ca-
centrações atuais desse gás de efeito estufa são lor e momento, formando um todo muito com-
maiores do que em qualquer momento durante plexo. O sistema climático formado sempre foi
pelo menos os últimos 800.000 anos. e sempre será caracterizado pela variabilidade
Outras informações paleoclimáticas são em diversas escalas temporais e espaciais. Toda-
obtidas com anéis anuais em árvores , que re- via, a introdução dos seres humanos no siste-
fletem a temperatura e umidade da estação de ma acrescenta uma nova dimensão. De fato, na
crescimento, sedimentos de lagos e pântanos aurora do século XXI, acumulam -se evidências
que contêm registros de pólen da.vegetação re- avassaladoras de um impacto humano discerní-
gional, registros de temperatura reconstruídos vel e crescente sobre o clima global.
a partir de razões de isótopos de oxigênio em O mecanismo motor das mudanças climá -
estalagmites de cavernas e anéis anuais de cres- ticas globais é chamado de ªforçante radiativa'~
cimento em corais oceânicos. Em um estado climático de equilíbrio, a energia
Houve importa .ntes avanços na recons- solar global média absorvida pelo sistema da
trução paleoclimática pelo uso de modelos de Terra é balanceada pela radiação média global
circulação geral com condições limítrofes pas- de ondas longas que é emitida para o espaço.
sadas (paleogeografia, paleovegetação) e carac- Em outras palavras, existe equilíbrio radiativo
terísticas diferentes da órbita terrestre . no topo da atmosfera. Um desequilíbrio, ou
forçante radiativa, é definido como positivo
quando menos energia é emitida do que absor-
1 O SISTEMA CLIMÁTICO GLOBAL
vida, e negativo no caso contrário. Em resposta
Sem dúvida, o mais importante resultado do à forçante radiativa, o sistema tenta buscar um
trabalho realizado na segunda metade do sé- novo equilíbrio, com base, respectivamente, no
culo XX foi o reconhecimento da existência aquecimento ou resfriamento na superfície. Os
do sistema . climático global (ver Quadro 1.1). desequilíbrios de radiação ocorrem a partir de
O sistema climático envolve não apenas os ele- processos naturais (p.ex., efeitos astronômicos
mentos atmosféricos, como os cinco principais sobre a radia .ção solar incidente de ondas cur-
subsistemas: a atmosfera (o mais instável e com tas, mudanças na produção solar total e erup -
mudanças mais rápidas); o oceano (muito lento ções vulcânicas, que carregam a atmosfera com
em termos de sua inércia térmica e, portanto, aerossóis , minúsculas partículas suspensas no
importante para regular as variações atmosféri- ar) e influências humanas (p.ex ., alterações
cas); a neve e a cobertura de gelo (a criosfera); e em gases de efeito estufa e concentrações de
1O Atmosfera, Tempo e Clima

1.1 0 Programa de Pesquisa Atmosférica Global (GARP) e o


Programa de Pesquisa Climática Global (WCRP)
A ideia de estudar o clima global por meio de programas intensivos e coordenados de observações
emergiu por intermédio da Organização Meteorológ ica Mundial (WMO: http://www.wmo.ch) e do
Conselho Internacional para as Ciências (ICSU: http://www.icsu.org} na década de 1970. Três li nhas
de ativ idades foram plane jadas: uma base física para previsão do tempo no longo prazo; variabilida -
de climót ica interanual; e tendências climót icas de longo prazo e sensibil idade climótica. As observa-
ções meteorológ icas globais se tornaram uma grande preocupação, e isso levou a uma série de pro-
gramas observacionais. O primeiro foi o Programa de Pesquisa Atmosférica Global (GARP), que tinha
diversos componentes relacionados, mas semi-independentes. Um dos , primeiros foi o GARP Atlantic
Tropical Experiment (GATE) no Atlântico Norte Oriental, na costa da Afr ica Ocidental, em 1974-1975.
O objetivo era analisar a estrutura da inversão dos ventos Al ísios e iden tificar as condições associadas
ao desenvolvimento
, de distúrbios ,tropicais . Foi realizada uma série de experimentos com as monções
na Af rica Oc idental e no Oceano Indico no final da década de 1970 e começo da de 1980, e também
um Experimento Alpino . O First GARP Global Experiment (FGGE), de novembro de 1978 a março de
1979, reuniu as observações climáticas globa is. Junto com esses programas observacionais, também
houve um esforço coordenado para melhorar a modelagem numérica de processos climáticos globais.
O Programa de Pesquisa Climát ica Mundial (WCRP: http://www .wmo.ch/web /w crp/prgs.htm), es-
tabe lecido em 1980, é patrocinado pela WMO, ICSU e a Comissão Oceânica Internacional (ICO). O
primeiro esforço global foi o Experimento sobre a Circulação Oceânica Global (WOCE), que propor-
cionou uma compreensão detalhada das correntes oceânicas e da circulação termoa lina global. Ele fo i
seguido , na década de 1980, pelo Tropical Ocean Global Atmosphere (TOGA).
Projetos atuais importantes do WCRP são Variabilidade e Previsibiliade
, Climótica (CLIVAR: http ://
www.clivar.org/}, o Experimento sobre Energia Global e Ciclo da Agua (GEWEX), Processos Estratosfé-
ricos e seu papel no Clima {SPARC)e Cl ima e Criosfera (CliC; http://clic.npolar.no) . Dentro do GEWEX,
existem o lnternational Satellite Cloud Climatology Project (ISCCP) e o lnternationa :I Land Surface
Cl imatology Project (ISCSCP), que fornecem conjuntos de dados valiosos para análise e validação
de modelos. O CliC, que aborda todos os componentes importantes da criosfera terrestre (geleiras,
calotas polares e coberturas de gelo, gelo marinho, cobertura de neve) desenvolveu-se a partir do
antigo Arctic Climate System (ACSYS). O WCRPtambém se envolveu ativamente no planejamento e na
implementação
, do terceiro Ano Polar Internac ional (IPY), um grande programa científico internaciona l
sobre o Artice e a Antártica, de março de 2007 a março de 2009.

Referência
Houg hton, J. D. a nd Morei, P. (1984) The World Clima te Research Programme . ln J. D. Houghton (ed.) The Global Climafe,
Cambridge Universíty Press, Ca mbridge , pp. 1- 11.

aerossóis por causa da queima de combustíveis sido muito significativos para amp liar a propor -
fósseis e diversas outras atividades , como o des- ção de radiação terrestre de ondas longas apri-
matamento e a agricultura). Medições diretas sionada pela atmosfera (uma forçante radiativa
da r adiação solar são feitas por saté lites desde positiva), elevando a temperatura do ar superfi-
aproximadamente 1980, mas a correlação en- cial ao longo dos últimos 100 anos .
t re mudanças p equenas na radiação solar e na Os ajustes em uma forçante radiativa oco r-
economia térmica do sistema climático global rem em questão de meses nos subsistemas
ainda está um tanto incerta . Todavia, os aumen- superficial e troposférico, mas são mais len-
tos induzidos pelo homem no teor de gases de tos (séculos ou mais) no ocea n o. Por sua vez,
efeito estufa na atmosfe r a (0,1% da qual é com- a quantidade de aquecimento superficial para
posto pelos gases-traço dióxido de carbono, uma determinada forçante radiativa (de n o-
metano, óxido nit roso e ozônio) parecem ter minada sensib ilidade climática) depende de
CAPÍTULO 1 Introdução e história da meteoro log ia e climato logia 11

feedbacks que amplificam ou reduzem a respos - e avaliando-se os resultados de um conjunto de


ta climática à forçante . No caso de gases de efei- projeções .
to estufa, a questão é ainda mais complicada, O Painel Intergovernamental sobre Mudan -
pois a própria forçante radiativa está mudando. ças Climáticas (IPCC), estabelecido conju .nta-
Feedbacks importantes envolvem o papel da mente em 1988 pela WMO e pelo Programa das
neve e do gelo refletindo a radiação solar inci- Nações Unidas de Meio Ambiente (PNUMA),
dente e o vapo r de água atmosférico que absor- serviu como ponto focal para a pesquisa sobre
ve a rerradiação terrestre, e são de caráter po- mudanças climáticas, e publicou seu Quarto Re-
sitivo. Por exemplo: a Terra aquece; o vapo r de latório em 2007. Uma das mais importantes fer-
água atmosférico aumenta; isso, por sua vez, au- ramentas do IPCC envolve modelos numéricos
menta o efeito estufa; o resultado é que a Terra do sistema climático . Desde o desenvolvimento
aquece ainda mais . Um aquecimento semelhan- inicial dos modelos de circulação geral da at-
te ocorre quando temperaturas mais elevadas mosfera na década de 1960, os modelos atuais
reduzem a cobertu ra de neve e gelo, permitindo se tornaram mais sofisticados, e são essenciais
que a terra e o oceano absorvam mais radiação . para entender as complexidades da forçante ra-
As nuvens desempenham um papel mais com- diativa, dos feedbackse das respostas climáticas.
plexo e ainda pouco compreendido, refletindo Eles hoje incorporam submodelos acoplados
radiação solar (radiação de ondas curtas), mas dos oceanos, da terra e da biosfera. O quadro
também aprisiona ndo radiação terrestre ema- emergente que esses modelos retratam é de um
nante . O feedback negativo, quando o efeito da mundo muito mais quente e diferente ao final
mudança é reduzido, é um aspecto muito me- deste século, representando desafios para a so-
nos importante da operação do sistema climáti - ciedade, incluindo, mas não limitados a, níveis
co, que explica em parte a tendência recente de mais elevados dos mares e mudanças em zonas
aquecimento global . O impacto dos aerossóis é agr ícolas. No entanto, permanecem grandes in-
uma das principais áreas de incerteza . Enquan- certezas, particularmente em relação às mudan-
to o efeito de resfriamento dos aerossóis, espa- ças climáticas em escalas regionais.
lhando a radiação solar de volta para o espaço, é A primeira edição deste livro data de 1968,
bem conhecido e, em parte, mascara o efeito de antes de muitos dos avanços descritos nas edi-
aquecimento dos gases de efeito estufa, alguns ções posteriores serem sequer concebidos . To-
aerossóis, como a fuligem, absorvem radiação davia , nosso objetivo ao escrever tem sido sem-
solar. Os aerossóis também afetam o número e pre o de proporcionar uma narrativa simples de
a densidade das gotículas de chuva, alterando as como a atmosfera funciona, contribuindo para
propriedades óticas das nuvens . a compreensão d.os fenômenos climáticos e cli-
Um fator crucial nos processos do tempo mas globais . Conforme observado na 8ª edição,
e do clima é a imprevisibilidade. Os sistemas uma explicação maior resulta inevitavelmente
climáticos apresentam sensibil idade a suas con - em um aumento na var iedade de fenômenos
dições iniciais, ou seja, uma mudança muito pe- que exigem explicação . Como resultado, este
quena no estado inicial de um sistema climático livro continua a crescer com o tempo .
talvez tenha um efeito grande e desproporcio-
nal sobre todo o sistema. Isso foi reconhecido
inicialmente por E. Lorenz (1963), ao afirmar
que uma borboleta batendo asas em Pequim • Como os avanços tecnológicos contribu íram
poderia afetar o clima a milhares de milhas de pa ra a evolução da meteorologia e climato-
distância alguns dias depois . Essa sensibilida - logia?
de hoje é conhecida como "efeito-borboleta ". • Reflita sobre as contribuições relat ivas da
observação, teor ia e modelagem para o
Ela é estudada em experimentos de modela-
nosso conhec imento sobre os processos at-
gem numérica, fazendo-se muitas simulações mosfér icos.
com variações mínimas nas condições in iciais
12 Atmosfera, Tempo e C lim a

REFERÊNCIASE SUGESTÃODE Peterssen, S. (1969) /ntroduction to Meteorology, 3rd edn.,


McGraw Hill, New York, 333pp. (Classic introducto ry
LEITURA text, includ ing world clima tes J
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summa ry and one for po licy makers] Longmans, London, pp. 111-34.

051 ao,
/1111

massa e
estrutura • •
atmos era

OBJETIVOSDE APRENDIZAGEM
Depo is de ler este capitu lo, você :

• estará fa m iliarizado com a composição da atmosfera - seus gases e outros compo nentes;
• entenderá com o e por que a d istri buição de gases-traço e aerossó is va ri a com a alt itude , a latit u de
e o tempo ;
• saberá como a pressão atmosfé rica, a densidade e a pressão do vapor de ógua var iam com a a ltitude; e
• estaró fam ilia rizado com as camadas vertica is da atmosfe ra , sua term inolog ia e impo rtõnc ia.

Este capítulo descreve a composição da atmos - Tabe la 2 .1 Composição médio da a tmosfe ra


fera - seus p rinc ipais gases e impurezas, sua seco aba ixo de 25 km

distribuição vertical e variações ao longo do Vo lume


tempo . Os diversos gases de efeito estufa e sua % Peso
importância são discut idos; a distr ibuição ver- Com ponente Símbolo (ar seco) molecular
tical da massa atmosférica e a estrutura da at- N itrogên io N2 78,08 28,02
mosfera, particularmen te a var iação vertical da Ox igên io 02 20,95 32,00
atmosf era, são analisadas . " iArgôn io Ar 0,93 39,88
Dióxido de C0 2 0,037 44,00
A
-
A COMPOSIÇAO DA ATMOSFERA
ca rbono
1
Neôn io Ne 0,0018 20, 18
1 Principais gases * tHélio He 0,0005 4,00
tozõn io 03 0,00006 48,00
O ar é uma mistura mecân ica de gases , e não Hidrogênio H 0,00005 2,02
um compos to químico. O ar seco, em volume, é *C ri ptônio Kr 0,00011
composto em mais de 99% de nitrogênio e oxi- txenôn io Xe 0,00009
gênio (Tabela 2.1). Observações realizadas com §Metano CH , 0,00017
foguetes mostram que esses gases são mistura-
Obs .: *Produtos do deca imento do potássio e urânio. -Re-
dos em propo rções constantes até aproximada -
co mbinação do oxigênio . 4Gases inertes. §Na superficie.
mente 100 km de altitude. Apesar de sua predo-
minância , esses gases são de pouca importância
climática.
14 Atmosfe ra, Tempo e Clima

2 Gases de efeito estufa lógicos nos oceanos e solos . Ele é destruído


por reações fotoquímicas na estratosfera,
Apesar de sua relativa escassez, os chamados
envolvendo a produção de óxidos nitroge -
gases de efeito estufa desempenham um papel
nados (NOx ).
crucial na termodinâmica da atmosfera (ver
4 O ozônio (0 3) é produzido pela quebra
Quadro 2.1). Eles aprisionam a radiação emiti-
de moléculas de oxigênio na at mosfera
da pela Terra, produzindo assim o efeito estufa
superior pela radiação ultraviole ta do Sol
(ver Capítulo 3C). Além disso, as concentrações
e é des t ruído por reações envo lvendo óxi -
desses gases-traço são afetadas pelas atividades
dos nitrogenados (NO x) e cloro (Cl) (este
humanas (isto é, antrópicas) .
gerado por CFC , erupções vulcânicas e
1 O dióxido de carbono (C0 2) está envol - queima de vege t ação) na estratosfera mé-
vido em um complexo ciclo global (ver dia e superior .
2A .7) . Ele é liberado a partir do interior 5 Os clorofluorcarbonetos (CFC : princ ipal-
da Terra, e produzido pela respiração da mente o CFC13 (F- 12) e o CF 2Cl2 (F- 12) são
biota, de micróbios do solo , da queima de totalmente antropogênicos, produzidos por
combustíveis e da evaporação oceânica . propelentes de aerossó is, gases refrigeran -
Em contrapartida , é dissolvido nos oce - tes em refrigeradores (p.ex., ªfreon "), pro -
anos e consumido pela fotossín tese vege - dutos de limpeza e condicionadores de ar,
tal . O desequilíbrio entre as emissões e a e não estavam presentes na atmosfera até
absorção pelos oceanos e a biosfera ter - a década de 1930. As moléculas de CFC
restre leva ao aumento líquido observado ascendem lentamente até a estra tosfera e
na atmosfera. avançam em direção aos polos, sendo de-
2 O metano (CH 4 ) é produzido principal - compos tas por processos fotoquímicos em
mente por meio de processos anaeróbicos cloro, ao longo de um período médio de
(isto é, deficientes em oxigênio ) em áreas vida de aproximadamente 65- 130 anos .
úmidas naturais e plantações de arroz (jun - 6 Os halocarbonetos hidrogenados (HFC e
tas, por volta de 40 % do total), bem como HCFC ) também são gases totahnente an -
pela fermentação entérica . em animais, por tropogênicos . Aumentaram nitidamente
térmites, pela extração de carvão e óleo, na atmosfera nas últimas décadas, após
pela queima de biomassa e por aterros sa- começarem a ser usados como subs titut os
nitários e lixões. para os CFC . O tricloroetano (C 2H 3Cl 3) ,
por exemplo, usado na lavagem a seco e
C0 2 + 4H 2 ~ CH 4 + 2H 20
em agen tes desengordurantes, aumentou
Quase dois terços da produção total estã.o em quatro vezes na década de 1980 e tem
relacionados com a atividade antropogê - um tempo de residência de 7 anos na at-

ruca . mosfera. Geralmente , eles têm vidas de
O metano é oxidado a C0 2 e H 20 por poucos anos , mas ainda causam um im-
um complexo sistema de reação fotoquí - pacto substancial no efeito estufa . O papel

rmca. dos halógenos de carbono (CFC e HCFC)
na destruição do ozônio e na estratosfera é
CH4 + 0 2 + 2x ~ C0 2 + 2x H2
descrito a seguir.
onde x denota qualquer espécie que destrua O vapor de água (H 20 ), o principal
o metano (p.ex., H, OH, NO , Cl ou Br). gás de efeito estufa, é um componente at-
3 O óxido ni troso (N 20 ) é produzido prin - mosférico vital . Sua média é de 1% em
cipalmente por fertilizan t es ni trogenados volume, mas ele é muito variáve l no espa-
(50-75%) e processos industriais. Outras ço e no tempo , estando envolvido em um
font es são o transpor te, a queima de bio- complexo ciclo hidrológico global (ver o
massa, as pas tagens e os mecanismos bio - Capítulo 3) .
CAPÍTULO 2 Composição, massa e estrutura da atmosfera 15

3 Espécies gasosas reativas capita. A atividade vulcânica libera apro-


9
ximadamente 10 Kg S/ano como dióxido
Além dos gases de efeito estufa, importantes
de enxofre . Como a vida do S0 2 e do H 2 S
espéciesgasosas reativas são produzidas pelos
na atmosfera é de apenas um dia, o en-
ciclos do enxofre, nitrogê nio e cloro, que desem-
xofre atmosférico ocorre principalmente
penham papéis cruciais na chuva ácida e na des-
como sulfeto de carbonila (COS), que tem
truição do ozônio . As fontes dessas espécies são:
uma vida de aproximadamente um ano . A
• Espécies nitrogenadas. As espécies reativas conversão do gás H 2 S em partícu las de en-
do nitrogênio são o óxido nítrico (NO) e o xofre é uma importante fonte de aerossóis
dióxido de nitrogênio (N0 2) . O termo NO x atmosféricos .
se refere a essas e outras espécies de nitro- Apesar de sua vida curta, o dióxido de
gênio com oxigênio. Sua principal signifi- enxofre é transportado facilmente por lon -
cância é como catalisador para a formação gas distâncias . Ele é removido da atmosfera
de ozônio troposférico . A queima de com- quando os núcleos de condensação de S0 2
bustíveis fósseis (aproximadamente 40% no são precipitados como chuva ácida com
transporte e 60% em outros usos energéti- ácido sulfúrico (H 2SO4) . A acidez da de-
cos) é a principal fonte de NO x (principal- posição em nevoeiros pode ser mais séria ,
9
mente NO), representando -25 X 10 kg N/ pois até 90% das gotículas do nevoeiro po-
ano . A queima de biomassa e a atividade dem se deposi tar.
de raios são ou t ras fontes importantes. As • A deposiçãoácida envolve a chuva e neve
emissões de NO x aumentaram em 200% ácidas ( deposição úmida) e a deposição
entre 1940 e 1980. A fonte total de NO x é de seca de particulados . A acidez da precipi-
9
aproximadamente 40 X 10 kg N / ano . Cerca t ação representa um excesso de íons posi-
de 25% desse total entram na estratosfera, tivos de hidrogênio [H+] em uma solução
onde sofrem dissociação fotoquímica, sen - aquosa . A acidez é medida . na escala de pH
do também removidos corno ácido ní trico (1 - log[H +]), que varia de 1 (mais ácido)
(HN0 3 ) na neve. Outras formas de nitrogê- a 14 (mais alcalino) ; 7 é neutro (isto é, os
nio também são liberadas como NH x pela cátions de h idrogênio são equilibrados por
oxidação da amônia e por animais domés- ânions de sulfato, nitrato e cloreto). As lei-
9
ticos (6-10 x 10 Kg N/ano) . turas máximas de pH no leste dos Estados
• Espéciessulfurosas. As espécies reativas são Unidos e na Europa são ~ 4,3.
o dióxido de enxofre (S0 2) e o enxofre re- Acima dos oceanos, os principais
2
duzido (H sS, DMS) . A origem do enxo .fre ân ions são Cl- e SO 4 - do sal marinho .
atmosférico é quase tota lmente antropogê- O nível basal de acidez na chuva tem pH
nica : 90% da combustão de carvão e óleo, aproximado de 4,8 a 5,6, pois o co2 atmos -
e grande par t e do resto vem da fundição férico reage com a água para formar ácido
de cobre. As principais fontes são dióxido carbônico . As soluções ácidas na água da
de enxofre (80-100 x 109kg S/ano), sulfe- chuva são formadas por reações envol-
9
to de hidrogênio (H 2S) (20-40 x 10 g SI vendo a química da fase gasosa e da fase
ano) e su lfeto de dimetila (DMS) (35-55 x aquosa com dióxido de enxofre e dióxido
9
10 Kg S/ ano). O DMS é gerado principal - de nitrogênio. Para o dióxido de enxofre ,
mente pela produtividade bio lógica perto caminhos rápidos são fornec idos por:
da superfície dos oceanos. As emissões de
S0 2 aumentaram em aproximadamente HOS02 + 0 2 ~ H0 2 + S0 3
50% entre 1940 e 1980 , mas diminuíram H20 + S0 3 ~ H 2 S0 4 (fase gasosa)
na década de 1990. A China é a princi -
pa l fonte de em issões , embora os Estados e H 20 + HS0 3 ~ H+ + S0 42- + H 20
Unidos tenham a maior contribuição per (fase aqL1osa)
16 Atmosfe ra, Tempo e Clima

O radical OH é um importante catalisador vadas; observações no sudoeste da China


na reação gasosa, e o peróxido de hidrogê- mostram níveis seis vezes maiores que os
nio (H 20 2), na fase aquosa. de Nova York. No inverno , no Canadá, a
A deposição ácida depende das con- neve contém mais nitrato e menos sulfa -
centrações de emissão, do transporte at- to do que a chuva, aparentemente porque
mosférico e da atividade química, do tipo a neve que cai arrasta o nitrato de forma
de nuvem , dos processos microfísicos das mais rápida e efetiva . Consequentemente,
nuvens e do tipo de precipitação. Observa - o nitrato explica cerca da metade da acidez
ções realizadas na década de 1970 no norte encontrada na neve. Na primavera, o derre-
da Europa e no leste da América do Norte , timento da neve causa um fluxo ácido que
em comparação com metade da década de pode ser prejudicial a populações de peixes
1950, mostram um aumento de duas a três em rios e lagos , especialmente nos estágios
vezes na deposição do íon hidrogênio e na de ovos e larvais.
acidez da chuva . As concentrações de sul - Em áreas com nevoeiro frequente , ou
fato na água da chuva na Europa aumen - nuvens em montanhas, a acidez pode ser
taram, nesse período de 20 anos , em 50% maior do que com a chuva; dados norte -
no sul da Europa e em 100% na Escandi - -americanos indicam valores de pH mé -
návia, embora tenha havido uma redução dios de 3,4 no nevoeiro. Isso resulta de vá-
posterior, associada aparentemente à redu- rios fatores. Pequenas gotículas de nevoeiro
ção nas emissões de enxofre na Europa e na ou nuvens têm uma área superficial maior,
América do Norte. As emissões oriundas níveis maiores de poluentes proporcionam
de carvão e óleo combustível nessas regiões mais tempo para reações químicas da fase
têm um elevado teor de enxofre (2-3 %) e, aquosa, e os poluentes podem agir como
como as principais emissões de S0 2 ocor - núcleos para a condensação das gotículas
rem a partir de chaminés elevadas , o S0 2 da neblina. Na Califórnia, valores de pH
é transportado facilmente pelos ventos bai - de 2,0-2,5 são comuns em nevoeiros costei -
xos. As emissões de NO ,x,por outro lado, ros. A água da neblina em Los Angeles tem
são principalmente de automóveis e, assim, concentrações elevadas de nitrato , devido
o N0 3- é depositado principalmente em ao trânsito de automóveis durante a hora
âmbito local . O S0 2 e o NO x têm tempos do rush matinal .
de residência de um a três dias na atmos- O impacto da precipitação ácida depen -
fera. O S0 2 não se dissolve com facilidade de da cobertura de vegetação , do solo e do
nas nuvens ou gotas de chuva, a menos que tipo de rochas . A neutralização pode ocorrer
oxidado por OH ou H 20 2, mas a deposição pela adição ,de cátions no dossel da vegetação
seca é bastante rápida . O NO é insolúvel em ou na superfície. Essa proteção é maior se há
água, mas é oxidado a N0 2 por reação com rochas carbonáticas (cátions de Ca, Mg); de
o ozônio e, finalmente, a HN0 3 (ácido ní - outra forma, a elevada acidez aumenta a lixi-
trico), que se dissolve com facilidade . viação normal de bases do solo.
No oeste dos Estados Unidos, onde
existem menos fontes importantes de emis -
4 Aerossóis
são, as concentrações do íon H +na água da Existem quantidades significativas de aerossóis
chuva. são de apenas 15-20% dos níveis ob - na atmosfera . Eles são partículas suspensas de
servados no leste, ao passo que as concen- sulfato , sal marinho, poeira mineral (particu -
trações dos ânions sulfa to e nitrato são de larmente silicatos ), matéria orgânica e carbono
um terço à metade das do leste. Na China, negro. Os aerossóis entram na atmosfera por
o carvão com elevado teor de enxofre é a meio de uma variedade de fontes naturais e an -
principal fonte de energia, e as concentra- tropogênicas (Tab ela 2.2) . Alguns se originam
ções de sulfato na água da chuva são ele - como partículas, que são emitidas diretamente
CAPÍTULO 2 Composição, massa e estrutura da atmosfera 17

Ta bela 2.2 Estimativas da produção de aerossó is, com menos de Sµm de raio (l 0 9 kg/ano) e
concentrações típicas perto da superf ície (µ g m -.J) em óreas remotas e urbanas

Concentr aç ão

Prod ução Remot a Urb ana

Nofural
Produção primá rio:
Sol marinho 2300 5- 10
Partícu las mi nero is 900-1500 o,5-5 11

Vulcân ica 20
Incênd ios floresta is e detritos 50
biológicos
Produção secundária (gás""' partícula):
Sulfatos de H2 S 70 1-2
Nitratos de NO. 22
Hidrocarbonetos vegetais conver tidos 25
Na tura l total 3600

Antropogên ica
Produ ção primária:
Partícu las mine ra is 0-600
Poeira industr ial 50
Combustão (carbono negro) 10
} 100-SOOt
(carbono orgân ico) 50
Produção secundária (gás""' partícula):
Sulfato de S0 2 140 0,5- 1,5 10-20
Nitratos de NO. 30 0,2 0,5
Combustão de biom assa (orgânicos} 20
Antropogênico tota l 290-890
Fontes : Ramon tha n et ai. 2001; Schime l et ai. 1996 , Bridgman 1990 .
Obs .: • 10 - 60µ,g m - J dura nte ep isódios de poeira do Soo ra so bre o Atlânt ico .
9
tPart ículos suspe nsas lota is. 10 kg = ITg.

para a atmosfera - partículas de poeira mine- "escurecimento global ,, foi invertido posterior-
ral de superfícies secas, fuligem de carbono da mente ("clareamento global ") (ver o Capítulo
queima de carvão e biomassa , e poeira vulcâni - 13). Outras fontes de aerossóis são os sais ma -
ca. A Figura 2.lB mostra suas distribuições por rinhos e a matéria orgânica (hidrocarbonetos
tamanho. Outros são formados na atmosfera veget ais e antropogêni cos). Em escala global,
por processos de conversão de gás para partícu - as fontes naturais são várias vezes maiores do
la (enxofre do S0 2 antropogênico e H 2S natural; que as ant ropogênicas , mas as estimat ivas são
sais de amônio derivados de NH 3; nitrogênio de varia.das. A poeira mineral é particularmente
NO x). Os aerossóis sulfata.dos, dois terços dos difícil de estimar, devido à natureza episódi ca
quais vêm de emissões de usinas termoelétricas de eventos eólicos e à considerável variabilidade
a carvão , desempenhavam um papel importan- espacial . Por exemp lo, o vento carrega aproxi-
12
te no controle dos efeitos do aquecimento glo- madamente lSOOTg (I0 g) de material cros ta!
bal , refletindo a radiação solar incidente duran- anualmente , a metade do Saara e da Penínsu-
te as décadas de 1960- 1980, mas esse chamado la da Arábia (ver Prancha 2.1). A maior parte
18 Atmosfe ra, Tempo e Clima

disso é depositada pelo vento sobre o Atlânti-


(A) 105........--------------~
co. Existe um transporte semelhante do oeste ç:j' Plumas

da China e da Mongólia para o leste, sobre o 1Q)


vulcânicas

Oceano Pacífico Norte. Partículas de grande ta - § 104 Tempestades


g flomstais d9ar8<a
manho originam-se da poeira mineral, do spray Cll
Q)
Q)
'C
da água do mar, e de esporos vegetais (Figura ,ta 1o3 Q)

2.l A), que mergulham rapidamente para a su - ~~


o ·e
,ca :::,
perfície ou são lavadas (carreadas) pela chuva (.},
· :i 8.
~

102 urt>anas
.o
depois de alguns dias. As partículas finas oriun - ·e: ~
1i'l §.
das de erupções vulcânicas podem residir de cS;101 o
wn a três anos na atmosfera superior. 'i::
As partículas pequenas (de Aitken) se for - &
:::,
IJ)
Origem
mam pela condensação de produtos de reações ~ 1 oc~ nica
~
da fase gasosa e de moléculas orgânicas e po -
límeros (fibras naturais e sintéticas, plásticos, 1o-1--.~--.--- ""T----...---..-----1
1o 2 1o 1
1 1o1 102 103
borrachas e vinil). Existem 500-1000 partícu- Diâmetro da partícula (µm)
3
las de Aitken por cm no ar sobre a Europa. (8)
As partículas de tamanho médio (modo de Núc leos de condensação do ar
ascendcnto ráp[do Wtken )
acumulação) originam-se de fontes naturais Núcloos de condensação
térmica íco(4......,.
como o solo, da combustão, ou acumulam-se 4
Rpg,ão do tt lturação mecân ica
por coagulação aleatória e por ciclos repetidos Q) Condensação
"O Ag regados polimerizadoo . \ do vapo!'
/'"' Poer a carreada oelo vento
de condensação e evaporação (Figura 2. lA ). o . mo léculas a,gàn ícas. etc.
, f 11>
.; Evaporação
Sobre a Europa, são encontradas 2000-3500
3
'.~
.D
t C<>mbustã.o'
condensa ~
do
spray mar inho

dessas partículas por cm • As partículas com


io MODOOE ,,.
J Detritos vegetais :
esporos. e:c .
diâmetros< 2,5µ,m (MP2,5) - que podem cau- PAATfCQlA
GIGANTE
sar problemas de saúde - são documentadas
separadamente. Partículas com diâmetros de
0,1-1,0µ,m são altamente efetivas ao espalhar a
radiação solar (Capítulo 3B.2), e as de 0,1µ,m de
Figura 2.1 Partícul as atmosfé r icos. (A}: distribuição
diâmetro são importantes na condensação das
de mosso, com uma representação dos processos
nuvens . Os efeitos climatológicos de aerossóis
superfície-atmosfera que cr ia m e modificam aerossóis
sobre a precipitação são complexos, e o impacto a tmosféric os, ilus tr ando os três modos de taman ho.
geral é incerto (ver p. 115). Os núcleos de Aitken são partículas sólidos e líquidas
Com essas generalizações sobre a atmosfe- que agem como núcl eos de condensação e capturam
. . -
ra, examinaremos agora as var1açoes que ocor - ions, lo go, desempenham um papel no e letrifica ção
dos nuvens. (B): d istribuiç ão do 6 rea superf icial por
rem na composição com a altitude, a latitude e
unidade de volume.
o tempo.
Fontes : {A); G l e n n E . Show , Univers ity of Alosko, Geophysics
lnstitute; (8): Slinn (1983).
5 Variações com a altitude
Podemos esperar que os gases leves (especial- solar e terrestre, o balanço de calor e a estrutura
mente o hidrogênio e o hélio) se tornem mais vertical da temperatura da atmosfera são afeta-
abundantes na atmosfera superior, mas a mis- dos consideravelmente pela distribuição desses
tura turbulenta em grande escala impede essa dois gases .
separação difusora até pelo menos 100 km aci- O vapor de água compreende até 4% da at-
ma da superfície. As variações que ocorrem na mosfera em volume (por volta de 3% em peso)
altura estão relacionadas com as fontes dos dois perto da superfície, mas apenas 3-6 ppmv (par-
principais gases não permanentes - vapor de tes por milhão em volume) acima de 10 a 12
água e ozônio . Como ambos absorvem radiação km. Ele é fornecido para a atmosfera pela eva -
CAPÍTULO 2 Composição, massa e estrutura da atmosfera 19

Prancha 2.1 Plumas de poeira sobre o Ma r Verme lho, sensor MODIS, em 15 d e janeiro de 2009. NASA.

poração da água superficial ou pela transpira - {A) Formação do ozônio


(Ciclo de Chapm an)
ção das plantas , e transferido pa ra níveis mais
elevados pela turbulência atmosfé rica . A tur - Radiação
Oxigênio uv Oxigênio 02 Ozônio
bulên cia é mais efetiva abaixo de 10-15 km e, molecula r
02
.. -
• atômico
o

03
como a densidade máxima possível do vapor de
água no ar frio é muito baixa (ver B.2, neste ca-
pitulo ), existe pouco vapor de água nas camadas
t 1 Radiação UV 1

superiores da atmosfera . (B) Destruição do ozônio


O ozônio (0 3) se concentra princ ipalmen-
1
te entre 15 e 35 km . As camadas super iores da
atmosfe ra são irradiadas pela radiação ultravio-
ío
3 +
í
X
f
02

xo
leta do Sol (ver C.l, neste capítulo) , que causa a 1 [ 1
quebra das moléculas de oxigênio em altitudes
acima de 30 km (0 2 ~ O + O). Esses átomos Figura 2.2 Ilustrações esquemáticas (A) do ciclo
de Chapman da formação do ozônio e (B) des truição
separados (O + O) podem então se combinar
do ozôn io. X é qualquer espécie que destrua o o.zônio
individualmente com outras mo léculas de oxi- (p.ex., H, OH, NO, CR, Br).
gênio para cria r ozônio, confo rme ilustrado Fonte: Holes (1996) Bulletin of the Americon Meteorologico l
pelo esquema fotoquímico simples : Society, Americo n Meteorologicol Socie ty.

02 + O + M ~ 0 3+ M de trê s corpos são raras a 80 a 100 km, devido


onde M represen t a a energia e o balanço de à baixíssima densidade da atmosfera , enquan-
momento proporc ionado pela colisão com um to, abaixo de 35 km, a ma ior parte da radiação
terceiro átomo ou molécula; esse ciclo de Chap- ultravioleta incidente já foi absorvida em níveis
man é mostrado na Figura 2.2A. Essas colisões maiores. Portanto , o ozônio é form ado princi -
20 Atmosfe ra, Tempo e Clima

paimente entre 30 e 60 km, onde as colisões en - Ambas as reações r esultam na conversão de 0 3


tre O e 0 2 são mais prováveis. O próprio ozônio para 0 2 e na remoção de todos os oxigênios li-
é instável; sua abundância é determi n ada por vres . Ou tro ciclo pode envolve r uma inte ração
três intera .ções fotoquímicas dife rentes. Acima entre os óxidos de clor o e bromo (Br) . Par ece
de 40 km , o oxigênio livre é destruído pr incipal - que o aumento em espécies de Cl e Br duran -
mente por um ciclo envolvendo oxigênio mole - te as décadas de 1970 a 1990 explica a redução
cular; entre 20 e 40 km, predominam os ciclos observada do ozônio estra tosfér ico sobre a An -
de NO x, enquanto , abaixo de 20 km, o responsá - tártica (ver Quadro 2.1). Um mecanismo que
vel é o rad ical de hidrogênio e oxigê nio (H0 2) . talvez promova o processo catalítico envolve
Outros ciclos impo rtantes envolvem as ca- nuvens estratosféricas polares, que podem se
deias de Cloro (CIO) e Bromo (BrO) em altitu- forma r durante a primavera austral (ou tub ro),
des variadas . Colisões com oxigênio monoató - quando as temperaturas caem para 185- 195K,
mico podem recriar oxigênio (ver Figura 2.2B), permi tindo a formação de partículas de gelo
mas o ozônio é destruído principalmente po r e água gelada de ácido nítrico (HN0 3). Toda -
ciclos envolvendo reações catalíticas , algumas via, está claro que as fontes antropogênicas de
das quais são fotoquímicas associadas à radia- gases-traço são o principal fator no declínio do
ção ultravioleta de ondas mais longas (2,3-2,9 ozônio . As condições no Ártico são um pouco
µ,m). A destruição do ozônio envolve uma re- diferentes, pois a estratosfera é mais quente e
combinação com o oxigênio atômico, causando existe mais mistu ra de ar de latitudes menores .
uma perda líquida de oxigênio livre . Isso ocor - Entretanto, atualmen te, são observadas redu-
re por meio do efeito catalítico de um radical ções no ozônio na primavera boreal na estratos -
como o OH (hidroxila) : fera ártica .
H+O~ H0 2 A me t amorfose constante do oxigênio
HO, + O~ OH+ O, para ozônio e de ozônio de vol ta para oxigênio
- - envolve um conjun to comp lexo de processos
fotoquímicos, que tendem a manter um equi -
OH+ O ~ H + 0 2
líbrio aproximado acima de 40 km . Todavia, a
Os átomos de hidrogênio livre e OH resultam razão de mistura do ozônio alcança seu máxi -
da dissociação do vapo r de água , hidrogênio mo aproximadamente a 35 km, ao passo que a
molecular e metano (CH 4 ) . concen t ração máxima de ozônio (ver No ta 1)
O ozônio estratosfér ico também é destru - ocorre mais abaixo, entre 20 e 25 km em lati -
ído na presença de óxidos de nitrogênio (NO x, tudes baixas e en tre 10 e 20 km em latitudes
isto é, N0 2 e NO) e radicais de cloro (CI, CIO) . altas . Isso é resultado de um mecanismo de
O gás-fonte do NO x é o óxido nitroso (N 20), circulação q ue transporta o ozônio para bai-
produz ido por combustão e uso de fertilizantes, xo, para níveis onde sua destruição é menos
enquanto os clorofluorcarbonetos (CFC), fabri - prováve l, permi t indo que haja um acúm ulo
cados para o "freon' : dão vazão aos cloros livres . do gás. Apesar da importância da camada de
Esses gases -fonte são transportados da superfí - ozônio , é essencial que se compreenda qu e, se
cie até a estra tosfera e convertidos por oxidação a atmosfera fosse comprimida ao n ível do mar
em NO x, e por fotodecomposição com UV em (na temperatura e pressão normais no níve l
radicais cloro, respectivamente . do mar) , o ozônio con tribuiria com apenas
A cadeia do cloro envolve : 3 mm da. espessura atmosférica to tal de 8 km
2 (Cl + 0 3 ~ CIO + O 2) (Figura 2.3 ).
CIO + CIO ~ Cl20 2
6 Varia~ões com a latitude e a
e estação
Cl + 0 3 --t CIO + 0 2 As variações da composição atmosférica com
OH+ 0 3 --t H0 3 + 20 2 a lati tude e a estação são particularmente im-
CAPÍTULO 2 Composição, massa e estrutura da atmosfe ra 21

portantes no caso do vapor de água e do ozônio tado unicamente de processos fotoquímicos, o


estratosférico . máximo ocorreria em junho perto do equador,
O teor de ozônio é baixo sobre o equador de modo que o padrão anômalo deve resultar
e alto em latitudes subpolares na primavera do transporte de ozônio em direção aos polos.
(ver Figura 2.3). Se a distribuição fosse resul- Aparentemente, o ozônio muda de níveis altos
(30-40 km) em latitudes baixas para níveis mais
baixos (20-25 km) em latitudes altas durante os
gQºN...,._-~~ -1_ 9~64~·~1_980
~-~-~ meses do inverno . Ali, o ozônio é armazenado
300 durante a noite polar, levando a uma camada
60° rica em ozônio no começo da primavera em
condições naturais . É esse aspecto que é pertur-
bado pelo «buraco" da camada de ozônio estra -
tosférica, que hoje se forma a cada primavera na
27s ._ _ _.1
Antártica e, em alguns anos recentes, também
215 no Ártico (ver Quadro 2.1). Ainda não conhe-
30° 300-=
------:;;::__-::: 32=s --- ._. cemos com certeza o tipo de circulação respon-
.- 356
375 sável por essa transferência, embo ra não pareça
60° ser simples e direta .
O teor de vapor de água da atmosfera está
90°S -1-...t...,...---1'--.,.ll...--.--------J.;,___j~-~ relacionado com a temperatura do ar (ver B.2,
AMJ J ASON D
neste capítulo, e os Capítulos 48 e C) e, portan-
gQºN-r-m-.----r--r-i1r-9r-84
~- 1r-9~93--r--r.-~"'T"1 to, é maior no verão e em latitudes baixas. Toda-
via, existem exceções óbvias a essa genera liza.-
60° ção, como as áreas tropicais desertas do mundo.
O teor de dióxido de carbono do ar, que ti-
30° nha uma média de 387 partes por milhão (ppm)
(1)
"O 50
em 200 7, apresenta uma grande variação sazo-
:J
:!: Oº nal nas latitudes maiores do Hemisfério Norte,
j 275 __________ , associada à fotossíntese e à decomposição na
30° --------= '300'3Z5---
350
biosfera . A SOºN, a concentração varia de 380
ppm no outono a 393 ppm na primavera. Os
60° baixos valores do verão estão relacionados com
a assimilação de C0 2 pelos mares po lares frios.
90ºS -1---.--'-.-...---.-----r...1.-1---4__.,.,._,'--r-'---1 Ao longo do ano, ocorre uma pequena transfe-
J F M A M J J A S O N D
rência líquida de C0 2 de latitudes baixas para
Fígura 2.3 Var iaçóo do ozônio total com a lat it ude altas, mantendo um equilíbrio nos teores do ar.
e a estação em unidades de Dobson* para dois in-
tervalos de tempo: (superior) 196 4- l 980 e (inferior) 7 VariaCjões com o tempo
1984 -1993 . Valores acima de 350 unidades estão
sombreados.
As quantidades de dióxido de carbono, outros
fonte : Bojk ov e Fioletov { 1995 ) Journo/ of Geophysica l
gases de efeito estufa e partículas na atmosfera
Reseo rch, 100(0 ), Fig . 15, p. 16, 548 . A mericon Geop hysical sofrem variações de longo prazo que podem ter
Union. um papel importante no balanço de radiação da
Terra . As medidas dos gases-traço atmosféricos
"' N. de R. ·r.:Uma VD = 2,6 X 10 mo léculas de D 3 cm - •
20 2
mostram aumentos em quase todos eles desde
A unidade Dobson é a medida da quantidade de ozônio em o início da Revolução Industrial, por volta de
uma coluna de ar na atmosfera , especialmente na estratos-
1750 (Tabe la 2.3) . A queima de combustíveis
fera. É a medida da espessura em cm da camad a de ozônio ,
assumindo que todo o ozônio fosse isolado e trazido ao nívd fósseis é a principal fonte dessas concentra-
domar. ções crescentes de gases-traço . O aquecimento,
22 Atmosfe ra, Tempo e Clima

o transporte e as atividades industriais geram de efeito estufa mais importantes são conside -
20
quase 5 X 10 J/ano de energia . O consumo de radas a seguir.
petróleo e gás natural representa 60% da ener - • Dióxido de carbono (C0 2). Os principais
gia global, e o carvão, por volta de 25%. O gás reservatórios de carbono estão em sedi-
natural é quase 90% me t ano (CH 4), ao passo mentos calcários e combustíveis fósseis. A
que a queima de carvão e óleo combus t ível li- atmosfera contém aproximadamente 800
12
bera não apenas C0 2, mas também nitrogênio X 10 kg de carbono (C), correspondendo
livre (NO x), enxof re e monóxido de carbono a uma concentração de C0 2 de 387 ppm
(CO) . Outros fatores relacionados com certas (Figura 2.4). Os principais fluxos de C0 2
práticas agrícolas ( desmatamento, agricultura, resultam da solução/dissolução no oceano
cultivo de arroz irrigado e pecuária ) também e da fotossíntese /respiração e decomposi-
contribuem para modificar a composição at- ção pela biota. O tempo médio necessário
mosférica. As concentrações e fontes dos gases para que uma molécula se dissolva no

2.1 Ozônio na estratosfera


As primeiras medições do oz.ônio fora m feitas na década de 1930 . Elos têm dua s propr iedades de inte-
resse: (1) o ozônio tota l em uma coluna atmosfér ica, q ue é med ido com o espectrofotômet ro de Dobson,
comparando o rad iação solar em um comp rimento de onda onde ocor re abso rção de ozônio com o de
o utro comp rimento onde esses efe itos estão ausentes; e (2) a distribuição vert ical do ozôn io, que pode
ser med ida po r sondagens qu ímicas da estratosfera, ou calculada na superf ície usando o método de
Umkehr; aqu i, mede -se o efeito do ângu lo de elevação do Sol sobre o espalhamento da rad iação solar.
As medidos do ozônio, iniciadas na An tórtico durante o Ano Geo físico de 1957-1958 , apresentavam um
ciclo anua l regu lar, com um pico no primavero austral (outubro a novembro ) à med ido que o ar rico em
ozônio das latitudes méd ias era transportado em direção aos po los qua ndo o vórt ice polar do invern o
no estratosfera se desfazia. Os valores diminuíam sazonal mente de 450 unidades de Dobson (DU ) na
pr imavera a 300 DU no verão, e contin uavam ap roximadamente nesse nível dur ante o outo no e o in-
verno. Os cientistas da British Anta rctic Survey observaram um padrão dif erente na Base Had ley a partir
da década de 1970 . Na prim avera, com o retorno da luz do Sol, os valores d iminuíram constantemente
entre 12 e 20 km de altitude. Também na década de 1970 , sondas começa ram a mapea r a distribuição
espac ial do ozôn io sob re as regiões po lares, revelando que os valores ba ixos formavam um núcleo
centra l, e passou a ser usado o termo " buraco da camada de ozôn io". Desde meados do década de
1970, os valores começam a diminuir no fina l do inverno e ago ra alcançam mfnimas de 95 -100 DU na
pri mavera austral.
Usando um limite de 220 DU (corr esponde ndo a uma camada de ozôn io f ina, de 2,2 mm , se todo
o gós fosse trazido à temperatura e pressão do nível do mar ), a extensão do bu raco da camada de
2
ozôn io ao final de setembro tinha uma méd ia de 21 milhões de km durante 1990-1999 . O buraco se
2
expand iu e cob ria 27 mflhões de km no começo de setembro de 1999 e em 2000 , e con tinuou nesse
nível até ,a primavera de 2006 .
No Art ico, as tempe raturas na estratosfera não são tão ba ixas quanto sobre a A ntárt ica, mas, nos
últi mos a nos, a dep leção do ozônio tem sido grande quando as tempe rat uras caem mu ito aba ixo do
no rm al na estratosfera no inverno . Em fevere iro de 1996 , por exemp lo, fo ram reg istrados tota is po r
coluna co m média de 330 DU para o vórtice ártico, com parados com 360 DU ou mais pa ra os outros
anos . U ma série de miniburacos fo i observada sobre a Groenlând ia, o Atlêintico
, Norte e o norte da Eu-
ropa, com um mínim o absoluto aba ixo de 180 DU sobre a G roenlând ia. E menos prov6ve l que um bu -
raco amp lo se desenvolva na camada de ozônio sobre o Á rtico, pois sua circulação estratosfé rica mais
dinâ mica, comparada com a da Antó rtica, transporta o ozôn io das latitudes méd ias para os polos .
Para combat er as reduções no ozôn io, o Protocolo de Mo ntrea l foi assinado internaciona lmente em
1987, para reduzir a prod ução de substâncias consideradas respons6 veis pela dep leção do ozôn io. As
concen trações dos cloroflu orcarbo netos (CFC) ma is importa ntes se estab ilizara m ou diminuíram, mos o
tamanho do buraco na camada de ozônio ainda não reag iu.
CAPÍTULO 2 Composição, massa e estrutura da at mosfera 23

Tabela 2.3 Mudanças ontropogênicos no concentração de gases -troço a tmosféricos

Concentração Aumento anua l


Gás 1850· 2008 (% ) 1990s Fontes

Dióxido de carbono 280ppm 385ppm 0,4 Combust íveis fósseis


Metano 800ppbv 1775ppbv 0,3 Arroza is irrigados,
godo, ba nhodos
,
Oxido nitroso 280ppbv 320ppbv 0,25 Atividade
microbio lóg ica,
fertilizantes,
combust íveis fósseis
CFC- 11 o 0,27ppbv freon t
HCFC-22 o 0,1 lppbv Substituto CFC
Ozôn io (troposfera) ? 10-SOppbv Reações fotoqu ímicos

Fontes: Atua lizado de Schim el et a i. (1996), in Houghton et o i. (1996 }.


Obs .: •os nfveis pré -ind ustr iais deriva m principa lmente de med ições em testemunhos de ge lo, ande bolhas de a r fica m
a prision ados à med ido que o neve se acu mula nos man tos de gelo polar . -Produção começo u no década de 1930 .
ppm = pa rtes por milhão; pp bv = part es por bilhão em volume .

Desmatamento

2 Atmosfera750 +4/eno

120 63 54 90 88
7

Mudanças Biota
no uso terrestre
550
da 1erra 2
50 Oceano superf icia l 1000 +1/ano
Queima de
Solo e Rios
combus tíveis
detritos 0,8 34
fósseis 2000 Biota 3 -i----45

11 33 42
Combustível
fóssil
recuperável
1000 Águas intermediárias e profundas
38000 +2/ano

0,2

1 Sedimentação 0,5 1

9
Figura 2 .4 Reservatórios globo is de carbono (gigatoneladas de carbono (GtCJ: onde l Gt = l 0 toneladas
12 1
métr icos = l 0 kg) e fluxos anuais b rutos (GtC ano - ). Os números nos reservatórios sugerem o acúmulo anual
líquido devido a causas antropogên icos.
Fonte: Adap tado de Sundqu ist, Trabc lko, Bolin and Siegent hale r; IPCC (1990 e 200 1).
24 Atmosfe ra, Tempo e Clima

oceano ou seja absorvida por plantas é de 1750 D.C . e 2008 , estima-se que a concen -
aproximadamente quatro anos . A atividade tração de C0 2 atmosférico tenha aumenta -
fotossintética que leva à produção primária do em 38%, de 280 para 387 ppm , o maior
12
na Terra envolve 50 x 10 kg de carbono valor em 650.000 anos! (Figura 2.5). A me -
anualmente, representando 7% do carbono tade desse aumento ocorreu desde meados
atmosfér ico; isso explica a oscilação anual da década de 1960; atualmente, os níve is
observada no C0 2 no Hemisfério Norte de - atmosféricos de C0 2 estão aumentando
vido à sua extensa biosfera terrestre. em 1,5-2 ppmv por ano . A princ ipal fonte
Os oceanos desempenham um papel líquida é a queima de combustíveis fósseis ,
12
fundamental no ciclo global do carbono . represen tando hoje 6,55 x 10 kg C/ ano.
A fotossíntese do fitoplâncton gera com - O desmatamento e os incêndios tropicais
12
postos orgânicos de dióxido de carbono podem contribuir com mais 2 x 10 kg C/
aquoso. Depois de um tempo, parte da a.no; a cifra ainda é incerta . Os incêndios
matéria orgânica afunda na água mais pro- destroem apenas a biomassa acima do solo,
funda, onde sofre decomposição e oxida - e uma grande fração do carbono é arma -
ção, transformando-se novamente em di- zenada como carvão no solo. O consumo
óxido de carbono. Esse processo t ransfere de combustíve is fósseis na verdade deve ter
dióxido de carbono da água superficial e o produzido um aumento de quase o dobro
sequestra no oceano profundo . Como con - do observado . A absorção e a dissolução
sequência , as concentrações atmosféricas nos oceanos e na biosfera terrestre expli -
de C0 2 podem ser man tidas em um nível cam a diferença.
mais baixo do que ocorreria . Esse mecanis- O dióxido de carbono tem um impac -
mo é conhecido como "bomba biológicá '; to significativo sobre a temperatura global,
mudanças de longo prazo em su.a operação por meio da absorção e reemissão de radia -
podem ter causado o aumento no C0 2 at- ção da Terra e da atmosfera (ver Capítulo
mosférico ao final da última glaciação. A 3C) . Cálculos sugerem que o aumento de
produtividade da biomassa oceânica é li- 320 ppm na década de 1960 para 387 ppm
mitada pela disponibilidade de nutrientes (2008) elevou a temperatura do ar superfi-
e pela luz . Assim, ao contrário da biosfera cial em 0,6ºC (na ausência de outros fato -
terrestre, aumentar os níveis de C0 2 não res). A taxa de aumento do C0 2 desde 2000
afe t a necessariamen t e a produtividade tem sido de cerca de 2 ppm /ano , compara -
oceânica; os influxos de fertilizantes em da com menos de 1 ppm na década de 1960
rios podem ser um fator mais significativo. e 1,5 ppm na de 1980.
Nos oceanos , o dióxido de carbono acaba Pesquisas com testemunhos de gelo
gerando carbonato de cálcio , em parte na profundos coletados na Antártica per -
forma de conchas e esqueletos de criatu - mitem que as mudanças na composição
ras marinhas. Na terra, a matéria morta se atmosférica passada sejam calculadas,
torna húmus , que pode subsequentemente extraindo-se bolhas de ar aprisionadas em
formar um combustível fóssil. Essas trans - gelo an tigo. Essas análises mostram gran -
ferências dentro dos oceanos e da litosfera des variações naturais na concentração de
envolvem escalas de tempo muito longas, C0 2 ao longo dos ciclos de eras glaciais (Fi-
comparadas com as trocas envolvendo a gura 2.6). Essas variações de até 100 ppm
atmosfera . foram contemporâneas de mudanças de
Conforme mostra a Figura 2.4, astro - temperatura estimadas em 1OºC. Essas va -
cas entre a atmosfera e os outros reserva tó- riações de longo prazo no dióxido de car -
rios são mais ou menos equilibradas . Ainda bono e no clima são discu tidas novamente
assim, esse equilíbrio não é absoluto ; entre no Capítulo 13.
CAPÍTULO 2 Compos ição, massa e estrutu ra da atmosfera 25

500 l

480 A/ j

'5' 460 Tendências projetadas: A B / ' .,.,,,"


E l ,;
a. 440 , .,," e
-o
a.
N 420 I
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e:
CD 340
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Testemunho ... .""
o de gelo Siple
Estimativas de
300 Callendar
280
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Macht a
Mauna Loa

260
1800 1820 1840 1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 2020 2040 2060
Ano

Figura 2.5 Co ncentração estimado de dióx ido de carbono: de sde 1800, a partir de bolhas de ar em um tes-
temunho de gelo antártico, pr imeiros med idos de 1860 -1960; observações em M a uno Loa, Havoí, desde 1957;
e tendênc ias proje tados para este século .
fonte : Keeling , Co llendo r, Moch to, B, oecker e outros.
Obs. : {o) e {b) indicam d ife ren tes cenór ios do uso global de combustíveis fósseis {IPCC, 2001 ).

300
• A concen t ração d e metano (CH 4 )
280 (1,775 ppbv) é mais que o dobro do nível
pré -industr ial (750 ppbv} . Ela vinha au -
> 260 C0 2
E mentando em aproximadamente 4-Sppbv
a. 240
-
a.
N
0 220
2,5
por ano na década de 1990, mas essa t axa
se aproxima de zero desde 1999-2000 (Fi-
u
o gura 2.7) . Por razões desconhecidas, as
200
ºC ~
3 concentrações aumentaram novamente em
180 - 2,5 ~
2008. O metano tem um tempo de vida de
-
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aproximadamente nove anos na atmosfera,
........ e é responsável por aproximadamente 18%

-10 •O
-
-7, 5 ()
do efeito estufa . As popu lações de gado
aumentaram em 5%/ano ao longo de 30
anos, e a área de arroz irrigado , em 7%/ano,
160 120 80 40 o
Mílhares de anos (AP) embora não se saiba se isso explica quanti -
t ativamente o aumen to anual de 120 ppbv
Figura 2.6 M ud anças na concentraç ã o at mosféri- no teor de me tano, observado ao longo da
co de C0 2 (ppmv: p a rtes por milhão em vo lume) e última década . A Tabela 2.4, que mostra a
est imativas dos desvios re sultan tes no temperatu ra liberação e o consumo médios anuais , in-
glo ba l o partir do valor atual observado no a r a pri-
dica as incertezas em nosso conhecimento
sio na do em bolhas no gelo em teste m unhos cobrindo
160.000 anos em Vostok, An tó rtic o . sobre suas fontes e sumidouros .
Fanfe; Our Fufure Wor ld, Natural Enviro nment Reseorch
• O óxido nitroso (N 20), relativamente iner -
Co uncil (NERC) 1989. t e, or igina-se p rincipalmente da at ivida -
de microbiana (nitr ifica~ão ) nos solos e
nos oceanos (4 a 8 x lO~g N/ ano) , com
26 At mosfer a, Tem po e C lim a

2000 d.C.
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500
1000 500 300 200 100 50 25 10
Tempo (anos AP)

Figura 2.7 Concentração de metano (portes por milhão em volume) nas bolhas de ar ap risionadas em gelo de
1000 anos AP obtida de testemunhos de gelo na Groe nlând ia e na Antártida e a média glob al para 2000 d.C . (X).
Fonte : Dados de Rosmussene Khalil, Craig e Chou, e Robbins; Modificado de Bolin et oi. {eds) The G ree nho use Effecf, Climot ic
Change, ond Ecosyste ms {SCOPE29). Copyright © 1986 . Reimpressocom permissãode John Wiley & Sons, lnc.

9
Tabela 2.4 Liberação e co nsumo a nuais méd ios aproximadamente 1,0 x 10 kg N /ano de
de CH 4 (T9 = 10~2) processos indus tria is. Outras fontes antro -
Média Amp litude pogênicas importantes sã.o os fertilizan-
tes nitrogenados e a queima d.e biomassa.
(A)Liberoçõo A concentração de N 20 aumentou de um
A' reas úm idos natu rais 115 100-200 nível pré -industrial de aproximadamen te
Arroza is 110 25- 170 285 ppbv para 320 ppbv (no ar limpo ). Seu
Fermentação entér ica 80 65- 110
(momíferos)
aumento começou por volta de 1940 e está
45
em cerca de 0,8 ppbv /ano (Figura 2.8A). O
Prospecção de gós 25-50
Que ima de biomassa 40 20-80 principal sumidouro de N 20 está na estra -
Térm ites 40 10-100 tosfera, onde é oxidado para NO x.
Lixões e ate rros 40 20-70 • Os clorofuorcarbonetos(CF 2Cl 2 e CFC13) ,
Tota l c. 530 mais conhecidos como "freons >' CFC-11
e CFC- 12, respectivamente, começaram a
(BJConsumo ser produzidos na década de 1930 e hoje
10
Solos 30 15-30 têm uma carga atmosférica total de 10
Reação com OH 500 400-600 kg. Eles aumentaram em uma taxa de 4-5%
Tota l c. 530 a.o ano até 1990, mas o CFC-1 1 dim inuiu
lentamente desde a metade da década de
Fonte: Tetlow-Smith (l 995).
1990, e o CFC - 12 mantém -se está tico,
depois de um pico em 2003, como resulta -
CAPÍTULO 2 Composição, massa e estrutura da atmosfera 27

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M ilhares de anos {AP ) Jul Ago Set Out Nov Dez

Figura 2.8 Concentração de (A) óxido nitroso, N2 0 Figura 2 .9 Med ições do ozôn io total de ozôniosson -
(escalo à esquerd a), que aumen tou desde o meta d e das sob re o Polo Sul para 1967-197 1, 1989 e 200 1,
do século XVIII e espec ialme nte des de 1950; e de (B) mos tra ndo um apro fundame nto do buraco da cama -
CFC - 11 desde 1950 (esc a la à direita). Ambos em da de ozônio na Antórtica.
par tes por bilhão em volume (pp bv). Fonte : Climote Mon iloring ond Diognos t ics lo borotory ,
fo nte : IPCC {1990 e 200 1). NOAA .

do dos acordos do Protocolo de Montreal de ozônio" sobre a regi.ãopolar sul (ver Qua-
para reduz ir a produção e usar substitutos dro 2.1). Reduções semelhantes também são
(ver Figura 2.9B). Embora sua concentra- evidentes no Árti co e em latitudes menores.
ção seja <1 ppbv, os CFC explicam qu ase Entre 1979 e 1986, houve uma redução de
10% do efeito estufa . Eles têm um tempo 30% no ozônio na altitude de 30-40 km entre
de residê.ncia de 55-130 anos na atmosfera . as latitudes de 20 e SOºN e S (Figura 2.10);
Embora a substituição dos CFC por hiclro- além disso, houve um aumento no ozônio
halocarbone tos (HCFC) possa reduzir sig-
nificativamente a depleção do ozônio estra - 10 km
tosfér ico, os HCFC ainda têm um grande 9
• MAM
45
potenc ial como gases de efeito estufa.
• SON

8 40
• O ozônio (0 3) se distribui de forma bastante
desigual com a altura e a latitude (ver Figura 7 35
2.4) como resultado da complexa fotoqui - 6 30
mica e.nvolvida em sua produção (A.2, neste
5 26
capítulo). Desde o fmal da década de 1970,
foram detectados declínios significativos no 4 21

ozônio total na primavera em latitudes me- 3 17


rid ionais elevadas. A elevação normal no 2 12
ozônio estrato sférico associada ao aumento
na radiação solar na primavera aparente - - 1O - 8 -6 -4 -2 O 2 4 6
mente não ocorreu. Observações realizadas % de mudança por década
na Antárt ica mostram uma redução no ozô-
nio total de setembro a outubro, de 320 DU Figura 2 .1O Mudanças no teo r de ozônio estratosfé -
(3mm à temperatura e pressão atmosférica rico (% po r décad a) de março a ma io e de setembro a
novembro 1978- 1997 sobre a Europa (composição de
normais ) na década de 1960 para em torno
Belsk, Polônia, e Arosa, Suíça , e Obse rvat 6r io de Hau-
de 100 na década de 1990. Medidas de satéli- te Provence, França) baseadas em medidas umkehr.
te do ozônio estratosférico (Figura 2.9) ilus- Fonte : Ada ptado de Bojkov e t a i. (2002) Mcteoro logy and A f.
tram a presença de um "buraco na camada mospher ic Physics, 79, p. 148, Fig. 140.
28 Atmosfe ra, Tempo e Clima

nos 10 km inferiores como resultado de ati- mamente irregulares (ver Figu ra 2.11), mas
vidades antrópicas. O ozônio troposférico as emissões vulcânicas individuais se di -
representa em torno de 34 DU, comparado fundem de forma rápida geograficamente.
com 25 na era pré-industr ial. Essas mudan - Conforme mostra a Figu ra 2.12, uma forte
ças na distribuição vertical da concentração circulação de ven t os de oeste carregou a
de ozônio provavelmente levarão a altera- poeira do El Chichón em uma velocidade
1
ções nos processos de aquecimento atmosfé - média de 20 m s- , de modo que ela envol -
rico (Capítulo 2C) , com implicações para as veu o globo em menos de três semanas. O
tendências climáticas futuras (ver Capítulo espalhamento da poeira do Krakatoa em
11). O total da coluna média global diminuiu 1883 foi mais rápido e mais amp lo, devido
de 306 DU em 1964-1980 para 297 em 1984- à maior quan tidade de poeira fina lançada
1993 (ver Figura 2.4) . O declínio observado à estratosfera. Em junho de 1991, a erupção
nos últimos 25 anos excedeu os 7% em lati- do Monte Pinatubo nas Filipinas injetou
tudes médias e altas. 20 megatoneladas de S0 2 na estratosfera .
Os efeitos da redução no ozônio estra- Contudo, apenas 12 erupções produziram
tosférico são particularmen te importantes cortinas de poe ira mensuráveis nos últimos
por seu dano biológico potencial às células 120 anos, e ocorreram principalmente en -
vivas e à pele humana. Estima -se que uma tre 1883 e 1912, e entre 1982 e 1992.
redução em 1% no ozônio to tal aumente a As erupções vulcânicas, que injetam
radiação ultravioleta Bem 2%, por exem - poeira e dióxido de enxofre na estratosfe-
plo, e a radiação ultravioleta a 0,30 µ,m é ra, causam um pequeno déficit no aque -
1.000 vezes mais prejudicial para a pele do cimento superficial, com um efeito global
que a 0,33 µ,m (ver Capítulo 3A). A redu - de --0,1 ºC a -0,2 º C, mas que é efêmero, du -
ção no ozônio também seria maior em la - rando apenas um ano depois do evento (ver
titudes maiores . Todavia, os gradientes de Quad r o 13. 1). Além disso, a menos que a
radiação latitudinais e altitudinais médios erupção seja em latitudes baixas, a poeira e
implicam que os efeitos de um aumento de os aerossóis de sulfato permanecem em um
2% no UV -B em latitudes médias poderiam hemisfério e nã.o cruzam o equador .
ser compensados pelo movimento de 20 A contr ibuição de partículas criadas
km em direção aos polos ou 100 m mais pelo homem (principalmente os sulfa tos e
abaixo em altitude! Observações polares a poeira mineral) tem aumentado de forma
recen tes sugerem mudanças consideráveis. progressiva, e hoje explica cerca de 30 %
Os totais de ozôn io estratosférico obser - da carga troposférica total de aerossóis . As
vados na década de 1990 sobre a estação emissões de sulfatos diminuíram na Euro -
Palmer, na Antártica (65ºS), hoje mantêm pa e América do Norte desde a década de
níveis baixos de setembro ao começo de de - 1990, mas aumentaram no sul e leste da
zembro, em vez de se recuperarem em no - Ásia; as emissões globais de sulfato dimi -
vembro. A partir daí, a altitude do Sol tem nuíram desde a década de 1980 . O efeito
sido mais alta e a radiação incidente tem geral dos aerossóis na atmosfera inferior é
sido muito maior do que nos anos anterio - incerto; os po luentes urbanos geralmente
res, especialmente a comprimentos de onda aquecem a atmosfera por absorção e redu -
~ 0,30 µm. Todavia, os possíveis efeitos do zem a radiação solar que alcança a superfí -
aumento na radiação UV sobre a biota ain - cie (ver Capítulo 3C ). Os aerossóis podem
da precisam ser determinados . reduzir o albedo plane tário acima de uma
• A carga de aerossóispode mudar por causa superfície de albedo elevado , como um
de processos naturais e ant ropogênicos. As deserto ou camada de neve , mas aumentá -
concentrações de partículas atmosféricas -lo sobre uma superfície oceânica . Desse
derivadas da poeira vulcânica são extre - modo, é difícil avaliar o papel global dos
CAPÍTULO 2 Compos ição, massa e estrutura da atmosfe ra 29

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1300 1400 1500 160 0 1700 1800 1900 2000


Ano {d .C.)

Figura 2 .11 Regist ro de erupções vulcânicas no lestemu nho de gelo G ISP 2 e pro fu nd idade ótica visível cali-
brada para 1300-2000 d .C., com os nomes de er upçõ es vulcânicas importantes.
Obse rve que o regis tro reflete e rupções no Hemisfé rio No rte e no região equa torial; as est imativas do profund idade ótico de -
pe ndem da lat itude e da téc nico usado paro calibração .
Fonte : Modifico do de Zie linski (1995 ) Jaurnal of Geophysica l Reseorch, 100(010 ), p. 20,950, Fig. 6.

aerossóis troposféricos, embora a maioria Essas leis implicam que as três qualidades
das autoridades considere que hoje é de da pressão, temperatura e volume são completa -
resfriamento. mente interdependentes , de modo que qualquer
mudança em uma delas causará uma mudança
de compensação em uma ou nas outras duas. As
B A MASSA DA ATMOSFERA
leis dos gases podem ser combinadas e gerar a
Os gases atmosféricos obedecem algumas leis seguinte relação:
simples em resposta a mudanças na pressão e
PV=RmT
temperatura. A primeira, a lei de Boyle, postula
que, em uma temperatura constante, o volume onde m = massa de ar e R = uma constante ga-
( V) de uma massa de gás varia inversamente à sosa para o ar seco (287 Jkg- 1 K- 1) (ver Nota 3).
sua pressão (P), isto é, Se m e T são mantidos constantes, obtemos
a lei de Boyle; mantendo m e P fixos, obtemos a
p ;;;; kl
lei de Charles. Como é conveniente usar a den-
V
sidade, p (= massa /volume), em vez do volume
(k 1 é uma constante); e a segunda, a lei de Char-
ao estudar a atmosfera, podemos reescrever a
les, diz que, em uma pressão constante, o volu -
equação na forma conhecida como equação de
me varia diretamente com a temperatura abso-
estado:
luta (T) medida .em graus Kelvin (ver Nota 2):
P = RpT
V=k 2 T
30 At mosfer a, Tem po e C lim a

(A) 1883 {Ago - Nov}

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(B) 1982 {Abr il)


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Figura 2 .12 O espa lh amento do mater ial v ulca nico no atmosfera após grandes e rupções : (A) d istribuições
aproximadas de fenômenos celest iais ót icos observados, assoc iados ao espal h amento da poei ra vul ca nica do
Kroko too ent re o erupção de 26 de agosto e 30 de novembro d e 1883 ; (B) o espalhamento d a nuvem de poeira
vu lcdnica após a pr incipa l erupção do vu lcão EI Chichón no México em 3 de abril de 1982 . São mostrados
d istribuições em 5 , 15 e 25 de ab ri l.
Fo nte s: Russe ll a nd Arch ibo ld (1888 ), Simkin ond Fiske (1983), Ramp ino and Se lF (198 4), Robock ond Mot so n (1983 ). (A} co m
perm issão do Smithson io n lnslituli on .

Assim, a uma pressão qualquer, um au - 80


mento na tempe ratura causa redução na densi -
dade, e vice-versa . 70

60
1 Pressão total -
E 50
O ar é altamente compressível, de modo que -.!li::
Q)
u:::, 40
suas camadas inferiores são mui to mais densas
do que as superiores . Da massa total de ar, 50%
-~ 30
são encontrados abaixo de 5 km (ver Figura 20
2.13), e a densidade média diminui de cerca de
1,2 kg m- 3 na superfície para 0,7 kg m- 3 a apro -
ximadamen te 5000 m, perto do limite extremo 1:1___..::::==:::::::::=:::::::::.. ......
100 80 60 40 20 O
para a habitabilidade humana .
% da massa tota l de ar abaixo
A pressão é medida como força por unida -
5
de de área. Uma força de 10 newtons atuando Figura 2 .13 Porcentagem da massa tota l da atmos -
2
sobre 1 m corresponde ao Pascal (Pa), que é a fer a ab a ixo de elevações de a té 8 0 km. Isso il ustra o
unidade de pressão do Sistema Internacional ca róter raso da at mosfera da Ter ra .
CAPÍTULO 2 Composição, massa e estrutura da atmosfera 31

(SI). Os meteorologistas ainda usam a unidade média, o nitrogênio contribui com aproxima-
2
m ilibar (mb); 1 milibar= 10 Pa (ou 1 hPa; h = damente 760 mb, o oxigênio com 240 mb, e o
hecto) (ver Apêndice 2). As leitu ras de pressão vapor de água com 1Omb. Em outras palavras,
são feitas com um barômetro de mercúrio , que, cada gás exerce uma pressão parcial indepen-
em efeito , mede a altura da coluna de mercú - dentemente dos outros .
rio que a atmosfera consegue sustentar em um A pressão atmosfé rica , que depende do
tubo de vidro vertical . A extremidade superior peso da atmosfera acima, diminu i logaritmica-
fechada do tubo tem um espaço com vácuo, mente com a altura . Essa relação é expressa pela
e sua extremidade inferior aberta fica imer- equaçãohidrostática:
sa em uma cisterna de me rcúr io. Exercendo ap
pressão de cima para baixo sob re a superfície az=-gp
de mercúrio na cisterna, a atmosfera consegue ou seja, a taxa de mudança de pressão (p) com
sustentar uma coluna de mercúrio no tubo de a altura (z) depende da gravidade (g) multipli -
aproximadamente 760 mm (29,9 pol. ou aproxi- cada pela densidade do ar (p). Com o aumen-
madamente 1013 mb) . O peso do ar sobre uma to da altura, a queda na densidade do ar causa
supe rfície no nível do ma r é de cerca de 10.000 um declínio nessa taxa de redução da pressão.
kg por metro quadrado. A temperatura do ar também afeta essa taxa ,
As pressões são padronizadas de três ma- que é maior para o ar denso frio (ver Capítulo
ne iras . As leituras de um barômetro de mercú- 7A.1). A relação entre a pressão e a altura é tão
rio são ajustadas para corresponder às de uma significativa que os meteorologistas em geral
temperatura padrão de OºC (para permitir a ex- expressam as elevações em milibar: 1000 mb re-
pansão térmica do mercúrio); são referenciadas presen tam o nível do mar , 500 mb representam
com base em um valor padrão de gravida .de de aproximadamente 5500 me 300 mb represen-
2
9,81 ms- na latitude de 45º (para permitir a leve tam em torno de 9000 m . Um nomograma de
2
variação latitudinal em g de 9,78 ms- no equa- conversão para uma atmosfera idealizada (pa-
dor para 9,83 ms - 2 nos polos); e são calculadas drão) é fornecido no Apêndice 2.
para o nível médio do mar para eliminar o efei-
to da elevação da.estação . Essa terceira correção 2 Pressão de vapor
é a mais importante, pois a pressão perto do ní-
vel do mar diminui com a altu ra em aproxima- A uma dada temperatura, existe um limite na
dame .nte 1 mb a cada 8 m . Deve-se supor uma densidade de vap,or de água no ar, com um con-
temperatura fictícia ent re a estação e o nível do sequente limite superior na pressão de vapor,
mar e, em regiões montanhosas, isso geralmen- denominada pressão de vapor de saturação (e.1 ).
te causa um viés na pressão calculada do nível A Figura 2.14A ilustra como es aumenta com a
médio do mar (ver nota 4). temperatura (a relação de Clausius -Clapeyron),
A pressão média no nível do mar (p0) pode alcançando um máximo de 1O13 mb ( 1 atmos -
ser estimada a partir da massa total da atmosfe - fera) no po nto de ebulição . As tentativas de in -
ra (M, a aceleração média da gravidade (g0) e o troduzir mais vapor no ar quando a pressão de
raio médio da Terra (R)): vapor está em saturação geram condensação de
uma quantidade equivalente de vapor . A Figura
Po =go(M/4 n RE2) 2.14B mostra que, enquanto a pressão de vapor
cujo de.nominador é a área superficial de uma de saturação tem um valor único a qualquer
Terra esférica . Substituindo os valores nessa ex- temperatura acima do ponto de congelamen to,
2
pressão : M = 5,14 x 1018kg, g0 = 9,8ms - , RE= abaixo de Oº C a pressão de vapor de saturação
6 5 2
6,36 X 10 m, temos p0 = 10 kg ms - = lOSNm- ,
2 acima de uma superfície de gelo é menor do
5
ou 10 Pascais. Assim, a pressão média no nível que acima de uma superfície de água supe r-
5
do mar é de aproximadamente 10 Pa, ou 1000 -resfriada. A significância disso será discutida
mb . O valor médio global é de 1O13,25 mb . Em no Capítulo SD.l .
32 Atmosfera, Tempo e Clima

Temperatura (ºF) C A ESTRATIFICAÇÃODA


-40 - 20 O 20 40 60 80 100
so~·_ _.__....__...__....
_______ -r-..., ATMOSFERA
(A)
A atmosfera pode ser dividida de maneira
40 ' conveniente em diversas camadas horizon -
tais diferenciadas, com base principalmen t e
_ 30 na tempera tura (Figu ra 2.15 ). As evidênc ias
.o
-E
lg 20
dessa estru tura vêm de balões meteoro lógicos,
pesquisas com ondas de rádio e, mais recente-
°'
e
:::,
mente, de siste.mas de son dagem em foguetes
'ta 10 · e satélites. Existem três camadas relativamente
(/)
Q)
quentes (perto da superfície; entre 50 e 60 km; e
~o ol·-=====:::::::
=--------~ acima de 120 km ), separada s por duas camadas
i 50 -.------------,---, relativamente frias (en tre 10 e 30 km; e 80-100
> (8)
Q)
"O 20 km ). As seçõe s relativas às temperatura s méd ias
o
l«l e de janeiro e julho ilust ram as cons ideráve is va-
~ 10 1
3
ã: riações latitudina is e as ten dênc ias sazonais que
~
a.. 5 ~ comp licam o esquem a (ver a Figura 2.15).
5 (1)
r.,
2 go 1 Troposfera
-s.
1 r.,
6'
A camada inferior da atmosfera se chama tro-
0,5 0,5 3 posfera . É a zona onde os fenômenos climá t i-

0,2
-"' cos e a turbulência at mosférica são ma is acen-
tua.dos, e contém 75% da massa molecular ou
gasosa total da atmosfera e pra ticamente todo
- 20 O 20 40 o vapor de água e aerossóis. Nessa camada, exis-
Temperatura {ºC)
te uma diminuição geral na temperatura com a
Figura 2 .14 Gr6ficos de pressão de vapor de satura- altura , a uma taxa média de aproximadamente
ção em função do temper atura (isto é, curvo do pon to 6,SºC/km . A redução ocorre porque o ar é com -
de orva lho): (A) diagrama semilo ga rítmico; (B) mostra pressível e sua densidade diminui com a altura,
que, abaixo de OºC, o pressão de vapo r de satur ação permitindo que o ar ascendente se expanda e,
at mosférico é menor em relação a uma superfície de
assim, resfrie. Além disso , a transferência tur -
gelo do que em relação a uma gota de 6gua. Assim,
pode have r condensação de um cr istal de gelo com
bulen ta de calor da superf ície aquece a atmosfe -
menos umidade do ar do que seria necess6rio paro a ra infer ior, e não a absorção direta de radiação.
formação de gotas de 6gua. A troposfera é limi tada na maioria dos locais
por um nível com inversão térmica (isto é, uma
A pressão de vapor (e) varia com a latitude camada de ar relativamente quente acima de
e a est ação, de aproximadamente 0,2 mb sobre um a cam ada ma is fria ) e, em outras, por uma
o norte da Sibéria em janeiro, a mais de 30 mb zona isotérmica com a altura. A troposfera, des -
nos t rópicos em julho, mas isso não reflete no sa forma, permanece, em grande medida, auto -
padrão de pressão superficial . A pressão di - contida, pois a inversão atua como uma «tampa
minui na superfície quando uma parte do ar que efetivamen te limita a convecção (ver Capí -
se desloca horizontalmen te e, de fato, o ar em tulo 4E). Esse nível de inversão ou teto climáti -
áreas de alta pressão em geral é seco por causa co é chamado de tropopausa(ver Nota 5 e Qua -
de fatores dinâmicos, particularmente o movi - dro 2.2) . Sua altura não é con stante no espaço
mento verti cal do ar (ver o Capítulo 7A.l ), ao e no tempo. Parece que a altura da tropopausa
passo que as áreas de baixa pressão costumam em um determinado ponto está correlacionada
ser úmidas. com a temperatura e pressão no nível do mar,
CAPÍTULO 2 Compos ição , massa e estrutu ra da atmosfera 33

11O
0,0001
100

0,001 90

0,01 - Mesopausa- Nuvensnoctilucentes 80

70
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0,1
Mesosfera
60
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1
50
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Região do 40
ozônio

10 30
sfera
N uvens
Máximo de
estratosféricas
polares
-
ozon10
'
20
'-J,./ ,,. ... ., ,

100 Cumulonimbus Cirrus


- Tropopausa

Troposfera
1000 o
- 100 -80 -60 -40 -20 o 20 (ºC)
1 1 1
1
J
1
-1 20
1 1 '
- 80
' 1
- 40
'
' o ' 1 1 ' 1 11 ' 1 '
40 80 (ºF)
11

f(gura 2.15 Distribuiçoo ver ti cal gener a lizada da temper a tu ra e pressão até ap rox imadame nt e 11O km . Ob-
serve par ticularmente a tropopaus a e a zona de conce ntraç ã o móxim a de ozô nio com a camada quente ac ima.
São ind icad a s os altitudes típicas das nuvens noctiluce ntes e estratos féricas polar es.
Fo n te : NASA (n.d .}. Cortesio do NASA.

que , por sua vez, estão relacionadas com altera- assim como as tropopausas (ver Figura 2.16),
ções lat itudinais, diárias e sazona is na pressão e o forte gradiente de temperatura em latitu -
superficial. Existem variações acentuadas na des médio-inferiores na troposfera é refletido
altitude da tropopausa com a latitude (Figura nas quebras da tropopausa (ver também Figura
2.16), de aproximadamente 16 km no equador , 7.8). Nessas zonas, pode haver trocas impor -
onde existe forte aquecimento e turbulência tantes entre a troposfera e a estratosfera, e vice-
convectiva vertical, a apenas 8 km nos polos . -versa . Traços de vapor de água podem penetrar
Os gradientes de temperatura do equador na estra tosfera por esse meio , enquanto ares-
aos polos (meridionais ) observados na tropos - t ratosférico seco e rico em ozônio pode descer
fera no verão e inverno são quase paralelos, à troposfera em latitudes médias . Desse modo,
34 Atmosfera, Tempo e Clim a

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20 Ferrei
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O 10 20 30 40 50 60 70 80
Latitude

Figura 2.16 Ventos zonais (de oeste) méd ios (isol inhos contínuos, em nós; valores nega tivos do leste) e tempera-
turas (emº(, isolinhos tracejadas), mostrando a quebro da tropopousa próxima à corrente de jato média de Ferrei.
Fonte : Boville (in Ha re 1962).
Obs .: O termo ºFerre i Weste rlies" fo i proposto por F. K. Hore em homenagem a W. Fe rrei (ver p . 179 }. As linhos prelos contí n uas
denota m os inversões do grad ien te de tempe ratu ra verlico I do Iro popa uso e da es trolopo uso . Verão e inve rno refe re m -se ao
Hemi sfério No rte .
CAPÍTULO 2 Compos ição, massa e estrutura da atmosfera 35

2.2 A descoberta da tropopausa e da estratosfera


As primei ras exp loraçõ es científ icas da at mosfera super ior come çaram com voos de ba lões tripulados
na metade do século XIX. Entre eles, é not6vel a viage m de G laisher e Cox em 1862 . Glaisher perdeu a
consciência devido à falta de oxigê nio a aprox imadame nte 880 0 m de altitude e quase não sobreviveu
à hipoxia. Em 1902 , Teisserenc de Bort, na França, relatou uma observação tota lmente inesperada: que
as tempe rat uras deixam de diminuir em altitudes de ap roxi,madame nte 12 km. De fato , em elevações
ma iores, normalmente obse rvava -se que os tempe raturas começavam a au mentar com a a ltitude. Essa
estrutura é most rado no Figuro 2.13.
Os term os troposfe ra (esfera tu rbulento) e estratosfe ra {esfera estratifi cada ) foram propostos por
Teisserenc de Bort em 1908 ; o uso do termo "tropopau so" paro denota r a inversão ou camada iso-
térm ica que as sepa ra foi proposto na Grã-Bretanha durante a Prim eiro Guer ra M undial. As feições
caracte rísticos do estratosfera são o sua estabi lidade em relação à troposfe ra, suo secura e suo alto
concentração de ozôn io.

são observadas concentrações de ozônio acima No vórtice circumpolar de baixa pressão , sobre
da méd ia na porção posterior de sistemas de ambas as regiões polares, nuvens est ratosféri-
baixa pressão em latitudes médias , onde a ele- cas polares ocorrem às vezes a uma altitude de
vação da tropopausa t ende a ser baixa. Esses 20-30 km . Elas têm uma apa rência perolada , e
fatos provavelmente resultam da subsidência podem absorve r nitrogênio e, assim, causar a
estratosférica , que aquece a estratosfera inferior destruição catalítica do ozônio .
e faz o ozônio desce r. As grandes alterações sazonais da tem pera-
tura afetam a estratosfera. A fria "noite polar "
2 Estratosfera estratosférica no inve rno do Ártico costuma so-
frer aquecimentos súbitosassociados à subs idên -
A estratosfera se estende da troposfera até apro -
cia devido a mudanças na circulação no fmal do
ximadamente 50 km e representa cerca de 10%
inverno ou começo da primavera, quando as
da massa atmosfér ica . Embo ra a t roposfera
temperaturas a 25 km podem saltar de -SOº C
contenha grande parte do ozônio atmosfé rico
a -40ºC em um período de dois dias . O resfria-
total (ele alcança uma densidade máxima em 22
mento de outono é um processo mais gradual.
km), as temperaturas máximas associadas à ab-
Na estratosfera t ropical, existe um regime de
sorção da radiaç ã o ultravioleta do Sol pelo ozô-
ventos quase bienal (26 meses ), com ventos de
nio ocorrem na estratopausa,onde podem ex-
leste na camada de 18 a 30 km por 12 a 13 me -
ceder os OºC (ver Figura 2.15) . A densidade do
ses, seguidos de ventos de oeste por um período
ar é mui to menor ali, de modo que mesmo uma
seme lhan te. A inversão começa primeiro em ní -
absorção limitada causa um grande aumento na
veis elevados e leva aproximadamente 12 meses
temperatura. As temperaturas aumentam em
para descer de 30 para 18 km (10 a 60 mb ).
geral com a altura no verão, com o ar mais frio
Até onde os eventos que oco rrem na estra-
na tropopausa equa toriaL No inverno, a estr u -
tosfera estão ligados a mudanças na tem peratu -
tura é mais complexa, com temperatu ras mui-
ra e na circulaç ã o na troposfera permanece sen -
to baixas, de - SOºC em média, na tropopausa
do tema para pesquisas me teoro lógic a s. Essas
equa torial, que é mais alta nessa estação. Tem-
interações sem dúvida são comp lexas.
peraturas baixas semelhan tes são encontradas
na estratosfera média em latitudes elevadas, ao
3 Mesosfera
passo que, em 50-60ºN , existe uma região no -
tavelmente quente , com condições quase iso- Acima da estra topausa , as temperaturas médias
té rmicas de aproximadamente - 45 a -50 ºC . chegam a um mínimo de aproximadamente
36 Atmosfe ra, Tempo e Clima

-133ºC (140K) a cerca de 90 km (Figura 2.15). superior e na exosfera sofrem amplas variações
Essa camada costuma ser denominada de me- diurnas e sazona is. Elas são mais altas durante
sosfera, embora ainda não exista uma termi n o- o dia e também durante máximas de luz solar,
logia unive r sal para as camadas atmosféricas embora as mudanças sejam apenas representa -
superiores . A pressão é muito baixa na mesos- das em variações na velocidade das moléculas
fera, diminuindo de 1 mb a 50 km para 0,01 esparsas de ar.
mb a 90 km . Acima de 80 km, as temperaturas Acima de 100 km, a radiação cósmica, os
começam a subir novamente, e essa inversão é raios x solares e a radiação ultravioleta . afetam
conhec ida como "mesopausà: As bandas de cada vez mais a atmosfera , causando ionização,
absorção de ozônio e oxigênio molecular con - ou carga elétrica, com a separação de elétro ns
tribuem para o aquecimento ao redor de 85 km com carga negativa de átomos neutros de oxi-
de altitude . É nessa região que as nuvens noc- gênio e mo léculas de ni trogên io, deixando o
tilucentessão observadas nas "no ites" de verão, átomo ou molécula com uma carga positiva lí-
particularmente em latitudes elevadas a uma al- quida (um íon). O termo ionosfera costuma ser
titude de 80-90 km . Sua presença parece se de - aplicado às camadas acima de 80 km. A Aurora
ver a partículas de poeira meteórica, que agem Boreal e a Aurora Aus tral são produzidas pela
como núcleos de cristais de gelo quando traços penetração de partículas ion izadas através da
de vapor de água são carregados para cima pela atmosfera de 300 km para 80 km, particular -
convecção de alto nível causada pela redução mente em zonas em torno de 10-20º de latitude
vertical na temperatura na mesosfera . Todavia , dos polos magnéticos da Terra . Ocasionalmen -
sua formação também pode estar relacionada te, porém, a aurora pode aparecer em altitudes
com a produção de vapor de água pela oxida - de até 1000 km, demons trando a imensa exten -
ção de metano atmosférico, pois elas não eram são da atmosfera rarefeita .
observadas antes da Revolução Industrial. As
camadas entre a t ropopausa e a termosfera in- 5 Exosfera e magnetosfera
ferior são chamadas de atmosferamédia, com a
A base da exosfera fica entre 500 km e 750 km .
atmosfera superior des ignando as regiões acima
Ali, átomos de oxigênio, hidrogênio e hélio
de 100 km de altitude.
( dos quais aproximadamen te 1% é ionizado)
formam a atmosfera rarefeita ., e as leis dos gases
4 Termosfera (ver B, neste capítulo) deixam de valer. Átomos
Acima da mesopausa, as dens idades atmosfé ri- neut ros de hé lio e hidrogênio, que têm pesos
cas são extremamente baixas, embora os efeitos atômicos baixos, podem escapar para o espa-
da inércia da atmosfera rarefeita arrastem veí - ço, pois a chance de colisões moleculares os
culos espaciais acima dos 250 km . A porção in - desviarem para baixo se torna menor à medi -
ferior da termosfera é composta principalmen - da que aumen ta a altura . O hidrogênio é subs -
te por nitrogênio (N 2) e oxigênio nas formas tituído pela decomposição de vapor de água e
molecular (0 2) e atômica (O), ao passo que, metano ( CH 4 ) perto da mesopausa, enquanto
acima de 200 km, o oxigênio atômico predomi - o hélio é produzido pela ação da radiação cós -
na sobre o ni trogênio (N 2 e N). As temperatu - mica sobre o nitrogênio e a partir da lenta mas
ras aumentam com a altura, devido à absorção constante quebra de elementos radiativos na
da radiação ultravioleta extrema (0,125 -0,205 crosta terrestre .
µ,m) pelo oxigênio molecular e atômico , pro - As partículas ionizadas aumentam de fre -
vavelmente se aproximando de 800 -1200 K a quência na exosfera e, além de 200 km, na mag -
350 km, mas essas temperatu ras são essencial - netosfera , existem apenas elétrons (negativos )
mente teóricas. Por exemplo , os satélites artifi - e prótons (positivos) derivados do ven to solar
ciais não captam essas temperaturas por causa - que é um plasma de gás conduzido pela ele-
do ar rarefeito. As a;temperaturas " na atmosfera tricidade .
CAPÍTULO 2 Compos ição , massa e estru tura da atmosfera 37

A atmosfera é uma mistura de gases com proporções constantes até 80 km ou mais . As exceções são
o ozônio , que se concentra na estratosfera inferior , e o vapor de 6gua na troposfera inferior. O pr inci -
pal g6s de efeito est ufo é o vapor de água . O di6x ido de carbono, metano e outros gases- traço au-
mentaram de formo sign if icativa desde a Revolução Industria l, espec ialmente no século XX, devido à
queimo de combust íveis f ósseis, a processos industriais e a outros efe itos ontropogênicos, mos houve
flutuações naturais maiores durante o passado geológ ico.
Os gases reativos são o nitrogênio e o enxofre, bem como espéc ies de cloro. Eles desempenham
papé is importantes na chuva ác ida e na destru ição do ozônio . A precipitação ác ida (por deposição
úmida ou seco) resu lta da reação de gotículas d e nuvens com emissões de S0 1 e NO ,,. Existem grandes
var iações geog ráficas na chuva ácida . Os processos que levam à destru ição do ozôn io estratosférico
são com plexos, mas os papéis de óxidos de nitrogênio e radica is de cloro são mu ito importantes como
causa d e buracos no camada de ozôn io po lar . Os oeross6 is or ig inam -se na atmosfera, a pa rtir de
fon tes naturais e a ntrop ogên icas, e desempenham um p a pe l importan te mos complexo no clima.
O ar é altamente compress ível, de modo q ue a metade da sua massa oco rre nos 5 km ma is bai -
xos , e a pressão dim inui log o ritmicamente com a a ltura, a part ir d e um valo r médio de 1013 mb no
nível do mar . A estrutura vert ica l da atmosfera compreende três ca mad a s relativamen te quen tes - a
troposfer a inferior , a estr atopaus a e a te rmosfe ra supe rior - sepa ra d as po r um a camada fr ia ac ima
d a tropopaus a (na estratosfera inf erior} e do mesopausa . O pe rfil d a temperatur a é determ inado pel a
a bsorção atmosférica de radiação so lar, e pe la redução da densid ade com a altitude .

• Qua is prop riedades d istinguem as camadas da at mosfera?


• Que d ife rença s existiri am em uma at mosfera seca , em comparação com a atmosfera real?
• Qua l é o pape l do vapor de água , ozôn io, d i6x ido de ca rbono, metano e CFC no ba la nço de rad ia -
ção da atmosfera?
• Dev ido ao forte grad iente de pressão a partir da supe rf ície, po r que não há um fluxo ascendente de
a r em g ra nde escala?

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CAPÍTULO 2 Composição, massa e estrutura da atmosfera 39

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•1a ao soar #Ili

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Depois de ler este cap ítulo, você:
• conhecer6 as características de radiação solar e do espectro eletromagnético;
• conhecer6 os efeitos da atmosfera sobre a radiação solar e terrestre;
• entende r6 e causa do efeito estufa atmosférico; e
• entenderó o balanço de calor da Terra e e importancia das transferênc ias hor izontais de energia
como calor sensível e latente.

Este capítulo descreve como a radiação do Sol da Terra). A quantidade de energia recebida no
entra na atmosfera e alcança a superfície. São topo da atmosfera é afetada por quatro fatores:
analisados os efeitos absorventes de gases e emissão solar, a distância entre o Sol e a Terra, a
dispersantes de aerossóis sobre a radiação so- altura do Sol e a duraçã .o do dia.
lar . Depois disso, a radiação terrestre de ondas
longas (infravermelho) é discutida para explicar 1 Emissão solar
o balanço de radiação . Na superfície, existe um
A energia solar origina-se de reações nucleares
balanço de energia devido às transferências adi -
dentro do núcleo quente do Sol (16 x 106 K), e é
cionais de calor sensível e latente para a atmos-
transmitida para a superfície do Sol pelara .dia-
fera. Finalmente, são apresentados os efeitos do
ção e convecção de hidrogênio . A radiação solar
aquecimento sobre as características da tempe-
visível (luz) vem de uma camada superficial ex-
ratura superficial.
terna e "frià, (~6000 K), chamada de fotosfera.
As temperaturas aumentam novamente na cro-
A RADIAÇÃO SOLAR mosfera exterior (10000 K) e na corona (106 K),
A fonte da energia injetada em nossa atmosfera que está se expandindo constantemente para o
é o Sol, que está constantemente liberando uma espaço. Os gases quentes (plasma) que emanam
parte da sua massa por meio de ondas irradian- do Sol, chamados de vento solar (com uma ve-
6 1
tes de energia eletromagnética e partículas de locidade de 1,5 x 10 km hr - ), interagem com
alta energia para o espaço . Essa emissão cons- o campo magnético e a atmosfera superior da
tante representa toda a energia disponível para Terra. A Terra intercepta a radiação eletromag-
a Terra (exceto por uma pequena quantidade nética normal e as partículas energéticas emiti -
que emana do decaimento radiativo de minerais das durante as explosões solares.
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 41

O Sol comporta-se pra ticamente como um as bandas de absorção na atmosfera, que fazem
corpo negro;ou seja, ele absorve toda a energia sua emissão ser muito menor do que a de um
recebida e irradia energia à taxa máxima pos - corpo negro equivalente . O comprimento de
sível para uma determina .da temperatura. A onda da emissão máxima (Â.max) varia inver -
energia emitida por um radiador perfeito de samente com a temperatura absoluta do corpo
uma certa temperatura em um determinado irra .diante :
comprimento de onda é desc rita po r uma re- 2897
lação proposta por Max Planck. As curvas do 11.max = 10-6m (Lei de \tvien)
T
corpo negro na Figura 3.1 ilustram essa relação . Assim, a radiação solar é muito intensa e prin -
A área em cada curva dá a energia total emitida cipalmente de ondas curtas entre 0,2 e 4,0 µm,
por um corpo negro (F); seu valor é encontrado com um máximo (por unidade de comprimen-
por integração da equação de Planck, conhecida to de onda) de 0,5 µ,m, pois T - 6000 K. A radia-
como lei de Stefan : ção terrestre, muito mais fraca com T :;:::;280 K,
F = CJ'T
4 tem intensidade máxima de cerca de 10 µme
variação de 4 a 100 µm .
onde CJ'= 5,67 x 10-e W m -2 K-4 (a constante de A constante solar passa por variações pe -
Stefan -Boltzmann ), isto é, a energia emitida é 2
riódicas de apenas 1 W m - relacionadas com
proporcional à quarta potência da temperatura a atividade das manchas solares . O número e
absoluta do corpo (T) . a posição das manchas mudam de maneira re-
A produção solar total para o espaço, pres- gular, fato conhecido como ciclos das manchas
supondo-se uma temperatura de 5760 K para o solares . As medições feitas por satélites durante
26
Sol, é de 3,84 x 10 W, mas apenas uma minús - o último ciclo apresen tam uma pequena redu-
cula fração disso é interceptada pela Terra, pois ção na produção solar à medida que o número
a energia recebida é inversamente proporcional de manchas solares se aproxima de seu mínimo,
ao quadrado da distância solar (150 milhões de e uma recuperação subsequente . As manchas
quilôme t ros) . A energia recebida no t opo da at- solaressão áreas escuras (ou seja, mais frias) vi-
mosfera sobre uma superfície perpendicular ao síveis na superfíc ie do Sol. Embora as manchas
feixe de luz solar para a distância solar média é solares sejam frias, áreas claras de atividade
denominada constantesolar (ver Nota 1). Medi - conhecidas como fáculas (ou plage.s),com tem-
das feitas por satélites desde 1980 indicam um peraturas maiores, as rodeiam (Prancha 3.1).
valor de cerca de 1366 W m- 2, com uma incer - O efeito líquido é que a produção solar varia
2
teza . absoluta de aproximadamente +2 W m - • paralelamente ao número de manchas . Assim ,
A Figura 3.1 mostra a faixa de comprimentos a ''irradiação " solar diminui em aproximada-
2
de onda da radiação solar (ondas curtas) e a mente 1,1 W m - do máximo para o mínimo
radiação infravermelha (ondas longas) emitida de manchas. Os ciclos das manchas solares têm
pela Terra e pela atmosfera . Para a radiação so - comprimen tos de onda médios de 11 anos (o ci-
lar, por volta de 8% são compostos de radiação clo de Schwabe, que varia entre 8 e 13 anos) , o
ultravioleta (0,2- 0,4 µm) , 40%, de luz visível ciclo magnético (Hale) de 22 anos, de maneira
(0,4-0, 7 µm) , e 52%, de radiação próxima à muito menos importante 37,2 anos (18,6 anos
infravermelha (>0,7 µ,m); (1 µm micrômetro= - a oscilação Lua-Sol) e 88 anos (Gleissberg) . A
10- 6 m). A figura ilustra as curvas de radiação Figura 3.2 mostra a variação estimada na ativi -
do corpo negro para 6000 K no topo de atmos - dade das manchas solares desde 1610. Entre os
fera (que excede levemente a radiação extra ter- séculos XIII e XVIII, a atividade das manchas
restre observada), para 300 K e para 263 K. A era baixa em geral, exceto durante 1350-1400
temperatura média da supe rfície da Terra é de e 1600-1645. A produção dentro da parte ul-
aproximadamente 288 K (lSºC) , e a da atmosfe - travioleta do espectro apresen t a considerável
ra, de 250 K (- 23º C). Os gases não se compor- variabilidade, com até 20 vezes mais radiação
tam como corpos negros, e a Figura 3.1 mostra ultravioleta emitida em determinados compri -
42 Atmosfera, Tempo e Clima

Principais bandas de absorção atmosférica


o H20 co2 H20 0 3 co 2
3500
Radiação do corpo negro a 6000 K (1,6 W m-2)

2000 ,
1
/ -J ', .. /
Radiação solar
extraterrestre
.- Solar incidente

I
I
fV',..-
~
\
(1370 W m-2) ·-ro
e
CI)
I \ e:
I \ LLJ Emissão terrestre
1000 I \
I

--e 500 I
I
I
I
I

"'1
::1. I o 5 10 15 20 25
E I µm
I
~ I
a, I Raio direto (incidência normaOde radiação
·-e> 200
Q) ' solar na superfície da Terra (907 W m-2 )

ás Radiação do corpo negro


Q)
"O 100 a 300 K (468 W m-2)
o
X
-o
;;J
'+-
50 Emissão infravermelha
"O
Q) estimada a partir da
"O superfície da
a,
"O Terra (70 W m-2)
·-
C/)
e
20
~

10

5 Radiação
do corpo
negro a
263K
2 (270 W m-2)

o,1 02
l 0,5 1,0 2,0 5,0 10 20 50 100
Comprimento de onda (µm)
• Ultravioleta- -----Visível--------- lnfravermelho------ -

Figura 3.1 D istrib uição espec tro I da rad iação so lar e terr est re, plotada loga ritm ico m ente, com as pr inc ipa is
bandas de abso rção at mosfér ico devido a gases-t raç.o (topo ). As ó reas sombreadas no espectro infr averme lho
ind icam as ºj anelas atmos fér icas" onde a rad iação escapa pa ra o espaço . A rad iação do corpo negro a 6000
K é o proporção do fluxo que seria inc idente no topo da at m osfera. O de ta lhe mos tra as mesmas curvas para
radiação incidente e em iti da com o comp ri mento de o nda plotado aritmeticame nl e em uma esca lo ve rt ical
a rb it ró rio.
Fonte : Se lle, s {l 965 ). Co rtesia de U nive rsity of Ch icago Pres s.
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 43

200
CI)

...
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1700 1710 1720 1730 1740 1750 1760 1770 1780 1790 1800

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1800 1810 1820 1830 1840 1850 1860 1870 1880 1890 1900

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1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

figura 3.2 N úmero de ma nchas solares an ua is poro a supe rfície vis ível do Sol no per íodo 1700-2005 .
Fa n fes : Reproduz ido de No tiona l Geophysico l Dato Cen ter, NOAA , Bou lder , Co lorado.
44 Atmosfe ra, Tempo e Clima

mentos de onda durante um período com mais ceis de provar , mas as temperaturas anuais mé -
manchas do que períodos com menos . dias foram correlacionadas com os ciclos sola-
Como traduzir a atividade das manchas res combinados de 10-11 e 18,6 anos. Supondo
solares em radiação solar e temperaturas ter - que a Terra se comporte como um corpo negro,
restres é questão de debate. Foi sugerido que o uma anomalia persistente de 1% na constante
Sol é mais ativo quando a duração dos ciclos de solar poderia mudar a tempera tura média efeti-
manchas solares é curta, mas isso é questioná - va da superfície da Terra em até 0,6ºC. Todavia,
vel. Todavia, as anomalias de temperatura so - as flutuações observadas de aproximadamen t e
bre áreas de terra no Hemisfério Norte estão in - 0,1 % mudariam a tempera tura global média
versamente correlacionadas com a duração do em ~ 0,06ºC (com base em cálculos de equilí -
ciclo entre 1860 e 1985. Períodos prolongados brio radiativo).
com um número mínimo (p.ex., 1645- 1715, o
Mínimo de Maunder) e máximo de manchas 2 Distância do Sol
(p.ex., 1895- 1940 e após 1970) geram um res -
A distância entre o Sol e a Terra, que muda a
friamento e aquecimento globais mensuráveis,
cada ano, gera variações sazonais na energia so-
respectivamente. A radiação solar pode ter re-
lar recebida pela Terra. Graças à excentricidade
duzido em 0,25 % durante o Mínimo de Maun -
da órbita terrestre ao redor do Sol, a recepção
der. Sugere-se que quase três quartos das varia -
de energia solar sobre uma superfície normal
ções na temperatura global entre 1610 e 1800
ao raio é 7% maior em 3 de janeiro no perié -
possam ser atribuídos a flutuações na radiação
lio do que em 4 de julho no afélio (Figura 3.3).
solar e, durante o século XX, existem evidên -
Em teoria (ou seja, descontando a interposição
cias de uma contribuição modesta da forçante
da atmosfera e a diferença no grau de condu -
solar. As relações de curto prazo são mais difí -
tividade entre grandes massas de terra e mar),
essa diferença deve produzir um aumento nas
temperaturas efetivas da superfície mundial em
janeiro de aproximadamente 4ºC em relação às
de julho. Ela também deve tornar os invernos
mais quentes no norte do que no Hemisfério
Sul, e os verões no sul mais quentes do que os
do Hemisfério Norte . Na prática, a circulação
de calor atmosférico e os efeitos da continenta -
lidade mascaram essa tendência global, e o con-
traste sazonal verdadeiro entre os hemisférios
se inverte. Além disso, o semestre de verão no
norte (21 de março a 22 de setembro ) é cinco
dias mais longo do que o verão austral (22 de
setembro a 21 de março). Essa diferença muda
lentamente; por volta de 10000 anos atrás, o afé-
lio ocorria no inverno no Hemisfério Norte, e
os verões do norte receb iam 3-4% mais radia -
ção do que atualmente (Figura 3.3B). Esse mes-
Prancha 3 .1 Imag em Hydrogen -Alpha do Sol em mo padrão retornará daqui a 10000 anos.
22 de janei ro de 1990, do espectrohelió grafo do Ob-
A Figura 3.4 ilustra graficamente as varia -
servató rio d e Paris. As 6reos claros ativas são deno-
minad as pfoges, e as bandas escuros são fil a mentos ções sazonais na recepção de energia conforme
relac ionados co m campos magnétic os (as manch as a latitude. As quan tidades verdadeiras dera .dia-
solares somente apa recem sob luz visível). ção recebida em uma superfície horizontal fora
fonte: Cories io de Notionol Geophys ico l Doto Center, NOM. da atmosfera são fornecidas na Tabela 3 .1. A
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 45

Equinócio
(A} (B)
20demarço Setembro
1
1
1
Dezembro - - - - - - - - -,- - 7- - Junho

1
1
1
Equinócio Março
20 de setembro
Presente 11.000 AP

(C)
Plano da elíptica
__.
'•,/ ......
1 I / Primavera
___...----~ ,/!1X' , /
/1 / ',,~ f
;// / --~---
"1 I
Inverno

11
Sol f
- • ..__,

"terra
\ta da

Figura 3.3 Mudanças no periélio: (AJ momento atual do periélio; (BJ direção de suo mudança e situação em
11000 anos AP; (C) geometria das estações a tuais (Hemisfério Norte).
Fanfe: Ado ptodo de Strohler ( 1965).

90ºS

f(gura 3.4 Variações na radiação solar com o la-


titude e a estação para to do o globo, pressupondo-
-se ausência de atmosfera. Essa premissa explica as 60ºS

quantidades elevadas anormais de radiação recebi-



das nos polos no veróo, quando a luz do dia dura 24
30ºN
horas todos os d ias. 60°N
90°N
Fanfe: W. M. Dav is. ( 1894).
46 Atmosfe ra, Tempo e Clima

intensidade em uma superfície horizon tal (Ih) é A combinação de todos esses fato res gera o
det erminada com: padrão de recepção de energia solar no topo da
atmosfera mostrado na Figura 3.4. As regiões
11,= 10 sen d
polares recebem suas quantidades máximas de
onde I0 = constante solar e d = ângulo entre a radiação solar durante seus solstícios de verão,
superfície e o raio solar . que é o período de dia contínuo. A quantidade
recebida durante o solstício de dezembro no
3 Altura do Sol Hemisfér io Sul é teoricamente maior do que
a recebida pe lo Hemisfério Norte durante o
A altura do Sol (isto é, o ângulo entre seus raios
solstício de junho, devido ao caminho elíptico
e o plano tangente à supe rfície da Terra no pon -
já mencionado da Terra ao redor do Sol (ver
to de observação) também afeta a quantidade de
Tabela 3.1). O equador tem dois máximos de
radiação solar recebida na superfície da Terra .
radiação nos equinócios e dois mínimos nos
Quanto maior a altura do Sol, mais concentrada
solstícios, devido à passagem do Sol duran te
será a intensidade da radiação por unidade de
seus dois movimentos anuais entre os Hemis-
área na superfície da Terra e mais curto será o
férios Norte e Sul.
caminho do raio através da atmosfera, diminuin-
do a absorção atmosfér ica. Além disso , existem
variações importantes relacionadas com a altura B INCIDÊNCIA DA RADIAÇÃO
solar na proporção da radiação refletida pela su- SOLAR NA SUPERFÍCIEE SEUS
perfície, particularmente no caso de uma super- EFEITOS
fície de água (ver B.5, neste capítulo). Os princi -
pais fatores que determinam a altura do Sol, são
1 Transferência de energia dentro
a latitude do local, a hora do dia e a estação {ver
do sistema Terra-atmosfera
Figura 3.3). No solstício de junho, a altura do Sol Até aqui, desc revemos a distribuição da radia -
está em um rúvel constante de 23 ½º no decor rer ção solar como se ela estivesse toda disponí-
do dia no Polo N arte , e o Sol está no zên ite ao vel para a superfície da Terra . Isso certamen te
meio -dia no Trópico de Câncer (23 ½º N). não é realista, por causa do efeito da atmosfe -
ra sobre a t ransferência de energia . A energia
4 Duratjão do dia térmica pode ser transferida por três mecanis-
mos:
A duração do período diurno também afeta a
quantidade de radiação recebida. Obviamente, 1 Radiação: ondas eletromagnéticas transfe -
quanto mais tempo o Sol brilha , maior a quan - rem energia (calor e luz ) entre dois corpos,
tidade de radiação que uma determinada por- sem a ajuda de um meio mate rial interve-
6
ção da Terra recebe . No equador , por exemplo, niente, em uma velocidade de 300 x 10 m
1
a duração do dia fica perto de 12 horas em to- s- (a velocidade da luz) . Isso ocorre com a
dos os meses, ao passo que, nos polos , ela varia energia sola r através do espaço, ao passo
entre O e 24 horas do inverno (noite polar) ao que a atmosfera da Terra permite a passa-
verão (ver a Figura 3.3). gem de radiação apenas em determinados

Tabe la 3.1 Radiação solar diária sobre um a superfície horizon tal foro do atmosfera: W m·2

Data 90 ºN 70 50 30 o 30 50 70 90 º5

21 de dez o o 86 227 410 507 514 526 559


2 1 de mar o 149 280 378 436 378 280 149 o
22 de jun 524 492 482 474 384 213 80 o o
23 de sei o 147 276 373 430 372 276 147 o
Fonte : Berger (1996) .
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 47

comprimentos de onda, e a restringe em o principal meio de transferência de calor


outros. atmosférico devido à baixa viscosidade
A rad iação que entra na atmosfera do ar e seu movimento quase contínuo . A
pode ser absorvida em certos comprimen- convecçãoforçada (turbulência mecân ica)
tos de onda por gases atmosféricos, mas, ocor re quando se formam redemo inhos
como mostra a Figura 3.1, a maior parte no fluxo de ar sobre superfíc ies irregulares .
da radiação de ondas curtas é transmiti- Na presença de aquecimento superficial, há
da sem abso rção . A dispersão ocorre se a convecçãolivre (térmica) .
direção de um fóton de radiação for alte-
A convecção transfere energia de duas for-
rada pela inte ração com gases e aerossóis
mas . A primeira é o teor de calorsensíveldo ar
atmosféricos . Há dois tipos de dispersão .
(chamado de entalpia pelos físicos ), que é trans -
Para moléculas gasosas menores do que o
ferido diretamente pela ascensão e mistura do
comprimento de onda da radiação (Â.),há
ar aquecido . Ele é definido como cPT, onde T
dispersãode Rayleighem todas as direções 1 1
é a temperatura e cP (= 1004 J kg- K- ) é oca -
(ou seja, ela é isotrópica)e é propo rcional a
4 lor específico a uma pressão constante (o calor
(1/ À.). Como resultado, a dispersão da luz
absorvido por unidade de massa por unidade
azul (Â.--0,4µm ) é uma ordem de magnitude
de aumento de tempera tura ). O calor sens ível
(i.e., x 10) maior do que a da luz vermelha
também é transferido por conduçã .o . A segunda
(À.- 0, 7µm ), criando assim o céu azul do
forma de transferência de energia por convecção
dia . Todavia, quando gotículas de água ou
é indireta, envolvendo calorlatente. Nesse caso,
partículas de aerossóis, com tamanhos se-
existe uma mudança de fase, mas não de tempe-
melhantes (0, 1-0,5 µ,m de ra io) ao compri -
ratura . Sempre que a água é convertida em vapor
mento de onda da radiação, estão presentes,
de água por evaporação (ou ebulição ), necessita-
a maior parte da luz é dispersa para frente .
-se de calor. Chama-se isso de calor latente de
Essa dispersãode Mie confere a aparência 1
vaporização (L) . A OºC, L é 2,50 x 106J kg- de
acinzentada das atmosferas poluídas.
água . De maneira mais geral,
Dent ro de uma nuvem, ou entre nu -
vens baixas e uma superfície coberta de L ( J06] kg-') = (2,5 - 0,00235T)
neve, a radiação sofre dispersão múltipla .
onde T está em ºC . Quando a água condensa
No segundo caso, ocorrem as condições
na atmosfera (ver Cap ítulo 4D), é liberada a
de "branco to t al'' das regiões polares no
mesma quantidade de calor latente que a usa-
verão (e tempestades de neve em latitudes
da para a evaporação na mesma temperatura.
médias), quando as feições superficiais e o
De maneira semelhante, para der reter gelo a
ho rizonte se tornam indistinguíveis .
OºC, precisa-se do calo r laten te de fusão, que é
2 Condução:po r intermédio desse mecanis- 1
0,335 x l 06Jkg- • Se o gelo evapora sem de rre -
mo, o calor atravessa uma substância, de
ter, o calor latente desse processo de sublimação
uma parte mais quente para uma mais fria, 1
é 2,83 x 106Jkg- a OºC (ou seja, a soma dos ca-
pela t ransferênc ia de vibrações molecula -
lores latentes de fusão e vaporização). Em todas
res adjacentes. O ar é um mau condutor,
essas mudanças de fase de água, existe transfe -
então, esse tipo de transferência de calor é
rência de energ ia. Discutiremos outros aspectos
desprezível na atmosfera, mas é importante
desses processos no Capítulo 4.
no chão . A condutividade térmica aumenta
com o con teúdo de água em um determi-
2 O efeito da atmosfera
nado solo, e é maior no solo congelado do
que no solo normal . A radiação solar está quase toda na faixa de
3 Convecção: ocorre em fluidos (incluindo comprimentos de ondas curtas , menos de 4 µ,m
gases) que podem circular in ternamente (ver Figura 3.1). Por volta de 18% da energia in-
e distribuir partes aquecidas da massa . É cidente são absorvidos diretamente pelo ozônio
48 Atmosfe ra, Tempo e Clima

e pelo vapor de água. A absorção pelo ozônio Entre 1961 e 1990, a recepção de radiação
se concentra em três bandas espectrais solares solar global diminuiu 4%, um fenômeno cha-
(0,20-0,31, 0,31 -0,35 e 0,45 -0,85 µm), enquan - mado "escurecimento global "; a quantidade de
to o vapor de água absorve em um grau menor radiação se recuperou na década de 1990 ("cla-
em diversas bandas entre 0,9 e 2,1 µm (ver Fi- reamentó '). A razão para essas tendências pa -
gura 3.1). Comprimentos de ondas solares me- rece ter sido uma maior absorção por aerossóis
nores que 0,28 5 µm raramente penetram abai- (carbono negro) e reflexão (por sulfatos, nitra -
xo de 20 km de altitude , ao passo que aqueles to e poeira ) durante o primeiro período e uma
>0,295 µm alcançam a supe rfície . Assim, a co- redução na carga de aerossóis posteriormente.
luna de 3 mm (equivalente) do ozônio estratos - Os aerossóis de sulfato têm uma forçante ra -
2
férico atenua a rad iação ultrav ioleta quase que diativa direta em nível global de - 0,4 W m - ,
totalmente , exceto por uma janela parcial em o carbono negro combustível , +0,2 W m - 2, e a
2
tomo de 0,20 µm, onde a radiação alcança a es- poeira mineral, -0,1 W m- , de um efeito total
tratosfera inferior . Por volta de 30% da radiação dos aerossóis de -0,5 W m -z. Também há um
solar incidente são imediatamente refletidos de efeito indireto nas nuvens, pelo qual os aeros -
volta da atmosfera, das nuvens e da superfície sóis aumentam o número de gotículas de água
da Ter ra para o espaço, deixando aproximada- e aumentam o albedo das nuvens, conferindo
mente 70% para aquecer a Terra e sua atmos- um efeito refrigerador de aproximadamente
-2
fera . A superfície absorve quase a metade da -0,7Wm .
energia incidente disponível no topo da atmos - A Fi gur a 3.5 ilustra os papéis relativos da
fera e a irradia novamente como ondas longas atmosfera, das nuvens e da superfície da Terra
(infravermelhas) de comp rimento maio r que 3
µ,m (ver Figura 2. 1) . Grande parte dessa ener -
- Radiação solar no topo da atmosfera
gia ir radiada de ondas longas é absorvida pelo -- Absorv ido pela superfíc ie da Terra
Absorv ido pelo ar
vapo r de água, dióxido de carbono e ozônio da Absorv ido pelas nuvens
atmosfera, e o resto escapa por janelas atmos - tf' 500 - - Refletido pela superfície da Terra
E --- Reflet ido pelo ar
féricas de volta para o espaço, principalmente ~ ···••·• Refletido pelas nuvens
entre 8 e 13 µ,m (ver Figura 3.1). Essa retenção ·-co
e>400
de energia pela atmosfera é vital para a maio - Q)
e
Q)
ria das formas de vida, pois, de outro modo, a Q)
"O
temperatura média da superfície da Terra cairia O 300
aproximadamente 40ºC! ~
A dispersão atmosférica, citada anterior- o
mente , dá vazão à radiação difusa (ou celeste),
u
Q)
'O
200 /.,... ----- , .......
co / \
'O / \
que é medida às vezes separadamente da radia - ·-
li)
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e
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ção direta do feixe de luz. Em média, sob condi - Q) /
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Q 100 / ,.,.-"..
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ções de céu claro, a razão entre a radiação solar
v.-
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difusa e a total (ou global) é de aproximada - ,,,, .....' --


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mente 0,15 -0,20 na superfície . Para a nebulosi- -1- ------- -- - - .. ---- - "':'" -

90ºN 60ºN 30ºN Oº 30ºS 60ºS 90ºS


dade média, a razão é de 0,5 na superfície, dimi- Latitu de
nuindo a cerca de 0,1 a 4 km, como resultado da
redução em gotículas de nuvens e aerossóis com Figura 3 .5 Média anua l do d isposição latitudinol
a altitude . Durante um eclipse solar total sobre de radiação solar em W m -2 • De l 00% da radiação
que entro no topo do atmosfera, por volto de 20 %
grande parte da Europa Ocidental em agosto
são refletidos paro o espaço pelos nuvens, 3%, pelo
de 1999, a eliminação da radiação direta fez a ar (com poe ira e vapor de óguo) e 8%, pela super fície
2
radiação difusa cair de 680 W m - às l Oh30 da do Terra; 3% são absorvidos pelas nuvens, 18%, pelo
2
manhã para apenas 14 W m- às 1 lh da manhã ar e 48%, pela Terra.
em Bracknell, no sul da Inglate rra. Fonfe : Sellers (196 5}. University of Chicago Press .
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 49

em refletir e absorver a radiação solar em dife- a.= Sj / SJ,, expresso como fração ou por -
rentes latitudes . (Uma análise mais comple t a do centagem .
balanço de calor do sistema Terra-atmosfera é
A radiação total (ou global) recebida na su-
apresentada em D, neste capítulo .)
perfície em dias nublados é
3 O efeito da cobertura de nuvens S = S0 [ b + { 1 - b) { 1 - e)]
Uma cobertu ra espessa e con tínua de nuvens onde S0 = radiação solar global para céus claros;
forma uma barreira significativa à penetração e= nebulosidade (fração do céu cobe rta );
de radiação. A queda na temperatura superfi- b = um coeficiente que depende do tipo e
cial que ocorre às vezes em dias ensolarados da espessura das nuvens ; e a profun -
quando uma nuvem corta temporariamente a didade da atmosfera pela qual a radia -
radiação solar dire ta ilustra a nossa necessida- ção deve passar .
de da energia radiante do Sol. Quanta radiação Para valores mensais médios para os Esta -
é refletida realmente pelas nuvens depende da dos Unidos, b z 0,35, de modo que
quantidade de cobertura e da sua espessura (Fi-
gura 3.6). A proporção da radiação incidente S z S0 [1- 0,65c]
que é refletida se chama albedo, ou coeficient e O efeito da cobe rtura de nuvens t ambém
de reflexão (expresso como fração ou porcenta - opera no sentido inverso , pois serve para reter
gem) . O tipo de nuvem afeta o albedo. Medidas grande parte do calo r que, de outra forma, seria
feitas por aviões mostram que o albedo de uma perdido da Terra pela radiação de ondas longas
cobe rtu ra total varia de 44 a 50% para cirros- durante o dia e a noite . Desse modo, a cobe r-
tratus a 90% para cumulonimbus. Os valores tura de nuvens diminui a faixa de temperatu -
médios do albedo, determinados por satélites, ra diurna consid eravelmente, impedindo uma
aviões e medições na superfície, são sintetiza - máxima elevada de dia e uma mínima . baixa à
dos na Tabela 3.2 (ver nota 2). noite . Além de interferirem na transmissão da
Deve -se observar que o albedo (a.) é defi - radiaçã .o, as nuvens atuam como reservató rios
nido pela razão da radiação refletida (Sj) pela térmicos tempo rários, pois absorvem uma
radiação incidente (SJ..) recebida no topo da at- cert a proporção da energia que int erceptam.
mosfera, no topo da nuvem, no topo do dosse l Os efeitos modestos da reflexão e absorção de
da vegetação, ou na superfíc ie terrestre :
Tabe la 3.2 Albedo fracion a i (integ rado) mé d io
100.-, ----~-----r------i de superfícies variad a s

Planet a Terra 0,31


Superfic ie glob a l o,14-0, 16
Nuvens globa is 0,23
Cumu lon imbus 0,9
Strotocumul us 0,6
C ir,u s 0,4 - 0,S
Neve recente 0,8-0,9
Neve em derret imen to 0,4-0,6
Absor ão Areia 0,30-0,35
ºL .1....=:t::::r::1:±=::I::
::'.i::@~~ :.i_J Gramo, plantações de cereais o,18-0,25
10 20 40 60 100 400 1000 4000 10000
Espessuradas nuvens (metros) Floresta declduo 0,15- 0,18
Floresta con lfe ra 0,09-0,15
Fígura 3.6 Porcenta g em de reflex ã o, absorção e
Floresta trop ica l 0,07-0, 15
tra nsmissão d e radiação solar por camad a s de nuvens
Corpos d'ógua * 0,06 - 0, 1O
de espessur a s diferentes .
Fonfe: He wson e Longley (1944). Obs .: ·Aumenta nitidamente em ângu los so lares baixos .
50 Atmosfe ra, Tempo e Clima

radiação solar pelas nuvens são ilustrados nas determina a duração do período diurno e a dis-
Figura s 3.5 a 3.7. tância que os raios oblíquos do Sol percorrem
Ainda não se conhece a nebulosidade glo- na atmosfera. Todavia, os cálculos mostram que
bal com precisão . As observa .ções são feit as o efeito dela é desprezível perto dos polos, apa -
principalmente em estações de superfície e se rentemen te devido ao baixo teor de vapor do
referem a uma área pequena (-250 km 2) . As ar lim itando a absorção troposférica. A Figur a
estimativas feitas por satélites são der ivadas de 3.7 mostra que, na atmosfera superior sobre o
medidas da radiação refletida de ondas curtas e Polo Norte, existe um máximo notável de ra-
da irradiação infravermelha, com diversos pa- diação solar no solstício de junho, mas apenas
tamares propostos para a presença / ausência de 30% são absorvidos na superfície. Isso pode
nuvens; geralmen te, elas se referem a uma área ser comparado com a média global de 48% da
2
de 2500 a 37.500 km • As observações realizadas radiação solar absorvida na superfície. A expli-
na superfície tendem a ser 10% maiores do que cação está na alta nebulos idade média sobre o
as estimativas de satélite , devido à perspectiva Ártico no verão e também na alta refletividade
do observador . As distribuições médias de in- das superfícies de neve e gelo. Esse exemplo
verno e verão da quantidade total de nuvens em ilustra a complexidade do balanço de radiação
observações superfic iais são mostradas na Fi- e a necessidade de levar em con ta a interação
gura 3.8. As áreas mais nebulosas são o Oceano entre vários fatores.
Sul e as trilhas de tempestades em latitudes mé - Uma característi ca especial da recepção
dias a altas do Pacífico Norte e Atlântico Norte. latitudinal da radiação é que as temperaturas
As menores quantidades ocorrem sobre a área máximas observa .das na superf ície da Terra
desértica do Saara-Arábia . A cobertura global não ocorrem no equador, como seria de espe-
total de nuvens é de pouco mais de 60% em ja- rar, mas nos trópicos. Diversos fatores devem
neiro e julho. A fração de nuvens em latitudes ser considerados. A aparente migração do Sol
baixas é mostrada na Prancha 3 .2. vertical é relativamente rápida duran te sua
passagem pelo equador, mas sua veloc idade
4 O efeito da latitude diminui à medida que alcança os trópicos . En-
tre 6ºN e 6ºS, os raios do Sol se mantêm quase
Conforme a Figura 3.4, diferentes partes da
vert icalmente a pino por apenas 30 dias durante
superfície da Terra recebem diferentes quanti -
os equinócios da primavera e do outono, per -
dades de radiação solar. O momento do ano é
mitindo pouco tempo para um acúmulo gran -
um fator que con trola isso, sendo recebida mais
de de calor e altas temperaturas na superfície.
radiação no verão do que no inverno, por causa
Por outro lado, entre 17,5º e 23,5º de latitud .e,
da maior altura do Sol e dos dias mais longos . A
os raios do Sol brilham quase verticalmente
latitude é um controle mui to importante, pois
por 86 dias consecutivos durante o período do
solstício. Esse intervalo maior, combinado com
~,,..
gE
500
400
o fato de que os trópicos têm dias mais longos
do que o equador , faz as wnas de aquecimen -
.g~ to máximo ocorrerem mais perto dos trópicos
(1)_<'0 300
iEl do que do equador . No Hemisfér io Norte, esse
~~
e~ 200
~'8 deslocamento da zona de aquecimento máximo
100
em direção aos polos é aumentado pelo efeito
o-!--- 4 =::::::::
=-, __ ~-~--~-----1
9o•s so•s 3o•s o• 30ºN 60ºN 90ºN da continentalidade (ver B.5, neste capítulo ),
Latit ude
enquanto a baixa nebulosidade associada aos
Figura 3.7 Recepção média de ra d iação solar com
cinturões subtropicais de alta pressão é um fator
a la titu d e no topo d a atmos fera e na superfície da adicional. Os céus claros permitem grandes re -
Terr a durante o sols t ício de junho. cepções anuais de radiação solar nessas áreas . O
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 51

75°N
160°W 40°W o• 80ºE 7SºN

60°N ...__ ___ j 60ºN

40
45°N 80 45°N
20

30°N

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30ºN

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15°N 15°N

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15ºS

30°S
(J o 1s•s

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60

45°S i---- 45°S

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BO

120ºE 160"'E 160°W 120•w BO"W

60
60°N 60°N
.,,..---- 1
40
45°N -~-- ao- __ .,,, 45°N

30°N
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JD
30-N

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o•
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30°S 60 60 60

4s•sr---- ..-- ,,,.-~----------- 45°S


80-

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Figura 3.8 Distr ibuição global do quantidade tota l de nuvens (percentual) derivada de observações superfi-
cia is duran te o período 1971- 198 1, com média para os meses de junho a agos to (superior) e dezembro a feverei-
ro (inferio r). As porcentagens altas estão sombreadas, e os po rcentagens baixas, trace jadas .
fonte: lo ndon ef oi. (1989 ).
52 Atmosfe ra, Tempo e Clima

Prancha 3.2 Fração de nuvens de ba ixo a ltitude do CERES, 27 de dezembro de 2008 , mostrando as móximas
dos oceanos.
Fonte : Je sse Allen, NASA.

resultado líquido dessas influências é mostrado Sol seja grande . O albedo para uma super fície de
na Figura 3.9 em termos da radiação solar anual águas calmas é de apenas 2 a 3% para um ângulo
média em uma superfície horizontal no nível do de elevação solar excedendo 60º, mas é de mais
solo, e na Figura 3.10, em termos das tempera- de 50% quando o ângulo é 15°. Pa.ra superfíc ies
turas diárias máximas médias à sombra. Sobre de terra, o albedo costuma ser entre 8 e 40% da
a terra, os maiores valores (38-40ºC) ocorrem a radiação incidente. O número para florestas é de
23ºN e 10-lSºS. Assim, o equadortérmicoanual 9 a 18%, conforme o tipo de árvore e a densida-
médio (isto é, a zona de temperatura máxima) de da folhagem (ver Capítulo lOC), aproximada-
está localizado aproximadamente a SºN. No en- mente 25% para grama, 14 a 18% para cidades e
tanto, as temperaturas médias do ar, reduzidas 30% para areia de deserto. A neve recente pode
ao nível médio do mar, estão relacionadas com refletir até 90% da radiação solar, mas a cobertu -
a latitude (ver Figuras 3.llA e B). ra de neve sobre superfícies vegetadas, especial-
mente as florestadas, é muito menos reflexiva
5 O efeito da terra e do mar (30-50%). A longa duração da cobertura de neve
sobre os continentes setentrionais (ver Figura
Outro contro le importan te sobre o efeito da ra-
3.12 e Prancha 3.3) faz grande parte da radiação
diação solar advém das diferentes maneiras de
incidente do inverno à primavera ser refletida.
a terra e o mar se beneficiarem dela. Enquanto
Todavia, a distribuição global do albedo super -
a água tem uma tendência de armazenar o ca-
ficial anual médio (Figura 3.13A) mostra prin-
lor que recebe, a terra, ao contrário, o devolve
cipalmente a influência das camadas de gelo co-
rapidamen te para a atmosfera . Existem várias
~ . bertas de neve no mar Ártico e na Antártica (cf.
razoes para isso.
Figura 3.13B para o albedo planetário).
Uma grande proporção da radiação solar
A radiação solar global absorvida na super-
incidente é refletida de volta para a atmosfera
fície é determinada a partir de medições da ra-
sem aquecer a superfície da Terra. A proporção
diação incidente sobre a superfície e seu albedo
depende do tipo de superficie (ver Tabela 3.2).
(ex),e pode ser expressa como
Uma superfície marinha reflete pouquíssimo, a
menos que o ângulo de incidência dos raios do SJ.(100 - a.)
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 53

l!O' N

120-- .......
140- -- ~

- -- 160

o•

20·
'._.--,--_220
200

HJO'W 140" 120• 100' w so• 40" 20• o• 20· ~O' 60' 80" 100' ,20• 140' 1&:1 ·ao·E

Figura 3.9 Média da radiação solar g lobal anual (Q + q) (W m -2) (em uma superfície horizontal no nível do
solo). As móximas são encontra d as nos desertos quen tes do mundo, onde até 80% da radiação solar incidente
sobre o topo do atmosfera, que é livre de nuvens, a lcançam o solo.
Fonte : Budyko et oi. {1962).


,oº 7º
\1: ~
10·,.s· _
17'·
20º 20
-../ 234 23º
1º z7•
20'
27º

20' l---,----=~--- i1
---- 27"----il.--:::--'
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023º

... l
., _,,..~--
160"\V 140' 120" 100' &I)" 60" 40' 20' O' 20• 40 ' eo• 80' 100' 120" 140' 160' 180' E

38-40ºC D 34-37ºC D30-33ºC D Abaixo de 30ºC

Figura 3.10 Média da tempe ratura d iória móxima do ar à sombra (ºC).


Fonte: Ronsom (1963 ). Royal Meteoro logico l Soc iety.
54 At mosfera, Tempo e C lim a

(A)

40'

20- -- -1

1-- - 25- -----


~ ...--
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r- - -?s------
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- 15 r

180'V/ · 40' 120 ' 100 ' 80' 80' <.D' 2Ç' o• 20" 40' w ~o· 1CO' 120" tCJ' 1~0· 180 'E

Figura 3.11 (A) : tempe ratu ras (ºC ) méd ios no níve l do mar em janeiro . A posição do equador térmico é mos-
tr ada aprox i madamen te pela li nha t racejado ; (BJ: temperaturas (ºC ) méd ias no nível do mar em julho . A posição
do equador térmico é mos t rada de forma aproximado pela linho tracejada.
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 55

\ o

• Gelo

Figura 3 .12 Duração média anual da cobertu ra de neve (meses).


fonle : Henderson -Se llers and Wilson (1983) . Cortes ia de Ame ricon Geophys ica l Unio n.

onde o albedo é uma po rcentagem. Uma co - diversas profundidades na Baía da Biscaia . A


bertura de neve absorverá apenas por vo lta transmissão de calor no solo ocorre quase total-
de 15% da radiação incidente, ao passo que, mente por condução, e o grau de condu tividade
para o mar, essa cifra gera lmente excede 90%. var ia com o teor de umidade e a porosidade de
A capacidade do mar de absorver o calor re- cada tipo de solo .
cebido t ambém depende de sua transparê n cia . O ar é um condutor extremamente fraco e,
Até 20% da radiação penetra a 9 m (30 pés) . por essa razão, uma superfície de solo arenoso
A Figura 3. 14 ilu stra quanta energia é absor- inconso lidado aquece rap idamente durante o
vida pelo mar em diferentes profundidades. dia, pois o calor não é conduzido ao longe. A
Todavia , o calo r absorvido pelo mar é levado umidade do solo tende a elevar a condutiv ida-
a profundidades consideráveis pela mistura de, preenchendo os poros do solo, mas umidade
turbu le nta de massas de água, pela ação de demais aumenta a capac idade térmica do solo,
ondas e cor rentes . A Figura 3.15, por exem - reduzindo assim a resposta em termos de tempe-
plo, ilustra as variações mensais médias com ratura. As profundidades relativas sobre as quais
a profundidade nos 100 metros superio res das as variações anuais e diurnas na temperatura são
águas do Pacífico Norte Orienta l (por volta de efetivas em solos secos e úmidos são as seguintes:
SO°N, 14S°W), mostrando o desenvo lvimento =·-- aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ aa ___ ac w

da termocl ina sazonal sob as influências do Variação Varla~ ,áo


aquecimento superficial, da mistura vertical e diurna anual
da condução superficial . Solo úmi do 0,5 m 9m
Uma medida da diferença entre as subsu- Areia seco 0,2 m 3m
perfícies de t erra e mar é apresentada na Figura
3.16 , que mos t ra as temperaturas do solo em
Kaliningrado (Kõn igsberg) e os desvios na tem- Todavia, a mudança real na temperatura é
peratura do mar em relação à média anual em maior em solos secos . Por exemplo, os valores a
56 Atmosfera, Tempo e Clim a

(A)

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100'\\/ 140' 120' "00' 80" 00' 40" 20· O' 2')!' 40" 00,- eo· 100' 120* 140' IG')!' 180' E

Figura 3.13 Albedos anuais médios (porcentagem): (A ) no super fí cie da Terra; (B) sobre uma superfície hori-
zo ntal no topo da atmosfera .
Fo nt e : Adaptado de Humme l and Reck; de Hendersan -Se llers a nd Wilso n (1983 ); e Stephe ns et oi. (1981).
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 57

Cobertura

da neve

Feve~ro Abril Junho

O.e-lo

marinho

(>15%)

Oceano

aberto

Agosto Outul>rO oe,zemt>ro

Prancha 3.3 Cober 1ura de neve méd ia e extensão do gelo mar inho no Hemisfério Norte para os meses de
fevere iro, abril, junho, agos to, outubro e dezembro, derivadas de dados semanais para o período 1978-2007 .
Fonte : Nat iona l Snow and Ice Da ta Ce nter (NSIDC), Bovlde r, Co lorado (cortes ia Mary Jo Brodzik, NSIDC).

Porcentagemde energia
2 3 4 5 6 8 10 15 20 30 40 60 80 100
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10
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400 ,
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10m 100
1
1
1 100m

0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 2,51.1
Comprimentode onda

Fígura 3.14 Rep resentaçõo esquemótico do espectro energé tico da rad iação solar (em unidades arbitró rios)
que pene tra na supe rfície do mar a profundidades de O, l, 1, 1O e 100 m . Isso ilustro a absorção de radiação
infravermelha pela ógua, bem como as pro fund idades em que a radiação visível (luz) penetra .
Fonte : Sverdrup (1945) . Cor tesia de Allen & Unwin.
58 Atmosfe ra, Tempo e Clima

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--- •• Aq uecimento por aquecimento superficial

80 ~ ................. Resfriamento por mistura vertical

• - ·- ·- ·- Resfriamento por mistura vertical


e condução superficial
100

2 4 6 8 10 12 14 16 18
Temperat ura (ºC)

Figura 3.15 Variações mensais médios de te mperatura com a pro fund ida de nas óguos superficio ,is do Pacifico
Norte Ori enta l. A camada de muda nça súbita na temperatu ra é denominada te rmoclina.
fo nte : Tully o nd G iovo ndo {1963 , p. 13, f ig . 4). Reprodu2-ido med iante pe rmissão de Royal Soc iety of Conodo .

seguir para a faixa de temperatura diurna foram Se forem considerados volumes unitá-
observados em dias ensolarados de verão em rios de água e solo) a capacidade térmica (pc)
6
Sapporo, no Japão: da ár:a, onde p = densidade (pc = 4,18 x 10
1
J m - K- ), excede a da areia em ap roximada-
mente três vezes (pc = 1,3 x 1,6 Jm - IC ) se a
3 1
Are ia Lama Turfa Argi la
areia est iver seca, e duas vezes se estiver úmi-
Superf ície 40 ºC 33 ºC 23 ºC 2l ºC
da. Quando essa água é resfriada, a situação se
Sem 20 19 14 14
inverte, pois é liberada uma grande quantidade
10 cm 7 6 2 4
de calor. Uma camada de um metro de água do
mar sendo resfriada em apenas O,lºC libera ca-
As diferentes qualidades caloríficas da terra e lor suficiente para elevar em 1OºC a temperatu -
da água também são explicadas em parte por ra de uma camada de ar de 30 m. Desse modo,
seus diferentes caloresespecíficos. O calor espe- os oceanos atuam como um reservatório efetivo
cífico (e) de uma substância é representado pelo para grande parte do calor do mundo. De ma-
número de unidades térmicas necessárias para neira semelhante , a evaporação da água do mar
causa um grande gasto de calor, pois é neces-
elevar uma unidade de massa da substânc ia em
1 1 sária mui ta energia para evaporar mesmo uma
1ºC (4184 J kg- K- ). O calor específico da água
pequena quantidade de água (ver Capítulo 3C) .
é muito maior do que o da maioria das outras
O papel térmico do oceano é importante e
substâncias comuns (a água deve absorver cin-
complexo (ver Capítulo 7D) . O oceano tem três
co vezes mais energia térmica pa ra elevar sua
camadas térmicas:
temperatu ra na mesma quantidade que uma
massa comparável de solo seco) . Assim , para a 1 Uma camada mista superior, ou limite sa-
1
areia seca, e= 840 J kg- K- L. zonal , localizada acima da termoclina . Tem
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 59

20'T"'""
----------------, Essa circulação térmica vertical permite
Solo
que o calor global seja conservado nos ocea -
nos, reduzindo os efeitos globais das mudan -
15 I:... / .,.,.-- ças climáticas produzidas pela forçante tér -
/ :' I
.: I I .,. - · - ·
~ . mica (ver Capítulo 13). O tempo para que a
I .
:· I /. '·\' ,
f I ,,. \,, . energia térmi ca se difunda dentro da camada
1 0-+:-=------+,-,;'--/----,-;..._----=--\.--....,.....,...-----l
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50m

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mista superior é de dois a sete meses, na ca-
mada mista inferior, de sete anos, e no oceano
~5 m ·· - ··- ,: / •'
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' r{: I • \ ',. \
5
...... l· ,,, ' ·. \ profundo, de 300 anos . A cifra comparativa
.....
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1,3m -·-,1-,, \-..., para a camada térmica externa da Terra sólida
.
...
__, t,
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_ \ ··.. é de apenas 11 dias .
q?~-~.".. . \. •.,
o Essas diferenças entre mar e terra ajudam
003m a produzir o que se chama de continentalidade.
6 A continentalidade implica , em primeiro lugar,
Mar
5 que uma superfície de terra aque ce e esfria mui -
/ ......
to mais rapidamente do que a de um oceano .
4
/ \ Sobre a terra, a defasagem entre períodos má -
3 I "\ ximos (mínimos ) de radiação e a temperatura
2 I
I superficial máxima (mínima ) é de apenas um
1 mês, mas, sobre o oceano e em estações cos-
100m
o ..... t eiras, pode durar até dois meses. Em segundo
-------- _ ',
~

Om _,,..,..- /
\
-1 \ ... lugar, as variações anuais e diurnas da tempe -
/ \
-2 / ratura são maiores em locais continentais do
-3 Om
' que costeiros. A Figura 3.17 ilustra a variação
-4-- ..---r-__,.-..,.....~-.....-----------,--.--...,....... anual de temperatura em Toronto , no Canadá ,
J F M A M J J A S O N D e em Valentia , no sudoeste da Irlanda, enquan -
Mês to as variações da temperatura diurna em áreas
f[gura 3 .16 Variação anual da te mperatura em d i- continentais e marítimas são descritas a seguir .
feren tes profundidades no solo em Kaliningrado, Rús- O terceiro efeito da continentalidade resul ta da
sia Europeia (superior) e no água da Baía de Biscaia distribuiç ão global das massas de terra . A me -
(aproximadamente 47ºN, 4 ºW, infer ior), ilus t rando a nor área oceânica do Hemisfério Norte faz o
pene tração relativamente profunda da energ ia solar
verão boreal ser mais quente , mas seus invernos
nos oceanos, diferen temen te das superfíc ies de terra.
são mais frios em média do que os equivalentes
A figura inferior mostro os desvios na temperatura em
relação à média paro cada profundidade. austrais do Hemisfério Sul (verão, 22,4ºC versus
Fontes : Ge iger (1965) o nd Sverdrup (19.45). 17,1ºC; inverno, 8,1º C versus 9,7º C) . O arma-
zenamento de calor nos oceanos os torna mais
menos de 100 m de profundidade n os tró - que ntes no inverno e mais frios no verão do que
picos , mas centenas de metros nos mares a terra na mesma latitude , embora as corren -
subpolares . Está sujeita a uma mistura tér - tes oceânicas causem algumas exceções locais
mica anual a partir da superfície. a essa regra . A distribuição de anomalias de
2 Uma esfera de água quente ou camada mis - temperatura para a latitude em janeiro e julho
ta inferior . Localizada abaixo da camada 1, (Figura 3.18) ilustra a significância da continen-
com a qual troca calor lentamente, até vá- talidade e a influência das correntes quentes no
rias centenas de metros. Atlântico Norte e no Pacífico Norte no inverno.
3 O oceano profundo. Contém aproximada- As tempera turas da superfície do mar po-
mente 80% do volume total de água oceâni - dem ser estimadas com o uso de imagens desa -
ca e troca calor com a camada 1 nos mares télite em infravermelho (ver C, neste capítulo) .
polares. A Prancha 7.4 mostra uma imagem térmica de
60 Atmosfe ra, Tempo e Clima

40 sociada à maioria das cadeias montanhosas e,


6 portanto, é impos sível generalizar a partir dos
e... 30
1õ Manaus
(/) poucos dados disponíveis .
e
C1> 20 A Figura 3.20 ilustra o efeito do aspecto e
E
cu
·-:g 10 Valentia do ângulo de inclinação sobre a recepção má -
xima de radiação solar em dois pontos do he-
E o
e misfério norte. O efeito geral da latitude sobre a
::J
N - 10 quantidade de insolação é mostrado, e fica claro
8. também que um aumento na latitude causa uma
i - 20 perda relativamente maior de radiação para su -
t-
-3 0 . perfícies voltadas para o norte, ao contrário de
J F M A M J J A s o N D superfícies voltadas para o sul. A intensidade da
radiação sobre uma superfície inclinada (Is) é
Figura 3.17 Regimes anuais médios de temperatura
em c limas diversos : Manaus, Brasi l (equa to ria l), Va- Is =lo cosi
len tia , Irlanda (marítimo temperado) e To ron to , Cana-
dó (con tinenta l temperado) . onde i = o ângulo entre o raio solar e um raio
normal à superfície inclinada . O re levo tam-
satélite em falsa cor do Atlântico Norte Ociden - bém pode afetar a quantidade de insolação e a
tal, com a relativamente quente e meandrante duraçã .o da luz solar direta, quando uma bar-
Corrente do Golfo . Hoje, a criação de mapas reira montanhosa bloqueia o Sol em fundos e
das temperaturas da superfície do mar com es- laterais de vales em certos momentos do dia .
sas imagens tor nou -se rotina. Em muitos vales alpinos, os assentamentos e as
plantações se concentram, de maneira notável,
6 O efeito da elevação e do no s lados da montanha voltados para o sul (o
aspecto lado ensolarado ou adret), ao passo que os lados
voltados para o norte (lado sombreado ou ubac)
Quando chegamos à escala local, as diferenças
permanecem florestados.
na elevação e o seu aspecto (isto é, a direção
para a qual a superfície está orientada) contro -
7 Variafjão da temperatura do ar
lam a quantidade de radiação solar recebida .
livre com a altitude
Grandes elevações que têm uma massa de
ar muito menor sobre elas (ver Figura 2.13) re- O Capítulo 2C descreveu as características mais
cebem consideravelmente mais radiação solar importantes do perfil vertical da temperatura
direta sob céus limpos do que locais perto do na atmosfera. Analisaremos agora o gradiente
nível do mar, devido à concentração de vapor vertical da temperatura na troposfera inferior.
de água na troposfera inferior (Figura 3.19). Os gradientes verticais de temperatura são
Em latitudes médias, a intensidade da radiação determinados, em parte, por trocas de energia
solar inc iden te aumenta em média 5-15% para e, em parte , pelo movimento vertical do ar. Os
ca.da 1000 m de aumento na elevação na tropos- diversos fatores interagem de maneira bastante
fera inferior . A diferença entre pontos a 200 e complexa. Os termos energéticos são a libera-
3000 m nos Alpes, por exemplo, pode chegar ção de calor latente por condensação, o resfria-
2
a 70 W m - em dias de verão sem nuvens. To- mento radiativo do ar e a transferência de calor
davia, também existe urna perda líquida ma ior sensível a partir do solo. A advecção horizontal
correspondente de radiação terrestre em eleva- da temperatura, pelo movimento de massas de
ções maiores, pois a baixa densidade do ar so- ar frio e quente, também pode ser importante.
brejacente resulta na absorção de uma fração O movimento vertical depende do tipo de siste-
menor da radiação. O efeito geral é invariavel- ma de pressão . Áreas de alta pressão costumam
mente complicado pela maior nebulosidade as- estar associadas à subsidência e ao aquecimento
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 61

Janeiro

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Figura 3.18 Anomalias de tempe ratura (ºC) mundiais (isto é, a diferença entre tempera tur as reg istradas e a
média p a ra a latitude) para janeiro e julho. Linhas continuas indicam anomal ias positivas, e linhas tr acejados,
anoma lias negat ivas.
62 Atmosfe ra, Tempo e Clima

20 ~-------------, , -- --,------, de camadas profundas de ar, reduzindo o gra -


' I
,' I diente de temperatura e causando inversões fre-
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,IH.....
I
quentes da temperatura na troposfera inferior.
e / lo Jáos sistemas de baixa pressão são associados
(1)

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10
,~
/~ à ascensão de ar, que resfria pela expansão e
aumenta o gradiente vertical da temperatu-
<( ,'}
I
1~ ra. A umidade é outro fator que complica (ver
Capítulo 3E), mas permanece verdadeiro que a
o.k::::::::::~
--,----r-- L'_---r--_ _j_ troposfera média e superior é relativamente fria
1000 1100 1200 1300 1400
Densidade do fluxo de energia (Wm-2) acima de uma área de baixa pressão superfic ial,
levando a um gradiente de temperatura mais
Figura 3.19 Radiação solar direta em função d a intenso .
altitude observada nos Alpes e uropeus. Os efe itos ab- A redução ver tical geral da temperatura, ou
sorventes do vapor de ó gua e poeira, particularm ente
gradiente,na troposfera é de aproximadamente
abaixo de 3000 m, são mostrados em comparação
com uma curva teórico para uma a tmosfera ideal sem
6,SºC/km. Todavia, esse valor não se mantém
vapor de água ou aerossóis. constante com as mudanças em altitude, estação
Fonte : Confo rme Albe tti, Kostrov, Kimboll ond Pope; de Borry ou localização . Valores globais médios calcula -
(2008 ). dos por C. E. P. Brooks para julho mostram que

Trier, Alemanha Ocidental Tucso n, Arizona


{50ºN) (32ºN)
Face norte Face sul Face norte Face sul
04 --.._._._ ..............
_.._.........

06 -i- ---....
08
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21 de junho 12 800 o
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18 -i-- 200 --- -- iºº Q
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10
22 de dezembro 12 00 1000
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16 <Oo400- --- ---t-1
18
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......-1
O 20 40 60 80 O 20 40 60 80 O 20 40 60 80 O 20 40 60 80
Ângulo de inclinação (graus)

Figura 3.20 Radiação direto médio do feixe de raios solares (W m-2) incidente na superfície com céus sem nuvens
em Trier, Alemanha Ocidenta l, e Tucson, A rizona, em função do inclinação, aspecto, hora do dia e estação do ano.
Fo nte : Adaptado de Geige r {1965 ) a nd Sellers (1965) .
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 63

o gradiente aumenta com a altitude: por volta uma inversão por subs idência perto da superfí -
de SºC/km nos primeiros 2 km, 6ºC /km entre 4 cie (ver Capítulo 13).
e 5 km, e 7ºC/km entre 6 e 8 km . O regime sa-
zonal é acentuado em regiões continentais com ~

C RADIAÇAO INFRAVERMELHA
invernos frios . Os gradien tes de temperatura do
TERRESTREE EFEITO ESTUFA
inverno em geral são baixos e, em áreas como a
região central do Canadá ou o leste da Sibér ia., A radiação do Sol é predominantemente de on -
podem até ser nega tivos (ou seja, as temperatu- das curtas, ao passo que a radiação que deixa a
ras aumentam com a altitude na camada mais Terra é de ondas longas, ou infravermelha (ver
baixa ) como resultado do resfriamento radiati - Figu ra 3.1). A emissão infravermelha da super -
vo excessivo sobre as superfícies nevadas. Uma fície é levemen te menor do que a de um corpo
situação semelhante ocorre quando o ar denso e negro na mesma tempera tura e, desse modo, a
frio se acumula em bases de montanhas em noi- equação de Stefan (ver p. 41) é modificada por
tes calmas e limpas . Nessas ocasiões, os topos um coeficiente de emissividade (e), que geral-
4
das montanhas podem estar mui tos graus mais mente fica entre 0,90 e 0,95, ou seja, F = ecr T •
quentes do que o fundo do vale abaixo (ver Ca- A Figur a 3.1 mostra que a atmosfera tem grande
pítulo SC.l ). Por essa razão, o ajuste da tempe- capacidade de absorver radiação infravermelha
ratura média em estações elevadas para o nível (devido aos efeitos do vapor de água, dióxid .o de
médio do mar pode gerar resultados enganosos. carbono e outros gases -traço), exceto entre 8,5
Observações feitas no Colorado em Pike 's Peak e 13,0 µm - a "janela atmosféricà '. A opacidade
(4301 m) e Colorado Springs (1859 m) mos- da atmosfera à radiação infravermelha, em re-
tram que o gradiente de temperatura médio é lação à sua transparência à radiação de ondas
de 4,1 ºC /km no inverno e 6,2ºC/km no verão . É cur tas, costuma ser chamada de efeito estufa.
preciso ressaltar que esses gradientes topográfi - Todavia, no caso de uma estufa verdadeira, o
cos podem ter pouca relação com os grad ientes efeito do te to de vidro provavelmente seja tão
no ar livre em condições de radiação noturnas , significativo para reduz ir o resfriamento , res -
e os dois devem ser distinguidos com cuidado. tringindo a perda turbulenta de calor, quanto
No Ártico e sobre a Antártica, as inver- para reter a radiação infravermelha .
sões da tempera tura superficial persistem pela O "efeito estufa" t otal resulta da capacidade
maior parte do ano . No inverno, essas inversões líquida de absorção de radiação infravermelha
se devem ao intenso resfriamento radia t ivo na do vapor de água, do dióxido de carbono e de
superfície de neve /gelo que resfria a camada de ou tros gases-traço - metano (CH 4), óxido ni -
ar acima até uma altura de aproximadamente 1 t roso (N 2 0 ) e ozônio troposférico (0 3 ). Esses
km; no verão, elas resultam do resfriamento su- gases absorvem bastante em compr imen tos de
perficial , por condução, do ar mais quente que onda dentro da região da janela atmosférica,
é advectado (transportado horizontalmente ) além de suas outras bandas de absorção (ver
sobre as superfícies geladas das regiões po la- Figu r a 3.1 e Tabela 3.3). Além disso, como as
res. As inversões persistem graças às condições concentrações desses gases-traço são baixas ,
predominantes de alta pressão, que impedem a seus efei tos radiativos aumentam de forma
dispersão da cobertura de nuvens associada a aproximadamente linear com a concentração ,
sistemas de tempestades. Os desertos tropicais ao passo que o efeito do C0 2 está relacionado
e subtropicais têm gradientes bastante altos no com o logaritmo da concentração. Além disso ,
verão, causando uma cons ideráve l transferência graças ao longo tempo de residência do óxido
de calor da superfície e um movimento ascen - nitroso na atmosfera ( 132 anos) e dos CFC (65-
dente, em geral; a subsidência associada às cé- 140 anos) , os efeitos cumulativos das ativida ,des
lulas de alta pressão é predominante nas zonas humanas serão subs tanciais. Estima -se que , en -
desérticas no inverno. Sobre os oceanos subtro- tre 1765 e 2000, o efeito radiativo da maior con-
2
picais, o ar descendente leva ao aquecimento e a centração de C0 2 foi de 1,5 W m- , e o de todos
64 Atmosfe ra, Tempo e Clima

os gases-traço, de aproximadamente 2,5 W m - 2 mais radiação incidente de ondas curtas ,


2
(cf o valor da constante solar de 1366 W m- ) . causando uma reduçãolíquida das tempe -
A contribuição líquida dos gases naturais raturas superficiais.
de efeito estufa (não antropogênicos) para o 2 Um aumento no ozônio abaixo de 25
aquecimento da temperatura planetária "efeti- km absorve relativamente mais radiação
và ' média de 255 K (correspondendo à radia- emitida de ondas longas, causando um
ção infravermelha emitida) é de aproximada- aumento líquido nas temperaturas super -
mente 33 K. O vapor de água representa 21 K ficiais.
dessa quantidade, o dióxido de carbono, 7 K, o
A radiação de ondas longas não é mera-
ozônio, 2 K, e outros gases -traço (óxido nitro -
mente terrestre, no sentido restrito . A atmosfe -
so, metano), por volta de 3 K. A temperatura
ra irradia para o espaço, e as nuvens são parti -
média da superfície global é de 288 K, mas a
cularmente efetivas uma vez que atuam e.orno
superfície era consideravelmente mais quente
corpos negros. Por essa razão, a nebulosidade
durante a evolução inicial da Terra , quando a
e a temperatura no topo das nuvens podem ser
atmosfera . continha grandes quantidades de
mapeadas por satélites durante o dia e à noite,
metano , vapor de água e amônia. A atmosfera
usando sensores infravermelhos. O resfriamen-
de Vênus, composta principalmente por dióxi -
to radiativo de camadas de nuvens tem uma
do de carbono, cria um efeito estufa de 500 K
média de 1,5ºC por dia.
naquele planeta.
Para o planeta como um todo , medições
O ozônio estratosférico absorve grandes
feitas com satélite mostram que, em condições
quantidades de radiação ultravioleta incidente,
sem nebulosidade, a radiação solar absorvida
prejudicial à vida, e radiação de ondas longas 2
média é de aproximadamente 285 W m - , ao
emitida da Terra, de modo que o seu papel tér -
passo que a radiação terrestre emi tida é de 265
mico geral é complexo. Seu efeito líquido sobre 2
W m- • Incluindo as áreas cobertas por nuvens,
as temperaturas na superfície terrestre depende
os valores globais correspondentes são 235 W
da elevação em que a absorção se dá, sendo, até 2
m - para ambos os termos. As nuvens redu -
certo ponto, uma compensação entre a absor - 2
zem a radiação solar absorvida em 50 W m- ,
ção de ondas curtas e de ondas longas, pois:
mas diminuem a radiação emitida em apenas
2
1 Um aumen to no ozônio acima de aproxi - 30 W m- • Assim, a cobertura global de nuvens
madamente 30 km absorve relativamente causa uma perda radiat iva líquida de cerca de

Tabela 3.3 1nfluência de gases de efeito estufa na tempera tura at mosférica

Aumento da Potencial de
Centros das temperatura (K) aquecimento global
principais bandas para o dobro da com base no peso
Gás de absor~ão (µm) concentra~ão atua l (kg -1 de ar)t

Vapor de água {H2 0} 6,3-8,0, > 15


(8,3- 12,5}*
Dióx ido de carbono (C0 2) (5,2), (10), 14,7 3,0 + 1,5 l
Metano {CH 4) 6,52, 7,66 0,3-0, 4 ll
Ozônio (0 3) 4,7, 9,6, (14,3) 0,9
'
Oxido nitroso {N20) 7,78, 8,56, 17,0 0,3 270
Clorofluorometonos
(CFC l3) 4,66, 9,22, 11,82 o,1 3400
(CF2C l 2) 8,68, 9,13, 10,93 7100

fontes : Compbe ll; Ramonotho n; Loshof ond Ah ujo; Luther ond Elli ngson; IPCC (1992 ).
Obs .: * Im porta nte em ol mosferos úmidos.
t Refere-se à forçante radiativo di reto anua l poro o sistema supe rfíci e-tropos fera .
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energ ia global 65

,
AVANÇOS SIGNIFICATIVOS DO SECULO XX

3.1 O efeito estufa


O efeito estufa na tural da atmosfera da Terra pode ser atr ibu ído principalmente ao vapor de água. Ele
expl ica 21 K da diferença de 33 K entre a tempera tura efetiva de uma atmosfera seca e a atmosfera
real, por meio do apris ionamento da radiação infravermelha . O vapor de água é bastante absorvente
em torno de 2,4-3,l µ.m, 4,5-6,5 µ.m, e acima de 16 µ.m. O conceito de aquecimento induzido por
gases de efeito estufa costuma ser apl icado aos efeitos dos aumentos em concentrações de dióx ido de
carbono atmosférico resultantes das atividades antr6picas, pr incipalmen te a que ima de combustíve is
fósseis. Sverre Arrhenius , na Suécia, chamou a atenção para essa possibilidade em 1896, mos evidên-
cias observacionais somente surgiram 40 anos depois (Ca:lendor 1938, 1961). Todavia, não se tinha
um registro detalhado dos concentrações atmosféricas até que Charles Keeling instalou instrumentos
calibrados no Observatório de Mauna Loa, no Havof, em 1957. Em uma década, essas observações
se tornaram o referência global. Elos mostravam um ciclo anual de aproximadamente 5 ppm no Ob-
servatór io, causado pela absorção e liberação da biosfera, e um aumento de 0,4% no teor de C0 2 ,
de 315 ppm em 1957 para 383 ppm em 2007, devido à que ima de combustíveis fósseis. O aumento
anual representa quase a metade da em issão total pela absorção de C0 1 pelos oceanos e pela bios-
fera terrestre. A principal bando de absorção para a radiação pelo dióxido de carbono é em torno de
14-16 µ.m, mas existem outros a 2,6 e 4,2 µ.m . A maior porte do efeito do aumento no concentração de
C0 2 se dó pela maior absorção no última fa ixo, po is o banda principal está quase saturado . A sensi-
bil idade da temperatura méd io do ar global a uma duplicação no teor de C0 2 está no faixa de 2-5°C ,
enquanto o remoção de todo o C0 1 atmosfér ico poderio reduz ir o temperatura superf icial média em
mais de 10"C.
O importante papel de outros gases-traço de efeito estufa (metano, óxido nitroso, fluorocarbonos)
foi reconhecido na década de 1980, e muitos outros gases-troço passaram a ser monitorados. O últi-
mo foi o tr ifluoreto de nitrogênio usado durante a fabricação de telas planos de cristal líquido, células
solares e microcircuitos. Embora as concentrações do gás atualmente sejam de apenas 0,454 partes
por trilhão, ele é 17 mil vezes ma is potente como agente do aquecimento global do que uma massa
semelhante de dióx ido de carbono.
Os históricos passados dos gases de efeito estufa , reconstru ídos a partir de registros obtidos com
testemunhos de gelo , mostram que o nível pré- industrial de C0 2 era de 280 ppm , e o de metano, 750
ppb, comparados com os níveis atuais de 383 ppm e 1790 ppb, respectivamente. Suas concentrações
diminuíram o cerco de 180 ppm e 350 ppb, respectivamen te, durante os fases máximas do glaciação
continental na Idade do Gelo do Pleistoceno.
O efeito de feedback positivo do C0 2, que envolve o aquecimento induzido por gases de efeito
estufa e leva a um aumento no ciclo hidrológico e uma elevação no teor de vapor atmosférico e, por-
tanto, mais aquecimento, ainda não fo i determinado quantitativamente.

2
20 W m- , devido à dominância do albedo das D BALANÇO DE CALOR DA TERRA
nuvens, reduzindo a absorção de radiação de
Podemos entã .o sintetizar o efeito líquido das
ondas curtas . Em latitudes menores, esse efei-
2 transferências de energia no sistema Terra-at-
to é muito maior (até -50 a -100 W m - ), ao
mosfera, com médias globais e ao longo de um
passo que, em latitudes elevadas, os dois fatores
período anual.
estão perto do equilíbrio, ou a maior absorção
A radiação solar incidente média ao longo
do infravermelho pelas nuvens pode levar a
do globo é
um pequeno valor positivo . Esses resultados
2 2
são importantes em termos das concentrações Constante solar x 1tr / 4nr
inconstantes dos gases de efeito estufa, pois a
onde r = raio da Terra e 4nr2 é a área superficial
forçante radiativa líquida pela cobertura de nu-
de uma esfera. Esse número é aproximadamente
vens é quatro vezes a esperada com a duplica- 2 2 1 9
342 W m- , ou 11 x 109J m- ano- (10 J = lGJ);
ção do C0 2 (ver Capítulo 13).
66 Atmosfe ra, Tempo e Clima

por conveniência, consideraremos como 100 parte da radiação emanante é reabsorvida pela
unidades. Segundo a Figura 3.2 1, a radiação in- atmosfera; a perda líquida de radiação infraver-
cidente é absorvida na estratosfera (3 unidades), melha na superfície é de apenas 19 unidades.
principalmente por ozônio, e 20 unidades são Essas trocas representam um estado médio, no
absorvidas na troposfera por dióxido de carbo - sentido temporal, para todo o globo. Lembre-
no (1), vapor de água (12), poeira (3) e gotículas -se de que a radiação solar afeta apenas o he-
de água em nuvens (3); 20 unidades são refleti - misfério iluminado, onde a radiação incidente
2
das de volta para o espaço a partir das nuvens, ultrapassa os 342 W m - • Da mesma forma,
que cobrem em torno de 62% da superfície da nenhuma radiação solar é recebida pelo hemis-
Terra, em média. Outras 9 unidades são refle - fério noturno. Todavia, as trocas infraverme -
tidas da superfície e 3 unidades são devolvidas lhas continuam, devido ao calor acumulado no
pela dispersão atmosférica. A radiação refletida solo. Apenas 12 unidades escapam diretamente
total é o albedoplanetário (31%, ou 0,31) . As 49 da superfície pela janela atmosférica. A própria
unidades restantes alcançam a Terra diretamen - atmosfera irradia 57 unidades para o espaço
te (Q = 28) ou como radiação difusa (q = 21) (48 da emissão pelo vapor de água atmosférico
transmitida pelas nuvens ou por dispersão vol- e C0 2 e 9 da emissão pelas nuvens), totalizando
tada para baixo. 69 unidades (Lt,); a atmosfera então irradia 95
O padrão de radiação que emana da Terra unidades de volta para a superfície (Ld). Assim,
é bastante diferente (ver Figura 3.22). A radia - Lu + Ld = Ln é negativo.
ção do corpo negro, pressupondo-se urna tem- Essas transferências de radiação podem ser
peratura superficial média de 288 K, equivale expressas simbolicamente:
a 114 unidades de radiação infravermelha (de
R,,= (Q + q) ( l - a ) + L,,
ondas longas) . Isso é possível porque a maior

Ondas longas e
Ondas curtas Energia total
fluxos de calor
o Radi ação Al bed o Ganho Perda
[
C/)
extraterrestre
100
planetário
31
9 31
69
69
UJ Borda externa .. 1 1
da atmos fera 1
1
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1 , ... .. ,
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são das nuvens
Ondas curtas 20 Espaço 57
! , ' \ 1 ',,, , 9
Absorção Vapor ..... Ondas longas 102 superflcie 95
..,.,.
,..h.,, ,/ \
1 } \

estratosférica :-u~, ,-
~ , de água e ',, •
0\l\,~"I,~~ • Jane a ,' \em..ssàode CO, Calor latente 23 152
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\
\ 48 Calor sensível 7
1n Absorção Abeorv.da ; ,' '-
~ tropo sfética 3 _.,,_ ,~ / Absorçlio e rada.çAQ 152
, rtf>r,:,;:,;.;,.
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4'. (vapor da ág ua: ~:s.,, : {)\S,_) ,..~~~ t :
1
aerossóis)
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Fluxos de calor
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28

21
1
-----+---'---~----__,1,
114 95
1
_ __.__,1---------------1
23 7 Ondas curtas 49 Ondas lon gas 114
49 Lu L4 LE H
Ondas longas 95 Calo r latente 23
Absorvida na superfície
-144 Calo r sensível 7
-144

Figura 3.21 O eq uilí brio do balanço de energia na atmosfera. As transfe rências são explicadas no texto. Linhas
contínuas indicam ganhos pe la atm osfera e superfície no diag rama à esque rda e pela troposfera no diagrama à
2
direita. As trocas se referem a l 00 unidades de radiação solar incidente no topo da atmosfera (igual a 342 W m- ).

fonte : Kieh l ond Tren b e rth ( 1997 ) Bullelin of the Ame ricon Meteorologico l Society, com perm issão de Ame rican Meteoro logico l
Soc iety _
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 67

(A) 80"N
~'- 80 ePç; 80
--
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180
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-
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~

40' 60'
160
80' 100" 120· 140' 1&0• 181)'"
E

Figura 3.22 Rodioçóo plonetóri o de ondas cu rtos e longos (W m-2) ; (AJ rad iação de ondas curtos a bsorv ido ,
méd io anua l de a bril de 1979 a março de 1987 ; (B) soldo de radiação plonet6 ria de o nda s longas (Ln), médio
anua l sobre uma super fície hori zon ta l no topo d o a tmosfera .
Fon les : (A) Arda nuy et a i. (1992 ) and Kyle et a L (1993) Bullelin of the Ame rican Me leorolog ical Society, com pe rmissão de Ame -
rican Meteo , o log ica l Soc iety. (B) Stephens et ai. (198 1).
68 Atmosfe ra, Tempo e Clima

onde R,.= saldo de radiação , (Q + q) = rad iação de radiação do sistema Terra -atmosfera, que al-
solar global, a= albedo e L = saldo de radiação
11
cança o equilíbrio por vol ta da latitude de 30º.
ondas longas. Na superfície, R,.= 30 unidades. As consequências de um excedente de energia
Esse exceden te é transmi tido para a atmosfera nas baixas lati tudes e um déficit nas altas são
pela transferência turbulenta de calor sensível, analisadas a seguir.
ou en talpia (7 unidades), e calor latente (23 As variações diurnas e anuais da tempe -
unidades), ratura estão diretamente relacionadas com o
balanço de energia local. Sob céus claros , em
Rn=LE+H
latitudes médias e baixas, o regime diurno de
onde H = transferência de calor sensível e LE = trocas radiativas geralmente apresenta um má-
transferência de calor latente . Também existe ximo de radiação solar absorvida ao meio -dia
um fluxo de calor para o chão (B.5, neste capí- (ver Figura 3.23A ). Um máximo de radiação
tulo), mas, para as médias anuais, é aproxima - infravermelha (de ondas longas) (ver Figur a
damente zero. 3.1) também é emitido pela superfície aque -
A Figura 3.22 sintetiza os balanços totais cida do solo ao meio-dia, quando está mais
na superfície ( + 144 unidades) e para a atmos - quente. A atmosfera devolve radiação infra -
fera (± 152 unidades). Estima-se que o total vermelha para baixo, mas existe uma perda
de radiação solar absorvida e radiação emi - líquida na superfície (L,.). A diferença entre a
tida para todo o sistema Terra-atmosfera seja radiação solar absorvida e L,. é o saldo dera-
de ±7GJ m - 2ano - i (± 69 unidades ), mas ainda diação, R,.; ela em geral é positiva entre uma
restam várias incertezas por resolver nessas hora após o nascer do Sol e uma hora antes do
estimativas. Os balanços de radiação de ondas poente, com um máximo ao meio-dia. O atra-
curtas e longas têm uma incerteza de aproxi - so na ocorrência da. temperatura máxima do
2
madamente 20 W m - , e os fluxos turbulentos ar até por volta de 14:00, horário local (Figura
de calor, de 10 W m - 2 • 3.23B), é causado pelo aquecimento gradual
As medidas feitas por satélites hoje apre - do ar por transferência convectiva a partir do
sentam visões globais do balanço de energia no solo. A R,. mínima ocorre no começo da noite,
topo da atmosfera. A radiação solar incidente quando o solo ainda está quente, e há um leve
é quase simétrica perto do equador na média aumento a partir daí. A redução na temperatu-
anual (cf. Tabela 3.1). Os totais anuais médios ra depois do meio -dia é lenta por causa do ca-
em uma superfíc ie horizontal no topo da at - lor fornecido pelo solo. A temperatura mínima
2
mosfera são de aproximadamente 420 W m - do ar ocorre logo após o nascer do Sol, devido
no equador e 180 W m - 2 nos polos. A distri - ao atraso na transferência de calor da super -
buição do albedo planetário (ver Figura 3.13B) fície para o ar. O padrão anual do balanço lí-
mostra os valores mais baixos sobre os oceanos quido de radiação e do regime de temperatura
de baixa latitude, comparados com as áreas de é quase análogo ao padrão diurno, com uma
cobertura nebulosa mais persistente sobre os defasagem sazonal na curva da temperatura,
continentes. Os valores mais altos são sobre os em relação ao ciclo da radiação, conforme ob -
mantos de gelo polares . A resul tante da radia - servado anteriormente .
ção planetária de ondas curtas varia de 340 W Existem var iações latitudinais acentuadas
m -2 no equador a 80 W m - 2 nos polos. O saldo nas amplitudes térmicas diurnas e anuais . Em
de radiação de ondas longas (emanante) (Figu- um sent ido amplo, a amplitude térmica anu-
ra 3.22B) apresenta as menores perdas onde as al tem seu máximo em latitudes maiores , com
temperaturas são mais baixas , e perdas maiores valores extremos a cerca de 65ºN, relacionados
sobre os céus claros do deserto do Saara e so - com os efeitos da continentalidade e a distân -
bre os oceanos de baixas latitudes. A diferença cia do oceano no interior da Ásia e América
entre a Figura 3.22A e 3.23B representa o saldo no Norte (Figura 3.24). Já nas baixas latitudes,
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 69

(A) E ENERGIA ATMOSFÉRICA E O


l TRANSPORTE HORIZONTAL
Radiação solar
(1)
..... absorvida DE CALOR

=e Até aqui, fizemos uma narrativa do balanço de
e! Radiação
(O
·- infravermelha calor da Terra e de seus compo n ente s. Comen -
e, líquida
(1) tamos duas formas de a en ergia: a energia inter -
!TI0 -1-..;:;.;:;.;.;.;;..;.;._
Déficit .....,;.___ .....,.____ .;:i,....__ ~ na. (ou calor ), devido ao movimen to de molé -
00 06 12 18 24 culas individuais de ar, e a energia laten te, que
Horas
é liberada pela condensação do vapor de água.
(8) Duas outras formas de energia são importantes:
Temperatura
a energia geopotencial , ligada à gravidade e à al-
r titude acima da superfí cie, e a energia ciné tica,
doar
~
:J associada ao movimen to do ar.
~ Saldo de
[ radiação A energia geopotencial e a energia interna
~ o~~ D~é~fic
~i~
t -~------~----~ estão inter -relacionadas, pois a adição de calor
a uma coluna de ar aumenta não apen as a sua
energia interna, mas também seu geopo tencial ,
00 06 12 18 24
Horas como resultado da expansão vert ical da coluna
de ar. Em uma colun a que se estende a.o topo da
A Anual C 3 Ârees mesoconli nenfais
D Duma M hea s marilim as atmosfera, o geopotencial é aproximadamente
I (30"W. BO"E e 170?W)
40% da energ ia in ter n a. Essas duas, por tanto,
\
são consideradas em conjunto e denominadas
\
\ \AM en erg ia potenc ial total (PE). Para a atmosfera
\
\ como um todo
\
? 24
energi a potenc ial ~ 10 J
energi a cinétic a :::;1OtoT
60 ° 30 ° o• 90 °S
Latitude Em uma seção posterior (Capítulo 6C), ve-
remos como a energia é transfer ida de uma for-
Figura 3 .23 Cur vos mos tra ndo var iações d iurnas ma para outra, mas, aqui , con sideraremos ape -
no e nerg ia rad ia nte e t emperatura . (A) Var iações nas a energia térmica. Certamen te a recepção
d iurnas na rad iação sola r absorvido e rad iação infra-
de energia térmi ca é bastante desigual geografi -
ve rme lha em médias e ba ixos la titu des. (B) Var iações
d iur nas no sa ldo d e rad iação e tempe ratura do ar em
camente, e isso deve levar a grandes transferên -
lati tudes méd ios e baixos . (C) Ampl itud e térmi ca anua l cias laterais de energia pela superf ície da.Terra .
jA ) e d iur na (D) e m função do la ti tude e do loca liza - Por sua vez, essas transferências dão vazão, pelo
ção co ntin en ta l (C ) o u mar ítim o (M ). menos indiretamente, aos padrões observados
Fonte: Poffe n {1967 ). Co rtes ío Erdkunde. de climas globais .
As quantidades de energ ia recebidas em
a amplitude térmica anual difere pouco ent re a diferentes latitu des variam subst ancialmente,
terra e o mar , devido à semelhança térmica en- com o equador recebendo, em médi a, 2,5 vezes
tre as flores tas tropicais e os oceanos tropicais. ma is energia solar anual do que os po los . Se esse
A amplitude térmica diurna tem seu máximo processo não fosse mudado de algum modo , as
sobre as áreas de terra tropicais , mas é na zona var iações na.recepção de en ergia causariam um
equa torial que a variação diurna no aquecimen- acúmulo considerável de calor nos trópicos (as-
to e resfriamento excede a variação anual (Figu - sociado a aumen tos graduais de temperatura ) e
ra 3.23C) , devido à pequena mudanç a sazo n al uma deficiê.ncia correspondente no s polos . Ain -
no ângulo de elevação solar no equador. da assim , isso não acontece, e a Terra como um
70 At mosfera, Tempo e C lim a

160'

&O'

3D"N

4 --.

:io·s 30'S

< 4~ 4
1
60'
s
8 s 00'
1&0· , !>O' l?O' '.J/J
' I/I $()'\ 'I 60' 120' 1:,0" '80'

Figura 3.24 Amplitude térm ica anual média (ºC) na super f ície da Terra.
fonte : Mon in (1975) . Co rtes ia de World Meteorolog íco l O rgonízotion .

todo está em um estado aproximado de equilí- Porcentagem de superfíc íe hemisférica


brio térmico. Uma explicação para esse equil í- o 25 50 75 100
brio pode ser que, para cada região do mundo, 300 ----+--i--~---4---i-- Entrada ----1

exista equalização entre a quantidade de radia - Excedente


ção incidente e radiação emitida. Todavia, ob -
servações mostram que isso não ocorre (Figura
Déficit
3.25), pois, embora a radiação incidente varie
muito com as mudanças na latitude, sendo mais
alta no equador e diminuindo até um mínimo
nos polos , a radiação emanan te tem uma dis-
tribuição latitudinal mais regular, por causa das 90º 60º 50º 40º 30º 20º 10º
variações pequenas na temperatura atmosféri - Latitude (°N)

ca. Portanto, outra explicação se faz necessária .


Figura 3 .25 Ilustr ação meridional do b a lanço entre
o radiação solar inciden te e a radiação em it ido do
1 O transporte horizontal de calor Terra e atmosfera*, no qual as zonas de exceden te e
défic it permanentes são mantidas em equil íbrio por
Se calcularmos o saldo de radiação para todo
uma tra nsferêncio de energia em direção aos polos .
o sistema Terra -atmosfera, observaremos que
Fontes: · Dados de Houghton ; co nforme Newel l (1964 ). ' Co n-
existe um balanço positivo entre 35ºS e 40ºN, Forme Gob ites .
como mostra a Figura 3.26C. Os cinturões la-
titudinais em cada hemisfério que separam gia dos trópicos para os polos. Desse modo, os
as zonas de balanços positivos e negativos do trópicos liberam seu calor excessivo, e os polos,
saldo de radiação oscilam muito com a estação sendo sumidouros globais de calor, não che -
(Figura 3.26A e B). Como os trópicos não fi- gam a extremos de frio . Se não houvesse uma
cam progressivamente mais quentes , ou as lati- troca meridional de calor, o equilíbrio de radia -
tudes altas, mais frias, deve haver urna redistri - ção em cada latitude somen te seria alcançado
buição constante da energia térmica mundial, se o equador fosse 14ºC mais quen te, e o Polo
na forma de um movimento contínuo de ener - Norte, 2SºC mais frio do que atualmente. Esse
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 71

80'N, ~ - :~ -V '"e ..,.._::;:.)s ~ .~ Q_ . 160


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Figura 3.26 Balanço do soldo de radiação planetár io médi o (RI)) (W m-2) poro uma super fície horizonta l no
topo da atmosfera (i.e., para o sistema Terra-a tmosfera). (A) Jane iro, (B) jul ho, (C) anual.
Fo n tes : A, donuy e t o i. (1992 ), Kyle ef oi. (1993) ond Stephens et o i. (1981) . C : De Bull eti n of the Amer icon Me leo ro /og ico / Society,
com perm issão de Amer icon Meteo ro log ica l Soc iety.
72 Atmosfe ra, Tempo e Clima

transporte de calor em direção aos polos ocorre total em 30-3SºN e até 74% em 20ºN ; a Corren -
dentro da atmosfera e dos oceanos, e estima - te do Golfo e a corrente de Kuroshio são par-
-se que a primeira explique aproximadamente ticularmente importantes. No Hemisfério Sul,
dois terços do total exigido. O transporte ho - o transporte em direção aos po los se dá prin -
rizontal (advecção de calor) ocorre na forma cipalmente nos Oceanos Pacífico e Indico (ver
de calor latente (ou seja, vapor de água, que se Figura 8.30) . A equação do balanço de energia
condensa subsequentemen te) e calor sensível para uma área oceânica deve ser expressa como
(ou sej a, massas de ar quente). Ele varia em
Rn=LE+H+G+M
intensidade conforme a latitude e a estação. A
Figura 3.27B mostra o padrão anual médio de onde M = advecção horizontal de calor por
transferência de energia pelos três mecanismos. correntes e G = o calor transferido para e do ar-
A zona latitudinal com a taxa máxima de trans - mazenamento na água. O armazenamento para
ferência total é encontrada entre as latitudes de médias anuais é mais ou menos zero.
35º e 45º em ambos os hemisférios, embora os
150...-----------------,
padrões para os componentes individuais se- (A)
jam bastante diferentes en tre si. O transporte 100
Balanço do sa'do de radiação
de calor latente, que ocorre quase totalmente da superficie da TE!ffa
50
nos primeiros 2 ou 3 km, reflete os cinturões
~f o-i--,..,.
globais de ventos em ambos os lados das zonas
subt ropicais de alta pressão (ver Capítulo SB). --8 ~
CI) .~
-50
Balanço do saldo de radiação
dO sis'.emaTerra•a'.mosfera

A transferência meridional mais importante 1J~ -100 -


"'C
·-V, e
de calor sensível tem um máximo duplo, não G>
e G> 5
~ u (B)
apenas no sen t ido latitudinal, mas no plano
4
vertical, onde existem máximas perto da super - .,
3
fície e por volta de 200 mb. O transporte de alto ~
nível é particularmente significativo sobre os
2 ..
o
~
1 ll.

subtrópicos1 ao passo que o máximo latitudinal


o
princ ipal, por volta de 50º a 60ºN, está relacio -
1
nado com os sistemas móveis de baixa pressão Ili

dos ventos de oeste . ...


O) 2

A intensidade do fluxo de energia em dire -


t~
Q) 'f'
3 :3
"'
o
"'C o 4 j
ção aos polos está relacionada com o gradiente o)( :s
::,
de tempera tura meridional (i.e., norte -sul) . No -u.. 5

inverno, esse gradiente de temperatura est á no 6


90ºN 60º 30º Oº 30º 60º 90ºS
máximo e, em consequência disso, a circulação Latitude

do ar hemisférico é mais intensa. A natureza


Figura 3.27 (A): Bal a nço do saldo de radiação
dos complexos mecanismos de t ransporte será p a ra a superfície d a Terra, de 101 W m- (radiação so-
2

discutida no Capítulo se. 2


lar inci d ente, de 156 W m- , menos energia de on d as
2
Conforme mos tra a Figura 3.27B, as cor - longas que emana par a a atmosfera, de 55 W m - );
2
rentes oceânicas exp licam uma proporção p a ra o a tmosfer a , de -101 W m - (radiação so lar in-
2
significativa da transferência de calor para os ciden te de 84 W m - , menos energia de ondas longas
2
que emano para o espaço, de 185 W m - ); e para
polos nas latitudes baixas. De fato, estima tivas
todo o sistema Terra-a t mosfera, d e zero. (B): Distri-
recentes feitas c-0m satélites sobre o transporte buição latitudinal a nuol média dos componentes do
energé tico necessário total em direção aos polos transferênci a de energia em d ir eção aos polos (em
15
indicam que os números anteriores eram baixos 10 W) no sistema Terro-a tmosfera.
demais. O transporte oceânico pode ser 47% do Fonte: Sellers (1965). Cortes ia de Univers ity oí Ch icago Press .
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o balanço de energia global 73

2 Padrão espacial dos se encontra em um máximo em áreas oceâni-


componentes do balanço de calor cas trop icais e subtropicais, onde excede 160
2
W m - • Ele é menor perto do equador, onde a
Os valores latituclinais médios dos componentes
velocidade do vento é um pouco menor, e o ar
do balanço de calor discutidos ocultam gran- tem uma pressão de vapor próxima do valor de
des variações espaciais. A Figura 3.28 mostra a saturação (ver Capítulo 3A). Fica claro, a par-
distribuição global do saldo de radiação anual tir da Figura 3.29, que as principais correntes
na superfície. De forma ampla, sua magnitude quentes aumentam a taxa de evaporação. Na
diminui em direção aos polos a partir da latitu- ter ra , a transferência de calor latente é maior
de de 25º. Todavia, como resultado da elevada em regiões quentes e úmidas. Ela é menor em
absorção de radiação solar pelo mar, o saldo de áreas áridas com pouca precipitação e em altas
radiação é maior sobre os oceanos - excedendo latitudes, onde existe pouca energia disponível
160 W m - 2 em latitudes de 15-20º - do que so- ou umidade.
2
bre áreas de terra, onde é de 80-105 W m- nas A maior troca de calor sensível ocorre
mesmas latitudes. O saldo de radiação também sobre os desertos tropicais, onde mais de 80
2
é menor em áreas continentais áridas do que em W m - são transferidos para a atmosfera (ver
áreas úmidas, pois , apesar da maior insolação Figura 3.30 ). Ao contrário do calor latente, o
sob céus claros , existe, ao mesmo tempo, maior fluxo de calor sensível é menor, de um modo
perda líquida de radiação terrestre. geral , sobre os oceanos , chegando apenas a 25-
As Figuras 3.29 e 3.30 mostram as transfe- 40 W m - 2 em áreas de correntes quen tes. De
rências verticais anuais de calor latente e sen- fato, valores negativos ocorrem (transferênc ia
sível para a atmosfera . Ambos os fluxos se dis- para o oceano ) onde massas de ar continental
tribuem de forma mui to diferente sobre a terra quente avançam em direção ao mar sobre cor -
e os mares. O gasto de calor para a evaporação rentes frias.

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•OO'VI 140" 120" 100' 80' &CI' 40" 20" ('J' 20' 40" 60' 80" 100• '20' 14':)" 160' 18Cl'E

Figura 3.28 D istr ibuição g lobal do saldo de radiação anual no superfície, em W m -2 •


Fonte : Budyko et oi. {1962 ).
74 At mosfera, Tempo e C lim a

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160"\'1 i 4D' 120" 100• 8ll" 60" 40" w o- 20" 40" 60' w ,oo• 120" 140• 160" 160"E

Figura 3.29 Oistribuiçõo global da trans ferência vert ica l de calo r latente , em W m -2 •
Fo nt e : Budyko ef o i. (1962).

20" --
1,3

13 ____ _,,,

160'\'I ' 40" 120" 100 ' 8ll" 60' 40" 20• O' 20" 40" 60" 80' ' 00 ' 120" 140' 160" 160' E

Figura 3.30 Dis t ribuição global da trans ferênc ia vert ical de calor sensíve l, e m W m-2 •
f onte: Budyko ef oi. (1962).
CAPÍTULO 3 Radiação solar e o b ala nço de energia g lobal 75

Quas e toda a energ ia que a feta a Terra deriva da rad iação solar , que é de ondas curtas (<4 µm ) de -
vido à alta temperatura do Sol (6000 K) (isto é, a Lei de Wien }. A constante so la r tem um valor de
ap roximadamente 1366 W m-2 • O Sol e o Terra irradiam quase como co rpos negros (Lei de Stefan , F =
crT-4),ao posso que os gases atmosfér icos não . A rad iação terrestre, de um corpo negro equ iva lente,
2
represento quase 270 W m- , dev ido à suo ba ixo temperatu ra de irradiação {263 K}; isso sign ifico ra -
diação infraverme lha (de ondas longos) ent re 4 e 100 µm . O vapo r de 6gua e o d ióxido de carbono
são os p rincipa is gases abso rventes paro a rad iação infraverme lha , ao passo que a atmosfera é bas i-
camente transparente à rad iação solar (o efe ito estufa ). Os aumen tos obse rvados nos gases -troço es-
tão intens ificando o efe ito estufa "natura l" (33 K). A rad iação solar é perd ida po r reflexão , princ ipa l-
mente das nuvens, e po r absorção (pr incipa lmente po r vapor de ógua ). O albedo planetó ri o é de 31%;
49 % da radiação extraterrestre chegam à superf ície. A atmos fera é aquec ida princ ipa lmente o part ir
do superf ície pe la absorção de rad iação inf ravermel ha terrestre e pela transferênc ia turbu lenta de
ca lor . A temperatura d im inui com a a ltu ra , a uma taxa médio de aproximadamente 6 ,5 °C/ km no tro -
posfe ra. Na estratosfera e na termosfera , elo aumenta com a alt itude , devido à presença de gases que
abso rvem rad iação .
O excesso do saldo de radiação em latitudes ma is ba ixas leva o um transporte de energia de
latitudes tropica is pa ra os polos por corre ntes ocean ices e pela atmosfera . Isso oco rre na forma de
ca lo r sensfvel (massas de ar quente / água ocean ice) e calor latente (vapor de água atmosfér ico). A tem -
peratura do ar em um determ inado ponto é afetada pe la rad iação sola r incidente e por outras trocas
vert icais de ene rg ia , propr iedades supe rf iciais (inclin ação, albedo, capac idade calor ifica ), d istri bu ição
e elevação da terra e dos ma res, e também por advecção hor izonta l por causo dos mov imentos das
massas de ar e das correntes oceôn icas.

• Expliq ue os respect ivos papéi s do ó rb ita da Terra ao redo r do Sol e da inclin ação do e ixo d e rotação
pa ra o clim a globa l.
• Ex pliq ue as d ifere nças e ntre o transmissão de radiação solar e ter restre pe lo atmo sfe ra .
• Qua l é o im po rtdncia rela tivo da rad iação so la r in cide nte, dos trocas de ene rg ia tur bulento s e de
o utr os fator es ao determ in a r as te m pera tur as loca is du ra nte o d ia ?
• Conside re o p ape l das nuv ens no clima g loba l, de um a perspect iva rad iativa .
• Que efeitos a s co rrentes ocean ices têm sob re os cli mas reg io na is? Con side re os m eca nismo s envo l-
vido s nas co rre ntes q uentes e fri as.
• Expli q ue o co nceito de "co ntinenta lidade ". Q ue processos clim óticos estão envo lvidos e co mo eles
at ua m?

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um1 a e
, .
atmos er1ca

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Depois de ler este capítulo, você:
• estor6 familiarizado com os principais componentes atmosféricos do ciclo hidrológico;
• conheceró os principais controles da evaporação e condensação;
• conheceró os ca racte rísticas espaciais e temporais do umidade atmosférico, da evaporação e da
precipitação ;
• conheceró os diferentes formos de precipitação e os características estat ísticos;
• conhecer6 os principais padrões geogróficos e altitudinais de precipitação e suas causas b6sicas; e
• entender6 a natureza e as característ icas das secos.

6 3
Este capítulo considera o papel da água em suas água do planeta (23,4 x 10 km Aproximada -
).
diversas fases (sólida, líquida e gasosa) no siste- mente 70% da água doce total estão aprisiona-
ma climático e das transferências (ou ciclagem) dos nos mantos de gelo e nas geleiras, ao passo
de água entre os principais reservatórios - os que o restante se encontra na forma . subterrâ-
oceanos, a superfície terrestre e a atmosfera. nea. É extraordinário o fato de que os rios e la-
Discutimos medidas de umidade, o transpor- gos contêm apenas 0,3% de toda a água doce, e
te de umidade em grande escala, o balanço de a atmosfera , meros 0,04% (Figura 4. 1). O tem-
umidade, a evaporação e a condensação. po de residência médio da água dentro desses
reservatórios varia de centenas ou milhares de
,.
anos para os oceanos e gelo polar a apenas 1O
A O CICLO H :IDROLOGICO
dias para a atmosfera . A ciclagem da água en-
GLOBAL
volve a evaporação, o transporte de vapor de
A hidrosfera global consiste de uma série de água na atmosfera, a condensação, a precipita-
reservatórios interconectados pela ciclagem da ção e o escoamento terrestre . As equações do
água em diversas fases. Esses reservatórios são balanço de água para a atmosfera e para a su-
os oceanos; os mantos de gelo e as geleiras; a perfície são, respectivamente :
água terrestre (rios, umidade do solo, lagos e
D-Q=E-P +Dq
água subterrânea); a biosfera (água em plantas
e ~=P=E-r
e animais); e a atmosfera. Os oceanos, com uma
profundidade média de 3,8 km e cobrindo 71 % onde ~Q é a mudança temporal no teor de
da superfície da Terra, contêm 97% de toda a umidade em uma coluna atmosférica, E = eva-
CAPÍTULO 4 Balanço da umidade atmosférica 79

Atm osfera
0,025% de toda a água
doce (15 x 103 krn3)

O ciclo Advecção horizon tal


hidrológico de vapor de água Evapotranspiração
Prec ipitação
100 unidades da
sobre Evaporação
= precipi t ação os oceanos dos terra Precip itação
globa l anual oceanos sob re a terra
média953 mm
Escoamen to
para os oceanos

LagosMantos de
Rios 0,01 %
e gelo , geleiras
banhados e gelo
Umida de do solo 0,05%
Ocea nos 97% 0,3% su bterrâneo
de t oda a água 70% de toda a
Agua subterrânea (<750 m) 14%
água doce

Agua subterrânea (750-4000 m) 16%

Oceanos Continen tes


(1350 X 106 km 3) (59 X 105 km3)
(Porcentagens referem-se ao t ota l de água dooe)

Figura 4.1 O ciclo hidro lóg ico e o armazenamento de ógua do g lobo. As trocas no ciclo são em referência
a l 00 u nidades, o que equivale à precipi tação global anual média de 953 mm. Os percentuais de armazena -
me nto para ógua a t mosférica e cont in ental são porcen tagens de todo a ógua doce . As óguas salinos oceêlnicas
compreendem 97% de foda a óguo. A advecção hor izo nt al do vapor de óguo indico o transferência líquido dos
oceanos poro o terra. O escoamen to terres tre de 29 unidades corresponde o 12 unidades sobre os oceanos -
uma razão de óreo de 0,42.
Fonte : Rudolfl and Rubel (2005 ).

poração , P = precipitação, DQ =divergência de O arm azenamento médio de vapor de água


umidade fora da coluna , .1.S= armazenamen- na atmosfera (Tabela 4.1), chamado de teor de
to superfi cial de água e r = escoamen to. Para água precipit ável (por volta de 25 mm ), é su -
processos de curto prazo, pode -se considerar ficiente para um suprimento de chuva, para a
o bala n ço de água da atmosfera em equilíbrio; Terra como um todo , por apenas 10 dias. Toda -
todavia , em per íodos de dezenas de anos , o via, o intenso influxo (ho ri zontal) de um idade
aquecimen to global pode aumentar a sua capa- para o ar sobre uma determinada região pos -
cidade de armazenar água. sibilit a totais de chuva bem acima dos 30 mm
D evido à sua grande capacidade calorífi- no cur to prazo . O fenomena l recorde tot al de
ca, a ocorrênc ia e o transporte globais de água 1870 mm caiu sobre a ilha de Reunião , em Ma-
estão intimamente ligados à energia global. O
vapor de águ a at mosfér ico é respons ável pela Tabela 4.1 Teor médio de água no a tm osfera
maior parte da energi a global total perdida para (equivalente a mm de precipi tação )
o espaço n a forma de radiação infravermelh a. Hemisfério Hemisfério
Mais de 75% do influxo de en ergia da sup erfície Norte Sul Mundo
para a atmosfera resultam da libera ção por con -
densação do calor latente (que é gerado dura nte Janeiro 19 25 22
Julho 34 20 27
a evaporação ) e, principalmente , pela formação
de nuvens e produção de chuva. Fonte: Sutcliffe {1956 ).
80 Atmosfe ra, Tempo e Cl ima

dagascar, duran t e 24 horas em março de 1952, 400


e intensidades muito maiores foram observadas
500
durante períodos mais curtos (ver E.2a, neste
capítulo). '.e
- E
o
lffl

B UMIDADE ~700
~
o..
1 Teor de umidade Tucson
850 Miami
A pressão atmosférica engloba o vapor de água,
bem como gotículas de água e cristais de gelo 950
nas nuvens . O teor de umidade é determinado
Sup erfíc ie 0 2 4 6 8 10 12 14 16
pela evaporação local, pela temperatura do ar e Razão de mistu ra (g/ kg)
pelo transporte atmosférico horizonta l de umi -
dade. A água das nuvens, em média , representa figura 4 .2 Variação vertical do teor de vapor at-
apenas 4% da umidade atmosférica. O teor de mosférico (g/kg) em Tucson, A Z, e Miami, F L, a 12
umidade da atmosfera pode ser expresso de UTC em 27 de março de 2 002.

várias maneiras , separadamente da pressão de


secundárias de 5-10 mm em áreas desérticas
vapor (p. 31), dependendo de qua l aspecto se
tropicais , onde existe subsidência de ar (Figu -
quer enfatizar. Uma dessas medidas é a massa
ra 4.3). Teores de vapor máximos de 50-60 mm
total de água em um determinado volume de
ar (i.e., a densidade do vapor de água), deno- ocorrem sobre o Sul da Ásia durante as mon -
ções de verão e sobre as latitudes equatoriais da
minada umidade absoluta (r w) e medida em
gramas por metro cúbico (g m - 3) . As medições África e América do Sul.
Outra medida importante é a umidade rela-
volumétricas raramente são usadas na mete -
oro logia, sendo mais conveniente a razão de
tiva (r), que expressa o t eor real de umidade de
mistura de massa (x), que representa a massa uma amostra de ar como porcentagem do con -
tido no mesmo volume de ar saturado na mes-
de vapor de água em gramas por quilograma
ma temperatura . A umidade relativa é definida
de ar seco . Para a maioria dos usos práticos, a
em referência à razão de mistura, mas pode ser
umidade específica(q) é idêntica , sendo a mas -
determinada aproximadamente de várias ma -
sa de vapor por quilograma d.e ar, incluindo •
sua umidade . neuas:
Mais de 50% do teor de umidade atmosfé- r= ~ X 100 < __2__X 100 < .!__X 100
rica se localizam abaixo de 850 mb (aproxima - xs qs es
damente 1450 m) e mais de 90%, abaixo de 500 onde o s subscrito refere-se aos respectivos va-
mb (5575 m) . A Figura 4.2 ilustra distribuições lores de saturação à mesma temperatura; e de -
verticais típicas da primavera em latitudes mé - nota a pressão de vapor.
dias. Também fica claro que o efeito sazonal é Outro índice de umidade é a temperatura
mais acentuado nos pr imeiros 3000 m (ou seja, do pon to de orvalho . Ela representa a tempera -
abaixo de 700 mb). A temperatura do ar estabe- tura em que ocorre saturação se o ar for resfria -
lece um limite superior para a pressão de vapor do à pressão constante sem adição ou remoção
de água - o valor de saturação (isto é, umidade de vapor . Quando a temperatura do ar e o ponto
relativa de 100%). Consequentemente, pode - de orvalho são iguais, a umidade relat iva é de
mos esperar que a distribuiçã .o do teor de vapor 100%, e é eviden te que a umidade relativa tam-
médio reflita esse con trole. Em janeiro, valores bém pode ser determinada por :
mínimos de 1-2 mm (equivalente em profundi -
e ao ponto de orvalho
dade de água ) ocorrem no interior con tinental 5
X l 00
seten trional e em latitud .es altas, com mínimas e5 à temperatura do ar
CAPÍTULO 4 Balanço da umidade atmosférica 81

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Figura 4.3 Teor méd io de vapor de 6gua atmosférico em janei ro e julho, 1970- 1999, em mm de ógua precipitóvel.
Fonte : C limole Oiognostics Center, C IRES-NOAA, Bo ulde r, CO .
82 Atmosfe ra, Tempo e Clima

A umidade relativa de uma parcela de ar 2 Transporte de umidade


mudará se sua temperatura ou razão de mis-
A atmosfera transporta umidade nos planos
tura muda rem . De um modo geral, a umidade
horizontal e vertical . A Figura 4.1 mos tra um
relativa varia inversamen te com a temperatura
transporte líquido dos oceanos para áreas de
durante o dia, tendendo a ser mais baixa no co-
terra . A umidade também deve ser transporta-
meço da t arde e maior à noite .
da no sentido meridional (sul-norte ) para man -
A umidade atmosférica pode ser medida
ter o balanço de umidade necessário em uma
por pelo menos seis tipos de instrumentos.
determinada latitude ; ou seja, evaporação -
Para medições de rotina, o termômetro de
precipitação = transporte horizontal líqu ido de
bulbo úmido é instalado em um abrigo pro - umidade para uma coluna de ar. A comparação
tegido para instrumentos (tela de Stevenson) .
de totais anuais médios de precipitação e evapo -
O bulbo do termômetro padrão é envolvido
ração para zonas de latitude mostra que, em la-
em musselina, que é mantida úmida por um
titudes baixas e médias, P > E, ao passo que~nos
pavio a partir de um reservatório de água
subtrópicos, P < E (Figura 4.4A) . Esses desequi -
pura. O resfriamento evaporativo desse bulbo lt'brios regionais são mantidos pelo transporte
úmido proporciona uma leitura que pode ser líquido de umidade para den tro (convergência )
usada , em conjunto com uma leitura simultâ - e fora (divergênc ia) das respectivas zonas (DQ,
nea da temperatura em um bulbo seco, para onde a divergênc ia é positiva ).
calcular a temperatura do ponto de orvalho.
Um inst rumento portátil semelhan te - o psi- E - P = DQ
crômetro aspirado - usa um fluxo forçado Um aspecto crucial é o transporte no senti-
de ar, a uma taxa fixa, sobre os bulbos seco do equatorial em latitudes baixas e o transpor -
e úmido . Um instrumento sofisticado para te para os polos em latitudes médias (Figura
determinar o ponto de orvalho, com base em 4.4B). A umidade atmosférica é transportada
um princípio diferente, é o higrômetro de pon - pelos sistemas globais de ventos de oeste das
to de orvalho, que detecta quando a condensa - latitudes médias para latitudes altas e pelos sis-
ção ocorre em uma superfície resfriada . Três temas de ventos Alísios de leste para a região
outros tipos de instrumentos são usados para equatoria l (ver Capítulo 8) . Também ocor-
determinar a umidade relativa. O higrógrafo rem trocas significativas de umidade entre
utiliza a expansão/ contração de um feixe de os hemisférios. De junho a agosto , existe um
cabelo humano , em resposta à umidade, para transporte de umidade para o norte através
8 1
registrar a umidade rela t iva continuamente do equador, de 18,8 x 10 kg s- ; de dezembro
pe lo acoplamento mecânico a uma caneta a fevereiro , o transporte para o sul é de 13,6
sobre um tambor rotativo, e uma precisão de x 108kg s- i. O transpor te líquido anual do sul
±5-10% . Para medidas do ar superior , um ele- para o norte é de 3,2 x 108kg s- 1, com um exce-
mento com cloreto de lítio detecta mudanças dente anual de precipitação líquida de 39 mm
na resistência elétrica a diferenças na pressão no Hemisfério Norte, que retorna como escoa-
de vapor . As alterações na umidade relativa mento superficial para os oceanos .
têm precisão de ± 3%. As estações meteoroló - É importante enfatizar que a evaporação
gicas automáticas costumam usar um método local, em geral, não é a pr incipal fonte de preci-
elétrico, onde um fino ftlme de material muda pitação local. Por exemplo, 32% da precipitação
sua capacitância em relação à umidade relati - sazonal de verão sobre a bacia do rio Mississip-
va. O material é um filme de metal fmo sobre pi e entre 25 e 35% da que ocorre sobre a bacia
um substrato de vidro fmo coberto por um do Amazonas são de origem '1ocal", e o restante
polímero orgânico que forma o die létrico do é transportado para essas bac ias por advecção
capacitar . de umidade. Mesmo quando a umidade está
CAPÍTULO 4 Balanço da umidade atmosférica 83

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90ºN 60°N 30°N 30°S 60°S 90°S

Fígura 4.4 Aspectos meridiona is da umidade g lobal. (A ): estim at ivas a nua is da evaporaç ã o menos precipi-
1
tação a nual (em mm) em função da latitude; (B): transferência meridional anual de vapor d e ógua (em 10 skgJ.
fonte: (A): J. Dodd . in Browning 1993 . NERC. B: Sellers 1965. Cortesia de Universily of Chicago Press.

disponível na atmosfera sobre uma região, so - dade atmosférica forma uma impo rtante base
mente wna pequena porção costwna precipitar . para en tender os climas globais . Fortes dive r-
Isso depende da eficiência dos mecanismos de gências (fluxos no sentido externo) de umidade
cond ensação e precipitação , tanto microfisicos ocorr em sobre o Oceano Índico norte no verão ,
quanto de grande escala . fornecendo umidade pa ra as monções . As zo -
Usando dados de sondagens atmosféricas nas de divergência subtropical são associadas a
sobre ventos e o teor de umidade , é possível áreas de alta pressão. As altas subtropicais oceâ -
determinar os padrões globais de dive rgência nicas são fontes de evaporação; a divergênc ia
(E - P > O)ou convergênc ia (E - P < O) no flu- sobre massas de terra pode refletir um supri -
xo médio de vapor de água . A dist ribuição das mento subter râneo de água ou ser um artefato
"font es" (P < E) e "sumi douros " (P > E) de umi- de dados esparsos .
84 Atmosfe ra, Tempo e Clima

C EVAPORAÇÃO aumenta com a temperatura. A mudança de es-


tado de líquido para gasoso exige um gasto de
A evaporação (incluindo a transpiração das
energia para superar as atrações intermolecu -
plantas) fornece umidade para a atmosfera; os
lares das partículas de água. Essa energia nor -
oceanos fornecem 87%, e os continentes, 13%.
malmente é adquirida pela remoção de calor
Os mais altos valores anuais (1500 mm),
do entorno imediato, causando uma aparen te
em médias zonais ao redor do globo, ocorrem
perda de calor (calorlatente), conforme discu -
sobre os oceanos tropicais, associados aos cin -
turões de ventos Alísios, e sobre áreas continen - tido na pág . 72, e uma consequente queda na
temperatura. O calor latente de vaporização ne -
tais equatoriais em resposta à elevada recepção
de radiação solar e ao exuberante crescimento cessário para evaporar 1 kg de água a OºC é 2,5
6
da vegetação (Figura 4.SA). As maiores perdas x 10 J. Da mesma forma, a condensação libera
evaporativas oceânicas observadas no inverno, esse calor, e a temperatura de uma massa de ar
pa,ra cada hemisfério (Figura 4.SB), represen - em que está ocorrendo condensação aumenta à
tam o efeito de fluxos externos de ar frio con - medida que o vapor de água reverte para o es-
tinental sobre correntes oceânicas quentes no tado líquido . No caso do gelo, o calor latente de
6 1
Pacífico Norte Ociden t al e no Atlântico Norte fusão (0,33 X 10 Jkg- ) é necessário para derre -
(Figura 4.6), e dos ventos Alísios mais fortes na ter o gelo para água a OºC. A mesma quantida -
estação fria do Hemisfério Sul. de de calor é liberada durante o congelamento.
A evaporação exige uma fonte de energia A sublimação/deposição de gelo diretamente
em uma superfície que tenha suprimento de para vapor, ou vice -versa, envo lve a soma dos
6 1
umidade; a pressão de vapor no ar deve estar dois calores latentes (i.e., 2,83 x 10 Jkg- ) e,
abaixo do valor saturado (es); e o movimento portanto , a sublimação é menos comum que a
do ar remove a umidade transferida para a ca- evaporação . No en tanto, em climas ven tosos e
mada superficial de ar. Conforme ilustrado na secos, 15-30 % do pacote de neve anual podem
Figura 2.16, a pressão de vapor de saturação se perder por sublimação in situ, combinada

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(A) Cont inent e/ oceano

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90ºN 60°N 30ºS 60ºS 90ºS

Figura 4.5 Distribuição zonal da evaporação média (mm/ano). (A ): anualmente para oceanos e superfícies
continen tais; (B): sobre os oceanos paro dezembro a fevereiro (DJF) e junho o agos to (JJA).
Fontes: Peixoto e Oo rt (1983 ), Fig 22. Copyr ight {e)D. Reidel, Dord rech t, co m perm issão de Kluwer Acodem ic Publishers. Selle rs
(1965).
CAPÍTULO4 Balanço da umidade atmosférica 85

com a sublimação da neve soprada pelo vento, varia naturalmente com a estação e, durante os
que é mais importante. meses de inverno em latitudes médias, asco-
A variação diurna de temperatura pode níferas perdem apenas 10-18% de suas perdas
ser moderada pelo ar úmido, quando há eva- anuais totais por transpiração, e as árvores decí-
poração durante o dia e condensação à noite . A duas, menos de 4%.
relação da pressão de vapor de saturação com Na prática, é difícil separar a água evapo-
a temperatura (Figura 2.14) significa que os rada do solo, a água interceptada (líquida ou
processos de evaporação limitam a temperatura sólida), que permanece em superfícies vegetais
superficial dos oceanos em latitudes baixas (Le., após a precipitação e evapora ou sublima pos-
onde a evaporação está no máximo) a valores de teriormente, e a transpiração . Por essa razão, a
aproximadamente 30ºC. Isso tem um papel im- palavra evaporação, ou o termo composto eva-
portante ao regular a temperatura das superfí- potranspirllfãO,pode ser usada para se referir à
cies oceânicas e do ar sobrejacente nos trópicos . perda total. Sobre a terra, a evaporação anual é
A taxa de evaporação depende de diversos de 52% por transpiração, 28% por evaporação
fatores . Os dois principais são a diferença entre do solo e 20% por interceptação.
a pressão de vapor de saturação na superfície da As perdas por evapotranspiração a partir de
água e a pressão de vapor do ar, e a existência superfícies naturais não podem ser mensuradas
de um suprimento contínuo de energia para a diretamente. Porém, existem diversos métodos
superfície . A velocidade do vento também afeta indiretos de avaliação, assim como fórmulas
a taxa de evaporação, pois o vento em geral está teóricas . Um método de estimação baseia-se na
associado à advecção de ar insaturado, que ab- equação do balanço de umidade na superfície:
sorve a umidade disponível .
P-E=r+L\S
A perda de água de superfícies vegetais,
predominantemente das folhas, é um processo AS é a mudança no total armazenado no blo-
complexo, denominado transpiração . Ela ocorre co de solo, e esse termo também pode incluir a
quando a pressão de vapor nas células das folhas água armazenada no pacote de neve. Essa equa-
é maior do que a pressão de vapor atmosférica . ção aplica-se a uma bacia hidrográfica calibra-
É crucial como função vital, no sentido de que da, onde são medidas a precipitação e o escoa-
causa a ascensão dos nutrientes do solo para a mento (r), ou a um bloco de solo. Neste caso,
planta e resfria as folhas. As células das raízes medimos a percolação por meio de um bloco
dos vegetais exercem uma tensão osmótica de fechado de solo com cobertura vegetal ( em geral
até 15 atmosferas sobre os filmes d'água entre as grama, mas ocasionalmente uma grande área de
partículas adjacentes do solo . Todavia, à medi- cobertura arbórea) e registramos a chuva que
da que esses filmes d'água diminuem, a tensão cai sobre ele. O bloco, denominado lisímetro,
dentro deles aumenta . Se a tensão dos filmes do é pesado regularmente, para que as mudanças
solo excede a tensão osmótica radicular, rompe- de peso que não são explicadas pela chuva ou
-se a continuidade da absorção de água pela escoamento possam ser atribuídas a perdas por
planta, e a planta murcha. A transpiração é con- evapotranspiração, desde que se mantenha a
trolada pelos fatores atmosféricos que determi- grama curta! A técnica permite a determinação
nam a evaporação, bem como fatores da própria das quantidades diárias de evapotranspiração.
planta, como o estágio de crescimento vegetal, Se o bloco de solo é "irrigado" regularmente,
a área foliar e a temperatura foliar, e também de modo que a cobertura vegetal sempre esteja
pela quantidade de umidade no solo (ver Capí- gerando a máxima evapotranspiração possível,
tulo 12C) . Ela ocorre principalmente durante o a perda de água se chama evapotranspiração po-
dia, quando os estômatos (pequenos poros das tencial(ou PE). De maneira mais geral, a evapo-
folhas), pelos quais a transpiração ocorre, se transpiração potencial pode ser definida como
abrem. Essa abertura é determinada principal- a perda de água correspondente à energia dis-
mente pela intensidade da luz. A transpiração ponível A evapotranspiração potencial forma a
86 Atmosfe ra, Tempo e Clima

base para a classificação climática desenvolvida solo duran te o dia, mas, como quase tudo isso
por C. W Thomthwaite (ver Apêndice 1). se perde à noite , ela pode ser desconsiderada.
Em regiões onde a cobertura de neve é du - Desse modo:
radoura, pode-se estimar a evaporação /subli-
R11= LE + H
mação a partir do pacote de neve com lisíme-
tros (caixas ou pratos coletores) enterrados na onde L é o calor latente de evaporação (2,5 x
neve, que são pesados regularmente. 106J kg- 1). Rn pode ser medido com um radió -
Uma solução meteorológica para o cálcu - metro, e a razão HJLE = ~,chamada de razão de
lo da evaporação usa instrumentos sensíveis Bowen, pode ser estimada a partir de medidas
para medir o efeito líquido de vórtices de ar que da temperatura do ar e do teor de vapor (pon -
transportam umidade para cima e para baixo to de orvalho) em dois níveis perto da superfí-
perto da superfície . Nessa técnica de "correla - cie, geralmente 0,5 e 2 m . Pvaria de <0,1 para
ção dos vórtices" (ou covariância dos vórtices), a água a ~ 10 para uma superfície desértica. O
a componente vertical do vento e o teor de umi - uso dessa razão pressupõe que as transferências
dade atmosférica são medidos simultaneamente verticais de calor e vapor de água por turbulên -
1
no mesmo nível (digamos, 1,5 m) a cada 10- s cia ocorrem com a mesma eficiência . A evapo-
(10 Hz). Calcula -se então a média do produ to ração é determinada a partir de uma expressão
de cada par de medidas ao longo de um período com a seguinte forma:
de tempo de 15-60 minutos para determinar a Rn
evaporação (ou condensação). Esse método exi- E = ----
l ( l + ~)
ge instrumentos delicados e de resposta rápida,
de modo que não pode ser utilizado em con - A conversão da evaporação para unidades
de energia é 1 mm de evaporação = 2,5 X 10 f
6
dições de muito vento. Anemómetros sônicos -2
são usados para avaliar as componentes vertical m .
e horizontal do vento, usando pulsos sonoros O mais satisfatório método climatológi-
para medir a diferença no tempo que o som leva co já criado combina o balanço de energia e as
para andar a favor e contra o vento, permitindo abordagens aerodinâmicas . Desse modo, H. L.
calcular a sua velocidade. A umidade é determi - Penman conseguiu expressar as perdas por eva-
nada medindo -se a absorção de radiação infra - poração em termos de quatro elemen tos meteo -
vermelha pelo vapor de água no ar. rológicos medidos regularmente, pelo menos
Os métodos teóricos para determinar as na Europa e na América do Norte : o saldo de
taxas de evaporação seguem duas linhas. A pri - radiação (ou uma estima tiva baseada na dura-
meira relaciona a evaporação mensal média (E) ção da luz do Sol), a temperatura média do ar,
de grandes corpos d'água com a velocidade mé- a umidade média do ar e a velocidade média do
dia do vento (u) e a diferença média na pressão vento ( que limi ta as perdas de calor e vapor da
de vapor entre a superfície da água e o ar (ew superfície) .
- ed), da seguinte forma : Os papéis relativos são ilustrados pelo
padrão global de evaporação (ver Figu ra 4.6).
E= Ku(ew- ec1
) As perdas diminuem ni tidamente em latitudes
onde K é uma constante empír ica. Essa abor - elevadas, onde existe pouca energia dispo-
dagem é chamada de abordagem aerodinâmica nível. Em lati tudes médias e baixas, existem
(ou bulk), pois considera os fatores responsáveis diferenças notáveis entre a terra e o mar. As
por remover o vapor da superfície da água. O taxas são naturalmente elevadas sobre os oce -
segundo método baseia -se no balanço de ener - anos, tendo em v.ista a disponibilidade ilimita -
gia. O saldo de radiação solar e terrestre na su- da de água e, sazona lmen te, as taxas máximas
perfície (Rn) é usado para a evaporação (E) e ocorrem em janeiro sobre o Pacífico Ociden -
a transferênc ia de calor para a atmosfera (H). tal e o Atlântico , onde o ar continental frio
Uma pequena proporção também aquece o sopra através das correntes oceânicas quentes.
CAPÍTULO4 Balanço da umidade atmosférica 87

Janeiro

20'

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20'
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Figura 4.6 Evaporação média (mm) para janeiro e julho (conforme M . 1. Budyko, Heaf Budget Atlas of the
Eorth, 1958).

Anualmente, as perdas oceânicas máximas poração de 1000 mm de água/cm 2. Existe uma


ocorrem por volta de 15-20ºN e 10-20ºS, nos mínima equatorial subsidiária sobre o ocea-
cinturões dos ventos Alísios constantes (ver no como resultado das baixas velocidades do
Figura 4.SB e 4.6). As maiores perdas anuais, vento no cinturão de calmaria equa torial e da
estimadas em 2000 mm, ocorrem no Pacifico proximidade da pressão de vapor do ar com
Ocidental e no Oceano Índico Central, perto o seu valor de saturação. A máxima da terra
de lSºS (cf. Figura 3.30); 2460MJ m- 2 a- 1 (78 ocorre mais ou menos no equador, devido ao
W m - 2 ao longo do ano) equivalem a uma eva- recebimento relativamente alto de radiação
88 Atmosfe ra, Tempo e Clima

solar e às grandes perdas por transpiração da esgota, há deficiência de água, como mostra a
exuberante vegetação da região . A máxima se- Figura 4.7 para Southend.
cundária observada sobre a terra em latitudes Nos Estados Unidos, as condições mensais
médias está re lacionada com os fortes ventos de umidade costumam ser avaliadas com base
de oeste predominantes. no Palmer Drought Severity Index (PDSI), de -
A evaporação anual sobre a Grã-Bretanha, terminado a partir das diferenças ponderadas
calculada pela fórmula de Penman, varia de acumuladas entre a precipitação real e a quan-
aproximadamente 380 mm na Escócia a 500 tidade calculada necessária para evapotrans -
mm em partes do sul e sudeste da Ingla terra . piração, recarga do solo e escoamento . Desse
Como essa perda se concentra no período de modo, ele considera os efeitos da persistência
maio a setembro, pode haver déficits sazonais das secas . O PDSI varia de ~ 4 (extremamente
de água de 120-150 mm nessas partes do país, úmido) a ~ -4 (seca extrema) . A Figura 4.8 in -
necessitando um uso considerável de água de dica uma oscilação entre seca e condições úmi -
irrigação pelos fazendeiros . O balanço anual de das incomuns nos Estados Unidos continentais
umidade também pode ser determinado de for- du rante o período de outubro de 1992 a agosto
ma aproximada por um método contábil criado de 1993.
por C. W. Thornthwaite, que estima a evapo -
transpiração po tencial a partir da temperatura
D
-
CONDENSAÇAO
média. A Figura 4.7 ilust ra isso para estações
nas regiões oeste , central e leste da Grã-Breta - A condensação é a causa direta de todas as for-
nha (cf. Figura 10.25). Nos meses de inverno, mas variadas de precipitação. Ela oco rre como
existe um excesso de precipitação sobre a eva - resultado de mudanças no volume do ar, na
poração; isso ajuda a recarregar a umidade do temperatura, na pressão ou na umidade . Quatro
solo, bem como aumentar o escoamen to super - mecanismos podem levar à condensação : (1) o
ficial excedente. No verão, quando a evapora - ar é resfriado ao ponto de orvalho, mas seu vo-
ção excede a precipitação, a umidade do solo é lume permanece constante ; (2) o volume do ar
usada inicialmente para man ter a evaporação aumenta sem adição de calor; esse resfriamento
no valor potencial, mas, quando esse estoque se ocorre porque a expansão adiabática promove

mm mm mm
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Cardiff Berkhamsted Southe nd

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165mm

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38mm

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D Exc edente de água D Utilização da umidade d o solo Evapotransp iraçào potencial

D Deficiênci a de água Recarga da umidad e do solo -- Preci pitação

Figura 4 .7 Balanço médio anual de umidade nas regiões oeste, central e leste da Grã-Bretanha, determinado
pelo método de Thorn thwoi te . Quando a evaporação po tencial excede a precipi tação, usa-se a umidade do
solo; em Berkhamsted, no centro do Inglaterra, e Southend, no cost a les te, elo se esgota em julho ou agosto . O
excesso de precipi tação de outono em relação à evaporação potencia l repõe o umidade d o solo a té alcançar o
capacidade dos campos.
fonle : Howe (1956 ). Cortesia do Royal Meteorologica l Society .
CAPÍTULO 4 Balanço da umidade atmosférica 89

Chuva
o

10
- Extremamente
úmído (4 ,0 ou mais)

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o
"O
e
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(/)
20
- M uito úmido
(3,0 a 3,9)
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30 - Inusitadamente úmido
(2,0 a 2,9)
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- Próximo do normal
(- 1 ,9 a + 1,9)

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o
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20
- Seca mo derada
(- 2,0 a - 2,9)

10 - Seca severa
(-3,0 a~. 9)

Seca ext rema


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1992 1993 Seca

I
f[gura 4 .8 Porcentagem dos EUA afetada por períodos úmidos ou seca, com base no lndice de Palmer (ver
escala à dire ito), entre outubro de 1992 e agosto de 1993.
Fontes ; US Climo te Ano lysis Center on d Lotl (1994 ). Reimpresso de Weother co m perm issão do Royal Meteorolog ico l Society .
C row n copyr igh t ©.

o consumo de energia por meio de trabalho massa de ar quente e úm ida que passa sobre uma
(ver Capítulo S); (3) uma mudança conjunta super fície de terra fria. Em uma no ite limpa de
de temperatura e volume reduz a capacidade inverno, a intensa perda de radiação resfriará a
do ar de reter umidade para abaixo do teor de superfície rapidamente. Esse resfriamento su-
umidade existente; ou (4) a evaporação acres- perficial se estende de modo gradual para o ar
centa umidade ao ar. A chave para entender a úmido ma is abaixo, reduz indo a temperatura a
condensação está no tênue equili'brio entre es- um ponto onde ocorre condensação na forma
sas variáveis . Sempre que o equilíbrio entre uma de orvalho, nevoeiro ou geada, dependendo da
ou mais delas é perturbado além de um certo quantidade de umidade envolvida, da espessura
limite, pode haver condensação. da camada de ar frio e do valor do ponto de or-
As circunstâncias mais comuns que favo- valho . Quando este fica abaixo de OºC, é chama -
recem a condensação são aquelas que geram do de pon to de congelamento de geada, se o ar
uma queda na temperatura do ar; ou seja, res- estiver saturado em relação ao gelo.
friamento por contato, resfriamento radiat ivo, A mistura de camadas contrastantes dentro
mistura de mass as de ar de temperaturas dife- de uma única massa de ar, ou de duas massas de
rentes e resfriamento dinâmico da atmosfera . O ar diferentes, também pode gerar condensação .
resfriamento por contato ocorre dentro de uma A Figura 4.9 indica como a mistura horizon t al
90 Atmosfe ra, Tempo e Clima

de duas massas de ar (A e B), com dete rmina- de cima , pela expulsão de partículas de nevoeiro
das caracte rísticas de temp eratura e umidade, com jatos de água e pela injeção de cargas elétri -
produz uma massa de ar (C) super saturada na cas no nevoeiro para produzir coagulação .
temperatura int ermed iária e que, cons equen- A pr incipal causa da condensação, sem
tem ente, forma nuvens . A mistura vertical de dúvida, é o processo dinâmico de resfriamento
uma camada de ar, discutida no Capítulo 5 (ver adiabát ico associado à instabilidad .e, discut ido
Figu ra 5.7), pode ter o mesmo efeito . O nevo - no próximo capítulo .
eiro , ou nuvens stratus baixas, com garoa - co-
nh ecida como «crachin " - é comum ao longo , ~

E CARACTERISTICAS E MEDIÇAO
das costas do sul da China e do Golfo de Tonkin
DA PRECIPITAÇÃO
em fevereiro e abril, desenvolvendo -se pela mis -
tura de massas de ar ou advecção quen t e sobre 1 Formas de precipita4jão
uma superfície mais fria .
Estri t amente, precipitação se refere a todas as
A adição de umidade por evaporação ao ar
formas de água líquida e congelada . As princ i-
perto da supe rfície ocorre quando o ar frio passa
pais são :
sobre uma superfície de água quente. Isso pode
produzir nevoeiro com vapor, que é comum em • Chuva - gotas de chuva que caem , com um
regiões árticas. Em relação à modificação de diâmetro de pelo menos 0,5 mm , e ger al-
climas locais, houve prog resso nas tenta tivas de mente de 2 mm; gotículas de menos de 0,5
dispersão do nevoeiro . Os nevoeiros frios são mm são denominadas garoa. A chuva tem
dissipados em âmbito local com o uso de gelo uma taxa de acumulação de ~ lmm /hora.
seco (C0 2 congelado ) ou pela liberação de gás A chuva (ou a garoa ) que cai sobre uma
propano com bicos de expansão, para produzir superfície em temperaturas abaixo de zero
congelamento e a subsequente queda dos cristais forma uma camada de gelo e é denomina -
(c( p. 125). Os nevoeiros quentes (i.e., com gotas da chuva congelante.Du rante a prolongada
acima das temperaturas de congelamento) repre - "tempestade de gelo» de 5-9 de janeiro de
sentam problemas maiores, mas as tentativas de 1998 no nordeste dos Estados Unidos e no
dissipação tiveram sucesso limi tado na evapora - leste do Canadá, certas áreas receberam até
ção de gotículas por aquecimento artificial, pelo 100 mm de chuva congelante.
uso de grandes ventiladores para puxar ar seco • Neve - cristais de gelo que caem em grupos
ramifica .dos, como flocos . A neve molhada
tem cristais ligados por água líquida em
po ros e cavidades inte riores . Os cristais in-
dividuais têm uma forma hexagonal (agu -
... lhas ou plaquetas) . Em temperaturas baixas
8. Saturada
~Q) 10 (-4-0ºC ), os cristais podem flutuar no ar,
'O formando «poeira de diaman te·:
o
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~ 5
• Granizo- grãos , bolas ou massas duras e ir-
~ lnsaturada regulares de gelo, com pelo menos 5 mm de
a..
o..b:::::::::::
~ !,________ _J diâmetro; forma -se a partir de camadas al-
- 30 - 20 - 1O O 10 20 30 ternadas de gelo opaco e claro. O núc leo de
Temperatur a (ºC) uma pedra de granizo é formado por uma
gota de água congelada (um grão de gelo)
Figura 4.9 Efeito do mis turo de massas de ar. A mis-
ou uma partícula de gelo (graupel) .
turo horizontal d e duas massas d e ar insaturados A e
B produz um a massa de a r supersaturada C. A figuro
• Graupel- grãos de neve, partículas de gelo
mostro o c urva da pressão de vapor de saturação (cf. cônicas ou ar redondadas e opacas, com 2-5
Figura 2. l 3B, que é um d iagrama sem ilogarítmico). mm de diâmetro e formadas pela agregação
fonle : Pettersse n (1969). de cr istais de gelo.
CAPÍTULO4 Balanço da umidade atmosférica 91

• Saraiva- refere-se, no Reino Unido, a uma pia em torno do aparelho aumenta a quantidade
mistura de chuva -neve; na América do medida. Correções de dados devem conside rar
Norte, a pequenos grãos translúcidos de a proporção da precipitação que cai na forma lí-
gelo (gotas de chuva congeladas) ou flocos quida e sólida, a velocidade dos ventos durante
de neve que derreteram e congela ram no- a precipitação e a intensidade da precipitação.
vamente. Estudos realizados na Suíça sugerem que os
• Orvalho - gotículas de condensação sobre totais observados subestimam as quantidades
superfícies de solo ou grama , depositadas verdadeiras em 7% no verá .o e 11% no inverno
quando a temperatura da superfície está abaixo de 2000 m, mas até 15% no verão e 35%
abaixo da temperatura do ponto de orvalho no inverno nos Alpes entre 2000 e 3000 m.
do ar. A geada é a forma congelada, quan- A densidade das redes de pluviômetros li-
do cristais de gelo se depositam sobre uma mita a precisão das estimativas de precipitação
supe rfície. por área. O número de pluviômetros por 10000
• Rime - gelo cristalino ou granular claro, de- km 2 varia de 245 na Grã-Bre t anha a 10 nos Es-
positado quando nevoeiro ou gotículas de tados Unidos e apenas três no Canadá e na Ásia.
nuvens supercongeladas en contram uma A cobertura é esparsa em regiões montanhosas
estrutura vertical, árvores ou cabos suspen- e polares. Em muitas áreas de terra, radares me-
sos. O depósito de rime cresce na direção teorológicos fornecem informações singulares
do vento em uma forma triangular, relacio- sobre sistemas de tempestades e estimativas
nada com a velocidade do vento . É comum quantitativas da precipitação média por área
em climas marítimos frios e em montanhas (ver Qu adro 4. 1). Dados dos oceanos chegam
em latitudes médias no inverno . de estações em ilhas e de observações a partir de
navios sobre a frequência e intensidade relativa
De modo geral, apenas a chuva e a neve das precipitações. O sensoriamento remoto por
contribuem significativamente para os totais satél ite, usa ndo dados de micro -ondas passivas
de precipitação . Em muitas pa rtes do mundo, e infravermelhos, proporciona estimativas in-
o termo chuva pode ser usado em vez de pre- dependentes da chuva em grande escala sobre
cipitação. A precipitação é medida em um plu- os oceanos .
viômetro, um tubo cilíndrico coberto por um
funil para reduzir as pe rdas evaporativas, que 2 Características da precipita~ão
geralmente fica no chão . Sua altura é de cerca de
60 cm, e seu diâmetro , de 20 cm . Existem mais As características climatológ icas da.precipitação
de 50 tipos de pluviômetros em uso por servi- podem ser descritas em termos da precipitação
ços meteorológicos ao redor do mundo! Em média anual, do ciclo anual, da variabilidade
regiões com muito vento e neve, eles são equi- anual. e de tendências decenais. Todavia, os hi-
pados com um escudo de vento para aumentar drólogos estão interessados nas propriedades
a eficiência de c-0leta. Deve-se enfatizar que os de tempestades individua is. As observações do
registros de precipitação são apenas estimativas. tempo em geral indicam a quantidade, duração
Fatores ligados à localização do aparelho, sua e frequência da prec ipitação, que possibilitam
altura acima do solo, turbulência no fluxo de ar, dete rminar outras características delas deriva-
das . Três dessas serão discutidas a seguir.
espirramento e evaporação introduzem erros na
coleta . Diferenças no desenho do aparelho afe-
tam o fluxo de ar sobre a abertura, a retenção
Intensidade da chuva
por umidificação e as perdas do tubo por eva- A intensidade(= quantidade/duração) da chu-
poração. A neve que cai est á sujeita aos efeitos va durante uma tempestade específica, ou um
do vento, podendo resultar em uma representa - período ainda mais curto, é vital para hidrólo-
ção inferio r da verdadeira quantidade em 50% gos e engenheiros hídricos preocupados com a
ou mais. Foi provado que uma cerca de n eve du- prev isão e prevenção de enchentes, bem como
92 At mosfer a, Tem po e Clim a

4.1 Meteorologia por radar


O rada r (rod jo detection ond ranging), desenvolvido para a detecção de aer onaves dur a nte a Segund a
G uerra M undi a l, logo passou a ser apl icado pa ra acompa nha r a s órea s de p recipitaç ão a parti r de ecos
de rada r. O ndas de ródi o tra nsmitidas po r um a antena na fa ixa de compr imento de onda de cent fmetro s
{ge ralm ente 3 e 10 cm) são refletidas pelas gota s de chuva e pa rtículas de ge lo, bem como por got ículas
das nuvens, pa rti culad os, enxames de insetos e ba ndos de póssa ros. O sinal de reto rno e sua def a sagem
tempo ra l fo rnecem infor mações sob re os ob jetos loca lizados no cominh o do feixe e sua direção, dfstõ ncia
e alt itude . A necessid ade de detecta r tem pestades trop ica is levou ao s prim eiros p rogra mas de formaçã o
em interp retação de radar em 1944 . E,m 1946 -1947, o Thunderstorm Project, diri g ido po r H. R. Byers, usou
o rada r pa ra aco mpa nha r o crescimento e a organ ização de tempestade s na Fl6 rida e em Oh io. G radua l-
mente, fo ra m criado s ind icad ores do grav idade dos te mpestades , co m base no fo rm o e no ar ranjo do s
eco s, em sua extensão vertical e no intensidade do reflexão m edido em dec ibéis (dB). Grand e pa rte desse
pro cesso ho je é outo mót ico. Rodares meteoroló gicos proje tados especificame nte p aro esse fim para o U.S.
Wea ther Bureau somente surg iram em 1957 . N a década de 1970 , o rada r Dop pler, que uso um a a lteração
no f req uência prod uzida p or um alvo móvel pa ra dete rminar o movim ento horizontal relativo à local ização
do radar , começo u a ser usado para pesq uisas sobre gra nizo e to rnado s. Siste mas de Do ppl er Dual são
usado s paro ca lcula r o veto r hor izonta l d o vento . O N ext Gene rot ion Weat her Radar (NEXRAD), lançado
no década de 1990 nos Estados Unidos, e sistemas semelhantes no Conodó e em pa íses europ eus, são
instrumento s modernos de Dopp ler. O perfil vert ica l de ventos no atmo sfera pode ser dete rminad o com
um rada r Dopp ler no sentido vertical , operando na s fa ixas VHF (30 MHz) a UHF {3 G Hz). A velocidad e do
vento é calcu lado a part ir de variações no índice ref rat ivo do ar li mp o cau sado pela tu rbulência . A pa rtir
do década de 1980 , mos ma is pa rticularmente ao longo dos últi mos 1O ano s, radares com co mpr imentos
de o nda de milíme tro s (35 e 94 GHz ) passara m a ser usados para estuda r pequ enos got ículas e crista is de
ge lo em nuvens . Em 2006 , um rada r de 94 GHz f oi lançado com o satélite CloudSat.
Uma apl icação im porta nte do rada r é est im a r a inte nsidade da prec ipitação . R. We xl er e J. S.
Mars hall e colegas estabe lece ra m um a relação entre a refl etividade do roda r e a t axa de prec ip itação
em 1947. Eles ob serv aram q ue o reflet ivi dade , Z, depe nde da co ncent ração de got ícul as (N}, mul tip li-
6
cada pela sexta pot ência do d iõmetro (D ). As estimat ivas gera lm ente são ca libradas co m refe rência a
m ed ições fe ita s com o p luvi ô m etro .

Referência
Kollios, P. etc/. (2006) Millimeter-wovelenght rodors. Bu//Amer. Met. Soe. 88(10), 1608 -24.
Rogers, R. R. and Smith, P. l. (1996) A shorl history of rada r meteoro logy, in Fleming, J. R. {e d.) HistoricalEssays on
Meteoro!ogy 1919- 1995. American Meteorological Society, Boston, MA, 57- 98 .

conservacionistas que lidam com a erosão do de para 1000 minutos (Le., 16,5 horas ). Observe
solo. Os regist ros da taxa de pluviosidade (hie- que muitos dos recordes para eventos com du -
togramas) são necessár ios para avaliar a intensi - ração ma ior que um dia ocorrem nos trópicos.
da.de, que varia notavelme nte com o período de Os recordes de 24 horas e de 12 meses da índia
tempo selecionado . As intensidades médias são ocorreram em Cherrapunji - 1563 mm e 22992
maiores para períodos mais curtos (chuvaradas mm, respectivamente.
do tipo tempes tade ), como ilustra a Figura 4.10 A chuva de alta intensidade é associada a
para Milwaukee , nos Estados Unidos. gotas de maior tamanho, em vez de um número
No caso de taxas extremas em diferentes maior de gotas . Por exemplo, com intens idades
pontos do planeta (Figura 4.11), a intensidade de precipitação de 0,1, 1,3 e 10,2 cm /h, os diâ -
recorde em 10 minutos é aprox imadamente três metros mais frequentes de gotas são O,1, 0,2 e
vezes maior do que para 100 minutos, e esta ex- 0,3 cm , respectivamente . A Figura 4.12 mostra
cede na mesma proporção a intensidade recor - precipitações máximas esperadas para tempes -
CAPÍTULO 4 Balanço da umidade atmosférica 93

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Duração da tempes tade (minutos)

Figura 4.1 O Relação entre a intensidade e duração da chuva em Mi lwaukee, EUA, durante três meses em 1973 .
fonte: US Environmento l Doto Serv ice (1974). Cortes ia de US Environme ntol Doto Se rvice .

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Minutos Horas Dias Meses

Figura 4 .11 Recordes mund iais de chuvas (mm) com uma linha separando o pe ríod o ante rior a 1967 . Hó a
equação da linha e o estado ou país onde foram estabe lecidos recordes importantes.
Fonte: Modificado e atua lizado de Roddo (1970) . Cortesia de lnslilute of British Geograp hers.
94 Atmosfe ra, Tempo e Clima

tades de diferente duração e frequência nos frequência de tempestades de chuva


Estados Unidos . As máximas são ao longo da
É importante conhecer o período de tempo
Costa do Golfo e na Flórida.
médio em que podemos esperar que uma de-
terminada quantidade ou intensidade de chuva
Extensão de uma tempestade de
ocorra uma vez, o que é denominado intervalo
chuva
de recorrência ou tempo de retorno . A Figura
Os totais de pluviosidade recebidos em um 4.14 mostra esse tipo de informação para seis
determinado período de tempo dependem do estações contrastantes. A partir dela, parece
tamanho da área considerada. As médias de que, em média , a cada 20 anos, é provável que
pluviosidade para uma tempestade de 24 horas haja uma chuva de 24 horas de pelo menos 95
cobrindo 100.000 km 2 podem ser apenas um mm em Cleveland, e de 216 mm em Lagos . To-
terço a um décimo das de uma tempes tade em davia, esse tempo de retorno médio não signi-
uma área de 25 km 2• A relação curvilínea é se- fica que essas chuvas ocorram necessa riamente
melhante à usada para a duração e intensidade no vigésimo ano de um período escolhido. De
da chuva . A Figu ra 4. 13 ilustra a relação entre fato, elas podem ocorrer no primeiro, ou nun-
a área e a frequência de ocorrência de chuva ca! Essas estimativas exigem longos períodos
em Illinois , nos Estados Unidos. Nesse caso, de dados observacionais, mas as relações linea-
um histograma apresenta uma linha reta. Para res aproximadas mostradas nesses gráficos são
100 anos , ou chuvas mais fortes, a frequência de de grande significância prática para a criação
tempestades nessa região pode ser estimada por de sistemas de controle de enchentes, represas
896 2
0,0011 (área) 0 ' , onde a área é em k.m • e reservatórios.

Tempes tade de 1 hora Tempes tade de 24 horas


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Figura 4.12 Prec ipitação móxima esperada (mm) para tempes tades de 1 hora e de 24 horas de duração,
ocorrendo uma ve.z em 10 anos e uma vez em 100 anos sobre os Estados Unidos, calculada a partir de registros
anteriores a 1961 .
Fonte: US No tion al Weother Service Co rt esia NOAA .
CAPÍTULO4 Balanço da umidade atmosférica 95

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Área (km2)

Figura 4 .13 Relação entre óreo (km2) e frequênc ia de ocorrência, durante cinco a nos, de tempes tades que
produ zem quan tidades de chuva de {A):25 anos e (B) 100 anos ou mais pesadas, poro períodos de 6-12 horas
sobre 50% ou ma is de cada óreo em Illinois.
Fonfe: S.A . Chog non {2002 ). Journo/ of Hydromeleorology com pe rmissão do Amer icon Meteo ro log icol Soc iety.

Estudos sobre eventos de tempestade fo- da Figura 4.16 com o perfil meridional de pre-
ram realizados em diversas áreas climáticas. cipitação média para cada latitude (Figura 4.17)
Um exemplo para o sudoeste da Inglaterra é mostra as grandes variações longitudinais que
mostrado na Figura 4.15. A tempestade de 24 se sobrepõem no padrão zonal . O padrão zonal
horas teve um tempo de retorno estimado de tem vários aspectos significativos:
150-200 anos. Em comparação, as tempestades
1 O máximo «equatorial': que é deslocado
tropicais têm intensidades muito maiores e in-
para o Hemisfério Norte. Isso está rela-
tervalos de recorrênc ia mais curtos para totais
cionado principalmente com os sistemas
comparáveis.
convergentes dos ventos Alísios e os regi-
mes de monções do hemisfério de verão,
3 O padrão mundial de
particularmente no sul da Ásia e oeste da
precipitação
África . Os totais anuais sobre áreas exten-
Em âmbito global, 79% da precipitação total sas são da ordem de 2000-2500 mm ou

caem nos oceanos e 21%, sobre a terra (Figura mais.
4. 1). Uma olhada rápida nos mapas da quanti - 2 A máxima da costa oeste em latitudes mé-
dade de precipitação para dezembro a feverei- dias associada às trilhas de tempestades dos
ro e junho a agosto (Figura 4. 16) indica que as ventos de oeste. A precipitação nessas áreas
distribuições são consideravelmente mais com- tem um elevado grau de confiabilidade.
plexas do que aquelas , por exemplo , da tempe - 3 As áreas secas das células de alta pressão
ratura média (ver Figura 3.11). A comparação subtropicais, que incluem muitos dos prin-
96 At mosfera, Tem po e C lim a

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Tempo de retor no (anos)

Figura 4.14 D iagramas de p luviosidade / duração /f requênc ia para ch uvas móxim as d ió rias em re laçóo a uma
va ri edade de estações , do dese r1o da Jo rdân ia a uma el evaçóo d e 1462 m nas Fil ip inas monç6n icos.
font e : Rodd o (19 70 ); Linsley on d Franzini (196 4); Ayoade (1976).

cipais desertos do mundo, bem como vastas A Figura 4.16 demons tra por que os sub -
extensões oceânicas. No Hemisfério N arte, trópicos não aparecem como particularmente
o caráter remoto dos inter iores continentais secos no perfil meridional, apesar da conhecida
estende essas condições secas para latitudes aridez das áreas subtropicais de alta pressão (ver
médias. Além de totais anuais médios mui - Capítulo 10). Nessas latitudes , os lados orientais
to baixos (menos de 150 mm), essas regiões dos continentes recebem consideráve l pluviosi -
têm uma considerável variabilidade de ano dade no verão.
para ano. Diante dos comp lexos controles envo l -
4 Baixa precipitação em latitudes elevadas e vidos , nenhuma explicação rápida para essas
no inverno sobre os interiores continentais distribuições de precipitação será sat isfatória.
do hemisfério norte. Isso reflete o baixo Diversos aspectos de regimes de precipitação
teor de vapor do ar extremamente frio. A selecionados são examinados nos Capítulos 10
maior parte dessa precipitação ocorre na e 11, após uma consideração das ideias fun-
forma sólida. damentais sobre o movimento atmosférico e
CAPÍTULO4 Balanço da umidade atmosférica 97

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Simonsbath

Figura 4.15 Distribuição da pluviosidade (mm) sobre Exmoor , sudoeste do Inglate rra , durante um período de
24 horas em 15 de agosto de 1952, que gerou enchentes locais catas trófica s em Lynmouth. A bacia estó marca-
do (linh a tra cejado) ; 75% da chuv a caíram em apenas sete horas,
Fonte : Dobb ie ond Wo lf (l 953) . Co rtes io de lnstitule of Civil Enginee rs.

os distúrbios climáticos. Aqui, simplesmente 4 A orientação de cadeias montanhosas com


apontamos quatro fatores que devem ser consi- relação aos ventos predominantes.
derados ao estudar as Figuras 4. 16 e 4.17:
4 Variaejões regiona is da máxima
1 O limite imposto sobre o teor máximo de
umidade da atmosfera pela temperatura do
precipitação com a altitude
ar, o que é importante em latitudes altas e O aumento na precipitação média com a alti-
no inverno em interiores continentais. tude ao longo de declives montanhosos é uma
2 As principais zonas latitudinais de influxo característica comwn de latitudes médias, em-
de umidade devido à advecção atmosférica. bora os perfis de precipitação difiram regional
Isso, em si, é reflexo da circulação atmos- e sawnalmente. Pode-se observar um awnento
férica global e de seus distúrbios (i.e., os até pelo menos 3000-4000 m nas Montanhas
sistemas convergentes dos ventos Alísios Rochosas do Colorado. No oeste da América
e particularmente os ventos ciclônicos de do Norte, a máxima ocorre a bar lavento em
oeste). declives de Sierra Nevada, ao passo que, no
3 A distribuição das massas de terra. O He- oeste do Canadá, existe uma associação entre
misfério Sul não possui os vastos e áridos o relevo e os máximos de precipitação. Nos Al-
interiores continentais em latitudes mé- pes, os padrões variam, com máximas em altas
dias observados no Hemisfério Norte . As elevações nos Alpes centrais e elevações baixas
grandes áreas oceânicas do Hemisfério Sul nas cadeias montanhosas externas ao norte e
permi tem que as tempestades de latitudes sul. No oeste da Grã-Bretanha, com montanhas
médias aumentem a precipitação zonal mé- de aproximadamente 1000 m, as precipitações
dia a 4SºS em um terço, comparadas com máximas são registradas a sotavento dos picos.
as do Hemisfério Norte a SOºN. Os regimes Isso provavelmen te reflete a tendência geral
de monções também criam irregularidades de o ar subir por um certo período depois de
longitudinais, especialmente na Ásia. cruzar a linha de cumes e a defasagem tem-
98 Atmosfe ra, Tempo e Clima

Dezembro-Fevere iro

Junho -Agosto ~--


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0,5 1,0 2,0 4,0 6,0 10,0
mm por dia

Figura 4.16 Precipitação global média (mm por dia) paro os per íod os de deze ,mbro a fevereiro e junho a
agosto.
fonte : Legates (1995) . De /nternolionol Journal of Climalology , copy right © Jo h n Wiley & Sons Ltd. Reproduz ido co m perm issão.

poral envolvida no processo de precipitação sobre o acúmulo de água nos pluviômetros.


após a condensação . Sobre elevações estreitas, Estudos realizados no observatório de Ho -
a distância horizontal talvez não proporcione henpeissenberg, na Bavária, mostram que os
tempo suficiente para a acumulação máxima pluviômetros comuns podem superestimar as
de nuvens e a ocorrência de precipitação . To- quantidades em aproximadamente 10% nos
davia, outro fator pode ser o efeito dos vórtices, declives a sotavento e subestimá-las em 14% a
criados pelo fluxo de ar através das montanhas, barlavento .
CAPÍTULO 4 Balanço da umidade atmosférica 99

3000 -.-----------------....-----------------
(A) Oceanos
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90ºN 60 ºN 30 ºN Oº 30ºS 60º S 90ºS

Figura 4.17 Precipi taç ão médio (cm/an o) sobre (A) : os oceanos; (B): a terra, e (C) : globa lm ente po ro dezem-
bro-fevere ir o, junho-agosto e anualmen te.
Fonfe : Peixoto o nd Oor l (1983), Fig. 23 . Copyrigh t@ D. Reide l, Dord rech t, com pe rmissão de Kluwer Acodemic Pub lishers.

Nos trópicos e subtrópicos, a precipitação vação bastante maior, sobre as montanhas no


máxima ocorre abaixo dos p icos mon tanhosos leste da África (ver Capítulo 1 lH.2). A Figura
mais elevados , e seu nível diminui em direção 4.19A mostra que, apesar da ampla varieda -
ao cume. As observações costumam ser espar- de de registros para estações individuais, esse
sas p ara os trópicos, mas vários registros de efeito é visíve l ao longo do flanco do Pac ífico
Java mostram que a elevação média de maior das montanhas da Guatemala. Mais ao norte ao
precipitação é de aproximadamente 1200 m. longo da costa, a ocorrência de uma máxima
Acima de 2000 m, a diminuição nas quanti- de precipitação abaixo da crista mon tanhosa
dades se torna no t ável. Aspectos seme lhantes é observada em Sierra Nevada, apesar de al-
são observados sobre o Havaí e, em uma ele- gumas complicações introduzidas pelo efeito
100 Atmos fera, Tempo e Clima

protetor das cadeias montanhosas costeiras das nuvens tende a estar abaixo do nível da esta-
(Figura 4.18B), mas, nas Montanhas Olimpic ção. Essas diferenças relacionadas com o tipo e
de Washington, a precipitação aumenta até os a profundidade das nuvens são visíveis mesmo
cumes . Os pluviômetros instalados nas cristas diariamente em latitudes médias. Também são
montanhosas podem subestimar a precipitação observadas variações sazonais na altitude do ní -
real, devido aos efeitos dos vórtices, e isso se vel médio de condensação e na zona de máxima
aplica particularmente onde a maior parte da precipitação . Por exemplo, nas montanhas de
precipitação cai na forma de neve, que é susce - Pamir e Tien Shan na Ásia Central, a máxima
tível a ser soprada pelo vento. ocorre aproximadamente a 1500 m no inverno
Uma explicação para a diferença orográfi - e 3000 m ou mais no verão . Outra diferença
ca entre a pluviosidade tropical e a temperada entre os efeitos orográficos na precipitação nos
baseia-se na concentração de umidade em uma trópicos e em latitudes médias está relacionada
camada razoavelmente rasa de ar perto da su - com a grande instabilidade de muitas massas de
perfície nos tróp icos (ver Capítulo 11). Grande ar tropicais . Quando as montanhas obstruem o
parte da precipitação orográfica parece derivar fluxo de massas de ar tropicais úm idas, a tur -
de nuvens quentes (particularmente cumulus bulência contrária ao vento pode ser suficiente
congestus), compostas por gotículas de água, para desencadear convecção, produzindo uma
que em geral têm um limite superior de cerca máxima de pluviosidade em elevações baixas.
de 3000 m. É provável que a altitude da zona Isso é ilustrado na Figura 4.19A para Papua -
de precipitação máx ima esteja perto da base -Nova Guiné, onde existe um regime eólico sa-
média das nuvens, pois os maiores tamanhos e zonalmente alternado - de noroeste (sudeste)
números de gotas ocorrem naquele nível . Des- no verão (inverno) austral . Já em fluxos de ar
se modo, as estações localizadas acima do nível mais estáveis em latitudes médias, a pluviosida -
da base média das nuvens recebem apenas uma de máx ima está relacionada com a topografia
proporção do incremento orográfico. Em latitu- (ver Figura 4.19B para os Alpes suíços ).
des temperadas, grande parte da precipitação ,
especialmente no inverno, cai de nuvens estra- 5 Seca
tiformes, que em geral se estendem por uma O termo "secá' acarreta a ausência de precipi-
profundidade considerável da troposfera. Nesse tação significativa por um período suficiente -
caso, uma fração menor da profundidade total mente longo para causar déficits de umidade no

2500-t-------------r---------.----.----------+-
A Montanhas da Guatemala B Sierra Nevada - e Olympic ?•
14-15º N Califórn ia • •• Range
2000 • 38-39ºN - Califórnia
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38-39ºN
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Precipitação anual média {mm)

Figura 4.18 Curvos generalizados mostrando a re lação entre a e levação e a precipitação anual médio pa ra
declives mon ta nhosos volt ados paro oeste na América Central e do Norte. Os pontos dão uma indicação da
amplo dispersão das le itur as individuais da precipitação,
Fonte: Modif icado de Hostenrath (196 7) and Armslro n g ond Stidd (1967}.
CAPÍTULO 4 Balanço da umidade atmosfér ico 101

(A) (B)
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SSW NNE NW SE

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Figura 4.19 Relação entre a precipitação (linho) e o relevo nos trópicos e em latitudes méd ias. (A): as massas
de a r altamente satura d a s sobre a Cordilheira Central de Pap ua -N ova Guiné geram pr e cipitaçõ es sazonais
móximos nos declives a b a rlavento da s montanhas, com alterações na circulação monçônic a ; (BJ:ao longo d o
maciço de Jungfrau, nos Alpes suíços, o precip itação é muito menor do que em (A) e estó relaciona d o com o
topog rafia do lo do a barlaven to d os mont a nhas. As flech a s mostram as direções predominantes d o fluxo de ar.
Fontes: (A) Borry (2008 ). (B) Mourer ond Lütschg de Borry (2008).

solo por evapotranspiração e reduções no fluxo gura 13.11) são atribuídas à expansão do
dos cór regos, atrapalhando as atividades bioló- anticiclone dos Açores para leste e sul.
gicas e humanas normais. Danos em plantações 2 Mudanças na circulação das mo n ções de
e falta de água são resultados típicos de con - verão, o que pode causar pos tergação ou
dições de seca. Assim , uma seca pode ocorrer ausência de incursões tropicais úmidas em
após apenas três ou quatro semanas sem chuva áreas como o oeste da África ou o Punjab
em partes da Grã-Bretanha, ao passo que cer- na índia. Na índia, a ausência das monções
tas áreas dos t rópicos p assam por muitos me - nos anos 1965-1966, 1972 e 1987 produziu
ses secos sucessivos. Não existe uma defmição as secas mais longas e prejudiciais regist ra-
universalmen te aplicável de seca . Especialistas das entre 1950-2000.
em me teorologia, agricul tura, hidrologia e es- 3 Temperaturas baixas anômalas nas super -
tudos socioeconômicos, que têm perspectivas fícies oceân icas prod uzidas por mudanças
diferen tes, sugerem pelos menos 150 definições em correntes ou pela maior ressurgência
díspares! Todas as regiões sofrem a condição de águas frias . A pluviosidade na Califór -
temporária, mas de recorrência irregular, da n ia e no Chile pode ser afetada por esses
seca , com destaque àque las com climas mar - mecanismos (ver p. 373), e a pluviosidade
gina is influenciados alternativamen te por me- adequada na região do nordeste bras ileiro ,
canismos climát icos diferentes. As causas das suscetível à seca, parece depender de tem -
condições de seca são: pera turas elevadas na superfície do mar
1 Aumentos no tamanho e na persis tência en tre 0- lS ºS no Atlân tico sul . As águas
de células de alta pressão subtropicais. As oceânicas quentes da costa do Peru e as
principais secas no Sahel africano (ver Fi- teleconexões associadas (ver p. 371-379)
102 Atmos fera, Tempo e Clima

causaram secas severas na Austrália em


1982-1983.
4 Deslocamento de trilhas de tempestade
em latitudes médias, o que pode estar as-
sociado à expansão dos ventos ocidentais
circumpolares para latitudes menores, ou
ao desenvolvimento de padrões de circula -
ção bloqueadores e persistentes em latitu -
des médias (ver Figura 8.25). Foi sugerido
que as secas nas Great Plains, a leste das
Montanhas Rochosas, nas décadas de 1890 ~ '·- ~
.........
e 1930, se deveram a essas mudanças na '~'· · /
Áreas de seca '
circulação geral. Todavia, as secas das dé -
cadas de 1910 e 1950 nessa área foram cau-
.
1 []O 1890 e 1930
§ 1910 e 1950

sadas por uma pressão elevada persistente '


Figura 4.20 Areas de seca na reg ,ião centra l dos
no sudeste e pelo deslocamento de trilhas EUA, com base nos óreas que recebem menos de
80% da prec ipitação normal paro julho-agosto.
de tempestade para norte (Figura 4.20).
Font e : Borcher t (1971) . Cortesia de Assocíafio n of Ame rica n
A partir de uma análise global de variações Geograp hers .
simuladas na umidade do solo, secas de até 6
meses tendem a ocorrer nos trópicos e em la- sobre o Atlântico e o Pacífico. Sobre a Europa,
titudes médias , onde existe uma elevada varia - as condições secas na superfície aumentaram
bilidade climática interanual, enquanto secas a estabilidade da atmosfera, reduzindo ainda
de 7- 12 meses são mais frequentes em latitudes mais a possibilidade de precipitação. Outras
médias a altas. Secas com duração de 12 meses secas importantes na Inglaterra e no País de
ou mais se limitam ao Sahel e a latitudes seten- Gales (1800 -2006) ocorreram da primavera de
trionais maiores. Secas severas em geral ocor- 1990 ao verão de 1992 e da primavera de 1995
rem no norte da Ásia, com anomalias persisten- ao verão de 1997. A chuva de abril a agosto
tes de inverno na umidade do solo. de 1995 sobre a Inglaterra e o País de Gales
De maio de 1975 a agosto de 1976, algu - foi de apenas 46% da média (em comparação
mas partes do noroeste europeu, da Suécia ao com 47% em 1976) , novamente , associada a
oeste da França, tiveram condições de seca uma extensão do anticiclone dos Açores para
severas. O sul da Inglaterra recebeu menos o norte. Esse déficit tem um tempo de retor-
de 50% da chuva média, a seca mais severa e no estimado de mais de 200 anos! Outra seca
prolongada desde que os registros começa- ocorreu em 2004-2006, e foi extremamente se-
ram em 1727 (Figura 4.21). As causas imedia - vera no sul da Inglaterra. Todavia, essas secas
tas desse regime foram o estabelecimento de não se comparam em duração com as secas de
um bloqueio atmosférico e persistente de alta 1854-1860 e 1890-1910.
pressão sobre a área, deslocando as linhas de As secas severas e persistentes envo lvem
depressão 5-10º de latitude ao norte , sobre o combinações entre vários mecanismos. A seca
Atlântico Norte Oriental . Mais acima, a cir- prolongada no Sahel - uma zona de 3000 por
culação sobre o Pacífico Norte já havia mu - 700 km, estendendo-se ao longo da borda sul
dado, com o desenvolvimento de uma célula do Saara , da Mauritânia ao Chade - que co-
mais forte de alt a pressão e ventos de oeste meçou em 1969 e continua até o presente com
mais altos e mais fortes , talvez associados à su - algumas interrupções (ver Figura 13.11) -, foi
perfície do mar mais fria do que a média. Os atribuída a vários fatores, incluindo a expansão
ventos de oeste foram deslocados para norte do vórtice ocidental circumpolar, deslocando
CAPÍTULO4 Balanço da umidade atmosférico 103

(A) (B)

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Figura 4 .21 A seco do noroeste do Europa entre maio de 1975 e agosto de 1976 . (A): condições de bloqueio
por oito pressão sobre o Grã-Bre tanha, bifu rc ação da corrente de ja to e baixas temperaturas no superfície do
mar; (B): pluviosidade sobre o oes te europeu entre maio de 1975 e agos to de 1976 , expressa em porcentagem
do média de 30 anos.
Fonte : Doo rn kamp ef ai. (1980 ). Cortesio de lns tilute of British Geogrop hers.

o cinturão de alta pressão subtropical para o A defmição meteorológica de seca setor-


equador, e as temperaturas baixas na superfí - na nebulosa com o tema da desertificação,par-
cie do mar no Atlân ti co Norte Oriental. Não ticularmente desde a conferência das Nações
existem evidências de que a alta pressão sub- Unidas sobre o tema, realizada em 1977, em
tropical estivesse mais ao sul, mas o fluxo de ar Nairóbi . Essa preocupação foi despertada pela
seco do leste era mais forte ao longo da África seca prolongada, resultando em desseca .ção,
durante os anos de seca . Várias secas ocorre- em grande parte da zona do Sahel . Por sua vez,
ram em 1983-1984. Em setembro de 1984, por acredita -se que a remoção da vegetação, que
exemplo, 69% do Sahel (10-20ºN, 20ºW-20ºE) aumenta o albedo superficial e reduz a evapo-
tiveram seca, e 18 dos 20 meses avaliados de transpiração, resulte em menor pluviosidade.
extensão espacial de seca foram observados na O problema para os climatologistas é que a de-
década de 1980. sertificação envolve mais degradação da terra
A seca de 1988 na região central dos Esta- como resultado das atividades humanas, espe -
dos Unidos é a primeira (1950-2000) em termos cialmente em áreas de savana e estepe ao redor
de extensão da seca de verão, e estima -se que das principais regiões desérticas . Essas áreas
causou perdas de UU$30 bilhões na agricultura. sempre foram sujeitas a flutuações climáticas
As causas de seu desenvolvimento e longevida - (diferentes das mudanças climáticas) e a im -
de são atribuídas a anomalias estacionárias da pactos humanos (p.ex., desmatamento, manejo
circulação atmosférica, anomalias na tempera- inadequado da irrigação, pastoreio excessivo) ,
tura da superfície do mar efeedbacks de precipi - dando início a alterações na cobertura super -
tação de umidade para o solo. ficial, que modificam o balanço de umidade .
104 Atmos fera, Tempo e Clima

As medidas da umidade atmosférica são : a mosso absoluto de umidade em unidades de mosso (ou
volume) de ar, como proporção do valor de saturação; e o pressão de vapor de ógua. Quando resfria-
do à pressão constante, o ar se torna saturado à temperatura do ponto de orv a lho.
Os componentes do balanço de umidade superficial são a precipitação tot a l (incluindo a conden-
sação sobre a superfície), a evaporação, a mudança no estoque de ógua no solo ou em uma cobertura
de neve e o escoamento (na superfície ou no solo) . A taxa de evaporação é determinada pela energia
disponível, pela diferença na pressão de vapor entre a superfície e o ar, e pela velocidade do vento,
supondo -se que o suprimento de umidade seja ilimitado. Se o suprimento de umidade for limi tado, a
tensão hídrica do solo e fatores relacionados com o vegetação afetam o taxa de evaporação. A eva po-
transpiração é determinada com um Hsímetro. De outra forma, pode ser calculada com fórmulas ba-
seadas no balanço de energia, ou no método do perfil aerodinâmico, usando os gradientes medidos
de velocidade do vento, temperatura e teor de umidade perto do solo.
A condensação na atmosfera pode se dar pela evaporação continuada para o ar; pela misturo de
ar de dtfe rentes temperaturas e pressões de vapor, de maneir a o alcançar o ponto de saturação; ou por
resfr iamento odiabótico do ar por ascensão, até alcançar o nível de condensação.
A pluviosidade é descrita estatisticamente pela intensidade, extensão e frequência (ou intervalo de
recorrência) de tempestades de chuva. A orografia intensifica o precipitação sobre encostos a barla -
vento, mas existem diferenças geográficas nesse efeito de altitude. Os padrões globais de quantidade
e regime anual de precipitação são determinados pela circulação atmosférica regional, pela proximi -
dade com áreas oceânicas, pela orografia, pelas temperaturas da superfície do mar e pel o balanço
de umidade atmosférica. As secas podem ocorrer em mu itas regiões clim6ticas diferentes, devido a
diversos fatores causais. Em latitudes médios, os anticiclones bloqueadores são um fator importante. A
principal causa da seca prolongada no Sahel af ricano parece envolver as flutuações clim6ticas.

• Trace os cam inh os possíveis de uma molécu la de água pelo ciclo hidrológico e cons idere as men -
surações necessár ias paro determinar as quan tidades de água envolv idos nos diversas transfor -
mações.
• Q ue processos levam a mudanças de fase da água na atmosfera e qua is são algumas de suas
consequênc ias?
• Qual é a sign ific6nc ia das nuvens no ba lanço globa l de água?
• Compa re o bala nço de umidade de uma coluna de ar com o de uma pequena bac io de d renagem .
• Qua [s são os dive rsas análises estat ísticas usadas para caracterizar os eventos de p luviosidade e
para qua is aplicações específ icas elos são im portantes?
• Cons idere como um diagrama do balanço anual de água pode d iferi r entre um ano úmido e um
ano seco no mesmo local.

... -
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Insta i i a e
atmos érica,
,.,
ormaCjao e
nuvens e processos

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Depois de ler este cap ítulo, você:

• conhecer6 os efeitos de desloca mentos vert icais sobre a temperatura de parce las de ar insat urado
e saturado ;
• saberá o que determ ina a estabili dade /i nstabil idade atmosfé rica;
• estará fam ili ar izado com os tipos básicos de nuvens e como eles se formam ;
• entender6 os do is mecan ismos principa is que levam à formação de precipitação ; e
• conhecer6 as caracter ísticas básicas das tempestades e saber6 como os raios se fo rmam .

Para entender como as nuvens se formam e a que não envolve subtração (ou adição) de calor,
precip itação ocorre, discuti remos primeiramen- é denominada adiabática. Os deslocamentos
te a mudança na temperatura com a altitude em verticais de ar são a principal causa das mudan -
uma parcela de ar ascendente , e os gradientes ças adiabáticas da temperatura .
térmicos verticais . Depois disso, considera .re - Perto da superfície da Terra, a maior parte
mos a estabilidade / instabilida de atmosférica e o das mudanças que ocorrem na tempe ratura são
que faz o ar subir e have r condensação . Os me - não adiabáticas (também denominadas diabá -
canismos e as classificações de nuvens são então ticas), por causa da transfe rência de energia da
descritos, seguidos por uma discussão sob re o superfície e da tendência de o ar se mistura r e
crescimento das gotas de chuva e os processos modificar suas característ icas com o movimen -
de precipitação e, finalmente , as tempestades . to lateral e a turbulência . Quando uma parcela
de ar se desloca verticalmente, as m udanças que
, ocorrem costumam ser adiabáticas, pois o ar
A MUDANÇAS ADIABATICAS NA
é um mau conduto r térm ico, e a parcela de ar
TEMPERATURA
tende a rete r a. sua própria ident idade térmica,
Quando uma parcela de ar se desloca pa ra um que o distingue do ar circundante. Todavia, em
ambiente de menor pressão (sem troca de calor algumas circunstânc ias, deve -se levar em conta
com o ar circundante), seu volume aumenta. O a mistura do ar com o seu entorno.
aumento do volume envolve trabalho e a trans - Cons idere as mudanças que ocorrem quan -
formação de energia, reduzindo o calor dispo - do uma parcela de ar sobe : a queda na.pressão (e
nível por unidade de volume e, assim, a t empe- densidade ) faz o seu volume aumentar e a tem-
ratura diminui. Essa mudança na temperatura, peratura diminuir (ver Capítulo 2B). A taxa em
108 Atm osfera, Tempo e Clima

que a temperatura diminui em uma parcela de As propriedades mutáve is de parce las de ar


ar ascendente e em expansão chama -se gradien- ascendente podem ser determinadas plotando -
te adiabático. Se o movimento ascendente do -se curvas sobre gráficos espec ialmen te cons -
ar não gera condensação, a energia adiabática truídos, como o diag rama T-log p e o tefigrama,
usada na expansão fará a temperatu ra da massa ou T-<j>-grama,onde <I>se refere à entrop ia. Um
cair num gradienteadiabáticoseco (GAS) cons - tefigrama (Figura 5.1) apresenta cinco conjun -
t ante (9,8º C/km ). Todavia, o resfriamento pro- tos de linhas representando propriedades da
longado do ar invariavelmente gera condensa - atmosfera :
ção e, quando isso ocorre, há libe ração de calor
1 Isotermas - isto é, linhas de temperatura
latente , que compensa a queda da temperatura
constan te (linhas parale las do canto infe -
adiabática seca até um certo ponto. Portanto, o
rior esquerdo a.o superior direito) .
ar ascendente e saturado resfria -se a uma taxa
2 Adiabáticas secas (linhas paralelas do canto
mais lenta (o gradiente adiabático saturado ou
inferior direito ao superio r esquerdo ).
úmido, ou GAU ) do que o ar insaturado. Outra
3 Isóbaras - ou seja, linhas de pressão cons-
diferença entre os gradientes adiabáticos seco e
tante e contornos de altitude cor respon-
saturado é que, ao passo que o GAS é constan -
dentes (linhas quase horizontais e levemen -
te, o GAU varia com a temperatura . Isso se dá
te curvas ).
porque o ar, em temperaturas mais altas, con -
4 Adiabáticas satu radas (linhas curvas que se
segue reter mais umidade e, portanto, libera
inclinam da. direita para a esquerda ).
uma quantidade maior de calor latente duran -
5 Linhas da razão de mistura de saturação (a
te a condensação. Em temperaturas elevadas, o
um pequeno ângulo em relação às isoter -
gradiente adiabático saturado pode ser de ape -
mas) .
nas 4ºC/km, mas ele aumenta com a queda na
temperatura , chegando a 9ºC /km a - 40 ºC. O A temperatura do ar, a temperatura do pon -
GAS é reversível ( ou seja, o ar descenden te se to de orvalho e a velocidade do ven to são de-
aquece a 9,8ºC/km ), ao passo que a saturação terminadas a partir de sondagens atmosféricas
do ar pers iste em nuvens descendentes, pois há feitas por uma rawinsonde(sondagens de vento
evaporação de gotículas de água. por radar ). Balões de hélio com um pacote de
Devemos distinguir três gradientes diferen - instrumentos suspenso e um refletor de radar
tes: dois dinâmicos e um estátic-0. O estático , o para rastreá -los são liberados em estações aero -
gradiente ambiental (ELR), é a redução real na lógicas ao redor do mundo uma ou duas vezes
temperatura com a altitude em qualquer oca - por dia . Os instrumentos contidos no paco t e
sião, como registraria um observador subin- são um ba rôme t ro aneroide para determina r a
do em um balão ou escalando uma montanha altitude, um sensor de tempera tura e um sensor
(ver Capítulo 2C .l). Esse, portanto , não é um do ponto de orvalho . Usa-se o radar para rastre-
gradiente adiabático , e pode assumir qua lquer ar o balão à medida que ele sobe e para calcular
valor, dependendo do perfil vertical local da a velocidade e direção do vento. Os dados são
temperatura do ar. Em comparação , os gra- info rmados em níve is padronizados (1000 , 850,
dientes adiabáticosseco e saturado (ou taxas de 700, 500, 300 , 200, 100, 50, 20 e 10 mb ) e em
resfriamento) se aplicam a parcelas de ar ascen - níveis intermediários , onde observam -se afas -
dentes que se deslocam por seu amb iente. Aci - tamentos significa tivos, através de interpolação
ma de uma supe rfície aquecida, o gradiente da linear entre os níveis padrão .
tempe r atura vertical às vezes excede o gradien- A temperatura do ar e a temperatura do
te adiabático seco (ou seja, é superadiabático ). ponto de orvalho são as variáveis que cos tu-
Isso é comum em áreas áridas no verão . Sobre mam ser plotadas em um diagrama adiabático .
a maioria das superfíc ies secas , o gradiente se As adiabáticas secas também são linhas de tem -
aproxima do valor adiabático seco a uma eleva - peratura potenc ial constante, 0 ( ou isen trópi-
ção de aproximadamente 100 m . cas). A temperatu ra potencial é a temperatura
CAPÍTULO 5 Instabil idade atmosférica, formação de nuvens e processos de precipitação 109

Temperatura do ar (ºC)
- 50 -40 -30 - 20 - 10




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Razão de mistura de saturação (g kg- 1)

figura 5.1 Diagramas adiabót icos , como o tefi gram a, mos t ram as segui nt es propr iedades da a tmosfe ra: tem-
peratura, pressão , temperatura po tenci a l, tempera tura po tenc ial de bulbo úmido e razão de mis tura de satura-
ção (um id ad e).
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T - P650
de uma parcela de ar trazida por meio de um ' \ ,, Ow2\ ;_.
processo a.diabá tico seco até uma pressão de \\\ ', \.,.e·
, ,0 2 .·
1000 mb. Matematicamente, Altitude '' 01
'-1 0 ' ' x~ .· '
. _,, . 1
'

Pressão
(_ _ ..:,
' ...,.__:,
'
' ,-. - '~ ....
..--/ -~·.---r
\ w, ' ·· 1
·-f' ;..__Pa50
= T { 1000 } 0,286
0 ' \ 1

p
'
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~
'
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1- ---- -}k---- -;j!.~- - - P,ooo
•• 1 '

onde 0 e T estão em K e p = pressão (mb) . Td Tw TA


Temperatura '"
A relação entre Te 0 e entre Te ;0w, a tem - Razão de mistura de saturação .,..
peratura potencial de bulbo úmido (onde a
parcela de ar é trazida a uma pressão de 1000 Figura 5.2 D iagrama mostrando as relações entre

mb por um processo adiabático saturado ), é a tempera tura (T), a temperatura po tencia l (8), a tem-
pera tu ra potencia l de b u lbo ú mido (8w) e o razão de
mostrada na Figura 5.2. A temperatura poten - mistu ra de sa t uração (XJ; Td = tempera tura do pon to
cial proporciona uma referência importante de orva lho , T = tempera tura de bulbo úm ido e TA=
para carac terísticas de massas de ar, po is, como temperatura do ar.
11 O Atm osfera, Tempo e Clima

o ar é afet ado apenas por processos adiabáti - O nível de condensação por elevação (LCL)
cos secos, a temperatura potencial permanece não leva em conta a mistura vertical . Um cálcu -
constante. Isso ajuda a identificar massas de ar lo modificado define um nível de condensação
diferentes e indica quando foi liberado calor la - convectivo (CCL). Na camada próxima à super -
tente por meio da saturação das massas de ar fície, o aquecimento superficial pode estabele-
ou quando houve mudanças não adiabáticas na cer um gradien te térmico superadiabát ico, mas
temperatura. a convecção o modifica para o perfil GAS . O
aquecimento diurno a.umenta a temperatura do
ar superficial gradualmente de T0 para Tl' T2 e
B NÍVEL DE CONDENSAÇÃO
T3 (Figura 5.4) . A convecção também equaliza a
O ar ascendente resfria à medida que as parce - razão de mistura de umidade, considerada igual
las de ar se expandem, e o nível de umidade re- ao valor para a temperatura inicial. O CCL se
lat iva do ar aumenta. localiza na intersecção da curva de temperatura
Depois de alcançar a saturação - 100% de ambiental, com uma linha de razão de mistu -
umidade relativa - ocorre condensação e for - ra saturad .a correspondente à razão de mistura
mam -se nuvens acima do nível de condensação. média na camada superficial (1000 -1500 m ).
Pode haver convecção, na forma de convecção Expressa de outra forma, a temperatura do ar
livre ou forçada. A convecçãolivre é causada por superficial é a mínima que permi te a formação
diferenças de densidade na atmosfera, que dão de nuvens como resultado da convecção livre .
origem às térmicas - correntes ascendentes cau - Como o ar perto da superfície costuma estar
sadas pelo aquecimento diferencial da atmosfe- bem misturado, o CCL e o LCL, na prática, são
ra. A convecçãoforçada envo lve a ascensão por quase idênticos.
forças mecânicas , como fluxos sobre barreiras A experimentação com um tefigrama mos-
orográficas , ascensão frontal , turbulência de - tra que os níveis de condensação por elevação e
corrente de fricção na superfície ou ascensão convectivo aumentam conforme a temperatura
por convergência de ventos. superficial, com pouca alteração do ponto de
A Figura 5.2 ilustra uma propr iedade im - orvalho . Isso costuma ser observado no começo
portante do tefigrama. Uma linha ao longo de da tarde, quando a base de nuvens cumulus ten -
uma . adiabática seca (0) através da temperatura de a estar em níveis mais elevados.
de bulbo úmido do ar superfic ial ( TA), uma iso -
pleta da razão de mistura de saturação (x 5) atra-
C ESTABILIDADE E INSTABILIDADE
vés do ponto de orvalho (Td) e uma adiabática
DOAR
saturada (0 w) através da temperatura de bulbo
úmido (T w), todas se cruzam em um ponto Se o ar estável (instável) é forçado a subir ou
correspondente à saturação para a massa de ar. descer , ele tem a tendência de retornar (con ti -
Essa relação, conhecida como teorema de Nor- nuar a se afastar ) à sua posição anterior uma vez
mand, é usada para estimar o nível de condensa- que cessa a força. A Figura 5.3 mostra a razão
ção por elevação (ver Figura 5.3). Por exemplo, para essa característica importante. A curva da
com uma temperatura do ar de 20ºC e um pon - temperatura ambiental (A) se encontra à direi ta
to de orvalho de 1OºC a 1000 mb de pressão na de qualquer curva descrita representando o gra-
superfície na Figura 5.1, o nível de condensação diente de uma parcela de ar não saturado res -
de elevação está a 860 mb com uma temperatu- friando -se pela adiabática seca quando forçada
ra de 8ºC. A altura desse ·~ponto " característico a subir. Em qualquer nível, a parcela em ascen-
é de aproximadamen te são é mais fria e mais densa do que o seu en -
torno e, portanto, tende a retornar ao seu nível
h (m) =120(T - Td)
anterior. De maneira semelhante , se o ar é for-
onde T = temperatura do ar e Td =temperatura çado a descer, ele aquecerá segundo o gradien-
do ponto de orvalho na superfície em ºC. te adiabát ico seco; a parcela sempre será mais
CAPÍTULO 5 Instabilidade atmosférica, formação de nuvens e processos de precipitação 111

quente e menos densa do que o ar circundante, laminar ou se tornar turbulento por flutuação : a
e tenderá a retornar à sua posição anterior (a chave é a temperatura da parcela de ar desloca-
menos que algo a impeça). Todavia, se o aque - da em relação à do ar circundante .
cimento superficial local faz o gradiente am -
Estável absoluta: ELR < GAU
biental perto da superfície exceder o gradiente
Neutra saturada: ELR= GAU
adiabático seco (B), o resf riamento adiabático
Condicionalmente instável : GAU < ELR <
de uma parcela de ar convecti.va permite que ela
GAS
permaneça mais quente e menos densa do que
Neutra seca: ELR= GAS
o ar circundante , de modo que ela continua a
Absolutamente instável: ELR > GAS
subir por flutuação. A característica do ar instá -
vel é a tendência de continuar a se afastar de seu Quando está mais frio que o seu entorno, o
nível original quando colocado em movimento . ar tende a descer . O resfriamento na atmosfera
A trans ição entre os estados estável e instável é geralmente resulta de processos radiativos , mas
denominada neutra. a subsidência ta.mbém pode resultar da conver -
Podemos sintetizar os cinco estados bási- gência horizontal do ar troposférico superior
cos de estabilidade estática que determinam a (ver Capítulo 6B.2). O ar descendente tem uma
capacidade do ar em repouso de permanecer velocidade ver tical típica de apenas 1- 1Ocm s_,,

A Caso estável Tropopausa


B Caso instável '

Curva
A amb ienta l

Alt itude
Pressão

\
. Curva
Instável ll descrita
~

''~·

.1/· \_;amada \ Nível dei
,, isotérmica X ~ ondensação
L------ -- ~~ /~. ~~ .- i~·'4Jllnn
/ --
~Vfilín
-- ------ -±---. s:~
-- T
/ ' GAS
~~~--~
T
/ ' d A
Temperatura --- ..-~

Figura 5.3 Tefigrama mostrando (A) caso de a r estáve l - TA é a tempera t ura do ar e Td é o pon to de orvalho ;
e (B) caso de ar instáve l. O níve l de condensação por elevação é mostrado, ju nto com a curva descr ita por uma
parce lo de o r ascendente (indicado pela flecha ). Xs é a li nho da razõo de m istu ra sa turado através da tempera-
tura do pon to de orva lho (ver tex to).
112 Atm osfera, Tempo e Clim a

Curva
ambiental

Altitude
Pressão
Nível de
condensação -- -il'i
. i:----

convectivo •













Razão •


de mistura •


saturada •














T1
Temperatura ----1~~

Figura 5.4 Diag ramo od iobótico esquemótico usado po ro determina r o nível de condensação convect ivo. T0
represento o tempe ratura no madrugado; T1, T2 e T3 ilustram o aquecime nto do a r superficial d urante o dia .

a menos que predominem fluxos descendentes m a-se isso de instabilidade condicional;o desen -
convectivos (ver a seguir ). A subsidência pode volvimento de inst abilidade depende da massa
gerar mudanças substanc iais na atmosfera; por de ar estar saturada. Como o gradiente ambien -
exemplo, se uma massa de ar típica desce apro- tal costuma est ar entre os gradientes adiabáti-
ximadamente 300 m , todas as got ículas de nu - cos seco e saturado, o estado de inst abilidade
vens de tamanho médio evaporam por meio do condicion al é comum. A curva descrita cruza . a
aquecimento adiab ático. curva ambiental a 650 mb . Acima desse nível,
A Figura 5.5 ilustra uma situação comum a atmosfera é estável, mas a energia ganha pela
em que o ar se encontra estável nas camadas parcela flutuan te ascenden t e possibilita que ela
inferiores. Se o ar for forçado a subir por uma pene t re bastante nessa região. O limite superior
cadeia mo ntanhosa ou pelo aquecimento super - teóri co de desenvolvimento de nuvens pode ser
ficial local, a curva descrita pode cruzar para a estimado a partir do tefigrama, det erminando-
dire ita. da curva ambien t al (o nível de convec - -se uma área (B) acima da inter secção da curva
ção livre). O ar, agora mais quente do que seu ambien tal e da curva descrita, igual à observada
entorno , é flutuante e está livre para subir. Cha - entre as duas curvas desde o nível de convecção
CAPÍTULO 5 Instabil idade atmosférica, formação de nuvens e processos de precipitação 113

/ /
/ 400
/
/ /
/ / /
7185 / / Área A = Ár ea B
/ / /
/ Curva /
oV/ /
~/ ambiental /
// / /
/ / /
/ / /
/ / /
/ / 500
/ /
/ /
/ / /
5574 / / /
/ /
/ /
/ /
/ /
/ Altitude aproximada /
/ /
do topo da nuvem /
ov/
"'.)(;)1/ / ' / 600
-
§.
<l> 4206
/
/ 7
/
/
oV/
/
/
/

/
"O / / /
/ / "G /
...
~
::,
;t;!

/
/
/
/
/ /
/
/
/
/

/ / // 700
/ /
/ /
/ /
3012 / ~v//
Curva \)
/ /
/ / descrita
~V/ / //
~1/ // /
/ / /
/ // // ~ /
/ / ' 850

1457
l/------- =-!.:
/=
/~====-:-_
r ~C-~;;.~
-
..J7/ ~ .:· ---- ///
- - - Nível de convecção livre
/, / ,: oV/
/ / ~/
/ GAU-7-- - /
/ / /
Nível de condensação por ascensão - -· :1.. /
/ / /
/ / GAS -_.-· - ~ // 1000

- 10 o 10
Temperatura {°C)

f[gura 5.5 Tefigr o mo esquemótico ilustrando os cond ições associa da s à instab ilidade condic iona l de uma
1
massa de ar que é forçada a subir. A razão de m isturo satur ad a é o linho pon tilhada (6g kg- ) e o níve l d e con-
densação por ascensão (b ase da nuvem) encon t ra-se aba ixo do nível de convecção livre .

livre até a intersecção (A) na Figura 5.5. O te- pois as suposições se aproximam das condições
figrama é construído de modo que áreas iguais observadas nas corren tes ascendentes das nu -
represen tam energia igual . vens cumulonimbus .
Esses exemplos pressupõem que uma pe - Em certas situações , uma camada profunda
quena parcela de ar está sendo deslocada sem de ar pode se deslocar sobre uma ampla barrei -
uma forma de compensação, com movimento ra topográfica. A Figura 5.6 mostra um caso em
de ar ou mistura da parcela com seu entorno . que o ar nos níveis superiores está menos úmi -
Essas supos ições são irrealistas . A diluição de do do que abaixo . Se toda a camada for forçada
uma parcela de ar ascendente , por mistura com a sub ir, o ar mais seco em B resfria pelo gradien -
o ar circundante por arraste reduz a sua energia te ad iabático seco e, assim, o mesmo ocorrerá
de flutuação . Todavia, o método da parcela cos- inicialmen te com o ar ao redor de A. Finalmen-
tuma ser satisfatório para previsões de rotina , te, o ar mais baixo alcança o nível de condensa -
114 Atm osfera, Tempo e Clim a

ção, depois do qual a camada resfria pelo gra - 9· {B' )


diente adiabático saturado . Isso resulta em um ''
aumento no gradiente real de toda a espessura Gradiente ''
amlliental
Adtabá!Jco
' "lt,Sec()
<l\Jootcade
da camada elevada e, se esse novo gradiente ex- f,nal ' d!! l!>'evaçao
Q)
"O
(instável) ' ',
ceder o gradiente adiabático saturado , a camada ''
de ar se torna instável e pode desestabilizar -se.
Isso é chamado de instabilidade convectiva (ou
-=i
;t:

<(
o (A')
''
' 8
{B) (Seco)
1(0 A''
C/)
Adjabâtico ~
potencial). r/)
Q)
..... saturado 1
Gradtente
ambien:a1lniiCial
A mistura vertical de ar foi identificada a.. Ouarrt.c!aõ&
Nível de !.. (estável)
de ele\18Ç>10 condensação ,
anteriormente como uma causa possível da Adiabático ', '
condensação. Isso é mais bem ilustrado com o soco ''
(A)
'' A (Úmido)
uso de um tefigrama. A Figu ra 5.7 mostra uma
distribuição inicial da temperatura e do ponto Temperatura
de orvalho. A mistura vertical leva a uma média
dessas condições ao longo da camada afetada. Figura 5.6 1nstabilidade convectivo . AB represen ta
Assim, o nível de condensaçãopor mistura é de- o estado in ic ial de uma coluna de ar; úmido em A,
seco em B. Depois da elevação de toda a coluna de
terminado a partir da intersecção entre os va-
ar, o grad iente de temperatura A'B' excede o grad ien-
lores médios da razão de mistura saturada e da te ad iabótico satur ado, de modo que o coluna de ar
temperatura potencial. As áreas acima e abaixo fic a instóvel.
dos pontos onde essas linhas de valores médios
cruzam as curvas ambientais iniciais são iguais . P1 ---"ffli:r.rrn:;m;,,,=,,,,------
- Nível de condensação
~~ por mistura
-
D FORMAÇAO DE NUVENS -T emperatura média
Xs = Const. ,.A
iniciais ' da camada
A formação de nuvens depende da instabilidade
P2 --~~="-- '

__
~ ª__ ',,.._
....._
e =__Constante (T finaQ
atmosférica e do movimento vertical, mas tam - Td 2 Td1 T1 T2
bém envolve processos de microescala, que dis-
cutiremos antes de analisar o desenvolvimento Figura 5.7 Gróf ico ilustrando os efei tos da mistu ra
e os tipos de nuvens . vertical sobre uma mossa de ar. As linhas horizon ta is
são superfícies de pressão (Pi, P2). A tempera tura in i-
1 Núcleos de condensação cial (T 1) e os gradientes da temperatura do ponto de
orvalho (Td,) são modificados pe la mistura turbulenta
De modo notável, a condensação oco rre com para T2 e Td2 • O nfvel de condens ação ocorre onde a
mais dificuldade no ar limpo;a umidade precisa ad iabótico seca em T1 cruza a linh a da razão de mis-
de uma superfície adequada para se condensar. tu ra de saturaçõo (xs) em Td2 •
Se o ar resfria abaixo de seu ponto de orvalho,
ele se torna supersaturado (ou seja, a umidade poeira, fumaça, sais e compostos químicos . Os
relativa excede os 100%). Para manter uma gota sais marinhos, particularmente higroscópicos,
de água pura de raio 10-7cm (0,001 µm ), exige- entram na atmosfera pela explosão de bolhas
-se uma umidade relativa de 320% e, para uma de ar da espuma . Eles são um componente im -
5
de 10- cm, (0,1 µm), apenas 101%. portante da carga de aerossóis sobre a superfí-
Geralmente, a condensação ocorre sobre cie oceânica, mas tendem a ser removidos ra -
uma superfície estranha, podendo ser uma su- pidamente po r causa do seu tamanho . Outras
perfície de solo ou uma superf ície vegetal no contribuições são de partículas finas de solo
caso de orvalho ou geada, ao passo que , no ar e de diversos produtos naturais ou oriundos
livre, a condensação começa em núcleos higros- da combustão industrial e doméstica elevados
cópicos, que são partículas microscópicas - ae- pela ação do vento. Outra fonte é a conversão
rossóis - cujas superfícies têm a propriedade de gases-traço atmosféricos em partículas por
da molhabilidade. Os aerossóis compreendem meio de reações fotoquímicas, particularmen -
CAPÍTULO 5 Instabilidade atmosfé rica , formação de nuvens e processos de precipitação 115

te sobre áreas urbanas. Os núcleos variam em microfísicos atuam no sentido de diminuir a li-
tamanho, de um raio de 0,001 µm, que não beração de energia convectiva.
são efetivos por causa da grande supersatura - Os aerossóis higroscópicos são solúveis. Isso
ção necessária para a sua ativação, a gi.gantesde é muito importante, pois a pressão de vapor de
mais de 10 µm, que não permanecem muito saturação é menor sobre uma gotícula de solu-
tempo no ar (ver p. 16-18). Em média, o ar oce- ção (por exemplo, cloreto de sódio ou ácido sul-
ânico contém 1 milhão de núcleos de conden- fúrico) do que sobre uma gota de água pura de
3
sação por litro (dm ), e o ar terrestre carrega mesmo tamanho e temperatura (Figura 5.8). De
em torno de S ou 6 milhões. Na troposfera ma- fato, a condensação começa sobre partículas hi -
rinha, existem partículas finas, principalmente groscópicas antes de o ar estar saturado; no caso
de sulfato de amônia. A origem fotoquímica de núcleos de cloreto de sódio, à umidade relati -
associada a atividades antropogênicas expli- va de 78%. A Figura 5.8 ilustra curvas de Kohler
ca cerca da metade desse valor no Hemisfério mostrando ra ios de gotículas para três conjuntos
Norte. O dirnetil-sulfato (OMS), associado à de gotículas de soluções de cloreto de sódio (um
decomposição de algas, também sofre oxidação sal marinho comum ) em relação à sua umidade
para sulfato. Sobre os continentes tropicais, os relativa em equilíbrio. As gotículas em um am-
aerossóis são produzidos pela vegetação flo- biente onde os valores estão abaixo / acima da
restal e liteira, bem como pela queima de bio- curva adequada evaporam /crescem. Cada curva
massa, com o predomínio de carbono orgânico tem um máximo além do qual a gotícula pode
particulado. Em latitudes médias, dist antes de crescer no ar com menos supersaturação.
fontes antropogênicas, as partículas grosseiras Uma vez formadas, o crescimento das go-
são principalmente de origem crustal (cálcio, tículas de água não é simples. Nos estágios ini-
ferro , potássio e alumínio), ao passo que as ciais, o efeito da solução é predominante, e as
partículas crustais, orgânicas e sulfatadas são pequenas gotículas crescem mais rapidamente
representadas quase na mesma proporção na do que as grandes, mas, conforme aumen t a o
carga de aerossóis finos .
Os aerossóis têm um efeito substancial nas
0,3-------------------,
propriedades das nuvens e, portanto, no início
da precipitação. As atmosferas poluídas em ge-
--
~
o
ral têm concentrações de aerossóis 10- 100 vezes tB. 0,2 Água pura
cu
....
acima das observadas em massas de ar oceâni- ::,
1u
cas em locais prístinos. Os efeitos dos aerossóis ~

sobre as nuvens envolvem processos radiativos


Q)
Q.
::,
º·,
(/')
e efeitos microfísicos. As camadas de aerossóis
diminuem a radiação solar que alcança a super- ~ 100

fície, agindo de maneira a reduzir as tempera -


turas superficia is e a evaporação e a convecção.
Os aerossóis também atuam como núcleos de
~
a, ~
-o-
ro
- 90
Gotículas de
solução de NaCI

"O
condensação de nuvens, os quais, agregando ·-E
grandes quantidades de gotículas , retardam a :::, 80 -+--- --'------'----~-------4
10- 6 10-5 10-4 10- ;
conversão das gotículas das nuvens em gotas de Raio das gotícu las (cm )
chuva. O efeito líquido parece ser a redução da
precipitação de nuvens rasas, mas há o aumen - Figura 5.8 Curvas de Koh ler mos tra ndo a variação
to da precipitação de nuvens convectivas pro - da sup ersa tur a ção ou umidade re la ti vo em eq uilí br io
(%) com o ra io do gotícu la , p o ro óguo pura e go tas de
fundas com bases quentes. O aumento máximo
solução de NaC I. Os nú meros mos tram a massa de
ocorre para valores intermediários de núcleos clo reto de sód io (uma famí li a seme lha nte d e curvas
de condensação de nuvens, ao passo que, em p o d e ser ob ti da p o ro so luções de su lfa to). A linh a d a
concentrações maiores, os efeitos radiativos e go tícu la de á g ua p ura ilustra o efe ito de cu rvat ura .
116 Atm osfera, Tempo e Clim a

tamanho de uma gotícula, sua taxa de cresci - 300------------------,


mento por condensação diminui (Figura 5.9).
A taxa de crescimento radial diminui conforme t6
200 Coatescência
aumenta o tamanho da gota , pois existe uma m
õO)
área superficial maior a ser coberta a ca.da in-
m
1)
cremento no raio . Todavia, a taxa de condensa -
ção é limi tada pela velocidade com que o calor ·-CC:
O 100
"'
latente liberado pode ser perdido da gota por
1-------: ===::=:::=
condução para o ar; esse calor reduz o gradiente
de vapor. Além disso, a competição entre gotí -
2gE=========~
o
Condensação

20 40 60
Tempo (min)
culas pela umidade disponível atua para reduzir
o grau de supersaturação. Figura 5.9 C rescimen to de gotículas por co ndensa-
A supersaturação em nuvens raramente ção e coo lescênc io.
excede 1% e, como a pressão de vapor de sa- fo nte: Jo nas (19940 ). Reim presso do Weother com per mis-
são do Royal Meteo rologic ol Society. C rown copyright ©.
turação é maior sobre uma superfície curva da
gota do que sobre wna superfície de água plana,
4% da água total da atmosfera em um determi -
gotículas minúsculas (raio <0,1 µm ) evaporam
nado momento, mas são um elemento crucial
com fa.cilidade (ver Figura 5.8). Inicialmente, o
no ciclo hidrológ ico.
tamanho do núcleo é importan te; para uma su-
persaturação de 0,05%, uma gotícula de 1 µm
13 2 Tipos de nuvens
de raio com um núcleo de sal de massa 10- g
alcança 10 µm em 30 minutos , ao passo que A grande variedade de formas de nuvem exige
14
uma com um núcleo de sal de 10- g levaria 45 uma classificação para fins de divulgação me -
minutos. Mais tarde , quando o sal dissolvido teoro lógica. O sistema adotado internacional -
deixa de ter um efeito significativo, a taxa de mente baseia -se (1) na forma geral, estru tura e
crescimento radial diminui, devido à redução extensão vertical das nuvens, e (2) em sua alti-
na supersaturação . tude. Essa abordagem foi desenvo lvida original -
A Figura 5.9 ilustra o crescimento muito mente por Luke Howard em 1803.
lento de got ículas de água por condensação - Essas características primárias são usadas
nes se caso, a 0,2% de supersaturação a partir para def1nir os 10 grupos (ou gêneros ) bási-
de um raio inicial de 10 µm. Como existe uma cos, mostrados na Figura 5.10. As nuvens altas
diferença imensa de tamanho entre gotículas cirriformes são compostas de cristais de gelo,
de nuvens ( <1 a 50 µ,m de raio) e as gotas de conferindo -lhes uma aparência fibrosa. As nu -
chuva (>0,5 mm de raio ), o processo gradual vens estratiformes dispõem -se em camadas,
de condensação não parece explicar as taxas enquanto as nuvens cumuliformes têm uma
de formação de gotas de chuva que costumam aparência amon toada e em geral apresen tam
ser observadas . Por exemplo, na maioria das desenvolvimento vertical progressivo. Outros
nuvens, a precipitação se desenvolve dentro preftxos são alto- para nuvens de nível médio,
de uma hora . O mecanismo alternat ivo de co- e nimbo- para nuvens espessas e baixas, com
alescênc ia ilustrado na Figura 5.9 é descrito a aspecto cinza -escuro e com chuvas contínuas.
seguir (p. 128). Deve -se lembrar também que, A altura da base da nuvem apresenta uma
durante a precipitação, as gotas de chuva sofrem considerável variação para qualquer um desses
evaporação no ar insaturado abaixo da base das tipos, e muda com a latitude . Os limi tes aproxi-
nuvens. Uma gotícula de 0,1 mm de raio evapo - mados em milhares de metros para as diferentes
ra depois de cair apenas 150 ma uma tempe- latitudes são mostrados na Tabela 5.1
ratura de 5º C e umidade relativa de 90%, mas Seguindo a prática taxonômica, a classifica -
uma gota de 1 mm de raio cairia 42 km antes de ção subdivide os principais grupos em espécies
evaporar. Em média , as nuvens contêm apenas e variedades com nomes em latim, segundo a
CAPÍTULO 5 Instabil idade atmosfé rica , formação de nuv ens e processos de prec ipitação 117

(Véu)

Figura 5.1 O Os 1O grupos bósicos de nuvens classificados segundo a ltitu de e formo.


Fonte : Ado ptado de Strohler (1965) .

sua aparência. O International Cloud Atlas e as à medida que sobem , expandem -se e são arras -
Pranch as 5.1-5. 15 apresentam ilustrações. tadas pelo vento . As torres em nuvens cumulus
As nuvens podem ser agrupadas conforme e em outras nuvens são causadas não por tér -
o seu modo de origem. Pode -se fazer um agru - micas de origem superficial, mas por aquelas
pamento genético baseado no mecanismo de formadas dentro da nuvem como resultado
movimento vertical que produz condensação. da liberação de calor latente por condensação .
As categorias são: As térmicas perdem seu ímpeto gradualmente
conforme a mistura de ar mais frio e mais seco
1 ascensão gradual de ar sobre uma área am -
do entorno dilui o ar quente mais flutuante. As
pla em associação a um sistema de baixa
-
pressao;
torres de cumulus também tendem a evaporar
à medida que os fluxos ascendentes diminuem ,
2 convecção térmica;
deixando uma nuvem "plataformà' ovalada e
3 ascensão por turbulência mecânica (con-
rasa (stratocumulus cumulogenitus), que pode
vecçãoforçada);
se amalgamar com outras para produzir uma
4 ascensão sobre uma barreira orográfica .
cobertura elevada. O grupo 3 inclui nevoeiro,
O grupo 1 compreende uma ampla variedade de stratus e stratocumulus, e é importante sempre
tipos de nuvens e é discutido em mais detalhe que o ar perto da superfície é resfriado ao ponto
no Capítulo 9D.2. Com as nuvens cumulifor - de orvalho por condução ou radiação noturna
mes (grupo 2), correntes convectivas ascenden- e o ar é agitado por irregularidades no solo. O
tes (térmicas) formam plumas de ar quente que, último grupo (4) inclui nuvens estratiformes ou
cumulus produzidas pela elevação forçada de
Tabela 5.1 Altura da base do nuvem (x 1000 m)
ar sobre as montanhas. O nevoeiro da monta-
Latitudes Latitudes nha, simplesmente , é uma nuvem estratiforme
Trópicos médias altas envo lvendo uma área elevada. Uma categoria
Nuvem 6- 18 5- 13 3-8 especial e importante é a nuvem em onda (len-
a lta ticular), que ocorre quando o ar escoa sobre as
Nuvem 2-8 2-7 2-4 mon tanhas, criando um movimento de onda na
média corrente de ar a jusante da cadeia (ver Capítulo
Nuvem Aba ixo Aba ixo Abaixo 6C.2). Se o ar atingir o seu nível de condensa-
baixa de 3 de 2 de 2
ção, formam -se nuvens na crista dessas ondas.
118 Atm osfera, Tempo e Clim a

Os satélites meteorológicos operacionais convecção térmica em laboratório têm uma


proporcionam informações sobre a nebulosida - razão correspondente de apenas 3:1. Assim, a
de global, bem como sobre os padrões de nu - explicação verdadeira talvez seja mais compli -
vens em relação aos sistemas meteorológicos . cada. Menos comum é o padrão celular radian -
Eles fornecem imagens de leituras diretas e in- te. Outro padrão comum sobre os oceanos e o
formações que não podem ser obtidas em ob - terreno uniforme ocorre em "ruas '' lineares de
servações a partir do solo. Foram criadas clas- nuvens cumulus. O movimento helicoidal nes -
sificações especiais de elementos e padrões de sas células bidimensionais desenvolve-se com
nuvens para analisar as imagens de satélite. Um o aquecimento da superfície, particularmente
padrão comum em imagens de satélites é o celu- quando erupções de ar polar avançam sobre
lar, ou hexagonal , com diâmetro de 30 km, que mares quentes e se forma uma capa de inversão.
se desenvolve a partir do movimento de ar frio
sobre uma superfície oceânica mais quente. Um 3 Cobertura global de nuvens
padrão celular aberto, onde nuvens cumulus se
dispõem ao longo dos lados das células, forma - Existem dificuldades para determinar a cober-
-se onde houver uma grande diferença entre a tura e a estrutura estratificada das nuvens a
temperatura do ar e do mar , ao passo que cé- partir de observações de satélite e do solo. As
lulas poligonais fechadas ocorrem se essa dife- estimativas a partir da supe rfície da quantidade
rença for pequena . Em ambos os casos , existe de nuvens são aproximadamente 10% maiores
subsidência .acima da camada de nuvens . As cé- do que as derivadas de satélites , por causa do
lulas abertas (fechadas ) são mais comuns sobre problema para estimar aberturas perto do ho -
correntes oceânicas quentes (frias ) a leste (oes- rizonte . As maiores discrepâncias ocorrem no
te) dos continentes . O padrão hexagonal é atri - verão nos subtrópicos e em regiões polares. As
buído à mistura convectiva de mesoescala, mas quantidades totais de nuvens apresentam dis -
as células têm uma razão largura-profundidade tribuições geográficas, latitudinais e sawnais
aproximada de 30:1, ao passo que as células de características (ver Figuras 3.8 e 5.11). Durante

,2 6

-- 5

- 30 ,,

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160"\'/ 140' 120' 100' 80" 60' 40" 20" 0" 20' 40" 60" 80" 100• 120' 140" 160' 160"E

Figura 5.11 Média anual da forçante líq uid o das nuvens (W m- 2 ) observa da pe lo satéli te Nimbus-7 ERB entre
junho de 1979 e maio d e 1980.
Fonte: Kyle et ai. {1993 ). Bulle tin of the Ame ricon Me teorolog ico l Society, com perm issão do A mericon Met eo ro log icol Society.
CAPÍTULO 5 Instabilidade atmosférica, formação de nuvens e processos de precipitação 119

Prancha 5.1 Cumulus de bom tempo sobre Coconut Creek, Flórido, dezembro de 1977.
Fonte : Notiona l Weathe r Se rvice (NWS) Collec t ion . Fotóg rafo: Rolph F. Kresge #0655 .

Prancha 5.2 Cumulus humil is sobre Swanage, Dorsel.


120 Atmosfer a, Tempo e Clim a

.;

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\

,

r- •

Prancha 5.3 Ruas de nuvens no estreito de Davis, em imagem MODIS visfvel. No final de março de 2002, o
gelo do inverno ainda estava bloqueando uma grande parte da porção nor te do estrei to. Os fluxos de nuvens
são chamados de "ruas de nuvens", e se formam quando o ar órtico f rio avança sobre óguas abertas mais quen-
tes. Geralmente, as ruas são a linhadas na d ireção de um ven to de baixo nível.
Fonte: Jacques Desc loitres, MODIS La nd Rapid Response Teom, NASNGSFC . NASA Earth Obse rvato ry_
CAPÍTULO 5 Instabili dade atmosférica, formação de nuvens e processos de precipitação 121

Prancha 5.4 Nuvens cumulus sobre o Monte Et na, fo rmadas pe lo ca lo r e va por forn ecidos pelo vulcão.

o verão sete.ntrional, ocorrem porcentagens ele- 70ºS e sobre grande parte da área oceânica ao
vadas sobre a África Ocidental, o noroeste da norte de 4SºN (Figura 5.12).
América do Sul e o Sudeste Asiático, com míni - A nuvem atua como um importante sumi -
mas sobre os continentes do Hemisfério Sul, a douro para a energia radiativa no sistema Terra-
Europa meridional , o norte da África e o Orien - -atmosfera, por absorção , e também como fonte ,
te próximo. Durante o verão austral, ocorrem devido à reflexão e rerradiação (ver Capítulo 3B,
porcentagens elevadas sobre áreas de terra C). Em âmbito global, a forçante média anual
2
tropicais no hemisfério sul, em parte devido à líquida das nuvens é negativa (- -20Wm - ),
convecção ao longo da Zona de Convergência pois o efeito do albedo sobre a radiação solar in-
Intertropical, e em áreas oceânicas subpolares cidente é maior que a absorção infravermelha.
devido à advecção de ar úmido. Uma cobertura Todavia, a forçante das nuvens é complexa; por
de nuvens mínima é associada a regiões de alta exemplo , um total maior de nuvens implica mais
pressão subtropicais ao longo do ano, ao passo absorção de radiação terrestre emitida (forçante
que a cobertura máxima ocorre sobre o cintu- positiva, levando a aquecimento) ao passo que
rão de tempestades do Oceano Austral em 50- mais nuvens altas produzem maior reflexão da
122 Atm osfera, Tempo e Clim a

100 ---------------- tribuição do tamanho das gotículas em uma


- Dez-Fev
90
- Jun-Ago nuvem tende a manter um padrão regular; o
raio médio é entre 10 e 15 µm , e poucas são
11>80
"O
maiores que 40 µm . Outra ideia era que a tur -
(IS
"O
'üi 70
bulência atmosférica poderia colocar gotículas
o
"5 frias e quen tes em conjunção. A supersatura -
.o
a,
e
60 ção do ar em referência às gotícu las frias e a
50
subsaturação em referência às quentes as faria
evaporar, e as gotículas frias se desenvolveriam
40 à sua custa. Todavia, exceto talvez em algumas
nuvens tropicais, a temperatura das gotículas
30---------.-..--,.-.-.--.---------
90ºN 60ºN 30ºN O 30ºS 60ºS 90ºS de nuvens é baixa demais para que esse meca -
Latit ude
nismo diferencial atue . A Figura 5.13 mostra
Figura 5.12 Dis tri buição zona l méd io d a q ua nt id a - que , abaixo de aproximadamente -1 OºC, o
de to ta l de nuvens (%), der ivado de observações des- grau de inclinação da curva da pressão deva -
de a superfície so b re a 6re a glob al total (isto é, ferr a e por de saturação é baixo. Outra teoria era que
6gu a) par o os meses de d ezembro- fevereiro e ju nho-
as gotas de chuva crescem ao redor de núcle -
-ag osto e ntre 19 71 -198 1.
os de condensação excepcionalmente grandes
Fo n te : Lo ndon et a i. {1989 ). Co rtesia de Cospor ond Elsevier.
(observados em certas tempestades tropicais ).
radiação solar incidente (forçante negativa, le- Os grandes núcleos apresentam uma taxa mais
vando a resfriamento) (Figura 5.11). rápida de condensação no início , mas, depois
desse estágio, estão sujeitos às mesmas taxas li-
Existem evidências de que as quantidades
de nuvens aumen taram no decorrer do século mitantes de crescimento que se aplicam a todas
XX. Por exemplo, houve um aumento notável as gotas de chuva.
na cobertura de nuvens sobre os Estados Uni- As atuais teorias para o rápido crescimento
dos (especialmente entre 1940 e 1950). Isso das gotas de chuva envolvem o crescimento de
pode estar associado a uma elevação nas con- cristais de gelo à custa das gotas de água, ou a
centrações atmosféricas de sulfato em decor- coalescência de pequenas gotículas pela ação de
rência do aumento na queima de carvão. A rela- arrasto das gotas que caem.
ção com a temperatura não está clara .
1 A teoria de Bergeron-Findeisen
Essa teoria amplamente aceita baseia -se no
E FORMAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO
fato de que, em temperaturas abaixo de zero, a
O enigma da formação de gotas de chuva já foi pressão de vapor atmosférica diminui mais ra -
citado. O simples crescimento de gotículas de pidamente sobre uma superfície de gelo do que
chuva por condensação aparentemente é um sobre a água (Figura 2.14). A pressão de vapor
mecanismo inadequado , e é preciso pensar em saturante sobre a água se torna maior do que
processos mais complexos . sobre o gelo, especialmente entre temperatu-
Várias das primeiras teorias sobre o cres - ras de -5 e -25 º C, onde a diferença excede os
cimento das gotas de chuva podem ser des- 0,2 mb. Se cristais de gelo e gotículas de água
cartadas. As propostas eram que gotículas super -resfriadas ocorrem simultaneamente em
com cargas diferentes coalesciam por atração uma nuvem, as gotas tendem a evaporar , ha-
elétrica, mas parece que as distâncias entre as vendo deposição diret a do vapor sobre os cris -
gotas são grandes demais e a diferença entre tais de gelo.
as cargas elétricas é muito pequena para que É necessário haver núcleosde congelamento
isso aconteça. Foi sugerido que as grandes antes que possam se formar partículas de gelo -
gotas podem crescer à custa das pequenas. em geral em temperaturas de aproximadamente
Todavia, as observações mostram que a dis - -15 a - 25ºC. De fato, as pequenas gotículas de
CAPÍTULO 5 Instabi lidade atmosférica, formação de nuvens e processos de precipitação 123

Prancha 5.5 Ch uva de pr imavera sobre o Front Range , vista da montanha Niwot, CO .

Prancha 5.6 Trovoada em forma de torre com o topo em bigor n a .


124 Atmosfera, Tempo e Clima

Prancha 5.7 Stra focumu lus sobre o lndia n House lake, Quebec.

Prancha 5.8 Nuvem estra tiforme sobre as High Plains, visto da monta nha Niwot, CO .
CAPÍTULO 5 Instabilidade atmosférica, formação de nuvens e processos de precipitação 125

água podem ser supe r-resfriadas em ar puro a 120,-----------------,.


-40ºC ant es que ocorra congelamento espontâ-
neo. Porém, os cristais de gelo predominam em
nuvens onde as temperaturas estão abaixo de
-22ºC. Os núcleos de congelamento são muito
menos numerosos do que os núcleos de con- 80
densação; pode haver até 10 por litro a - 30ºC
Partículas de gelo
e, raramente, mais de 1000. Todavia, alguns se
tornam ativos em temperaturas maiores. A cau-
·-o
linita , um mine ral comum de argila, se torna
ativa inicialmente a - 9ºC e, em ocasiões subse- 40
quentes, a -4ºC . A origem dos núcleos de con-
gelamento é tema de acirrados debates, mas as
partículas de solo muito finas são consideradas
uma fonte importante. Os aerossóis biogênicos Gotículas de nuvem

emitidos por vegetais em decomposição, na for- B


0-+------ _.Jo...
-------- ::.....a
ma de compostos químicos complexos, também O 5 10 15 20
servem como núcleos de congelamento . Na pre - Tempo {min)
sença de certas bactérias associadas, pode haver
Figura 5.13 Efeito de u mo pe queno propo rçã o de
nucleação com gelo a apenas -2 a -SºC .
go tículas inicialmen te co ngela do s sobre o relativo O U·
Cristais de gelo minúsculos crescem r api- mente/reduç ã o nos tam a nhos de part ícula s de ge lo e
damente por deposição de vapor, desenvolven - ógua dos nuvens. As gotículas inicia is estav a m à tem-
do diferentes formas hexagonais em diferentes pera tura de - 1OºC e em sa turação . A: densidade de
faixas de temperatura . O número de cristais de 100 go tas por cc, 1% dos quais se supõe est a r con-
gelado. B: densidade de l 000 gotas po r cc, O,1% dos
gelo ta.mbém tende a aumentar progressiva -
quais se supõe esta r congelado.
mente , pois pequenas lascas são tiradas pelas
Fonte: Jo nas 199-40 . Reimp resso de Weother com pe rmiss ão
correntes de ar durante o crescimento, atuando do Royal Meteoro log icol Society . Copyr ight ©.
como novos núcleos. O congelamento de gotas
d'água supe r-resfriadas também pode produzir uma gota de chuva se cai r aproximadamente
lascas de gelo (ver F, neste capítulo). A Figura 250 m abaixo do nível de congelamento .
5.13 mostra que uma densidade baixa de par- Essa teoria pode explicar a maio r par-
tículas de gelo é capaz de apresentar um cresci - te da precipitação em latitudes médias e altas ,
mento rápido em um ambiente de gotículas de mas não é completamente satisfatória. Nuvens
água das nuvens. Isso resulta em uma redução cumulus sobre os oceanos tropicais podem ge-
mais lenta no t amanho médio do número mui- rar chuva quando estão com apenas 2000 m de
to maior de gotículas da nuvem, embora ainda espessura e a temperatura no topo da nuvem for
ocorra em uma escala temporal de 101 minutos. de SºC ou mais. Em latitudes médias no verão ,
Os cristais de gelo agregam -se facilmente ao co- a precipi tação pode cair de nuvens cumulus
lidirem, devido à sua .forma ramificada (dendrí - sem uma camada com temperaturas inferiores a
tica), e dezenas de milhares de cristais podem OºC (nuvens quentes). Um mecanismo sugerido
formar um único floco de neve . Temperaturas nesses casos é o da "coalescênc ia de gotículas ,:
entre O e - SºC são favoráveis à agregação, pois discutida a seguir .
os fmos filmes de água sobre as superfíc ies dos As tentativas prát icas de fazer chover que
cristais congelam quando dois cristais se tocam, basearam -se na teoria de Bergeron tiveram um
unindo um ao outro. Quando a velocidade de certo grau de sucesso. A base para esses expe-
queda da massa crescente de gelo excede as ve- rimentos é o núcleo de congelamento . Nuvens
locida .des existentes nas correntes de ar ascen- super-resfriadas (água ) entre -5 e - l SºC são
dentes, o floco de neve cai , derretendo -se em semeadascom materiais especialmente efetivos ,
126 Atm osfera, Tempo e Clima

como o iodeto de prata ou "gelo seco" (CO J a e essas situações talvez levem a uma grande e
partir de aviões ou de geradores de iodeto de prolongada precipitação. Essa é uma ocorrênc ia
prata no solo, promovendo o crescimento de frequente em sistemas ciclônicos no inverno, e
cristais de gelo e estimulando a precipitação. É é importante na precipitação orográfica (ver E3,
provável que a semeadura de nuvens cumulus neste capitulo) .
nessas temperaturas produza um au.mento mé -
dio na precipitação de 10-15% em nuvens que 2 Teorias de coa lescência
já estão em precipitação ou que estejam "p ara
As teorias sobre o crescimen to das gotas de chu-
precipitar ". Foram obtidos aumentos de até 10%
va usam a colisão , a coalescência e o "arrasto "
com a semeadura de tempestades orográficas de
como mecanismos de crescimento . Original -
inverno . Todavia , parece provável que nuvens
mente, pensava-se que as colisões de partículas
com uma abundância de cristais de gelo natu -
de nuvens decorrentes da turbulênc ia atmosfé-
rais, ou com temperaturas acima do pon to de
rica fariam uma proporção significativa delas
congelamento, não sejam suscetíveis a essas ten -
coalescer. Todavia, as partículas também se que-
tativas de fazer chover. A liberação prematura de
prec ipitação pode destruir os fluxos ascenden - bram quando submetidas a colisões. Langmuir
tes e causar a dissipação da nuvem. Isso explica propôs uma variação dessa ideia simples . Ele
por que certos experimentos de semeadura na afirmou que as gotas que caem têm velocidades
1
verdade dimin uíram a chuva! Em outros casos, terminais (em geral, 1- 10 cm s- ) relacionadas
o crescimento de nuvens e a precipitação foram diretamen te com seus diâme tros, de modo que
efetivados por meio desses mé todos na Austrá- as gotas maiores podem atropelar e absorver as
lia, na China e nos Estados Unidos . Durante gotículas menores, que também podem ser ar-
vários anos, foram implementados programas rastadas na esteira das gotas maiores e ser absor -
visando a aumentar a queda de neve no inverno vidas por elas. A Figura 5.9 apresenta resultados
no lado oest e de Sierra Nevada e das Montanhas expe rimentais da taxa de crescimento de gotas
Rochosas, ao semear tempestades ciclônicas, de água por coalescência, a par tir de um raio
com resultados dúbios . Seu sucesso depende da inicial de 20 mm em uma nuvem com um con -
3
presença de nuvens super -resfriadas adequadas . teúdo de água de lg / m (pressupondo eficiên -
Em um experimento recente em Wyoming, a cia máxima ). Embora a coalescência seja lenta
semeadura começ-0u exclusivamente a partir do inicialmente, as gotas alcançam 100-200 µm de
solo no inverno de 2006-200 7 e, em 2007-2008, raio em 50 minutos . Além disso, a taxa de cres-
houve o envolvimento de um avião e de 25 esta- cimen to é rápida para gotas com raios acima de
ções de solo. A avaliação do grau de sucesso está 40 µm . Os cálculos mostram que as gotas devem
em andamento . Existem pelo menos duas razões exceder os 19 µm de raio antes que possam co-
para a dificuldade em estabelecer o impacto da alescer com outras; gotículas menores são arras -
semeadura de nuvens : a falta de correspondên - tadas para o lado sem colidir . A presença inicial
cia entre a escala do impacto e a escala em que a de algumas gotículas mu ito grandes sugere a
semeadura opera; e a grande variabilidade natu - disponibilidade de núcleos gigantes (p.ex., par -
ral da precipitação em comparação com o efeito tículas de sal) se o topo da nuvem não passar do
relativamente pequeno da semeadura nível de conge lamento. Observações mostram
Quando várias camadas de nuvens estão que as nuvens marí t imas têm relat ivamen te
presentes na atmosfera, a. semeadura natural poucos núcleos de condensação grandes (10-50
pode ser importante . Por exemplo, se cristais de µm de raio ) e um conteúdo elevado de água na
gelo caem de cirrostratus ou altos traus de alto forma líquida, ao passo que o ar continen tal ten-
nível (uma nuvem semeadora ) em uma nim- de a conter muitos núcleos pequenos (- 1 µm)
bostratus (uma nuvem alimentadora ) composta e menos água líquida. Assim, o início rápido de
de gotículas de água super-resfriadas, esta pode aguaceiros é possível pelo mecanismo de co-
crescer rap idamen te pelo processo de Bergeron , alesc-ência em nuvens marítimas . De maneira
CAPÍTULO 5 Instabil idade atmosférica, formação de nuvens e processos de precipitação 127

Prancha 5.9 Nuvens a ltoc umulus.


Fonte: Not iono l Weothe r Se rvice (NWS) Co llection . Fotóg rafo : Rolph F. Kresge #0863.

Prancha 5.10 Nuve ns de onda de so tavento e "p ilha de pratos" sobre Boulder, CO.
128 Atmosfera, Tempo e Clim a

Prancha 5.11 Nuve ns de onda de sotavento ao entardecer sob re Bo ulder, CO .

Prancha 5.12 Cirr us unci nus sobre Cape Dyer, Ilh a de Ba ffi n .
CAPÍTULO 5 Instabilidade atmosférica, formação de nuvens e processos de precipitação 129

alternativa, se houver poucos cristais de gelo em t eúdo elevado de água líquida acima do nível
níveis mais altos na nuvem (ou se houver semea- de congelamento. A acresção forma uma capa
dura, com cristais de gelo caindo de nuvens mais de gelo transparente ao redor do grão . De ma -
altas), eles podem cair através da nuvem como neira alternativa, um grão de gelo constituído
gotas, e o mecanismo de coalescência entra em inteiramente de gelo transparente pode resultar
ação . A turbulência em nuvens cumulus ser- do congelamento de uma gota de chuva ou do
ve para estimular colisões nos estágios iniciais. recongelamento de wn floco de neve derretido.
Assim, o processo de coalescência permite um As verdadeiras pedras de granizo são acres-
crescimento mais rápido do que uma simples ções aproximadamente concêntricas de gelo
condensação, e é, de fato, comum em nuvens transparente e opaco. O embrião é uma gota
"quentes " em massas de ar marítimo tropical, de chuva carregada em uma corrente ascen-
mesmo em latitudes temperadas. dente e congelada. As acresções sucessivas de
Tentou -se produz ir chuvas artificiais em nu- gelo opaco (rime) ocorrem devido ao impacto
vens quentes por meio da semeadura higroscópi - de gotículas super -resfriadas, que congelam
ca de nuvens com compostos como sais de sódio, instantaneamente . O gelo transparente (glaze)
lítio e potássio . A ideia é gerar gotículas maiores, representa uma camada superficial úmida , de-
ou proporcionando núcleos maiores para con - senvolvida como resultado do acúmulo muito
densação ou facilitando a formação de grandes rápido de gotas super- resfriadas em partes da
gotas pela junção de pequenas gotículas . nuvem com um grande conteúdo de água lí-
quida, que foi congelada sucessivamente . Uma
3 Precipitação sólida dificuldade importante nas primeiras teorias
Discutimos a chuva detalhadamente porque ela era a necessidade de postular que correntes as-
é a forma mais comum de precipitação. A neve cendentes com flutuações violentas conferiam à
ocorre quando o nível de congelamento está pedra de granizo a sua est rutura em bandas. Os
tão próximo da superfície que as agregações de modelos modernos de tempestades conseguem
cristais de gelo não têm tempo para derreter an- explicar isso (ver Capítulo 91). Em certas oca -
tes de chegarem ao chão. De modo geral, isso siões, as pedras podem alcançar um tamanho
significa que o nível de congelamento deve es- gigante , pesando até 0,76 kg cada (registrado
tar abaixo de 300 m. A mistura de neve e chuva em setembro de 1970 em Coffeyville, Kansas) .
(sleet, na forma britânica) tem probabilidade de Devido à sua rápida queda, as pedras de grani -
ocorrer quando a temperatura do ar na superfí- zo podem cair em distâncias consideráveis com
cie for de cerca de l ,SºC. Raramente, há queda pouco derretimento. As tempestades de granizo
de neve com uma temperatura do ar superficial causam danos severos a plantações e ao patri -
acima de 4 ºC. mônio quando as pedras que caem são grandes .
Bolos de granizo macio (grãos de gelo opa- É comum identificar três tipos principais
cos e aproximadamente esféricos com bastante de precipitação - convectiva, ciclônica e orográ -
ar incluído) ocorrem quando o processo de Ber- fica - conforme o modo primário de ascensão
geron atua em uma nuvem com um pequeno do ar. O conhecimento dos sistemas de tem -
conteúdo de água líquida , e as partículas de gelo pestades é essencial para essa análise. Eles são
crescem principalmente por deposição de vapor tratados em capítulos posteriores, e o neófito ao
de água. A acresção limitada de pequenas go- tema talvez prefira ler a seção seguinte antes de
tículas super-resfriadas forma um agregado de avançar ao Capítulo 9.
partículas macias e opacas de gelo com aproxi-
madamente 1 mm de raio . Chuvas dessas bolas F TIPOS DE PRECIPITAÇÃO
são bastante comuns no inverno e na primave-
1 Precipita~ão do tipo convectivo
ra, desde nuvens cumulonimbus .
Grãos de gelo podem se formar se o grani- Associado a nuvens cumulus em torre (cumulus
zo macio cair sobre uma região com um con - congestus) e cumulonimbus. Três subcategorias
130 Atm osfera, Tempo e Clim a

Prancha 5.13 Nevoeiro de vale de nuvens que deslizam sobre as m o ntanhas ao norte de Katman d u, Nepal,
20 de no vembro de 197 9.
Fonte : Cortesia de Ne l Co ine , University of Co lorado .

ra não ocorram necessariamente trovões e


2
relâmpagos. Áreas pequenas (20 a 50 km )
são afet adas por pancadas fortes indivi-
duais, que duram aproximadamen te de 30
minu tos a uma hora .
2 Pancadas de chuva , neve ou granizo leve
podem se formar quando ar frio , úmido e
instável passa sobre uma superfície ma is
quente. As células convectivas que avan -
çam com o ven t o produzem uma distr i-
buição da prec ipitação em faixas, paralela
Prancha 5.14 Nuvens mamma t us. Form a m-se no
à direção do vento. Essas células tendem a
base d a s cumulonimbus, geralmente como pr esságio ocorrer par alelamente à superfície de uma
de um a trovoad o . fren te fria no set or quente de uma depres-
fonte : Cortesia de Ma rk Anderso n, University oí Neb rosko . são (às vezes, uma linha de instabilidade)
ou paralela e antepos ta à fren te quente (ver
podem ser distinguidas segundo seu grau de or- Capítulo 9D). Assim , a precipi tação é dis-
ganização espacial. persa, embora de duração limitada em cada
1 Células convectivas dispersas desenvol - localidade específica .
vem -se por meio do forte aquec imento da 3 Em ciclones trop icais, células de cumulo-
superfície do solo no verão, especialmente nimbus se organizam ao redor do centro em
quando as baixas temperaturas na tropos - bandas espirais (ver Capítulo 13B.2). Parti -
fera superior facilitam a liberação da insta- cularmente nos estágios de dissipação desses
bilidade condic ional ou convect iva (ver B, ciclones, geralmente sobre a terra , a chuva
neste capítulo) . A precipitação, mui tas ve- pode ser forte e prolongada, afetando áreas
zes com granizo, é do tipo trovoada, embo - de milhares de quilômetros quadrados.
CAPÍTULO 5 Instabili dade atmosfé rica , formação de nuvens e processos de precipitação 131

2 Precipitação do tipo ciclônico geram precipitação convectiva como resultado da


convergência de correntes de ar nos ventos deles -
As caracter ísticas da precip itação variam con-
te tropicais (ver Capítulo 13B.1).
forme o tipo de sistema de baixa pressão e seu
estágio de desenvolvimento, mas o mecanismo
3 Precipitação orográfica
essencial é a ascensão de ar pela convergência
horizontal de correntes de ar em uma área de A precipitação orográfica é considerada um tipo
baixa pressão (ver Capítulo 6B). Em depressões distinto, mas exige uma qualificação cuidadosa.
extratropicais, isso é reforçado pela subida de ar As montanhas não são eficientes para remover a
quente e menos denso ao longo do limite de uma umidade das correntes de ar que as atravessam,
massa de ar (ver Capítulo 9D.2). Essas depressões mas, como a precipitação ocorre repetidamen-
geram precipitação moderada e contínua sobre te mais ou menos nos mesmos locais, os totais
áreas muito grandes à medida que se deslocam, cumula tivos são grandes. Uma barreira orográ-
em geral no sentido leste, nos cinturões de ventos fica pode produzir vários efeitos, dependendo
de oeste entre as latitudes de 40 e 65ºaproximada- de seu alinhamento e tamanho, entre os quais:
mente. O cinturão de precipitação no setor dian - (1) ascensão forçada em uma encosta suave, pro-
teiro da tempestade pode afetar uma localidade duzindo resfriamento adiabático, condensação
em seu caminho por 6 a 12 horas, ao passo que o e precipitação; (2) desencadeamento de insta -
cinturão posterior traz um período mais curto de bilidade condicional ou convectiva, bloqueando
precipitação do tipo trovoada. Desse modo., esses o fluxo de ar e ascendência a montante; (3) de-
setores às vezes são distinguidos em classificações sencadeamento de convecção pelo aquecimento
de precipitação, e uma análise mais detalhada é diurno das encostas e ventos ascende .ntes; (4)
ilustrada na Tabela 9.2. As baixas polares (ver Ca- precipitação de nuvens baixas sobre as monta-
pítulo 9H.3) combinam os efeitos da convergên- nhas, pela usemeadurande cristais de gelo ou go-
cia de correntes de ar e da atividade convectiva tículas de uma nuvem alimentadora mais eleva-
da categoria 2 (seção anterior, F.1), enquanto as da (Figura 5.14); e (5) maior precipitação frontal ,
depressões na área de baixa pressão equatorial pelo retardamento do movimento de sistemas

Nuvemsemeadorapreexistente

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Semeando p' r'eçípitação ' \
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nível baixo '' orográfica
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f(gura 5.14 Modelo de nuvens "se meadora -alim entadora " d e T. Bergeron de pr ecipi tação orogrófic a sobre
colinas .
Obs .: Este processo também pode atua r em camadas Nimbostralus espessas .
Fonte: Browning e Hill ( 1981), co m permissão da Roya l Meteo ro log ica l Soc iety.
132 Atm osfera, Tempo e Clim a

ciclônicos e frentes . As montanhas da costa oeste gráficá ' (uma origem relacionada com diversos
com fluxo do mar, como os Ghats Ocidentais , na efeitos produzidos orograficamente ). Um exem -
fndia, durante as monções de sudoeste no verão; plo extremo de precip itação orográfica é encon -
a costa oeste do Canadá, Washington e Oregon; trado na encosta oeste dos Alpes sulinos da Nova
e a costa da Noruega nos meses de inverno su - Zelândia , onde a precipitação média anual exce-
postamente ilustram a ascensão forçada e suave , de os 10 metros (Figura 5.15).
embora muitos outros processos pareçam estar Em áreas de latitudes médias onde a preci -
envolvidos . A largura limitada de certas cadeias pitação é predominantemente de origem ciclô-
costeiras , com velocidades médias de vento , em nica, os efeitos orográficos tendem a aumenta r a
geral proporciona tempo insuficiente para que frequência e a intensidade da precipitação de in-
os mecanismos básicos da prec ipitação atuem verno, ao passo que , durante o verão e em climas
(ver Figura 4.9). Devido à complexidade dos continentais com um nível de condensação mais
processos envolvidos, Tor Bergeron prop ôs usar alto , o princ ipal efeito do relevo é desencadear
o termo precipitação "orogênica » em vez de ''oro - precipitação intensa ocasional do tipo trovoada .

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Distâ ncia (km)

Figura 5.15 Prec ip itação méd ia an ual (1951 - 1980) ao longo do tronsecto d a Ilha Sul do Nova Zelând ia , mos-
tra d o como o linho cont ínua no mapa . A linha tracejada indico a pos ição d a Godzone We tzone e os números
rep rese ntam os p icos de pre ci pi tação (cm) em t rês lo ca is ao lo ngo da Godzone Wetzone .
f onle : Ch inn (1979) e Henderso n (1993 ), com pe rmissão da New Zeolo nd Alpine Club lnc . e T. J. Ch inn.
CAPÍTULO 5 Insta bil idade atm osférica , fo rm ação de nuv ens e proce ssos de precipitação 133

No caso de uma atmosfera estável, a influência ocorr ências sazonais são bastante distinguíveis. A
orográfica ocorre apenas perto do solo em lo - chuva convectiva ocorre principalmente de maio
cais altos. Estudos com radar mostram que o a novembro, quando 60% da chuva cae.m à tarde,
efeito principal nesse caso é de redistr ibuição, ao entre as 12 e 18 horas; a chuva orográfica predo -
passo que, no caso de uma atmosfera instável, a mina entre dezembro e abril , com um máximo
precip itação parece aument ar, ou pelo menos se secund ário em junho e julho, coin cidindo com
redistribuir em uma escala maior, pois os efeitos uma inten sificação dos ventos Alísios.
orográficos podem se estender muito a sotave n- Mesmo colinas baixas podem ter um efeito
to, devido à ativação de bandas de chuva de me- orográfico. Pesquisas realizadas na Suécia m os-
soescala (ver Figura 9.13). tram que colinas florestadas, elevadas a apenas
Em áreas altas trop icais, existe uma distinção 30- 50 m acima das terras baixa s circundante s,
mais clara entre as contribuições orográficas e aumentam a quantidade de precipitação local -
convectivas para a chuva total do que no cinturão mente em 50-80% durante períodos ciclônicos .
ciclônico de média latitude. A Figura 5.16 mostra Antes de os estudos com radar Dopp ler sobre o
que, nas montanhas da Costa Rica, o caráter tem - movime nto das gotas de chuv a se tornarem pos -
poral das chuvas convectivas e orográficas e suas síveis, os processos responsáveis por esses efeitos

Prancha 5.15 O que os cien tistas atmosfér icos chamam de formação de nuvens em célu las abertos é uma
ocorrê ncia regu lar no lado posterior de um sistema de baixa pressão ou ciclone em latitudes médias. No Hemisfé-
rio Nor te, um sistema de ba ixa pressão arrasta o ar circundante e o gira no sentido onti-ho ró rio. Isso signi fica que,
no lodo posterior do centro de ba ixa pressão, o ar fr io seró puxado do nor te e, no lodo ante rior, ar que nte seró
puxado de latitudes ma is próximas ao equado r. Esse mov imento de massas de ar se chamo adve cção e, quando
ocorre advecção de ar fr io sobre 6guas mais quentes, o resultado é a formação de nuvens em cé lulas aber tos.
Essa imagem MODIS mos tra o fo rmação de nuvens em cé lulas aber 1as sob re o Oceano A tlânt ico, junto à
costa sudeste dos Estados Unidos e as Bahamas em 19 de feverei ro de 2002 . Essa fo rmação é resultado de um
sistema de ba ixa pressão no Oceano Atlant ico N orte, algumas ce ntenas de qu ilômet ros a leste de Massa chu-
setts. O a r frio estó sendo co nduzido do norte no lado oeste da baixa e as nuve ns cum ulus de cé lula aberta se
formam à medida que o ar f rio passa sobre as óg uas mais quen tes do Caribe .
Fonte : Jacq ue s Des clo ilres, MOD IS Lond Ropid Response Teom, NASA/ GS FC .
134 Atm osfera, Tempo e Clim a

(B)

Convectiva
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Meses

Figura 5 .16 Precip ita ção orogró fi co e co nvec ti va no reg ião d e Coc h i no Co sta Rico p a ra o per íodo 197 7-
19 8 0: (A) região de Cachi, e levação 500 - 3000 m; (B): dis trib u ições ti pic as de c huva acum ulado poro ch uva
convect iva (duração 1-6 horas, intensida d e alta) e orog róf ica (1-5 di as, b a ixa inte nsida d e exceto duran te inten -
sas ativi d a d es convectivas) ; (C) ch uva mensa l d ivid ido em po rcentagens d e co nvec tivo e o rogrófico, mais d ia s
com ch uva, para Coc h i (10 18 m).
Fo nt e: Chocon ond Fernandez (1985 ), com permissão do Royal Meteoro log ico l Soc iety.

eram desconhecidos. Uma causa importante é minutos. A maior parte da intensificação da pre -
o mecanismo das nuvens "semeadoras -alimen - cipitação acontece no quilômet ro mais baixo da
tadoras ,, ("liberadora -consumidorà'), proposto camada de ar úmido que se move rapidamente .
por Tor Bergeron e ilustrado na Figura 5.14. Em
fluxos de ar úmidos e estáveis, forma-se uma
G TROVOADAS
rasa cobertura de nuvens sobre os topos monta-
nhosos. A precipitação que cai de uma camada 1 Desenvolvimento
superior de altostratus (a nuvem semeadora)
Em latitudes médias, o exemplo mais espeta.cular
cresce rapidamente pela queda de gotí culas na
de alterações no teor de um idade e a liberação
nuvem mais baixa (alimentadora ). A nuvem se-
associada de energia na atmosfera é a trovoada *.
meadora pode liberar cristais de gelo, que se der-
Movimentos ascendentes e descendentes extre -
retem posteriormente . A precipitação da camada
de nuvens superior, por si só, não traria quan-
,. N. de R.T.: Por tr ovoada entenda-se uma célula conv ectiva
tidades significativas sobre o solo, pois as gotí - formador a de cum ulonimbus e não o ruído cara cterístico
culas teriam tempo insuficiente para crescer no gerado pelas faíscas elétricas que esse gêner o de nuvem po de
fluxo de ar, que pode cruzar as colinas em 15-30 pro duzir.
CAPÍTULO 5 Insta bil idade atm osférica , fo rm ação de nuvens e processos de precipitação 135

• Gotas de ãgua (C)


15 Flocos de neve -~
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Escala horiz ontal ~ , 1 , , ~ Chuva forte Chuva fraca
km na superfície na superfície

Figura 5.17 V isão clóssica do ciclo d e um a trovo a da loca l. As set as indicam a direção e velocid a de das co r-
rentes de a r. (A) estóg io de desenvolvimento d a co rrente ascenden te inic ial; (BJ estógio maduro com cor ren tes a s-
cendentes, descendentes e chuva fo rte; (CJ estóg io de dissipação , do mi nado po r cor rentes desce nden tes fr escas.
Fonte : Byers ond Brohom; mod ificado de Pe tte rssen (1969 ).

mos de ar são os principais ingredientes e a força pera tura for maior (ou, em ou tras palavras , sua
motriz dessas trovoadas. Elas ocorrem : (1) devi- densidade for menor ) do que a do ar circundan-
do às células ascendentes de ar úm.ido excessiva- te. Nuvens cumu lonimbus se formam onde o
mente aquecido em uma massa de ar instável; (2) ar já está úmido como resultado da penetração
pelo desencadeamento de instabilidade condi- anterior de torres de um grupo de nuvens , e a
cional por subida de ar sobre montanhas; ou (3) ascensão persiste.
por circulações de mesoescala ou ascensão de ar As got as de chuva começam a se desen-
ao longo de linhas de convergência (ver p. 252). volver rap idamente quando o estágio de con -
O ciclo de vida de uma trovoada local dura gelamento é alcançado pelo acúmulo vertica l
apenas algumas horas e começa quando uma da célula, permitindo que o processo de Ber-
parcela de ar está mais quente do que o ar cir- geron atue . Elas não caem imediatamen te ao
cundante ou é ativamente soerguida por uma chão, pois as correntes ascendentes conseguem
invasão de ar mais frio. Em ambos os casos, o ar sus tentá -las. A pro fun didade mínima em nu -
começa a subir , e o embrião da célula de trovoa - vens cumulus para chuvas sobre áreas oceâni -
da forma -se com um fluxo ascendente e instável cas parece ser entre 1 e 2 km, mas 4-5 km são
de ar quen te (Figura 5.17). À medida que a con - ma is comuns sobre o continente . Os intervalo s
densação começa a formar gotículas de nuvem, mínimos correspondentes nece ssários para as
o calor laten te é liberado e o ímpeto inicial da pan cadas de chuva desde cumulus são de apro -
parcela de ar ascendente é potencializado pela ximadamente 15 minu tos sobre áreas oceânicas
expansão e redução da dens idade, até que toda e ~ 30 minu tos n o contine nte . As quedas de
a massa esteja totalmente fora de equili'brio tér- granizo necessi t am dos processos especiais de
mico com o ar circundante . Nesse estágio, as nuvens descr itos n a última seção, envolvendo
corren tes ascendentes podem aumentar de 3-5 fases de crescimento "seco" (acresção de rime)
m s- 1 na base da nuvem para 8-10 m s- l aproxi- e "úmidd ' sobre os grãos de gran izo. O estágio
madamente 2-3 km mais acima, podendo exce- maduro de uma tempestade (ver Figura 5.18B)
der os 30 m s- 1• A liberação constan te de calor geralmente está associado a pancadas de preci-
latente injeta suprimentos novos e contínuos pitação e raios (ver Pranc ha 5.16). A precip ita-
de energia, que aceleram o fluxo ascenden te. A ção produz por fricção corren tes descendentes
massa de ar continua a subir enquanto sua tem - de ar frio. À medida que elas adquirem momen -
136 Atm osfera, Tempo e Clim a

Torre pequena

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Carga + + + + + ++ + + + + + + + - _j
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Corratte
ucendente

Figura 5.18 Estrutu ra das ca rgos elétr icas em trovoa d as d e mosso de ar no Novo México, tempes tades com super-
célu las e os elementos convec tivos d e sistem as co nvectivos de mesoescol a (ver Ca pítulo 9), com base em sonda g ens
com ba lão do campo elétr ico - 33 em co rrentes a scenden tes e 16 fo ra de las. Existem q uatro zonas vert ica is no
região ascendente e seis na descenden te, mos o tamanho, a intensidade e a s pos ições relativas das correntes ascen-
dentes e desce nden tes variam, assim como a alt itude e os tempe raturas mostradas.
Fonte : Stolzenburg e l o i. (1998 ) J. Ge ophys. Res . 10 3, p.14, 10 1, Fig . 3 . Corte sia d a Ame rican Ge op hysica l Union .

t o, o ar frio pode se espalhar abaixo da célula uma transferência de carga nã.o indutiva. A io -
de trovoada, em uma cunha . Gradualmente, nosfera , a 30-40 km de altitude, tem carga po-
conforme a umidade da célula é consumida, o sitiva (graças à ação ionizante da radiação cós -
suprimento de calor latente liberado diminui, mica e solar ultravioleta), e a sup erfície da Terra
as correntes descendentes ganham força sobre tem carga nega tiva durante períodos de tem p o
as correntes quen tes ascendentes, e a célula se bom . Assim, as gotículas das nuvens podem
dissipa . adquirir uma carg a posi t iva induz ida em seu
Para simplificar a explicação, foi ilustrada lado inferior e uma carga nega tiva em seu lado
uma trovoada com apenas uma célula . Geral- sup erior. A transferência de carga não indutiva
mente, essas tempestades são mui to mais com - exige o conta to entre a nuvem e as partículas
plexas em sua estru tura e consis tem de várias da pre cipitação . Segundo J. Latham, o principal
células organizadas em grupos de 2-8 km de fator na eletrificação das nuvens é a transferên -
extensão, 100 km de compr imento e estenden - cia de carga não indutiva envolvendo colisões
do-se até 10 km ou mais em altitude . Esses sis- entre crista is de gelo que crescem por difusão
temas são conhecidos como linhas de instabili- de vapor e grãos mais quentes de granizo macio
dade (ver Capítulo 9). (graupel) que crescem por acúmulo de gotas de
água congelada. Recen temente, dados do saté-
2 EletrificaCjãode nuvens e
lite TRMM mostraram que essa transferência
relâmpagos não indutiva de cargas elét ricas é o mecanismo
Duas hipóteses gerais ajudam a explicar a eletri - dominante na separ ação de cargas em todas
ficação em trovoadas. Uma envolve a indução as regiões do plane ta. A acresção de gotículas
na presença de um campo elétr ico, e a outra é super -resfriadas sobre o granizo produz uma
CAPÍTULO 5 Instabilidade atmosférica, formação de nuvens e processos de precipitação 137

superfície irr egular, que é aquecida quando as enquanto os cristais adquirem car ga pos itiva .
gotículas liberam calor latente durante o conge- A carga negativa geralmente está concentrada
lamento . Os impactos dos cristais de gelo sobre entre - lOºC e - 25ºC em uma nuvem de trovo -
essa supe rfície irregular geram carga negativa , ada, onde as concentrações de cristais de gelo

Prancha 5.16 Fotografia com lapso de tempo de descargos elétricos das nuvens ao chão durante uma trovo-
ado no t urna em N orma, Ok lah oma, ma rço de 1978.
Fonfe : C. Clar k; NOAA Photo Librory, Notiono l Severe Storms Loboro tory, Norman, OK, NOAA .

Prancha 5.17
Distr ibuição global de
descargos elétr icos
observados pelo
Optica l Transient
Detector (abril de
1995 o março de
2000) e do Lightning
lmoge Sensor.
Fonte: Cor1esia do
NASA Marsha l Space
Flig ht Center , NSSTC .
138 Atmos fera, Tempo e Clima

são altas, devido à fragmentação de cristais no res de precipitação que adquirem carga pos iti-
nível de Oº a -SºC e à ascensão dos cristais em va em temperaturas superiores àquelas desse
correntes ascendentes. A separação de cargas limiar. A origem da zona mais alta de carga ne -
elétricas de sinais opostos pode envolver diver- gativa é incerta, mas pode envolver indução (a
sos mecanismos. Um é o movimento diferencial formação da chamada "camada de separação " ),
de partículas pela gravidade e pelas correntes uma vez que fica perto do limite superior da
ascendentes convectivas. Outro é a fragmenta- nuvem, e a ionosfera é positivamente carregada .
ção de cristais de gelo durante o congelamento A estrutura sem correntes ascendentes pode re-
de gotículas das nuvens . Isso atua da seguinte presentar variações espaciais ou uma evolução
maneira: uma gotícula super-resfriada congela temporal do sistema de trovoada. A origem da
da superficie para dentro, e isso cria um núcleo área positiva na base da nuvem fora da corrente
mais quente e com carga negativa (íons OH l e ascendente é incerta, mas pode ser uma camada
uma superfície mais fria com cargas positivas, de separação.
devido à migração de íons H +para fora , seguin- Estudos com radar mostram que as descar-
do o gradiente de temperatura. Quando essa pe- gas elétricas estão associadas às partículas de
dra macia de granizo se rompe durante o con- gelo nas nuvens e às correntes de ar ascendentes
gelamento, pequenos fragmentos de gelo com que carregam pequenos grãos de granizo. As
carga positiva são ejetados pela capa de gelo e descargas começam mais ou menos simulta-
preferencialmente elevados à parte superior da neamente às pancadas, e a quantidade de chuva
célula convectiva nas correntes ascendentes. parece estar correlacionada com a densidade
Todavia, o mecanismo de fragmentação do gelo de relâmpagos. A forma mais comum de des-
parece funcionar apenas para uma faixa limita - carga elétrica (em torno de dois terços de todos
da de condições de temperatura, e a transferên - os relâmpagos ) ocorre dentro da nuvem e é vi-
cia de cargas é pequena . sível como relâmpago laminar. Mais significa -
A distribuição vertical de cargas em uma tivas são as descargas da nuvem ao solo. Com
cumulonimbus, com base em sondagens feitas frequência, elas vão da parte inferior da nuvem
com balão, é mostrada na Figura 5.18. Esse es- ao solo, que t em uma carga posi tiva induzida
quema geral se aplica a tempestades em massas localmente (Figura 5.19A). O primeiro estágio
de ar no sudoeste dos Estados Unidos, bem (líder) do relâmpago, que traz carga negativa da
como a tempestades em supercélulas e sistemas nuvem, é encontrado por volta de 30 m acima
convectivos de mesoescala descritos no Capítu- do solo por uma descarga de retorno, que rapi-
lo 9. Existem quatro bandas alternativas de car - damente leva a carga positiva ao longo do canal
gas positivas e negativas na corrente ascendente de ar ionizado, já formado. Assim como o líder
e seis fora da área de ascensão. As três bandas é neutralizado pela descarga de retorno, a nu -
inferiores das quatro da corrente ascendente são vem a neutraliza por sua vez . Líderes e descar-
atribuídas a processos de colisão. Os cristais de gas de retorno subsequentes drenam as regiões
gelo levados para cima podem explicar por que mais altas da nuvem, até que seu suprimento de
a parte superior da nuvem (acima da isoterma cargas negativas é temporariamente esgotado. A
de-25ºC) tem carga positiva . O graupelnegati- descarga total, com aproximadamente oito des -
vamente carregado explica a principal região de cargas de retorno, em geral dura 0,5 segundos
cargas negativas. Existe um limiar de tempera - (Figura 5.19). O extremo aquecimento e a ex-
tura em torno de - lOºC a - 20ºC (dependendo pansão explosiva do ar imediatamente ao redor
do conteúdo de água líquida na nuvem e da taxa do caminho do raio lançam ondas sonoras in-
de acresção sobre o graupel),onde ocorre inver - tensas, fazendo o trovão ser ouvido. O som viaja
1
são do sinal das cargas elétricas. Acima (abaixo) a aproximadamente 300 m s- • Com menos fre-
da altitude desse limiar, os grãos de graupelpos - quência , os raios da nuvem ao solo ocorrem a
suem carga negativa (positiva) . A área inferior partir da região positiva superior (Figura 5.198 ,
com carga positiva representa partículas maio - caso (1)), e predominam no setor de nuvens
CAPÍTULO 5 Insta bi lidade atm osférica , fo rm ação de nuvens e processos de precipitação 139

(A) ..,-~ -- ----- --,..-.:;----;;.;-;...:,,_:e:,


(B) ..,-~ ___ __,,.
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Fígura 5.19 Visão clássica da d ist ribuição ver t ical de cargas e letrostáticas em uma nuvem de trovoada e no
so lo . (A ) mos tra a tra nsferên ci a comum de ca rgas negativas para a superf ície em uma d escarga elétr ica ; (B)
mostra outros casos : (1) quando cargas pos it ivas da parte supe ri or da nuvem são trans fe ridas para uma ó rea
com indução loca l de ca rgas negativas na supe rfí cie; (2) a tra nsferê ncia de cargos posit ivas oco rre de uma ele-
voçáo ou estr utu ra na supe rfíci e para a base da n uvem.

estra tiformes de uma tem p estade convect iva de carregamen to de gotículas de nuvens /cristais
em movimen to (Capítulo 9). As cargas positi- de gelo, conforme já descritos, para iniciar raios
vas também podem ser transferidas do topo de líderes. Os íons atmosféricos conduzem a ele-
uma montanha ou estrutura elevada para a base tricidade da ionosfera até a Terra e, assim, deve
da nuvem (caso (2)). Nos Estados Unidos , mais haver um supr imen to de retorno para manter
de 20% dos raios são positivos no Meio-Oeste, o campo elétrico observado. Uma fonte im-
ao longo da Cos ta do Golfo e na Flór ida . A Fi- portante é a descargapontual lenta , de objetos
gura 5.19 representa um modelo bipo lar sim- como prédios e árvores , de íons com carga po-
ples de eletr icidade em nuvens; ainda devem ser sitiva, induzida pela base negativa da nuvem de
desenvolvidos esquemas para a comp lexidade t empestade .
mos trada na Figura 5.18. Recentemen te, foram descobertas corren -
As descargas elétricas representam apenas tes ascendentes acima das regiões estratiformes
um aspecto do ciclo da elet ricida .de atmosfér ica. de grandes sistemas de tempestades convectivas
Duran te tempo bom, a superf ície da Terra tem com raio s positivos da nuvem ao solo. Emissões
carga negativa, e a ionosfera , carga posi tiva. O lum inosas breves, decorren tes de descargas elé-
gradiente potencial desse campo elétrico verti- t ricas, aparecem na mesosfera e se estendem
cal duran te tempo bom é de aproximadame nte até 30-40 km abaix o. Esses cham ados duendes
1
100 V m- pr óximo à super fície, diminuindo a (spri t es) são vermelhos na porção superior ,
aproximadamen te 1 V m - i a 25 km, ao passo com filamentos azuis mais abaixo. A cor verme -
que , embaixo de uma nuvem de trovoada, ele lha advém de mo léculas neutras de nitrogênio
alcança 10.000 V m- 1 imediatamente antes de agitadas por elétrons livres. Na iono sfera mais
uma descarga. O "po ten cial de colapso " para acima, pode ocorrer um anel de expansão lumi -
que haja descarga elétr ica no ar seco é de 3 x nosa (chamado ''elfo,,). Bastante acima de uma
6
10 V m- \ mas isso é 10 vezes super ior que o trovo ada com relâmpagos , observa -se uma des -
maior potencial observado em nuve n s de trovo- carga, pois o campo elétr ico imposto com dipo-
ada. Daí a necess idade de processo s localizado s lo vertica l excede o pote n cial de colapso do ar
140 Atmos fera, Tempo e Clima

de baixa densidade. A ionosfera, eletricamente verão austral, as assinaturas de raios ocorrem ao


condutiva , impede que essas "duendes " se esten- longo da depressão equatorial e ao sul, até apro -
dam acima da altitude de 90 km. ximadamente 30ºS sobre o Congo, a África do
A outra fonte do suprimento de retorno Sul, o Brasil, a Indonésia e o norte da Austrália,
(estimado como menor em seu efeito sobre a com atividade ao longo de rotas ciclônicas no
Terra como um todo do que as descargas pon- hemisfério norte. No verão boreal, a atividade
tuais) é a transferência ascendente e instantânea se concentra na região central e setentrional da
de cargas positivas por raios, deixando a Terra a América do Sul, a África Ociden t al - Congo, o
com carga negativa . Acredita-se que a operação norte da fndia e no Sudeste Asiático e no sudeste
conjunta dessas correntes, em aproximadamen - dos Estados Unidos. A Rede Norte -Americana
te 1800 trovoadas ao redor do planeta em um de Detecção de Raios registrou 28-31 milhões
dado momento, seja suficiente para equilibrar o de raios por ano em 1998-2000 . As tempestades
vazamento ar-Terra, e esse número corresponde severas nos Estados Unidos podem ter picos nas
razoavelmente às observações. taxas de raios das nuvens para o solo com mais
Em âmbito global, as trovoadas são mais de 9000 raios por hora . Na Flórida e ao longo
frequentes entre 12 e 21 horas no horário local, da Costa do Golfo, a densidade média de raios é
2
com um mínimo por volta das 3hs da madruga - de 9 raios /km • A corrente máxima média é de
da. Uma análise de raios em imagens de satélite 16kA. O raio é um risco ambiental significativo .
no canal visível à meia -noite local mostra uma Apenas nos Estados Unidos, ocorrem 100- 150
predominância de raios sobre áreas de terra mortes por ano, em média, como resultado de
trop icais entre lSºN e 30ºS (Prancha 5.17). No acidentes envolvendo raios.

O ar pode ser elevado por meio da instabilidade decorrente do aquecimento superf icial ou por turbu-
lência mecânica, ascensão do ar em uma zona frontal, ou elevação forçada sobre uma barreira oro -
gró f ica . A instabilidade é determinada pela taxa real de redução na temperatura com a altitude na
atmosfera, relativa ao gradiente adiabático apropriado. O gradiente adiabático seco (GAS) é de
9,8ºC/km; o gradiente adiabótico saturado (GAU) é menor do que o gradiente seco, devido à libera-
ção de calor latente por condensação. Ele é menor (por volta de 5°C/km) em temperaturas altas, mas
aproxima-se do GAU em temperaturas abaixo de zero.
A condensação exige a presença de núcleos higroscópicos como partículas de sal no ar. Senão,
ocorre supersaturação. De maneiro semelhante, os cristais de gelo somente se formam naturalmente
em nuvens contendo núcleos de congelamento {partícu las minerais de argila). De outra formo, os go-
tículas de 6guo podem se super-resfriar a -39°C. Pode haver presença de gotículas super-resfriadas e
crista is de gelo simultaneamente em nuvens com temperatura de -10°C o -20°C.
As nuvens são classificadas em gêneros bósicos segundo a alti tu de e a forma da nuvem. Os satéli-
tes têm fornecido novas informações sobre os padrões espaciais de nebulosidade, revelando áreas ce-
lulares {favos de mel) e ruas lineares de nuvens, bem como padrões de tempestade em grande escalo.
As gotas de precipitação não se formam diretamente pelo crescimento de gotículas de nuvem por
condensação, podendo haver dois processos envo lvidos - coalescêncio de gotas de tamanhos dife-
rentes ao caírem, e o crescimento de cristais de gelo por deposição de vapor {o processo de Bergeron-
-Findeisen). As nuvens mais baixas podem ser semeadas natura lmente por cristais de gelo caídos de
camadas de nuvens superiores, ou pela introdução de núcleos artificiais. Não existe uma causo única
para a intensif icação orogr6fica dos totais de precipitação, podendo ser distinguidos pelo menos qua-
tro processos contri buintes .
As trovoadas são geradas por ascensão convectiva (que pode resultar do aquec imento diurno),
ascensão orogróf ica, sistemas frontais ou linhas de instabilidade. O processo de congelamento parece
ser um elemento importante na eletrificação de nuvens nas trovoadas. Os raios desempenham um
papel crucial no manutenção do campo elétrico entre a superfície e a ionosfera.
CAPÍTULO 5 Instab ilidade atmosférica , formação de nuvens e proce ssos de precipitação 141

• Expliq ue a diferenço entre os gradi entes od iabót ico, ad iob6t ico seco e od iob6t ico sat urado .
• Q ue processos det ermi na m o presença de est ab ilidade e instab ilidad e na tropo sfera?
• Que fatores fazem o a r subir/descer em pequ en as e gra ndes escalas e qua is são os res ultados cli-
má ticos assoc iados?
• Faça u,m reg istro dos gêneros e da qua ntidade de nuvens d urante a lgu ns dias e co mpa re o que você
obse rva com a cobertura de nuvens most rada pa ra a sua reg ião em image ns de satél ite de um site
adeq uado {ver Apê ndice 4D).
• Faça um corte tra nsversal da e levação do terre no e dos tota is de precipitação e m estaçõe s ao longo
de um tronsecto em sua reg ião / pa ís. Use dados diários , me nsa is ou a nua is, conforme dispon íveis .
Além disso, ob serve a direção predo mina nte do vento com relação às monta nhas/ colinas .
• A pa rtir de reg istros/sites nac iona is, exam ine a oco rrência de siste mas convectivos {trovoadas, to r-
nado s, ra ios) em seu pa ís e dete rmine se são tempestades de mossas de ar conectadas com ba ixas
fronta is, ou sistemas convect ivos de mesoesca la.

A -

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ov1mentos
atmos éricos:
. , •
pr1nc1 105

OBJETIVOSDE APRENDIZAGEM
Depois de ler este capítulo, você:

• conhecerá as leis básicas do movimento horizontal na atmosfera;


• saberá como surge e atua o força de Coriolis;
• poderá definir vento geostrófico;
• saberá como o atrito modifica a velocidade do vento no camada limite;
• entenderá os princípios da divergência/convergência e vorticidade e seus papéis nos processos at-
mosféricos; e
• entenderá os fatores termodinômicos, dinâmicos e topográficos que levam a regimes característicos
de vento loca 1.

A atmosfera está em movimento constante em cidades horizontais médias do vento são da or-
escalas que variam de rajadas locais de curta dem de 100 vezes maiores que os movimentos
duração a sistemas de tempestades que cobrem verticais médios, embora ocorram exceções
vários milhares de quilômetros e duram cerca in dividuais - particularmente e.m tempestades
de uma semana, bem como cinturões de ven- convectivas.
tos globais mais ou menos constantes que cir-
cundam a Terra. Antes de considerarmos os
A LEIS DO MOVIMENTO
aspectos globais, porém, é importante analisar
HORIZONTAL
os controles imediatos do movimento do ar.
O campo gravitacional da Terra, que atua para Há quatro controles sobre o movimento hori-
baixo, causa a redução observada na pressão zontal do ar perto da superfície da Terra: a força
conforme nos afastamos da superfície da Ter- do gradiente de pressão, a força de Co riolis, a
ra e que é representada na distribuição vertical aceleração centrípeta e as forças friccionais. A
da massa atmosférica (ver Figura 2.13). Esse principal causa do movimento do ar é o de-
equilíbrio mútuo entre a força da gravidade e senvolvimento de um gradiente de pressão ho-
o gradiente vertical de pressão é chamado de rizontal por meio das diferenças espaciais no
equilíbrio hidrostático (p. 31). Esse estado de aquecimento superficial e das mudanças conse-
equilíbrio, junto com a estabilidade geral da quentes na densidade e pressão do ar. O fato de
atmosfera e sua pouca profundidade, limita que esse gradiente pode persistir (em vez de ser
bastante o movimento vertical do ar. As velo- destruído pelo movimento do ar rumo à baixa
144 Atmos fera, Tempo e Clima

pressão) resulta do efeito da rotação da Terra,


dando origem à força de Coriolis.
\
\
-
\
1 A força do gradiente de pressão \ Caminho
'-. relativo à
A força do gradiente de pressão tem compo- ,,referênc ia fixa
nentes verticais e horizontais, mas, como já foi \
Cam inho \
observado , a componente vertical está mais ou \
relativo
menos em equilíbrio com a força da gravidade. ao disco
As diferenças horiwntais na pressão advêm em rotação
de contrastes no aquecimento térmico ou de
causas mecânicas, como barreiras montanho -
sas, e essas diferenças controlam o movimento
horizontal de uma massa de ar. O gradiente de
Sent ido
pressão horizontal serve como a força motriz
~e rotação •
que faz o ar se mover de áreas de alta pressão
para áreas onde a pressão é menor, embora ou -
tras forças impeçam o ar de atravessar as isó- Figura 6.1 A fo rça defletora de Coriolis atuando
baras (linhas de mesma pressão). A força do sobre um obje to que se move poro fora o partir do
gradiente de pressão por unidade de massa é centro de um disco em rotação .

expressa matematicamente como


uma massa que se dirige para fora a partir do
l dp centro de um d.isco giratório. O corpo segue um
p dn caminho reto em relação a uma base de referên-
onde p = densidade do ar e dp/dn"'= gradien - cia fixa (por exemplo, uma caixa que contenha
te horizontal de pressão. Assim, quanto mais o disco giratório) , mas, em relação a coordena -
próximo o espaçamento das isóbaras, mais das que giram com o disco, o corpo anda para a
intenso o gradiente de pressão e maior a ve - direita de sua linha inicial de movimento. Esse
locidade do vento. A força do gradiente de efeito é facilmente demonstrado desenhando-se
pressão também é inversamente proporcional uma linh a a lápis do centro à borda de um disco
à densidade do ar, e essa relação é de especial branco em uma plataforma giratória. A Figura
importância para entender o comportamento 6.2 ilustra um caso em que o movimento não
dos ventos superiores. é a partir do centro da plataforma giratória, e o
objeto possui um momento inicial em relaç ão à
2 A força defletora rotacional da sua distância do eixo de rotação . Observe que
Terra (Coriolis) o modelo da plataforma giratória não é estrita-
mente análogo, pois existe uma força centrífuga
A força de Coriolis advém do fato de que o mo-
envolvida dirigida para fora. No caso da Terra
vimento de massas sobre a superfície da Terra
em rotação (com coordenadas de latitude e lon-
é re feren ciado a um sistema de coordenadas
gitude giratórias), existe uma deflexão visível de
móveis (ou seja, a rede de latitude e longitude,
objetos em movimento para a direita de sua li-
que "gira" com a Terra). A maneira mais simples
nha de movimento no Hemisfério Norte e para
de visualizar como essa força defletora opera é
a esquerda no Hemisfério Sul, vista por obser-
imaginar um disco giratório, onde objetos em
vadores sobre a Terra . A ideia da força defletora
movimento são desviados. A Figura 6.1 mostra
é creditada ao trabalho do matemático francês
o efeito dessa força defletora operando sobre
G.G. Coriolis, na déca.da de 1830. A "forçá' (por
unidade de massa) é expressa por:
* N. de R.T.: dpldn é a diferença de pressão dividida pela
distância entre a alta e a baixa pressão. -2 .Q V sen q>
CAPÍTULO 6 Movimentos atmosféri cos: prin cípios 145

(A) (B)
-

• • p'
...
.......
.......
......
......
......
X Homem vê objeto P
•------------------ ..~-,-
X....... ..........
_,_.::,.:';...----....___
Camínho
p

X
observado
da bola

~
Sentido
e rotação .,
- ..
figura 6.2 A força defl etora d e Coriol is sobre uma p la taform a gir atória : (A) um observador em X vê o obj eto
P e ten ta lan çar uma bola em d ireção a ele. Ambos estão g ira ndo no se ntido an ti - ho rório; (B) a pos ição do ob-
se rvad or ago ra é X' e o ob ,jeto estó em P' . Po ro o observado r, o bo lo parece seguir um c a minho curvo e ca i em
Q. O observ ad or ignorou o fo to de que o pos ição P esta va anda ndo no sentido ont i-horório e que o comi nho da
bola serio afe tado p elo impu lso inicial dev ido à ro tação do pon to X.

onde n = velocidade angular (2n /24 radianos no Hemisfér io Sul ({negativo) . Os valores ab -
h- para a. Terra= 7,29 x 10- radianos s- ); ~
1 5 1
solutos de f variam com a latitude, conforme a
= latitude e V = velocidade da massa. 2 n sen tabela a seguir :
~ chama-sede parâme tro de Corio lis (ft. Ave-
locidade angular é um vetor que representa a
Latitude Oª 10º 20ª 43ª 90º
tax .a de rotação de um objeto em torno do eixo f(l 0 -4 s-1) O 0, 25 0,50 1,00 1,458
de rotação; sua magnitude é a taxa temporal de
deslocamento de qualquer ponto do corpo .
A magnitude da deflexão é diretamen te A ro tação da Terra também produz uma
proporcional: ( l ) à veloc idade horizontal do ar componente vertical da rotação sobre um eixo
1
(o ar que se move a 10 m s- tem a metade da horizontal. Ela é máxima no equador (zero nos
força defletora operando sobre ele do que quan - polos) e causa uma deflexão vertical para cima
1
do se move a 20 m s- ); e (2) ao seno da latitude (baixo) para ventos de oeste /leste. Todavia , esse
(sen 0° = O; sen 90° = 1). O efeito, portanto, é
efeito tem importânc ia secundária devido ao
máximo nos polos (onde o plano da força de- equilíbrio hidrostático.
fletora é paralelo à superfície da Terra ). Ela di-
minui com o seno da latitude, tornando-se zero 3 Vento geostrófico
no equador ( onde não existe componente de
deflexão em um plano para lelo à superfície) . A Observações na atmosfera livre (acima do nível
"forçá' de Coriolis depende do movimento em afetado pelo atrito superficial entre aproxima-
sL Assim, ela afet a a direção , mas não a veloci- damen te 500 e 1000 m ) mostram que o vento
dade do movimento do ar, que envo lveria tra - sopra mai s ou menos em ângulos retos em rela -
balho (mudança da energia cinética ). A força ção ao gradiente de pressão (paralelo às isóba -
de Coriolis sempre atua em ângu los retos em ras ), com alta pressão à direita e baixa pressão
relação à direção do movimento do ar, à direita à esquerda quando visto a favor do vento (para
no Hemisfério Norte ({positivo ) e à esquerda o Hemisfério Norte) . Isso impl ica que, para
146 Atm osfera, Tempo e Clima

um movimen to estável, a força do gradiente de o vento e os campos de pressão . O argumento


pressão é equilibrada exatamente pela deflexão comum de ªcausa e efeito " de que , quando um
de Coriolis, que atua na direção diame tralmente gradiente de pre ssão se forma , o ar começa a
oposta (Figura 6.3A). O vento nesse caso ideali - avançar rumo à baixa pressão antes de entrar
zado se chama ventogeostrófico,cuja veloc idade em equilíbrio geostrófico , é uma simplificação
(Vg) é dada pela seguinte fórmula : exagerada e inadequada da realid ade .

Vi _ 1 dp 4 A acelera~ão centrípeta
g - 2.Q se11<1>· d n
Para um corpo seguir um caminho curvo, deve
onde dp /dn =gradiente de pressão. A velocida - haver uma aceleração (e) para o centro da rota -
de é inversamente depe n dente da latitude, de ção, expressa por:
modo que o mesmo gradiente de pressão asso - mV 2
ciado a um vento geostrófico de velocidade 15 e= - --
r
m s- i na latitude 43º produzirá uma veloc idade
de apenas 10 m s- 1 na latitude 90º . Exceto em onde m = massa em movimento, V = sua velo-
latitudes baixas, onde o parâmetro de Coriolis cidade e r = raio da curvatu .ra. Esse efeito, por
fica próximo de zero, o vento geostrófico se conveniência , às vezes é considerado uma "for-
aproxima do movimento do ar observado na at- çà ' centrífuga que atua no se.ntido radial para
mosfera livre . Como os sistemas de pressão ra - fora (ver No ta 1) . No caso da Terra, isso é vá-
lido . O efeito centrífugo devido à ro tação tem,
ramente são estacionários, esse fato implica que
o movimento do ar deve mudar constantemente de fat o, resultado em uma leve protuberância
da massa da Terra nas latitudes baixas e em
em busca de um novo equilibr io. Em ou tras pa -
lavras, existem ajustes mútuos constantes entre um achatamento perto dos polos. A pequena
redução na gravidade em direção ao equador
(A) (ver Nota 2) reflete o efeito da força centrífuga
Baixa
atuando contra a atração gravitacional dirigida
p
Força ao cen tro da Terra. Portanto , é necessário con -
___ de_ p
_r_
e_
ss_ã_o_______ gpm
500 siderar apena s as força s envolvidas na ro tação
Vento geostrófico, Vg do ar ao redor de um eixo local de alta ou baixa
pressão . Aqui, o caminho curvo do ar (paralelo
------------ 540 gpm às isóbaras ) é mantido por uma aceleração que
Força
de Corio lis e atua em direção ao centro, ou centrípet a.
Alta A Figura 6.4 mostra (para o Hemisfério
Norte) que, em um sistema de baixa pressão, o
(B)
fluxo equilibrado é man tido em um caminho
curvo (chamado vento gradiente ) pelo fato de
que a força de Coriolis é mais fra .ca do que a
força da pressão . A diferença entre as duas dá
------- 1004mb-- a aceleração centrípeta líquida para o inter ior.
1
Alta
F + C No caso da alta pressão, a aceleração para den -
Resultante da fo rça
de Coriol is e da força de fricção tro ( centrípeta) existe porque a força de Coriolis
excede a força da press ão. Como se supõe que
Figura 6.3 (A): o caso do vento geostr6fico do movi- os gradientes de pressão são iguais, as diferen-
mento equil ibrado (Hemisfério Norte) ac ima da cama- tes contribuições da força de Coriolis em cada
da de fr icção (contornos de altura em gpm); (B) vento
caso implicam que a velocidade do vento ao re -
superficial V rep resenta um equilíb rio entre o vento ge-
ostr6fico, (Vg), e a resu ltante da força de Coriol is; (C) dor da baixa pressão deve ser meno r do que o
e a força de fricção (f). Observe que F em geral não é valor geostrófico (subgeostrófica), ao passo que,
diretamente oposta ao vento na superfície. no caso da alta pressão , é supergeostrófica. Na
CAPÍTULO 6 Movimentos atmosféricos: prin cípios 147

(A) Baixa pressão (B) Alta pressão

Baixa Alta
Gradien te Força
de pressão de Corio lis

Direção d o Direção do
Senti do da +.__,_ ven o gradiente vento grad ient e '"'"'---1..., Sentido da
aceleração
ce ntrípeta
,
~ ------
Força de
----~L :

Gradiente
aceleração
centrípeta

Coríolis de pressão

Fígura 6.4 O c aso d o vento grad ie nt e, com mov imento eq uili b ra d o ao re d o r do b a ixo pr essão (A) e a lto
p ressão (B) no H em isfér io No rte .

realidade, esse efeito é obscurecido pelo fato de de escoamento através das isóbaras. A própria
que o gradiente de pressão em uma alta costu - mudança na pressão depende do d.eslocamento
ma ser mui to mais fraco do que em uma bai - do ar pelo rompimen to do estado de equilíbrio .
xa . Além disso, o fato de que a rotação da Terra Se o movimen to do ar fosse puramente geostró -
é ciclônica impõe um limite na velocidade do fico, não haveria crescimen to ou decaimento
fluxo anticiclônico . A máxima ocorre quando a de sistemas de pressão. A aceleração do ar em
velocidade angular é f /2 (= V sen 4>) , em cujo n íveis super iores de uma região de curvatura
valor a rotação absoluta do ar (visto do espaço ) isobárica ciclônica (vento subgeos trófico ) para
é apenas ciclônica. Além desse ponto, o fluxo uma de curvatura antic iclônica (ven to superge -
anticiclônico se rompe ("instabilidade dinâmi - ostrófico ) causa uma queda de pressão em ní -
cà ') . Não existe velocidade máxima no caso da veis inferiores da atmosfera, para compensar a
ro ta.ção ciclônica. remoção do ar para cima . A significância desse
A magnitude da aceleração cen trípeta ge- fato será discutida no Capítulo 9G . A interação
ralmente é pequena, mas ela se torna impor - entre movimentos horizo nt ais e verticais de ar é
tante onde ventos de alta velocidade estão se discutida em B.2 (neste capítulo ).
movendo em caminhos muito curvos (isto é, ao Nos casos em que a curv atura do fluxo é fe-
redor de um vórtice intenso de baixa pressão). chada, como perto do olho de um ciclone tropi -
Dois casos têm significado me teorológico: pri - cal (ver Capí tulo 1lB.2), a aceleração centrípeta
meiro , em ciclones intensos perto do equador , pode equilibrar a força do gradiente de pressão;
onde a força de Coriolis é desprezível; e, em o vento resultante é denominado ciclostrófico .
segundo lugar, em um pequeno vórtice, como
um tornado. Nessas condições , quando a gran - 5 Forças fricionais e a
de força do gradiente de pressão proporciona camada limite planetária
a aceleração centrípe ta necessária para o fluxo
A última força que t em um efeito importan-
equil ibrado paralelo às isóbaras , o movimento
te sobre o movimento do ar é a decorrente do
se chama ciclostrófico.
atri to da superfície da Terra . Perto da super fície
Os argumentos apresentados pressupõem
(ou seja, abaixo de SOOm em terreno plano ), o
condições estáveis de fluxo equilibrado . Essa
atri to devido ao arrasto sobre o relevo começa
simplificação é útil, mas , na realidade , dois fato -
a reduzir a velocidade do vento abaixo do seu
res impedem um estado contínuo de equili'br io.
valo r geos trófico. Essa desaceleração do ven to
O movimento latitudinal altera o parâme tro de
per to da superfície modifica a força defletora,
Coriolis , e o movimento ou a intensidade var iá-
que depende da velocidade, fazendo com que
vel de um sistema de pressão leva à aceleração
também diminua . Inicialmen te, a força de atrito
ou desaceleração do ar, causando um certo grau
148 Atmos fera, Tempo e Clima

é oposta à velocidade do vento, exceto em um tenas de metros à noite , quando o ar está estável
estado de equilíbrio - quando a velocidade e, por causa do resfriamento superficial noturno,
portanto, a deflexão de Coriolis diminuem (o até 1-2 km durante condições convectivas que
vetor somatório das componentes de Coriolis e costumam aparecer durante a tarde . Excepcio -
atrito equilibra a força do gradiente de pressão, nalmente, sobre superfícies quentes e secas,
Figura 6.3B). A força de atrito agora atua para a a mistura convectiva pode se estender até 4-5
direita do vetor vento superficial . Assim, em ní- km . Sobre os oceanos, ela costuma ter 1 km de
veis baixos, devido aos efeitos do atrito, o vento espessura e, especialmente nos trópicos, é limi -
sopra de maneira oblíqua através das isóbaras tada por uma inversão devido ao ar descenden-
na direção do gradiente de pressão. O ângulo de te. A camada limite é estável ou instável . Ainda
obliquidade aumenta com o efeito crescente do assim, por conveniência teórica, ela costuma ser
arrasto friccionai produzido pela superfície da tratada como neutra ( o gradiente térmico é o
Terra, em média cerca de 10-20º sobre a super- mesmo do GAS, ou a temperatura potencial é
fície do mar e 25-35º sobre o continente. constante com a altitude; ver Figura 5.1). Para
Em resumo, o vento superficial (descon- esse estado ideal, o vento vira (gira) no sentido
siderando os efeitos de curvatura) represen- horário com maior altitude sobre a superfície,
ta um equilíbrio entre a força do gradiente de criando uma espiral de vento (Figura 6.5) . Esse
pressão e a força de Cor iolis perpendicular ao perfil espiral foi demonstrado pela primeira vez
movimento do ar, e o atrito quase paralelo, mas no giro das correntes oceânicas com o aumen -
oposto, ao movimento do ar. Onde a força de to da profundidade (ver Capítulo 7Dl.a) por V.
Coriol is é pequena, o atrito pode equilibrar a W Ekman; ambos são chamados de espiraisde
força do gradiente de pressão e os fluxos de ven- Ekman. O influxo de ar rumo ao centro de bai -
to (conhec idos como antitrípticos) em direção xa pressão gera movimento ascendente no topo
à baixa pressão. da camada limite planetária, conhecido como
A camada de influência friccionai é conhe- bombeamentode Ekman.
cida como camada limite planetária (CLP). Os A velocidade do vento diminu i exponen-
perfiladores atmosféricos (lidar e radar) podem cialmente perto da superfície terrestre, devido
medir rotineiramente a var iabilida .de temporal aos efeitos friccionais, que consistem no arras-
da estrutura da camada limite planetária. Sua
espessura varia sobre a Terra, de algumas cen - (500-1 000 m} Vento geostróf ico

Tabela 6.1 Rugosidades típicas associados a


caracter{s ticas de superfícies do
terreno
Q)
u:::,
Características de
superficles do terreno
Comprimentos das
rugosidades (m) -
.t:
~

Grupos de préd ios altos 1-1O


Floresta tem perada 0,8
Grupos de prédios méd ios 0,7
Subú rbios 0,5
'
Arvores e arbustos 0,2
Superfícies ag ríco las 0,05-0,1
Grama 0,008 Figura 6.5 A espiral de vento de Ekman em função
Solo limpo 0,005 da altitude no Hemisfério Norte . O vento adquire a
Neve 0,001 velocid ade geos tróf ica entre SOO e l 000 m nas lati-
Are ia liso 0,0003 tu des médias e mais altas, à medida que os efeitos do
'
Agua 0,0001 ar roste friccionai se tornam desprezíve is. Esse é um
perfil teórico do velocidade do vento em condiçóes de
Fonte : Troe n ond Peterse n {1989 ). tu rbulênc ia mecânica.
CAPÍTULO 6 Mo vim entos atm osféri cos: prin cípios 149

to sobre obstáculos (prédios, florestas , colinas) mostra que o ar pode acelerar (desacelerar) ,
e na tensão fricciona! exercida pelo ar na in - levando à divergência (convergência) de velo -
terface com a superfície. O mecanismo de ar- cidades. Quando as linhas de corrente (linhas
rasto envolve a criação de pressão, localmente de movimen to instantâneo do ar) se espalham
mais alta a barlavento de um obs t áculo , e um ou se espremem, chama -se isso de difluência ou
gradiente de pressão lateral. A ten são eólica confluênci~ respectivamente. Se o padrão de
surge primeiro da resistência molecular do ar linhas de corre nte é fortalecido pelas isótacas
ao cisalhamento vertical do vento (a velocida- (linhas de igual veloc idade do vento ), confor -
de do vento aumen ta com a altitude acima da me o terceiro painel da Figura 6.6A, pode haver
superfície ); essa viscosidade molecular atua em divergência ou convergência de massa em um
uma subcamada . laminar com apenas alguns certo ponto (Figu.ra 6.6B). Nesse caso, a com -
milímetros de espessura. Em segundo lugar, pressibilidade do ar faz a densidade diminuir ou
redemoi n hos tu.rbulentos, de poucos metro s a aumentar, respectivamente. Em geral, porém, a
dezenas de metros de diâmetro, diminuem o confluência é associada a um aumento na ve-
movimento do ar em escala maior (viscosidade locidade do ar, e a difluência , a uma redução.
turbule nta). A rugosidade aerodinâmica do ter-
reno é descrita pelo comprimento da rugosidade (A) ,o
----
20
(Z0) , ou a altitude em que a velocidade do vento 1
1
1• V V.
cai a zero, com base na extrapolação do perfil de
vento neutro . A Tabela 6.1 lista comprimentos
1

Divergênc ia
1
1
1 ---...
Difl uêncla
~
1

Divergência
~
1 1

Indetermi nado
forte
típicos de rugosidade . ,o ,o
---- ~
20 20
~
1
1•
A turbulência na atmosfera é gerada pela 1 1 1 1 1

----
1
.
alteração vertical na velocidade do vento (ci- ! ..
1 ~ ~
Convergência Confluência Convergência Indeterm inado
salhamento vertica l do vento) e é suprimida forte
pela ausência de flutuação. A razão adimen - (B)
sional da supressão flutuante da turbulência
por sua geração por cisalhamento , conhecida \<10\'inem O
do o, / ! /
como número de Richardson (Ri) , proporcio - •J •1
1
,,
~ J -· ,I

na uma medida da estabilidade dinâmica. Aci -


ma de um limiar crítico, é prováve l que ocorra Difluên cia Confl uência
turbulência. + +
espalhamento vertical contração vertical
(C}
..
B DIVERGENCIA, MOVIMENTO
VERTICAL E VORTICIDADE
Esses três termos são a chave para a compreen-
são adequada dos sistemas de vento e pressão ••
,,•
em escala sinótica e global. A subida e descida ' '

'>·-
de ar em g.rande extensão ocorre em resposta a ' '
Convergência horizo ntal Divergência horizontal
fatores dinâmicos relacionados com o fluxo de + +
espalhamento vertical contração vertical
ar horizontal e é afetada apenas de forma secun-
dária pela estabilidade das massas de ar. Daí a Figura 6.6 Convergência e divergência : (A) visão
importância desses fatores para os processos plana de padrões de fluxo horizo ntal produz indo diver-
meteorológicos . gência e conve rgênc ia - as linhas tracejadas são iso-
pletas esquemóticos do velocidade do vento (isótocos);
1 Divergência (B) vista pe rspectiva de divergência e convergênc ia de
mosso local, pressupo ndo mudanças na de nsidade; (C)
Diferentes tipos de fluxo horizontal são apre- relações típicas de espalhamento no convergênc ia e de
sentados na Figura 6.6A . O primeiro painel co ntração no divergência no fluxo atmosfér ico.
150 Atmosfera, Tempo e Clima

No caso intermediário, a confluência é equili- haja elevação ou redução contínuas na densida-


brada por um aumento na velocidade do vento, de. O ar sobe sobre uma célula de baixa pressão
e a difluência, por uma redução na velocidade. e desce sobre a alta pressão , com divergência e
Assim, a convergência (divergência) pode gerar convergência compensatórias, respectivamente,
um espalhamento (contração) vertical, confor - na troposfera superior . Na troposfera média,
me ilustrado na Figura 6.6C . É importante ob- deve haver algum nível em que a divergência ou
servar que, se todos os ventos fossem geostrófi- convergência horizontal é efetivamente zero; o
cos, não haveria convergência ou divergência e, "nível de não divergênciá' médio geralmente é
assim, não haveria o tempo meteorológico! em torno de 600 mb, correspondendo a apro-
Também pode ocorrer convergência ou di - ximadamente 1000 m de altitude na atmosfera
vergência como resultado de efeitos friccionais. padrão. O movimento vertical de grande escala
Os ventos em direção à costa também sofrem é extremamente lento, comparado com as cor-
convergência em níveis baixos, quando o ar rentes convectivas ascendentes e descendentes
desacelera ao cruzar a linha de costa, devido nas nuvens cumulus, por exemplo. As taxas tí-
ao maior atrito sobre a terra, ao passo que os picas em grandes depressões e anticiclones são
ventos em direção ao mar aceleram e se tornam da ordem de +5-10 cm s- 1(1,8-3,6 km/h), ao
divergentes. As diferenças friccionais também passo que as correntes ascendentes em cumulus
podem criar convergência (ou divergência) cos- podem exceder os 10m s- L(136 km/h).
teira se o vento geostrófico for paralelo à linha
de costa, com terra à direita (ou esquerda) da 3 Vorticidade
corrente de ar, para o Hemisfério Norte*, vista
A vorticidade implica a rotação, ou velocidade
a favor do vento.
angular, de pequenas parcelas (imaginárias) em
qualquer fluido. Podemos considerar que o ar
2 Movimento vertical
dentro de um sistema de baixa pressão com -
Os fluxos horizontais perto da superfície devem preende um número infmito de pequenas par-
ser compensados por movimentos verticais, celas de ar, cada uma girando no sentido ciclô-
conforme ilustrado na Figura 6.7, para que os nico ao redor de um eixo vertical à superfície da
sistemas de baixa ou alta pressão persistam e não Terra (Figura 6.8). A vorticidade tem três ele-
mentos - magnitude (definida como duas vezes
a velocidade angular, .Q) (ver Nota 3), direção
* N. de R.T.: No Hemisfério Sul, a convergênc ia costeira
ocorre com a linha de costa à esquerda do vento , e a diver-
(o eixo horizontal ou vertical ao redor do qual
gência, à direíta. a rotação ocorre) e o sentido de rotação. A ro-

Divergência
___ _. Convergência
------ -

Nível médio de
não divergência
(cerca de 600 mb}
---- --- ---------- --- -----
Ascensão Subsidência

Convergênc ia Divergência
Superf ície
Baixa pressão Alta pressão

Figura 6.7 Seção trans versa l dos pod rões de mov im ent o ver ti ca l assoc iados à d ive rgê nc ia e à convergên ci a
(de mosso ) no tr oposfera, ilustr a ndo o con tin uidade da massa.
CAPÍTULO 6 Mo vim entos atm osféri cos : prin cípios 1 51

Componen te da A1 A2
vo rticida de da
Terra em torno 15
• Vort icidade
do seu eix o (20 sen$)
q>= 90 ° .---- ,- --- 70 ant iciclôn ica

d iminui a O \ I
Vort icidade <o •
Equador Anticic lone Ciclone ciclônica 15
Ç< O Ç> O

81
Ffgura 6.8 Esbo ço do vor l icidod e ver tica l rela tiv o Vorticidade Vort icidade
(Ç) ao red or d e um ciclo ne e um anticic lon e no H em is- ciclônica anticiclônica
fé rio Nor te . A co m po nente da vo rtic idad e do Terra ao 20 --------------- 10---------------
redor d e seu eixo de ro ta ção (ou parômetr o de C o r io- 15 --------------- 15---------------
lis, f) é igu a l a o d obro da ve loc ida d e angu lar (O ) ve- 10 --------------- 20 ---------------
zes o seno da latitu d e (e!>). N o polo , f = 2.0., d im inui ndo
até O no equador . A vortic idad e ciclôn ico tem o mes-
mo sen ti do q u e a rot a ção da Terro em torno do seu
e D
próprio eixo, v ista d e cima, no Hem isfério N o rt e: essa ---------
,,, -........',. Vorticidade
vortic idode ciclônico é d efin ida como pos iti vo (s > O). 20 ,,,....
1O,
antic iclônica
..,.------~-
tação no mesmo sentido que a rotação da Ter- 1o "'
..,,,,.
Vorticidade ',.
......
.....
20 , .....
.__
-------
.......... forte

ra - ciclônica no Hemisfério Norte - é definida cic lônica forte --------


........ -.,,,,.,

como positiva. A vorticidade ciclônica pode re -


sultar da curvatura ciclônica das linhas de cor- E F
rente, do cisalhamento ciclônico (ventos mais
....,..,- ------ ---.......,. Indeterm inada
fortes no lado direi to da corrente, vistos a favor
do vento no hemisfério norte), ou de uma com -
10 ,,,.
---------
20 ,
-
---------_,;
..........
.,...,,,,- -,
1O,
20 ,,,. ',. .....
........
binação dos dois (Figura 6.9). O cisalhamento
lateral (ver Figura 6.9B) resulta de mudanças no
Indeterm inada --------
espaçamento entre as isóbaras. A vorticidade Figura 6.9 Modelos de linh as de corren te ilustrando
anticiclônica ocorre com a situação anticiclôni- uma visão em um pl ano dos pad rões de fluxo com vor-
ca correspondente. A componente da vorticida - ticidade ciclônica e ant iciclón ica no Hemisfé rio Norte.
Em C e D, os efeitos da curvatu ra (a. e a 2) e o cisalho-
de ao redor de um eixo vertical à superfície da
mento latera l (bi e b2) são ad itivos, ao posso que, em E
Terra é chamada de vorticidade vertical. Em ge- e F, eles mais ou menos se anulam. As linhos t racejadas
ral, é a mais importante, mas, perto da superfí- são isople ta s esquemótic os da velocidade do vento.
cie do solo, o cisalhamento friccional superfic ial Fonte : Riehl et o/. (1954).
causa vorticidade ao redor de um eixo paralelo
à superfíc ie e normal à direção do vento. C VENTOS LOCAIS
A vorticidade está relacionada não apenas
com o movimento do ar ao redor de um ciclone Para um observador do tempo, os controles lo-
ou anticiclone (vorticidaderelativa), mas tam - cais do movimento do ar representam mais pro-
bém com a localização do sistema na Terra em blemas do que os efeitos das principais forças
rotação . A componente vertical da vorticidade planetárias discutidas . As tendências diurnas
absolutaconsiste na vorticidade relativa (Ç) e no se sobrepõem aos padrões de grande e peque -
valor lati.tudinal do parâmetro de Coriolis, f = 2 na escala da velocidade do vento, sendo parti -
Q sen <I>(ver Capítulo 6A). No equador, a vertical cu larmente notáveis no caso de ventos locais .
local está em ângulo reto com o eixo da Terra, de Em condições normais, as velocidades do ven-
modo que f = O,mas , no Polo Norte, a vorticida - to tendem a ser menores perto do amanhecer,
de ciclônica relativa e a rotação da Terra atuam quando existe pouca mistura térmica vertical,
no mesmo sentido (ver Figura 6.8) e f =2.Q. e o ar mais baixo é menos afetado pela veloci -
152 Atm osfera, Tempo e Clim a

dade do ar acima (ver Capítulo 7A). Da mesma fluir da planície , subindo pelo eixo do vale . Esse
forma, as velocidades de certos ventos locais vento de vale (Figura 6.10) geralmente é suave
são maiores ao redor das 13- 14 horas , quando e exige um gradiente de pressão regional fraco
o ar está mais sujeito ao aquecimento terrestre para se formar . Esse escoamento ao longo do
e ao movimento vertical , desse modo possibi - vale principal ocorre de forma mais ou menos
litando um acoplamento com o movimento do simultânea com ventos anabáticos (encos ta aci-
ar superior (mais veloz ). O ar sempre se move ma ), que resultam do aquec imento maior dos
mais livremente longe da superfície, po is não lados do vale , comparado com o ar distante das
está sujeito aos efeitos retardantes do atrito e da vertentes aquecidas. Esses ventos de encosta ul -
obstrução. trapassam os cumes e alimentam uma corrente
A Tabela 6.2 traz uma síntese da classifica - de retorno mais alta ao longo da linha do vale,
ção de ventos locais , discutida a seguir . para compensar o vento de vale. Todavia, essa
carac t erística pode ser obscurecida pelo fluxo
1 Ventos de montanha e vale de ar regional. Suas velocidades alcançam o má -
As feições topográficas geram suas próprias ximo por volta das 14 horas.
condições me teorológicas especiais . Em dias A noite, existe um processo inverso, à me-
quentes e ensolarados , o ar aquecido em um dida que ar frio mais denso em elevações maio -
vale é lateralmente contraído, comparado com res escoa para depressões e vales; esse vento é
o de uma área equivalen te de planície, tenden- conhec ido como vento catabático. Se o ar escoa
do a se expandir verticalmente. A razão de vo- encosta abaixo para um vale, ocorre um "ven-
lume de ar planície /vale costuma ser de 2 ou to de montanha " mais ou menos simultâneo ao
3:1, e essa diferença em aquecimento cria um longo do eixo do vale, fluindo em direção à pla -
diferencial de densidade e pressão, que faz o ar nície , onde substitui o ar mais quente e menos

Tabe la 6 .2 Classificação de ventos locais

Nom e Ca racter ísticas Força nte

Anobótico Fluxo quente diurno, encosta acima Gradiente horizontal de densidade em


direção à encosta
Catabático Fluxo frio noturno, encosto abaixo Gravidade e gradiente horizon ta l de
dens idade afastando -se da encosta
Vento de montanha Fluxo frio noturno, vale abaixo Gradiente de dens idade do montanha poro
a planíc ie
Vento de vale Vento quente diurno, vale acima Gradiente de dens idade da p lan ície poro a
montanha
Vento antimontanha Ac ima do vento de montanha no Corrente de compensação
direção oposta
Vento ant iva le Ac ima do vento de vale na direção Corrente de compensação
oposto
Brisa mar i nha Fluxo diurno do mar paro a terra Gradiente de dens idade do mar fresco paro
o cont inente aquecido
Brisa terrestre Fluxo noturno da terra para o ma, Gradiente de dens idade do continente fresco
poro o mar ma is quente
Fohn (Chinook) Desce encosto o sotavento com Fluxo bloqueado no lado o bar lavento; ou
temperatura crescente e menor umidade fluxo cruzando montanhas com nuvens/
relativo precip itação na encosta o barlaven to
Boro Desce encosto o sotavento com ar mais Fluxo de ar frio bloqueado a montante
fr io do que o que substitu i
Vento de barreira Fluxo baixo paralelo às montanhas, em Bloque io reduz a velocidade do fluxo normal
direçõo aos polos à barreiro, d iminu indo o forço de Corio lis
CAPÍTULO 6 Mo vim entos atm osféri cos: prin cípios 1 53

_,_..----.
/ ...............
/
/
/ --- ........
'
'\
\
,..
\
111

{ (\/ Vento \/ )
div. d iv.
ant ivale \
\
' ' ----
____-
........
........ -......
/
/ /
/ Vent o
de crista
\
\
\
----
"' ---
_____
Nível de crista

_ ------
/ ,
Vent o de vale

I
_
/_
.,
...-


-- ......."-...
\
,_.J
I
- /

Planície Extremidade Vale Extremidade


dista l proximal
(A ) (B)

Figura 6.1 O Ventos de vale em um vale ideal em forma de V: (A) seção transversal do va le . O ven to de vale e
o vento an tivale são dir ecionados em ôngulos retos ao p la no d o papel. As setas mostram o ven to de encosta e
cr ista no pl a no do p a pel, este divergindo (div.) para o sistem a de vento a ntivale; (B) seção ao longo do cen tro do
vale e foro do pl a nície adjacen te, ilustrando o vento de vale (abaixo) e o ven to a ntivale (acim a).
Fonte: Buel1rtere Thyer (1965).

denso . A velocidade máxima ocorre logo antes 2 Brisas terrestres e marinhas


do nascer do Sol, no momento do resfriamen -
Outro regime de ventos induzido por condições
to diár io máximo .. Como com o vento de vale,
térmicas é representado pelas br isas terrestres e
também há uma corrente de retorno, nesse caso
marinhas (ver Figura 6.11). A expansão vertical
vale acima, sobre o vento de montanha.
da coluna de ar que ocorre durante o aqueci -
O escoamento catabático geralmente é
mento diurno sobre a terra, que esquen ta mais
citado como a causa de bolsões de geada em
rapidamente (ver Capítulo 38 .5), inclina as su -
áreas de colinas e montanhosas . Debate -se que
per fícies isobáricas perto da costa, causando
o maior resfriamento rad iativo sobre as en -
ventos em direção à terra na superfície e com -
costas, especialmente se estiverem cobertas de pensando o movimento superior em direção
neve, leva a um fluxo de gravidade de ar frio e ao mar . As diferenças de pressão típicas entre
denso para o fundo dos vales. Porém , observa- a terra e o mar são da ordem de 2 mb. À noi-
ções realizadas na Califórnia e em outros locais te, o ar sobre o mar é mais quente, inver tendo
sugerem que o ar dos vales permanece mais a situação , embora essa inversão também seja
frio do que o ar das encostas a partir do começo causada pelos ventos que sopram das encostas
do resfriamento noturno , de modo que o ar que mon tanhosas em direção ao mar. A Figura 6.12
desce encosta abaixo flui sobre o ar mais denso mostra que as brisas marinhas têm um efeito
no fundo do vale. Os ventos moderados de es- dec isivo sobre a temperatura e umidade nacos -
coamen to também atuam de modo a elevar as t a da Califórnia . O fluxo básico em direção ao
temperaturas dos vales por mistura turbulenta. mar é perturbado duran te o dia por uma brisa
É p rovável que os bolsões de ar frio no fundo marinha de oeste. In icialmen t e, a diferença de
de vales e depressões resu ltem da cessação da tempera tura entre o mar e as mon tanhas cos-
troca turbulenta de calor para a superfície em teiras da Califórnia cen t ral cria uma brisa ma -
locais protegidos, em vez do escoamento de ar rinha rasa, que, por volta do meio-dia, chega a
frio, que não costuma ocorrer. 300 m de espessura . No começo da tarde , uma
154 Atmosfera, Tempo e Clim a

(A) Cumulus f0<ma-se (B)


e migra em
Fluxo co ntrário
:-""•--,
direção ao mar
-- -
---..__
980 mb
---- --- ·
------ --- -- ......
i---:: ...
990mb _______ ----·
Lm:.oóO-
-- --------- ----
. ..-.ite'\nt~~-
~ J
_;\-,- - - - Ãr
----------------- -~
1000 mb

.....__. -- ~~ --,-- ..
"ôª
Ar marinho

,,..
d
e,aft'~
... -
~
- -
'
h~ -

Brisa marinha
_,,,
~~
"'
(li
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,cont inenta l
-- -}-\--

(C} (D}

-A' .
Fluxo contrár io
- •
--------
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980mb
~~-
..
____
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AI marinho ' - Brisa terrestre - - - -- ----

Figura 6.11 Brisas terrestre e m a rinhos diurnas . (A) e (B) circu laçóo e d istribuição da pressão em br isa mar inho
no começo do tarde duran te tempo antic iclô nico. (C) e (D) circulaçao e distribuição da pressoo em brisa terrestre
à noite durante tempo a nt iciclô nico .
Fo nt e : A e C po r O ke (1978}.

circulação mais espessa de escala regional entre são té rmica de baixo nível produz um "efeito
o oceano e os vales inte riores quentes gera um Venturi ", constringindo e acelerando o fluxo . As
escoamento de 1 km de espessura em direção à brisas ma rinhas mais rasas costumam ser fra-
costa, que persiste de duas a quatro ho ras após o cas, po r volta de 2 m s- 1 (7,2 km /h) . Os fluxos
pôr do Sol. A brisa rasa e a mais espessa têm ve- contrários em altitude geralmente são fracos e
1
locidades máximas de 6 m s- (21,6 km /h) .Uma podem se to rnar impe rceptíveis pela circula-
brisa terrestre noturna rasa ocor re por volta das ção regional, mas estudos realizados na costa
19 horas (hora local), mas é indistinguível em do Oregon sugerem que , sob certas condições,
relação ao escoamento causado pelo gradiente esse fluxo de retorno superior pode estar rela -
em direção ao mar . cionado com as condições das brisas marinhas
O ar marinho fresco que avança pode for- mais baixas , mesmo a ponto de espelhar seus
mar uma linha distinta (ou frente; ver Capítulo máximos de velocidade . Em latitudes médias, a
80) marcada pelo desenvolvimento de nuvens deflexão de Co riolis causa um desvio em uma
cumulus, atrás das quais observa-se um máxi - brisa marinha bem desenvolvida (no sentido
mo distinto na velocidade do vento. Isso cos- horário no Hemisfério Norte), de modo que
tuma ocor rer no verão, por exemplo, ao longo pode sopra r mais ou menos paralela à costa .
da Costa do Golfo no Texas . Em uma escala Sistemas análogos de "brisa de lago'' ocorrem
menor, essas feições são observadas na Grã - adjacentes a grandes corpos d'água interiores ,
-Bretanha , particularmente ao longo das costas como os Grandes Lagos e mesmo o Great Salt
sul e leste . A brisa marinha tem uma espessura Lake em Utah .
aproximada de 1 km, embora diminua perto da Circulações de pequena escala são geradas
extrem idade fronta l, podendo penetrar 50 km por diferenças locais em albedo e condutividade
ou mais na terra por volta das 21h . As veloci - térmica . As planícies de sal (playas)nos deser -
dades típicas do vento nessas brisas marinhas tos do oeste dos Estados Unidos e da Austrália,
são de 4-7 m s- 1(14-25 km/h), embora possam por exemplo, causam uma brisa que se afasta
aumentar bastante onde uma acentuada inver - da playa duran te o dia e um fluxo em direção
CAPÍTULO 6 Movimentos atmosféricos: prin cípios 1 55

360 < los, rumo à área de menor pressão no lado es-


-e
ê'
o
210
(A) o
~

12 ºo.·
querdo do fluxo*. Isso cria um ven to de barreira
em baixa altitude , que pode configurar um jato
(1) n>
> o. 1
o (t) de baixo nível (850 mb ) de 20 m s- (72 km / h) .
u 180 8 o.o
o Esses ventos são comuns a montante de Sierra
lffl <
o,
~ ...
(t)
::::J Nevada, Califórnia.
·-o 90 4 o
-~ O deslocamento ascendente sobre um obs -

7 9 11 13 15 17 19 21
o - t áculo desencadeia instabilidade se o ar estiver
condicionalmente instável e flutuan te (ver Ca-
15 pítulo SB), ao passo que o ar estável retorna ao
-o-
o
24 (B)
13 ~
:o
n>t
o
seu nível or iginal a sotave nto de uma barreira,
pois o efeito gravi tacional contrapõe o deslo -
e 20 o.
11 (t) camento inicial. Esse movimen to descendente
;?
e 3 normalmente forma a primeira de uma série de
Q)
o. 16
E
(1)
Q
9 e: -til
(/) .

ondas de sotavento (ou ondas estacionárias) ao


1- 7 ~ longo do fluxo, conforme a Figur a 6.13. A for-
12
-
7'
(O ma da onda permanece mais ou menos est acio-
5
7 9 11 13 15 17 19 21 nária em relação à barreira, com o ar movendo-
Horas -se rapidamente através dela. Abaixo da crista
das ondas, pode haver movime nt o circular de
f[gura 6.12 Efeitos de uma br isa marinho de oes te
sobre o cosia do Ca lifórnia em 22 de setembro d e
ar em um plano vertic al, den ominado rotor.
1987 em re lação à temperatura e umi dade . (A): di- A forma ção dessas feições é de in teresse para
reção do vento (DI R) e velocidade (SPD); (B): tempe- os pilo tos. A presença das ondas de sotavento
rat ura do ar (T) e razão d e misturo d o umi d ad e (Q) costum a ser marcada p elo desenvolvimento de
em um mastro de 27 m perto de Cos fr oville, Mo nterey nuvens lenticulares e, ocasionalmente, um rotor
Bay, Cal ifó rnia. O fluxo de gradien te observado pela
causa inversão da direção do vento super ficial a
man hõ e à noite era de leste.
sotavento de mon t anhas elevadas.
Fonte : Benta (1995, p. 3621, Fig. 8).
Os ven tos nos cumes de montanhas costu -
à playa à noite, devido ao aquecimento diferen- mam ser fortes, pelo menos nas latitude s méd ias
cial. A planície de sal tem um albedo elevado, e altas. As velocidades médias n os cumes das
e o substrato úmido resulta em uma elevada mont anh as rocho sas no Colorado, nos meses de
condutividade térmica em relação ao terreno inverno, giram em torno de 12-15 m s- 1(43- 54
arenoso do entorno. Os fluxos têm aproxima - km/ h) , por exemplo, e n o Mon te Washington ,
damen te 100 m de espessura à noite e até 250 m em New Hampshire , já foi registrado o valor
durante o dia . e.xtremo de 103 m s- 1(370 km /h ). Picos deve -
locidade acima de 40-50 m s- 1 (144- 180 km /h)
3 Ventos causados por barreiras são típicos dessas áreas no inverno. O fluxo de
topográficas ar sobre uma cadeia montanhosa faz o ar abaixo
da tropopausa comprimir e, assim, acelerar , par-
As cadeias mon t anhosas têm uma grande in- ticularmente sobre e perto da linha de crista ( o
fluência sobre os fluxos de ar que as cruzam. efeito Venturi ), mas o atrito com o solo também
No lado das montanhas que fica fora da ação retarda o fluxo, em comparação com o ar livre
do vento , pode haver bloqueio do fluxo, quando no mesmo nível O resultado líquido é predomi -
este fica estável e não consegue cruzar a barrei- nantemente de retardo, mas depende da topo -
ra. A medida que o fluxo se aproxima da barre i- grafia, da direçã o do vento e da estabilidade.
ra, ele desacelera, reduzindo a força de Coriolis.
O desequilíbr io com a força do gradiente de
pressão então faz o ar virar em direção aos po- * N. de R.T.: No Hemisfério Sul, a área de menor pressão
está à direita do fluxo.
156 Atmosfera, Tempo e Clim a

Veloc idade do vento (m/ s)


10 20 30 40
t> Corrente descende nte
9
..... Corrente ascendente

8 - ..
7 -D>._ -l - • --- ~

-
t
6 Baixa
estabilidade "-b..._, ---
Altocumu lus

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5
lenticula ris

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-
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4

3 Estável
p~t;
2 €b'eOI
-~' e '<1.;r,
Comprimento
1 Instável de onda

04---~- ~ - ---J.
-~-- ~---- ...:::....--------------------'
o 20
- 40 -30 - 20 - 1O O 10
Te mpera t ura (ºC) km

Figura 6.13 As on d as de sotavento e os ro tores são produzJ d os por flu xos de ar a través de uma longa cadeia
mon ta nhosa. A prime iro c rista d e ondas geralmen te se forma o menos de um comprimento de on da após o
cadeia. Um for te vento superficia l desce a encosta a sotaven to. As car a cterís ticas do onda são d eterm inado s
pelas relaçõ es en tr e a ve locidade do vento e a te m pera tu ra, mos tr ad a s de forma esq ue mótica à esquerdo do
diagram a . A existênc ia d e um a cam ada e stóv e l superior é particularmente im p ortant e .
Fonte: Ernst (1976) .

Sobre colinas baixas, a camada lim ite se ar estável é forçado a fluir através da barreira
desloca para cima , com aceleração logo aci- pelo gradiente regional de pressão; o ar que
ma do topo. A Figura 6.14 mostra condições desce a sotavento aquece adiaba t icamente.
instantâneas de fluxos de ar através da colina As vezes , ocorre perda de umidade por pre -
Askervein (relevo aprox . 120 m) na ilha escoce- cipitação a barlavento das montanhas (Fi-
sa de South Uist do arquipélago das ilhas Hebri - gura 6.15 ). O ar, t endo resfriado conforme o
des, onde a velocidade do vento a uma altura de gradiente adiabático saturado acima do nível
10 m acima da crista chega a 80% mais do que a de condensação , aquece subsequentemente à
velocidade do vento mais adiante, onde está li- taxa do gradiente adiabático seco, que é maior,
vre da pertu rbação . Em contrapartida, observa- à medida que desce no lado a sotavento . Isso
-se uma redução de 20 % na subida inicial pela também reduz a umidade relativa (pe lo aque -
colina e uma redução de 40% a sot avent o, pro- cimento adiabá tico a sotaven t o) e absoluta
vavelmente por divergência horizontal . O co- (pela precipitação ocorrida a barlavento). Ou -
nhecimento desses fatores locais é crucial para tras pesquisas mostram que, mui tas vezes, não
a implementação de sistemas fixos de captação existe perda de umidade sobre as montanhas.
de energia eólica . Nesses casos, o efeito fohn resulta do bloqueio
Um vento de importância loca l perto da do ar a bar lavento das montanhas por uma in-
montanha é o fohn, ou chinook, u m vento seco, versão da tempera tura no n ível da crista . Isso
quen te, forte e com rajadas, que ocorre a so- força o ar de n íveis mais altos a descer e aque-
tavento de uma cadeia montanhosa quando o cer adiabaticamente. Os ventos fohn de sul são
CAPÍTULO 6 Movimentos atmosféricos: prin cípios 157

(A) Veloc idade do vento


o 4 8 12 16 20 ms- 1
1 1 1 1 1 1
Veloc idade do vento
500 --- ------
O 4 8 12 16 ms- 1

500
200
I
I
200 50
I
10
50 4 ,, "
0,5 .,,.
10
4
05 2
'
800 600 400 200 o 200 400 600 800
Distânc ia da crista (m)
Barlavento Sotave nto
100
(B)
80
60
40 ~
:::,
:T
20 Q)
e.
o (1)
o~-
- 20 -(/l
Q)

-40
-60
80 0 600 400 200 o 200 40 0 600
Distânc ia da crista (m)
ªºº'
Barlavento Sotavento

Figura 6.14 Fluxo de or sobre o coli na Askerve in, South Ulst, afas tado do costa oeste escocesa . (A) perf is do
fluxo de ar ver tica l (fora de escalo ) med idos sim ultaneamente 800 ma barlave nt o d o crista e sobre o cr ista . L
é o compr imento coracter fstico d o obstr ução (ou seja, a metade da la rgura da colina no elev ação médio, aqui
500 m) e também é o a ltura ac ima d o níve l do solo em que o fluxo a umen ta dev ido à obstrução topogró fica
(sombreado ). A acele ração máxima do fl uxo de ar decorrente da convergênc ia ver tical sobre a cr ista é de apro-
1
ximadamente 16,5 m s- à altura de 4 m. (BJ ace leração rela tiva (%) d o fluxo de ar a bar lavento e sotaven to do
cr ista, medido 14 m acima do solo.
Fonte : Toylor, Teunissen ond So lmo n et o i. De Troen ond Petersen (1989 ).

comuns ao longo dos flancos seten trionais dos mento, as temperaturas podem chegar a mais
Alpes e das montanhas do Cáucaso e da Ásia de 2lºC durante umfohn . Do mesmo modo,
Centra l no inverno e na primavera, quando o o chinook é uma caracterís tica significativa do
rápido aumento na temperatura que os acom - sopé orien tal dos Alpes da Nova Zelândia, dos
panha pode ajudar a desencadear avalanches Andes na Argentina (Zonda ) e das Montanhas
nas encostas cobertas de neve . Em Tashkent, Rochosas. Em Pincher Creek, Alberta, obser -
na Ásia central , onde a temperatura média do vou -se um aumento de 21 ºC na temperatura
inverno gira em torno do ponto de congela - em quatro minutos, com o estabelecimento de
158 Atm osfera, Tempo e Clim a

4 - 10°

o~
3
e
U)

+'
Q)
E 10°
~ 2
U)

;.e
-~ 1 Nível de condensação
20°

º....._
____GAS
......__,
____ ......_
___ _
Ta Tb

Figura 6.15 O ef eito fohn,qu a ndo uma parcel a de ar é forçad a a at ra vessar uma cadeia montanhos a de 3 km
de a ltura; T0 refere-se à temp erat ura no sopé a b a rlavento da cadeia, e Tb' à do sopé a sotave nt o.

um chinook em 6 de janeiro de 1966. Na Ca - através de uma cadeia de montanhas e, apesar


lifórnia, o Santa Ana é um vento de leste co- do aquecimen to adiabático, deslocam o ar mais
mum na est ação fria, que sopra dos desertos a quente; portan to, são um fenômeno pr incipal -
leste de Sierra Nevada até a costa da Califórnia mente de inverno .
meridional. Ele tem uma frequência média de No lado leste das Montanhas Rochosas no
20 eventos por ano e duração média de 1,5 dia, Colorado (e em áreas continentais semelhan -
e é notável pelo ar seco, que aumen ta em mui - tes ), podem ocorrer ventos do t ipo bora ou
to o risco de incêndios nos chaparrais. Tam - chinook, depende n do das características ini-
bém são observados efeitos menos espetacu - ciais do fluxo de ar. Em âmbito local, no sopé
lares a sotavento das montanhas no País de das mon t anhas, esses ventos atingem força de
Gales, dos montes Peninos e das Grampians furacão , com rajadas excedendo 45 m s- 1 (162
na Grã -Bretanha, onde a importância dos km /h ). Tempestades desse tipo causaram pre -
ventos John está principalmente na dispersão juízos de milhões de dólares em propriedades
de nuvens pelo ar seco descendente. Esse é um em Boulder, Colorado, e nas proximidades. Es-
componen te fundamental dos chamados efei- sas tempes tades de ven to ocorrem quando uma
tos de ªsombra da chuva'~ camada estável pr óxima da crista das monta-
Em certas partes do mundo, os ventos que nhas impede que o ar a barlavento as cruze . A
descem a sotavento de uma cadeia de monta - amplificação extrema de uma onda de sotaven -
nhas são mais frios do que o ar que deslocam to (ver Figura 6. 13) arrasta ar de cima do nível
(apesar do aquecimento adiabático na descida ). da crista (4000 m) até as planícies ( 1700 m ) a
O exemplo típico desses ª ventos catabáticos " é uma cur ta distânci a, gerando velocidades alta s.
o bora do Adriático Setentrional , onde fluxos Todavia, o fluxo não é simplesmente "encosta
frios de nordeste atravessam os Alpes Dinári - abaixo"; os ventos podem afetar as encostas das
cos, embora ventos semelhantes ocorram sobre montanh as, mas não o sopé, ou vice-versa, de -
a costa setentrional do mar Negro , na Escan - pendendo da localização da calha da onda de
dinávia, em Novaya Zemlya e no Japão. Esses sotavento. Ventos fortes são causados pela ace-
ventos ocorrem quando massas de ar frio con - leração horizontal do ar rumo a essa mínima de
tinental são forçadas pelo gradiente de pressão pressão local.
CAPÍTULO 6 Movimentos atmosfé ricos: prin cípios 159

O movimento do ar é descrito por suas componentes ho rizontais e vert ica is; estas são muito menores
do que as veloc idades horizontais. Os movimentos hor izonta is compensam os deseq uilí br ios verticais
entre a aceleração gravitac ional e o grad iente de pressão vertical.
O grad iente de pressão horizontal, o efeito rotac ional do Terra (força de Co riol is) e a curvatura
das isóbaras (acele ração centrípeta ) dete rminam o veloc idade hor izontal do vento . Esses três fatores
são cons iderados na equação do vento grad iente, mas isso pode ser aprox imado no fluxo de grande
escalo pelo relação do vento geost róf ico. Ab aixo de 1500 m, a veloc idade e direção do vento são
afetadas pelo atr ito superf icial.
O ar sobe (desce) em associação com a convergênc ia (divergência) superfic ial de ar. O mov imen-
to do ar também estó sujeito à vo rtic idade vert ical relativa , como resultado da curvatura de :linhas de
corrente e/ ou cisalhamento lateral ; isso, junto com o efe ito rotac iona l da Terra, forma a vort icidade
vert ical absoluto .
Os ventos loca is oco rrem como resultado de dife renças térmicas de variação diu rna que formam
gradientes locais de pressão (ventos entre montanha e vale e brisas entre ter ra e mo r) ou do efeito de uma
ba rreiro topogróf ico sobre o fluxo de ar que a atravessa (exemplos são os ventos boro e fõhn de sotavento).

• Compare a d ireção e velocidade do vento obtidas em uma estação próx im a com a velocidade do
vento geost rófico determinada a pa rtir do mapa de pressão no nível do mar poro a mesma hora
(fontes de dados são listadas no Apêndice 4).
• Por que não haver ia "tempo" se os ventos fossem estri tamente geostróficos?
• Quais são os causas da divergência (convergência) de massa e que papéis elas desempenham nos
processos meteo rológicos?
• Em que situações os condições locais do vento diferem notavelmen te das esperados paro um deter-
minado grad iente de pressão de grande escala?

REFERÊNCIASE SUGESTÃO DE Artigos científicos


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ov1mentos
em
esca a anetária
na atmos era e
no oceano

OBJETIVOSDE APRENDIZAGEM
Depois de ler este capítulo, você:
• aprender6 como e por que os padrões de pressão e velocidade dos ventos mudam com a altitude;
• estar6 familiarizado com as relações entre os padrões de pressão superficiais e mesofroposféricos;
• conhecer6 as características dos principais cinturões de ventos globa is;
• estaró familiarizado com os conce itos b6sicos da circulação geral da atmosfera;
• entenderó a estrutura bósica dos oceanos, sua circulação e papel no clima; e
• conhecer6 a natureza e o papel da circulação termohalina.

Neste capítulo, analisamos os movimentos at- meses. Iniciaremos analisando as relações entre
mosféricos de escala global e seu papel na re- os padrões de vento e pressão na troposfera e na
distribuição de energia, momento e umidade . superfície .
Conforme observamos no Capítulo 3 (p. 72),
existem relações entre a atmosfera e os oceanos)
A VARIAÇÃO DA PRESSÃO E
com estes prestando a principal contribuição
VELOCIDADE DO VENTO
para o transporte de energia em direção aos
COM A ALTITUDE
polos (ainda que menor do que o componente
atmosférico) . Assim, também discutimos a cir- As características da pressão e do vento mudam
culaçã .o oceânica e o acoplamento do sistema com a altitude . Acima do nível dos efeitos fric-
oceano-atmosfera . cionais superficiais (por volta de 500-1000 m),
A atmosfera atua como uma máquina o vento aumenta de velocidade e, exceto perto
térmica gigante, onde a diferença de tempera- do equador, onde a força de Coriolis é muito
tura entre os polos e o equador, causada pelo pequena, torna-se mais ou menos geostrófi.co,
aquecimento solar diferencial, impulsiona a ou seja, representando um equilíbrio entre o
circulação atmosférica e oceânica planetária . A gradiente de pressão e a força de Coriolis. Em
conversão de energia térmica em energia ciné- latitudes médias e mais altas, os gradientes de
tica para produzir movimento deve envolver ar temperatura meridionais que estruturam gra-
ascendente e descendente, mas os movimentos dientes de pressão promovem um aumento na
verticais costumam ser menos óbvios do que os velocidade do vento com a altitude, em certas
horizontais, que podem cobrir grandes áreas e áreas concentradas como faixas estreitas de ar
persistir por períodos de alguns dias a vários com alta velocidade, denominadas correntesde
162 Atmos fera, Tempo e Clima

jato. Existem variações sazonais na velocidade (B)


do vento em altitude, sendo os ventos muito
B ~ B __,
fortes no Hemisfério Norte durante os meses de 4

inverno, quando os gradientes de temperatura


meridionais atingem o máximo. Essa variação 2r--- --
~ = ~ª:=::::::
::J .........
-----
sazonal é menos acentuada no hemisfério sul.
Além disso, a persistência maior desses gra - -u
Ê
.::i:. o.L
a, Quente Frio Quente Quente
A
Frio Quente

.a (C) (D)
dientes tende a fazer os ventos superiores do ·- 6
Hemisfério Sul serem mais constantes em sua ~
4-
i.--- A -- A

direção. O Quadr o 7 .1 apresenta um histórico


das observações do ar em níveis elevados. 2-
...... B - A
1 Variação vertical de sistemas de o
-
pressao
Frio Quente Frio Frio Quente Frio

Figura 7.1 M o d elos da d istribuição ver t ic a l d a


A pressão do ar na superfície, ou a qualquer press o o em colunas de ar fr io e quente: (A) a ba ixa
nível da atmosfera, depende do peso da coluna pressão super fi ci a l intens ifica ma is acima em uma co-
de ar sobrejacente. No Capítulo 2B, observamos lun a de a r frio; (B) a pressão supe rfi cia l elevada enf ro-
que a pressão do ar é proporcional à sua densi- quece e m níve is mais e leva dos e po d e se tornar ba ixa
dade, e que a densidade varia inversamente com pressão em uma co luna de ar fr io; (C) a baixo pressão
supe rficial enfraq uece ma is acima e pode se tornar
a temperatura do ar. Desse modo, elevar a tem -
al ta pressão em uma co luna de ar quen te; (D) um a
peratura de uma coluna de ar entre a superfície a lt a p ressão na superfície inten sif ico-se em a lt itu d e
e, digamos, 3 km reduzirá a densidade do ar na em uma co luna de ar quen te.
coluna e, portanto, diminuirá a pressão do ar na
superfície aumentando a pressão naquela alti - raramente estendem sua influência acima de
tude . De maneira correspondente, se comparar - aproximadamente 2500 m. Já uma alta em su-
mos as alturas de superfícies de pressão de 1000 perfície com núcleo quente (um anticiclone
e 700mb, o aquecimento da coluna de ar redu- quente) se intensifica com a altitude (Figura
zirá a altura da superfície de 1000 mb, e aumen - 7. lD ). Isso é característico das grandes células
tará a altitude da superfície de 700 mb (isto é, subtropicais, que mantêm seu calor por meio da
a espessura da camada 1000-700 mb aumenta). subsidência dinâmica. A baixa quente (Figura
Os modelos da Figura 7.1 ilustram as rela - 7.l C) e a alta fria (Figura 7.l B) são condizen -
ções entre as condições de pressão superficiais e tes com os esquemas de movimento vertical
troposféricas. Uma célula de baixa pressão com ilustrados na Figura 6.7, ao passo que os outros
núcleo frio ao nível do mar se intensifica com dois tipos sã.o produzidos por processos dinâ -
a elevação (Figura 7.lA ), ao passo que uma cé- micos. A alta pressão superficial em um antici -
lula com núcleo quente tende a enfraquecer e clone quente está ligada, de forma hidrostá tica,
pode ser substituída por alta pressão. Uma co- ao ar frio e relativamente denso da estratosfe -
luna de ar quente de densidade relativamente ra inferior. Do mesmo modo , a depressão fria
baixa faz as superfícies de pressão se abaularem (Figura 7.lA ) está associada a uma estratosfera
para cima e, da mesma forma , uma coluna de inferior quente.
ar frio mais denso leva à contração das super- As células de baixa pressão nas latitudes
fícies de pressão para baixo . Assim, uma célula médias têm ar frio na porção posterior e, assim,
superficial de alta pressão com núcleo frio (um o eixo de baixa pressão se inclina com a altitude
anticiclonefrio), como o anticic lone de inverno em direção ao ar mais frio para noroeste (He -
siberiano , enfraquece com o aumento da eleva- misfério Norte). As células de alta pressão se
ção e é substituída por baixa pressão mais acima inclinam em direção ao ar mais quente (Figura
(Figura 7.lB ). Os anticiclones frios são rasos e 7.2). Assim, as células de alta pressão subtropi -
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6ria na atmosfera e no oceano 163

7.1 Histórico de medições do ar em


n ívels superiores
Durante o século XIX, alguns voos de balões tripulados tentaram medir a temperatura do ar em
nfveis superiores, mas o equipamento era inadequado para esse prop6sito. As medições com
pipas eram comuns na década de 1890. Durante e após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918),
medições das temperaturas e dos ventos eram feitas com balões, pipas e aviões nos primeiros
quilômetros da atmosfera. Os precursores da radiossonda moderno, compreendendo um pacote
de sensores de pressão, temperatura e umidade suspensos embaixo de um balão de hidrogênio e
transmitindo sinais de r6dio das medições durante a sua subida, foram desenvolvidos na França,
na Alemanha e na União Soviética e usados em 1929-1930. As sondagens começaram a ser feitas
aproximadamente a 3-4 km na Europa e América do Norte, na década de 1930, e o radiossonda
foi muito utilizada durante e após a Segunda Guerra Mundial. Ela foi aperfeiçoada no final da
década de 1940, quando o acompanhamento do balão com o rodar possibi litou calcular a veloci-
dade e direção do vento nos níveis superiores; o sistema foi denominado sondo eólico por rodar,
(radar wind sonde ou rawinsonde). Atualmente, existem em torno de 1000 estações de sondagem
em altitude do ar oo redor do mundo, fazendo sondagens uma ou duas vezes por dia às 00 e 12
horas UTC e, às vezes, com uma frequência ainda maior . Além desses sistemas, programas de
pesquisa meteorológico e voos de reconhecimento operacional atravessando ciclones tropicais ou
extratropicois costumam usar sondas que são lançados do avião e fazem um perfil da atmosfera
abaixo dele.
Os satélites começaram a proporcionar uma nova fonte de dados sobre o ar em níveis supe-
riores no começo da década de 1970, com o uso de sondagens verticais da atmosfera. Essas son-
das são especialmente valiosas por proporcionarem
, dados de óreas onde a cobertura por radar é
esparsa, como a Ant6rtica, o Oceano Artico e grandes 6reos oceânicas globais. Elas operam nos
comprimentos de onda infravermelho e micro-onda e fornecem informações sobre o temperatura
e o teor de umidade de diferentes camadas da atmosfera, com base no princípio de que a energia
emitida por uma determinado camada atmosférica é proporcional à suo temperatura (ver Figura
3 . 1) e também é função de seu teor de umidade. Os dados são obtidos por meio de uma técnica
complexo de "inversão", pelo qual os relações de transferência radiativa (p. 41) são invertidos de
modo o calcular o temperatura (umidade) dos radiõncias medidas. Os sensores de infravermelho
operam apenas em condições livres de nuvens, ao passo que as sondas de micro-ondas fazem re-
gistros na presença de nuvens . Nenhum dos dois sistemas consegue medir temperaturas em níveis
baixos na presença de uma inversão térmica baixo, pois o método pressupõe que as temperaturas
sejam função exclusiva da altitude.
O sensoriamento remoto no solo é mais um meio de perfilar a atmosfera. Informações deta-
lhadas sobre a velocidade do vento são obtidas com sistemas de radar potentes apontados para
cima (varredura e detecção}, paro comprimentos de onda entre 10 cm (UHF) e 10 m (VHF). Esses
perfiladores detectam movimento no ar limpo por meio de medições dos variações na refrativ i-
dade atmosférico, que dependem da temperatura e umidade atmosféricos. Os rodares podem
medir ventos até níveis estratosféricos, dependendo do seu alcance, com uma resolução vertical
de metros. Esses sistemas estão em uso no Pacífico equatorial e na América do Norte. Informações
sobre a estrutura geral da camada lim ite e turbulência em níveis baixos podem ser obtidos com
os sistemas lidar (fight detection ond ronging) e sodar (sound detection ond ranging), mas eles têm
uma faixa vertical de cobertura de apenas alguns quilômetros .
164 Atm osfera, Tempo e Clima

(B)
Baixa
,,,..- ,., f'
~ ' na
1------:-/- ,,,....
..., ~ -.J
l , A 1
....
. ....
.J' ---.....__
\
...

-
•'
- ..

~- ····
·· "'
....

Alta Alta
quente uente 180°
- - - - lsóbaras de -- Contornos de
superfície 500 mb

Figura 7.2 A inclin a ção caract e rístico d os ei xos de


cé lulas de ba ixo e al ta pressão com a a ltitude no he-
misfério norte .

cais do Hemisfério Norte desviam 10- 15º em


latitude em direção ao sul a 3 km para o oeste.
Mesmo assim , essa inclinação dos eixos de alta
pressão não é constante ao longo do tempo .

2 Padrões médios do ar em níveis


superiores
Os padrões de pressão e vento na troposfera 180º <q o•
média são menos complicados em sua aparên -
cia do que na supe rfície , como resultado dos
efeitos reduzidos das massas con tinen t ais. Em
vez de usar mapas de pressão em uma determi -
nada altitude, é mais convenien te representar a
altitude de uma superfície de pressão selecio -
nada; chamamos isso de carta de contorno, por 90"W
analogia com um mapa de relevo topog ráfico
(ver Nota 1). As Figuras 7.3 e 7.4 mostram que, Figura 7.3 Contornos médios (gpm) da superfície de
na troposfera média do Hemisfério Sul, existe pressão de 500 mb em julho para os hemisférios no rte
(verão) e sul (inverno), respectivamen te, 1970-19 9 9.
um vasto vórtice ciclônico circumpolar aci ~
Gpm = metr os geopotenciois.
ma da latitude 30ºS no verão e no inverno. O
Fon!e: NCEP/NCAR Reonolysis Doto de NOAA-CIRES c_li
mo-
vórtice é mais ou menos simétrico ao redor do le Oiognostics Ce nler.
polo, embora o centro de baixa se aproxime do
setor do Mar de Ross . Cartas correspondentes
por que os ventos de oeste hemisféricas apre-
para o Hemisfério Norte também mostram um
sentam essas ondas de grande escala . A chave
grande vórtice ciclônico, mas que é bem mais
para esse problema está na rotação da Terra e na
assimétrico, especialmente no inverno, quando
variação latitudinal do parâmetro de Coriolis
os cent ros são encon trados sobre o Canadá e Si-
(Capítulo 6A.2). Para o movimento de grande
béria orientais. O padrão de verão mostra um
escala , a vorticidade absolu ta ao redor de um
vórtice mu ito mais fraco, cen trado sobre o polo .
eixo vertical (a soma da vorticidade rel ativa
Os principais cavados e cristas, bem ilust rados
e planetá ria, ou f + Ç) tende a ser conse rvada
para o inverno no Hemisfério Norte, formam as
aproximadamente, ou seja,
chamadas ondas longas(ou ondas de Rossby) no
escoamento superior . É importante considerar d (f + ~)ldt = o
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6r ia na atmosfera e no oceano 165

o
90ºE

f aumentando

Curvatura
Curvatura
anticiclônica
Í =O ciclônica

180° Ç aum enta

Figu ra 7.5 Ilustração esquemó tica do mecanismo


de desenvolvimento de o ndas longas nos ve ntos de
90°W
oeste t roposfér icos.
90ºE

te a corrente em direção ao polo. Desse mod .o,


o fluxo de grande escala tende a oscilar em um
padrão de onda.
Enquanto a conservação da vorticidade ab-
soluta ajuda a explicar por que as ondas de Ros-
sby existem, outra consideração importante é o
180º ~ o~
movimento, ou a propagação, da própria forma
J da onda. As ondas de Rossby, como suas primas
de menor comprimento de onda associadas a
ciclones e anticiclones transitórios (ver Capí-
tulo 9), podem , com simplificações adequadas,
ser vistas como perturbações envolvidas em
uma corrente zonal. O efeito da corrente zonal
90°W é propagar a onda no sentido leste em relação à
superfície. Em outras palavras, a corrente zonal
Figura 7.4 Co ntornos médios (gpmJ da superf ície de
pressão de SOO mb em janeiro para os hemisférios nor-
carrega a onda junto com ela. Todavia , existe
te (inverno) e sul (verão), respectivamente, 1970- 1999. um efeito contrário. O aumento latitudinal no
Fonte : NCEP/ NCAR Reo no lysis de NOAA -C IRES C lim ote
parâmetro de Coriolis ( conhecido como plano
Oiog nost ics Ce nter. beta), associado ao conce ito de conservação da
vorticidade absoluta, age de maneira a propagar
a onda no sentido oeste em relação à superficie.
O símbolo d/ dt denota a taxa de mudança
A importância relativa desses dois efeitos deter-
seguindo o movimento (um diferencial total).
mina se, em relação à superfície, a onda perma-
Consequentemente, se uma parcela de ar se nece estacionária (os dois efeitos se anulam),
move em direção ao polo, de modo que f au-
migra para leste ( o fluxo zonal predomina) ou
mente, a vorticidade ciclônica relativa tende a
migra para oeste (o efeito do plano beta vence).
diminuir. A curvatura então se torna anticiclô -
A relação formal, baseada na premissa de que
nica, e a corrente retorna para latitudes mais
a vorticidade absoluta é conservada seguindo o
baixas. Se o ar se move em direção ao equador
movimento, é:
a partir de sua latitude original, f tende a dimi-
nuir (Figura 7.5), exigindo que Çaumente, e a
L 2
e= U- ~
curvatura ciclônica resultante desvia novamen - 2n
166 Atmos fera, Tempo e Clima

onde e é a velocidade de fase (ou propagação) pela influência combinada da circulação su -


da onda em relação à superfície, Ué a corren- perior causada por grandes barreiras orográfi-
te zonal, ~ = df!dy é o efeito do plano beta, e cas, como as Montanhas Rochosas e o Planalto
L é o comprimento de onda (a distância entre Tibetano , e fontes de calor, como as correntes
cavados ou cristas sucessivas que def mem a oceânicas quentes (no inverno) ou as massas
onda). Imediatamente claro é o papel crucial con t inentais (no verão) . Observa -se que as su -
do comprimento de onda. Para uma determi- perfícies continentais ocupam mais de 50%
nada corrente zonal e valor do plano beta, um do Hemisfério Norte entre as latitudes de 40°
comprimento de onda maior (menor) leva a e 70ºN . O cinturão de alta pressão subtropical
uma velocidade de fase menor (maior) em re - tem apenas uma célula claramente distinta em
lação à superfície. Também deve ficar claro que, janeiro sobre o Caribe oriental, ao passo que,
se o comprimento de onda for suficientemente em julho, ocorrem células bem desenvolvidas
longo para a corrente zonal em questão, a onda sobre o Atlântico Norte e o Pacífico N arte .
de Rossby pode permanecer estacionária ( c Além disso, o mapa de julho mostra a proemi-
= O) ou mesmo se mover no sentido oeste em nência da alta subtropical sobre o Saara e o sul
relação à superfície (c < O). Do mesmo modo, da América do Norte. O Hemisfério Norte apre-
para duas ondas de igual comprimento e valor senta uma intensificação acentuada do verão
do plano beta, aquela associada ao maior vento para o inverno na circulação média , explicada
zonal de fundo se propagará mais rapidamen- •
a seguir.
te . A observação geral é que ondas de Rossby Conforme mencionado, o padrão de fluxo
longas tendem a ser semiestacionárias ou a é muito mais simétr ico no Hemisfér io Sul, o
mover -s e lentamente para leste, embora sejam que condiz com o fato de que os oceanos com-
observadas ondas no sent ido oeste em relação põem 81 % da superfície . Entretanto, as assime-
à superfície. Ondas mais curtas (muitas vezes trias são causa .das pelos efeitos sobre a atmos-
chamadas simplesmente de ondas curtas ) ten- fera de feições como os Andes, o domo elevado
dem a se mover pa ra leste. É instrutivo calcular da Antártica oriental e as correntes oceânicas,
o comprimento da onda estacionária, onde c = particularmente as de Humboldt e Benguela
Oe L = 2 n / (U/ ~).Nalatitudede45º,essecom- (ver Figura 7.3 1), bem como as ressurgências
primen to da onda estacionária é de 3120 km coste iras frias associadas.
1
para uma velocidade zonal de 4 m s- , aumen-
1
tando para 5400 km com 12 m s- • Os compri- 3 Condições dos ventos de
mentos de onda na latitude 60º para correntes
altitude
zonais de 4 e 12 m s- i são, respectivamente, de
3170 e 6430 km . O padrão de ondas em uma Imagine dois conjun tos de pratos, sendo um
carta de contorno de superfícies isobáricas da tipo mais espesso do que o outro. Os pratos es-
troposfe ra média pode ser um tanto complexo , pessos e os pratos fmos se encontram em pilhas
com as ondas mais curtas tendendo a estar inse - separadas. A medida que adicionamos mais
ridas dentro das ondas longas . Um conce ito im - pratos a cada pilha, a altura da. pilha de pratos
portante é que as ondas mais curtas ( associadas espessos se torna cada vez maior do que a altura
a ciclones e anticiclones transitórios) tendem da pilha de pratos finos . De maneira semelhan-
a migrar juntas e ser direcionadas pelas ondas te, como a espessura entre os níveis de pressão é
longas semiestacionárias. Portanto, conhecer o maior em latitudes meno res do que em latitudes
padrão das ondas longas fornece informações maiores (lembre, da seção A. l e da Figura 7 .1,
sobre o caminho das ondas curtas. que a espessura é proporcional à temperatura
Voltando às Figu r as 7.3 e 7.4, acredita-se média da camada), a diferença em altitude de
que os dois principais cavados no Hemisfério uma determinada superfície de pressão en-
Norte, a aproximadamente 70ºW e lSOºE, com tre latitudes altas e baixas aumenta para cima .
maior expressão no inverno , sejam induzidos Isso significa que o vento geostrófico também
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6ria na atmosfera e no oceano 167

PCMDI
1Ode abril de 2001

Altura geopotencial a 500 mb


(A) DJF:ERA JJA: ERA

) .

4700 4900 5100 5300 5500 5700 5900

(B) DJF: ncar-98a JJA: ncar-98a

4700 4900 5100 5300 5500 5700 5900


(C) DJF: ncar-98a - ERA JJA: ncar-98a - ERA

• # •

Pranc:ha 7.1 Alturas geopo tenciais de 500mb para o inverno (DJ F) e ve rão (JJA) no Hemis fé ri o Norte: (A)
reanól ise de observações do ECMWF ; (B) simu lações do NCAR CCM3; e (CJ diferença entre o CCM3 e as
observações.
Fonte : AMIP webs ite .
168 Atm osfera, Tempo e Clim a

aumenta com a altitude; ou seja, existe um ci- espessura de 1000 a 500 mb. Ao contrário do
salhamento vertical no vento . Os ventos zonais caso simples apresentado no parágrafo ante -
são mais fortes onde e quando o gradiente de rior, o vento geostrófico nos dois níveis sopra
temperatura meridional está no máximo . Esse em direções diferentes , para a direção superior
efeito das diferentes espessuras de pressão ex- direita a 1000 mb, e da esquerda para a direita
plica o aumento na velocidade dos ventos de a 500 hPa . Os contornos de altitude a 500 mb
oeste nas latitudes médias com a altitude . No também fazem intersecção com os contornos
caso simples de a espessura diminuir uniforme - da espessura de 1000 a 500 mb. O vetor vento
mente com a latitude em todos os níveis, o cisa- teórico (V T) que sopra paralelamente às linhas
lhamento do vento ocorreria apenas em termos de espessura , com velocidade proporcional
de velocidade, sem mudança de direção com a ao seu gradiente , é denominado vento térmi-
altitude. Os contornos de pressão em altitude co. Olhando a favor do vento, o vento térmi -
seriam por sua vez paralelos aos contornos de co sopra com o ar frio (baixa espessura ) para
espessura . a esquerda no hemisfério norte . A velocidade
Entretanto, essa é uma simplificação. É do vento geostr6fico a 500 mb (G500) é o vetor
comum observar que as nuvens em níveis dife- soma do vento geostrófico a 1000 mb (G 1000)
rentes se movem em direções diferentes . Isso é com o vento térmico (V T), conforme mostra
uma evidência de que pode haver cisalhamen - a Figura 7.6. Para o caso mais simples em que
to vertical do vento, não apenas em termos as direções dos ven tos geostróficos de 1000
de velocidade , mas também de direção . Essa mb e 500 mb são as mesmas , o vento térmi -
importante relação é ilustrada na Figura 7.6. co é simplesmente proporcional à diferença
O diagrama mostra contornos hipotéticos das na velocidade geostrófica entre os dois níveis.
superfícies de pressão de 1000 e 500 mb e da Antecipando a discussão mais aprofundada no

Conto rnos da superf ície de 1000 mb


o 60 120 180
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\ I \ I \ I Contornos
\ I \ I \ I
5750 da superf ície
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, G1000 ,vr;' \ I
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I \ I \ I \ I \
I \ I \ I \ I \

5700 5640 5580 5520


Espessura da camada 1000- 500 mb

figura 7.6 Mapa e squemó tico de con tornos sobrepostos de altura isobór ico e espessur a do camada de 1000-
SOOmb (em metros). G 1000 é o velocidade geostró fica o 1OOOmb, G 500 o 500mb, Vr é o "vento térmico" resultan-
te que sopro parale lamente às linhos de espessura .
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala p lanet6r ia na atmos fera e no oceano 169

Capítulo 9, situações com cisalhamento dire - nente importante das correntes de jato, mas ara-
cional podem ser associadas ao crescimento zão básica para a concentração do gradiente de
de distúrbios no fluxo básico de oeste nas la- temperatura mer idional em uma zona estreita
titudes médias, observados na superfície como (ou zonas ) é dinâmica . Em essência, o gradiente
ciclones e anticiclones móveis, e como ondas de temperatura é acentuado quando o padrão
curtas atmosféricas em níveis mais elevados. de ventos superiores é confluente (ver Capítulo
Lembre que essas ondas curtas tendem a se 6B.l). É útil introduzir o conceito de momento
mover através das ondas longas de Rossby. angular e sua conservação. O momento de uma
O fluxo básico de oeste, com suas pertur- parcela de ar é o produto de sua massa por sua
bações inseridas, caracteriza ambos os hemis - velocidade; o momento angular é o produto da
férios nas regiões voltadas para os polos das velocidade linear de um corpo que gira ao re-
células de alta pressão subtropicais (centradas a dor de um eixo e sua distância perpendicular do
aproximadamente 15º de latitude em altitude) . eixo. O momento angular tende a ser conserva-
Entre as células de alta pressão subtropicais e o do, ou seja, se a distância radial de rotação de
equador, os ventos são de leste. A circulação do- uma parcela de ar diminui (aumenta), a veloci-
minante de oeste alcança velocidades máximas dade de rotação aumenta (diminui) . Considere
de 45-65 m s- L(162-234 km/h - L), que chegam agora um cinturão de ventos de oeste na latitude
a aumentar até 135 m s- 1 (486 km/h - 1) no in- 40ºN . Se os ventos deslocam-se para o norte, a
verno . Essas velocidades máximas se concen- distância radial diminui e, assim, aumenta a ve-
tram em faixas estreitas, geralmente entre 9000 locidade do vento . Na atmosfera , a conservação
e 15000 m, chamadas de correntes de jato (ver do momento angular é o principal contribuinte
Nota 2 e Quadro 7.2). à manutenção das correntes de jato de oeste.
Uma corrente jato é essencialmente um flu- A Figura 7.8 mostra uma seção transver -
xo de ar de alta velocidade, que coincide com a sal norte -sul generalizada, com três correntes
latitude do gradiente de temperatura máximo de jato de oeste no Hem isfério Norte. Aquelas
em direção aos polos, ou zona frontal, mostra- mais ao norte, denominadas Correntede Jato de
do esquematicamente na Figura 7.7. O efeito da Frente Polar e Corrente de Jato de Frente Árti-
espessura, descrito anteriormente, é um campo- ca (Capítulo 9E), estão associadas ao forte gra-

orrente 200
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Figura 7.7 Estrutura da zona fron ta l de média latitude e corren te de ja to associado, mostrando o dis tri b uição
generalizado, em altitude, da temperatura, pressão e velocidade do vento.
Fonte : Riley ond Spalton {198 1). Cortesia de Cambr idge Un ive rsity Press.
170 Atm osfera, Tempo e Clim a

,
AVANÇOS SIGNIFICATIVOS DO SECULO XX

7.2 A descoberta das correntes de iato


No fi nal do século XIX, observadore s do movim ento das nuvens altas iden tif icaram a existência oca-
siona l de ventos fortes em níveis superiores, mas não suspeitavam de sua regu lar idade e persistência.
O reconhecimento de que existem ba ndas coerentes de ventos muito fortes na tropos fera superior fo i
uma descobe rt a ope racional feita po r piloto s de bom barde iros A li ado s que sob revoavam a Eur opa
e o Pacífico No rte durante a Segundo G uerr a M undial. Voa ndo no direção oeste, eles enco ntra vam
ventos de proa que às vezes se aprox im avam do velocidade do s av iões. O termo corrente de ;ato,
usado anteriorm ente pa ra certos sistemas de corre ntes ocean ices, foi introduz ido em 1944 , send o log o
adotado de for mo amplo . A pa lavra ale mã corre spo nde nte Stroh lstrome ió havia, de fato , sido usada
no década de 30.
As ba ndas de fortes ventos em níveis super iores são associado s o intensos grad ientes hor izonta is
de temp eratu ra. Grad ientes de temperat ura no sentido eq uado r-po lo, local mente intensific ad os, são
associados às co rrente s de oeste, e grad ientes no sentido polo-eq uado r, às correntes de leste. As
principa is correntes de jato de oeste são a cor rente de jato subtrop ical de oeste, a ap roximadame nte
150- 20 0 mb, e a associada à principa l frente pol ar, a ap roxim ada mente 250 -30 0 mb. A pri meira se
loca lizo entre as latitudes de 30 -35 °, e a segunda , entre 40, -50 ° em ambo s os hemisf éri os. O s núcleos
mais fo rtes de correntes de [ato tende m a ocor rer sob re a Asio O rienta l e o leste da Amé rico do No rte
no inver no. Pode haver outros jato s associado s o um a zona frontal ártica . No verão , exist e um jato
ó rtico persistente, ainda que g eralmente f raco , mais visível
, sobre a Eurósia, que deve suo existência ao
aq uecimento supe rficia l diferencial entre o Ocea no A rtico frio e o continente,
, livre de neve ad, jacente.
Nos
, tróp icos, fortes corre ntes de jato de leste oco rrem no verão sob re o lndia, o O ceano Ind ico e a
Africa O cidental, associadas aos sistemas de mo nções.

diente de tempe ratura onde o ar tropical e o ar tral (0-40ºW) . Essa estrutura dupla representa
polar e ártico, respe ctivamente , interagem, mas as correntes subtrop ical e polar.
a Correntede Jato Subtropicalestá relacionada O padrão sinótico de ocorrência de corren -
com um gradiente de temperatura confinado tes de jato é ainda mais complicado em alguns
à troposfera superior , 12-15 km (- 200 mb). As setores pela presença de zonas frontais adicio -
velocidades do vento sobre a Ásia Oriental re- nais (ver Capítulo 9E), cada uma associada a
1 1
gularmente excedem os 100 m s- (360 km / h- ) . uma cor rente de jato. Essa situação é comum
A Corrente de Jato da Frente Polar é bastante no inverno sobre a América do Norte . Uma
irregular em termos latitudinais e longitudi - comparação entre a Figura 7.4 e a Prancha 7.2
na is e em geral é descontínua, ao passo que a indica que os principais núcleos de corren tes de
Corren te de Jato Subtropical é muito mais per - jato são associados aos pr incipais cavados das
sistente e varia muito me nos em latitude. Por ondas longas de Rossby. No verão , a Corrente
essas razões, a localização da corrente de jato de Jato Tropicalde Leste se forma na troposfera
média em cada hemisfério e estação (Prancha superior sobre a índia e a África, devido à rever-
7.2) reflete primariamente a posição da Corren - são regional do gradiente de temperatura S-N
te de Jato Subtropical. O mapa do verão austral (p. 355). As relações entre os sist emas de ventos
(DJF) mostra uma forte feição zonal ao redor troposféricos superiores e o tempo e o clima na
de SOºS, enquanto a corren te do verão boreal é superficie serão considerados mais adiante .
mais fraca e mais descontínua sobre a Europa No Hemisfério Sul, a corrente de jato mé-
e a América do Norte. Os mapas de inverno dia no inverno é semelhan te em intensidade ao
(Prancha 7.2 [A] e [D]) mostram uma estrutura seu correlato de inverno no Hemisfér io Norte,
dupla pronunc iada no Hemisfério Sul, de 60ºE e enfraquece menos no verão , pois o gradien -
para leste até 120ºW, um análogo mais limitado te de temperatura meridional entre 30 e SOº S é
sobre o Oceano Atlântico Norte oriental e cen - reforçado pelo aquecimento sobre os contine .n -
CAPÍTU LO 7 Mo vim ento s em esca la p la net6 ria na atm osf era e no ocea no 171

20

18

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Artroposférico
16
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90°N 80° 70° 60° 50 ° 40° 30° 20° 1Oº Oº 10ºS

Figura 7.8 A estrutura meridiana da tro popa usa e os pr incipa is zonas fron tais pr im6rias . A is6toco de 40 m s- 1
1
(144 Km/ h- ) tracejad a envolve os cor rentes de [ato 6rtico (J.J, po lar (Jp) e subtrop ical (J5) . A corrente de jato trop ica l
de leste (JE) també m é most rada. Ocasiona lmente, os fren tes e os cor rentes de jatos értic os e pol ar es o u pola res
e subtropica is podem se fun dir e f orm ar sistem as únicos, onde 50% do gradie nte de pressão mesotro posférico do
polo-e quado r se concentro em uma único zona fronta l de aproxi madamente 200 km de largura. A co rrente de jato
trop ica l de leste pode ser acompa nhado por uma co rrente de leste mais ba ixa, o aproximadamente 5 km de alti tude .
fo nte : Sha piro e t o i. (1987 ). Mon thly Wco ther Review 115, p . 450 , com perm issão de Ame rica n Mete o ro log ico l Soc iety .

tes mer idionais , com particular importância do subtropicais de alta pressão enfraquecem sobre
platô antártico (Prancha 7.2). os continentes aquecidos no verão, mas são ter-
micamen te intensificadas sobre eles no inverno.
4 Cond i~ões de pressão na As principais células de alta pressão subtropi -
superfície cais se localizam: ( 1) sobre a região oceânica das
Bermudas-Açores (a 500 mb, o centro dessas
Os aspectos mais consis tentes dos mapas de
pressão ao nível médio do mar são as células células fica sobre o Caribe ); (2) sobre o sul e o
sudoes te dos Estados Unidos (a célula da Grea t
de alta pressão subtropicais oceânicas (Figuras
7.9 e 7.10). Esses anticiclones se localizam a cer- Basin ou de Sonora) - essa célula continen tal é
ca de 30º de latitude, sugestivamente situados sazonal, sendo subs tituída por um baixa térmi-
abaixo da posição média da Corrente de Jato ca superfic ial no verão; (3) sobre o Pacífico leste
Subtropical. Eles se movem alguns graus em di - e norte - um a célula grande e muito intensa (às
reção ao equador no inverno e em direção ao vezes dividindo-se em duas, especialmente du-
polo no verão, em resposta à expansão e con- rante o verão ); e (4) sobre o Saara - essa, como
tração sazonais dos dois vórtices circumpolares. outras áreas -fonte continentais, tem variação
Os an ticiclones localizados nos setores orientais sazonal em intensidade e extensão, sendo mais
do Atlântico Norte e Pacífico Norte subtropicais proeminente no inverno. No Hemisfério Sul, os
são rasos, ao contrário dos observados nos seto- anticiclones sub tropicais são oceânicos, exceto
res ocidentais. No Hemisfério Norte, as cristas sobre o sul da Austrália no inverno.
172 Atmosfer a, Tempo e Clim a

Dez Qnvemo) 180' Jun (verão) 180"


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180' 180'

Prancha 7.2 Probab ilidade do velocidade de uma corren te de ja to (integrado verticalmente entr e 100 e
1
400mb) excedendo a 30 m s- {l 08 km/h) com base na reanólise de dados do ECMWF 1982-1992. Unidades
em porcen tagem. {A) inverno no Hemisfério Norte, (DJF); (B) verão no Hemisfério Norte, (JJA); (C) verão no
Hemisfério Su:J,(DJF); (D) inverno no Hemisfério Sul, (JJA).
Cortes ia de Patrick Koch and Sara h Kew, lns titule for Atmosphe ric ond C limote Sc ience , ETH, Zurique .

A latitude do cinturão de alta pressão sub - Nas baixas latitudes, existe um cavado
tropica l depende da diferença na temperatura equatorial de baixa pressão, amplamente asso-
meridional entre o equador e o polo e do gra - ciado à zona de máxima insolação e tendendo
diente da temperatura (i.e., estabilidade ver - a migrar com ela, em especial rumo às regiões
tical ). Quan to maior a diferença na tempera - continen tais interiores aquecidas no hemi sfério
tura meridional, mais próximo do equador se de verão . Mais para os polos em relação aos an -
localiza o cinturão de alta pressão subtropical ticiclones subtropicais , encon tra-se uma zona
(Figura 7.11). geral de baixa pressão subpolar. No Hemisfério
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6ria na atm osfera e no oceano 173

(A) Janeiro (inverno) o;) ~~


(A) Janeiro (verã-_,, g:::::::
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180º o
180° o·

go•w 90"W

(B) Julho (verão) (B) Julho (inverno}


90ªE

A
180° o· 180º ~

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so·w
figura 7.9 Distribuição da pressão média ao nível
figura 7.1 O Dis tribuição da pressão média ao ní -
do mor (mb) em janeiro e julho poro o h emisfér io nor-
vel do mor (mb) em jan ei ro e julho paro o hemi sfério
te, 1970- 1999.
sul, 1970-1999. lsóboras não são plotadas sobre a
Fonte : NCEP/NCA R Reano lysis Dato do NOAA -CIRES Clima - A ntártica.
te Diagnosl ics Cenle r.
Fonte : NCEP/ NCAR Reano lysis Dato do NOAA -CIRES C lima -
te Diagnos lics Cente ,.

Sul, esse cavado subantártico é praticamente


circumpo lar (ver Figura 7.10) , ao passo que, dito que a região do árt ico é dominada por con -
no hemisfér io norte , os pr incipais centros estão dições an ticiclônicas , esse fato claramen te não
perto da Islândia e nas ilhas Aleutas no inverno, procede. A alta siberiana pouco espessa resulta,
e sobre as áreas continentais no verão. No inver- em parte, da exclusão de massas de ar tropicai s
no, a região ártica é afetada por células de alta e do interior devido ao planalto tibetano e ao Hi-
baixa pressão , com anticiclones semipermanen - ma laia e, em parte , da presença de bo lsões de
tes de ar frio sobre a Sibéria e, em menor exten - ar fr io em baixos nívei s assoc iados à ampla co -
são, o noroeste do Canadá. Embora ainda seja bertura de neve. Há formação de centros sobre
174 Atmos fera, Tempo e Clima

45° mostradas em mapas de pressão mensais são


g Hemisfério Sul
• Hemisfério Norte
refletidas em cartas sinóticas na passagem de
CI> ra 40º
"O .u depressões profundas por essas áreas a jusante
o o.
~e dos cavados de ondas longas em níveis eleva-
~~ 35°

o
o dos. Todavia , as áreas de pressão média elevada
.g 1~
ll
representam altas mais ou menos permanentes.
CI) IIÍ • • e
"O ~ 0
~ 0. 30• As zonas intermediárias localizadas a 50-SSºN
~ :ê a
..J ('(l e 40-60ºS são afetadas por depressões móveis e
cristas de alta pressão; essas aparecem nos ma-
26°-+--~--~-~--~-~-~
pas de médias como zonas sem pressão notavel-
15° 20° 25° 30° 35° 40° 45°
Diferença da temperatura meridional ("C) entre os níveis de 300 mente alta ou baixa. O movimento das depres-
e 700 mb (aproximadamente 9000 e 3000 m alt) do mês anterior
sões é tratado no Capítulo 9F.
Comparando as distribuições das médias
Figura 7.11 Diagramo do diferenço de temperatura
meridiona l ao nfvel de 300-700 mb no mês anterior, de pressão superficial e troposférica para janei-
em relação à latitude do centro do cinturão de oito ro (ver Figuras 7.4, 7.5, 7.9 e 7.10), fica claro que
pressão sub tro pical, supondo um gradiente troposfé- somente as células de alta pressão subtropicais
rico vertical constante. se estendem a níveis elevados. As razões para
fonte : Flohn, in Proceed ings of the World Climote Confe ren- isso são evidentes nas Figuras 7.lB e D. Nove-
ce, WMO N0.537 (1979, p. 257, Fig.2).
rão, o cinturão equatorial de baixa pressão tam-
bém está presente em níveis elevados sobre o sul
o nordeste da Rússia, estendendo-se para leste da Ásia. As células subtropicais ainda podem
em direção a Chukotka, sobre o Cazaquistão e ser identificadas a 300 mb (aproximadamente),
o leste da China. Sobre os mantos de gelo eleva - mostrando que são um aspecto fundamental da
dos da Groenlândia e Antártica, não faz sentido circulação global e não apenas uma resposta às
falar em pressão ao nível do mar (é difícil fazer condições de superfície.
um ajuste da pressão superficial para o nível do
mar), mas, em média, existe alta pressão sobre
B
-
OS CINTUROES DE VENTOS
o platô antártico oriental, a 3-4 km de altitude .
GLOBAIS
Com base na discussão anterior, a circula-
ção média no Hemisfério Sul é muito mais zo- A importância das células de alta pressão sub-
nal a 700 mb (aproximadamente 3000 m de al- tropicais fica evidente na discussão anterior.
titude) e no nível do mar do que no Hemisfério Dinâmicas, em vez de imediatamente térmicas
Norte, devido à área mais limitada e ao efeito em sua origem, e situadas entre 20º e 30º de lati-
das massas continentais . Também existe pouca tude, elas parecem ser a chave para os principais
diferença entre a intensidade da circulação no cinturões de ventos do mundo, mostrados nos
verão e no inverno (ver Figuras 7.3 e 7. 10). É mapas da Figur a 7.12 . No Hemisfério Norte, os
importante, neste ponto, diferenciar os padrões gradientes de pressão ao redor dessas células
médios de pressão e as altas e baixas mostra- sã.o mais fortes entre outubro e abril (inverno).
das em cartas sinóticas diárias ou subdiárias. Em termos da pressão real, porém, as células
No Hemisfério Sul, a zonalidade da circulação oceânicas têm sua pressão mais elevada no ve-
média oculta um grau elevado de variabilidade rã.o, e o cinturão é contrabalançado em níveis
cotidiana. A carta sinótica é uma "fotografià, inferiores por baixas pressões térmicas sobre os
diária ou subdiária dos principais sistemas de continentes. Sua intensidade e persistência cla-
pressão sobre uma área muito grande, ignoran- ramente as identificam como o fator dominante
do as circulações locais. As baixas subpolares que controla a posição e as atividades dos ven-
sobre a Islândia e as Aleutas (ver Figura 7.9) tos Alísios e de oeste.
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6ria na atmosfera e no oceano 175

(A) Janeiro

• Ventos de Oeste
JOºN ~ 300N
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Alísios de "
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(B) Julho
Oº 90 ªE 180ª 90 ºW Oº
90ºN .-----------------------------------------.900N

60ªN 600N

30ºN 300N
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Ventos de Oeste ..
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90 ' W
90• 5

f[gura 7.12 Zonas de vento g loba is genera lizados para 1000 mb (100 m olt.) em janeiro (A) e ju lho (B). O
limite en tre os ventos zonois de oes te e leste é a linha zero. Em grande par1e do Pacífico cen tral, os ventos Alísios
são q uase zona is. Baseado em médios para 1970- 1999.
Fonte : NCEP/NCAR Reonolysis Dolo de NOAA -CIRES C limote Diog n ost ics Ce nter .

N. de R.T.: Sobre o Oceano índico (mapa A}, os ventos Alísios de Nordeste correspondem aos ventos de monção hibernal. Já
a monção de Sudoeste (mapa B) corresponde aos ventos de oeste equatoriais.
176 Atm os fera , Tempo e Clim a

1 Os ventos Alísios o Pacífico cent ral , a convergência dessas cor -


rentes de ar costuma ser pronunciada e, nesse
Pode -se pensar que a expressão "Trade Winds"
setor , o termo Zona de Convergência Intertro-
originou -se da sua importância nos dias em que
pical (ZCI T) é aplicável . Todavia , de modo
a navegação à vela era necessár ia.para o comér -
geral, a conve rgência é descontínua no es~aç~
cio entre os continentes . Todavia , de acordo
e no tempo. Em di reção ao equado r, os pr 1nc1-
com a Wikipedia, a expressão "Trade Winds"
pais cinturões dos alísios sobre o Pacífico leste
deriva de "trade" do inglês médio, que significa
e o Atlântico leste são regiões de ventos leves e
«caminho » ou ('trilha' : levando à frase "the wind
variáveis , conhecidos tradicionalmente como
blows trade'', que significa ªsopra de uma dire - doldrums*e bastante temidos nos séculos pas -
ção constante '~ Com relação ao sistema climá -
sados pelas tr ipulações de veleiros . Sua extensão
t ico, os alísios (ou ventos tropicais de leste) são
sazonal varia consideravelmente : de julho a se-
importantes por causa da sua grande extensão ,
tembro, eles se espalham para oeste no Pacífico
afetando quase a metade do plane t a (ver Figu -
central, enquanto, no Atlântico, estendem -se
ra 7.13). Eles se originam em latitudes baixas às . '
para a costa do Brasil . Uma terceira area im- .
margens das células subtrop icais de alta pressão ,
portante de doldrums está localizada no Oceano
e sua cons tân cia de direção e velocidade (por
índ ico e no Pacífico ocidental . De ma rço a abr il,
volta de 7 m s- i ou 25 km/h - l) é notável. Os
ela se espalha 16.000 km da África Or iental até
ventos alísios, assim como os ventos de oeste ,
a long itude de 180º e fica bastante ampla nova-
são mais fortes durante o semestre de inverno , o
mente de outubro a dezembro .
que sugere que sejam controlados pelo mesmo
mecanismo fundamental .
Os dois sistemas de ventos Alísios tendem * N. de R:r.:Doldrums são células de calmarias com ven-
a convergir no Cavado Equatorial (de baixa tos fracos e direcion almente variáveis . Normalmente nessas
pressão ). Sobre os oceanos , particularmente áreas ocorr e a presença de urna cobe rtur a de nuvens baixas.

120•E ,so•e ,eo• 1so•w 12~.., 90"W O" 90"E 120ºE 150°E
75
.N

6D"N

3~ . 30°N
!

30•s 3G4S

Q )
60 ·s, i 1 1
120•E 1so•e 1eo• 1so•w 120"W 90'W oo•w O" 30ºE 60°E 90"E 120ºE 15o•E

figura 7.13 Mapa dos cinturões de ventos Alísios e doldrums. Os limites dos alísios - obro~gendo o. área
dentro do qua l 50% de todos os ventos são do quadrante predominante - são mostrados p.elos linhos continuas
(janeiro) e tracejados (julho). A área marcado é afetado pelos alísios em ambos os me.ses. Linhos de fluxo esque -
máticas sõo indicadas pelas selas - trace jados (julho) e con tínuas (janeiro, o u nos dois meses).
Fonte : Crowe (1949, 1950}.
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6r ia na atmosfera e no oceano 177

2 Os ventos equatoriais de oeste para permitir o desenvolvimento desse cinturão


de ventos de oeste.
No hemisfério de verão, em especial sobre as
áreas continentais, existe uma zona de ventos
3 Os ventos de latitudes médias
geralmente de oeste entre os dois cinturões de
de oeste (Ferrei)
ventos Alísios (Figuras 7.12 e 7.14). Esse sistema
de oeste é bem marcado sobre a África e o sul da Esses são os ventos das latitudes médias que
Ásia no verão do Hemisfério Norte, quando o emanam dos lados próximos dos polos da cé-
aquecimento térmico sobre os continentes au- lula de alta pressão subtropical (ver Figura
xilia o deslocamento do cavado equatorial para 7.12). Eles são muito mais variáveis em direção
o norte (ver Figura 11.1). Sobre a África, os ven- e intensidade do que os alísios, pois, nessas re-
tos de oeste atingem 2-3 km e, sobre o Ocea - giões, o caminho do movimento do ar é afetado
no índico, a 5-6 km. Na Ásia, esses ventos são frequentemente por células transi tórias de alta
conhecidos como "monções de verão': mas hoje e baixa pressão, que, embora orientadas pelas
são reconhecidos como um fenômeno comple- ondas longas e meandrantes de Rossby discuti-
xo, cuja origem é parcialmente global e parcial- dos anteriormente, costumam se mover no sen-
mente regional (ver Capítulo 1 lC ). Os ventos tido leste . Além disso, no Hemisfério Norte, a
de oeste equatoriais não são apenas os alísios do preponderância de áreas continentais, com seu
hemisfério oposto que sofrem diversão ao cru- relevo irregular e padrões sazonais de pressão,
zarem o equador (devido à mudança de direção tende a obscurecer o fluxo de ar do oeste. As
da deflexão de Coriolis). Existe, em média, um ilhas de Scilly, na costa sudoeste da Inglaterra,
componente de oeste no oceano índico a 2-3ºS que sofrem a ação dos ventos de sudoeste , regis-
em ju nho e julho e a 2-3ºN em dezembro e ja- tram 46% dos ventos oriundos entre sudoeste e
neiro. Sobre os Oceanos Pacífico e Atlântico, a noroeste, mas 29% vêm do setor oposto, entre o
ZCIT não se afasta suficientemente do equador nordeste e o sudeste.

O"

J Janeiro
Ju lho

F(gura 7.14 Dis tribuição dos ventos de oes te equato riais em qua lquer camada aba ixo de 3 km paro janeiro
e jul ho .
Fonte : 1nd ia n Meteoro logica l Oepa rtmen t.
178 Atmosfera, Tempo e Clima

Os ventos de oeste do Hemisfério Sul são (A) Inverno


mais fortes e mais constantes em direção do . .
s~. ---~-~-------
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7 ouo,aoo•••--•uu•••n•'•••••*••nf•••• o, ••••••••>•••••••••'4-n•oouo.,o.ou•ono-Joou•oono

que os do Hemisfério Norte, pois os amp los es- 6 ..•..... -L......... ;:....-....:L ··-··-L.....
-~-·Hemisfério .J. .........L ........ .
paços oceânicos descartam o desenvolvimento
-
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C/J
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de sistemas de pressão estacionários (Figura -E 3


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7.15). A Ilha Kerguelen (49ºS, 70ºE) tem uma e
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frequência anual de 81 % de ventos oriundos N


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Todavia, a zona lidade aparente do vórtice 90* 10· 60" 50" ~0· 20· ,0·
circumpolar sul (ver Figura 7.10) oculta uma Latitude
(8) Verão
considerável variabi lidade sinótica na veloci- 10
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dade do vento. •
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Este termo é aplicado a ventos que ocorrem en -
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o Atlântico Norte e o Pacífico Norte (Figura 90• 10· 60" 50" ~o· 20• ,0 • O"

7.12). Calculando-se as direções médias dos Latitude

ventos para todos os cinturões de alta latitude,


figura 7.15 Perfi s do componente médio do vento
encontram -se poucos sinais de um sistema coe- 1
de oeste (m s- ) ao nível do mar nos h emisférios norte
rente de ventos polares de leste. A situação em e sul d urante suas respec tivas estações de invern o (A)
altas latitudes do hemisfé rio sul é complicada e verão (B), 1970-1999.
pela presença da Antártica , mas os anticiclones Fonte: NCEP/NCAR Reonolysis Dato de NOAA -CIRESClima ·
te Oiognostics Cenler .
parecem ser frequentes sobre o elevado platô
oriental antártico, e ventos de leste predomi -
nam sobre a linha de costa antártica sobre o drões de grande escala de vento e pressão que
setor do Oceano Indico. Por exemplo, em 1902- persistem no decorrer do ano ou que retornam
1903, a expedição do navio Gauss,a 66ºS, 90ºE, sazonalmente. Jáfizemos referência a uma
observou ventos entre o nordeste e o sudeste em das principais forçantes, o desequilíbrio da
70% do tempo e, em muitas estações costeiras, a radiação entre as latitudes menores e maiores
constância dos ventos de leste pode ser compa - (ver Figura 2.26 ), mas também é necessário
rada com a dos alísios. Todavia, as componentes entender a importância das trocas de energia
de ventos de oeste predominam sobre os mares na atmosfera . A energia está constantemente
a oeste da Antártica. mudando de forma, como mostrado na Figura
7.16. O aquecimento desigual da Terra e sua at-

C A CIRCULAÇAO GERAL
- mosfera pela radiação solar gera gradientes de
energia potencial, parte da qual é convertida
A seguir, consideramos os mecanismos que em energia cinética pela ascensão do ar quen -
mantêm a circulaçãogeral da atmosfera -pa - te e pela descida do ar frio . Em última análise,
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6ria na atm osfera e no oceano 179

Radiação efetiva
de ondas longas
.. i,..

Aquec iment o Energia cinética


Radiação • •., Energia
. (Movimento atmosférico
~

solar potencial
em todas as escalas)


desigual •

1
V

Dissipação friccionai

Sistema Terra-atmosfer a

Figura 7.16 Esquem a do troca de energ ia do sistema Ter ra - at m os fera .

a energia cinética do movimento atmosférico cada vez maiores na direção leste. Por exemp lo,
em todas as escalas é dissipada pe la fricção e o ar que se deslocasse de 42º para 46º de latitude
por vórtices turbulentos de pequena escala e conservasse seu momento angular aumentaria
(isto é, viscosidade interna). Para manter a cir- sua velocidade relativa à superfície da Terra em
1 1
culação geral , a taxa de geração de energia ci- 29 m s- (104km /h- ) . Esse é o me smo princip io
nética deve obviamente equilibrar a sua taxa de que faz um patinador do gelo girar mai s rápido
dissipação. Essas taxas são estimadas em 2 W à medida que aproxima os braços do corpo . Na
2
m - , o que representa apenas 1% da radiação prática, o aumento da velocidade da massa de ar
solar globa l média absorvida na superfície e é compensado ou mascarado pelas outras forças
na atmosfera. Em outras p alavras , a atmosfera que afetam o movimento do ar (particularmen -
é uma máquina térmica altamente ineficiente t e o atrito), mas não há dúvida de que mui tas
(ver Capí tulo 2E). das cara cterísticas impor tantes da circula ção at-
Um segundo fat or controlador é o mo - mosférica geral resultam dessa transferência de
men to angular da Terra e sua atmosfera, que momento angular para os polos .
é a tendência da atmosfera de se mover junto A necessidade de um transporte de mo -
com a Terra ao redor do eixo de rotação . O mo- mento em direção aos polos é facilmen te com-
mento angular é proporcional à taxa de rotação preendida em termos da manutenção dos ven -
(ou seja, a veloc idade angular ) e ao quadrado tos de oeste de lati tudes méd ias (Figu ra 7.15) .
da distância entre a parcela de ar e o eixo de ro- Esses ven tos tra n smi t em mome n to relativo
tação. Com uma Terra e atmosfera em rotação na direção oeste (leste ) para a Terra por atrito
uniforme, o momento angular total deve per- con stantemente, e estim a-se que eles cessariam
manecer constante (em outras palavras, existe por comp leto devido a essa dissipaç ão friccio-
uma conservaçãodo momento angular) . Se uma na! de energia em pouco mais de uma semana
grande massa de ar muda de posição sobre a su - se o seu momen to não fosse reabaste cido de
perfície da Terra, de modo que sua distânc ia do forma contínua em outra parte. Em baixas la-
eixo de rotação também se altere, a sua veloci- t itudes, os amplos ventos tropicais de leste ga-
dade angular deve mudar a fim de permi tir que nham momento relativo p ara oeste por atr ito,
o momento angular perma n eça constante . Na- como resul tado da ro t ação da Terra em uma
turalme .nte, o momento angular abso luto é ele- dire ção oposta ao seu fluxo (ver No ta 4). Esse
vado no equador , o pon to mais distante do eixo excesso é tra n sferido em direção aos polos , com
de rot ação (ver Not a 3), e diminui com a latitu - o tra n sporte máx imo ocorrendo, de maneira
de, até chegar a zero nos p olos (ou seja, o eixo significa tiva, nas adjacências da corren te de jato
de rotação ), de modo que o ar que se move em subtropical média a aproxim adamente 250 mb
direção aos polos tende a adquir ir velocidades a 30ºN e 30ºS.
180 Atm osfera, Tempo e C lim a

Janeir o Jul ho
Polo Norte Polo Norte

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o. 200 Velocidade do vento (m s-1)


o o 1 ] Fluxo les1e
Polo Sul Polo Sul

Figura 7.17 Velocidades médios dos ventos zonois (m s- 1) calculados paro cada latitude e poro elevações de até
mais que 20 km, nos meses de ja neiro e julho . O bserve o fra co fluxo leste em todos os níveis em latitudes baixos
dominado pe las células de Hodley, e o forte fluxo de oeste em latitudes médias, localizado nos corren tes de jato sub-
tropicais. Observe o destaque dado pa ra a presença do manto de gelo A ntórti co interrompe ndo os ventos zona is.
Fonte : Adap ta d o de Mintz; Hende rson -Selle rs a nd Robinson (l 986) .

1 Circula~ões nos planos vertical e um fluxo baixo perto do equador e a rotação da


horizontal Terra desviasse essas correntes , que formariam
os ven tos Alísios de nordes t e e sudeste. Essa ex -
Existem duas maneiras possíveis de a atmosfera plicação foi proposta por G. Hadley em 1735,
transportar calor e momen to. Uma é pela circu - embora, em 1856, W Ferrei tenha mostrado
lação no plano vertical , conforme indica a Figu - que a conse rvação do momento angular seria
ra 7.17, que mostra três células me ridionais em um fator mais provável como causa dos ventos
cada hemisfér io. As célulasde Hadley em baixas de leste, pois a força de Co riolis é pequena em
latitudes eram consideradas análogas às circu- latitudes baixas . Correntes contrárias super iores
lações convectivas que se formam quando uma e em direção aos polos comple tariam a célula de
panela de água é aquecida sob re uma chama e baixa lat itude, segundo o esquem a apresen tado,
são denominadas células termicamente diretas. com o ar descendo a aproximadamente 30º de
Acreditava -se que o ar quente sub isse e gerasse latitude à medida que é res friado pela radiaç ão.
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6r ia na atmosfera e no oceano 181

Todavia, esse esquema não está de todo cor- precisaria ser movida pelas outras duas. Con-
reto. A atmosfera não tem uma fonte de calor siderações ligadas ao momento indicam a ne-
simples no equador, os ventos Alísios não são cessidade de ventos de leste superiores nesse
contínuos ao redor do planeta (ver Figura 7. 13) esquema, mas observações feitas com aviões e
e o fluxo superior para os polos ocorre princi - balões durante as décadas de 1930 e 1940 de -
palmente nos setores ocidentais das células de monstraram a existência de ventos fortes de
alta pressão (ver Figuras 7.4 e 7.10) . oeste na troposfera superior (ver A.3, neste ca-
A Figura 7.18 mostra outra célula termi- pítulo). Rossby modificou o modelo de três cé-
camente direta (polar) em altas latitudes, com lulas para incorporar esse fato, propondo que o
ar denso e frio fluindo de uma alta de pressão momento de oeste seria transferido para latitu -
polar. A realidade disso é questionável, mas, de des médias a partir das ramificações superiores
qualquer modo , tem pouca importância para a das células em latitudes altas e baixas. Cavados
circulação geral, devido à pequena massa envol- e cristas no escoamento superior poderiam , por
vida. É importante observar que não é possível exemplo, fazer essa mistura horizontal.
haver uma única célula direta em cada hemis- Essas visões passaram por alterações ra-
fério, pois os ventos de leste perto da superfí- dicais a partir de 1948. Meios alternativos de
cie reduziriam a rotação da Terra. Em média, a transportar calor e momento - por circulações
atmosfera deve girar com a Terra, exigindo um horizontais - haviam sido sugeridos na década
equilíbrio entre os ventos de leste e oeste ao re- de 1920 por A. Defant e H . Jeffreys, mas não
dor do planeta. puderam ser testados até que houvesse dados
A célula de Ferrel de latitude média mos - adequados sobre o ar em níveis superiores . Cál -
trada na Figura 7 .18 é termicamente indireta e culos para o Hemisfério Norte, realizados por

Célula polar
(direta}

~. ,,1
.s,"' Ventos polares de oeste
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~Vêmo~ .
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Células de /;
Hadley
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Alísios de
{direta) ............,__
I\IE Células
de Had ley

Ventos
Alísios de
SE

Célula de
Ferrei Ondireta)

Figura 7.18 Mode lo esquemótico de três células para a circulação meridional e princ ipais ci nturões de ventos
em cada hem isfério.
Fonte: Modificado de NASA.
182 Atmosfera, Tempoe Clima

V. P. Starr e R. M. White do Massachusetts Ins- dos ao Cavado Equatorial (baixa pressão), que
titute of Technology, mostram que, em latitu- se localiza em média a SºS em janeiro e a lOºN
des médias, as células horizontais transportam em julho (ver Figura 11.1). A célula de Hadley
a maior parte do calor e momento necessários do hemisfério de verão é, de longe, a mais im-
em direção aos polos. Isso atua ( 1) por meio do portante, pois gera o fluxo transequatorial baixo
mecanismo de altas semi-es tacionárias e (2) pe- para o hemisfério de verão . O modelo tradicio-
las altas e baixas móveis perto da superfície, que nal da circulação global com células gêmeas,
atuam em conjunto com seus padrões de onda simétrico ao redor do equador, é encontrado
mais acima. O primeiro é conhecido como on - somente na primavera / outono .
das estacionárias , e o segundo , como vórtices LongitudinaJ.mente, as células de Hadley
transitórios. A importância desses vórtices ho- estão ligadas aos regimes de monções do he-
rizontais para o transporte de energia é mostra - misfério de verão. O ar ascendente sobre o Sul
da na Figura 7.19 (ver também Figura 3.27B). O
conceito moderno de circulação geral, portan - Polo Tropopausa
to, considera a energia dos ventos zonais como norte Misturélho . Ártica Corrente de
derivada de ondas horizontais, e não de circu- ~º'>t. _ jato da frente
lações meridionais . Em latitudes mais baixas, €!/ 1 .K po lar
\ ', , Corrente de jato
porém, o transporte por vórtices é insuficiente Frente , ]\ subtropícal
para explicar o transporte total de energia ne- polar
cessár io para o equilíbrio energético. Por essa Tropopa usa
trop ical
razã.o, a célula de Hadley média é um aspecto
fundamental das representações atuais da cir-
culação geral, como mostra a Figura 7.20. A
circulação de baixa latitude é considerada com -
plexa . Particularmente, o transporte vertical de Figura 7.20 Modelo da circulação meridional geral
calor na.célula de Hadley é efetuado por nuvens para o Hemisfério Norte no inverno.
cumulonimbus gigantes em sistemas associa- Fonte : Polmén, 1951; Barry (1967).

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-- Fluxo meridional médio
-- Fluxo dos vórtices
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90 ºN 60º 40 º 20º 20º 40º 60º 90 ºS

Figura 7.19 Transporte de energia em direção aos polos, mostrando a importância de vórt ic es horizon ta is em
latitudes médias.
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6r ia na atmosfera e no oceano 183

Asiático (e também sobre a América do Sul e a Duas novas ide ias foram propostas recen -
Indonésia) é associado ao fluxo leste-oeste (zo- temente (Figura 7.21). Uma sugere que as altas
nal) e esses sistemas são conhecidos como cir- subtropicais em níveis baixos observadas no
culaçõesde Walker (p. 375 -380 ). O transporte verão no Pacífico Norte e Atlântico Norte são
de retorno das células de Hadley meridionais respostas remotas a ondas plane t árias estacio-
em direção aos polos acontece em cavados que nárias geradas por fontes de calor sobre a Asia.
se estendem para latitudes baixas a partir dos Ao contrário dessa visão da propagação de on-
ventos de oeste em latitudes médias . Isso tende das a favor da corrente para leste , outro modelo
a ocorrer nos lados a oeste das células subtro- propõe efeitos regionais do aquecimento sobre
picais de alta pressão na troposfera superior. as regiões afetadas pelas monções de verão na
A mistura horizontal predomina em latitudes Índia, na África Ocidental e no sudoeste da
médias e altas , embora também se acredite América do Norte , que atuam contra a corren -
que exista uma célula indireta fraca e de forma te nas margens oeste e norte dessas fontes de
bastante reduzida nas latitudes médias (Figura calor. O aquecimento das monções indianas
7.20 ). A relação das correntes de jato com as leva a uma célula vertical com subsidência so -
regiões meridionais com gradiente súbito de bre o Mediterrâneo oriental, o deserto do Saa -
temperatura já foi observada (ver Figura 7.7 ). ra oriental e o deserto de Kyzylkum-Karakum.
Ainda não temos uma explicação completa Todavia, enquanto o ar ascendente tem origem
para as duas máximas de vento e seu papel na nos ventos tropicais de leste, acredita-se que as
circulação geral, mas elas sem dúvida são uma ondas de Rossby nos ven tos de oeste nas latitu -
parte essencial da história. des médias sejam a fonte do ar descendente, e
A luz dessas teorias, reanalisamos a origem isso pode ter uma ligação com o primeiro me -
dos anticiclones subtropicais, que desempe- can ismo. Nenhum desses argumentos aborda os
nham um papel crucial nos climas mundiais. anticiclones subtropicais de inverno. Certamen -
Sua existência tem sido atribuída , de diversas te, essas características esperam uma explicação
maneiras: (1) ao empilhamento de ar que se definitiva e abrangente .
move em direção aos polos à medida que é des - É provável que as células anticiclônicas em
viado para leste pela rotação da Terra e à conser- níveis elevados, evidentes em cartas sinóticas
vação do momento angular; (2) à subsidência (que tendem a se fundir em cartas de médias),
de correntes acima em direção aos polos pelo estejam relacionadas com os vórtices anticic -
resfriamento radiativo; (3) à necessidade geral lônicos que se desenvolvem no lado equatorial
de alta pressão perto da latitude de 30º , sepa - das correntes de jato. Estudos teóricos e obser -
rando zonas aproximadamente iguais de ven tos vacionais mostram que, como resultado dava-
de leste e oeste (também é possível a combina - riação latitudinal do parâmetro de Coriolis , os
ções desses mecanismos) . Uma teoria adequada ciclones nos ventos de oeste tendem a se mover
deve explicar não apenas a sua permanência, em direção aos polos, e as células anticiclôni -
mas sua natureza celular e a inclinação vertical cas, em direção ao equador. Assim , os antici-
dos eixos . A discussão anterior mostra que as clones subtropicais são regenerados constan -
ideias de uma célula de Hadley simplificada e da temente . Existe uma relação estatística entre
conservação do momento estão apenas parcial- a latitude das altas subtropicais e o gradiente
men te corretas . Além disso) estudos recentes, da temperatura média meridional (ver Figura
de maneira surpreendente, não mostram uma 7.11 ); um gradiente mais forte causa uma mu -
relação, em termos sazonais, entre a intensidade dança na alta pressão no sentido do equador,
da célula de Hadley e a das altas subtropicais . A e vice -versa . Essa mudança é evidente em ter -
subsidência ocorre perto de 25ºN no inverno, mos sazonais . O padrão celular na superfície
ao passo que o norte da África e o Mediterrâneo reflete de forma clara a influência de fontes
são geralmente mais secos no verão, quando o de calor. As células são estacionárias e alonga-
movimento vertical é fraco. das no sentido norte -sul sobre os oceanos do
184 Atmosfer a, Tempo e Clim a

(A}

60º
C1>
"O
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·- 40º ~
'ta
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20º

90 º E 180º 90ºW Oº
Longitude

(B)

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90º E 180º 90ºW Oº


Longitude

(C)

Oceano I Continente
1~J11111n11l rrldl~mm
11
1 111117111111Dlil

Figura 7.21 Ilustrações esquemóticas de processos suge ridos que formam/man têm os an tic iclones subtrop i-
ca is seten trio nais no verão : (A) quadros em que as fontes de calor do verão são impos tas no modelo atmosfér ico ;
(B) padrão resulta nte de ondas plane tárias estacio nárias , (linhas contínuas /tr ace jadas denotam anomal ias po-
sitivas /n ega t ivas da altura (Chen el ai., 2001 ); (C) esquema dos elemen tos da circu lação propostos por Hosk ins
(1996) ; aquec imento das monções sob re os contine nt es com subsidência para oes te e em direção aos polos
onde existe interação com os ventos de oeste . A subs idênc ia gera maior resfriamento rad ia tivo, que a l ua como
um feedbockpos it ivo , e mov imento no sentido do equador; este últ imo impulsiona a camada de Ekma n oceâ nica
e a ressurgê ncia.
Fo nte s Chen et o i. (2001 ) J. Atmos. Sei. 58, p. 1832 , fig. 8 (0); e Hoskins (1996 ) Bu/1.A mer. Met . Soe . 11, p . 129 1, fig .5 . Ame rieo n
Meleo rolog ieo l Soc iety.
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6r ia na atmosfera e no oceano 185

Hemisfério Norte no verão, quando o aqueci- no sentido leste-oeste causados por diferen-
mento continental cria baixa pressão e o gra- ças no movimento vertical . Por um lado, o ar
diente da temperatura meridional é fraco . No ascende sobre os continentes aquecidos e as
inverno, por outro lado, o fluxo zonal é mais partes mais quentes dos oceanos; por outro, o
forte em resposta a um gradiente mais intenso ar desce sobre partes mais frias dos oceanos,
na temperatura meridional, e o resfriamento sobre áreas continentais onde sistemas pro-
continental gera alongamento das células no fundos de alta pressão se estabeleceram, e em
sentido leste-oeste. Indubitavelmente, fatores associação com células de alta pressão sub-
ligados à superfície e aos níveis superiores re- tropicais. Sir Gilbert Walker identificou essas
forçam um ao outro em alguns setores e ten - circulações em 1922-1923, com sua descoberta
dem a se anular em outros . de uma correlação inversa entre a pressão so-
Assim como as circulações de Hadley re- bre o Oceano Pacífico · oriental e a Indonésia.
presentam importantes componentes meri- A intensidade e a fase dessa chamada Oscilação
dionais (norte-sul) da circulação atmosférica, Sul costumam ser medidas pela diferença de
as circulações de Walker representam as com- pressão entre o Taiti (18ºS, lSOºW) e Darwin ,
ponentes zonais (leste-oeste) de grande escala na Austrália (12ºS, 130ºE). O Índice da Oscila-
do fluxo de ar tropical. Essas circulações zonais ção Sul (Southern Oscilation Index - SOI) tem
são movidas por grandes gradientes de pressão duas fases extremas (Figura 7.22):

(A) SOi de fase posit iva

A B A

w ~

30°S
('./\ Frio
Oceano Oceano o
Oceano
Atlântico Índico Pacífico
90ºW Oº 90ºE 180° 90ºW

{B) SOi de fase negativa

A 8

~
_? Quente
30°S
Oceano Oceano Oceano
~ Atlântico Índico Pacífico
90ºW OQ 90ºE 180° 90ºW

Figura 7.22 Seções transversa is da circulação de Wa lker ao longo do equador (com base em có lculos de Y. M.
Tourre) durante as fases pos itivas (A) e nega tivos (B) da Osc ilação Sul (OS) . As fases pos itivas (nega tivos) corres-
pondem o pad rões não ENSO (ENSO) (ver texto) . Na fase positiva, hó ar ascenden te e ch uvas fortes sobre a ba-
'
eia amazôn ica, Africa central e Indonésia-Pacifico Oc idental. No padrão da fase negat ivo (ENSO 1982-1983}, o
ramo Pacífico ascendente é desviado poro leste da linha Internacional de Mudança de Data e, em outros portes,
a convecção é supr imido pela subs idência. O sombreado ind ica o topografia em escola vertical exagerado .
Fonte : K.Wyrtk i (1985 ). World Meteorolog ícol O rgon izal io n.
186 Atm osfera, Tempo e Clim a

• positiva, quando existe uma forte alta


pressão no Pacífico sudeste e uma baixa
centrada sobre a Indonésia, com ar ascen -
dente e precip itação convectiva;
• negativa(ou baixa), quando a área de baixa
pressão e convecção é deslocada para leste
em direção à linha Internacional de Mu -
dança de Data.
Um SOi posit ivo (negativo) implica fortes
ventos Alísios de leste (ventos de oeste equato -
riais baixos ) sobre o Pacífico centro -ociden tal.
Essas circulações de Walker estão sujeitas a
flutuações em que uma oscilação (conhec ida
como Oscilação Sul-El Nino, ou ENSO) entre
fases positivas (isto é, eventos não ENSO ) e fa-
ses negat ivas (isto é, eventos de ENSO ) é parti -
cularmente no tável (ver Capítulo llG .l ):
1 Fase positiva {Figura 7.22A ). Apresenta
quatro grandes células zonais, envolvendo
ramific ações ascendente s de b aixa pressão
o
e precipi t ação acentuada sobre a Amazô -
nia, a Africa central e a Indonésia/Índia ; e
Figura 7.23 O ciclo do índice . Ilustração esque-
ramifi cações de alta pressão des cende ntes
m6 t ica do desenvolvimento de padrões celulares nos
sobre o Pacífico Oriental , o Atlântico Sul ventos de oest e superiores, ocupando três a o ito se-
e o Oceano Índi co orien t al. Durante essa manas e especi almente ativos em fevere iro e março
fase, ventos de baixos níveis de leste se in - no Hemis fér io Nor te. Est udos esta tísticos indicam
tensificam sobre o Pacífico, e as correntes que não h6 periodicidade regu lar nessa sequênc ia.
de jato subtropicais de oeste em ambos os (A) índice zona l elevado. A corre nte de jato e os ven-
tos de oes te se enco nt ram a norte da sua posição
hemisférios enfraquecem , assim como a cé-
média. Os ventos de oeste são for tes, os sistemas de
lula de Hadley do Pacífico. pressão têm orien tação predominan te leste-oeste, e
2 Fasenegativa (Figura 7.22B). Essa fase tem existe pouca t roca de massa de ar no rte-sul. (8) e (C)
cinco grandes células zonais, envolvendo a corrente se expa nde e aumen ta de velocidade, on-
ramificaçõe s ascenden tes de baixa pressão dulando com osci lações cada vez maio res. (D) índice
e precipitação acentuada sobre o Atlântico zonal ba ixo, associado a um romp imento e à frag-
men tação celu lar total dos vent os zona is de oeste, à
sul, o Oceano índico Ocidenta l, o Pacífico
formação de depressões frias pro fundas e fechadas
Ocidental e Oriental; e ramificações subsi - estacion6rias em latitudes médio-baixas e a antic i-
dentes de alta pressão e menor precipitação clones quentes e pro f undos originando bloque ios at -
sobre a Amazônia, a Africa central , a Indo - mosféricos em lati t udes maiores . Essa fragmentação
nésia / índia e o Pacífico central . Durante começa geralmen te no leste e se estende para oes te
essa fase, ventos de oeste de baixos níveis a uma taxa de ap roximadamente 60º de longi tude
por semana .
e de leste de altos níveis predominam sobre
Fonfe : No mias; in Holt iner ond Martin (1957) .
o Pacífico, e as correntes de jato subtropi -
cais de oeste se intensificam em ambos os
hemi sférios, assim como a célula de Hadley
no Pacífico .
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6ria na atm osfera e no oceano 187

(A)

(B) (8)
70 70
1

,
.......
-ªº
z -eo
z
o
-50
1

o
-50
'-
-, v
---f:ev,.~·
.,,, gJ,.,.. fl0trr,
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a}
-g 40 ~ 40
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-~--------=---
.'!:: _,..,/
'lií
j 30 ...J 30
20 20 .
-4 -2 O 2 4 6 8 10 12 14 16 -4 -2 O 2 4 6 S 10 12 14 16
1
Velocid ade do vento (m s ) Velocidade do vento (m s-1)

Figura 7.24 Contornos médios de 700 mb para de- figura 7.25 Contornos médios de 700 mb para fe -
zembro de 1957, mostrando um fl uxo de oeste r6pido e vereiro de 1958: (A) perfis médios da ve locidade (m
1
de pequena amp litude, típico de um índice zonal eleva- s- ) do vento zonal a 700 mb no Hemisfério Ocidental
1
do: {A) perfis médios da velocida de (m s- ) do vento zo- poro fevereiro de 1958, em comparação com os ve -
nal o 700 mb no Hemisfério Oc identa l poro dezemb ro locidades d e um fevereiro normal. Os ven tos de oeste
de 1957, em com paração com as veloci dades de um estavam mais fortes do que o norma l em lat itudes bai-
dezembro normal. Os ventos de oeste estavam mais xas, com um pico o aproximadamente 33°N (BJ.
for tes do que o normal e deslocados po ro o norte (B). Fonte : Klei n (1958).
Fonfe : Dunn (1957 ).

Variações no índice zonal


2 Variações na circulação do
Variações de três a oito semanas de duração
Hemisfério Norte
são observadas na intensidade dos ven tos de
A pressão e os padrões de contornos durante oeste zonais na média do hemisfério . Elas são
certos períodos do ano podem ser radicalmen - ma is no t áveis nos meses de inverno, quando
te diferentes dos indicados pelos mapas méd ios a circulação geral é mais forte . A natureza das
(ver Figuras 7.3 e 7.4). Diversos tipos de var ia- alterações é ilustrada na Figura 7.23. Os ventos
bilidade têm impo rtânc ia. Na maior escala, es- de oeste de latitudes médias formam ondas, e
tão as mudanças na intensidade da circulação os cavados e as cristas se tornam acentuados,
hemisférica zonal de oeste ao longo de um pe - dividindo -se em wn padrão celular, com wn in-
ríodo de semanas . Variações importan tes em tenso fluxo me ridional em cert as longitudes. A
escalas mais regionais incluem as oscilações intens idade dos ventos de oeste entre 35º e SSºN
na p ressão sobre o Atlântico Norte e o Pacífico é denominada índice zonak os fortes ventos zo-
Norte . nais de oeste sã.o represen tativos de um índice
188 Atmos fera, Tempo e Clima

elevado, e padrões celulares pronunciados ocor- Sabe-se também que a energia cinética do fluxo
rem com um índice baixo . zonal deriva dos vórtices, o inverso do quadro
Um índice relativamente baixo também clássico, que considerava as perturbações den -
pode ocorrer se os ventos de oeste estiverem tro dos cinturões de ventos globais como um
bem ao sul de suas latitudes normais e, para- detalhe sobreposto. A importância das pertur -
doxalmente, essa expansão do padrão de circu - bações atmosféricas e as variações da circulação
lação zonal é associada a ventos de oeste fortes estão se tornando cada vez mais evidentes. Con-
em latitudes mais baixas do que o normal. As tudo, os mecanismos de circulação são compli -
Figuras 7 .24 e 7 .25 ilustram os padrões do con - cados por numerosas interações e processos de
torno médio de 700 mb e os perfis da veloci- feedback, particularmente aqueles que envol-
dade do vento zonal para dois meses distintos. vem a circulação oceânica, discutida a seguir.
Em dezembro de 1957, os ventos de oeste eram
mais fortes do que o normal a norte de 40ºN, e Oscilação do Atlântico Norte
os cavados e as cristas eram pouco desenvolvi - Sir Gilbert Walker, na década de 1920, observou
dos, ao passo que, em fevereiro de 1958, havia que a intensidade relativa da Baixa da Islândia
um baixo índice zonal e um vórtice circumpo- e da Alta dos Açores oscila em escalas anuais
lar expandido, gerando ventos fortes de oeste a decenais; 50 anos depois, van Loon e Rogers
em latitudes baixas . O padrão a 700 mb mostra discutiram a "gangorrà' oeste -leste em tempe-
altas subtropicais muito fracas , cavados meri- raturas de inverno entre a Europa Oc idental e
dionais profundos e um bloqueio anticiclónico o oeste da Groenlândia, associada à mudança
junto ao Alasca (ver Figura 7.25A). A causa des - norte-sul no gradiente de pressão sobre o Atlân-
sas variações ainda é incerta, embora aparente- tico Norte. O fenômeno em operação aqui é a
mente o fluxo zonal rápido seja instável e tenda Oscilação do Atlântico Norte (North Atlantic
a se decompor. Essa tendência certamente é Oscillation - NAO). Embora Walker tenha ori -
maior no Hemisfério Norte , devido ao arranjo ginalmente defmido um índice da NAO a partir
dos continentes e oceanos . de um conjunto de séries temporais altamente
Estudos detalhados começam a mostrar correlacionadas de temperatura do ar, pressão
que as flutuações irregulares do índice, junto ao nível do mar e precip itação em estações bem
com as características secundárias da circula- separadas sobre o leste da América do Norte,
ção, como as células de alta e baixa pressão na Walker e Bliss sugeriram posteriormente que
superfície ou as ondas longas em níveis supe- um índice simples poderia se basear na dife -
riores, desempenham um papel importante na rença de pressão entre a Islândia e os Açores.
redistribuição de momento e energia. Experi - O índice NAO baseado nessa ideia descreve a
mentos de laboratório com ªpratos " rotatórios intensificação e o enfraquecimento mútuos da
de água para simular a atmosfera, e estudos baixa da Islândia (65ºN) e da alta dos Açores
com modelos numéricos computadorizados (40ºN). Quando ambas estão fortes (fracas),
do comportamento da atmosfera , demonstram considera -se que a NAO está em seu modo, ou
que uma circulação de Hadley não pode ser um fase, positivo (nega tivo). Embora a NAO possa
mecanismo adequado para transportar calor ser identificada em todas as estações, a maioria
em direção aos polos. Como consequência, o das pesquisas concentra-se na estação de inver -
gradiente meridional de temperatura aumenta no, quando tende a apresentar -se mais forte. A
e o fluxo se torna instável no modo de Hadley, relação entre os modos positivo e negativo da
decompondo -se em vários vórtices ciclônicos NAO observada por Walker e a temperatura as-
e anticiclónicos. Esse fenômeno é chamado de sociada e outros padrões de anomalias são mos-
instabilidadebaroclínica.Em termos de energia, trados na Prancha 7.3 para dois meses de janei-
a energia potencial no fluxo zonal é converti- ro distintos . Quando as duas células de pressão
da em energia potencial e cinética nos vórtices. estão bem desenvolvidas , como em janeiro de
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6r ia na atmosfera e no oceano 189

oi,,,,,... ~

(A) (C)

-2

-e
...

~•' .,,/1
o

(B) (D)


z •
o

Prancha 7.3 Ilus tração das fases positiva - janeiro de 1984 (A) - e negativa - ja neiro de 1970 (8) da Osci-
lação do Atldntico Norte e suas anoma lias assoc iadas de temperatura e precipitação. lsóbaras no nível médio
do mo r em intervalos de Smb; anomal ias de temperatura em intervalo s de 2ªC ; e do taxo de prec ipita ção d iá ria
em 2 mm/dia.
Fonte : Climote Oiognosl ics Center , NOAA, C IRES, Bould er, CO .

1984, os ventos zonais de oeste são fortes. A NAO deveria ser considerada parte de uma
Europa Ocidental tem um inverno brando, en- oscilação mais geral de pressão (massa) entre a
quanto a intensa Baixa da Islândia causa um região polar nor te e as latitudes médias, conhe-
forte fluxo de norte na Baía de Baffin, tempe - cida como Oscilação Ártica (Artic Oscillation
raturas baixas no oeste da Groenlândia e mui- - AO) ou Modo Anular do Norte (Nor thern
to gelo marinho no Mar de Labrador. Na fase Annular Mode - NAM). Parte do argumen-
negativa , as células são fracas, como em janeiro to para considerar o NAM fundamental é sua
de 1970, formando-se anomalias opostas. Em semelhança com uma oscilação de ma.ssa cor-
casos extremos, a pressão pode ser maior perto respondente entre as latitudes altas e médias
da Islândia do que para o sul, causando ventos do Hemisfério Sul, conhecida como Oscila-
de leste ao longo da Europa Ocidental e no leste ção Antártica (Anta rctic Oscillation - AAO)
do Atlântico Norte . ou Modo Anular do Sul (Souther n Annular
Até o final da d.écada de 1990 e começo dos Mode - SAM). Em comparação com o NAM,
anos 2000, seguindo o trabalho de D. Thomp- a oscilação de massa associada a.o SAM é muito
son, houve um considerável debate sobre se a mais simétrica zonalmente, ou anular; ou seja,
190 Atm osfera, Tempo e Clim a

a oscilação de massa é vista de modo mais claro Com base em registros de pressão ao nível
em todas as longitudes. Acredita -se que, se não do mar, foram compiladas séries temporais do
fosse pelas disto rções causadas pelas influên - índice NAO para até aproximadamente 1870.
cias da orografia e pelos contrastes terra -mar, o Embora a NAO não tenha uma escala temporal
NAM também teria um padrão razoavelmente de variabilidade preferida, podem ser defmidas
simétrico, em vez de ser dominado pela varia - diversas épocas . De 1890 a 1900, ela esteve em
bilidade no seto r atlântico, com um centro de um modo negativo , seguido por um período
ação muito mais fraco no Pacífico Norte . Em predominantemente positivo de 1900 a 1950.
outras palavras , assim como o SAM, o NAM é Depois disso, houve um pe ríodo negativo de
um padrão "inerentementé' simétrico, e a perda 1960 a 1980, seguido por um aumento geral até
dessa simetria se deve às disto rções menciona- a metade da década de 1990. Esse aumento re-
das. Apesar disso, as séries temporais do NAM e cente causou inversos que, comparados com o
da NAO apresentam elevada correlação e, para normal, eram mais quentes sobre grande parte
muitos usos, podem ser vistas como defmições da Eurásia setentrional, e con dições mais úmi -
diferentes da mesma coisa. Os padrões do NAM das (mais secas) sobre a Europa Setentrional -
e do SAM se estendem até a troposfera . -Escandinávia (Europa Meridional-Mediterrâ-

7.3 Observações oceanográficas


As med ições m eteo ro lóg icas e ocea nog róficas são feitas nos ocea nos por aprox imada mente 7.000
navios da frota de obse rva ção vo lunt6 ria (Vol untary Ob servi ng Fleet) e por bo ias a nco radas ou flu tu-
antes . " Na vios selecionados " observam o temperatu ra do ar e da superfíc ie do ma r, o pressão e suo
tendê ncia, o vento , o tempo meteo rológ ico presente e passado, o um idade , nuvens e ondas . Nav ios
suple mentares {ou auxil iares) fazem as mesmos obse rvações , omi tindo a temperatu ra do superfí cie do
mar, a tendênc ia do pressão , as ondas {e nuvens). O Meteorolog icol Of fi ce do Reino Un ido opera sete
bo ios ancoradas em 6g uas pro fundas na borda da plataforma cont inental a oeste das Ilhas Britõn icas
e duas no Ma r do Norte. Existem bo ias seme lhantes nos Oceanos Pacífico e At lãnt ico nas costas do
Co nadó e dos Estados Un idos, co m cerca de 65 outras bo ias operadas nos Estados Uni dos. Elas me-
dem a pressão , tempera tura do ar, umidade , veloc idade do vento, temperatu ra da superf ície do mar ,
e a altura e o período das ondas . As boias de deriva hoje são usadas em escala mundia l, e medem
a pressão ba rométr ica e suo tendê ncia, bem como o temperatura da superf ície do mor, enq ua nto
algumas ta mbém medem a tem peratura do ar e o veloc idade do vento . Os dados são transm itidos
paro os satélites Argos , que fixam a pos ição das bo ios e os transmi tem para Os lo, Toulouse e S0ndre
Str0mfi ord na G roen lãndia Oc identa l, be m co mo pa ra estações de so lo A rgos nos Estados Un idos e
na França . As cor rentes oceân icas são deter mi nadas a partir da de riva de nav ios, onde a dife rença
entre a posição estim ada (deod -reckoned ) de um nav io - dete rminada a pa rtir da sua pos ição ante rior
com base em uma referência de navegação - e sua pos ição real é atribu ída unicamen te ao efe ito dos
corre ntes superf iciais. Elas também são med idos por co rrentõ metros no superf ície e no fundo , insta -
lados po r nav ios de pesqu isa ocea nog ráf ica e que podem ope rar por até do is anos antes de serem
recupe rados. As prop riedades da tempe ratu ra e sali nidade dos ocea nos são dete rmin adas a pa rtir
de sensores de co ndut ividade, tempe ratura e profund idade {CTD ) desenvol vi dos na década de 1970.
Esses aparel hos medem as resistências dos sensores às var iações na cond utividade , temperatura e
pressão . A condu tividade depe nde da temperatura e do salinidade, assim, a parti r dessas medições, é
criado um per fil de salinidade e tempe rat ura, que é transm itido poro o navio de pesqu isa. Uma rede
globa l de bo ias perfilado ras de deriva (A rgo ) que me de m a temperatu ra e sa lini dade dos 2000 m
super iores do oceano começou a opera r no ano 2000 e tem 3000 bo ias espa lhadas pelos ocea no s
do planeta. Os dados são recuperados pe riod ica mente , qua ndo a boia vem à tona , e são transm itidos
para as estações recepto ras po r conexão via satélite.
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6ria na atmosfera e no oceano 191

neo), em associação com uma mudança para em altos níveis ao longo da costa oeste do Ca-
o norte nas rotas de tempestades. Desde o final nadá, e um forte cavado concomitante sobre o
da década de 1990, a NAO retornou a uma fase sudoeste dos Estados Unidos.
mais neutra, em geral.
D ESTRUTURA E CIRCULAÇÃO DOS
PDO, NPO e PNA
OCEANOS
Embora o ENSO já tenha sido discutido, deve-
Os oceanos ocupam 71 % da superfície da Terra,
mos observar que ele pode ser relacionado em
com mais de 60% da área oceânica global situ-
uma variedade de maneiras com os padrões "do
ados no Hemisfério Sul. Três quartos da área
tipo ENSO': para os quais existem sinais mul-
oceânica ficam entre 3000 e 6000 m de profun-
tidecenais proeminentes. Os sinais climáticos
didade, ao passo que apenas 11% da área dos
são bem demonstrados no Pacífico noroeste,
continentes excedem 2000 m de altitude .
incluindo o Alasca. Particularmente importante
é a Oscilação Decenal do Pacífico (Pacific De-
1 Acima da termoclina
cadal Oscillation - PDO), que tem um índice
baseado nas temperaturas da superfície do mar Vertical
no Pacífico Norte. Sua série temporal asseme-
Os principais processos interativos entre ocea-
lha-se ao padrão dominante de variabilidade
no e atmosfera (Figura 7.26) envolvem trocas de
na pressão ao nível do mar no Pacífico. A rela-
calor, evaporação, alterações de densidade e ci-
ção básica é que temperaturas mais frias (mais
salhamento do vento. O efeito desses processos
quentes) que a média na superfície do mar
é gerar uma estratificação vertical no oceano,
tendem a ocorrer durante períodos de pressão
que tem grande importância climática:
abaixo ( acima) da média sobre o Pacífico Norte
central. A PDO está relacionada, por sua vez, 1 Na superfície oceânica, os ventos produ-
com a Oscilação do Pacífico Norte (North Pa- zem uma camada superficial termicamen-
cific Oscillation - NPO ), que pode ser descrita te misturada, com dezenas de metros de
com um índice simples baseado na média ajus- profundidade, em média, entre os polos e
tada para a área da pressão ao nível do mar so- a latitude de 60º, 400 m na latitude 40° e
bre o Pacífico Norte extratropical . A série tem- 100-200 m no equador.
poral da PDO representa uma boa medida da 2 Abaixo dessa camada de mistura relativa-
intensidade da Baixa das Aleutas. Desde 1976, mente quente, encontra-se a termoclina,
a PDO tem apresentado uma tendência geral de uma camada onde a temperatura diminui e
redução, ou seja, uma Baixa das Aleutas mais a densidade aumenta (a picnoclina) subita-
intensa, acompanhada por ventos de oeste mais mente com a profundidade. A termoclina,
fortes que o normal sobre o Pacífico Norte Cen- cuja estratificação estável tende a inibir a
tral e um fluxo maior de sul a. sudeste ao longo mistura vertical, atua como uma barreira
da costa oeste da América do Norte . Em um entre a água superficial mais quente e a
contexto maior, a variabilidade no ENSO, na água profunda mais fria. No oceano aber-
PDO e na NPO está relacionada com a variabi- to entre as latitudes de 60ºN e 60ºS, a ter-
lidade no chamado padrão de teleconexão Pací- moclina estende-se de profundidades de
fico Norte Americano (Pacific North American cerca de 200 m a um máximo de 1000 m
- PNA) . O PNA descreve variações no padrão (no equador, de 200 a 800 m; na latitude de
de ondas longas atmosféricas que se estende do 40º, de 400 a 1100 m). Dos polos à latitude
Pacífico equatorial até o noroeste da América de 60º, a água fria da camada profunda se
do Norte e à parte sudeste da América do Nor- aproxima da superfície. A localização do
te. O modo positivo do PNA se caracteriza por gradiente mais súbito de temperatura é de-
uma Baixa das Alentas intensa, uma forte crista nominada termoclinapermanente, que tem
192 Atmosfera, Tempo e Clim a

Vento
Metros ...-.....
........ .
200 ......
.-....
. . -..
-.. ...... Onda curta
......
~
.
incidente
't/n/UOnda longa
/1f[i\ descendente Fluxo
Chuva Fluxo de calor
100 de calor latente
Evaporação
À.àÂÂÂÂ
sensível
. . . Onda longa

N. M. Mar +:_,;~_.·.....
·.....

·....
1

·__;_
•.•
•'• •• •• •• ••
. .. ..
• • • •' •

:_;_
:_
~

•• •• •• •• ••
• • •



ascendente
.-----r-~~----~---, ~;r-...__L...~
__
,:O Continente

(
Extrusão Correntes
de sal Camada oceânicas
- 100 de mistura >
Transporte Ressurgência
Ressurgência de Ekman costeira
Subsidência oceânica
por densidade
- 200 Termoclina
Correntes
deborda -
e
Circulação da termoclina profunda -------- -1
Figura 7.26 Represen tação dos principais processos de interação oceono -atmosfero .
Fonte : Modif icado de NASA.

um efeito dinâmico inibidos no oceano, Vento


semelhante ao de uma grande inversão na
atmosfera. Todavia, observam -se trocas de
calor entre os oceanos e a atmosfera pela
mistura turbulenta acima da termoclina
• A •
permanente , assim como por ressurgenc1a
e subsidência. Abaixo da camada de mis -
tura superficial (por exemplo, ártico), tam - Camada
de Ekman
bém existe um gradiente de salinidade, ou
haloclina.
Movimento
Durante a primavera e o verão nas latitudes médio da camada
médias, o aquecimento superficial acentuado de Ekman
leva ao desenvolvimento de uma termoclinasa-
zonal, a profundidades de 50 a 100 m. O res-
friamento superficial e a mistura causada pelo
Figura 7.27 A espiral de Ekmon no Hemisfério Norte.
vento tendem a destruir essa camada no outono
• Fonte : Open Un íversity 1989 de Oceo n C irculotío n, Beorm o n
e inverno. (1989) . Copyr ight @ Butterwo rt h- Heineman n, Oxford .
Abaixo da termoclina, há uma camada
profunda de água fria e densa . Nessa camada,
os movimentos da água são causados principal -
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6r ia na atmosfera e no oceano 193

mente por variações de densidade, devidas nor- fundidade oceânica, constância de ventos, vis-
malmente a diferenças em salinidade (isto é, um cosidade uniforme da água e pressão Wdrica
mecanismo termohalino). constante em uma determinada profundidade.
Também em termos de sua circulação, Isso raramente ocorre na realidade e, na maio-
pode-se considerar que o oceano consiste de ria das condições oceânicas, a espessura da ca-
inúmeras cama.das: a mais superior sujeita ao mada de Ekman, influenciada pelo vento, é de
cisalhamento do vento, a próxima ao arraste 100 a 200 m . Ao norte (sul) de 30ºN, os ventos
friccionai pela camada superior, e assim por de oeste (leste) criam um t ranspor te de água
diante; todas as camadas sofrem a ação da for- para sul (norte) na camada de Ekman, gerando
ça de Coriolis . A água superficial tende a ser convergência e subsidência de água a 30°N, co-
desviada para a direita (no Hemisfério Norte) nhecido como bombeamento de Ekman .
em um ângulo de 45° em média em relação à
direção do vento superficial e a cerca de 3% Horizontal
da sua velocidade. Essa deflexão aumenta com
Geral
a profundidade, à medida que a velocidade da
corrente causada pela fricção diminui exponen- Podemos fazer comparações entre a estrutura
cialmente (Figur a 7.27). No equador , onde não e a dinâmica dos oceanos e da atmosfera quan -
existe a força de Coriolis , a água superficial se to ao seu comportamento acima da termocli-
move na mesma direção que o vento superficial. na permanente e abaixo da tropopausa - seus
Essa espiral teórica de Ekman foi desenvolvida dois limites estabilizantes mais significativos .
com base em pressupostos idealizados da pro - Dentro dessas duas zonas, as circulações flui-

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180"\V ISO-\!/ 1:M>'\V 90'W 60"11 ~VI 30'E 60' E 90'E 120'E 150'E t80'E

figura 7.28 Médias anuais do tra nspor te de ca for mer idional (1015 W) nos Oceonos Pacífico, Atlântico e Índico,
respect ivamente (delineadas pelas linhas trace jadas ). São indicadas os sen tidos e as latitudes de transporte móximo.
fonte : Hosten roth (1980 ). Jou rno l of Physicol Oceonog rophy com pe rmissão do Amer icon Me teo ro log ico l Soc iety.
194 Atm osfera, Tempo e Clim a

das são mantidas por gradientes meridionais mosfera, como a circulação geral , os grandes
de energia térmica , direcionados de maneira giros oceânicos (semelhantes às células subtro -
predominante para os polos (Figura 7.28) e picais de alta pressão atmosférica), as correntes
sob ação da força de Coriolis. Antes da década fortes e semelhantes às correntesde jato, como
de 1970, a oceanografia era estudada segun - parte da Corrente do Golfo (ver Figura 7.29), as
do um modelo espaço-tempora l baseado em grandes áreas de subsidência e ressurgênc ia, a
médias amplas, semelhante ao aplicado na cli- camada estabilizante da termoclina permanen -
matologia clássica. Atualmen te, porém, suas te, os efeitos da camada limite , as descontinui-
semelhanças com a meteorologia moderna dades frontais criadas por contrastes de tem-
são visíveis (Quadro 7.3). As principais dife- peratura e densidade e as regiões de massas de
renças de comportamento entre os oceanos e a água ("águas modais ') .
atmosfera derivam da maior densidade e vis - As características de mesoescala que têm
cosidade das águas oceânicas e das restrições análogos atmosféricos são os vórtices oceâni-
friccionais muito maiores impostas sobre seu cos ciclônicos e anticiclônicos, os meandros de
movimento global correntes , os vórtices livres, os filamentos de
Muitas cara .cterísticas de grande escala da correntes e as circulações produzidas por irre-
dinâmica oceânica se parecem com as da at - gularidades na Corrente Equatorial Norte.

60"N

45'N

1~N

15°S

45°E 135ºE 100' 135"W

~ >5"C <~C

1 Corrente Equatorial Norte 7 Corrente Leste da Australia 13 Corrente do Peru 19 Corrente do Brasil 25 Corrente de lnninger
2 Contracorrente Equatorial 8 Corrente de Oyashio 14 Corrente das Malvinas 20 Corrente das Canãrias 26 Corrente da Groenlândia
3 Corrente Equatorial Sul 9 Corrente das Aleutas 15 Corrente do Atlântico Sul 21 Corrente do Golfo Oriental
4 Deriva do Vento Oeste 10 Corrente do Alasca 16 Corrente das Agulhas 22 Corrente do Atlântico Norte 27 Corrente da Noruega
5 Corrente Oeste da Austrâlia 11 Corrente do Pacifico Norte 17 Corrente de Benguela 23 Corrente do Labrador 28 Corrente de Spttsbergen
6 Corrente de Kuroshio 12 Corrente da Califórnia 18 Corrente da Guiné 24 Corrente da Groenlândia 29 Corrente do Cabo Norte
Ocidental

Figura 7.29 Circulação geral dos correntes oceônicos em janeiro. Isso vale basicamente paro o ano, com
exceção de que, no verão no hemisfério norte, uma porte do circulação do Oceanice '
Indico setentrional é inver-
tido pelo fluxo de ar dos monções. As óreas sombreadas mostram anomalias anuais médias dos tempera turas do
superfície oceânica (ºC) maiores que +SºC e menores que - 3ºC.
Fontes: US Nava l Ocea nograph ic Office a nd N iiler (1992 ). Cortesia do US Naval Oceonag rophic Office.
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6r ia na atmosfera e no oceano 195

Macroescala lada retorna para leste seguindo o gradiente


hidrostático como contracorrentes equatoriais
A característica mais óbvia da circulação oceâ-
superficiais compensatórias , sem serem impe -
nica superficial é o controle exercido sobre ela
didas pelos fracos ventos superficiais. Perto
pela circulação de ventos planetários super - do equador, no Oceano Pacífico, a ressurgên-
ficiais, especialmente pelas células oceânicas cia eleva a termoc lina a uma profundidade
subtropicais de alta pressão e os ventos de oeste . de apenas 50-100 m e, dentro dessa camada,
A circulação oceânica também apresenta inver- e.xistem Subcorrentes Equatoriais rasas e rápi -
sões de fluxo sazonais nas regiões de monções das, que fluem no sentido leste (ao longo dos
do Oceano índico setentrional, perto da costa gradientes hidrostáticos) a uma velocidade de
da África Oriental e do norte da Austrália (ver - 1
1 a 1,5 m s .
Figura 7.29). À medida que a água avança no À medida que as circu lações desviam em
sentido meridional, a conservação do momento direção aos polos perto das margens ociden-
angular acarreta mudanças na vorticidade rela- tais das células oceânicas subtropicais de alta
tiva (ver p. 150 e 179), com as correntes dire- pressão, há uma tendência de a água se em -
cionadas aos polos adquirindo vorticidade an- pilhar contra os continentes, causando, por
ticiclónica, e as correntes no sentido equatorial, exemplo, um nível notavelmente maio r no mar
vorticidade ciclônica. no Golfo do México do que ao longo da costa
As células atmosféricas subtropicais de alta Atlântica dos Estados Unidos. A água acumu-
pressão, mais ou menos simétricas , produzem lada não consegue escapar por afundamento
giros oceânicos com centros deslocados para por causa da sua temperatura relativamente
os lados ocidentais dos oceanos no hemisfério elevada e da estabilidade vertical resultante.
norte. Os giros no Hemisfério Sul têm posição Logo, ela continua em direção aos polos, movi-
mais simétrica do que os do norte, possivelmen- da pelo fluxo de ar superficial dominante, po-
te por sua conexão com a poderosa Deriva do tencializado pe la força geostrófica que atua em
Vento Oeste. Isso, por exemplo, faz a Corren- ângulos retos em relação à inclinação da super-
te do Brasil não ser muito mais forte do que a fície oceânica . Com esse movimento, a corren -
Corrente de Benguela . A corrente mais forte do te ganha vorticidade anticiclônica, reforçando
Hemisfério Sul, a Corrente das Agulhas, nada a tendência semelhante proporcionada pelos
possui de semelhante ao caráter de corrente de ventos, levando a correntes relativamente es-
jato de seus correlatos do norte. treitas e de alta velocidade (por exemplo, as
Entre o equador e as células subtropicais correntes de Kuroshio, do Brasil, de Moçamb i-
de alta pressão , os ventos Alísios persistentes que-Agulhas e, em um grau menor, a Corrente
geram as grandes Correntes Equatoriais Norte Australiana Oriental). No Atlântico Norte, a
e Sul (ver Figura 7.29). Nos lados ocidentais configuração do mar do Caribe e do Golfo do
dos oceanos, a maior parte dessa água desvia México favorece esse empilhamento de água ,
em direção ao polo junto com o fluxo de ar e, que é liberado em direção ao polo através dos
a partir daí, cada vez mais sofre influência da Estreitos da Flórida como a particularmente
deflexão de Coriolis e do efeito da vorticida- estreita e rápida Corrente do Golfo . Essas cor -
de anticiclônica . Todavia, uma parte da água rentes para os polos são opostas por seu atri-
tende a empilhar perto do equador, pois, ali, to com as margens continentais próximas e
o efeito de Ekman está praticamente ausente, por perdas de energia por difusão turbulenta,
com pouca deflexão para o polo e sem inver - como as que acompanham a formação e libera-
são da corrente profunda. Adiciona-se a isso ção de meandros na Corrente do Golfo. Essas
um pouco da água que é deslocada para norte correntes de borda (p. ex., a Corrente do Golfo
na zona equatorial pelas circulações subtro- e a Corrente de Kuroshio) têm cerca de 100 km
picais de alta pressão do Hemisfério Sul, que de largura e alcançam velocidades superficiais
são especialmente ativas . Essa água acumu - de mais de 2 m s- i . Isso difere das correntes de
196 Atmos fera, Tempo e Clima

borda orientais mais lentas, amplas e difusas, das plataformas e as águas profundas , onde
como a Corrente das Canárias e a Corrente da ocorre convergência e subsidência .
Califórnia (com aproximadamente 1000 km de Outra carac t erística de grande escala da
largura, e velocidades superficiais de menos de circulação oceânica, análoga à atmosfera, é a
1
0,25 m s- ) . A Corrente do Golfo, que flui para onda de Rossby. Essas grandes oscilações têm
15
o norte, gera um fluxo de calor de 1,2 x 10 W, comprimentos de onda horizontais de centenas
75% do qual se perdem para a atmosfera, e 25% a milhares de quilômetros, e períodos de de -
ao aquecer a área dos mares da Groenlândia - zenas de dias. Elas se desenvolvem no oceano
-Noruega. Nos lados das células subtropicais aberto em latitudes médias na forma de cor -
de alta pressão mais próximos aos polos, pre - rentes para leste. Nas correntes equatoriais de
dominam correntes de oeste e, onde não são oeste, ocorrem as ondas de Kelvin, mais rápi -
impedidos por massas de terra no Hemisfério das e com comprimentos de onda muito longos
Sul, formam a ampla e rápida Deriva do Vento (análogas àquelas observadas na estratosfera
Oeste. Essa corrente forte, causada por ventos inferior) .
livres , ocorre dentro da zona de 50 a 65ºS e é
associada a uma superfície oceânica inclinada Me soes cala
para o sul , gerando uma força geostrófica que Vórtices e giros de mesoescala são gerados na
intensifica o fluxo. Dentro da Deriva do Ven - porção superior do oceano por diversos meca -
to Oeste, a ação da força de Coriolis produz nismos, às vezes por convergência ou divergên -
uma zona de convergência a aproximadamente cia atmosférica, ou pela liberação de vórtices
SOºS, marcada por correntes de jato submari - por correntes como a Corrente do Golfo, onde
nas de oeste que alcançam velocidades de 0,5 se torna instável, ao redor de 6SºW (Figura
a 1 m s- i . Ao sw. da Deriva do Vento Oeste, 7.30). Os vórtices oceânicos ocorrem na escala
forma-se a Divergência Antártica, que é causa - de 50-400 km de diâmetro e são análogos aos
da pela água em ascensão entre ela e a Deriva sistemas atmosféricos de alta e baixa pressão .
do Vento Leste, mais perto da Antártica . No Os sistemas oceânicos de mesoescala são mui -
Hemisfério Norte, grande parte da corrente de to menores do que as depressões atmosféricas
leste no Atlântico desvia para o norte, levando (que têm , em média, 1000 km de diâmetro ),
a temperaturas anômalas muito elevadas no andam em velocidade muito mais lenta (alguns
mar, sendo compensada por um fluxo sul de quilômetros por dia, em comparação com 1000
água fria ártica nas profundezas. Todavia, mais km por dia para uma depressão) e persistem
da metade da massa de água que compreende de um a vários meses ( comparados com o ci-
a Corrente do Atlântico Norte, e quase toda a clo de vida de uma depressão , por volta de uma
Corrente do Pacífico Norte, desvia para o sul semana) . Suas velocidades rotacionais máxi-
perto das extremidades orientais das células mas ocorrem a uma profundidade de cerca de
subtropicais de alta pressão, formando as Cor- 150 m, mas a circulação do vór tice é observa -
rentes das Canárias e da Califórnia . Seus equi - da através da termoclina ( aproximadamente
valentes no Hemisfério Sul são as Correntes de 1000 m de profundidade) . Alguns vórtices
Benguela, de Humboldt (ou do Peru) e a Cor - deslocam -se paralelamente à direção do fluxo
rente Australiana Ocidental (Figura 7.29). principal, mas muitos se movem de forma irre -
As frentes oceânicas são associadas às mar - gular rumo ao equador ou aos polos. No Atlân-
gens próximas aos polos das correntes de borda tico Norte , isso gera uma situação <~
sinótica ~ na
ocidentais. Os gradientes de temperatura po - qual até 50% da área podem ser ocupadas por
dem ser de 1OºC ao longo de 50 km horizon- vórtices de mesoescala (ver Prancha 7.4). Os
talmente na superfície, e gradientes fracos são giros ciclônicos de núcleo frio (100-300 km de
distinguidos a milhares de metros de profundi- diâmetro) são duas vezes mais numerosos do
dade. Também se formam frentes entre a água que os vórtices anticlônicos de núcleo quente
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6r ia na atmosfera e no oceano 197

40°N

---- Giros estend idos

35°N 3SºN

~
30°N
~ • - 30°N

~,
Pequenos vórtices /
--.Vórtices de mesoescala
25°N
~ ,, 2SºN

20•N
corrente 6
e.:;> ~-=..---
____
-::. Uatorial Norte

Fígura 7.30 Mapa esq uemótico do Atlôntico Nor t e oci de nta l, mostrando os principais tipos de circulação
oceân ica super f ic ial.
Fonte: Tolmazin (1985) .

(100 km de diâmetro), e têm uma velocidade profundidades de 100-300 m (Fig ur a 7.3 1). As
ro tac ional máxima de 1,5 m s- 1• Por volta de 1O taxas médias de ressurgência são baixas (1-2 mi
giros de núcleo frio são formados todos os anos dia) , quase as mesmas que as velocidades das
pela Corrente do Golfo e podem ocupar 10% correntes superficiais offshore,com as quais se
do Mar de Sargasso. equilibram. A taxa de ressurgência , portanto,
varia com o cisalhamento do vento superficial .
2 Interações de águas no oceano Como ele é proporcional ao quadrado da velo-
profundo cidade do vento, pequenas mudanças na velo-
cidade do vento podem levar a grandes varia-
Ressurgência
ções nas taxas de ressurgência. Embora a faixa
Ao contrário das correntes nos lados ociden- de ressurgênc ia tenha amplitude limitada (por
tais dos oceanos, as correntes de contorno leste volta de 200 km para a Corrente de Benguela),
no sentido do equador adquirem vorticidade o efeito de Ekman espalha essa água fria para
ciclônica, que se opõe à tendência anticiclônica oeste. Nas margens próximas aos polos dessas
do vento, levando a fluxos relativamen te amplos costas de águas frias, o desvio meridional dos
de baixa velocidade. Além disso, a deflexão cau- cinturões de vento causa uma . forte sazonalida-
sada pelo efeito de Ekman faz a água superficial de na ressurgência; a ressurgência da Corrente
se afastar das costas para oeste, levando à sua da Califórnia, por exemplo, é particularmente
substituição pela ressurgência de águas frias de definida durante o período de março a julho .
198 Atmosfer a, Tempo e Clima

Prancha 7.4 Imagem de satélite em falso cor do setor oeste do Atlân tico Norte, indicando temperaturas do 6guo
superficial de frio o quente (azul, verde, amarelo, verme lho). Os aspectos de interesse são o Co rrente do Golfo,
um meandro do Corrente do Golfo, um giro ciclônico de núcleo frio e um vórtice antic iclônico de núcleo quente.
Fonte : Dados do NOAA/NESD IS/ NCDC/SDSD . Cortesia de Ot is B. Brown, Rober t Evans and M. Car ie, Uo iversity of Miam i;
Roseo stiel School of Mar ine a nd Atmosphe ric Science, Florida .

Uma região importante de ressurgênc i a de vectiva de Walker (ver Capítulos 7C.l e llG )
águas profundas ocorre ao longo da cost a oeste que conecta o Sudeste Asiático-Indonésia com
da América do Sul (Figura 11.52), onde existe o Pacífico Sul Oriental. A cada dois anos , apro -
uma p lataforma estreita de 20 km e ventos de ximadamente , essa diferença de pre ssão se in-
leste do con t inente para o mar . O tran sporte é verte, gerando um evento de El Nifto, com o en -
em direção ao mar no s 20 m superiores , mas fraquecime nto do s ventos Alísios e um pulso de
para a praia à profundidade de 30-80 m. Esse água superfic ial quente que se espalha para leste
padrão é forçado pelo fluxo de ar para o mar , sobre o Pacífico Sul, elevando as temperatura s
norma lmente associado à grande célula con - superficiais locais do mar em vários graus .
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala planet6ria na atm osfera e no oceano 199

(A) (8) t ico Norte e em profundidades intermediárias


ao redor de 800 m. Nos mares da Noruega, Gro -
enlândia e Islândia, sua densidade aumenta pela
evaporação causada pelos ventos fortes, pela
- formação de gelo no mar , que expele salmoura
(C) (D) durante esse processo, e por resfriamento. Ex-
posta à evaporação e às gélidas massas de ar nas
altas latitudes, a água superficial resfria de 10
a 2ºC, liberando quantidades imensas de calor
para a atmosfera, complementando a insolação
solar em cerca de 25-30% e aquecendo a Europa
Figura 7.31 Ilustração esqu emó tica dos mecanismos
que causam a ressurgê ncia oceôn ica . As setas grandes
Ocidental .
ind icam a direção dominante do ve nto, e as peque- A água densa resultante nas latitudes ele-
nas, as correntes ; (A) efeit os de um ven to pers istente vadas, equivalente em volume a aproximada -
no sen tid o ferra-mor; (8) correntes superf iciais diver- mente 20 vezes a descarga combinada de todos
gen tes; (C) ascensão de corren tes profundos causado os rios do mundo, desce até o fundo do Atlân-
por elevações no assoalho oceônico; (O) movimento
tico Norte. Essa Agua Profunda do Atlântico
de Ekmo n com bloqueio cos teiro (Hem isfé rio N o rt e).
Norte (APAN ) alimenta uma corren t e para o
fonte : Mod ificado de Stowe , Ocean Sc ience , @ 1983 John
W iley & Sons , lnc. Reprodução sob perm issão .
sul, que faz parte de uma circulação global de
águas profundas, conhecida como "esteira glo-
bal,, (conveyor belt) Figura 7.32. Esse fluxo am -
As ressurgências costeiras também são
plo, lento e difuso, que ocorre a profundidades
causadas por mecanismos menos importantes,
maiores que 1500 m, é potencializado na região
como divergências em correntes superficiais ou
do Atlântico Sul/ Antártica / Mar de Weddell
o efeito da configuração do assoalho oceânico
e pela subsidência de água mais fria, salina e
(ver Figur a 7.31).
densa. A esteira global então flui para leste sob
influência da força de Coriolis, voltando para
Circulação do oceano profundo norte no Oceân ico Índico e, especialmente,
Acima da termoclina permanente, a circu la- no Pacífico. O tempo que a esteira global leva
ção oceânica é impulsionada pelo vento, em - para ir do Atlân tico Norte até o Pacífico Norte
bora, no oceano profundo ela seja movida por foi estimado em 500- 1000 anos. Nos Oceanos
gradientes de densidade devido a diferenças Pacífico e índico, uma redução na salinidade,
de salinidade e temperatura - uma circulação devido à mistura de águas, faz a esteira subir
termohalina. Essas diferenças são causadas por e formar um fluxo menos profundo de retor -
processos superficiais, que alimentam as bacias no para o Atlântico _ Assim, toda a circulação
oceânicas profundas com água fria e salina, em global ocupa aproximadamente 1500 anos . Um
compensação pela água profunda levada à su- aspecto importan te desse fluxo é que o Oceano
perfície por ressurgência . Embora a ressurgên- Pa.cífico Ocidental contém uma fonte profunda
cia em geral ocorra em áreas costeiras limitadas, de água quente no verão , 29ºC (Figura 7.33).
a subsidência predomina em duas amplas re- Esse diferencial de calor em relação ao Pacífic-0
giões oceânicas - o Atlântico Norte setentrional Oriental auxilia a fase positiva da circulação de
e ao redor de certos setores do oceano Austral Walker (ver Figura 7.22).
(p. ex., o Mar de Weddell) . A significância térmica da esteira global
No Atlântico Norte, particularmente no in - implica que qualquer alteração nela promove
verno, o aquecimento e a evaporação produzem mudanças climáticas em escalas temporais de
água quente e salina, que flui no sentido norte várias centenas ou milhares de anos. Todavia ,
perto da superfície na Corrente do Golfo-Atlân- argumenta -se que qualquer impedimento à
200 Atm osfera, Tempo e Clim a

90' 60' 'JO"V/ O" 30't 00" 90• 120' 150' 180' 150' 120"
oo·....-....- - -....---....-----.....--..-----....---......---....---....---..---..----..-----. 90·

60' - 60'

- o•

30'$

'JIJ"VI o- Jcrt oo- 90• 120· 150" 180" 12cr

Corrente ~ Ruxode 01.Jtros Zonas de Zonas de Permanente


densa e ~ retorno fluxos S subsidência R ressurgência Ressurgência { S ai
---- azon
profunda menos de de alta ooeãnlca
profundo retorno densidade

Figura 7.32 O sistema da circu lação te rm o ha lina do oceano p rof un do que levo u ao conceito de esteira
glo b al proposto po r Broecke r.
f onte ; Kerr (1988 ). Reprod uzido com perm issão de Science 239, Fig . 259 . Copyr ight @ 1988 Ame ricon Assoc iotio n fo r the
Advonceme nt of Scie nce .

ascensão da água profunda da esteira global ainda está sendo debatida . Algumas evidências
poderia reduzir as temperaturas superficiais observacionais dire tas para o papel da água
do oceano em 6ºC em 30 anos nas latitudes ao doce vêm da ·'Grande Anomalia de Salinidade "
norte de 60ºN. As mudanças na circulação da (GSA). Duran te o final da década de 1960 até
esteira global podem ser iniciadas pela redução o começo da de 1970, os 100 m superiores das
na salinidade da água superficial do Atlântico águas dos mares da Groenlândia , da Islândia e
Norte, por exemplo, pelo aumen to na precipi- de Labrador sofreram reduções na salinidade,
tação, no derretimento de gelo ou no influxo aparentemente por causa de um aumen to no
de água doce. O pape l da renovação superfi- transporte de gelo marinho (o gelo marinho
cial tem amparo em registros paleoclimáticos . tem salinid .ade muito baixa ) do Ártico para o
Existem evidências de que, durante os períodos mar da Groenlândia . A GSA causou a cessação
mais quentes do último grande ciclo glacial, a temporária da convecção oceânica, confor -
circulação termohalina foi perturbada por pul - me registrado na estação oceanográfica Bra -
sos enormes de água doce do Atlântico Norte vo (56ºN, 51°W) . Outras linhas de evidências
e da camada de gelo Laurenciana, na América indicam que esse fato estava associado a uma
do Norte, invocando períodos de rápido res- redução na intensidade do sistema da Corren te
friamento . Todavi~ a relação de causa e efeito do Golfo.
CAPÍTULO 7 Mo vim ento s em escala pla net6 ria na atm osfera e no ocea no 201

Janeiro

,.:.---- 15- -:'- l.'', ~ F---- 20


20-- ~ :.-- -~~!-- -- .2 4
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figura 7.33 Tempera tu ras méd ias da superf ície oceôn ica (ºC) paro ja neiro e julho. Uma comparação d estes
mapas com os das temperaturas méd ios do ar ao níve l do ,m o r (Figuro 2 .11) mos tro semel h anças d u rante ove-
rão, mos difer e nças sign ,ific o tivos no inverno.
fo nte : Reprod uzido de Bol1omley el a i. (1990 ) G loba l Oceon Su rfoce Tem perat u re Atlas . Com pe rm issão do Me teoro logica l
Of fice . C rown copy right @.
202 Atmosfera, Tempo e Clima

3 Os oceanos e a regulação plâncton. Os dois efeitos tenderiam a reduzir


atmosférica a absorção oceânica de C0 2, elevando a sua
concentração atmosférica, e produzindo um
A atmosfera e as águas oceânicas superficiais feedback positivo sobre (isto é, aumentando) o
estão conectadas em suas temperaturas e con- aquecimento global . Entretanto , como veremos
centrações de C0 2• A atmosfera contém menos no Capítulo 13, a operação do sistema oceano-
de 1,7% do C0 2 presente nos oceanos, e a quan- -atmosfera é complexa. Assim, por exemplo,
tidade absorvida pela superfície oceânica regu - o aquecimento global pode aumentar tanto a
la rapidamente a concentração da atmosfera. A mistura oceânica convectiva que a importação
absorção de C0 2 pelos oceanos é maior onde resultante de águas mais frias e plâncton para
a água é rica em matéria orgânica, ou onde é as camadas superficiais poderia exercer um
fria . Desse modo, os oceanos podem regular efeito de freio ( ou seja, feedback negativo) no
o C0 2 atmosférico, alterando o efeito estufa e aquecimento do sistema.
contribuindo para as mudanças climáticas. O As anomalias de temperatura no Atlântico
aspecto mais importante do ciclo do carbono Norte parecem ter efeitos acentuados no clima
que liga o oceano e a atmosfera é a diferença na da Europa, África e América do Sul. Por exem -
pressão parcial de C0 2 na atmosfera inferior e plo, as superfícies mais quentes do mar nacos -
na camada superior dos oceanos . O resultado ta noroeste da África po tencializam as chuvas
dessa diferença é que o C0 2 atmosférico é dis- de monções do verão oeste -africano; e as con -
solvido nos oceanos. Parte desse C0 2 é conver - dições secas no Sahel foram relacionadas com
tida em carbono particulado, principalmente um Atlântico Norte mais frio . Existem relações
pela atividade do plâncton, e finalmente afun- semelhantes entre as temperaturas na superfície
da para formar depósitos ricos em carbono no do mar tropical e as secas no nordeste brasilei-
oceano profundo, como parte de um ciclo que ro. A Oscilação do Atlântico Norte, a Oscilação
dura centenas de anos . Assim , dois dos prin - do Pacífico Norte e os padrões observados na
cipais efeitos do aquecimento oceânico super - região norte -americana do Pacífico, discutidos
ficial seriam aumentar sua pressão parcial de anteriormente, também envolvem interações
C0 2 de equilíbrio e diminuir a abundância de fortes entre o ar e o mar.

A mudança vertical na pressão com a altitude depende da estrutura da temperatura . Os sistemas de


alta (baixa) pressão se intensificam com a altitude em uma coluna de ar quente (frio); assim, baixas
quentes e altas frias são feições rasas . Os anticiclones subtropicais e o vórtice polar nas baixas alti-
tudes nos dois hemisfér ios ilustram essa relação de "espessura" . Desse modo, os ventos de oeste
intermediórios nas latitudes médias têm um grande componente de "vento térmico" . Eles se concen-
tram em correntes de jato na troposfera superior, acima de gradientes térmicos súbitos, como as
frentes.
O fluxo superior apresenta um padrão de ondas longas de grande escala, especialmente no
Hemisfério Norte, relacionado com a influência de barreiros montanhosas e diferenças entre mor e
terra . O campo de pressão superficial é dominado por altas subtropicais semipermanentes, baixas
subpolares e, no inverno, altas continentais frias e rasas na Sibéria e no noroeste do Canadó. A zona
equatorial é predominantemente de baixa pressão . Os cinturões de ventos globais associados são
os ventos Alísios de leste e os ventos de oeste de latitudes médias . Existem ventos polares de leste
mais var ióveis e, sobre óreas de terra, no verão, uma faixa de ventos equatoriais de oeste, represen-
tando os sistemas de monções . Essa circulação zonal (oeste-leste) média é interrompida de forma
intermitente por altas de "bloqueios atmosféricos"; uma sequência idealizada é conhecida como o
ciclo índice.
CAPÍTULO 7 Movimentos em escala pla net6ria na atm osfera e no oceano 203

A circulação atmosférico geral, que transfere calor e momento em direção aos polos, encontra-se
predominantemente em um plano meridional vertical nas ba ixas latitu des (a célu la de Hadley) , mas
também existem circulações importantes no sentido leste-oeste (células de Wa lker) entre as princ ipais
regiões de subsidência e ativ idade convect iva. As trocas de calor e momento nas latitudes méd ias e al -
tas são real izadas por ondas horizontais e vórtices (ciclones / antic iclones). Uma quant idade substancial
de energ ia também é levada em direção aos po los pelos sistemas de correntes oceõn icas. As correntes
superf iciais são movidas pr incipalmente pelos ventos , mos o circulação oceân ica profunda lenta (a
esteiro global ) se deve à forçante termohal ina.
A circulação de grande escala nas latitudes méd ias no Hem isfér io Norte est6 sujeita a variações
no intensidade dos ventos zona is de oeste, que duram de três o oito semanas (o ciclo índ ice). A var ia-
bilidade no setor atl6ntico estó fortemente associada a flutuações no grad iente de pressão norte-sul
(a Oscilação do Atlântico Norte, ou NAO ) que levam a uma "gangorra" oeste- leste na temperatura e
outras anomalias. A var iab ilidade no Pacific o pode estar associada a padrões como a Osc ilação do
Pacífico Norte (NPO) e a Oscilação Deceno l do Pacífico (PDO).
A estrutu ra vertical do oceano varia com a lat itude e a região . De fo rm a geral, a termoc lina é mais
profunda nas latitudes médias, permitindo uma mistura mais tu rbu lenta e trocos de calor atmos férico.
Os oceanos são reguladores importantes das temperaturas e dos concentrações atmosfér icas de C0 1 .
A dinômica e as caracter ísticas da circulação dos oceanos são an61ogas às encontradas na atmosfe -
ra, em escalas meso e mac ro. A camada de Ekman , mov ida pelo vento , estende -se a 100-200 m. O
transporte de Ekman e as ressurgênc ias costeiras mantêm as superf ícies do mar frias na costa oeste da
'
América do Sul e part icularmente na costa sudoeste da Africa .

• Q uais caracter ísticas dos cinturõe s globa is de vento na super fície e na troposfe ra supe rior estão de
acordo (ou diferem) com as implicadas pelo modelo de circulação mer idio nal em três células?
• Q uais são as consequências da s correntes de jato de oeste pa ra as viage ns aéreas transoceânicas?
• Ana lise a va riação da estruturo verti cal do vento zonal, cria ndo seções transve rsais para diferentes
long itudes e meses, usando o site do CDC (http :// cdc .nooa.go v}.
• Co nsidere os efe itos das correntes oceâ nicas sob re o clima das reg iões costeiras nos lados ocide ntal
e orienta l do s ocea nos At lântico e Pacíf ico e como esses efeitos variam com a latitude .

A -

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rev1sao
tem •
o e 1ma
OBJETIVOSDE APRENDIZAGEM
Depois de ler este cap ftulo, você:
• conheceró as caracter ísticas b6sicas dos modelos da circulação geral atmosférica (MCGA);
• entende r6 como são realizadas as simulações da circulação atmosfér ica e de suas característ icas; e
• estará familiarizado com as abordagens bósicas de previsão do tempo em diferentes escalas tem-

poreis.

Nas últimas quatro décadas, houve mudanças são modelados usando cinco conjuntos básicos
fundamentais em nosso entendimento do com- de equações. As equações básicas que descre-
portamento complexo da atmosfera e dos pro - vem a atmosfera são :
cessos climáticos, graças ao desenvolvimento e
1 As equações tridimensionais do movimen-
à aplicação de modelos numéricos do clima e
to (isto é, conservação do momento; ver
do tempo. Os modelos numéricos simplesmen -
Capítulo 6A,B) .
te usam relações matemáticas para descrever
2 A equação da continuidade (i.e., conservação
processos físicos. Existem muitas formas de
de massa ou equação hidrodinâmica, p. 152).
modelos do clima e do tempo, variando de sim-
3 A equação da continuidade para o vapor de
ples abordagens de balanço de energia pontual
água atmosférico (i.e ., c-0nservação do va-
a modelos tridimensionais da circulação geral,
por de água, Capítulo 4).
que tentam modelar todas as complexidades do
4 A equação da conservação de energia (i.e.,
sistema climátic-0 da Terra. Discutimos mais de-
a equação termodinâmica derivada da pri -
talhadamente o modelo da circulação geraL em
meira lei da termodinâmica, Capítulo 7F).
suas várias formas, usado para simular o clima e
5 A equação de estado para a atmosfera (p. 30).
a previsão diária do tempo.
6 Além dessas, equações de conservação para
outros constituintes atmosféricos, como os
A FUNDAMENTOS DE UM aerossóis de enxofre, podem ser aplicadas
-
MODELO DA CIRCULAÇAO em modelos mais complexos.
GERAL(MCG)
A modelagem das condições climáticas
No modelo da circulação geral, todos os proces - atuais e futuras envolve repetir as equações do
sos dinâmicos e termodinâmicos e as trocas de modelo para talvez dezenas a centenas de anos
radiação e massa abordados nos Capítulos 2-6 de tempo simulado , dependendo da questão
CAPÍTULO 8 Modelos numéricos da circulação geral, previsão do tempo e do clima 207

em foco . Para resolver essas equações conec - número de ondas bidimensionais incluídas. O
tadas , processos adicionais devem ser explica- procedimento de truncamento pode ser rom -
dos, como a transferência radiativa através da boidal (R) ou triangular (1); RIS (ou T21) cor-
atmosfera (com ciclos diurnos e sazonais) o responde aproximadamente a um espaçamento
atrito su.perficial, as transfe rências de energia de 5º na malha , R30 (T42), a 2,5º, e T102, a uma
e os processos de formação de nuvens e pre - malha de 1º.
cipitação . Elas estão conectadas da maneira O modelo da circulação geral incorpora li-
apresentada esquematicamen te na Figura 8.1. nhas de costa e montanhas realistas e elementos
Começando com um conjunto de condições essenciais da vegetação (albedo, textura) e solo
atmosféricas iniciais , em geral derivadas de ob - (teor de umidade ). Esses elementos são suavi -
servações, as equações são integradas no tempo zados para que representem o estado médio de
futuro repetidamente , usando etapas tempo - toda a célula da malha e, portanto , perdem-se
rais de alguns minutos a dezenas de minu tos, muitos detalhes regionais . A exten são de gelo
em inúmeros pontos dispos t os em uma malha marinho e as tempera turas superficiais do mar
sobre a Terra e em muitos níveis verticais da muitas vezes são especificadas por uma média
atmosfera; é comum usar 10-20 n íveis na verti- climatológica para cada mês do passado . To-
cal. A malha horizontal costuma ser da ordem davia , reconhecendo que o sistema climático
de vários graus de latitude por vários graus de é bastante interativo, a geração mais nova de
longitude, perto do equador. Outra aborda - modelos inclui algumas represen tações de um
gem, mais rápida de calcular , é representar os oceano que pode reagir a mudanças na atmos -
campos horizontais por uma série de funções fera sobrejacente . Os modelos oceânicos (Figu-
seno e cosseno bidimensionais (um modelo ra 8.2) contêm um chamado o ceano pan tanoso,
espectral). O nível de truncamento"" descreve o onde as tempera turas da superfície marinha
são calculadas por balanço de energia e que
" N. de R.T.: Truncamento é o espaçamento empregado na não possib ilita um ciclo anu al; um oceano com
m alha geográfica do MCGA. camadas de mistura, onde o armazenamento e

Radia ção sola r Balanço hídrico '



1/ •
, . Balanço de
Nuvens de 0 3 C0 2 H 20 ' • Con densação Convec ç ão
mom ento

~
• .

Evaporação
Transporte

' .

Balanç o
de ca lor
.~
Radiação
infr avermel ha
• tu rb ulento

'
..
Difus ão de ca lor Preci pitação


jGelo j Neve l Eva po ração IG! o l At rit o
'
-
-
"T"'- .. -- -i
Montanha
(Balanço de calor no solo) Temperatura

Figura 8.1 D iagramo esquemó t ico das in terações entre processos físicos em um modelo da ci rculação geral.
Fonte : Druyon et ai . {1975 ).
208 Atm osfera, Tempo e Clima

H ierarquia do modelo acop lado simulação para balancear os diferentes compo -


(A) MCG atmosfé rico
nentes do modelo, o que aumenta em muito o
custo de processamento desses modelos.
Como os MCGAO acoplados são usados
Pantanoso*-- i,._,.._
->-" "-AJO
·· '-"·->-
· ->-
.,._,•• __..•......._,_.A..
• ...,
• ....,.._,.._
• .,.__
.,..__,
• ..., -~
•• ""._,._.A.À,f ..-..,J.
-- ..... em simulações de longo prazo (escalas de sécu-
TSM para balanço de energia superficial
los ou milênios), uma preocupação importante
(B) MCG atm osférico é a "deriva do modelo " (uma tendência clara de
o modelo do clima aquecer ou resfriar com o
tempo ) devido a erros cumulativos de vários
Cam ada
. . . .. .. . . . . . . . ... . . . . . . . ! . .t dos modelos dos componentes. Essas tendên -
TSM para balanço de energia superficial
de mistura
ArmazMamento de calor cias costumam ser limitadas ao empregar clima-
(C)
tologias observadas em certos limites de altas
MCG atmosfé rico
latitudes ou do oceano profundo, ou ao ajustar
os fluxos líquidos de calor e água doce em cada
. . , } 1. ponto da malha anualmente para manter um
- ' . .. . '

·r-
• • ' .1 ..

MCG
TSM para balanço
de energia superfic ial,
t clima estável, mas esses procedimentos arbitrá -
~.
oceanico armazenamento rios estão sujeitos a controvérsias, especialmen-
de calor, advecção .
te para estudos sobre mudanças climáticas .
difusão
Muitos processos de tempo e clima impor-
Figura 8.2 Ilustração esquemótic a d os três tipos
tantes ocorrem em uma escala pequena demais
de conexõo d e um mo d elo d a circul a çã o ger a l com para serem simulados com um modelo típico
o oce a no: (A) oc ea no pa ntanoso, (B) camada d e mis- da circulação geral com uma malha de apenas
turo, oceano ch a to e (C) modelo d a circu laço o g era l alguns graus . Exemplos disso seriam os efei-
oc e ânica. tos radiativos ou o calo r latente da formação
fonte: Meeh l in Trenber th {1992 ) Copyr igh t@ Cam bridge
de nuvens ou a transferência de vapor de água
Univers ity Press .
para a atmosfera por uma única árvore. Ambos
a liberação de energia podem ocorrer sazonal- os processos afetam em muito o nosso clima e
mente; e os modelos oceânicos dinâmicos mais devem ser representados para que a simulação
complexos , que resolvem equações apropriadas climática seja realista . As parametrizações são
para a circulação e o estado termodinâmico dos métodos criados para levar em con t a o efeito
oceanos, semelhantes às equações 1-5 citadas, e médio de processos envolvendo nuvens ou ve-
que são acoplados a modelos atmosfé ricos. Es- getação sobre uma célula inteira da malha. As
ses modelos acoplados são chamados de Mode - parametrizações geralmente usam uma rela-
los de Circulação Geral da Atmosfera -Oceano ção estatística entre os valores de grande escala
(MCGAO). Quando se considera o oceano calculados para a célula da malha , de modo a
global, o congelamento/derretimento sazonal determinar o efeito do processo parametrizado.
e os efeitos do gelo marinho sobre as trocas de Na tentativa de ganhar confiança no de-
energia e salinidade também devem ser mode - sempenho dos modelos para prever estados
lados . Portanto, os modelos dinâmicos do gelo atmosfé ricos futuros, é importante avaliar o
quanto esses modelos conseguem representar
marinho , que calculam ativamente a espessura
as estatísticas climáticas atuais . O Atmosphe -
e a extensão do gelo, substituem a especificação
ric Model Intercomparison Program (AM IP)
do gelo marinho climatológico. Devido à esca-
foi criado para fazer isso, ao comparar modelos
la temporal secular das circulações do oceano
de vários centros ao redor do mundo, usando
profundo, o uso de um modelo oceân ico dinâ-
procedimen tos comuns e dados padronizados
mico exige grandes quantidades de tempo de
(sobre temperaturas na superfície do mar, por
* N. de R.T.: Oceano sem as corrente s m arinhas e sem cir- exemplo ), e ao proporcionar uma ampla docu-
culação vertical - uma simplificação da superfície oceânica. mentação sobre o desenho de mode los e os de -
CAPÍTULO 8 Modelos numéricos da circulação geral, previsão do tempo e do clima 209

talhes das suas parametrizações. Desse modo , é dem criar problemas adicionais, como resul-
possível detectar as diferenças comuns e talvez tado da necessidade de tratar corretamente as
atribur a elas um processo único para depois interações complexas en tre a. superfície do solo
abordá-las em versões futuras do modelo. A Fi- (incluindo umidade e estrutura do dossel) e a
gura 8.3 compara a média zonal da temperatura camada limite atmosfér ica, ou as interações en-
superficial simulada para janeiro e julho para tre nuvens, t rocas radiativas e mecanismos de
todos os par ticipantes do AMIP com a média precipi tação . Por exemplo, a resolução espacial
climatológica observada. As características ge- em escala fma é necessária no tratamento ex-
rais são bem representadas do ponto de vista plíci to de faixas de nuvens e chuva associadas
qualitativo, embora possa haver grandes desvios a zonas frontais em ciclones de média latitude.
en tre os modelos espec íficos . A avaliação de Tais processos exigem a represen tação detalha-
modelos exige uma análise da sua capacidade da e precisa das trocas de umidade (evaporação ,
de reproduzir a variabilidade interanual e a va - condensação ), da micro física das nuvens, dara -
riabilidade na escala sinótica, bem como as con- diação (e das interações entre esses processos ),
dições médias. Um projeto de comparação para que eram representadas como processos médios
os MCGAO, semelhante ao AMIP, encontra-se quando simulados em escalas espaciais maiores.
em implementação, chamado Coupled Model
Intercomparison Project (CMIP).
B SIMULAÇÕES POR MODELOS
Os modelos recentes incorporam uma me -
lhor resolução espacial e um tra t amento mais 1 MCG
completo dos processos físicos que antes eram
As simulações realizadas por modelos climá ti-
negligenciados. Todavia, essas alterações po-
cos são usadas para analisar possíveis climas fu -
turos ao simular cenários plaus íveis (p. ex., au -
3251"""'T--,--..----,,--,--...----,.- --,-- ..--.
mentando o C0 2 atmosférico, o desmatamento
OJF
tropical) para o futuro com o uso de represen -
o 52' 300
uttJ -- ,,,'
' tações de entradas (isto é, forçantes ), armazena -
,_ ro ;
:> 'õ , ..,, mento entre componen tes do sistema climá tico
ro 'E 275
.....
,_ ,, ,,,
Q)
n. a.
Q) . ,,,'
,' ,,
,,/ '•
• e trocas entre componentes (ver Figura 6.38 e
''
E ::,
1/) -. -~ , ,•'
:
/
''• Capítulo 11). Os períodos de tempo mostrados
~ ni 250 ,,
__,/ ' ' ,,
'\ na Figura 8.4 referem -se a:
22
~o80 60 40 20 Eq 20 40 60 80 90 1 Tempos dasforçantes. Os per íodos de tem -
N
Latitude s po característicos duran te os quais ocorrem
3251"""'T--,--..----,,- -,--...----,.---,- -....-, -, as mudanças naturais e antropogê n icas nas
JJA entradas. No caso das primeiras, podem
..---------
.gg 300 ,,
,··· :---·· ser períodos de ciclos de radiação solar ou
(tJ - ,,
~
::, 'õ
nJ
- .. ,,,'#
,,'
',,
o efeito do vulcanismo e, no caso das se-
é l: 275 - ' •
'' gundas , o período de tempo médio duran -
Q) ~ \
''\
a. ::>
t e o qual ocorrem mudanças significa tivas
E 1/) '•
\

~ ni 250 ''• nesses efeitos antropogênicos, como um


••
'• aumento no teor atmosférico de C0 2•
225 ......._....__..______..... _ ..........
_....__., _ _......_~•'
so~ ~o 40 20 Eq 20 40 ro 8000 2 Tempos de armazenam ento. Para cada
N Latitude s
compartimen to dos subsis temas atmos-
féri co e oceânico, são os tempos médios
Fígura 8.3 Compa ração de méd ias zona is de tem-
peratura par a dezembro a feverei ro e ju nho a agosto, que uma entrada de energia térmica leva
simu ladas pe los modelos do AMIP e comparadas com para se difundir e se misturar dentro do
observações (linh o espessa). compartimento. Para o subsis tema Terra ,
Fonfe: AMIP website. os tempos médios são aqueles necessários
21 O Atmosfer a, Tempo e Clima

Forçante da
radiação solar
10-1 00 .000 + anos
-

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- Estra tosfera 1 ano

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[T roposfera 1 semana

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Camada limite atmosférica 1 dia C') ::,
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Subsistema atmosférico o
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Camada de mis tura -- - Gelo marinho
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Superf íc ie de . Lagos, rios , so lo,
- -
superior 2-7 meses d ias - 100 anos gelo e neve 1 dia vegetação 11 d ias
' ' •
Camada de Geleiras em
mistura inferior 7 anos mon tanhas 300 anos
' • •
Oceano profun do 300 anos M antos de
gelo 3000 anos
Subsistema oceano Subsistema Terra
.
• Subs istema Terra -atmosfera -oceano
'

Forçante tectôn ica e geotérm ica 10-100 .000 anos

Figura 8.4 Sistema Ter ra-a t mosfe ra -o cea no mos tr a ndo te m pos de eq uilí br io estimados , com as amp los va -
riações de tempo e nvo lvendo os mecanismos fo rçan tes exte rn os solar, tect ôn ico, geoté rm ico e a ntropogêni co.
f onte : Saltzman (198 3).

para que as entradas de água atravessem permite -se que o clima evolua à medida que
cada componen te. as concentrações atmosféricas de gases -traço
aumentem a uma taxa anual especificada (um
Essas simulações são realizadas de várias
experimento tran sien te).
maneiras. Um procedimento comum é analisar
Uma questão fundamental nas avaliações
a sens ibilidade do mode lo a uma mudança es-
do aquecimento induzido pelos gases-estufa é
pecillcada em uma única variável. Isso pode en - a sensibilidade do clima global à duplicação do
volver mudanças em forçantes externas (maior / C0 2, que está projetada para ocorrer na meta -
menor radiação solar, concentrações de C0 2 at- de do século XXI, extrapolando as tendências
mosférico , camada de poeira vulcânica ), condi - atuais. As simulações dos modelos da circulação
ções de contorno (orografia, albedo superficial geral atmosférica para alterações nas condições
da terra, manto s de gelo) ou na física do modelo de equilíbrio , com um tratamen to com oceano
(modificando o esquema convect ivo ou o tra - simples , indicam um aumento na tempera tu-
tamen t o de trocas na biosfera ). Nessas simula - ra méd ia do ar superficial de 2,5 a SºC, com-
ções, permite -se que o modelo alcance um novo parando concentrações de 1 X C0 2 e 2 X C0 2
equil íbrio, e o resul tado é comparado com um nos modelos . A variação resulta, em parte , de
experimento de cont role . Uma segunda aborda - uma dependência da mudança de temperatura
gem é conduzir um experimento genuíno sobre em relação ao nível da temperatura simulado
mudanças climát icas , no qual , por exemplo , para o estado -base 1 x C0 2 e, em parte , ocorre
CAPÍTULO 8 Modelos numéricos da circulação geral, previsão do tempo e do clima 211

a partir das variações na intensidade dos meca- sentar milhares ou mesmo milhões de anos de
nismos de feeedbackincorporados nos modelos, história climática.
particularmente o vapor de água atmosférico, as
nuvens, a cobertura de neve e o gelo marinho. 3 Modelos regionais
Todavia, o uso de modelos acoplados oceano-
Em decorrência da necessidade de transferir in-
-atmosfera sugere um aquecimento superficial
formações climáticas representando médias em
de apenas l-2ºC para experimentos transientes
células com centenas de quilômetros de malha
de escala secular ou experimentos com duplica-
para escalas pontuais, onde as informações pos-
ção do C0 2 (ver Capítulo 13).
sam ser aplicadas, uma variedade de técnicas de
redução de escala foi desenvolvida e aplicada
2 Modelos ma is simples
nos últimos anos. Uma metodologia é embutir
Como os modelos da circulação geral exigem um modelo climático regional em um MCG ou
computadores extremamente potentes, foram MCGAO para uma certa região de interesse e
desenvolvidas outras abordagens de modela - usar as informações do modelo global como
gem climática. Uma variação do modelo da cir- condição de contorno para o modelo regional.
culação geral é o modelo estatístico-dinâmico, O modelo climático regional típico tem grade
no qual se analisam somente características zo- de aproximadamente 50 km de lado, propor-
nalmente médias, e as trocas norte-sul de ener- cionando uma simulação climática com maior
gia e momento não são tratadas explicitamente, resolução para uma área limitada. Desse modo,
mas são representadas de forma estatística por efeitos de pequena escala, como a topografia
meio da parametrização. Ainda mais simples local, os corpos d'água ou as circulações de im-
são o modelo do balanço de energia (EBM) e portância regional, podem ser representados
o modelo radiativo convectivo (RCM) . O mo- em uma simulação climática. Todav ia, esses
delo do balanço de energia pressupõe um ba- efeitos locais não costumam ser retransmitidos
lanço de radiação global e descreve os transpor- para o modelo maior atualmente. Além disso,
tes de energia norte-sul integrados em termos os modelos regionais têm um tratamento mais
de gradientes de temperatura para os polos; os realista . dos processos de pequena escala (p. ex.,
modelos de balanço de energia podem ser uni- ajuste convectivo), que podem levar a simula-
dimensionais (apenas variações de latitude), - mais. precisas.
çoes .
bidimensionais (latitude-longitude, com pesos
simples para terra -oceano ou geografia simpli-
C FONTES DE DADOS PARA
ficada) e até adimensionais (média para o pla-
PREVISÃO
neta). Esses são utilizados particularmente em
estudos sobre mudanças climáticas. Os modelos Os dados necessários para a previsão e outros
radiativos convectivos podem representar uma serviços são fornecidos por relatórios sinóticos
única coluna vertical globalmente média. A es- padronizados e de âmbito mundial a cada três
trutura da temperatura vertical é analisada em horas (ver Apêndice 3), e por observações se-
termos de trocas radiativas e convectivas. Esses melhantes feitas a cada hora, particularmente
modelos menos completos complementam os para auxil iar as necessidades da aviação civil.
modelos de circulação geral pois, por exemplo, As sondagens do ar em níveis elevados (em
o modelo radiativo convectivo permite estudar 00 e 12UTM), dados de satélite e outras redes
interações complexas entre nuvens e radiação especializadas, como estações de radar para
ou o efeito da composição atmosférica sobre tempo severo, proporcionam dados adicionais.
o gradiente adiabático na ausência de muitos No programa World Weather Watch, relatórios
efeitos complicadores da circulação. Os mode- sinóticos são produzidos em 4000 estações em
los mais simples também são importantes para solo e 7000 navios (Figura 8.SA). Existem por
a simulação paleoclimática, pois podem repre- volta de 700 estações fazendo sondagens do ar
212 Atm osfera, Tempo e Clima

(A)~
+

+ +
~ +

+
+ +

+
+

+ +
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+
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+ +
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-- ..
_ - __ _,__...,.,....
_____,L,i .,,-- -+
+- ---- +-- -· -- - + --

Figura 8.5 Informações sinóticas de (A) estações de solo e nav ios, e (B) estações de sondagem de níveis
superiores, disponfveis no Sistema Global de Telecomunicação do Centro Me teorológico Nocional, NOAA,
Washington, DC.
Fonte : Borry ond Corleto n {2001).

em níveis elevados (temperatura, pressão, umi - Informações meteorológ icas têm sido co-
dade e vento ) (Figura 8.SB). Esses dados são letadas operacionalmen te por satélites dos Es-
transmitidos via teletipo e rádio para centros tados Unidos e da Rússia desde 1965 e, ma is
regionais ou nacionais e para o Sistema Global recentemen te, pela Agência Espacial Europeia,
de Telecomunicação de alta velocidade, que co- pela Índia . e pelo Japão (ver Quadro 8.1). Exis-
nect a centros climáticos mundiais em Melbour - tem duas categorias gerais de satélites meteoro-
ne, Moscou e Washington e 11 centros meteoro - lógicos de órbita po lar, que fazem a cobertura
lógicos regionais para redistribuição. Em torno global du as vezes a cada 24 horas em faixas or -
de 184 nações cooperam nessa atividade, sob a bitais sobre os polos (como as séries NOAA e
égide da Organização Met eorológica Mundial. TIROS dos Estados Unidos e o Meteor da an -
CAPÍTULO 8 Modelos numéricos da circulação geral, previsão do tempo e do clima 213

8.1 Meteorologia por satélite


O lançamento de satélites meteorológicos revolucionou a meteorologia, em termos da visão qua-
se global que eles proporcionam dos sistemas meteorológicas sinóticos. O primeiro satélite meteo-
rológico transm itiu imagens em 1º de abril de 1960. Os primeiros satélites (Television and lnfrared
Observing Satellites - TIROS) carregavam sistemas com câmeras fotogróficas e, devido à sua rotação
ao redor de um eixo paralelo à superfície do Terra, fotografavam a superfície em apenas parte do tem-
po. Os tipos de imagens coletadas haviam sido previstos por alguns meteorologistas, mas a riqueza
de informações excedeu as expectativas. Foram criados novos procedimentos para interpretar caracte-
rísticos de nuvens e de sistemas sinóticos e de mesoescalo. As imagens de satélites revelaram vórtices
em nuvens, correntes de jato e outros sistemas de mesoescala que eram grandes demais para serem
vistos por observadores no solo e pequenos demais para serem detectados pelas redes de estações
sinóticas. A Transmissão Automática de Imagens (APT) para estações no solo começou em 1963 e logo
estava em uso em ambito mundial para a previsão do tempo. Em 1972, o sistema foi atualizado para
proporcionar imagens de alta resolução (HRPT}.
Nos Estados Unidos, os satélites meteorológ icos operacionais em órbita polar foram seguidos
em 1966 por satél ites geoestacionários heliossincrônicos posicionados em pontos fixos nos trópicos.
Eles forneciam imagens de um disco amplo da Terra em intervalos de 20 minutos, proporcionando
informações valiosas sobre o desenvolvimento diurno dos sistemas de nuvens e meteorológicos. Os
Geostationary Observational Environmental Satellites (GOES) dos Estados Unidos foram posicionados
o 75°W e 135°Wa partir 1974 e, em 1977, o Geoestotionory Meteorologicol Satellite (GMS) japonês e
o Meteosot europeu foram adicionados a 135°E e 0° de longitude, respectivamente. A Índia deu início
à série lnsat em 1983, posicionada atualmente a 93,SºE .
Os primeiros sistemas fotográficos foram substituídos em meados da década de 1960 por sen-
sores radiométricos nos comprimentos de onda visível e infravermelho . Inicialmente, eram sensores
de banda larga com resolução espacial moderada. Em seguida, sensores de banda estreita com mais
resolução espacial os substituira .m; o Advanced Very High Resolution Radiometer (AVHRR), com 1,1 km
de resolução e quatro canais, foi implementado em 1978. Outro avanço importante ocorreu em 1970,
com a primeira recuperação de perfis da temperatura atmosférica de um satélite Nimbus. Em 1978,
entrou em funcionamento um sistema operacional para sondagem de perfis de temperatura e umida-
de (o High-resolution lnfrored Radiation (HIRS)), seguido por um sistema baseado no GOES em 1980.
Atualmente, os dados de satélite são coletados e trocados rotineiramente entre o NOAA nos Es-
tados Unidos, o Agência Europeia de Satélites Meteorológicos (Eumetsat) e o Agência Meteorológica
Japoneso (JMA}. Também existem estações receptoras no solo em mais de 170 países coletando a
transmissão
, de imagens dos satélites da NOAA . Os dados de satélites coletados pela Rússia, Ch ina e
lndia são usados principalmente nesses países.
Existe uma vasta gama de produtos operacionais disponíveis a partir de satélites da NOM e do
Defense Meteorological Satellite Program {DMSP) do Departamento de Defesa. Os satélites da série
DMSP têm órbita polar. Eles fornecem imagens a partir de 1970 e produtos digitais a partir de 1992.
Os satélites Ni ,mbus da NASA e do Earth Observing System {EOS) proporcionam muitos outros produ-
tos para pesquisa, incluindo gelo marinho, índices de vegetação, componentes do balanço energético,
quantidades de chuva tropical e ventos superficiais.
As descrições dos dados de satélite disponíveis podem ser encontradas nos endereços http://lwf.
ncdc.naa.gov/oa/satellite/satelliteresources.htm l; http://eospso.gsfc.nasa.gov/;http://www.eumetsat.de/

Referências
Purdom, J. F. W. ond Menze l, P. 1996. Evolut ion of sote llite observotions in lhe United Stoles ond the ir u se in meteoroiogy,
in Flem ing, J. R. (ed .) Histo rico l Essoys on Meteoro logy 1919 1995, Amer . Me t. Soe ., Boston, MA, pp . 9 155 .
214 Atmos fera, Tempo e Clima

tiga União Soviética); e os satélites geossincrô- D PREVISÃONUMÉRICA


nicos (como o Geostationary Operational Envi-
ronmental Satellites (GOES) e o Meteosat), que Também existem diversos tipos de modelos de
fazem uma cobertura repetitiva (30 minutos) de circulação geral aplicados operacionalmente
quase um terço da superfície da Terra em lati- à previsão diária do tempo nos centros ao re-
tudes médias (Figura 8.6). Informações sobre dor do mundo . A previsão do tempo moderna
a atmosfera são coletadas como dados digitais não foi possível até que as informações mete-
ou leituras visíveis diretas e imagens de infra- orológicas pudessem ser coletadas, reunidas e
vermelho da cobertura de nuvens e temperatu- processadas rapidamente. O primeiro avanço
ra da superfície do mar, mas também na forma veio na metade do século XIX, com a invenção
de perfis da temperatura global e umidade ao da telegrafia, que pe rmitiu a análise imediata
longo da atmosfera, obtidos a partir de sensores de dados meteo rológicos com a produção de
de infravermelho e microondas em multicanais, cartas sinót icas. Essas foram apresentadas pela
que recebem a radiação emitida de níveis espe - primeira vez na Grã-Bretanha na Grande Exi-
cíficos na atmosfe ra. Além disso, os satélites têm bição de 1851. As tempestades severas e a per-
um sistema de coleta de dados (DCS) que trans- da de vidas humanas e de patrimônio levaram
mite dados sobre diversas variáveis ambientais ao desenvolvimento da previsão do tempo na
de plataformas de solo ou boias oceânicas para Grã- Bretanha e América do Norte nas décadas
os centros de processamen to; o satélite GOES de 1860-1870. As sequênc ias de mudanças do
pode transmitir imagens de satélite processadas tempo foram correlacionadas com os padrões
em fac-símile, e os satélites orbitais polares da espaço-temporais de pressão barométrica por
NOAA têm um sistema de transmissão automá - profissionais como Fitzroy e Abercromby, mas
tica de imagens (APT) utilizado em aproxima- ainda levou tempo até que se criassem modelos
damente 1000 estações ao redor do mundo. teóricos de sistemas meteorológicos, especial-

Oº 20º 60 ° 100° 180 ° 140 ° 20 ° 0°

\ IV-A
IV- 8

,~ --- -,
Guam
Goesoeste ~ I r.--- ~eos;i..

EUA - ESA- \
j

0° 20 ° 60° 100° 140° 180 ° 140 ° 100° 60° 20 º 0°

Figura 8.6 Cobertura de satélites geoes toc ionórios e óreas de cole ta de da d os do WMO (óreas retangulares
e número s).
Fonte : Cortes ia NOAA .
CAPÍTULO 8 Modelos numéricos da circulação geral, previsão do tempo e do clima 215

mente o modelo da depressão de Bjerknes (ver atmosfera (ver Figur a 6.7). Portanto, pequenos
Figura 9.7). erros causados por limitações na observação
As previsões são consideradas perspectivas podem ter um efeito considerável na correção
de curto prazo (até três dias), médio prazo (até da análise.
14 dias) e longo prazo (mensal ou sazonal). As Os métodos de previsão numérica do tem-
duas primeiras, atualmente, podem ser conside- po (PNT) desenvolvidos na década de 1950
radas juntas, pois sua metodologia é semelhante usam uma abordagem menos direta . Os pri-
e, graças ao aumento no poder de computação, meiros desenvolvimentos pressupunham uma
estão se tornando menos distinguíveis como ti- atmosfera barotrópica de um nível com ventos
pos separados de previsão. geotróficos e, assim, sem convergência ou di-
vergência. Podia-se prever o movimento dos
1 Previsões de curto e médio sistemas, mas não as alterações na sua inten-
prazo sidade. Apesar das grandes simplificações en-
volvidas no modelo barotrópico, ele era usado
Durante a primeira metade do século XX, as para prever padrões de contorno de 500 mb. As
previsões de curto prazo baseavam-se em prin- técnicas mais novas empregam modelos baro-
cípios sinóticos, regras empíricas e na extrapo- clínicos com múltiplos níveis, e contemplam
lação de mudanças de pressão. O modelo de os efeitos friccionais e outros efeitos; assim, os
Bjerknes do desenvolvimento de ciclones para mecanismos básicos da ciclogênese são expli-
latitudes médias e conceitos simples do tempo cados . É importante observar que os camposde
tropical (ver Capítulo 9) serviam como as fer- variáveis contínuas, como pressão, vento e tem-
ramentas básicas do previsor. A relação entre o peratura, são manipulados, e que as frentes são
desenvolvimento de baixas e altas superficiais e características consideradas secundárias e deri-
a circulação em níveis superiores foi trabalha- vadas. O vasto aumento no número de cálculos
da durante as décadas de 1940 e 1950, por C-G. que esses modelos realizam exigiu uma nova
Rossby, R. C. Sutcliffe e outros, proporcionando geração de supercomputadores para permitir a
as bases teóricas para a previsão sinótica. Desse preparação de mapas de previsão a fim de nos
modo, foi possível prever a. posição e as inten- manter suficientemente à frente das alterações
sidades das células de baixa e alta pressão e de do tempo!
sistemas frontais . As práticas de previsão nos principais cen-
Desde 1955, nos Estados Unidos - e em tros nacionais de previsão do tempo ao redor
1965, no Reino Unido - as previsões de rotina do globo são basicamente as mesmas. Como
baseiam-se em modelos numé ricos, que preve- exemplo do uso operacional de modelos de
em a evolução de processos físicos na atmosfera previsão do tempo, discutimos os métodos e
por determinações da conservação de massa, procedimentos do National Centers for Envi-
energia e momento. O princípio básico é que o ronmental Prediction (NCEP) em Washington,
aumento ou a queda na pressão superficial está DC, estabelecidos em 1995. O NCEP atual-
relacionado com a convergência ou divergên- mente mantém um modelo espectral global em
cia de massa, respec tivamente, na coluna de ar operação. O modelo Global Forecast System
sobrejacente. Esse método de previsão foi pro- (GFS) (antes conhecido como previsão AVN/
posto inicialmente por L. F. Richardson, que, MRF de médio prazo para a aviação) tem um
em 1922, fez um laborioso cálculo para testá- truncamento espectral de TI70 (uma malha
-lo, obtendo resultados muito insatisfatórios . de aproximadamente 0,7 x 0,7 grau), 42 níveis
A principal razão para essa falta de sucesso foi verticais com espaçamento desigual para sete
que a convergência ou divergência líquida em dias . O truncamento é aumentado para T62,
uma coluna de ar é um termo residual peque- com 28 níveis para 15 dias. Deve-se observar
no, comparado com os grandes valores de con- que, em geral, o tempo de computação exigido
vergência e divergência em diferentes níveis da diminui várias vezes quando o espaçamento da
216 Atmos fera, Tempo e Clima

malha é dobrado. Para produzir uma previsão, do que as típicas "pancadas e períodos limpos"
como condição inicial para o modelo, deve-se ou "pancadas esparsas». O procedimento para
primeiramente gerar uma análise das condições preparar uma previsão do tempo está setor-
meteorológicas observadas atualmente . Algorit- nando muito menos subjetivo, embora, em
mos sofisticados para a assimilação dos dados situações de tempo complexas, a habilidade
usam inúmeros dados observacionais de uma do meteorologista experiente ainda faça da
variedade de plataformas (estações de superfí- técnica tanto uma arte quanto uma ciência.
cie, rawinsondas, navios, aviões, satélites), me- Previsões regionais ou locais minuciosas so-
didos em intervalos irregulares no espaço e no mente podem ser feitas dentro do modelo da
tempo e que se fundem em uma única imagem situação de previsão geral para o país e exigem
coerente das condições atmosféricas atuais para que o previsor tenha conhecimento detalha-
níveis de pressão padronizados e em intervalos do sobre a topografia ou outros efeitos locais
regulares na malha. Depois disso, as equações possíveis. A média desses conjuntos é usa.da
do modelo são integradas para o futuro a partir para a previsão de curto prazo. Os produtos da
desse ponto de partida. análise primária gerados a cada seis horas são
O GFS hoje faz 17 simulações quatro ve - pressão ao nível médio do mar, temperatura e
zes por dia, as quais são quase idênticas, ex- umidade relativa a 850 mb e 700 mb, respecti-
ceto por pequenas diferenças nas condições vamente, velocidade do vento a 300 mb, espes -
iniciais. A repetição de previsões numéricas, sura da camada de 1000-500 mb e vorticidade
incorporando pequenas diferenças nas condi - a SOOmb.
ções iniciais, permite contabilizar, em termos O NCEP também calcula conjuntos de
de probabilidades , os efeitos de incertezas nas previsões de médio prazo a partir das 17 simu-
observações, as imprecisões nas formulações lações do modelo realizadas a cada intervalo.
dos modelos e a natureza "caótica» do com - Por exemplo, a probabilidade de que a quanti -
portamento atmosférico. Erros em previsões dade de precipitação para 24 horas alguns dias
numéricas ocorrem por causa de diversas fon - adiante exceda um determinado limiar pode
tes . Uma das mais sérias é a precisão limitada ser calculada contando o número de simula -
das análises iniciais, por conta de deficiências ções do modelo em que o valor é ultrapassa-
nos dados. A cobertura sobre os oceanos é es- do em uma certa célula da malha. Essa é uma
parsa, e apenas um quarto dos relatórios pos - estimativa bruta da probabilidade, pois 17 si-
síveis de navios pode ser recebido dentro de 12 mulações não podem cobrir todos os cenários
horas; mesmo sobre a terra , mais de um terço meteorológicos possíveis, devido à incerteza
dos relatórios sinóticos chega a sofrer atrasos nas condições iniciais e na formulação do mo-
de mais de seis horas. Todavia, as informações delo. As previsões atuais são feitas como uma
derivadas de satélites e a instrumentação nos perspectiva de 6-10 dias e de 8-14 dias para o
aviões comerciais preenchem as lacunas nas quanto a temperatura e a precipitação se afas-
observações realizadas em níveis superiores tam do normal.
da atmosfera . Outra limitação é imposta pela Para calcular previsões com detalhes mais
resolução horizontal e vertical dos modelos e regiona is, o NCEP utiliza um modelo "eta" de
pela necessidade de parametrizar processos área limitada, que faz previsões para até 84 ho-
menores que a malha, como a convecção em ras, apenas para a América do Norte. Como
nuvens cumu lus. A natureza pequena da esca- todos os modelos meteorológicos operacionais,
la do movimento turbulento da atmosfera tor- o eta está em um ciclo contínuo de aperfeiçoa-
na alguns fenômenos meteorológicos imprevi - mento e redesenho. Atualmente, porém, o mo-
síveis, por exemplo, as posições específicas de delo eta tem uma malha com espaçamento de
células de pancadas de chuva em uma massa 12 km e 60 camadas verticais. Usa-se uma coor-
de ar instável . É impossível obter uma maior denada vertical especializada para lidar com as
precisão para as previsões para o dia seguinte mudanças súbitas na topografia que um modelo
CAPÍTULO 8 Modelos numéricos da circulação geral, previsão do tempo e do clima 217

de alta resolução encontra. O eta tem variáveis da. data. O US Weather Service também usa
semelhantes às do GFS. modelos numéricos para prever a evolução do
Como uma previsão do tempo típica, mes- El Nino-Oscilação Sul, que é importante para
mo nos modelos regionais de maior resolução, previsões de longo prazo, discutidas a seguir.
deve representar uma média sobre uma gran- Eventos especiais, corno os Jogos Olímpicos ,
de célula da malha, as condições reais em um começam a empregar previsões numéricas do
determinado ponto dentro dessa célula geral- tempo regularmente em seus preparativos e a
mente não são previstas de forma acurada . Os usar modelos regionais criados para ter a má-
previsores sempre aplicam as informações dos xima precisão possível no ponto específico de
modelos subjetivamente para fazer previsões interesse.
em um ponto específico, usando a sua própria
experiência de como as informações dos mo- 2 Previsão imediata (nowcasting)
delos estavam sujeitas a certas circunstâncias
O tempo severo costuma ser efêmero ( <2 ho-
no passado (isto é, uma avaliação subjetiva dos
ras) e, devido ao seu caráter de mesoescala
vieses do modelo). Uma tentativa de tornar
mais objetivo esse uso localizado de informa - ( <100 km), afeta áreas locais/regionais, neces-
ções se chama model output statistics (MOS), e sitando de previsões para locais específicos.
as condições reais do tempo em estações mete- Nessa categoria estão tempestades, enxurra-
orológicas específicas são previstas atualmente das, frentes com rajadas de ventos, tornados ,
com o uso dessa técnica. A MOS pode ser ventos fartes, especialmente ao longo de cos-
aplicada a qualquer modelo e visa a interpolar tas, sobre lagos e montanhas, neve e precipita-
objetivamente os resultados de modelos para ção conge lada. Os modelos de mesoescala com
uma única estação, com base em sua história células que possam ter menos de 10 km de ma-
climática e meteorológica . Foram criadas várias lha são usados para estudar esses fenômenos
equações de regressão para relacionar o tempo detalhadamente. O desenvolvimento de redes
meteorológico real observado em uma estação de radar (Prancha 7.2), de novos instrumentos
ao longo do tempo com as condições previstas e de conexões de telecomunicação de aJ.tavelo-
pelo modelo. Com uma história suficiente- cidade proporciona um meio de emitir avisos
mente longa, a MOS pode fazer uma correção de tempo severo para a próxima hora. Vários
para efeitos locais que não são simulados e para países criaram sistemas de satélite e radar re-
certos vieses do modelo . As variáveis usadas na centemente, de modo a fornecer informações
MOS são temperatura máxima/mínima diária, sobre a extensão horizontal e vertical de tem-
probabilidade de ocorrência de precipitação e pestades, por exemplo. As redes de estações
quantidade de precipitação em 12 horas, pro - meteorológicas automáticas (inc luindo boias)
babilidade de chuva congelada ocorrência de que medem o vento, a temperatura e a umi-
tempestades, cobertura de nuvens e ventos su- dade comp lementam esses dados . Além disso ,
perficiais. para dados detalhados sobre a camada limi te e
Diversos tipos de previsões especializadas a troposfera inferior, existe atua lmente uma va-
também são feitos regularmente. Nos Estados riedade de sondas verticais, incluindo sondas
Unidos, o National Hurricane Center em Mia- acústicas ( que medem a velocidade e direção
mi é responsável por fazer previsões de mu- do vento a partir de ecos criados por vórtices
danças na intensidade de furacões, bem como térmicos), e um radar especializado (Doppler)
o caminho que a tempestade seguirá no Atlân- que mede ventos em dias limpos pelo retorno
tico e em áreas do Pacífico leste . As previsões de insetos (radar com 3,5 cm de comprimento
são divulgadas para 72 horas e quatro vezes por de onda) ou por variações no índice refratário
dia . O Central- Pacific Hurricane Center rea- do ar (radar com 10cm de comprimento de
liza previsões semelha .ntes para tempestades a onda). As técnicas de nowcasting usam com-
oeste de 140ºW e leste da linha internacional putadores e sistemas de análise de imagens
218 Atmos fera, Tempo e Clima

altamente automatizados para integrar dados detalhes, podem , sob certas circunstâncias, ser
de uma variedade de fontes rapidamente . A in - mais prováveis do que outros . Um importante
terpretação visual dos dados e das imagens exi - avanço recente nas previsões de longo prazo
ge pessoal capacitado e/ou programas amplos é o entendimento de que o El Nino-Oscilação
para proporcionar as informações apropriadas. Sul tem efeitos estatís t icos documentados em
Alertas rápidos sobre os riscos causados pelo muitos locais do globo. Para cada El Nino ou
cisalhamento e por rajadas de vento em aero - La Nina, em geral não é realista prever maior /
portos representam um exemplo da importân- menor precipitação em grande parte do planeta,
cia dos procedimentos de nowcasting. mas muitas regiões apresen tam uma tendênc ia
De modo geral, pode -se esperar que os est atística para mais ou menos prec ipitação ou
maiores benefícios dos avanços na previsão temperaturas mais altas /mais baixas, dependen -
ocorram na aviação e na indústria de geração do da fase do ENSO. As previsões de longo pra-
de eletricidade para previsões com menos de zo utilizam essas relações estatísticas.
seis horas de antecipação; nos transportes, na O ENSO tem uma periodicidade razoavel-
construção e na manufatura para previsões de mente regular , permitindo a capacidade de pre -
12-24 horas; e na agricultura para previsões de ver mudanças de fase com base na climatologia .
dois a cinco dias . Em termos de perdas econô - Diversos modelos dinâmicos também tentam
micas, a última categoria é a que mais poderia prever a fase futura do ENSO, embora não te -
se beneficiar com previsões mais confiáveis e nham sido muito mais exitosos do que o conhe-

precisas. cimen to da climatologia. Atualmente, a fase do
ENSO é o fator mais impo rtan te nas previsões
3 Perspectivas de longo prazo de longo prazo.
O sistema oceano -atmosfera é um sistema não O NCEP dos Estados Unidos exemplifi -
linear (caótico) que impossibilita fazer previ - ca como a metodologia é usada globalmente .
sões exatas de longo prazo para eventos me - Hoj~ o centro faz previsões de 30 dias e previ -
teorológicos individuais . Pequenos erros nas sões sazonais de três meses , com até um ano de
condições iniciais usadas para começar uma antecipação . As principais informações usadas
simulação invariavelmente crescem em magni - nessas previsões são a fase do ENSO, a histó -
tude e escala espacial, e o planeta inteiro será ria climática recente e prolongada, o padrão de
logo afetado por um pequeno erro de observa - umidade no solo (que pode afetar a tempera -
ção em um único ponto. Portanto, a previsão tura e precipitação em um futuro distan te) e
do tempo de longo prazo e a previsão climáti - uma variedade de 20 simulações do MCG com
ca não tentam prever eventos meteorológicos temperaturas da superfície do mar obtidas com
individuais, pois certamente estariam erradas . uma simulação do MCGAO para o período.
Em vez disso , elas tentam representar as esta - Essas informações são usadas para gerar uma
tísticas do clima, e não do tempo local, e são variedade de índices, que preveem a probabili-
associadas a probabilidades baseadas em rela - dade de três categorias igualmente prováveis de
ções estatísticas . temperatura (quase normal, acima /abaixo da
Assim como a previsão numérica em es- normal) e precipitação (quase média, acima /
calas temporais mais curtas, as perspectivas de abaixo da mediana) (ver Figuras 8.7 e 8.8), com
longo prazo (mensais e sazona is) usam uma tabelas para muitas cidades . A Figura 8.8A ilus-
combinação de abordagens dinâmicas e esta - tra o campo de altura observado corresponden -
tísticas para avaliar a probab ilidade de certas te à Figura 8.7A para fevereiro de 200 7, mos-
situações meteorológicas . As previsões de lon - trando que o padrão é bem representado no
go prazo baseiam -se na ideia de que certos ti - mapa de previsão . As Figuras 8.8B e C mostram
pos de clima, apesar de imprevisíveis em seus que , nesse caso, como é comum , as previsões
CAPÍTULO 8 Modelos numéricos da circulação geral, previsão do tempo e do clima 219

(A) Fev 2007 (B) Fev 2007


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f(gura 8.7 Previsões do tempo mensais e sazonais nos Estados Unidos poro: (A) fevereiro de 2007 (tempe-
ratura no fina I de janeiro); (B) fevereiro de 2007 (precipi tação no final de janeiro); (C) fevereiro, março, abril
(temperatura no final de janeiro); (D) fevereiro, março, abril (precipitação no final de janeiro). Previsões para
quatro classes: normal (N), acima do normal (A), abaixo do normal (BJ e chances iguais para normal, acima do
normal e aba ixo do normal (CI).
Fonfe : Co rtesia de NOAA.
220 Atmosfera, Tempo e Clima

(A) Fev 2007 (B) Fev 2007


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Figura 8.8 Observações mensais e sazonais do tempo para os comparações feitas na Figura 8.7: (A) te mpe-
ratura em fevereiro de 2007; (8) precipi tação em fevereiro de 2007; (C) temperatura em fevereiro, março, abril;
(D) precip itação em fevere iro, março, abril. Para os mapas de temperatura, vermelho signif ica acima da média,
e azul, aba ixo da médio, correspondendo às cores da Figura 8.7. De maneiro seme lhante, paro os mapas de
precip itação, verde sign ifica acima do médio, e marrom, abaixo da méd io . Observe que os previsões de te mpe-
ratura poro um mês são muito ma is acuradas do que as previsões de precipitação, e que as previsões poro as
duas varióveis degradam poro o período de três meses.
Fo nt e : Cortesia de NOAA .
CAPÍTULO 8 Mode los numéricos da circulação geral, previsão do tempo e do clima 221

da temperatura são mais confiáveis do que as estima os efeitos do ENSO, definindo se uma
da precipitação . La Nifia, wn El Niiío ou condições neutras são
Uma técnica estatística chamada análise previs tas para o período de interesse e, levando
correlaciona i canônica usa todas as informa - em conta se existe con fiança de que essa fase do
ções citadas para gerar perspectivas de longa ENSO ocorrerá realmente . Outro índice prevê a
duração . Alturas de 700 mb simuladas, pa- temperatura e precipitação futuras com base na
drões globais de TSM, temperatura e preci- persistência ao longo dos últimos 10-15 anos.
pitação superficiais p ara o ano passado nos Essa medida enfatiza tendênc ias e regimes de
Estados Unidos são usados para inferir os longo prazo. Um terceiro índice secundário é
padrões preferenciais p ossíve is. O his tórico uma previsão análoga construída a parti r de pa -
de temperatura e precipitação fornece infor - drões de umidade do solo.
mações sobre a persis t ência e as tendências A capacid ade de fazer previsões para pers -
ao longo do ano . O ENSO é enfatizado nes ta pectivas de longo prazo ainda é limi tada. Para
análise, mas são significa t ivos ou tros modos todas as medidas , a capacidade de prever a tem -
naturais de variabi lidade, como a Oscilação pera tura é maior do que para a precipitação . As
do Atlântico Norte . previsões de precipitação geralmente apresen -
As análises secundárias, que usam variá - tam pouca precisão , a menos que haja um forte
veis predi tivas individuais, se tornam mais ou El Nifio ou La Nifia. As perspec tivas de tempe -
menos úteis do que a análise correlacionai em ratura se mostram mais precisas no final do in-
circuns tâ.ncias distintas . A anál ise compos ta verno e no final do verão .

Tipos variados de modelos numéricos são usados para estudar os mecanismos da circulação atmosfé-
rica, os processos climóticos e a previsão do tempo. Entre eles, estão mode los de coluna vertical para
processos radiativos e convectivos, modelos uni e bidimensionais do balanço energético e modelos
tridimensionais completos de circulação geral (MCG), que podem ser acoplados a modelos do oceano
e do gelo marinho ou a modelos climóticos regionais . Embora tenham sido desenvolvidos inicialmente
para a previsão do tempo, esses modelos hoje são muito utilizados para estudar anomalias clim6ticas
e mudanças passadas e futuras no clima global. Esses usos exigem o acoplamento de modelos gerais
da circulação atmosférica e oceânica e o representação de processos superficiais do gelo e da terra.
As previsões são fornecidos paro diferentes escolas temporais, e os técnicas envolvidos diferem
consideravelmente. As "nawcasts" imediatas baseiam-se em dados atuais de radar e satélite. As previ-
sões de curto e médio prazo hoje são derivados de modelos numéricos, com orientação estatística, ao
passo que as previsões de longo prazo usam modelos numéricos de maneira probab ilístico.

• Q ue tipos de experim entos rea lizados com um mode lo clim6t ico globa l não podem ser ob servado s
na nat ureza?
• Q uais são alg uns dos prob lemas encont rado s ao avaliar os resultad os de expe rimentos com ,mode-
los de circulação gera l?
• Considere os diferentes conceitos e metodo log ias usados para prever o tempo meteor ológ ico em
escala s tempo rais de algum as horas, pa ra o dia seguinte e pa ra a semana seguinte .
222 Atmosfera, Tempo e Clima

REFERÊNCIASE SUGESTÃODE Websites


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istemas
sinóticos e e
mesoesca a em
• , •
at1tu esme 105

OBJETIVOSDE APRENDIZAGEM
Depois de ler este capftulo, você:

• entenderá o conceito de massa de ar, as características das principais massas de ar e sua ocorrência
geográfica;
• conhecerá os mecanismos da frontogênese e os diversos tipos frontais;
• entenderá as relações entre processos superiores e superficiais na formação de ciclones frontais;
• conhecerá os principais tipos de ciclones não frontais e como eles se formam; e
• estar6 familiarizado com o papel dos sistemas convectivos de mesoescala em tempo severo.

Este capítulo analisa as ideias clássicas sobre as perfil vertical, conforme mostra a Figura 9.1, as
massas de ar e seu papel na formaç .ão de limi- isóbaras e as isotermas são paralelas.
tes frontais e no desenvolvimento de ciclones Três fatores determinam a natureza e o
extratropicais, bem como discute as limitações grau de uniformidade das características das
dessas ideias e modelos mais recentes desiste- massas de ar: (1) a. natureza da área-fonte onde
mas meteorológicos de média latitude; também a massa de ar obtém suas qualidades originais;
são abordados sistemas de mesoescala em lati- (2) a direção do movimento e as mudanças que
tudes médias. O capítulo conclui com uma bre- ocorrem à medida que uma massa de ar percor-
ve visão geral sobre fenômenos meteorológicos re longas distâncias; e (3) a idade da massa de
severos. ar. As massas de ar são classificadas com base
em dois fatores principais . O primeiro é a tem-
peratura, envolvendo ar ártico, polar e tropical,
A O CONCEITO DE MASSA DE AR
e o segundo é o tipo de superfície em sua região
Uma massa de ar é definida como um grande de origem, envolvendo categorias marítimas e
corpo de ar, cujas propriedades físicas (tem- continentais.
peratura, teor de umidade e gradiente de tem-
pe ratura) são mais ou menos uniformes hori-
B A NATUREZA DA ÁREA- FONTE
zontalmente por centenas de quilômetros . O
ideal teórico é uma atmosfera barotrópica,onde A ideia básica sobre a formação de massas de
superfícies de pressão constante não são cru- ar é que trocas radiativas e turbulentas de ener-
zadas por superfícies isostéricas (de densidade gia e umidade entre a superfície continental ou
constante), de modo que, em um determinado oceânica e a atmosfera geram propriedades fí-
CAPÍTULO
9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 225

km t---- de convergência para as quais avançam as mas-


10
sas de ar (ver F, neste capítulo).
A seguir, discutiremos as principais massas
de ar frias e quentes .
T2
Ar
5
i3
quente
Ar
T2 1 Massas de ar frio
f rio
T3
T., As principais fontes de ar frio no Hemisfério
Superfície i.,i
Norte são: (1) os anticiclones continentais da
Sul f.- 100· -~·
200 km
500- lOOOkm ., Norte Sibéria centro-oriental e do norte do Canadá,
onde se formam massas de ar polar continen tal
F[gura 9,1 Seção transversal esquemático poro o (cP ), e (2) no oceano Ártico, quando predo-
Hemisfério No rte, mostrando mossas de ar borotró- mina a alta pressão no inverno e na primavera
picas e uma zona fron ta l boroclínica (supondo que a
(Figura 9.2). As vezes, o ar do oceano Ártico
densidade apenas diminui com a a ltitu de ).
é designado como Ártico continental (cA),
mas as diferenças entre massas de ar cP e cA
sicas características no ar sobrejacente por pro - se limitam principalmente à troposfera média e
cessos de mistura vertical. Será alcançado um superior, onde as temperaturas são mais baixas
grau de equilíbrio entre as condições superfi- no ar cA.
ciais e as propriedades da massa de ar sobreja- As regiões-fo nte dessas duas massas de ar
cente se o ar permanecer sobre uma determina- cobertas de neve levam a um acentuado res -
da região geográfica por um período de três a friamento das camadas inferiores (Figura 9.3).
sete dias. As principais regiões -fonte de massas Como o teor de vapor do ar frio é muito limi -
de ar são necessariamente áreas de um tipo de t ado, as massas de ar geralmente têm uma ra-
superfície amplo e uniforme, cobertas por sis- zão de mistura de apenas O,1-0,5 g/kg perto da
temas de pressão semiestacionários. Esses re- superfície. A estabilidade produz ida pelo efeito
quisitos são satisfeitos quando existe um fluxo do resfriamento superficial impede a mistura
divergente lento a partir das principais células vertical, de mod .o que o resfriamento ocorre
de alta pressão térmicas e dinâmicas. Em con- mais lentame nte , devido apenas a perdas por
trapartida, as regiões de baixa pressão são zonas radiação. O efeito desse resfriamento radia .-

{A) (B)

90' E

180"

Figura 9.2 Massas de ar no inverno: (A) Hemisfério Norte e (B) Hemisfério Sul.
Fontes : {A) Adaptado de Pettersse n (1950 ) e Crowe (1965}; (8) Adaptado de Toljoord et oi. (1969) e Newton (1972).
226 Atm osfera, Tempo e Clim a

450

500 /

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550
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950 'l.:
1000 /

Figura 9.3 Estruturo vertica l méd io do temper atu ra para massas de a r selecion ada s que afeta m a Am érica do
Nor te a aproximadament e 45-SOºN, registrad as sobre suas óreas-fonte ou sobre a Amé rica do Norte no inverno.
Fo nt e : Ada ptado de Godsan {1950 ), Showalter (1939 ) e Willett.

tivo e a tendência de subsidência das massas 2 Massas de ar quente


de ar em regiões de alta pressão combinam-se
Elas têm origem nas células de alta pressão sub-
para produzir uma . forte inversã .o térmica da
tropicais e, durante a estação de verão, nos cor-
superfície até aproximadamente 850 mb no ar
pos de ar quente superficial que caracter izam o
cA ou cP típicos. Devido à sua secura extrema,
centro de grandes áreas continen tais.
quantidades pequenas de nuvens e temperatu -
As fontes tropicais (T) são : (1) maríti -
ras baixas caracte rizam essas massas de ar. No
mas (mT), oriundas das células de alta pressão
verão, o aquecimento continental sobre o norte oceânicas subtropicais; (2) continentais (cT),
do Canadá e a Sibéria faz suas fontes de ar frio oriundas das partes continentais dessas célu-
praticamente desaparecerem. A fonte do Oce - las subtropicais (p. ex., como no Harmattan
ano Ártico permanece (Figura 9.4A), mas o ar norte -africano ); ou (3) associadas a regiões com
frio ali é bastante limitado em espessura nessa ventos levemente variáveis, mantidos pela sub -
época do ano . No Hemisfério Sul, o continente sidência da troposfera supe rior, sobre os princi -
antártico e os mantos de gelo são uma fonte de pais continentes no verão (p. ex., Ásia Central).
ar cA em todas as estações (ver Figuras 9.2B e No Hemisfério Sul, a área -fonte de ar mT cobre
9.4B). Todavia, não existem fontes de ar cP, de- aproximadamente a met ade do hemisfério . Não
vido à predominância de áreas oceânicas em la- existe um gradiente de temperatura significat i-
titudes médias . Em todas as estações, o ar cA ou vo entre o equador e a convergênc ia subtropical
cP é bas tante modificado pela passagem sobre o oceânica a 40 ºS.
oceano . Tipos secundários de massas de ar são O tipo mT se caracteriza por temperatu -
p roduzidos por esses meios, e serão considera- ras altas (acentuadas p elo aquecimento devido
dos a seguir. à subsidência ), elevada umidade nas camadas
CAPÍTULO9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 227

180' O'
{A) (B)
------~-

9D'E FY\V 90' E

o· 180'

Figura 9.4 M assas de ar no ve rã o: (A) H e misfério Nort e e (B) Hemisfério Sul


fontes : (A) Adaptado de Petterssen (1950 ) e Crowe (1965}; (8) Adaptado de Toljoord et oi. (1969) e Newton (1972).

inferiores sobre os oceanos e estratificação analisar áreas de divergência que representam


estável. Como o ar é quente e úmido perto da regiões -fonte de massas de ar, fluxo de ar subsi -
superfície, geralmente desenvolvem-se nuvens den t e e zonas de convergência entre diferentes
estratiformes à medida que o ar avança da sua fluxos de ar. A Figura 9.6A mostra a predomi -
fonte em direção ao polo. O tipo continenta l nância de massas de ar no Hemisfério Norte ao
se restringe no inverno principalmente ao longo do ano . São indicadas quatro fontes: os
norte da África (ver Figura 9.2), onde é uma anticiclones subtropicais do Pacífico Norte e do
massa de ar quente, seca e estável. No verão, o Atlân tico Norte, e seus correlatos no Hemisfé -
aquecimento das camadas inferiores pela terra rio Sul. Para o ano como um todo, o ar dessas
quente gera um elevado gradiente de tempera- fontes cobre pelo menos 25% do Hemisfério
tura, mas, apesar de sua instabilidade , o baixo N arte ; por seis meses de cada ano, elas afet am
teor de umidade impede o desenvolvimen to de quase três quin tos do hemisfério. No Hemisfé-
nuvens e a precipitação. No Hemisfério Sul, o rio Sul, onde predominam oceanos , a climato -
ar cT é muito mais predominan te no inverno logia da circulação de ar é muito mais simples
sobre os continen tes subtropicais, com exceção (Figura 9.68 ). As áreas -fonte são os anticiclones
da América do Sul. No verão, grande parte da oceânicos sub tropicais. A An tártica é a princi-
região sul da África e do norte da Austrália é pal fonte continental , com outra principalmente
afetada por ar mT, ao passo que há uma peque - no inverno sobre a Austrália.
na fonte de ar cT sobre a Argentina (ver Figura
9.4B). As características das principais massas
C MODIFICAÇÃO DE MASSAS
de ar são ilus tradas nas Figuras 9.3 e 9.5. Em
DEAR
certos casos, o movimento de afastamento da
região -fon te afe t a consideravelmente as suas A medida que uma massa de ar se afasta de sua
propriedades, questão esta que será discutida região -fon te, ela é afetada por diferentes trocas
mais adiante. de calor e umidade com a superfície do solo e
As regiões-fonte também podem ser defi- por processos dinâmicos da atmosfera. Assim,
nidas a partir da análise de fluxos de ar. As li- uma massa de ar barotrópica se transforma gra-
nhas de fluxo dos ventos resul tan tes (ver Nota dualmente em uma circulação de ar moderada-
1) em meses específicos podem ser usadas para mente baroclínica,na qual ocorre interseção de
228 Atmosfer a, Tempo e Clim a

Verão
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850
900 ,,,,,.
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950
1000 ,,,,

Figura 9.5 Estrutura vertical média da temperatura para massas de ar selecionadas que afefom a América do
Norte no verão.
Fontes: Adoptodo de Godso n (1950 ), Showolter (1939) e Willetl.

(A) (B)

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2

A.•llr
·r coSJ
P.c,llCO
Nlcnll

6
12 C7

90'W 90' E 90'W 90' E

O' 1&1•

Figura 9.6 Regiões- fon te de mossas de ar no Hem isfério Norfe (A) e no Hemisfério Sul (B). Os números mos-
tram as ó reos a fetadas pelos massas de ar nos meses por ano.
Fontes: Adaptado de Wendland e Bryson (198 1) e Wendland e McOona ld (1986 ).
CAPÍTULO9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 229

superfícies isostéricas e isobáricas. A presença acompanha essa condensação ou evaporação .


de gradientes horizontais de temperatura signi- Os valores anuais de transferência de calor la-
fica que o ar não pode se mover como um bloco tente e sensível para a atmosfera , ilustrados nas
sólido, mantendo uma estrutura interna inal- Figuras 3.30 e 3.31, mostram onde esses efeitos
terada. A trajetória (i.e., o caminho real) que são importantes.
uma parcela de ar segue na troposfera média ou
superior normalmente será muito diferente da Mudanças dinlimicas
de uma parcela próxima à superfície, devido ao As mudanças dinâmicas (ou mec ânicas) são
aumento na velocidade dos ventos de oeste com superficialmente diferentes das termodinâmi -
a altitude na troposfera e às mudanças na dire - cas, pois envolvem mistura ou alterações na
ção do vento mais acima. A estrutura de um flu- pressão associadas ao movimento real da massa
xo de ar em um dado momento é dete rminada de ar. As propriedades físicas das massas de ar
principalmente pelo histórico passado de pro - são alteradas consideravelmente, por exemplo ,
cessos de modificação de massas de ar. Apesar por um período prolongado de mistura turbu -
dessas qualificações, o conceito de massa de ar lenta (ver Figura 5.7). Esse processo é particu -
mantém seu valor prático e é usado na pesquisa larmente importante em níveis baixos , onde o
da química do ar. atrito superficial in tensifica a turbulência natu -
ral, proporcionando um mecanismo apto para
1 Mecanismos de modificação a transferência de calor e umidade para nívei s
Por conveniência , os mecanismos pelos quais as mais elevados.
massas de ar são modificadas são tratados sepa - As trocas radiativas e advectivas discutidas
radamente , embora, na prática , possam operar anteriormente são diabáticas, mas a subida ou
juntos. descida de ar causam mudanças adiabáticas na
temperatura . Uma elevação em grande esca .-
Mudanças termodinâmicos la pode resultar da ascensão forçada por uma
barreira montanhosa ou por convergência de
Uma massa de ar pode ser aquecida de baixo, ou fluxos de ar. Em contrapartida , o ar pode des -
pela passagem por uma superfície fria para uma cer quando a convergência em níveis elevados
superfície quente ou por aquecimento solar do forma subsidência ou quando o ar estável , que
solo sobre o qual se localiza o ar. De mane ira foi forçado a subir ao longo de uma elevação da
semelhante , mas no sentido inverso , o ar pode superfície pelo gradiente de pressão, desce aso -
ser resfr iado por baixo. O aquecimento de bai - tavento . Os processos dinâmicos na troposfera
xo age de maneira a aumentar a instabilidade da média ou superior são uma causa importante da
massa de ar, assim, o efeito pode se espalhar ra- modificação das massas de ar. A redução na es-
pidamente por uma espessura de ar considerá- tabilidade em níveis elevados , à medida que o ar
vel, ao passo que o resfriamen to superficial pro - se afasta de áreas de subsidência, é um exemplo
duz uma inversão térmica , que limita a extensão comum desse tipo de mecanismo.
vertical do resfriamento . Logo, o resfriamento
do ar tende a ocorrer de forma gradual, por per- 2 Os resultados da modifica~ão:
da radiativa de calor. massas de ar secundárias
Também podem ocorrer alterações pelo
Estudos sobre como as massas de ar mudam de
aumento na evaporação, sendo a umidade
cará ter esclarecem muitos aspectos de diversos
fornecida da superfície subjacen te ou por pre-
fenômenos meteorológicos comuns.
cipitação de um a massa de ar super ior. Inver -
samente , a perda de umidade por condensação
ou precipitação também pode causar alterações .
Ar frio
Uma mudança associada, e muito importante, é O ar polar continental flui do Canadá para o
a respectiva adição ou perda de calor latente que Atlântico Norte ocidental no inverno, onde so -
230 Atmos fera, Tempo e Clima

fre uma rápida transformação. O aquecimento especificando se o ar está mais frio (k) ou mais
sobre a Deriva da Corrente do Golfo torna as quente (w) do que a superf ície sobre a qual está
camadas inferiores instáveis, e a evaporação passando.
para o ar leva a aumentos súbitos no teor de Em certas partes do mundo, as condições
umidade (ver Figura 3.7) e à formação de nu- superficiais e a circulação do ar produzem mas -
vens . A turbulência associada à instabilidade sas de ar com caracterís ticas intermediárias. O
convectiva é marcada por condições tempestu- norte da Ásia e o norte do Canadá se encontram
osas. Quando o ar chega ao Atlântico Central, nessa categoria no verão. De maneira geral, o ar
ele se torna uma massa de ar polar marítimo tem afinidade com massas de ar polares conti -
(mP) fria e úmida. Processos análogos ocorrem nentais , mas essas áreas continentais têm am -
com o fluxo proveniente da Ásia sobre o Pací- plas superfícies de água e pântanos, de modo
fico Norte (ver Figura 7.2). Sobre as latitudes que a umidade do ar e a quantidade de nuvens
médias do Hemisfério Sul, o oceano circum - são bastante elevadas. De maneira semelhante,
polar origina uma zona contínua de ar mP que, la.gos com água derretida e aberturas no gelo
no verão, estende-se até a margem da Antártica. marinho ártico fazem da área uma fonte de ar
Todavia, nessa estação , um considerável gra - mA no verão (ver Figura 9.4A). Essa denomina -
diente de temperaturas oceânicas associadas à ção também se aplica ao ar sobre gelo mar inho
Convergência Antártica oceânica torna . a zona antártico no inverno, mas que é muito menos
nada uniforme em suas propriedades físicas. frio em seus níveis inferiores do que o próprio
Períodos ensolarados e pancadas de chuva, ar sobre o continente.
com uma cobertura de nuvens variável com nu-
vens cumulus e cumulonimbus , representam o Ar quente
tempo em fluxos de ar cP. A medida que o ar
mP se dirige a oeste rumo à Europa , a superfície A modificação de massas de ar quente costuma
marinha mais fria pode produzir uma estrati - ser um processo gradual. O ar que avança em
ficação neutra ou mesmo estável perto da su- direção aos polos sobre superfícies progressiva-
perfície, especialmente no verão, mas o aqueci- mente mais frias se torna cada vez mais estável
mento subsequente sobre o continente regenera nas camadas ma is baixas. No caso de ar mT com
as condições instáveis. Condições semelhan - teor elevado de umidade , o resfriamento super -
tes, mas com temperaturas menores, ocorrem ficial pode produzir neblina por advecção, que
quando o ar cA cruza os oceanos em latitudes é particularmente comum , por exemplo, nas
altas, produzindo ar Ártico marítimo (mA). adjacências a sudoeste do Canal da Mancha du -
Quando o ar cP avança para o sul no in- rante a pr imavera e o começo do verão, quan -
verno, sobre a região central da América do do o mar ainda está frio. Um desenvolvimento
Norte, por exemplo, ele se torna mais instável, semelhante de neblina por advecção ocorre ao
mas existe pouco ganho no teor de umidade. longo da costa sul da China de fevereiro a abril,
As nuvens são esparsas do tipo cumuliforme, e também na costa do labrador e sobre a costa
que, apenas em raras ocasiões, produz chuvas. norte da Califórnia na primavera e no verão. Se
As exceções ocorre .m no começo do inverno ao a velocidade do ven to for suficiente para uma
redor das costas leste e sul da Baía de Hudson mistura vertical, nuvens estratiformes baixas se
e dos Grandes Lagos. Até esses corpos d'água formam no lugar da neblina, podendo resultar
congelarem, os fluxos de ar frio que os cortam em garoa. Além disso, a ascensão forçada de ar
se aquecem rapidamente e recebem umida- sobre elevações da superfície do solo, ou sobre
de, levando a pesadas nevascas localizadas (p. uma massa de ar adjacente, pode produzir chu-
292). Sobre a Eurásia e a América do Norte, o va forte.
ar cP pode avançar para o sul e depois desviar O ar cT que se origina nessas partes dos an -
para norte. Alguns esquemas de classificação de ticiclones subtropicais situados sobre os subtró-
massas de ar base iam -se nessas possibilidades, picos áridos no verão é extremamente quente e
CAPÍTULO
9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 231

seco. Também costuma ser instável em níveis racterísticas se fundem com as de fluxos de ar
baixos, podendo ocorrer tempestades de areia, adjacentes, podendo o ar sofrer a influência de
mas a secura e a subsidência do ar superior li- uma nova área-fonte.
mitam o desenvolvimento de nuvens. No caso A região noroeste da Europa é mostrada
da África Setentrional, o ar cT pode avançar como uma área de massas de ar "mistas" nas
sobre o Mediterrâ .neo, adquirindo umidade ra- Figuras 9.2 e 9.4. Isso se refere à variedade de
pidamente, com a consequente liberação de ins- fontes e direções de onde o ar pode invadir are-
tabilida .de potencial, que desencadeia pancadas gião. O mesmo também se aplica ao Mar Medi-
e tempestades. terrâneo no inverno, embora a área confrra suas
As massas de ar em latitudes baixas repre- próprias características a massas de ar polar e
sentam problemas consideráveis de interpreta- outras massas de ar que ficam estagnadas sobre
ção. Os contrastes de temperatura encontrados ela. Esse ar é denominado mediterrâneo. No
em latitudes médias e altas estão praticamente inverno, ele apresen t a instabilidade convectiva
ausentes, e as diferenças que e.xiste .m se devem (ver Figura 4.6) como resultado da umidade ab-
principalmente ao teor de umidade e à presença sorvida do Mar Mediterrâneo .
ou ausência de subsidência. O ar equatorialge- A duração do tempo enquanto uma massa
ralmente é mais frio do que o descendente nos de ar retém suas características originais de-
anticiclones subtropicais, por exemplo. Nos la- pende muito da extensão da área-fonte e do
dos equatoriais dos anticiclones subtropicais no padrão de pressão que afeta a área. De modo
verão, o ar avança para oeste a partir de áreas geral, o ar mais baixo muda muito mais ra-
com superfícies marinhas frias (p. ex., no no- pidamente do que o ar em níveis superiores,
roeste da África e na Califórnia) em direção a embora modificações dinâmicas mais acima
temperaturas mais elevadas na superfície mari- também sejam significativas em termos de
nha. Além disso, as partes a sudoeste das células processos meteoro lógicos. Portanto, os con-
de alta pressão somente são afetadas por uma ceitos modernos sobre massas de ar devem ser
subsidência fraca por conta da estrutura vertical flexíveis do ponto de vista dos estudos sinóti-
das células. Como resultado, o ar mT movendo- cos e climato lógicos.
-se na direção oes te nos lados equatoriais das
altas subtropicais se torna muito menos estável D FRONTOGÊNESE
do que em sua margem nordeste . Esse ar, even-
tualmente, acaba por formar o «ar equatorial" O primeiro avanço real em nossa compreensão
das variações do tempo em latitudes médias
bastante quen te, úmido e instável da Zona de
veio com a descoberta de que muitas das mu-
Convergência Intertropical (ver Figuras 9.2 e
danças cotidianas são associadas à formação e
9.4). O ar monçônicoé indicado separadamente
ao movimento de limites, ou frentes, entre di-
nessas figuras, embora não exista uma diferença
ferentes massas de ar. Observações de tempera-
básica entre ele e o ar mT. As abordagens mo-
tura, direção do vento, umidade e outros fenô-
dernas na climatologia tropical são discutidas
menos físicos durante períodos de instabilidade
no Capítulo 11.
mostram que as descontinuidades muitas vezes
interferem entre massas de ar de características
3 A idade da massa de ar
distintas. O termo "frente" para essas superfí-
Em um dado momento, as misturas e modifi- cies de conflito entre massas de ar era lógico,
cações que acompanham o afastamento de uma proposto durante a Primeira Guerra Mundial
massa de ar de sua fonte diminuem a taxa de por um grupo de meteorolog istas liderado por
troca energética com seu entorno, e os diversos Vilhelm Bjerknes, que trabalhava na Noruega
fenômenos meteorológicos associados tendem (ver Quadro 9.1). Suas ideias ainda fazem par-
a se dissipar . Esse processo leva à perda de sua te da análise e previsão do tempo em latitudes
identidade original até que, fmalmente, suas ca- médias e altas.
232 Atm osfera, Tempo e Clim a

9.1 A teoria dos ciclones nas frentes polares


A cont ri buição mais sig nifi cat iva e duradoura pa ra a meteoro log ia si nót ica no século XX ve io da "esco-
la de meteorolog istas de Berge n", lide rada po r Vilhelm Bjerkn es, que trabal hou na No ru ega durante a
Primeira G uerra M undial. Isolados de outras fo ntes de info rm ações pela guerra , eles se concent raram
em uma a nólise cuidado sa e sistem6t ica de ca rtas cl imót icas sinóticas e seções transversais temp orais
de sistema s mete orol óg icos.
Exi stem trê s co mponente s na teo ria publi cada durante 1919-1922 : um mode lo ciclô nico (Jac ob
Bjerk nes), a ide ia de um ciclo de vrda ciclônico e oc lusão fro ntal (Tor Bergeron) e o conce ito de famílias
de ciclones dese nvo lvendo -se ao longo da f rente po lar (Ha lvor Solberg}. Postulo u-se que os ciclones
desenvo lvem- se em latit udes méd ias ju nto com a frontoge nese q uando a co nvergên cia de flu xos de ar
cria li mites entre massas de ar ad jacentes. O term o f rente e o conceito de oc lusão f ronta l foram intro-
duzidos no vocab ul ário meteoro lóg ico . Eles tamb ém prop useram um modelo tra nsversal de distr ibui -
ção de nuvens e precipitação em relação às zonas fronta is que ain da é utilizado. Na década de 1930 ,
Bergero n d istinguiu os tipos de frentes ano e cata , mas essas ide ias não fo ram usadas até a década de
1960. Embora trabalhos recentes tenha m mod if icado mui tos aspectos das ideias da escola de Bergen,
vários at ribu tos essenciais fo ram elucidados e reforçados. Por exemplo , no processo de oc lusão, a fren -
te quente pode se inclinar para trás, co nforme obse rvado origin alm ente por Bergeron. Estudos teóri cos
e observac iona is indica m que os principais eleme ntos do ciclone são •esteiras 11 que transp orta m ca lor
e umidade dentro do sistema e 'leva m a estr uturas celu lares de precipitação .
Sobe -se que nem todo s os ciclone s em lat itude s méd ias dese nvolvem- se em fa míli as de ondas
fr onta is como os que se for m am sob re os ocea nos. Petterssen e Smeybe (1971) chamaram a ate,nção
paro os dif ere nças entre as onda s que se fo rm am em uma zo na frontal sobre o At lântic o Norte (tipo
A) e as que se f orm am sob re a Amér ica do Nor te {tipo B}. O desenvol vimento continent al gera lm ente
envol ve ar f rio, com a possibilidade de uma frente f ria á rtica, em um ca vado elevado que avança na
direção leste sob re um a zo na de ad vecção quente e ba ixa. C iclogê nese pode se desenvolver a partir
de um cavado seco a so·tavento da s Mo ntanhas Rochosas.

Referências
Fried mo n, R.M. {1989 ) App rop rioting lhe Wcot lier. Villielm Bjerknes ond the Consf ruction of o Modern Me lero logy, Co rne ll
Univers ity Press, lthoco , NY, 251 pp .
Petterssen , S. and Smeybe , S.J. (1971 ) On lne deve lo pmen t of extratrop ica l cyclones . Quorf . J. Roy . Me t. Soe , 97, 457 82 .

1 Ondas frontais exceder alguns milhares de quilômetros . Os ci-


clones de ondas frontais geralmente têm 1500-
A geome tria típica de uma interface entre mas -
3000 km de comprimento de onda . A circulação
sas de ar, ou frente, lembra o formato de uma
da troposfe ra super ior desempenha u.m papel
onda (Figura 9.7). Padrões semelhantes de on-
crucial ao proporcionar condições adequadas
das, de fato, ocorrem nas interfaces ent re mui -
para o seu desenvolvimen to e crescimento , con -
tos me ios diferen tes, por exemplo, ondas n a su-
forme mostrado a seguir.
perfície do mar, ondulações na areia da praia,
dunas eólicas, e assim por diante . Ao contrár io
2 A depressão de ondas frontais
dessas formas de ondas, as ondas frontais na at-
mosfera em geral são instáveis; ou seja, elas se Uma depressão, também denom inada baixa
originam subitamen te, aumentam de tamanho, ou ciclone (ver Nota 2), é uma área de pressão
e se dissipam de maneira gradual . Câlculos com relativamente baixa, com um padrão isobárico
modelos numér icos mos tram que, em latitudes mais ou menos circular. Ela cobre uma área de
médias, as ondas em uma at mosfera baroclíni- 1500-3000 km de diâmetro e geralmen te dura
ca são instáveis se o seu comprimento de onda de quatro a sete dias . Sist emas com essas carac -
CAPÍTULO9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 233

100-200 km de extensão (ver C, neste capítulo, e


Figura 9.1). Descontinuidades bruscas nas pro-
priedades de temperatura, umidade e vento em
frentes , especialmente na frente quen te, não são
comuns . Essas descontinuidades geralmente re-
sultam de uma onda pronunciada de ar fresco e
(A} (B) frio no setor posterior de uma depressão, mas
Estágio inicial Estágio aberto na troposfera média e superior, elas costumam
ser causadas por subsidência e podem não coin-
cidir com a localização da zona baroclínica. Em
centros de análise meteorológica, são usados
diversos critérios para localizar limites fron tais:
gradientes de espessura de 1000-500 mb, tem-
peratura potencial de bulbo úmido a 850 mb ,
bandas de nuvens e precipitação, e mudanças
(C) (D) nos ventos . Todavia, o meteorologista talvez
Estágio de oclusão Estágio de dissipação
precise usar seu próprio diagnóstico quando es-
ses critérios estão em desacordo.
Figura 9.7 Q ua tro estóg ios no desenvolvimen to ff-
pico de uma depressão de média latitu d e. Imagens Em imagens de satélite, as fren tes frias ati-
de satélite dos sistemas d e nu vens correspon d en tes a vas em uma zona baroclínica forte costumam
esses estó g ios são mostr ado s na Figuro 9. 8 . apresentar bandas de nuvens pronunciadas em
fonte: Stroh le r (1965), mod ificado de Beckinsole . espiral, formadas como resultado da advecção
Obs .: F = ar fr io; Q =or quente . térmica (Figura 9.88 , C). Todavia, um escudo
de cirrus geralmente cobre as frentes quentes .
terísticas , predominantes em mapas meteoroló- Conforme mostra a Figura 9.7, uma corrente de
gicos diários, são chamados de feições em escala jato troposférica superior está associada à zona
sinótica.A depressão de média latitude em ge- baroclínica, soprando de forma quase paralela à
ral é associada à convergência de massas de ar linha da frente superior . Essa relação será ana-
contras tantes. Segundo o "modelo ciclônico no - lisada a.seguir .
rueguês" (ver Figura 9.7), a in terface entre essas O ar atrás da frente fri~ distante do cen-
massas de ar se desenvolve em forma de onda, tro de baixa, em geral tem uma trajetória an-
com seu ápice localizado no centro da área de ticiclônica, assim avança acima da velocidade
baixa pressão . A onda compreende uma massa geostrófica (ver Capítulo SA .4), impelindo a
de ar quente entre ar frio e fresco modificado frente fria a também adquirir uma velocidade
na frente, e ar frio atrás . A formação da onda supergeostrófica . A cunha de ar quente é pro-
também cria uma distinção entre as duas seções tuberante na superfície e elevada do solo. Esse
da descontinuidade original entre as massas de estágio de oclusãoelimina a forma de onda na
ar, pois, mesmo que cada seção ainda determine superfície (ver Figura 9.7). A depressão geral -
o limite entre o ar frio e quente, as caracterís ~ mente alcança sua intensidade máxima 12-24
ticas do tempo encontradas dentro de cada se- horas após o começo da oclusão . A oclusão atua
ção são bastante diferentes. As duas seções da gradualmente no sen tido do centro da depres -
superfície frontal são distinguidas pelos nomes são para fora, ao longo da frente quente . As ve -
frente quente para a borda dianteira da onda e o zes, a cunha de ar frio avança tão rapidamente
ar quente efrente fria para a de ar frio ma is atrás que, na camada de atr ito perto da superfície , o
(ver Figura 9.7B). ar frio ultrapassa o ar quente e gera uma linha
O limite entre duas massas de ar adjacentes de instabilidade(ver Capítulo 4G).
é marcado por uma zona fortemente baroclíni- Nem todas as b,aixas fronta is seguem o ciclo
ca com um grande gradiente de temperatura, de de vida idealizado que discutimos . Ele costuma
234 Atmos fera, Tempo e Clima

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Figura 9.8 Padrões esquemóticos do cobertu ra de nuvens (cinz.o)observados de satélites, em relação a fr entes
superficiais e is6bo ros gene raliz.adas. A, B, C e D correspondem aos quatro estógios mostrados no f iguro 9.7.
Fonte: Boucher ond New comb (196 2). Cor tesia do Americon Meteoro logicol Society.

ser característico da ciclogênese oceânica, embo- instabilidade e uma faixa de chuvas análoga a
ra a evolução desses sistemas tenha sido reava- uma frente quente. O ar ártico avança para sul a
liada usando observações coletadas com aviões oeste do centro de baixa, causando elevação de
durante programas meteorológicos realizados no ar seco e mais quente, mas gerando pouca pre-
Atlântico Norte no decorrer da década de 1980. cipitação. Também pode haver uma frente fria
Eles sugerem uma evolução diferente dos ciclo - superior, avançando sobre o cavado, que for-
nes frontais marítimos (Figu r a 9.9). São identi- ma uma faixa de chuvas ao longo da sua borda
ficados quatro estágios: (1) a incepção ciclônica frontal. Acredita-se que tenha sido esse sistema
apresenta uma zona frontal contínua e ampla que causou uma tempestade de chuva recorde
(400 km); (2) a fratura frontal ocorre perto do em Holt, Missouri, em 22 de junho de 1947,
centro da baixa, com gradientes frontais mais quando caíram 305 mm em apenas 42 minutos!
compactos; (3) desenvolve-se uma estrutura em
forma de Te uma frente quente inclinada; e (4) o
ciclone maduro apresenta isolamento do núcleo E CARACTERÍSTICAS FRONTAIS
quente dentro da corrente de ar polar, atrás da O caráter do clima frontal depende do movi-
frente fria. mento vertical nas massas de ar. Se o ar no setor
Sobre a região central da América do Nor - quente está subindo em relação à zona frontal,
te, os ciclones que se formam no inverno e na
as frentes geralmente são muito ativas e deno-
primavera afastam-se consideravelmente do
minadas frentes ana, ao passo que o ar quente
modelo norueguês . Eles costumam apresentar
relativo às massas de ar frio origina as menos
um fluxo de ar ártico frio a leste das Monta-
intensas.frentescata (Figura 9.11).
nhas Rochosas, formando uma frente ártica,
um cavado a sotavento com ar seco descendo
1 A frente quente
das montanhas, e um fluxo sul quente e úmido
do Golfo do México (Figura 9.10). O cavado so- A frente quente representa a borda frontal do
brepõe ar seco ao ar quente e úmido , gerando setor quente da onda. O limite frontal tem uma
CAPÍTULO9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 235

(A) Pressão, frentes e nuvens


IV

III

II

(B) Temperatura e circulação do ar


IV
III
II
I

Figura 9.9 Estóg ios no ciclo d e vida d e uma depress ã o marinh a extra t rop ico l most ra ndo: (1) depress ão fron tal
inci p iente, (li) fr at uro front a l, (Ili) fren te quen te inclin ada par a trós, (IV) oclusao de núcl eo quente, (A) is6b a ras
esq ue mót ica s da press ao ao níve l do m ar, fren tes e cobertur a de nuv e ns (somb reado); (B) isote rm as e flu xo de a r
frio (setas contínuas) e a r q uen te (setas trac eja dos).
fonte: Shap iro e Keyser (1990). Com perm issão de American Meleo rolog ical Soc iety.

inclinação suave, da ordem de 0,5-1 º, de modo tos de fractostratus também podem ser formar
que os sistemas de nuvens associados à po rção no ar frio , à medida que a chuva que atravessa
superior da frente anunciam sua aproximação o ar sofre evaporação e o satura rapidamente .
por volta de 12 horas ou mais antes da chegada O ar quente descendente da frente cat a
da frente superficial. A fren te ana quente, com quente res tringe o desenvolvimento de nuvens
ar quente ascendente, tem nuvens de múlti- em níve is médios e elevados. A nuvem fron-
plas camadas, que se espessam e abaixam gra - t al é principalmente stratocumulus, com uma
dualmente em direção à posição superf icial da profundidade limitada como resultado das in -
frente. As primeiras nuvens são cirrus finas e versões de subs idência em ambas as massas de
delgadas, seguidas por lâminas de cirrus e cir - ar (ver Figura 9.l1B ). A precipitação em geral é
rostratus, bem como altostratus (Figura 9.1lA ) . chuva leve ou garoa, formada por coalescê ncia.
O Sol é obscurecido à med ida que a camada de Na passagem da frente quen te, o vento vira,
altostratus se espessa e começa a garoar ou cho - a temperatura sobe e a queda de pressão é con -
ver . A nuvem costuma se estender pela maior trolada . A chuva se torna intermitente ou cessa
parte da troposfera e, com precipitação conti - no ar quente, e a fina camada de nuvens stra to -
nua, é des ignada como n imbos tratus . Fragmen - cumulus pode se romper .
236 Atmosfera, Tempo e Clim a

Região essa razão , o radar é cada vez mais usado para


(A)
r:~~::::::===::~p~ot=e~nc:iazl:mente
instável mapear a extensão exata de cinturões de chuva
e detectar diferenças na sua intensidade . Esses
Ar de baixa - 90
estud .os mostram que a maior parte da pro-
dução e distribuição da precipitação é contro -
lada por um fluxo de ar amplo, com algumas
centenas de quilômetros de largura e vários
quilômetros de profundidade, que flui para-
lelamente e adiante da frente fria superficial
Ar de alta e. (ver Figura 9.12). Pouco antes da frente fria, o
(B)
fluxo ocorre como um jato de baixo nível, com
1
ventos de até 25-30 m s- a aproximadamente 1
km acima . da superfície. O ar quente e úmido
sobe sobre a frente quente e vira para sudeste
antes da frente, fundindo -se com o fluxo me-
sotroposférico (B na Figur a 9.13). Esse fluxo é
chamado de "esteira" (pela transferência de ca-
lor e momento em grande escala em latitudes
médias). A instabilidade convectiva (potencial)
(C)
de escala ampla é gerada pela sobreposição a
FFS esse fluxo baixo por ar mais seco e potencial -
mente mais frio na troposfera média . A ins-
tabilidade é liberada em pequenas células de
Cavado seco convecção que se organizam em agrupamen -
tos, conhecidos como áreas de precipitação de
/'Fai xa de chu"vãs·
-v-- mesoescala (APM ). Essas APM se organizam
- - _, -
- da FFS na SUp!lrlicie
~.....
em bandas, com 50-100 km de largura (Figura
9.13). Adiante da frente quente , as bandas são
Figura 9.1 O Modelo esquemótico de um cavado
paralelas ao fluxo de ar na seção ascendente da
seco e frontogênese o leste dos Monta nhas Rochosas. esteira,ao passo que , no setor quente, elas são
(A) ar quen te e seco com baixa tempe ratura potencial paralelas à frente fria e ao jato de baixo nível.
equivalente (Ue) dos Montanhas Rochosos sobrepõe- Em certos casos, as células e os agrupamentos
-se ao ar úmido de alta Ue do Golfo do México, for- se organizam em bandas dentro do setor quen -
mando uma zona potencialmente instóvel a leste do
te e adiante da frente quen te (ver Figuras 9.13
cavado seco; (B) movimen to ascendente asso cia do à
frente fria superior (FFS);(C) localização da banda de e 9.14). A precipitação de bandas de chuva de
chuva da FFS na superfície. [A temper atura potencial frentes quentes costuma envolver "semeadura "
equivalente é a tempe ratura potencial de um a parcelo por partículas de gelo que caem de camadas su-
de ar que se expande odioboticamente até que todo o periores de nuvens. Estima-se que 20-35% da
vapor de água seja condensado e o calor latente seja
precipitação sejam oriundos da zona ''semea-
li be rado e comprimido adioboticomente à pressão de
dora': e o restante, das nuvens mais abaixo (ver
1000 mbJ .
também Figura 5.14). Os efeitos orogrâficos
fonte: Locate lli et oi. (1995 ). Com permissão de Amer ico n
Meteo ro log ical Society . formam algumas das células e agrupamentos,
que podem se mover ao longo do vento quando
A previsão da extensão dos cinturões de a atmosfera está instável .
nuvens associados à frente quente é complica-
da pelo fato de que a. maior ia das frentes não é
2 A frente fria
frente ana ou cata em toda a sua extensão, ou As condições meteorológicas observadas nas
mesmo em todos os níveis da troposfe ra . Por frentes frias são igualmente variáveis, depen -
CAPÍTULO
9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 237

(A)

Altitude (m)
10000

- Ar quente -
Ar frio Ar frio
5000
.topo da camaáa
convectiva
Se
Cu Cu

0
L__::::........:
~=::±!: ::c!!~ ~=!:= =----4....:..2Cl ....:::!
....:....:..:..L:..:.:
______ _
2000 1500 Subsidente 1 ooo 500 quilômetros o
Cinturão seco Cinturão de chuvas
de chuvas
(B) ___ ,.._ Movimento do sistema

Altitude (m)
a ----- ----- - - - - - - -- -- __rr o p
aus -- -- ºIJ

10000 ---·- TroP~Ç> -- --«!_Usa

Ar quente
Ar frio
Ar frio
5000
Base da inversão de subs idência
•• ••
.....
••• •

...
•• ••• •• •••• ••••••••
•• • • • •••• • • •••• • •• • • • • ••• ••

••••••••• Se espesso Se espesso


Cu
Se St

2000 1500 1ooo 500 quilômetros O


Cinturão Cinturão de
de chuvas chuva leve ou garoa

Figura 9.11 (A) modelo transversal de uma depressão com frente ano , onde o ar est6 subindo em relação o
cada superfíc ie frontal. Observe q ue uma frente ano q uente pode ocorrer com uma fren te coto frio e vice-verso.
JU e JL mostram os locais dos correntes de jato super iores e inferiores. (B) modelo de uma depressão com frente
coto, onde o ar estó descendo em relação o cada superf ície frontal.
Fonte : Afte r Pedg ley, A Cou rse in Elemen tory Meteoro logy , ond Benne tts ef o i. (1988 ). (Crow n copy rig ht @), reprod uzido com
pe rmissão de Con trolle r of Her Mojes ty's Stoiionery O ffice .

dendo da estabilidade do ar no setor quente e do às vezes acompanhadas por t rovões . A forte


movimento vertical em relação à zona frontal . inclinação da frente fria, de aproximadamente
O modelo clássico da frente fria é do tipo ana, e 2º, significa que o mau tempo é de menor dura -
a nuvem geralmente é cumulonimbus . A Figu- ção do que a frente quente . Com a passagem da
ra 9.15 ilustra a esteira quente associada a essa frente fria, o vento vira subitamente, a pressão
zona frontal e a linha de convecção . Sob re as começa a subir, e a temperatura cai . O céu pode
Ilhas Britânicas , o ar no setor quente raramente limpar repentinamente ~mesmo antes da passa -
é instável, de modo que as nuvens nimbostratus gem da frente fria superficial em alguns casos,
ocorrem com mais frequência na frente fria (ver embo ra as mudanças sejam mais graduais com
Figur a 9.l l A). Com a frente cata fria, a nuvem as frentes cat a fr ias . As vezes, são observadas
geralmente é stratocumulus (ver Figura 9. l lB) frentes frias inclinadas para a frente, devido ao
e a precipi t ação é leve. Com frentes ana frias, atri to superficial - especialmente uma barreira
geralmente ocorrem chuvas torrenciais fortes, orográfica - desacelerando o movimento da
238 Atmosfer a , Tempo e Cl im a

Limite
de nuvens
o 200 c1rrus
km

4a

A Esteira de ar ascendente
f[i_i]B Fluxo mesotraposféríco 1b 1a
o 300
[Il] c Fluxo descendente adiante da frente ocl uída km

~ Precipítação (incluindo cinturões Características sinót icas Tipos de bandas


de maior intensidade) de chuva de mesoescala
Superfície
1 Frontal quente
Frente fria
Figura 9.12 Modelo
estru tur a da precipitação
do fluxo em grande
em mesoescala
escola e
de uma de-
'• •' Frente quente
2 Setor quente
3 Frontal fria
• ' Frente quente
pressão parcialmente ocluida típica das que afetam
os Ilhas Britanicas. Mostra a "esteira" (A) subindo de
'
Acima
ocluída 4 Onda fria pré-frontal
5 Pós-f rontal
900 mb adiante da frente fria e sobre o frente quente. v v Frente fria

Ela é coberta por um fluxo meso troposférico {B) de


·v-v Onda fria
pré-frontal
ar potenci a lmente mais frio de trás da frente fria. A
maior parte da precipitaçõo ocorre na região defini- figura 9.13 Fren tes e bandas de chuva assoc iados,
do, den tro do qual apresenta uma est ru tura em célu- típicas de uma depressão madura. A linha X-Y trace-
las e ban das. jada mostra o localização da seção transversal apre-
Fonte: Harrold (1973 ). Roya l Me teorologico l Society . sen tado na Figuro 9.14 .
Fanfe : Adaptado de Hobbs; in Houze e Hobbs (1982). Aca -
demic Press .

Porção posterior
X
do 0SCUdO
Torres de
-cumulonimbus o 100
y

10
de nuvens

'
•• •
..: : ' ' 1

... .' ..' .' .. . .:
! . •
: :
• •
: j • !
(0.4-. •
1,4) • •
- -,,.,... .. ---
-
km

Evaporação
~

! •· •• • ,
,'
....
... .. .. ..
..''-··
' .. • EstávelfO,O!,)'Í4-16J
1;t1úvens
O"C·---·-.:~ --'
estratiformes
1:, L.:;· : ;
::::::
f::,: ::
:.1
: ·:
Soco .... ·, •:.,,, ' .......
•::.:::.-::·::::::: ...;,, ' ••••
.• •••:
' ! . :::: .........._::.•1 .
,,,.,, .•. •..
·;!:::::::::::, •• •
o
:·:·1 :·· : ., j : • • •

L.J
3b
Ja 3a 2 lb 18

• Partícu ías de água • Particulas de gelo I J Concentração de I Células de convecção ( ) Toor de água líquida na nuvem (g m-~
partículas de golo (por litro) embutidas

Figura 9.14 Seção transversal ao longo do linho X-Y da Figura 9.13, mostrando estru t uras de nuvens e bandas
de chuva . O sombreamen to vertical representa a localização e intensidade da chuva. São mostrados regiões
com go tas de chuva e partícu las de gelo, assim como as concentrações de par tículas de gelo e o teor de óguo
llqu ida nas nuvens. Cinturões numerados referem-se aos mostrados no Figura 9.13. Escalas aproximadas.
fonle: Hobbs e Mate jka ef oi.; Houze Hobbs (1982}. Co m perm issão de Academíc Press.
CAPÍTULO 9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 239

(A) (B)
6km-

40 cm/s ascendente
Ar seco
desoendente
____
.....
..........._ Linha de
com conveoção
''
' ' ' ,..., 3km- i
..,_ 5 m/s
ascendente
Esteira
quente

Frente fria

Figura 9.15 Diagramas esquemóticos mos tr a ndo fluxos de ar, em relação ao sistema frontal móvel, em uma
frente frio do t ipo a no. Uma este ira que nte (grifado ) ascende sobre a fren te, com ar frio (setas tracejadas ) des-
cendo por baixo de la. (A) vista em planta; (8) seção vertical ao longo da linho X-Y, mos t rando os velocidades do
movimen to vertical.
Fonte : Browning (1990). Com permissão de A merican Meteorological Society .

porção baixa da frente, ou como resultado de te) e-,muitas vezes, de precipitação . Assim, sua
uma frente fria mais acima (ver Figura 9.10). posição é indicada separadamente em alguns
mapas meteorológicos e é conhecida por me -
3 A oclusão teo rologistas canadenses como um trowal (um
cavado de ar quente super ior ). A passagem de
A frente fria anda mais rapidamente do que a
uma frente ocluída e de um trowalleva ao retor -
frente quente, chegando a alcançá -la em um
dado momento, o que leva a uma oclusão,quan- no do tempo de massa de ar polar.
do o setor quente se separa do solo. As oclusões Um processo diferente ocorre quando exis-
são classificadas como frias ou quentes, depen- te interação entre as bandas de nuvens dentro
dendo dos estados relativos das massas de ar à de um cavado polar e a principal frente polar,
frente e atrás do setor quente (Figur a 9.16). Se gerando uma oclusão instantânea. Uma estei -
a massa de ar 2 estiver mais fria do que a massa ra quente na frente polar ascende como uma
de ar l, a oclusão será quente, no caso contrário, corrente troposférica superior, formando uma
ela é denominada oclusão fria. O ar adiante da banda de nuvens estratiformes (Figura 9.1 7),
depressão provavelmente é mais frio quando as enquanto uma esteira polar em níveis baixos,
depressões ocluem sobre a Europa no inverno perpendicular a ela, produz uma banda de nu -
e ar cP muito fr io está afetando o contine nte. vens convectivas e uma área de precipitação no
Estudos recentes sugerem que a maioria das lado do polo da fren te polar principal, no extre -
oclusões é quente e que a definição térmica cos - mo frontal do núcleo frio.
tuma ser enganosa. Propõe -se uma nova defini- A frontólise repre senta a última fase da
ção: uma oclusão fria (quente) se forma quando existência de uma frente, embora não esteja ne -
ar estaticamente estável ocorre atrás (antes) da cessariamente ligada a uma oclusão. Sua disso-
frente fria (Figura 9.16). lução se dá quando não existem mais diferenças
A linha da cunha de ar quente mais acima entre massas de ar adjacentes, o que pode ocor -
é associada a uma zona de nuvens estratificadas rer de quatro maneiras: (1) por estagnação mú-
(semelhante à encontrada em uma frente quen - tua sobre uma superfície semelhante; (2) ambas
240 Atmosfera, Tempo e Clima

Oclusão quente Oclusão fria

B D

Massa Massa
dear2 de ar 2

Massa de ar 1 Massa de ar 1

Ar do setor quente Ar do setor quente

Massa de ar 1: Massa de ar 1:
fria mais fria
Massa de ar 2:
fria

A BC D

Ar do setor quente Ar do setor quente

Massa de ar 1 Massa de ar 1:
Massa de ar 2: mais estat icamente Massa
mais estaticamente estável dear2
estâvel

A BC D

Figura 9.16 Ilustração esq uemá ti ca de uma oclusão frio e uma oc lusão quente no modelo cláss ico. Vis to em
pla nt o do padrão sinót ico (super ior ) e seções transversais ao longo da lin ho A-8 (central) . Ar mais frio com som-
breamen to mais escu ro . O pai nel inf er ior ilustra os cri térios propostos poro ide nti f icar ocl usões quen tes e fr ias
com base no estabilidade estótico .
Fo nt e: Stoe lingo et ai ., (2002, p. 710 , Fig. 1). Co rte sia de Ame ricon Me teo ro log ico l Soc iety.
CAPÍTULO
9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 241

Desenvolvimento Oclusão Sequência


de nuvem em vírgula instantânea de ondas frontais

V,
·-
8.
~ CCB

.,,,
...
I ,"'
,,,/
--Ar I
I
1

WCB1 WCB
I
seco I
., /
- ,;

t
o
e.
E
~

Fígura 9.17 Ilus trações esquemóticos do dese nvolvimen to de vór tices em imagens de satélite . As sequências
seguem de ba ixo paro cima. Esquerdo: nuvem em vfrgula (C) desenvolvendo-se em um fl uxo de ar polar. Centro:
oclusão instantdneo a partir da in teração de um cav ado polar com um a onda na frente polar . Direita: onda fron-
ta l cl óss ic o com esteiras f rias e quentes (CCB, WCB). C = m a io r convecção; D = ba nda de nuvens em dissolução;
a cober tu ra de nuve ns estó sombreada.
Fonfe: Brown ing (1990 ). Com permissão de Ame rico n Meteorologicol Society.

as massas de ar seguem caminhos paralelos com 4 Famílias de ondas frontais


a mesma velocidade; (3) sucessão ao longo da As observações mostram que as ondas frontais
mesma trilha e à mesma velocidade; ou (4) o sobre os oceanos, no mínimo, não costumam
sistema arrasta ar de mesma temperatura. ocorrer como un idades separadas, mas em
242 Atmos fera, Tempo e Clima

fami1ias de três ou quatro (ver Figu r a 9.9). As células subtropicais de alta pressão adjacentes .
depressões que sucedem a original se formam As depressões que se formam aqui costumam
como baixas secundáriasao longo do caminho avançar para nordeste, às vezes seguindo ou se
de uma frente fria expandida. Ca.da novo mem- aglutinando com outras da parte norte da pró -
bro segue o curso ao sul do seu progenito r, à pria Frente Polar ou da Frente Ártica Canaden-
medida que o ar polar o empurra pela porção se. A frequência de frentes permanece elevada
traseira de cada depressão da série . Finalmente, no Atlântico Norte, mas diminui para leste no
a frente estende-se ao sul e o ar polar frio forma Pacífico Norte, talvez em decorrência do gra -
uma ampla cunha meridional de alta pressão, diente menos acentuado na t emperatura da
terminando a sequência . supe rfície marinha. A atividade frontal é mais
Outro padrão de desenvolvimento pode comum no Pacífico Norte central quando a alta
ocorrer na frente quente, particularmente no sub tropical se divide em duas células com fluxo
ponto de oclusão , quando uma forma de onda de ar convergente entre elas.
distinta segue à frente da depressão- mãe. Esse Outra seção da Frente Polar , conhecida
tipo de onda secundária é mais provável de como FrenteMediterrânea,se localiza sobre as
ocorrer com ar muito frio (cA, mA ou cP) áreas dos mares Mediterrâneo e Cáspio no in-
adiante da frente quente, e tende a se formar verno. Periodicamente, o ar mP atlântico fresco,
quando montanhas bloqueiam o movimento da ou o ar cP frio do sudeste europeu, converge
oclusão para leste . Essa situação costuma ocor- com massas de ar mais quentes oriundas do
rer quando uma depressão primária está situada norte africano sobre a bacia mediterrânea, dan -
no Estreito de Davis, e uma onda separada se do início à frontogênese . No verão, o anticiclo-
forma ao sul do Cabo Farewell (o extremo sul ne subtropical dos Açores influencia a área, e a
da Groenlândia), afastando-se no sentido les- zona frontal encontra-se ausente.
te. Situações análogas podem surgir na área de As posições de verão da Frente Polar sobre
Skagerrak-Kattegat, quando a oclusão é contida o Atlântico e o Pacífico ocidentais são aproxi-
pelas montanhas da Escandinávia . madamente 1Oº mais ao norte do que no inver-
no (ver Figura 9.19), embora a zona frontal de
verão seja bastante fraca. Existe uma zona fron-
F ZONAS DE DESENVOLVIMENTO
tal sobre a Eurásia, e uma zona cor responden -
DE ONDAS E FRONTOGÊNESE
te sobre a porção média da América do Norte.
As frentes e depressões associadas tendem a Elas refletem o gradiente de temperatura me ri-
se desenvolver em áreas bem -definidas. As dional geral e a influência de grande escala da
principais zonas de desenvolvimento de ondas orografia sobre a circulação geral (ver G, nes t e
frontais são áreas que frequentemente estão capítulo ).
baroclín icas, como resultado da confluência de No Hemisfério Sul, a Frente Polar encon-
fluxos de ar (Figura 9.18). Esse é o caso ao lon - tra -se , em média , a 45ºS em janeiro (verão ),
go da costa leste da Ásia e nordeste da América com ramos esp iralados a partir de aproxima -
do Norte , especialmente no inverno , quando damente 32ºS na porção leste da América do
há um súbito gradiente de temperatura entre Sul e 30ºS lSOºW no Pacífico Sul (Figura 9.20).
a cobertura de neve continental e as correntes Em julho (inverno ), existem duas Zonas Fron-
quentes costa afora. Essas zonas são conheci - tais Pola res espiraladas em direção à Antártica,
das como Frente Polar Pacífica e Frente Polar a partir de aproximadamente 20ºS; uma come -
Atlântica, respectivamente (Figu r a 9.19) . Sua ça sobre a Amér ica do Sul, e a outra, a 170ºW.
posição é bastante variável, mas elas se deslo- Elas terminam 4-5º de latitude mais perto do
cam no sentido do equador no inverno, quando polo do que no verão . Observa-se que o He-
a Zona Frontal Atlântica pode se estender até misfério Sul tem mais atividade ciclônica no
o Golfo do México. Aqui, ocorre convergência verão do que o Hemisfério Norte na mesma
de massas de ar com estabilidade distinta entre estação, o que parece estar relac ionado com a
CAPÍTULO 9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 243

180° 120º 60ºW SO' E 180 "


-1020 - 60'

O'

20'8

40•
- -- -.. A

. - 990

..............
=--.. ...... .... -
180º 120º 60'W O" SO'E 120º ' -180º
~
- ..........
........
~ .. - 60~

180º 120º 60ºW


so• Ju 60"

40• 40 '

..__ _.20 ºN

o· Oº

2o·s @ 20 ' 8
A

40• _. 40•

180º 120º 60'W O" SO"E 120· 180º

Fígura 9.18 Pressão média (mb) e ventos su perfic iais para o mundo em janeiro e ju lh o. As principais zonas
frontais e de convergência são mostrados: Zona de Convergênc ia Inter tropical (ZCIT), Zona de Convergê nci a
do Pacifi co Sul (ZCPS), Depressão Mo nçônica (DM), Zona de convergência de Ar do Zaire (ZAB), Frente Medi-
terrânea (FM), Frentes Polares dos Hemisférios Norte e Sul (FP), Frentes Árticas (FA) e Fren tes Antárticas (FAA).
Fonte : Adap tado de Liljeq uist (1970) .
244 Atm osfera, Tempo e Clima

Inverno Verão

/ ~ aóflca
cJ-3' '

figura 9.19 As principais zonas fron tais do Hemis fério N ort e no inverno e verõo.

·':/
do Norte, ele se forma entre o ar cA (ou cP) e o
ar marinho do Pacífico modificado ao atravessar
as Cadeias Costeiras e as Montanhas Rochosas.
.,,f ,..----
(
........
,..--- .,
--
i:re-t'tepolar (tn)

.....
J /
/'7
~
Também ocorre uma Zona Frontal Ártica me -
I ~ 1"' nos pronunciada na área do Atlântico Norte -
-Mar da Noruega, estendendo-se ao longo da
~- ' costa siberiana. Outra zona frontal fraca é en -
90-W 90'E
contrada no inverno no Hem isfério Sul. Ela se
localiza a 65-70º, perto da borda do gelo mari -
nho antártico no setor do Pacífico (ver Figura
9.20), embora poucos ciclones se formem ali. As
zonas de confluência de fluxo de ar no Hemis -
fério Sul (cf. Figuras 9.2B e 9.4B) são de menor
número e mais pers istentes, particularmente em
regiões costeiras, do que no Hem isfério Norte.
Figura 9.20 As principa is zo nas frontais do Hemis- As principais trilhas de depressões no He-
fério Sul no inver no (in) e ver ão (ve). misfério Norte em j aneiro são mostradas na
Figura 9.21 . Essas trilhas refletem as princi-
intensificação sazonal do gradiente meridional pais zonas frontais discutidas . No verão , a ro ta
de temperatura (ver p. 178). mediterrânea . encontra -se ausente, e as baixas
A segunda zona frontal importante é a atravessam a Sibéria; as outras trilhas são seme-
Frente Ártica, associada às margens de neve lhantes, embora mais zon ais e loca.lizadas em
e gelo nas altas latitudes (ver Figura 9.19). No latitudes mais elevadas (por volta de 60ºN).
verão , essa zona se desenvolve no limite mar - Entre os dois cinturões hemisféricas de alta
-continente na Sibéria e na América do N arte, pressão subtropical, existe outra impor tante
onde existe um forte gradiente de temperatu- zona de convergência , a Zona de Convergência
ra entre a porção continental aquec ida livre de Intertropi cal (ZCIT ), anteriormente conhecida
neve e o extenso e frio Oceano Ártico coberto como Frente Intertropical (FIT), mas os con-
de gelo marinho. No inverno , sobre a América trastes de massas de ar não são típicos. A ZCIT
CAP ÍTULO 9 Sistemas sinót icos e de mesoescala em latitudes méd ias 245

afasta-se sazonalmente do equado r, à medida 160"

que a atividade das células subtropicais de alta


pressão se alterna nos hemisférios opostos . O
contraste entre as massas de ar convergentes ob -
viamente aumenta com a distância da ZCIT do
equador, e o grau de diferença em suas caracte -
rísticas é associado a uma variação considerável
na atividade meteorológica ao longo da zona oo·e

de convergência . A atividade é mais intensa de


junho a julho sobre o sul da Ásia e no oeste da
África, quando o contraste entre as massas de
ar mar ítimas úmidas e continentais secas atin-
ge o seu máximo. Nesses setores, o termo Frente
Intertopical é aplicável, embora isso não sugira \
que ela se comporte como uma zona frontal de
média latitude . A natureza e a importância da
figura 9.21 A s pr incipais tr ilhas de depressões no
ZCIT são discutidas no Capítulo 11. Hem isfér io Nor te. As linhas con tínuas mostram as
t rilhas pr incipa is, e as linh as t racejadas, as tri lhas

G -
RELAÇOES ENTRE O AR
sec u ndó rias, que são me nos frequen tes e menos de -
fini dos. A frequê ncia de baixas estó na móxima loca l
SUPERFICIAL E SUPERIOR E
-
A FORMAÇAO DE CICLONES
onde as setas terminam. Uma óreo de cic logênese
f requente é i nd icado o nd e uma t rilho secundório
FRONTAIS mu da por o uma tr ilha prim6ria, o u onde d uas tr i-
lhas secund6ri o s se f undem par o fo r mar um a t rilha
Havíamos mencionado que a onda de depres - primório.
são está associada a uma convergência de mas- f ont e: Klein (1957 ). Co rtes ia de US Weo ther Bu reo u .

. ·-
-

Prancha 9.1 Mosaico de imagens a pa rtir do Mode rate lmogi ng Spectrome ter (MOD IS) do satél ite Terra do
NASA a 700 km ac ima do supe rfície terrestre .
A cobe rtura de nuve ns é uma com posição de imagens infra ve rme lhas ter mal de 29 de julho e novembro de
2001. l uzes urba nas foram sob repostas a pa rlir de observações do Defense Meteoro log ica l Sate llite Program
ao lo ngo de um per íodo de nove meses . Sombreamento topográfico a par tir do ba nco de da dos do US Geo lo-
gica l Survey G TOPO 30.
f onte: Blue Morble Visib le Eorth, NASA ftp:// g lor io2 -f.gsfc .noso .go v/pu b/ stoc kli.
246 Atmos fera, Tempo e Clima

sas de ar, mas a pressão barométrica no centro A relação implica que uma coluna de ar
da baixa pode diminuir em 10-20 mb em 12-24 convergente (divergente) tem vorticidade abso-
horas à medida que o sistema se intensifica. Isso luta crescente (decrescente). A conservação da
é possível porque a divergência do ar superior equação da vorticidade, que já discutimos, é, na
remove o ar ascendente mais rapidamente do verdade, um caso especial dessa relação.
que a convergência o repõe em níveis inferiores No setor à frente de um cavado superior, a
(ver Figura 5.7). A sobreposição de uma região vorticidade ciclônica decrescente causa diver -
de divergência superior sobre uma zona frontal gência (isto é, D positiva) , pois a mudança em Ç
é a principal força motriz da ciclogênese(isto é, é maior que a de f, favorecendo a convergência
formação de depressões). superficial e a vorticidade ciclônica em níveis
As ondas longas ( ou de Rossby) na tropos- baixos (ver Figura 9.23) . Uma vez que a circula-
fera média e superior, discutidas no Capítulo ção ciclônica superficial se estabiliza, a geração
7A.2, são particularmente importantes nesse de vort icidade aumenta, devido aos efeitos da
sentido. A circunferência latitudinal limita o advecção térmica. O transporte de ar quente em
fluxo circumpolar de oeste a entre três e seis direção ao polo no setor quente e o avanço do
ondas de Rossby, que afetam a formação e o
movimento de depressões superficiais. Duas ~---------- ···300mb
ondas primárias estacionárias tendem a estar
localizadas a aproximadamente 70ºW e l SOºE,
em resposta à influência de barreiras orográ -
ficas sobre a circulação atmosférica, como as 300 mb ••

Montanhas Rochosas e o Planalto Tibetano,


bem como de fontes de calor. No ramo les- 9

te dos cavados nos ventos de oeste em níveis


superiores do Hemisfério Norte, o fluxo nor-
- lsõbaras de stJperlic ie C Conv ergênc ia
malmente é divergente, pois o vento gradiente é ~ Ondas de ROGsbya 300mb D D~ êno a • _
-~~~-· Movimento s vert:ca.'s VX Vor1icidademaxima
subgeostrófico no cavado, mas supergeostrófi- R Ascendente VN Vor1icidade rnfnima

co na crista (ver Capítulo 6A.4). Assim, o setor S De scendeAte + - Vorucid ade Positiva
e Negativa

à frente de um cavado superior é uma posição


Figura 9.22 Represe ntação esquemót ica da re la-
bastante favorável para uma depressão super -
ção entre o pressão superfic ia l (A e B), o fluxo de ar
ficial se formar ou se aprofundar (ver Figura e sistemas frontais, e o local ização de cristas e ca-
9.22). Observa-se que os cavados superiores vados nos ondas de Rossby no nível de 300 mb . As
médios se posicionam, de maneira significati- posições da vortic idode relativa móx ima (ciclônica) e
va, logo a oeste das Zonas de Frentes Polares mínima (an ticiclón ica) são mostrados, assim como as
Atlânticas e Pacíficas no inverno. da advecção do vor 1icidade nega tiva (antic iclónico) e
posi tiva (ciclônico).
Tendo essas ideias em mente , podemos
Fonfe : Musk (1988), e Ucce ll in i (1990 ). Cortesia de Cambr i d -
analisar a natureza tridimensional da forma - ge University Press.
ção de depressões e a relação existente entre
o fluxo troposférico superior e inferior. Ateo -
ria básica relaciona a equação da vorticidade, DIV
que afuma que , para o movimento horizontal Corre nte
da jato
livre de atrito, a taxa de mudança da compo- 300 mb

nente vertical da vorticidade absoluta (dQ/dt em superf icia


ou d(f + Ç)/dt) é proporcional à convergên -
cia de massas de ar (-D, ou seja, divergência
negativa): Figura 9.23 Mode lo do corre nte de jato e das fre n -
tes em superf ície, mostrando zo nas de divergência e
dQ _ _ 1 dQ
-DQ ou D-- - --" convergência no troposfera superior e os núcleos de
dt Q dt correntes de jato.
CAPÍTULO9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 247

cavado frio superior para leste atuam de manei- aprofundamen to da depressão . Se o padrão su-
ra a aumentar a zona baroclínica, fortalecendo perior é desfavorável (p. ex., abaixo das zonas
a corrente de jato superior por meio do meca - de entrada à direita e de saída à esquerda, onde
nismo de vento térmico (ver p. 168). Jámostra- ocorre convergência ), a depressão é preenchida.
mos a relação vertical entre a corrente de jato O desenvolvimento de uma depressão
e a frente (ver Figura 7.8); um modelo da se- t ambém pode ser considerado em t ermos de
quência de dep ressões é demonstrado na Figura trocas de energia. Um ciclone exige a conver -
9.23. A relação verdadeira talvez se afaste desse são de energia potencial em energia cinética. O
caso idealizado, embora o jato costwne se loca- movimento ascenden te (e rumo ao polo ) do ar
lizar no ar frio. A máxima de velocidade (zonas - quente cumpre esse requisito. O cisalhamento
-núcleo) ocorre ao longo da corrente de jato, e a do vento vertical e a sobreposição da. divergên-
distribuição do movimento vertical a mon tante cia troposfér ica superior levam o ar quente as-
e a jusan te desses núc leos é bastante diferen te. cendente sobre uma zona baroclínica . A inten-
Na área de ent rada do jato (i.e, a montante do sificação dessa zona também fortale ce os ventos
núcleo ), a divergência faz o ar baixo subir no superiores . A divergência super ior permi te que
lado equatorial (Le, dire ito ) da corrente, ao pas- a convergência superficial e a queda na pressão
so que, na zona de saída (a jusante do núcleo), a ocorram simultaneame nte . A teoria moderna
ascensão ocorre no lado do polo. A Figura 9.24 relega as frentes a um papel subordinado. Elas
mos tra como a prec ipitação costuma estar mais se desenvo lvem dentro de depressões como zo-
relacionada com a posição da corrente de jato nas estreitas de forte ascensão, provavelmente
do que com a de frentes superfi ciais; as áreas por meio dos efeitos da form ação de nuvens .
de máxima precipitação se encontram no setor Pesquisas recen tes identificaram uma ca-
de entrada à direita do núcleo da corrente . Esse tegoria de ciclones de média latitude que se
padrão de movimento vertical também tem im - formam e se in tens ificam rapidamente , adqui -
por tância fundamental para o estágio inicial de rindo características que lembram os furac ões

'

40'

p - ...__
30"
- J ·,

\ A
t~·' ' ... 20 set 1958 11()" 21 set 1958

Ili> 25 mm [IIIl] ~ 25 mm l-=..J


> 45 m s- 1

Fígura 9.24 As re lações en tre fren tes em superfície e isóbaras, p recipitação superf icial (~25 mm sombrea -
1
me nt o ver t ical; >2 5 mm sombreamento cruzado) e corre nt es de jato (velocidade do ven to ac ima de 45 m s-
mos trado em amare lo) sobre os Estados Unidos em 20 e 21 de setembro de 1958. A imagem ilustra como a óreo
de prec ipitação superf ic ial estó mais re lacio nado com o posição dos jatos do q ue com a dos frentes super i iciais.
O ar sobre o região cen tr o-su l dos Estados Unidos estava perto do po nt o de saturação, ao posso que o ar asso-
ciado ao jato de norte e à fre nte marítimo estava mui to me nos úm ido .
Fonte : Richte r o nd Dah l (1958 ). Co rtes ia de Ame ricon Meteoro log ica l Soc iety.
248 Atmos fera, Tempo e Clima

tropicais . Eles foram apelidados de "bombas ': torcer em muito o padrão térmico, como resul -
por causa de sua explosiva taxa de aprofunda- tado do transporte de ar quente para norte e do
mento ; são observadas quedas de pressão de, no transporte de ar frio para sul. Nesses casos, a de-
mínimo, 24mb/24h. Por exemplo, a "tempes- pressão geralmente se torna lenta. O movimento
tade QE II'', que danificou o navio de cruzeiro de uma depressão também pode ser direciona-
Queen Elizabeth II na costa de Nova York em do por fontes de energia, como uma super fície
10 de setembro de 1978, formou uma pressão marinha quente que gera vorticidade ciclônica,
centra l abaixo de 950mb com ventos com força ou por bar reiras montanhosas . A depressão
e olho de furacão dentro de 24 horas (ver Ca - pode atravessar obstáculos, como as Montanhas
pítulo 1 l B.2). Esses sistemas são observados Rochosas ou o manto de gelo da Groenlândia,
principalmente durante a estação fria ao longo como uma baixa ou cavado em um nível elevado,
da Costa Leste dos Estados Unidos, no Japão e e voltar a se formar em seguida, com o auxilio
sobre partes do Pacífico Norte central e nordes - dos efeitos de sotavento da barreira ou por novas
te, associados a wnas baroclínicas e perto de injeções de massas de ar contrastantes.
gradientes fortes de tempe ratura da superfície As temperaturas da superfície oceânica
do mar . A ciclogênese explosiva é favorecida podem influenciar a pos ição e a intensidade
por instabilidade na troposfera inferior, e costu- das trilhas de tempes tades . A Figura 9.25B in -
ma se localizar a jusante de um cavado no nível dica que uma superfície relativamente quente e
de SOOmb. As bombas se caracterizam por um ampla no Pacífico centro -norte no inverno de
forte movimento vertical, associado a um nível 1971-1972 causou o deslocamento da corrente
nitidamente definido de não divergência perto de jato de oest e para norte, junto com um des-
de 500 mb, e uma liberação de calor latente em locamento compensatório para sul sobre a re -
grande escala . As máximas de vento na tropos - gião oeste dos Estados Unidos, tra.zendo ar frio.
fera superior, organizadas como jet streaks,ser- Esse padrão contrasta com o observado durante
vem para amplificar a instabilidade nos níveis a década de 1960 (ver Figura 9.25A ), quando
inferiores e o movimento ascendente. Estudos uma anomalia fria persistente no Pacífico cen-
revelam que as taxas médias de aprofundamen- tral, com água mais quente para leste, levou à
to ciclôn ico sob re o Atlântico Norte e o Pacífico formação de tempestades frequentes na zona
Norte são de aproximadamente 10mb/24h, ou interveniente do forte gradiente de temperatu-
três vezes maiores do que sobre as áreas conti- ra. O fluxo de ar super ior associado gerou uma
nen tais dos Estados Unidos (3mb/24h) . Assim, crista sobre o oeste da América do Norte, com
sugere-se que a ciclogênese explosiva represen - invernos quentes na Califórnia e no Oregon . Os
ta uma versão mais intensa do desenvolvimento modelos de circulação atmosférica global cor-
típico de ciclones marítimos. roboram a visão de que anomalias persistentes
O movimento de depressões é determinado na temperatura da superfície do mar exercem
essencialmente pelos ventos de oeste em níveis um controle importante nas condições meteo-
elevados e, como regra, um centro de depressão rológicas locais e de grande escala.
viaja a por volta de 70% da veloc idade do vento
geostrófico superficial no setor quente. Registros
H DEPRESSÕESNÃO FRONTAIS
para os Estados Unidos indicam que a veloci -
dade média das depressões no seto r quen te é de Nem todas as depressões originam -se como
32 km h- 1 no verão e 48 km h - 1 no inverno. A ondas frontais. As depressões tropicais, de fato,
velocidade maior no inverno reflete a circulação são principalmente não frontais, e serão consi-
mais forte de oeste. Depressões rasas são orienta- deradas no Capítulo 11. Em latitudes méd ias e
das principalmente pela direção do vento térmi- altas, quatro tipos que se desenvolvem em situa-
co no setor quente, assim , seu caminho segue o ções diferentes são de particular importância e
da corrente de jato superior (ver Capítulo 6A.3). interesse: o ciclone de sotavento, a baixa térmi-
No entanto, as depressões profundas podem dis- ca, a baixa polar e a baixa fria .
CA PÍTU LO 9 Sistemas sinóticos e d e mesoescala em latitudes mé dias 249

100•

140º so•

....
., Corrente cfe jato
~
Piscin a fria ~

' Piscina quente

•r.,
~
16if 18if 160° 140º 120·

{B) Inverno de 1971-1 11


1 Quent

Frio
100·

40 • Pisc ina fria

Piscina quente

30•

- o
~
1601' 180º 160º 140º 120º

Figura 9.25 Relações general izadas entre tempe raturas da superfíci e do mo r no Pacífico Nor t e, trilhos de cor-
rentes de jato, zonas de formação de tempestades e tempera turas sobre a Amé rica do No rte duran te (A) condições
médias de inverno na década de 1960, e (B) inverno de 1971-1972, dete rminadas por J. Nam ias.
Fonte : W ick (1973 ), com pe rmis são de New Scient isf.
250 Atm osfera, Tempo e Clima

1 O ciclone de sotavento mb, menos do que em outras áreas subtropicais.


O clima que as acompanha costuma ser quente
O fluxo de ar de oeste que é forçado sobre uma
e seco, mas, se houver umidade suficien te, a ins -
barreira montanhosa no sentido norte-sul sofre
tabilidade causada pelo aquecimento pode levar
uma contração vertical sobre a crista e expan -
a pancadas e tempestades. As baixas térmicas
são no lado a sotavento. Esse movimento verti-
normalmen te desaparecem à noite, quando a
cal cria expansão e contração no sentido lateral
fonte de calor é cortada, mas, na verdade, per-
como compensação. Desse modo, há uma ten -
sistem na Índia e no Ariwna .
dência de divergência e curvatura anticiclónica
sobre a crista, e convergência e curvatura ciclô -
3 Baixas polares
nica a sotavento da barreira . Assim, podem se
formar cavados no lado a sotavento de colinas As baixas polares são uma classe mal-definida
baixas (ver Figura 6.13), bem como de grandes de sistemas de mesoescala a escala subsinótica
cadeias montanhosas , como as Montanhas Ro- (algumas centenas de quilômetros de diâme -
chosas . As características do fluxo d.e ar e o ta - tro), com ciclo de vida de um a dois dias. Em
manho da barreira determinam se um sistema imagens de satélite, elas aparecem como uma
fechado de baixa pressão irá se desenvolver ou espiral de nuvens, com uma ou várias faixas de
não. Essas depressões , que, pelo menos inicia l- nuvens, como uma nuvem em vírgula (ver Fi-
mente, tendem a permanecer "ancoradas" pe la gura 9.17 e Prancha 9.2), ou como um redemoi -
barreira , são frequentes no inverno ao sul dos nho em ruas e linhas de nuvens cumulus. Elas se
Alpes, quando as montanhas bloqueiam o fluxo desenvolvem principalmente nos meses de in -
baixo de correntes de ar de noroeste. Muitas ve- verno, quando correntes de ar mP ou mA fluem
zes, desenvolvem-se frentes nessas depressões, no sentido equatorial ao longo do lado leste de
mas a baixa não se forma como onda ao longo uma crista de alta pressão no sentido norte-sul,
de uma wna frontal. A ciclogênese de sotavento geralmente atrás de uma depressão primár ia em
é comum em Alberta e no Colorado, a sotaven - oclusão. Normalmente , elas se formam dentro
to das Montanhas Rochosas, e no norte da Ar - de uma zona baroclínica, por exemplo, perto de
gentina, a sotavento dos Andes . Também ocorre margens de gelo marinho, onde ocorrem fortes
na costa sudeste da Groenlândia, onde o efeito gradientes de tempera tura da superfície do mar,
de barreira do manto de gelo promove a ciclo - e seu desenvolvimento pode ser estimulado por
gênese no Estre ito da Dinamarca. O desenvol - uma perturbação inicial em níveis elevados.
vimento desses ciclones de sotavento contribui No Hemisfério Norte, o tipo de nuvem em
para a intensidade e a posição média da baixa vírgula ( que é uma perturbação da troposfera
da Islândia. média com núcleo frio) é mais comum sobre o
Pacífico Norte, ao passo que a baixa polares -
2 A baixa térmica piralada ocorre com mais frequência no Mar
Essas baixas ocorrem quase exclusivamente no da Noruega . Esta é uma perturbação de núcleo
verão, resultando do intenso aquecimento de quen te e nível baixo, que pode ter uma circu -
áreas cont inen t ais durante o dia. A Figura 7.lC lação ciclônica fechada a aproximadamente 800
ilustra sua . estrutura vertical. Os exemplos mais mb, ou pode simplesmente consistir de um ou
no táveis são as células de baixa pressão de verão mais cavados embutidos no fluxo de ar polar.
sobre a Arábia Saudita, a parte norte do subcon - Um aspecto fundamental é a presença de um
tinente indiano e o Arizona. A Península Ibé- fluxo úmido ascendente de sudoeste relativoao
rica é outra região que costuma ser afetada por centro de baixa. Essa organização acentua a ins-
essas baixas. Elas ocorrem sobre o sudoeste da tabilidade geral do fluxo de ar frio, gerando con -
Espanha , em 40-60% dos dias em julho e agos - siderável precipitação, muitas vezes na forma de
to. Geralmente, sua intensidade é de apenas 2-4 neve. A liberação de calor latente é um mecanis-
mb, e elas se estendem a aproximadamente 7 50 mo importante para gerar baixas polares ao sul
CAPÍTULO 9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 251

' ico e m 25 de feverei ro de 2008 . No lado


Prancha 9.2 Sistema de uma ba ixa polar loca lizado no Oceano Art
d ire ito do imagem, encont ram -se os Ilhas Queen Elizabeth, Canadó. As baixos polares asseme lham-se aos ci-
clo nes trop ica is quando at ingem intensidade suficie nte, mos duram apenas de 12 a 36 horas. Causam ventos e
neve em superfícies fortes, podendo ser reco nhecidos faci lm ente em image ns de satélite dev ido ao seu pad rão
ca racterís tico, chamado às vezes de "nuvem em vírgula" por causo do suo formo de gancho.
Fo n te : Je ff Schma ltz, Visible Eo rlh, NASA.
252 Atm osfera, Tempo e Clima

do Mar da Noruega, enquanto a baroclinicidade ter velocidade lenta e causam tempo instável
mais forte e a convecção mais fraca em níveis e pers isten te, com trovoadas no verão . A forte
baixos prevalecem em sistemas ao no rte do Mar precipitação observada no Colo rado na prima -
da Noruega e no Mar de Barents. O influxo de vera e no outono muitas vezes está associada a
calor do mar para o ar frio continua dia e noite, baixas frias.
de modo que, em áreas costeiras expostas, pode
haver pancadas a qualquer momento .
1 SISTEMAS CONVECTIVOS DE
No Hemisfério Sul, as baixas polares me -
MESOESCALA
sociclônicas parecem ser mais frequentes nas
estações de transição, pois são os momentos Os sistemas convectivos de mesoescala (SCM)
de gradientes mer idionais mais fortes de tem - são de tamanho e tempo de duração interme-
peratura e pressão. Além disso , sobre o Oceano diários entre as perturbações sinóticas e as
Austral, os padrões de ocorrência e movimento células individuais de cumulonimbus (ver Fi-
têm uma distribu ição mais sazonal do que no gura 9.26). A Figura 9.27 mostra o movimento
Hemisfé rio Norte. de agrupamentos de células convectivas, cada
célula com aproximadamente 1 km de diâme -
4 A baixa fria tro , à medida que cruzam a região sul da Grã -
-Bretanha com uma frente fria . Cada célula
A baixa fria (ou piscinafria) costuma ser mais pode ter vida efêmera , mas os agrupamentos de
evidente nos campos de circulação e tempera - células podem persistir por horas, intensifican -
tura da troposfera média . Caracteristicamente, do-se ou enfraquecendo devido à orografia ou
ela apresen ta isotermas simétricas ao redor do outros fatores .
centro de baixa. Os mapas de superfície podem Os sistemas convec t ivos de mesoescala
mostrar pouco ou nenhum sinal desses siste - oco rrem sazonalmente nas lati tudes méd ias
mas persistentes, que são frequentes sobre o (particularmen te na região central dos Estados
nordeste da América do Norte e o nordeste da Unidos , no leste da China e na África do Sul) e
Sibéria . Eles provavelmente se formam como nos trópicos (índia, Áfr ica Ocidental e Central
resultado do movimento vertical forte e do e norte da Austrália) como agrupamen tos quase
resfriamento adiabático em baixas baroclínicas circulares de células convectivas ou faixas linea -
ocluídas ao longo das margens costeiras árticas . res d.e rajadas de vento . Essa linha de instabilida-
Essas baixas são especialmente importantes de consiste em uma linha estre ita de células de
duran te o inverno ártico , pois trazem g.randes tempestade, que pode se estender por centenas
quantidades de nuvens médias e altas, o que de quilômetros. Ela é marcada por uma virada
compensa o resfriamento radiativo da super - brusca na direção do ven to e cond ições bas tante
fície . Com exceção disso , elas geralmente não tempes tuosas. A linha de instabilidade costuma
causam "tempo meteorológico " no Ártico du - ocorrer na porção dianteira da frente fria , man -
rante essa estação . É importante enfatizar que tendo-se como um distúrb io autopropagado ou
as baixas frias troposféricas podem estar rela - por correntes de tempestades descendentes, po-
cionadas com células de baixa ou alta pressão dendo forma r uma pseudofrente fria entre o ar
na superfície . resfriado pela chuva e uma zona livre de chuva
Nas latitudes médias , podem se formar dentro da mesma massa de ar. As linhas de ins -
baixas frias du ran te períodos de padrão de cir - tabilidade nas latitudes médias parecem se for -
culação de índice baixo (ver Figu ra 6.27 ) pe la mar por meio de dois mecanismos : (1) um salto
separação de ar polar do corpo principal de ar na pressão que se propaga como uma onda; (2)
frio ao norte (chamado às vezes de cut offlows). a borda frontal de uma frente fria superior que
Isso gera o t ipo de tempo relac ionado com a.ge sobre a ins tabilidade presente a leste de um
massas de ar polar, embora também possam cavado a sotavento de uma feição orográfica.
oco rrer frentes fracas. Essas baixas costumam Em ciclones frontais , o ar frio na porção final
CAPÍTULO9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 253

108 ------------------------------- ....

Difusão
/

Ano
107 molec ular /
/ Corrente de jat o Mês
/
• Semana
/ Anticiclon e 4 d ias
o
10s
/ Furacão
2 d ias

./
1~
._
(U Dia
:::,
u / Ventos locais
~ 104 /
o
a. Tempestade
E
(1)
./ / '
/ ' Hora
1- 103 / Cumu lus grandes ./ '
/ ,/
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102
/

Tornado
,/
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• Cumulus pequenos / '/ Minuto
/ Dust devil / '
/ ' Ondas
101 ./ (Turbilhão de
poeira ;"saciJ...- ,/
,/· sonoras
Turbulência em
pequena escala / '
10°~----------......,ilc;.._ __________________
• ..- __ -4

10- 2 10-1 102 103 104 105 106


Dimensão (m)

Figura 9.26 Escala espacial e temporal típica de sistemas de mesoescala e outros sistemas meteorológicos.

da depressão pode invadir o setor quente. A in -


trusão dessa cunha de ar frio causa muita insta -
bilidade, e a cunha fria em subsidência tende a
100 agir como uma concha, que força o ar quente e
km
mais lento a subir.
A Figura 9.28 demonstra . que o movimen-
19,45
17,45 { to relativodo ar quente é em direção à linha de
1 instabilidade . Essas condições geram tempesta -
J
5,45 des frontais severas , como a que atingiu Wokin -
1
1 gham , na Ingla terra, em setemb ro de 1959,
r
L movendo -se do sudoeste a aproximadamente
20 m s- 1, direcionada por um forte fluxo de oes-
te mais acima. O ar frio desceu de níve is mais
I altos como uma rajada violenta, e a corrente à
/
/
/ sua frente produziu uma intensa tempestade
/ a
de granizo. As pedras de granizo crescem por
acresção na parte superior da corrente, onde
f [gura 9.27 Pos içõe s sucessivas de agrupamentos velocidades acima de 50 m s_, são comuns , são
individu ais de células convectivas da meso troposfe ra sopradas à fren t e da tempestade pelos fortes
movendo-se pelo sul da Grã-Bretanha a aprox ima da-
1 ventos altos e começam a cair . Isso causa der -
mente 50 km h- com uma frente fri a . Localização e
intensidade da célula determinados por rodar.
retimento superficial, mas a pedra é pega nova-
fonte: Brownin g (1990). Com pe rmissão de Royal Meteoro -
mente pela linha de instabilidade, que continua
log ico l Society . avançando, e volta a subir. A superfície derreti -
254 Atmos fera, Tempo e Clima

10 5 o 5 10 15 km

Cisalhamentode
..._ vento em grande 15
alt itude

--~

10 ~
~
o
o
o
~
Corre es
descend
secas e fr
5
-
~,

Granizo
f
Frente de rajadas
Linha de de vento
___ C_h_
uv_a_f_o_rt_e__ ~ instabilidade

Figura 9.28 Estrut ura de célula de tempes tade com fo rm ação de gra nizo e tornado.
fanfe : Hindley {1977).

da congela, formando gelo vítreo à medida que propicia esse influxo. A medida que as células
a pedra é carregada acima do nível de congela- individuais se organizam em um agrupamen-
mento, havendo novo crescimento pelo acúmu - to ao longo da frente da alta superficial, novas
lo de gotículas supercongeladas (ver também células tendem a se formar no flanco direito
Capítulo 4, p. 124 e 140). (no Hemisfério Norte) pela interação das cor -
Diversos tipos de SCM ocorrem sobre a rentes frias descendentes com o ar adjacente.
região central dos Estados Unidos na prima - Por meio desse processo e da dissolução de
vera e no verão (ver Figura 9.29), trazendo células antigas no flanco esquerdo, o sistema
tempo severo por toda parte . Eles podem ser de tempestade tende a avançar 10-20º para a
pequenas células convectivas organizadas de direita da direção do vento mesotroposférico.
maneira linear, ou uma grande célula amor- Conforme a alta de tempestade se intensifica,
fa, conhecida como complexo convectivo de um "sulco de baixá', associado à melhora no
mesoescala(CCM), que se desenvolve a partir tempo, forma-se atrás dela. O sistema agora
de células de cumulonimbus inicialmente iso - produz ventos violentos, e pancadas intensas
ladas . A medida que a chuva cai das nuvens de chuva e granizo acompanhadas por trovo -
de tempestade, o resfriamento evaporativo do adas. Durante a formação de novas células,
ar abaixo das bases das nuvens gera correntes tornados podem ocorrer, conforme discutido
frias descendentes que, quando se tornam su- a seguir. A medida que o complexo convectivo
ficientemente amplas, criam uma alta pressão de mesoescala alcança maturidade durante as
local com intensidade de alguns milibares. horas da noite e da madrugada sobre as Gran-
Essas correntes desencadeiam a ascensão do des Planícies, a circulação de mesoescala é
ar quente deslocado, e a liberação de calor la- coberta por um amplo escudo de nuvens frias
2
tente gera um aquecimento geral da troposfera altas (> 100.000 km ), prontamente identifica-
média. Há um influxo para essa região quente, do em imagens de satélite em infravermelho.
acima do fluxo frio no sentido externo, cau- As estatísticas para 43 sistemas sobre as Gran-
sando mais convergência de ar úmido e ins - des Planícies em 1978 mostraram que os sis-
tável. Em certos casos, um jato de baixo nível temas duraram 12 horas em média, com a or-
CAPÍTULO
9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 255

Início Desenvolvimento Maturidade


Sistemas oonvectivos
lineares

Siste .mas convectivos


em oclusão

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(i)
o

Sistemas convectivos
caóticos

a()

Fígura 9.29 Evolução esq uemá tico de três modos convectivos sobre os Grandes Planícies nor1e-americanas,
mostrando vór ios escalas de desenvolv imen to de nuvens (sombreado).
Fonte : Blo nchord (1990 , p. 996, Fig .2). Cor tesia de Amer icon Meteoro log ico l Society .

ganização inicial de mesoescala ocorrendo no -Mississippi até a costa leste. O complexo con-
começo da noite (18:00-19:00 1ST), e o níve l vectivo de mesoesca la geralmente se desfaz
máximo , sete horas depois. Durante seu ciclo quando feições de escala sinótica inibem a sua
de vida, os sistemas podem viajar da frontei- autopropagação. A produção de ar frio termi-
ra do Colorado-Kansas para o rio Mississippi na quando cessa a convecção, enfraquecendo
ou os Grandes Lagos, ou do vale do Missouri- as altas e baixas de mesoescala, e a chuva se
256 Atm osfera, Tempo e Clim a

torna leve e esporádica , vindo finalmente a (

parar por completo.


Tempestades particularmente severas são I
I
associadas a uma grande instabilidade vertical Ouen1e
seco
potencial (p. ex., ar quente e úmido sob ar mais
1.500- ~
seco, com ar mais frio acima ). Esse foi o caso 6.000 m ~~~ ~ 1
em uma tempestade severa nas proximidades
de Sydney, Austrália, em 21 de janei ro de 1991 -~º 5 ,.-

(Figura 9.30). A tempestade formou -se em uma /l;~'v~ \


o..;j
corrente de ar baixa, quente e úmida que fluía
para nordeste no lado leste das escarpas das
Montanhas Azuis. Esse fluxo era coberto por Mar da Tasmânia
uma corren te de ar quente e seco de nor te, a
uma elevação de 1500-6000 m, que, por sua vez,
Camberra •
era coberta por ar frio associado a uma frente
fria próxim a. Cinco a sete dessas tempestades
severas ocorreram todos os anos nas adjacên - o 100

cias de Sydney durante o período 1950-1989.


Ocasionalmente , as chamadas tempestades
de supercélulas podem se desenvolver à medi - Figura 9.30 Condições asso ciadas a uma tem pesta-
de severa perto de Sydney, Austrólia, em 2 1 de janeiro
da que novas células, que se formam a jusante,
de 199 1. Os contornos indicam o número anua l médio
são varridas para cima pelo movimento de uma de tempestades severas (por 25.000 km2 ) sobre o leste
célula mais antiga. Elas têm aproximadamente de New South Wales entre 1950 -1989 .
o mesmo tamanho que os agrupamen tos de fonte: Gr iff iths et oi. (1993 ). Eyre (199 2), e NSW Bu reau oí Me-
células de tempestade, mas são dominadas por leo ro logy, Weother Royal Meteo , olog ico I Socie ty. Copyrigh t ©.

uma corrente ascenden t e gigante e correntes


descendentes fortes e localizadas (Figura 9.31).

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Ar frio
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Fragmentos Chuva teve
Base da nuvem
sem precipitação ~-- Chuva forte
Ar quente Granizo pequeno
Frente de ínstabílidade Granizo grande o 50
no flanco trase iro Cortina de Tomado km
precipitação

Figura 9.31 Supercélula de tempes tade .


fonte: Not ionol Severe Storms Lobora tory, USA e H. Blues tein; Hou ze ond Ho bbs (1982 ). Co pyright© Acodem ic Press , repro -
duzJdo com pe rmissão .
CAPÍTULO9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 257

Elas podem levar a grandes pedras de granizo de uma tempes t ade severa. As tempestades em
e tornados, embora algumas somente produ- supercé lu las costumam ser identificáveis pela
zam quantidades moderadas de chuva. Uma análise visual em uma imagem de radar de re-
medida útil da instabilidade em tempestades flexividade como um padrão de eco em gancho
de mesoescala é o número de Richardson (Ri), no flanco direito pos terior (Prancha 9.4) . O
qu e é a razão (adimensional) da supressão da eco representa uma b anda de nuvens em espi -
turbulência por flutuação pela geração de tur - ral (ciclônica ou anticiclónica) ao redor de um
bulência pelo cisalh amento vertical do vento pequeno olho central, e seu surgimento pode
na troposfera inferior. Um valor elevado de Ri indicar o desenvolvimento de um tornado. A
significa cisalhamento fraco em relação à flu- origem do eco em gancho parece envolver a
tuação; Ri > 45 favorece a formação de células advecção horizontal de precipitação da porção
independentes longe da corrente- mãe ascen - pos terior do mesociclone . A rotação ocorre
dente . Para Ri < 30, o cisalhamento forte sus - onde uma corrente ascenden te de tempes tade
tenta uma supercélula, mantendo a corrente interage com o fluxo horizontal . Consideran -
ascendente perto de sua corrente descenden te. do que a veloc idade do vento aumenta com a
Ri < 10 indica fraca instabilidade e for te cisa- altitude, o cisalhamento vertical do vento gera
lhamento vertical. vorticidade (Capítulo 6C) ao redor de um eixo
Os tornados, que costumam se desenvol - normal ao fluxo de ar, que então é inclinado
ver dentro de sistemas convec tivos de meso - verticalmen te pela corrente ascendente . O ci-
escala, são comuns sobre as Grandes Planícies salhamento direcional também gera vorticida -
dos Estados Unidos, especialmen te na prima- de, que a corrente ascenden te traduz vertica l-
vera e no começo do verão (ver Figura 9.32 e mente . Esses dois elemen tos levam à rotação
Prancha 9.3). Durante esse período, ar frio e na corrente ascendente na média e baixa tro -
seco do platô elevado pode encobrir o ar tro - pos fera, formando um a mesobaixa de 10-20
pical marítimo (ver Nota 1). A subsidência km de diâmetro . A pressão namesobaixa é 2- 5
abaixo do jato troposférico superior de oeste mb inferior à do ambiente circundante . Em ní -
(Figura 9.33) forma uma inversão a aproxima- veis baixos, a convergência horizon tal aumenta
damente 1500-2000 m, cobrindo o ar úmido a vorticidade, e o ar ascendente é reabas teci-
baixo . O ar úmido é estendido para norte por do por ar úmido de níveis progressivamente
um jato de baixo nível de sul (cf. p. 259) e, pela mais baixos à medida que o vórtice desce e se
continuação da advecção , o ar embaixo da in - intensifica . A mesobaixa reduz de diâmetro , e
versão se toma cada vez mais quen te e úmido . a conserva ção do momen to aumenta a velo-
Finalmente, a convergência e a ascensão geral cidade do vento . Em um determinado ponto ,
da depressão desencadeiam a instabilidade po- um tornado, às vezes com vórtices secundários
tencial do ar, gerando grandes nuvens cumulus, (Figura 9.34) , forma -se dentro da mesobaixa.
que invadem a inversão . O gatilho convectivo Observou-se que o funil do tornado origina-se
às vezes é disparado pela aproximação de uma na base da nuvem e se estende para a super fície
frente fria em direção à borda oeste da cunha (Figura 9.34). Uma ideia é que a convergência
de ar úmido . Tornados t ambém podem ocor- embaixo da base de nuvens cumulonimbus,
rer em associação com ciclones tropicais (ver p. auxiliada pela interação entre as correntes des-
337) e em outras situações sinóticas, se houver cendentes frias com precipitação e corren tes
o contraste vertical necessário nos campos de ascendentes vizinhas , pode dar início ao funil.
tempera tura, umidade e vento . Outras observações sugerem que o funil se for-
O mecanismo exato do tornado ainda não ma simu ltaneamente por meio de um aprofun -
foi plenamen te compreendido, devido às difi - damento consideráve l da nuvem , geralmente
culdades de observação . Os tornados tendem uma nuvem cumulus em torre . A por ção su-
a se desenvolver no quadrante direito posterior perior do cone do tornado nessa nuvem pode
258 Atmosfera, Tempo e Clim a

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Figura 9.32 Características de tornados nos Estados Unidos: (A) frequência de tornados (por 26 .000 km 2 )
entre 1953-1980; (B) número mensal médio de tornados poro cada um dos nove anos mostrados pe los borras
pretas e broncos alternados (1990-1998); (C) médias mensais de mor tes resu ltantes (1966 -1995).
Fonte: (A) NOAA (1982). (8) e (C) NOM Storm Prediction Center.

CAPITU
LO 9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 259

Prancha 9.3 Poeira levantada por um tornado no meio-oeste dos Estados Unidos.
Fonfe : Co rtes ia de Mar k Ande rson, Un ivers ity of Ne vada.
260 Atm osfera, Tempo e Clima

se conectar à principal corrente ascendente de 200-250 mb em alguns casos, e é isso o que


uma cumulonimbus vizinha, causando a rá - torna o funil visível, fazendo o ar que entra
pida remoção de ar da espiral , e permitindo no vór tice atingir a saturação . Sobre a água,
uma redução abrup ta da pressão na superfí - os tornados são chamados de trombas d'água;
cie. Estima -se que a queda de pressão exceda a maioria delas raramente atinge intensidades
extremas. O vórtice do tornado em geral tem
apenas algumas centenas de metros de diâ -
metro e, em uma banda ainda mais res trita
Baixa
ao redor do núcleo, os ventos atingem veloci -
dades de até 50-100 m s- 1• Tornados intensos
podem ter múl tiplos vórtices girando no sen -
tido anti -horário em relação ao eixo principal
do tornado, cada um seguindo um caminho
ciclônico. Todo o sistema do tornado confere
Golfo do México um padrão complexo de destruição, com as ve-
locidades máximas do vento no limite direito
Figura 9.33 As cond ições sinót ,icas que favor ecem
(no Hemisfério Norte), onde as velocidades de
tempestades severas e tornados sob re as Grande s translação e rotação se combinam. A destrui -
Planícies. ção resul ta não apenas dos ventos fortes, pois

.,. J
...

Prancha 9.4 Imagem de radar de um eco em gancho, que costuma ser o precursor da atividade de tor nados.
Fonte : NOAA NSS 0104 .
CAPÍTULO
9 Sistemas sinóticos e de mesoescala em latitudes médias 261

V Velocidade rotacional ao redor do


centro do to rnado
Direções do vento

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~---
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Figura 9.34 Diagramo esquemótico de um tornado complexo com m ú ltiplos vór t ices de sucção.
Fonte : Fujito (1981, p .125 l , fig . 15). Cortesia de Ame ricon Meteoro logico l Soc iety .

os prédios perto do caminho do vórtice podem 1975-2006, e aproximadamente 1800 feridos por
explodir devido à redução da pressão externa. ano, embora a maioria das mortes e da destrui -
Os tornados intensos têm problemas quanto ção resulte de alguns tornados efêmeros, que for-
ao seu suprimento energético, e foi sugerido mam apenas 1,5% do total registrado. Por exem-
recentemente que a liberação de energia térmi - plo, o tornado mais severo já registrado viajou
ca por raios e outras descargas elétricas pode 200 km em três horas, passando por Missouri ,
ser uma fonte adicional de energia. Illinois e Indiana , em 18 de março de 1925, ma-
Os tornados geralmente ocorrem em fa- tando 689 pessoas. As mortes causadas por tor-
mílias e se movem ao longo de caminhos retos nados somaram quase 19.000 durante o período
(entre 10 e 100 km de comprimento e 200 ma de 1880-2005, mas a taxa anual decaiu conside -
2 km de largura) em velocidades determina- ravelmente a partir das décadas de 1920 e 1930.
das pela corrente de baixo nível. As médias de A maior proporção (44%) de mortes ocorre em
30 anos indicam aproximadamente 750 tor- trailers.
nados por ano nos Estados Unidos, com 60% Também ocorrem tornados no Canadá,
deles ocorrendo de abril a junho (ver Figura na Europa, na América do Sul, na Austrália , na
9.32B). A maior deflagração de tornados nos África do Sul, na Índia e no Leste Asiático , e já
Estados Unidos ocorreu em 3-4 de abril de foram observa .dos nas Ilhas Britânicas . Durante
1974, estendendo-se do Alabama à Geórgia o período de 1960- 1982, houve 14 dias por ano
no sul e ao Michigan no norte, e de Illinois no com ocorrências de tornados. A maioria deles
oeste à Virgínia no leste. Essa "super deflagra- vem de deflagrações menores, mas, em 23 de
ção,, (super outbreak) gerou 148 tornados em novembro de 1981, 102 foram observados du -
20 horas, com uma distância total percorrida rante um fluxo de sudoeste na dianteira de uma
de mais de 3200 km (Prancha 9.5). frente fri a. Eles são mais comuns no outono ,
Nos Estados Unidos, os tornados causaram quando o ar frio se move sobre mares relativa-
uma média de 59 mortes por ano no período mente quentes .
262 Atm osfera, Tempo e Clim a

WISCONSIN CANADA

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NEW YORK
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PENNSYLVANIA

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L
SUPEROUT BREAK TORNADOES OF APRIL 3-4, 1974
148 TWISTERS IN 24 HOIIRS

Prancha 9.5 Deflagração de supertornodos em 3-4 de a bril de 1974, quando 148 torn a dos foram observados
em 24 horas; 30 desses tornados fora ·m c lassificados como F4 ou FS (ventos de 92-142 m s-l ) na escal a de tor-
nados Fujita- Pearson. Foram registrados 315 mortes relacionadas com as tempestades, mais de 6.100 feridos, e
os prejuízos ultrapass a ram USS600 milhões (em dó lares de 1974).
CAPÍTU LO 9 Sistemas sinót icos e de mesoescala em latitudes méd ias 263

As massas de ar ideais são defin idas em termos de cond ições barotrópicas, onde as isóbaros e as isoter-
mas são paralelas entre si e à superfíc ie. O car6ter de uma massa de ar é determ inado pela natureza do
6rea -fonte, por mudanças decorrentes do movimento da mosso de ar e por sua idade . Em escala regio -
na l, as trocas energét icas e o mistura vertica l levam a um nível de equ ilíbrio ent re as condições supe rficia is
e os do ar sobre jacente, particularmente em sistemas de alta pressão semiestac ionórios . Como conven-
ção, as massas de ar são identificados em termos dos caracter ísticas de temperatura (6rtica, polar, tropi-
ca l) e da reg ião-fonte (marítima, cont inenta l). As massas de ar primárias se o ri ginam em reg iões de sub-
sidência anticic lônica semipermanente sobre superfíc ies extensas com propr iedades seme lhantes. As
massas de ar frio originam-se em anticiclones cont inentais no inverno (Sibér ia e Canadá ), onde o cober -
tu ra de neve promove ba ixas temperaturas e estrat ificação estável , ou sob re o gelo marinho em lat itudes
elevadas . A lgumas fontes são sazona is, como a Sibér ia; outras são permanentes, como o Antárt ica . As
massas de ar quente orig inam -se em fontes continenta is tr op icais rasas no verão , ou em camadas espes-
sas de umidade sobre os oceanos tropica is. O mov imento de massas de ar causa alterações na estabi li-
dade , por me io de processos termodinêlmicos (aquec imento / resfr iamento a part ir de níveis infer iores e
trocos de umidade ) e processos dinélmicos (mistura, ascensão / subsidência ), produzindo massas de ar se-
cundó rias (p. ex., ar mP). A idade de uma massa de ar determina o grau de perda de sua identidade como
resultado do mistura com outras massas de ar e de trocas ve rtica is com a superf ície sub jacente .
Os limites entre as massas de ar geram zonas fronta is barocl ínicas com algumas centenas de
qu ilômet ros de extensão . A teoria clássica (norueguesa ) dos ciclones de lat itudes méd ias considera que
as frentes são um aspecto bás ico de sua formação e ciclo de vida . Mode los recentes mos tram que , em
vez do processo de oc lusão frontal, a frente quente pode se inc linar para t rás , com a segregação do
ar quente dent ro da corrente de ar po lar . Os ciclones tendem a se formar ao longo de zo nas fronta is
importantes - as frentes polares do At lélntico Norte e cer tas regiões do Pacif ico Norte e do Oceano
Aus t ra l. Uma frente 6 rtica se dispõe no sent ido do polo , e h6 uma zona frontal de inverno sob re o Med i-
ter rêlneo. As massas de ar e zonas frontais avançam em d ireção aos po los (equador) no verão (inverno).
As teo r ias recentes sobre o formação de ciclones consideram as frentes relat ivamente inc identais.
As bandos de nuvens e óreos de p recipitação são assoc iados a esteiras de a r quente . A divergência do
a r na troposfera superior é essencia l para a elevação de grande escalo e o convergência em níve is ba i-
xos . A ciclogê nese supe r fic ial, po rta nto , é f avo recida no ramo leste de um cavado de onda em níve is
elevados . A ciclogênese " explos ivo " parece ser associada a grad ientes fortes de temperat ura do su -
perf ície ma ri nha no inverno . Os ciclones são d irec ionados bas icamente por ondas longas (de Rossby)
sem iestac ionárias nos ventos de oeste hem isféricas, cujos pos ições são fortemente infl uenc iadas por
fe ições superfic ia is (grandes barreiras montanhosos e contrastes entre a temperat ura dos continentes e
dos oceanos) . As zonas barocl ínicas superio res são associados o cor rentes de jato o 300 -200 mb , que
também seguem o pad rão de ondas lo ngas .
A sequência climótico ideal izada em uma depressão f rontal na direção leste envolve o aumento
do nebulos idade e do prec ip itação com o aproximação de uma frente quente; o grou de at ividade
depende de se o ar do setor quente estó subi ndo ou descendo (frente ano ou f rente cato , respectiva-
mente) . A frente fr ia seguinte costu mo ser m arcada por uma bando estreita de precip itação convect iva ,
mas o chuva adiante da f rente quente e no setor quente também pode ser orga nizada em célu las e
bandos de mesoescala com intens idade local, dev ido à "estei ra" de ar no setor quente.
Alguns sistemas de ba ixa pressão se formam po r m eio de mecan ismos não f ro ntais , inc luindo
os ciclones de sotave nto formados o sotave nto de cade ias de montanhas ; ba ixas térmicas dev ido ao
aquec imento no verão ; dep ressões de ar polar , formados normalmente em um surg imento de ar ma -
r ítimo 6rt ico sobre os oceanos ; e o ba ixa frio super io r, que m uitos vezes é um sistema que se separa,
du rante o desenvo lvimento de ondas superiores ou um ciclone oc lufdo em lat itudes méd ias no Artice .
Os sistemas convect ivos de mesoescalo (SCM ) têm uma esco la espacial de dezenas de qu il6me-
tros, e uma escalo temporal de algumas ho ras. Eles podem causar tempo seve ro, inclu indo tempesta-
des e tornados. As tempestades são gerados por oscenção convectivo , que pode resu lta r do aqueci-
mento diurno, ascen são orogróf ico ou linhos de in stab ilidade . Vó ri os cé lulas podem se o rganizar em
um complexo convectivo de mesoescala (CCU ) e avança r com o fluxo de grande esca lo. As tempes -
tades associadas a um sistema convect ivo em deslocamento p ropic iam o amb iente necessár io paro a
fo r mação de pedras de granizo e pa ra a geração de to rnados .
264 Atmosfera, Tempo e Clima

• Quais são as diferenças essenciais en tre sistemas de mesoescala e de escala sinótica?


• Usando um website apropriado, com cartas sinóticas do tempo (ver Apêndice 40), trace o movi-
men to de baixas não frontais/cavados e células de alta pressão ao longo de um período de 5 dias,
determinando as taxas de deslocamento e as mudanças de intensidade dos sistemas.
• Do mesmo modo, analise a relação entre altas e baixas superficiais com feições no nível de 500 mb .
• Considere a distribuição geogr6fica e a ocorrência sazonal de diferentes tipos de sistemas não
frontais de baixa pressão.

R:EFERÊNCIASE SUGESTÃO DE Artigos científicos


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etem •
o e o e 1ma
em atitu es
, •
me ias e a tas

OBJETIVOSDE APRENDIZAGEM
Depois de ler este capí tulo, você:

• estaró familiarizado com os principais fatores que determ inam o clima em muitas regiões de latitu-
des médias e altas e nas margens subtropicais;
• visualizaró o papel das grandes barreiras topogróficas na , determinação do clima regional; e
• conheceró os contrastes entre as condições climóticas no Artico e no Antártica.

Nos Capítulos 7 e 8, apresentamos a estrutura A EUROPA


geral da circulação atmosférica e analisamos
o comportamento e a origem dos ciclones
1 Condições de vento e pressão
extratropicais. A contribuição direta dos sis- Os aspectos dominantes do padrão médio de
temas de pressão para a variabilidade diária pressão sobre o Atlântico Norte são a Baixa
e sazonal do tempo no cinturão de ventos de da Islândia e a Alta dos Açores. Elas estão pre-
oeste é clara para os habitantes das regiões sentes em todas as estações (ver Figura 7.9),
temperadas. No entanto, existem contrastes embora sua localização e intensidade relativa
igualmente evidentes no clima regional nas mudem considerave lmen te. O fluxo superior
latitudes médias, que refletem a interação en- nesse setor sofre pouca mudança sazonal em
tre fatores geográficos e meteorológicos. Este seu padrão, mas os ventos de oeste diminuem
capítulo faz uma síntese sobre o tempo e o sua intensidade pela metade do inverno para o
clima em diversas regiões extratropicais, com verão . O outro sistema de pressão importante
base nos princípios já apresentados. As con- que influencia os climas europeus é o antici-
dições climáticas das margens subtropicais e clone siberiano de inverno, cuja ocorrência é
polares do cinturão de ventos de oeste, e das intensificada pela ampla cobertura de neve do
próprias regiões polares, são analisadas nas inverno e pela acentuada continenta lidade da
seções finais do capítulo. Quando possíve l, Eurásia . As depressões atlânticas costumam
são usados temas diferentes para ilustrar al- avançar em direção aos mares da Noruega ou
guns dos aspectos mais significativos do clima Mediterrâneo no inverno, mas, se forem para
em cada área. leste, sofrem oclusão e se fecham muito antes
268 Atm osfera, Tempo e Clima

de penetrar no centro da Sibéria. Assim , a alta é movida principalmente pelo vento e iniciada
pressão siberiana é quase permanente nessa pelos ventos predominantes de sudoeste . Ela
estação e, quando se estende para oeste, con - flui a uma velocidade de 16 a 32 km por dia e,
dições severas afetam grande parte da Europa. assim, a partir da Flórida, a água leva em torno
No verão, a pressão é baixa sobre toda a Ásia, de oito ou nove meses para alcançar a Irlanda e
e depressões do Atlântico tendem a seguir um por volta de um ano para chegar à Noruega (ver
caminho mais zonal. Embora as trilhas de tem - Capítulo 7D .l). Os ven tos de sudoeste trans-
pestades sobre a Europa não se voltem para o portam calor sensível e latente adquir ido sobre
polo no verão, as depressões observadas nessa o Atlân tico ocidental no rumo à Europa e, em-
estação são menos intensas , de modo que os bora continuem a ganhar calor sobre a porção
contrastes menores entre as massas de ar ge - nordeste do Atlântico Norte , esse aquecimento
ram frentes mais fracas. local ocorre principalmente por meio do efeito
As veloc idades dos ventos sobre a Euro - de arraste dos ventos sobre as águas quentes su-
pa Ocidental mantêm uma forte relação com perficiais . O aquecimento de massas de ar sobre
a ocorrência e o movimento das depressões. o Atlântico nordeste tem significância quando o
Os ventos mais fortes ocorrem em costas ex- ar polar ou ártico flui para sudeste a partir da Is-
postas ao fluxo de ar de noroeste, que segue a lândia. A temperatura nessas corren tes de ar no
passagem de sistemas frontais , ou em feições inverno pode subir 9ºC entre a Islândia e o nor-
topográficas constritas que direcionam o movi - te da Escócia. Em contrapartida, o ar tropical
mento das depressões ou afunilam o fluxo de ar marítimo esfria 4ºC em média entre os Açores e
através delas (Figura 10.1). Por exemplo, odes- o sudoeste da Inglaterra no inverno e verão. Um
filadeiro de Carcassone no sudoeste da França efeito evidente da Corrente do Atlântico Norte
é uma rota sul preferencial para depressões no é a ausência de gelo ao redor da linha de costa
sentido leste a partir do Atlântico. Os vales do da Noruega. Todavia, o princ ipal fator que afeta
Ródano e do Ebro são canais de ventos fortes o clima no noroeste europeu é o vento predo -
na esteira de depressões localizada no Medi - minante em direçãoà costa,que transfere calor
'
para a area.
terrâneo ocidental, gerando os ventos mistral
e cierzo, respec tivamente , no inverno (ver Cl, A influência de massas de ar marítimo pode
se estender Europa adentro devido à existência
neste capítulo). Por toda a Europa Ocidental, a
de poucas barreiras topográficas importantes ao
velocidade média dos ventos nos topos de coli-
fluxo de ar e à presença do Mar Medi terrâneo .
nas é pelo menos 100% maior do que em locais
Assim, a mudança para um regime climático
mais protegidos. Os ventos em terreno aberto
mais continental é relativamen te gradual, com
são, em média, 25-30 % mais fortes do que em
exceção da Escandinávia, onde a cadeia monta -
locais protegidos; e as velocidades dos ventos
nhosa produz um nítido con traste entre o oeste
costeiros são pelo menos 10-20 % menores do
da Noruega e a Suécia . Há inúmeros índices que
que sobre os mares adjacentes (ver Figura 10.1).
expressam essa continentalidade, mas a maioria
deles baseia -se na amplitude anual da tempera -
2 Maritimidade e
tura . (ver Nota 1). O índice de continental idade
continentalidade
de Gorczynski (K) é:
As temperaturas de inverno no noroeste euro - A
peu são 11º C ou mais acima da média latitudi - K = 1,7 --- 20)4
sen q)
nal (ver Figura 3.18), fato este que costuma ser
atribuído à presença da Corrente do Atlântico onde A é a amplitude anual da temperatura
Norte. Todavia, existe uma complexa interação (º C) e q>é o ângulo da latitude. ( O índice pres-
entre o oceano e a atmosfera. A corrente, que se supõe que a amplitude anual da radiação solar
origina na Corren te do Golfo na costa da Flóri- aumenta com a latitude , mas, de fato, ela está
da e é intensificada pela Corrente das Antilhas, no máximo ao redor de SSºN ). K varia de Oem
CAPÍTULO 1O O tempo e o clima em latitudes médias e altas 269

% VaJent ia % W ick % Manches ter % Londres % Alborg


20 20 20 20 20
15 15 15 15 15
10 10 · 10 10 10
5 5 5 5 5
o o o o o
o 5 10 15 2oms - 1 o 5 10 15 20 ms- 1 o 5 10 15ms - l o 5 10 15ms- 1 o 5 10 15 2oms - •
% Or leans
20

15 ~ ~~ Frankfurt
10
5
o
O 5 10 15ms- ' 5
% Bordeaux
o
20 O 5 10 15ms- 1
M ilão
15 %
30
10
25
5 /
I 20
o
O 5 10 15ms- 1 I
15
% M adri 10
20
5
20
o
15 O 5 10 15ms - 1
10 % Brindisi
15
5
-'v-1... 10
o
O 5 10 15ms -1 km 5

% Lisboa
o
o 5 10 15 2oms- ·
20
ms- 1 Protegido Aberto Costa Mar Colinas
15
>6,0 >7,5 >8,5 >9,0 >11,5
10 5,0 - 6,0 6,5 - 7,5 7,0 - 8,5 8,0 - 9,0 10,0 - 11,5
5 4,5 - 5,0 5,5 - 6,5 6,0 - 7,0 7,0 - 8,0 8,5 - 10,0
o 3,5 - 4,5 4,5- 5,5 5,0 - 6,0 5,5 - 7,0 7,0 - 8,5
o 5 10 15ms- l <3,5 <4,5 <5,0 <5,5 <7,0

Figura 10.1 Velocidades médios do vento (m s-•) sobre a Europa Ocidental, medidas o 50 m acima do nível do
solo poro terreno protegido, planícies abertos, zona costeira, mor aber to e topos de colinas. São mos trados os
frequênci a s (%) de velocidades dos ven tos por o 12 loca is.
fonte : Troe n e Petersen {1989) . Co rtes ia da Co m miss ion of lhe European Co m mu nities .

estações oceânicas extremas a 100 em estações índ ice da cont ine ntalidade, isto é, K = C/N (%).
continen tais extremas, mas seus valores oca- A Figura 10.2 mostra que o ar não continen tal
sionalmente ficam fora desses limites. Alguns ocorre pelo menos na metade do tempo sobre
valores observados na Europa são: 10 para a Europa, a oeste de lSºE, bem como sobre a
Londres, 21 para Berlim e 42 para Moscou . A Suécia e a maior parte da Finlândia.
Figura 10.2 mostra a variação desse índice so- Outro exemp lo de regimes marí ti mos e
bre a Europa . continen tais é encontrado comparando-se Va-
Uma abordagem independen te relaciona lentia (Eire), Bergen e Berlim (Figura 10.3). Va-
a frequência de massas de ar continen tal ( C) lentia tem temperaturas uniformes e uma máxi-
com a de todas as massas de ar (N) como um ma de pluviosidade no inverno como resultado
270 Atm osfera, Tempo e Clim a

20ºW 20º E 40º

60ºN

50º
---..r
,,' , ,
I
I I
I
I I '
,,
;
I

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, I
1
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I 1
I ' 1
1
---- 40
'' ,,,,--40
I

30
''\
\
\
50 %
10 30
2030 20

Figura 10.2 Continen ta li da d e na Europa. Os lnd ices d e Gorczynski (lin ha trace jado) e Berg (lin ha con tín ua)
sóo exp licados no tex to . Ver também N oto l , C a p. 1O.
fo nte : Adaptado de Blüth gen (1966 ).

de sua situação oceânica (p. 60), ao passo que 3 Padrões de vento e suas
Berlim tem uma considerável amplitude térmi - características climáticas nas
ca e uma máxima de pluviosidade no verão. Um Ilhas Britânicas
clima "uniforme " teoricamente ideal foi defini - Os mapas meteorológicos diários para o setor
do como aquele com temperaturas médias de das Ilhas Britânicas (S0-60 ºN, 2ºE-10ºW) de
14ºC em todos os meses do ano . Bergen rece- 1873 ao presente foram classificados em um
be grandes totais de pluviosidade por causa da esquema desenvolvido pelo falecido professor
intensificação orográfic~ e tem um máximo no H . H . Lamb, segundo a direção dos ventos ou
outono e no inverno, sendo sua faixa de tempe- padrão isobárico. Ele identificou sete catego -
ratura intermediária entre as outras duas. Essas rias principais: tipos oeste (W), noroeste (NW),
médias transmitem apenas uma impressão ge- norte (N), leste (E) e sul (S) - referindo-se às
ral das características climáticas e, portanto, os direções de onde os ventos e os sistemas me -
padrões climát icos bri tânicos serão analisados teorológicos vêm. Os tipos ciclônico (B) e an -
mais detalhadamente . ticiclónico (A) indicam quando uma célula de
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 271

1cr - 5 O 5 10 15 20ºC
25cm

20cm

.o
J1\. N J 15cm
f(
\
-- .o •A
A"-M\
M
"' ~ 10cm
""' de noroeste
A'-.....__/ 'J
Vale nti a M J J ,1·J

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cr._ _ ___._
__ _._ __ _._ __ _._ _ _, Ocm
20 30 40 50 60 ?OºF
Temperatu ra mensal méd ía

Ffgura 10.3 Grófico poligonal de temperatura e


precipitação (Hy thergraph) para Va lentia (Eire), Ber-
gen e Berlim. São p lo tados os totais médios de tempe-
ratura e precipi tação poro cada mês.

baixa ou alta pressão, respectivamente , domina


o mapa sinóti co (Figura 10.4).
Em princípio, cada categoria deveria pro-
duzir um tipo cara.cterístico de tempo , depe n-
e sul _ _,Cic1ônico
dendo da estação, e o termo tipo de tempo às
vezes é usado para t ransmitir essa ideia. Foram
realizados estudos estatísticos das condições
climáticas reais em diferen tes localidades com
padrões isobáricos específicos - um campo de
estudo conhecido como climatologia sinótica.
As condições climáticas gerai s e as massas de ar
associadas aos tipos de ventos identificados por
Lamb sobre as Ilhas Britân icas são sintetizadas
na Tabela 10.1.
Em uma média anual, o tipo de fluxo de ar Figura 10.4 Situações si nóticas sobre as Ilh as Bri -
tânicas, classificadas segundo os t ipos de fluxos de ar
mais frequente é o de oeste; incluindo os subti-
de H. H. Lamb .
po s ciclônico e anticiclônico, ele tem uma fre-
Fonte: Lomb; O' Ho re ond Sweeney ( 1993). Copyr ight @ The
quência de 35% de dezemb ro a janeiro , e quase Geographical Associolio n ond G . 0 1 Hare.
a mesma frequência de julho a setembro (Fi-
gura 10.5) . O mín imo ocorre em ma io (15%), na região central da Inglate rra e a precip itação
quando os tipos de norte e leste ati ngem seus média diária sobre a Inglaterra e o País de Gale s
níveis máximos (por volta de 10% cada ) . Os pa - para cada tipo nos me ses de me ia-est ação para
drões ciclônicos puros são mais frequen t es de o pe ríodo 1861-1979.
julho a agosto (13-17%) e os padrões anticicló - A frequência mensal dos diferentes tipos
nicos , em junho e setemb ro (20%); os padrões de massas de ar sobre as Ilhas Britânicas foi
ciclôn icos têm frequência ~ 10% em todos os analisada por J. Belasco para 1938-1949. Existe
meses , e os padrões anticiclónicos , ~ 13%. A uma predominância clara de ar marítimo polar
Figura 10.5 ilustra a temperatu ra méd ia diária de oest e a noroeste (mP e mPw), que tem fre-
272 Atmosfera, Tempo e Clim a

Tabela 10.1 Ca racter ísticas cl imá ticas gera is e massas de ar associadas aos tipos de ventos de Lamb
sobre os Ilhas Britâ nicos

Ttpo Condições do tempo meteorológico

Oeste Clima instóvel , com direções de ventos vari6veis à med ida que dep ressões cruzam a região .
Mode rado e tempestuoso no inverno , ge ralmente fresco e nublado no verão (mP; mPw, mT}.
No roeste Fresco, cond ições instóveis. Ventos fortes e pa ncadas afetam especialmen te os costas a
barlavento, mos a porção sul do Ilha Britdn ica pode ler clima seco e ensolarado (mP, mA) .
No rte Clima frio em todas as estações, assoc íado muitos vezes a ba ixas po lares. Pancadas de neve e
chuva conge lada no inverno, especialmente no norte e leste (mA) .
Leste Frio no semestre de inverno, às vezes com tempo m uito severo no sul e leste, com neve ou chuva
conge lada . Q uente no verão, com clima seco no oeste. Ocasionalmen te tempestuoso (cA, cP}.
Sul Quente e tempestuoso no verão . No inverno, pode estar assoc iado a uma baixa no Atlânt ico,
gerando clima moderado e úmido, espec ialmente no sudoeste, ou com uma alta sob re a Europa
Cent ral, causando tempo frio e seco no ínverno (mT, ou cT, verão ; mT ou cP, inverno).
C iclônico Chuvoso, cond ições inst6ve is, acompanhado por ventan ias e tempes tades . Este tipo pode
indicar a passagem róp ido de depressões através dos Ilhas Brítôn icas ou a persistênc ia de uma
depressão profundo (mP, mPw, mTJ.
Antic iclôn ico Quente e seco no verão, tempestades ocas ionais {mT, cT). Frio e geada no inverno, com neb lina,
espec ialmente no outono (cP).

quência de 30% ou mais sobre o sudeste da In- a pluviosidade média anual durante um pe -
glaterra em todos os meses, exceto em março. A ríodo de cinco anos nas três estações no norte
frequênc ia máxima de ar mP em Kew (Londres) da Inglaterra e do País de Gales é mostrada na
é 33% (com mais 10% de mPw) em julho . A Tabela 10.2, embora devamos observar que as
proporção é ainda maior em distritos costeiros duas massas de ar também podem estar envol -
do oes te, com ar mP e mPw ocorrendo nas Ilhas vidas na ocorrência de baixas polares não fron -
Hébridas, por exemplo, em pelo menos 38% dos tais. Sobre grande parte do sul da Inglaterra, e
dias ao longo do ano. em áreas a sotavento de elevações , fluxos de ar
Os tipos de massas de ar também podem de norte e noroeste geralmente levam a tempo
ser usados para descrever condições meteoro- limpo e ensolarado, com poucas chuvas, o que
lógicas típicas. As correntes de ar mP de no - é ilustrado na Tabela 10.2. Em Rotherham, a
roes te produzem tempo fresco e chuvoso em sotavento dos Montes Peninos, a porcen tagem
todas as estações. O ar é instável , formando de chuva que ocorre com ar mP é muito menor
nuvens cumulus, embora, na terra, no inver - do que na Cos t a Oeste (Squires Gate).
no e à noi te, as nuvens se dispersem, levando O ar tropical marítimo geralmente forma
a temperaturas no turnas baixas . Sobre o mar, o o setor quen te das depressões oriundas entre o
aquecimento do ar próximo à superf ície conti- oeste e o sul rumo às Ilhas Britânicas. O tempo
nua durante o dia e à noite nos meses de inver - é moderado e úmido para a estação , com ar mT
no, de modo que podem ocorrer pancadas de no inverno. Geralmente, existe uma cobertura
chuva e rajadas de vento a qualquer momento, total de nuvens stratus ou stra tocumulus, po -
que afetam as áreas costeiras a barlaven to. As dendo haver garoa ou chuva leve, especialmente
temperaturas médias diárias com ar mP ficam sobre elevações do terreno, onde as nuvens bai -
den tro de ±1 ºC das médias sazonais no inver - xas causam neblina. A dispersão das nuvens à
no e verão, dependendo do caminho exato do noite, com ventos leves, rapidamente resfria o
ar. Condições mais extremas ocorrem com o ar ar úmido até seu ponto de orvalho, formando
mA, e variações da temperatu ra em Kew são de neblina e nevoeiro. A Tab ela 10.2 mostra que
aproximadamente -4ºC no verã .o e inverno. A uma grande proporção da pluvios idade anua l
visibilidade no ar mA costuma ser muito boa. é associada a frentes quen t es e setores quentes
A contribuição das massas de ar mP e mA para e, portan to, pode ser atribuída à convergência
CAPÍTULO 1O O tempo e o clima em latitudes médias e altas 273

(A) Janeiro Abri l Jul ho Setembro


20 20 20 20
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i 15 15 15 -S
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Tipos de circ ulação

Figura 10.5 Cond ições climóticos méd ias associados aos tipos de circulação de Lamb para jane iro, abr il, julho
e setembro, 186 1-1979 . (A): tempera tura mé d ia diória (ºC ) no cen tro do Ingla terra para os tipos de fluxos méd ios
dos ve ntos (S); à dire ito , encontram-se os qu intis da tempera tura média mensal (isto é , Q l/ Q2 = 20%, Q4/Q5
= 80% ); (8): p luviosidade média diória (em m ilímetros) sobre a Ing la terra e o País de Ga les pa ra os fluxos méd io
dos ven tos (S} e ciclônico (C) de cada tipo e tereis dos valores médios (isto é, Tl/ T2 = 33%, T2/T3 = 67%); (C):
frequência méd ia (%) para cada tipo de c irculação, inclu indo on ticiclôn ica (A) e ciclônica (C).
fo nle : Storey (1982 ) com perm issão de Royal Meteo ro log ica l Soc iety.

e elevação frontal dentro do ar mT. No verão, a t al. Esse ar é bastante instável, com um signi-
cobertura de nuvens com essa massa de ar ma n- ficativo cisalhamen to vertical do vento e tem -
tém as temperaturas mais próximas da média peratura potencial de bulbo úmido que pode
do que no inverno; as temperaturas noturnas e.xceder 18º C. A instabi lidade pode aumentar
tendem a ser altas, mas as máximas do dia per- se o ar Atlântico mais frio sofrer advecção sob
manecem bastante baixas . a pluma a partir do oeste . Tempestades tendem
No verão, "plumas " de ar mT quente e úmi - a se formar a.o longo da borda norte frontal da
do podem se espalhar para no rte a partir das pluma de umidade sobre as Ilhas Britân icas e o
adjacên cias da Espanha para a Europa Ociden - noroes te da Europa. Ocasionalmente, depres -

Tabela 10.2 Porcentagem da pluvios ida d e anual (1956-1960 ) com diferentes situ a ções sinó ticas

Esta~ão Categorias sinótlca s

Frente Setor Frente Ocl usão Baixa mP cP Ártico Tempestade


quen te quen te fria po la r com relômpagos
e trovoadas
Cwm Dyli 18 30 13 10 5 22 o,l 0,8 0,8
(99 m)'"
Squires Gote 23 16 14 15 7 22 0,2 0,7 3
(10 m)t
Rotherhom 26 9 1l 20 14 15 1,5 1,1 3
(21 m)~

f onta : Shaw (1962 ), e R. P. Mot hews (inéd ito ).


O bs.: *Snowdon io . tcosto de Loncoshire (Bloc kpoo l). 1Don Volley, Yorkshir e .
274 Atm osfera, Tempo e Clim a

sões se formam na frente e avançam para leste, transicional cP-cT atinge as Ilhas Britânicas a
trazendo tempestades por toda a região (Figu - partir do sudeste europeu em todas as estações,
ra 10.6). Em média, dois sistemas convectivos embora seja menos frequente no verão . Esses
de mesoescala afetam o sul das Ilhas Britânicas ventos são secos e estáveis.
a cada verão, avançando para norte vindo da O ar tropical continen tal oc-0rre, em média,
França. por volta de um dia por mês no verão, o que
Ocasionalmente , o ar po lar afeta as Ilhas explica a raridade das ondas de calor no verão,
Britânicas entre dezembro e fevereiro. As tem - pois esses ventos de sul ou sudeste trazem tem-
peraturas médias diárias ficam bastante abaixo po quente e estável. As camadas inferiores são
da média, e as máximas alcançam apenas em estáveis, e o ar cos tuma ser nebuloso, mas as
torno de um grau acima do ponto de congela- camadas superiores tendem a ser ins táveis , e o
mento. O ar é muito fr io e estável (ver o tipo aquecimento superficial pode ocasionalmente
leste em janeiro, Figura 10.4) , mas uma trilha desencadear uma tempestade (ver tipo ciclôni -
sobre a parte central do Mar do Norte fornece co de sul em julho, Figur a 10.4).
calor e umidade suficien tes para causar pan-
cadas, mui t as vezes na forma de neve, sobre
4 Singularidades e o ciclo sazonal
o leste da Inglaterra e da Escócia. De maneira
geral, isso representa apenas uma contribuição A sabedoria popular a respeito do tempo ex-
muito pequena para a precipitação anual, como pressa a crença de que cada estação tem o seu
mostra a Tabel a 10.2, e na Costa Oeste, o cli- próprio tempo meteorológico característi-
ma costuma ser limpo. Um tipo de massa de ar co (por exemplo, na Inglaterra, as "chuvas de

(A)
'


• ....

o
0000 UTC
20AGO -

(C)- 1000----- i {0)_ ;005

o
,______ :\O~f> Cio)

; 1200 UTC 0000 UTC


20AGO .- .............._ 21 AGO

Figura 10.6 Distribuição de tempestades sobre a Europa Oc idental entre os d ias 19 e 21 de agosto de 1992
(tempestades para o período de quatro horas antes da hora mostrada), Uma pequena depressão se forma sobre
o Baía da Biscaia e avança para leste, ao longo do limite do ar quente, fo rmando uma linha de rajadas fortes.
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 275

abril") . Adágios antigos sugerem que até mes - 60 60


nti iclõ ic 1
mo a sequência do tempo pode ser determinada 40 40
pelas condições estabelecidas em uma determi -
20 20
nada data. Por exemplo, diz-se que 40 dias de
tempo úmido ou de tempo bom ocorrem após o o
60 60
o dia de São Swithin (St. Swithin 's Day, 15 de 1
~
0
julho) na Inglaterra; condições de sol no «Dia ctS 40 40
·-o
da Marmota " ( Groundhog Day, 2 de fevereiro) ,lii20 20
::::,
anunciam seis semanas a mais de inverno nos CT
~ o o
Estados Unidos . Algumas dessas ideias são fa- LI.. 40 40
laciosas, mas outras contêm mais que um pingo
20 20
de verdade se interpretadas da maneira apro -
Ci lõ ico (m dia 5 dl s)
priada . o o
J F M A M J J A s o N D
A tendência de um certo tipo de t empo se
repetir com regularidade razoável em torno da figura 10 .7 Freq uênc ia pe rcentua l de co nd ições
mesma data é denominada singularidade.Mui - anti ciclôn icas, de oes te e c iclôn icas sobre as Ilhas Bri-
tânicas, 1898- 1947.
tos calendários de singularidades já foram com-
Fo n te : Lamb (1950 ).
pilados, particularmente na Europa . Os primei -
ros, concentrados em anomalias de temperatura
ou chuvas, não se mostraram muito confiáveis . Ele pode ser interrompido por depressões
Obteve -se maior sucesso no estudo de singula - atlân t icas , t razendo cli ma tempes tuoso
ridades no padrão de circulação; Flohn e Hess e para as Ilhas Britânicas no final de setem-
Brezowsky prepararam catálogos para a Euro - bro, embora as condições anticiclônicas
pa central, e Lamb, para as Ilhas Britânicas . Os voltem a afet ar a Europa central no final do
resultados de Lamb baseiam-se em cálculos da mês e as Ilhas Britân icas duran te o início
frequência diár ia das categorias de ventos entre de outubro .
1898 e 1947, com alguns exemplos mostrados 3 Um período notável de tempo úm ido cos-
na Figura 10.7. Um aspecto notável é a baixa t uma afetar a Europa Ocidental e a metade
frequência dos tipos de oeste na primavera, a oeste do Mediterrâneo ao final de outubro,
estação mais seca do ano nas Ilhas Britânicas, ao passo que o t empo na Europa Orien tal
e também no norte da França, norte da Alema- geralmente perma n ece estável.
nha e nos países ao redor do Mar do Norte . O 4 Condições anticiclônicas retornam às Ilhas
catálogo europeu baseia -se em uma classifica - Britânicas e afetam grande parte da Europa
ção dos padrões de grande escala no escoamen - em meados de novembro , com nevoeiro e
to na troposfera inferior (Grosswetterlage) sobre geada.
a Europa central. Algumas das singularidades 5 N o começo de dezembro , depressões atlân -
que ocorrem ma is regularmente na Europa são ticas de oeste trazem tempo úmido mode -
as seguintes: rado sobre a maior parte da Europa.

1 Em meados de junho, há um aumento súbi- Além dessas singularidades, são reconhe-


to na frequênc ia do tipo de oeste e noroes - cidas impo rt antes tendências s azonais . Para
as Ilhas Britânicas , Lamb identificou cinco es-
te sobre as Ilhas Britânicas. Essas invasões
tações naturais com base em períodos de um
de ar marítimo também afetam a Europa
Central, e esse período marca o começo das determinado tipo que duraram 25 dias ou mais
duran te 1898- 1947 (Figura 10.8), a saber:
"monç.ões de verão ,, europeias .
2 Por volta da segunda semana de setembro , 1 Primavera ao começo do verão (d.o começo
a Europa e as Ilhas Britân icas são afetadas de abril a meados de junho }. Há condições
por um período de tempo anticiclônico. meteorológicas variáveis, com menos pro -
276 Atm osfera, Tempo e Clima

60 ,--- --...-----,--,---,-------
........ 60 rão e no outono . Geralmente , são do tipo
Tod o~ os tip s
40 40 oeste, trazendo tempo tempestuoso e mo -
derado .
20 20
5 Final do inverno e começo da primavera (da
terceira semana de janeiro ao fmal de mar -
º:
_º O'----
,u

oe
20 1 Ciclô~
~~o!::---=-
- ---1.~=
- --
j,,... .-J'\.

=--l__----=~o
120 ço). Os períodos longos nessa época do ano
.. podem ser de tipos bastan te diferentes, de
·~ 40 ,-- O
- es-t "l""
~ --...----,----------, 40
modo que, em alguns an os, ocor re tempo
rr
...
a> 20
u.
20 típico de inverno, ao passo que, em outros ,
oL _ _J__:~:::,._.r::::_:_-1.. _ _:_ ___ _J o há uma primavera precoce já no fmal de fe-

20 20 vererro .
ol--~~~
-~ l _L_ J 0
5 Anomalias sinóticas
As características meteorológicas médias dos
regimes de pressão, ventos e fluxos de ar sazo-
Figura 10.8 Frequênc ia de períodos longos (25 nais prop iciam apenas um quadro parcial das
dias ou ma is) de um determ inado tipo de ven to sob re condições climáticas . Alguns padrões de cir-
as Ilhas Britânicos, 1898- 1947 . O diagrama, que mos-
culação ocorrem de forma irregular e, ainda
tro todos os per íodos longos, também indica o divisão
do ano em ºestaçóes n a turais".
assim , devido à sua tendência de persistir por
Fonte : l omb {1950 ). Co m permissão de Royal Meteoro logico l
semanas ou me smo meses, são um elemento es-
Society. sencial do clima .
Os padrões de bloqueio são um exemplo
habilidade de que haja longos períodos de importante. No Capí tulo 7, observamos que a
uma mesma condição . As condições de circula ção zonal em latitudes médias às vezes se
norte na primeira metade de maio são a ca- decompõe em um padrão celular . Esse fato cos-
ract erística mais significa tiva, embora haja tuma estar associado a uma divisão da corrente
uma tendên cia acentuada de anticiclones de jato em dois ramos sobre latitudes médias
ocorrerem do final de maio ao começo de mais altas e mais baixas e à formação de uma
junho. baixa isolada (ver Capítulo 8H .4) a sul de uma
2 Alto verão (de meados de junho ao come - célula de alta pressão , chamada de anticiclone
ço de setembro ). Longos per íodos de tipos de bloqueio, pois impede o movimento normal
variados podem ocorrer em anos diferentes . para leste de depressões no fluxo zonal . A Fi-
Os tipos de oeste e de noroeste são os mais gura 10.9 ilustra a frequência de bloqueios para
comuns, e podem ser comb in ados com ti- uma parte do Hemisfério Norte mos trando cin -
pos ciclônicos e anticiclônicos . Sequências co desses gran des centros de bloque io (A). Uma
persistentes do tipo ciclônico ocorrem com área importante é a Escandinávia, particular -
mais frequência do que tipos anticiclônicos . mente na primavera. Os ciclones são desviados
3 Outono (da segunda semana de setembro à para norde ste, em direção ao Mar da Noruega,
met ade de novembro ). Períodos longos de ou para sudeste, rumo ao sul da Europa . Esse
condições específicas ocorrem na maioria padrão, com um fluxo leste ao redor das mar -
dos anos. As condiç ões anticiclônicas ocor- gens sul do anticiclone, gera clima severo no in-
rem principalmen te na primeira metade, e verno sobre grande parte do norte europeu . De
os períodos ciclônicos e tempestuosos, de janeiro a fevereiro de 1947, por exemplo, o fluxo
outubro a novembro . de leste através das Ilhas Britânicas, resultado
4 Começodo inverno (da terceira semana de do bloque io sobre a Escandin ávia, levou a frio
novembro a meados de janeiro) . Períodos extremo e nevascas frequentes. Os ventos foram
longos são menos frequentes do que no ve- quase continuamen t e de leste entre 22 de janei -
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 277

ro e 22 de fevereiro, e mesmo as temperaturas


durante o dia subiam pouco acima do ponto
de congelamento. Houve prec ipitação de neve
todos os dias em alguma parte das Ilhas Britâ-
nicas de 22 de janeiro a 17 de março de 1947,
com fortes tempestades de neve à medida que
depressões atlânticas ocluídas avançavam len-
tamente pela região . Outros meses de inverno
notavelmente severos- janeiro de 1881, feverei-
ro de 1895, janeiro de 1940 e fevereiro de 1986
- resultaram de anomalias de pressão seme-
lhantes, com pressão bastante acima da média
ao norte das Ilhas Britânicas e abaixo da média
para o sul, causando ventos persistentes de leste.
Os efeitos das situações de bloqueio de in -
verno sobre o noroes te europeu são mostrados
figura 10.9 Frequência de ocorrência de condições
nas Figuras 10. 10 e 10.11. As quantidades de de bloqueio no nível de 500 mb para todas as esta-
precipi tação são acima do normal, princ ipal - ções . Valores calculados como médias de cinco dias
mente sobre a Islândia e o oeste do Mediterrâ- em uma grade com resolução de 381 X 381 km para
neo, pois as depressões são desviadas ao redor o período 1946-78.
do bloqueio, seguindo o caminho das correntes Fonte : Knox ond Hoy (1985 ). Com permissão de Royal Mele ·
o ro log ica l Soc iety.
de jato em níveis mais elevados. Sobre a maior
par te da Europa, a precipitação se mantém
abaixo da média, e esse padrão se repete com os persistente a sude ste da Islândia trouxe fluxos
bloque ios de verão. As temperaturas de inverno de ar de norte e nordeste sobre as Ilhas Britâ-
são acima da média sobre o Atlân tico nordeste nicas . As temperaturas na região central da In-
e áreas de terra adjacentes, mas abaixo da mé - glaterra fora.m as mais baixas observadas desde
dia sobre a Europa Central e Oriental e o Me - 1740, com uma média de OºC para dezembro de
diterrâneo, devido a invasões de ar cP (Figura 1962 a fevereiro de 1963. A Europa Central foi
10.11). As anomalias de temper atura negativa afetada por correntes de ar de leste, com as tem -
associadas aos fluxos de ar do norte no verão peraturas médias em janeiro ficando 6ºC abaixo
cobrem a maior parte da Europa; somente a re- da média.
gião norte da Escandinávia tem valores acima
da média.
6 Efeitos topográficos
A localização exata do bloqueio é de fun- Em diversas partes da Europa, a topografia tem
damen tal importância. Por exemplo, no ve - um efeito notável sobre o clima, não apenas nas
rão de 1954, um bloqueio situado na Europa terras altas em si, mas também nas áreas adja -
Oriental e na Escandinávia deixou depressões centes. Além dos efeitos mais óbvio s sobre as
estagnadas sobre as Ilhas Brit ânicas, causan - t emperaturas , as quantidades de prec ipitação
do um agosto nub lado e úmido , ao passo que , e os vento s, as pri n cipais massas montanho-
em 1955, o bloqueio estava localizado sobre o sas também afetam o movimen to dos sistemas
Mar do Norte, resultando em um verão quente frontais . O arraste fricciona! sobre as barreiras
e ensolarado. Um bloqueio persis tente sobre o mon t anhosas aumenta a inclinação das frentes
noroes te europeu causou secas nas Ilhas Britâ - frias e diminui a das frentes quentes , de modo
nicas e no continente durante 1975-1976. Outra que estas são retardadas, e aquelas , aceleradas.
localização desses bloqueios , ainda que menos As montanhas da Escandinávia formam
comum, é a Islân dia . Um exemplo notável foi o uma das barreiras climáticas mais significat ivas
inverno de 1962-1963, quando uma alta pressão da Europa , como resultado de sua orientação
278 Atm osfera, Tempo e Clima

60º 40º Oº 20º 40º 60º


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60º

50º

50º

40º
100
160
40º

30º 12,5
20º W 10º Oº 1Oº 20º 30º 40º E

Figura 10.10 A nom a lia de prec ip itaç ã o mé d io(%) d ura nte o bloq ue io anticiclónico no inverno sobre o Escan -
d in ávia . As 6r eo s a c im a do norm a l estão d estac a dos em verde, e os áreas reg istrando prec ipi tação entre 50 e
100%, em branco.
Fo nt e : Rex (1950 ). Co m pe rmissão de Tellus,

com relação ao fluxo de ar de oeste. As massas de temperaturas mui to baixas na Suécia e na Fin -
ar marítimas são forçadas a subir sobre as zonas lândia . O oeste da Noruega raramente é afetado,
elevadas, gerando totais anuais de precipitação pois a onda fria é contida a leste das montanhas .
de mais de 2500 mm nas mon tanhas do oeste da Em consequência disso, há um súbito gradiente
Noruega, ao passo que, ao descerem a sotavento, climático ao longo das montanhas da Escandi -
causam uma redução súbita nos totais . A região návia nos meses de inverno .
elevada de Gudbrandsdalen e Osterdalen, a sota- Os Alpes ilustram exemplos de outros efei-
vento das montanhas Jotunheim e Dovre, recebe tos topográficos . Junto com os Pirineus e as
uma média de menos de 500 mm, sendo tam - montanhas dos Bálcãs, os Alpes efetivamente
bém registrados valores baixo s na região central separam a região climática do Mediterrâneo
da Suécia, ao redor de Ôstersund . da região da Europa. A penetração de massas
As montanhas também funcionam no sen - de ar quente a norte dessas barre iras é compa -
tido oposto. Por exemplo, o ar ártico do Mar de rativamente rara e efêmera . Todavia, com certos
Barents pode avançar para o sul no inverno, so- padrões de pressão, o ar do Mediterrâneo e do
bre o Golfo de Bothnia, geralmente quando há nor te da Itália é forçado a cruzar os Alpes, per-
uma depressão sobre o norte da Rússia, gerando dendo sua umidade por precipitação sobre as
CAPÍTULO 1O O tempo e o clima em latitudes médias e altas 279

60º 40º Oº 20º 40º 60º 80º


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40ºE

figura 10.11 A nomalia de temperatura superficia l méd io (ºC) durante um bloque io anticic lônico no inver no
sobre o Escandi náv ia . As áreas com ma is de 4ºC ac ima do norma l estão deslocadas em marrom (+), e as áreas
com ma is de 4ºC aba ixo do normal, em amarelo (-).
Fa n fe : Rex (1950 ), com perm issão de Tellus.

encostas ao sul. O aquecimento adiabático seco nhas a oeste da Escócia , no Lake District e no
no lado norte das montanhas pode facilmente País de Gales, as médias ult rapassam os 3800
elevar as temperaturas em 5-6ºC nos vales ele- mm por ano . O recorde anual é 6530 mm em
vados do Aar, do Reno e do Inn . Em Innsbru - 1954 em Sprinkling Tarn, Cumbria, e 1450 mm
ck, ocor rem aproximadamente 50 dias por ano caíram em um único mês (outubro de 1909) a
com ventos fóhn, com máximas na primavera. leste do cume de Snowdon em North Wales. O
Essas ocorrências podem levar ao rápido der- número anual de dias de chuva (dias com pelo
retimento da neve, criando um ri sco de ava- menos 0,25 mm de precipi t ação ) aumenta de
lanches . Com o escoamento de norte ao longo aproximadamente 165 no sudeste da Inglate r-
dos Alpes, pode haver ventos fóhn no norte da ra e na costa sul para ma is de 230 dias no no-
Itália, mas seus efeitos são menos express ivos . roeste das Ilhas Britân icas . Existe um pequeno
As caracte rísticas do clima nas terras altas aumento na frequência da chuva com a altitude
das Ilhas Britânicas ilustram alguns dos diver- sobre as montanhas a noroeste . Assim, a pluvio-
sos efeitos da altitude. A precipitação média sidade média por dia de chuva aumenta subita-
anual sobre a costa oeste ao nível do mar é de mente de 5 mm perto do nível do mar no oeste
aproximadamente 1140 mm , mas , nas monta - e noroeste para mais de 13 mm nas Western
280 Atmos fera, Tempo e Clima

Highlands, no Lake Distr ict e em Snowdon i a. Em South Wales, a precipitação média anual
Isso demonstra que a "pluviosidade orográficà ' aumenta de 1200 mm na costa para 2500 mm
neste caso se deve principalmente a uma inten - nas Glamorgan Hills , que têm 500 m de altura
sificação dos processos normais de precipitação e se localizam 20 km distante da costa. Estu dos
associados a depressões frontais e correntes de com radar e uma densa rede de pluviômetros
ar instáveis (ver Capítulo 4E.3). indicam que a intensificação orográfica é acen-
Mesmo morros baixos , como os Chllterns tuada durante fluxos de ar fortes e baixos de
e South Downs, causam um aumento na plu - sudoeste em situações frontais . A maior parte
viosidade, recebendo em torno de 120-130 mm da intensificação na taxa de precipitação ocorre
por ano a mais do que as planícies adjacentes. nos 1500 m infer iores . A Figura 10.12 mostra

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Figura 10.12 Intensificação orogrófica média da precipitação sobre o Inglaterra e o Pais de Gales, com mé-
1
dia para vórios d ias de vento com direção razoavelmente cons ta nte de cerca de 20 m s- e fluxo baixo e quase
saturado.
fonle: Browning o nd Hill (1981 ), com perm issão de Royal Meleo rolog icol Soc iety .
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 281

a intensificação média conforme a direção do terras mais altas. As cifras aproximadas para o
vento sobre a Inglaterra e o País de Gales, com norte das Ilhas Britânicas são 60 dias a 600 m e
uma média de vários dias de ventos de veloci- 90 dias a 900 m. O número de manhãs com neve
dade razoavelmente constante de cerca de 20 depositada no solo (ma is da metade do solo
m s- t e fluxo baixo quase saturado, atribuído a coberto) está relacionado com a temperatura
um único sistema frontal por dia. E.xistem di- média e, assim, com a altitude. As cifras médias
ferenças visíveis no País de Gales e no sul da variam de cerca de cinco dias por ano ou menos
Inglaterra entre ventos de SSW e de WSW, ao em grande parte do sul da Inglaterra e Irlanda, a
passo que, para o fluxo de SSE, as montanhas entre 30 e 90 dias nos Montes Peninos e mais de
de North Wales e os Montes Peninos têm pouco 100 dias nas montanhas Grampiam . Nesta área
efeito. Também há áreas de efeito negativo no (nas Cairngorms) e em Ben Nevis, existem vá-
lado a sotavento das montanhas. Os efeitos pro- rios depósitos semipermanentes de neve a 1160
tetores das elevações geram totais anuais baixos m. Estima-se que a linha de neve climática teó-
a sotavento (com relação aos ventos predomi- rica - acima da qual haveria acúmulo líquido de
nantes). Assim, o vale do baixo Dee, a sotavento neve - esteja a 1620 m na Escócia . Desde 1987,
das montanhas de North Wales, recebe menos em apenas três anos até 2000 foi observada uma
de 750 mm, em comparação com mais de 2500 duração abaixo da média (196 1-2000) da cober-
mm em Snowdonia. tura de neve.
A complexidade dos diversos fatores que Também existem variações geográficas
afetam a pluviosidade nas Ilhas Britânicas é acentuadas no gradiente dentro das Ilhas Britâ-
demonstrada pelo fato de que existe uma cor- nicas. Uma medida dessas variações é a duração
relação entre os totais anuais no noroeste da Es- da ''estação de crescimento». Podemos determi-
cócia, no Lake District e no oeste da Noruega, nar um índice de oportunidade de crescimento
que são afetados diretamente pelas depressões contando o número de dias em que a tempera-
atlânticas. Ao mesmo tempo, existe uma relação tura média diária excede um limiar de 6ºC . Ao
inversa entre as quantidades anuais nas Wes- longo das costas no sudoeste da Inglaterra, a
tem Highlands e na planície de Aberdeenshire, "estação de crescimento' calculada dessa forma
localizada a menos de 240 km ao leste. A pre- é de quase 365 dias por ano. Ali, ela diminui em
cipitação anual nesta área está mais correlacio- aproximadamente nove dias por 30 m de eleva-
nada . com a da planície do leste da Inglaterra. ção, mas, no norte da Inglaterra e na Escócia,
Essencialmente, as Ilhas Britânicas compreen- a redução é de apenas cinco dias a cada 30 m,
dem duas grandes unidades climáticas pa ra a entre 250 a 270 dias perto do nível do mar . Em
pluviosidade - primeiro, uma ''atlântica', com climas continentais, a redução da altitude pode
uma máxima sazonal de inverno, e, em segundo ser ainda mais gradual; na Europa Central e na
lugar, os distritos centrais e orientais, com afi- Nova Inglaterra, por exemplo, é de cerca de dois
nidades ªcontinentais" na forma de uma mâxi- dias por 30 m.
ma fraca no verão na maioria dos anos. Outras
áreas (o leste da Irlanda, o leste da Escócia, o ,
B AMERICA DO NORTE
nordeste da Inglaterra e a maior parte das En-
glish Midlands e dos condados da fronteira ga- O continente norte-americano compreende
lesa) têm um segundo semestre do ano úmido . quase 60º de latitude e, como não seria surpre-
A ocorrência de neve é outra medida dos sa, apresenta uma ampla variedade de condi-
efeitos da altitude. Perto do nível do mar, exis- ções climáticas . Ao contrário da Europa, a Cos-
tem cinco dias por ano, em média, com queda ta oeste é delimitada pela cadeia montanhosa
de neve no sudoeste da Inglaterra, 15 dias no da Costa do Pacífico, com mais de 2750 m de
sudeste e 35 dias no norte da Escócia . Entre 60 e altitude, que bloqueia o caminho dos ventos de
300 m, a frequência aumenta em um dia a cada oeste de latitude média e impede a extensão das
15 m de elevação, e ainda mais rapidamente em influências marítimas para o continente . No
282 Atmos fera, Tempo e Clima

interior do continente , não existem obstruções oeste do Canadá) . As fases positivas (negativas)
significativas do movimento do ar, e a ausência do PNA tendem a ser associadas a eventos de
de qualquer barreira no sentido leste -oeste per - El Nino (La Nifia ) no Pacífico equatorial (ver
mite que massas de ar do Ártico e do Golfo do llG) .
México atravessem as planícies interiores, cau - O modo do PNA tem consequências im-
sando grandes extremos no tempo e no clima. portantes para o clima em diferentes partes do
As influências marítimas no leste da América continente . De fato, essa relação proporciona a
do No rte são limitadas pelo fato de que os ven - base para as previsões mensais do U.S. National
tos predominantes são de oeste, de modo que o Weather Service . Por exemplo , se o cavado les-
regime de temperatura é continental. Entretan - te estiver mais pronunciado do que o normal,
to, o Golfo do México é uma fonte importante as tempe r aturas fica rão abaixo da média nas
de umidade para a precipitação sobre a metade regiões central , sul e leste dos Estados Un idos,
leste dos Estados Unidos e, como resultado, os ao passo que, se o cavado estiver fraco, o fluxo
regimes de precipitação são diferentes dos ob - de oeste será mais forte , com menor oportuni-
servados no Leste Asiático . dade para invasões de ar frio polar . Às vezes, o
Analisamos primeiramente as caracterís - cavado é deslocado para a metade ocidental do
ticas da circulação atmosférica sobre o conti - continente, causando uma inversão do padrão
nente. climático usual, pois o fluxo de ar de nível alto
de noroeste pode trazer clima fr io e seco para
1 Sistemas de pressão o oeste , enquanto, no leste, ocorrem condições
O padrão médio de p ressão para a troposfera bastante moderadas associadas ao fluxo de nível
média apresenta um cavado proeminente sobre alto de sudoeste . As quantidades de precipita -
o leste da América do Norte no verão e no in - ção também dependem das trilhas dos ciclones .
verno (ver Figuras 7.3 e 7.4). Em parte, é um Se o cavado superior estiver muito a oeste, ha -
cavado de sotavento causado pelo efeito das ca- verá formação de depressões à sua frente (ver
deias montanhosas ocidentais sobre os ventos Capítulo 7F) sobre a reg ião centro -sul dos Esta -
altos de oeste , mas, pelo menos no inverno, a dos Unidos, avançando para nordeste rumo ao
forte zona baroclínica ao longo da Costa Leste baixo St. Lawrence, causando mais precipitação
do continente é um fator que contribui signi- do que o normal nessas áreas, e menos ao longo
ficativamente nesse sentido . Como resultado da Costa Atlântica .
desse padrão ondulatório médio, os ciclones As p rincipais características do mapa de
tendem a avança r na direção sudeste sobre o pressão em superfície em janeiro (ver Figu r a
Meio-Oeste, car r egando o ar polar continental 7.9A ) são a extensão da alta subtropical sobre
para sul, enquanto os ciclones viajam para nor - a região sudoeste dos Estados Unidos (chama -
deste ao longo da Costa Atlântica . A estrutura da Great Basin High ) e o anticiclone polar se-
da onda planetária sobre a região leste do Pací- parado do distrito de Mackenzie no Canadá . A
fico Norte e da América do Norte é conhecida pressão média é baixa perto das costas leste e
como padrão do Pacífico-América do Norte oeste em lat itudes médias mais altas, onde fon -
(PNA), que se refere à amplitude relativa dos tes de calor oceân icas indiretamente originam
cavados sobre o Pacífico Norte central e o leste as baixas (médias) da Islândia e das Aleutas. É
da América do Norte, de uma maneira, e a cris - interessante obse rvar que, em média, em de -
ta sobre o oeste da América do Norte , de outra. zembro, entre todas as regiões do Hemisfério
No modo positivo (negativo) do PNA, existe Norte e todos os meses do ano, a região da Great
uma trilha de tempestades bem desenvolvida, Basin tem a ocorrência mais frequente de altas,
que vai do Leste Asiático ao Pacífico central e ao passo que o Golfo do Alasca tem a frequên-
depois ao Golfo do Alasca (os ciclones sobre o cia máxima de baixas . A costa pacífica, como
Leste Asiático avançam para nordeste, ao mar um todo, tem atividade ciclônica mais intensa
de Bering , com outra área de baixas na costa durante o inverno, assim como a área dos Gran -
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 283

des Lagos , ao passo que sobre as Great Plains, a à Nova Inglaterra. As anomalias no tempo de in -
máxima é na primavera e no começo do verão. verno sobre a América do Norte são fortemente
De maneira notável, a Great Basin, em junho, influenciadas pela posição das correntes de jato
tem a ciclogênese mais frequente de qualquer e pelo movimento de sistemas de tempestades
parte do Hemisfério Norte para qualquer mês associados. A Figura 10.13 ilustra seu papel na
do ano. O aquecimento sobre essa área no ve- localização de áreas de chuva forte, enchentes
rão ajuda a manter uma fraca célula de baixa e extremos positivos/negativos na temperatura
pressão e quase permanente, em nítido contras- nos invernos de 1994-1995 e 1995-1996.
te com o cinturão subtropical quase contínuo Entre as Frentes Ártica e Polar, os meteo-
de alta pressão na média troposfera (ver Figura rologistas canadenses distinguem uma terceira
7.4). O aquecimento continental também auxi- zona frontal. Essa zona frontal marítima (ár-
lia indiretamente na separação da baixa da Is- tica) está presente quando massas de ar mA e
lândia, para criar um centro secundário sobre mP interagem ao longo de seus limites comuns.
o nordeste canadense. A circulação de verã .o na O modelo de três frentes (quatro massas de
costa oeste é dominada pelo anticiclone do Pa- ar ) permite que se faça uma análise detalhada
cífico, enquanto o sudeste dos Estados Unidos é da estrutura baroclínica das depressões sobre
afetado pela célula anticiclônica subtropical do o continente norte-americano usand .o mapas
Atlântico (ver Figu ra 7.9B). sinóticos do tempo e seções transversais da
Em uma análise ampla, há três trilhas pre- atmosfera. A Figur a 10.14 ilustra as três zonas
dominantes de ciclones no continente no in - frontais e depressões associadas em 29 de maio
verno (ver Figura 9.21). Um grupo, conhecido de 1963. A 95ºW, de 60º a. 40ºN, as temperatu-
como "Alberta clippers ': ava.nça do oeste ao ras do ponto de orvalho registradas nas quatro
longo de um caminho mais ou menos zonal a massas de ar foram de -8ºC, 1ºC, 4ºC e 13ºC,
aproximadamente 45-SOºN , ao passo que um respectivamente.
segundo vira para sul sobre a região central dos No verão, as depressões sã.o menos fre -
Estados Unidos e então muda para nordeste quentes na costa leste , e as trilhas sobre o conti-
rumo à Nova Inglaterra e ao Golfo de St. La- nente se deslocam para norte, com as principais
wrence. Algumas dessas depressões originam- trilhas sobre a Baía de Hudson e Labrador-
-se sobre o Pacífico, cruzam as cadeias de oeste -Ungava, ou ao longo do St. Lawrence . Elas são
como um cavado superior e voltam a se formar associadas principalmente a uma zona frontal
a sotavento das montanhas. Alberta é uma área marítima mal-definida. A Frente Ártica cos-
conhecida por esse processo , e também pela tuma se localizar ao longo da costa norte do
ciclogênese primária, pois a zona frontal ártica Alasca, onde existe um forte gradiente de tem-
é sobre o noroeste do Canadá no inverno. Essa peratura entre a terra exposta e o Oceano Ár -
zona frontal envolve ar mA bastante modifi- tico frio, com sua camada de gelo marinho. A
cado do Golfo do Alasca e ar cA (ou cP) frio e leste desse ponto , a frente é bastante variável em
seco. Os ciclones do terceiro grupo se formam sua posição a cada dia e a cada ano. Ela ocorre
ao longo da principal zona frontal polar, que, com mais frequência ao norte de Keewatin e no
no inverno, se localiza na costa leste dos Esta- Estreito de Hudson . Um estudo sobre as tempe -
dos Unidos, e avançam para nordeste , rumo a raturas de massas de ar e regiões de confluência
Newfoundland As vezes, essa zona frontal está de correntes de ar sugere que uma zona frontal
presente sobre o continente a cerca de 35ºN, ártica ocorre mais ao sul sobre Keewatin em ju-
com ar mT do Golfo e ar cP do norte ou ar mP lho e que sua posição média (Figura 10.15) está
modificado do Pacífico . As depressões de frente relacionada com os limites da floresta boreal
polar que se formam sobre o Colorado avançam com a tundra. Essa relação reflete a importância
a nordeste em direção aos Grandes Lagos; ou- da predominância das massas de ar árticas para
tras se formam sobre o Texas e seguem um ca- as temperaturas de verão e, consequentemente,
minho quase paralelo , mais ao sul e leste , rumo para o crescimento de árvores, mas as diferen -
284 Atmosfera, Tempo e Clim a

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90°W

1994-1995

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1_ - - - - - - .,......__ Trilha padrão das correntes de jato Temperaturas acima da média


Correntes de jato pacíficas e polares Tempera tu ras abaixo da média
A B Áreas de alta e baixa pressão persistentes Chuvas fortes e inundaç ões
T Tempestades

Figura 10.13 Correntes de jato, distribuição da pressão e tempo para o América do No rte durante os invernos
de 1995 -1996 e 1994-1995.
fonte : US Departme nt oí Comme rce, Cl imote Predictio n Cenler . NOAA . Cortesia do US Departme nl of Commerce .

ças no balanço de energia decorrentes do tipo A chegada da primavera é marcada por


de cobertura do solo parecem insuficientes para diferentes respostas climáticas em diferentes
determinar a localização frontal . partes do continente. Por exemplo, existe uma
Várias singularidades da circulação foram redução súbita na precipitação de março a abril
reconhecidas na América do Norte, assim como na Califórnia, devido à extensão da alta do Pa-
na Europa (ver A.4, neste capítulo). Três que cífico. No Meio -Oeste, a intensidade da preci-
receberam atenção, por sua proeminência, são: pitação aumenta como resultado da ciclogênese
(1) o advento da primavera no frnal de março; mais frequente em Alberta e no Colorado , e da
(2) o salto de alta pressão na metade do verão, extensão do ar tropi cal marítimo do Golfo do
ao final de junho; e (3) o veranico (indian sum- México em direção ao norte. Essas mudanças
mer) no final de setembro ou final de outubro. fazem parte de um reajuste hemisférico na cir-
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 285

culação; no começo de abril , a célula de baixa das chuvas de verão (ver B.3, neste capítulo).
pressão dos Aleutas, que se localiza ao redor de Bryson e Lahey (1958) sugerem que essas mu-
SSºN 16SºW de setembro a março , se divide em danças na circulação ao final de junho podem
duas, com um centro no Golfo do Alasca e o ou- estar conectadas com o desaparecimento da
tro sobre o norte da Manchúria . cobertura de neve da tundra ártica . Isso leva
No final de junho, há um rápido desloca - a uma redução súbita do albedo superficial de
mento das células subtropicais de alta pressão 75 para 15%, com consequentes alterações nos
das Bermudas e do Pacífico Norte em direção componentes do balanço de calor e, assim, na
ao norte. Na América do Norte, isso também circulação atmosférica.
empurra as trilhas de depressões para norte, A atividade das ondas frontai s toma a pri -
o que diminui a precipitação de junho a ju- meira metade de setembro um período chu-
lho nas Great Plains ao norte , em uma parte voso nos Estados do Meio-Oeste setentrional
de Idaho e no leste do Oregon. Em contra - de Iowa, Minnesota e Wisconsin, mas, depois
partida, o fluxo anticiclónico de sudoeste que de 20 de setembro, as condições anticiclónicas
afeta o Arizona em junho é substituído por ar retornam com o fluxo de ar quente do sudoes-
do Golfo da Califórnia, e isso leva ao começo te seco, trazendo tempo estável - o chamado

160~

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-... 010


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A A
1015 A
1020
1020
1015
1020

80" W

e e e Frente quente e , e Frente sem iestac ioná ria


4 4 4 Frente fria -- ..- Trowar

Figura 10.14 Exemplo sinót ico de depressões associadas a três zo nas frontais em 29 de ma io de 1963 sob re
a América do No rte .
fonlc: Co m base nos co rtas sinót icos do Edmo nto n Anolys is Off ice e Doily Weather Repor!.

" N. de R.T.: Trowal(Trough of Warrn air Aloft ) é uma calha de ar quente em nível superior originada na fase de oclusão de
um sistema ciclônico .
286 Atm osfera, Tempo e Clima

'1:).

Ar do Atlântico
Norte

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Continental
rep icai

120- ao• 1o•w


l

Figura 10.15 Regiões da América do Norte a leste das Mon tanhas Rochosas, dominados pe los diversos tipos
de massas de ar em julho durante mais de 50 e 75% do tempo . As linhos de freq u ência de 50% correspondem
a posições frontais médios .
Fonte : Bryson(1966).

indian summer . De manei ra significativa, o da América do Norte e age como uma corrente
valor do índice zonal hemisférico aumenta no quente entre 40º e 60ºN . Todavia, as temperatu -
final de setembro . Esse tipo de tempo anticiclô - ras da superfície do mar são vários graus mais
nico tem uma segunda fase na quinzena final de baixas do que em latitudes comparáveis ao lon-
outub ro, mas , nesse período, ocorrem frentes go da Europa Ociden t al, devido ao menor vo -
po lares. O tempo geralmente é frio e seco, mas, lume de água quen t e envolvido. Além disso, ao
havendo precipitação, have rá uma probabilida- contrár io do Mar da Noruega, a forma da linha
de elevada de nevar . de costa do Alasca impede a extensão da deriva
para latitudes elevadas (ver Figura 7.29).
As cordilheiras na costa pacífica res trin -
2 A costa oeste temperada ea
gem a extensão das influências oceânicas terra
cordilheira
adentro e, por essa razão, não existe um amp lo
A circulação oceânica do Pacifico Norte asse - clima temperado marítimo como na Europa
melha -se à do Atlântico Norte . A deriva da Cor - Oc identa l. As principais caracte rísticas climá -
ren te de Kuroshio na costa japonesa é impulsio- tica s reproduzem as das montanhas costeiras
nada pelos ventos de oeste rumo à costa oes te da Noruega e as da Nova Zelândia e do sul do
CAPÍTULO 10 O tempo e o clim a em lat itudes méd ias e altas 287

Chile no cinturão meridional de ventos de oes- t e uma máxima de precipi tação de inverno ao
te. Os fatores topográficos tornam o tempo e o longo do litoral (Estevan Point na Figura 10.16),
clima nessas áreas bastante variáveis em distân- que t ambém se estende além de Cascades (em
cias curtas, tanto no sentido vertical quanto no Washington) e da Coast Range (na Colúmbia
horizontal. Nesta seção, algumas características Britânica), mas os verões são mais secos por
preponderantes foram selecionadas para análise. causa do forte anticiclone do Pacífico Norte.
Existe um padrão regular de encostas úmi - O regime no interior da Colúmbia Britânica é
das a barlavento e secas a sotavento ao longo t ransicional entre o da região costeira e a máxi-
das cordilheiras sucessivas de noroeste a sudeste ma distinta de verão da região central da Amé-
com uma diminuição mais ampla em direção ao rica do Norte (Calgary ), embora, em Kamloops ,
inter ior. A Coast Range na Colúmbia Britânica no vale de Thompson (média anual de 250
tem totais anuais médios de precipitação acima mm ), haja uma leve máxima de verão associa -
de 2500 mm, com 5000 mm nos locais mais da às chuvas de tempestade . De modo geral, os
úmidos, comparados com 1250 mm ou menos vales protegidos do interior recebem menos de
nos picos das Montanhas Rochosas. Ainda as- 500 mm por ano . Nos anos mais secos, certas
sim , mesmo no lado a sotavento da ilha de Van- localidades registram apenas 150 mm . Acima
couver, a precipitação média em Victor ia é de de 1000 m, grande parte da precipi ta ção cai na
apenas 700 mm. Análogo ao regime de ventos forma de neve (ver Figura 10.16) e algumas das
"oceânicos de oeste" do noroeste europeu, exis- ma iores espessuras de neve já registradas no

Estev an Point (6 m)
mm 49ºN, 127ºW

400 -

300 -

200 -
Kamloops {366 m)
51 ºN, 120ºW
100 - mm
50
o o 1 1 1 1 '-Ili.
J F M A M J J A S O N D J F MA MJ J A S O N D

Glacier (1250 m)
mm 51ºN, 117ºW Calgary (1128 m)
200
51 ºN, 114ºW

mm
100 100
50

O J FMAMJ J A SONO O J F MAMJ J A S O ND


figura 10.16 Gróf icos de prec ipitaçóo de estações meteoro lóg icos do oes te d o Canadó. As ó reas so mb rea-
dos rep rese ntam neve , expressa c omo equ iva le nte de óg uo.
288 Atm osfera, Tempo e Clima

mundo são da Colúmbia Britânica, e dos Esta - está sujeito a uma acentuada variabilidade. Isso
dos de Washington e Oregon . Um total sazonal é determinado pelo abrupto gradiente de tem -
recorde para os Estados Unidos, de 28,96 m , peratura entre o Golfo do México e as planí -
foi observado em 1998- 1999 na área de esqui cies cobertas de neve ao norte, bem como por
do Monte Baker, WA, onde a quantidade mé - mudanças nos padrões ondulató rios e nas cor-
dia anual é de 16,4 m . Comumente, 10-15 m de rentes de jato em níveis super iores. A atividade
neve caem por ano sobre a Cascade Range, a al- ciclônica no inverno é mui to mais pronuncia -
t itudes de cerca de 1500 m, sendo observados da sobre as reg iões central e leste da América
totais de neve consideráveis até as Montanhas do Norte do que na Ásia, que é dominada pelo
Selkirk . A altura média da neve é de 9,9 m em anticiclone siberiano (ver Figura 7.9A). Conse -
Glacier , Colúmb ia Britânica (elevação de 1250 quentemente , não existe um tipo climático com
m ), e isso explica quase 70% da precipitação uma mínima de precipitação de inverno no les-
anual (ver Figura 10.16). Perto do nível do mar te da América do Norte .
na costa externa, em cont rapartida, pouquís- As condições gerais de temperatura no in-
sima precipitação cai n a forma de neve (por verno e no verão são ilustradas na Figura 10.17,
exemplo , Estevan Point ) . Estima -se que a linha mostrando a frequência com a qual as leituras
de neve climática eleve -se de 1600 m no lado da temperatura a cada hora excedem ou ficam
oeste da ilha de Vancouver para 2900 m no les- abaixo de certos limites. As duas principais ca-
te da Coast Range. Dentro do continente, sua racte rísticas dos quatro mapas são : ( l) a domi -
elevação aumenta de 2300 m nas encostas oeste nância do gradiente de temperatura meridional,
das Montanhas Columbia .para 3 100 m no lado distante das costas; e (2) a cont inentalidade do
leste das Rochosas. Essa tendência reflete opa- interior e leste, em comparação com a natureza
drão de precipitação citado anteriormente. "marítimà ' da Costa Oeste . Nos mapas de julho,
Grandes variações diurnas afetam os va - outras influências são evid.entes, comen tadas a

les da Cordilheira . Os fortes ritmos diurnos seguir.
da temperatura (especialmente no verão) e a
direção do vento são características dos climas Influências continentais e oce6nicas
montanhosos, e seu efeito se sobrepõe aos as-
A grande amplitude na temperatura anual no
pectos climáticos gerais da área. A drenagem
interior do continente, conforme Figura 3.24,
do ar frio pode produzir mínimas notavelmente
demonstra o padrão de continentalidade da
baixas nos vales e nas bacias montanhosas . Em
América do Norte. A figu ra ilustra o papel
Princeton , Colúmbia Britânica (elevação 695
crucial da distância do oceano na direção dos
m ), onde a mínima diár ia média em jane iro é
ventos predominantes (oeste ). As barreiras to -
de -14 ºC, existe uma baixa absoluta regis trada
pográficas das cordilheiras ocidentais limitam
de -45 º C, por exemplo . Isso leva, em certos ca-
a penetração de ar marí timo terra adentro. Em
sos, à inversão do gradiente adiabático normal.
uma escala mais local , corpos de água interio -
Golden, situada em um vale das Montanhas
res, como a Baía de Hudson e os Grandes La-
Rochosas, tem uma média de -12ºC em janeiro,
gos, têm uma pequena influência moderadora
ao passo que em Glacier (1250 m), 460 m mais
- resfriando no verão e aquecendo no começo
alta, a média é de -1 OºC.
do inverno, antes de congela rem .
A costa do Labrador é guarnec ida pelas
3 Interior e leste da América do
águas de uma corrente fria, análoga à corrente
Norte
de Oyashio no Leste Asiático, mas, em ambos
A região central da América do Norte tem o os casos, os ventos predominantes de oeste li-
clima típico de um interior continen tal de la- mitam a sua significância climática . A Corrente
titudes méd ias, com verões quentes e invernos do Labrador mantém o gelo flutuante afastado
frios (Figura 10.17), mas o clima no inverno de Labrador e Terra Nova até junho, levando a
CAPÍTULO 1O O tempo e o clima em latitudes médias e altas 289

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Figura 10.17 Frequência percentual de temperaturas por hora acima ou aba ixo de cer tos limi te s poro o Améri-
co do N orte: (A) temperaturas em ja neiro< OºC; (8) temperaturas em janeiro> lOºC; (C) tempe ratu ras em julho
< lOªC; (D) temperaturas em julho> 2lºC .
Fonte : Royner (1961 }.
290 Atm osfera, Tempo e Clima

temperaturas muito frias no verão ao longo da tação de neve no oeste de Ungava (ver gráfico
costa de Labrador (ver Figura 10.17C). A menor para Inukjuak, Figura 10.20). No começo de
incidência de temperaturas mui to frias nessa janeiro, a Baía de Hudson congela quase com -
área em janeiro está relac ionada com o movi - pletamente, mas não existem efeitos evidentes
mento de algumas depressões para o Estreito de disso. Os Grandes Lagos influenciam o seu en -
Davis, carregando o ar atlântico para norte . Um torno da mesma maneira. Nevascas fortes du -
papel importante da Corrente do Labrador é na rante o inverno são uma característica marcante
formação de nevoe iro. O nevoeiro de advecção das costas sul e leste dos Grandes Lagos. Além
é muito frequente entre maio e agosto na cos- de contribuir com umidade para as correntes
ta da Terra Nova, onde a Corrente do Golfo e a de ar cA e cP frias de noroes te, a fonte de ca-
Cor rente do Labrador se encontram . Correntes lor representada pelas águas abertas no c-0meço
de ar quente e úmidas de sul são resfriadas ra - do inverno produz um cavado de baixa pressão,
pidamente sobre as águas frias da Corrente do que aumenta a precipitação d.e neve como re-
Labrador e, c-0mos ventos suaves e estáveis, es- sultado da convergência . Ainda assim , outro
ses nevoeiros podem persistir por vários dias, fator é a convergência friccionai e a elevação
criando c-0ndições perigosas para a navegação . oro gráfica na linha de costa . A precipitação mé -
As costas voltadas para o sul sã.o part icularmen - dia anual de neve excede os 250 cm ao longo de
te afetadas e, em Cape Race (Terra Nova ), por grande parte da margem leste do Lago Huron e
exemplo, há 158 dias por ano, em média (visi- da Baía Georg ian, da margem sudeste do lago
bilidade de menos de 1 km), com nevoeiro em Ontário, da margem nordeste do Lago Superior
alguns momentos do dia. A concentração de ve- e de sua margem sul a leste de aproximadamen -
rão é mostrada pelos números para Cape Race: te 90,SºW: Os extremos registrados são 114 cm
maio - 18 (dias ), junho - 18, julho - 24, agosto em um dia em Watertown , New York, e 894cm
- 21 e setembro - 18. durante o inverno de 1946- 1947 na vizinha
A influência oceânica ao longo das costas Bennetts Bridge , que são próx.imas da extremi -
atlânticas dos Estados Unidos é bastante limi - dade leste do Lago Ontário .
tada e, embora haja um efeito moderador das O sistema de transporte nas cidades locali -
temperaturas mínimas em estações costeiras , é zadas nesses cinturões de neve costuma sofrer
pouco evidente em mapas generalizados como perturbações durante as tempestades de neve
aqueles da Figura 10.17. Os efeitos climáticos de inverno. Os Grandes Lagos também pro -
mais significativos são encontrados, de fato, nas porcionam uma importante influência mode -
adjacências da Baía de Hudson e dos Grandes radora durante os meses de inverno , elevando
Lagos. A Baía de Hudson se mantém bastante as temperaturas mínimas diárias em estações
fresca durante o verão, com temperaturas de nas margens dos lagos em 2-4 ºC acima das re-
aproximadamente 7-9ºC na água, e isso dimi - gistradas mais ao interior. Em meados de de -
nui as temperaturas ao longo das suas ma.rgens, zembro , os 60 m superiores da massa de água
em especial no leste (ver Figura 10.I7C e D) . As do Lago Erie apresentam uma temperatura
temperaturas médias de julho são de I2 ºC em uniforme de SºC.
Churchill (59ºN ) e 8ºC em Inukjuak (58ºN), nas
margens oeste e leste, respectivamen te. Isso se
Ondas quentes e frios
compara, por exemplo, com I3ºC em Aklavik Dois tipos de condições sinóticas são funda -
(68°N) no delta do Mackenzie . A influência da men t ais para as tempera turas obse rvadas no
Baía de Hudson é ainda mais notável no come- interior da América do Norte . O primeiro en -
ço do inverno, quando a terra está coberta de volve a onda de frio causada pela entrada de ar
neve. As correntes de ar de oeste que cruzam a cP pelo norte, que, no inverno, penetra regu -
água aberta são aquec idas em 11ºC em média larmente na região central e leste dos Estados
em novembro, e a umidade adicionada . ao ar Unidos e pode afetar até a Flórida e a Costa do
leva a uma quantidade considerável de precipi - Golfo, impactando as plantações sensíveis à ge-
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 291

ada. As ondas de frio são definidas arbitrar ia- Medicine Hat (50ºN 111ºW)
mente como uma queda de temperatura de pelo
menos 11ºC em 24 horas sobre a maior parte ºC
dos Estados Unidos, e pelo menos 9ºC na Ca- 40
lifórnia, Flórida e na Costa do Golfo, abaixo de
um mínimo especificado que depende do local
e da estação. O critério de inverno diminui de 30
OºC na Califórnia, Flórida e na Costa do Golfo
para - 18ºC sobre as Great Plains ao norte e nos
20
Estados do nordeste. Períodos frios costumam
ocorrer com o acúmulo de um anticiclone nor-
te -sul atrás de uma frente fria . O ar polar traz 10
tempo limpo e seco, com ven tos fortes e frios,
ainda que , quando se seguem ao derretimento
de neve, a neve fina pode ser varrid a pelo vento, o
criando condições de tempestades de neve so -
bre as planíc ies do norte. Essas nevascas ocor-
1
rem com ven tos > 10 m s- , e a neve que cai ou é - 10
soprada reduzindo a visibilidade para menos de
400 m. Em média, um evento de nevasca . afeta
uma área de 150.000 km e mais de 2 milhões de - 20
pessoas.
Ou tro tipo de flutuação da tempera tura é
-30
assoc iado aos ventos chinook (fohn ) a sotavento
das Montanhas Rochosas (ver Capítulo SC.2).
O chinook é particularmente quente e seco ,
-40
à medida que o ar desce as encos tas orientais
e se aquece pelo gradiente adiabático seco . O
começo do chinook produz temperaturas bem J F MAMJ J A S O ND
acima da normal sazonal, de modo que a neve
costuma derreter rapidamente; de fato, a pala- Figura 10.18 Temperaluras méd ias e extremas em
Medicine Hat, Alb e rta.
vra "chinook' : na língua salish, significa come -
dor de neve. Já foram observados aumen tos de
temperatura de até 22ºC em cinco minutos. A direção a Medicine Hat, sofre anomalias máxi -
ocorrência desses eventos quentes é refletida ma s de até 15-25ºC , em relação aos valores mé -
nas máximas elevadas extremas nos meses do dios da temperatura máxima diária. Os eventos
inverno em Medic ine Hat (Figura 10.18). No de chinook com ventos de oeste > 35 m s- i ocor -
Canadá, o efeito do chinook pode ser observa - rem em 45-50 dias entre novembro e fevereiro
do a uma distância considerável das Montanhas nessa área, como resultado da linha rela tiva -
Rochosas, no sudoeste de Saskatchewan , mas , mente baixa e estreita da cris ta das Montanhas
no Colorad .o, sua influência raramente é sen tida Rochosas entre 49 e SOºN, em comparação com
para além de 50 km dos sopés das montanhas . as montanhas ao redor de Banff e mais ao nor te.
No sudeste de Alberta, o cinturão de fortes ven- As condições de ventos chinook costumam
tos chinook de oeste e temperaturas elevadas es- se formar em uma corrente de ar do Pacífico ,
tende-se por 150-200 km a leste das Montanhas que substitui urna célula de alta pressão de in-
Rochosas. As anomalias de temperatura são de verno sobre os planaltos a oeste. As vezes, o
S-9ºC em média acima das normais de inverno, chinook descendente não desloca o ar cP frio e
e um setor triangular a sudeste de Calgary, em estagnado do an ticiclone , formando -se uma in -
292 Atmos fera, Tempo e Clima

versão acentuada. Em outras ocasiões, o limite Existem pelo menos oito tipos de regimes
entre as duas massas de ar pode alcançar o nível de precipitação sazonais na América do Norte
do solo em âmbito local. Assim, por exemplo, (Figura 10.20); a máxima de inverno da costa
os subúrbios a oeste de Calgary podem regis - oeste e o tipo de transição da região intermon-
trar temperaturas acima de OºC, enquanto os tanhosa nas médias latitudes já foram mencio-
situados a leste da cidade permanecem abaixo nados; os tipos subtropicais serão discu tidos na
de-lSºC. próxima seção. Quatro regimes que ocorrem
O impacto climático de períodos muito pr incipalmente nas latitudes médias são distin -
frios e muito quentes nos Estados Unidos tem guidos a leste das Montanhas Rochosas:
um custo elevado, especialmente em termos
1 A máxima para a estação quente é encon-
de perda de vidas. Na década de 1990, foram
trada sobre grande parte do interior con-
292/282 mortes / ano, respectivamente, atribuí-
tinen tal (p. ex., Rapid City). Em um am -
das a condições frias / quentes extremas, mais do
plo cinturão que vai do Novo México até
que para qualquer outro clima severo.
as províncias das Pradarias, mais de 40%
da precip itação anual caem no verão. No
Precipitação e balanço de umidade Novo México, a chuva ocorre principal -
As influências longitudinais são visíveis na dis - mente com tempestades no final do verão,
tribuição da precipitação anual, embora isso mas o período de maio a junho é o mais
seja, em grande medida, reflexo da topografia. úmido sobre as regiões central e norte das
A isoieta anual de 600 mm nos Estados Unidos Great Plains, devido à atividade ciclônica
segue aproximadamente o meridiano de 1OOºW mais frequente. Os invernos são bastante
(Figura 10.19) e, a oeste em direção às Mon- frios sobre as planícies, mas o mecanis -
tanhas Rochosas, há um amplo cinturão seco mo das precipitações ocasiona is de neve
na sombra de chuva das cadeias montanhosas é significativo . Elas ocorrem sobre as pla -
a oeste. No sudeste , os totais excedem os 1250 nícies a noroeste durante o fluxo de leste
mm, e 1000 mm ou mais são recebidos ao longo encosta acima , em geral em uma crista de
da Costa Atlântica, estendendo -se ao norte até alta pressão. Ma is ao norte, no Canadá, a
New Brnnswick e Terra Nova. máxima costuma ocorrer no fmal do verão
As principais fontes de umidade para apre - ou no outono, quando as trilhas de depres -
cipitação sobre a América do Norte são o Oce - sões estão em latitudes médias mais altas .
ano Pacífico e o Golfo do México. O primeiro Existe uma máxima local no outono sobre
não nos interessa aqui, pois, comparativamente, as margens or ientais da Baía de Hudson (p.
pouco da precipitação que cai sobre o interior ex., Inukjuak), devido ao efeito das águas
parece derivar dessa fonte. A fonte do Golfo é abertas.
extremamente importante em proporcionar 2 A leste e sul da primeira zona, há uma má -
umidade para a precipitação sobre a região cen - xima dupla em maio e setembro. Na região
tral e leste da América do norte, mas a predo- do alto Mississippi (p. ex., Colúmbia ), há
minância de fluxos de ar de sudoeste significa uma mínima secundária, paradoxalmente
que pouca precipitação cai sobre a porção oeste de julho a agosto, quando o ar está quen -
das Great Plains (ver Figura 10.19). Sobre os Es- te e úmido, e um perfil semelhante ocorre
tados Unidos, existe considerável evapo transpi - no norte do Texas (p. ex., Abilene). Uma
ração, e isso ajuda a manter totais anuais mo- crista elevada de alta pressão sobre o vale
derados ao norte e leste do Golfo, ao fornecer do Mississippi parece ser responsável pela
vapor de água adicional para a atmosfera. Ao redução das chuvas de tempestade no
longo da costa leste, o Oceano Atlântico é uma meio do verão, e uma língua de ar seco
fonte adicional significativa de umidade para a descendente estende-se para sul dessa
precipitação no inverno. crista, em direção ao Texas. Todavia, du -
CAPÍTULO 1O O tempo e o clima em latitudes médias e altas 293

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Precipitação anual (mm)


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f[gura 10.19 Precipitação média anual (mm) sobre a Amé r ica do Nor te, de terminada em uma molha com
quadrícula de 25 X 25 km em função da loc a lização e elevação, com base em dados de 8000 esta ções c lim6 -
'
ticas para 1951-1980. Os valores do Artico subestimam os totai s verdadeiros em 30-50% devido a dif iculdades
para registrar a queda de neve de forma precisa com med idores de precipitação.
fonte : Th ompson ef oi. {1999 ). Cor tesio de US Geo log ica l Survey.

rante o período de junho a agosto de 1993, até o dobro da precipitação média de ja -


houve grandes inundações nas porções neiro a julho, com muitas chuvas pontuais
dos rios Mississippi e Missouri no Meio- excedendo quantidades apropriadas para
-Oeste, como resultado da ocorrência de intervalos de recorrência de mais de 100
294 Atm osfera, Tempo e Clim a

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Co lúmbia (940 mm) O 1un 500

Figura 10.20 Reg iões dos regimes de pluviosidade na Américo do N or1e e hi sfogromos mostrando médias d e
precipitação mensa l poro cada região (ja neiro, junho e dezem bro são in d icados). Observe que a corren te d e jato
é ancorado pelas Rochosas mais ou menos na mesma pos ição em fodas as estações.
Fonte: Trewartha (1981); adaptado po r He nde rso n-Se lle rs ond Robin so n (1986) .

anos (Figura 10.21). Nos três meses deve - para um interior continental; 60% ou
rão ocorreram excessos de 500 mm acima mais da precipitação de verão caem du -
da média, com totais de 900 mm ou mais . rante tempestades noturnas (20 :00-8:00
O forte e úmido fluxo de ar de sudoeste hora loca l) na região central do Kansas,
retornou durante o verão , com uma frente e em certas partes de Nebraska, Oklaho -
fria semiestacionária orientada do sudoes - ma e Texas . Hipóteses sugerem que as
te para o nordeste ao longo da região . A tempestades no turnas que ocorrem, espe -
enchente resultou em 48 mortes , destruiu cialmente com amplos sistemas convec -
50.000 casas e causou prejuízos de US$10 tivos de mesoescala (ver p. 252) , podem
bilhões. Em setembro , a nova atividade estar relacionadas com uma tendência
ciclônica associada à mudança sazonal da de convergência noturna e ar ascendente
fren te po lar para o sul, em um momento sobre as planícies a leste das Montanhas
em que o ar mT do Golfo ainda está quen - Rochosas. A topografia do terreno parece
te e úmido, geralmente faz a chuva retor - ter um papel re levante, pois uma gran -
nar. Mais adiante no ano, correntes de ar de camada de inversão surge à noi te so-
mais seco de oeste afetam o interior conti - bre as monta .nhas, formando um jato de
nental, à medida que o fluxo geral de ar se baixo nível (JBN) a leste das montanhas,
torna mais zonal. logo acima da camada limi te. Os JBN são
A ocorrência de precipitação diurna mais frequen tes da noite até as primeiras
nos Estados Unidos é bastante incomum horas da manhã, e ocorrem mais de 50%
CAPÍTULO 1O O tempo e o clima em latitudes médias e altas 295

(A) Rio Mississippi, Keokuk, Iowa


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Área de rios
com ch eia-1993
Área inundada
.__ _ _, 14 de j ulho de 1993
O dob ro de preci p itação recebido , j an.-ju l., 1993
T.R. est. (anos} para quant idades de chuva po ntual durante
ju nho-j ulho 1993
• 50 - 100 • 100 - 500 a >500

F[gura 10.21 Distrib uição de ch eias e inundações no Meio - Oes te nor te -ame ri cano dura nte o per íodo de
junho o agos to de 1993 . São mostrados os picos de descarga para o rio M lssissippi em Keokuk, Iowa (K) e no r io
Missou ri em Boo neville, M issouri (B), com o recorde histórico da descargo móx ima an ual. As iso pletas indicam
os múlt iplos do preci pit ação média de 30 anos para jane iro a julho que ca iu nos prime iros sete meses de 1993.
Os símbo los represen tam as estima tivas dos intervalos de recor rênc ia (1R) em anos por to tais de precipitações
observados, de junho a ju lho de 1993 .
Fonte : Parre tt ef o i. (1993 ) e Lott (1994). Cortesia de US Geo log ica l Survey.

das vezes no Texas no verão. Esse fluxo 4 Na região leste da América do Norte (Nova
de sul, de 500 a 1000 m acima da superfí- Inglaterra , Províncias Marítimas , Quebec e
cie, pode fornecer o influxo necessário de sudeste de Ontário ), a precipitação se dis-
umidade e convergência em baixos níveis tribu i de forma equilib rada ao longo do
para alimentar as tempestades (cf. Figura ano (p. ex., Blue Hill ). Na Nova Escó cia
9.33) . Os sistemas convectivos de meso - e localmente ao redor da Baía Georgian,
escala explicam 30- 70% da chuva de maio existe uma máxima de inverno , decorren -
a setembro sobre grande parte da área a t e, no segundo caso, da influência de águas
leste das Montanhas Rochosas até o rio abertas . Nas Províncias Marítimas, ela está
Missou ri . relacionada com as trilhas de tempestades
3 A leste do alto Mississippi , no vale do Ohio do inverno (e também do outono ).
e sul dos Grandes Lagos, existe um regime
transicional entre os tipos do interior e da Podemos comparar o regime de leste com a
costa leste. A prec ipitação é razoavelmente máxima de verão encontrada sobre o Leste Asi-
abundante em todas as estações, mas a má - ático . Lá, o antic iclone siberiano exclui a preci-
xima de verão ainda está em evidência (p . pitação ciclônica no inverno, sendo sentida s in-
ex., Dayton) . fluências monçõnicas durante os meses de verão.
296 Atmosfera, Tempo e Clima

A distribuição sazonal da precipitação é de ção que relaciona a EP com a temperatura do


vital interesse para fms agrícolas. A chuva que ar. Ela foi desenhada a frm de ressaltar a varia-
cai no verão, por exemplo, quando as perdas ção nas regiões secas do continente. O limite
por evaporação são elevadas, é menos efetiva que separa os climas úmidos do leste, onde a
do que a mesma quantidade na estação fria. razão ER/EP excede 8% ou mais , dos climas
A Figura 10.22 ilustra o efeito de dois regimes secos do oeste (excluindo a costa oeste), segue
diferentes em termos do balanço de umidade, o 95º meridiano. As principais áreas úmidas
calculado segundo o método de Thornthwaite estão ao longo dos Apalaches, no nordeste e ao
(ver Apêndice lB). Em Halifax (Nova Escó- longo da costa do Pacífico, enquanto as áreas
cia), o solo armazena umidade suficiente para áridas mais extensas se encontram nas bacias
manter a evaporação em sua taxa máxima (isto intermontanhosas, nas High Plains, no sudo -
é, precipitação real= evaporação potencial), ao este e em partes do norte do México. No oeste
passo que, em Berkeley (Califórnia), há um dé- e sudoeste, a razão é pequena, devido à falta de
ficit calculado de umidade de quase 50 mm em precipitação, ao passo que, no noroeste do Ca -
agosto. Isso representa um guia para a quanti- nadá, a evaporação real é limitada pela energia
dade de água que será necessária para irrigar as disponível.
plantações, embora, em regimes secos, o mé-
todo de Thornthwaite geralmente subestime o C AS MARGENS SUBTROPICAIS
déficit de umidade real.
1 O sudoeste semi6rido dos
A Figur a 10.23 mostra a razão entre a
evaporação real e a potencial (ER/EP) para a
Estados Unidos
América do norte, calculada pelos métodos de Os mecanismos e padrões do clima em áreas
Thornthwaite e Mather a partir de uma equa - dominadas pelas células subt ropicai s de alta

Berkeley (Califórnia) Halifax (Nova Escócia)

mm Recarga mm
Umidade
da umidade
do solo
do solo
140 utilizada 140
(33 mm)
{33 mm)

Recarga 120 ~ 120


Excedente
(107 mm)
da umidade
do solo
(224 mm) Excedente
,~ . 100
/ ca1
m'm)
80 80
1 1
Déficit
(183 mm) 60
1

40

20 20

J F MA M J J A S O N D J F MA M J J A S O N D
••---e• Precipitação ••---• Evapotranspiração potencial ••- -• Evapotranspiração real

Figura 10.22 Balanços de umidade em Berkeley, Califórnia, e Hal ifax, Nova Escócia.
f onle : Thomthwoite e Mothe r (1955 ).
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 297

Evaporação reaVevaporaçãopotencial
º15 2% 9%
1 _ 1 -

Fígura 10-23 Razão de evaporação rea l/ po te ncial poro o Amér ica do Norte, de term inada com os métodos
de Thornthwa ife -Mather (1955).
Fonle : Th om p son ef oi. {1999 ). Co rtesia de US Geo log ico l Survey.

pressão não estão bem documentados. A na- inte rpre tação de dados sobre a precipitação no
tureza . inóspita dessas regiões áridas inibe a deserto, pois grande parte da.chuva cai em tem -
coleta de dados, e o estudo de eventos meteo - pestades loca is, que se distribuem de maneira
rológicos infrequentes exige uma rede de esta- ir regular no espaço e no tempo. As condições
ções que mantenha registros contínuos durante climáticas do sudoeste dos Estados Unidos ser-
longos períodos. Essa dificuldade fica clara na vem para exemplificar esse tipo climático, com
298 Atmos fera, Tempo e Clima

120'W 110"
base nos dados mais confiáveis para as margens 10 30
20
semiáridas das células subtropicais .
Observações realizadas em Tucson (730 m),
35.N
Arizona, entre 1895 e 1957 mostram uma pre-
cipitação média anual de 277 mm, concen trada 30 20
em uma média de 45 dias por ano. Os extremos •••
""" -·- \

anuais dessas observações são de 614 mm e 145 30"

mm. Dois períodos mais úmidos d.o final de no-


vembro a março (recebendo 30% da precipita -
~i-- 40
ção média anual) e do final de junho a setembro 25"
50
(50%) são separados por estações mais áridas, 50
de abril a junho (8%) e de outubro a novembro
(12%). As chuvas de inverno costumam ser pro -
20· L.,__.....;_ ______
.
,
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longadas e de baixa intensidade (mais da me-
tade das chuvas têm intensidade de menos de Figura 10.24 Cont ribuição (%) da precip itação nos
5 mm por hora), caindo de nuvens altostratus meses JJ A para o to ta l anual no sudoeste dos Estados
associadas às frentes frias de depressões que são Unidos e norte do Méx ico . A óreo acima de 50% estó
forçadas a tomar rotas para o sul pelos grandes destacada em amarelo claro, e a acima de 70%, em
ama relo escuro.
bloqueios ao norte. Isso ocorre durante fases de
Fonte: M . W. Douglas el oi. (1993, p .1667, fig . 3). Cortes ia de
deslocamento equatorial da célula subtropical Ame ricon Me teo rolog ico l Soc iety ,
de alta pressão . O restabelecimento da célula na
primavera , antes do principal período de aque - 10.24 mostra que o sudeste do Arizona e o su-
cimento superficial intenso e de pancadas con- doeste do Novo México recebem mais de 50%
vectivas , é associado aos episódios mais persis - de sua quantidade anual de chuva de julho a se-
tentes de seca. O fluxo seco de oeste a sudoeste tembro. Mais ao sul, sobre a Sierra Madre Oci-
da borda oriental do anticiclone subtropical do dental e a costa sul do Golfo da Califórnia, essa
Pacífico é responsável pela pouca quantidade de cifra excede os 70%. O sudoeste norte-america -
chuva durante essa estação. Em Tucson, durante no representa apenas a parte norte da área das
29 anos, houve oito períodos com mais de 100 monções mexicanas ou norte-americanas.
dias consecutivos de seca total e 24 períodos de A precipitação ocorre principalmente a
mais de 70 dias. Em 2005-2006 , Phoenix regis- partir de células convectivas que iniciam por
trou 143 dias sem precipitação mensurável. As aquecimento superficial, convergência ou,
condições secas ocas ionalmente levam a tem- de forma menos comum, elevação orográfica
pestades de poeira. Yuma registra nove por ano, quando a atmosfera é desestabilizada por cava-
1
em média , associadas a ventos de 10-15 m s- • dos em níveis elevados nos ventos de oeste. Es-
Essas ocorrem com sistemas ciclônicos na esta - sas tempestades convectivas de verão se formam
ção fria e com a atividade convectiva no verão. em grupos de mesoescala. Cada célula indivi -
Phoenix apresenta de seis a sete tempestades de dual cobre menos de 3% da área superficial em
poeira por ano, principalmente no verão, com a um dado momento, persistindo por menos de
visibilidade reduzida a menos de 1 km em qua- uma hora, em média . Os grupos de tempestades
se metade desses eventos. cruzam o país na direção do movimento do ar
O período de precipitação de verão (conhe- superior. Esse movimento mui tas vezes parece
cido como monções norte-americanas) é defi- ser controlado por correntes de jato de baixo ní-
nido de forma súbita. O regime de ventos de sul vel. O fluxo de ar associado a essas tempestades
na superfície e a 500 mb (ver Figuras 7.12B e geralmen te é de sul, ao longo das margens sul
7.3, respectivamente) costuma começar abrup - e oeste da alta subtropical do Atlântico (ou das
tamente por volta de 1º de julho e, portanto, é Bermudas). A umidade em níveis baixos no sul
reconhecido como uma singularidade. A Figura do Arizona deriva principalmente do Golfo da
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 299

Califó rnia durante ªinvasões" associadas à Cor- mam o controle de setembro a outubro, embora
rente de Sonora (850-700 mb) de sul-sudoeste a Flórida permaneça sob influência dos ventos
em níveis baixos. A umidade do Golfo do Méxi- de leste durante setembro, quando os ciclones
co alcança elevações maiores no Arizona-Novo tropicais do Atlântico são mais frequentes .
México com fluxos de sudeste a 700 mb. Os ciclones tropicais contribuem com apro-
A precipitação dessas célu las convectivas ximadamente 15% da média anual de chuva na
é extremamente local e costuma se concentrar costa das Carolinas e 10-14% ao longo da Costa
do meio da tarde ao começo da noite . As inten - do Golfo central e da Flórida . Segundo registros
sidades são muito maiores do que no inverno da Storm Data para 1975-1994, os furacões que
e, no verão, a chuva cai a mais de 1O mm por atingem o sul e leste dos Estados Unidos con-
hora. Durante um período de 29 anos, por vol- tabilizam mais de 40% do prejuízo total com a
ta de um quarto da média anual da precipita- perda de propriedade e 20% dos danos à agri-
ção caiu em tempestades que geraram 25 mm cultura atribuídos a eventos meteorológ icos ex-
ou mais por dia. Essas intensidades são muito tremos no país. As perdas anuais causadas por
menores do que as associadas a tempestades furacões nos Estados Unidos tiveram uma mé-
nos trópicos úmidos, mas a escassez da vegeta- dia de US$5,5 bilhões na década de 1990, com
ção nas regiões mais secas permite que a chuva perdas nacionais comparáveis em decorrência
cause inundações súbitas e considerável erosão de enche .ntes (US$5,3 bilhões anualmente). O
superficial. desastre natural de maior custo até 1989 havia
sido o furacão Hugo (US$9 bilhões), mas foi
2 O sudeste dos Estados Unidos ultrapassado vertiginosamente pelas pe rdas de
O clima da região do sudeste subtropical dos Es- US$27 bilhões causadas pelo fu racão Andrew
tados Unidos não encontra um correlato exato sobre o sul da Flórida e a Louisiana em agosto
na Ásia, que é afetada pelos sistemas de mon- de 1992, quando os ventos destruíram 130.000
ções de verão e inverno (discutidos no Capítulo casas, e os US$8 l bilhões em perdas atribuídas
11). As alterações sazonais nos ventos são senti- ao furacão Katrina em agosto de 2005. A onda
das na Flórida, que se encontra dentro do cintu- de 6 m causou o rompimento dos diques em
rão de ventos de oeste no inverno e na margem Nova Orleans, inundando 80% da cidade, com
norte dos ventos tropicais de leste no verão. A a destruição difusa de propriedades e a perda
máxima de pluviosidade no verão (ver Figura de 1836 vidas. Em comparação, as lesões (mor-
10.20 para Jacksonville) é resultado dessa mu- tes) durante furacões contabilizam uma média
dança. Em junho, o fluxo superio r sobre a pe- de apenas 250 (2 1) por ano, como resultado dos
nínsula da Flórida muda de noroeste para sul, sistemas de aviso contra tempestades e da eva-
à medida que um cavado avança para oeste e se cuação de comunidades em situação de risco.
estabelece no Golfo do México. Esse fluxo pro- A precip itação no inverno ao longo de
fundo e úmido de ar de sul proporciona as con- grande parte da plataforma leste dos Estados
dições apropriadas para a convecção . De fato, Unidos é dominada por uma oscilação entre
a Flórida provavelmente é a área com o maior trilhas de depressão ao longo do vale do Ohio
número de dias com tempestade no ano- 90 ou (baixas continentais) e a costa atlântica sudes-
mais, em média, ao redor de Tampa. Elas cos- te (baixas do Golfo), uma das quais costuma
tumam ocorrer ao final da tarde, embora dois predominar durante cada inverno. A trilha do
fatores além do aquecimento diurno sejam con- Ohio traz precipitação de chuva e neve abaixo
siderados importantes. Um é o efeito das brisas da média no inverno e temperaturas acima da
marinhas que convergem de ambos os lados da média para a região mesoatlântica, ao passo que
península, e o outro é a penetração ao norte de as condições opostas são associadas a sistemas
perturbações nos ventos de leste (ver Capítulo que seguem a trilha da costa sudeste.
11). Esse segundo fator pode afetar a área a qual- A região das planícies do Mississippi e do
quer momento do dia. Os ventos de oeste reto- su l dos Apalaches a oeste e norte não forma
300 Atmos fera, Tempo e Clima

uma transição com o "tipo continenta l': pelo A estação de inve rno chega de modo súbi -
m enos em t erm os do regim e d e chuvas (ver to no Mediterrâneo, quando a extensão leste de
Figura 10.20). O perfil mostra uma máxima verão da célula de alta pressão dos Açores entra
de inverno-p r imavera e uma máxima secun- em colapso. Esse fenômeno pode ser observa-
dária de verão . O pico da estação fria está do em barógrafos espalhados pela região, mas,
relacionado com as depressões de oeste, que particularmente no Mediterrâneo ocidental,
avançam no sentido nordeste a partir da área onde ocorre uma queda súbita na pressão por
da Costa do Golfo, e é significativo o fato de volta de 20 de outubro, que é acompanhada por
o mês mais úmido no rmalmente ser março, um aumento notável na probabilidade de preci-
quando a corrente de jato méd ia está mais ao pitação . A probabilidade de recebe r chuva em
sul . As chuvas de verão são associadas à con - qualque r pe ríodo de cinco dias aumenta de 50-
vecção no ar úmido do Go lfo, embora essa 70% no começo de outubro para 90% no final
convecção se torne menos efetiva continente do mês . Essa mudança é associada às primeiras
adentro, como resultado da subsidência cria - invasões de frentes frias , embora as chuvas e
da pela circulação anti.ciclôn ica na troposfera trovoadas sejam comuns desde agosto. A acen-
média, discutida anteriormente (ver B.3, neste tuada precipitação de inverno sobre o Mediter-
capítulo). râneo resulta das temperaturas relativamente
elevadas da superfície do mar em janeiro, que
3 O Mediterr6neo são cerca de 2ºC mais altas do que a tempera -
tura méd ia do ar. As incursões de ar mais frio
O clima característico da cos ta oeste dos sub- na região provocam instabilidade convectiva ao
trópicos é do tipo Mediterrâneo, com verões longo da frente fria, produzindo chuva frontal e
quentes e secos e invernos moderados e rela- orográfica. As incursões de ar ártico são relati-
tivamente úmidos . Ele se interpõe entre o t ipo vamente infrequentes (havendo, em média, seis
marítimo temperado e o clima desértico árido a nove invasões de ar cA e mA a cada ano), mas
subtropical . A fronteira que divide o clima ma- a penetração de ar mP instáv el é muito mais
rítimo temperado da Europa Ocidental e o do comum . Essa massa de ar geralmente propicia
Medi terrâneo pode ser d.elimi ta.da com base na o desenvolvimento de nuvens cumulus pro-
sazonalidade da chuva. Todavia, outra caracte - fundas, e é crucial na formação de depressões
rística diagnóstica é o aumento relativamente mediterrâneas. O início e o movimento dessas
súbito na radiação solar na zona ao longo do depressões (Figura 10.26) são associados a uma
norte da Espanha, no sudeste da França, no ramificação da corrente de jato da frente pola r a
norte da Itál ia e a leste do Ad riático (Figura aproximadamente 3SºN . Essa corrente se forma
10.25). O regime do Mediterrâneo é transicio - durante fases de índice baixo , quando um an -
nal de um modo especial, pois é controlado pe - ticiclone gera um bloqueio a aproximadamente
los ventos de oeste no inverno e pelo anticiclone 20ºW, disto rcendo os ventos de oeste sobre o
subtropical no verão . A mudança sazonal na Atlântico or iental. Isso cria uma corrente pro -
posição da alta subtropical e a corrente de jato funda de ar ártico que segue no sentido sul so-
subtropical de oeste na troposfera superior são bre as Ilhas Britâ nicas e a França .
evidentes na Figura 10.25. A região coberta por Os sistemas de baixa pr essão no Mediter-
esse tipo é diferenciada, estendendo-se mais de râneo têm três fontes principais . As depressões
3000 km para o continente euroasiático . Além atlânticas que entram no Mediterrâneo oci -
disso, a. configuração d.e mares e penínsulas dental como baixas superficiais compreendem
produz grande variedade regional de tempo e 9%, e 17% se formam como ondas baroclínicas
clima . A região da Califórnia, com condições ao sul das Montanhas Atlas (as chamadas de-
semelhantes (ver Figu r a 10.20 ), tem extensão pressões do Saara; ve r Figura 10.27 ). Estas são
bastante limitada e, portanto, a atenção concen- importantes fontes de chuva no fmal do inver-
tra-se na bacia mediterrânea. no e na pr imavera; 74 % desenvolvem -se no
CAPÍTULO 1O O tem po e o clima em lat itudes médias e a ltas 301

kWhm 4 kWh m 2 kWhm 2


kWhm 4 kWh m-2
10 10 10 10------- 10-------
Kew Lerw ick Trier Davos Varsóvía
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2 2 2 2 2

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JF MAM J JAso No JF MA MJ JASO ND J F MAMJ J ASOND JFMAMJJASOND JFMAMJJASON D
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JFMAMJJASO ND JFMAMJ J ASOND J FMAMJ J ASOND JFMAM J JASOND J FMAMJJASONO

Figura 10.25 Médios anuais de irradiação g lobal diório sobre uma superfíc ie hori zontal (kWh/m -2) poro a Europa
Ocidental e Central, calculados poro o período 1966-1975. Também são mostradas as médios de 1O anos para mé-
dias mensais de quantidades diórias, [unto com os desvios-padrão (faixa sombreada), para estações selecionadas.
Fonfe: Polz (1984) . Reproduzido com permm issõo de Direcio role - Ge ne ra l, Scie nce, Reseo rch and Develop ment, European
Comm ission, Brussels, e W. Pa lz.
302 Atmosfera, Tempo e Clim a

entre 5 e 25ºE . Esse aquecimento do ar mP


produz um tipo de ar designado como medi-
terrâneo. O limite médio entre essa massa de
ar mediterrânea e o ar cT que flui no sentido
nordeste a partir do Saara é conhecido como
frente mediterrânea (ver Figura 1·0.26) , poden -
do haver uma descontinuidade na temperatura
de até 12-16ºC através dela no fmal do inverno.
As depressões do Saara e as do Mediterrâneo
ocidental avançam para leste , formando um
cinturão de baixa pressão associado a essa zona
frontal e, frequentemente, trazendo ar cT para
norte adiante da frente fria na forma do quen-
(B) te e poeirento scirocco(em especial na prima-
vera e no outono, quando o ar do Saara pode
qN

A se espalhar para a Europa) . O movimento das


depressões mediterrâneas é modificado pelos
efeitos do relevo e por sua regeneração no Me -
diterrâneo oriental, por meio do ar cP fresco
oriundo da Rússia ou do sudeste da Europa.
Embora muitas baixas passem no sentido leste
em direção à Asia, existe uma forte tendência
de outras avançarem para nordeste sobre o Mar
Negro e os Bálcãs, especialmente à medida que
a primavera avança. O tempo no inverno no
Mediterrâneo é bastante variável, pois a cor -
Figura 10.26 Distribu ição da pressão superf icial, rente de j ato subtropical de oeste é altamente
dos ven tos, e do precipitação pa ra o Mediterrâneo e móvel e pode coalescer com a corrente de jato
Norte da Africa durante janeiro (A) e julho (B). Tam-
da frente polar, que se desloca para sul.
bém são mostrados as posições méd ias das d u as
Com a circula .ção zonal de índice eleva-
cor ren tes de jato subtropical de oes te e tropical de
leste, com a Depressão Monçônica (DM), a Fren te do do sobre o Atlântico e a Europa, pode ocorrer
Medi terrô neo (FMJ e o Zona de Convergênc ia de Ar a passagem de depressões suficientemente ao
do Zai re (Zai re A ir Boundary- ZAB ). norte para que o ar do seu setor frio não alcan-
Fonte: Weothe r in the Med iterroneo n (HMSO, 1962) (Crown ce o Mediterrâneo , permitindo que o clima seja
Copyr ight Rese rved ). estável e bom. Entre outubro e abril, os antici-
clones são o tipo predominante de circulação
Mediterrâneo ocidental, a sotavento dos Alpes em pelo menos 25% do tempo sobre a área do
e dos Pirineus (ver Capí tul o 9H. l ). A combina - Mediterrâneo e, na bacia ocidental, em 48% do
ção entre o efeito de sotavento e o ar superficial tempo . Isso se refle te na elevada pressão média
estável sobre o Mediterrâneo ocidental explica sobre a área da bacia em janeiro (ver Figura
a formação frequente dessas depressõesdo tipo 10.26) . Consequentemente, embora o semes-
Gênova sempre que o ar mP condicionalmen - tre de inverno seja o período chuvoso, existem
te instável invade a região. Essas depressões poucos dias de chuva . Em média a chuva cai em
são excepcionais porque a instabilidade do ar apenas seis dias por mês durante o inverno no
no setor quente causa uma precipitação inten- norte da Líbia e no sudeste da Espanha, sendo
sa e incomum ao longo da frente quente. O ar 12 dias de chuva por mês no oeste da Itália, no
mP instável produz chuvas fortes e trovoadas oeste da Península dos Bálcãs e na área de Chi-
na porção posterior da frente fria , em especial pre. As maiores frequências (e totais ) estão rela -
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 303

20· ,o· 1
10* 50• 60"E

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O 1000

1O"
km O"
/
10•
1
20" -- cT

Figura 10.27 Trilhos de depressões medi terrõneos , apresentando frequências anuais médias, e fontes de mos -
sas de ar.
Fonte: Weotner in the Mediterranean (HMSO, 1962) (Cro wn Copyright Reserved) .

cionadas com as áreas de ciclogênese e com os violentos . O mistral pode durar vários dias, até
lados a barlavento das penínsulas . cessar o influxo de ar polar ou continental A
Os ventos regionais também estão relacio - frequência desses ventos depende da sua defi-
nados com os fatores meteorológicos e topo- nição. A frequênc ia média . de mistrais fortes no
gráficos . Os conhecidos ventos frios de no rt e sul da França é most rada na Tabela 10.3 (com
do Golfo dos Leões (o mistral), associados ao base na ocorrência em uma ou mais estações de
fluxo de ar mP de norte, se desenvolvem me - Perpignan ao Ródano em 1924- 1927). Ventos
lhor quando uma depressão está se formando semelhantes podem ocorre r ao longo da costa
no Golfo de Gênova , a leste de uma cri sta de catalã da Espanha ( o tramontana, ver Figura
alta pressão do anticiclone dos Açores. Os efei- 10.28) e também no norte do mar Adriático
tos catabáticos e afunilantes intensificam o flu- (o bora) e do ma r Egeu, quando o ar polar flui
xo no vale do Ródano e em locais semelhantes, para sul na po rção poster ior de uma depressão
de modo que, às vezes, são regist rados ventos no sentido leste e é forçado sobre as montanhas

Tabela 10.3 Número de d ias com vento mistral forte no sul da França

Veloc idade J F M A M J J A s o N D Ano

~llm s-1 (36,6 km/h) 10 9 13 11 8 9 9 7 5 5 7 10 103


~ 17m s- 1 (118,8 km/h) 4 4 6 5 3 2 0,6 1 0,6 o o 4 30

Fonte: Weather in the Mediterranean (HMSO, 1962) .


304 Atmosfera, Tempo e Clima

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km 200
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~ Cierzo (C) inverno: 6 meses ! 1Solano (S) verão


&\\\JGalerna (G) to d o o ano, esp . inverno li[]!"I[HTramontana (1) inverno
1 . \ 1 Lebeche (Le) primavera e verão ~ Vendaval M inverno: 6 meses
- - - Levante (L) todo o ano: limite N e W
,
Figura 10.28 Areas afe tados pelos princ ipais ventos reg iona is na Espan h a em função da estação do ano .
Fo nt e: Tout e Kemp (1985 ). Co m p ermissão d e Roya l Meteoro log ico l Socie ty.

(cf. Capítulo SC.2) . Na Espanha, ventos frios e nas três dias com 1 mm de chuva ou mais em
secos de norte ocorrem em vár ias regiões. A Fi- Chipre , pode haver chuvas torrenc iais, como
gura 10.28 mostra o galerna da costa no rte e o em abril de 1971, quando quatro depressões
cierzodo vale do Ebro. afetaram a região. Duas delas eram depressões
A estação normalmente úmida, ventosa e saarianas que avançavam no sentido leste atrás
moderada do inverno no Mediter râneo é se- da zona de difluência no lado frio de um jato de
guida por uma primavera longa e indecisa, de oeste, e as outras duas intensificaram -se a so-
março a maio , com muitos falsos inícios do tavento de Chipre . O rápido colapso da célula
tempo meteorológico de verão. O período da euras iática d.e alta pressão em abril, junto com a
primavera, como o começo do outono, é espe- extensão descontinua do anticiclone dos Açores
cialmente imp revisível Em março de 1966, um para norte e leste, estimula o deslocamento de
cavado avançando pelo Mediterrâneo oriental, depressões para norte . Mesmo que o ar de lati-
precedido por um ven to khamsin quente de tudes mais altas penetre a sul para o Mediterrâ-
sul e seguido por uma corrente de ar de norte, neo, a superfície do mar está relativamente fria,
trouxe até 70 mm de chuva em apenas quatro e o ar é mais estável do que durante o inverno.
horas para uma área no sul do deserto de N e- Em meados de junho, a bacia do Mediter -
gev. Embo ra abril costume ser um mês seco no râneo é dominada pela expansão do anticiclone
Mediterrâneo oriental , com uma média de ape- dos Açores a oeste, enquanto, para o sul, o cam -
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 305

po de pressão média apresenta um cavado de da França, o norte da Itália e o norte dos Bálcãs
baixa pressão que se estende pelo Saara a partir apresentam perfis mais complicados, com uma
do sul da Ásia (ver Figura 10.26). Os ven tos são máxima no outono ou picos na primavera e no
predominantemente de norte (p. ex., os etesia- outono. Essa máxima dupla pode ser interpre-
nos do Egeu) e representam uma continuação a tada como uma transição entre o tipo continen-
leste dos ventos Alísios de nordeste. Em âmb ito tal interior com uma máxima de verão, e o tipo
local, as brisas marinhas reforçam esses ventos, mediterrâneo com uma máxima de inverno.
mas, na costa de Levant, causam ventos super- Uma região de transição semelhante ocorre no
ficiais de sul. As brisas de terra e de mar, en- sudoeste dos Estados Unidos (ver Figura 10.20),
volvendo ar com espessura de até 1500 m, con- mas a topografia local nessa zona intermonta-
dicionam o tempo cotidiano em mui tas partes nhosa introduz algumas irregularidades nos
da costa do norte africano . As depressões não •
regunes .
estão ausentes nos meses de verão, mas em geral ,
são fracas. O caráter anticiclónico da circula- 4 Africa do norte
ção de grande escala estimula a subsidência, e
os contrastes entre as massas de ar são bastante A predominância de condições de alta pressão
reduzidos em comparação com o inverno. De no Saara. é marcada pela baix a precipitação mé-
tempos em tempos, formam -se fluxos térmicos dia na região. Sobre a maior parte do Saara cen-
sobre a Ibéria e Anatólia, embora as trovoadas tral, a precipitação média anual é de menos de
sejam infrequentes por causa da umidade rela- 25 mm, embora o platô elevado de Ahaggar e
tivamente baixa. Tibesti receba ma is de 100 mm. Partes do oeste
Os ventos regionais mais importantes no da Argélia tiveram pelo menos dois anos sem
verão são de or igem tropical continental. Há receber mais de 0,1 mm de chuva em qualquer
uma variedade de nomes locais para essas cor- período de 24 horas, e a maior parte do sudoes-
rentes de ar geralmente quentes, secas e poei- te do Egito, até cinco anos. No entanto, podem-
rentas - scirocco(Argélia e Levant), lebeche(su- -se esperar tempestades com chuvas de 24 ho-
deste da Espanha) e khamsin (Egito) - que se ras, aproximando-se de 50 mm (mais de 75 mm
movem para norte, à frente de depressões que sobre os platôs elevados) em locais esparsos.
avançam no sentido leste. No Negev, o começo Durante um período de 35 anos, houve inten-
de um khamsin de leste pode fazer a umidade sidades excessivas de chuva em períodos curtos
relativa cair para menos de 10% e as temperatu- nas adjacências das encostas voltadas para o
ras subirem para até 48ºC. No sul da Espanha, o oeste na Argélia, como em Tamanrasset (46 mm
solano de leste traz clima quente e úmido para a em 63 minutos) (Figura 10.30), El Golea (8,7
Andaluzia no semestre de verão, ao passo que o mm em 3 minutos) e Beni Abes (38,5 mm em
levante costeiro - que tem uma pista longa so- 25 minutos). Durante o verão , a variabilidade
bre o Mediterrâneo - é úmido e um pouco mais da pluviosidade é introduzida no sul do Saara
fresco (ver Figura 10.28). Esses ventos regionais pela penetração a norte da Depressão Monç-Õni-
ocorrem quando a alta dos Açores se estende ca (ver Figura 11.2B), que, ocasionalmente, per-
sobre a Europa Ocidental, com um sistema de mite que línguas de ar úmido de sudoeste pe-
baixa pressão ao sul. netrem ao norte e produzam centros efêmeros
Muitas estações no Mediterrâneo recebem de baixa pressão. O estudo dessas depressões
apenas alguns milímetros de chuva em pelo saarianas permitiu a emergência de um quadro
menos um dos meses do verão, mas a distri- mais claro da região. Na troposfera superior, a
buição sazonal não condiz com o padrão de aproximadamente 200 mb ( 12 km), os ventos de
uma mesma máxima simples de inverno sobre oeste sobrepõem -se aos flancos voltados para o
toda a bacia do Mediterrâneo. A Figura 10.29 polo do cinturão subtropical de alta. pressão .
mostra que isso é observado no Mediterrâneo Ocasionalmente, as células de alta pressão se
central e oriental, ao passo que a Espanha, o sul contraem e se afastam umas das outras, à me-
306 Atm osfera, Tempo e Clim a

Aeykjav ik Aberdeen Bergen Oslo Estocofmo lnari Mun ique


779mm 837mm 1958 mm 623mm 555mm 418mm 964mm
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712mm 59mm 864mm ~ 018mm 266mm 366mm 194mm
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Figura 10.29 Estações de móximo pr ecipi tação poro a Eur opa e Africo do no rt e com méd ios mensais e anuais
(mm} para 28 estações.
Fonte: Thorn (1965) e Huttory (1950) . Reimpresso de D. Mar tyn (1992 } Climotes of the Wor ld, com pe rmissão de Elsevier Scie nce
NL, Soro Burge rhorts troot 25, l 055 KV Amst e rdom, th e Net he rlo nds .

elida que se formam meandros dos ventos de essas chuvas se esgot am e geram tempest ades de
oeste entre elas. Esses meandros podem se es- poeira, mas podem ser reativadas mais ao norte
tender em direção ao equador, interagindo com pela penetração do ar úmido do Mediterrâneo.
ventos tropicais de leste baixos (Figur a 10.31). A interação ent re a circulação de oeste e de leste
Essa interação pode levar ao desenvolvimen to é ma is provável de ocorrer perto dos equinó -
de baixas, que se movem para o nordeste ao cios ou às vezes no inverno, se a célula de alta
longo do cavado meandran te associado a chu- pressão dos Açores predominante se con t rair
vas e trovões. Quando chegam ao Saara central , para oeste . Os ventos de oeste também podem
CAPÍTULO 1O O tempo e o clima em latitudes médias e altas 307

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o do mapa

Figura 10.30 Trilho de um a tempestade e o chuva de três horas assoc iada (mm) duran te setembro de 1950 ao
redor de Tamanrasset, nas adjacê ncia s das Mon tanhas Ahaggar, sul do Argélia.
Fonte: Adaptado de Goud ie e W ilki nson {1977) .

5 Austra lásia
Os anticiclones subtropicais do Atlântico Sul e
-- do Oceano Índico tendem a gerar células de alta
Alta
pressão que avançam para leste, intensificando-
20
, (200mb)
-se a sudeste da África do Sul e oeste da Aus-
Alta
(200 mb) trália. São sistemas de núcleo quente, formados
pelo ar descendente e estendendo-se pela tropos-
1()o

fera. A intensificação continental da progressão


constante dessas células para leste faz os mapas
de pressão passar a impressão da existência de
um anticiclone estável sobre a Austrália (Figura
10.32). Por volta de 40 anticiclones atravessam a
Austrália anualmente, sendo um pouco mais nu-
Fígura 10.3 1 Interação en tre os ven tos de oeste e
me rosos na primavera e verão do que no outono
os ven tos tropicais de leste gerando depressões saa-
rianas (D), que avançam para nor te ao longo do eixo
e inverno. Sobre ambos os oceanos, a frequência
de um cavado. de centros anticiclónicos é maior em um cintu-
Fonte: Nicno lson e Flohn (1980). Copyr ight © 1980 / 1982 rão ao redor de 30ºS no inverno e 35-40ºS nove-
de D. Reid el Publishin g Co mpo ny. Reim presso medionte rão; eles raramente ocorrem ao sul de 45ºS.
permissão. Ent re anticiclones sucessivos, existem ca-
vados de baixa pressão contento frentes inte-
afetar a região, com a penetração de frentes frias ran ticiclôn icas (às vezes denominadas "pola-
ao sul vindas do Mediterrâneo, trazendo chuva res11)(Figura 10.33) . Dentro desses cavados, a
forte para áreas desérticas localizadas. Em de- corrente de jato subtropical meandra no senti-
zembro de 1976, uma dessas depressões gerou do equatorial, acelera (particularmente no in -
até 40 mm de chuva durante dois dias no sul da verno, quando atinge uma velocidade média de
1
Mauritânia. 60 m s- , em compa ração com um valor anual
308 Atmos fera, Tempo e Clima

sões de ar mTi, para o sudoeste australiano. No


verão, o movimento da Zona de Convergência
Intertropical para o sul e sua transformação em
uma Depressão Monçônica leva a estação mais
úmida para o norte da Austrália (ver Capítulo
llD), e os ventos Alísios de sudeste provocam
30' chuva ao longo do litoral leste.
,,
, ,, 1 ' A Nova Zelândia está sujeita a controles cli-
mP
--... máticos semelhantes aos observados no sul da
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' Austrália (Figura 10.33). Anticiclones, separados


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por cavados associados a frentes frias frequente-


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' mente deformadas como depressões ondulató-
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rias, cruzam a região uma vez por semana, em
, média. Sua trilha mais ao sul (38,SºS) ocorre em
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•l fevereiro. O deslocamento anticiclônico para les-
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a julho e 780 km/dia de outubro a dezembro. Os
30'
anticiclones ocorre.m em 7% do tempo crono-
lógico, e são associados a tempo estável, ventos
leves,brisas marinhas e um pouco de neblina. Na
borda leste (na frente) da célula de alta pressão, o
fluxo de ar em geral é fresco, marítimo e de sudo-
Figura 10.32 Frequências de massas de ar, 6reas- este, intercalado com fluxos de sul e sudeste que
-fonte, direções do vento e dom inância da célula de alfa
produzem garoa. No lado oeste da célula, o fluxo
pressão cT sob re a Austrólia no verão (A) e inverno (B).
de ar costuma ser de norte ou noroeste, trazendo
Fonte: Gent ill i (1971). Com permissão de Elsevier Science, N L.
condições amenas e úmidas. No outono, as con-
dições de alta pressão aumentam de frequência
médio de 39 m s- t) e gera depressões em níveis em até 22%, gerando uma estação mais seca.
superiores, que se movem para sudeste ao lon- Os cavados simples com frentes frias não
go da frente (análogas aos sistemas da África deformadas e interações relativamente simples
do Norte). A variação na força dos anticiclones entre as condições observadas na borda traseira
continentais e a passagem de frentes interanti - e dianteira dos anticiclones persistem por volta
ciclônicas causa influxos periódicos de massas de 44% do tempo durante o inverno, a primavera
de ar tropical marítimo dos Oceanos Pacífico e o verão, em comparação com apenas 34% no
(mTp) e Índico (mTi). Também ocorrem incur- outono. As depressões ondulatórias ocorrem com
sões de ar polar marítimo (mP) do sul, eva- aproximadamente a mesma frequência. Se uma
riações na força da fonte local de massas de ar depressão ondulatória se forma na frente fria a
tropical continental (cT) (ver Figura 10.32). oeste da Nova Zelândia, ela geralmente avançará
As condições de alta pressão sobre a Austrá- para o sudeste ao longo da frente, passando para
lia promovem temperaturas especialmente ele- o sul das ilhas. Em contrapartida, uma depressão
vadas sobre as porções centrais e ocidentais do que se forma sobre a Nova Zelândia pode levar
continente, para onde há um grande transporte 36-48 horas para sair das ilhas, trazendo condi-
de calor no verão. Essas pressões mantêm a plu- ções prolongadas de chuva (Figura 10.34). O re-
viosidade média baixa, normalmente totalizando levo, em especial a porção dos Alpes Meridionais,
menos de 250 mm por ano sobre 37% da Austrá- controla predominantemente as quantidades de
lia. No inverno, depressões em níveis elevados ao chuva. As montanhas voltadas para oeste ou no-
longo das frentes interanticiclônicas trazem chu- roeste recebem uma média anual de precipitação
va para as regiões do sudeste e, junto com incur- acima de 2500 mm, com certas partes da Ilha Sul
CAPÍTULO 1O O tempo e o clima em latitudes médias e altas 309

120ºE 16D"E 160"W 140"W

Alísiosde nordeste 2D"N


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120ºE 140ºE 180º 160'W 140"',\/

120ºE 140ºE
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120ºE 140ºE

Fígura 10.33 Principais ca racterísticas climatológicas da Austra lásio e do Pacifico sudoeste . Também são
mos tradas áreas com > 100 mm (janeiro) e >50 mm (julho) de média mensal de precip itação para a Austrália.
fonte: Steiner, in Solinger et a i. (1995) . lnternofionol Journol of Climotolog y, copyr igh t@ Joh n Wiley & So ns ltd. Reproduzido
median te per missão .

excedendo os 10.000 mm (ver Figura 5.16). As D ALTAS LATITU·DES


áreas a sotavento ao leste têm quan ti dades mui-
1 Os ventos de oeste meridionais
to menores, com menos de 500 mm em algumas
partes . A Ilha Norte tem uma máxima de pre cipi- O forte fluxo zonal no cinturão dos ventos de
tação no inverno, mas a Ilha Sul, sob a influência oeste merid iona is, visível somente em mapas de
de depressões nos ven tos de oeste mais ao sul, médias mensais , é associado a uma grande zona
tem uma máxima sazonal mais variável. frontal caracterizada pela passagem contínua de
31 O Atm osfera, Tempo e Clima

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Flgu ra 10.34 Sit uação sinót ico à 00 :00 hora d e 1º de setem b ro de 1982, result ando em fortes ch uvas nos
A lpes me ri d io na is d a Nova Zelând ia.
Fo nt e : He ss e ll; in Wratl ef oi. (1996 ). Bul/el in o f fhe Am eri con Me te or olo g ico l Soc ie ty, com pe rmissã o d e Ame rico n Me teo ro lo -
gico l So cie ty.

depressões e cristas de alta pressão . Ao longo do Ou tras formam -se nos ven tos de oes te em lo -
Oceano Austral, esse cinturão se estende para cais específicos, como o sul do Cabo Horn , e
sul a partir de aproximadamente 30ºS em julho perto de 45ºS no Oceano Índico no verão, e no
e 40ºS em janeiro (ver Figuras 9.18 e 10.35B) Atlântico Sul em frente à costa sul-americana e
para o Cavado Antártico , que oscila entre 60º ao redor de SOºSno Oceano índico no inverno.
e 72ºS. O Cavado Antártico é uma região de es- A Frente Polar (ver Figura 9.20) está assoc iada
tagnação e decaimento de ciclones, que tende a ao gradiente de temperatura da superfície do
se localizar mais ao sul nos equinócios. Perto da mar ao longo da convergência antártica, ao pas -
Nova Zelândia, o fluxo de oeste, a wna altitude so que os limi tes do gelo marinho mais ao sul
de 3-15 km no cinturão de 20-SOºS,persiste ao são rodeados por água superficial igualmen te
longo do ano . Ele se torna uma corrente de jato fria (Figura l0 .35B).
a 150 mb (13,5 km ), sobre 25 -30ºS, com uma No Atlân tico Sul, as depressões se movem
1
velocidade de 60 m s- (216 km / h) em maio - a aproximadamen te 1300 km / dia perto da bor-
-agos to, diminuindo para 26 m s- 1 (93 km / h ) da norte do cinturão , reduzindo para 450-8 50
em fevereiro . No Pacífico , a intensidade dos km/ dia dentro de 5-1Oº de latitude da depressão
ventos de oeste depende da diferença merid io- Antártic a . No Oceano Índico , as velocidades no
nal na pressão entre 40 e 60ºS, sendo , em média , sentido leste variam de 1000 a 1300 km / dia no
maio r durante o ano todo ao sul da Aus trál ia cinturão de 40-60ºS, alcança n do uma máxima
ocidental e a oeste do sul do Chile . em um núcleo a 45-SOºS. As depressões do Pa-
Muitas depressões se formam como ondas cífico tendem a se situar da mesma ma.n eira, e
nas frentes interan ticiclônicas, que se movem formar geralmente em um per íodo em torno
para sudeste no cinturão dos ventos de oeste. de uma semana. Como no Hem isfério Norte, o
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 311

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Máxima · · · ... · · ... Conve rgência antártica

D Média sazonal da cobertura de gelo marinho


Mínima

Figura 10.35 (A): correntes superficiais do A' rtice: giro do mar de Bering (G B) e a corrente de Deriva Trons-
polar (C DT) . A órea em azul demarco os limites mínim os de outono e móximo de primavera da extensõo médio
do ge lo marinho poro o período 1973-1990. Foram obse rvadas mínimas recordes nos resumos de 2005, 2007
e 2008. (B): circulação da supe rfície do Ocea no Aus tr al, zonas de convergência e limit es sazona is do gelo ma -
rinho em março e setembro .
Fonte : A : Mo ythum (1993 ) e Borry { 1983) . B: Borry (1986) . Copyright @ Plenum Publishin g Corp ., New York. Publicado com
permi ssão.

alto índice zonal resulta de um forte grad iente três centros de depressão margeiam a costa su-
de pressão meridional e é associado a distúr- doeste. Quando uma depressão profunda avan-
bios ondulatórios propagados no sentido leste ça para o sul da Nova Zelând ia, a passagem da
em altas velocidades, com ventos irregulares e frente fria cobre as ilhas inicialmente com um
muitas vezes violen tos e frentes com or ientação fluxo de ar quente e úmido de oeste ou norte ,
zonal . Baixos índices zonais resultam em cris- e depois com ar mais fresco de sul. Uma série
tas de alta pressão que se estendem mais ao sul dessas depressões pode ocorrer em intervalos
e centros de baixa pressão localizados mais ao de 12-36 horas, sendo cada frente fria seguida
norte . Todavia, a quebra do fluxo, que leva a um por ar progressivamente mais frio . Mais a leste,
bloqueio, é menos comum e menos persistente sobre o Pacífico Sul, a franja norte dos ventos
no Hemisfério Sul do que no Hemisfério Norte . de sul é influenciada pelos ventos de noroeste,
Os ventos de oeste meridionais estão liga- desviando para oeste ou sudoeste à medida que
dos ao cinturão de anticiclones e cavados mó- as depressões se movem para o sul. Esse padrão
veis por frentes frias, que conectam os cavados do tempo será inter rompido por períodos de
interanticiclônicos dos últimos às depressões ventos de leste se os sistemas de dep ressão se-
ondulató rias dos prime ir os. Embora as trilhas
guirem ao longo de latitudes mais baixas do que
de tempestades dos ventos de oeste geralmente
o normal .
se encont rem bastante ao sul da Austrália (Figu-
ra 10.33), as frentes podem se estender ao norte
2 O Subártico
continente adentro, particularmente a partir de
maio, quando ocorre a primeira chuva no sudo- As diferenças longitudinais nos climas de la-
este. Em média, na metade do inverno (julho), titudes mé dias persistem nas margens polares
312 Atmos fera, Tempo e Clima

setentrionais, gerando subtipos marítimos e proporcionam três meses com tempe raturas
continentais, modificados pelas condições ra - médias acima de lOºC e, em muitas estações,
diativas extremas no inverno e no verão . Por as máximas extremas alcançam 32ºC ou mais
exemplo, as quantidades recebidas de radiação (ver Figura 10.17). Os Barren Grounds de Ke-
no verão ao longo da costa ártica da Sibéria se ewatin , porém , são muito mais frios no verão,
comparam favoravelmente, em virtude do dia devido às amplas áreas de lagos e turfa; somen-
mais longo , com as de latitudes médias infe- te julho tem uma temperatura diária média de

r1ores. lOºC . Labrador -Ungava, ao leste, entre 52º e
O tipo marítimo é encontrado na zona cos- 62ºN, é semelhante, com quantidades elevadas
teira do Alasca, na Islândia, no norte da Norue - de nuvens e precipitação máxima de junho a
ga e em partes adjacentes da Rússia . Os inver- setembro (Figura 10.36). No inverno, as con-
nos são frios e tempestuosos, com dias muito dições oscilam entre pe ríodo s de tempo muito
curtos . Os verões são nublados, mas amenos, frio, seco e de alta pressão e per íodos de tem-
com temperaturas médias de aproximadamente po sombrio, gélido e com neve, à medida que
lOºC. Por exemplo, Vardo, no norte da Noruega as depressões avançam para leste ou, ocasio-
(70ºN 31 ºE), tem temperaturas mensais médias
de -6ºC em janeiro e 9ºC em julho , ao passo ºC
que Anchorage, no Alasca (61 ºN lSOºW), regis- 15
tra -1 1ºC e 14 ºC, respectivamente . A precipita- Máxima
10 diária média
ção anual geralmente fica entre 600 e 1250 mm,
com uma máxima na estação fresca e em to rno 5
de seis meses de cobertura de neve .
O tempo é controlado principalmente por o
depressões , que são fracas no verão . No inver -
-5
no, a área do Alasca fica a norte das principais
Mínima
trilhas de depressões , sendo proeminentes as -10 d iária média
frentes ocluídas e os cavados em níveis supe-
riores, ao passo que o norte da Noruega é afe- -15
ta.do por depressões frontais que avançam para
-30
o Mar de Barents . A Islândia é semelhante ao
Alasca, embora as depressões costumem passar -40
lentamente sobre a área e ocluir, ao passo que
outras que avançam para nordeste ao longo do J F M A M J J A S O N O
mm
Estreito da Dinamarca trazem tempo ameno e
chuvoso .
100 -
Os climas frios do interior continental
têm inverno s muito mais severos, embora as
quantidades de precipitação sejam menores. 50
Em Yellowknife (62ºN 114ºW), por exemplo,
a temperatura média de janeiro é de apenas
-28ºC . Nessas regiões1 o permafrost (solo per -
o J F M A M J J A S O N O
manentemente congelado) é comum e, muitas
vezes, tem grande profundidade . No verão,
Figura 10.36 Dados climatológ icos selecionados
apenas os 1-2 m superiores do solo degelam e,
poro o McGil l Sub-Artic Research Laboro tory, Sche-
como a água não consegue escoar rapidamente, fferville, PQ, 1955-1962 . As porções sombreados do
essa "camada ativa" costuma permanecer satu- precipitação representam neve, expresso como equ i-
rada. Embora possa haver gelo durante qual- valen tes de óguo.
quer mês, os longos dias de verão geralmente Fonte : Dados de J. B. Shaw e D. G . Tout.
CAPÍTULO 1O O tempo e o clima em latitudes médias e altas 313

nalmente, para norte sobre a área. Apesar das 3 As regiões polares


temperaturas médias mui to baixas no inverno,
A alternância semianual ent re a noite polar e o
existem ocasiões em que as máximas exce -
dia polar e a prevalência de superfícies de neve
dem os 4ºC duran te incursões de ar mar ítimo
e gelo são comuns às duas regiões polares . Es-
Atlântico. Essa variabilidade não é encontrada ses fatores controlam os regimes do balanço
na Sibéria oriental, que é intensamente con t i-
energé tico na superfíc ie e as baixas temperatu-
nental , exceto pela Península de Kamchatka, ras anuais (ver Capítulo 3B). As regiões polares
com o polo frio do Hemisfério Norte locali- também são sumidouros de energia para a cir-
zado no nordeste remoto (ver Figura 3.1 l A). culação atmosférica global (ver Capítu lo 7C.l )
Verkhoyansk e Oimyakon têm uma média de e, em ambos os casos, têm sobre elas grandes
- SOºC em janeiro, e ambas registraram uma vórtices de circulação situados na média tro -
mínima absoluta de -67,7ºC. As estações loca- posfera e mais acima (ver Figur as 7.3 e 7.4). Em
lizadas nos vales do norte da Sibéria registram, outros sentidos, as duas regiões polares diferem
em média, congelamento de forte a extremo em notavelmente em decorrência de fatores geográ -
50% do tempo durante seis meses do ano, mas ficos . A região polar norte compreende o Oce-
verões bastan te quentes (Figura 10.37). ano Ártico, com sua cobertura de gelo marinho

Turukhansk Okhotsk

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D a uente e seco
D úm ido e quente ou ensolarado
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Krasnoyarsk

Figura 10.37 Meses de móxima prec ipitação, regimes anuais d e precip itação médi a mensal e reg imes anuais
de f requências médias mensa is dos cinco tipos climó ti cos principais na antiga União Sovié tica.
fonte: Reimpresso de P. E. lydo lph {1977), co m permissão de Elsevier Science NL, Soro Burge rho rtstr oot 25 , 1055 KVAmster •
dom , the Net he rlo nds.
314 Atm osfera, Tempo e Clima

durante quase todo o ano (ver Prancha 13.4), rente de Deriva Transpolar e sai do Ártico pelo
rodeando áreas de trmdra, o manto de gelo da Estreito de Fram e pela Corrente Leste da Gro -
Groenlândia e numerosas calotas de gelo meno - enlândia (ver Figura 10.35A). Essa exportação
res no Canadá Ártico, em Svalbard e nas Ilhas equilibra a formação termodinâmica anual de
Árticas Siberianas. Em contrapartida , a região gelo na Bacia Ártica. No fmal do verão, os ma-
polar sul é ocupada pelo continente antártico, res da plataforma euroasiática e a seção costeira
com um platô de gelo de 3 a 4 km de altitude, do Mar de Beaufort se encontram praticamente
plataformas de gelo nas enseadas do Mar de livres de gelo.
Ross e do Mar de Weddell, e rodeada por um No verão, o Oceano Ártico tem condições
oceano sazonalmente coberto de gelo marinho. principalmente encobertas, com nuvens stra -
Desse modo, o Ártico e a Antártica são tratados tus baixas e nevoeiro. O derretimento da neve e
separadamente. grandes poças de água de derretimento acumu -
,
ladas sobre o gelo mantêm as temperaturas do
OArtico ar ao redor do ponto de congelamento . Sistemas
de baixa pressão tendem a predominar, entran -
A 7SºN , o Sol fica abaixo do horizonte por do na bacia a partir do Atlântico Norte ou da
aproximadamente 90 dias, desde o começo de Eurásia. A precipitação pode cair na forma de
novembro ao começo de fevereiro. As tempera - chuva ou neve, com os maiores totais mensais
turas do ar no inverno sobre o Oceano Ártico observa .dos do final do verão ao começo do ou-
apresentam uma média em torno de -32 º C, tono. Todavia, a média anual da precipitação
mas costumam ser 10-12ºC mais altas a 1000 líquida menos a evaporação sobre o Ártico, ba-
m acima da superfície, como resultado da forte seada em cálculos do transporte atmosférico de
inversão térmica radiativa. A estação de inverno umidade , é de apenas 180 mm.
geralmente é tempestuosa no setor euroasiático, Nas áreas continentais do Ártico , existe
onde sistemas de baixa pressão entram na ba - uma cobertura de neve estável de meados de
cia Ártica a partir do Atlântico Norte, ao pas- setembro ao começo de junho, quando o der-
so que condições anticiclónicas predominam retimento ocorre em 10-15 dias . Como resu l-
ao norte do Alasca, sobre os mares de Beau - tado da grande redução no albedo superficial,
fort e Chukchi. Na primavera, prevalece a alta o balanço de energia na superfície sofre uma
pressão, centrada sobre o Arquipélago Ártico mudança drástica, passando a valores positivos
Canadense -Mar de Beaufort . grandes (Figura 10.38). A tundra geralmen te
A espessura média de 2 a 4 m do gelo mari - é úmida e lamacenta , como resultado do len-
nho no Oceano Ártico permite pouca perda de çol de permafrost a apenas 0,5-1,0 m abaixo da
calor para a atmosfera e basicamente separa os superfície , que bloqueia a drenagem. Assim , o
sistemas do oceano e da atmosfera durante o in- saldo de radiação é gasto principalmen te para
verno e a primavera . O acúmulo de neve sobre o a evapotranspiração. O solo permanentemente
gelo no inverno tem uma média de 0,25-0,30 m congelado tem mais de 500 m de espessura em
de profundidade . Somente quando o gelo fratu - certas partes do Ártico norte -americano e da Si-
ra, formando um canal, ou onde ventos persis - béria, e se estende sob áreas da plataforma cos-
tentes em direção ao mar e/ ou uma ressurgên - teira Ártica adjacente . Grande parte das Ilhas
cia de água oceânica mais quente formam áreas Queen Elizabeth, dos Territórios do Norte do
de águas abertas e gelo marinho (chamadas de Canadá e das Ilhas Árticas Siberianas é formada
polínias), o efeito isolante do gelo marinho é pelo frio e seco deserto polar, com superfícies
rompido . O gelo no Ártico ocidental circula no de cascalho ou rocha, ou campos de gelo e ge-
sentido horário , em um giro impulsionado pelo leiras. Todavia, 10-20 km continente adentro no
campo de pressão anticic lónico médio . O gelo verão, o aquecimento diurno dispersa as nuvens
da margem norte desse giro, e o gelo do setor estratiformes, e as temperaturas à tarde podem
euroasiático , avança pelo Polo Norte na Cor - subir a 15-20ºC.
CAPÍTULO 10 O tempo e o clima em latitudes médias e altas 315

les Secos de Victoria Land (77º S 160ºE), mai s


de 97% da An tártica são coberto s por um vasto
manto de gelo continental. O platô polar tem
250
uma elevação média de 1800 m na An tártica
200 1.
Fontes de calor
Ocidental e 2600 m na Antártica Oriental , onde
li"° 150 ' .
E
se ergue acima de 4000 m (82º S 75ºE). Em se-
:;. tembro, gelo marinho, com uma média de 0,5-
~ 100 ' .
.2
5 1,0 m de espessura , cobre 20 milhões de km 2
,8 50 .
a 0 Ca!oi sensív el do Oceano Austral , ma s 80% derretem a cada
doa r
ª
li º
l~ n
IUU
~

-
verao.
,8
'
1 Calolsensívél
.. -50
. par'a aqu808r no.v8/so lo Sobre o manto de gelo, as tempera turas
J!! 0 Ca10<sensívC!I
i
R- 100 par a aqu808r ar quase sempre ficam bem abaixo do ponto de
DCa!ol latente de
E
8 - 150 '
dooettmentole
vaporaçao congelamento. O Polo Sul (2800 m de eleva-
SumidOLSOSdê ca loc- ção) tem uma temperatura méd ia de verão de
- 200
- 28ºC e uma temperatura de inverno de - 58ºC.
- 250
28'
- ..-,- . . .
1
~

5
..
10
.. . .15 • •
18 Vostok (3500 m ) registrou -89 º C em julho de
~Aa.o Junho
1983, um recorde mundial par a a temperatura
Figura 10.38 Efeito da cobe rtu ra de neve da tu ndra mínima . As temperaturas mensais médias estão
sobre o balanço de energia da superf ície em Borrow, sempre perto de seu valor de inverno nos seis
A !lasca, dura nte o derre timento na primavera. O gr6- meses entre os equinóc ios, criando o chamado
fico infer ior mos tra os termos de ene rgia e o so ldo de padrão de ''inverno sem núcleo frio"* de va -
radiação diório.
riação da temperatura anual (Figura 10.39). A
Fonte: We l ler e Ho lmgren (1974 ). Co m permissão de Ameri -
con Meteorologicol Society .
transferênc ia de energia atmosférica em direção
ao polo compensa a perda radiativa de energia .
Entre ta nto, existem mudanças consideráveis
O manto de gelo da Groenlân dia, com 3 km
de espessura e cobrindo uma área de 1,7 milhão na temperatura diária , associadas ao aumento
de km 2, contém água suficiente para elevar o ní- na radiação incidente de ondas longas pela co -
vel global do mar em mais de 7 m se derretesse bertura de nuvens , ou à mistura de ar quente de
totalmente. Todavia , não existe derretimento cima da inversão até a superfície causada pelos
acima da altitude da linha de equilíbr io ( onde ventos . Sobre o platô, a intensidade da inversão
o acúmulo se equilibra com a ablação ), que fica é de aproximadamente 20-25º C. É quase im -
a 2000 m (1000 m ) de elevação ao sul (norte ) possível mensurar a precipitação, pois a neve é
da Groenlândia . A camada de gelo cria o seu soprada e deriva com o vento. Estudos realiza-
próprio clima . Ela desvia ciclones que chegam do s em trincheiras de neve indicam um acúmu -
da Terra Nova ou para o norte, para a baía . de lo anual var iando de menos de 50 mm (acima
Baffm, ou para o nordeste , rumo à Islândia . Es- do platô, a mais de 3000 m de elevação) até SOO
sas tempes tades trazem uma grande quantidade a 800 mm em certas áreas costeir as do mar de
de neve ao sul e à encosta ociden tal do ma nto Bellingshausen e partes da Antártica Orien tal.
de gelo. Uma inversão baix a e pe rsistente ocorre Os ciclone s extratrop icais nos ventos de
sobre o ma.nto de gelo, com ventos catabá ticos oeste meridionai s têm a tendê nc ia de girar no
descenden tes a uma velocidade média de 10 m sentido horár io em direção à An tártica , espe-
s- 1(36 km / h ), exceto qua n do sistemas de tem - cialmente do sul da Austrália ao Mar de Ross,
pes tade cruzam a área. do Pacífico Sul ao Mar de Weddell e do Atlân -

AAntórtica ,. N. de R.T.: Inverno sem núcleo frio refere-se a uma ca-


racte rística exclusiva do inverno polar antártico (interi or do
Com exceção dos picos nas Montanhas Tran- Platô pola r) que não apresent a um mês m ais frio, e sim um
santárticas e na Península Antárt ica e dos Va- período de aproximad amente 5 meses muito frios.
316 Atmosfera, Tempo e Clima

(A) (B)
Q-,------------------,

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10

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4
Platô polar
~ sem núcleo frio i"O
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-60 -Ql
>
o
Jan Abr Jul Out Dez Jan Abr Jul Out Dez
Mês Mês

Figura 10.39 Curso a nua l da (A) tempera tura mensal média do ar (ºC) e (B) velocidade do ven to (m s- 1) paro
1980-1989 no Domo C (3280 m), 74,SºS 123,0ºE (Platô po lar) e D- 1O, uma estação meteoro lóg ica outomótica
o 240 m, 66,7°S 139,8ºE (costa).
Fonte : Steorns et oi. (1993 ). Ame ricon Geop hysical Union .

90-E
tico Sul Ocidental à Ilha de Kerguelen e à An-
tártica Oriental (Figura 10.40) . Sobre o Oceano ....
- --
___
___,,,.. -~
Aust ral adjacente, a nebulosidade excede os
80% durante todo o ano a 60-65ºS (ver Figuras
3.8, 5.11 e 5.12) devido aos ciclones frequentes,
mas a área costeira da Antártica apresenta varia-
bilidade mais sinótica, associada à alternância
entre baixas e altas. Sobre o interior, a cobertura • 60"

de nuvens geralmente é de menos de 40-50%, e


a metade desse total ocorre no inverno.
A circulação do ar em direção ao polo no
vórtice polar troposférico (ver Figuras 7.3 e 7.4)
faz o ar descer sobre o Platô Antártico e causa
um fluxo no sentido exter no sobre a superfície
do manto de gelo. Os ventos representam um
equilíb rio entre a aceleração gravitacional, a
força de Coriolis (que atua para a esquerda), o 90"\'I

atrito e a intensidade da inversão . Nas encostas ~ ~-:::::=Frente polar ~ Trajetórias de ciclones


do manto de gelo, existem fluxos catabáticos , ...,_ .... Frente antárt ica

mais fortes encosta abaixo, sendo observadas
velocidades extremas em certas localidades cos- Figura 10.40 Trilhas de ciclones no Hem lisfério Sul,
afetando o Antó rtica e grandes zonas fronta is no in-
teiras. O Cabo Denison (67ºS 143ºE), em Adelie
verno . 1. Frente Polar; 2 . Frente Antórtic a; 3 . Trajetó -
Land, registrou velocidades diárias médias do rias de ciclones.
vento de >18 m s- 1(64 km/h) em mais de 60% Fonte: Corleto n (1987 ). Copy right © Chapman & Hall, New
dos dias em 1912-1913. York.
CAPÍTU LO 1O O tempo e o clima em lat itudes méd ias e altas 317

As mudanças sazonais na baixa da lslandia e na alta dos Açores, junto com as var iações na atividade
ciclónica, controlam o clima da Europa Ocidental. A penetração no sentido leste de influênc ias mar íti-
mas relacionadas com esses processos atmosféricos, e com as óguas quen tes da Corrente do Atlantico
Norte, é ilustrada por invernos moderados, pe la sazonalidade dos regimes de precip itação e pelos
índices de cont inentalidade. Os efeitos topogróficos sobre a precipitação, a neve, a duração das esta-
ções de crescimento e os ventos locais são part icularmente acentuados sobre as Montanhas da Escan-
din6v ia, as Highlands escocesas e os Alpes. Os tipos de tempo nas Ilhas Britânicas podem ser descri tos
em termos de sete padrões bósicos de ventos , cuja frequência e aspecto var iam consideravelmente
com a estação. Períodos meteorológicos recorren tes ao redor de uma data específica (singularidades),
como a tendênc ia de tempo anticiclônico na metade de setembro, foram reconhecidos nas Ilhas Britâ-
nicas e na Europa, e as grandes tendênc ias sazonais na ocorrênc ia de regimes de fluxos de ar podem
ser usadas para defin ir cinco ciclos sazona is. As condições meteorológicas anormais (anomalias sinó -
ticas) são assoc iadas a bloqueios anticiclônicos, especialmente prevalentes sobre a Escandinóvia e que
podem levar a invernos fr ios e secos e verões quentes e secos.
O clima da Amé ri ca do Norte também é afetado po r sistemas de p ressão que geram massas de
ar de frequência sazonal var iada. No inverno, a célula subtropical de alta pressão se estende ao norte
sobre a Greot Basin, com ar cP onticiclôn ico ao nor te sobre a Baía de Hudson. Grandes cinturões de de -
pressões ocorrem o aproximadamente 45 -SOºN , do reg ião centra l dos Estados Un idos ao St. Lawrence,
e ao longo da costa leste até Terra Nova. A Frente Artico' ocorre sobre o noroeste do Conadó; o Frente
Polar est6 localizada ao longo da costa nordeste dos Estados Unidos e, entre os duas, pode ocorrer
uma frente marítima (6rtica) sobre o Conad6. No verão, as zonas frontais se movem para norte , com
a Frente Ártica disposto ao longo da costa norte do Alasca, sendo a Baía de Hudson e o St. Lawrence
os p rincipais loca is de tr ilhas de depressões. Três importantes singula ridades norte-amer icanas são o
advento da pr imavero no começo de março, o deslocamento da célula subtrop ical de alta pressão para
norte na metade do verão, e o indian summer de setembro a outubro. No oeste da América do Norte,
as Cadeias Costeiras inibem o mov imento da prec ipitação para leste, que pode var iar muito em ambito
local (p. ex., Colúmb ia Britôn ica), espec ialmen te no que diz respe ito à queda de neve. O inter ior e o les-
te do continente , com um componente fortemente continental, sofrem efeitos moderadores da Bafa de
Hudson e dos Grandes Lagos no começo do inverno, com cinturões de neve com grande importõnc ia
local. O clima da costa leste é dom inado por influênc ias da pressão continen tal. Períodos frios sóo pro-
duz idos no inverno pela invasão de ar cA/ cP de altas lat itudes na esteiro de frentes frios . O fluxo de ar
de oeste gera os ventos chinook a sotavento das Montanhas Rochosos. As pr incipa is fontes de umidade
do Go lfo do México e do Pacffico Norte produzem regiões de d iferentes regimes sazonais: a móx imo de
inverno da costa oeste é separada do interior por uma região trans icional intermontan hosa, com uma
m6x ima sazona l ge ralmente quente; o no rdeste tem uma d istribu ição sazona l relat ivamente equ ilibra -
da . Os grad ientes de um idade, que influenciam a vegetação e os tipos de solo , são predominan temente
de leste-oeste na reg ião central da Amér ica do Norte , em contraste com o padrão isotérm ico norte-su l.
O sudoeste sem i6r ido dos Estados Unidos sofre a complexa influênc ia das células de o ito pressão
do Pacífico e das Bermudas, apresentando va riações ext remas na pluviosidade , com m6ximas de
inverno e verão devidas principa lmen te à depressão e às tempestades locais , respectivamente. O in-
terior e a costa leste dos Estados Un idos são dominados por ventos de oeste no inverno e fluxos de ar
tempestuosos de sul no verão. Os f uracões são um elemento importante do clima de verão-outono na
Costa do Golfo e no sudeste dos Estados Unidos.
A margem subtropical da Europa consiste na região mediter ranea, local izada entre os cint urões
dom inados pelos ventos de oeste e pelas células de alta p ressão do Saara-Açores . O colapso da célula
de alta pressão dos Aço res em outubro pe rm ite que as depressões se movam e se formem sob re o
Mar Med iterraneo rela t ivamente quen te, gerando ventos orogróficos pronunc iados (p . ex., o m istra l}
e invernos tempestuosos e chuvosos . A primavera é uma estação imprev isível, ma rcada pe lo enfra-
quec imento da célula euroasiótica de oito pressão para o norte e pela intensi f icação do antic iclone
do Saara-Açores . No verão , este ge ra condições secas e quentes , com fortes corren tes de ar locais de
sul (p. ex., o scirocco). A móx ima simples de pluviosidade do inverno é mais caracter ística da região
318 Atmos fera, Tempo e Clima

mediterranea leste e sul,


, ao passo que, no norte e oeste, as chuvas de outono e primavera se tornam
mais importantes. A Africa do Norte é dominada por condições de alta pressão . Pode haver chuvas
infrequentes ao norte com sistemas extratropicais e ao sul com depressões saarianas.
, O clima australiano é determinado principalmente por células anticiclónicas móveis do Oceano
Indico meridional, intercaladas com cavados de baixa pressão e frentes . Nos meses de inverno, esses
cavados frontais trazem chuva para o sudeste. Na Nova Zelândia, os controles climáticos são seme-
lhantes aos observados no sul da Austrália, mas o Ilha Sul é bastante influenciado por depressões nos
ventos de oeste meridionais. As quantidades de pluviosidade variam bastante com o relevo.
Os ventos de oeste meridionais (30-40° a 60-70 °S} predominam no clima do Oceano Austra l. O
forte fluxo zonal médio oculta uma grande variabilidade sin6tica diária e passagens frontais frequen-
tes. Os sistemas de baixa pressão persistentes na depressão antártica produzem a mais alta média
zonal de nebulosidade do planeta ao longo do ano .
As margens árticas apresentam seis a nove meses de cobertura de neve e amplas óreas de solo
permanentemente congelado (permafrost) nos interiores continentais, ao passo que as regiões marfti-
mas da Europa setentrional e do norte do Canadá-Alasca têm invernos frios e tempestuosos e verões
nublados e mais amenos, influenciados pela passagem de depressões. O nordeste da Sibéria tem um
clima continental
, extremo.
O Artico e a Antártica diferem notavelmente, graças aos tipos de superfície encontrados - um
'
Oceano Artico perenemente coberto por gelo marinho e rodeado por áreas de terra, e um elevado
platô
, de gelo antártico rodeado pelo Oceano Austral e por gelo marinho sazonal pouco espesso.
, O
Artico é afetado por ciclones de média latitude do Atlântico Norte e, no verão, do norte da Asia. Uma
inversão superficial predomina nas condições
, árticas no inverno e durante todo o ano na Antártica. No
verão, nuvens estratfformes cobrem o Artico e as temperaturas ficam em torno de OºC. Temperaturas
abaixo do ponto de congelamento persistem o ano inteiro no continente antártico, e ventos catabóticos
dominam o clima superficial. As quantidades de precipitação são baixas, exceto em algumas óreas
costeiras, em ambas as regiões polares .

• Compare as condições climát icas em locais marítimos e continentais dos princ ipais continentes e em
sua própria região do mundo, usando dados de estações disponíveis em trabalhos de referênc ia ou
na Internet.
• Considere como as grandes barreiras topográficas nas Amér icas, na Europa Oc identa l, na Nova
Zelândia e em outros locais modificam os padrões de temperatura e prec ipitação nessas regiões.
• Analise a distribuição sazonal da precipitação em diferentes partes da Bacia Mediterrânea e consi-
dere as razões para re[eitar a visão clóssica do regime de inverno úmido/verão seco.
• Analise o extensão espacial de climas do "t ipo mediterrâneo" em out ros continentes e as razões para
essas condições.
• Compare as características e os controles clim6ticos das duas regiões polares.
• Quais são as cousas prim6rias dos pr incipais desertos do mundo?
CAPÍTULO 1O O tempo e o clima em latitudes médias e altas 319

REFERÊNCIASE SUGESTÃODE Hemisphere perspective, including chopters on lhe climo-


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e tem o e o
• •
e 1ma tro 1ca

OBJETIVOSDE APRENDIZAGEM
Depois de ler este capftulo, você:

• entender6 os características e a significdncia da zona de convergência intertropical;


• estará familiarizado com os principais sistemas meteorológicos que ocorrem em baixas latitudes e
sua distribuição;
• conhecerá alguns dos efeitos diurnos e locais que influenciam o clima tropical;
• saberá onde e como os ciclones tropicais tendem a ocorrer; e
• entenderá as características e os mecanismos básicos dos fenômenos EI Nino e La Nina.

Os climas tropicais são de especial interesse no outono, os furacões tropicais podem afetar
geográfico, pois 50% da superfície do planeta áreas "extratropicais', da Ásia Oriental e do leste
se encontram entre as latitudes de 30ºN e 30ºS, da América do Norte. Não apenas as margens
e mais de 75% da população do mundo habi- tropicais se estendem sazonalmente em direção
tam terras com climas tropicais. Este capítulo aos polos, como, na zona entre as principais cé-
descreve os sistemas dos ventos Alísios, a zona lulas subtropicais de alta pressão, existe uma in-
de convergência intertropical e os sistemas me- teração frequente entre fenômenos temperados
teorológicos tropicais. Os principais regimes de e tropicais. Em certos locais e em outras oca-
monções são analisados, assim como o clima da siões, são observadas tempestades tropicais e de
Amazônia. Discutimos os efeitos das fases al- latitudes médias distintas. No entanto, de modo
ternadas do El Nino-Oscilação Sul no Oceano geral, a atmosfera tropical está longe de ser uma
Pacífico equatorial, bem como outras causas de entidade discreta, e quaisquer limites meteo-
variação climática nos trópicos. Finalmente, as rológicos ou climato lógicos serão arbitrários .
dificuldades para prever o clima tropical são su- Existem, porém, vários aspectos característicos
cintamente consideradas. do tempo tropical, discutidos a seguir.
Os limites latitudinais dos climas tropicais Diversos fatores básicos ajudam a mol-
variam com a longitude e a estação, e as con- dar os processos meteorológicos tropicais .
dições meteorológicas tropicais podem ir muito Em primeiro lugar, o parâmetro de Coriolis se
além dos Trópicos de Câncer e Capricórnio. Por aproxima de zero no equador, de modo que os
exemplo, as monções de verão se estendem até ventos podem se afastar consideravelmente do
30ºN na Ásia Meridional, mas apenas a 20ºN na equilíbrio geostrófico . Os gradientes de pressão
África Ocidental, enquanto, no final do verão e tam bém costumam ser fracos, exceto para siste-
CAPÍTULO11 O tempo e o clima tropical 323

mas de tempestades tropicais . Por essas razões, alísios de nordeste e sudeste era identificada
os mapas meteorológicos tropicais geralmente como a Frente Intertropical (FI). Sobre áreas
representam linhas de correntes, e não isóbaras continentais, como a África Ocidental e a Ásia
ou alturas geopotenciais. Além disso, os gra- Meridional, onde, no verão, o ar tropical con-
dientes de temperatura são caracteristicamente tinental quente e seco encontra o ar equatorial
fracos. As variações espaciais e temporais no mais fresco e úmido, esse termo tem aplicabi-
teor de umidade são características diagnósticas lidade limitada (Figura 11.1). Podem ocorrer
muito mais significativas para o clima . Em ter- gradientes súbitos de temperatura e umidade ,
ceiro lugar , os regimes das brisas de terra/mar mas a frente raramente é um mecanismo gera-
desempenham um papel importante nos climas dor de tempo meteorológico das latitudes mé -
costeiros, em parte como resultado da duração dias. Em outros locais em latitudes baixas, são
quase constante do dia e do forte aquecimento raras as fren tes verdadeiras (de contraste de -
solar . Também ocorrem oscilações semid.iumas marcado na densidade).
na pressão, de 2-3 mb, com mínimas ao redor O reconhecimento da importância da con -
das 4:00 e 16:00 e máximas em torno das 10:00 vergência de campos de vento na produção do
e 22:00 horas . Em quarto lugar, o regime anual tempo tropical, nas décadas de 1940-1950, le-
de radiação solar incidente, com o Sol a pino no vou à designação da convergência dos ventos
equador em março e setembro e sobre os Trópi- Alísios como a Zona de Convergência Intertro-
cos nos respectivos solstíc ios de verão, se reflete pical (ZCIT). Essa feição é visível em um mapa
nas variações sazonais da pluviosidade em cer- das linhas de correntes médias, mas as áreas de
tas estações . Todavia~ fatores dinâmicos afetam convergência crescem e decaem, ou in situ ou
enormemente essa explicação convencional . den t ro de feições que avançam para oeste (ver
Prancha 11.1), ao longo de períodos de alguns
dias . Além disso, a convergência é infrequente,
A CONVERGÊNCIA
mesmo como uma feição climática nas zonas
INTERTROPICAL
de calmar ias (ver Figura 7.13) . Dados obt idos
A tendência de os sistemas dos ventos Alísios com satélites mostram que, sobre os oceanos, a
dos dois hemisférios convergirem no Cavado posição e a intens idade da ZCIT variam muito
Equatorial (baixa pressão) já foi discutida (ver a cada dia.
Capítulo 6B). As visões sobre a natureza exa - A ZCIT é uma feição predominantemente
ta dessa característica estão sujeitas a revisões oceânica que tende a se localizar sobre as águas
constantes . Da década de 1920 à de 1940, os superfic iais mais quen tes. Assim, pequenas di-
conceitos sobre sistemas frontais desenvolvidos ferenças na temperatura da superfície do mar
nas latitudes médias eram aplicados aos trópi- podem causar mudanças consideráveis na lo-
cos, e a confluência de linhas de correntes dos calização da ZCIT . Uma tempera tura superfi-

18CrW 90- o• 90º 180ºE


3Q•N,-----,,----.....--

15º
'o
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eóbft

f[gura 11 .1 Posição do Ca vad o Equatorial (Zon a de Convergência lnter1ropical ou Fren te Intertropical em


a lguns se1ores) em feve reiro e agosto. A fa ixa de nuv ens no Pac ífico sudoeste em fe vere iro é conhecida como
' io Me ridio na l e o A' fric a Ociden ta l, usa-se o te rmo Depressão
Zo na de Conve rgên cia do Pacíf ico Sul; sobre o As
Monç ônic o .
Fontes: Saho (1973), Rieh1(195-4)e Yoshíno (1969).
324 Atm osfera, Tempo e Clima

Prancha 11.1 A ZC IT aparece co mo uma fa ixa de nuvens bra ncas no cen tro do imagem ; es ta é uma co mbina-
ção de da dos do GOES -11 do NOAA e de dados d e class ificações de tipos de cobert ur a da supe rfície .
Font e : GOES Project Scie nce O ff ice.

cial do mar de pe los menos 27 ,Sº C parece ser o vergên cia intertrop ic al ( CI ) coin cidisse com o
limiar para a atividade convectiva organizada; Cavado Equatorial , essa zona de nebulosidade
acima dessa temperatura, a convecção organ iza- diminuir ia a radia ção solar in ciden te, reduzin -
da é essencialmen te compe titiva entre diferen - do o aquecimento superficial necessário para
tes regiões disponíveis para fazer parte de uma manter o cavado de baixa pressão. De fato, isso
ZCIT con tínua. O cinturão de chuvas convecti - não ocorre . A ene rgia solar est á disponível para
vas da ZCIT tem limites latitudinais nitidamen - aquecer a superfície porque a convergênc ia dos
te definidos . Por exemplo, ao longo da costa da ventos superficiais , a ascensão e a cobe rtura de
África Ocidental, foram registradas as seguintes nuvens máximas costumam se localizar vários
médias anuais de pluviosidade: graus no sentido do equador em relação ao ca -
vado . No Atlântico (Figura 11.2B) , por exem -
12°N 1939mm
plo , o máximo de nebulosidade não coincide
15°N 542mm
com o Cavado Equatorial em agosto . A Figura
18ºN 123 mm
11.2 ilustra as diferenças regiona is no Cav ado
Em outras palavras , avançando para o sul Equatorial e na ZCIT . A convergênc ia dos do is
em direção à ZCIT, a precipitação aumenta em sistemas de ventos Alísios ocorre sobre o Atlân-
440 %, a uma distância meridional de apenas tico Norte cen tral em ago sto e o Pacífico N ort e
330 km. orien ta l em fevereiro . Em comparação, o Cava -
Como feições climá t icas, o Cav ado Equa- do Equatorial é defmido por ventos de leste no
t orial e a ZCIT são assimétr icos ao redor do lado do polo e por ventos de oeste no lado do
equador, situando-se, em média, ao norte . Eles equador sobre a África Ocidental em ago sto e
também se afastam sazonalmente do equador sobre a Nova Guiné em fevereiro .
(ver Figura 11.1) em assoc iação com o equador A dinâmica d as circulações oceano -
térmico (a zona de máxima temperatura sa - -at mosfera nas baixa s lat itudes t ambém est á
zonal ). A local ização do equador térmico está envolvida . A Zona de Convergên cia no P ací-
diretamente relacionada com o aquecimen to fico Equatorial central se move sazonalmen te
solar (ver Figuras 11.2 e 3.11), e existe uma re- entre cerca de 4ºN em março a abri l e 8ºN em
lação óbvia entre isso e o Cavado Equa torial em setembro , com uma única máxima pronun -
termos de baixas térmicas . Todavia, se a con - ciada de pluviosidade de março a abril. Isso
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 325

120ºE 180° 120"W


30ºNr-- ------------------,~~---,.......,..--r-,-- --,
(A)

Convergência
30°S ......,_...._ __ ......_
____________ __. _______ _._,
30ºN-------- · ---- - ·---· --------- · -· -- ........
-------------.
(8)

...... .........
.,........_
,,_
.,
-------:~ ~ ....

•.••...•••. Máxima nebulosidade


10•5 ,__ ______ .......,
_____________ ..____ __.____ ____.

60"W 40º 20º 20ºE

Figura 11.2 Ilustrações de (A) convergência de linhos de correntes formando uma Convergência Inter t ropical
(CI) e uma Zona de Convergência
, do Pacífico Sul (ZCI T) em fevereiro, e (B) padrões con tras tan tes da Depressão
Monçônico sobre o A fri ca Oc iden tal, convergência de ventos sobr e o At lâ ntico Norte central tropical, e eixo de
máxim a nebulosidade ao sul para agosto .
fonte : (A): C . S. Romoge , comunicação pessoal (1986). (BJ: Sodler {19750 ).

parece ser uma resposta às intensidades rela - Estudos realizados com o uso de aviões
tivas dos alísios de nordeste e sudeste . A razão mos tram a estr utura complexa da ZCI T no
da in tensidade dos Alísios do Pac ífico Sul/ Pacífico Central . Quando alísios moderada -
Pacífico Norte ultrapassa 2 em setembro , mas men te fortes geram convergência horizon tal
cai para 0,6 em abril . De maneir a in teressante, de umidade , formam -se faixas de nuvens con -
a razão varia de fase com a razão das áreas de vectivas , mas a ascensão convergente pode ser
gelo marinho na Antártica -Ártico; o gelo an - insuficien te para ca usar chuvas na ausên cia de
tártico atinge o máximo em setembro , quando uma divergência em níveis mais elevados. Além
o gelo ár tico está em seu mínimo . O eixo de disso , embora os alísios de sudeste cruzem o
convergência costuma se alinhar próximo à equador , os ventos médios mensai s resultantes
zona de máximas temperaturas da superfície entre 115º e 180ºW t êm, no decorrer do ano ,
marinha, mas não fica ancorado a ela . De fato, um componente mais meridional a norte do
a temperatura máxima da superf ície marinha , equador e um componente mais setentrional a
loca lizada dentro da Contracorrente Equato- sul, gerando uma zona de divergência ( devido à
rial (ver Figura 7.31) , é resultado das intera - mudança de sinal no parâmetro de Coriolis ) ao
ções entre os ventos Alísios e os movimentos longo do equador .
horizon t ais e verticais n a camada superficial N os setore s a sudoeste dos oceanos Pacífico
do oceano . e Atlântico , estudos sobre a nebulosidade com
326 Atmos fera, Tempo e Clima

o uso de satélites indicam a presença de duas Atlântico Sul começam a cair, e a célula subtro -
zonas de confluência semipermanentes (ver Fi- pical de alta pressão e os alísios de sudeste se
gura 11.1). Elas não ocorrem no Pacífico Sul e intensificam. Em anos frios e secos, esse movi -
Atlântico Sul oriental, onde existem correntes mento pode começar já em fevereiro e, em anos
oceânicas frias . A Zona de Convergência do quentes e úmidos1 talvez não antes de junho.
Pacífico Sul (ZCPS) apresentada no Pacífico Sul
ocidental em fevereiro (verão) hoje é reconhe-
B PERTURBAÇÕES TROPICAIS
cida como uma importante descontinuidade e
zona de máxima nebulosidade. Ela se estende Foi somente na década de 1940 que explicações
do extremo oriental de Papua -Nova Guiné a detalhadas foram propostas para os tipos de fe-
aproximadamente 30ºS 120ºW. Ao nível do mar, nômenos tropicais além do ciclone tropical, que
ventos úmidos de nordeste, a oeste do anticiclo - já era reconhecido havia bastante tempo . Nossa
ne subtropical do Pacífico Sul, convergem com visão sobre os sistemas meteorológicos tropicais
ventos de sudeste à frente de sistemas de alta sofreu uma revisão radical após o advento dos
pressão que avançam no sentido leste a partir satélites meteorológicos operacionais na década
da Austrália / Nova Zelândia . O setor de baixa la- de 1960. Programas especiais de mensurações
titude a oeste da longitude de 180º faz parte d.o meteorológicas na superfície e em níveis su -
sistema da ZCIT, relacionado com águas super- periores, junto com observações realizadas em
ficiais quentes. Todavia, a precip itação máxima aviões e navios , foram implementados nos Oce -
ocorre ao sul do eixo de máxima temperatura anos Pa.cífico e fndico, no Mar do Caribe e no
superficial marinha, e a convergência superfi- Atlântico oriental tropical.
cial fica ao sul da máxima de precipitação no Distinguimos cinco categorias de sistemas
Pacífico Sul cen t ral. A orientação sudes te da meteorológicos conforme suas escalas espaciais
ZCPS é causada por interações com ventos de e temporais (ver Figu ra 11.3). A menor, com
oeste nas latitudes médias. Sua e.xtremidade su - um tempo de vida de algumas horas, é a nuvem
deste é associada a fenômenos ondulatórios e cumulus individual, com 1-10 km de diâme-
nuvens induzidas pelas correntes de jato sobre tro , gerada por convergência dinamicamente
a frente polar do Pacífico Sul. A conexão ao lon - induzida na camada limite dos ventos Alísios.
go dos subtrópicos parece refletir transferências Com tempo bom , as nuvens cumulus em geral
de umidade e energia nas latitudes médias tro - se alinham em ª ruas de nuvens ': mais ou menos
picais em níveis mais elevados, especialmente paralelas à direção do vento , ou formam célu -
durante situações de tempestades subtropicais. las poligona is com um padrão de favo de mel,
Assim, a ZCPS apresenta uma substancial va- em vez de se espalharem aleatoriamente . Isso
riabilidade interanual e de curto prazo em sua parece estar relacionado com a estrutura da
localização e desenvolvimento. A variabilidade camada limite e a velocidade do vento (ver p.
interanual tem uma forte associação com a fase 120). Existe pouca interação entre as camadas
da Oscilação Sul (ver p . 374). Durante o verão de ar acima e abaixo da base das nuvens nessas
setentrional , a ZCPS se encontra pouco de - condições , mas, em condições meteorológicas
senvolvida, ao passo que a ZCIT está forte em adversas, correntes ascendentes e descendentes
todo o Pacífico. Durante o verã .o meridional, a geram interações entre as duas camadas, inten-
ZCPS está bem desenvolvida, com uma ZCIT sificando a convecção. As torres de cumulus
fraca sobre o Pacífico tropical ocidental. Depois individuais, associadas a tempestades violentas,
de abril, a ZCIT se intensifica sobre o Pacífico desenvolvem-se particularmente na ZC IT, às
ocidental e a ZCPS enfraquece à medida que vezes alcançando 20 km de altitude com cor-
avança para o oeste e em direção ao equador. rentes ascendentes de 10-14 m s- L. Desse modo,
No Atlântico , a ZCIT normalmente começa seu a menor escala do sistema pode auxiliar o de -
movimento para o norte de abril a maio, quan - senvolvimento de perturbações maiores. A con-
do as temperaturas da superfície marinha no vecção é mais ativa sobre superfícies marinhas
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 327

Allslos de NE

(A) Oº C{!lula convectiva E9uador


- de mesoescala /
Bementos 10- 10' l<m ,,..
convectivos
Individuais ,.,,,..-
1-10km /

'
---
-:..-
--
Agrupamento de nuvens
''
.:'

30ºS 10 2 -103 km Alíslos de SE 30ºS


Altas subtropicais

Agrupamento de nuvens
---------- - - - - - - - ----- --------
Reglão - - 'j;; xo p~ ora --.
(B) de fluxo para fora \ /
----------~~~~~ " 0 -----------------
- -
Célula de Hadley
- ' 12~ 1/)

(Elementos convectivos l l ~ ·g
de mesoescalacontendo «i ·a.
células Individuais) 'ü e
Camada convectiva
ll ~~
·- 1/)
~ 1/)

l l ~~
----------- -~ 1
____ - _ - - - - - - - - - - - ·1km
Camada limite
dos ventos Alísios '-- Influxo fracionado

-- --,..-----i
~-~- '--
- -- ---~,i-----
--------- - --~-30°
de ar úmido

0º 5°

Figura 11.3 As estr utu ras de mesoescala e sin6t ica da zona do cavado equa tor ial (ZCI T), m ost rando um
mode lo da d istribuição espacia l (A) e da estrutu ra ver tica l (8) de elementos convect ivos que fo r mam os ag rupa-
me ntos de nuvens.
Fo n fe : Mason (1970 ). Royol Meteoro log icol Soc iety.

Tabela 11.1 Frequênc ias anuais e ocorrência sazona l normal de c iclones tropica is (veloc idades móx imas
1
sustentadas ac ima de 25 m s-l o u 90 km h- ), 1958-1977

LocallzaCjáO Frequência anual 0 -corrêncfa principal

Pacífico No rte Ocide ntal 26,3 Julho-out ubro


Pacífico No rt e Or iental 13,4 Agosto-se temb ro
Atld ntico Norte Ocide ntal 8,8 Agosto -o utubro
Ocea no 'Ind ico Setentriona l 6,4 Ma io-j unh o; outubro- novembro
Total Hem isfério Norte 54,6
' 8,4
Oceano Ind ico Sudoeste Janei ro-morço
'
Oceano Ind ico Sudeste l 0,3 Janeiro-março
Pacifico Sul Ocidental 5,9 Janei ro-morço
Total He misfério Sul 24,5

Total g loba l 79,1

Fo nte : G roy (1979 ).


O bs.: Tota is ar redonda dos.
328 Atmosfera, Tempo e Clima

com temperaturas acima de 27ºC, mas, acima ondas em escala planetár ia. As ondas planetá-
de 32ºC, a convecção para de aumentar, devi- rias (com comprimento de onda de 10.000 a
do a interações que não estão totalmente com- 40.000 km) não nos interessam em suas minú-
preendidas . cias. Dois tipos ocorrem na estratosfera equa-
A segunda categoria de sistemas se forma torial e outro na troposfera superior equatorial.
pelo agrupamento de nuvens cumulus em áreas Embora possam interagir com sistemas tropos-
convectivas de mesoescala de até 100 km de féricos inferiores, eles não parecem ser meca-
diâmetro (ver Figura 11.3). Por sua vez, diver- nismos meteorológicos diretos. Os sistemas em
sos desses agrupamentos podem compreender escala sinótica que determinam grande parte
um agrupamento de nuvens com 100-1000 km do "tempo perturbado" dos trópicos são sufi-
de diâmetro. Esses sistemas de escala subsinó- cientemente importantes e variados para serem
tica foram identificados inicialmente nas ima- discutidos sob a categoria de fenômenos ondu-
gens de satélite como áreas de nuvens amorfas, latórios e tempestades ciclônicas.
e estudados principalmente a partir de dados
de satélite sobre os oceanos tropicais. Sua defi- 1 Perturbações ondulatórias
nição é bastante arbitrária, mas elas podem se
Diversos tipos de ondas viajam para oeste junto
estender sobre uma área de 2ºx2º a 12ºXI2º . É
aos ventos troposféricos equatoriais e trop icais
importante observar que o pico de atividade
de leste; as diferenças entre elas provavelmen te
convectiva terá passado quando a cobertura de
resultam de variações regionais e sazonais na es-
nuvens estiver mais ampla, pelo espalhamento tru tura da atmosfera tropical. Seu comprimento
da cobertura de nuvens cirrus. Os agrupamen- de onda é de aproximadamente 2000-4000 km,
tos do Atlântico, defmidos como mais de 50% com um tempo de vida de uma a duas semanas,
de cobertura de nuvens estendendo-se sobre
viajando em torno de 6-7º de longitude (cerca
uma área de 3°><3º,apresentam frequências má - de 700 km) por dia.
ximas de 10 a 15 agrupamentos p,or mês perto
O primeiro tipo de onda a ser descrito nos
da CI e também a 15-20ºN no Atlântico ociden - trópicos foi a onda de leste da área do Caribe.
tal sobre zonas de temperatura elevada na su- Esse sistema é bastante diferente de uma de -
perfície do mar. Esses consistem de um grupo pressão de latitude média. Existe um fraco cava-
de células convect ivas de mesoescala, e o siste-
do de pressão, que muitas vezes se inclina para
ma apresenta uma camada profunda de fluxo de leste com a altitude (Figura 11.4). Em geral, o
ar convergente (ver Figu ra 9.3). Alguns duram desenvolvimento principal de nuvens cumulo-
apenas um ou dois dias, mas outros se formam nimbus e pancadas com trovoadas ocorre atrás
dentro de ondas em escala sinótica. Muitos as- da linha do cavado. Esse padrão é associado ao
pectos do seu desenvolvimento e papel preci - movimento horizontal e vertical nos ventos de
sam ser determinados. Mesmo com a ênfase na leste. Atrás do cavado, o ar em níveis baixos so-
convecção, estudos na região da "piscina quen - fre convergência, enquanto, à sua frente, ele é
te" do Pacífico equatorial ocidental indicam que divergente (ver Capítulo 6B.l). Isso resulta da
grandes áreas de chuva em agrupamentos de equação para a conservação da vorticidade po -
nuvens consistem principalmente em precipi- tencial (cf. Capítulo 7A.2) , que pressupõe que o
tação estratiforme. Isso explica mais de 75% da ar que viaja a um determinado nível não muda
área total de chuva e mais da metade da quan- de temperatura potenc ial (isto é, movimento
tidade de chuva. Além disso, os sistemas de nu- adiabático seco; ver Capítulo SA):
vens não são "nuvens quentes'' (p . 128), mas são
formados por partículas de gelo. !+ ç =k
A quarta categoria de sistema meteorológi- óp
co tropical compreende as ondas em escala si- onde f = parâmetro de Coriolis, Ç= vorticidade
nótica e os vórtices ciclônicos (discutidos mais relativa (pos itiva ciclônica) e .ó.p= espessura da
adiante), e o quinto grupo é representado pelas coluna de ar troposférica. O ar que ultrapassa a
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 329

___...
(A)
.,,,,.,,
, .,,
--- - na média troposfera , de modo que o padrão de
movimento vertical mostrado na Figura 11.4 é
,.,,,,,
....,.
_ .....
.,.,...
/
/
... '' potencializado .
I
,, '\
\
\
\ Jg /
I
I
,, /
\
A passagem de uma onda transversal nos
'<Íl.- /
.(:e A 1 Alísios produz a seguinte sequência de tempo:
(.)
I
'
I
1 Na crista à frente do cavado : tempo bom ,
/
.,/
--....,..
.... nuvens cumulus dispe rsas, um pouco de
névoa seca .
2 Perto da linh a do cava.do : cwnulus bem de -
senvolvidos, pancadas ocasionais , melhora
O km 500
111111
na visibilidade .
3 Atrás do cavado : o vento gira no sentido
(B)
_______
..,.. horá rio (an ticiclônico no HN), cumulus
pesados e cumulonimbus, pancadas mode-
radas ou pesadas com trovões e redução na
400 200 O 200 400 600 temperatura .
X km V
'4 Ventos de supe rfície - ········· Topo da camada úmida As imagens de satélite ind icam que a onda
- ..,.- Linhas de fluxo - - Cavado da onda de leste clássica é menos comum do que se su -
de 200 mb (12 km)
punha antes. Muitos distúrbios atlânticos apre -
Fígura 11.4 Modelo da est rutura hor izont a l (A ) e sentam uma forma de onda em "V inver tido "
ver t ica il (B) de um a o nda de leste . A nuv e m ap a rece no campo do vento em baixos níveis e nuvens
som br eado e a 6re a d e precip ita çã o é mostrado na associadas , ou uma nuvem em ''vírgulà ' rela-
seç ão vertic a l. Os sím bolos d a linha d e f luxo ref e rem - cionada com um vórtice . Muitas vezes, parecem
-se à estrutura horizo ntal, e as setas na seç ão vert ical
estar ligadas a um pad rão ondula tório sobre a
ind icam o s movimen to s horizon tais e ver ticais do ar.
CI mais ao sul . As perturbações da África oci -
Fonte: Molkus e Riehl (1964).
dental que avançam sobre o Atlântico tropical
oriental geralmente apresentam confluência em
linha do cavado está avançando em direção ao níve is baixos e difluência mais acima à frente do
polo (awnentando f) e para uma zona de cur- cavado , gerando t axas de precipitação máximas
vatura ciclônica . (aumentando Ç), de modo que, nesse mesmo setor. Muitas perturbações nos
para o lado esquerdo da equação permanecer ventos de leste apresentam uma circulaçã .o cic-
constan te, lip deve aumentar. Essa expansão lônica fechada no nível de 600 mb ( 4 km ).
vertica l da coluna de ar necessita de contra - É difícil rastrear os processos de crescimen -
ção (convergência) horizontal. Por outro lado, t o em perturbações ondulatórias sobre os ocea-
existe divergênc ia no ar que avança para o sul nos e em áreas continen tais com uma cobe rtura
adiante do cavado e se curva no sentido antic ic- de dados esparsos, mas podemos fazer algumas
lônico. A verdadeira zona de divergência seca- generalizações. Pelo menos oito de cada 10 pe r-
racteriza por ar descendente que tende a secar, turbações se formam a 2-4º de latitude do Cava -
com apenas wna pequena camada de umidade do Equatorial em direção ao polo . A convecção
perto da superfície , enquan to, nos arredores do é desencadeada pela convergência de umidade
cavado e atrás dele , a camada de umidade pode no fluxo de ar, intensificada pelo atrito e man -
te r 4500 m ou ma is de espessura. Quando o flu - tida pelo arrasto no in terior de corren tes con-
xo de ar de leste é mais lento que a velocidade vectivas térm icas (ver Figura 11.3) . Por volta de
da onda, observa-se o padrão inverso de con- 90 pertu rbações tropicais se formam du rante
vergência baixa à frente do cavado e divergência a estação de furacões de junho a novembro no
atrás dele, como consequência da equação da Atlântico t ropical, aproximadamente um sis-
vorticidade potencial . Muitas vezes, isso ocorre tema a cada t rês a cinco dias. Mais da metade
330 At m osfera , Tempo e Clim a

deles se origina sobre a África, ao sul da latitude Um idade específ ica (g/kg)
de ISºN . Segundo N. Frank, uma razão elevada
14
de depressões africanas no total de tempestades 700
em uma determinada estação indica caracterís -
16
ticas tropicais, ao passo que uma razão baixa
sugere tempestades oriundas de baixas frias e
da zona baroclínica entre o ar do Saara e o ar
--
.D 800
E
Ar
seco
T

o
monçônico úmido e mais fresco. Muitas delas ICIJ
V,

podem ser rastreadas para o oeste, até o Pacífico ~


O. 900
Norte oriental. Em um total anual de 60 ondas
atlânticas, 23% intensificam-se em depressões
tropicais e 16% se tornam furacões. úmida
Os desenvolvimentos no Atlântico estão re-
lacionados com a estrutura dos ventos Alísios.
15 20 25 30
Nos setores orientais dos anticiclones subtropi - Temperatura (ºC)
cais, a subsidência ativa mantém uma inversão
térmica acentuada de 450 a 600 m (Figura 11.5). Figura 11.5 Estrutura vertical do ar nos ventos Alí-
Assim, as margens orienta is dos oceanos tropi- sios, entre o superfíc ie e 700 mb (3 km) no Atlântico
equatorial central, 6 -12 de fevere iro de 1969 , ,mos-
cais frescos se caracterizam por uma cobertura
trando a te mperatura do ar (T) e a temperatura do
baixa de stratocumulus marinhos, que trazem
ponto de orvalho (T0 ) . A umidade específico pode ser
pouca chuva . A jusante da corrente , a inversão lido no escala superior.
enfraquece e sua base se eleva (Figura 11.6), Fonte: Augstein et o/. {1973, p. l 04).
pois a subsidência diminui à medida que se afas-
ta da porção oriental do anticiclone e torres de 75-W 30" 15• o• 15•e:

cumulus penetram na inversão, eventualmente


espalhando umidade no ar seco a.cima. Ondas 30' N

de leste tendem a se formar no Caribe quando


a inversão dos ventos Alísios está fraca ou mes -
mo ausente durante o verão e o outono, ao passo
que, no inverno e na primavera, a subsidênc ia
em níveis mais elevados inibe a sua formação, -
embora possa haver movimento para oeste das
perturbações acima da inversão. As ondas nos 15'

ventos de leste também se originam na penetra -


ção de frentes frias em latitudes baixas. No setor 3D'S

entre duas células subtropicais de alta pressão, o I


lado equatorial da frente tende a se romper, ge-
rando uma onda que avança para oeste. figura 11.6 Altitude (em me tros) da base do inver-
A influência dessas feições sobre o clima são dos ventos Alísios sobre o At lâ ntico tropical.
regional é ilustrada pelo regime de pluviosida - fonfe : Riehl (1954). Com permissão de McG row Hill.
de. Por exemplo, existe uma máxima no final
do verão na Martinica, nas Ilhas de Barlavento média de 24 tempestades por ano, 10 das quais
(l SºN), quando a subsidência está fraca, em- represen taram mais de dois terços da precipita-
bora parte das chuvas de outono seja associada ção anual. Existe uma elevada variabilidade nas
a tempestades tropicais . Em muitas áreas dos chuvas de ano para ano nessas áreas, pois uma
ventos Alísios, a chuva ocorre em tempestades pequena redução na frequência das perturba -
associadas a alguma forma de perturbação . Em ções pode ter um grande efeito nos totais de
wn período de 10 anos , Oahu (Havaí) teve uma pluviosidade.
CAPÍTULO11 O tempo e o clima tropical 331

No Pacífico central equatorial , os sistemas t oriais podem se formar em ambos os lados do


dos ventos Alísios dos dois hemisférios con- equador, em uma corrente de leste localizada
vergem no Cavado Equatorial. Podem ser for - entre SºN e S. Nesses casos , a divergência à fren -
madas perturbações ondulatórias se o cavado te de um cava.do no Hemisfério Norte é com -
estiver suficientemente distante do equador pensada por convergência atrás de uma linha de
(geralmente ao norte) para proporcionar uma cavado localizada mais a oeste no Hemisfério
pequena força de Coriolis a fim de dar início a Sul. O leitor pode confirmar isso , se for neces -
um movimento ciclônico. Essas perturbações sário , aplicando a equação da vorticidade po-
muitas vezes se tornam instáveis, gerando um tencial, lembrando que f e Çatuam no sentido
vórtice ciclônico à medida que avançam para oposto no Hemisfério Sul.
oeste, rumo às Filipinas, mas os ventos não
atingem necessariamente a intensidade de fura- 2 Ciclones
cão. A carta sinótica para uma parte do Pacífico
furacões e tufões
noroeste em 17 de agosto de 1957 (Figura 11.7)
mostra três estágios evolutivos dos sistemas tro- O tipo mais notório de ciclone é o furacão (ou
picais de baixa pressão . Formou-se uma onda tufão ). Aproximadamente 90 ciclones são res-
de leste incipiente a oeste do Havaí , que, entre - ponsáveis a cada ano , em média, por 20.000
tanto, foi preenchida e se dissipou durante as 24 mortes , além de causarem prejuízos imensos ao
horas seguintes. Uma onda bem desenvolvida patrimônio e um risco sério à navegação, devi -
era evidente perto da Ilha Wake, com torres de do aos efeitos combinados dos ventos fortes, dos
cumulus espetaculares, que se estendiam acima mares agitados e das enchentes causadas pelas
de 9 km ao longo da zona de convergência a chuvas fortes e tempestades costeiras. A previ -
480 km a leste. Essa onda se desenvolveu, em são de sua formação e movimento tem recebido
48 horas, em uma tempestade tropical circular, considerável atenção, de modo que sua origem e
1
com ventos de até 20 m s- L (72 km h - ), mas não estrutura começam a ser compreendidas . Natu-
chegou a se tornar um fu,ra.cão completo . Uma ralmente, a força catastrófica de um furacão faz
circulação intensa e fechada, situada a leste das dele um fenômeno muito difícil de ser investiga -
Filipinas, avançou para noroeste . Ondas equa - do, mas as informações necessárias são obtidas a

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f[gura 11.7 Carta sinót ico d e super f ície pa ro parte d o Pací fi co noroes te em 17 de agos to de 1957 . Os mo -
vime nt os d o cav a do ce ntr al e do circulação fec h ado duran te os 2 4 hor a s segui nt es são mo strados pelo linho
tra ce jado e pelas ba nde iro las , respe ctivame nte , O B em verme lho a leste de Soipa n ind ico a local iza ção em que
o ut ro sistema de baixo pressão se formou posteriormente .
Fo n te: Mo lkus e Rieh l (196 4) . Co m p e rm issão de U n ive rsity o f Co liforn io Press .
332 Atmos fera, Tempo e Clima

parti r de voos de reconhecimento enviados du- forte, com ventos de 50-58 m s- 1 (180-208 km
1 1
rante a "estação dos furacões ': de observaçõ es de h- ) ; 4, muito forte, com ventos de 59-69 m s-
1
radar da est rutura das nuvens e da precipitação (2 12-248 km h- ) ; e 5, devastador, com ventos
(Prancha 11. l) e de da.dos de satélite. de 70 m s- i- ou mais (252 km h- 1 ou mais). O
O sistema típico do furacão tem diâmetro furac .ão Camille, que atingiu a costa do Missis-
de aproximadamente 650 km, menos da metade sippi em agosto de 1969, era uma tempestade de
de uma depressão de latitude média, embora os catego ria 5, ao passo que o furacão Andrew, que
tufões no Pacífico ocidental costumem ser mui - devastou o sul da Flórida em agosto de 1992, foi
to maiores. A pressão cent ral ao nível do mar reclassificado também como uma tempestade
costuma ser de 950 mb e, excepc ionalmente, de categor ia 5. O furacão Katrina, em agosto
cai abaixo dos 900 mb. As tempestades tropi- de 2005 , foi a segunda tempestade de categor ia
cais batizadas são definidas tendo velocidades 5 naquela estação, e o mais destrutivo até hoje
1 1
médias de pelo menos 18 m s- (64 km h- ) du- (ver p. 299).
rante um minuto na superfície . Se esses ventos Em 1997, houve 11 supertufões no Pacífico
1 1 1
se intensificam a pelo menos 33 m s- (119 km noroeste, com ventos >66 m s- (237 km h- ).
h - 1) , a tempestade se torna um ciclone tropical . O grande desenvolvimento ve rtical de nuvens
Existem cinco classes reconhecidas de intensi - cumulonimbus, com o topo acima de 12.000 m,
dade de furacões: categor ia 1, fraco, com ventos reflete a imensa atividade convectiva concentra -
1 1
de 33-42 m s- (119-151 km h- ) ; 2, moderado, da nesses sistemas . Estudos com radar e satélite
1
com ventos de 43-49 m s- L(155-1 76 km h- ) ; 3, mostram que as células convectivas no rmal-

r.
"'·

Prancha 11.2 Imagem de radar do furacão Hugo, observado pelo South Carolina Weother Service Office, em
1 1
Charleslon, em 21 de setembro de 1989 . Na linha de cos ta , os ventos eram de 137 km h- (móx. 257 km h- ) no
Carolino do Sul. Uma maré de tempestade assoc iado à maré oito causou perdas de US$ l bilhão, com prejuízos
materiais, especialmente no Carolino do Norte, com sete mortes e dezenas de feridos.
fonle : NOM Central Librory fly00232.
CAPÍTULO11 O tempo e o clima tropical 333

mente se organizam em faixas que giram em de Bengala, também há uma máxima secundária
uma espiral em direção ao centro. no começo do verão. As enchentes causadas por
Embora os maiores ciclones sejam caracte- um ciclone tropical e que atingiram a costa de
rísticos do Pacífico, o recorde pertence a.o fura- Bangladesh em 24-30 de abril de 1991 causaram
cão caribenho "Gilbert". Ele foi gerado a 320 km mais de 130.000mortes por afogamento e deixa-
a leste de Barbados, em 9 de setembro de 1988, ram mais de 10 milhões de pessoas desabrigadas.
e avançou para oeste a uma velocidade média A frequência anual de ciclones mostrada na Ta-
1
de 24-27 km h- , dissipando-se perto da costa bela 11.1 é apenas aproximada, pois, em certos
leste do México. Com o auxilio de uma célula casos, não se sabe se os ventos realmente passa-
de alta pressão na troposfera superior a norte de ram da intensidade de furacão. Além disso, as
Cuba, o furacão Gilbert intensificou-se muito tempestades nas áreas mais remotas do Pacífico
rapidamente, a pressão no seu centro caiu para Sul e do Oceano Índico seguidamente escapavam
888 mb (o mais baixo já registrado no Hemis- da detecção antes do uso de satélites meteoroló-
fério Ocidental), e as velocidades máximas do gicos. Um registro informal de 270 anos dos fu-
1
vento perto do núcleo passaram dos 55 m s- racões no Atlântico Norte sugere uma redução
(198 km h- 1) . Mais de SOOmm de chuva caí- na frequência desde 1760 ao começo da década
ram sobre as partes mais elevadas da Jamaica de 1990, com valores baixos anômalos nos anos
em apenas nove horas . Todavia, a característica 1970-1980. A maior atividade desde 1995 repre-
mais notável dessa tempestade recorde foi o seu senta um retorno a condições mais normais.
tamanho, sendo três vezes maior do que os fu- Para a formação de ciclones, diversas con-
racões médios do Caribe. Em sua extensão má- dições são necessárias, mesmo que nem sem-
xima, o furacão tinha um diâmetro de 3500 km, pre sejam suficientes . Um requisito, conforme
desorganizando a ZCIT ao longo de mais de um a Figura 11.8, é uma ampla área oceânica com
sexto da circunferência equatorial da Terra e temperatura superficial maior que 27ºC. Os ci-
atraindo ar desde a Flórida e as ilhas Galápagos. clones raramente se formam perto do equador,
A maior atividade de ciclones tropicais nos onde o parâmetro de Coriolis se aproxima de
dois hemisférios ocorre no fmal do verão e no ou- zero, ou em zonas de forte cisalhamento vertical
tono, durante momentos de máxima mudança do do vento (i.e., embaixo de uma corrente de jato),
Cavado Equatorial para norte e para sul (Tabela pois os dois fatores inibem o desenvolvimento
11.1, Prancha 11.3). Algumas tempestades afe- de um vórtice organizado. Também existe uma
tam as áreas do Pacífico Norte e Atlântico Norte conexão definitiva entre a posição sazonal do
ocidental já em maio e até dezembro, ocorrendo Cavado Equatorial e as zonas de formação de
durante todos os meses na primeira área. Na Baía ciclones. Isso advém do fato de que houve ape-

. Cãnc
1

Equador/

T,emperaturasda superfici.c do mar >27°C no mês mais quente


= =., Rota de furacões
- 1O- Frequência de formação de furacões (período de 20 anos)

Figura 11.8 Frequência de formação de f uracões (isople tos numeradas) para um período de 20 anos . Tam-
bém são mostradas as principais rotos de f uracões e as óreas de superfíc ie marin h o com temperaturas da óguo
acima de 27ºC no mês mais quente.
Fonte: Pa lmén (1948) e Groy (1979).
334 Atmosfera, Tempo e Clima

Prancha 11.3 Três tufões sobre o Oceano Pacífico ocidenta l em 7 de agosto de 2006 nesta imagem do Mode-
rote Resolution lmag ing Spectrorad iometer (MODIS ) do satélite Acquo da NASA. O mais forte dos três, o tufão Sa-
oma i (canto inferior direito), formou-se no Pacífico ocide ntal em 4 de agosto de 2006 como uma depressão t rop i-
cal. Dentro de um d ia, ele estava suficientemen te organizado para ser classificado como uma tempestade tropical.
Enquanto o Saomoi estava se intensificando e se tornando uma tempestade, outra dep ressão tropical se formou
a algumas centenas de quilômetros ao norte e, em 6 de agosto, tornou-se a tempestade tropical Mar ia (canto su-
perior direito). O tufão Bopha (esquerda) for mou-se assim que o Ma ria atingiu o status de tempestade e se tornou
uma tempest ade trop ical no d ia 7 de agos to. Por ser o ma is jovem, com apenas algumas horas de existência, ele
mostro somente a forma arredondado bósico de uma tempestade tropical . O Ma ria, com um dia de idade, apre-
sento uma estruturo espira lado mais disti nta, com braços e um olho centra l visível. Apesar de suas difere nças de
aparênc ia, ambos os tempes tades aproximavam-se em tama nho e intensidade, com ventos m6ximos sustentados
1
de cerco de 90 e 100 km h- , respectivame nte. Mu ito mais poderoso do que o Mar ia, o tufão Sooma i tinha um d ia
1
a mais de existência e, no momento da imagem, contava com ventos sustentados de aproximadamente 140 km h- •
f o nle : Jeff Schmoltz NASAVisible Earth.
CAPÍTULO11 O tempo e o clima tropical 335

nas um ciclone no Atlântico Sul (onde o cavado equatorial ocidental , ciclones tropicais se for-
nunca chega ao sul de 5ªS) e nenhum no Pacífi- mam quase simultaneamente em cada hemisfé-
co sudeste (onde o cavado permanece ao norte rio perto da latitude de 5ª e ao longo da mesma
do equador). Todavia, o Pacífico nordeste tem longitude. Os padrões de nuvens e ventos nesses
um número inesperado de vórtices ciclônicos ciclones "gêmeos " são aproximadamente simé -
no verão . Muitos deles se movem no sentido t ricos em relação ao equador .
oeste perto da linha do cavado a aproximada- O papel das células convectivas na grande
mente 10-15ªN . Por volta de 60% dos ciclones liberação de calor latente para fornecer energia
tropicais parecem se originar a 5-1 Oº de latitude para a tempestade foi proposto pelas primeiras
em direção ao polo em relação ao Cavado Equa - teo rias da formação de furacões. Todavia, acre -
torial nos setores de calmarias, onde o cavado ditava-se que a sua escala era pequena demais
está a pelo menos 5º de latitude do equador. As para explicar o crescimento de uma tempes -
regiões de formação de ciclones se encontram t ade com centenas de quilômetros de diâme-
principalmente sobre as seções ocidentais dos tro . Pesquisa s indicam que a energia pode ser
oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, onde as t ransferida da escala de nuvens cumulus para
células subtropicais de alta pressão não causam a circulação de grande escala das tempestades
subsidência e estabilidade, e o fluxo superior é por meio da organização das nuvens em bandas
divergente . Duas vezes por estação, no Pacífico circulares (ver Figura 11.9 e Prancha 11.2), em-

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Q) (/)
~ <U (J)
e ~o cae: Nuvens
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..,. Linhas de
fluxo na superficie
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a 200 mb (12 km)


O 300
km

(B)
Fluxo de saída
km Dossel de cirrus Tropopausa
15 X de nuvens círrus y

Troposfera
10

O Faixa dEJnuvens corwectivas eKtema ------Cumulonimbus. bEJmdesenvolvidos------ Fa:xa de nuvens ccnvectivas edema -

Cumul us das Cumulus pouca Cl.ffll.llus bem dasenvolvidcs, Olho o 300


ventos Afsios desen...al11i
dos clffUlonimbus e cim.is de altitude
km

Figura 11.9 Modelo da estru tura hori zonta l (A) e vertical (B) de um furacão. Nuve ns (som breadas ), linha s de
correntes, feições convectiv as e a rota são mos trados.
Fonte: Mus k (1988 ). Com perm issão de Cambridge University Press.
336 Atm osfera, Tempo e Clim a

bora a natureza do processo ainda seja inves - calor latente de con densação; por volta de 15%
tigada . Existem evidências de que os furacões da área das faixas de nuvens têm chuvas em al-
se formam a partir de distúrbios preexistentes , gum momen to. As observaç ões mostram que,
mas, embora muitos desses distúrbios se desen - embora essas "torres quentes " compreendam
volvam como células fechadas de baixa pressão, menos de 1% da área da tempestade dentro de
poucos atingem a intensidade de um furacão um raio de aproximadamente 400 km, seu efei-
pleno. A chave para esse problema é o fluxo de to é suficiente para alterar o ambien te. O nú cleo
saída nos altos níveis (Figura 11.10), que não quen te é vital para a formação do furacão , poi s
exige um anticiclone na troposfera superior, fortalece o anticiclo n e mais acima, levando a
mas pode ocorrer no ramo oriental de um ca- um efeito de «retroalimentaçãó ' (Jeedback), ao
vado superior nos ventos de oeste . Esse fluxo de estimular o influxo baixo de calor e umidade,
saída , por sua vez , permi te o desenvolvimento que in tensifica ainda mais a atividade convecti -
de pressão muito baixa e vento s com velocidade va, a liberação de calor latente e, porta nt o, a alta
mui to elevada perto da superfície. Um aspec - pressão em níveis elevados . Essa inte n sificação
to característico do furacão é o vórtice quente , de um sistema de tempe stade pela convecção
pois outras depressões t ropicais e tempesta- em nuvens cumulus é denomin ada instabilid a -
des incipientes têm uma área -núc leo fria com de condicio n al do segundo tipo , ou CISK, n a si-
chuvas. O núcleo quente se forma pela ação de gla em inglês (cf a ins tabilidade básic a descri ta
100-200 torres de cumulo n imbus que liberam na pág. 110). A circul ação termicamente direta

Favorável Desfavorável

Cisalhamento
anticlclônlco de U
" Velocidade média do vento (U)
Níveis
superiores (Uxc) pequeno: ar quente
...
'
--
permanece acima
I
_____
Quente J 1 (Uxc) grande: área

-
\ ._ ,.,,.. quoote não aparece
da baixa superficial ._ _________~ /
.,..,.
...

Níveis
intermediários
Efeíto solenoidal
intensifica a circulação
' Estra1Jfícação estável
confere efeito de
resfriamento ao
vertical radial ~ movimento ascendente
Convec
ulus ,
r,_ ______ _

Cisalhamento
ciclônico do fluxo de ar \
Convergência de umidade
Camada limite Condição essencial
planetária de umidade suficiente ~ :;~t~l'
°t Baixa
Velocidade de propagação (e)

Temperatura da superficle Temperaturada superfície


Oceano do mar elevada aumenta do mar baíxa reduz
a evaporação a evaporação

Figura 11.1 O Modelo esquemático das condições favoráve is (esquerda) ou desfavoráveis (d ire ita) à fo rmação
de uma tempestade tropical em uma onda de leste; U é a velocidade média do ven to em altos níveis e e é a tax a
de propagação do sistema. O vórt ice quente cria um grad iente térmico que in te nsif ico o movimento rad ial ao
seu redor e as correntes ascendentes de ar, denominado efe ito solenoidal.
Fonte : Kuri haro (1985 ). Copyright @ Acodem ic Press.
CAPÍTULO11 O tempo e o clima tropical 337

converte o incremento de calor em energia po - lações horizontais e verticais ao redor do olho,


tencial, e uma pequena fração disso - por volta redistribuindo o momento angular de modo a
de 3% - é transformada em energia cinética. O gerar uma concentração da rotação perto do
resto é exportado pela circulação anticiclônica centro .
que existe no nível de 12 km (200 mb). Uma O suprimento de calor e umidade, com-
força motriz importante é a diferença de tempe- binado com o pequeno arraste friccional na
ratura entre a superfície oceânica (.....
300 K) e a superfície do mar, a liberação de calor latente
troposfera super ior (-200 K). O ar penetra em por condensação e a remoção do ar no nível
espiral na baixa em superfície, ascende adia- superior são condições essenciais para a ma-
baticamente na parede do olho até a troposfe - nutenção da intensidade do ciclone. Assim que
ra superior, e então desce fora da tempestade, um desses ingredientes diminu i, a tempestade
completando um ciclo energético de Carnot (o decai. Isso pode ocorrer de forma bastante rá-
ciclo mais eficiente possível para converter uma pida se a rota (determinada pelo fluxo geral na
certa quantidade de energia térmica em traba- troposfera superior) levar o vórtice sobre wna
lho) com uma efic iência de cerca de 33%. Pes - superfíc ie marinha fria ou sobre a terra. No se-
quisas recentes sugerem que eventos de poeira gundo caso, o maior atrito causa maior movi-
no Saara talvez tendam a influenciar a forma- mento do ar através das isóbaras, aumentando
ção de furacões, devido ao papel da poeira em temporariamente a convergenc1a e a ascensao.
• A • -

suprimir a formação de nuvens, e pelo próprio Nesse estágio, o maior cisalhamen to vertical
ar seco do Saara, que é transportado por advec - do vento em células de tempestade pode gerar
ção sobre o Atlân ti co Norte oriental tropical. tornados, especialmen te no quadrante nordeste
Acredita -se que esses processos tenham atuado da tempestade (no Hemisfério Norte). Todavia,
durante a estação de furacões pouco ativa de o efeito mais importante de uma rota sobre o
2006 no Atlântico . continente é que o corte no suprimento de umi -
No olho, ou a região mais interna da tem - dade remove uma das principais fontes de calor .
pestade (ver Figura 11.9), o aquecimento adia- O decaimento rápido também ocorre quando
bático do ar descendente acentua as tempe- ar frio é atraído para a. circulação ou quando o
raturas elevadas, embora, como também são padrão de divergência em níveis mais elevados
observadas tempera turas altas nas massas de se afasta da tempestade.
nuvens que formam as paredes do olho, o ar Os furacões em geral avançam a 16-24
1
descendente seja um fator que contribua. Sem km h - , controlados pela taxa de movimento
esse ar que desce no olho, a pressão central não do núcleo quente superior. Normalmente, eles
poderia cair abaixo de 1000 mb. O olho tem se curvam em direção aos polos perto das mar-
diâmetro de 30-50 km, dentro dos quais o ar gens ocidentais das células subtropicais de alta
é praticamente calmo e a cobertura de nuvem pressão , entrando na circulação dos ventos de
pode se abrir. Os mecanismos da formação do oeste , onde se esgotam ou se regeneram for -
olho ainda são desconhecidos. Se o ar que gira mando perturbações extratropicais.
conservasse o momento angular absoluto, as Alguns desses sistemas mantêm uma forte
velocidades do vento se tornariam infinitas no circulação, e os ventos e as ondas intensas ain -
centro e, claramente, não é isso o que ocorre. da podem causar destruição. Isso é comum ao
Os fortes ventos que rodeiam o olho estão mais longo da costa atlântica dos Estados Unidos e,
ou menos em equilíbrio ciclostrópico, com a ocasionalmente, no leste do Canadá. De manei -
pequena distância radial proporcionando uma ra semelhante, no Pacífico Norte ocidental, os
grande aceleração centrípeta (ver p. 146). O ar tufões curvados são um elemento importante
sobe quando o gradiente de pressão não con- do clima do Japão (ver D, neste capítulo) e po-
segue mais forçá -lo a entrar. É possível que as dem ocorrer em qualquer mês. Existe uma fre -
bigornas de cumulonimbus desempenhem um quência média de 12 tufões por ano sobre o sul
papel vital na complexa relação entre as circu - do Japão e áreas marinhas vizinhas.
338 Atmosfera, Tempo e Clima

Para resumir : um ciclone tropical se origi- meses, é associada a 50% mais tempestades
na a partir de um distúrb io inicial, começa a se batizadas, 60% mais furacões e 200% mais
desenvolver formando uma depressão tropical furacões grandes do que a fase leste.
e, depois, uma tempestade tropical . O estágio de 2 A precipitação na África Ocidental durante
tempestade tropical pode persistir por quatro a o ano anterior ao longo do Golfo da Guiné
cinco dias, ao passo que o estágio de ciclone em (agosto a novembro) e no Sahel ocidental
geral dura apenas de dois a três dias (quatro a (agosto a setembro) . A primeira fonte de
cinco dias no Pacífico ocidental) . A principal umidade parece explicar cerca de 40% da
fonte de energia é o calor latente derivado do atividade dos furacões, e a segunda, apenas
vapo r de água condensado e, por essa razão, os 5%. Entre o fmal da década de 1960 e a dé-
furacões são gerados e continuam a adquirir cada de 1980, a seca do Sahel foi associada
força apenas dentro dos confins dos oceanos a uma redução acentuada no número de ci-
quentes. A tempestade tropical de núcleo frio se clones e furacões tropicais atlânticos, prin-
transforma em um furacão de núcleo quente em cipalmente pelos fortes ventos cisalhantes
associação com a liberação de calor latente em nos níveis mais elevados sobre o Atlântico
torres de cumulonimbus, e isso estabelece ou Norte tropical, e a uma redução na propa-
intensifica uma célula anticiclônica na tropos- gação de ondas de leste sobre a África em
fera superior. Desse modo, o fluxo de saída nos agosto e setemb ro.
níveis superiores mantém o fluxo ascendente 3 As previsões do ENSO para o ano seguinte
e para dentro nos níveis inferiores, proporcio- (ver G, neste capítulo). Existe uma correla -
nando uma . geração contínua de energia poten- ção inversa entre a frequênc ia de El Niftos e
cial (do calor latente) e sua transformação em a dos furacões atlânticos .
energia cinética. O núcleo do olho que se forma Estudos recentes sugerem que houve um
pelo ar que desce é um elemento essencial do aumento no número e na proporção de fu-
ciclo de vida. racões de categoria 4-5 nos últimos 30 anos .
A previsão de furacões é uma ciência com- Os maiores aumentos ocorreram no Pacífico
plexa . Estudos recentes sobre as frequências de Norte, nos oceanos Índico e Pacífico sudoeste,
furacões no Atlântico Norte/Caribe sugerem e o menor aumento foi no Oceano Atlântico
que há três fatores principais envolvidos: Norte . Ao mesmo tempo, o número de ciclo-
1 A fase oeste da Oscilação Quase-bianual do nes e dias com ciclones diminuiu em todas as
Atlântico (ou em inglês, QBO). A QBO en- bacias, com exceção do Atlântico Norte . O
volve alterações periódicas nas velocidades aumento relatado na energia, nos números e
e no cisalhamento vertical entre os ventos nas velocidad .es dos ventos dos ciclones tropi-
zonais da troposfera superio r (50 mb) e os cais em certas regiões durante as últimas dé-
ventos da estratosfera inferior (30 mb). O cadas foi atribuído às temperaturas mais altas
começo dessa oscilação pode ser previsto, da superfície do mar . Todavia, outros estudos
com um certo grau de confiança, com qua- consideram que as mudanças nas técnicas de
observação e instrumentação podem dar con-
se um ano de antecedência . A fase leste da
ta dessas alterações .
QBO é associada a ventos fortes de leste na
estratosfera inferior, entre as latitudes de
lOºN e lSºN, que produzem um grande ci-
Outras depressões tropicais
salhamento vertical do vento. Essa fase per- Nem todos os sistemas de baixa pressão nos
siste por 12 a 15 meses e inibe a formação trópicos são da variedade intensa dos ciclones
de furacões. A fase oeste da QBO apresenta tropicais . Existem dois outros tipos importantes
ventos fracos de leste na estratosfera infe- de vórtices ciclônicos . Um é a depressão mon -
rior e um pequeno cisalhamento vertical çônica que afeta a Ásia Meridional durante o
do vento. Essa fase, que dura de 13 a 16 verão . Essa perturbação é um tanto incomum,
CAPÍTULO11 O tempo e o clima tropical 339

pois o fluxo é de oeste nos níveis baixos e de 91 são uma categoria especialmente severa de
leste na troposfera superior (ver Figura 11.27). SCM. Estudos de satélite sobre assinaturas de
Ela é descrita em mais detalhes em C.4, neste topo de nuvens frias (altas) mostram que os sis-
capítulo (pág. 351). temas tropicais em geral se estendem sobre uma
O segundo tipo de sistema costuma ser re- área de 3000-6000 km 2• Eles são comuns sobre
lativame nte fraco perto da superfície, mas bem a América do Sul tropi cal e o continente maríti -
desenvolvido na média troposfera. No Pacífico mo da Indonésia-Malásia e a piscina quente do
Norte oriental e no Oceano índico setentrio - Oceano Pacífico equatorial ocidental adjacente.
nal, essas baixas são chamadas de ciclones sub- Ou tras áreas incluem a Austrália, a Índia e a
tropicais. Algumas se desenvolvem a partir da América Central, em suas respectivas estações
separação, em baixas latitudes, de uma onda de verão. Como resultado dos regimes diurnos
fria nos níveis altos dos ventos de oeste (cf. de atividade convectiva , os sistemas convectivos
Capítulo 9H.4 ). Elas possuem um olho amplo, de mesoescala são mais frequen tes no poente ,
com 150km de raio e poucas nuvens, rodeado em comparação com a aurora, em uma propor -
por um cinturão de nuvens e precipitação com ção de 60% sobre os con tinentes, e 35% ma is
300km de amplitude. No fim do inverno e na frequen tes na aurora do que no poente sobre
primavera, é grande a contribuição de algumas os oceanos . A maioria dos sistemas intensos ( os
dessas tempestades para a pluvios idade das ilhas complexos convectivos de mesoescala) ocor -
havaianas. Esses ciclones são muito persistentes, re sobre os continentes, part icularmente onde
e tendem a ser reabsorvidos por um cavado nos existe abundância de umidade e a jusante de fei-
ventos de oeste em altos níveis. Outros ciclones ções orográficas que favorecem a formação de
subtropicais ocorrem sobre o Mar da Arábia, jatos de baixos níveis.
contribuindo para as chuvas de verão (('mon - Os SCM se dividem em duas categorias:
ções'') no noroeste da Índia. Esses sistemas apre - sem e com linhas de instabilidade. O primeiro
sentam movimento ascendente principalmente tipo contém uma ou mais áreas de precipitação
na troposfera super ior. Seu desenvolvimento de mesoescala. Eles ocorrem durante o dia, por
pode estar ligado à exportação, em níveis mais exemp lo, ao longo da costa de Borneo no in -
elevados, de vorticidade ciclônica a partir da verno, onde iniciam por convergência de uma
baixa térmica persistente sobre a Aráb ia. brisa terral noturna com o fluxo monçônico de
Um sistema climático infrequen te e dife- nordeste (Figura 11.11). Pela manhã (8:00 hora
rente , conhecido como temporal,ocorre ao lon - local ), células de cumulonimbus causam preci-
go das costas do Pacífico da América Central pitação. As células são ligadas por um escudo de
no outono e começo do verão. Sua principal ca- nuvens superior, que persiste quando a convec-
racterística é uma camada ampla de altostratus, ção cessa ao redor do meio -dia, à medida que
alimentada por células convectivas individua is, um sistema de brisa marinha substitui o esco-
que geram chuvas moderadas prolongadas . Es- amento convergente noturno. Estudos recentes
ses sistemas originam -se na ZCIT, sobre o Oce - sobre a piscina quente do Pacífico equatorial
ocidental indicam que sistemas de nuvens con -
ano Pacífico Norte, e são mantidos por conver-
vectivos explicam <50% do tot al em grandes
gência troposférica de grande escala, convecção
áreas de precipitação (grade de 240 x 240 km) ,
localizada e ascensão orográfica.
enquanto a precipitação estra tiforme é mais di-
fusa e gera mais d.a metade da precipitação total.
3 Agrupamentos de nuvens
Os sistemas com linhas de instabilidade
tropicais
(Figura 11.12) formam a borda frontal de uma
Os sistemas convectivos de mesoescala (SCM ) linha de células de cumulonimbus. A linha de
são comuns em latitudes tropicais e subtropi - instabilidade e a frente de rajadas avançam den -
cais. Os complexos convectivos de mesoesca- tro do fluxo de baixo nível e com a formação
la de latitudes médias discutidos no Capítulo de novas células, que amadurecem e se dissipam
340 Atmosfera, Tempoe Clima

Escoamento
Células de sudeste Meia- noite
convectivas em altos
níveis
12
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Monções
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Mar do Sul da China Borneo

Sistema de nuvens maduro 8:00 horas

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Sistema de nuvens em dissipação
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NW SE

o 100 200 300 400 500 600 700 800 900 km

Figura 11.11 Mode lo de desenvolv imento de um ag rupamento de nuve ns no cos ta norte de Borneo ; setas
grandes indicam a circulação p rinc ipal; se tas pe quenos, o c ircu la ção loca l; as linhas tra cejadas, as zo na s de
ch uva; os as teriscos , os cr ista is de gelo; e os c írcu los , a chuv a de derre timen to .
Fonte : Hou ze et oi. (1981 ).

finalmente atrás da linha principal . O processo rística importante do clima no semestre de ve-
é análogo ao de linhas de instabilidade em lati - rã.o, quando o ar monçônico de baixo nível de
tudes médias (ver Figura 9.28), mas as células sudoeste é encoberto por ar seco e quente do
tropicais são mais fracas . Os sistemas de linhas Saara. O contraste meridional entre as massas
de ins t abilidade, conhec idos como sumatras , de ar ajuda a formar o Jato de Leste Africano
atravessam a Malásia vindos do oeste durante (JLA) na troposfera inferior (ver Figura 11.38).
a estação de monções de sudoeste , trazendo As linhas de instab ilidade convectivas são
chuvas fortes e trovões frequentes. Eles parecem transportadas ao longo da África Ocidental por
iniciar pelos efeitos de convergência das brisas ondas de leste desviadas pelo JLA a aproxima -
ter restres nos Estre itos de Malaca. damente 600 mb . As ondas retornam com um
Na África Ocidental , sistemas conhecidos período de quatro a oito dias durante a estação
como linhas de instabilidade são uma caracte - úmida (maio a outubro ). As linhas de instabili -
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 341

o 100 200 km
Elemento \.-.,..,-- ,/ Elemento antigo Limite das nuvens
16

'E'1 2
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Frente _J 4 ..
de rajadas Linha de Região da bigoma
instabilid ade

____ _. Movimentos em escala convec tiva D Precipitação forte


na linha de instabi lidad e
e ·· ·· · :>Correntes descendentes de mesoescala [IG]J
; .:: :. Precipitação mais fraca
a:-
_-_-_-:_-;',,
Correntes asce.ndentes de mesoescala ; :: '

f(gura 11.12 Seção t ronsversol d e um agr up a men to d e nuvens tropica l d e um o linho d e ins tabili d ade, mos-
tra ndo loca is de prec ipi tação e derret imen to d e partículas de g elo . A s setas tracejadas mostr a m o movimento do
or gero d o pel a convecção nas linhas de insta bilida d e, e as selas la rg o s, a circulação de mesoesca lo.
Fonte: Houze; in Houze ond Hob bs (1982) .

dade tendem a se formar quando existe diver - ra 11.13, para Kortright (Freetown) em Serra
gência na t roposfera super ior, ao norte do Jato Leoa, ilustra as quantidades diárias de chuva em
de Leste Tropical (ver também Figura 11.40). 1960-1961 associadas a linhas de instabilidade a
Essas têm várias centenas de quilôme tros de 8ºN . Neste caso, as chuvas monçônicas formam
compr imen to e viajam pa ra oes te a cerca de 50 a maior p arte do tot al, mas sua contribuição di-
km h- 1, com pancadas e trovoadas antes de se minui mais ao norte.
dissiparem sobre as áreas de água fria do Atlân-
tico No rte . As chuvas de primave ra e outono
C AS MONÇÕES DA ÁSIA
na África Ociden t al derivam em grande pa rte
MERIDIONAL
dessas perturbações . Em anos úmidos , quando
o JLA está mais ao norte, a estação de ondas é O nome monções deriva da pa lavra árabe
prolongada, e as ondas são ma is fortes. A Figu - mausim, que significa estação, referindo -se às
"T""---......--- .........
--.....----.---....----,----,----,----,----,----,----r-25
18,2cm 5,5 1O 0,0 0,0 0,76 9,9 14,9 587• 113,0 90 ,0 458
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l Seco :
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Pequena
.
Linhas de
instabilidade : mas úmído : Harmattan : mas úmído : de instabilidade estação seca instabilidade
Chwa estável (monçõníca)

f(gura 11.13 Pluviosi dade diória em Kor1righ t (Freetown), Serra leoa, o utubro de 1960 a setembro de 196 1.
São a presen tados os lotais mensais no por 1e superior do grófico (cm).
Fonte: Gregory (1965).
342 Atm osfera, Tempo e Clim a

inversões sazonais de grande escala no regi - do quadrante predominante, é óbvio que existe
me de ventos . A inversão sazonal do vento na uma variedade de mecanismos desconectados
Ásia é notável por sua vasta extensão e por sua que podem levar a mudanças sazonais no s ven -
influência além de latitudes trop icais (Figura tos . Também não é possível estabelecer uma
11.14). Todavia, essas mudanças sazonais dos relação simples entre a sazonalidade da pluvio -
ventos superficiais ocorrem em muitas regiões sidade (Figura 11.15) e as mudanças sazonais
que não são tradicionalmente consideradas nos ventos. Áreas tradicional .mente designadas
monçônicas. Embora haja uma sobreposição como «monçônicas ' 1 incluem algumas das re-
entre essas regiões tradicionais e as que apre - giões tropicais e quase-tropicais que apresen-
sentam uma frequência acima de 60% de ventos tam uma máxima de pluviosidade no verão e

- -
,....____

o,•

60% ~
40% 1--4
e•

Figura 11.14 Regiões com uma mudança sazona l no vento superf icial de pelo menos 120º, mostra ndo a fre-
quência do quadran te predominante .
Fo nt e: Khromov. (1978 ).

o• 60 9 120oW

20- N

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• PlN.mld:ldo r,o IINOf'r'O(fflruc..)

D oe- 20-S

Figura 11.15 Distr ibu ição an ual da pluviosidade trop ical. As áreas em verde, azul e lilós se referem a per iodos
1
em que ocorrem mais de 75% da pluviosidade média anual. Áreas com menos de 250 mm a- são classi fi cadas
como desertos (em amare lo), e as óreas em azu l c loro são aquelas que necessi tam de pe lo menos sete meses
para acum ular 75% do p luviosidade an ual e, ass im, não apresen tam uma máxima sazo na l.
Fo nt e : Ramage (1971}. Com p ermissão de Acodem ic Press .
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima trop ical 343

a maioria das que têm uma máxima dupla de Ju n-ago (ativo


pluviosidade. Está claro que se faz necessária
uma combinação de critérios para uma defini -
ção adequada de áreas de monções.
No verão , o Cavado Equatorial e os antici - 40"S 20"S Eq 20ºN 40 ºN
clones sub tropicais em t oda parte se deslocam Jun-ago Ontervalo)
para o norte , em resposta à distribuição do
aquecimento solar da Terra e, na Asia Meridio-
nal, esse movimento é aumentado pelos efeitos
da massa con tinental. Todavia , a simpl icidade
40' S 20•s Eq 20°N 40 ºN
atraente da explicação tradicional, que imagina
Set
uma "brisa marinha » monçônica direcionada
para uma área de baixa pressão térmica sobre
o continente no verão, é inadequada como base
para entender o funcionamento do sistema . O
regime monçônico asiático é consequência da <:O"s 2o•s Eq 20°N 40°N

interação de fatores plane t ários e reg ionais, Dez-fev


tanto na superfície quanto na troposfera supe-
rior . É conveniente analisar cada est ação por
vez; a Figura 11.16 mos tra a circulação meri-
dional generalizada a 90ºE sobre a índia e o <IO"S 20"S Eq 20°N 40 ºN
Oceano índico no inverno ( dezembro a feve- Abril
reiro), pr imavera (abril ) e outono (set embro),
junto com aquelas associadas a per íodos ativos
Ê15
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-
-10
(1)

e intervalos durante as monç ões de verão, de -g 5


junho a agosto . ~ oL~~-~ ~ ~,.,~
,.:t::·t,-.t,-~ =~~~
40' S 20"S Eq 20ºN 40 ºN

1 Inverno
f igura 11.16 Modelo da c irculação mer id io na l so-
' ia a 90ºE em cinco per íodos caracter íst icos
bre a lnd
Perto da superfície, esta é a estação das "mon-
do a no : monções d e inverno (dezembro a fevereiro);
ções de inverno ", que sopram no sentido do
. , . aproximação da estação dos mo nções (abr il); as mon-
contrnente para o oceano , mas, em n1ve1s ções a ti vos de verão (jun h o a agosto ); um i ntervo lo
mais elevados, predomina o escoamento de nas mo nções de verão (ju nho o agosto ); e um rec uo
oeste. Isso reflete a dis tribuição hemisférica das monções de verão (setembro). Correntes de ja to
da pressão. Uma camada rasa de ar frio e alta de leste (JE) e de oeste (JW ) são mostradas em ta -
pressão é centrada sobre o inter ior continental, manhos corresponden tes à sua int ens idade ; os setas
marcam os posições do Sol no zêni te (pre to); são ind i-
mas já desaparece mesmo a 700 mb (ver Figura
cadas zo nas de pre cip itação móxima.
7.4), onde há um cavado sobre a Ásia Or iental
Fonte : Web ster (19870).
e uma circulação zonal sobre o continen te. Os
ventos de oeste superiores se dividem em duas
correntes ao norte e sul do elevado Planalto Ti- uma fonte de calor para a atmosfera em todos
betano (Qinghai -Xizang ) (Figura 11.17), para os meses ). Abaixo de 600 mb, o sumidouro de
se reunirem novamente na cost a leste da Chi - calor troposférico gera um anticiclone raso e
na (Figura 11.18). O planalto , que ultrapassa os frio no planalto, que está mais desenvolvido em
4000 m sobre uma vasta área, é uma fonte fria dezembro e janeiro . As duas correntes de jato
troposférica no inverno, particularmen te sobre foram atr ibuídas ao efeito perturbador da bar-
sua porção ocidental, embora a intensidade des- reira topogr áfica sobre o fluxo de ar, mas isso
sa fonte depe n da da extensão e duração da co- se limita a altitudes abaixo de 4km. De fato, o
bertura de neve (o solo livre de neve atua como jato norte é bas tante móvel e pode estar loca.-
344 Atmosfera, Tempo e Clim a

20 r-ir---r--r~::--:::::::====:::::::::----~-r-------:r----:::::::==-------;: cAl
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10ºN 20ºN 30ºN 60º N 70ºN 80ºN 90ºN
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10º -- Oº ----- -- -------
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10°
-----
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1OºN 20°N 30°N 40°N 50°N 60°N 70°N 80°N 90°N

Ventos
D de leste
Tropopausa lsótacas (km h- 1) --- lsotermas (ºC)

Figura 11.17 Distribu ição da veloci dade do ven to (km h- 1) e do temperatura (ºC) ao longo do meridiano de
90ºE paro jane iro {A) e ju lho {B), mostrando as correntes de jato (J,.1) e a t ropopouso. Observe os intervalos
var ióveis nas esca la s de alt itu de e la titude.
Fonte : Pogosyon e Uga rovo {1959) . Me feor o /og iyo G idrologiya .

lizado longe do Planalto Tibe tano. Também h- 1) a 200 mb, comparado com 20-25 m s- 1 (72-
são observadas duas correntes mais a oeste, 90 km h- 1) no ramo norte. Quando os dois se
onde não existe obstáculo ao escoamento. O unem sobre o norte da China e o sul do Japão,
ramo sobre a Índia setentrional corresponde a velocidade média ultrapassa os 66 m s- i (238
a um forte gradien te té rmico latitudinal (de kmh - 1) (Figura 11.19).
novembro a abril ), e é provável que esse fator, O ar que desce abaixo dessa corrente supe-
combinado com o efeito térmico da barreira ao rior de oeste gera ventos secos de norte a partir
norte, seja responsável pela ancoragem do jato do ciclone subtropical sobre o noroes te da Ín-
mer idional . Esse ramo é o mais forte, com uma dia e o Paquis tão. A direção do vento superfi-
1
velocidade média de mais de 40 m s- (144 km cial é de noroeste sobre a maior parte da Índia
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 345

.--- 6~0
_º ___ ...,
7,...0
º____ 8_0_º ___ 9_0º___ 1_0,...0
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º____ 1_30r-
º---,-- 1_4""0
ºE-=--~
,... 40ºN
, ,
1 852 km

40ºNI' -----

30º

30º

- 20°

Ventosde oeste
20º

a
10°

10°

80° 90° 100° 110° 120° 130°


,
f(gura 11.18 Ca racterístic o s d a circulaçõo do ar sobre o su l e leste do Asio no inverno. As linhos marrons
ind icam e sco a mento o oprox.imadamen te 3000 m, e os linhas verde s, o ce rco de 600 m. Os nom es se referem
aos sistemas de ventos em níveis super io res.
Fonte : Th ompson (195 1), Flohn (1968 ), Frost e Stephe nson (1965 ), e o utros.

60 80 100 120 140 E


60º 80º 100· 120" 140ºE SOºN.-- ----.---------------,
so·N , .... (B) Julho .
(A) Jane iro

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', 74 -- .

40º
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74 '
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30"

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ai. Linhas de cor rentes - - - - lsótacas (km h~')
60" 80º 100· 120 · 140ºE

Figura 11.19 lin hos de corrente méd ias o 200 mb e isótacas em km h- 1 sobre o Sudeste Asiótico para janeiro
(A) e julho (B), com base em observações fe itas com av iões e dados de son dagem .
fonte : Sod ler {1975b ). Cortes ia de Dr J. C. Sod ler, Un ivers ily of Howa ii.
346 Atmos fera, Tempo e Clima

meridional, tornando-se de nordeste sobre confluência de jatos a aproximadamente 30ºN


Mianmar e Bangladesh e de leste sobre a índia I05ºE sobre a China, além da área de subsi -
peninsular. Igualmente importante é o desvio dência no sotavento imediato do Tibete (ver
de depressões de inverno sobre o norte da índia Figura 11.18). É significativo que o eixo médio
pelo jato superior. As baixas, que não costwnam da corrente de jato de inverno sobre a China
ser frontais, parecem penetrar no Oriente Mé- apresente uma correlação com a distribuição
dio oriundas do Mediterrâneo, sendo fontes im - da pluviosidade no inverno (Figu ra 11.2 1).
portantes de pluviosidade para o norte da Índia Outras depressões que afetam as regiões cen -
e do Paquistão (p. ex., Kalat: Figura 11.20), em tral e norte da China viajam dentro dos ventos
especial se ocorre quando a evaporação está no de oeste ao norte do Tibete ou iniciam com a
mínimo. O cavado equatorial de convergência e liberação de ar cP fresco. Na porção traseira
precipitação se localiza entre o equador e a lati- dessas depressões, existem invasões de ar mui -
tude de lSºS (ver Figura 11.16). to frio (p. ex., as nevascas buran da Mongólia
Algumas dessas depressões de oeste conti - e da Manchúria). O efeito dessas ondas frias,
nuam no sentido leste, retornando na zona de comparáveis aos ventos de norte nas regiões

M inicoy (1575 mm) Madras {1245 mm)


8ºN, 73ºE 13ºN, 85 ºE
mm mm
300 300

200 200

100 100

o
JF MAMJ J A SOND JFMAMJJASOND

mm Mombay mm Ch ittagong
700 700
(2083 mm) (2870 mm)
19º N, 73ºE 22ºN, 92 ºE
600 600

500 500

400 400

300 300

200 200

100 100
o ..li
- __ _____ ...,._ ... .

o-
JFMAMJJASOND J FMAM J J A SOND

mm Kalat (229 mm ) mm Bikane r (305 mm)


200 200
29ºN, 67 º E 28 º N, 73 ºE

100 100

o
JFMAMJJASOND o-----
JFMAMJJASOND

Figura 11.20 Pluvios idade mensa l média (mm) em seis estações no região indiana. O total anual é fornecido
após o nome da estação.
fonle: 'CLIMAT' normais of the World Meteoro logicol Orgo nizotion entre 1931- 1960 .
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 347

100° 110° 120° 130~ 140º E

-- Eixo da corrente de jat o 50


-- Veloci dad e d o vento (m s-1)
60

70

70
30
60

50
300 -

,Q
40

30

200 -

f[gura 11.21 O eix o mé d io da corren te d e ja to d e inverno o 12 km so b re o Extremo Orien te e a médio de


precipi ta ção de inverno sobre o Chi no (cm).
Fonte: Mo h ri e Yeh; in Trewortha (1958) . Com perm issão de Un ivers ity of Wiscons in Press.

centra l e sul dos Estados Unidos, é reduzir Em abril, observa -se convecção sobre a Ín -
muito as temperaturas médias (Figura 11.22). dia, onde a circulação é dominada por ar subsi -
As t emperaturas médias de inverno no sul da den te oriundo do cavado convect ivo da ZCIT,
China , uma região menos protegida , são con - que está centrado sobre o equador e segue o
siderave lmente menores do que em latitudes Sol no zênite no sentido norte , sobre o Oceano
equivalentes na índia; por exemp lo, as tem- Índico quente (ver Figur a 11.16). O tempo so-
peraturas em Ca lcutá e Hong Kong (ambas bre a Índia setentrional se torna quente , seco e
a aproximadamente 22,SºN) são 19ºC e 16ºC tempestuoso em resposta ao aumento no aqueci -
em janeiro e 22ºC e l SºC em fevereiro , respec - mento pela radiação solar. As temperaturas mé-
tivamente . dias em Nova Délhi aumentam de 23ºC em mar -
ço para 33ºC em maio. A célula de baixa pressão
2 Primavera térmica (ver Capítulo 9H .2) agora atinge a sua
intensidade máxima, mas , embora se formem
A chave para a mudança durante essa estação
depressões na costa em direção ao continente ,
transicional é encontrada, mais uma vez , no
ainda falta um mês para o começo das monções ,
padrão de escoamen to em níveis elevados . Em
e outros mecanismos geram apenas precipitação
março, os ventos de oeste superiores começam
limitada. Existe um pouco de precip itação no
sua migração sa.zonal para o norte, mas, embo -
norte, com as "perturbações de oeste': perto do
ra o jato de norte se intensifique e comece a se
delta do Ganges, onde o influxo em baixo nível
estender ao longo da região central da China e
de ar quente e úmido é superado por ar seco e
para o Japão, o ramo meridional permanece po -
potencialmente frio, desencadeando linhas de
sicionado ao sul do Tibete , ainda que enfraque -
in stabilidade conhecidas como nor'westers. No
cendo em intensidade.
noroeste , onde existe menos umidade disponí -
348 Atm osfera, Tempo e Clima

120· 140° 160ºE 100• 120• 140° 160'°E


\

Inverno Primavera

16
40 °N ,

20· 20•
1

100'° 120'° 140° 160ºE 100· 120· 140" 160"'E


1

Verão Outono

10 ________ ___
16
40 °N 40 °N " ____

12

6 '
20· , 20° ,

--- > Rotas e freq uência de depress ões - -- > Rotas de ondas fr ias

Figura 11.22 Rotas e frequênc ia s de d epressões sazonais so b re a China e o Japão, com as ro tas típicas d e
on das frias de inverno ,
Fonte : Adaptado de vá rios fontes, incluindo Too, (1984 ), Zha ng e Lin (1985), Sheng et ai. {1986 ) e Do mrõs e Peng (1988 ). Com
pe rmissão de Springe r Sciences & Business Med ia .

vel, a convecção gera rajadas e tempestades de do de origem orográfica no s vento s superiores


poeira violentas, denominadas andhis . O meca - de oeste, localizado a aproximadamente 85-90°
nismo dessas tempe stades não está plenamente E em maio . A convergência em baixos níve is
compreendido, embora a divergência em níveis de ar marítimo da Baía de Bengala, combinada
ma is elevados nas ondas da corrente de jato com a divergência em níveis elevados à frente do
subtropical de oeste pareça ser essencial . O co - cavado de 300 mb, gera rajadas de trovões . Os
meço precoce das chuvas de verão em Bengala, distúrbios tropica is na Baía de Bengala são outra
Bangladesh, Assam e Mianmar (p. ex., Chitta - fonte dessas chuvas precoces . A chuva também
gong: Figura 11.20) é favorec ido por um cava - cai durante essa estação no Sri Lanka e no sul da
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 349

fndia (p. ex., Minicoy : Figura 11.20) em resposta ocorre até que a circulação superior tenha muda-
ao movimento do Cavado Equatorial para norte . do para o seu padrão de verão (ver Figuras 11.19
e 11.23) . O aumento na convecção con ti nental
3 Começo do verão supera a sub sidência de primavera, e o escoa-
De modo geral, durante a última semana de mento superior de retorno para o sul é desviado
maio, o ramo meridional do jato superior co- pela força de Cor iolis, gerando um forte jato de
meça a se desfazer, tornando -se intermitente leste a aproximadamente 10-l SºN e um jato de
e mudando gradualmente para o norte sobre o oeste ao sul do equador (ver Figura 11.16). Um a
Planalto Tibetano . Todavia , a 500 mb e abaixo teoria sugere que isso ocorre em junho, quando a
disso, o planalto exerce um efeito bloqueador so- depressão entre as células do antic iclone tropical
bre o escoamento, e o eixo do jato salta do lado do Pacífico oeste e do Mar da Arábia no nível de
sul para o norte do planalto de maio a junho. 300mb é deslocada para oeste, de uma po sição
Sobre a fndia , o Cavado Equatoria l desv ia-se a aproximadamen te lSºN 95ºE em maio rumo à
para o norte a cada enfraquec imento dos ventos fndia central . O movimento das monções para
superiores de oeste , ao sul do Tibete, mas a de- noroe ste (ver Figura 11.24) está aparentemente
flagração final das monções , com a chegada de relacio nado com a extensão do s ventos de leste
ventos úmidos e de baixos níveis de oes te, não da tr oposfera superior sobre a Índia .

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---, 40ºN

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40ºN
'1tos de oeste

30°

30 °

20º

20 °

10º

leste equatona ,s


1 1852 km 1 o
80º 90º 100° 110° 120° 130º

'
Figura 11.23 A c ircu lação do ar caracter ística sobre o su l e leste da Asia no verão . As linhos marron ind icam
escoamento a aproximadamente 6000 m, e os linhas verde, a aproximadamente 600 m . Observe que o escoa-
me nto em ba ixo nível é bastante uniforme entre 600 e 3000 m.
Fonte: Thompson (1951), Flohn (1968 ), Frost e Stephe nson (1965), e outros.
350 Atmos fera, Tempo e Clima

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Planalt o Tibetano

20°

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10º

O 1000
Oº -
km
o
80° 90° 100° 11Oº 120° 130°

' ia.
Figura 11.24 Data média de início das monções de verão sobre o sul e les te da As
Fonte : Tao Shi-yan e Chen l ongxun. ln Oomrõs e Peng (1988 ).

A organização do escoamento superior tem sendo quase tudo transferido para a atmosfera
amplos efeitos nas regiões sul e leste da Ásia, via calor sensível. Isso resul ta na formação de
estando diretamente relacionada com as chuvas uma baixa rasa de calor sobre o planalto, so-
de Maiyu da China (que atingem um pico por breposta, a aproximadamente 450 mb, por um
volta de 10-15 de junho), o começo das mon- anticiclone quente (ver Figu ra 7.1). A camada
ções do sudoeste indiano e o recuo para nor- limite atmosférica do planalto agora se estende
te dos ventos superiores de oeste sobre todo o por uma área por volta de duas vezes a super-
Oriente Médio . fície do planalto em si. O escoamento de leste
No entanto, devemos enfatizar que ainda sobre o lado sul do anticiclone superior, sem
não se sabe até onde essas mudanças são cau- dúvida, auxilia no desvio do jato subtropical de
sadas por eventos que ocorrem em níveis ele- oeste para norte. Ao mesmo tempo, a atividade
vados ou, de fato, se o começo das monçõe s de- convectiva pré -monçônica sobre a borda su-
sencadeia um reajuste na circulação nos níveis deste do planalto proporciona mais uma fonte
superiores. A presença do Planalto Tibetano de calor, por liberação de calor latente, para o
certamente tem importância, mesmo que não anticiclone nos níveis superiores . As inversões
exista uma barreira significativa ao escoamen- dos ventos sazonais sobre e ao redor do Planalto
to superior. A superfície do planalto é bastante Tibetano levaram os meteorologistas chineses a
aquecida na primavera e no começo do verão distinguir um sistema de "Monções do Planal-
(Rn é aproximadamente 180 W m - 2 em maio), to", distinto do que cobre a Índia.
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 351

4 Verão turão de chuvas de verão no lado direito (i.e.,


norte) do eixo, a montante da máxima de vento,
Em meados de julho, o ar monçônico cobre a
e a jusante do lado esquerdo, exceto em áreas
maior parte do sul e sudeste da Ásia (ver Fi-
ond .e predomina o efeito orográfico (ver Figu-
gur a 11.23 ) e, na índia, o Cavado Equatorial
ra 11.25) . A máxima média do jato se localiza a
se localiza a aproximadamente 25ºN . A norte
aproximadamente lSºN 50-SOºE.
do Planalto Tibetano, há uma corrente fraca
de oeste nos níveis superiores , com uma célula A corrente monçônica não propicia um pa-
drão meteorológico simples sobre a índia , ape-
(subtropical) de alta pressão sobre o planalto.
As monções de sudoeste na Ásia Meridional sar do fato de que grande parte do país recebe
são sobrepostas por fortes ventos de leste (ver 80% ou mais de sua precipitação anual durante
Figura 11.19), com um jato acentuado a 150 mb a estação das monções (Figura 11.26). No noro-
(por volta de 15 km ), que se estende para oeste este , uma fina cunha de ar monçônico é cober -
ao longo da Arábia Saudita e da África (Figu - ta por ar continental descendente . A inversão
ra 11.25). Não foram observados jatos de leste apresenta convecção e, consequentemente , pou-
sobre o Atlântico Tropical ou o Pacífico . O jato ca ou nenhuma chuva cai nos meses de verão no
está relacionado com um súbito gradiente late - noroeste árido do subcontinente (p. ex., Bikaner
ral na temperatura, com o ar se tornando pro- e Kalat: Figura 11.20). Isso é semelhante à zona
gressivamente mais frio em direção ao sul nos do Sahel na África Ocidental , discutida a seguir.
, . .
Na região do Delta e ao longo do vale do
n1ve1ssuperiores .
Uma característica importante do jato tro- Ganges da Baía de Bengala, os principais meca-
pical de leste é a localização do principal cin- nismos climáticos no verão são as "depressões

45°N

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figura 11.25 A co rrente de ja to trop ical de leste. (A): localização das correntes de jato de leste a 200 mb em
25 de jul ho de 1955. As linhos de corren tes são mostrados com linhas con tínuos, e os isótocas (velocidade do
1
ven to), com linh as tracejadas. As velocidades do ve nto são apresen tadas em km h- (componentes de oeste po-
sitivas, de leste nega tivas) . (BJ: pluv iosidade média em jul ho (óreas em az ul recebem mais de 25 cm ) em relação
à local ização das corren tes de ja to de leste.
Fonte : Kotesworo m {1958 ). Co m pe rmissão de Tellus.
352 Atmosfera, Tempo e Clima

monçônicas" (Figura 11.27), que geralmente se monçônicas também tendem a ocorre r nas cos-
movem para oeste ou noroeste pela fndia , mo- t as e montanhas a barlavento da fndia, Mian-
vidas pelos ventos de leste superiores (Figura mar e Malásia . Sem essas perturbações, a distri -
11.28), em julho e agosto . Em média, elas ocor- buição das chuvas monçônicas seria controlada
rem por volta de duas vezes por mês, aparente - em um grau muito maior pela orografia .
mente quando um cavado superior se sobrepõe
a uma perturbação superficial na Baía de Ben -
gala. As depressões monçônicas têm núcleos
20ºN ~ C\
frios, em geral não têm frentes e apresentam •fi:>'<:r
um diâmetro de 1000-1250 km, com uma cir- ~#
culação ciclônica de cerca de 8 km, e um ciclo 10·
de vida típico de dois a cinco dias. Elas geram
chuvas diárias de 120-200 mm, que ocorrem
p rincipalmente como chuvas convectivas no
--- 120ºE
(B) Ao n ível do mar
quadrante sudoeste da depressão . As principais
áreas de chuvas ficam ao sul do Cavado Equato- 20ºN
rial ou Monçônico (Figura 11.29), no quadrante
sudoeste das depressões monçônicas , parecen-
10°
do uma depressão de latitude média invertida.
A Figura 11.30 mostra a extensão e magnitu-
de de uma depressão monçônica severa . Essas 100· 120ªE
tempestades ocorrem principalmente em duas
zonas : (1) no vale do Ganges, a leste de 76ºE; Figura 11.27 Depressões monç6nicas às 12:00
(2) em um cinturão ao longo da. Índ ia central, GMT, 4 de julho de 1957. (A): mos tra a altitude (em
dezenas de me tros) da sup e rfície de 500 mb; (B): is6-
a aproximadamente 21ºN, em sua porção mais
baros ao níve l do mor. A linho tracejado represen to
larga cobr indo 6º de latitude. As depressões o Cavado Equatorial, e os áreas de prec ipitação são
destacados em azul.
Fonte: Mod ificado do IGY cho rts oí lhe Oeulscher Wetterdiensl.

70° 80° 90 ºE
30°N

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Figura 11.26 Contribuição perce ntua l das chuvas Figura 11.28 A rota normal de dep ressões mon-
monçõnicas {junho a setembro) para o total anual. çônicos, com uma distr ibu ição de pressão típic a de
Fonte: Roo e Romamoor t hy, in lndian Meteoro log i cal De- depressões (mb).
part ment (1960); e Anonthokr ishnon e Rojogopa locha ri, in Fonte : Dos (1987). Copyright@ 1987. Reproduced by permis -
Hutchings (1964). sion oí John Wiley & Sons, 1nc .
CAPÍTULO 11 O tempo e o clim a tropical 353

30ºN -

Figura 11.29 Localização da Depressão Mon-


200 - çônica em sua pos ição normal duran te uma fase
ativo de monções de verão (linha contínua) e duran-
,
te intervalos nas monções (linha tracejad o).* Areos
1-4 indic am quatro óreas sucessivas de chuva for te
diór ,ia (> 50 mm/dia) durante o período de 7-1 O de
julho de 1973 6 medida que uma depressão mon-
çônico avançava para oeste oo longo do vale do
100 -
Ganges. As óreas de chuva mais fraca foram muito
mais amplas.
Fonte: ª Das (1987). Copyrig ht @ 1987. Reproduced by
permission of Jo h n Wiley & Son s, lnc.

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lndia

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º

D Áreas acima de 600 m •Nagpur o km 50


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78º 79• ao· 81° 82ªE 21
º
2
Figura 11.30 Chuva (mm) produzido em três dias sobre uma óreo de 50.000 km do região central da Índia, a
nordeste de Nagpu r, por uma depressão monçônico severo que avançava poro o oeste, durante setembro de 1926.
Fonte: Dho r e Nondo rgi (1993) . Copyright @ Joh n Wiley & Sons Ltd . Reproduzido com permissão .
354 Atm osfera, Tempo e Clima

Uma parte crucial do escoamento monçô - ta, com exceção de uma camada úmida baixa
nico no sentido sudoeste ocorre na forma de perto da base . Todavia, seguindo o escoamento
uma corrente de jato de 15-45 m s- i , ao nível de em direção à Índia, há uma forte interação de
apenas 1000- 1500 m . Esse jato , mais forte du - tempera tura e umidade entre a super fície oceâ-
rante os períodos ativos das monções indianas , nica e o jato de baixo nível. Assim , a convecção
flui no sentido noroeste a part ir de Madagascar profunda se acumula, liberando instabilidade
(Figura 11.31) e cruza o equador do sul para o convectiva, em especial quando o escoamento
norte sobre a África Oriental , onde seu núcleo diminui e converge perto da costa oeste da Ín-
costuma ser marcado por uma faixa de nuvens dia e é forçado a subir sobre os Ghats Oc iden-
e onde pode trazer chuvas locais excessivas. O tais. Uma porção desse escoamen to monçônico
jato é deslocado para norte e se intens ifica de de sudoeste é desviada pelos Ghats Ocidentais
fevereiro a julho; em maio , ele se comprime para formar vórtices de 100 km de diâmetro ao
novamente con tra o planalto da Eti ópia, acele- longo da cos ta, que duram dois a três dias e são
ra ainda mais e é desviado para leste ao longo capazes de trazer 100 mm de chuva em 24 ho -
do Mar da Arábia, em direção à costa oeste da ras ao longo do cinturão costeiro ocidental da
península indiana. Esse jato de baixo nível, pe- península. Em Mangalore (13ºN), há uma mé-
culiar ao cinturão dos ventos Alísios, flui em dia de 25 dias de chuva por mês em junho , 28
direção ao mar a partir do Chifre da África, em julho e 25 em agosto. As médias mensais de
trazendo águas frias para a superfície e con - pluvios idade são 980, 1060 e 580 mm, respec -
tribuindo para uma inversão térmica que tam - tivamen t e, representando 75% do total anual.
bém é produzida pelo ar seco nos níveis mais A sotavento dos Gha ts, as quantidades são bas -
elevados , oriundo da Arábia e África Orien t al, tante reduzidas e existem áreas semiáridas que
e por subs idência devido à convergência dos recebem menos de 640 mm por ano.
ventos de leste no nível su.perior. O escoamen to No sul da índia, excluindo o sudeste, exis -
do sudoeste sobre o Oceano Índico é relativa- te uma tendência acen tuada de menos chuva
mente seco perto do equador e perto da. cos - quando o Cavado Equator ial está mais ao norte .

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Figura 11.31 Posições mensais médias (AJ e velocidade média em julho (m s_,) (B) do corrente de jato de ba ixo
I
nível (1 km) da Somólia sobre o Oceano Indico.
fonle: Findloter (1971 ). Com permissão do Controller of He r Mojesty's Stotionery O ffice.
CAPÍTULO 11 O tempo e o clim a trop ical 355

A Figura 11.20 mostra uma máxima em Mi - Oceano índico . O outro escoamento super ior
nic.oy em junho, com um pico secundário em no sentido externo e para o norte alimenta o
outubro, à medida que o Cavado Equatorial e jato mais fraco de oeste que ocorre ali. A ati-
os distúrbios assoc iados a ele se afastam para o vidade convectiva avança para leste, do Oce-
sul. Esse duplo pico ocorre em grande parte do ano Índico para o Pacífico oriental mais frio ,
interior da lndia peninsular ao sul de aproxima- com uma periodicidade irregular (em média ,
damente 20ºN, e no oeste do Sri Lanka, embora 40-50 dias para ondas fortes; Nota 1), encon -
o outono seja o período mais úmido . trando sua expressão máxima no nível de 850
De ma io a setembro, existe um pulso va- mb e claramente conectada com a circulação de
riável alternando entre períodos ativos e in - Walker. Após a passagem de uma onda convec -
tervalos no escoamento das monções de verão tiva ativa, existe um intervalo mais estável nas
(ver Figura, 11.16), que, particularmente em monções de verão quando a ZCIT muda pa ra o
momentos de expressão máxima (p. ex., 1971), sul. O jato de leste agora diminui, e o ar descen-
gera chuvas periódicas (Figura 11.32). Durante den te é forçado a subir pelo Himalaia, ao longo
períodos ativos, a Dep ressão Monçônica con - de um cavado localizado acima dos contrafor-
vectiva se localiza em uma posição ao no rte, tes das montanhas (ver Figura 11.16), que subs-
trazendo chuvas fortes para as regiões norte titui a Depressão Monsônica durante períodos
e central da Índia e a costa oeste (ver Figura de intervalo . Essa circulação traz chuva para os
11.16). Consequentemente, existe um forte contrafortes do Himalaia e o vale do Brahma -
fluxo no sentido externo nos níveis super iores putra, em um momento de pluviosidade baixa
para o sul, que intensifica o jato de leste a nor - em outras partes . O desvio da ZCIT para o sul
te do equador e o jato de oeste ao sul , sob re o do subcontinente é associado a um movimento

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Maio 1 Junho 1 Julho Agosto 1 Setembro

,
Figura 11.32 Pluviosidade di6rio média (mm) ao longo do costa oes te da lndio du rante o período de 16 de
ma io a 30 de setembro de 197 1, mostrando uma deflagração acentuado dos monções, seguida por pe ríodos ati-
vos e interva los per i6dicos no prec ipitação. Nem todos os anos apresen tam essas característ icas de fo rmo cloro.
Fonte : Webste r (1987b ). Copyrig ht © 1987 . Reproduz ido co m o pe rmissão de Jo h n W iley & Son s, lnc .
356 Atm osfera, Tempo e Clim a

semelhante e à intensificação do jato de oeste chuva ou granizo ao final da tarde costumam


para o norte , enfraquecendo o anticiclone ti - ser acompanhadas por trovões , mas a metade
betano ou deslocando -o para nordeste . A falta ou mais da precipitação cai à noite , somando
de chuva sobre grande parte do subcontinente 70-80% do total na região cen t ro-sul e sudes -
durante esses períodos de intervalo pode se de- te do Tibete. Isso pode estar relacionado com
ver, em parte, à extensão para leste , ao longo sistemas de ventos de grande escala induz idos
da índia , da célula subtropical de alta pressão pelo planalto. Todavia , a parte central e oriental
centrada sobre a Arábia nesse momento. do planal to também apresenta a frequência má-
É importante compreender que as chuvas xima de linhas de cisalhamento e baixas fracas
monsônicas variam muito de ano para ano, assoc iadas a SOOmb de maio a setembro. Esses
enfatizando o papel desempenhado pelas per - sistemas do planalto são mais rasos (2-2,5 km ) e
turbações na geração de chuvas dentro do nor - têm apenas 400 -1000 km de diâmetro, mas são
malmente úmido escoamento de sudoeste. As assoc iados a agrupamentos de nuvens em ima -
secas ocorrem com uma certa regularidade no gens de satélite no verão.
subcontinente indiano: entre 1890 e 1975, hou-
ve nove anos de secas extremas (Figura 11.33) 5 Outono
e pelo menos outros cinco anos de secas signi- No outono, há o desvio para o sul do Cavado
ficativas. Essas secas foram causadas por uma Equatorial e da zona de máxima convecção,
combinação de uma deflagração tardia das que se encontra logo ao norte do jato de leste
monções de verão e um aumento no núme- enfraquecido (ver Figura 11.16). O decaimento
ro e na duração dos períodos de intervalo. Os dos sistemas de circulação de verão é associado
intervalos sã.o mais comuns de agosto a setem- ao frm das chuvas monçônicas , que é defmido
bro, durando cinco dias em média, mas podem com menos clareza do que o seu começo (Fi-
ocorrer a qualquer momento durante o verão, gura 11.34). Em outubro, os Alísios de leste do
com duração de até três semanas. Pacífico afetam a Baía de Bengala no nível de
A forte fonte de calor superficial sobre o SOOmbe geram perturbações em sua confluên -
Planalto Tibetano, que é mais eficaz durante o cia com os ventos equatoriais de oeste. Essa é a
dia, gera uma frequência de 50-85% em nuvens pr incipal razão para os ciclones na Baía de Ben -
cumulonimbus profundas sobre as regiões cen- gala, e são essas perturbações, em vez das mon -
tral e oriental do Tibete em julho. Pancadas de ções de nordeste que inc idem sobre a costa, que

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,
Figura 11.33 ln dice de órea de seca a nual par o o su bcontinente indi a no pa ro o período 1891-198 8 , com
base na porcen tag em da órea tota l que sofreu seco moderada, extrema ou severa. São dotados os anos de sec a
extrema. A linha tracejada ind ica o limite inferior de secas importantes.
fonle: Bholme e Moo ley (1980}. Co rtes ia de H. M. Bholme . Com perm issão de Ame rican Meleo rolog ical Society.
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 357

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10°

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Oº - km
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80° 90° 100° 110° 120° 130°

Figura 11.34 Do to médio de início dos mon çõ es de inverno (ou sej a , o recuo dos monções de ve rão) sobre o
' .
sul e leste d a Asio
Fonte : Too Shi-yan e C hen Longxun. Rep roduzido com a perm isão de Professo r Tao Shi-yan e da Ch inese Geograph ica l Society.

causam a máxima de pluviosidade de outubro / substituídas pelo ar tropical marí timo de abril a
novembro no sudeste da Índia (p. ex., Madras: maio . Assim, em Guangzhou (Cantão ), as tem -
Figura 11.20). peraturas médias aumentam de apenas 17ºC em
Durante o mês de outubro, o jato de oeste março para 27ºC em maio, aproximadamente
se restabelece ao sul do Planalto Tibetano, mui- 6ºC mais baixas do que os valores médios sobre
tas vezes em apenas alguns dias, e as condições o norte da Índia .
de meia-estação são restauradas sobre a maior As chuvas na China ocidental começam
parte do sul e leste da Ásia. antes no noroeste, em meados de maio, e es-
t endem -se para o sul e o leste até a metade de
D MONÇOES DE VERAO -
- NO LESTE junho . Também durante essa estação, baixas
frias que se formam nos níveis superiores a les-
ASIÁTICO E NA AUSTRÁLIA
te do Lago Baikal afetam o nordeste da China,
A China não tem um equivalente à estação con t ribuindo com 20-60% da pluviosidade da
pré -monçônica quente da Índia . As monções estação quente e mais da metade das tempe sta -
de inverno, de nordes te e em níveis baixos (re- des de granizo. As depressões de oeste são mais
forçadas pelo ar que desce dos ventos de oeste frequentes sobre a China na primavera (ver Fi-
em níveis mais elevados ) persistem no nor te da gura 11.22) . El as se formam facilmente sobre
China e, mesmo no sul, somen te começam a ser a Ásia Central durante essa estação, quando o
358 Atm osfera, Tempo e Clima

anticiclone continental começa a enfraquecer; 11.1). Os ven tos de sul, que predominam sob re
além disso muitas se desenvolvem na zona de o norte da China no verão , não estão necessa -
confluência das correntes de jato a sotavento do riamente ligados à corrente das monções mais
planalto . ao sul . De fat o, essa ideia resulta da interpre-
Os ventos zonais de oeste recuam para nor - tação incorreta dos mapas de correntes (ou da
te sobre a China de maio a junho, e o escoamen - direção do escoamento instantâneo ) como a
to de oeste se concentra ao norte do Planalto representação de tra jetórias de ar (ou dos ver -
Tibetano . Os ventos equatoriais de oeste se es- dadeiros caminhos seguidos pelas parcelas de
palham pelo Sudeste Asiático a partir do Oce - ar) . A rep resen tação das monções sobre a China
ano Índico, trazendo uma massa de ar quente na Figura 11.24 é, de fato, baseada em um va-
e úmido com pelo menos 3000 m de espessura. lor de temperatura de bulbo úmido de 24 ºC. A
Todavia , as monções de verão sobre o sul da atividade ciclônica no norte da China pode ser
China aparentemente são menos influenciadas atribuída à Frente Polar do Pacífico Ocidental,
pelo escoamento de oeste sobre a índia do que formada entre ar cP e ar mT altamente modifi -
pelo fluxo de sul sobre a Indonésia, próximo a cado (Figura 11.35).
lOOºE. Além disso , ao contrário de visões ante- Nas regiões central e sul da China, os três
riores, o Pacífico somente é fonte de umidade meses de verão representam 40-50% da precipi -
quando os ventos tropicais de sudeste se esten- tação média anual, com outros 30% na prima-
dem a oeste para afetar a.costa leste. vera. No sudeste da China, existe uma singula -
A frente "maiyu " envolve a Depressão ridade na pluviosidade na primeira quinzena de
Monçônica e a Fren te Polar do Leste Asiático - julho; um mínimo secundár io no perfil parece
-Pacífico Ocidental, com perturbações fracas resultar da extensão oeste do anticiclone sub-
movendo- se para leste ao longo do vale do tropical do Pacífico sobre a costa da China . As
Yangtze e frentes fr ias ocasionais do noroes- fortes monções no sudeste asiático (20 -30ºN,
te. Sua localização muda para o norte em três 110-14 5ºE) estão relacionadas com a tempe-
estágios, do sul do rio Yangtze no começo de ratura da superfície do mar mais elevada no
maio para norte dele no final do mês, e para o Pacífico Norte ocidental, que enfraquece o an-
norte da China em meados de julho (ver Figura ticiclone subtropical e permite mais circulações
11.24), onde pe rmanece até o final de setembro. ciclônicas.
O fluxo de ar superficial sobre a China no Um padrão semelhante de máxima de plu -
verão é de sudoeste (Tabela 11.2), e os ventos viosidade ocorre sobre a península coreana e
superiores são fracos, com apenas uma corrente sobre as regiões sul e central do Japão (Figura
difusa de leste sobre o sul da China. Segundo 11.36) , compreendendo duas das seis estações
as visões tradicionais , a co rrente das monções naturais reconhecidas nessa área . As maiores
alcança o norte da China em julho . chuvas ocorrem durante a estação Bai -u das
O regime anual de chuvas apresenta uma monções de sudeste, resultando de ondas , zonas
máxima distinta de verão, com, por exem - de convergência e circulações fechadas que se
plo, 64% do total anual ocorrendo em Tianun movem principalmente no escoamento tropical
(Tientsin) (39ºN) em julho e agosto . No entan - ao redor do anticiclone subtropical do Pacífico,
to, grande parte da.chuva cai durante tempesta - mas se originam em parte em uma corrente de
des associadas a baixas rasas, e a existência da sudoeste que é a extensão da circulação monçô -
ZCIT nessa região é ques tionável (ver Figura nica do sudeste asiático (Figura 11.23) . A circu -

Tabe la 11.2 Circu lação supe rficial sobre a Chino

Janeir o Julho

No rte da China 60% dos ventos de W, NW e N 57% dos ventos de SE, S e SW


Sudeste da China 88% dos ventos de N, NE e E 56% dos ventos de SE, Se SW
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 359

Met ade do verão


S·CAF

40 °N 40ºN

30' 30º
A ,_,..,,,

20"
mT
A

110º 120 ° 130" 140° 150-E 110º 120º 130º 150-E

,
Fígura 11.35 Padróo esquemó tico do circulaç ão super f icial e situações frontais (Frente Artic a do Sibéria e
C a nodó S-CAF, Frente Pol o r Eura siano EPF, Frente Pola r d o Pacífico PPF e Depressão Monçônica/ Zon o de Con-
vergência Intertropic a l DM/ZCIT) so b re o leste asió tico durante a estaçóo Ba i-u (isto é, julho -agosto).
fonte : Motsumolo (1985) . U niversidode de Tóqu io.

lação de sudes te é deslocada do Japão para oeste bre o leste da China e o Mar do Japão em agosto,
por uma expansão zonal do antic iclone subtro - e sua contração a sudeste em outubro são espe -
pical dura nte o fmal de julho e agosto, traze ndo cialme nte acentuadas .
um pe ríodo de tempo mais estável e ensolara - A região norte da Austr ália tem um regime
do. A máxima secundária de prec ipitação da de monções durante o verão austral. Ventos de
estação Shurin dur an te setembro e o começo oeste em níveis baixos formam-se no final de de -
de outubro coincide com uma contração do zembro, associados a uma baixa térmica sobre o
anticiclone subtropical do Pacífico a leste, per - norte da Austrália . Análogos à estrutura vert ical
m itindo que sistemas de baixa pressão e tufões dos ventos sobre a Ásia em julho, existem ventos
do Pacífico virem pa r a norte, rumo ao Japão . de leste na troposfera superior. Diversos critérios
Embora grande parte da chuva durante a. Shu - para ventos e chuva foram usados pa ra definir o
rin seja oriunda de tufões (ver Figura 11.36), começo das monções . Com base na ocorrência
uma parte está associada indu bitavelmente aos de ventos de oeste de superfíc ie (ponderada) a
flancos meridionais de depressões que avançam 500 mb, sobrepostos por ventos de leste a 300-
para norte ao longo da Frente Polar do Pacífico , 100 mb em Darwin (12,5ºS, 131ºE), a principal
que migra para o sul (ver Figuras 11.22 e 11.35), data de início é 28 de dezembro, e a data de recuo
pois existe uma tendência acen tuada de as chu - é 13 de março . Apesar de sua duração média de
vas de outono começarem primei ro no no rt e 75 dias, as condições monsônicas duraram ape-
do Japão e se espalhar em para o sul . A manei - nas 10 dias em janeiro de 1961 e 1986, mas 123-
ra como a localização da margem ociden t al da 125 dias em 1985 e 1974. Fases ativas com ventos
célula de alta pressão subtrop ical do Pacífico profundos de oeste e chuva ocorrem em pouco
Norte afeta os climas da China e do Japão é bem ma is da metade do s dias em uma estação, embo-
ilus trada pelas mudanças nas trajetó rias sazo- ra haja pouca sobreposição entre elas. Todav ia,
nais das rotas de tufões sobre o leste asiático as chuvas de verão também podem ocorrer du -
(Figura 11.37). As migrações do eixo zonal da rante períodos de ventos profundos de leste as-
célula para norte e sul em 15º de latitude , as ex- sociados a linhas de instabilidade tropicais e ci-
tensões da célula de alta pressão a no roeste so- clones trop icais. As condições monçônicas ativas
360 Atmosfera, Tempo e Clim a

34
32 (A)
30
28 Temp . máx .
26
ü 24
'!..- 22
~ 20
-
::,
;
18
16
28
26 -o
Q.
E
14
12
Pressào
de vapor
24 i
22 !ai
~ 10 20 0
8 18
6 16 g.
4 14 n1
2 12 °8
o 10 ..,
-2 '3

'
r,l'f'f
Duraçào da luz do Sol 8
6
4
"â:
- O"

8 ~ z

Quantidade de nuvens t 6 - · ~
'"""'il\l'VI,.,,.,.,,,.~""""'4 3 ~

31 28 31 30 31 30 31 31 30 31 30 31
-
~ CI)

J F MA M J J AS O N D

Estação 1 1
Estação Metade Estação Flnal Estação
de monções Primavera Shürin do outono de monções
[ BAI-U do verão
de inverno de Inverno
200
(B)
180

160
.-.
ê
-i (Q
- 120
140

E
CD 100
i"C
'iii 80
o
'>
ir 60

40

20

o
31 28 31 30 31 30 31 31 30 31 30 31
J F MA M J J AS O N D

Figura 11.36 (A): va riação sazonal de normais d iórios em Nogoyo, sul do Japão, suger in do seis estações nat u ra is.*
(B): quantidades médios de precipi tação para 10 d ias po ro uma estação no sul do Japão, ind icando em azu l escuro
o pro po rção de chuva produzida por ci rculações de tufão . Essa ú ltimo atinge a móxima durante o estação Shur in. 1
Fo nt e : *Moe jimo {1967 ). -Sa ito (l 959 ), in Trewar tha (198 1). Com permissão de U nivers ity of Wiscons in Press .

em geral persistem de 4 a 14 dias, com intervalos Ásia Meridional, sendo o escoamento superfi-
durando de 20 a 40 dias. cial determinado pela posição da borda fron-
tal de uma Depressão Monçônica (ver Figura
E ÁFRICA CENTRAL E MERIDIONAL 11.2) . Esse escoamento é de sudoeste ao sul da
depressão e de leste-nordeste ao norte (Figura
1 A monejão africana
11.38). A princ ipal distinção entre as circula-
O regime climático anual sobre a África Oci- ções das duas regiões se deve principalmente
dental apresenta muitas semelhanças com o da às diferenças na geografia da distribuição con-
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima trop ical 361

110° 120° 130° 140° 150ºE

Out-Dez
Jul-S et 40°N
Mai-Jun
40ºN
Jan· Abr
Latitude da
"" 35º
crista da AST
35º a500 mb
o km 500

30°
30° Môo .., Ago,to l"'l J
27º M~io de Setembro (21")

27º _,. 25º Meio de Julho (25")

25°

.,,.200 rL Meio de Junho


Meio de Outubro
(20")

20º
- 17 .5º r Meio de Maio (17,5º)

17.5°
- 15º l Meio de Ab ril (15")

- 10°
10°

110° 120° 130° 140 °

figura 11.37 Rota s de tufões sobre o leste a siótico de janeiro a a bril, ma io a junho, julho a se tembro e o utubro
a de zemb ro, relacionad a s com a la titu d e mé d ia d o e ixo da cr ista cen tral d a célula d e a lta press ã o subtrop ical
(AST) a SOO mb sobr e o Pacífico oc id e ntal.
Fonte: Adaptado de várias fontes, inc luindo Lin {1982) and Too (1984). Reproduz ido com pe rmi ssão de Ch inese Geog ,ophico l
Society.

tinente -oceano e à ausência de uma grande ca- chuvas entre 9ºN e 13ºN . O mecanismo ainda
deia mon tanhosa ao norte da África Ocidental . não foi estabelecido de maneira definitiva, mas
Isso permite que a Depressão Monsônica migre envolve uma mudança no Jato de Leste Afr ica-
regularmente com as estações . De modo geral, no de baixo nível (JLA) (ver Figura 11.40B).
a Depressão Monçônica oeste -africana oscila No inverno , o escoamento monçônico de
entre posições anuais extremas de aproximada- sudoes te sobre as costas da África Ocidental é
mente 2ºN e 25ºN (Figura 11.39). Em 1956, por bastante baixo (isto é, 1000 m), com 3000 m de
exemplo, essas posições extremas eram SºN em ventos de leste sobre jacentes, que também são
1º de janeiro e 23ºN em agosto. A borda fron - sobrepostos por ventos fortes (>20 m s- 1 72 km
1
tal da Depressão Monçônica tem uma estrutu- h- ) (ver Figu ra 11.41) . A norte da Depressão
ra complexa (ver Figura 11.40B), e sua posição Monçônica, os ventos superfic iais de norte (ou
pode oscilar muito de um dia para outro, cru- seja, o escoamento Harma tt an, com 2000 m de
zando vários graus de latitude . O modelo clás- espessura ) sopram no sentido horário a partir
sico de avanço estável das monções para norte do centro subtropical de alta pressão. Eles são
foi questionado recentemente. O começo da es- compensados acima de 5000 m por um escoa-
tação chuvosa em fevereiro na costa se propaga mento de oeste no sentido anti -horário que, a
para o nor te, até 13ºN, em maio, mas, em mea- aproximadamente 12.000 me 20-30 ºN, se con-
dos de junho, há um começo síncrono súbito de cent ra em uma corrente de jato subtropical de
362 Atmosfer a , Tempo e Clim a

(A) Junho-agosto (B) Dezembro-fevereiro r Célula


Cé[ula
de Ferrei
~ de Ferrei
w
"'---"' ~ --... Célu la de
30· Hadley
Célu la de
Seten triona l
Hadley
Setentrional

,o- TE TE .,._/

o•
TE ', \

1 ,
,' " Célula .....
, \
1 Célula
" de Had ley ' \1 1
\ de Had [ey
Meridional 1 1
• Merid ional
A I
'
1
T. Ce cóm.o T.Ce óm,o
' 1

30-

Célula
de Ferrei de Ferrei

D Inversões sazonais (monçônicas) dos ventos IIIllilII]


Ventos equatoriais de oeste x x Ressurgência ---- Descontinu id ades

Figura 11.38 Circulação geral no A fr ico de (A) junho a agos to e (B) dezembro a feve re iro . A. células subtro-
picais de alto pressão; EW ventos equatoriais de oeste (úmidos, instóveis, mos con tendo a cristo de alta pressão
do Congo); NW: ventos de noroeste (extensão de verão dos EW no Hemisfério Sul); TE: ven tos tropicais de leste
(Alísios); SW: escoamen to monçônico de sudoes te no Hemisfério Norte; W: ven tos extratropicais de oeste; J: cor-
ren te de jato subtropical de oeste; JA e JE: correntes de jato afr ica nas (de leste); e DM: Depressão Monçônica.
Fonte : From Rossigno l-Strick (1985 ). Com perm issã o de Elsevier Science Publishe rs B.V.,Amste rdom .

25 Com a aproximação do verã.o setentrio -


nal, a intensificaçã .o da célula. subtrop ical de
20 alta pressão do Atlântico Sul, combinada com
o aumento nas temperaturas cont inentais, es-
tabelece um forte escoamento de sudoeste na
supe rfície, que se espalha para norte atrás da
Depressão Monçônica, com em torno de seis
sema n as de defasagem em relação ao avanço
5
do Sol no zênite. A migração da depressão para
J F M A M J J A S O N O o no rte oscila ao longo do dia, com uma pro -
Mês
gressão de até 200 km para o norte nas tardes,
Figura 11.39 Posiçõo d iória da Depressõo Mon- seguida por um recuo menor para o sul pela
çôn ica na longitude 3ºE durante 1957. Esse ano teve manhã . A disseminação de ar úmido, inst ável e
I

uma variaçõo excepc ionalmente amplo sobre a Africa relativamente frio de sudoest e do Golfo da Gui -
Ocidental, com a depressão alcançando 2ºN em ja- né para o norte traz chuva em diferentes quan -
0
neiro e 25ªN em l de agosto . Algu ns dias após 1° de
tidades para grandes áreas da África Ocidental .
agosto, a grande oscilação do depressão deslocou-se
Mais acima, os ventos de leste giram no senti -
para o sul, até a la titude de 8°.
do horário a partir do centro subtrop ical de
Fonte;Clac kson (1957 ), in Hoyword e Ogunloy inho (1987 ).
Co m pe rmissão de Hutch inson . alta pressão (ver Figura 11.4 1) e se concentram
entre junho e agosto em duas corrente s de jato
oeste, com velocidade média de 45 m s- 1 (162 tropica is de leste (CJTL); amais forte (>20 m s- L
1
km h- ) . As temperaturas superficiais médias ou 72 km h- 1) , entre 15-20 km de altitude, e a
em janeiro diminuem de cerca de 26ºC ao longo mais fraca (>10 m s- 1 ou 36 km h- 1), a 4-5 km
da costa sul para 14ºC na Argélia me ridional . de altitude (ver Figura 11.40B). O jato mais bai -
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 363

(A)

30°N
DSahel

N
1
Seco l
20 °

unhas d
Jato de leste
10°
Nub ado: chuvas prolongadas
as leves

O 1000
km

{B)
16 .-- Jato de Jestesu~erior
..
------- .-- :-----.._.._ s
-----.----- 100

200
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300 ~ t

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~ 6 Jato de lest
bãiJ(~ e 500
4
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__ g 600
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2 { ......
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:: Á±"- - 1
t t t..::~i:f:::-·..:,. Ar monçônico ,
......,........ _,_...-" . - · -...
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1- 800
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..
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""---'

25 ºN 20° 15° 10° 5°


Seco Tempestades Linhas de Nublado: Nublado :
isoladas perturbações chuvas chuvas leves
prolongadas
I
Figura 11.40 Estru turo do circulação sobre a Africa setent rional em agos to. (A): escoamento superfic ia l e ja to
I
tropical de leste . (B): estr utur a vertical e zo na s resultantes de precipitação sobre a Africa Oc id ental. DM = De-
pressão Monçônica. Observe que existe atividade de tempestade assoc ia da às forres de cumulonim bus .
Fonte : Reprodução de Geogrophica l magazine, Londo n. B: From Maley (l 982 ) Q uafer nary Rescarch . Copyright @ Acodemic
Press; reprodução per mitida. Musk (l 983 ). Co m pe rmissão de lhe Gcogrophicol magazine.

xo ocupa uma ampla faixa de 13ºN a 20ºN, em front al atinge sua posição norte máxima, apro-
cujo flanco inferior oscilações produzem ondas ximadamente 20ºN, em agosto . Nesse momen-
de leste, que podem se transformar em linhas de to, quatro grandes cinturões climáticos podem
instabilidade. Em julho, o escoamento monçô - ser ident ifica,dos sobre a África Ocidental (ver
nico de sudoeste terá se espalhado para o norte, Figu ra 11.40A):
e sistemas convectivos que avançam para oeste 1 Um cint urão costeiro de nuvens e chuva
determinam grande parte das chuvas . O cavado leve relacionado com a convergência fric-
364 Atm osfera, Tempo e C lim a

, •
Janeiro
_ ___
........ .. O' 10km norte-sul podem avançar para oeste, mo -
Skm
o vidas pelos jatos . A parte sul mais úmida
- 20'N """""""""'
•A t
dessa zona é denominada Sudão, e a parte
Aguas
norte , de Sahel, mas o uso popular designa
Fras o nome Sahel para todo o cinturão.
4 Logo ao sul da Depressão Monçôn ica, a
.. 1:,• 1C" língua baixa de ar úmido é coberta por ar
Jan-Ab nl
mais seco descendente. Aqui, ocorrem ape-
nas tempestades isoladas, pancadas difusas
j
1
Ao e tempestades ocasionais .
1 Aguasguen:es
10' 1 o
'
1o·w O'
Ao contrário das condições de inverno,
Jul ho ri 20-$0
_. 10-20
as temperaturas de agosto são mais baixas
---__ 0- 10_
'lfr ....._ (24 -25ºC ) ao longo das costas meridionais
nebulosas e aumentam em direção ao norte,
onde apresentam uma média de 30ºC no sul
da Argélia.
Os dois escoamentos de verão, os ventos de
1C"
sudoeste abaixo e os de leste mais acima, estão
sujeitos a perturbaç.ões, que contribuem signi-
ficativamente para a pluviosidade durante essa
m C~-,c.....aoõ•~•TQi)O
D P9oue"*
-.111ç1o.- ("1)()1
estação. Três tipos de perturbações prevalecem:

1
1 Ondas nos ventos de oeste . São oscilações
Figura 11.41 Veloc idades (m s- )
e direções méd ios
do escoamen to úmido no sentido norte,
do vento em ianeiro e iulho sob re o Áfr ica Oc iden tal até
apro ximad amente 15 km . As tem peratu ras da superf ície com periodicidade de quatro a seis dias.
do mar e as pos ições do Dep ressão Monçôn ica ta m- Elas produzem faixas de chuvas monçô -
bém são ilustrad os, assim como o 6rea afeta da pela Pe- nicas de verão com aproximadamente 160
quena Estação Seca de agosto e a locali zação da anô- km de largura e 50-80 km de extensão
mala Desco ntinuidad e de Togo. A s posições de A bidjon norte -sul, que têm seu efeito mais notável a
(Ab), Ata r (At), Bamako (8) e Co nakry (C) são mostrad as
(ver gr6ficos de precipitação na Figuro 11.42 ).
1100-1400 km ao sul da.Depressão Monçô-
Fo nt e: De H oyword ond Ogun toyinbo (1987 ). Com pe rmissão
nica superficial, cuja posição oscila com as
de Rowmo n o nd Litt lefield. ondas.
2 Ondas nos ventos de leste. Formam-se na
cional dentro do escoamento monçônico, interface entre o escoamento inferior de
sobreposto por ventos descendentes de sudoeste e o escoamento superior de les-
leste. te. Essas ondas têm de 1500 a 4000 km de
2 Uma zona semiestacionária de pertur - comprimento, de norte para sul. Elas avan-
bações associada a nuvens est ratiformes çam no sentido oeste pela África Ocidental
profundas que produzem chuvas leves pro - entre a metade de junho e outubro, com
longadas . A convergência em níveis baixos, uma periodicidade de três a cinco dias e, às
a sul dos eixos dos jatos de leste, aparente - vezes, desenvolvem circulações ciclônicas
mente associada a distúrbios nas ondas de fechadas . Sua velocida .de é de aproxima -
leste provenientes da África centro -orien - damente 5-10º de longi tude por dia (isto
tal, causa instab ilidade no ar monsônico. é, 18-35 km h- 1). No ápice das monções
3 Uma zona ampla subjacente às correntes de verão, elas produzem mais chuva na
de jato de leste, que ajuda a. ativar linhas de latitude aproximada de 14ºN , entre 300 e
distúrbios e tempestades. Linhas de células 1100 km ao sul da Depressão Monçônica.
de cumulonimbus profundas no sentido Em média , por volta de 50 ondas de lest e
CAPÍTULO 11 O tempo e o clim a trop ical 365

cruzam Dakar por ano. Algumas delas se- Nas partes setentrionais da Nigéria e de Gan a, a
guem na circulação geral pelo Atlântico) e chuv a cai nos meses de verão , princ ipalmen te a
estima .-se que 60% dos furacões das índias partir de tempestades isoladas ou linhas de per -
Ocidentais se originem na África Ocidental turbaç õ es. A elevada variabilidade dessas chu -
como ondas de leste. vas de ano para ano carac t eriza o ambien te do
3 Linhas de instab ilidade . As ondas de leste Sahel, que é pro penso a secas.
variam muito em sua intensidade . Algumas A pluviosidade no verão no cin turão su -
geram pou cas nuvens e chuva, ao passo d ano -saheliano é determ ina da, em parte , pela
que outras trazem linhas de inst abilidade , penetração da Depressão Monçônic a ao norte,
quando a onda se estende até a superfície , que pode ati ngir até 500 -800 km além da sua
produzindo correntes ascendentes, chuva p osição média (Figura 11.44), e pela intensida -
forte e trovoadas. A formação de linhas de de das corren tes de jato de leste, que afet am a
instabilidade é auxiliada quando há con - frequência das linhas de perturbaç ões.
vergência topográfica superficial do escoa-
mento de leste (p.ex., as Air Mountains, o Pancadas em tempestades
Plan alto de Fouta -Jallon ). Essas linhas de Outras fo rmas de chuva Atar
Chuva leve ou garoa 60 300 mm
perturbações avançam do leste para o oeste
1 Con akry 40
a até 60km h - , pela África Ocidental, por 3500mm 6
300 (358 mm)
4
distâncias de até 3000 km (mas 600 km em 20
2
280 o
média ) entre junho e setembro, gerando
40-90 mm de chuva por dia. Alguns locais 260 Bamako -
:J
60 1082 mm it
na zona costeira recebem por volta de 40 240 ::l
vi.
40 o.
linhas de instabilidade por ano, represen - ~ 220 6
C)
g.
E 20 ·
tando mais de 50% da pluvios idade anual. 5 200
4 3
o. 2 8::
o Ili.
A pluviosidade anual diminui de 2000- ~ 180
~ Ab idjan 3
3000 mm no cinturão costeiro (p. ex., Conakry, u(!) 160 160 2045mm ~
u (274 mm) "'
~
Gui n é) para por volta de 1000 mm na latitude ~ 140 140 o.
C)
o n
de 20ºN (Figura 11.42) . Perto da costa, podem .t::.
(!)
120 120
;:r
e
u ~
cair mais de 300 mm por dia duran te a estação .!!! 100 100
chuvosa , mas , mais ao n orte , a variabilidade ~ 3
3
:E 80 80
aumenta, devido à extensão e ao movime nto
irregulares da Depressão Monçônica . As linhas
--
40 40
de instabilidade e outras perturbações geram 6 6
uma zona de plu viosidade máxima localizada 20 4 4
2 • 2
a 800- 1000 km ao sul da po sição superficial da o~..., ...........
J F !A1 JJ ASO
- D
o o JF A

J JASO N D
o
Depre ssão Monçônica (ver Figura ll .40B). As • Intensidade média mensa l da chuva
chuvas mon çôn icas n a zona costeira da Nigér ia
(4ºN) contribuem com 28% do total anual (por ·Figura 11.42 Número médio de , horas de chuva
por mês para quatro estações da Africa Ocidental.
volta de 2000 mm ), as tempestades, com 51 %, Também são mos trados os tipos de chuva, os totais
e as linhas de in stabilidade, com 21 %. A lOºN, anuais médios (mm) e, entre parênteses, a pluviosi -
52% do total (por volta de 1000 mm ) se devem dade diória móxima registrada (mm) para Conakry
às linha s de instabilidade , 40% às tempe stades e (agosto) e Abid jan (junho ). Os pontos most ram as in-
1
apenas 9% às monções. Sobre a maior parte do tensidades mensais médias da pluviosidade (mm h- ).
Observe a Pequena Estação Seca acen tuado em
paí s, a pluvio sidade causada pelas linha s de per -
Abidjan. A locali zação das estações é mostr ada na
turb ações tem uma máxim a dupla de frequê n- Figura 11.41.
cia, e as tempe stades têm uma úni ca máxima Fonte : Hoyword o nd Oguntoyinbo (1987) . Co m pe rmissão de
no verão (ver Figura 11.43 para Minna, 9,SºN ). Rowman ond Littlefield .
366 Atm osfera, Tempo e Clim a

Efeitos climáticos anômalos oco rrem em 20....--------------~


várias localidades distintas na África Ociden -
Tempestades
tal em diferentes momentos do ano . Embora as
temperaturas das águas costeiras sempre ultra -
passem 26ºC e possam atingir 29ºC em janei - Línhas
ro, existem duas áreas de ressurgência local de de
águas frias (ver Figura 11.41) . Uma se encon - perturbações

tra ao norte de Conakry, a.o longo das costas


do Senegal e da Mauritânia, onde, de janeiro a
5
abril, os ventos predominantes de nordeste para
o mar remove .m as águas superficiais , fazendo
águas mais frias (20ºC) ascenderem , reduzindo o+-........
~-,--,---.--,- --.-----r--,~~-+-
dra st icamente a temperatura das brisa s ma - J F MA M J JASOND
Mês
rinha à tarde. A segunda área de oceano mais
frio (19-22ºC) se localiza ao longo da costa Figura 11.43 Contribuições das linh as de perturba-
centro -sul a oeste de Lagos, durante o período ções e tempestades para a precipitação mensal média
de julho a outubro, por uma razão que ainda em M inn a, Nigéria (9,SºN).
não está clara . De julho a setembro , uma área Fonfe : Omotos ho ( 1985). Co m permissão de Royal Meteo•
de terra anomalamente seca se localiza ao longo rolog icol Socie ty.

do cinturão costeiro sul (ver Figura 11.41), du -


rante aquilo que se chama de Pequena Estação condição auxiliada pelas águas costeiras relati -
Seca. A razão para tal é que, nesse período, a vamente frias à medida que se afastam da costa .
Depressão Monçônica está em sua posição mais Embutida nesse cinturão relativamente nubla-
setentrional. A zona costeira, a 1200- 1500 km do, mas seco, está a Descontinuidade de Togo,
ao sul dela, e, principalmente, a 400-500 km ao menor , entre Oº e 3ºE e, durante o verão , com sol
sul de seu principal cinturão de chuvas, tem ar acima da média, convecção reduzida, pluviosi-
relativamente estável (ver Figura 11.40B), uma dade relativamente baixa (menos de 1000 mm)

1 I

--• Trajetórias de
:JOºN tempestades
tropicais

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20• {,,,,,.,,,,,.
~'n~~~e~rn~o-----;. ~~~'~~
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Tamanrasset ' ·,e,,,,
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,.., ' - .,,
limíte riorte rnédio d. MONTES
- TIBESTI

o 200 400
km
o• 10" 20ªE

,
Figura 11.44 Extensão dos sistemas de precipitação que afetam as regiões oes te e central da A frica Setentrio-
nal e rotas típicos de depressões sudano-sahelianas.
fonle: Dub ief e Yacono ; in Borry (2008).
CAPÍTULO11 O tempo e o clima tropical 367

e pouca atividade de tempestades. A tendência no sentido sul, podem produzir muita chuva.
da costa neste caso repete os ventos predomi - Deve -se observar que a estrutura complexa da
nantes de sudoeste de baixo nível, limitando ZCIT e do ZAB indica que os principais cava-
assim a convergência superficial induzida pelo dos de pressão e cen tros de baixa pressão não
atrito, em uma área onde as temperaturas e a coincidem com eles, mas se localizam a uma
convecção são inibidas de qualquer maneira pe - certa distância a montante no escoamento em
las baixas temperaturas das águas costeiras . níveis mais baixos (ver Figura 11.45), particu -
,
larmente nos ventos de leste. Essa circulação
2 Africa Meridional de baixo nível de verão é dominada por uma
combinação entre essas baixas frontais e baixas
A África Meridional se encontra entre as cé- t érmicas convectivas. Em março, estabelece -se
lulas subtropicais de alta pressão do Oceano um sistema unificado de alta pressão , trazen -
Atlântico Sul e do Oceano Índico , em uma re- do um fluxo de ar úmido de norte , que produz
gião sujeita à in teração entre fluxos tropicais de chuvas de outono nas regiões ocidentais. No
leste e extratropicais de oeste. As duas células inverno (isto é, julho), o ZAB separa os fluxos
de alta pressão avançam para oeste e se intensi- baixos de oeste e de leste dos Oceanos Atlân tico
ficam (ver Figura 7.10) no inverno meridional. e Índico , embora ambos sejam sobrepostos por
Como a célula do Atlântico Sul sempre se esten - um escoamento elevado de leste. Nessa ocasião,
de 3º de latitude mais ao norte do que a célula o deslocamento da circulação geral para norte
do Oceano índico, ela traz ventos de oeste de traz ventos de oeste de altos e baixos níveis com
baixo nível para Angola e o Zaire em todas as chuva para o Cabo merid ional.
estações e ventos de oeste de alto nível para a Desse modo, os fluxos tropicais de leste
região central de Angola no verão meridional. afetam grande parte da África meridional no
As alterações longitudinais sazonais das células
subtropicais de alta pressão são especialmente
significativas para o clima da África meridio-
nal com relação à célula do Oceano índico.
Enquanto a mudança longitudinal de 7- 13º na
célula do Atlântico Sul tem relativamente pouco
efeito, o movimento da célula do Oceano Índi -
co, de 24-30º para oeste durante o inverno me -
ridional , traz um escoamento de leste em todos
os níveis para a maior parte da África meridio -
nal. Os escoamentos e as zonas de convergência
sazonais são mostrados na Figura 11.45 .
No verão (isto é, em janeiro ), os ventos de
baixo nível de oeste sobre Ango la e Zaire encon -
tram as monções de nordeste da África Oriental
junto com a ZCIT, que se estende a leste como
limite entre os ventos desviados (de oeste) do
Oceano índico e os ventos tropicais espessos de
leste mais ao sul. Para oeste, esses ventos de les-
J

te afetam os ventos atlânticos de oeste ao longo figura 11.45 Escoamento sobre a Africa meridional
da Zona de Convergência do Zaire (ZAB). O durante janeiro (A) e julho (B), com a s posições da
Z ona de Convergência Inter tropic a l (ZCIT), da zona
ZAB está sujeito a oscilações diárias e sistemas
de convergê ncia d e ar do Z aire (ZAB) e dos principais
de baixa pressão ao longo dele-,tanto estacioná - óreas de baixa p ressão superficial.
rios quanto movendo-se lentamente para oeste. Fonte: Von Hee rden e Toljaard (1988). Co rtes ia do Amerícon
Quando são profundos e associados a cavados Meteoro logíco l Soc iety.
368 Atmos fera, Tempo e Clima

decorrer do ano. Um escoamento profundo de sobre a região, é associada a uma circulação de


leste predomina ao sul de l OºS no inverno, e ao Walker em fase positiva (ver p. 372 ). Ela apre-
sul de 15-lBºS no verão. Sobre a África oriental, senta um ramo ascendente sobre a África me -
um escoamento monçõnico de nordeste ocorre ridional; intensificação da ZCIT; intensificação
no verão, substituído por um escoamento de su- de baixas tropicais e ondas de leste, muitas vezes
deste no inverno . Nesses fluxos, formam-se on- em conjunto com uma onda de oeste em níveis
das de leste semelhantes às ondas em outros flu- elevados para o sul; e intensificação da célula
xos tropicais de leste, ainda que menos móveis. subtropical de alta pressão do Atlântico Sul (ver
Essas ondas se formam no nível de 850-700 mb Figura 11.45) . Esse período úmido pode ocor-
(2000-3000 m) em fluxos associados aos jatos rer particularmente da primave ra ao outono.
de leste, muitas vezes produzindo linhas de ins- A pluviosidade abaixo do normal é associada
tabilidade, cinturões de células de trovoadas de a uma circulação de Walker em fase negativa,
verão e chuvas fortes. São mais comuns entre com um ramo descendente sobre a África me -
dezembro e fevereiro , quando podem produzir ridional; enfraquecimento da ZCIT; tendência
pelo menos 40 mm de chuva por dia, mas ra- de alta pressão com menor ocorrência de baixas
ras ent re abril e outubro . Os ciclones t ropicais tropicais e ondas de leste; e enfraquecimento da
no Oceano índico Meridional ocorrem parti- célula subtropical de alta pressão do Atlântico
cularmente por volta de fevereiro (ver Figura Sul. Ao mesmo tempo, existe um cinturão de
11.8 e Tabela 11.1), quando a ZCIT se encontra nuvens e chuva a leste do Oceano índico oci-
em sua posição meridional extrema . Essas tem - dental, associado a um ramo ascendente da cir -
pestades se curvam para sul ao longo da costa culação de Walker e perturbações de leste em
leste da Tanzânia e de Moçambique , mas a sua conjunto com uma onda de oeste ao sul de Ma -
influência é limitada principalmente ao cintu- dagascar (Figura 11.45).
rão costeiro.
Com algumas poucas exceções, os fluxos A

F AMAZONIA
de ar profundos de oeste se limitam a posições
mais ao sul da África meridional, especialmente A Amazônia está disposta ao Ne ou S do equa-
no inverno. Como em latitudes médias seten- dor (Figura 11.46) e contém por volta de 30%
trionais, as perturbações nos ven tos de oeste da biomassa total do planeta . As temperaturas
envolvem : constantemente altas (24-28ºC) combinam-se
com a elevada transpiração e fazem a região às
1 Ondas de Rossby semiestacionárias.
vezes se comportar como se fosse uma fonte de
2 Ondas móveis , particularmente acentuadas
ar equatorial ma rítimo .
e acima do nível de SOOmb,com eixos vol -
Influências importantes sobre o clima da
tados para oeste com a altitude, divergência
Amazônia são as células subtropicais de alta
à frente e convergência na porção posterior,
pressão do Atlântico Norte e Sul. A partir delas,
movendo-se para leste a uma velocidade de
o ar mT estável de leste invade a Amazônia em
550 km/ dia, com periodicidade de dois a
uma camada rasa (1000-2000 m) e relativamen -
oito dias e frentes frias associadas.
te fria e úm ida, sobreposta por ar mais quente
3 Centros de baixa pressão isolados . São de -
e mais seco , que é separado por uma forte in-
pressões intensas e de núcleo frio, mais fre -
versão térmica e descontinu idade de umidade.
quentes de março a maio e de setembro a
Esse fluxo de ar raso leva precipitação a locais
novembro , e raras de dezembro a fevereiro .
próximos à cos ta, mas produz condições mais
Uma característica do clima da África me- secas no interior, a menos que esteja sujeito a
ridional é a prevalência de períodos úmidos e convecção forte, quando uma baixa térmica se
secos, associados aos aspectos mais amplos da estabelece sobre o interior continental . Nes -
circulação global. A pluviosidade acima da nor- sas ocasiões, a inversão sobe a 3000-4000 m e
mal , que ocorre como um cinturão norte-sul pode se desfazer completamente, fato associa -
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 369

300-,tr-- o

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km 1000

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MATOGROSSO

Fígura 11.46 Precipitação mé d ia anual (mm) sobre a baci a amazônico, com os quantidades de precipi tação
me nsal média po ra oito estações.
Fonte : De Ratisbona (1976). Com permissão de Elsevier Science NL.

do a uma forte precipitação, particularmente


- 10"N
no final da ta rde ou começo da noite . A célula
sub tropical de alta p ressão do Atlântico Sul se
expande para oeste sobre a Amazônia em ju-
lho , produzindo condições mais secas, como O' -- O"

mostra a pluviosidade em estações no inter ior,


como Manaus (ver Figura 11.46), mas, em se-
temb ro, começa a se contrair, e o acúmulo da 2
r~·
baixa térmica continental com as monções sul- 10"
6
-americanas prenunc ia a estação chuvosa de ou - 6

tubro a abril nas porções centrais e merid ionais 5 5


1
da Amazônia . i!O'S
zen 20'$
Ao fmal de novembro , a convecção profun - E:.idOll"l::.âo
~ trion.:I rr--ixi-r_;:a
da cobre a maior parte da região central da Amé - d9 massa,:;
08 ttr h1o

rica do Sul, do equador a 20ºS, com exceção da •• Pcv..içõ~ dián:a::.


1 Gde ~[!m:f'r.i
2
!roma' err nC\'<!mllrO
3
bacia amazônica oriental e o nordeste brasileiro.
ft1'W •O'
A célula subtropical de alta pressão do Atlântico
Norte é menos móve l do que a sua corre lata me - figura 11.47 Elementos sinóticos do Brasil. Posi -
ridional , mas varia de maneira mais complexa, ções sazona is do Zo na de Convergênc ia Inter tropical
com extensões máximas a oeste em julho e feve- costeiro; extensão seten trional móxima de mossas de
reiro e mínimas em novembro e abr il. ar mP frio s de sul; e posições de um sistema fron tal
tfpico duran te seis dias sucessivos em novembro, à
No norte da Amazô n ia, a estação chuvosa
med ido que o cen tro de baixo pressão avança para o
é de ma io a setembro . A pluviosidade sobre a sudes te ru mo ao Atlân tico Sul.
região como um todo se deve principalmente Fonte: De Ratisbona (1976). Com perm issão de Elsev ier
a uma convergência baixa associada à ativida - Science NL.
370 Atm osfera, Tempo e Clim a

0,20 convectivo do ar em direção ao polo pode in -


tensificar a circulação de Hadley . Esse escoa -
mento tende a acelerar devido à conservação do
momento angular, e a intensificar as correntes
0,16 1

de jato de oeste, tendo sido encontradas corre-


lações entre a atividade convec tiva amazôn ica e
O)
a intensidade e localização das correntes de jato
ãJ
-o
norte -ame ricanas .
-~ o,12 A Zona de Convergência In t ertropical
·-~ (ZCIT) não existe em sua forma característica
Janeiro
a. Julho
ttl sobre o inter ior da Amé rica do Sul, e sua pas-
-o
ttl sagem afeta a pluviosidade perto da costa leste .
E
.:! 0,08 A intensidade dessa zona varia, sendo menor
-o
o
1tt1
quando as duas células subtrop icais de alta
g-
.... pressão do Atlântico Norte e Sul estão mais for -
u.
tes (isto é, em julho ), levando a um aumento
0,04 na pressão que fecha o cavado equatorial. De
outubro a novembro, a convecção profunda as -
sociada à ZCIT se confina ao Atlân tico central,
entre Sº e SºN . A ZCIT muda para sua posi -
0,00 +---....-- ~~-- e..---.---.---.----.
......... ção mais ao norte de julho a outubro , quando
24 4 8 12 16 20 24 invasões de ar mais estável do Atlântico Sul
Tempo local (horas) são associadas a condições mais secas sobre a
Amazônia central, e à sua posição mais ao sul
Figura 11.48 Fra ções da p luvios id a de por hora
de março a abril (Figura 11.47). Em Manaus,
para Belém, Bra sil, par a ja ne ir o e ju lho. A c huva re-
sulta pri ncip a lmente de ag rup a me ntos d e nuve ns co n-
os ventos superficiais são predominantemente
v ecliv a s que se formam so b re o m ar e pen et ra m no de sudeste de maio a agosto e de nordeste de
co ntinen te, mais rap idam e nte em janeiro . setembro a abril, ao passo que os ventos da tro -
Kousky {1980 ). Co rtes ia da Ame rican Met eo rolog ica l
Fo nt e : posfera superio r são de noroeste ou oeste de
Soc iety. maio a setembro e de sul ou sudeste de dezem -
bro a ab ril . Isso refle te o desenvolvimento, no
de convectiva, a um Cavado Equatorial mal - verão austral, de um anticiclone troposférico
-definido, a linhas de instabilidade, a incursões superior localizado sobre o Altiplano do Peru-
ocasionais de frentes frias do Hemisfério Sul, e -Bolívia . Essa alta em níveis superiores resulta
aos efeitos do relevo. do aquecimen to sensível do platô elevado e da
A forte convecção térmica sobre a Ama- liberação de calor latente em tempestades fre-
zônia pode p roduzir mais de 40 mm / d ia de quentes sobre o Altiplano, análoga à situação
chuva ao longo de uma semana, e intensidades observada sobre o Tibete. O fluxo que escoa
médias muito maiores em períodos mais cur- dessa alta desce sobre uma ampla área, esten -
tos . Considerando que 40 mm de chuva em um dendo-se do leste do Brasil à África Ocidental.
dia liberam calor latente suficien te para aquecer A região do nordeste do Brasil, propensa a se -
a troposfera em lOºC, fica claro que a convec- cas, fica particularmen te deficiente de umidade
ção prolongada nessa in tensidade é capaz de durante períodos em que a ZCIT permanece
alimentar a circulação de Walker (ver Figura em uma posição setentrional e que ar mT rela -
11.50). Durante as fases altas (+)do ENSO, o ar tivamente estável da superfície fria do Atlânti-
sobe sobre a Amazônia, ao passo que, durante co Sul predomina (ver Capítulo 9B.2). Podem
as fases baixas (-) , a seca sobre o nordeste do ocorrer condições secas de janeiro a maio, du-
Brasil se intensifica. Além disso, o movimento rante eventos do ENSO (ver p. 374 ), quando o
CAPÍTULO11 O tempo e o clima tropical 371

ramo descendente da circulação de Walker co- chados, que avançam para oeste, gerando faixas
bre a maior parte da Amazônia. de chuva. Naturalmente, os efeitos do relevo são
A significativa pluviosidade da Amazônia, mais notáveis quando o escoamento se aproxi-
particularmente no leste, origina-se ao longo de ma dos sopés orientais dos Andes , onde a con-
linhas de instabilidade de média escala, que se vergência orográfica de grande escala, em uma
formam perto da costa, devido à convergência região de alta evapotranspiração, contribui para
entre os ventos Alísios e as brisas marinhas ves- a elevada precip itação ao longo de todo o ano.
pertinas, ou à interação de brisas terrestres no-
turnas com os ventos Alísios que incidem sobre
G EVENTOS DE EL NINO-
a costa. Essas linhas de instabilidade avançam -
OSCILAÇAO SUL (ENSO)
no sentido oeste no escoamento geral, a ve-
1
locidades de cerca de 50 km h- , movendo-se 1 O Oceano Pacífico
mais rapidamente em janeiro do que em julho
A Oscilação Sul é uma variação irregular, uma
e apresentando um complexo processo de cres-
"gangorra " atmosférica ou onda estacionária
cimento, decaimento, migração e regeneração
das células convectivas. Muitas dessas linhas de de massa e pressão at mosféricas, envo lvendo
instabilidade alcançam apenas 100 km conti- trocas de ar entre a célula subtropical de alta
nente adentro, decaindo após o poen te (Figura pressão sobre o Pacífico Sul oriental e uma
11.48 ). Todavia, as instabilidades mais persis- região de baixa pressão centrada no Pacífico
tentes podem produzir uma máxima de pluvio- ocidental e na Indonésia (Figura 11.49) . Ela
sidade por volta de SOOkm continente adentro, apresenta um período irregular, entre dois e 10
e algumas se mantêm ativas por até 48 horas, de anos. Alguns especialistas acreditam que o seu
modo que os seus efeitos sobre a precipitação mecanismo está centrado no controle sobre a
podem penetrar até os Andes no sentido oeste . intensidade dos ventos Alísios do Pacífico exer-
Outras perturbações de mesoescala a sinótica cido pela atividade das células subtropicais de
se formam dentro da A.mazônia, especialmente alta pressão, particularmente sobre o Pacífico
entre abril e setembro. Também ocorre preci - Sul. Outros , reconhecendo o oceano como uma
pitação com a penetração de massas de ar mP enorme fonte de energia térmica, acreditam que
frio do sul, entre setembro e novembro, que são as var iações de temperatura perto da superfície
aquecidas por baixo e se tornam instáveis (ver no Pacífico tropical podem atuar de manei -
Figura 11.47). ra semelhante a um pêndulo, movimentando
As incursões de ar polar (friagens) durante todo o sistema do ENSO (ver Quadro 11.1). É
os meses de inverno podem causar tempera- importante observar que uma . piscina espessa
turas gélidas no sul do Brasil, com um resfria - (isto é, mais de 100 m) com a água superficial
mento a 11ºC mesmo na Amazôn ia. De junho a mais quente do planeta acumula -se no Pacífico
julho de 1994, esses eventos causaram. a devas- equatorial ocidental, entre a superfície e a ter-
tação da produção de café no Brasil. Geralmen- moclina. Ela é causada pela insolação intensa ,
te, um cavado alto atravessa os Andes na região pela baixa perda de calor por evaporação nessa
central d.o Chile, oriundo do Pacífico Sul orien- região de ventos fracos e pelo empilhamento
tal, e um escoamento associado de sul transpor - de â.gua superficial forçada a oeste pelos ventos
ta ar frio para nordes te sobre o sul do Brasil . Alísios de leste . Essa piscina quente se dissipa
Concomitantemente, uma célula superficial de periodicamente durante o El Nino, pela mudan-
alta pressão pode avançar para norte a partir da ça no padrão de circulação das correntes oceâ-
Argentina, com os céus claros associados pro - nicas e pela liberação de calor para a atmosfera
duzindo mais resfriamento radiativo . - de forma dire ta e por evaporação.
Os ventos tropicais de leste sobre as margens A Oscilação Sul é associada às fases da cir-
setentrional. e oriental da Amazônia são suscetí- culação de Walker, apresentadas no Capítulo
veis à formação de ondas de leste e vórtices fe- 7C. l. As fases positivas da circulação de Walker
372 Atm osfera, Tempo e Clim a

60"N

r ~

30"S
o

-~
'O

Figura 11.49 Correlação en tr e pressões médios anuais ao nível do m o r com os observados em Do rw in, Aus-
tróli o , il ustra nd o os duas cé lulas princip a is da Oscilação SuL
Fonte : Rasmusson (1985 ). Copyrigh t @Ame rican Scientist, (1985 ).

(associadas em geral a eventos não ENSO, ou fria de água superficia l se estende naquela di-
La Nifia), que ocorrem em média em três a cada reção , mantida pela Corrente Equatorial Sul.
quatro anos, alternam -se com as fases negativas Essa corrente para oeste é movida pelo vento
(eventos ENSO, ou El Nifio). Asvezes, porém, a e compensada por um declive superfic ial mais
Oscilação Sul não está em evidência, e nenhu- profundo. A contração da água quen te do Pa-
ma das duas fases predomina. O nível de ati - cífico no sentido oeste para o Pacífico tropical
vidade da Oscilação Sul no Pacífico é expresso central e ocidental (Figura 11.SOC)produz uma
pelo fndice da Oscilação Sul (IOS) , que é uma área de instabilidade e convecção, alimentada
medida complexa, envolvendo as temperaturas pela umidade em uma zona de convergência
da superfície do mar e do ar, pressões ao nível sob a influência dual da Zona de Convergência
do mar e mais acima, e pluviosidade em regiões Intertropical e da Zona de Convergê nci a do Pa-
específicas. cífico Sul. O ar ascendente sobre o Pacífico oci -
Duran t e a fase positiva (La Nifia) (Figura de.ntal alime.nta o fluxo de retomo na troposfera
11.SOA), os fortes ventos Alísios no Pacífico tro - superior (isto é, a 200 mb ), fechando e inten -
pical oriental produzem ressurgência ao longo sifican do a circulação de Walker. Todavia, esse
da costa oeste da América do Sul, resultando escoamento também intensifica a circulação
em uma corrente fria no sentido norte (a cor - de Hadley, particularmente a sua componen te
rente do Peru, ou de Humbold t) , denominada meridional para norte no inverno set entrional e
localmente como La Nifia - a garota - por causa para sul no inverno meridional .
de sua riqueza em plâncton e peixes. As baixas Todos os anos, ini ciando em dezembro ,
t emperaturas da superfície do mar produzem um fluxo fraco de água quente para o sul subs-
uma inversão rasa, int ensificando os ventos titui a Corrente do Peru, que flui para o norte,
Alísios (ou seja, criando umfeedback posi tivo), e a ressurgênc ia fria asso ciada por volta de 6ºS
que removem a água da superfície do Pacífico, ao longo da costa do equador . Esse fenômeno,
onde se acumula água quen t e superficial (Figu- conhecido como El Nifio (o menino , em ho ~
ra 11.SOD). Essa ação também faz a termoclina menagem ao menino Jesus), intens ifica-se em
se encon trar em pouca profundidade (por volta intervalos irregulare s de dois a 1O an os (seu
de 40 m) no leste, em oposição aos 100-200 m intervalo médio é quatro anos ), quando a água
observados no Pacíf ico ociden tal. A intensi - quente superficial se torna muito mais ampla, e
ficação dos Alísios de lest e faz a ressurgência a ressurgência costeira cessa inteiramen te. Isso
de água fria se espalhar para oeste , e a língua tem con sequências ecológicas e econômicas ca-
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 373

(A) Dez-fev (não ENSO)

90ºW o· 90"E 180" 9rí'W

(B) Dez-fev 1982- 1983 (ENSO)

go•w o• oo•E 18QP 9íY'W

(C) Dez-f ev Temperaturas da superf ície do mar (não ENSO)

90ºE 18QP

(D) Vento fo rte de leste (não ENSO) (E) Vento fraco de leste {ENSO}
- ir Supera · d
-- -- e..!.~
...?

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...... '
- - - -_,--
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- ~- -- - ----- o
-
------ ~
I
\
-50
- 100

~-----
I I --- 'Tecfl'OCI
'"'ª - - 150
- --200
- 250

Figura 11.50 Seções tr ansversais esquem6tic os do circulação de Wolker ao longo do equador, com base em
c61culos de Y. M, Tourre . (A): regime médio de dezembro o fevereiro (não ENSO), Lo N ino; ar ascendente e chu -
vos fortes ocorrem '
sobre o bac ia amazôn ica, Africa central e Indonésio-Pacíf ico ocidental. (B): padrão ENSO,
dezembro a fevereiro 1982 -1983; o ramo Pacífico ascendente desvia paro leste da Linha do Dato e hó convec -
ção suprim ido em outros locais, d evido à subsidênc ia . (C): afas tamento da tempera tura da superfície do mor de
suo médio zonal equatorial, correspondendo ao coso não ENSO (A ). (D): Alísios fortes fazem o nível do mar sub ir
e a lermoclina aprofundar no Pacífico ocidental para o caso {A). (E): os ven tos d iminuem, o nível do mar sobe no
Pacífic o oriental, à medida que a mossa de ógua retorna a leste e a termoclina se aprofunda ao longo da costa
d a América do Sul durante eventos ENSO. As linhas tracejados em (D) e (E) represen tam as posições médias do
nível médio do ma r e da termoclino.
Fonte: Baseado em Wyrtki (1982) . Com perm issão de Wo,ld Meteoro logi ca l Organizol ion (1985) .

tastróficas para a ictiofauna e a avifauna, e para sidade. Todavia, esses event os coste iros fazem
os setores pesqueiro e de produção de guano no parte de uma mudança nas temperaturas da
Equador, Peru e norte do Chile . A Figura 11.51 superfície do mar ao longo de todo o Oceano
mostra a ocorrência de eventos de El Niiio entre Pacífico. Além disso , o padrão espacial dessas
1525 e 1987, classificados conforme a sua inten - mudanças não é igual para todos os El Nifios .
374 Atm osfera, Tempo e Clim a

11.1 O EI Nino e a Oscilaejão Sul


O s episódios do fenôme no Et N ino, com correntes costeiras que ntes e consequências desastrosas pa ra
a vida e as aves mar inh as, se repete m a cada quatro a sete anos, assim, jó são conh ecidos hó mu ito
tempo ao longo da costa oeste da Am érica do Sul. A Osc ilação Sul relacionada da pressão ao nível do
mar ent re o Taiti (pressão norm al mente elevada ) e Jacar ta (ou Da rwi n) (pressão norm almente ba ixa)
fo i ide ntificada por Sir G ilbe rt Wa tker em 191O, volta ndo a ser pesqu isada na metade da década de
1950 por 1.Schell e H . Berlage, e, na década de 1960 , por A . J. Troup e J. Bjerknes. Troup relaciono u a
oco rrência de cond ições de EI Nino a uma oscilação da atmo sfera sobre o Pacffico eq uatoria l na déca -
da de 1960 . Suas implicações mais amplas para a interação entre ar e mo r e as teleconex ões globa is
fo ram propostas inicial mente pelo professor Jacob B[erknes (famo so pelas frentes po lares) em 1966 ,
o qual ob servou as conexões de condições de EI N ino e La N ina com a Osc ilação Sul. A im portânc ia
g loba l dos eventos de ENSO som ente foi co mp reend ida plena mente nos décadas de 1970 e 1980,
com os fortes eventos de EI Nino de 1972- 1973 e 1982-1983 . As o nól ises globais mostraram pad rões
cla ros de anomal ias sazonais de temperat ura e precipitação em reg iões bem sepa rados d urante e de-
po is do início do aquec imento nas regiões or iental e central do Oceano Pacifi co eq uator ial, incluin do
secas no no rdeste do Brasil e na A ustrolós ia e invern os frios e úmi dos após o EI N ino no sul e sudeste
dos Estado s Unidos.
A ocorrê ncia de eventos ENSO no passado fo i estudada po r meio de doc umento s históri cos, in-
fe rida a pa rtir de anéis de crescimento em 6rvores, recifes de cora is, testemunh os de gelo e reg istros
sedim entares de alta resolução . Estima -se que o efe ito líquido do s g randes eventos de EI N ino sobre as
tendê ncias do tempe ratura globa l seja de apr oximada mente +0,06 °C entre 1950 e 1998.

Referência
Oioz, H.F. e Morkgrof, V. (eds) (1992) EI Nino. Hisforicol ond Po/eoc/imolic Aspecfs o( fhe Southem Osc il!ation, Cambr idge
Universily Press, Camb ridge, 476pp.

Recentemente, K. E. Trenberth e seus colegas do Pacífico e também tende a diminuir a


mostraram que, no período 1950-1977, o aque - pressão sobre o Pacífico oriental. Esse úl-
cimento durante um El Nifio se espalhou para timo causa outra redução na atividade dos
oeste a partir do Peru , ao passo que, após uma ventos Alísios, redução na ressurgência de
grande mudança no clima na bacia do Pacífico água fria, advecção de água quen te e um
em 1976- 1977, o aquecime nto se espalhou para aumen t o nas tempera tu ras da superfície
leste a partir do Pacífico equato ri al ociden t al. do mar - em outras palavras, o início do El
O acoplamento oceano -atmosfera duran t e os Nifto ativa um circuito de f eedbackposit ivo
event os de ENSO claramen te var ia em escalas no sist ema oceano-atmosfera no Pacífico
temporais mul tidecenais. oriental .
Os eventos de ENSO resultam de uma re- 2 Sobre o Pacífico tropical ocidenta l, a área
organização radical da circulação de Walker em de máxima tempera tura do mar e convec-
dois sentidos principais: ção responde ao enfraquecimento citado
da circulação de Walker ao mover-se para
1 A p ressão dim inui e os Alísios enfraque - leste no Pacífico central (Figura 11.SOB).
cem sobre o Pacífico tropical oriental (Fi- Isso se deve > em par t e, a um aumen t o
gura 11.SOB), a ressurgência causada pelo na pressão no oes t e, mas também a um
vento diminui, permi t indo que a ZCIT se movimento combinado da ZCIT para
estenda para o sul, em direção ao Peru . Esse o sul e da ZCPS para o nordeste . Nessas
aumento de 1-4º C nas temperaturas da condições , ondas de ventos equa toriais
superf ície do mar reduz o gradiente oeste- de oeste lan çam uma imensa língua de
-leste na tempera tura da supe rfície do mar água quente (isto é, acima de 27,Sº C) a
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima trop ical 375

1500 1520 1540 1560 1580 1600


MI

1 -

M- - -
1 1 1 - -
1600
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1620
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1640 ' 1660 '
1680 1700
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1800
1 1
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1880
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MI

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- - -
1 1 1 1 1 1
1900 1920 1940 1960 1980 2000

Figura 11.51 Eventos de EI N ino em 1525- 19 8 7, classi f icados como muito intenso (MI), intenso (1) e média
intens idade (M) .
fo nte: Qu inn ond Neol (1992 ). Copyr ight © Routledge , London .

leste sobre o Pacífico central, como on - ou intensificado pela ocorrência de pares


das oceânicas internas de grande escala de ciclones a norte e sul do equador. Esse
(Kelvin ). Sugere-se que esse escoamento fluxo de água quente para leste rebaixa a
para leste às vezes possa ser desencadeado termoc lina ao longo da costa da América
376 Atm osfera, Tempo e Clima

do Sul (Figur a 11.SOE), impedindo que a nônicá ~ A Figura 11.52 ilustra a coincidência
água fria alcance a superfície . de eventos de ENSO com climas regionais mais
úmidos ou mais secos do que o normal.
Desse modo, se o evento que irá se formar
No Capítulo 7C.l, discutimos a observação
será um La Nina ou um El Nino, trazendo água
de Walker de uma teleconexão entre os eventos
superficial fria no sentido oeste ou água super-
de ENSO e a pluvios idade monçônica abaixo
ficial quente no sentido leste, respectivamente,
do normal sobre o sul e sudeste asiático (Figu-
para o Pacífico central, dependerá dos proces-
ra 11.53). Isso se deve ao movimento para leste
sos conco rren t es de ressurgência e advecção.
da zona de máxima convecção sobre o Pacífi-
A fase mais intensa de um evento de El Nifio
co ociden t al. Todavia, é importante reconhecer
geralmen te du ra cerca de um ano, e a mudan -
que os mecanismos do ENSO são apenas uma
ça para o El Nino ocorre por volta de março. a
parte do fenômeno das monções sul-asiáticas.
abril, quando os ventos Alísios e a língua fria
Por exemplo , partes da índia podem ter secas na
estão em seu modo mais fraco . As altera,ções na
ausência do El Nifio, e o começo das monções
circulação oceano -atmosfera no Pacífico du -
também pode depender do controle exercido
rante o El Nifio são facilitadas pelo fato de que
pela quantidade de cobertura de neve euroasi -
o tempo que as correntes oceânicas superficiais
ática sobre a persis tência de célula continental
levam para se adaptar a grandes mudanças nos
de alta pressão .
ventos diminui notavelmente com a diminuição
O movimento da zona de máxima con -
da latitude . Isso é demonstrado pela inversão
vecção do Pacífico ocidental para leste na fase
sazonal da deriva monçônica de sudoeste e nor -
do ENSO também diminui a pluviosidade nas
deste ao longo da costa da Somál ia no Oceano
monções de verão sobre o norte da Austrália,
Índico. A circulação atmosférica de grande es-
bem como a pluviosidade extratrop ical sobre
cala est á sujeita a um feedback nega tivo limitan -
o leste da Austrália na estação de inverno para
te, envolvendo uma correlação negativa entre as
pr imavera. Durante esta últ ima, a cél~la de .alta
intensidades das circulações de Walker e Had -
pressão sobre a Austrália traz secas dissemina -
ley. Assim , o enfraquecimento da circulação de
das, mas que são compensadas pelo aumento
Walker durante um evento de ENSO leva a uma
nas chuvas no oeste da Austrália associado aos
intensificação relativa da circulação de Hadley
ventos de norte que ocorrem na,região .
associada.
Sobre o Oceano fndico, o controle climá -
O término do El Nifio é precedido pelo re -
tico sazonal dominan te é exercido pelas inver-
torno da termoclina a profundidades pequenas
sões sazonais nas monções, mas ainda existe um
no Pacífico equatorial oriental e central, remo-
mecanismo secundário semelhante ao El Nino
vendo as anomalias positivas na temperatura na
sobre o sudeste da África e Madagascar , que re-
superfície do mar . Isso parece ocorre r em res-
sulta em uma redução na pluviosidade durante
posta a uma renovação na forçante dos ventos
eventos de ENSO.
de leste ou a ondas de Kelvin oceânicas equa to-
Observa -se que as teleconexões do ENSO
riais. De dezembro a janeiro , existe um desvio
afetam as regiões extratropicais, assim como
de água a 28ºC para sul do equador em anos
as t ropicais . Durante a fase mais intensa do El
«normais " e de El Nifio, e isso causa a elevação
Nino , duas células de alta pressão, centradas a
da termoclina.
20ºN e 20ºS, formam -se sobre o Pacífico na tro -
posfera superior, onde o aquecimento anômalo
2 Teleconexões
da atmosfera está no nível máximo. Essas célu-
As teleconexões são definidas como ligações las intensificam a circulação de Hadley, fazem
entre variáveis atmosféricas e oceânicas por ven tos t ropicais de níveis altos se formarem
longas distâncias; as ligações entre condições perto do equador, e intensificam correntes de
climáticas no Oceano Pacífico tropical oriental jato subtropicais, deslocando -~ e~. dire~ão ao
e ociden tal representam uma teleconexão "ca- equador, especialmente no hem1sfer10 de inver -
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 377

60' N

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Mais úmldo C Maís seco "

Figura 11.52 Coincidência en tre eventos de ENSO e anomalias de climas regionais mais úmidos ou secos do
que o normal.
Fontes ; Rosmusso n e Ropelowski, e Ho lpert . ln G lontz et o i. (l 990) . Composição reproduz ido com perm issão do Cambridge
Unive ,sity Press .

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EI Nino La Nina EI Nino

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D 10-2s%

1 1 1 1
O km 400

Figura 11.53 Conexão proposto en tre os monções indianas de verão e o EI N ino. (A): in tensidade observado
das monções osióticos de verão (1980-1988) mostrando seu enfraquecimento durante os três anos de EI N ino
' d io onde os déf icits de pluviosidade
intenso, 1982, 1983 e 1987. (B): óreas do ln nas monções de verão (enquan-
to porcentagem abaixo do médio de 1901-1970 ) foram significativamente mais frequentes em anos de EI N ino.
Fonte: A: Browning (1996 ). B: Gregory (1988). IGU Study Group on Recenl Climole Chonge .
378 Atmos fera, Tempo e Clima

no. Durante o evento ENSO intenso do inver - por subsidênc ia, além de submeter o Atlântico
no setentrional de 1982-1983 , essas mudanças tropical ocidental a mais mistura oceânica , ge-
causaram enchentes e ventos fortes em partes rando temperaturas menores na superfície do
da Califórnia e dos Estados do Golfo, com gran- mar, menos evaporação e menos convecção.
des nevascas nas montanhas do oeste dos Esta - Isso tende a:
dos Unidos. No inverno do Hemisfério Norte,
1 Aumentar a.seca no nordeste do Brasil. Po-
os eventos de ENSO com anomalias térmicas
rém, os eventos de ENSO explicam apenas
equatoriais são associados a um forte padrão
10% das variações na precipitação no nor-
de teleconexão de cavados e cristas, conhecido
deste brasileiro.
como padrão do Pacífico-Norte-Americano
2 Aumentar o cisalhamento do vento sobre a
(PNA) (Figura 11.54), que pode trazer nuvens e
região do Atlântico Norte / Caribe, de modo
chuvas para o sudoeste dos Estados Unidos e o
que os eventos ENSO de moderados a in-
noroeste do México.
tensos estão correlacionados com a ocor-
O Oceano Atlântico apresenta uma ten-
rência de aproximadamente 44% menos
dência para um efeito modesto semelhante ao
furacões no Atlântico do que com eventos
El Nifio, mas a piscina ocidental de água quente
nãoENSO.
é muito menor, e as diferenças tropicais entre
leste e oeste são menos consideráveis do que Outra influência do Pacífico envolve como
no Pacífico . No entanto, os eventos de ENSO a intensificação da corrente de jato subtropical
no Pacífico têm uma certa influência no com - meridional pelo ENSO explica em parte a forte
.Portamento do sistema oceano-atmosfera no pluviosidade no sul do Brasil , Paraguai e norte
Atlântico; por exemp lo, o estabelecimen to do da Argentina durante um El Nino intenso. Ou-
centro convectivo de baixa pressão sobre a célu- tra teleconexão atlântica pode residir na Oscila-
la subtropical de alta pressão do Atlânt ico cen - ção do Atlântico Norte (NAO ), uma alternância
tral e oriental e do escoamento geral dos ventos de grande escala em massas atmosféricas entre
Alísios no Atlântico. Isso leva ao desenvolvi- a célula de alta pressão dos Açores e a célula de
mento de uma camada mais forte de inversão baixa pressão da Islândia (ver Capítulo 7C.2) .

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Figura 11.54 Mode lo do padrão de c irculação do Pacífi co-Norte-Americano (PNA) na troposfera superior
durante um even to de EI Nino de dezembro a fev ereiro . O sombreamento indica uma reg ião de ma ,ior pluviosi-
dade, associada a uma convergência anômala de ven tos superficiais de oeste no Pacífico ocidental equatoria l.
fonle: Shuk la e Wollace (1983) . Cortesia da Ame rica n Meteo ro log ical Soc iety,
CAPÍTULO11 O tempo e o clima tropical 379

A intensidade relativa desses dois sistemas de Essas línguas de ar são cobertas por fortes in-
pressão parece afetar a pluviosidade do noroes- versões a 600 e 1500 m, reforçando as inversões
te africano e da zona subsaariana. regionalmente baixas dos ventos Alísios (ver
Figura 11.6) e impedindo o desenvolvimento
H OUTRAS
-
FONTES DE VARIAÇOES
de células convect ivas fortes, exceto onde existe
, , ascensão forçada por feições orográficas. As-
CLIMATICAS NOS TROPICOS
sim, embora o ar fresco marítimo banhe per-
Discutimos os principais sistemas do tempo e petuamente os sopés ocidentais dos Andes com
clima tropicais, mas vários outros elementos névoa e nuvens stratus baixas e Swakopmund
ajudam a criar contrastes no clima tropical no (sudoes te da África ) tenha uma média de 150
espaço e no tempo. dias de nevoeiro por ano, pouca chuva cai so-
bre as planícies costeiras . Lima (Peru) tem um
1 Correntes oceânicas frias total anual médio de precipitação de apenas 46
mm, embora sofra garoas frequentes durante os
Entre as costas ocidentais dos contine .ntes e as
meses de inverno Qunho a setembro) , e Swako-
bordas orientais das células subtropicais de alta
pmund, na Namíb ia, tem uma média anual de
pressão, a superfície oceânica é relativamente
16 mm de pluviosidade. Chuvas mais fortes
fria (ver Figura 7.33). Isso resulta da importa- ocorrem nos raros casos em que muda nças de
ção de água de latitudes maiores pelas correntes grande escala na pressão causam a cessação da
predominantes; da lenta ressurgência (às vezes brisa marinha diurna, ou quando ar modif ica-
à taxa de aproximadamente 1 m em 24 horas) do do Atlântico Sul ou do Oceano Indico Me-
de água de profundidades imediatas devido ao rid ional consegue atravessar os continentes em
efeito de Ekman (ver Capítulo 6A.5); e da diver - um momento de perturbação na estabilidade
gência costeira (ver Figura 7.31). Essa concen- dinâmica dos ventos Alísios. No sudoeste afri -
tração de água fria resfria o ar local suavemente cano, a inversão é mais provável de se desfazer
até o ponto de orvalho. Como resultado, o ar durante outubro ou abril, permitindo a forma -
seco e quente se transforma em neblina - em ção de tempestades convec t ivas (Swakopmund
uma atmosfera relativamente fria, úmida e cal- registrou 51 mm de chuva em um único dia em
ma - onde a temperatura é comparativamente 1934). Todavia, em condições normais, a ocor -
baixa, ao longo da costa oeste da América do rência de precip itação se limita principalmente
Norte, na Califórnia (ver Prancha 11.4), nacos- às encostas montanhosas mais altas e voltadas
ta da América do Sul entre as latitudes de 4 e 3ºS para o mar . Mais ao norte, locais tropica is na
e na costa sudoeste da África (8 e 32ºS). Desse costa oeste em Angola e Gabão mostram que a
modo, Callao, na costa peruana, tem uma tem - ressurgência fria é um fenômeno mais variável
peratura média anual de 19,4ºC, ao passo que a no espaço e no tempo; as chuvas costeiras va-
Bahia (na mesma latitude, na costa brasileira) riam notavelmente com as mudanças na tempe -
tem um valor correspondente de 25ºC. ratura da superfície do mar (Figura 11.55). Na
O efeito de resfriamento das correntes frias América do sul, da Colômbia ao norte do Peru ,
mais distantes da costa não se limita às estações a "maré " diurna de ar frio penetra 60 km con -
costeiras, pois é levado para a.terra durante todo tinente adentro, subindo as encostas voltadas
o dia, em todas as épocas do ano, por um acen- para o mar da Cordilheira Ocidental e derra -
tuado efeito das brisas marinhas (ver Capítulo mando -se sobre os vales longitudinais dos An -
6C.2). Ao longo das costas ocidentais da.Améri - des como á,gua sobre um dique (Figura 11.56).
ca do Sul e do sudoeste africano, o efeito pro te- Nas encos t as voltadas para oeste dos Andes da
tor dos Alísios de leste dinamicamente estáveis, Colômb ia, o ar ascendente ou forçado contra as
proporcionado pelos Andes e pelas Escarpas da montanhas pode , nas condições adequadas , de-
Namíbia, respectivamente, permite incursões sencadear instabilidade convectiva nos Alísios
de línguas baixas de ar frio a partir do sudoeste . sobrejacentes e gerar tempestades e trovoadas .
380 Atm osfera, Tempo e Clim a

Prancha 11.4 Banco de nevoe iro envo lven do a pon te Golde n Gate, São Franc isco. NOAAweo0015 4

No sudoeste africano, porém, a "maré " conti- m, ao passo que os cumes de Mauna Loa e Mau-
nente adentro por aproximadamente 130 km e na Kea, a 4200 m, que se elevam sobre a inver-
sobre os 1800 m das Escarpas da Namíbia sem são dos ventos Alísios, recebem apenas 250-500
produzir muita chuva, pois não é gerada insta - mm. Na ilha havaiana de Oahu, a precipi tação
bilidade convectiva, e o resfriamento adiabático máxima ocorre nas encostas ocidentais, logo a
do ar é mais que compensado pelo aquecimento sotavento do cume de 850 m com relação aos
radiativo do solo quente. ventos Alísios de leste. Medições realizadas nas
Montanhas de Koolau , Oahu , mostram que o
2 Efeitos topográficos fator orográfi co é acentuado durante o verão,
O relevo e a configuração superficial têm um quando a precipitação é associada aos ventos
acentuado efeito sobre as quantidades de chuva de leste, mas, no inverno, quando a precipitação
em regiões tropicais, onde massas de ar quen- advém de perturbações ciclônicas, ela é distri -
te e úmido são frequentes. No sopé sudoeste buída de forma mais regular (Tabela 11.3).
do Monte Cameroon, Debundscha (9 m de As colinas de Khasi, em Assam, são um
elevação) recebe 11.160 mm / ao ano em mé - caso excepcional do efeito combinado do rele -
dia (1960-1980) das monções de sudoeste. Nas vo e da configuração da superfície. Uma parte
ilhas havaianas, o total anual médio excede os da corrente das monções oriunda do interior da
7600 mm nas montanhas, com um dos maio- Baía de Bengala (ver Figura 11.23) é canalizada
res totais anuais médios do mundo, de 11.990 pela topografia para a elevação e a rápida asce.n -
mm a 1569 m de elevação no Monte Waialeale são, que segue a convergência do escoamento
(Kauai), mas no lado a sotavento sofre efeitos na planície afunilada para o sul, resultando em
protetores acentuados , com menos de 500 mm alguns dos maiores to tais anuais de pluviosida -
sobre áreas amplas. No Havaí, a máxima cai so- de registrados em qualquer parte. Mawsyuran
bre os flancos orientais a aproximadamente 900 (1400 m de elevação), 16 km a oeste da famosa
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima trop ical 381

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100 Frio
o - CordWhelra
Ocidental

Figura 11.56 Estruturo do brisa marinha no oeste


5º8 10º8 15º8 da Colômbia.
Fonte : Lopez e Howel l (1967 ). Cortes ia da Americon Meteo •
Fígura 11. 55 Pluviosidade em março ao longo do ro log ical Society.
,
costa sudoeste da Africa (Gabão e Angola) associada
a condições quentes e frias na superffcie do mor .
fonte : Nicholson e Entekhabi in Nicho lson (1989) . Co m per•
climático especial. Na África Oriental equa -
missão do Royal Meteo rolog icol Society. t orial, os três picos vulcânicos do Mon t e Kili-
manjaro (5800 m ), Monte Quênia (5200 m) e
estação de Cherrapunji, tem um tota l anual mé - Ruewn zori (5200 m ) alimen t am geleiras acima
dio (1941-1969 ) de 12.210 mm e pode reivin- de 4700-5100 m. A pre cipitação anual no cume
dicar o título de lugar mais úmido do mundo. do Mon te Quênia é de aproximadamente 1140
Durante o mesmo período, Cherrapunji (1340 mm , semelhante às quantidades no platô ao
m) teve uma média de 11.020 mm; foram re - sul, mas , nas encostas meridionais en tre 2100
gistrados ali extremos de 5690 mm em julho e e 3000 m, e nas encost as orien t ais entre 1400 e
24.400 mm em 1974 (ver Figura 4.11). Todavia, 2400 m, os totais excedem os 2500 mm. Kabete
em toda a área das monções, a topografia de - (a uma elevação de 1800 m, perto de Nairóbi)
sempenha um papel secundário na distribuição apresenta muitas das característica s dos climas
da pluviosidade , em relação à atividade sinótica tropicais de altitude, com uma pequena ampli-
e aos sistemas de grande escala. tude na temperatura anual (temperaturas men -
Um relevo realmente elevado produz gran - sais médias de 19ºC para fevereiro e 16ºC para
des mudanças nas princ ipais características me - julho ), uma grande amplitude na temperatura
teorológicas e deve ser tra t ado como um tipo diurna (média de 9,SºC em julho e 13ºC em fe-

Tabela 11.3 Precipitação nos Montanhas Koolau, Oahu, Hovaí em 1957

Local Elevação (m) Fonte de pluviosidade (cm)

Ventos Alísios
28 de maio-3 de Perturbações clcl6nlcas
setembro 2-29 de janeiro 5-6 de março

Cume 850 71,3 49,9 32,9


760 mo oeste do cume 635 121,0 54,4 37,0
7.600 m a oeste do cume 350 32,9 46,7 33,4

Fonte: Min k (1960).


382 Atm osfera, Tempo e Clima

A • , •
vereiro) e uma grande cobertura média de nu- por sua vez, aumenta a convergenc1a em ruveIS
vens (média 7-8/ 10). baixos dos sistemas de nuvens e intensifica as
correntes de ar ascendentes. O forte resfriamen -
3 Varia~ões di;urnas to dos topos das nuvens , em relação ao seu en -
torno, também pode produzir desestabilização
As variações diurnas no clima são particular -
localizada e estimular a form ação de gotículas
mente evidentes em locais costeiros no cinturão
pela mistura de gotículas de temperaturas di-
dos ventos Alísios e no Arquipélago da Indoné -
ferentes (ver Capítulo SD). Esse efeito atingiria
sia-Malásia. Os regimes de brisas continentais e
um pico perto do amanhecer. Outro fator é que
marinhas são bem desenvolvidos (ver Capítulo
a diferença na temperatura entre mar e ar e, c-0n-
6C.1), pois o aquecimento do ar tropical sobre
sequentemente, o suprimento de calor oceâni-
a terra pode ser até cinco vezes maior do que
co para a atmosfera, é maior entre 03:00-06:00
sobre super fícies líquidas adjacentes. A bri -
horas. Ainda assim, outra hipótese sugere que a
sa marinha normalmente começa entre 8:00 e
oscilação semidiurna na pressão estimula a c-0n-
11:00 horas, atingindo uma velocidade máxima
1 1 vergência e, portanto, a atividade convectiva na
de 6-15 m s- (21-54kmh - ) entre 13:00 e 16:00,
madrugada e à noite, mas divergência e supres-
e reduzindo por volta das 20:00. Ela pode ter
são da convecção ao redor do meio-dia .
1000-2000 m de altura, com velocidade máxima Um grande levantamento dos dados do
a uma elevação de 200 -400 m , e normalmente programa do satélite Tropical Rainfall Mea -
penetra 20-60 km continente adentro. surement Mission (TRMM ) para 1998 -2006
Em grandes ilhas , sob condições de calma - identifica três regimes diurnos de pluviosidade :
ria, as brisas marinhas convergem para o centro, (1) oceânico, com um pico às 06:00 -09:00 hora
de modo que se observa uma máxima vesper- local (hl) e amplitude moderada, encontrado
tina de pluviosidade. Com ventos Alísios está - principalmente nas wnas de convergência tro -
veis, o padrão se desloca com o vento, de modo picais oceânicas; (2) continen tal, com um pico
que o ar descendente pode estar situado sobre às 15:00-18:00 hl e grande amplitude , ocorren-
o centro da ilha . Um caso típico de uma máxi- do na América do Sul e África . Equatorial; e (3)
ma vespertina é ilustrado na Figura 11.57B para costeiro, com grande amplitude e propagação
Nandi (Viti Levu , Fiji) no sudoeste do Pacífico . de fases. Isso difere do lado voltado para o mar,
A estação meteorológica tem exposição a sota - onde ocorrem picos entre 21:00 e 12:00 hl, com
vento nas estações úmidas e secas. Acredita -se propagação para o mar, e o lado voltado para a
que esse padrão de pluviosidade seja comum terra, onde os picos são às 12:00-21:00 hl. Opa -
nos trópicos, mas, sobre o mar aberto e em pe- drão (3) é acentuado no continente marí timo,
quenas ilhas, parece haver uma máxima noturna no subcontinente indiano, no norte da Aus -
(com um pico frequente perto do amanhecer ), trália, e na costa oeste da África equatorial, no
e mesmo ilhas grandes podem apresentar esse nordeste do Brasil e na costa a partir do México
regime noturno quando existe pouca atividade ao Equador. As brisas terrestres geralmente são
sinótica. A Figura 11.57 A ilustra esse padrão fracas e, portanto, não geram muita convergên -
noturno em quatro locais em ilhas pequenas no cia. Um mecanismo alternativo nesse caso pode
Pacífico ocidental. Mesmo ilhas grandes podem estar nas ondas de gravidade.
apresentar esse efeito, bem como a m.áxima ves- A Península da Malásia apresenta regimes
pertina associada à convergência e convecção de diurnos de pluviosidade com grandes varia -
brisas marinhas . Existem várias teorias sobre o ções no verão. Os efeitos das brisas terrestres e
pico noturno de pluviosidade. Estudos recentes marinhas , dos ventos anabáticos e catabáticos
apontam um efeito radiativo, envolvendo um e da topografia complicam bas t ante o padrão
resfriamento noturno mais efetivo de áreas li - das chuvas , por causa das suas interações com
vres de nuvens ao redor dos sistemas de nuvens a corrente de baixo nível das monções de su-
de mesoescala. Isso favorece a subsidência , que , doeste. Por exemplo , existe uma máxima no -
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 383

turna na região do Estreito de Malaca , asso- uma pesada acumulação de nuvens cumulus e
ciada à convecção gerada pela convergência de pancadas vespertina s.
brisas terrestres da Ma lásia e de Suma t ra ( cf.
p . 339 ). Todavia, na costa leste da Malásia, a
1 PREVISÃO DO TEMPO TROPICAL
máxima ocorre no fina l da tarde e começo da
noi te, quando as brisas marinhas se estendem Nas últimas duas décadas , houve um signi fica-
a aproximadamente 30 km continente aden- t ivo progresso na prev isão do tempo tropical.
tro, contra os ventos monçônicos de sudoeste , Esse progresso resultou de muitos dos avanços
e se formam nuvens convectivas na corrente na tecnologia de observação e na modelagem
mais profunda da brisa marinha sobre a faixa numérica global discutida no Capí tulo 8. Par-
costeira. Nas mon tanhas in teriores, as chuvas t icularme nte impo rt ant e nos trópi cos tem sido
de verão têm uma máxima vespertina, devido a disponibilidade de dados de satélites geoes t a-
ao processo desimpedido de convecção . No cionários, temperaturas na superfície do mar ,
norte da Austrália, o fenômeno das brisas ma - vetores de ventos e perf is verticais da tempe -
rinhas aparentemente se estende até 200 km ratura e umidade . Ao longo dos últimos anos,
continente adentro a partir do Golfo de Car- houve melhoras significativas nos sistemas de
pentaria no in ício da noite . Na estação seca de observação dos oceanos . Hoje existem mais de
agosto a novembro, isso pode criar condições 3.300 boias ARGO operando nos oceanos do
adequadas para a "Morning Glory " - uma plane ta, registrando a tempera tura, salinidade
nuvem -rolo oca e linear e uma linha de insta - e veloc idade a 200 m de profundidade e forne-
bilidade que se propagam, geralmente a par- cendo dados em tempo real Também existem
tir do nordeste , sobre a inversão criada pelo instalações de radares meteorológicos em gran -
ar marítimo e pelo resfriamento noturno . As des centros na índia, na América Cen tral e no
brisas marinhas costumam ser associadas a Extremo Orien te; e em alguns locais na África
e no Pacifico sudoeste ; por enquanto, existem

-
.r::.
"' E
175

150
Pacifico ocidental
r-,... ___ ..., Ilhas
grandes
{A} poucas na.América do Sul Uma grande dificul -
dade na previsão tropical é imposta pela fonte
-o E
-g-; de energia predominante do calor latente libe -
:2 ~ 125 Ilhas
~ 1'l pequenas rado pela precipitação em sistemas de nuvens
1: ~ 100 convec tivas, o que não pode ser simulado com
a.
75+---.----.----.----.----.---+ facilidade, devido aos processos de pequena es-
00 04 08 12 16 20 24
a ~-----------~ cala envolvidos na dinâmica das nuvens .
NANDI 18º5 178ºE {B}
1 Previsões de cur1o e médio
Estação úmida
prazo
A evolução e o movimento dos sistemas me -
Estação seca , teorológicos tropicais estão conectados prin -
cipalmente com as áreas de convergência de
-2-1--- .......:..
--=::~':!L-- - --.-- --.-- ---I velocidades de ventos e cisalhamento do vento
00 04 08 12 16 20 24
Hora local (hQ horizontal, identificadas em análises cinemáti -
cas de níveis baixos que representam as linhas
Fi gura 11. 57 Variação diurno na intensi d a d e da de corren tes e isótacas e sistemas associados de
pluviosidade para ilhas tropicais no Pacifico . (A) : ilhas nuvens, com suas mudanças sendo identificadas
gran d es e pequenos no Pacífico ocidental. (B): esta-
a partir de imagens de satélites geoestacionários
ções úm id as e secas paro N o ndi (Fiji) no Pacifico su-
doeste (desvio percentual d o média diória).
(a cada meia hora ) e rad ares meteorológicos;
Fontes:(A): Groy ond Jacobson (1977 ). (B}: Finkelstein in essas imagens são úteis para fazer "nowcasting '
Hutchings (1964). e avisos. Todavia, sabe -se que os agrupamen -
384 Atmos fera, Tempo e Clima

tos de nuvens são altamente irregula res em sua atlânticos e do número de dias em que cada um
persistência além de 24 horas, além de estarem ocorre foram desenvolvidas a partir de relações
sujeitos a fortes variações diurnas e influências estatísticas com o estado do El Niiío, a pressão
orográficas, que precisam ser avaliadas. A aná - média ao níve l do mar de abr il a maio sobre o
lise de variações diurnas na temperatura, com Caribe e a fase de leste ou oeste dos ventos tro-
diferentes estados de nuvens para estações secas picais estratosféricos a 30mb (ver p. 338). Os
e úmidas, é uma ferramenta útil pa ra a previ - ciclones na estação de verão seguinte são mais
são local . Atribuir igual peso à persistência e à numerosos quando, durante a primavera, os
climatologia gera bons resultados para ventos ventos zonais a 30 e 50mb são de oeste e cres-
em níveis baixos, por exemplo. A previsão do centes, o ENSO está no modo La Nina (frio ) e
movimento de tempestades tropicais também existe pressão abaixo da normal no Car ibe. As
se baseia principalmente em imagens de satélite condições úmidas no Sahel parecem favorecer
e dados de radar . Para previsões de 6-12 horas, o desenvolvimento de perturbações no Atlân -
é possível fazer extrapolações a partir da rota tico oriental e central. Em novembro, faz-se
suavizada das 12-24 horas anteriores . A preci- uma previsão inicial para a estação seguinte
são das previsões para a localização do centro (com base na fase do vento estratosférico e na
de tempestades no solo costuma estar dentro de pluviosidade de agosto a novembro no Sahel
um raio aproximado de 150 km. Existem cen- ocidental), com uma segunda previsão, usando
tros especializados pa ra essas previsões e avi- informações sobre nove indicadores, até julho
sos regionais em Miami, Guam, Darwin, Hong do ano corrente .
Kong, Nova Délhi e Tóquio . Previsões para pe- Pelo menos cinco modelos de previsão
ríodos de dois a cinco dias recebem pouca aten- foram desenvolvidos para prever as flutuações
ção. Nos meses de inverno, as margens tropicais, do ENSO com até 12 meses de antecedência;
especialmente no Hemisfério Norte, podem ser três envolvem modelos acoplados da circula -
afetadas pelas características da circulação em ção geral oceano -atmosfera, um é estatístico e
latitudes médias. Exemplos são as frentes frias outro usa combinação análoga. Cada um dos
que avançam para o sul, em direção à América métodos apresenta um nível comparável de ca -
Central e ao Caribe, ou para o norte, da Argen - pacidade moderada para três estações à frente,
tina para o Brasil. O movimento desses sistemas com uma redução notável na capacidade para a
pode ser previsto a partir de modelos numéri - primavera setentrional A fase do ENSO afeta a
cos preparados em centros importantes, como o pluviosidade sazonal no nordeste do Brasil, por
NCEP e o ECMWF . exemplo, e outras áreas continentais tropicais,
além de modificar o clima de inverno em par-
2 Previsões de longo prazo
tes da América do Norte , pela interação entre
Na faixa de 15 a 90 dias, observa -se que os anomalias na temperatura da superfície do mar
modelos numéricos dependem muito das con - tropical e pela convecção em ondas planetárias
dições iniciais para várias semanas. Isso é de- em latitudes médias.
terminado pela Oscilação de Maddden-Julian A pluviosidade das monções de verão na
(OMJ ) intrassazonal (30 a 60 dias) e pelares - índia está relacionada com o ENSO, mas as re-
posta lenta da atmosfera a mudanças nas condi- lações em geral são simultâneas, ou os eventos
ções limítrofes . Todavia, a variabilidade da OMJ monçônicos ocorrem mesmo antes das mudan -
pode ser removida usando médias mensais . A ças no ENSO. Os anos de El Nifio (La Nina ) são
forçante dos limites é o principal determinante associados a secas (enchentes) na fndia. Foram
da capacidade de fazer previsões para até uma propostos diversos indicadores para prever as
estação. chuvas monçônicas em toda a índia, incluindo
Para escalas temporais maiores, três áreas as temperaturas da primavera e pressão indi -
de progresso merecem atenção. As previsões cando a baixa térmica, o escoamento transe -
do número de tempestades e furacões tropicais quatorial no Oceano índico, as carac terísticas
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima trop ical 385

da circulação a 500 e 200mb, e a cobertura de A pluviosidade sobre a África Ocidental


neve no inverno euroasiático. Um indicador subsaariana é prevista pelo Meteorological
crucial da pluviosidade na fndia é a latitude da Office do Reino Unido com o uso de méto -
crista de SOOmbao longo de 75ºE em abril, mas dos esta tísticos . Para o Sahel, condições mais
a abordagem operacional mais proveitosa pare- secas são associadas a uma redução no gra-
ce ser uma combinação estatística desses parâ- diente int er-hemisférico das temperaturas da
metros, com uma previsão divulgada em maio superfície do mar no Atlântico tropical e a um
para o período de junho a setembro. A impor- Pacífico equatorial anomalamen te quen t e. A
tante questão do padrão espacial do começo, da pluviosidade sobre a costa da Guiné aumen -
duração e do recuo das monções e de sua varia- t a quando o Atlân tico Sul está mais quente do
bilidade ainda não foi abordada. que o normal.

A atmosfera tropical difere significat ivamente da observada em latitudes médias. Os gradientes de tem -
peratura são fracos e os sistemas meteorológicos são produzidos principalmente pela convergência de
correntes de ar, que desencadeia convecção na camada superficial úmida. Existem grandes diferenças
longitudinais no clima, como resultado das zonas de subsidência (ascensão) nas margens orientais (oci-
dentais) das células subtropica is de alta pressão. Nas margens orientais dos oceanos, h6 uma forte in-
versão dos ventos Alísios a aproximadamente 1 km, com ar seco descendente acima, gerando estabili-
dade. Essa cobertura est6vel o favor do escoamento é elevada gradualmente pela penetração de nuvens
convectivos o medido que os Alísios fluem para oeste. As massas de nuvens costumam se organizar em
"agrupamentos" amorfos em escalo subsinótica; alguns desses grupos têm linhas de instabilidade linea-
res, que são uma fonte importante de precipitação na África Oc id ental. Os sistemas dos ventos Alísios
dos dois hemisférios convergem, mas não de maneira espacial ou tempo ralmente contínua . Essa Zona
de Convergênc ia Intertropical também desvio em direção ,
aos polos sobre
,
os setores cont inentais nove -
rão, em associação com os regimes monçônicos da Asia Mer idional, Africa Ocidental e Austról ia Seten-
trional. Existe a Zona de Convergência do Pacífico Sul no verão meridiona l.
As perturbações ondulatór ias nos ventos tropicais de leste variam regionalmente. A onda "clás-
sica" de leste tem acumulação de nuvens e precipitação máximas atrós (a leste) da linha do cavado .
Essa distribuição advém da conservação do vorticidade potencial pelo ar. Por volta de 10% dos per-
turbações ondulatórias se intensificam posteriormente( to rnando-se tempestades ou ciclones tropicais.
Isso exige uma superfície marinha quente e convergência em níveis baixos para manter o suprimento
de calor sensível e latente e divergência em níveis altos para manter a ascensão . As "torres quentes"
de nuvens cumulonimbus explicam uma pequena fração das faixas de nuvens em espiral. Os ciclones
tropica is são mais numerosos nos oceanos ocidentais do Hemisfério Norte nas estações de verão a
outono . ,
A inversão sazonal dos ventos nas monções da Asia Meridional é produto de influências globais e
regionais . A barre ira orogróf ica do Himalaia e do Planalto Tibetano desempenha um papel importan-
te. No inverno, a corrente de jato subtropical
, de oeste est6 ancorada ao sul das montanhas. Observa-
-se subsidência sobre o norte do lndia, trazendo ventos (Alísios), superfic iais de nordeste. Depressões
do Mediterrâneo penetram ocasionalmente no noroeste da lndia-Paquistão. A inversão do circulação
no verão é desencadeado pelo desenvolvimento de um antic iclone em altitude , sobre o elevado do
Planalto Tibetano, com escoamento de leste nos níveis superiores sobre a lndia. Essa mudança , é
acompanhada pela extensão para , norte dos ventos de baixos níveis de sudoeste no Oceano Indico,
que aparece prime iro no sul ,do lndia e na costa de Mianmar e depois se estende para noroeste . As
"monções" de verão sobre a Asio Oriental também avançam de sudeste para noroeste, mas as chuvas
Mai.yu resultam principalmente de depressões que avançam no sentido nordeste e tempestades . A
pluv iosidade se concentra em períodos associados a "depressões monçõnicas", que viajam para oeste,
386 Atm osfera, Tempo e Clima

desviadas pelos ventos de altitude de leste. As chuvas monçônicas oscilam de intensidade, gerando
períodos "ativos" e de "intervalos" em resposta aos deslocamentos da Depressão Monçônica para o
sul e para o norte, respectivamente . Também existe consideróvel variabilidade interanual.
As monções do oeste africano têm mui tas semelhanças com as da 'l ndia, mas seu avanço para
o norte não é prejudicado por uma barreira montanhosa ao norte. Foram identificados qua tro cintu-
rões clim6ticos zonais, relacionados com a localização de correntes de jato de leste sobrejacentes e
perturbações no sentido leste-oeste. A zona do Sahel é atingida pela Depressão Monçônica, mas o ar
descendente limita a pluviosidade.
'
O clima da Africa equatorial é bastan te influenciado por ventos de baixos níveis de oeste, oriun-
dos da alta do Atldntico Sul (todo o ano), e por ventos de leste no inverno, oriundos do anticiclone do
'
Oceano Indico Meridional. Esses fluxos convergem ao longo da Zona de Conferência de ar do Zaire
(ZAB) com ventos de leste em altitude. No verão, o ZAB se desloca para o sul, e ventos de nordeste
'
sobre a Africa orien tal encontram os ventos de oeste ao longo da ZCIT, orientados no sentido norte-sul
'
de Oº a 12°S. As características das perturba5ões sobre a Africa são complexas e pouco conhecidas. O
fluxo amplo de leste afeta a maior parte da Africa ao sul de 10°S (inverno) ou 15-l8°S {verão), embora
'
os ventos meridionais de oeste afetem a Africa Meridional no inverno .
Na Amazônia, onde existem ventos tropicais de leste, mas a ZCIT não é bem-definida, as altas
subtropicais do Atl8ntico Norte e Sul influenciam a região. A precipi tação é associada à atividade con-
vectiva, desencadeando convergência em níveis baixos, com a formação in situ de per turbações em
escala média e sin6 tica, e linhas de instabilidade geradas por ventos costeiros que avançam continente
adentro.
O setor do Oceano Pacífico equatorial desempenho um papel importante nas anomalias clim6-
ticas em grande parte dos trópicos. Em intervalos irregulares, de três a cinco anos, os ventos tropicais
de leste sobre o Pacífico centro -leste enfraquecem, a ressurgência cessa na costa da América do Sul,
e a convecção normal sobre a Indonésia desvia-se para leste, em direção ao Pacífico central. Esses
eventos quen tes de ENSO, que substituem o modo La Nina normal, têm repercussões globais, pois as
relações de teleconexão se estendem a algumas óreas extratropicais, particularmente a Ásia Oriental
e a América do Norte.
A variabilidade nos climas tropicais também se d6 por intermédio de efeitos diurnos, como brisas
terres tres e marinhas, efeitos topogr6ficos e costeiros locais sobre o escoamento, e a penetração de
sistemas meteorológicos extratropicais e do fluxo de ar em latitudes mais baixas.
A previsão de curta duração para o tempo tropical costuma ser limitada pela escassez de obser-
vações e pelo pouco conhecimento das perturbações envolvidas . As previsões sazonais têm tido um
certo grau de sucesso
, para a evolução do reg ime do ENSO, a atividade de furacões no Atlantico e a
pluviosidade na Africa Ocidental.

• Considere os diversos fatores que influenciam os danos causados por um ciclone tropical nas re-
giões costeiras em diferentes partes do mundo (p. ex., o sudeste dos EUA, as flhas do Caribe, Ban-
gladesh, o norte da Aust rália e Hong Kong).
• Use os índices ENSO, NAO, PNA e outros dispon íveis na Internet (ver Apêndice 40 } para comparar
anomalias de temperatura e precip itação em uma região de seu interesse durante fases posit ivas e
negativas das oscilações.
• Analise as semelhanças e diferenças entre os princ ipais climas monçônicos do mundo .
• Quais são as semelhanças e diferenças entre os sistemas ciclônicos em médias lat itudes e nos tró-
.
picos.2
• Por quais mecanismos os eventos de ENSO afetam as anoma lias clim6ticas nos trópicos e em outras
partes do mundo?
CAPÍTULO 11 O tempo e o clima tropical 387

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•1mas a
cama a imite

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Depois de ler este capítu lo, você:

• entender6 a importancia das características superficia is para as trocas de energia e umidade e,


assim, poro os climas de pequena escalo;
• entenderó como os ambientes florestais e urbanos mod ificam as condições atmosféricos e o clima
loca l; e
• conheceró as caracter ísticos de uma ilha de calor urbana.

Os fenômenos meteorológicos abrangem uma ca e convectiva transportam massa, momento


ampla variedade de escalas espaciais e tempo- e energia, além de trocarem aerossóis e subs-
rais, desde rajadas de vento que levantam folhas tâncias químicas entre a atmosfera inferior e a
e outros detritos, aos sistemas de ventos em superfície da Terra. A camada limite é especial-
escala global, que moldam o clima planetário. mente propensa ao resfriamento noturno e ao
Suas escalas de tempo e extensão, assim como aquecimento diurno e, dentro dela, a velocidade
sua energia cinética, são ilustradas na Figura do vento diminui por atrito, desde a velocidade
12.1, em compa ração com as de uma variedade do ar livre no alto a valores mais baixos perto
de atividades humanas . A turbulência em pe - da superfície, chegando fmalmente à altura do
quena escala, com vórtices de vento de alguns comprimento da rugosidade, com velocidade
metros de dimensão e duração de apenas al- zero (ver Capítulo 5).
guns segundos, representa o domínio da micro- Os processos de difusão dentro da camada
meteorologia,ou dos climas da camada limi te. limite são de dois tipos:
Os climas de pequena escala ocorrem dentro
da camada limite planetária (ver Capítulo 5) 1 Difusão em vórtices. Os vórtices envolvem
e têm escalas verticais da ordem de l 0 3m, es- parcelas de ar que transportam energia,
calas horizontais de 104m, e escalas temporais momento e umidade de um local para
de aproximadamente 105 segundos (isto é, um outro . Em geral, podem ser resolvidos em
pouco mais que um dia) . A camada limite geral- vórtices espiralados ascendentes que levam
mente tem 1 km de espessura, mas varia entre a transferências da superfície da Terra para
20 m e vários quilômetros em diferentes locais a atmosfera ou de uma camada vertical de
e diferentes momentos no mesmo local. Dentro ar para outra. Esses vórtices podem ser de-
dessa camada, os processos de difusão mecâni - fmidos por linhas de correntes generaliza-
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 393

10"' Big Bang

to" Ro:ação da Terra


10 " Racfiação solar anual para a Terra
1O" 1mpacto de cometa
102'3Total de reserva m undial da combustíveis fósseis

1oª E . . •. f. . . . 1021 - Crescime'l!o anual da bio massa marinha


nerg1ac1net1ca atmos erica max1ma Circulação planetária
- Produção energética comerc ial mLn cfJal2000
- 1 ano Monções •

10 7 - Zooa frontal • • 1020 - Uso mund'a l de energia 1950

- Produção mundial total da eletricidade 1906


Corrente de jato •
- 1 mês g;1 - Total de armas nuclearoo dos EUA 1985
Onda planetaria • 1o19
.... O - Erupção de vulcão grande
6 ll)
ín 10 - - 10 ·dia s
ll)
O>
(1) ([)
.l!1,.. Depressão • 3 - Energia exp lorável das marés po, ano


õ 105 - - 1 dia Agrupamento •
• Frente fria
a. de nuvens • Furacão - Bomba H 1964
E - 10 horas
.....
(1)

cu • Ventos locais
iü 104 -
~ Cumu lonimbus •
w - 1 hora • Trovoada grande

Trovoada local • • Giro oceânico de - Bomba A 1945


• mesoesca la
10 3 - Cumulus grandes
- 10 m inutos
• Tomado - Uma noita da ilu minação txbana em Nova Yorlt
• Célul a de cumulus - Relâmpago
102 - - Dieta humana anual
- 1 minuto - Um h ambúrguer
• Turbilhão de poeira

101 --- .....,---.----,-- ....


, ----.--- .-----\
10 1 102 103 104 105 106 107
Escala espaci al (m)

Figura 12.1 Relação entre as e scalas temporal e espacia l de uma variedade de fenômenos meteorológicos
com seu equivalente em energia cinética (jou les). Os va lores equivalentes em energia ciné tico são mostrados
1
para outros fenômenos antrópicos e na tura is. "Impacto de cometa ' refere-se ao KT (evento Cretóceo/Terciório).

das (i.e., flutuações resolvidas). Eles variam perfície sem vegetação . A equação do balanço
em tamanho de alguns ce.ntímetros (10-2m ) de energia em superfície, discu tida no Capítulo
de diâmetro acima de uma superfície aque- 3D, é escrita da seguinte forma:
cida a 1-2 m (10°m ), resultando de convec -
Rn = H +LE+G
ção de pequena escala e rugosidade super-
ficial, e crescem até se tornarem dust devies onde Rn, o saldo de radiação de todos os com -
(turbilhões de poeira ) ( 10 1m, durando 10 1~ primentos de onda = [S(l - a)] + Ln
2 3 2 3
10 s) e tornados ( 10 m, durando 10 - 10 s) .
S= radiação incidente de ondas curtas
2 Difusão turbulenta . São flutuações aparen -
a. = fração correspondente ao albedo da
temente aleatórias (isto é, não resolvidas)
superf ície
de velocidades instantâneas, com variação
Ln = saldo de radiação (emitida ) de ondas
de um segundo ou menos.
longas (infravermelho)

Rn geralmente é posi tivo durante o dia ,


A BALANÇOS ENERGÉTICOSEM
pois a radiação solar absorvida excede o saldo
SUPERFICIE
de radiação emit ida de ondas longas; à noite,
Em primeiro lugar, revisaremos o processo de quando S = O, Rn é determinado pela magni-
troca de energia entre a atmosfera e uma su - tude negativa de Ln, pois a radiação emitida de
394 Atmosfera, Tempo e C lima

ondas longas pela superfície, invariavelmente, lhas e caules. Outro componente energético a ser
excede o componente que chega da atmosfera. considerado em áreas de cobertura vegetal mis-
Os termos do fluxo energético da superfície ta (floresta/campo, deserto/oásis) e em corpos
são definidos como positivos quando afastados d'água é a transferência horizontal (advecção)de
da interface da superfície: calor pelo vento e pelas correntes (M; ver Figu -
ra 12.28 ). A atmosfera transporta calor sensível
G = fluxo de calor para o solo,
e latente no sentido vertical e horizontal
H = fluxo turbulento de calor sensível
pa.ra a atmosfera, ,
LE = fluxo turbulento de calor latente para B SUPERFICIES NATURAIS..
a atmosfera (E = evaporação; L= ca- SEM VEGETAÇAO
lor latente de vaporização).
1 Rocha e areia
Durante o dia, o saldo de radiação é equi-
As trocas energéticas das superfícies desérticas
librado pelos fluxos turbulentos emitidos de
calor sensível (H) e calor laten te (LE) para a secas são relativamente simples. Um padrão
diurno representativo da troca energética so-
atmosfera e pela condução do fluxo de calor
para o solo (G). A noite, o Rn negativo causado bre superfícies desérticas é mostrado na Figu -
ra 12.3. A temperatura do ar a 2 m varia entre
pelo saldo de radiação emitido de ondas longas
17 e 29ºC, embora a superfície do leito seco do
é compensado pela condução de calor do solo
lago atinja 57ºC ao meio-dia. Rn alcança uma
(G) e calor turbulento do ar (H) (Figura 12.2A).
máxima em torno das 13:00 horas, quando a
Ocasionalmente, a condensação pode contri-
maior parte do calor é transferida para o ar por
buir com calor para a superfície.
convecção turbulenta; no começo da manhã,
Normalmente, existe um pequeno estoque
o calor penetra no solo. A noi te, esse calor do
de calor residual (AS) no solo na primavera/ve-
solo retorna para a superfície, compensando o
rão e um retorno do calor para a superfície no
resfriamento radiativo. Em um período de 24
outono/inverno. Quando existe uma cobertura
horas, por volta de 90% do saldo de radiação
de vegetação, pode haver um pequeno armaze-
transformam-se em calor sensível, 10% vão
namento adicional de calor bioquímico) devido
para o fluxo do solo. Temperaturas superficiais
à fotossíntese, assim como de calor físico nas fo-
extremas de mais de 88ºC foram medidas no
(A) Vale da Morte, Califórnia, e parece que o limite
Día Noite superior fica em torno de 93ºC. As temperatu-
ras máximas do ar já registradas são de 56,7ºC
no Rancho Greenland, no Vale da Morte, Cali-
fórnia, e 57,BºC em El Azizia, na Líbia.
As propriedades da superfície modificam
(8)
a penetração do calor, como mostram as medi-
ções realizadas em meados de agosto no Saara
(Figura 12.4). As temperaturas máximas alcan-
çadas em superfícies de basalto escuro e arenito
claro são quase idênticas, mas a maior conduti-
1 1
Solo vidade térm ica do basalto (3,1 W m- K- ) em
! relação ao arenito (2,4 W m- 1~ L) confere uma
maior ampli tude diurna e maior penetração da
Figura 12.2 Fluxos de energ ia envo lvidos no bala n- onda térmica diurna, de cerca de l m no basal-
ço ene rgét ico de um a super fície simp les dura nte o d ia to. Na areia, a onda térmica é desprezível a 30
e a no ite (A) e um a supe rfície co m vege tação (BJ. cm, devido à baixa condu tividade do ar inter-
Font e : O ke (1978). Co rtesia de Rout ledge o nd Methue n. granular. Observe que a amplitude superficial
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 395

(A} Basalto
8 ~
o 80
o Superfíc ie
l(j' ã: 1 cm
6 ll>
E a. 6o 3cm

~
('O
. 4
(t)
a.
o -....
cu
70
7cm

·-e> ~ ~ 60
Q) Rn 2 ~ ~
e 600 o Q)
Q)
ll>
a.
Q)
N
E
Q) 50
o 3
-
'O
oX 400 1-

-
-o
:::,

'O
Q)
200
3

-
t/) 40

o 16 20 24 04 08 12 16
i'O
·- Hora
C/)
e (B) Duna de areia
a> -200
o 70

04 08 12 16 20 24 04
Superficie
Hora - 60
oe_.
Fígura 12.3 Flu xos de e ner gia envolvidos em uma ~ 50
superf ície de lago seco em EI Miroge , Ca Hfór ni a ~
Q)
(35°N), em 10-1 1 de junho de 1950 . A ve locidade do a. 40
E
ven to decor ren te de turbulência superficial foi medido
~
a uma al tur a de 2 m.
30
Fonte: Vehrencamp (1953) e Oke {1978). 75cm

da temperatura é várias vezes maior do que 12 16 20 24 04 08 12


no ar. A areia também tem um albedo de 0,35, Hora
comparado com aproximadamen te 0,2 para
Figura 12 .4 Temp erat ur as d iurn as perto, sobre e
uma superfície rochosa. abaixo da superfície no reg ião de Ti besti , Saara cen-
, tral, em meados de agosto de 1961 . (A ): na superfície
2 Agua e a 1 cm, 3 cm e 7 cm abaixo da superfíci e de um
basalto; (B): na camada de ar superfic ia l, no sup er-
Para um corpo d'água, os fluxos de energia têm freie e o 30 cm e 75 cm aba ixo do superfíc ie de uma
proporções bastante diferentes. A Figu r a 12.5 duna de areia.
ilustra o regime diurno para o Oceano Atlân- Fonte : Pee l (1974 ). Cortesia de Zeilschrift für Geomarpho -
log ie.
tico tropical, mostrando a média para 20 de ju-
nho a 2 de julho de 1969. O balanço energético
simples baseia -se na premissa de que o termo
3 Neve e gelo
advectivo horiwntal devido à transferência de As superfícies que têm cobertura de neve ou
calor por correntes é zero, e que o influxo total gelo por grande parte do ano apresentam balan-
de energia é absorvido nos 27 m superiores do ços energéticos mais complexos. Esses tipos de
oceano. Assim, entre 06:00 e 16:00 horas, quase superfície são : oceano coberto por gelo mari-
todo o saldo de radiação é absorvido pela cama- nho; geleiras, tundra; florestas boreais e estepe,
da de água (i.e., !!W é positivo) e, em todos os que são cobertas por neve durante o longo in-
outros momentos, a água oceânica está esquen- verno. Balanços de energia semelhantes carac-
tando o ar pela transferência de calor sensível e terizam os meses de inverno (Figura 12.6). Uma
calor latente de evaporação. A máxima da tarde exceção está nas áreas locais de oceano cober-
é determinada pela hora de temperatu ra máxi- tas por gelo marinho fino, e as fissuras abertas
2
ma na água de superfície. no gelo têm 300 W m - disponíveis - mais do
396 Atmos fera, Tempo e Clima

800...------------------. que a radiação líquida para as florestas boreais


no verão. A transição para a primavera sobre o
continente é bastante rápida (ver Figura 10.38).
Durante o verão, quando o albedo se torna um
parâmetro superficial crítico, existem impor -
tantes contrastes espaciais. No verão, o balanço
de radiação do gelo marinho com mais de três
metros de espessura é bastante baixo e, para
geleiras em ablação, é ainda menor. O derreti-
-400-------.--------....-....----,.----- mento da neve envolve a componente adicional
oo 04 08 12 16 20 24
Hora do balanço de energia (.6.M), que é a mudança
(positiva) no estoque líquido de calor latente
Figura 12.5 Variação d iurn a médio dos componen- devido ao derretimento (Figur a 12.7). Nesse
tes do balanço de energia de ntr o e sobre o Oceano
exemplo de derretimento no Lago Bad, Saska-
A tlêlntico tropical dura nte o per íodo de 20 de junho a
2 de julho de 1969 . tchewan, em 10 de abril de 1974, o valor de Rn
Fonte: Hollond . ln Oke (1987 ). Com pe rmissão de Routledge se manteve baixo por causa do elevado albedo
ond Methuen, London, ond T. R. Oke. da neve (0,65). Como o ar sempre estava mais

Verão (dia) Verão (noite)


Rn H LE G M Rn H LE G M
163 68 78 22 15 2 8

Floresta de abeto
G+M
Verão sem neve
Permafrost (60ºN)

106 41 34
18
20 17 14 , 2

Tundra costeira
o
Verão sem neve
Permafrost (71ºN)

9
66 24 9 55

Zona de ablação
de geleiras
Neve e gelo no
verão (69°N)

9
73 6 7 61 29 15

Gelo marinho espesso


Gelo e neve no verão o o
Oceano Ártico G+M

14

2
Figura 12.6 Balanços de ene rgia (W m- ) sobre quatro tipos de terreno nas regiões polares. M = energia usada
paro derreter o neve.
Fonte: Weller e Wendler (1990). Reimpressode Annols oi G lociology, com permissão do lnternotionol Glociologicol Society.
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 397

200~-------------- , t ante considerar os cul tivas de pequeno porte e


(f"
E as florestas separadamente.
~ 150
«I
Õl
.._
~ 100
1 Cultivos verdes de pequeno
G)
G) porte
"O
~ 50 Todo cultivo verde de pequeno porte, com até
;;:
um metro de altura, quando recebe água sufi -
ciente e é exposto a condições semelhantes de
radiação solar, tem um balanço semelhante de
radiação líquida (Rn). Isso se dá principalmen -
t e por causa da pequena amplitude de albedos,
20-30 % para cultivos verdes de pequeno porte ,
comparação com 9-18% para as florestas. A es-
f[gura 12.7 Component es do ba lanço energé ti co
poro uma cobertura de ne11eem processo de d e rre- trutura da cobertura parece ser a principal ra-
timento no Lago Bod, Saska tchewon (51ºN) em 1O de zão para essa diferença em albedo.
abr il de 1974 . A Tabela 12.1 mostra números gerais para
Fo n te : Gra nger e Mo le . Mod ified by Oke (1987 ). as taxas de dispersão de energia ao meio-dia em
um dia de junho em uma plantação de gramíne -
quente do que a neve que derretia , havia um as com 20 cm nas latitudes médias superiores .
fluxo de calor sensível do ar o tempo todo (i.e., A Figura 12.8 mostra os balanços de ener -
H negativo). Antes do meio -dia, quase toda a gia diurnos e anuais de uma plan tação de gra -
radiação líquida havia passado para o estoque míneas de pequeno porte perto de Copenhagen
de calor da neve , gerando derretimento, que (56ºN). Para um período médio de 24 horas em
ating iu seu pico à t arde (ô.M máximo). A radia- junho, por volta de 58% da radiação inc idente
ção líquida explica cerca de 68% do derretimen - são usados na evapotranspiração . Em dezem -
to de neve, e a convecção (H + LE), 31 %. A neve bro, o saldo de radiação menor (isto é, Rn ne-
derrete antes nas florestas boreais do que na gativo ) é composto por 55% de calor supridos
tundra e, como o albedo das florestas de abeto pelo solo e 45% oriundos da transferência de
expostas tende a ser menor do que o da tundra , calor sensível do ar para a grama.
a radiação líquida da floresta pode ser significa - Podemos generalizar o microclima de cul -
tivamente maior do que a da tundra. Assim, ao tivas de pequeno porte em crescimento com
sul da linha de árvores do Ártico , a floresta bo - base em T. R. Oke (ver Figura 12.9):
real atua como uma importante fonte de calor.
1 Temperatura. No começo da tarde, existe
uma máxima de tempera tura logo abaixo
C SUPERFÍCIES COM VEGETAÇÃO do topo da vegetação, onde ocorre a ab -
Do ponto de vist a do regime energético e dos sorção máxima de energia. A temperatura
microclimas nas coberturas vegetais, é impor - é mais baixa perto da superfície do solo ,
onde o calor flui para dentro dele. A noite ,
2
Tabela 12 .1 Taxas de dispersão de energia (W m - ) o cultivo resfria, principalmente por emis -
ao meio -dia em uma parcela de
são de ondas longas e por um pouco de
grama (20 cm} em lat itudes méd ias
transpiração que ainda prossegue, gerando
ma is altas em um dia de junho
uma mínima de temperatura a por volta de
Soldo de rad iação no topo do cult i110 550 dois terços da altura da planta. Em condi -
Ar mazename nto de ca lor físico em fo lhas 6 ções calmas, pode haver uma inversão tér-
Ar mazenamento de ca lor bioqu ímico (isto é, 22 mica logo acima do topo.
processos de crescimento )
2 Velocidadedo vento. Mínima na porção su-
Recebido na superfície do solo 200
perior da cobertura vegetal, onde a folha -
398 Atm os fera , Tempo e Clim a

(A) gem é mais densa . Existe um leve aumento


Día de junho Dia de dezembro
Rn = 112 LE = 65 H = 3B Rn = 19 H = 9
abaixo e um notável aumento acima .
3 Vapor dãgua. A taxa máxima diu rna de
r ) *ra i evapotranspiração e produção de vapor
d'água ocorre a aproximadamente dois
111
111 ffi1~li11.:-.f- 1111111ll1111ll't
11
6S=1 4 Solo 68=-10 G= 10
terços da altura do cultivo, onde o dossel é
mais denso .
.1. 4 Dióxido de carbono. Durante o dia, o C0 2
é absorvido pela fotossíntese das plantas
em crescimento e, à noite, é emitido por
300 ~------.L.._----------1..,
(B)
respiração. O sumidouro e fonte máximos
Rn
de C0 2 ocorrem a aproximadamente dois
terços da altura do cultivo .
Finalmente , analisamos as condições que
acompanham o crescimento de cultivos irri -
gados. A Figur a 12.10 ilustra as relações ener-
géticas em um cultivo de capim sudão irrigado
com lm de altura em Tempe, Arizona, em 20 de
-100---
JF
--...-----------.......--4
........
M A MJ J ASONOJ
julho de 1962. A temperatu ra do ar variou entre
25 e 45ºC . Duran te o dia, a evapot ranspiração
Mês
no ar seco estava perto do seu potencial, e o LE
Figura 12.8 Fluxos de energia so bre gromineos cu r- (anomalamente alto, devido a uma inversão tér-
tos pe rto de Copenhag en (56º N). (A): totais poro um mica local) excedeu o Rn, sendo a deficiência
dia em junho (17 horas de luz; altura sol a r máximo
causada por uma transferência de calor sensí -
58 º) e d ezembro (7 horas de luz; a ltura solar móximo
11º). Unidades em W m-2 • (8): curvos sazon a is d o sal- vel do ar (H nega tivo). A evaporação continuou
do de ra diação (R0 ) , ca lor la tente (Lf), ca lor se nsível durante a noite , em decor rência de um vento
1
(H) e fluxo de ca lor pa ra o solo (G). moderado (7 m s- ) man tido pelo fluxo de ca-
fonte: Miller {1965); e Se llers (1965) . lor con tínuo do ar. Assim, a evapo transpiração
leva a temperaturas diurnas comparativamente
baixas dentro de cultivos irrigados no deser-
to. Quando a superfície é inundada com água,
como em uma plantação de arroz, as compo -

300 1 - I
C) oi o I
C) o
N ~ /
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200 d ~I - 8• •
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~

1 '
' 1 1

o 100 200
-50
Temper atura (ºC) Veloc idade do vento (cm s- 1)

Figura 12.9 Perfis de temperatura e velocidade do vento d entro e ac ima de uma plant a ção de cevada com
um metro de a ltura em Rothamsted, su l do Inglaterra, em 23 de julho de 1963, às 0 1:00-02:00 horas e 13:00-
14 :00 horas.
fonle: Long et oi. (1964) . Com pe rmissão do Meteo rolog ische Rundschou .
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 399

(A) melhantes, ao passo que, em florestas tropicais ,


Meio-d ia Poente
Rn = 671LE = 706 H = 59 t. Rn = 21 LE = 150 H = 150
pode haver grande variedade local. A cobertura
t~ i( Atmo,Sfera
inferio r
t~ i( do topo determina a.obstrução física que o dos -
sei representa às trocas de radiação e escoamen-
IIli lilllul1~1111::~= 1Ili .11llJ1)111Ili to de ar.
As estruturas verticais diferentes nas flo -
G : 24 Solo G = 21
.L restas tropicais e nas florestas temperadas têm
efeitos m icroclimáticos importantes . Em flo -
restas tropicais, a altura média das árvores mais
{B) altas fica em to rno de 46-55 m, com algumas
0
600 com mais de 60 m . A altura predomi nante das
X.~
JE
.g~ 400
árvo res em florestas temperadas em geral é até
30 m . As florestas tropicais possuem uma gran-
{g
lU
·~ L.
200 de variedade de espécies, raramente menos que
-o (1)
2
·- e 40 por hectare (100 hectares= 1 km ) e, às ve-
~: o~
~-o H zes, mais de 100, em comparação com menos de
- 100 25 (e ocasionalmente apenas uma) espécies de
01 05 10 15 20 00 árvo res com diâmetro do tronco maior que 10
Hora
cm na Europa e na América do Norte. Algumas
Figura 12.1O Fluxos de energia envolvidos no ba- florestas nas Ilhas Britânicas têm estratificação
lanço energé tico diurno de um a plantaçóo de cap im quase contínua no dossel, desde arbustos baixos
sudão irrigado em Tempe, Ari zona, em 20 de julho às copas de faias de 36 m, ao passo que as flores-
de 1962 .
tas tropicais são bastante estrat ificadas, com um
Fonte : Se llers (1965 ). Com pe rmissão do Univers ily of Ch i-
denso sub-bosque, troncos simples e, geralmen-
cago Press .
te, dois estratos superio res de folhagem . Essas
nentes do balanço de energia e, assim , o clima est ratificações resultam em microclimas mais
local, assumem um car áter semelhante ao de complexos nas florestas t ropicais do que nas
corpos d'água (ver B, neste capítulo) . A tarde e à florestas temperadas .
noite, a água se torna a princ ipal fonte de calor, É conveniente descrever os efeitos climáti-
e as perdas tu rbulentas para a atmosfera se dão cos das áreas de florestas em termos da modifi-
na forma de calor latente . cação que causam nas transfe rências de energia,
no escoamento de ar, no ambiente de umidade e
2 Florestas no ambiente térmico .

A estrutu ra vertical de uma floresta, que depen-


Modificação das transferências de
de da composição das espéc ies, das associações
energia
ecológicas e da idade da vegetação, determina
seu m icroclima. A influênc ia climática de uma Os dosséis das florestas alteram significativa -
floresta pode ser explicada em termos da geo- mente o padrão de radiação incidente e ema-
metria da floresta, incluindo características nante. A reflectividade de ondas curtas das
morfológicas, porte, cobe rtura , idade e estrati - florestas depende em parte das características
ficação. As característ icas morfológicas incluem das árvores e da sua dens idade . As florestas de
a quantidade de ramificações (bifurcação), a coníferas têm albedos de 8-14%, enquanto os
per iodicidade do crescimento (isto é, perene valores para as florestas decíduas variam entre
ou decí dua), junto com o porte, a densidade e 12 e 18%, aumentando à medida que o dossel
a textura das folhas . O tamanho das árvores, se torna mais aberto . Os valores pa ra a savana
obviamente, é importante . Em flo restas tem- semiá rida e matas de capoeira ( caatinga) são
peradas , os tamanhos podem ser bastante se- mu ito maiores .
400 Atmos fera, Tempo e Clima

Além de refletir a energia, o dossel da flo- 0,1%, e já foi registrado 0,01 % para uma mata
resta a aprisiona . Medidas feitas no verão em densa de olmos na Alemanha. Um dos efeitos
uma floresta de carvalhos de 30 anos no dis - mais importantes disso é a redução da duração
tr ito de Voronezh na Rússia indicam que 5,5% da luz do dia. Para as florestas deciduais, mais
do saldo de radiação no topo do dossel são ar- de 70% da luz podem penetrar quando estão
mazenados no solo e nas árvores . Mat as densas sem folhas. A idade das árvores também é im-
de faia vermelha (Fagussylvatica) interceptam portante , pois isso controla a cobertura do dos-
80% da radiação incidente nas copas das árvo- sei e a altura. A Figura 12.11 mostra esse efeito
res e menos de 5% alcançam o solo da floresta . complicado para abetos na floresta da Turíngia,
O maior aprisionamento ocorre em condições na Alemanha.
de boa luz solar, pois, quando o céu está enco-
berto, a radiação incidente difusa tem maior Modificação do fluxo de ar
possibilidade de penetrar lateralmente no es- As florestas impedem o movimento lateral e
paço entre os troncos (Figura 12.11). Todavia, vertical do ar. De modo geral, o movimento do
a luz visível não mostra um quadro totalmente ar dentro das florestas é pequeno, se compara-
correto do total de penetração de energia, pois do com o que ocorre no espaço aberto, e varia -
mais radiação ultravioleta do que infraverme - ções bastante grandes na velocidade dos ventos
lha é absorvida nos dosséis . No que tange à externos têm pouco efeito dentro da mata. As
penetração de luz, existem grandes variações, medidas realizadas nas florestas europeias mos-
dependendo do tipo de árvore, do espaçamento tram que 30m de p enetração reduzem as velo-
entre as árvores , da época do ano, da ida de, da cidades do vento a 60-80%, 60 m a 50%, e 120
densidade de dossel e da.altura . Por volta de 50- m a apenas 7%. Um vento de 2,2, m s- i do lado
75% da intensidade luminosa externa podem de fora de uma floresta perene brasileira foi re-
penetrar no solo de uma floresta de faias e vi- duzido a 0,5 m s- 1 a 100 m da sua borda, e foi
doeiros , 20-40 % para pinheiros e 10-25% para desprezível a 1000 m. No mesmo local, ventos
abetos e pinheiros, mas, para as florestas tropi- de tempestade do lado de fora, com 28 m s- 1, fo-
1
cais do Congo , esse número pode ser de apenas ram reduzido s a 2 m s- 11 km floresta adentro.
Onde existe uma estruturação vertical intricada
30 30 120
(B) da floresta, as velocidades do vento se tornam
Topas
dos dossêis
-
....S
ro
-
100 mais complexas . Assim, nos topos dos dosséis
(23 m) de uma floresta tropical no Panamá, a
20 iJ ! 20
ro o
80 ã:
~ velocidade do vento era 23% daquela observada
-
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~ Espaço
ro 't>
e: Q)
.9 "O 60 -
(1)

~ do lado de fora, mas apenas 20% no sub-bosque


....
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entre e: s &l
~ 10 troncos ~ o.,o em 40 ~ (2 m). Outras influências incluem a densidade
Floresta madura ~g crescimento,
de fa ias, Áust ria Q)
"O Ti..-ringia
20
da mata e a estação. O efeito da estação sobre
Des41'\'0l•"'14'110 as velocidades do vento em florestas deciduais
O.fL._... __ ,,_,,,-.,-._..-1 O clero ,. O
O 20 40 60 80 100 O 10 20 30 40 50 é mostrado na Figura 12.12. Em uma floresta
Porcentagemdo brilho em campo aberto
mista de carvalhos no Tennessee , as velocidades
Figura 12.11 Q uant idade de luz abaixo do dosse l
dos ventos dentro da floresta eram 12% das ob-
do floresta, em função da cobertura de nuvens e a ltura servadas no lado de fora em janeiro, mas apenas
do topo do dossel: (A) pa ra uma mata densa de faias 2% em agosto.
vermelhas (Fagus sylvotico) de 120-150 anos de idade O conhecimento do efeito das barreiras
o uma elevação de 1000 m em uma encosta de 20° de florestais sobre os ventos é utilizado na cons-
'
inclinação voltado para sudeste perto de lunz, Austria;
trução de quebra-ventos para proteger lavou -
(B) paro uma floresta de abeto na Turíngia,Alemanha,
ao longo de ma is de 100 anos de crescimento, du- ras e o solo. Os quebra-ventos de ciprestes no
rante os quais a altura do topo chegou a quase 30 m. vale do Ródano e de álamos (Populus nigra)
Fonte ; Ge iger { 1965 ). Com perm issão de Rowmo n ond l it- na Holanda formam aspectos característicos
tlefield . da paisagem. Observou-se que quanto mais
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 401

35 (A) 120
Floresta de pinheiro ponderosa (B) Bosque
• 1
1 de carva lhos
30 ,
1
1
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100
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o 1 2 3 4
5 6 7 o 1 2 3 4
Veloc idade do vento (m s- 1)

Figura 12.12 Influência sobre os pe riis de veloc idade do ven to, exerc ida por: (A) uma p la ntação densa de
p inhe iro ponderoso {Pinus ponde roso) de 20 m de altu ra na Floresta Exper imenta l Shasta, Ca lifórni a . As linha s
trace jadas indicam os ~erfis correspon d entes sobre o campo aber to pa ra ve lo c ida d e s gerais dos ven tos d e 2,3 ,
4 ,6 e 7,0 m s , res pectivame nte; (B) um bosq ue de carva lhos de 25 m de a ltura , com e sem fo lhas.
f onte: (A): Fons e Kittredge (1948). (8): R. Geiger e H. A monn (1965 ); Ge iger (1965}.

densa a obstrução , maior a proteção imedia- Modificação do ambiente hígrico


tamente atrás dela, embora a e.xtensão de seu
As condições de umidade dentro das florestas
efeito a jusante seja reduzida pe la turbulência
con tras t am radicalmente com as observadas
gerada pela barreira a so tavento. Um quebra-
-vento com penetrabilidade de cerca de 40 % no espaço aberto. A evaporação do solo da flo-
resta geralmente deve-se pela elevada umidade
(Figura 12.13) confere proteção máxima. Uma
do ar da flores ta e menos pela redução da luz
obstrução começa a fazer efeito aproximada -
mente 18 vezes a sua altura antes do montan te, solar direta, menor velocidade do vento e me -
e é possível aumentar o seu efeito jusante pelo nor temperatura máxima. A evaporação do solo
encaixe de mais de uma linha de árvores (ver descoberto das florestas de pinheiro é 70% da
Figura 12.13). observada no espaço aberto para o Arizona no
As barreiras florestais têm alguns efeitos verão, e apenas 42% para a região mediterrânea.
microclimáticos cerca de menos óbvios . Um Ao contrário de muitas plantações culti-
dos mais importantes é que a redução da ve - vadas , as árvores da floresta apresentam uma
locidade do vento em clareiras na floresta au - ampla variedade de resistências fisiológicas aos
men ta o risco de geada em noites de inverno . processos de transpiração e, assim, as propor -
Outro é a remoção de poeira e gotículas de ções de fluxos energéticos envolv idos na evapo -
neblina do ar pela ação filtradora das florestas . transpiração (LE) e troca de calor sensível (H)
Medidas realizad .as 1,5 km a montante, no lado variam. Na floresta tropical amazônica , com
a sotavento e 1,5 km a jusante de uma floresta suas folhas largas, estima t ivas sugerem que,
alemã de 1 km de largura mostraram contagens após uma chuva, até 80% do saldo da radiação
de poeira (partículas por litro) de 9000 , menos solar (Rn) estão envolvidos na evapotranspira -
de 2000 e mais de 4000, respec tivamente. As ção (LE) (Figura 12.14). A Figura 12.15 compa -
gotículas de neblina podem ser filtradas pelo ar ra os fluxos energéticos diurnos durante julho
que se move lateralmente, resultando em maior para uma floresta de pinheiros no leste da In -
precipitação dentro da floresta do que fora. A glaterra e uma floresta de abetos na Colúmbia
quantidade de precipitação fora de uma floresta Britânica . No primeiro caso, somente 0,33 da
de eucalipto perto de Melbourne, Austrália, foi Rn é usado para a LE, devido à elevada resis -
de SOOmm, ao passo que den tro da floresta, foi tência dos pinheiros à transpiração, ao passo
de600mm. que 0,66 da Rn é empregado na floresta de abeto
402 Atm osfera, Tempo e Clim a

Distânc ia (m)
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600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700
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10 o 10 20 30 40 50
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(B) Exage ro verti cal xB


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15 10 5 o 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55
M últi plos da altu ra do c inturão de proteção

Figura 12.13 Influência dos cin turõ es de pro teção sobre os dis tribuições d o velocidade do ven to (express a s
como porcentagens do velocidade em campo aberto). (A): efeitos d e um cint urão de proteção de três densidad es
diferen tes, e de dois cinturões de pr o teção de densidade média acoplados; (B): efeitos detalhad o s d e um quebro-
-vento ed ificado.
Fonte : A: W. Nêige li; e Ge iger (1965). B: Botes e Stoecke ler; e Kittredge (1948).

na Colúmbia Britânica, especialmente durante


soo----------------
Rn a tarde . Como os cultivas de pequeno po rte,
somente uma proporção muito pequena da Rn
06:"' 600
~ E acaba sendo usada para o crescimento das árvo -
.;::: LE
res, com uma média de aproximadamente 1,3
.g~ 400 2
-8.m W m- ; 60% disso geram tecido lenhoso , e 40%,
«s ~
'O G> resíduo florestal .
S:
·-

Q'O
e
200
H
Durante a luz do dia, as folhas transpiram
água por poros abertos , chamados estômatos.
~-~o~~
0
12~ Essa perda é contro lada pela duração do dia,
- lOo+ -,---,--.---,.---r--.----r-r--.--.----r---1 pela temperatura da folha (modificada pelo res-
00 04 08 12 16 20 24
Hora
friamento causado pela evaporação), pela área
superficial, pelas espécies de árvores e sua ida -
Figura 12.14 Simulação de computador d os fluxos de, bem como pelos fatores meteorológicos da
de energia envolvidos no balanço energético diurno energia radiante disponível, pressão de vapor
de um a florest a tropica l prim6ri a ambr6f ila no Ama- atmosférica e velocidade do vento. Portanto, os
zóni a duran te um p eríodo de Sol a lto no segundo d ia
valores da evaporação to tal são extremamente
seco d epois d e chuvas diórias de 22 mm .
variados . A evaporação de água interceptada
Fonte : Biosphe re Atmosp he re Tronsfer Scheme (BATS)model,
de Dickinson o nd Henderson -Se lle rs (1988) . Com pe rmissào pelas superfícies vegetais também entra nos
de Royal Me teo ro log icol Socie ty. totais, além da transpiração direta . Cálculos
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 403

800 para todos os meses, com exceção de dezem-


{A) Rn bro . As florestas tropicais apresentam saturação
600 noturna quase tot al, independentemente da
~~ elevação no espaço entre os troncos, ao passo
-
~E
~~ 400
(]) .~
H
que, durante o dia, ela está inversamen te rela -
cionada com a. elevação. Medidas realizadas na
"O O)
LE
~ ~ 200 Amazônia mostram que, em condições secas,
V, Q)
e a> t::i.S
a umidade específica duran te o dia no espaço
~ "O o inferior entre os troncos (1,5 m) é de quase 20 g
1
kg- , em comparação com 18 g kg-Lno topo do
- 200....._~---~~--------' dossel (36 m) .
01 05 09 13 17 21
Hora Pesquisas recentes realizadas em florestas
{B) boreais mostram que elas têm baixas taxas fo-
tossintéticas e de redução de carbono e, con -
sequentemente, baixas taxas de transpiração.
Ao longo do ano, a absorção de C0 2 por fo -
tossíntese é balanceada por sua perda por res-
piração . Durante a estação de crescimento, a
t axa de evapotranspiração de florestas boreais
(em especial de abetos ) é surpreendentemente
baixa (menos de 2 mm por dia) . O baixo al-
bedo , junto com o baixo uso energético para
-200 -+-~~~-~~~-~-~~----i a evapotranspiração, leva a uma grande dis-
00 04 08 12 16 20 24
Hora ponibilidade de energia, a fluxos elevados de
calor sensível e ao desenvolvimento de uma
Fígura 12.15 As componen tes da energia em um profunda camada limite planetária convectiva .
dia de julho em dois bosques. A: Pinheiros da Escócia
e da Córsega em Thetford, Inglaterra (52"N), em 7 de Esse efeito é acentuado durante a primavera e o
julho de 1971. Cobertura d e nuvens presente durante começo do verão, devido à intensa turbulência
o período 00:00-05:00 hor a s. B: Bosque de abeto mecânica e convectiva . Jáno outono, o con -
(Douglas) em Ha ney, British Columb ia (49ª N), e m 10 gelamento do solo aumenta a sua capacidade
de julho de 1970. Cober1ura de nuvens presente du - térmica, levando a uma defasagem no sistema
ran te o per íodo l l :00 -20:00 horas.
climático . Existe menos energia disponível, e a
fonte : A: Gay e Stewart {1974); in Oke (1978 ); B: McNa u-
camada limite é rasa .
ghtan e Black (1973); in Oke (1978). Com permissão de Rou-
tledge and Methue n. A influência das florestas na precipitação
ainda não foi determinada . Isso se deve, em par-
feitos para uma bacia hidrográfica coberta por te, às dificuldades para comparar volumes obti -
pinheiros -da-Noruega (Piceaabies) nas Monta- dos em pluviômetros em espaços abertos com
nhas Harz da Alemanha mostram uma evapo- os obtidos dentro das florestas , em ela.reiras ou
transpiração anual de 340 mm e perdas adicio - embaixo de árvores. Em clareiras pequenas, as
nais de 240 mm por interceptação . baixas velocidades dos ventos causam pouca
A umidade das florestas está relacionada turbulência ao redor da abertura do pluviôme -
com a quantidade de evapo t ranspiração e au - tro, e os volumes obtidos em geral são maiores
menta com a densidade da vegetação presente . do que fora da floresta . Em clareiras maiores, as
O aumento de 3- 10% na umidade relativa den - correntes descendentes são mais prevalentes ,
tro da floresta em comparação com o ambiente assim, o volume obtido no pluviômetro aumen-
externo é especialmente acentuado no verão. As ta . Em um bosque de pinheiro e faia com 25 m
pressões de vapor foram maiores dentro do que de altura na Alemanha, os volumes em clareiras
fora de um bosque de carvalhos no Tennessee de 12m de diâmetro foram 87 % dos localiza-
404 Atmos fera, Tempo e Clima

dos a jusante da floresta, mas aumentaram para niferas , assim, existe menos energia disponível
105% em clareiras de 38 m. Uma análise dos para a evaporação . Além disso, as árvores têm
registros de precipitação para Letzlinger Heath maior rugosidade superficial, o que aumenta o
(Alemanha) antes e depois de um florestamento movimento turbulento do ar e, portanto , a e-
sugere um aumento médio anual de 6%, com os ficiência da evaporação . As perenes permitem
maiores excessos ocorrendo durante anos mais que haja transpiração durante todo o ano . No
secos . Parece que as florestas têm pouco efeito entanto, são necessárias pesquisas para verificar
sobre a chuva ciclônic~ mas podem aumentar esses resultados e testar diversas hipó teses.
levemente a precipitação orográfic~ por eleva -
ção e turbulência, na ordem de 1-3% em regiões Modificoçõo do ambiente térmico
temperadas.
A vegetação florestal tem um efeito importante
Uma influência mais importante das flores -
nas condições de temperatura em microescala.
tas sobre a precipitação se dá pela interceptação
O abrigo do Sol, a cobertura à noite, as perdas
direta da chuva pelo dossel. Isso varia com a
de calor por evapotranspiração, a redução da
cobertura do topo do dossel, a estação e a in-
velocidade do vento e o impedimento do mo-
tensidade das chuvas. Medidas realizadas em
vimento vertical do ar influenciam o ambiente
florestas de faias na Alemanha indicam que,
térmico. O efeito mais óbvio da cobertura do
em média, elas interceptam 43% da precipita-
dossel é que, dentro da floresta, as temperaturas
ção no verão e 23% no inverno. As florestas de
máximas diárias são menores, e as mínimas são
pinheiros podem interceptar até 94% da preci -
maiores (Figur a 12.16). Isso é particularmente
pitação de baixa intensidade, mas até 15% com
visível durante períodos de elevada evapotrans -
chuvas de intensidade alta, ficando a média
piração no verão, que diminuem as temperatu-
para pinheiros temperados em cerca de 30 %.
ras máxi .mas diárias e fazem as temperaturas
Na floresta tropical , por volta de 13% das chu -
mensais em florestas tropicais e temperadas
vas anuais são interceptados. A precipitação
interceptada evapora no dossel, escorre pelo ficarem bem abaixo das observadas fora da
mata . Em florestas temperadas ao nível do mar,
tronco ou pinga sobre o solo. A avaliação da
precipitação total que atinge o solo exige medi - a temperatura média anual pode ser aproxima-
ções cuidadosas do fluxo que escoa pelos caules damente 0,6ºC menor do que no espaço aber -
e da contribuição do gotejamento do dossel. A to circundan te. As diferenças mensais médias
interceptação pelo dossel contribui com 15-25% podem alcançar 2,2ºC no verão , mas não pas-
sam de 0,1 ºC no inverno. Em dias quentes de
da evaporação total em florestas tropicais. Ela
não representa uma perda total de umidade da
florest~ pois a energia solar usada no processo
de evaporação não está disponível para remo - Ô 20
~
ver umidade do solo ou água de transpiração. Cll
·e
~ 10
Todavia, a vegetação não deriva o benefício da u
Cll
ciclagem de água através dela por meio do solo. :g
A evaporação pelo dossel depende do saldo de E O
~
:::>
radiação recebida e do tipo de espécie envolvi- m
~ - 10
da. Algumas florestas de carvalho mediterrâ -
~
neas interceptam 35% das chuvas, e quase tudo {E
isso evapora do dossel. Estudos sobre o balanço JF M A M JJASOND
Mês
de água indicam que as florestas perenes per -
mitem 10-50 % mais evapotranspiração do que Figura 12 .16 Regimes sazon ais de temp erat uras
gramíneas nas mesmas condições climáticas. As mó ximas e mínimas dióri as méd ias dent ro e fo ro d e
gramíneas normalmen te refletem 10-15 % mais uma flo resta com vidoei ro, fa ias e bor do em Michigan.
radiação solar do que as espécies de árvores co - Fonfe : US Deportme nt of Agr icultu re Yeorbook (1941 ).
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 405

verão, a diferença pode ficar acima de 2,Sº C. bosques relat ivamente simples. Por exemplo ,
As temperaturas mensais médias e as variações em uma floresta de pinheiro ponderosa (Pinus
diurnas para florestas temperadas de faia, abe - ponderosa) no Arizona, a máxima média regis-
to e pinheiro são apresentadas na Figu.ra 12.17. trada para junho e julho aumentou em 0,8ºC,
Isso também mostra que, quando as árvores simplesmen te ao elevar o termômetro de 1,5
transpiram pouco no verão (p. ex., os arbustos para 2,4 m acima do solo da floresta . Em flores -
de carvalho forteto do Medi terrâneo, maquis) , tas tropicais estratificadas, o quadro térmico é
as elevadas temperaturas diurnas nos bosques mais complexo. O denso dossel esquenta con -
protegidos podem fazer o padrão de valores sideravelmente durante o dia e logo perde seu
mensais médios ser o inverso das florestas tem - calor à noite , apresentando uma variação muito
peradas. Contudo, mesmo dentro de regiões maior na temperatura diurna do que o sub-bos-
climáticas individuais, é difícil generalizar . Em que (Figura 12.18A). Enquanto as temperaturas
elevações de 1000 m, a redução das temperatu- máximas diurnas do segundo estrato são inter -
ras médias nas florestas temperadas abaixo das mediárias entre as das copas das árvores e as do
observadas em campo aberto pode ser o dobro sub -bosque, as mínimas noturnas são maiores
da observada ao nível do mar. do que nos dois, pois o segundo estrato fica iso -
A estrutura vertical dos bosques gera uma lado por ar aprisionado acima e abaixo (Figura
estrutura temperada complexa, mesmo em 12.18B). Durante condições secas na floresta
amazônica , existe uma separação semelhante
•e entre o ar no estrato inferior e os dois terços su -
3 .
periores do dosse l, refletida na amplitude redu-
(IJ 2
E
·-
(.)
Arbustos de caivalho forteto zida da faixa de temperaturas diurnas. A noite ,
-t: 1 o padrão é inverso: as temperaturas respondem
Campo aberto
ti) o ao resfriamento radiativo nos dois terços infe -
a1
-o Pinheiro
~
1
da Escócia riores do dossel . As variações da temperatura
co o
a. t::: -~ 2
E Q) c:a
dentro de uma camada de até 25 m de altura
g ..o
ro ~ 3 Abeto agora são separadas das que ocorre .m nas copas
co o da Noruega
ti a. 4 das árvores e mais acima.
~ ~o
~ 5
co Q) 3
-o 'O
ti) (/)
(B)
Arbustos de
36-rCA
,--,-
> -------. .,...,
...,
,
8
>
,-------.----.
..... ro ....
c:a 2
34
:, E o as ·- carvalho forteto
1ô o
ffi o ~ 1 32
Campo aberto
a.
o 2:30 M áximas

~
1--
~
:l 28
Segundo
e ;trato
1 ~ Copas
....
o 2 ·
Pinheiro 8_ 26
e da Escócia E
Q) (=_24
~ 3 ; Abeto Segundo
da Noruega 22 eslrato
41 20
51 1a ..........
Mínimas
~~~~~~..... 1-.:,.:::;.~~~~~~-1
J F M A M J J A S O N O 20 24 4 8 12 16 20 J F M A M J J A S O N O
Mês Tempo local {horas) Meses

Figura 12.17 Regimes sazonais d e (A) temper at uras Figura 12.18 Efeito da estra tificação das flo restas
me nsais médios e (B) faixas de tempera turas mensais t ropica is sobre o temperatura.* (A): avanço diório da
médias, compara d os com as observadas em campo tempera t ura (10-11 de maio de 1936) nas copas dos
aber to, para quatro tipos de flores tas italianos, Ob - órvo res (24 m) e no sub-bosque (0,7 m) durante a es-
serve as condições anômalas associadas às forma- tação úmida em uma floresta tr opice I primóri a na Re-
ções arbust ivas de carvalhos forteto (maquis), que serva de Shosha, Nigér ia . (B): temperatur as m6xim as e
transp iram pouco . mínim as seman ais médios em três cam adas de flores ta
fonte: Food ond Ag ricultu re O rgon izo tion of th e Uniled No - primóri o (Dipterocarp), Mon te Moqui ling, Filipinas.
lions (1962 ). fonte: ª Richa,ds (1952 ); A: Evans ; B: Brown .
406 Atm osfera, Tempo e Clima

D SUPERFÍCIES URBANAS do Sol e proporciona núcleos de condensação


abundantes. A atmosfera urbana moderna com-
De um total de 6,6 bilhões em 2007, projeta -
preende uma mistura de gases, incluindo ozô -
-se que a população mundial aumentará para
nio, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio
8,2 bilhões em 2025, com a proporção da po-
e particulados como poeira mineral, carbono
pulação urbana aumentando de 45 para 60%
e hidro carbonetos complexos. Primeiramen-
durante o mesmo período . Assim, neste século, te, analisamos suas fontes sob duas categorias
a maior parte da raça humana viverá e trabalha - • • •
pr1nc1pa.is:
rá influenciada pelo clima urbano (ver Quadro
12.1). A construção de cada casa, estrada ou 1 Aerossóis.O material particulado em sus-
3 3
fábr ica destrói os microclimas existentes e cria pensão (medido em mg m - ou µg m - )
novos microclimas de grande complexidade, consiste principalmente em carbono, com-
que dependem do pro jeto, da densidade e da postos de chumbo e alumínio e sílica. Es-
função da construção. Apesar da variação inter - tudos sobre os efeitos da exposição crônica
na das influências climáticas urbanas, é possível à poluição do ar identificaram o material
tratar os efeitos de estru turas urbanas em ter- particulado fino como o pr incipal. fator nos
efeitos prejudiciais à vida advindos do ar
mos de:
po luído.
1 modificação da composição atmosférica; 2 Gases.A produção de gases, expressa em
2 modificação do balanço de calor; partes por milhão (ppm ) ou pontos por
3 modificação de características da superfície. bilhão (ppb) de volume, pode ser consi -
derada em termos da queima industrial e
doméstica de carvão, que libera gases como
1 Modificação da composição
o dióxido de enxofre (S0 2) , ou do pon to de
atmosférica
vista da combustão de gasolina e óleo, que
A poluição urbana altera as propriedades tér- produz monóxido de carbono (CO), hi-
micas da atmosfera, reduz a passagem de luz drocarbonetos (Hc), óxidos de nitrogênio

,
AVANÇOS SIGNIFICATIVOSDO SECULOXX

12 .1 Climas urbanos
O primeiro reconhecimento do pape l das cidades na modificação do clima local foi feito por Luke
Howard, em um livro chamado The Climate of London, publicado em 1818. Howard fez observações
na região da cidade entre 1806 e 1830, e chamou a atenção para o efeito das ilhas de calo r. Em seu
livro clássico, Cfimate Near the Ground, Rudolf Geiger relatou muitas observações desse tipo. Todavia,
estudos dedicados aos climas urbanos somente começara ;m na década de 1950 . Para complementar
os dados das poucos estações meteorológ icas existentes na cidade, T. J. Chandler ana lisou as dife-
renças nas temperaturas urbanas e rura is ao redor de Londres em diferentes momentos do dia e do
ano, fazendo transectos com um veículo dev idamente aparelhado. Repetindo a viagem na direção
oposta, e calculando as médias dos resultados, o efeito causado pelas mudanças no horário foi essen-
cialmente eliminado. Chandler (1965) escreveu um livro clássico sobre o clima de Londres. Métodos
semelhantes foram adotados em outros locais, e a estrutur a vertical da atmosfera urbana também
foi investigada, instalando-se instrumentos sobre prédios altos e torres. Helmut Landsberg, nos Esta-
dos Unidos, concentrou-se em cidades europ eias e norte-americanas com longos registros históricos,
enquanto Tim Oke, no Canadá, fez estudos observacionais e de modelagem sobre os balanços de
energ ia urbanos e as transferênc ias radiativas e turbulentas em "cânions" urbanos.
O número de cidades modernas com populações acima de 10 milhões de habitantes chegava a
pelo menos 25 em 2007, com muitas delas nos trópicos e subtróp icos, mas nosso conhecimento atual
dos efeitos urbanos nessas zonas climát icas é mais limitado .
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 407

(NO ,.), ozônio (0 3) e outros do gênero . Um t erial transportado posteriormente era visível
levantamento realizado durante três anos em nuvens sobre o Car ibe . Aerossóis de fuligem
em 39 áreas urbanas dos Estados Unidos gerados pelos incênd ios florestais de setembro
identificou 48 compostos de hidrocarbone - de 1997 e março de 2000 na Indonésia foram
tos : 25 parafinas (60% do total, com uma transportados através do Sudeste Asiático.
concentração média de 266ppb de carbo - A concentração basal de partículas finas
no ), 15 aromáticos (26% do total, 116ppb (MP 10, raio <lOµm ) hoje apresenta uma média
C) e sete olefmas biogênicas (11 %, 47ppb de 20 -30µg m - 3 na zona rural das Ilhas Britâ -
C). Os hidrocarbonetos biogênicos (olefi- nicas , mas os valores diários médios em cida-
nas) emitidos pela vegetação são altamente des industriais do Leste Europeu e em muitas
reativos . Eles destroem o ozônio e formam nações em desenvolvimen to regularmente ul-
aerossóis em condições rurais, mas auxi - trapassam os 50- 100 µ,g m - J perto do nível do
liam na formação de ozônio em condições solo. As maiores concentrações de fumaça em
urbanas. As florestas de pinheiros emitem geral ocorrem com baixa velocidade do ven to,
monoterpenos, C 10H 16, e as florestas deci - baixa turbulência vertical, inversões térmicas,
duais , iso reno , C 3H 8; as concentrações ru- alta umidade relativa e ar oriundo de fon tes de
rais desses hidrocarbonetos se encontram poluição em distritos industriais ou áreas de
na faixa de 0,1-1,Sppb e 0,6-2,3ppb, respec- elevada concen tração hab itacional. O caráter
tivamente. das demandas por aquecimen to doméstico e
eletricidade faz a poluição urbana causada pela
Ao lidar com a poluição atmosférica, deve -
fumaça apresentar ciclos sazonais e diurnos no-
mos lembrar, primeiro, que a. difusão ou con -
t áveis, com as maiores concentrações ocorren -
centração de poluentes é função da estabilidade
do por volta das 08:00 no começo do inverno
atmosfér ica (em especial da presença de inver -
(Figu ra 12.19) . O súbi to aumento matinal tam -
sões) e do movimento horizontal do ar. Ela tam-
bém se deve em parte a processos naturais. A
bém costuma ser ma ior nos dias úteis do que
poluição aprisionada durante a noite embaixo
nos fins de semana ou feriados . Em segundo
de uma camada estável a algumas cen tenas de
lugar, os aerossóis são removidos da atmosfera
me tros acima da superfície pode ser trazida
por deposição e carreamen to pela chuva. Em
novamente ao nível do solo (em um processo
terceiro , certos gases são suscetíveis a cadeias
denominado fumigação) quando a convecção
complexas de mudanças fotoquímicas, que po -
térmica causa mistura vertical.
dem destruir alguns gases, mas produzir outros.
O efeito mais direto da poluição partícula -
da é reduzir a visibilidade, a radiação inciden-
Aerossóis
te e a luz do Sol. Em Los Angeles , os aerossóis
Conforme discutido no Capítulo 2A.2 e A.4, o de carbono representam 40% da massa total de
balanço de energ ia global é afetado pela pro - partículas finas e são uma importante causa das
dução natural de aerossóis, que são derivados reduções severas na visib ilidade, mas não são
de desertos, vulcões e incêndios (ver Capítulo monitorados regularmente. A metade desse to -
13D .3). Ao longo do último século , a concen - t al vem do escapamento de veículos, e o resto,
tração média de poeira aumentou, particular- da queima de combustível industrial e de outras
men te na Eurásia, devido apenas em parte às fontes estacionárias . No passado, a poluição, e as
erupções vulcânicas . Estima -se que a proporção neblinas associadas (chamadas de smog),faziam
de poeira atmosférica atribuída de forma direta algumas cidades britânicas perderem 25-55 %
ou indireta à atividade humana seja de 30% (ver da radiação solar incidente durante o período
Capítulo 2A .4). Como exemplo do segundo de novembro a março . Em 1945, estima-se que a
tipo, os tanques usados nas ba talhas da Segunda cidade de Leicester tenha perdido 30% da radia -
Guerra Mundial no norte da África revolveram ção incidente no inverno, em comparação com
a superfície do deserto de tal maneira que o ma - 6% no verão . Essas perdas são naturalmente
408 Atm osfera, Tempo e Clima

60 60
(A) (B)
50 50

~fo 40 Inverno (dez-fev) 40


.&J''...
~o
,_ Cl
30 30
E-S
~ CD
e: &r 20 20
oo ::,
E

- 10 10
Verão ijun-ago)
o o
J A S O N D 00 04 08 12 16 20 24
Mês Hora
0,20
Q) ~
(C) (D)
N0 2
º·16
,, E 0, 16
-~ §: Los Angeles o,12
Ut -
~ gJ o,12
E 'E 0,08
a, CD
o "C
e:
O ·-X 0,08 0,04
ºº Denver NO
0,04 0,00
J F MA M J J A S O N D 00 04 08 12 16 20 24
Mês Hora

Figura 12.19 Ciclos anua is e dió rios de poluição. (A): ciclo anual de polu ição por fumaça de nt ro e ao redor de
leicester, Ing late rra, durante o período 1937-1939, a ntes da leg ,islaçóo paro reduzir o polu içóo. (B): ciclo diurno
do poluição po r fuma ça em leicester durante o veróo e inve rno, 1937 -1939. (C) : ciclo a nu al das concentrações
m6ximos médias diórios de oxidan te s, medidos em um a hora, poro Los Angeles (1964-1965) e Denver (1965).
(D): cic los diurnos de concentrações de óxido nítrico (NO) , dióx ido de nitrogê n io (N0 2) e ozônio (0 3 ) em Los
Angeles em 19 de ju lho de 1965.
Fonte : (A) e (B): Meetham (1952) (et ai. 1980 ). (C) e (D): US DHEW (1970) e Oke (1978).

maiores quando os raios do Sol atingem a ca- madas de smog também impedem a reirradia -
mada de smogem um ângulo baixo. Comparada ção de calor superficial à noite, e que esse efeito
com a radiação recebida na zona rural circun- de cobertura contribuía para as temperaturas
dante, Viena perde 15-21 % da radiação quando mais elevadas na cidade durante a noite . Oca-
a altitude do Sol é de 30º, mas a perda aumenta sionalmente, condições atmosféricas muito es-
para 29-36 % com uma altitude de 10º. O efeito táveis se combinam com a geração excessiva de
da poluição por fumaça é ilustrado na Figura poluição, conferindo um cará ter letal ao smog
12.20, que compara as condições em Londres denso. Durante o período de 5-9 de dezembro
antes e depois da entrada em vigor do Clean de 1952, uma inversão térmica sobre Lond res
Air Act de 1956, e do movimento para queimar causou uma densa neblina, com visibilidade de
combustíveis mais limpos e do declínio da in- menos de 10 m por 48 horas consecu tivas. Fo-
dústria pesada . Antes de 1950, havia uma dife- ram contabilizadas 12.000 mortes a mais (prin-
rença notável na luz solar entre as áreas rurais cipalmen te de problemas pulmonares ) durante
circundantes e o centro da cidade (ver Figura o período de dezembro de 1952 a fevereiro de
12.19A), que poderia significar uma pe rda mé - 1953, em comparação com o mesmo período
dia da luminosidade solar diária de 16 minu tos no ano anterior . A associação da incidência de
nos subúrbios mais externos, 25 minutos nos neblina com a crescente industr ialização e urba -
subúrbios internos e 44 minu tos no centro da nização foi demonstrada pela cidade de Praga,
cidade. Devemos lembrar, contudo , que as ca- onde o número médio anual de dias com ne-
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 409

100--
--------------
Aural
- ção cortaram as emissões totais de fumaça em
8
Londres de 1,4 x 10 kg (141 .000 t) em 1952
80
para 0,9 x 108kg (89.000 t ) em 1960. A Figu -
ra 12.20B mostra o aumento nos valores de luz
solar mensal média para 1958 - 1967, compa -
rados com os de 1931- 1960 . Desde o começo
da década de 1960, as concentrações médias
anuais de fumaça e dióxido de enxofre no Rei-
no Unido caíram de 160ppm e 60ppm, respec -
tivamente, para menos de 20ppm e lOppm na
20
Luminos idade
década de 1990.
solar em Londres A visibilidade no Reino Unido melhorou
{A) {1921-1950) em muitos pontos de medição durante a segun -
o -+---.---.-..--....---,---,,-....-....---,---,- ~
da metade do século XX. Nas décadas de 1950
1so----------------.
Lum inosidade solar e 1960, os dias com visibilidade ao meio -dia
em Londres (19~ 1967) no 1Oº percentil inferior ficavam na faixa de
_g 160 Centro
4-5 km, ao passo que , na década de 1990, esse
.g CD
O
número havia melhorado para 6-9 km . A visi -
o, ....
-- ai
(/)

e .- bilidade média anual às 12 UTC no aeroporto


·e ~
::J ....
140
de Manchester era de 10 km em 1950, mas se
«I 11)
"O "O
E .a1 aproximava de 30 km em 1997. As melhoras são
Q) "O Subúrbios
git 120 atribuídas à maior eficiênc ia dos combustíveis
êQ) '-
ai usados pelos veículos e à instalação de conver -
o o
5 (/) sores catalíticos na década de 1970.
a..
100
Gases
{B)
so-+---.----..-...----.---, - ....--.---.---,, - .--1 Além da poluição por particulados, produzida
J AS O NDJ F MAM JJ
pelas atividades urbanas e industriais envol-
Mês
vendo a combustão de carvão e coque , existe a
Figura 12.20 Lumi nosid a de sola r de ntro e ao redo r geração associada de gases poluentes. Antes do
de Londres. (A) : médio me nsa l do lum inos idade so - Clean Air Act no Reino Unido, estimava-se que
la r regis trada na cidade e nos subúrb ios pa ra os anos a queima doméstica produzisse 80-90% da fu-
1921-1950, expresso como porcen tagem do observa -
maça em Londres. Todavia, ela era responsável
da em óreas r ura is adjacentes, mos trando os efe itos
do po luição atmosfér ica na c id ade d urante o inverno.
por apenas 30% do dióxido de enxofre libera -
(B): mé d ia mens a l d a luminos idade so lar regis t rada do para a atmosfera - sendo o resto produzi-
no cidade , nos su b ú rb ios e nas óreas rur a is ci rcun- do por usinas de eletricidade (41 %) e fábricas
dantes d uran te o pe rfodo 1958-1967 , expresso como (29%). Depois do começo da década de 1960,
porce ntag e m das médios par a o período 1931- 1960, os avanços na tecnologia, a redução gradual na
mos t rando o efe ito do C lean Ai r Act de 1956 no a u-
queima de carvão e normas antipoluição gera -
me nto da recep ção de luminosidade sol a r no inve rno,
par ti cularmen te no cen tro d e Londr es.
ram um declínio notável na po luição por dió-
Fonte: (A}: C hondle r (1965 ); (B): Jenkins (1969 ). Com permis-
xido de enxofre em muitas cidades europeias e
são de H utchlnson e do Royal Mel eoro log icol Society. norte-americanas (Figura 12.21). No entanto, o
efeito das normas nem sempre foi claro. A re -
dução na poluição atmosférica em Londres não
blina aumentou de 79 duran te o período 1860- foi visível até oito anos após a introdução do
1880 para 217 no período 1900-1920. Clean Air Act de 1956, ao passo que , em Nova
O uso de combustíveis que não produzem York, a redução observada começou no mesmo
fumaça e outras formas de contro le da po lui - ano (1964) - antes das normas de controle da
41 O Atm osfera, Tempo e Clim a

700 nitratos de peroxiacetila (PANs). A metade da


• massa de aerossóis geralmente é de MOP e sul-
? 600 fato. Todavia, existem diferenças regionais im -
E
portantes . Por exemplo, o teor de enxofre dos
o"' soo combustíveis usados na Califórnia e na Austrá-
C/)
li)
lia é menor do que no leste dos Estados Unidos
"C
'~ 400 · e na Europa, e as emissões de N0 2 excedem em
o, Nova York
i • muito as de S0 2 na Califórnia. A produção do
~ 300~

·:,..,..---: . ....... smog em Los Angeles, que, ao contrário do smog
e: • • •
o urbano tradicional, ocorre caracteristicamen te
(.)
lll
"C Londres •
• durante o dia no verão e no outono, é resulta-
m 200
::,
e:
do de uma cadeia muito complexa de reações
lll
m químicas, denominada ciclo fotolítico, que sofre
:5l 100
perturbações (Figura 12.22). A radiação ultra-
~
violeta dissocia o N0 2 natural, formando NO
Q-4--------------~ e O. O oxigênio monoatômico (0) pode então
1960 1970 1980
se combinar com o oxigênio natural (0 2) para
Figura 12.21 Média anual da conc e ntraç ã o de di- produzir ozônio (0 3). Este, por sua vez, reage
óxid o de enxofre (mg m -3) em Nova York e Lond res com o NO artificial para produzir N0 2 (que re-
du ronte um período de 25 - 30 anos, mostrando as torna ao ciclo fotoquímico, formando um peri -
drásticos reduçõ es na poluição urbana por S0 2 • goso circuito de realimentação) e oxigênio. Os
Fonte : Brimblecombe (1986). Com permissão do Cambridge
hidrocarbonetos produzidos pela combustão de
Unive rsity.
gasolina combinam-se com átomos de oxigênio
para produzir o radical livre de hidrocarbone -
poluição do ar. Hoje, as concentrações médias to HcO*, que reage com os produtos da reação
diárias na Europa Ocidental e na América do 0 3- NO para gerar oxigênio e smog fotoquími-
Norte raramente ultrapassam 0,04 ppm (125 µ..g co. Esse smog tem ciclos anuais e diurnos bem
3
m- ), mas onde ainda se usa carvão para aqueci - desenvolvidos na bacia de Los Angeles (ver Fi-
mento doméstico e industrial e existe um tráfe- guras 12.19C e D ). Os níveis anuais de poluição
go pesado movido a óleo diesel, como no Leste por smog fotoquímico em Los Angeles (a partir
Europeu, na Ásia e na América do Sul, os níveis
podem ser 5- 10 vezes maiores .
Os complexos urbanos em muitas partes do ~
Oó<<lodll
nlrogitrio
:r,.
OJ
+
I
. __
....
l uz
ul!mviclleta
_,
mundo são afetados pela poluição que resulta
da combustão de gasolina e óleo combustível
por veículos e aeronaves, assim como por in-
dústr ias petroquímicas. Los Angeles, localizada
em uma área topograficamente fechada e sujei-
ta a inversões térmicas frequentes, é o exemplo +
perfeito dessa poluição, embora ela afete todas O~IO
(OJ
as cidades modernas. Mesmo com os controles
existentes, 7% da gasolina de carros de passeio
são emitidos sem serem queimados ou em uma
forma mal -oxidada, outros 3,5% como smog fo-
toquímico e 33-40% como monóxido de carbo-
no. O smog envolve pelo menos quatro compo - Figura 12.22 Ciclo fotolítico de N0 perturbado 2,
nentes principais: fuligem de carbono, matéria por hidrocar bonetos para pro d uzir smog fo toquímico.
2
orgânica particulada (MO P), sulfato (S0 4- ) e Fonte: US DHEW (1970) e O ke (1978).
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 411

das médias dos maiores valores por hora) são (devido ao aquecimento matutino do ar su-
maiores no final do verão e no outono , quando perficial ) permi tem que plumas convectivas e
céus claros, ventos leves e inversões térmicas se as correntes descenden tes associadas tragam a
combinam com quantidades elevadas de radia- poluição de vol ta para a superfície. A elevação
ção solar . As variações diurnas em componen - ocorre a jusante , acima da inversão térmica, no
tes individuais do ciclo fotolí tico perturbado t opo da camada lim ite rural, dispersando a po -
indicam reações complexas. Por exemplo, há luição para cima. A Figura 12.23C ilustra alguns
uma concentração de N0 2 no começo da ma - aspectos de uma pluma de poluição até 160 km
nhã devido ao acúmulo do tráfego , e existe um a jusante de St. Louis em 18 de julho de 1975.
pico de 0 3 quando a radiação incidente é alta. O Diante da comp lexidade das reações fotoquí -
smog não apenas modifica o balanço de rad ia- micas, deve -se observar que o ozônio aumenta
ção das cidades, mas também gera um risco à a jusante, devido às reações fotoquímicas que
saúde humana . ocorrem dentro da pluma , mas diminui sobre
As novas normas municipais e estaduais usinas elétr icas, como resul t ado de outras rea -
nos Estados Unidos produziram diferenças ções com as emissões . Observou -se que essa
consideráveis no tipo e na intensidade da po - pluma se estendeu a uma distância total de 240
luição urbana. Por exemplo, Denver , no Colora- km, mas, em condições de uma fonte de polui-
do, situada em uma bacia a 1500 m de altitude, ção intensa, um escoamento superficial estável
costumava ter uma "nuvem marrom'' de smog e de grande escala e estabilidade atmosférica
no inverno e níveis elevados de ozônio no verão vertical, as plumas de poluição podem se esten-
nas décadas de 1970 e 1980. No começo deste der por centenas de quilômetros ao longo do
século, melhoras substanciais foram alcançadas vento. Aeronaves que voavam alto observaram
com o uso obrigatório de aditivos na gasolina que as plumas oriundas da conurbação de Chi -
no inverno, restrições à queima de madeira e cago -Gary se estend iam quase até Washington,
a insta lação de depuradores de gás nas usinas DC, a 950 km de distânc ia.
elétricas. Entre os impactos da poluição do ar, est ão:
efeitos meteorológicos diretos (sobre a trans -
Distribuição e impactos da poluição ferência radiativa, a luminosidade solar, a visi-
bilidade e o desenvolvimento de neblina e nu -
As atmosferas poluídas apresentam caracterís -
vens), produção de gases de efeito estufa (pela
ticas físicas bem -definidas ao redor de áreas ur -
liberação de C0 2, CH 4, NO x, CFCs e HFCs) ,
banas , que dependem muito do gradiente adia -
efeitos fotoquímicos (formação de ozônio na
bático ambiental, particularmen te da presença
troposfera), acidificação (processos envolvendo
de inversões térmicas, e da velocidade do vento.
S0 2 , NO J(e NH 3) e transtornos para a sociedade
Um domo de poluição se desenvolve à medi -
(poeira, odor , smog) que afetam a saúde e a qua -
da que a poluição se acumula sob uma inver-
lidade de vida, em especial em áreas urbanas.
são que forma a camada limi te urbana (Figura
12.23A). Um vento com velocidade de apenas 2
1 1 2 Modificação do balanCjo de calor
m s- (7,2 km h- ) já é suficiente para deslocar o
domo de poluição de Cincinnati a favor do ven - O balanço de energia da superfície revestida de
1 1
to, e um vento de 3,5 m s- (12,6 kmh - ) será su - obra civil é semelhante às superfícies de terra
ficiente para dispersá-lo na forma de pluma . A descritas, exce to pela produção de calor que
Figura 12.23B mostra um corte de uma pluma resulta do consumo de energia por combustão,
de poluição urbana. Essa pluma descreve um que, em algumas cidades, pode até ultrapassar
volume de mistura turbulenta no seu desloca - a Rn durante o inverno . Os valores informados
mento. O processo de fumigação ocorre quando para Toulose, na França, ficam em torno de 70
2 2
uma capa de inversão impede a dispersão para W m- durante o inverno e 15 W m- durante
cima , mas as condições de gradiente térmico o verão . Embora a Rn possa não ser muito di -
412 Atm osfera, Tempo e Clim a

(A)

(B)

Pluma de
poluição

Camada
limite rural

(C)
Â.


Usina elétr ica
Refinaria
=. Springf ield
--
..... o
Ozônio (ppm)
.....o
Q......0 O .....o
:..o
......
......

o
• .ô, o(j) :..o :...o, c,n O> c.n
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N o,
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o 50
........Espalhamen to da luz
km

Figura 12.23 Configur a ções do poluição urbano. (A ): domo de poluiçóo urba no; (BJ: pluma de poluiçóo
urbana em uma situ a ção estóvel (isto é, ma nha após noite de céu cl o ro). O sopramen te é indica t ivo de esta bi-
lidade atmosfé rica vertic al . (C): pluma de polu içã o o nord este de St. Louis, M issou ri, em 18 d e julho de 1975.
Fonte : (B): O ke {1978); {C): White et oi. (1976) e O ke (1978). Co m pe rmissão de Routledge ond Methuen.

ferente da obse rvada em áreas rurais próximas a Rn. Essa falta de LE significa que, durante o
(exceto em períodos de poluição significativa), dia, 70-80 % da Rn podem ser transfer idos pa ra
o armazenamento de calor pelas superfícies é a atmosfera como calor sensível (H) . Abaixo
maior (20-30 % da R,, durante o dia), levando da cobertura urbana, os efeitos da elevação e
a valo res noturnos maiores de H; a LE é muito da orien tação sobre o balanço de energia, que
menor nos centros das cidades . Depois de pe- podem variar notavelmente até em uma mesma
ríodos secos prolongados, a evapotranspiração rua, determinam os microclimas das ruas e dos
pode chegar a zero nos centros urbanos, exceto "cânions urbanos~
para certas operações industriais e para parques A natureza complexa da modificação ur-
e jardins irrigados, onde a LE pode ultrapassar bana do balanço de calor é demonstrada por
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 413

observações feitas dentro e ao redor da cidade (A)Parede voltada para leste


300
de Vancouver. A Figura 12.24 compara os ba-
200
la.nços de energia diurnos do verão para locais 100
rurais e suburbanos. As áreas rurais apresentam
um considerável consumo do saldo de radiação
o -t::====~ __:::
~ ~ ~ == :::1
- 100
(~) por evapotranspiração (LE) durante o dia,
gerando temperaturas mais baixas do que nos ,;:;-- (B) Nível da rua
1
E 400
subúrbios. Embora o ganho no saldo de radia -
ção nos subúrbios seja maior durante o dia, a ~ 300
ni
ei 200
perda é maior durante a noite e a madrugada, Q)
eQ) 100
devido à liberação de calor sensível turbulento Q)

da cobertura suburbana (isto é, ~S negativo).


Ll
o
o
X
::, - 100
O balanço de energia diurno para o topo seco ;;:;
o
de um cânion urbano é simétrico por volta do "C
Q)
Ll (C) Topo do cânion
meio -dia (Figura 12.25C) e dois terços do saldo C!l
"C
500
"ii'I
de radiaç ão são transferidos para o calor sen- eQ) 400
o H
sível atmosfér ico e um terço para o armazena- 300
mento de calor no material de cons trução (~S) . 200
A Figura 12.25A-C explica essa simetria no ba- 100
lanço de energia em termos do comportamento o
de seus componentes (ou seja, piso do cãnion, -100
parede voltada para oeste e parede voltada para
DO 04 08 12 16 20 24
leste); eles formam um cânion urbano branco e Hora

figura 12.25 Variação


d iurna nos componentes
600 do balanço de energia paro um cônion urbano de
(A)
orien tação N-S em Voncouver, Colúmbia Britânico,
~&"" com paredes de concre to brancos, sem janelas e uma
....
.;!E 400
razão largura -altura de l: l, duran te o período 9 -11 de
-8~
CI) _li! setembro de 1973 . (A) : média paro a parede voltado
"C ei 200
~ CI> poro leste; (B): médio poro o piso; (C): médios de flu-
·oo e
e CI> xos através do topo do cânion.
~i àS
o Fonte :Nunez and Oke, in Oke (1978) . Com permissão de
- 100 Routledge and Methuen .

600
(B)
sem janelas no começo de setembro, alinhado
o !f'
~ E 400
<;;: no sentido norte -sul e com altura igual à largu -
.g~ ra. A parede voltada para o leste recebe a pri-
~ _as
as
"C
e> 200
(1)
meira variação no começo da manhã, atingindo
·- i::
~
(1)
(1)
CI)
o máximo às 10:00 horas, mas fica totalmente
º" o na sombra depois das 12:00 horas. A Rn total é
baixa, pois a parede voltada para o leste segui -
- 200-----..-------..-----......-1
damente está na sombra . O nível da rua (isto
00 04 08 12 16 20 24 é, o piso do cãnion) somente é iluminado pelo
Hora
Sol na metade do dia, e as dispos ições de ~ e
Figura 12.24 Ba lanços de energia d iurnos médios H são simétricas. O terceiro componente do
poro locais (A) rurais e (8) su burbo nos no Grande balanço de energia total do cãnion urbano é a
Voncouver pa ro 30 dias do verão. parede voltada para o oeste, que é uma imagem
Fonte: Clough e Oke, Oke (1988).Com permissãode T. R. Oke. espelho (centrada ao meio-dia) do balanço da
414 Atmos fera, Tempo e Clima

parede voltada para o leste . Consequentemente, Estados Unidos com re lação a temperaturas
a simetria do balanço de energia no nível da rua médias diárias acima ou abaixo de l SºC . Os
e as imagens espelhadas das paredes voltadas graus -dia de aquecimento (resfriamento) são
para leste e oeste geram o balanço de energia as somas das diferenças negativas (positivas)
diu rno simétrico de R 11, H e âS observado no entre a temperatura média diária e a base de
topo do cânion . 18ºC. Os graus-dia de aquecimento acumu -
As caracterís ticas térmicas das áreas urba- lam -se de 1º de julho a 30 de junho, e os graus -
nas contrastam com as dos campos circundan - -dia de resfriamento, de 1º de janeiro a 31 de
tes; as temperaturas urbanas, em geral mais altas, dezembro.
resultam da interação entre os seguintes fatores:
Composição atmosférica
1 Mudanças no balanço de radiação devido à
composição atmosférica . A poluição do ar torna a transmissividade das
2 Mudanças no balanço de radiação devido atmosferas urbanas significativamente menor
ao albedo e à capacidade térmica d.os mate- do que a de áreas rurais próximas . Durante o
riais da superfície urbana e à geometria do período 1960-1969, a transmissividade atmos-
cânion . férica sobre Detroit apresentava uma média de
3 Produção de calor por construções, tráfego 9% menos do que para áreas próximas , e chega-
e indústria. va a 25% menos em condições calmas . A maior
4 Redução da difusão de calor pelas mudan - absorção de radiação solar por aerossóis desem-
ças nos padrões de escoamento causados penha um papel importante no aquecimento
do domo de poluição da camada limi te pelo Sol
pela rugosidade da superfície urbana .
(ver Figura 12.23A), mas é menos importante
5 Redução na energia térmica exigida para
dentro da camada de cobertura urbana, que se
evaporação e transpiração, devido ao cará-
estende à altura média dos telhados (ver Figura
ter da superfície , à drenagem rápida e aos
12.23B). A Tabela 12.2 compara os balanços de
ventos com velocidade geralmente menor
energia urbano e rural para a região de Cincin -
em áreas urbanas .
nati durante o verão de 1968, em condições an -
Os dois últimos fatores serão comentados em ticiclônicas com <3/10 de nuvens e ventos com
D.3, neste capítulo . velocidade <2 m s- i . Os dados mostram que a
A demanda por energia para esquentar ou poluição reduz a radiaçã .o incidente de ondas
resfriar lares e locais de trabalho é medida pelo curtas, mas o albedo menor e a maior área su -
número de graus -dia de aquecimento e resfria - perficial dentro dos cânions urbanos compe n -
mento . Esse índice quantitat ivo é definido nos sam esse fato . A maior Ln às 12:00 e 20:00 hl é

Tabe la 12 .2 Valo res do balanço de energia (W m-2 ) poro a região de Cincinnoti durante o verão de 1968
,
A re a
,
Dlstrrto comerc ia l cent ral Area ru ral circundan te

Ho ra 08 :00 13 :00 20:00 08 :00 13 :00 20 :00

Ondas curtas, incidente {Q + q) 288* 763 - 306 813 -


Ondas curtos, refletido [(Q + q)o) 42t 12ot - 80 159 -
Saldo de rad iação de ondas longos (Ln) - 61 - 100 - 98 - 61 - 67 - 67
Saldo de rad iação (Rn) 184 543 - 98 165 587 - 67
Ca lor produzido pe lo at ividade humana 36 29 26i o o o

fonte : Bach ond Polterson (1966) .


Obs .: ··Pico de polu ição . -uma superííc ie u rb-ano reflete menos do que 6reas ogrfcolos , e um complexo de arranha-céus pode
absorver até seis vezes mais radiação incidente . -Substitui mais de 25% do perda de radiação de ondas longos à noite.
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 415

compensada pelo aquecimento antropogênico e o terço restante , por carros. Na situação extre -
(ver a segui r). ma de assentamentos no Ártico durante a noite
polar, o balanço de energia duran te condições
Superfícies urbanas calmas depende apenas da radiação liquida de
ondas longas e da produção de calor por ativi-
Os principais controles que atuam sobre o clima
térmico de uma cidade são o cará ter e a densi - dades antropogênicas . Em Reykjavik, Islândia
dade das supe rfícies urbanas , ou seja, a área su- (população 100.000), a liberação antropogênica
de calor é de 35 W m- 2, principalmente como
perficial total de prédios e estradas , bem como a
geometria das construções . A Tabela 12.2 mos- resultado do aquecimento geotérmico do pavi-
tra a absorção de calor relativamente elevada da mento e das tubulações de água quente.
superfície urbana . Um prob lema de medição é
que , quanto mais forte a influência térmica ur - Ilhas de calor
bana, mais fraca a absorção de calor no nível da O efeito líquido dos processos térmicos urba-
rua e, consequentemente, as observações feitas nos é tornar as temperaturas urbanas em lati -
apenas nas ruas podem levar a resul tados errô- tudes médias mais quentes , de modo geral, do
neos . A geometria dos cânions urbanos é parti - que nas áreas rurais circundantes. Esse efeito é
cularmente importante, e envolve um aumento mais acentuado depois do poente durante tem -
na área superficial efetiva e o aprisionamento pos meteorológicos calmos e claros , quando as
pela reflexão múltipla da radiação de ondas taxas de resf riamento nas áreas rurais excedem
curtas , bem como uma "visão do céu ,, reduzi - em muito as das áreas urbanas. As diferenças no
da (proporcional às áreas do hemisfér io abertas balanço de energia que causam esse efeito de-
para o céu ), que diminui a perda de radiação pendem da geometria radia tiva e das prop rie-
infravermelha . A partir de análises realizadas dades térmicas da superfície . Acredita -se que
por T. R. Oke, parece haver uma relação linear o efeito da geome t ria do cânion predomine na
inversa em noites claras e calmas de verão en - camada de cobertura urbana , ao passo que o in-
tre o fator da visão do céu (0- 1,0) e a diferença fluxo de calor sensível das superfícies urbanas
máxima na temperatura nas zonas urbanas e determina o aquecimento da camada limite . A
rurais. A diferença é de 10- 12ºC para um fator intensidade da ilha de calor urbana é função da
de visão do céu de 0,3, mas apenas 3ºC para um razão da altura pela largura do cânion (H/W ),
fator de 0,8-0,9. embora aumente também com uma diferença
crescente na inércia térmica das superfícies ur-
Produção antr6pica de calor banas e rurais e com a rad iação infravermelha
Diversos estudos mostram que as conurbações que advém das camadas de poluição. Durante o
hoje produzem energia por combus tão a taxas dia, a camada limite urbana é aquecida pelo au-
comparáveis com a radiação solar incidente no mento na absorção de radiação de ondas curtas
inverno . A radiação solar de inverno apresenta decorrente da po luição, bem como pelo calor
2
uma média de aproximadamente 25 W m - na sensíve l transferido de baixo e mobili1.ado aci-
Europa, comparada com a produção de calor de ma por turbulência .
grandes cidades . A Figura 12.26 ilustra a mag - O efeito da ilha de calorpode fazer as tem -
nitude e a escala espacial de fluxos de energia pera turas urbanas mínimas serem 5-6ºC maio -
artificiais e naturais e aumentos pro jetados . res do que as áreas ru rais adjacen tes. Essas di-
Em Cincinnati, uma proporção significa t iva ferenças podem alcançar 6-BºC nas primeiras
do balanço de energia é gerada pelas atividades horas de noites calmas e claras em cidades gran-
humanas, mesmo no verão (ver Tabela 12.22). des, quando o calor armazenado pelas superfí -
Essa proporção tem uma média de 26 W m - 2 ou cies urbanas duran te o dia (potencializado pelo
mais , dois terços dos quais foram produzidos aquec imento por combustão ) é liberado . Como
por fontes industriais , comerciais e domésticas , esse é um fenômeno relativo,o efeito da ilha de
416 Atmosfer a, Tempo e Clima

6
10 --------------------------------,

• Torre de refrigeração
)>,.
g
a.
o
(O
o
Usina nuclear cr
(1500MW) \
o

• ' '\
104
''
• Refinaria (6 m tia ) '
Célula de nuvens cumulus
'' \
\

''
'
Siderúrgia • ',~
\ :,:)
\
i--- Radiação solar
{g • Manhattan
\ extraterrestre
~
~ Mo; treal • Moscou
' \
.,.....
. Saldo de radiação
' \

''\ na superfície da Terra


Budapeste Tóqu io
0 ''
Washington o
Vancouver •
• Chicago
• Los Angeles
\
\
'
~
Q)
Sheffietd o • • • Ruhr \ '
O 10 Munique Ham ''
.
\
Boston-Wash ington ',
\

Bacia de Donetz ', .,_ Energia potencial


'
\
Benelux o • • AJemanhaOc iden~I disponível
1 Reino Unido o ,
Alemanha Oriental o ',
Europa Central e Ocidental • '
Japão 0
França o
o Começo da década de 1970 América do No • .,_ Fotossíntese
10-1
• Fim da década de 1970
União Sov iética • .- Calor geotérmico

10-2----------~----~----~----~---~
10-3 l o-2 10- 1 110 102 103 104 105 106 10 7 10s
Área (km2)

Figura 12.26 Co mpa ração ent re fo ntes de ca lor na tu ra is e ar1ificia is no sistema c li mót ico global nos esco las
peq u ena, mesa e sin ó ti ca. Regressões ge nera lizados são apresentadas paro os lib erações a rtifi ci a is de calor na
década de 1970 (infc io dos a nos 1970 : círculos , fim dos anos 1970 : pon tos ), com p revj sões p a ra 2050 .
Fonte : Ponkrol h {198 0) e Bach (1979).

calor também depende da taxa de resfriamen - combus tível levou a um aquecime nto de 0,6ºC
to rural , que é influenciada p ela magni tude do na cidade no inver n o e que isso explicav a de
grad iente adiabático ambie ntal regional . um ter ço à me tade do excesso no aquecimento
Para o período de 1931-1960, o cent ro de médio da cidade, em compara ção com as áreas
Londres teve uma t emperatura média anual de rurai s. As diferenças são mais evidente s duran-
11,0ºC, em comparação com 10,3ºC para os su- te condições de ar parado , em especial à noite e
búrbios e 9,6ºC para as áreas rurais circund an - sob uma invers ão regio n al (Figura 12.27). Para
tes. Cálculo s realizados para Londre s n a década que o efeito da ilha de calor atue efetivamen t e,
de 1950 indicam que o consumo doméstico de deve haver vento s com velocidade menor que
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 417

D Área constru ída


'•

km 10

Figura 12.27 Dis t ribu ição de temperaturas mínimas (ºC ) em Londres em 14 de m a io d e 1959, mos trando a
relaç ão entre a " ilha de ca lo r urb a no " e o órea cons tr uída ,
Fonle : C ho ndler ( 1965 ). Com perm issão de Hutch inson .

5-6 m s- 1• Ele é visível em noites calmas durante para o aquecimento doméstico e a poluição at-
o verão e o começo do outono , quando apre - mosférica estão no mínimo , indica que a perda
senta bordas íngremes, como em um penhasco, de calor dos prédios por radiação é o fator mais
na margem da cidade que recebe o ven to, e as importante que contribui para o efeito da ilha
temperaturas mais altas são associadas à maior de calor. As diferenças sazonais, con tudo, não
densidade das residências urbanas. Na ausên- são necessariamente as mesmas em outras zo-
cia de ventos regionais, uma ilha de calor bem nas macroclimáticas.
desenvolvida pode gerar a sua própria circula- Os efeitos sobre as temperaturas mínimas
ção local na superfície, volt ada para dentro da são especialmente acentuados. Para a área cen -
cidade. Assim , os contrastes térmicos de uma tral de Moscou, extremos de inverno abaixo
cidade, como muitas de suas características cli- de -28 ºC ocorreram em apenas 11 ocasiões de
máticas, dependem de sua situação topográfi - 1950 a 1989, em comparação com 23 casos em
ca e são maiores para locais pro tegidos e com N emchinovka, a oeste da cidade. Colônia, na
ven tos suaves. O fato de que as diferenças nas Alemanha, tem uma média de 34% menos dias
temperaturas rurais-urbanas são maiores para com mínimas abaixo de OºC do que a área do
Londres no verão, quando a combustão direta seu entorno. Em Londres, Kew tem uma média
418 Atm osfera, Tempo e Clim a

de 72 dias a mais com temperaturas sem geada na Inglaterra, por exemplo, quando tinha uma
do que Wisley, na zona rural . As características população de 270.000, apresentava aquecimen-
da precipitação também são afetadas; incidên - to comparável em intensidade com o do centro
cias de neve na zona rural costumam estar as- de Londres em setores menores . Isso sugere que
sociadas à queda de granizo ou chuva no centro a influência térmica do tamanho da cidade não
da cidade . é tão importante quanto a da densidade urbana.
Embora seja difícil isolar as mudanças nas A extensão vertical da ilha de calor é pouco co-
temperaturas que se devem a.os efeitos urbanos nhecida, mas acredita-se que ela ultrapasse 100-
daquelas decorrentes de outros fatores climá- 300 m, especialmente no começo da noite. No
ticos (ver Capítulo 13), sugere -se que o cresci -
mento da cidade costuma vir acompanhado por (A) Áreaconstru'da ·

um aumento na temperatura média anual. Em


\ 1946
. 1975
Osaka, no Japão, as temperaturas subiram 2,6ºC
nos últimos 100 anos. Em condições calmas, a
diferença máxima nas temperaturas urbanas e
rurais está estatisticamente relacionada com o
'
tamanho da população, sendo quase linear com
o logaritmo da população. Para Nova York, por
volta de um terço do aquecimento desde 1900
é atribuído ao efeito das ilhas de calor, e o res-
to, a mudanças climáticas regionais. No Central
Park , a intensidade da ilha de calor em 2007
era de .....
2,SºC. Na América do Norte, a diferen - o 10 Bafa de Tóquio
km
ça máxima entre a temperatura urbana e rural
chega a 2,SºC em cidades de 1000, BºC em cida - 2 (B)
des de 100.000 e 12ºC em cidades de um milhão ~6 • •



·-e IL- • • • •

de hab itantes. As cidades europeias apresentam


·-E ....
o
o •
• • •• •
• •


• • •

• ••
• •
••

~ ~
• •
• •
(13 • • ••
uma diferença menor na temperatura para po - ::, ·- -2
1â m •
• •

• •
... "O • •• • • • •
pulações equivalentes, talvez como resultado da Ql (13
o. ·- -4 • •

E -o • •
altura geralmen te menor dos edifícios . Ql -Ql
t,- E
Um exemplo convincente da relação entre -{i

o crescimento urbano e o clima é Tóquio, que o


100
(C)
-- - · ·- ···-··-

se expandiu muito após 1880 e, particularmen- e& •


O V 80 •
o • •
«I ••
te, após 1946 (Figu r a 12.28A) . A população m
«I ·-
E •


·-
u ,_ e 60 •
aumentou para 10,4 milhões em 1953 e para Ql E • •

11,7 milhões em 1975. Durante o período 1880-


u ...40
e 1ií
«I
:::1 •


• • • •
• •


E ...
Ql • •
1975, houve um aumento significativo nas tem - •.::I
Ql
a. 20
peraturas mín .imas médias em janeiro, e uma z E •

redução no número de dias com temperaturas -


Ql

o
1880 1900 1920 1940 1960

1980
mínimas abaixo de OºC (Figuras 12.28B e C).
Embora os gráficos sugiram uma inversão des- figura 12.28 (A) : 6reo co nstruído de Tóquio em
sas tendências durante a Segunda Guerra Mun - 1946; (B): temperatura mínimo média de janeiro; (C):
dial (1942-1945), quando a evacuação reduziu número de dias com tempera turas abaixo de zero en -
tre 1880- 1975 . Duran te a Segundo Guerra Mu nd ial ,
a população de Tóquio quase à metade , fica
o po pu lação da cidade ca iu de 10,36 mi lhões paro
claro que a base das correlações entre o clima 3,49 milhões, aumentando depois paro 10,4 mil hões
urbano e a população é complexa. A densidade em 1953 e 11,7 mil hões em 1975 .
urbana, a atividade industrial e a produção de Fonfe : Moej imo et oi. (1980 ). Co rtesia do Professor J. Mot -
calor antropogênico estão envolvidas. Leicester, sumo to.
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 419

São necessários mais estudos sobre esses im-


portantes efeitos de escala.
_ __ _ _ -+---<[ PS
GS
3 Modificação das características
da superfície
FD Fluxo de ar
-
----
•,.o
r-

Em média, as veloc idades dos ventos na cida -


de são menores do que as registradas no espaço
Figura 12.29 Modelo do fluxo de ar urbano ao re -
dor de dois préd ios de diferen te tamanho e formo . Os
aberto circundante , devido ao efeito pro tetor
números mos t ram os velocidades relativas do vento; dos edifícios. As velocidades médias dos ventos
as óreos som b reados são os de maior veloc idade do no centro da cidade são pelo menos 5% meno -
ven to e turbulência no nível da rua. res do que as dos subúrbios. Todavia, o efeito
Fonte: Plote (1972 ) e Oke 1978 urbano sobre o movimento do ar varia mui to,
Notas : PS = Ponto de estagnação ; FO = Fluxo de desvio ; V =
dependendo da hora do dia e da estação. Du -
Vórtice; GS = Giro de sotavento.
rante o dia, as velocidades dos ventos na cidade
caso de cidades com arranha -céus, os padrões são consideravelmente menores do que as das
verticais e horizontais de vento e temperatura áreas rurais adjacentes, mas, durante a noite,
são muito comp lexos (ver Figura 12.29). a maior turbulência mecân ica sobre a cidade
Em algumas cidades em latitudes altas, significa que as velocidades maiores dos ventos
existe um efeito inverso d.e "ilha de frio" de nos níveis mais elevados são transferidas para o
1-3ºC no verão . Nos Estados Unidos, esse ar em níveis mais baixos por mistura turbulen -
efeito foi observado em Boston , Dallas , De - t a. Durante o dia (13:00 horas) , a média anual
troit e Seattle, quando se fazem correções na da velocidade do vento para o período de 1961-
temperatura para diferenças em latitude e 1962 no aeroporto de Heathrow (campo aberto
elevação . Em microescala, o baixo ângulo de entre subúrbios ) foi de 2,9 m s- i , em compara -
1
elevação do Sol causa sombreamento das ruas , ção com 2,1 m s- no centro de Londres . Os nú -
ao contrário de locais fora da área construída. meros comparáveis à noite (01:00 hora) foram
1 1
Uma ilha de frio semelhante é observada em de 2,2 m s- e 2,5 m s- • As diferenças na velo -
cidades em desertos tropicais e subtropicais, cidade do vento nas zonas rural e urbana são
onde ela é atribuída à elevada inércia térmi - mais acentuadas com ventos fortes, e os efeitos,
ca da área construída , bem como a oscilações portan to, são mais evidentes durante o inverno,
abruptas na temperatura diurna. Sua in t ensi - quando uma proporção maior de ventos fortes é
dade depende da orientação dos cânions das registrada em latitudes médias.
ruas - aumentando à medida que o eixo de As estruturas urbanas afetam o movimen-
orientação da rua se aproxima de norte -sul to de ar ao gerar turbulência como resultado de
e diminuindo quase a zero na direção leste - sua rugosidade superficial e pelos efeitos cana-
-oeste (ver a seguir). Um estudo recente , onde lizantes dos cânions urbanos. A Figura 12.29 dá
a falta de homogeneidade e outros vieses nos uma noção da complexidade do escoamento ao
dados de tempera t ura foram analisados cui- redor de estruturas urbanas , ilustrando as gran -
dadosamente , não encontrou um impacto des diferenças na velocidade e direção do vento
estatisticamente significativo da urbanização no nível do solo, o desenvolvimento de vórtices
no continente norte-americano; o mesmo nú- e redemoinhos a sotavento e os fluxos inversos
mero de cidades que apresentavam uma ilha que podem ocorrer . As estruturas desempe-
de frio também tinha uma ilha de calor . Uma nham um papel importante na difusão da po-
razão sugerida para isso é que os impac t os em luição dentro da cobertura urbana; por exem -
escala pequena e escala local predominam em plo, os vórtices mui t as vezes não conseguem
relação à ilha de calor urbana de mesoescala . varrer ruas estreitas . A formação de fluxos e
420 Atm osfera, Tempo e C lim a

redemoinhos de alta veloc idade na atmosfera tação total) se concen traram no oeste, centro
urbana , geralmente seca e poeirenta, onde exis- e sul de Londres , e eram notavelmente dife -
te um grande sup rimento de escombros e frag- rentes da distribuição média anual da pluvio -
mentos de materiais, faz fluxos de ar de apenas sidade total. Durante esse período, as chuvas
5 m s- • serem incômodos, e os de mais de 20 m de tempestade em Londres foram 200-250 mm
- 1 •
s , perigosos. maio res do que na zona rural do sudeste da In-
glaterra. As áreas urbanas no meio -oeste e no
Umidade sudeste dos Estados Unidos aumentam signi-
A ausência de grandes corpos de água parada ficativamente a atividade convectiva durante o
nas áreas urbanas e a rápida remoção do es- verão . As áreas na região metropolitana a leste
coamento superficial pelas estruturas de dre - de Atlan ta receberam 30% ma is chuva durante
nagem reduzem a evaporação local. A falta de dias de ar mT de junho a agosto de 2002-2006
uma cobertura vegeta l ampla elimina grande do que as áreas a oeste da cidade . A quantida-
parte da evapot r anspiração , e essa é uma fon- de e a frequência . da precipitação aumentaram
te importante que aumenta o calor urbano. Por até 80 km a leste do núcleo urbano de Atlanta.
essas razões, o ar em cidades de média latitude A maior pluviosidade era mais evidente entre
tem uma tendência para menor umidade abso - 19:00 e a meia -noite hl. Tempestades e chuvas
luta do que em seu entorno, especialmente em de granizo mais frequentes ocorrem a 30-40
condições de ventos leves e céus nublados . Du - km a sotavento de áreas industriais de St Lou -
rante tempo calmo e claro, as ruas aprisionam is, em comparação com as áreas rurais (Figur a
ar quente , que retém sua umidade , pois menos 12.30). As anomalias ilustradas aqui estão en -
orvalho se deposita sobre as superfícies quen- tre os efeitos urbanos mais bem documenta-
tes da cidade . Os contrastes de umidade entre dos com alguns desses efeitos baseando -se em
as áreas urbanas e rurais são mais notáveis no estudos de caso . A Tabela 12.3 apresenta uma
caso da umidade relativa, que pode ser até 30%
menor na cidade à noite , como resultado das Anomallada pluviosidade Anomaliade
total no vorao (>+10¾) tompcstªdcs (;,+40%)
--, 1
temperaturas mais altas.
As influências urbanas sobre a pre cipita - /
..l.,,,,,.,---
, .._., .,,..,..---, \"' \

/ / ~-~"
,, .,. '\4- Anomaliada taxa \ 11
ção ( com exceção da neblina ) são muito mais ~=:::::::::'.\.
/ ,,,, do chuvas fortes / I
difíceis de quantificar , em parte porque há pou - ~--:.-········· - - .. (>+50%) / ,

cos pluviômetros nas cidades e em parte por - o


r
Anomaliade
.
.....l
•,
/ ,'
/ I

granizo (:>+50%) ; / 1
que o fluxo turbulento torna a "captação" deles 1

pouco confiável . Radares meteorológ icos no /


:
/
I
,' I
solo foram usados em um estudo sobre Atlan - i / ,'
ta, Geórgia . É razoavelmente certo afirmar que ,-··;~ 1 :
•••• , 1
as áreas urbanas na Europa e na América do ~ . ! 1 :
Norte são responsáveis por condições locais .\... .-- ..#.,__- ..._ J' J ,'

,.... -- ---I .,.


..... ....... ~;__ - -." ......... 1',.

N
1 , --

que, em espec ial no verão, podem desenca -


dear grandes quan tidades de precipitação sob
,'

'--.------.....__ - /
Q
t go
condições marginais . Esse gatilho envolve efei-
tos térmicos e a maior convergência friccionai
das áreas construídas. As cida .des europeias f igura 12.30 Anomalias da pluv iosidade no verão,
e norte -amer icanas tendem a registrar 6-7% taxa de chuvas for tes, frequência d e granizo e fre-
quência de tempestades a sotaven to da área metro-
mais dias com chuva por ano do que as regiões
politana de St. Louis, MO. Setas grandes indicam a
adjacentes , causando um aumento de 5- 10% na
direção predom inante d o movimento de sistemas d e
precipitação urbana. No sudes te da Inglaterra, chuva no verão.
durante 1951- 1960, as chuvas de tempestade de Fonfe : Chongnon (1979 ). Cortesia do Ame rico n Me teoro lo -
verão (que compreenderam 5- 15% da precipi - gico l Soc iety.
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 421

Tabela 12.3 Condições climóticas médias em alta densidade de prédios de um único andar ,
cen tros urbanos de latitu d e média, com pouco espaço aberto e péssima drenagem.
comparadas com as de áreas
Nesse ambiente, a composição dos telhados
rurais adjacentes
é mais importante do que a das paredes, em
Composição Dióx ido de carbono x2 termos de trocas de energia térmica, e a pro-
atmosférico Dióx
, ido de enxofre x50 -200 dução de calor antropogênico t em uma dis -
Ox idas de nitrogên io xlO
Monóxido de carbono x200(+) tribuição mais uniforme e é menos intensa do
Hidroca rbonetos toto is x20 que em cidades europeias e norte -americanas.
Mater ial particulado x3 o 7 Nos trópicos secos, os prédios têm uma massa
Radiação Solar globa l -15 a 20% térmica relativamente alta, e isso, combinado
Ult rav ioleta (inverno) -30%
Duração do luz solar - 5 a 15% com a baixa umidade do solo nas áreas rurais
Temperatura Mínimo de inverno +1 a 2ºC circundantes, torna a razão de recepção térmi -
(médio) ca urbana-rural maior do que em regiões tem-
G rous-dia de - 10% peradas. Todavia, é difícil fazer generalizações
aquecimento
a respeito do papel térmico das cidades nos
Veloc idade Méd io anual - 20 a 30%
do vento Número de colmar ias +5 a 20% trópicos secos, onde a vegetação urbana pode
Neb lina Inverno + 100% levar a efeitos de "oásis': A construção de pré-
Verão +30% dios nos trópicos úmidos é caracteristicamen -
N ebulosidade +5 a 10% te leve, para promover a ven tilação essencial.
Preci pitoçõo Total +5 a 10% Essas cidades diferem muito das temperadas ,
Dias com <5 mm +10%
pois a recepção térmica é maior em áreas ru-
Fonte : Adaptado do Wor ld Meteo ro logical Orgo n izo líon rais do que em áreas urbanas, devido aos ele-
(1970). vados níveis de umidade no solo rural e aos
elevados albedos urbanos.
síntese das diferenças climáticas médias entre As características das ilhas de calor tropi-
cidades e seu entorno_ cais são semelhantes às de cidades temperadas,
mas costumam ser mais fracas, em geral de 4ºC
4 Climas urbanos tropica is para a máxima noturna - em comparação com
Uma característica marcan te do crescimento 6ºC em latitudes médias - e são mais desen -
populacional recente e projetado no mundo é volvidas na estação seca. Também apresen tam
o aumento relativo nos trópicos e subtrópicos. momentos diferentes para a temperatura máxi-
Hoje, existem 45 megacidades no mundo com ma, bem como complicações introduzidas pelos
mais de 5 milhões de habitantes. Em 2025, pre- efeitos de tempestades convectivas vespertinas e
vê-se que, das 13 cidades que terão populações noturnas e por brisas diurnas.
na faixa dos 20-30 milhões, 11 estarão em paí- As características térmicas das cidades tro-
ses menos desenvolvidos (Cidade do México, picais diferem das de cidades em latitudes mé -
São Paulo, Lagos, Cairo, Caráchi, Nova Délhi, dias, por causa da morfologia urbana distin t a
Bombaim , Calcutá, Daca, Xangai e Jacarta ). (p. ex., densidade de prédios , materiais , geo -
Apesar das dificuldades para extrapolar metria, áreas verdes ) e porque elas têm menos
o conhecimen to de climas urbanos de uma fontes de calor antropogênico. As áreas urbanas
região para outra, a arquitetura tecnológica nos trópicos tendem a ter taxas mais lentas de
ubíqua da maioria dos centros de cidades e resfriamento e aquecimento do que as áreas ru -
áreas residenciais com prédios elevados tende rais circundantes, e isso faz o efeito principal
a impor influências semelhantes em seus dife- noturno das ilhas de calor se desenvolver mais
rentes climas de origem. No entanto , a maior tarde nas latitudes médias - isto é, em torno
parte da terra construída em centros urbanos do nascente (Figura 12.31A). Os climas urba -
tropicais difere do que é observado em latitu- nos nos subtrópicos são ilustrados por quatro
des maiores; ela costuma ser composta de uma cidades mexicanas (Tabela 12.4) . O efeito das
422 Atm osfera, Tempo e Clim a

8-----~----------~ 8----------------~
(A) (8 )

Cidade do México (U-S)


Cidade do México(U-R)
Guada lajara (U-R)
Monterrey (U-S)
2

Guadalaja ra (U-S)

=====~=========J==
Estação seca estação úmida (seco}
-2-+----r--.---r--~-.--~~-.---r-----r--,---i
D 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 J F MAMJ J ASOND
Horas Meses

Figura 12.31 Variações diurnas (A) e sazonais (B} na intens idade das ilhas de calor (isto é, diferenças na tem -
peratura urban a e rural ou suburbana) para quatro cidades mexicanas.
Font e : Jou regui (1987) . Copyr ight @ Erdkunde. Pub licado com permissão .

ilhas de calor, como se esperaria, é maior para Ta bela 12.4 Popu lação (l 990) e altitude de
grandes cidades, e mais bem exemplificado quatro cidades mexicanos

à noite durante a estação seca (novembro a Popu la ~ão Altit ude


abril), quando condições anticiclônicas, céus (mi lhõ es) (me tros)
claros e inversões são mais comuns (Fi gura
C ídade do México 15,05 2.380
12.31B). Devemos observar que, em certas ci- (l 9º25'N)
dades costeiras tropicais (p. ex ., Veracruz; Fi- Guadala jara 1,65 1.525
gura 12.31A ), o aquecimento urbano da tarde (20º40'N)
pode gerar instabilidade , reforçando o efeito da Monte rey (25º49'N) 1,07 538
brisa marinha até o ponto em que ocorre um Verac ruz (19º1l 'N) 0,33 Nível do
efeito urbano de ªilha de frio" (Figura 12.3 lA). mor
A elevação pode desempenhar um papel térmi - Fonte: Jo uregu i (1987 ).
co significa tivo (Tabela 12.14) , como na Cidade
do México, onde a ilha de calor urbana pode peraturas mínimas é significativamente maior
ser acentuada pelo rápido resfriamento notur- na ilha de calor urbana do que em áreas rurais
no dos campos adjacentes . Quito , no Equador (+ 12ºC em março, mas apenas+ 2ºC em dezem-
(2851 m), apresenta um efeito máximo de ilha bro, devido ao efeito da poeira atmosférica) . De
de calor durante o dia (até 4ºC) e efeitos mais modo geral, as diferenças na temperatura mí-
fracos à noite, provavelmente por causa da dre - nima urbana-rural variam entre -2ºC e + lSºC.
nagem noturna de ar frio do vulcão Pichincha, Duas outras cidades tropicais que apresentam
localizado nos arredores . ilhas de calor são Nairóbi, no Quênia ( +3,SºC
Ibadan, na Nigéria (população acima de para temperaturas mínimas e + 1,6ºC para tem-
1 milhão; elevação 210 m) , localizada a 7ºN, peraturas máximas ), e Nova Délhi, na índia ( + 3
registra temperaturas mais altas na zona rural a SºC para temperaturas mínimas e +2 a 4 ºC
do que na urbana pela manhã e temperaturas para temperaturas máximas) .
urbanas mais altas à tarde, em especial na esta - Apesar da in suficiência de dados, parece
ção seca (novembro a meados de março ). Em haver uma intensificação na precipitação urba-
dezembro, a nuvem de poeira harmattan tende na nos trópicos, que é mantida por um período
a reduzi r as temperaturas máximas na cidade . maior do ano do que a associada à convecção de
Durante essa estação, a média mensal das tem- verão nas latitudes médias .
CAPÍTULO 12 Climas da camada limite 423

Os cli mas de pequena escala são determinados pela importância relativa dos componentes do balan-
ço de energia superficial, que variam em quantidade e sinal, dependendo da hora do dia e da esta-
ção. Superfícies de solo exposto podem ter variações amplas de temperatu ra, controladas por H e G,
ao passo que as de corpos d'6gua superfic iais são cond icionadas pelo LEe por fluxos advectivos . As
superf ícies de neve e gelo ap resentam transferências pequenas de energia no inverno, com o radiação
emit ida líquida compensada por transferências de H e G paro a superf ície. Depois do derret imento da
neve, a radiação líquida é grande e posit ivo, balanceada por perdas turbulen tas de energia. As super-
fícies com vegetação apresentam trocas ma is comp lexas, dom inadas pelo LE;isso pode explicar >50%
da rad iação incidente, em especial onde existe um amp lo suprimento de ógua (inclu indo irrigação). As
florestas têm um albedo menor (<0, 10 para con íferas) do que a ma ioria das superf ícies com vegetação
(0,20 -0,25) . Sua estrutura vert ical produz diversas camadas microc limát icas distintas, particularmente
em f lorestas tropica is. As velocidades dos ventos são caracter isticamente ba ixas nas florestas , e as
6rvores formam importantes cinturões de proteção. Ao contr6rio da vegetação de pequeno porte , ti-
pos diferentes de 6rvores apresentam uma var iedade de taxas de evopotransp iração e, portanto , afe-
tam os temperaturas locais e o umidade da floresta de maneiras diferentes. As florestas podem ter um
efeito topogr6fico marginal sobre o precip itação em condições convect ivas nas regiões temperadas,
mas o gote jamento da nebl ina é ma is signif icat ivo em 6reas nebu 'losas/nubladas . A disposição da
umidade na floresta é afetada pela interceptação e evaporação no dossel, mas as bacias florestadas
parecem ter perdas ma iores por evopotronsp iração do que aquelas com cobertura de gram íneas. Os
microcl imas floresta is apresentam temperaturas mais baixas e variações diurnas menores do que seus
arredo res.
Os climas urbanos são dominados pela geometr ia e compos ição das superf ícies constru ídas e
pelos efeitos dos atividades humanas urbanos. A composição da atmos fera urbana é mod ificada
pela adição de aeross6is, que produzem poluição por fumaça e neblina, por gases industriais como o
dióxido de enxofre, e por uma cade ia de reações qu fmicos iniciada pela fumaça do escapamento de
automóve is, que causa smog e inibe a radiação incidente e emitido. Damos e plumas de polu ição se
formam ao redor de cidades, sob condições adequadas de estrutura vertical da temperatura e veloci -
dade dos ventos. H e G dominam o ba lanço de calor urbano, exceto nas praças da cidade, e até 70 -
80% da rad iação incidente podem se transformar em calor sensível, que apresenta uma distribuição
var ióvel entre as complexas formas do meio construído urbano . As influências urbanas se combinam
pa ro gerar temperaturas geralmente mais altos do que nas óreas rura is adjacen tes, devido, no míni-
mo, à importancia crescente da geração de calor pelas atividades humanas. Essesfatores levam à ilha
de calor urbana, que pode ser 6 - BºC mais quente do que as 6reas adjacentes nas primeiros horas de
noites calmas e claras, quando o calor armazenado pelas superf ícies urbanas est6 sendo liberado. A
diferenço de temperatura urbana-rura l em condições colmas est6 estatisticamente relac ionado com o
tamanho da população da cidade; a geometria da cobertura urbana e a visão do céu são importantes
fatores de controle . A ilho de calor pode ter algumas centenas de metros de espessura, dependendo
da configuração dos prédios . Em alguns casos, são observadas ilhas de frio durante o dia no verão .
As velocidades dos ventos urbanos em geral são menores do que em 6reas rurais du rante o dia, mas o
fluxo do vento é complexo, dependendo da geometria das estruturas da cidade . As cidades tendem a
ser menos úm idas do que as óreas rurais, mas sua topografia, rugosidade e qual idades térm icas po-
dem intensificar a atividade convectiva no verão sobre e a sotavento da órea urbano, causando mais
tempestades e chuvas mais fortes. As cidades tropica is apresentam ilhas de calor, mas o fase diurna
tende a ser defasado em relação às de latitudes médias . A amplitude do temperatura é maior durante
condições de estação seco.
424 Atm osfera, Tempo e Clim a

• De que ma neiras as superf ícies em vegetação mod ificam o clim a superf icial, comparadas com as
superfícies sem vegetação, e quais são os processos envolvidos?
• Qua is são os pr incipai s efeitos de ambientes urba nos na compos ição atmosfér ico? (Dados de pon -
tos de amostragem para a A mér ica do No rte e a Europa estão dispon íveis na Internet).
• Procure evidências, em relatórios de estações meteo rológ icas loca is e/ ou t ipos de vegetação , pa ra
as diferenças topoc lim áticas nos loca is onde você vive/ viaja e considere se elas advêm de dife rença s
na rad iação solar , tempe rat uras diurnas / noturnas , ba lanço de umi dade , veloc idade do vento o u
com binações entre esses f ato res.
• Procure evidênc ias de diferença s climát icas para áreas urba nas/ rura is em cidades próxim as a você,
usando relató rios meteo rológ icos sobre tempe rat uras d iurn as/n ot urnas , vi sibili dade , eventos de
neve, entre outros fato res.

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u an as
e imáticas

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Depois de ler este capitulo, você:

• entender6 a diferença entre variabilidade climótica e mudança climótica e conhecerá os aspectos


característicos que podem constituir uma mudança no clima;
• conheceró as diferentes escalas temporais pelas quais se estudam as condições climáticas passadas
e as fontes de evidências que podem ser usadas;
• reconhecer6 os principais fatores forçantes do clima e os mecanismos de retroalimentação {feed-
back) e as escalas temporais em que atuam;
• entenderó as contribuições antropogênicas para as mudanças climáticas; e
• compreenderá os possíveis impactos das mudanças climóticas sobre os sistemas ambientais.

A
-
CO·NSIDERAÇOES GERAIS 150 anos e, em geral, são formatados com um
tempo de resolução mensal, sazonal ou anual.
Neste capítulo final, analisaremos a variabilida-
Todavia, indicadores indiretos (proxy) de anéis
de e as mudanças climáticas, os fatores forçantes
de crescimento de árvores, polen em sedimen-
do clima,feedbacks e estados projetados para o
tos de pântanos e lagos, registros de parâmetros
futuro do sistema climático. Em muitas partes
do mundo, o clima variou suficientemente nos físicos e químicos em testemunhos de gelo, e
últimos milhares de anos para afetar os padrões foraminíferos oceânicos em sedimentos pro-
de agricultura e assentamentos humanos. Como porcionam uma rica fonte de dados paleocli-
ficará claro, existem evidências inequívocas de máticos. Os anéis de crescimento das árvores e
que as atividades humanas já começaram a in- os testemunhos de gelo podem conter registros
fluenciar o clima. sazonais ou anuais . Os sedimentos oceânicos e
A compreensão de que o clima está longe a turfa de pântanos podem fornecer registros
de ser constante somente ocorreu durante a com resolução temporal de 100 a 1000 anos.
década de 1840, quando foram obtidas evidên- Em um estudo sobre a variabilidade e as
cias indisputáveis de Ciclos Glaciais passados. mudanças climáticas, devemos prestar aten-
Os estudos sobre o clima do passado começa - ção nos possíveis artefatos dos registros. Para
ram com alguns indivíduos na década de 1920 registros instrumentais, estes incluem mudan-
e ganharam/orça na de 1950 (ver Quadro 13.1). ças na. instrume .ntação (p. ex., tipos de pluviô-
Os regis tros instrumentais para a maior par- metros), práticas observacionais, localização
te do mundo cobrem apenas os últimos 100 a das estações, ou o entorno da instrumentação,
428 Atmosfera, Tempo e Clima

13.1 Pioneiros da pesquisa sobre mudanCjaS climáticas


No final do século XIX, aceitava-se que as condições climót icas fossem descritas por méd[as de longo
prazo (às vezes chamadas normais). Quanto mais longo o registro, melhor seria a aproximação da
média de longo prazo. O intervalo padrão para calcular médias climóticas a partir de registros instru-
mentais adotado pelo Organização Meteorológica Mundial é de 30 anos: 1971-2000, por exemplo.
Os geólogos e alguns meteorologistas sabiam que os climas do passado hav iam sido muito diferentes
do presente e procuravam explicações para os períodos Glaciais em variações astronômicas e solares.
Duas obras clássicas de C. E. P. Brooks - The Evolution of Cfimate {1922) e Climotes of the Past (1926)
- traziam um quadro notavelmente abrangente dos variações ao longo do tempo geológico e estabe-
leceram os fatores forçantes possíveis, internos e externos ao sistema climático do Terra. Todavia, foi
somente nos décadas de 1950 e 1960 que aumentou o consciênc ia dos substanciais flutuações climá-
ticos em escalas decenais e seculares. Os registros climót icos históricos e dados climáticos obtidos com
fontes indiretas (proxy) começaram a ser reun idos. Entre os pione iros da climatologia histórica estão
Gordon Manley e Hubert Lamb na Inglaterra, Herman Flohn na Alemanha, Emmanuel LeRoy Ladurie
na França e J. Murray Mitchell e Reid Bryson nos Estados Unidos.
Na década de 1970, a atenção voltou-se ini cialmente para a possibilidade de um novo per íodo
Glacial e para preocupações com o efeito das concentrações crescentes de dióxido de carbono na
atmosfera. A possib ili dade do resfriamento global advém de duas fontes principa is; a primeira estó
nas evidências paleoclimatológicas de que as condições interglociais anteriores duraram apenas por
volto de 10.000 anos e de que o período holocênico pós-glacial já tinha essa duração. Uma conferên-
cia intitulado "The Present lnterglaciol - how ond when it will end?" foi realizada no Brown University,
em Providence, Rhode lsland, em 1972 (G. Kukla, R. Matthews e J. M. Mitchell). A segundo fonte foi o
preocupação com o papel dos aerossóis na redução do radiação solar incidente. Além da preocupa-
ção com o resfriamento potencial, no começo da década de 1970 houve um aumento na extensão da
cobertura de neve no Hemisfério Norte (Kukla e Kukla, 1974). Quase in stantaneamente, porém, co-
meçavam as primeiras conferências sobre o dióxido de carbono e o aquecimento causado pelo efeito
estufa! A ocorrência de mudanças climáticas abruptas durante o final do Pleistoceno e o Holoceno co-
meçou a ser identificada nas décadas de 1970 e 1980. Mais notável é o severo resfriamento de 1.0 00
anos, conhecido como younger dryas, que ocorreu por volta de 12.000 anos atrós.
O interesse em climas passados foi motivado pelo conceito de que "o passado é a chave do futu-
ro". A partir da f, houve esforços para documentar e entender os condições ocorridas durante per íodos
históricos e o passado geológico remoto, quando o clima global variou em uma faixa de extremos
muito ma is amplos. Como observação final, cálculos recentes de forçantes orbitais indicam que o
atual interglacial durará por outros 30.000 anos.

ou mesmo erros em dados transcritos . Formas (IPCC), refere-se a flutuações no estado médio
indiretas de registro podem ter erros nas datas e outras estatísticas (como o desvio -padrão,
ou na interpretação. Mesmo quando os sina is os extremos ou a forma da distribu ição de
do clima são reais, pode ser difícil atribuí-los a frequência, ver Nota 1) de elementos climáti-
causas únicas, devido à complexidade do siste- cos em todas as escalas espaciais e temporais,
ma climático, que justamente se caracteriza por além das de eventos climáticos individuais. A
uma miríade de interações entre seus diversos variabilidade pode ser associada a processos
componentes, em uma variedade de escalas es- internos naturais do sistema climát ico, ou a
paciais e temporais (Figura 13.1). variações nas forçantes climáticas naturais ou
Qual é a distinção entre variabilidade e ant ropogênicas. As mudanças climát icas, por
mudanças climáticas? A variabilidade climá- outro lado, são consideradas pelo IPCC como
tica, conforme a defmição do Painel Inter- uma variação estatisticamente significativa no
governamental sobre Mudanças Climát icas estado médio do clima ou em sua variabilida-
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 429

Mudanças na atmosfera: Mudanças no


composição, circulação ciclo hidrológico

Mudanças no
influxo solar

Nuvens
Atmosfera I t I I I
//1/II/

Atividade vulcânica
,,,,,,
111/II

I I I
Aerossóis N2 , 0 2 ,
Ar, H20, C0 2 , Interação
Interação CH., N?O, etc. biosfera-atmosfera
Precipitação
gelo-atmosfera Evaporação
Cisalha- Radiação
Troca menta terrestre Influênciashumanas
de calor eólico
)'

Hidrosfera:

Acoplamento Hidrosfera:
oceano-gelo rios e lagos

Mudanças no oceano: circulação, Mudanças na superfície de terra:


nível do mar, biogeoquímica orografia, uso da terra, vegetação, ecossistemas

Figura 13.1 Esquema de processos que causam variabilidade e mudanças no sistema climót ico.
Fonte : IPCC (2007), Capítu lo l , Histo ricol overview of climote chonge science, Repod of WG l l, IPCC, P. 104 , FAQ 1.2, fig. 1.

de, que persiste por um período prolongado, neira prevista pelo IPCC, compreende flutua-
geralmente de décadas ou mais. As muda n ças ções em todas as escalas espaciais e temporais
climáticas podem ser decorrentes de processos além de eventos meteorológicos sinóticos, é
internos naturais, forçantes externas naturais, possível considerar, de maneira legítima , todos
ou mudanças antropogênicas persistentes na os comportamentos na figura como expres -
composição atmosférica e no uso da terra . sões de variabilidade . Por outro lado, embora
O estudante está desculpado, se a distin - se possa dizer corretamente (por exemplo)
ção parecer-lhe nebulosa. Considere a Figura que os principais ciclos glaciais e interglaciais
13.2. Um determinado registro climático, seja do Pleistoceno são expressões de variabilidade
de fontes instrumentais ou fontes alternativas , climática nos últimos 2 milhões de anos , tam-
pode apresentar uma variedade de comporta - bém é correto considerar a evolução de condi -
mentos. Ele talvez documente uma mudança ções glaciais plenas para condições interglaciais
rápida de um estado médio para outro (B), uma como uma expressão de mudanças climáticas .
tendência gradual , seguida por um novo esta- De maneira semelhante, embora consideremos
do médio (C) ou uma mudança na variância , o aumento na temperatura global nos últimos
sem alterações na média ao longo do período 100 anos como uma mudança climática ., reser-
do registro (D). Mesmo com um estado médio vando o termo variabilidade para aspectos ob -
razoavelmen te estável pode haver flutuações servados em uma escala temporal mais curta,
semiperiódicas (B) ou não periódicas (C) . De o aquecimento de um século também pode ser
outra forma, um registro pode se caracterizar visto como um aspecto da variabilidade climá -
apenas por longas oscilações periódicas (A) . tica ao longo dos últimos 1000 anos. A distin -
Uma vez que a variabilidade climática, da ma - ção entre variabilidade e mudança, portan to,
430 Atm osfera, Tempo e Clim a

(A)
,___-....._ ....,......variação
periõdlca

(B)
Mudança impulsiva
- da tendência central Variação semiperiódlca

~
-.~
'--
Q)

li! (C}
a.
<l>
'O Tendência de queda
(/) da média
~
o Tendênclascentrais estáveis
li!
> / (estacionárias)

-- - Variabilidade crescente -- -
(D)

----- Tempo----

Figura 13.2 Difere nfes tipos de variaçoo climótic a . As escalas so o arbitrór ias.
Fo nt e : Hore (1979 ). Cortesia do Wor ld Meteo rolog ico l O rgon izotio n.

depende da estrutura temporal em que se con- tura do ar jun to à superfíc ie. Variações anuais
sideram as estatísticas climáticas. e mesmo decenais nesse valor podem ocorrer
A Uni t ed Nations Framework Conven- dev ido a processos puramente internos ao sis-
tion on Climate Change (U NFCCC ) oferece tema climático. A fase que nte do ENSO , por
uma definição diferente que pode ajudar a re - exem plo, p ode ser vista como um processo in -
solver alguns desses problemas. Eles definem terno , no qual o calor no reservatório oceânico
mudança c-0mo "uma alteração no clima que é (i.e., calor que já faz parte do sistema clim ático)
atr ibuíd a direta ou indiretamente à atividade é t ransferido para a atmosfera, expresso c-0mo
human~ que mod ifica a composição da atmos - um aumen to na temper atura média global da
fera e que se soma à variabilidade climática na - superfície. Ao considerar escalas temporai s de
tural observada ao longo de escalas temporais décadas ou mais, deve -se pensar nas forçantes
comparáveis ': Essa definição é útil porque deixa climáticas e nos f eedbackscorresponden t es. Os
clara uma distinção entre processos na turais e fatores forçantes representam perturbações im -
influências antropogên icas. O restante deste pos t as sobre o sistema global , e são defmidos
capítulo analisará as mudanç a s climáticas nes - como pos itivos quando induzem um aumento
se contexto. A variabilidade, por sua vez , será na temperatura média global na superfície , e
avaliada em associação com processos naturais. nega tivos quando induzem uma redução. O s
fatore s forçantes podem, por sua vez, ser de ori-
gem natural ou an tropogê n ica. A m agnitude da
B FORÇANTES,FEEDBACKS
, E
reposta da temperatura global à forçan te depen-
RESPOSTASCLIMATICAS
de dos fe edbacks. Os f eedbacks pos itivos ampli -
A medida mais fundamental do estado climáti- ficam a muda n ça de temperatura, enquanto os
co da Terra é a média global anual da tempera - feedbacks negativos reduzem a mudança.
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 431

1 Forçante climática cuidadosos de seus efeitos b asearam-se no


trabalho de astrônomos e geólogos do sé-
Diferen t es tipos de forçantes climáticas podem
culo XIX. Existem três efeitos principais: a
ser identificados. As principais forçan tes são as-
e.xcentricidade (ou alongamento) da órbita,
sociadas aos seguintes processos:
que influencia a intensidade do contraste
• Tectônica de placas. Na escala do tempo na radiação solar recebida no periélio (mais
geológico, a tectônica de placas resultou em perto do Sol) e no afélio (mais distante do
grandes mudanças na posição e no tama - Sol), com períodos de aprox imadamente
nho dos continentes, na configuração das 95.000 anos e 410.000 anos; a inclinação
bacias oceânicas e na composição atmos - do eixo da Terra ( aproximadamente 41.000
férica (por me io de fases associadas na ati- anos) que influencia a intensidade dases-
vidade vulcânica). Embora existam poucas t ações; e uma oscilação na rotação do eixo
dúvidas de que essas mudanças alteraram da Terra, que causa alterações sazonais no
o albedo superficial médio e as concen- momento do periélio e do afélio (Figura
trações de gases de efeito estufa em escala 13.3 ). Esse efeito de precessão , com um
global, os movimentos das placas também período de aproximadamente 21.000 anos,
modificaram o tamanho e a localização de é ilustrado na Figura 3.3. A faixa de varia -
cadeias montanhosas e platôs. Como resul- ção desses três componentes e suas conse -
tado, a circulação global da atmosfera e o quênc ias são sintetizadas na Tabela 13.1. As
padrão de circulação oceânica mudaram. periodicidades astronômicas são associa -
Em 1912, Alfred Wegener propôs a der iva das a flutuações de ±2-SºC na temperatu-
continental como um importante deter - ra global a cada 10.000 anos. O tempo da
minante dos clim as e da biota, mas essa forçante orbital é representado de forma
ideia permaneceu controversa at é que o clara nas flutuações glaciais -interglac iais,
movimento das placas da crosta terrestre com os últimos quatr o grandes ciclos gla-
fosse ident ificado na década de 1960. As ciais durando aproximadamente 100.000
alterações na localizaçã .o dos con tinentes anos (ou l OOka). A teoria astronômica dos
contribuíram substancialmente p ara os ciclos glaciais começou a ser amplamente
princ ipais períodos Glaciais do passado aceita na década de 1970, depois que Hays,
distante (como a glaciação permocarboní- Imbrie e Shackleton divulgaram evidências
fera do Gondwana), bem como intervalos convincentes de registros obtidos em teste-
com amplos amb ientes áridos (Permo - munhos oceânicos.
-Triássico) ou úmidos ( depósi tos de car- • Variabilidadesolar. O Sol é uma estrelava-
vão) durante outros períodos geológicos. riável . O ciclo solar de aproximadamente 11
No decorrer dos últimos milhões de anos, anos (manchas solares), e de 22 anos para
a elevação do Platô Tibetano e das cade ias o campo magnético, é bastante conhecido.
do Hima laia causou o início, ou a intensifi- Conforme discutido no Capítulo 2, o ciclo
cação, de condições desérticas no oeste da de 11 anos das manchas solares está asso-
China e na Ásia Central. ciado a flutuações de ±1 W m- 2 na irradia -
• Periodicidadesastronômicas.Conforme ob- ção solar (i.e., um afastamento da constante
servado no Capítulo 3A.2, a órbita da Ter- solar; em termos da recepção média global
ra ao redor do Sol est á sujeita a variações de radiação no t opo da atmosfera, o valor
de longa duração, levando a mudanças na efetivo é apenas 0,25 W m-2) (ver a seguir,
distri buição sazonal e espacial da radiação e Capítulo 3A.l). Os efeitos da radiação ul-
solar incidente na superfíc ie. Essas mudan- travioleta são proporc ionalmente maiores
ças ficaram conhecidas como forçantes de em termos de mudanças percentuais. Tam-
Milankovich, em homenagem ao astrôno- bém existem evidênci as de variações mais
mo Milutan Milankovich, cujos cálculos prolongadas. Os intervalos onde a ativi -
432 Atmos fera, Tempo e Clima

Excentricidade
(A) (B} P<lr1odici clade
M inim~.,.,..•• - - - ~ --- •• ......
, ~ ..__ _ _., __ 7
Presente
~-
.
0 ,06
e. 100.000 anos

_,..- - -. a> 0 ,05

io
/ . •
Mâxi m a ..., 0 ,04

I
\ .
' ,,•.
a
Sol
b
Terra ,
' /
\ ~
~
0 ,00
0 ,02

..._ E--Jca2- t:i!


) ' '/ a5 0,01
" -----
---
....
·--~- ---::
....
...,......
- .... ..,
a

.... P'
o.oo-......-----.- ...............
500 400
----.- ...............
300 200
----..--.......-
100 Prese nte
Anos A. P. (milha res)

Obliquidade
(C) ~ ·•21,B' Min.
(D)
24,4 ' Max. Period icielaele
1
25 º
e. 41-43.000 anos
~ 24°
.l§ 235• '
:::, 23°
Sol ,._--j Terra _g
- 22'
8 21' - ........---.- ...............---.-....----,----,.-- ....... --t-
500 400 300 200 100 Presente
Anos AP. (mil'l ares)

Precessão
=
~
(E) (F)
\ • P~iod >Cidades
1
~ e. 23.000 anos
~ 10 1 ,'
.!i! e.. 18.000 anos
o ~ 5
'lJ!·~ o
Sol Terra ~~
a. "'
~ -o -5
.Q

s ~ 500 400 300


AnOs A.P. (milhares)
200 100 Present e

-a
-
'#.

Figura 13.3 Síntese dos efeitos astronômicos (orbi tais ) sobre a irr ad iação solar e suas escalas te mpor a is re-
leva ntes nos últimos 500 .000 anos . (A) e (B): excentricidade ou a lo ngamento orbital; (C) e (D): ob liq uidade ou
inclin ação axial; (E) e (F): precessão .
fonte : Broecke r e Van Don k 1970; e Hende rson -Selle rs e McGuff ie 1984 . B, D e F: Review of Geophysics and Spoce Physics 8
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dade das manchas e chamas solares estava 100 vezes acima da atual, e talvez também
muito reduzida (especialmente no Mínimo pelos efeitos de uma Terra que era coberta
de Maunder de 1645-1715) talvez estejam principalmente por água ( ou seja, muito
associados a reduções de aproximadamente vapor de água na atmosfera ).
O,SªCna temperatura global. A variabilida - • Erupções vulcânicas. Grandes erupções
de solar também parece ter desempenhado explosivas individuais injetam poeira e
um papel nas variações da temperatura glo- gases sulfurosos (especialmente dióxido
bal em escala decenal, até o final d.o século de enxofre) na estratosfera, formando go-
XX, quando os efeitos antropogênicos se tículas de ácido sulfúrico. As plumas de
tornaram dominantes. Com relação ao pas- erupção equatoriais se espalham para os
sado distante, sabe-se que a irradiação solar dois hemisférios, ao passo que as plumas
há 3 bilhões de anos ( durante o Arqueano) de erupções em latitudes médias a altas fi-
era de 80% do valor atual. De maneira in- cam confmadas ao hemisfério em questão.
teressante, o efeito desse débil Sol precoce Evidências observacionais dos últimos 100
provavelmente era compensado por uma anos demonstram que grandes erupções
concentração de dióxido de carbono talvez podem estar associadas ao resfriamento
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 433

Ta bela 13.1 Forç an tes orbitais e suas caracterís ticas

Elemento Var iasão normal Valor atual Perrodlc idade média

Ob liquidade do eclíptico (') (incli nação 22-24,5º 23, 4º 41 ko


do eixo de rotação )
Efeitos iguais em ambos os hemisfé rios,
efeito se intensif ico em direção aos po los

Baixo' Alto'
Sazonalidade Sazonalidade forte,
fraca, grad iente ma is radiação nos
de radia ção polos no verão,
abrupto em grad iente de
direção ao polo radiação ma is fraco

Precessão do equinócio (v) (oscilação do 0,05 a -0,05 0,016 4 19, 23 ka


eixo de rotação)
Mudança no distância Terra -Sol a ltera
a estrutura dos ciclos sazonais; efe ito
complexo, modu lado pela excentr icidade
da órb ita

Excentric idade da órb ita (e) 0,005 a 0,0607 0,0 167 410, 95 ka
Confere 0,02% de vari açóo na radia ção
incidente anual; modif ica a amp litude do
ciclo de precessão, mudando a duração
e intens idade sazona l; efeitos opostos
em cada hemisfério; ma io, em latitudes
ba ixas

global médio de vár ios décimos de grau C atividades huma nas também levaram a um
n o ano após o evento e alterações muito acúmulo de aerossóis troposféricos, que
maiores em âmbito regional e até hemisfé - induzem um resfriamento parcialmente
rico. O resfriamento advém pr incipalmente compensatório. Mudanças no uso da terra
de gotículas de ácido sulfúrico que refletem e na cobertura do solo também levaram a
a radiação solar . A poeira também causa um pequeno aumento no albedo superfi-
resfriamento superficial, absorvendo radia - cial, que promove o resfriamento.
ção solar na estratosfera, mas, em compara- Embora a característ ica comum de todas
ção com o ácido sulfúrico, esses efeitos são essas forçantes seja o fato de elas influenciarem
efême ros (semanas a meses ). Os aerossóis aspectos do balanço de radiação da Terra, elas
estratosféricos também podem causar po - obviamente se diferenciam, em grande pa r-
entes esplêndidos (ver Figura 2.12). A mais te, pelas escalas temporais em que atuam . Em
recente erupção vulcânica de vulto , com t ermos de induzir mudanças na temperatura
impactos climáticos significativos, foi a do global nos últimos 100 anos, assim como mu -
monte Pinatubo, em 1991. danças projetadas ao longo do século XXI, os
• Mudanças induzidas pelo ser humano na efeitos da tectônica de placas (que atua em es-
composiçãoatmosférica e na cobertura do calas temporais de milhões de anos) e das for-
solo. Jáapresentamos o impacto de gases de çantes de Milankovich (que atuam em escalas
efeito estufa, como o dióxido de carbono e temporais de dezenas de milhares de anos) são
o metano, sobre o balanço de radiação (ver irrelevantes. Observe tam bém que, enquanto as
também Capítulo 2). O acúmulo observado forçantes de Milankovich são associadas a im-
nesses gases desde a aurora da era indus- pactos bastante significativos na distribuição
trial representa uma forçante positiva . As sazonal e espac ial da radiação solar incidente
434 Atmos fera, Tempo e Clima

na superfície, os impactos sobre a radiação in- 2 Feedbacks climáticos


cidente, quando vistos em sua média global ao
Com base no modelo da forçante radiativa, con -
longo do ciclo anual, são bastante pequenos.
sidere a mudança na temperatura global média
Por exemplo, embora uma redução na obliqui-
da superfície que resulta do aumento na con -
dade signifique menos radiação n o verão do
Hemisfério No rte, ta.mbém significa mais no centração atmosférica de dióxido de carbono.
inverno do Hemisfério Sul, e esses efeitos sazo- Conforme já discutido, por causa da perturba-
nais praticamente se anulam . ção imposta, uma quantidade maior da radiação
Desse modo, as forçantes de Milankovich de ondas longas emitida da superfície para cima
opõem -se fundamentalmente aos efeitos das é absorvida pela atmosfera, sendo direc ionada
alterações na radiação solar, das erupções vul- de volta.para a superfície. O resultado é um de -
cânicas ou das mudanças antropogênicas nas sequilíbrio radiativo no topo da atmosfera - a
concentrações atmosféricas de gases de efeito radiação solar líquida que penetra no topo da
estufa e no albedo na superfície, as quais , con - atmosfera excede a perda de radiação de on-
sideradas em termos de seu efeito imediato, das longas para o espaço . A forçante climática
têm um impacto em nível global e anual sobre da adição de dióxido de carbono, portanto, é
o balanço de radiação no topo da atmosfera. positiva. Considere agora os feedbacks. O mais
Em decorrência dessa propriedade, elas são importante deles é o feedback do vapor de água.
chamadas de forçantes radiativas. Por exemplo, O aquecimento resulta em mais evaporação, e
um aumento na produção solar levará a mais uma atmosfera mais quente pode conter mais
radiação incidente no topo da atmosfera ter- vapor de água . Todavia, o vapor de água tam -
restre, independentemente da latitude ou da bém é um gás de efeito estufa, logo, causa mais
estação . O efeito imediato será um desequilí- aquecimento. Uma parte da cobertura de neve
brio global na radiação no topo da atmosfera da Terra e do gelo marinho derreterá, reduzin -
(mais energia incidente do que emanante), do o albedo superficial planetário , além de cau-
aumentando a temperatura, o que fmalmente sar mais aquecimento . Esses são exemplos de
levaria o sistema Terra -atmosfera a um novo feedbacks positivos, pois amplificam a mudança
equilíbrio radiativo . De maneira semelhante, a na temperatura superficial global induzida pela
resposta imediata ao aumento na concentração forçante climática . Se a concentração de dió-
de gases de efeito estufa será uma redução glo- xido de carbono na atmosfera fosse reduzida,
bal na emissão de ondas longas para o espaço, impondo assim u.ma forçante climática nega -
um desequilíbrio na radiação que promove - tiva, os feedbacks positivos promoveriam mais
rá aquecimento, levando também a um novo resfriamento .
equilíbrio radiativo (desde que a forçante per - Um aspecto fascinante do sistema climático
maneça constante) . global é que osfeedbackspositivos predominam .
As mudanças climáticas globais (mudan - Por exemplo, uma das respostas à elevação nos
ças deco rrentes das influências humanas, con - gases de efeito estufa seria um aumento na co-
forme as convenções que adotamos) devem ser bertura de nuvens, que, pelo aumento no albedo
vistas no contexto da forçante radiativa global. planetário, representaria um feedback negativo .
No modelo do IPCC adotado aqui, a forçante Todavia, esse e outros f eedbacks negativos po -
radiativa se refere especificamente à quantida - tencia is somente pareceriam capazes de reduzir
de pela qual um fator altera o equilíbrio radia - a taxa de aquecimento , e não de revertê-la .
tivo global e anual no topo da atmosfera, ex- Embora os feedbacks climáticos sejam po -
presso em unidades de W m - 2, avaliada como sitivos ou negativos, eles t ambém podem ser
a forçante relativa ao ano 1750, o começo da diferenciados com base na rap idez com que
Revolução Industrial. Em 2005, a forçante ra - atuam. No modelo da forçante radia tiva global
diativa estimada para as atividades humanas apropriado para entender as mudanças climáti-
era de 1,6 W m- 2• cas antropogênicas, os feedbacks rápidos são os
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 435

relevantes . Os mais importantes são as mudan - perfície e a atmosfera se aqueceriam . Em um


ças no vapor de água e no albedo (mencionadas dete rminado ponto, o equilíbrio radiativo seria
an teriormente), que podem operar em escalas restaurado, com uma nova e mais alta tempe -
temporais de dias e até menos . A cobertura de ratura superficial . Estimativas da sensibilidade
nuvens também pode variar rapidamente (ho- do equilíbrio climático obtidas com a atual ge-
ras) . Exemplos de feedbacks lentos são as mu - ração de modelos climáticos globais variam de
danças na extensão dos mantos de gelo conti- 2-4,S ºC, com a melhor estima tiva em 3,0ºC. A
nentais ( que influenciam o albedo planetário) e incerteza está principalmente na ampliação das
os gases de efeito estufa durante o Pleistoceno, estimativas dos modelos dos feedbacks climáti-
em resposta a periodicidades de Milankovich . cos, particularmente para feedbacks de nuvens .
Os registros em testemunhos de gelo mostram Os feedbacksde nuvens são complexos e difíceis
que esses ciclos glaciais -interglaciais eram de modelar . Talvez os feedbacksnegativos atuem
quase coincidentes com flutuações nos níveis quando o maior aquecimento global gera mais
de dióxido de carbono (+50 ppm) e metano evaporação e quantidades maiores de cobertura
(+150 ppb). A natureza desses feedbacks de de nuve .ns em grandes altitudes, refletindo mais
gases -traço ainda precisa ser determinada. Os radiação solar incidente . Todavia, outros tipos
mecanismos potenciais são mudanças na quí - de nuvens, e nuvens nas regiões polares, podem
mica dos oceanos, ma ior crescimento planctô - induzir aquecimento superficial.
nico agindo de maneira a sequestrar dióxido de Expressa de forma mais conveniente, a me-
carbono, a supressão de trocas ar-mar pelo gelo lhor estimativa, de 3ºC , para a duplicação do
ma rinho , mudanças na temperatura oceânica t eor de dióxido de carbono equivale a um au-
que afetam a solubilidade do dióxido de car- mento de O,75ºC na temperatura média global
2
bono e alterações na circulação dos oceanos. O por W m - para a forçante. Enfatiza-se que as si-
mais provável é que urna variedade de processos mulações climáticas usadas a frm de obter esses
atue em conjunto. As alterações negativas (po- números para a sensibilidade lidam apenas com
sitivas) nas concentrações de gases de efeito es- os feedbacksrápidos. Se não houvesse feedbacks
tufa estão associadas a períodos frios (quentes), presentes no sistema . climá tico, a sensibilida -
2
conforme ilustra a Figu ra 2.6. de climática seria de apenas 0,3ºC por W rn- •
Embora a sensibilidade climática no modelo do
3 Resposta clim6tica IPCC baseie -se em uma duplicação do equiva -
lente atmosférico em dióxido de carbono, pa-
Quanto a temperatura média da superfície glo- rece que a resposta a qualquer forçante radia .-
bal muda em resposta a uma forçante radiativa t iva, no sen tido de buscar uma temperatura de
de uma det erminada magnitude? Quanto tem- equilíbrio, é aproximadamente a mesma . Esse é
po leva para a mudança ocorrer? Essas estão en - um concei to importante, pois significa que , em
tre as perguntas mais importantes e prementes uma primeira aproximação, é possível adic ionar
na ciência das mudanças climá ticas. diferentes forçantes linearmen te para obter um
A primeira pergunta lida com a questão valor líquido, a partir do qual seja viável estimar
da sensibilidade do equilíbrio climático. No uma mudança na temperatura de equilibr io.
modelo do IPCC, a sensibilidade do equilíbrio Também parece que a maio r parte da res -
climático é a alteração do equilíbrio na média posta da tempera tura de equilíbrio a uma for -
global anual da temperatura do ar supe rficial çante radiativa com os feedbacks rápidos atuan -
após uma duplicação no equivalente do dió - tes ocorre ao longo de um período de 30 a 50
xido de carbono atmosférico . A duplicação na anos. A maior parte dessa defasagem se deve à
concentração de dióxido de carbono equivale grande inércia térmica dos oceanos . A questão
a urna forçante radiativa (desequilíbrio radiati - é que os oceanos podem absorver e armazenar
vo no topo da atmosfera ) de aproximadamente uma grande quantidade de calor sem um au-
2
4 W m- • Em resposta a essa duplicação, a su - mento exp ressivo na temperatura superficia l
436 Atm osfera, Tempo e Clim a

(irradiante) . Cons i dere o que está acontecendo vidades humanas cresceu no século passado e
em resposta à atual forçante radiativa das ativi- continuará a crescer no futuro , indicando que
dades humanas de 1,6 W m- 2• O uso da sensi - o valor da temperatura de equilíbrio mudou
bilidade do equili'brio climático de 0,75 implica e continuará a mudar . Dito de outra forma, o
que essa forçante radiativa, se mantida, acaba - quadro ao longo dos último s 100 anos e para
rá gerando cerca de 1,2ºC de aquecimento. Ao o futuro é de um sistema climático que ten ta
longo do registro instrumental, a temperatura constantemente alcançar uma forçante radiati -
global média subiu 0,7ºC, sugerindo que resta va crescente , mas que está sempre defasado em
O,Sº C depo is que o oceano aqueceu sufic ien - relação a ela.
temente. Em quanto já aumentou o con teúdo
do calor do oceano? Com base em dados hi- 4 A importância do modelo
drográficos existentes de 1955- 1998, o oceano Enquanto a distinção entre forçante climática e
mundial, entre a superflcie e a profundidade de feedbacké razoavelmente clara quando se consi -
22
3000 m, ganhou - 1,6 X 10 J. Comparado com deram mudanças na temperatura média global,
a energia cinética atmosférica (p. 70), esse é um devemos enfatizar que essa distinção pode ser
número mui to grande . alterada com a adoção de um modelo diferente,
Uma limitação óbvia do conceito de sensi - como a avaliação da variabilidade e mudanças
bilida .de do equilíb rio climático é que a forçante climáticas em âmbito regional . Por exemplo,
radiativa está sempre mudando. Cons idere as devido à perda da cobertura de gelo ma rinho ,
explosivas erupções vulcân icas. Embora a for- espera -se que os aumentos na temperatura da
çante radiativa global de uma única erupção supe rfície do ar sejam especialmente acentua-
2
possa ser bastante significativa (2-3 W m - no dos sobre o Oceano Ártico. Segundo o mode lo
pico), ela é efêmera (alguns anos), de modo que das mudanças globais antropogênicas (ver Ta-
o sistema jamais entra em equili'brio com ela bela 13.2), isso pode ser considerado parte do
(enquanto a temperatura da supe rfície global processo de f eedback que amplifica a respos ta
pode ser temporariamente reduzida em vários da temperatura global média às concent r ações
décimos de grau, isso é muito menor do que a crescentes de gases de efeito estufa. Todavia,
mudança calculada na tem peratura em equilí - se fôssemos conduzir um estudo regional do
brio com a forçante máxima ). De maneira se- Ártico, deveríamos considerar a perda de gelo
melhante, o sistema jamais estaria em equilíbrio marinho legit imamente como uma forçan te
com a variabilida ,de solar associada ao ciclo de sobre a mudança de temperatura no Ártico . De
11 anos das manchas solares . Se fôssemos con - maneira semelhante, as mudanças climáticas
gelar a atual forçante radiativa das at ividades globais podem ser auxiliadas por alterações nos
humanas em seu valor atual, o sistema climático padrões de circulação troposfér ica, precipita -
acabar ia se aproximando de uma nova tempe - ção e cobertura de nuvens . Enquanto na escala
ratura de equih'brio (pressupondo que não hou - global esses fatores seriam considerados como
vesse complicações, como erupções vulcânicas feedbacks, investigações de impactos regionais
múltiplas ). Todavia, a forçante ra.diativa das ati- poderiam considerá-los como forçan tes.

Tabela 13.2 As quatro categorias de vari6veis clim6ticas sujeitas a mudan ças induzidos de origem antr6p ica

V a riá ve l modificada Escala do efeito Fontes de muda nça

Tempera tura atmosfér ico Loca l-global Liberação de aerossó is e gases -traço
Propriedades superfic iais; ba lan ços de Regional Desma tamento ; desertificação; urb anizoçóo

energia
Regime eólico Loco 1-regiono l Desma ta men to; urbanização
Com .ponentes do ciclo hidrológ ico e Loca l-regiona l Desma tamento ; desertificação; irrigação
urban ização
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 437

Outra questão relacionada com o modelo os mantos de gelo da Antártica e Groenlândia)


diz respeito a como enxergamos as transições certamente seja hoje muito menor do que era
entre as condições glaciais e interglaciais. En - há 20ka, ainda é substancial, se comparado com
quanto as alterações na área de gelo marinho e outras épocas no passado do planeta .
as concentrações de gases de efeito estufa du- Os principais períodos Glaciais e períodos
ran te essas transições são vistas adequadamen - livres de gelo podem estar ligados a uma com -
te como feedbacks lentos, se considerarmos as binação de forçantes climáticas externas e inter-
condições glaciais e interglaciais plenas como nas (tectônica de placas, concentrações de gases
dois estados de equilíbrio, esses feedbacks len- de efeito estufa, irradiação solar). Os mantos de
tos podem ser vistos como forçantes climáticas. gelo dos períodos Ordoviciano e Permo -Car -
Com estimativas de mudança na temperatura bonífero formaram-se em latitudes meridio-
global entre os estados de equilíbrio e as forçan- nais elevadas no megacontinente primitivo de
tes, tem -se outra maneira de estimar a sensibi - Gondwana . A elevação das cordilheiras a oeste
lidade do equilíbrio climá tico. Os números ob - da América do Norte e do Platô Tibetano pelos
tidos a partir dessa abordagem estão de acordo movimen tos de placas durante o período terciá .-
com os advindos de modelos climáticos globais. rio (50-2 Ma) desenvolveu a aridez regional nos
Assim, em suma, dependendo do modelo es- respectivos interiores continentais. Todavia, os
colhido, o feedback de uma pessoa pode ser a fatores geográficos são apenas uma parte da ex-
forçante de outra. plicação para as variações climáticas. Por exem-
plo , as condições quentes nas latitudes elevadas
durante o período Cretáceo médio, por volta de
C O REGISTRO CLIMÁTICO 100 Ma, podem ser atribuídas a concen trações
1 O registro geológico atmosféricas de dióxido de carbono de três a
sete vezes maiores do que as atuais, potenciali -
Entender o significado de tendências climá ticas zadas pelos efeitos de alterações na distribuição
ao longo dos últimos 100 anos exige que elas se- terra-mar e do transporte de calor oceânico.
jam vistas contra o pano de fundo de condições Sabemos muito ma is sobre as condições do
anteriores. Em escalas temporais geológicas, o gelo e as forçantes climáticas duran te o Quater -
clima global passou por grandes mudanças, en - nário, que começou há. aproximadamente 2,6
tre estados livres de gelo e geralmente quentes milhões de anos , compreendendo as Épocas
e períodos glaciais com mantos de gelo conti - do Pleistoceno (2,6 Ma-11, S ka) e do Holoceno
nentais. Ao longo do tempo geológico , hou - (11,5 ka -presente). Fica muito claro que o pe -
ve pelo menos sete grandes ciclos Glaciais . O ríodo Glacial mais recente em que vivemos está
primeiro ocorreu há 2,5 milhões de anos (Ma) longe de ser uniformemente frio. Ao contrário,
no período Arqueano, seguido por três ou tros, essa Época tem -se caracterizado por oscilações
entre 900 e 600 Ma, no Proterozoico. Houve entre condições glaciais e interglaciais (ver Qu a-
dois períodos Glaciais na Era Paleowica (o Or- dro 13.2). Oito ciclos de volume de gelo global
doviciano, 500 -430 Ma; e o Permo -Carbonífero, estão registrados na terra e em sedimentos oce-
345-225 Ma ). O período Glacial mais recente ânicos para o último 0,8-0,9 Ma, cada um com
começou por volta de 34 Ma atrás, na Antártica, uma média de 100 ka, com apenas 10% de cada
no limite entre o Eoceno e o Oligoceno, e por ciclo tendo sido tão quente quan to o século XX
volta de 3 milhões de anos atrás em latitudes se- (Figura 13.4D e E). Cada período glacial seca-
tentrionais elevadas. Atualmente , considera -se racterizou por terminações abruptas. Por causa
que ainda estamos nesse período Glacial mais do retrabalhamento de sedimentos , apenas qua -
recente, ainda que em sua parte quente, conhe - tro ou cinco dessas glaciações são identificadas
cida como Holoceno, que começou por volta a partir de registros terrestres. Apesar disso , é
de 11,Ska atrás. Embora o volume total de gelo provável que todas tenham se caracterizado por
sobre a terra (compreendendo principalmente grandes mantos de gelo cobrindo a região norte
438 Atm osfera, Tempo e Clim a

da América do Norte e da Europa. Os n íveis do mais resfriame nto por f eedbacks lento s no ciclo
mar também reduziram em aproximadamente de carbono discu tido anteriormente . O início
130 m , devido ao grande volume de água apri - de um per íodo interglacial fun cion a do modo
sionado na forma de gelo. Os registros de bacias oposto, com as forçantes de Milan kov ich pro-
de lagos tropicais mostram que essas regiões movendo aquecimento in icial sobre as mas sas
costumavam ser áridas nesse s períodos . Antes de terra setentr iona is, colo can do os f eedbacks
de 0,9 Ma, o momento em que as glaciações em movimento para gerar mais aquecimento e
ocorreram é mais complexo . Os regis tros dos derre timento de gelo.
volumes de gelo mostram uma periodicidade
predominante de 41 ka , enquan to os registros 2 O último ciclo glacial e
oceânicos de carbonato de cálcio indicam flutu - condições pós-glaciais
ações de 400 ka.
Essas periodicidades est ão ligadas às for - O últ imo per íodo interglacial , conhecido com o
çantes de Milankovich discu tidas anteriormen- Eemiano, at ingiu seu pi co por volta de 125 ka
te (ver também Capítulo 3A). A assinatura da atrás. O último ciclo glacial após o Eemiano
precessão (19 e 23 ka ) é mais aparen te em regis - foi carac ter izado por períodos de gelo amplo
t ros de latitude s baixas, ao passo que a obliq ui- (conhecido como glacial) e menos amplo (co -
dade (41 ka ) é representada em latitudes eleva- nhecido como interglacial). O volume máximo
das. Toda vi a, o sin al da excentr icidade orbital de gelo global (o úl timo Máximo Glacial, ou
de 100 ka é predomina nte de modo geral . A UMG ) ocorreu há cerca de 25- 18 ka. O UMG
ideia básica é que o começo das condiçõe s gla- terminou com um aquecimento abrup t o entre
ciais é ini ciado por for çantes de Mila n kovi ch, 15 e 13 ka, dependendo da latitude e área , in -
que produzem resfriamento no verão sobre as terrompido por uma regre ssão fria chamada
massas de terr a setentrionais . Isso favore ce aso - Dryas Recente (Younger Dryas), 13-11,7 ka,
breviv ência da cobertura de neve dura nte o ve- sendo seguido por uma nova tendência súbi-
rão, um fe edback que promove ma is resfri amen - ta de aquecimento (Figura 13.4) . Con si dera -
t o e crescimento do mant o de gelo, levando a -se que o Holoceno (n osso in terglacial atual )

Hemisfério Norte Europa Oriental Hemisfério Norte Hemisfério Norte Global


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1,5°C
1. Máximo térm ico da década de 1940
2. Pequena Idade do gelo 1so.ooo (D)
1
900.000 '-----'
l• 1OºC a,f
{A) 3. Penodo frio Dryas Recente I• 1OºC ..I
100'--- ~-- -......., 4. lr,terglac ial atual (Holoceno)
1.. o 59C " 1 5. Ultimo período glac ial (\Neichseliano)
' 6. Penúltimo período interglacial (Eemiano)
7. Penúltima glac iação {Saaliano)

Figura 13.4 Princip ais tendências no clima global d ur a nt e o último milhão de anos. (A): Hemisfério Nor te,
temperaturas médias terr a-ar ; (B): Europa Orie ntal, tempera turas de inverno ; (C): Hemisfério Norte, tempera tu -
ras médias terra-ar; (O): Hemisfério Norte, temperaturas médias do ar parcialmente baseados nas temperaturas
da superfície do mar; (E): temperaturas médias globais der ivadas de testemun hos mari nh os pro fundos.
fo nte: Understonding C/imoticChonge: A Progrom for Ac tion {1975). Com permissão do Notiol'lalAcademy Press, Washington, DC.
CAPÍTULO 13 Mudanças climát icas 439

13.2 Documentando paleoclimas


Os geólogos que documentaram o último período Glacial fizeram os primeiros estudos sobre os pa-
leoclimas no final do século XIX. O progresso inicia :! foi dificultado por incertezas sobre o idade da
Terra e o duração do registro geológico. Todavia, em 1902, passou-se o aceitar que , houve pelo menos
quatro ou cinco episódios glaciais nos Alpes e no Américo do Norte durante o Epoco do Pleistoceno.
Foram procurados explicações em variações dos períodos astronômicos que afetaram o órbita do Ter-
ra, notavelmente por J . Croll (1875) e M . Milankovich (1920, 1945), e em variações do constante solar
(G. C. Simpson, 1934, 1957). A confirmação de que as periodicidades astronômicas atuam como um
"marcapasso" dos períodos Glaciais não apareceu até que os grandes mudanças nos foraminíferos
planctônicos nos registros de sedimentos oceânicos pudessem ser decifradas e datadas com exatidão
na década de 1970 {J. Hays, J. lmbrie e N. Shackleton, 1976}.
O uso de evidências indiretas para investigar o clima passado começou quase um século otrós.
Em 191O, o cientista sueco Barão G. de Geer usou os depósitos anuais de sedimentos (varvitos) em
logos glaciais poro datar mudanças no vegetação, inferidos o partir do regist ro de pólen. Os testemu-
nhos de pólen que atravessavam o período pós-glacial, extrofdos de pântanos e sedimentos de lagos,
começaram o ser estudados no Europa e Américo do Norte nos décadas de 1950 e 1960 após o de-
senvolvimento da dotação de materiais orgânicos com rodiocorbono por W. Libby em 1951. Ao mesmo
tempo, o registro sedimentar oceânico de mudanças no microfauno marinho - tonto de forominíferos
superficiais (planctônicosJ como de fundo {bentônicos) - começou a ser investigado. Assembleias de
fauna associadas a diferentes massas de ógua (polar, subpolar, latitude média, tropical) possibilitaram
troçar os amplos mudanças latitudinais ocorridas nas temperaturas oceânicas durante o Quatern6rio.
18 16
O uso de razões de isótopos de oxigênio (0 /0 ) por C. Emiliani e S. Epstein proporcionou estima-
tivas independentes da tempera tura oceánica e, particularmente, dos mudanças no volume de gelo
global. Esses registros mostraram que tinha havido oito ciclos glociais/interglaciais durante os últimos
800.000 anos.
No sudoeste dos Estados Unidos, no começo do século XX, os arqueólogos costumavam contar
os anéis anuais nas árvores para datar a madeira usado nos estruturas poleoindígenos . Nas décadas
de 1950-60, o largura dos anéis começou a ser investigada como um sinal de secas de verão nas
margens de desertos e temperaturas de verão em locais elevados. O campo da dendroclimatolo-
gia, empregando métodos estatísticos, desenvolveu-se sob o liderança de H. C. Fritts. Em seguida, F.
Schweingruber introduziu o uso de variações na densidade dos anéis, analisada por técnicas de raio
X, como um indicador sazonal. Nas décadas de 1970-80 teve início o uso de numerosos indicadores
biológicos sof isticados, inclusive insetos (particularmente besouros) diatom6ceas, ostrocodo, fezes de
ratos contendo macrof6sseis de plantas e corais.
As informações mais abrangentes sobre o paleoatmosfera nos últimos 1.000 a 100.000 anos
foram recuperadas de testemunhos de gelo profundos na Groenlândia, Antártico e em geleiras de
montanha em latitudes baixas. Os principais tipos de dados indiretos são: temperaturas atmosféricas
18
de 60 (método desenvolvido para o gelo de geleiras por W. Dansgaard), a espessura das camadas
anuais acumuladas, as concentrações de dióxido de carbono e metano nas bolhas de ar aprisionadas
no gelo, a atividade vulcânica a partir de variações na condutividade elétrica causada pelos sulfatos,
a carga de aerossol e outras fontes (continentais, marinhas e vulcânicas). Os primeiros testemunhos
profundos foram coletados em Camp Century, no noroeste do Groenlândia, e na estação Byrd, na
Antórtica Ocidental, na década de 1960. Posteriormente, mui tos testemunhos foram coletados e ana-
lisados. Os de particu lar interesse são os testemunhos GISP li e GRIP de Summit, Groenlé:lndia, que
cobrem aproximadamente 140.000 anos, e os testemunhos Vostok e EPICA da Antórtica, que cobrem
cerco de 450.000 e 720.000 anos, respectivamente.
440 Atmos fera, Tempo e Clima

começa há 11,Ska, depois do encerramento do O aquecimento observado no começo do


evento Dryas Recente . Com base em avaliações Holoceno, por volta de lOka, pode ser atri-
de forçantes de Milankovich, o atual período buído ao fato de que a radiação solar em ju-
2
interglacial deveria durar pelo menos outros lho era 30-40 W m - maior do que atualmente
30.000 anos. Um aspecto particularmente mar- nas latitudes médias setentrionais, novamente
cante do último ciclo glacial está nas mudanças devido a efeitos de Milankovich. Após o recuo
rápidas, em escala de milênios, entre condi- final dos mantos de gelo continentais da Eu-
ções quentes e frias, conhecidas como ciclos de ropa e América do Norte entre 10.000 e 7.000
Dansgaard-Oeschger (D-0). O Dryas Recente é anos atrás, o clima amenizou rapidamente nas
considerado o último desses ciclos D -0. Como latitudes médias e altas. Nos subtrópicos, esse
fica evidente em vários registros indiretos (ver período também foi mais úmido, com níveis
Figura 13.5), o começo e o término do even - elevados nos lagos da África e do Oriente Mé -
to frio Dryas Rece.nte, com uma mudança de dio . O Máximo Térmico do Holoceno (MTH)
condições climáticas glaciais pa ra interglac iais foi alcançado nas latitudes médias há aproxi-
e o inverso novamente, ocorreu dentro de um madamente 5.000 anos, quando as tempera -
período de cinco anos para as duas transições! turas de verão eram 1- 2ºC mais altas do que
Os processos que movem eventos D-O como o atualmente (ver Figura 13.SB) e a linha de ár-
Dryas Recente ainda não foram entendidos em vores do Ártico ficava várias centenas de quilô -
sua totalidade, mas provavelmente, de algum metros mais ao norte na Eurásia e na América
modo , envolvem grandes descargas de água do Norte. Nessa época, as regiões desérticas
doce do derretimento de mantos de gelo para o subtropicais estavam novamente muito secas e
Atlântico Norte, que perturbaram a circulação foram praticamente abandonadas pelos povos
termohalina do Atlântico (ver Figura 7.32). primitivos.

I • Dryas Recente ..
1

iro ro v,e. 100


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Tempo (1000 anos A.P .)

18
Figura 13.5 Transição do último período glacial poro interg lociol (14,7 o 11,6 ko), indicado pord 0 (ppm),
condutividade elétrica (microamps) e concentrações de cólcio (ppb) no testemu nho do Greenlond Ice Shee f Pro-
grom (GISP) da região cen tral do Groenlandio .
Fonte: Grootes (1995). Copyright © Notional Acodemyof Sciences. Cortesia de Notional Academy of Sciences, Washington, DC.
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 441

Um declínio na temperatura instalou -se dade considerável nas estimativas dos valores
ao redor de 2.000 anos atrás, com condições médios decenais e suas amplitudes de variação .
mais frias e mais úmidas na Europa e Amér ica As condições parecem ter sido um pouco mais
do Norte. Embora as temperaturas desde então quentes entre 1050 e 1330 do que entre 1400 e
jamais tenham se igualado às do MTH (esta - 1900. Existem evidências na Europa Ocidental e
mos chegando perto), houve um período (ou Central para uma fase quente ao redor de 1300.
períodos) relativamente mais quente(s) entre os Registros islandeses indicam condições mode-
séculos IX e XV. As temperaturas de verão na radas até o final do século XII, e essa fase foi
Escandinávia, na China , na Sierra Nevada (Ca- marcada pela colonização da Groenlândia pelos
lifórnia), nas Montanhas Rochosas no Canadá vikings e pela ocupação da Ilha de Ellesmere no
e na Tasmânia ultrapassaram as que prevalece- Ártico canadense pelos Inuit.
ram até o final do século XX. Depois disso, as condições deterioraram .
Esse período frio, conhecido como Pequena
3 Os últimos 1000 anos Idade do Gelo (little Ice Age), foi associado a
As reconstruções da temperatu ra para o he - um extensivo avanço do gelo ártico e das ge-
misfér io norte ao longo do último milênio leiras em certas áreas, chegando às posições
baseiam -se em vários tipos de dados indiretos, máximas desde o final do último ciclo glacial.
mas especialmente na dendrocronologia, nos Esses avanços ocorreram em datas que variam
testemunhos de gelo e em registros históricos. da metade do século XVI I ao final do século
A Figura 13.6 mostra uma reconstrução ba- XX na Europa, como resultado da defasagem na
seada nesses dados para o último milênio . Até resposta das geleiras e da variabilidade regional.
aproximadamente 1600, existe uma dispa ri- O período mais frio da Pequena Idade do Gelo
no Hemisfério Norte foi 1570- 1730. Não está
0,8------------------, totalmente claro o que causou a Pequena Idade
6
!:'...- do Gelo . A menor atividade solar associada ao
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chas solares, (1645-1 715), provavelmente tenha
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"O como o aumento na atividade vulcânica.
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nl Longos registros instrumen t ais para esta -
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o ções na Europa e no leste dos Estados Unidos
~ indicam que a tendência de aquecimento que
encerrou a Pequena Idade do Ge lo começou
-o,s ---.-....----,....--.--...---.--....----.--...----1 pelo menos na metade do século XIX. A série
1000 1200 1400 1600 1800 2000
Ano temporal da média anual da temperatura do ar
superficial a partir de registros instrumentais
f[gura 13.6 Variação na temperatura do ar super- mostra um aumento significativo na temperatu -
ficial paro o Hemisfério Nor te ao longo do último
ra, de aproximadamente 0,7º C, de 1880 a 200 7.
milênio. Valores suavizados e recons tr uídos poro 40
anos sóo plotados poro 1000- 1880, com o tendência
Os dois hemisférios participam desse aqueci -
lin ear paro 1000-1850, e tem pe ro turas observados mento, mas ele é mais acentuado no Hemisfér io
paro 1902 - 1998. A recons truçóo baseio-se em esti- Norte (Figura 13.7). O aquecimento abrange
mativas obtidas com testemunhos de gelo, anéis de regiões oceânicas e continentais, sendo mais
crescimento em órvores e registros históricos, e t em
forte sobre a terra (Figura 13.8). Ele foi menor
dois li mites de erro-padrão de aprox im adamente
nos trópicos e maior nas latitudes alt as seten-
+O,SºC durante 1000-1600. Os valores são plotados
como anomal ias relativas ao período de 1961- 1990. trionais , e é mais forte no inverno . Todavia, o
fonte: Modificado de Mann el oi. (1999 ). Cortesia de M . E. aumento na temperatura geral não é contínuo, e
Ma nn, Pennsylvan io Stote Universily. quatro fases são identificadas no registro gl.obal:
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1940 1960 1980 2000 1880
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1900 1920 1940 , 1960 1980 2000

Figura 13.7 Registros instrumentais de longo prazo paro a temperatura média anual, expressos como anoma lias com relação ao período -base 195 1-1980. (A):
média globa l; (8): médias para os Hemisférios Norte e Sul. As linhas verme lhas apresentam a série tempora l suavizada com médias de cinco anos.
Fonte : NASA, Go ddord lnstítute for Spoce Scíences (http :// doto .g iss.noso.gov / gísle mp/) .
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 443

Mudanças nas temperaturas nos continentes e nos oceanos

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1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000

Figura 13.8 Registros instrume ntais de longo prazo pa ra a temperatura méd ia an ual do a r super f ici a l, expres -
sos como anomalias com relação ao pe ríodo-base 195 1- 1980 pa ra as óreas oceâ nicas e co nti ne nta is globa is.
A s li nhas co ntín uas representa m a série tempora l suavizada com méd ios de c inco a nos .
Fonte : NASA, God dord lnstitule fo r Spoce Sciences (http ://d a to .giss .noso .go v/gislemp/).

1 1880-1920, durante a qual houve uma osci- parte por um leve aquecimento no oeste
lação dent ro de limites extremos de aproxi- dos Estados Unidos, na Europa Oriental e
ma.damente 0,3ºC, mas sem tendências . no Japão.
2 1920-metade da década de 1940, durante a 4 Metade da década de 1970-2008, durante
qual houve um aquec imento considerável, a qual houve um acentuado aquecimento
de ap roximadamente 0,4ºC; esse aqueci - geral, de aproximadamen te O,SºC, mas com
men to foi mais visível nas lat itudes altas forte variabil idade regional (ver Prancha
setentrionais. 13.1).
3 Metade da década de 1940-começo da
de 1970, durante a qual houve oscilações Com base em sondagen s feitas com balões
den tro de limites extremos de aproxima - e avaliações com satélites, as tempera turas na
damente 0,4ºC , com o Hemisfério No rte t roposfera inferior ao longo do per íodo de 1958
resfriando um pouco em média, e o He- ao presente aumentaram em valores levemente
misfério Sul permanecendo razoavelmente maiores do que na superfície . Todavia, essa in-
constan te em temperatura . Em âmbi to re- t erpretação deve reconhecer descontinuidades e
gional, o norte da Sibéria e o leste do Ártico vieses na série temporal , causadas por mudan -
canadense e o Alasca experimen taram uma ças nos satélites, decaimen to da órbi ta, deriva
redução média das temperaturas de inver - e outros fatores. Existem evidências de que as
no de 2-3ºC entre 1940 e 1949 e entre 1950 sondagens com balões podem ter um viés de
e 1959; essa redução foi compensada em resfriamento .
444 Atm osfera, Tempo e Clim a

As médias globais das temperaturas su - também o forte aquecimento sobre a Penín sula
perficiais alcançaram seus níveis mais altos já Antártica .
registrados durante a última década e, prova - Uma das manifestações do aquecimen -
velmente , para o último milênio. Na análise do to recente é uma estação de crescimento mais
GISS da NASA, usada para compilar a Figura prolongada . Por exemplo , na região central da
13.7, o ano mais quente já registrado foi 2005, Inglaterra , a estação de crescimento (defini-
com 2007 e 1998 empa tados em segundo lugar. da como temperatura média diária >SºC para
As classificações baseadas em outras análises da cinco dias sucessivos) aumentou em 28 dias no
temperatura global (p . ex., da Unidade de Pes- decorrer do século XX e tinha aproximadamen-
quisa Climática do Reino Unido ) diferem um te 270 dias na década de 1990, em comparação
pouco, mas contam a mesma história de con- com cerca de 230-2 50 dias nos séculos XVIII
dições muito quentes para a última década . A a XIX. No Ártico , existem fortes evidências de
característica espacial fundamental da mudança relações entre o aquecimen to e as transi ções
ao longo da última década (Figura 13.9) é um regionais de tundra para vegetação arbustiva .
aquecimento muito forte sobre as latitudes al- Outra tendência dos último s 50 anos é uma re-
tas seten trionais . Isso é especialmente visível no dução na faixa diurna da tempera tura; as tem-
outono e no inverno e sobre o Oceano Ártico, e peraturas mínimas noturnas aumentaram em
está relacionado com as mudanças na circula- 0,8ºC duran te 1951-1990 em pelo menos meta -
ção at mosférica e o declín io na extensão do gelo de das áreas do norte, em comparação com ape-
marinho. Com relação a este último fator, áreas nas 0,3ºC para as temperaturas máximas do dia.
anômalas de água aberta no outono e inverno Isso parece resultar principalmen te do aumento
permitem grandes fluxos de calor da superfí- na nebulosidade, que, por sua vez, pode ser uma
cie oceânica para a atmosfera inferior . Observe resposta à elevação os gases de efeito estufa e ae-

;;a


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-8 -4 -2 -1 - 0,5 - 0,2 0,2 0,5 1 2 4 8

Figura 13.9 Temperaturas médios anua is do ar superf icial poro a década 1998-2007, expressa como ano-
molios com reloçóo ao período-base '
195 1-1980. Areas e m cinzo possuem dados insuf icientes paro calcula r
anomalias.
Fonte: NASA, Godda rd lnstitut e for Space Sciences (http ://d ato .g iss.nas a.gov /gi stem p/).
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 445

200 América Central 200 África Saariana 200 l ndia


300 Sudeste Asiático
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20ºN .S o o o o 20ºN
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1920 1960 1920 1960 1920 1960 1920 1960

Figura 13.10 Variações de anomalias de precipitação sobre óre os con tinentais trop ica is e subtropica is relati-
vos o 1961- 1990. Curvos suavizad o s binomia is de nov e pon tos sobrepostos às anomalias anuais.
Fonfe : Houghton et o i. {1996). Com permissão da Cambr idge Universily Press .

rossóis troposféricos. Todavi~ as rela.ções ainda setentrionais apresentadas na Figura 13.11, as


não foram determinadas adequadamente . médias para 1970- 1984 foram geralmente me -
As alterações na precipitação são muito nores que 50% das de 1950- 1959, com déficits
mais difíceis de caracterizar . Desde 1900 hou- durante 198 1- 1984 iguais ou maiores do que
ve um aumento geral na p recipitação a norte de os da desastrosa seca do começo da década de
aproximadamente 30ºN. Em comparação, desde 1970. Os déficits continuaram na década de
a década de 1970, houve reduções sobre grande 1990, e sugere-se que a seca severa esteja rela -
parte dos trópicos e subtrópicos. Todavia, esses cionada com o enfraquecimento da corrente de
aspectos gerais mascaram as fortes variações sa-
zonais, regionais e temporais . Como um exem-
20ºN 1952-8
• ai'.
plo dessa complexidade , a Figura 13.10 mostra Sanei CM 1972
.gi1s 0
N
variações na precipitação tropical e subtropical
sobre áreas con tinentais até a metade da década -:J
~ 10ºN
..J
Suaão

de 1990. Desde a metade do século XX, as re - SºN


Sahelo-Saara
duções na precipitação predominam em grande
parte da região da África Setentrional ao Sudes -
te Asiático e Indonésia mais a leste . Muitos dos
episódios secos são associados a eventos de El
Nifio. As regiões equatoriais da América do Sul o
e da Australásia também apresentam influên-
2
cias do ENSO. A área das monções indianas S dão

tem períodos mais úmidos e mais secos; os pe-


ríodos mais secos são evidentes no começo do
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século XX e durante o período 1961-1990. 1901 1911 192 1 193 1 1941 1951 1961 197 1 1981 1991
Como mais um exemplo dessa complexida-
de, os registros da África Ocidental para o sécu- Figura 13.11 Variações na pluviosidade (porc enta-
lo XX (Figura 13.11) mostram uma tendência gem de desv ios-padrão) durante 1901- 1998, poro os
zonas do Sahelo -Saoro, Sohel e Sudão no Africo Oci -
de anos úmidos e secos ocorrerem em séries de
denta l. São mostrados os posições médias do Cavado
até 10 a 18 anos. Foram observadas mínimas de
Monsônico (CM) no norte do Nigéria d urante 195 2-
precipitação nas décadas de 1910, 1940 e após 1958 e em 1972 (ano de EI Nino).
1968, com anos úmidos intervenientes, em toda Fonte: Nicholson (2000 , p. 2630, fig. 3). Cortes ia de Amerí-
a África Ocidental subsaariana . Nas duas zonas con Metearolag icol Soc iety.
446 Atm osfera, Tempo e Clima

jato trop ical de leste e a limitada pene tração ao danças em períodos maiores . Por exemplo, os
norte do escoamento monsônico oeste -afr icano invernos têm sido mais úmidos desde 1860, em
de sudoeste. Todavia , Sharon Nicholson atri - comparação com a parte ante rior do regis tro .
bui as oscilações da precipitação à contração As mudanças também dependem da estação
e expansão do núcleo árido do Saara, e não às - enquanto a pluvios idade de inverno aumen -
mudanças norte -sul na margem do deserto. Na tou de 1960 ao frnal do registro, a precipitação
Austrália, as alterações na pluviosidade estavam de verão diminuiu de modo geral ao longo do
relacionadas a mudanças na localização e inten- mesmo período . Os registros para estações in-
sidade de anticiclones subtropicais e a modifi - dividuais mostram que me smo em distâncias
cações associadas na circulação atmosfé rica. A relativamente pequenas pode haver diferenças
pluviosidade no inverno diminuiu no sudoeste consideráveis na magnitude das anomalias,
da Austrália, enquanto a de verão aumentou no em especial na direção leste-oeste ao longo das
sudeste, particularmente depois de 1950. Are- Ilhas Britânicas .
gião nordeste da Austrália apresenta oscilações No final do século XX e começo do XXI,
decenais e grande variabilidade inte ranual . houve a extremos climáticos mais frequentes .
A Figura 13.12 ilustra as flutuações de in- Por exemplo, a Grã- Bretanha passou por várias
verno e verão na prec ipitação para a Inglater - secas importantes durante esse período (1976,
ra e o País de Gales. Existe ampla variabilidade 1984, 1989- 1992 e 1995); sete períodos frios
intera nual, e algumas mudanças decenais con - severos ocorreram nos invernos entre 1978 e
sideráveis são evidentes . Também existem mu - 1987 (comparados com apenas três nos 40 anos

Inverno
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1800 1850 1900--------------~-~
1950 2000
Ano

Figura 13.12 Série temporal da prec ipitação de inverno e verão (mm) para o Ing la terra e o País de Go les,
1767-1995. A linho contínuo é um fi ltro que supr im e var iações de < l O anos de duração .
fonle: P. Jones , D. Conwoy a nd K. Briffa (1997, p. 2004, fig. 10.5). Com permissão de Routledge, London.
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 447

anteriores); e várias tempestades intensas (1987, longos (Figura 13.7). Conforme já discutido, a
1989 e 1990) foram registradas. O ciclo mais variabilidade é bastante acentuada em escalas
seco de 28 meses (1988 - 1992) já registrado na regionais . As flutuações regionais e as flutua -
Grã -Bretanha desde 1850 foi seguido pelo pe- ções globais de curto prazo são consideradas
ríodo mais úmido de 32 meses do século XX. expressões da var iabilidade climática natural -
A Europa teve ondas de calor sem precedentes um termo que permite a influência de forçantes
em 2003 e 2008 (ver Prancha 13.2). Nos Estados radiativas que não sejam antropogênicas . É im -
Unidos, nas décadas recentes houve um a.umen- portante revisar algumas das causas das flutua -
to notável na variabilidade inte ranual das tem- ções climáticas recentes embutidas na tendência
peraturas médias de inverno e da prec ipitação geral de aquecimento global, antecipando uma
total . Em 1983, o fenômeno El Nifto foi o mais discussão mais concen t rada sobre as mudanças
intenso em um século, seguido por um evento antropogênicas .
comparável em 1998; também existem evidên-
cias de um aumen to na frequênc ia de furacões 1 Mudanças na circulação
intensos (Categoria 4 e 5) .
Uma das causas imediatas das flutuações climá-
ticas é a variabilidade da circulação atmosférica
D ENTENDENDOAS MUDANÇAS global e reg ional, bem como os transportes de
CLIMÁTICAS
RECENTES calor associados a ela . Nos primeiros 30 anos
Embora as evidências sejam fortes de que gran - do século XX, ocorreu um aumento acentuado
de parte do aquecimento global dos últimos no vigor dos ventos de oeste sobre o Atlântico
100 anos é uma resposta ao aumen to nas con- No rte, dos alísios de nordeste , das monções de
centrações de gases de efeito estufa na atmosfe - verão na Ásia Meridiona l e dos ventos de oeste
ra, vimos que a série temporal da temperatura no Hemisfério Sul (no verão) . Sobre o Atlânti-
global se caracteriza por flutuações em escalas co Norte, essas mudanças consistiram de um
temporais de interanual a decenal e até mais aumen to no gradiente de pressão entre a alt a


••

2008 Anomalia de temperatura superficia l (<IC)

-3 ,5 - 2,5 - 1,5 - 1 - 0,6 ---0.2 0,2 0,6 1 1,5 2,5 3,5

Prancha 13.1 Temperaturas do ar global pa ra 200 8 .


Fonte : NASA imagem de by Robert Simmo n. http:// eortho bservo tory.noso .gov/ lODT/ víew.php~id=06699 .
448 Atm osfera, Tempo e Clima

Prancha 13.2 Onda de ca lor sobre o Europa Oc idental, mostrado pelo anomal ia de tempera tura superficial
continental no MODIS, 20 -27 de julho de 2006.
Fonte : http:// eorlhobse rvotory .noso.gov/lODT/v iew.php? id=M094.

dos Açores e a baixa da Islândia quando esta se Oscillation (NAO ). A NAO de inverno esteve
aprofundou, e também entre a baixa da Islândia prin cipalmente negativa da década de 1930 à
e a alta da Sibéria, que se estendeu para oeste. de 1970 (com a baixa da Islândia e a alta dos
Elas foram acompanhadas por rotas de ciclones Açores fraca s), mas apresen tou um a tendência
mais ao norte, e isso resultou em um aumento geral de aumento para valores pos itivos fortes
significativo na frequência de fluxos de ar té - em meados da década de 1990 (aumentando
pido de sudoeste sobre as Ilhas Britânicas en - o escoamen to de oeste ). O aumento abrupto
tre 1900 e 1930, conforme mostra a frequên cia observado nas tempera turas de inverno sobre
média anual do tipo de escoamento de oeste de grande parte da Eurás ia setentrional por volta
Lamb (ver Capítulo lOA.3). Para 1873- 1897, de 1970 até a metade da dé ca.da de 1990 pode
1898- 1937, 1938-1961 e 1962-1995, os números estar relacionado com essa mudança na NAO.
são 27, 38, 30 e 21 %, respectivamen te. Coin- Do final dos anos 1900 a 2007, a Oscilação do
cidindo com o declínio dos ventos de oeste , Atlântico Norte tem altern ado fases positivas e
os tipos ciclônico e anticiclônico aumentaram negativas no inverno.
substancialmente (Figura 13.13). A diminui - Outras anomalias oceano -atmosfera afe-
ção no escoamen to de oeste durante o último tam as tendências climá t icas em escala glo-
período de 30 anos , especialmente no inverno, bal . Por exemplo , estima -se que a ocorrência
está relacion ada com a maior continen talidade e intensidade das fases quen tes dos eventos de
na Europa . Esses indicadores regionais refletem ENSO tenham aumentado a temperatura média
um declín io amplo na intens idade geral dos global em aproximadamente 0,06ºC duran te
ventos de oeste circumpolares nas latitudes mé - 1950-1998. A temperatura média global muito
dias, acompanhando uma aparente expansão do alta em 1998 está ligada ao forte evento de El
vórtice polar. Nifio daquele an o.
Flutuações climáticas acentuadas têm ocor- Um padrão pro longado do tipo El Nifio é a
rido no setor do Atlântico Norte e da Eurás ia Oscilação Decenal do Pacífico, ou Pacific Deca -
em associação com a mudança de fase da Os- dal Oscillation (PDO), relacionada com a varia-
cilação do Atlân tico Norte , ou North Atlantic bilidade da temperatura na super fície marinha
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 449

60---~--~-~--~~--~----~
Norte Leste
50 50

40 40

30 30

20

10 10

o o
1900 1920 1940 1960 1980 2000 1900 1920 1940 1960 1980 2000
180 180
Sul Oeste
160 160
140 140

120 120
100 100

80 80

60 60
40 40

20 20

o o
1900 1920 1940 1960 1980 2000 1900 1920 1940 1960 1980 2000
60
Noroeste
50

40

30

20

10

o
1900 1920 1940 1960 1980 2000
180 180

160 Ant iciclônico 160 Ciclônico

140 140

120 120
100 100

80 80

60 60

40

20 20

o o
1900 1920 1940 1960 1980 2000 1900 1920 1940 1960 1980 2000

Figura 13.13 Totais anuais e médios móveis de 10 anos poro a frequênc ia (dias) dos tipos de circulação de
Lomb-Jenkinson sobre os Ilhas Britâ nicas, 1961-1999. Observe as mudanças de escalo.
fonte: Lamb (1994). Adaptado de Climote Monito r e de dados do C limatic Reseorch Unil, com perm issão do University of Eost Ang lia .
450 Atmos fera, Tempo e Clima

no Pacífico Norte . A PDO t em apresentado Assim, as respostas máximas provavelmente


grandes ciclos de 20-30 anos - frios (negativos) ocorrem sobre as áreas oceânicas tropica is do
de 1890-1924 e 1947- 1976 (Pacífico Ocidental leste . As simulações realizadas com modelos
quente, Pacífico Oriental frio) e quentes (positi- climáticos sugerem que a ma ior irradiação solar
vos) de 1925-1946 e 1977-metade da década de durante os picos de manchas solares, com um
1990 (Pacífico Ocidental frio, Pacífico Or iental aumento correspondente de cerca de 1,5% na
quente) . Suas causas ainda não são conhecidas. coluna de ozônio, modifica a circulação global;
Do mesmo modo, a Oscilação Inte rdecenal do as células de Hadley enfraquecem, e as corren-
Pacifico del5-30 anos afeta o Pacífico setentr io- tes de jato subtropicais e as células de Ferrei mu-
nal e merid ion al. dam em direção ao polo . Também foi encontra -
da uma relação estatística entre a ocorrênc ia de
2 Variabilidade solar secas no oeste norte-americano nos últimos 300
A principal força que move o sistema climático anos, determinada a partir de dados de anéis de
é o Sol. O conhecido ciclo solar de aproxima - árvores, e o ciclo duplo (Hale) de aproximada -
damente 11 anos costuma ser medido em refe- mente 22 anos da reversão na polaridade mag-
rência ao período entre os máximos e mínimos nética do Sol. As áreas de seca são mais amplas
das manchas solares (ver Figur a 3.2). Conforme nos dois a cinco anos após um mínimo de Hale
os regist ros de satélite disponíveis desde 1980 e nas manchas solares (isto é, mínimos alternados
o que foi discutido anter iormente, a irradiação de 11 anos nas manchas solares ). Contudo, não
varia por um modesto 1 W m- 2 ao longo do ci- foi estabelecido um mecanismo claro para esse
clo de 11 anos (a média do fluxo de radiação no fenômeno.
topo da atmosfera é de apenas 25% desse valor).
3 Atividade vulcânica
Como citado no Capítulo 3A.l, a explicação é
que o escurecimento das manchas solares vem As relações entre a variabi lidade climática e
acompanhado por um aumento na emissão de a ativid .a.de vulcânica são claras (ver Quadro
fáculas, que é 1,5 vez maior do que o efeito do 13.3). Conforme discut ido, o resfriamento su-
escurecimento. O ciclo de 11 anos corresponde perficial causado pelas quantidades maiores de
a uma oscilação de <0,1 ºC na tempe ratura do ar poeira vulcânica e aerossóis superficiais na es-
no planeta . tratosfera ocorre de um a dois anos após gran-
E as variações mais longas? O forte aqueci- des eventos explosivos. Os efeitos da erupção
mento global observado desde 1980 não pode do Monte Pinatubo nas Filipinas em junho de
ser atribuído à atividade sola r, pois os dados 1991 (Prancha 13.3) podem ser vistos na Figura
de satélite não apresentam uma tendência dis- 13.7A como temperaturas médias globais mais
cernível . Por outro lado, com base em recons- baixas em 1992 e 1993, em comparação com os
truções, a variabilidade solar ta lvez explique a anos adjacentes . Em âmbito regiona l, os impac-
metade do aquecimento entre 1860 e 1950. As tos foram maiores. As temperaturas superficiais
var iações na irradiação solar também podem sobre os continentes setentrionais estavam até
oferecer uma explicação parcial para a Pequena 2ºC abaixo da média no verão de 1992, mas,
Idade do Gelo. graças aos impactos sobre os padrões da circu -
David Rind, da NASA, sugere que a for- lação atmosférica , até 3ºC acima da média nos
çante solar direta sobre o clima pode ter me nos invernos de 1991- 1992 e 1992-1993 (ver Qua-
importância do que seu potenc ial para desen- dro 13.3). Conforme observado anteriormen-
cadear inte r ações envolvendo uma variedade te, devido à curta escala temporal da forçante,
de processos de feedback. Pare ce haver padrões um resfriamento prolo ngado exigiria uma série
regionais na resposta da temperatura à variabi - de eventos como essa de erupção; uma série
lidade solar, com os maiores sinais nas latitudes de eventos como essa pode ajudar a explicar
baixas, onde existem grandes totais de insola- a "Pequena Idade do Gelo': O período entre
ção, e sobre os oceanos, onde o albedo é baixo. 1883-1912 também teve erupções frequentes
CAPÍTULO 13 Muda nças clim áticas 451

,
AVANÇOS SIGNIFICATIVOS DO SECULO XX

13.3 Erup~ões vulcânicas e clima


A er upção do Krakatoa na Indo nésia, em 1883, de monstro u a im portânc ia globa l dos grandes evento s
exp losivos em co nes v ulcâ nicos andesíticos. A eru pção , que inj eto u poe ira e gase s de enxofre na at-
mosfera , fo i seg uida po r co ndições f rias e poe ntes impressio nantes ao redor do mundo . Toda via, após
a erupção do Katma i nas Ilhas A leutas, em 1912, houve um a ca lm ar ia na atividade vulcân ica até que
o Agu ng ent rou em erupção em Bali, em 1963. As plu mas de erupções eq uato riai s podem se dispersar
para os do is hemisf ér ios, ao passo q ue as proven ientes de lat itudes méd ias e altas não conseg uem se
trans fer ir pa ra o eq uador , po r ca usa da estrutura da circul ação superior. As eru pções não exp los ivas
de vul cões em campos basólt icos do tipo havaiano não inj etam mate rial na at mosfera.
Os aeross ói s vulca ni cos cost umam ser med idos com re lação ao índ ice do véu de poe ira (DVI),
propo sto ini cialme nte po r H. H. Lamb, que co nsidera a dep leção móxim a da rad iação incidente d ireta,
medida nas latitudes médias do hem isfér io envo lvido , e a extensão espac ial móx ima do vé u de poe ira
e sua persistênc ia . Todav ia, não podemo s ca lcula r esse índice pa ra event os histór icos.
O s ma iores valo res do DVI são estim ado s para 1835 e 1815-1816. O s vu lca n61ogos usam o
'lnd ice de Explo sividade Vulcân ica (VEI) para classif icar erupções em uma escala de 0 -8 . EI Ch ich6n
(1982) e Ag ung (1963) são cla ssif icado s como 4, mas o índice talvez não seja necessar iamen te um
bo m indicad or de efei tos clim át icos.

(ver Figu ra 2.12) . Por ou tro lado, a atividade


vulcânica reduzida após 1914 pode ter contri-
buído, em parte, para o aquecimento observado
no começo do século XX.
Os agentes do resfr iamento superficial in -
cluem a transformação de dióxido de enxofre
(um gás) em gotículas de ácido su lfúrico (um
aerosso l reflexivo) e micro partículas de poeira
que absorvem a radiação solar na estratosfera
(as partícu las grandes assentam rapidamen -
te ). A maior acidez na neve que cai sobre os
mantos de gelo é medida ao determinar o sinal
da condu tividade elét rica em um tes temunho
de gelo , o que permite reg istros de erupções
passadas .
As tempera turas globais médias no ano
após uma grande er upção podem ser reduzidas
em vários décimos de grau C, mas os impactos
podem ser muito maiores em escalas hemisféri -
cas e regionais. Uma evidência impressionante
desses efeitos foi o ''ano sem verão ', em 1816,
após a erupção do Tambora em 1815, que teve
um sério impac t o sobre as sociedades em mui-
Prancha 13.3 A pr imeir a gra nde erupção do Mon -
tas partes do mundo. Todavia , ele também se-
te Pinatubo, em 12 de junho de 199 1. O Mon te Pi-
guiu uma série de invernos frios na Europa. A na tu bo estó local izado no po rte sudoeste do ilha de
erupção do Krakatoa, na Indonésia, em agosto Luzon, nas Filip inas . Antes de 1991, ele permanece u
de 1883, foi registrada por barógrafos ao redor adormecido por mais de 635 anos.
do mundo. Houve lançamento de cinzas a até 80 Fonte: K. Jackson, U.S. Ai, Force. NOAA/ NGOC.
452 Atm osfera, Tempo e Clima

km de altitude. As temperaturas médias globais mundial , indus trialização e tecnologia , foram


tiveram um resfriamento de l,2 ºC em 1884, e descritas no Capítulo 2A .2. A maior forçan te
os efeitos persistiram por 3-4 anos. Aparente - radiativa posi tiv a individual advém do aumen -
mente são necessárias grandes eru p ções repeti - to na concen t ração de dióxido de carbono (em
das para causar efeitos de longo prazo sobre o torno de 1,7 W m - 2) . Isso significa que , com p a-
clima . Os registros obtidos com testemunhos de rado com 1750, o aumen to na con centração de
gelo proporcionam longos históricos de erup - dióxido de carbono, con siderado isoladamen te,
ções vulcânicas até o Pleistoceno tardio, e mos - levaria a um desequilíbrio de mesma medida
tram episódios de erupções mai s frequen tes. na radiação. O metano (CH 4) , o óxido ni t roso
(N 20 ) e os halocarbonos contribuem com ma is
4 Fatores antropogênicos 2
1 W m - • Assim , a forçante radiativa total pro -
Conforme apresentado an teriormente , os efei- venien te de gases de efeito estufa de vida longa
t os das atividade s humanas devem ser vistos (no sent ido de que têm um tempo de residência
dentro do modelo da forçan te radia tiva global, longo na atmosfera ) é de aproximadamen te 2,2
que se refere à quantidade pela qual um fator W m - i . Os halocarbono s são um termo coletivo
altera o balanço de rad iação no topo da atmos - para o gr upo de espécies orgânicas h alogênicos,
2
fera, expres so em unid ades de W m - • e in clui os clorofluorcarbonos (C FC ). Ou tros
A Figura 13.14 sintetiza as diferentes com - fatore s meno s impor t an tes com uma forçan te
ponentes da forçan te radiativa em 2005 , em re- radiativ a po sitiva são o ozônio troposférico , o
lação a 1750. As mudanças na s concentrações carbono negro sobre a neve (essencialmente,
atmosféricas de gases de efeito estufa, associa - fuligem da queima de combu stíveis fósseis) e a
das ao crescimento acen tuado da popu lação irradi ação solar (que não está associada às ati-

Forçante radiativa do clima entre 1750 e 2005


Termos da forçante radíativo

1
1
Gases de 1 1
efeito estufa 1 t
de vida longa 1
1
1
"'
a:I 1

ª
E
:::,
.e
Ozõnío 1
Estratost4r1co <-o.os)
Troposférico

llJ Vapor de água 1


'O 1
(O estratosférico
'O
1
.2: 1 1
Albedo superficial Uso dp solo
~ Carbonb negro
1
1
sobre a:neve
Efelto direto 1 1
1 1
Totalde 1 1
aerossóis Efeito do 1
albedo •
das nuvens 1
1
1/) Trilhas de 1
·a..... condensação
{0,01)
Figura 13.14 Compo nentes da
-
:::,

~
Irradiação solar
1

1
força nte rad iat iva g loba l (W m - )
para o ano de 2005 , expressos em
2

o"' 1
"'
1/)
(1)
1
1
relação ao ano de 1750. As ba rr os
o Total líquido das ind ic a m fa ixas de incerteza .
o..... 1
Q. atividades humanas 1
IPCC (2007 ). IPCC (e h_ 2,
Fo nt e :
C han ges i n ot mo sp heric constilu e nls
-2 -1 o 1 2 o nd in ra diot ive fo rcing , Re p ort of
Forçante rad iativa (watt s po r metro quadrado ) WG l 1, IPCC , p. 136 , FAQ 2 .1, fig . 2).
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 453

vidades humanas). Essas forçantes positivas são são bastante comuns, mas buracos amplos são
compensadas, em parte, por forçantes negati- raros , mesmo em invernos estratosféricos frios .
vas devidas à maior concentração de aerossóis Parece que, enquanto o vórtice antártico é iso -
e ao maior albedo superficial associado ao uso lado da circulação de média latitude, o vórtice
do solo, gerando uma forçante total estimada ártico é mais dinâmico, de modo que o trans-
2
para as atividades humanas de 1,6 W m - • A porte de ozônio de latitudes menores compensa
incerteza nesse valor se deve principalmente à grande parte da perda.
incerteza quanto aos efeitos dos aerossóis. Por As forçantes de aerossóis são diretas e in -
causa da sua natureza altamente episódica, a diretas . Juntas , elas têm uma forçante radia tiva
2
Figu ra 13.4 não inclui os efeitos das erupções estimada de aproximadamente -1 ,2 W m- • Os
vulcânicas . efeitos diretos estão relacionados com a ma-
Embora os CFC (um dos halogênios) te- neira como os aerossóis absorvem e espalham
nham uma forçante radiativa positiva, o estu- a radiação solar e de ondas longas; uma varie-
dante talvez estej a mais familiarizado com a dade de tipos de aerossol , incluindo carbonos
relação entre CFC e a destruição da camada de orgân icos de combus t íveis fósseis, carbono
ozônio estratosférico. Apesar do Protocolo de negro de combustíveis fósseis, queima de bio -
Montreal, que ajudou a controlar a produção e massa e poeira mineral e aerossóis de sulfatos,
o uso d,e CFC, eles são du.radouros e ainda cau- exerce uma significativa forçante ra,diativa . O
sam impactos sobre a camada de ozônio (ver efeito indireto diz respeito à maneira como os
Capítulo 2A.4). As emissões de H 20 e NO x por aerossóis afetam as nuvens. Uma questão cru -
aviões a jato e por emissões superficiais de N 2 0 cial é o quanto uma partícula de aerossol pode
têm contribuído para o problema. O ozônio atuar como um núcleo de condensação, que de -
circula na estratosfera de latitudes baixas para pende de fatores como a composição química
altas e, assim, sua ocorrência em regiões polares e o tamanho do aerossol . O efeito indireto dos
é diagnóstica da sua concentração global. Em aerossóis compreende impactos sobre o albedo
outubro de 1984, uma área de depleção acentu- das nuvens (muitas vezes chamado de primeiro
ada de ozônio (chamada de "buraco da camada efeito indireto) e sobre a água líquida , a altura e
de ozônio '') foi observada na estratosfera infe- o tempo de vida das nuvens (o segundo efeito
rior (ou seja, 12-24 km), centrada sobre o conti- indireto). Reduz ir a grande incerteza sobre os
nente antártico, mas estendendo-se muito alé,m efeitos diretos e indire tos dos aerossóis é um
dele. A depleção do ozônio sempre é maior na foco importante da pesquisa climá tica.
primavera antártica , mas , naquele ano, a con - Com relação ao uso do solo, a questão bá -
centração de ozônio estava mais de 40% abaixo sica é que o aumento das pressões populacio-
do que em outubro de 1977. Em 1990, as con - nais tem levado ao desmatamento de florestas e
centrações de ozônio na Antártica haviam caído ao pastoreio excessivo, elevado o albedo super-
para cerca de 200 unidades Dobson de setem - ficial do planeta. Enquanto a forçante radiativa
bro a outubro (ver Figura2 .9), comparadas com relativa a 1750 é um modesto -0,2 W m - 2, os
400 unidades na década de 1970. Nos anos ex- efeitos hwnanos sobre a cobertura de vegetação
tremos (1993 -1995), foram registrados recordes têm uma história an tiga . A queima de vegeta -
mínimos de 116 unidades no Polo Sul. Estima- ção por aborígines na Austrália remonta aos
-se que, graças à lent idão da circulação global últimos 50.000 anos, enquanto o desmatamen -
de CFC e de sua reação com o ozônio, mesmo to significativo começou na Eurásia durante o
um corte nas emissões de CFC ao nível de 1970 Neolítico (por volta de 5000 anos atrás), como
não eliminaria o buraco da camada de ozônio evidencia o surgimento de espécies e ervas
por pelo menos 50 anos. A depleção do ozônio agrícolas . O desma tamento expandiu-se nes-
no inverno também ocorre na estratosfera árti - sas áreas entre 700 e 1700 d.C., à medida que
ca e estava bem acentuada em 1996 e 1997, mas as populações aumentavam lentamente, mas
ausente em 1998. Pequenos buracos localizados não começou na América do Norte até o mo -
454 Atmos fera, Tempo e Clima

vimento dos assentamentos para o oeste, nos E PROJEÇÕES DE MUDANÇAS NA


séculos XVIII e XIX. Durante o último meio TEMPERATURA AO LONGO DO
século, houve amplo desmatamento nas flores - SÉCULO XXI
tas tropicais do Sudeste Asiático, da África e da
América do Sul . Estimativas do atual desma - 1 Apl ica~ões de modelos da
tamento tropical sugerem perdas de 105 km /
2 circula~ão geral
ano, em uma área total de floresta tropical de 9 As ferramentas mais poderosas para analisar as
6 2
X 10 km. • Essa cifra anual é mais da metade da assinaturas emergentes das mudanças climáti -
cobertura total de terra irrigada atualmente . A cas e pro jetar mudanças ao longo do século XXI
destruição de florestas causa um aumento local são os Modelos de Circulação Geral (MCG ),
de aproximadamente 10% no albedo, com con- sendo os mais sofisticados aqueles totalmen te
sequências para os balanços de energia e umi - acoplados ao oceano , conhecidos como Mo -
dade superficiais . delos de Circulação Geral Atmosfera -Oceano
Deve-se observar que é difícil definir e (MCGAO). Conforme apresentado no Capítulo
monitorar o desmatamento . Ele pode se referi r 8, esses mode los globais baseiam-se em repre -
à perda de cobertura flores tal, com a limpeza sentações matemáticas detalhadas da estrutura
completa e conversão para um tipo de uso dife- e operação do sistema Terra-oceano -atmosfe -
rente, ou ao empobrecimento de espécies, sem ra. Os estados possíveis futuros (assim como
grandes mudanças na estrutura física. O termo os passados) do sistema podem ser simulados
desertificaçã .o, aplicado em regiões semiáridas, aplicando-se supostas forçantes climát icas,
cria dificuldades semelhantes. A desertificação como as concentra .ções de gases de efeito estufa,
também contribui para um aumento na remo - a irradiação solar e (no caso de estudos paleo -
ção de solo pelo vento . Os anos do " dust bowf ' climáticos ) a extensão dos mantos de gelo e a
da década de 1930 nos Estados Unidos e a seca topografia . Os MCG são muito poderosos, mas
do Sahel africano desde 1972 ilustram esse fato, envolvem a necessidade de uma compreensão
assim como a poeira transportada do oeste da detalhada das variáveis, dos estados, dos f eed-
China através do pacífico para o Havaí, e do backs, das transferências e das forçantes de um
Saara para oeste através do Atlântico Norte. O
sistema complexo junto com as leis da física da
processo de alteração da vegetação e a degrada - atmosfera e dos oceanos, nas quais se baseiam .
ção associada do solo não devem ser atribuídos
unicamente a mudanças induzidas pela ação
2 As simula~ões do IPCC
humana, pois podem ser desencadeados por
oscilações naturais na pluviosidade, levando a Os MCG foram desenvolvidos por grupos de
secas. modelagem ao redor do planeta. O IPCC tem
O desmatamento e a queima associada de servido como um ponto focal crucial para o de-
biomassa também contribuíram para o aumen - senvolvimento de modelos . Conforme apresen -
to nas concentrações de dióxido de carbono . As tado no Capítulo 1, um dos objetivos do IPCC é
florestas armazenam grandes quantidades de avaliar os impactos de aumentos projetados nas
carbono e, quando protegidas, estabilizam o ci- concentrações de gases de efeito estufa e de ou -
clo do dióxido de carbono na atmosfera . O car - tras forçantes climáticas antropogênicas no de-
bono retid .o na vegetação da bacia amazônica é correr do século XXI. O IPCC publicou quatro
equivalente a pelo menos 20% de toda a carga relatórios amplos (em 1990, 1995, 2001 e 200 7),
atmosférica de dióxido de carbono. Estima -se cada um baseado no uso de modelos cada vez
que o desmatamento e a queima de biomassa mais sofisticados.
na Amazônia e em outros locais representem Os modelos usados no Pr imeiro Relatório
aproximadamente 25% do aumento no dióxido de Avaliação (1990 ) eram primitivos conside -
de carbono atmosférico desde os períodos pré- rando os padrões de hoje. Somente dois mo-
-industriais. delos , do NCAR e do GFDL (respectivamente ,
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 455

o Natio n al Center for Atmospheric Research avanço importante em vez de simplesmente


e o Geophysical Fluid Dynamics Laboratory), pressupo r-se uma taxa de crescimento de 1%
incluíam o acoplamento oceân ico (isto é, po - ao ano ou mesmo uma duplicação do C0 2• Um
diam ser classificados como um MCGAO). Ou- conjunto de cenários de emissão (Al) pressu -
tros empregavam uma camada oceânica mista põe que haverá um rápido crescimento econô-
ª rasá ' (os primeiros 50 m, aproximadamente ) e mico, que a população global atingirá um pico
várias outras simplificações, como a ausência de na metade do século e depois decairá, e que
transporte horizontal de calor no oceano, um t ecnologias mais eficientes serão introduz idas .
transporte de calor horizontal presc rito e uma Três variantes são: AlFl, uso intensivo de com-
cobertu ra de nuvens fixa com média zonal. A bustíveis fósseis ; Al T, fontes energéticas não
resolução horizontal (o tamanho da célula na fósseis; e AlB, equilíbrio entre todas as fontes
malha do modelo) era grosseira, geralmente da energéticas. O cenário A2 considera a hetero -
ordem de SOOkm . As simulações incluíam res- geneidade global, um aumento na população e
postas climáticas a aumentos paulatinos (1 % ao uma mu dança tecnológica fragmentada e mais
ano) em C0 2 (com os modelos NCAR e GFDL) lenta . Um segundo conjunto contém Bl , onde
e experimentos de equilíbrio para uma duplica- as tendências populacionais são como em Al,
ção no teor de C0 2 (nos quais os modelos foram mas a economia global baseia-se no seto r de
aplicados até chegar a um estado de equilíbrio serviços e informações, com tecnologias lim -
climático) . No Segundo Relatório de Avaliação pas e eficientes no uso de recursos. 82 projeta
(1995), a resolução horizontal típica havia au- um aumento populacional mais len to, níveis
men tado para aproximadamente 250 km, e o intermediários de desenvolvimento econômico
acoplamento oceânico havia sido aperfeiçoado . e mudança tecnológica diversa e de orientação
Outros refinamentos foram o tratamento dos regional. De todos esses cenários, o AlB (cha-
efeitos rad iativos de aerossóis sulfatados antro - mado de "Business as Usual,,, ou BAU) é o que
pogên icos e erupções vulcânicas . Onze grupos tem sido investigado de forma mais ampla .
participa ram , com 11 MCGAO . As simulações A Figura 13.15 mostra mudanças projeta -
incluíam aumentos paulatinos na concentração das nas concent rações de C0 2, CH 4 e CFC-11
de C0 2, de 1% ao ano, bem como outras mu- ao longo do século XXI, com base em quatro
danças n o cenár io dos gases de efeito estufa . dos cenários . Dependendo do cená rio, proje t a-
No Terceiro Relatório de Avaliação (2001), as -se que as concentrações de C0 2 aumentarão
resoluções horizontais haviam melhorado ain- entre 540 e 970ppm até 2100, correspondendo
da mais, com um tratamento mais robusto do a aumentos de 90 e 250% acima do n ível pré -
oceano (p. ex., circulações termohalinas) e inte- -industrial . As mudanças nas concentrações
rações com a superfície de terra. Dezenove MC - de metano devem variar entre -190ppm e
G AO participa r am . Os modelos usados para + 1970ppb acima dos níveis de 1998 até 2100.
o Quarto Relatório de Avaliação (2007) eram Em 1995, est imava -se que, para estabilizar a
ainda mais maduros, com alguns incluindo a concentração de gases de efeito estufa nos ní-
química atmosférica e a interação da vegetação. veis de 1990, seriam necessárias as seguintes
Foi avaliado um total de 23 MCGAO, represen - reduções percentuais em emissões oriundas de
tando o trabalho de 16 grupos de modelagem, ativi dades antrópicas: C0 2 >60%; CH 4 15-20%;
de 11 países . N 20 70-80%; CFC 70-85%. O relatório de 2001
Um aspecto impo rtante do terceiro e do IPCC observa que, para estabilizar as con -
quar to relatórios é que as simulações com os centrações de C0 2 a 450 (650)ppm, seria neces-
diferentes modelos usaram uma variedade de sário que as emissões antropogênicas ficassem
cenários de emissão de gases de efeito estufa abaixo dos níveis de 1990 den t ro de algumas
(contidos em um relatório especial sobre cená - décadas ( cerca de um século). Devido ao forte
rios de emissões , ou SRES) baseados em visões aumento nas emissões desde 2001, seriam ne-
diferentes sobre o futuro global . Esse foi um cessárias reduções ainda maiores hoje em dia .
456 Atmosfer a, Tempo e Clim a

1300 10-----------------
> 1200 · Cenários - A18
9
A18 - A1F1
É_1100 - A1F1 8 - ·· 81
Q.
2- 1000 - 81 - 82
ü 900 - 82 Conjunto de mode los
CD de todos os cenários
-o 800 doSRES
o
'3. 700
t'CI
::a 600
e
~ 500 3
e
o 400 2
ü
300-· ~--~-~--~-~--~---t ,
1980 2000 2020 2040 2060 2080 2100
ol....,........
..,_;;.::
====;:::::::::::: :....~~ ~~....J
1800 1900 2000 2100
4000---------------~ Ano
~ ' Cenários
- A18
Figura 13.16 Forçan te radia tiva (W m-2 ) projetado
-
8:
J:
3500
...
-
-
A1F1
81 por um mode lo para os cenórios de emissões apre-
~ 3000 - 82 sen tados no Figura 13 .17.
"C
o Fonte : Adaptado de Ho ughton et oi. (2001 ). Com perm issão
lt'CI
~2500 do IPCC . (Su mmory for Policymokers, Report of WG 1, lPCC,
::a p . 66 , fig . 19.)
5i
g 2000
o
ü co esses números. Lembre que a forçante antro-
1500..a.:..---,---,-------------1 pogênica estimada para 2005 era de 1,6 W m- 2•
1980 2000 2020 2040 2060 2080 2100
A Figura 13.18 sintetiza as mudanças pro-
soo
----------------. jetadas na média anual global da. temperatura
> Cenários
do ar superficial de 1900 a 2100, com base em
ã. - A18
s - A1F1
o.. 450 modelos que participaram do Quarto Relató-
- 81
z - 82 rio de Avaliação. Até o final do século XX, as
Q)
"O
~ 400 simulações são alimentadas com as melhores
~ estimativas disp,oniveis de forçantes radiativas
-
L.
e
~ 350
observadas (particularmente, mudanças em
e concentrações de gases de efeito estufa). Co -
o
ü
meçando no século XXI, as simulações fazem
3001 ~:::::::::::::: :=--------J
1980 2000 2020 2040 2060 2080 2100 uso de forçantes baseadas em diferen tes cená-
rios de emissões do SRES, incluindo um cená-
Figura 13.15 Mudanças previs tas no C0 2 , CH 4 e
rio que mantém constantes as concentrações
N2 0 entre 1980 e 2100, com cenór ios do Specia l Re-
por t ou Emission Scenarios (SRES).Al Fl, Al B e 8 1 (ver
de gases de efeito estufa nos níveis de 2000. Os
texto). resultados são mostrados para a média de mo-
Fonte : Adaptado de Ho ug hton et o i. (200 1). Com perm issão delos múltiplos (ou seja, uma composição das
do IPCC (Su m mory for Po licymokers, Report of WG 1, IPCC, médias dos diferentes modelos juntos) e para
p. 65 , fig. 18). o desvio-padrão de + 1 em relação às médias
Noto : As un idades estão em parle por milhão por vo lume anuais de cada modelo. Como os diferentes
(ppmv), portes por b ilhão (ppbv ) e po rtes po r trilhão {potv },
respect ivamente .
modelos têm diferentes arquiteturas , parame -
trizações e n.íveis de complexidade, portanto,
contribuindo para as diferenças em sua sensi-
Os aumentos projetados na forçante radia - bilidade climática, acredita-se que o uso da mé-
tiva antropogênica (relativa às condições pré- dia de modelos múltiplos confira uma projeção
-industriais) correspondentes aos casos do SERS mais robusta das mudanças do que o resultado
da Figura 13.15 são mostrados na Figura 13.16. de qualquer mode lo indiv idual. A aplicação de
2
A variação projetada é de 4 a 9 W m- até 2100. projeções dos diferentes modelos (no caso da
Os impactos dos aerossóis reduziriam um pou - Figura 13.17, baseada no desvio -padrão de ± 1)
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 457

©IPCC 2007· WG1-AR4


A2
60-
1
A1B
81

5 ,0 Concentrações constantes
-
-o
L
iguais ao ano 2000
Sécu lo XX
4 ,0 -
:g
-o
CD
4)
·-º 3 ,0 -
ia.
::,
li) 2,0 -
-
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E
1,0 -
'G
4)
::,
Ji 0,0 -

1:- al LL
,- ,- N .,- N .,..
CD <( m <( <( <(

1900 2000 2100

Ano

Fígura 13.17 Série tempora l da média globa l da temperatura do ar super f ic ial, expressa como anomalias
relativas ao per íodo 1980- 1999, simulada por modelos c limó ticos g lobais que pa rticiparam do Quar to Rela tór io
de Avaliação. Os resultados para o século XX base iam-se em for ça ntes rad iativ o s observadas, e as projeções
para o sécu lo XXI empr e gam diferentes cenórios de e missões. As linhas co ntí nuas represen tam o médi a de
múltiplos modelos, enquo nto o sombreo men to indica o espalhamen to entre d iferen tes modelos, com base no
desvio-padráo de + l.
Fonte: IPCC (2007 ). Com permissão do IPCC (Summo,y For Policymakers, Report of WGl l , 1PCC, o. 14, Fig. SPM. 5).

para cada cenário de emissões pode definir um relação a quanto 2100 será mais quente é mais
envelope de incertezas, refletindo diferenças na função de incertezas no comportamento huma -
arquitetura e nas características físicas do mo - no do que incertezas na maneira como pode -
delo, que , por sua vez, têm um impacto sobre mos modelar o sistema climático. Partindo do
sua sensibilidade climática . pressuposto de que a concentração de gases de
Com base na média dos múltiplos modelos efeito estufa fosse mantida nos níveis do ano
expressa com relação ao período- base de 1980- 2000, haveria um pequeno aquecimento nas
1999, espera -se que a temperatura média global duas décadas seguintes. Esse aquecimento é em
no ano 2100 aumente em l ,8ªC (cenário Bl ) a essenc ia o calor "no sistema" que vigoraria à
4,1ªC (cenário A2) . É importante observar que, medida que este entrasse em equilíbrio radiati -
à medida que o tempo avança, a incerteza sobre vo com a forçante radiativa do ano 2000.
as emissões de gases de efeito estufa (a variação Conforme fica claro a partir da Figura
em projeções a partir dos diferentes cenários) 13.18, a magnitude do aquecimento superfi -
começa a se to rnar cada vez mais importante cial projetado tem padrões espaciais distintos,
em relação à faixa de variação entre simulações que se mantêm praticamente constantes ao
de diferentes modelos para um determinado longo do século XXI. A expectativa é de maior
cenário . Dito de outra forma, a incerteza com aquecimento , em relação à méd ia global, so -
458 Atmosfera, Tempo e Clim a

B1: 2080-2099

'

- (ºC)
O 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5

Figu ra 13.18 Mudanças projetadas na média anual da temperatura do ar superf icial, relativas ao período
1980- 1999, para os períodos de 20 anos de 2011-2030, 2046-2065 e 2080-2099. São apresen tados resultados
para os cenórios de emissões 81 (superior), Al B {centro) e A2 (inferior) com base nos modelos do clima global que
participaram do Quar to Relatório de Avaliação do IPCC. Os mapas representam a média de múltiplos modelos.
fonle : 1PC.C (2007). Com perm issão de IPCC (eh. 1O, Global climate project ions, Repor! of WGl 1, IPCC, p. 766, fig. 10.8).

bre a região do Polo Norte (um padrão já vis - con t ribui para o efeito de amplificação. Embo -
to nas tendências observadas; ver Figura 13.9). ra os result ados apresentados na Figura 13.18
Com base na discussão anterior , isso reflete, sejam para a média de mú ltiplos modelos, a
em grande parte, a perda da cobertura de gelo amplificação do Ártico é uma característica de
marinho no Ártico. Na maior parte do ano, o todos os modelos. Observe que o aquecimen-
gelo marinho atua de maneira a isolar o Oceano to projetado para a Antártica não é tão grande.
Ártico relativamente quente de uma atmosfera Isso manifesta a natureza diferente da circula-
muito mais fria. Todavia, à medida que o clima ção oceânica nas altas latitudes meridionais. No
aquece, a estação de derretimento de verão se Ártico, a porção superior do oceano tem estra-
prolonga e se intensifica, levando a menos gelo tificação muito estável, de modo que o calor que
marinho no final do verão. A absorção de ra - o oceano adquire no verão permanece perto da
diação solar aumenta durante o verão em áreas superfície para ajudar a derreter o gelo marinho
de mar aberto, elevando o conteúdo de calor da (e retardar o crescimento do gelo no outono). Já
camada de mis tura oceânica. A formação de o calor absorvido na superfície oceânica nas al-
gelo marinho no outono é postergada, e o gelo tas latitudes meridionais se mistura rapidamen -
produzido é mais fmo do que antes. Isso resul - te em níveis oceânicos mais profundos. Outro
ta em grandes fluxos de calor do oceano para aspecto interessante da Figura 13.18 é que, de -
a atmosfera durante o outono e o inverno. A vido à grande inércia térmica do oceano , existe
estação mais longa livre de neve sobre a terra um padrão geral de menos aquecimento sobre
(indicando maior absorção de radiação solar e, o oceano do que sobre a terra . Finalmente, ob -
assim, mais aquecimen to da atmosfera inferior ) serve a região distinta de menos aquecimento
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 459

sobre o Atlântico Norte setentrional nas pro - bal. Devido às mudanças previstas na estrutura
jeções para 2046-2065 e (de forma ainda mais vertical da temperatura (com o aquecimento
clara) para 2080-2099. Isso manifesta a redução da superfície da Terra e da troposfera acompa -
projetada do transporte de calor oceânico em nhado por resfriamento da estratosfera, como
direção ao polo por meio da Célula Meridional resultado do processo de atingir o equilíbrio
do Atlântico (Atlantic Meridional Overturni ng rad iativo) e à forte assimetria horizonta l nos
Circulation). padrões de aquecimento, conforme a Figura
13.18, as alterações na circu lação atmosférica
não representam uma surpresa . Como exemplo
F MUDANÇAS PROJETADASEM dessa complexidade, a Figura 13.19 sintetiza as
OUTROS COMPONENTESDO mudanças projetadas na temperatura do ar, na
SISTEMA precipitação e na pressão ao nível do mar para
1 Ciclo hidrológico e circulação o período de 20 anos de 2080-2099, em relação
atmosférica a 1980-1999, para o cenário de emissões AlB.
São apresentados resultados para o inverno e
As mudanças previstas no ciclo hidrológico o verão. O padrão é complexo. Espera -se que
no decorrer do século XXI devem considerar a precipitação aumente nas latitudes altas e ao
as interações complexas entre os aumentos na longo da ZCIT (indica .ndo uma convergência
temperatura superficial e troposférica que afe- mais forte no fluxo de umidade ), e que diminua
tam as taxas de evaporação e a capacidade da sobre a maioria das regiões subtropica is conti -
atmosfera de reter calor, alterações na fase da nentais e os oceanos circundantes . A pressão ao
precipitação (neve ou chuva), mudanças nos nível do mar deve cair nas latitudes altas, com
padrões de convec-Çãoatmosférica e modifica- aumentos compensatórios em partes das lati-
ções na circulação da escala sinótica para glo- tudes médias e dos subtrópicos, onde as quan -

Temperatura A18 : 2080-2099 DJF

• • • •• • fl!
00 .51 1,S 2 2,5 3 3,5 4 4,,!, 5 5,.SGG,5 7 7,5
("C) •••••••••
-0, 8 -0 ,6 - 0,4 -0. 2 O 0,2 0,4 0,6 0,8
(mm dia ')
4 ~ -2 ~ O 1 2 3 4
(hPa)

Tem eratura A18: 2080-2099 JJA Precipitação A18 : 2080-2099 JJA Pressão NM A1B: 2080-2099 JJA

••••••111
OU 11,522,533A44 ~ 5~566,S7~
("C)
-0, 8 --0,6 - 0,4 -0 ,2 O 0,2 0,4 0,6 0,8
(mm dia ')
4 -s -2 _, O 1 2 3 4
(',Pa)

Figura 13.19 Mudanças projetados na tempera tura do ar (NM), prec ipitação e pressão ao nfvel do mor, re-
lativos ao período 1980- 1999, paro o período de 20 anos de 2080-2099. São apresen tados resultados paro o
verão e o inverno, usando o cenório de emissões Al B, baseado em mode los do clima global que part ic iparam
do Quarto Relatório de Avaliação do IPCC . Os mapas represen tam o méd ia de mú ltiplos modelos .
Fonfe : IPCC (2007 ). Reprod uzido com pe rmissão de IPCC (eh. 10, G loba l climate pro jections, Report of WGl l , IPCC, p. 767,
fig . 10.9).
460 Atm osfera, Tempo e Clima

tidades de precipitação devem diminuir. Isso e o tamanho das bacias oceânicas, e os efeitos
baseia -se no fato de que a alta pressão na super - da erosão, que lentamente as preenchem com
fície tende a ser acompanhada por movimento sedimen tos. Avançando para escalas de milha -
descendente do ar e por divergência em níveis res a dezenas de milhares de anos, sabemos que,
baixos , o que é desfavorável à condensação. após o Último Máximo Glacial, o nível do mar
O quadro geral de evolução das condições aumen tou rapidamen te à medida que os gran -
ao longo do século XXI, com base nos modelos des mantos de gelo da América do Norte e da
do IPCC e resultados de outros estudos , é: Europa Setentrional derre teram. Há 6000 anos,
por volta do Máximo Térmico do Holoceno, o
1 um ciclo hidrológico global mais vigoroso;
nível do mar havia subido por volta de 120 m
2 secas e/ou enchentes mais severas em al-
em relação à menor posição glacial. O nível
guns locais e menos severas em outros;
do mar estabilizou -se ao redor de 2000 -3000
3 um aumento nas intensidades da precipita -
anos atrás, e não mudou significa t ivamente até
ção, possivelmente com chuvas extremas;
o fmal do século XIX, quando, à medida que
4 efeitos hidrológicos maiores das mudanças
o clima aquec ia, começou a sub ir lentamen te.
climáticas em áreas secas do que em áreas Com base no Quarto Relatório de Avaliação do
úmidas; IPCC, a melhor estimativa é que o nível do mar
5 um aumento geral na evaporação; tenha aumentado em torno de 1,7 mm a - /ano
1

6 um aumento na variabilidade das descargas ao longo do século XX, mas ma is rapidamente


dos rios junto com a elevação na pluviosi - nas últimas décadas. Dados de altime tria por
da.de; satélite apontam um valor em torno de 3 mm
7 uma antecipação no escoamento máximo 1
a - / ano desde 1993.
causado pelo derretimento de neve na pri - As principais contr ibuições para o aumen -
mavera, à medida que a temperatura au- to no nível do mar para o período 1961-2003 e
menta; de 1993 -2003, baseadas em estimativas dispo -
8 declínios maiores nos níveis da água em la- níveis compiladas para o Quarto Relatório de
gos em regiões secas devido à evaporação Avaliação do IPCC, são sintetizadas na Figura
elevada; e 13.20, incluindo:
9 ciclones tropicais mais intensos (ainda con -
troverso neste momento). 1 A expansão térmica das águas oceânicas.
O oceano superior aqueceu, e a água mais
Observe que as projeções de mudanças no quente ocupa um volume maior por unida -
ciclo hidrológico e na circulação atmosfér ica de de massa do que a água fria.
são especialmente incertas na escala regional 2 O derretimento de geleiras e campos de
e nas escalas importantes para as questões hu - gelo, que tem transferido água do estoque
manas. Os impactos hidrológicos das mudan- terrestre para o oceano.
ças climáticas podem ser maiores em regiões 3 A perda de massa dos mantos de gelo da
que atualmente são áridas ou semiáridas, im - Groenlândia e Antártica, também transfe -
plicando que os eventos mais severos de esco - rindo água do con tinente para o oceano.
amento superficial devem exacerbar a erosão Para o manto de gelo da Groenlândia , isso
do solo. inclui con t ribuições do escoamento super-
ficial de água líquida e o processo de des-
2 O nível do mar prendimento de icebergs (calving). Para a
Antártica, predomina o desprendimento.
Os mecanismos que influenc iam o n ível do mar
globalmente são complexos e atuam em um am - Todas as componen tes individuais são
plo espectro de escalas tempora is. Em escalas de maiores no segundo período , especialmente a
milhões de anos, devemos considerar questões, expansão térmica (0,42 m a - Lpara 1961-2003,
como a tectônica de placas , que alteram a forma versus 1,6 ma - t/ano para 1993-2003 ), que é a
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 461

1
Expansão térmic a
1

Geleiras e mantos de gelo

Groenlândia

Antárt ica

Soma
1
1
Observaçõ es

Diferença (obs-soma)

- 1,0 -0, 5 0,0 05 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
'
Taxa de aumento no nível do mar (mm a- 1)

Figura 13.20 Estimativa s dos con tr ib uiçõ es poro os a lterações no nível do mor poro o per íodo 1961 -2003
(azul) e 1993 -2003 (marrom). Também são aprese ntados, paro cada período, o soma das compo nen tes indivi -
duais, a variação observada no nível do mor e o d if erenço e ntre os somos e as observações . As bo rras represen -
tam o faixo de erro d e 90% .
Fonte : IPCC (2007 ). Com p ermissão do IPCC (eh. 4, Obse rvot ions ; Ocean ic climate chonge a nd sea leve i, Report of WG l 1,
IPCC, p. 4 19, fig. 5.21).

maior contribuição no período final . Para os A Figura 13.21 mostra a série temporal do
dois per íodos , o aumento observado no nível nível do mar no passado e projetada ao longo
do mar excede a mudança avaliada a par t ir do século XXI a partir dos modelos do IPCC,
da adição de estimativas para as componentes usando o cenário de emissões AlB. Com rela-
individuais. As causas dessa discrepância ain - ção à média de 1989- 1999 (a linha zero no eixo
da devem ser determinadas. Os efeitos do re- y), espera -se que o nível do mar tenha subido
presamento de água pelo homem não servem 200 a 500 mm até o ano 2100 . Restam mu itas
como explicação, pois eles têm um impacto incertezas, principalmente o comportamen to
negativo no nível do mar . Note que as observa - dos man tos de gelo . Pesquisas recentes suge-
ções e estima tivas para diferentes componentes rem que a estimativa do IPCC para a elevação
contêm uma incerteza substancial. As dificul - no nível do mar é baixa demais , pois não foram
dades para estimar a magnitude da expansão considerados os efeitos das mudanças na dinâ-
térmica incluem a falta de conhecimento sobre mica do gelo na Groenlândia e na Ant ártica ,
as mudanças na temperatura do oceano pro - que levam a um desprendimento acelerado de
fundo e os efeitos das circulações oceânicas. A icebergs. Existe uma possibilidade ainda pouco
incertez a nas contribuições do gelo mar inho compreendida de que um aumen to no nível do
compreende dúvidas quan to ao acúmulo (pela mar possa fazer o man to de gelo da Ant ártica
queda de neve ) e à espessura do gelo na linha Ocidenta l flutuar e derreter t otalmente (não
de aterramen to sobre a qual as plataformas de apenas nas bordas, como no passado ) e causar
gelo flutuam. um aumento ainda mais catastrófico no n ível
462 Atm osfera, Tempo e Clim a

500 1
Estimat ivas 1 Registro instrumental Projeções
do passado 1 para o futuro
400 1

-E
1
1

-E
a..
<'ti
300 1
1
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o 100 1
e
ctl 1
o,.
fij 1
'O
::, o 1
~ 1
1
-1 00

-200

1800 1850 1900 1950 2000 2050 2100


Ano

Figura 13.21 Séries temporais do nível médio do ma r, expressas como anomal ias relativos aos anos 1980-
1999, para o período antes dos registros instrumen tais (sombreamen to cinza, designa ndo uma incerteza apro-
ximada no taxa estimada de longo prazo para o mudança no nível do ma r), durante o registro instrumental e
projetadas ao longo do século XXI. O sombreamento vermelho representa resultados de morégrafos e a linha
verde baseia-se em altimetr ia por satélit e. As projeções são de modelos que participaram do Quarto Relatório
de Avaliação do IPCC com o cenório de emissões Al B; o sombre amento azul é o faixa de projeções do modelo.
IPCC (2007). Rep roduz ido com permissão de IPCC (e h. 5, Observotio ns: Oceon ic c limote c honge ond seo levei, Report
Fonte :
aí WGl 1, IPCC, p . 409, FAQ 5.1, fig. 1).

do mar, ainda . que espalhado a.o longo de várias como gelo marinho multianual, p ois sobreviveu
centenas de anos. a pelo menos uma estação de derretimento de
verão . Ele tende a ser mais espesso do que o gelo
3 Neve e gelo do primeiro ano , que é o gelo que se forma em
Os efeitos das mudanças climá ticas do século wna única estação. Parte do gelo marinho mul -
XX sobre a cobertura global d.e neve e gelo são tianual do Ártico pode ter um a década de ida -
visíveis de várias ma n eiras, mas as respostas de. O gelo marinho se forma e derrete em res-
diferem amplamente, como resultado dos di - posta aos balanços de calor na par te superior e
versos fatores e escalas temporais envolvidos. infer ior da cobertura de gelo. No Ártico, o gelo
A cobertura de neve é essencialmente sazonal, também é transportado cons t anteme nte para
relacionada com os níve is de precipit ação em o Atlântico Norte pelos ventos e pelas corren-
sistemas de tempes tades e a temperatura. O gelo tes oceânicas. A maior parte dessa expor t ação
marinho também é um aspecto sazonal. presen - ocorre na forma de gelo marinho multianual
t e ao redor de grande parte do cont inente An- mais espe sso. O gelo das geleiras acumula -se
t ártico (ver Figura 10.35A), mas o Oceano Árti - a partir do balanço líquido de acumulação de
co mantém wna parte da sua cobertura de gelo neve e derretimento de verão (ablação ), mas o
marinho no decorrer do ano . Isso é conhecido fluxo das geleiras tran sporta gelo para a porção
CAPÍTULO 13 Muda nças climáticas 463

terminal, onde pode derreter ou se liberar para avançando devido ao aumento na precipitação,
a água. Em pequenas geleiras , o gelo pode ter o padrão atual é de perda liquida de massa.
um tempo de residência de dezenas a centenas Sempre é possível encontrar geleiras em avanço,
de anos, mas em campos e mantos de gelo, esse mas o quadro geral é claro . As pro jeções para o
3 6
tempo aumenta para 10 -10 anos . ano de 2050 sugerem que um quarto da atual
Já discu timos a contribuição da Groenlân- massa de gelo do mundo pode desaparecer, com
dia, da An t ártica e do derretimento das gelei- consequências críticas e irreversíveis no longo
ras e calotas polares para o aumento recen te no prazo para os recursos hídricos em países mon -
nível do mar. Todavia, devemos ressaltar que o t anhosos.
recuo das geleiras e dos mantos de gelo é um fe- Ou t ro indicador claro das mudanças cli-
nômeno basicamente global (Figura 13.22). Isso máticas é o encolhimento do gelo marinho no
condiz com um clima em aquecimento, agindo Oceano Ártico (Pranchas 13.4 e 13.5). Ao lon -
para prolongar a estação de derretimento, com go dos registros de satélite , que começaram em
uma elevação correspondente na linha de neve. 1979, a extensão do gelo apresen ta significati-
Nos últimos 15-20 anos, o nível de congelamen - vas tendências de redução em todos os meses ,
to na troposfera subiu 100-150 m nos tróp icos, mas maiores em setembro (o final da estação
contribuindo para a rápida perda de gelo em de derretimento ), de aproximadamente 10%
geleiras equator iais na África Oriental e nos por década. O ritmo da perda de gelo no verão
A.ndes setentrionais. Enquanto há uma déca - parece ter ace lerado desde a virada do século
da algumas geleiras da Escandinávia estavam XXI. A Figura 13.23 representa graficamente a

5 ---~--------~-~ ~--------~----~ -1
A B
o -- - - ..... -1- 0 -
~
~


z
E
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tU - 1 O -t----t--- ~H-' ~ :---1-- ~ --t
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1/J
1/J
-- Europ a
~ -25 5 C'tl
-- Andes E
Q) (1)
"O -- Ártico 'O
8, -30 -+----1------1----l--- ~ ---l -- Montanh as elevadas da Ásia 8.
e e:
-tU
cu -- NW EUA + SW Can
Alasca+ montanhas costei,ras -1---+- 7
C'tl
ro
cn -35 -l--- -i- ---+---t--- ~.----- ~ co
-- Patagônia

1960 1970 1980 1990 2000 1960 1970 1980 1990 2000
Ano Ano

f[gura 13.22 Ba lanço de massa méd io ac umu lado (A) e ba lanço de massa tota l acum ulado (B) de geleiras
e campos de ge lo, ca lculados paro gran d es re g iões, com b a se nas anó lises de Dyurgeron e Meier (2 005). O
balanço de mossa médio mos tra a in tens idade da s mudanças clim ó ticas p a ra regiões d isti nt as. O balanço de
massa to ta l é a contribuição d e cada região pa ro a elevação no níve l do mar (N .M .M).
fo nte : IPCC (2007 ). Reprod uzido co m perm issão de IPCC (eh. 4, Obser vot ions : C honges in snow , ice ond frozen ground, Rep ort
o f WGl l, IPCC , p . 359 , fig. 4.15).
464 Atm osfera, Tempo e Clim a

extensão observada de gelo no mar Ártico para alterações causadas pelo vento na circulação do
setembro , ao longo de um registro expandido gelo marinho e na espessura do gelo, associadas
que cobre os anos de 1953 a 2006, junto com à Oscilação do Atlântico Norte e outros padrões
a extensão simulada para o período de 1900 a de variabilidade atmosférica e as alterações no
2100, a partir de uma composição de modelos transporte de calor oceânico foram implicados
do IPCC. As simulações empregam forçantes no recu o observado. A explicação alternativa
radiativas observadas ao longo do século XX e é que os modelos do IPCC, como grupo , não
o cenário de emissões A1B para o século XXI. são suficientes para representar a sensibilidade
Essencialmente , todos os modelos indicam que da cobertura de gelo marinho enquan to carga
a extensão do gelo marinho diminui ao longo de gases de efeito estufa. Os modelos do IPCC
do período de observação. Esse consenso é uma indicam que condições sem gelo marinho em
forte evidência para o pape l da carga de gases setembro podem se tornar realidade a qualquer
de efeito estufa no declínio observado. Toda- momento a partir do ano de 2050 e muito além
via, nenhuma das simulações para o período de de 2100 . Devido à discrepância entre as tendên -
1953-2006 produziu uma tendência de redução cias simuladas e observadas no período de so -
tão grande quanto a observada. Uma explica- brepo sição, as condições livres de gelo podem
ção é que a variabilidade natural no sistema ocorrer muito antes.
acoplado observado tem sido um fator impor- A extensão do gelo marinho antártico,
t ante. As mudanças na cobertura de nuvens, as que tem sido monitorada com precisão des -


Artico - Obs-ÇC>N • ·• 8CC R IICM:i.o
••·• CCClllA COCM3' •• • •• CCC!,1,t,COCM3,IITJII
CNRM CM~ OISS.tOM·
MIROC3.2 lllED11es•
- .. MPIl!CKAM&
NCAR CC!,MJ'
Ul<MOHe,clCMJ
••• • Deo'o'ic>-padrão
OQ çom pr1tr,tr,to

2,5
2,
Média móvel de 9 anos

' ico em setembro , o partir de observações (linha vermelho es-


Figura 13.23 Extensão de gelo marinho no Art
pessa, 1953 , 2006) e de 13 modelos que par t iciparam do Quar to Relatór io de Aval iação do IPCC, jun to com a
médio de múltiplos modelos (linho preto cont ínuo ) e o desv io-padrão {linho pre to trace jada). O deta lhe mos tr o
méd ios móveis de nove anos .
Fo n te : Stroeve et oi. (2007, Fig. 1). Cor tes ia de Ame ricon Geo ph ysicol Union .
CAPÍTULO 13 Mudanças climáticas 465

Prancha 13 .4 O mínimo reco rde do extensão do ge lo marinho ór ti co em sete mbro de 2 007, comparado com
o mfnimo anterior de 2005, mostrando o limi te médio de setembro para 1979- 2 007.
Fonte : NSIDC.

de 1979, na verdade, apresenta pequenas ten - aproximadamente 2,SºC nos últimos 50 anos
dências de aumento na maioria dos meses (ver também Figura 13.9). Um aspec t o inte-
( com base em dados até 2007). Embora talvez ressante da Península Antártica, que parece
pareça contraintuitivo , isso condiz até mes- relacionado com esse aquecimento , está nos
mo com as projeções da primeira geração de grandes eventos de desprendimentode icebergs
MCG, de uma resposta muito lenta e defasada que ocorreram durante os últimos 10- 15 anos
da Antártica à carga de gases de efeito estufa, ao longo de suas plataformas de gelo. Entre eles
em comparação com o Ártico . Lembre -se, de estão o desprendimen to da plataforma Wordie
uma discussão anterior (Seção 13E.2), da na - no lado oeste na década de 1980, da plataforma
tureza muito diferente da circulação oceânica setentrional Larsen no lado leste entre 1995 e
em altas latitudes meridionais, onde o influxo março de 2002 e da plataforma de gelo flutuan -
de calor para a superfície oceânica tende a se te Wilkins, em 2008 .
misturar rapidamente com os niveis mais pro- A extensã .o da cobertura de neve também
fundos do oceano. As pequenas tendências de mostra uma indicação clara de uma resposta às
aumento observadas parecem refletir a circu - tendências recentes da temperatura . A cobertu-
lação zonal persistente da atmosfera , a qual, ra de neve do Hemisfério Norte tem sido mape -
por várias décadas, tem caracterizado a região ada com imagens de satélite visíveis desde 1966.
ao redor do manto de gelo (um Modo Anular Comparada com a década de 1970 à metade
Meridional persistentemente positivo ). Isso da de 1980, a cober tura anual de neve reduziu
tem ajudado a manter a região fria. A exceção aproximadamente 10% desde 1988. A redução
notável é a Península Antártica, que aqueceu é acentuada na primavera, e está correlacionada
466 Atm osfera, Tempo e Clim a

,
Prancha 13.5 A Passagem N oroes te no Arquipélago Ar tice Canadense pra 1icamen te livre de ge lo marinho,
15 de setembro de 2 007 .
Fonte : http://e ar thobs ervoto ry.naso .gov/lOD T/view.php? id= 18964 .

com o aquec imento primaveril (Figura 13.24). aumento prolongado de apenas l ºC causaria
A extensão da neve no inverno apresenta pou - alterações consideráveis no crescimen to, na re-
ca ou nenhuma mudança . Entretanto, a queda generação e na extensão geográfica das espécies
anual de ne ve na América do No rte, ao nor te arbó reas. As espécies migram de forma lenta,
de SSºN, aumentou durante o período de 1950- mas, em um determinado ponto, amplas áreas
1990. Os cenários para a metade do século XXI florestadas podem mudar para novos tipos de
apontam um período mais curto c.om cobertura vegetação. Estima-se que 33% da área floresta -
de neve na América do No rte, com uma redu - da atual poder iam ser afetados , com até 65% da
ção de 70% sobre as Great Plains . Em áreas de zona boreal estando sujeitos às mudanças . As
montanha , as linhas de neve subirão 100-400 m, linhas de árvores de montanha parecem bastan-
dependendo da precipi tação. te resisten tes às flutuações climáticas. Contudo,
levan tamentos de esp écies de plantas em p icos
4 Vegetação nos Alpes europeus indicam uma migração as-
Espera -se que um aumento de aproximadamen - cendente de plantas alpinas, de 1-4 m po r déca-
te l OOOppmvna concentração de C0 2 promova da para o último século .
o crescimento da vegetação global, além do qual É provável que as florestas tropicais sejam
pode atingir um lim ite de saturação . Todavia, o mais afetadas pelo desma tamento antrópi co
desmatamento diminui a capac idade da bios - do que pe las mudanças climáticas . Todavia ,
fera de agir como sum idouro de carbono . Um as reduções na umidade do solo são prejudi -
CAPÍTULO 13 Muda nças climát icas 467

3.....-------------- --1 ,0
Coeficiente de correlação, r : -0, 61

Figura 13.24 Série tempora l da extensão anual de


neve e anomal ias de tempe ratura na superf ície con-
tinen tal. As anomal ias anuais são a soma das ano-
malias mensa is, na médio sob re a reg ião a norte de
20°N, po ro o ano hidrol6g ico da neve, de outubro a
setembro. A anomal ia de neve (em milhões de km 2)
est6 no eixo vertica l esque rdo, e a anomalia de tempe-
raturc (ºC), no eixo vertical direito. O g r6fico de borras
ind ica anomal ias de neve, e a linho fino, ano malias de
tempe ratu ra . O coeficie nte de corre lação, r, é - 0,6 1.
As curvas espessos represen tam valores médios pon -
derados para cinco anos . Os c61culos do cobertura de
neve baseiam-se nos mapas da cobert u ra de neve do
NOANNESDIS para 1967-2000 . Os c61culos do tem-
- Aoomaltas de teMperatura
peratura baseiam-se nos con juntos de dados de Jones;
- t,tédla ponderada ~ 5 anos para anomalias® 1"19'\·e anomalias com relação ao período de 1960-1990 .
- Média ponderada ae 5 anô!I pl!tll anomlfias õe ten'()!!f8tUra
-3,......._---.------..----,--~-~-......----+ -1, 0 Fo n te : D . Rob in son , Rutgers Un ivers it y, and A . Bom zai
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 {NOAA/ .OGP).

ciais em áreas hidrologicamente marginais . Atualmente, as áreas úmidas cobrem 4-6%


Na Amazônia, as previsões climáticas cor - da superfície do solo, tendo sido reduzidas pe -
roboram a ideia do aumento na convecção las atividades humanas em mais da metade ao
e, portanto, na pluviosidade em sua porção longo dos últimos 100 anos . As mudanças cli-
equatorial ocidental, onde a chuva presente máticas devem afetar as áreas úmidas, princi -
é mais abundante. Por causa dos aumentos palmente ao alterar seus regimes hidrológicos .
particularmente grandes na temperatura pro - Acredita -se que o leste da China, os Estados
jetados para as altas latitudes setentrionais, Unidos e a Europa meridional venham a sofrer
espera -se que as florestas boreais sejam bas - um declínio natural nas suas áreas úmidas du-
tante afetadas por seu avanço para o norte, rante este século, diminuindo o fluxo de meta-
para as regiões de tundra . Isso pode gerar no para a atmosfera.
mais aquecimento regional, graças ao albedo Espera-se que as terras secas sejam profun -
menor das florestas durante a estação de neve. damente afetadas pelas mudanças climáticas .
Prevê-se que as mudanças climáticas ao longo As áreas de campos secos (incluindo pastagens ,
do século XXI tenham menor efeito sobre as vegetação arbustiva, savanas, desertos quentes
florestas temperadas . O Ártico, em contrapar- e frios) ocupam 45% da superfície dos conti-
tida, já tem áreas de tundra sendo substitu.í- nentes, contendo um terço do total de carbono
das por vegetação arbustiva, uma tendência em seus biornas, e sustentam a metade do gado
que deve continuar. Existe um grande estoque e um sexto da população humana do mund .o.
de carbono aprisionado no permafrost . Uma Os campos em baixas latitudes são os que cor-
preocupação crescente é que, à medida que o rem maior risco, pois uma elevação na concen -
permafrost derreter, esse carbono possa ser tração de C0 2 (aumentando a razão carbono /
liberado para a atmosfera (seja como C0 2 ou nitrogênio) diminuiria o teor de nutrientes da
CH 4) , representando um forte feedback, que forragem e a maior frequência de eventos ex-
levará a mais aquecimento. tremos causaria degradação ambiental. É pro -
468 Atm osfera, Tempo e Clima

vável que a maioria dos desertos se torne mais pelos efeitos indiretos de aerossóis merece
quente, mas não significativamente mais úmi - particular atenção.
da. Qualquer aum ento na pluviosidade tenderá • A incorporação realis ta do ciclo do carbo -
a estar associado a uma intensidade maior das no e da dinâmica dos mantos de gelo nos
tempestades . Pode -se espe rar que as ma iores MCGAO.
velocidades dos ventos e a evaporação aumen - • Maio r compreensão dos processos de feed-
tem a erosão eólica, a capilaridade e a saliniza - back, notadamente aqueles que envolvem
ção de solos . A região central da Austrália é um nuvens, vapor de água, gelo marinho e o
dos poucos locais onde as condições desérticas ciclo de carbo no. Feedbacks envolvendo a
podem melhorar . cobertura de nuvem polar e a liberação de
Uma consequência impor t ant e do aque - carbono devido ao derretimento do perma -
cimento global será o aumento da dessecação frost merecem par ticular atenção.
e erosão do solo nas regiões semiáridas, nos • Novos aumentos na resolução de modelos
campos e nas savanas adjacentes aos desertos climáticos, de modo a representar melhor
do mundo . Isso deve acelerar a taxa de deser - os processos físicos de pequena escala (p.
tificação, que avança a 6 milhões de hectares ex., aqueles relacionados com as nuvens ).
por ano, devido , em parte , à elevada variabili - • Maior compreensão e mode lagem de pro -
dade da pluv iosidade e, em parte , a atividades cessos oceânicos e de interações oceano -
agrícolas humanas inadequadas, como o pas - -atmosfera que afetam o fluxo de calor na
tore io e cultivo intensivo excessivos. Estima -se superfície oceânica, da capacidade dos
que a dese rtificação tenha afetado quase 70% oceanos de absorver C0 2, especialmen te
do total de áreas secas do p laneta na década por processos bio lógicos, e de seu papel
de 1990. na absorção de calor que retarda a respos -
ta do sistema climático à forçante radia -
I

G POSFACIO tiva.
• Uma capacidade maior de distinguir ent re
Nossa capacidade de entender e projetar as as mudanças climáticas antropogênicas e a
mudanças climáticas aumen tou considera - variabilidade natural, especialmente pelo
velmente desde que o primeiro Relatório do uso de simulações em conjunto.
IPCC foi pub licado, em 1990, mas ainda res - Uma compreensão maio r do comporta -

tam muitos problemas e ince rtezas . Dentre as mento de limiares ( às vezes chamados de
necessidades principais estão (não em ordem "pon tos de inflexão"), pelos quais um clima
de importância) : em processo de aquecimento pode condi -
• O desenvolvimento de cenários mais re- cionar sistemas fundamentais, como man-
fin ados para as forçantes, com um en - tos de gelo, gelo marinho e o permafrost, a
tendimento mais completo dos impactos apresen tar decaimento rápido .
do crescimento econômico, do desmata - • A coleta sistemática e continuada de obser -
mento, das alterações no uso do solo, dos vações instrumentais, indiretas e por sen -
aerossóis de sulfato , dos aerossóis de car - sores remo tos de variáveis climáticas . Isso
bono gerados pela queima de biomassa e exige um comprometimen to de governos
dos gases-traço radiativos além do C0 2 (p. nacionais com a manutenção de redes de
ex., metano e ozônio) . O aperfeiçoamen to observação na superfície e sistemas de sen -
das estimativas de forçan tes representadas soriamento remoto via satélite .
CAPÍTULO 13 Muda nças climá ticas 469

A medida mais fundamental do estado clim6tico da Terra é o média global do temperatura do ar su-
perficial. Tal estado é influenciado por uma variedade de fatores forçantes climáticos, que atuam em
escalas temporais diversas. As variações clim6ticas em escalas temporais de milhões de anos podem
estar relacionadas com a tectônica de placas. Os grandes ciclos Glaciais e interglaciais que caracteri-
zaram os últimos 2 milhões de anos podem estar ligadas a periodicidades na órbita da Terra ao redor
do Sol, influenciando a distribuição sazonal da radiação solar sobre diferentes partes da superfície. A
elevação observada no média global da temperatura do ar superficial nos últimos 100 anos pode ser
atribuído principalmente o aumentos antropogênicos nas concentrações de dióxido de carbono e ou-
tros gases de efeito estufa na atmosfera, compensados em porte pelos efeitos de resfriamento da
carga de aerossóis. Esses efeitos são conhecidos como forçantes radiativas, no sentido de que alteram
o balanço do radiação médio global no topo da atmosfera. A variabilidade solar, outra forçante radia-
tiva, tem desempenhado um papel secundário desde a metade do século XX. O aumento geral na
temperatura média da superfície global nos últimos l 00 anos contém variações interanuais multidece-
nais, que refletem a variabilidade interna natural do sistema acoplado Terra-oceano-atmosfera, for-
çantes radiativas como grandes erupções vulc8nicas (p. ex., Monte Pinatubo).
A magnitude da resposta da temperatura global a uma forçante radiativa de determinada mag-
nitude, ou a um conjunto de forçantes co .mbinadas, depende dos feedbocksclim6ticos. Os feedbocks
positivos predominam e, assim, atuam de maneira a amplificar a resposta da temperatura a uma
forçante. Em termos de mudanças climáticas induzidas pelas atividades humanas, as mais importantes
são os feedbacksrópidos do vapor de ógua e albedo do gelo.
As projeções clim6ticas para o decorrer do século XXI, pressupondo uma variedade de cenários
de emissões para gases de efeito estufa e aerossóis, indicam uma elevação na temperatura médio
global na faixa de 2-4ºC até o ano 2100, com aumentos de 200-500 mm no nível do mar. Devido ao
rápido crescimento das concen trações de gases de efeito estufa nas últimos décadas, os efeitos da di-
nâmica dos mantos de gelo e outras incertezas no sistema, esses valores podem estar subestimados. O
'
Artice eventualmente seró livre de gelo marinho no verão. O aquecimento também pode vir acompa-
nhado pe lo encolhimento contínuo das geleiras, dos campos polares e do permafrost e por mudanças
no ciclo hidrológico, na circulação atmosférico e no vegetação .
A pesquiso crítica deve buscar uma compreensão maior dos feedbacksclimóticos, incluindo feed-
backs no ciclo de carbono, e do papel dos oceanos no absorção de calor e dióxido de carbono .

• Analise os números que mostram os séries temporais climáticos no Capitulo 13, em busca de evi-
dências de mudanças na média e variância, e considere onde ocorreram mudanças funciona is
gradua is e onde é possível detectar tendências.
• Quais são os diferentes fatores forçantes climáticos em atuação nas escalas temporais geológicos
e históricas?
• Quais são os principais vantagens e limitações dos diferentes tipos de registros indiretos do pa-
leoclima? Considere as vorióveis climáticos que podem ser inferidas e a resolução temporal das
informações .
• Quais são as principais razões das incertezas nas projeções do clima para o ano 2100?
• Quais são alguns dos impactos possíveis das mudanças climóticos proje tadas em suo região e país?
470 Atmosfera, Tempo e Clima

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Apêndice 1

ão e imática

O propósito de qualquer sistema de classifica- temperaturas mais altas aumentam a evapora-


ção é obter um arranjo eficiente de informa- ção. W. Kõppen desenvolveu o melhor exemplo
ções de forma simplificada e generalizada. As para essa classificação. Entre 1900 e 1936, ele
estatísticas climáticas podem ser organizadas criou vários esquemas de classificação, envol-
para descrever e delimitar os principais tipos de vendo uma considerável complexidade em seus
climas em ter mos quantitativos. Obviamente, detalhes. O sistema tem sido usado no ensino
qualquer classificação apenas servirá satisfato- de geografia. Os aspectos principais da aborda-
riamente a alguns propósitos e, portanto, foram gem de Kõppen são critérios de temperatura e
desenvolvidos diversos esquemas . Muitas clas- de aridez .
sificações climáticas preocupam-se com as re-
lações entre o clima e a vegetação ou os solos, e Critérios de temperatura
pouquíssimas tentam abordar os efeitos diretos Cinco dos seis principais tipos climáticos ba-
do clima sobre os seres humanos. seiam-se em valores da temperatura média
Somente os princípios básicos dos quatro me.nsal.
grupos dos sistemas de classificação mais co-
nhecidos são apresentados aqui. Outras infor- 1 Clima tropical pluvial : mês mais frio> 18ºC
mações são encontradas nas referências listadas . 2 Climas secos
3 Climas pluviais com temperaturas quentes:
mês mais frio entre -3º e +18ºC, mês mais
A CLASSIFICAÇÕES GENÉRICAS quente >lOºC
RELACIONADAS COM O 4 Climas frios de floresta boreal : mês mais
CRESCIMENTO DE PLANTAS OU frio <-3ºC, mês mais quente> lOºC. Obser-
VEGETAÇAO - ve que muitos trabalhadores norte-ameri-
Diversos esquemas foram sugeridos para rela- canos usam uma versão modificada, tendo
cionar os limites climáticos ao crescimento de OºC como limite C/D
5 Clima de tundra : mês mais quente 0-1 OºC
plantas ou grupos vegetais, baseados em dois
critérios - o grau de aridez e o grau de calor. 6 Clima de manto de gelo: mês mais quente
<OºC
A aridez não é apenas questão de baixa
precipitação, mas de «precipitação efetiva» (ou Os limites arbitrários da temperatura ad-
seja, precipitação menos evaporação). A ra- vêm de uma variedade de critérios, como a
zão pluviosidade/temperatura é usada como correlação da isotenna de l OºC no verão com
um índice da efetividade da precipitação, pois o limite de crescimento de árvores em direção
474 Apê ndice 1

ao polo; a importância da isoterma de 18ºC no orografia mostram que , de fato, a orientação


inverno para certas plantas tropicais; e a indica - das zonas climáticas BS/BW para os polos a
ção de algumas semanas de cobertura de neve partir da Costa Oeste e em direção ao interior
pela isoterma de - 3º C. Todavia, essas correla - é det erminada principalmente pelas cordilhei-
ções estão longe de serem precisas! De Candol - ras ocidentais. Ela não seria encontrada em um
le determinou os critér ios em 1874, a partir do continente de elevação baixa e uniforme.
estudo de grupos vegetais definidos com base Uma nova análise de dados sobre o clima
fisiológica (segundo as funções internas dos ór- mundial foi usada por Peel et ai. (2007) para
gãos das plantas). mapear a distribuição dos tipos climá ticos de
Kõppen -Geiger para cada continen te e o mun-
Critérios de aridez do. As áreas de terra cobertas pelas principais
Os critérios implicam que, com a precipitação classes são as seguintes: árida (B) 30,2 %; fria
de inverno, ocorrem condições áridas (deserto ) (D) 24,6%; tropical (A) 19,0%; temperada (C)
onde r/ T < 1, e condições semiáridas onde 1 < r/ 13,4%; e polar (E) 12,8%.
T <2. Se a chuva cai no verão, é necessária uma A classificação climát ica de Kõppen é útil
quantidade maior para compensar a evaporação para avaliar a precisão de MCGs na simulação
e manter uma precip itação efetiva equivalente . dos padrões climáticos atuais, servindo como
As subdivisões de cada categoria são feitas um índice convenien te das mudanças climát i-
com referência, primeiramente, à distribuição cas recentes e para os cenários climáticos pro-
sazonal da precipi tação. As mais comuns são: f jetados para uma duplicação da concentração
= sem estação seca ; m = monçônica, com uma de co2.
estação seca curta e chuvas fortes durante o C. W. Thornthwaite propôs outra clas -
resto do ano; s = estação seca de verão; w = es- sificação empírica em 1931. Uma expressão
tação seca de inverno. Em segundo lugar , exis- para a eficiência da precipitação foi obtida ao
tem outros critérios de temperatura baseados relacionar medidas da evaporação de tanque
na sazonalidade. São reconhecidos 27 sub tipos, com a temperatura e a precipitação. O segun -
23 dos quais ocorrem na Ásia. Os 1Oprincipais do elemento da classificação é um índice da
tipos de Kõppen têm regimes distintos para o eficiência térmica, expressa pelo afastamento
balanço de energia anual , conforme ilustra a Fi- positivo das temperaturas médias mensais
gura A l .1. em relação ao ponto de conge lamento . A dis -
A Figura Al.2A ilustra a distribuição dos tribuição para essas províncias climáticas na
principais tipos climáticos de Kõppen em um América do Norte e no mundo foi publicada,
continen te hipoté t ico de elevação baixa e uni - mas, hoje, a classificação tem interesse princi -
forme. Experimentos usando MCGs com e sem palmente hist órico.

Tabela A 1.1 Classi ficação climótica de Thorn thwoite

PE

lm (sistema de 1955)* cm pol Tipo cllmótlco

>100 Perúmido (A) >114 >4 4,9 Megotérmico (A')


,
20 o 100 Umido (8 1 o 8 4 ) 57 o 114 22,4 a 44,9 Mesotérm ico (8' 1 o 8' 4 )
O a 20 Subúmido úmido (C2) 28,5 a 57 11,2 a 22,4 M icrotérmico (C' 1 o C' 2 )
- 330 o Subúmido seco {C1) 14,2 a 28,5 5,6011,2 Tundra (D')
- 67 o - 33 Semiórido (D) <14,2 <5,6 Congelado (E')
- 100 a - 67 ' ido (E)
Ar

Obs .: ª lm = 100($ - D)/PE equ ivale o lOO(r/PE - 1), onde : r = precipit ação anua l (cm); T =temperatura médio anual (ºC);
PE = evopotronspi roção potencial.
Apêndice 1 475

TroplcaJúmldo (Af) (1) Tropical úmido/seco (Aw) (5)


, ,o 1,0 Rn
Rn

LE LE
0,5 0,5

H
H
00,
º·º

Estepe, quente (BSh) (3) Estepe, frio (BSk} (9)


, ,o Rn 1,0

LE
0,5

0,0 0,0
.~
O)
m
e
Q)
Árido (BW) (3-4) Temperado quente, pluvial (Cf) (6-7}
Q)
"C
,.o 1,0
Rn

-~
H

-
o 0,5
"C
0,5
LE

m H
>
·-1ü LE

...
-m
Q)
0,0 0,0

"C
cu
"C
·-u, Temperado quente. verão seco (Cs) (8) Temperado quente, inverno seco (Cw) (6)
e 1,0 1,0 Rn
~
LE

0,5 0,5
H

0,0 0,0

Invernos frios e úmldos (Df) (10-11) Invernos frios e secos (Dw) (10-11)
1,0 1,0

LE
0,5 0,5

Inverno Verão Inverno Inverno Verão Inverno

Figura Al .1 Ba lanços de energ ia anuais carac terísticos poro 1O tipos climóticos (soo mostrados os símbolos
de Kõppen e os números de clossificoçóo de Strohler }. A ordenado apresento a densidade do fluxo de energ ia,
normal izado com a rod iaçóo líquida m6x imo mensal para todos os comprimentos de onda (Rn), normalizada
com os valores mensais máximos como unidade. Os intervalos da absc issa indic am os meses do ano, com o
= =
verão no centro. H fluxo turbu lento de calor sensíve l, LE flu xo tu rbu lento de calor latente paro a a tmosfera.
fonte : Kraus e Alkha laí (1995 ). Copy rig ht © Jo h n Wiley & So ns Ltd . Reprod uzido com perm issão .
476 Apêndice 1

1 ---===~~:e::::
::;:::::
::---- ------::::::::====---=::::::::::::-------,ao 0
N
SOªN
Tw OºC
1 :e
1
- - - - - slJ6
~~- .......
f:O!êit
Zona ',
v. boreal ',
60°
60º~ --
enrasd '-.
D e oeste
BS D de latlt
Udes ,
rr,8 dias
40º I"'"-\- e<fteirãneo 40º
'
Cs '\
e
1,po rn ,
SúP~o?
\ca\·.1,on8.
~~l\~s~iO-:.;.S
a e t"__;. -----..:::~
Te"' 1BºC seC
20" ,_______. Tropical:
I chuvas de verão
Aw /
/

------ -
Mês mais seco = 6 cm - .,,,,
Ventos equatoriais
de oeste
Af (Am)
Trop ical:
....... chuvas de verão
20º Aw 20º
"\
Zona seca
e Alís ios
40" 40º

60ºS ~(::__:
A~)_____ .:::::::
:________ __J ~(:.=_B
~)_____ .:::::::
:________ __J60ºS

Figura A 1.2 (A): distribu ição dos principais tipos climóticos de Kõppen em um conti ne nte hi potét ico de eleva-
ção baixo e uniforme. Tw = tempera t ura médio do mês mais quen te, Te = temp eratura médio do mês mais frio;
(B): distribuição de tipos climóticos de Flohn em um co ntin ente hi poté tico de elevação ba ixa e uniforme.
Fonte : Flo hn (1950) . Copyright @ Erdkunde . Publicado com perm issão .

B CLASSIFICAÇÕES DO BALANÇO Im = l OO(S- D)/PE.


DE ENERGIA E UMIDADE
Isso permite o armazenamento variável de
A contribuição mais importante de Tho rn- umidade no solo conforme a cobe rtura vegetal
thwaite foi a sua classificação de 1948, baseada e o tipo de solo, e poss ibilita que a taxa de eva-
no conceito de evapotranspiração potencial poração varie com o teor verdadeiro de umida-
e no balanço de umidade (ver Capítulos 4C e de no solo. O balanço médio de água é calcula -
10B.3c). A evapotranspiração potencial (PE) é do por meio de um procedimento contábil. Os
calculada a partir da temperatura média mensal valores médios para as seguintes variáveis são
(em ºC), com correções para a duração do dia. determinados para cada mês: PE, evapotranspi -
Para um mês de 30 dias (dias de 12 horas) : ração potencial, precipi tação menos PE; e Ws,
armazenamento de água no solo (um valor con-
PE (em cm)= l,6(10t /J)ª
siderado adequado para aquele tipo de solo, na
onde: I = soma para 12 meses de (t/5) '
1 514

capacidade de campo) . Ws é reduzido à medida


a= uma função mais complexa de I.
que o solo seca (DWs ). AE é a evapotranspira -
Existem tabelas preparadas para facilitar o cál- ção real . Existem dois casos: AE = PE, quando
culo desses fatores . Ws está na capacidade de campo , ou (P - PE)
O superávit (S) ou défic it (D) mensal de >0; de outra forma, AE = P + DWs. O déficit
água é determinado a partir de uma avaliação mensal de umidade , D, ou o superávit, S, é de-
do balanço de umidade, conside rando a umida- terminado a partir de D = (PE - AE), ou S = (P
de armazenada no solo (Thornthwaite e Mather - PE) >0, quando Ws < capac idade de campo .
1955; Mather 1985). Um índice de umidade Os déficits ou superávits mensais são transpor-
(Im) é fornecido por : t ados para o mês subsequente .
Apênd ice 1 477

Um aspecto novo do sistema é que a efi- o calor necessário para evapo rar a precipitação
ciência térmica é derivada do valor de PE, que é média anual (Lr). Essa razão Ro/ Lr (onde L =
função da temperatura. Os tipos climáticos de- calor latente de evaporação) se chama índice ra-
finidos por esses dois fator es são mostra .dos na diativo de secura. Ele tem um valor abaixo da
TabelaAl .l ; ambos os elementos são subdividi - unidade em áreas úmidas e acima da unidade
dos conforme a estação de déficit ou superávit em áreas secas. Os valores -limi te de Ro/ Lr são :
de umidade e a concentração sazonal da eficiên - deserto (>3,0); semideserto (2,0 -3,0); estepe
cia térmica . Uma . classificação de Thornthwaite (1,0-2,0); floresta (0,33 - 1,0); tundra ( <0,33).
revisada é proposta por J. Feddema (2005). Em comparação com o índice de Thornthwaite
O sistema foi aplicado a muitas regiões, mas revisado (Im = lOO(r/ PE-1 )), observe que Im =
ainda não foi publicado um mapa -múndi . Ao lOO(Lr/Ro - 1) se todo o saldo de radiação for
contrário da abordagem de Kõppen, os limites usado para evaporação de uma superfície úm i-
da vegetação não são usados para determina r da (não há transferência de energia para o solo
os limites climáticos. Na região leste da Améri- por condução ou para o ar como calor sensível).
ca do Norte, os limi tes da vegetação coincidem Existe um mapa -múndi geral para Ro/Lr, mas
razoavelmente com os padrões de PE, mas, em poucas med ições do saldo de radiação sobre
áreas tropicais e semiár idas , o método é menos grandes partes da Terra .
satisfatório . Mudanças nos limites climáticos , Terjung e Louie (1972) usaram os fluxos
conforme a classificação de Thornthwa ite, fo- de energia para categorizar a magni tude das
ram avaliadas para os últimos 111 anos para os entradas (saldo de radiação e advecção ) e saí-
Estados Unidos (Grundstein , 2008). das (calor sensível e calor latente ) de ene rgia, e
M. I. Budyko desenvolveu uma abordagem sua variação sazonal . Com base nisso , 62 tipos
mais fundamental usando o saldo de radiação climát icos foram diferenciados (em seis grupos
em vez da temperatura (ver Capítulo 4A) . Ele amplos ), e um mapa -múndi foi construído .
relac ionou o saldo de radiação disponível para Smith et al. (2002 ) dete rminaram os critérios
evaporação de uma superfíc ie úmida (Ro) com de saldo de radiação de ondas curtas e de ondas

Tabela A 1.2 Critérios d o balanço de radiação para os pr incipais tipos cl imóticos (a partir de Smith et oi.,
2002). Unidades em W m -2

Variaç ã o an ua l de
Tipo cllmótlco Ondas curtas ano Ondas longas ano ondas curta s

CONT INENTE
Tropica l: >140 <70 <100
,
Umido >140 <50 <100
,
Umido/seco >140 >50 <100
Deserto >90
Estepe 70< LN<90
Subtrop ica l >140 <70 >100
Temperado 100< SN<140 <70
Boreal 50 < SN<lOO <70
Pola r O< SN <50 <50
OCEANOS
Trop ical >210 <140
Convergênc ia e strotus 170 < SN <210 <140
Subtrop ica l >150 >140
Temperado 80 < SN < 150
Pola r O< SN <80
478 Apê ndice 1

longas para uma classificação climática com tipos em um continente hipotético . Existe uma
nove t ipos globais, semelhante à de Kõppen, concordância aproximada entre esses t ipos e os
desenvolvida por Trewartha e Horn (1980 ). A do esquema de Kõppen. Observe que o subti -
Tabela Al .2 sintetiza seus critérios. po boreal está restrito ao Hemisfério Norte e
W Laue r et al. ( 1996) prepararam uma que as zonas subtropicais não ocorrem no lado
nova classificação e um mapa-múndi de tipos orient al de uma massa de terra . A abordagem
climáticos com base em patamares té rmicos e de Flohn tem valor como um modelo introdu -
hígricos para a vegetação natural e plantações. tório de ensino.
Os limites das quatro zonas primárias (tropi - A. N . Strahler (1969) propôs uma classi-
cal, subtropical , lat itudes médias e regiões po - ficação genética simples , mas eficaz, para os
lares) são determinados a partir de um índice climas mundiais, com base nos mecanismos
de radiação (duração de horas diárias com luz planetários fundamentais. Após uma divisão
solar) . Os tipos climáticos baseiam -se em um tripartite por latitude (baixa, méd ia e alta ), as
índice térmico (somas das temperaturas) e um regiões são agrupadas segundo a influência re-
índice de umidade, que leva em conta a dife - lativa da ZCIT, das células subtropicais de alta
rença entre a precip it ação mensal e a evapora - pressão, das tempes tades ciclônicas, das zonas
ção potencial . frontais de altas latitudes, e áreas -fonte de ar po-
lar/ ártico. Isso gera 14 classes e uma categoria
C
- ,
CLASSIFICAÇAO GENETICA separada de climas de montanha . Sucintamen te,
elas são as seguintes:
A base genética dos climas de grande (macro )
escala é a circulação atmosférica, que pode estar 1 Climas de baixas latitudes controlados por
relacionada com a climatologia regional em ter - massas de ar equator iais e tropica is.
mos de regimes de vento ou massas de ar. • Clima equatorial úmido (lOºN-lOºS;
H. Flohn propôs um sistema em 1950. As Ásia 10ºS-20ºN) - massas de ar equa -
principais categorias baseiam -se nos cinturões t orial e mT convergentes produzem
globais de ventos e na sazonalidade da precipi - fortes chuvas convectivas ; temperatura
tação, conforme a seguir: uniforme.
• Clima litorâneo de ventos Alísios (10º-
1 Zona equatorial de ventos de oeste: cons- 25ºN e S) - ventos Alísios com Sol alto
tantemente úmida alternam -se sazonalmente com a alta
2 Zona tropical, Alísios de inverno: chuvas pressão subtropical; forte sazonalidade
deverão da pluvios idade, temperaturas altas.
3 Zona subtropical seca (Alís ios, ou alta • Deserto e estepes tropicais (15º-3 SºN
pressão subtropical) : predominam condi - e S) - predominância da alta pressão
ções secas subtrop ical gera baixa pluviosidade e
4 Zona subtropica l de chuvas de inverno temperaturas máximas elevadas com
(tipo mediterrâneo) : chuvas de inverno
variação anual moderada .
5 Zona extratropical de ventos de oeste : pre- • Clima desértico da Costa Oeste (15º-
cipitação ao longo do ano
30º N e S) - predom inância da alta
6 Zona subpolar : precipi t ação limitada ao
pressão sub t ropical . Os mares frios
longo do ano
mantêm a pluviosidade baixa com ne-
6a Boreal , subtipo continental : chuvas de ve-
blina e uma pequena variação anual na
rão, neve limitada no inverno
temperatura .
7 Zona polar : precipitação escassa; chuvas de
• Clima tropical úmido -seco (5º- lS ºN e
verão, neve no começo do inverno
S) - estação úmida com Sol alto, esta -
A temperatura não aparece no esquema . ção seca com Sol baixo; pequena varia-
A Figura Al .2B mostra a distribuição desses ção na temperatura anual.
Apênd ice 1 479

2 Climas de latitudes médias controlados por • Climas de mantos de gelo (Groen-


massas de ar tropicais e polares. lândia e Antártica ). Regiões -fonte de
• Clima subtropical úmido (20º- 25ºN e ar ártico e antártico. Gelo «perpétuo ·:
S) - ar mT úmido com Sol alto e ciclo- pouca precipitação de neve, exceto
nes com Sol baixo geram pluviosidade próximo à costa.
anual bem distribuída, com regime
4 Climas de montanha - de caráter lo caliza -
moderado de temperatura.
do e variado.
• Clima marítimo da Costa Oeste (40º -
60ºN e S) - costas voltadas para os ven-
tos de oeste com ciclones durante todo D CLASSIFICAÇÕES,
, DE CONFORTO
o ano. Nublado; pluviosidade bem dis- CLIMATICO
tribuída e máxima com Sol baixo.
O equilíbrio térmico do corpo é determinado
• Clima mediterrâneo (30º-45 ºN e S).
pela taxa metabólica, pe lo armaze .namento de
Verões quentes e secos, associados a
calor nos tecidos corporais , por trocas radiati-
altas subtropicais alternadas com ci-
vas e convec tivas com as adjacências e pela per -
clones de inverno que trazem chuva
da evaporativa de calor por meio do suor. Em
suficiente.
ambientes fechados, por volta de 60 % do calor
• Desertos e estepes continentais em la-
do corpo são perdidos por rad iação, e 25% por
titudes médias (35°-50-ºN e S). Ar cT
evaporação dos pulmões e da pele. Ao ar livre,
de verão alterna com ar cP de inverno.
uma quant idade adic ional de calor é perdida
Verões quen tes e invernos frios geram
por transferência convectiva decorren te do ven-
uma grande variação anual na tempe -
t o. O conforto humano depende principalmen -
ratura.
te da tempera tura do ar, da umidade relativa e
• Clima continen tal úmido (35º -60ºN).
da velocidade do vento (Buettner, 1962). Al -
Posições continentais centrais e orien-
guns índices de conforto foram desenvolvidos
tais . Ciclones frontais. Invernos frios )
para experimentos fisiológ icos em câmaras de
verões tépidos a muito quentes, grande
teste, incluindo medidas do estresse térmico e
variação anual na temperatura. Preci-
do windchill.
pitação bem distribuída.
O windchill descreve o efeito de resfria -
3 Climas de altas latitudes controlados por mento das baixas temperaturas e do ventoso-
massas de ar polares e árticas. bre a pe le exposta. A sensação térmica costuma
• Climas subárticos continen t ais (50º - ser expressa por uma temperatura equivalente
70ºN). Região -fonte do ar cP. Invernos de windchill. Por exemplo, um vento de 15 m
1
muito frios, verões frescos e curtos , va- s- l (54 km h - ) com uma temperatura do ar
riação extrema na temperatura anual. de -lO ºC tem um equivalente de -2S º C em
Precipitação ciclônica durante todo o windchill. Um windchill de - 30º C denota um
ano. risco elevado de ulceração e corresponde a uma
2
• Clima subártico marinho (S0º-60ºN e perda de calor de cerca de 1600 W m- • Foram
45º -60ºS). Dominado pela zona frontal propostos nomogramas para de t erminar o
ártica de inverno. Invernos frios e úmi - windchill, assim como outras fórmulas que in -
dos, verões frescos; pequena variação cluem o efeito prote t or das roupas.
na temperatura anual. O desconforto térmico é avaliado a partir
• Climas de tundra polar (norte de 55º- de medições da temperatura do ar e umida -
60ºN e sul de 60ºS) . Margens costeiras de relativa. O National Weather Service dos
árt icas dominadas por tempestades Estados Unidos usa um índice de Calor ba -
ciclônicas . Úmido e frio, u.m pouco seado em uma medida da temperatura apa-
moderado por influências marinhas rente desenvolvida por R G. Steadman para

no mverno. indivíduos com roupas normais. O valor da
480 Apêndice 1

temperatura aparente na sombra (TAPP) é de Feddemo, J. (2005) A revised Thornthwoite-type global cli-
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onde TA = tempe ratura ao meio-dia (ºC), e Flohn, H. (1957) Zur Frage der Einle ilung de r Klimazonen.
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vento (m s- 1) a 10 m. Nos Estados Unidos, são Western Austrol io Press , 120 -66 .
divulgados alertas sempre que a temperatura Gregory, S. (1954 ) Climot ic classification and climat ic
chonge. Erdkunde 8, 246-52.
aparente chega a 40,SºC por mais de três horas/
Grundstein, A. (2008), Assess ing climole chonge in lhe
dia em dois dias consecutivos. con tiguous United Stotes using a modified Thornthwai1e
Outra abordagem mede o isolamento tér- climote clossificat ion scheme. Prof. Geog. 60, 398-412.
mico proporcionado pelas roupas. Uma uni - Krous, H. and Alkholaf, A. {1995) Choracler islic surface
energy budgets for different climote types. lnternat. J.
dade ''elo" mantém uma pessoa sentada/em C/imotof. 15, 275-84.
repouso confortável em ambientes com 21ºC, loue ,, W., Rofiqpoor, M. D. and Frankenberg, P. (1996) Die
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Apêndice 1 481

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Apêndice 2


n1 a
es o istema
lnternaciona 1

As unidades básicas do SI são metro, quilogra- Para quantidadesde tempo:


ma, segundo (m, kg, s): Dia : IW m- 2 = 8,64J cm- 2d- L
=2,064c al cm - 2d - 1
1mm = 0,0393 7 pol 1 pol =2 5,4mm
Dia : lWm
-2
= 8,64 X 104J m- 2d- 1
lm =3,2808 pés 1 pé =0 ,3048m
= 2,592M J m- 3 (30d)- 1
Mês: lWm - 2
1km = 0,6214 milhas lmi = 1,6090km
= 61,9lcal cm-2 (30d)- 1
1kg = 2,2046 lb llb =0,4536kg
lm s- 1= 2,2400mi h- 1 lmi h- 1 -1 Ano: lWm - 2 = 31,536M Jm-2 a- 1
= 0,4460ms -2 - 1
2 2 2 2 = 753,4c al cm a
lm = 10,7640pés 1 pé =0 ,0929m
lkm 2 = 0,3861 mi 2 1 mi 2 = 0,5900km 2 Aceleração gravitacional (g) = 9,81m s-2
l º C = 1,8ºF lºF =0 ,SSSºC Calor latente de vaporização (288K) =
2,47 X 106 Jkg- 1
As conversõesde temperaturapodem ser deter -
minadas pela fórmula: Calor latente de fusão (273K) = 3,33 x 105Jkg- 1
T(ºC) T(º F) - 32 Distãncia Oislãnci a Ois!ãncia Alt itude: pressão Tempera lu ra
mm pois mm pés km milhas mmmb CCelsius º Fatvenheit
5 9 350 26
40 100
65 25
2 4,0
100 100 100 24
Unidades de densidade = kg m - 60
00
300 30
2 90 3.5 90 90 55 22 so
Unidades de pressão= N m- (=Pa ); 100 Pa 50
20 70
20
(= hPa ) = lmb 80
3,0
80
250
80 50
80
18
ro 70 70
.:s
Pressão ao nível médio do mar= I013mb 16 100 10 5,1)
2.5
(= lOI3hPa) 60 60 200 60 'º 14
40
35 o
8 30
Raio do Sol = 7X 10 m 50 2.0 50 50 12 200
150 30
20
6
Raio da Terra =6,3 7X 10 m 40 1,5 40 40 25 10
300 -1 0 10
Distância média Terra -Sol = 1,495 X 10 1
Lm 30 30 100 30
20 8
400 o
1,0 -20
6 500
Fatoresde conversãode energia: 20 20 20
15 -10
50 15 4 600 -20
4,1868J = 1 caloria 10
0,5
10 10
700 -30

= 0,2388 ca1cm - 2
-2 5 2 800 --.30
Jcm
o o o o o o
900
o 1013 ...1,0 ~
Watt =J s- 1
W m -2 = 1,433 x 10- 8cal-2min- 1 figura A2 .1 Nomogro mos de a ltitude , pressão , dis-
697,8W m - 2 = l cal cm- 2min - 1 tân cia e tem peratu ra .
Apêndice 3

as sinóticos o tem

Tabela A3. 1 Código sinót ico (Organização Meteoro l6gica Mundial,


1
ja neiro de 1982)

Chave de símbolos Exemplo Comentár ios

yy Dia do mês (GMT) 05 Todos os grupos em


blocos
GG Tempo (GMT) até a próximo hora 06 { de 5 dígitos
.
1.,. Indicador do tipo de observação da velocidade do vento e 4 Med ido por
unidades anemômetro (nós)
'
li ií i lndice internaciona l poro número do estoçõo

IR Indicador: dados de precipitoçõo incl ufdos/omitidos (cód igo ) 3 Dados omit idos

'x Indicador: tipo de estação+ ww Wl W2 incluído/omitido 1 Estação tripulada
(código) com wwWl W2
inclu ído
h Altura do nuvem mais baixa (código} 3
vv Visibilidade (código) 66
N Quant idade tota l de nuvens (oitavos) 7
dd Direçóo do vento (dezenas de graus) 32
'
ff Veloci dade do vento {nós, orm s- ) 20 Nós
1 Cabeça lho 1
sn Sinal da temperatura (código) o Valor positivo
TTT Temperatura (O,1"C }, plotada e arredondada ao ºC mais 203 (1 =valor negat ivo)
' .
prox1mo
2 Cabeça lho 2
sn Sina l da temperatura (código) o
TdTdTd Temperatura do ponto de orvalho (como TTT) 138
4 Cabeça lho 4
pppp Pressão ao nível méd io do mar (décimos de mb, omitindo 0105
milés imos)
5 Cabeça lho 5
o Caracter ística do tendênc ia da pressão (símbo lo codificado) 3
ppp Tendênc ia da pressão em 3 horas (déc imos de mb) 005
7 Cabeça lho 7
ww Tempo atua l (símbolo cod ificado) 80
w1 Tempo passado (símbolo codificado) 9 (W1 deve ser maior
W2 Tempo passado {símbolo codificado) 8 } do que W2)
8 Cabeça lho 8
N, Quant idade de nuvens ba ixos (oitavos) 4
CL Tipo de nuvem baixo (símbolo cod ificado) 2
CM Tipo de nuvem médio (símbo lo codif icado) 5
CH Tipo de nuvem alto (símbolo codif icado) 2

Obs .: O grupo 3 é poro o pressão superficial, e o grupo 6, para os dados de precipitação .


484 Apêndice 3

Modelo (ampliado) Chave Exemplo


N Total de nuvens (oitavos)" 7
dd Direção do vento (dezenas de gra us) 32
ff Velocidade do vento (nós) 20
TT ppp
w ppa w Visi bilidade (código ) 66
ww Tempo atu al (símbolo codi ficado) 80
CL W1W2 W1 Tempo passado (símbolo codi fi cado) 9
ff
W2 Tempo passado (símbolo cod ificado) 8
TdTd Nh/h ppp Pressão ao nível do mar (mb}2 105
TT Temperatura ("C)• 20

Nh Nuve ns baixas (oitavos )' 4


Exemplo CL Tipo de nuvem baixa (símbo lo codificado ) 2
h Altu ra de CL (código ) 3
.J.) CM Tipo de nuvem média (símbolo codi ficado) 5
20 ~ 105 CH Tipo de nuvem alt a (símbolo cod ificado) 2
66 v 05 v"'
TdTd Tempera tura do ponto de orvalho (O C)' 14
14 B "tv a Traço do barógrafo (símbolo codi fi cado) 3
4/3
PP Mudança de pressão em 3 horas (mb) 3 05

1 octa :: oitavo
2 Pressão em dezenas , unidades e décimos de m b:
omitindo primeiro 9 ou 1O, isto é, 105 :: 1010,5
3 Mudança de pressão em unidades e décimvs de m b
4 Anedondado ao ºC mais próximo

Figura Al.1 Mode lo bósico de estação para plo tar dados meteorológicos. A chave e os exemplos são tab u -
lados na sequência inter nacio nal para mensage ns telet ipodas . Os dados serão preced idos por um número de
iden tificação da estação, data e hora .

Vento : Seta apo nta na direção para a qual o vento está soprando
@ calmo 4 48-52 nós

~
1-2 nós
3-7
•• 98-102

\,.__
_ 8-12
,, 13-17etc
(traço.,, 1O nós; me io-tr aço 5 nós)

Tempo :
-6-- Temposta cfo d e areia o u poe ira • Chuva
+- Neve soprada • Neve
= Neblina f Pancada de chuva
, Garoa i.
K Tempestade com trovoadas e granizo
Gêneros de nuvem :
-'
,;> Cirrus a_ Nimbos tratus O Cumulus
L u Cirrostratus ......,... Stratocumulus 8 Torre de cumu lus
i.., Cirroc umulus - Stratus B Cumulonimbus
L._ Attostrat us Fractost ratus
~ 6o M Alto cu mu lus
...,...,,
Quantidade de nuvens :

Et ~
ºº
(]) ~ ai
~ ~ o~
(] i
() i
•@ : Céu obsc urecido

Traço do barógra fo:


...,,.-"\
Subindo e depo is caindo \.... Csindo e depois estável
/ Sub indo \ Csindo

Figura A3 .2 Símbolos sinóticos represen tat ivos.


Apêndice 4

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Notas

2 Composição, massa e estrutura mais baixo); Tv = tem p eratura média vir-


da atmosfera tual, uma temperatura fictícia usada na
equação do gás ideal para compensar o fato
1 Razão de mistura = razão do número de
de que a constante gasosa do ar úmido é
moléculas de ozônio por moléculas de ar
maior do que a do ar seco. Mesmo para o
(partes por milhão por volume, ppm(v)).
ar úmido quente, T.,,é apenas alguns graus
Concentração = massa por unidade de vo-
maior do que a temperatura do ar.
lume de ar (moléculas por metro cúbico).
5 A definição oficial é o nível mais baixo em
2 K = graus Kelvin (ou absolutos). Omite-se
que o gradiente de temperatura diminui
o símbolo de grau.
para menos ou igual a 2ºC/km (0,002ºC/m
ºC = graus Celsius
ou 0,2ºC/100m) (desde que o gradiente tér-
ºC=K-273
mico médio da camada de 2 km não exceda
Conversões para ºC e ºF são apresentadas
os 2ºC/km).
no Apêndice 2.
3 Joule= 0,2388cal As unidades do Sistema
3 Radiação solar e balanço de
Métrico Internacional são apresentadas no
energia global
Apêndice 2. Atualmente, os dados em mui-
tas referências ainda aparecem em calorias; 1 O fluxo de radiação (por unidade de área)
uma caloria é o calor exigido para elevar a recebido perpendicularmente ao raio solar
temperatura de lg de água de 14,SºC para no topo da atmosfe ra da Terra é calculado a
15,SºC. Nos Estados Unidos, outra unidade partir da emissão solar total ponderada por
2
em uso comum é o Langley (ly) (ly min - i = l/(4nD ), onde a distância solar D = 1,5 x
leal cm- 2min - 1). 11
10 m, pois a área superficial de uma esfera
4 A equação para a chamada "redução" (na de raio r (aqui equivalente a D) é 4nr2 - isto
7 2
verdade, o valor ajustado normalmente é é, o fluxo de radiação é (6,24 x l 0 W m - )
maior!) da pressão da estação (ph) para a (61,58 x 1023m 2)/4n (2,235 x 1022) = 1367
pressão ao nível do mar (p 0) é escrita como : wm-2.
2 Os albedos referem-se à radiação solar re-
Po= Phexp [s:oZi l Rc1
Tv] cebida em cada superfície; assim, a radiação
onde Rd = teor de gás para o ar seco; g 0 = incidente é diferente para o planeta Terra, a
média global da aceleração gravitacional superfície global e a cobertura global de nu-
(9,8ms - 2); Zh = altura geopotencial da es- vens, bem como entre qualquer um deles e os
tação (=:: altura geométrica no quilômetro tipos individuais de nuvens ou supe rfícies.
488 Notas

5 Instabilidade atmosférica, 4 Observe que, no equador, um vento de


1
formação de nuvens e processos leste /oeste de 5 m s- representa um movi-
de precipitação mento absoluto de 460/470 m s- 1 no senti-
do leste.
1 É significativo que também ocorrem tem -
pestades a sotavento de regiões de platôs
9 Sistemas sinóticos e de
no México, na Península Ibérica e na África
mesoescala em latitudes
Ocidental.
médias
6 Movimentos atmosféricos: 1 O vento resultante é a média vetorial de to-
, .
pr1nc1p1os
. das as direções e velocidades dos ventos.
2 O último termo tende a se restringir à va-
1 A ªfo rça" centrífuga é igual em magnitude e
riedade tropical (furacão).
oposta em sinal à aceleração centrípeta. Ela
é uma força aparente que surge por meio da
• I • 1O O tempo e o clima em latitudes
inercia.
médias e altas
Gravidade aparente, g =9,78 m s- no equa-
2
2
dor, 9,83 m s- i nos polos. 1 Os índices padronizados de continenta-
3 A vorticidade é uma medida vetorial da lidade desenvolvidos por Gorcynski (ver
rotação local, ou giro, em um fluxo fluido. p. 268), Conrad e outros baseiam-se na
Ela é dada pelo produto da rotação sobre variação anual da temperatura, repre-
seu limite (vR) pela circunferência (2nR), sentada pelo seno do ângulo da latitude
onde R = raio do disco fluido. A vorticida- como um recíproco na expressão. Esse
2
de é 2vrrR , ou 2v por unidade de área. Ela índice é insatisfatório por várias razões. A
compreende a soma do cisalhamento (anti) pequena amplitude da variação anual da
ciclônico através de um fluxo e da curva - temperatura em climas tropicais úmidos
tura (anti)ciclônica do fluxo. A vorticidade o torna inaplicável para latitudes baixas. A
ciclônica é definida como positiva. A vorti- ponderação da latitude visa a compensar
cidade vertical relativa ocorre ao redor de as diferenças verão-inverno na radiação
um eixo vertical sobre a superfície da Terra. solar e, assim, as temperaturas, que su-
A vorticidade absoluta é a soma da vortici- postamente aumentariam de modo uni-
dade relativa e da vorticidade da Terra, que forme com a lat itude. Para a América do
é o parâmetro de Coriolis, f Norte, as diferenças atingem um máximo
por volta de SSºN. O índice usado na Fi-
7 Movimentos em escala gur a 10.20 baseia-se em afastamentos da
planetária na atmosfera e no linha de regressão da temperatura anual
oceano com a lati tude. As constantes específicas
da regressão diferem entre os continentes .
1 O conceito de vento geostrófico também se
Deve -se observar que índices como o de
aplica aos mapas topográficos. As altitudes
Gorcynski são apropriados para regiões
nesses mapas são dadas em metros geopo -
de extensão latitudinal limitada , como
tenciais (gpm) ou decâmetros (gpdkm) .
mostra a Fig ura 10.2.
2 A Organização Meteorológica Mundial re-
comenda um limite inferior arbitrário de
30 m s- 1•
11 O tempo e o cllma tropicais
3 A velocidade equatorial da rotação é 465 1 Essa periodicidade é a Oscilação de Mad-
m s- 1• den- Julian.
Notas 489

13 Mudanças climáticas A distribuição de frequência de tempera-


turas diárias médias costuma ser aproxima-
1 As estatísticas comumente informadas para
damente normal. Todavia, a distribuição de
os dados climáticos são: a média aritmética,
frequência de totais anuais ( ou mensais) de

x =:E_.!._ pluviosidade ao longo de um período de anos
n pode ser "assimétrica': com alguns anos (me-
onde L = somatória de todos os valores ses) apresentando totais muito grandes, en-
parai= 1 an quanto a maioria dos anos (meses) tem totais
xí = um valor individual baixos. Para essas distribuições, a mediana é
n = número de casos uma média estatística mais representativa; a
e o desvio-padrão,s (pronunciado sigma). mediana é o valor médio de um conjunto de
S (x .-x) 2 dados classificado conforme a magnitude , 50%
s =r 'n da distribuição de frequência estão acima da
mediana, e 50%, abaixo dela . A variabilidade
que expressa a variabilidade das observa-
pode ser representada pelos percentis de 25 e
ções.
75 na distribuição.
Para dados de precipitação, costuma -se
Uma terceira medida da tendência central
usar o coeficientede variação, CV:
é a moda - o valor que ocorre com maior fre-
s
CV = -:- X 100 (porcento) quência. Em uma distribuiçã .o normal, a média,
X
a mediana e a moda são idênticas.
Para uma distribuição de frequência simé- As distribuições de frequência para quanti-
trica em forma de sino, ou normal (gaussiana), a dades de nuvens costumam ser bimodais, com
média aritmética é o valor central; 68,3% da dis - mais observações apresentando quantidades
tribuição de valores se encontram dentro de + 1 pequenas ou grandes de cobertura de nuvens
s da média, e 94,5%, dentro de ±2 s da média . do que na faixa intermediária.
Bi era

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,
ln •ice

Abercromby 214-215 afélio 44-45, 430-431 Ahaggar 305-306


Aberdeenshire 281-282 África montanhas 307
Abilene, TX292-295 Central 252-254, 360-367 Air Mountains 364-365
absolutamente estável 110-113 equatorial 382-383 , 385-386 Aklavik 290-291
absolutamente instável 110-113 grandes circulações 361-362 Alabama 261,263
absorção Meridional 227, 252-254, 366-369 Alasca
bandas na atmosfera 41, 63-64 Ocidental 170, 245, 252-254 costa norte 283 -284
da radiação solar 47-49 Oriental 99-100 limite floresta boreal-tundra
aceleração centrípeta 143, 146-147, 159 pluviosidade na costa sudoeste 283-284
aceleração gravitacional 482 380,-381 tundra 395-396
acidez da neve compactada 16-17 Setentrional 227, 230, 242 zona costeira 311-312
acidez da precipitação 15-16, 37 África Meridional 366-368 , 385-386 albedo 49, 52, 55-56, 155, 395-397,
ácido sulfúrico 433 escoamento sobre 366-368 399,487
Açores 188-189 África Ocidental , monções 94-95 , da floresta 403-404 , 454
anticiclone subtropical dos Açores 385-386 daneve49
188-189,242 , 267,304-305 , 317, chuvas inonçônicas de verão da superficie 434, 453
318, 378-379 202-203, 364-365 efeitos antropogênicos 453, 454
adiabática saturada 108 África Ocidenta l 170, 245, 322, 323, média anual 56
adiabáticos secos 108 324, 339-340,360-365 , 384-385 planetário 49, 56, 73, 75, 435
advecção 70, 72 circulação e precipitação 362-363 Alberta 250, 283-284
de calor 394 costa: '~berta clippers" 283-284
ver também transporte de calor horas de chuva por mês 364-365 Alemanha 403-404
aerossóis 12, 16-17, 37, 114-115 , Pequena Estação Seca 362-364, Aleutas 174
406-407,428 , 468-469 366-367 baixa das 191-192, 282-285
carbonato 407-408 precipitação 338-339 Alpes 97-98 , 156,250,278,317
carga de 28-29 velocidades e direção do vento Alpes Dináricos 158
concentração de 453 362-364 Alpes suíços 100-101
efeito sobre propriedades de nuvens África Oriental, monções de nordeste alta de bloqueio 102-103
115-116,453 366-368 inverno 277
forçante climática 453 África Setentrional 305-308 alta de pressão 62-63
poeira vulcânica 28-29 circulação sobre 362-363 bloqueio 202-203
produção de 17-18 estações de máxima precipitação 306 inclinação do eixo com a altura 164
troposféricos 16-19, 433 precipitação 302-303 alta polar 178
urbanos 406-40 7 pressão superficial 302-303 alta pressão siberiana 202-203, 268,
aerossóis biogênicos 125 tanques de guerra 407-408 294-296
aerossóis estratosféricos 28-30, 433 ventos 302-303 anticiclones na região central e
ozônio estratosférico 20-21, 37, água doce 78 oriental 225
47-48 , 63-64 , 453 água interceptada 85 alta subtropical das Bermudas 298-299
aerossóis sulfatados 16-17, 28-30, água profunda do Atlântico Norte altas continentais frias 202-203
47-48, 410-411 199-200 altas frias 202-203
,
496 lndice

Altiplano do Peru-Bolívia 370-371 anos de "dust-bowl"454 arrozais 399


altitude Antártica 6-7, 20-21, 62-63 178 226, Ártico 62-63, 314-316, 469-470
composição atmosférica 18-21 261,263, 315-316, 318, 437-439 ainplificação 458
efeito da radiação solar 59-60 aquecimento projetado 458 aquecimento súbito 35
efeitos cli.Jnáticosna Europa buraco na camada de ozônio 22, 453 circulação atmosférica 6-7
278-2S2 gelo compacto 230, 244 continental 225
variaçào da velocidade dos ventos oriental 184 correntes superficiais 311
148, 166-170 testemunhos de gelo 24-25 gelo compacto 230
variaçào na pressão 33 anticiclone glacial 6-7 noite polar 21-22, 35, 46
variações na precipitação 96-101 anticiclones temperaturas na estratosfera 22
altitude da linha de equilíbrio 315-316 Atlântico Sul subtropical 368-370 terra 314
alto verão 275-276 continentais 225 vórtice 453
altura geopotencial 487 de bloqueio 275-276, 278, 279, 317 ascensão forçada 117-118, 140, 229
500 mb para inverno setentrional frios 162 Ásia Central 156, 226, 358, 430-431
167 Pacífico Norte 287-288 Ásia Meridional 182-183, 245, 323
Amazônia 368-371 platô frio 343-344 circulação no inverno 345
América Central 383-384 polares 282-283 circulação no verão 349-350
costa do Pacífico 339-340 quentes 162, 350-351 data de inicio das monções de inver-
frentes frias tibetanos 356 no 357
América do Norte 281-282 vorticidade 151 início médio das monçóes de verão
central 230, 233-236 anticiclones subtropicais 183, 185, 350-351
clima 284-285 202-203, 282-283, 343-344, 359 regime de monçóes 384-386
cordilheira 285-2S6, 437-438 Hemisfério Sul 195-196 Ásia Oriental 170, 242
correntes de jato 284-285 Pacífico Sul 326 caminhos de tufões sobre 359-361
costa leste 282-283 processos no verão 184 circulação no inverno 345
costa oeste temperada 285-288, 290 antiga União Soviética circulação no verão 349-350
distribuição de pressão 284-285 precipitaçào 313 data de início das monções de inver-
evaporação 293 tipos climáticos 313 no 357
influências continentais 288, 290 Apalaches, sul 299-300 monçóes de verão 357-361
influências oceânicas 288, 290 Apeninos 158 padrões de circulação 345
interior 288, 290 aquecimento , zonas de máximo 49-50 posiçóes frontais 359
leste 170, 242, 288, 290 aquecimento global 63-64 regime de monçóes 384-385
massas de ar 230 ar equatorial 231-232 Ásia Setentrional 230
Meio-oeste 282-283 ar marítimo polar 272 Askervein Hill, South Uist 155, 157
precipitação anual 293 ar monçônico 231-232 assimilação de dados 215-216
regimes de precipitação 292-294 ar polar Atlanta, Georgia 419-421
temperaturas por hora 289 ar ártico 478-479 Atlântico Norte 183, 185, 196-199,
tipos de massas de ar a leste das continental 274 263-264, 244
Montanhas Rochosas 286-287 depressões 250 central324
zona frontal 232 incursões de frio 370-371 furacões 327, 333
América do Norte ocidental, imagem ar supersaturado 114-115 salinidade 199-200
de satélite 198-199 Arábia 356 zona subtropical de alta pressão
1-\méricado Sul 378-379, 382-383 Arábia Saudita 250, 351 368-370
convecção profunda central 368-370 áreas convectivas de mesoescala 326 Atlântico Sul 310
costa oeste 372-374 áreas de precipitação de mesoescala célula subtropical de alta pressão
leste 242 {MPAs)236-239 368-370
análise composta 220 áreas elevadas tropicais 133 Atlas Internacional de Nuvens 116-117
análise correlacionai canônica 219 áreas úmidas 466-467 atmosfera
análise frontal, modelo de três frentes Argélia 361-362 absorção da radiação solar47-49
283-286 Argentina 227, 370-371, 378-379 balanço de energia 65-66, 68-73, 75
Anchorage, AK 311-312 argônio 2 baroclínica 232
Andes 156, 166, 378-379 aridez, critérios 473,474 , 476 barotrópica 224
anéis ciclônicos de núcleo frio 196-197 Arizona250 concentração de dióxido de carbono
anéis de crescimento em árvores 8-10, armazenamento de água79 21-22
439 armazenamento de calor 394 descobertas históricas 1-3
anemómetros sônicos 86 no solo 394 estrutura em camadas 32-33
Angola, ventos baixos de leste 366-367 superficial 394, 411-413 fluxo de calor sensível para 394
Ano Geoflsico Internacional (IGY) 7-8 Arqueano 431-432 massa 28-33
anomalias sinóticas 275-277 arraste da forma 147, 149 turbulência 149
,
lndice 497

aunosfera livre 145 balanço de calor Barro""'• AK 315-316


aunosfera média 36 da Terra 65-69 Belém, pluviosidade por hora 368-370
Atmospheric Model Intercomparison modificação urbana do 411-415, Ben Nevis 281-282
Programme (AMIP) 208-210 423-424 Berg270
Aurora, Austral 36 padrão espacial 72-73, 75 Bergen 270, 27 1
Boreal 36 balanço de energia Bergeron, T. 132, 134, 232
,\ustralásia 307-308 cânion urbano 413-414 Bergeron-Findeisen , teoria 121-122,
aspectos climatológicos 308 floresta de abeto 395-396 140
Austrália 101-102, 318 floresta tropical amazônica401-403 Berlage, H. 372-374
frequências de massas de ar 308 gelo marinho 395-396 Berlim 269-271
setentrional 227, 252-254, 382-383 locais suburbanos e rurais 413-414 Bermudas 284-285
Austrália Ocidental 376, 378 para tipos climáticos 475 Bikaner 351
Austrália Setentrional permafrost 395-396 Bjerknes, J.232, 372-374
pluviosidade das monções de verão plantações verdes baixas 397 Bjerknes, Vilhelm 5-7, 232
359, 376, 378 superficies com vegetação 397, boias ancoradas ou flutuantes 190- 191
regime de monções 384-385 422-423 boias ARGO 382-383
superficies de gelo e neve 394-397, bolsões de ar frio 153
bacia amazônica 82-83 422-423 bomba biológica 24-25
precipitação anual 368-369 tundra costeira 395-396 "bombas" 248
Bacia Ártica 225, 226 zona de ablação de geleiras 395-396 bombeamento de Ekman 148, 192-193,
bacia do rio Mississippi 82-83, balanço de massa de geleiras e calotas 378-379
292-295 polares 463-464 bora 152, 158
Bahia 378-379 balanços de energia 86, 438 Borneo 339-340
Bala da Biscaia 55, 58-59 água 394-395 Boston 418-419
Bala de Bengala 352 áreas urbanas 413-419 Boulder, Colorado 158
Bala de Hudson 230, 288, 290-291, 317 areia 394 branco total 4 7
Baixa da Islândia 188-189, 267, classificação climática 474, 476 Brasil 378-379, 383-384
282-283,317 , 378-379 equilibrio atmosférico 65-71 frentes frias:
baixa de calor (baixa térmica) 250, gelo 394-397 leste 370-371
350-351 global 40-73, 75 nordeste 101-102, 368-370
baixa pressão subpolar 178 neve 394-397 secasnordestinas 202-203, 372-374
baixas frias 252-253, 263-264 padrões espaciais 72-73, 75 Brezo-..
,•sky 274-275
baixas polares 250, 251 saldo de radiação planetária média brisa da playa154
baixas quentes 202-203 71 brisa de vale 152, 153
baixas subpolares 174, 202-203 regimes de balanço anual de energia brisa lacustre 154
baixas térmicas 250, 263-264, 305-306, 474,476 brisa marinha 152
441, 443-444 rocha 394 Colúmbia ocidental 380-381
anomalias mundiais 61 superficial 65-66, 68-69, 317,393 efeito 378-379
ar superficial global, séries tempo- superficie simples 394 na costa da Califórnia 155
rais 457 superflcies com vegetação 394 brisa terral 152, 382-383
áreas polares superficies sem vegetação 394-397 brisas terra-mar 153, 385-386
aumento 1880-2008 terrenos polares 395-396 brometo (BrO) 20-21
defasagem em relação à radiação transporte de calor horizontal 70, 72 Brooks, C.E.P. 428
58-59 ver também transferências de e.ner- Bryson, Reid 428
diferença urbano-rural 414-415 gia; balanço de calor; radiação ; Budyko, M.L 477
distribuição vertical 33, 59-60 radiação solar Buettner 479-480
gradiente meridional 72-73 balanços de umidade atmosférica 78
inversões 62-63 ciclo hidrológico global 78, 459 Cabo Denison 316
máxima média na sombra 53 Bálcãs 302-303 Cabo Farewell 242
mudanças projetadas para o século balões, medições no ar em niveis Cabo Horn 31 O
XXI454-459 superiores 3 cadeias costeiras 3 l 7
nível médio do mar 54 sondagens 212 cadeias de montanhas 96-97
temperatura de bulbo úmido 109 bandas de nuvens em espiral 130-131, cadeias de rnontanhas da costa do
temperatura potencial 163 233-336 Pacífico 281-282, 286-287
troposfera 2 Bangladesh 333 Calgary291-292
variação anual média 69-70 barômetro l Califórnia 101-102, 153, 155, 291-292,
balanço anual de umidade 87-88 barômetro de mercúrio 28-32 376,3 78-379
para estações na Grã-Bretanha barreira de vento 152, 155 Berkeley 294-298
87-88 Barren Grounds de Kee\'.atin 311-312 norte da Califórnia 230
,
498 lndice

Callao 378-379 célula de \4/alker 197-199, 202-203 ciclo energético de Carnot 337-338
calor corporal 479-480 Célula Meridional do Atlântico 457 ciclo hidrológico 79, 438
calor espec1fico2, 58 célula termalmente direta (polar) mudança projetada no 459-461
calor latente 2, 47, 66, 68, 70, 72, 181-182 ciclo índice 202-203
74-73, 75, 79, 108, 135, 229, 335-336, células anticiclónicas 183, 185 ciclo solar ver ciclo de manchas solares
368-371, 383-384 células convectivas 129-130 ciclogênese 232
de fusão 47, 85, 482 grupo de 252-254 explosiva 248, 263-264
de sublimação 47 células de alta pressão subtropicais superficial 263-264
de vaporização 47, 84,482 95-96, 101-102, 171, 172,174, ciclogênese superficial 263-264
em áreas urbanas 411-413 176-177, 226,317, 337-338, 356., ciclone subtropical 338-340
fluxo para a atmosfera 394 384-385, 478-479 ciclones
calor sensível 47, 66, 68, 70, 72-75, Atlântico Norte 368-370 ciclo de vida 232
411-413, 415-418, 423-424 Atlântico Sul 362-363, 368-370 de sotavento 250, 265
fluxo de calor para a atmosfera 394 Bermudas 298-299 extratropical 224
camada de Ekman 193-194 Pacífico 298-299 famílias 232
Camada de Gelo da Groenlândia 248, Pacífico Norte 284-285 frontal marítimo 233-236
314 sudoeste dos EUA 296-298 modelo de 232
perda de massa 460-461 células de Hadley 179-181, 183, 185 precipitação de "tipo ciclônico"
camada de mistura superficial 191-192 média 182-183 130-132
camada limite 326 células de nuvens com padrão poligo- teoria da frente polar 232
urbana 415-418 nal de colmeia 118, 133, 326 trilhas 283-284
camada limite planetária 147, 148 células horizontais 181-182 vorticidade 151
camada profunda 191-192 células poligonais fechadas 118 ciclones tropicais 130-131, 299-300,
Camp Century 439 cenário "Business as Usual» 455 327, 331-339
campos secos 467 -468 cenários de emissões 455, 468-469 condições de crescimento 336
Canadá 131-132 cerca de neve dupla 90-91 e tornados 257, 260
altas continentais frias no noroeste Chandler, T. J.406-407 formação 333-336
202-203, 225 Cherrapun ji 380-381 mudanças projetadas 460-461
distrito de Mackenzie 282-283 Chifre da África 354 ciclos de Dansgaard-Oeschger 438
influências oceânicas 286-288 Chile 101-102 ciclos glaciais 430-431
massas de ar polar continental 225 central 370-371 Cidade do México 421-423
norte 230 Chilterns 280 cierzo 303-304
precipitação 287-288 China 349-350 Cincinnati 411-415
ver também América do Norte caminhos de depressões sazonais cinturão de alta pressão subtropical
Canal da Mancha 230 348-349 174
capacidade térmica 58 central 358 cinturão de proteção, influência sobre
capacidade térmica da superfície costa sul da China 230 a velocidade do vento 401-402
urbana 413-414 u1eridional 288, 290, 358 cinturões de ventos 181-182
características frontais 234-242 ocidental 357, 430-431 de oeste 267
carbono negro 47-48, 453 oriental 252-254 globais 174-178
Caribe 328-331, 378-379, 383-384, precipitação no inverno 347-348 circulação atmosférica
407-408 setentrional 343-344, 358 corrente zonal 165
carta de superficíes isobáricas 164 Chipre 304-305 mudanças 459
carvalho forteto 404-406 Churchill 290-291 variações no Hemisfério Norte
Cascade Range 287-288 chuva convectiva 134 186-187
categorias sinóticas 273 verão 298-299 ver também sistemas de pressão
pluviosidade anual associada 273 chuva gélida 89-90 circulação de Hadley 3, 374-376
Cáucaso 156 chuvas de tempestade noturnas 294-296 circulação de Walker 182-183,
caulinita 125 chuvas monçônicas , contribuição para 185-186, 199-200, 355, 367-370,
Cavado Antártico 31O total anual 352 374-376
cavado equatorial 176-177, 182-183, ciclo de Chapman 19-20 fase negativa 186-187
323, 324,327-330 , 333, 341-342, ciclo de manchas solares 41, 44, fase positiva 186-187
348-350,355,368 -370 430-432 seção transversal 373
cavado sub-antártico 173 números43 circulação geral 178-192
cavados de onda 250 ciclo de vida 254-256 en1planos verticais e horizontais
cavados superiores médios 246 ciclo do carbono 23, 468-469 179-187
Celsius 1 ciclo elétrico atmosférico 139 circulação global 3-4, 178-187
célula de Ferrei 181-182 gradiente potencial do campo elétri- circulação meridional 180-181
ventos de oeste 32-33, 177-178 co vertical 139 modelo de três células 181-183
,
lndice 499

circulação oceânica termohalina climas secos 473 condução 47, 55


192-193, 199-200 , 202 climas urbanos 406-407, 420-421 confluência 149
circulação superficial do oceano tropicais 420-423 conservação do momento 257, 260-261
194-195 climatologia 4-5 constante de Stefan-Boltzmann 41
circulação zonal , (nelice elevado climatologia sinótica 271 constante solar 41, 45
202-203 cloreto (ClO) 20-21 continental 226
cisalhamento de vento 247 cloreto de titio 82 ar polar274
cisalhamento do vento vertical 149, clorofluorcarbonos (CFCs) 14-15 , ar tropical 274 -275
168 26-28 , 453 influênc ias 288, 290
cisalhamento fricciona! 149 cobertura do solo, mudanças antropo- continental idade 52, 58-60
classificação bioclimática 479-480 gênicas 466-468 América do Norte 288, 290
classificação climática 5, 86, 473-480 cobertura globa l de nuvens 118 Europa 270
balanço de energia e umidade 474, código sinótico 483 índice 268, 269, 488
476 -479 coeficiente de emissividade 62-63 Continente Marítimo 339-340
conforto climático 479-480 coeficiente de variação 489 contornos médios, 500mb 164
Flohn 478-479 Coffeyville, Kansas 129-130 convecção 47, 326
genér ico 473 -474 , 476 Colinas Khasi 380-381 convecção forçada 110-111
genético 478-479 Colônia 415-418 convecção livre 110-111
Kõppen 473 , 474, 476 Colorado 62-63, 250 , 283-284 convergê ncia 149,250
relacionada com a vegetação 473 ar ártico a leste das Montanhas costeira 150
relacionada com o crescimento de Rochosas 233-236 Convergência Antártica 230
plantas 473 Montanhas Rochosas 97-98, 155, convergência de correntes de ar 229,
Thornthwaite 474, 476-477 156,158,166 , 232 384-385
classificação de ventos locais 152 Colúmbia: brisa marinha 380-381 convergência de massas de ar 246
Clean Air Act , RU 407-410 Colúmb ia Britânica 287-288 , 401-403 Convergência Intertropical (ITC) 323
Meteorological Office 190-191 , montanhas costeiras 286-287 conversão de unidades de evaporação
384-385 co1nponente do '\lento térmico" para energia 86
clima 202-203 Copenhagen 397, 398
climas temperados chuvosos e con1ponente vertical da vort icidade Cor iolis, G. G. 144-145
quentes 473 absoluta 246 corpo negro 41, 64-65 , 73, 75
em latitudes médias e altas 267-318 componentes da energia em florestas curvas de radiação 41
feedback430-431, 434-445 403-404 correlação de vórtices 86
médias428 composição atmosférica 13-31 Corrente Australiana de Oeste 196-197
resposta 435-437 aerossóis 16-19 Corrente da Cal ifórnia 196-197
sistema429 gases 13-15 Corrente das Agulhas 195- 196
tendências no clima global 438 modificação urbana da 406-418 Corrente das Canárias 196-197
variabilidade 428-429 mudanças antropogênicas na 438 Corrente de Benguela 166, 195-199
clima chuvoso tropical 473 teor médio de água 79 Corrente de Deriva Transpolar 314
clima continental 479-480 teor médio de vapor de água 81 Corrente de Humboldt (Peru) 166,
deserto 479-480 variações co1n o tempo 21- 31 196-197
subártico 479-480 variações latitudinais e sazonais Corrente do Atlântico Norte 196-199,
úmido 479-480 20-22 268,317
clima de congelamento perpétuo 473 variações na altura 18-19 Corrente do Brasil 195-196
clima equatorial 478-479 ver também po luição do ar Corrente do Golfo 194-200
clima na costa oeste comprimento de onda 232 Corrente do Labrador 288, 290
deserto 478-479 comprimento de onda estacionário 166 Corrente do Peru 372-3 74
marinho 478-4 79 comprimentos de rugosidades 148, 149 Corrente Equator ial Norte 195-196
clima severo 217-218, 257, 260 barreira orográfica 246, 248 Corrente Equatorial Sul 195-196
clima tropical 322-391 Conak:ry 364-365 Corrente Leste da Groenlândia 314
efeitos topográficos 379-383 condensação 79, 84, 88- 89, 140 correntes ascendentes 135
em áreas urbanas 420-423 na atmosfera 103-104 correntes de jato 6-7, 162, 169, 183,
regime de pluviosidade diurna sobre superficies 206 185,202-203 , 246,247 , 263-264, 310
382 -383 condicionalmente instável 110-113 ártica 170
variações diurnas 381-383 condições barotrópicas 261, 263 de leste 349-350
clima tropical úmido-seco 478-479 condições de pressão superficial de leste africana 339-341
climas de camada limite 392-424 171-174 de oeste 344, 355
climas de terras altas 478-479 condições dos ventos em níveis supe- descoberta de 170
climas de terras altas na Grã -Bretanha riores 129-132, 166-170 divisão da corrente de jato 275-276
279 condições pós-glaciais 438-441 em n1veis baixos 298-299
,
500 lndice

frente polar 169, 300, 302 cinturões 317 impacto sobre a temperatura global
frontal ártica 169 de oeste 344 24-25
jato de baixo nível da Somália 354 do tipo Gênova 300, 302 plantações verdes 398
no inverno sobre o Extremo Oriente faixa de frentes e chuva em depres- projetado 455
347-348 são madura 235-238 quJmica dos oceanos 435
subtropical 169,170 , 179-180, 307 fluxo de grande escala 235-238 teor na atmosfera 21- 22
subtropical de oeste 170, 186-187, formação de233-234 dióxido de enxofre (S0 2) 15-16,
300,302-303,347-348 mediterrânea 303 -304 409-411, 431-432
subtropical de sul 378 -379 não frontal 248-254 dióxido de nitrogênio (N0 2) 15-16
tropical de leste 170,351 precipitação de mesoescala 235-238 ciclo fotolitico 410-4 11
troposférica superior 233-235 saariana 300,302, 305-307, 318 direção do escoamento de ar270
velocidade 172 trilhas 245, 248, 299-300 leste 274
zona frontal 169 velocidade média de 248 oeste 271, 275-276
correntes oceânicas 190-191 depressão monçônica 305-306, 308, dispersão de energia na grama 397
circulação geral das correntes oceâ- 355, 359, 385-386 distribuição da pressão vertical 162
nicas 194-195 localização 353 distribuição de frequência 489
frias 378-380 depressão monçônica 338-339, 351-352 distribuição zonal da evaporação
profundas 58-59 pluviosidade na fndia central 353 média84
transporte de calor 72-73 depressões tropicais 338-340 divergência 149,250
correntes superficiais 202-203 deriva continental 430-431 costeira 150
correntômetros 190-191 Deriva da Corrente do Golfo 230 na atmosfera superior 263-264
Costa do Golfo 138, 139, 291-292 deriva do modelo 208-209 nível médio de não divergência 150
Costa Rica 133, 134 Deriva do vento de Oeste 195-197 Divergência Antártica 196-197
crachin 89-90 derretimento divergência costeira 150, 378 -379
crescimento de gotículas de geleiras e mantos de gelo po lar Dold.rums 176-177, 333
por coalescência 116-117 460-461 Domo C316
por condensação 116-117 neve 395-397 temperatura mensal média do ar
crista de bloqueio 101-102 neve no Lago Bad, Saskatche\van 316
cristais de gelo 125, 136, 140 397 velocidade do vento 316
critérios térmicos de tipos climáticos descarga pontual 139 drenagem catabática 153
473 desconforto térmico 479-480 Dry Valleys 315-316
Croll, T.439 Descontinuidade de Togo 362-364, DryasRecente 438, 440-441
cumulus congestus 99-100 366-367 duração da luz do dia 46, 400
curvas de Kohler 115-116 desertificação 103-104, 454, 467-468
cut offlows 252-253 , 367-368 deserto de Kyzylkum-Karakwn 183, eco em gancho 257,260
0't'mDyli273 185 imagem de radar 257, 260
deserto tropical 478-479 Eemiano438
dados climáticos 211-215 desfiladeiro de Carcassonne 268 efeito "borboleta" 12
Dakar 364-365 desmatamento 454 , 466-467 efeito da geometria do cân.íon 415-418 ,
Dallas 418-419 e mudanças climáticas 465-466 423-424
Dansgaard, \'v. 439 tropical 454 efeito de ilha de calor 418-419, 423-424
Darwin, Austrália 185-186, 359, desvio-padrão 489 efeito de precessão 430-433, 437-438
371-374 Detroit 414-415, 418-419 "efeito de Venturi" 154, 155
datação por radiocarbono 439 Dia da Marmota 274-275 efeito do plano beta 166
de Candolle 473 diabático 107,229 efeito estufa 2, 62-66, 73, 75
de Geer, Barão G. 439 diferença na temperatura rural e aquecimento 428
débil Sol precoce 431-432 urbana 414-415 efeito radiativo do C0 2 63-64
decomposição ácida 15-16 difluência 149 forçante 9-10, 434, 436-437 , 456,
de lta do Ganges 347-34-8 difusão de vórtices 392 468-469
dendroclimatolo gia 439 difusão turbul.enta 393 efeitos friccionais 150
densidade 28-31 dimetil sulfeto (DMS) 15- 16, 115-1 16 efeitos orbitais 430-432
densidade de redes de medição 90-91 dióxido de carbono (C0 2) 2, 13-15, forçantes 433
Denver 410-412 22-23,37,428,435,468-469 efeitos orográficos 131-132, 140
depressão 232 bandas de absorção 64-65 ascensão forçada 131-132
associada a zonas frontais 285-286 clima global e duplicação da con- desencadeamento de instabilidade
Atlântica 300, 302 centração de C0 2 455 131-132
baixas secundá.rias 241 efeito estufa 63 -64 retardando sistemas ciclônicos
ciclo de vida de depressões mari- estimativas da concentração em tes- 131-132
nhas extratropicais 233-235 temwihos de gelo antárticos 25-26 efeitos protetores 281-282
Índice 501

efeitos topográficos 277-282 Equador 372-374 estado neutro de falha nas monções na
Egeu 304-305 equador térmico 52 Índia 101-102
Ekman, V.\A/.148 equilíbrio hidrostático 143 Estados Unidos 87-88, 138,248,
El Azizia, Líbia 394 equilíbrio radiativo 435 406-407
El Chichón 28-30 equilíbrio térmico 69-70 características de tornados 258, 261,
El Nino 8-9 era glacial do Ordoviciano 437-438 263
eventos 186-187 Eras Glaciais 428, 430-431 central 252-254, 283-284, 294-296
El Nino-Oscilação Sul (ENSO) erupções vulcânicas 28-30, 431-433, costa atlântica 337-338
185-186,368-379, 383-386, 429-430 436-437, 450-451, 468-469 costa leste 248
circulação PNA 191-192 Agung451 sudeste 299-300, 372-374
coincidência con1clima regional 377 El Chichón 28-30 sudoeste 317
e monções indianas 377 Katn1ai451 sudoeste semiárido 296-298, 317
efeito sobre tendências da tempera- Monte Pinatubo 28-30, 450-451 esteira global
tura global 372-374 poeira vulcânica do Krakatoa 28-30, frente quente 232, 235-238
eventos ENSO 186-187, 197-199, 451 oceânica 199-200
374-375 Tambora452 quente 236-239, 263-264
fase 371-373 escala de pH 15-16 Estevan Point 287-288
método da análise estatística 219 escalas de fenônienos meteorológicos estômatos 401-403
Oceano Pacífico 370-376 393 estratopausa 35
previsão e furacões 338-339 escalas temporal e espacial de fenôme- estratosfera 35
previsão por modelos numéricos nos meteorológicos 393 descoberta da 35
217-218 Escandinávia 268 inferior 37
previsões de longo prazo 218, 221 bloqueio anticiclónico 278-279 Estreito de Davis 242, 288, 290
relação com chuvas monçõnicas no escarpas da Namibia 378-380 Estreito de Fram 314
verão indiano 384-385 escoamento barocHnico 229 Estreitos da Flórida 195-196
teleconexões 8-9, 191-192 escoamento superficial por derreti- Estreitos de Malaca 382-383
elevação 411-413 mento de neve; mudanças 460-461 estresse térmico 479-480
elevação e precipitação anual média Escócia 281-282 estrumra atmosférica 32-37
99-100 escudo de vento 90-91 convergência 149-150
Emiliani, e. 439 escurecimento global 16-17, 47-48 distribuição vertical da temperatura
enchentes espalhamento 47 e pressão 32-33
mudanças projetadas 460-461 Mie47 divergência 149-150
no meio-oeste norte-americano múltiplo47 movimento horizontal 143-149
292-295 Rayleigh 47 movimento vertical 150

energia Espanha, ventos regionais 304-305 princípios 143
cinética 68-70 espécies de gases reativas 14-15, 37 ventos locais 151-155
fatores de conversa.o482 espessura da pressão 162, 168 vorticidade 150-151
geopotential 68-70 espessura da camada de 1000 a 500 ver também circulação atinosférica;
interna 68-70 mb 168 ventos
energia cinética 2, 5-7, 178,247,336, relação da espessura 202-203 estrutura e circulação do oceano
393 espiral deEkman 148, 192-193, 191-203
de redemoinhos 188-189 197-199 acima da termoclina 191-192
energia pote11cial5-7, 178, 247, estabilidade atmosférica 110-115, camada profunda 191-192
338-339 407-408 estratificação vertical 191-192
energia solar 3, 40-44 estabilidade do ar 110-113 filamentos de jato 194-195
energia térmica, difusão de 58-59 neutra 110-113 giros oceânicos 195-196
entremear 113-114 estação Bai-u 358 redemoinhos ciclônicos e anticicló-
entropia 108 estação Byrd 439 nicos 194-195
enxofre reduzido {1¾S, DMS) 15-16 estação de crescimento 281-282, 317, temperaturas superficiais 248, 249
Epstein, S. 439 445 termoclina 191-192
equação da conservação de energia 206 estações de observação etesianos 304-305
equação da continuidade 206 ar superior 211-212 Eurásia 230
equação da vorticidade 246 superficie 211-212 cobertura de neve e começo das
equação de estado 28-31, 206 estações de sondagem, níveis superio- monções 374-376
equação de Planck 41 res 212 Europa 230, 301
equação do movimento 206 estações meteorológicas automáticas central 274-275
equação hidrostática 31-32 217-218 estações de precipitação 1náxima
equações de regressão múltiplas estações na superfície 212 306
217-218 estações naturais 317, 358 "monções de verão" 274-275
,
502 lndice

noroeste 101-102 influência sobre precipitação 403-404 Frank, N. 328-330


ocidental 317 interceptação de chuvas 403-404 frente ártica 242, 263-264, 317, 359
Europa Ocidental 188-189, 199-200 luz abaixo do dossel 400 frente ártica canadense 242
velocidades médias dos ventos 269 modificação de transferências de frente de Maiyu 358
Europa Oriental 407-408 energia400 chuvas 349-350, 385-386
evaporação 73, 75, 84, 199-200, 229 modificação do ambiente de umida- Frente Intertropical 245, 323
abordagem aerodinâmica (ou bulk) de 401-405 frente marítima 226, 294-296, 317
86 modificação do ambiente térmico ar tropical 272
anual sobre a Grã-Bretanha 87-88 404-405 Frente Polar do Pacifico Ocidental 358
evaporação média 87 modificação do fluxo de ar 400 frente quente 130-131, 234-239
evaporação potenc ial 87-88, 294-296 movimento do ar dentro de 400 alimentada por partículas de gelo
evapotranspiração 85, 103-104, florestas temperadas, estrutura vertical 236-239
403-404, 411-414, 422-423 399 bandas de chuva 236-239
em cidades 419-420 florestas tropicais: efeito sobre a tem - estrutura de nuvens 236-239
evapotranspiração potencial (PE) 474, peratura 405-406 frentes frias 236-239, 252-254, 383-384
476 estrutura vertical nas 399 cwnulonimbus 236-239
excentricidade da órbita 430-433, florestas tropicais no Congo 400 esteira global quente 236-239
437-438 Flórida 138, 140, 268, 291-292, frente fria cata 236-239
exosfera 36 299-300 inclinação de 236-239
extensão de gelo no mar da Antárt ica flutuação 256-257 movimento vertical 239
464-465 fluxo de calor para o solo 394 tipo ana 236-239
extensão máxima do gelo marinho 311 fluxo de energia atmosférica em dire- frentes oceânicas 196-197
ção ao polo 3, 69-70 frentes polares 232,242, 263-264, 317
fadas (sprites) 139 fluxos catabáticos 316 corrente de jato 6-7
Fahrenheit 1 fluxos de energia 394-395, 477 do Pacífico 359
faixa de temperatura diurna 85, 288, em superflcie de lago seco 394-395 eurasiáticas 359
290, 394-395 sobre gramíneas de pequeno porte teoria ciclônica 232
falhanasmonç .ões na India 101-102 perto de Copenhagen 398 frentes superficiais 246, 247
fator de vista do céu 414-415, 423-424 fõhn 152, 156, 158, 279 friagens 370-371
fatores antropogênicos fontes de calor, artificiais e naturais Fritts, H.C. 439
desn1atamento 465-466 415-416 frontogênese 231-232, 242-245
nas mudanças climáticas 438 fontes de dados 485 leste das Montanhas Rochosas
fazendo chover 125, 126 dados climáticos 485 233-236
fécula 41 dados de satélite 485 frontólise 239, 283-284
Feddema, J.477 mapas climáticos diários 485 frente cata quente 235-238
feedback 430-431, 468-469 para previsão 211-215 fria 233-235
efeitos336 World Wíde Web 486 intertropical 245
mecanismos 11 foramin1feros 439 mediterrânea 242
negativo 11, 202-203, 434 força centrifuga 146, 488 oceanos, polares 242
positivo 64-65, 200, 202, 374-376, força de Coriolis 143, 144 146, 148, quente 233-234
434, 469-470 159, 193-194 superficial 246
Ferrel, W 4, 180-181 circulação oceânica 192-193 tipo cata 234-237, 263-264
filamentos de jato 194-195 força deflectiva 144 Frota de Observação Voluntária
Filipinas 330-331 força do gradiente de pressão 143, 190-191
Finlândia 269 144,159 fuligem 16-17, 410-411
First CARP Global Experiment forçante climática 43-39 fuligem de carbono 16-17
(FGGE) 10 aerossóis 433,453 carbono atmosférico 454
Fitzroy 215-216 antropogênica 456 ver também carbono negro
Flohn, H. 274-275, 428 externa 430-431 fumaça 407-410, 422-423
floresta amazônica 405-406 forçante positiva 453 fumigação 407-413
floresta boreal 403-404 orbital 430-434 furacão 331-339
climas frios 4 73 radiativa 9-10, 434, 436-437, 455 Atlântico Norte 333, 383-384
limite floresta boreal-tundra forçante de Milankovitch 8-9, 434, Caribe 332-333
283-284 437-438 classes de intensidade 332-333
floresta de abetos na Alemanha 400 forças friccionais 143, 147 Colúmbia 379-380
floresta de eucalipto 401-403 formação de nuvens com células estação 328-330
florestas 399 abertas 118, l 33 frequência de gênese 333
abeto 395-396 fotosfera 40 previsão 338-339
efeitos microclimáticos das 401-403 fotossíntese 394, 403-404 ventos fortes 248
,
lndice 503

furacões gotícula super-resfriada 121-122, 138. hélio (He) 36


Andrew 299-300, 332-333 140 Hemisfério Norte
Gilbert 332-333 gradiente cobertura de neve 465-466
Hugo 299-300, 332-333 adiabático 107-108 trilhas de depressão 244, 244
Katrina 299-300 ambiental 62-63, 108 zonas frontais 244
gradiente adiabático seco 108, 140 Hemisfério Sul 96-97, 170
galema 303-304 gradiente ambiental médio 108 frente polar 242
Gana 365-366 gradiente térmico vertical médio 106, rotas de ciclones 316
garoa 89-90, 235-238 140 ventos de oeste 7-8, 177, 311,318
GARP Atlantic Tropical Experiment gradiente vertical da temperatura 62 zonas frontais 244
(GATE) 10 Grampians 158 Hess 274-275
gases Grande Anomalia de Salinidade hidrocarbonos 406-407
climas urbanos 406-407 199-200 hidrogênio (H) 36
espécies reativas 14-16 Grandes Lagos 154, 230, 283-284, 288, hietogramas 92
primários 13-15 290-291 High Plains 294-296
gases de efeito estufa 14-15,435, 469-470 brisa lacustre 154 Highlands escocesas 317
cenários de emissão 455, 468-469 nevasca forte 290-291 higrógrafo 82
efeitos sobre as temperaturas atmos- granizo 89-90, 129- 130, 135, 254-256 higrógrafo de cabelo 2, 82
féricas 63-64 formaçào de pedras 263-264 higrômetro de ponto de orvalho 82
gases-traço 14-15, 62-65, 468-469 grãos de 136 Himalaia 174, 385-386, 430-431
efeito estufa 63-64 pedras de 138, 252-254 horas de luz do sol 409-410
gaussiano 489 pedras de granizo gigantes 129-130 Horn , L. 477
geada 90-91 gràos de gelo 129-130 Howard, Luke 116-117
ponto de congelamento de geada gràos de granizo macios 129-130
89-90 graupel 90-91, 138 Ibadan 422-423
Geiger, Rudolf 406-407 graus Kelvin 28-31, 487 ilha de calor 406-407, 415-420,
geleiras 381-383, 462-463 graus-dia de aquecimento 413-415 423-424
balanço de massa específico das graus-dia de resfriamento 413-415 em cidades tropicais 421-423
463-464 gravidade aparente 146, 488 Ilha de Kerguelen 178
encolhime11to468-469 gravidade-padrão 31-32 Ilha de Macquarie 178
perda de massa das 462-464 Great Basin 317 Ilha de Vancouver 286-288
gelo marinho 315-316 alta da Great Basin 282-283 Ilha de Wake 331-332
feedback do albedo 395-396 Great Plains (EUA) 101-102, 254-256, Ilhas Britânicas 236-239, 261, 263
forn1ação 199-200 284-285, 291-292 tipos climáticos 317
Oceano Ártico 55, 57, 457, 469-470 condições sinóticas para clima Ilhas da Sicllia 177
gelo marinho Antárctica-Artico , razão severo 257, 260 Ilhas Havaianas 339-340
325, 464-465 precipitação 292-294 Ilhas Queen Elizabeth 251,3 14
gelo multianual , Ártico 462-463 tomados 256-257 ilhas tropicais, variações na pluviosida-
Geophysica1Fluid Dynamics Labora- Great Salt Lake 154 de diurna 381-383
tory (GFDL) 455 Groenlândia 174, 195-196, 439 Illinois 261, 263
Geórgia 261,263 testemunhos de gelo 439 Imbrie, J.430-431, 439
Ghats Ocidentais 129-130, 354 Grosswetterlage 274-275 incêndios em florestas na Indonésia
giros transientes 181-182 Grundstein 477 407-408
GlSP2 grupo de nuvens tropicais 339-342 inclinaçã.o do eixo da Terra 430-431
glaciação do Permo-Carbonifero grupos de nuvens de mesoescala 7-8 fndia
430-431 guia314 chuva diária na costa oeste 355
idade do gelo 437-438 chuvas n1onçônicas relacionadas
glaciações ver Eras Glaciais Hadley, G. 4, 180-181 com o ENSO 384-385
Glacier, ColúJnbia Britânica 288, 290 Halifax, Nova Escócia 294-298 circulação sobre 343-344
Glamorgan Hills 280 Halley4 falhas nas monções 101-102
Golfo da Califórnia 284-285, 298-299 halocarbonos 14-15 meridional 170, 252-253, 354-355
Golfo da Guiné 362-364 halocarbonos hidrogenados (HFCs, regiões com monções de verão 183,
Golfo de Carpentária 382-383 HCFCs) 14-15 185
Golfo de Tonkin 89-90 Harmattan 226, 361-362 SCM252-254
Golfo do Alasca 282-285 HavaJ 99-100, 380-381 seca relacionada com o ENSO
Golfo do México 233-236, 281-282, Mauna Kea 380-381 384-385
291-292, 298-300 lv!auna Loa 380-381 setentrional 344
Gondwanaland 437-438 Oallu 330-331 indicadores alternativos 43
Gorczynski 270 Hays, J.D.430-431, 439 índice baixo 6-7
,
504 lndice

índice da Oscilação Sul (SOI) 185-186, janelas atmosféricas 47-48, 66, 68 linha de neve cUmática 281-282
371-372 Japão248 linhas de correntes 149, 151, 323,345
fndice de Explosividade Vulcânica 451 central 358 convergência 325
índice elevado 6-7 rotas de depressões sazonais de ventos médios resultantes 227
índice radiativo de secura 477 348-349 linhas de instabilidade 136, 233-236,
índice zonal alto 311 jato de baixo nível 236-239, 294-296 252-254,339-342, 347-348,362-365
índices de conforto 479-480 Sonoran 298-299 sistemas coovectivos sem linhas de
conforto humano 479-480 jato de leste 349-350 instabilidade 339-340
Indonésia-Malásia, continente maríti- Jato de Leste Africano (JLA) 339-341, sistemas tropicais 339-340, 360
mo 339-340 362-364 sumatras 339-340
indução 136, 138 Jato Tropical de Leste 340-341, linhas de razão de mistura de satura-
Inglaterra 362-364 ção 108
leste 281-282 Joule 487 lisímetro 85, 103-104
neve no sudoeste 281-282 Londres 269, 406-409
sul 101-102 Kalat 351 chuvas de tempestade 420-421
Inglaterra e País de Gales, variações na Kaliningrado 55, 58-59 ilha de calor 415-419
pluviosidade 446 kha1nsin 304-306 temperaturas mínimas, luz do sol
insolação 3, 199-200 Kõppen, Wladimir 5 em 409-410
instabilidade 110-113, 140 Kortright 340-342 Los Angeles 407-411
instabilidade atmosférica 107 Kukla, G. 428 Louie 477
instabilidade barocllnica 232 Kuroshio 195-196, 285-286 Lunz4-00
instabilidade condicional 110-113 luz do dia, duração 46
do segundo tipo (CISK) 336 La Nina 371-374, 385-386 luz visível 41
instabilidade convectiva 113-115, enche11tesna fndia 384-385
236-239 Labrador, costa 288, 290 Madagascar 354
instabilidade dinâmica 147 Labrador-Ungava 311-312 magnetosfera 36
instabilidade do ar 110-113, 140 Ladurie, Emmanuel LeRoy 428 Malásia 339-340, 352, 382-383
ver também convecção Lago Baikal 357 Manaus 59-60, 370-371
intensidade recorde 92 Lagos 366-367 Manchester 408-409
interação oceano-atmosfera 194-196 Lake District 279 Mangalore 354
absorção de co2435 Lamb, H. H. 270, 271, 428 Manley, Gordon 428
regulação atmosférica 200, 202 Landsberg, Helmut 406-407 manto de gelo 315-316, 435, 461-462
interações da água oceânica profunda Langmuir 126 Antártica Ocidental 461-462
196-200, 202 Latham, J. 136 dinâmica 468-469
circulação 197-200, 202 latitude Groenlândia 461-463
Inukjuak 290-291 efeito da radiação solar 46, 49-52 manto de gelo antártico 55,174
"inverno sem núcleo" 315-316 temperatura diurna e anual 66, perda de massa 460-461
inversão 351 68-69 mantos de gelo continentais 440-441
intensidade 315-316 latitudes altas 308-316 mapas sinóticos do tempo 232,
subsidência 328-330, 378-379 Lauer, W. 478-479 483-484
iodeto de prata 125 lebeche 305-306 mapas-múndi
ionização 36 Lei de Boyle28-31 de precipitação 4, 97-98
ionosfera 36, 139 Lei de Charles 28-31 nebulosidade anual e mensal 4, 51
irradiação global, diária 301 Lei de Stefan 41, 62-63, 73, 75 Mar da Arábia 339-340, 354
irradiância solar 453 Lei de Wien 41, 73, 75 Mar da Noruega 195-196, 244,250
efeitos astronômicos sobre 44-45 lei do gás ideal 1, 28-31 Mar de Barents 250, 311-312
isentr ópicas 108 Leicester 408-409, 418-419 Mar de Beaufort 314
Islândia 174, 188-189, 311-312 leis do movimento horizontal 143 Mar de Ross 314
isóbaras 108 levante 305-306 Mar de Sargasso 196-197
isopreno 406-407 Llbby,w.439 Mar de Weddell 198-200, 314-316
isótacas 149 lidar 163 Mar do Labrador 188-189
isotermas l 08 limite Eoceno/Oligoceno 437-438 gelo marinho extensivo no 188-189
isotermas anuais médias para o Hemis- limites frontais, gradientes de espessu- Mar do Norte 274
fério Norte 4 ra de 1000-SOOmb233-235 Mar Mediterrâneo 318
isotrópico 47 limites sazonais do gelo 311 Mar Negro 302-303
linha de árvores, alpina 465-466 Mar Vermelho 19-20
Jacarta 372-374 linha de costa antártica 178 margens subtropicais 296-308
Jacksonville299-300 península 464-465 Margules 5-7
Jamaica333 setor do Oceano fndico 178 Martinica 330-331
,
lndice 505

massas de ar 224,261,263 Meio-oeste 138 modelo das nuvens «semeadoras-ali -


América do Norte 226, 228 meses de inverno severo 277 mentadoras" 131-132
áreas-fonte 224-225, 228 mesobaixa 257, 260-261 modelo de Bjerknes da formação de
ártica marítima 230 mesopausa 36, 37 ciclones 215-216, 232
baixas latitudes 231-232 mesosfera 35-36, 139 modelo de três células da circulação
barotrópicas 225 metano (CH 4 ) 13-15, 21-25 , 37,435 atmosférica 4, 181-182
conceito de 224 concentração em testemunhos de modelo espectral 207
efeito da mistura 89-90 gelo26-27 modelos acoplados 207-209
frequências 308 projetada 455 Modelos de Circulação Geral (MCG)
frias 225-226, 229,261 , 263 meteorologia e climatologia, história 9-10, 209-212
Hemisfério Norte 225,227, 228 1-12 aplicaçÕes 454
Hemisfério Sul 225, 227 meteorologia por radar 92 fundamentos 206 -210
inverno225 meteorologia por satélite 213 interaçÕes entre processos físicos
mediterrânea, mistura 225 México , cidades no 421-423 207
quente 226-227, 230, 261,263 Mianmar 352, 385-386 modelos mais simples 211-212
secundárias 261,263 Michigan 261, 263 simulações 209-212
subsidência 227,228 microclin1a de plantaçães de pequeno modelos dinâmicos do gelo marinho
temperatura vertical 1nédia 226, 228 porte 397 208-209
tipos 286-287 dióxido de carbono 398 n1odelos numéricos 206-222
verão 227, 228 temperatura 397 a circulação geral 209-212
matéria orgânica particulada (MOP) vapor de água 398 clima 457
410-411 velocidade do vento 398 previsão do tempo 214-216
Mather476 micrômetro 41 1nodelos regionais 211- 212
Matthews, R. 428 Milankovitch, Milutin 8-9, 430-431 , modificação de massas de ar 227-232
Mauna Loa 64-65 439 alterações dinâmicas 229
Mawsyuram 380-381 milibar (mb) 28-31 alterações termodinâmicas 229
máxima de precipitação na costa oeste Minicoy 348-349 , 355 idade 231-232
em latitudes médias 95-96 Minima de Maunder 44, 431-432 massas de ar secundárias 229
máxima precipitação esperada 94-95 Minna, precipitação 365-366 1necanismos 229
para EUA continentais 94-95 mistura de camadas contrastantes polar marftima 230
MCG do oceano 208-209 89-90 Modo Anular Norte 188-189
mecanismo "semeador-alimentador" mistura turbulenta 229 Modo Anular Sul 189-190, 464-465
126, 131-132, 134 mistura vertical , efeitos de uma massa modos convectivos 255-256
mecanismo de desenvolvimento de dear114-115 evolução de 255-256
ondas longas 165 Mitchell, J.Murray 428 momento angular 169, 179-180, 194-195
de movimento vertical 117-118 Moçambique 367-368 conservação do 206
mecanismo de fraginentação 138 moda489 momentum , conservaçào do 206,257 ,
média aritmética 488 modelo 260-261
média anual da forçante líquida das baroclínico 215-216 monçÕes asiáticas
nuvens 118, 121 Global Forecast System (GFS) data de inicio no inverno 357
média anual da temperatura da super- 215-216 data de inicio no verão 350-351
flcie do ar, mudanças projetadas 458 model output statistics(MOS) monções da An1érica do Sul 368-370
média anual do transporte de calor 216-217 monções de verão 101-102, 177
meridional 69 -73, 193-194 modelo do balanço de energia monções de verão australianas 357-361
média global do nivel do mar 462-463 (EBM) 211-212 monçães na Ásia meridional 7-8,
mediana489 modelo estatístico dinâmico 211-212 94-95, 340-357
Medicine Hat, Alberta 290-292 modelo radiativo convectivo {RCM) começo do verão 348-351
medições com pipas 163 211-212 inverno 343-347
medições do ar em níveis superiores, modelos da coluna vertical 222 outono 356-357
história 163 modelos de balaço de energia 222 prinlavera 346 -349
medidas por aeronaves 16-17 modelos do clima global 457 verão 350-356
Mediterrâneo 230-232, 278, 300, "modelos ETA" de área limitada monções norte-an1ericanas 298-299
302-304, 344 216-217 monoterpeno 406-407
clima 478-479 modelos regionais 211-212 monóxido de carbono 406-407
depressões 303-304 ver também Modelos de Circulação Montanhas Atlas 300, 302
frentes 242 , 263-264, 299-300, 302 Geral montanhas da Guatemala 99-100
oriental 183, 185 modelo ciclônico norueguês 233-234 montanhas galesas 158
precipitação 301 modelo da estação para dados meteo- Montanhas Harz 401-403
ventos 302-303 rológicos 484 Montanhas Koolau 380-381
,
506 lndice

Montanhas Rochosas 97-98, 155, 156, National Hurricane Center 217-218 Nova Délhi 347-348, 422-423
158, 166, 291-292 estações naturais 274-276 Nova Inglaterra 283-284, 294-296
aumento na neve por semeadura na neblina 16-17, 117-118, 288,290 Nova Orleans 299-300
encosta oeste 126 advecção 230, 288, 290 Nova York 410-411, 417-418
cavados e1n ondas 250 gotículas 401-403 Nova Zelândia 308, 318
Montanhas Transantárticas 315-316 neblina de vapor 89-90 Alpes 156
Monte Baker, WA 287-288 nebulosidade 49-50 , 64-65, 315-316 chuvas fortes 310
Monte Cameroon 380-381 neutral, camada lim.ite 148 Novo México 139, 292-294
Monte Kenya 381-383 nevascas de Buran 346-347 núcleos de condensação 114-115,
Monte Kilimanjaro 381-383 nevascas fortes 230, 290-291 121-122
Monte Pinatubo 28-30, 450-451 neve 129-130, 277 núcleos de congelamento 121-122, 140
Monte Waialeale 380-381 albedo 49 núcleos higroscópicos 114-116, 140
Monte Washington 155 balanço de energia 394-397 Número de Richardson (Ri) 149,
"Morning Glory" 382-383 depositada sobre o solo 281-282 256-257
Moscou 269, 415-418 deriva 315-316 nuvem cumuliforme 116-118
movimento atmosférico 143 duração média anual 55 nuvem em vírgula 241,250, 328-330
convergência 149-150 espessura 287- 288 nuvem estratiforme 99-100, 117-118,
dívergência 149-150 extensão 57, 467 -468 227, 362-364
leis do movimento horizontal Hemisfério Norte 57 nuvem
143-149 mudanças na cobertura de neve 261, água80
movúnento vertical 150 263, 285-286, 465-466 cobertura 245
principios do 143 na Grã-Bretanha 277 espira.is 250
ve.ntos locais 151-155 ocorrência com a altitude 281-282 forçante 121
vorticidade 150-151 sobre as terras do Ártico 314 gotículas 125
ver também circulação atmosférica; soprada 315-316 núcleos de condensação 115-116,
ventos neve no Himalaia 7-8 453
movimento ciclostrófico 147 Nicholson, Sharon 446-447 sistemas 234-237
movimento vertical 149,150,247 Nigéria nuvens
movimentos em escala planetária 161 chuvas ruonçônicas 365-366 alitnentadora 126
mudanças adiabáticas na temperatura linhas de instabilidade 365-366 altura da base 116-117
108,229 tempestades 365-366 10 grupos básicos de nuvens
mudanças antropogênicas na com- nitratos de peroxiacetila (PANs) 117-118, 140
posição atmosférica e cobertura do 410-411 baixa altitude 52
solo 433 nitrogênio (N 2) 2, 13, 36 cirrus 116-117, 128
no clima global 436-437 nível de condensação 110-111 classificação 116-117
mudanças climáticas 427-472 nível de condensação convectiva cobertura global 51
alterações no nivel do mar 460-462 110-112 cun1ulonimbus 129-131 , 135, 182-
fatores antropogênicos 455, 468-469 determinado pelo uso de carta 183, 236 -239 , 257, 260-261, 356
modelos de previsão 456 adiabática 110-112 cumulus 117-118, 125, 326
modelos do IPCC 461-456 nível de condensação por elevação de teinpestade 123
mudança projetada 459-469 110-112 depressões frontais 232
neve e gelo 461-462 nível de condensação por mistura distribuição zonal 2
período glacial 438, 439 114-115 efeitos da radiação 49-52, 64-66
período histórico 440-441, 443 nível de congelamento 129-130, eletrificação 136, 140
recentes 441, 443-447 462 -463 formação 107, 114-115
registro climático 436-447 nível de convecção livre 110-113 formação de gotas de chuva em
taxas de mudança nível de não divergência 150 114-122
vegetação 465-466 nível do mar 437-438 grupo 326-329, 356, 383-384
mudanças sazonais em ventos superfi- contribuições para a mudança nimbostratus 236-239
ciais 342-343 461-462 observadas de satélites 233-234
mudanças projetadas 460-461 padrões de 233-234
Nagoia, variaç.ões sazonais de normais nível médio do mar 37 resfriamento radiativo de 64-65
360 noite polar 21-22, 35, 46 "ruas de nuvens" 118, 120, 326
Nairóbi 381-383, 422-423 nomogramas de altura, pressão, distân- ruas 326
Nandi 381-383 cia e temperatura 482 semeadora 126
National Center for Atmospheric nor'westers 347-348 semeadura 125
Research (NCAR) 455 North Wales 281-282 stratocwnulus 236-239
National Centers For Environmental Noruega 131-132, 268 stratus 117-118, 230
Pred.iction (NCEP) 215-216 norte 311-312 nuvens cirriformes 116-117
,
lndice 507

nuvens estratosféricas polares 20-21, 35 Olympic Mountains 99-100 óxido nitroso (N 2 0)14-15, 23, 25-28
nuvens marítimas 126 onda com forma de "V invert ido" 33 oxigênio {0 2) 2, 13, 36
nuvens noctilucentes 36 onda de calor europeia 446 -447 ozônio (O J 13-15, 18-21, 406-407
nuvens quentes 125, 328-329 onda de leste 328-330 , 362-364, Antártica concentra 453
nuvens stratus 117-118 , 230 367- 368 "buraco" 21-22 , 27-28, 37,453
ondas depleção 27-28
obliquidade 431-433, 437-438 móveis 367-368 efeito estufa 63-64
Observatório Hohenpeissenberg 98-99 nos ventos de leste 328-329, 364-365 estratosfera 22, 27-29
Oceano Ártico 314, 318 nos ventos de sudoeste 364- 365 na estratosfera ártica 453
encolhimento do gelo marinho V invertido 328-330 na troposfera 23, 27-28, 453
463-464 ondas atlânticas 328-330 redução no Ártico 2 7-28
Oceano Atlântico, núcleo quente 376, ondas de fr io 290-291 ozônio atmosférico total 35
378 ondas de Kelvin 196-197
ver também Atlântico Norte; Atlân- oceânicas internas 374-376 Pacific Hurricane Center 217-218
tico Sul ondas de leste africanas 339-341 Pacifico Central 374-376
Oceano Atlântico Tropical , variação ondas de Rossby6- 7, 164-166 , 168, Pacífico Norte 183, 185,242 , 250,
diurna do balanço de energia 394-396 177,183, 185, 196-197,367-368 263-264
oceano chato 208-209 na troposfera média e superior 246 ciclones tropicais 327
Oceano fndico 170, 310,318 , 376,378, ondas de sotavento 155, 156 corrente 196-197
385-386 ondas estac ionárias 181-182 Pacífico Sul 242
Oceano Mer idional 310, 315-316 ondas frontais 231-232 anticiclone subtropical 326
circulação superficial 311 clássicas 241 padrão de ondas longas 202-203
oceano na camada de mistura 207-209 duração de depressões 232 padrão do Pacifico-América do Norte
Oceano Pacífico 291-292 familias 241-242 {PNA) 191-192 , 282-283 , 376 , 378
característica climatológica do zonas de formação 242 padrão mundial de precip itação 94-95,
Pacífico sudoeste 308 ondas longas semiestacionár ias (Ross- 97-98
célula de alta pressão do Pacifico by) 263-264 padrões de bloqueio 275-2 76
ocidental subtropical 298-299 Oregon 131-132 padrões de escoamento, Grã-Bretanha
central 374-376 costa do 154 270
piscina quente 328-329, 339-340 Organização Meteorológica Mundial padrões do ar superior 164-166
Oceano Pacífico equatorial 339-340 ("½7MO) 10, 428,483 padrões médios em níveis superiores
núcleo quente 328-329 áreas de coleta de dados 2 14-215 164
oceano pantanoso 207-209 Oriente Médio 344 Painel Intergovernamental sobre
oceano-atmosfera , interações 192-193 , orografia 103-104 Mudanças Climáticas (IPCC) 12,
468-469 cavado orográfico de sotavento 428-429
modelos de circulação geral (MC- 252-254 simulações 454
GAO) 208-210 , 455 pluviosidade orográfica 134 País de Gales 279, 280
processos 192-193 orvalho 90-91 paleoclima 7 -8
oceanos 78 Osaka 415-418 Palmer Drought Severity Index (PDSI)
boias ARGOS 382-383 Oscilação Antártica 189-190 87-89
condutividade, temperatura e senso- Oscilação Ártica (OA) 188-189 Pamir 100-101
res de profundidade 190-191 Oscilação de Madden-Julian (MTO) pancadas de chuva 126, 129-130 , 135
conteúdo de calor 436-43 7 383-384 Pap ua-Nova Guiné 100-101, 326
expansão térmica 460 -461 Oscilação Decenal do Pacifico (PDO) Paquistão 344
inércia térmica 435 190-191, 202-203 Paraguai 378-379
medidas dos 190-191 Oscilação do Atlântico Norte (NAO) parameterizações 208-209
papel 58-60 188-191, 202-203, 378-379, 463-464 parâmetro de Coriolis 145, 151, 164,
perfis de salinidade 190-191 Oscilação do Pacifico Norte (NPO ) 165,183 , 185,333 , 488
oclusão frontal 232 , 263-264 191-192, 202-203 partículas at1nosféricas 18- 19
oclusões 236-241 Oscilação Quase-bienal (QBO ) em partículas de .Aitken 17-18
frias 239 , 240 ventos estratosféricos 338-339 , Pascal (Pa ) 28-31
instantâneas 239,241 383-384 Passagem Noroeste 466-467
processo de oclusão 232-236 Oscilação Sul 7-9 , 185-186 , 326, penetração de luz, florestas tropicais
quentes 239 , 240 371-372 400
Ohio Valley 294-296 oscilações semidiurnas na pressão , Península da Coreia 358
Oimyakon 313 382-383 Península de Kamchatka 313
Oke , T. R. 406-40 7, 414-415 óxido de nitrogênio (NO , ) 15-16, Península Ibérica 250
Oklahoma 137 406-407 Penman, H.L. 86
olho do ciclone 338-339 óxido nítrico (NO) 15-16 Pequena Idade do Gelo 441 , 443
,
508 lndice

perda de massa de mantos de gelo distribuição sobre o sudoeste da pressão ao nível médio do mar 31-32
460-461 Inglaterra 96-97 distribuição 173
perfiladores de vento 163 intensidade 90-91 pressão de vapor 31-32, 80
perfis da velocidade do vento 401-402 intensidade e duração 93 saturação 116-117, 121-122
carvalhos 401-402 interceptação 85 pressão global média 243
em floretas de pinheiro Ponderosa orográfica 134 pressão mensal média 5, 173
401-402 tropical 342-343 pressão parcial 31-32
periélio 44-45, 430-431 variaçÕesdiurnas em ilhas tropicais pressão total 28-31
. -
previsao
periodicidades astronô1nicas 430-431 381-383
período Cretáceo 437-438 poeira mineral 17-18 curto prazo 214-218, 222
período do Holoceno 428, 437-438, polinia 314 longo prazo 214-215, 222
440-441 polo frio 313 médio prazo 214-218, 222
Máxima Térmica 440-441, 460-461 Polo Sul 315-316, 453 previsão: fontes de dados para 211-212
período Terciário 437-438 poluição 422-424 clima tropical 382-384
períodos 317 ciclos 410-411 encontro de furacões com a terra
de clima anticiclónico 274-276 contro le 410-411 383-384
frequência de períodos longos sobre distribuição 411-413 previsão do tempo, métodos numéri-
a Grã-Bretanha 275-276 domo 411-412, 414-415 cos 215-216
frios 282-283, 290-291 impactos 411-413 previsão imediata (nowcasting)
quentes 290-291 poluição do ar 414-415 217-218, 222
permafrost 311-312, 318, 395-396, contro le da 410-411 previsões numéricas, erros nas
469-470 ver também Clean Air Act, RU 216-217
derretimento 468-469 poluição por particulados 407-408 procedimento de truncamento 207
lençol de pennafrost 314 precipitação 89-90 processo de Bergeron 126, 135
Permo-Triássico 430-431 África Ocidental 362-366 processos de difusão 392
Perpignan 303-304 antiga União Soviética 313 produção de calor humano 414-418,
perspectivas de longo prazo 217-222 aumento da taxa 280 423-424, 479-480
capacidade de prever 222 aumento sobre Inglaterra e País de Programa de Pesquisa Atmosférica
previsões análogas 222 Gales 280 Global (GARP) 10
previsões mensais e sazonais 218, 221 características 89-91 Proterozoico 437-438
resultados mensais e sazonais 220 e o balanço de umidade 291-298 Protocolo de Montreal 22, 26-27, 453
perturbações de latitude média 5-7 eficiência 474,476 psicrómetro 82
perturbações na África Ocidental estações no oeste do Canadá 287-288
328-330 estratiforme 326 Quarto Relatório de Avaliação 456,
perturbaçães ondulatórias 328-332 formação 121-122, 140 457, 460-461
perturbações tropicais 326-332 formas de 89-90 Quaternário 437-438
Peru 374-375 máxima altitudinal 96-97 Quebec 294-296
Petterssen 232 medidas 89-91 quebra-ventos 400
Phoenix 298-299 mudanças 459 queima de biomassa 454
picnoclina 191-192 no oeste da Grã-Bretanha 98-99 queima de combustíveis fósseis 21-22
Pincher Creelc,Alberta 157 orográfica 131-132 Quito 421-422
plages 41, 44 padrão mundial 94-95
Planalto Tibetano 166, 246, 343-344, processos 107 radar 163, 235-238
348-350, 356, 358, 430-431, 437-438 tipo ciclônico 130-131 Doppler 217-218
planícies de sal 154 tipo convectivo 129-130 imagem 332-333
planícies do Mississippi 299-300 urbana 419-421 radar meteorológico 92, 383-384
plataformas de gelo 314, 465-466 precipitação efetiva 473 radiação 47, 67
Platô de Fouta-Tallon364-365 precipitação global média 97-99 balanço, saldo 65-66, 68-70
platô polar 316 precipitação sólidal29-130 distribuição solar anual 53
Platô Polar Antártico 316 precipitação superficial 247 e variações na temperatura 68-69
Pleistoceno 429-430, 435, 437-439 pressão espalhamento 47
Pleistoceno Tardio 428 atmosférica 28~32 de ondas longas, saldo 67, 394
plumas de poeira 19-20 distribuição ao nível do mar 173 para todos os con1primentos de
pluviômetro 90-91 vapor 31-33 onda, saldo 72-73, 393
pluviosidade 89-90, 103-104 variação com altura 37, 161 planetária líquida 7 1
chuva gélida 89-90 pressão ao nível do mar 487 ver também balanços de energia;
convectiva 134 cálculo da 31-32 radiação solar
diagramas de frequência da duração distribuição 173 radiação de ondas curtas 3, 47, 67,
95-96 mudanças projetadas 459 73, 75
,
lndice 509

radiação de ondas longas (térmica) 3, refletividade do radar e taxa de pluvio- Rossby,e. G., 215-216
47-48, 63-64, 67, 434 sidade 92 Rotherham 272, 273
radiação infravermelha 47-48, 73, 75 região de "piscina quente" 328-34-0 rotor 155, 156
radiação, saldo de 66, 68, 71, 73, 75, região do Mississippi 292-295 rugosidade aerodinâmica 149
411-413 região indiana, pluviosidade 1nensal rugosidade superficial 404-405
balanço 70, 72-73 346-347 Ruwenzori 381-383
radiação próxima da vermelha 41 regime de ventos 438
radiação solar 40-60 regime de ventos quase-bienal 35 Saara 183, 185, 305-306
albedo 49, 52, 55-56 regimes de temperatura em florestas eventos de poeira 337-338
altura do sol 46 404-406 SahellOl-104,202-203
distância do sol 44-46 regiões árticas pluviosidade 384-385
distribuição espectral 42 extensão de gelo marinho en1 seca 202-203, 454
duração do dia 46 setembro 464-466 salto de alta pressão no meio do verão
efeito da atmosfera 47-49 gelo marinho 55, 325, 461-462 283-284
efeito da cobertura de nuvens 49-50 regiões desérticas subtropicais 440-441 Santa Ana 157
efeito da latitude 45, 47-52 regiões n1onçônicas 94-95, 182-183 São Francisco, banco de neblina
efeito da terra e mar 52-60 períodos ativos e intervalos 353, 379-380
efeitos da altitude 62 355,356,360 , 385-386 saraiva 90-91, 129- 130
elevação e orientação 59-60 regiões polares 6-7, 313 satélites 1S l
espectro de energia 41-43 balanço de energia 395-396 Advanced Very High Resolution
global anual média 53 registro climático 436-447 Radiometer (AVHRR) 213
líquida 434 atual e pós-glacial 438, 440-441 Automatic Picture Trat1smission
penetrando na superficie do mar 57 eras glaciais 437-438 (API) 213
produção solar 40-44 Quaternário 437-438 cobertura de geoestacionários
recepção superficial 46-47, 49, 55 registro geológico 436-437 214-215
sobre encostas 59-60, 62 últimos 1000 anos 440-438 Defense Meteorological Satellite
visível 40 registro de polen 427,439 Prograin (DMPS) 213
radiação terrestre 42, 59-60, 62-69, registro geológico 436-438 Earth Observing System (EOS),
73,75 registros da pluviosidade 2, 93, 380-381 imagens geoestacionárias 383-384
emanante 66, 68 registros em testemunhos de gelo 8-9, Geostationary Operational Environ-
radiação ultravioleta 35, 36, 41, 435,439 mental Satellites (GOES) 212
410-411 erupções vulcânicas em testemu- Nimbus da NASA 213
radiação ultravioleta-E 28-29 nhos de gelo GISP 2 28-29 satélites climáticos em órbita polar
radical OH 15-16 estimativas de concentrações em 213
radiossonda 3, 163 testemu nhos antárticos 25-26 sonda Higll-Resolution Infrared
raios 135,136, 138-140 registros sinóticos 211-212 Radiation (HIRS) 213
descargas da nuvem para o solo 138 relação de Clausius-Clapeyron 31-32 Television and Infrared Observing
distribuição global de relâmpagos relações ar superior / superficial Satellites (TIROS) 213
137 245-248 Tropical Rainfall Measureinent
estágio de lider 138 correntes de jato e frentes de super- Mission (TRMM) 382-383
estrutura das cargas elétricas cm ficie 246 satélites orbitais polares 212
tempestades em massas de ar 139 ten1peraturas da superflcie oceânica saturação 80, 110-111
golpes de retorno 138 e trilhas de correntes de jato 249 ScheffervillePQ 311-312
potencial de colapso para haver Relatório Especial sobre Cenários de Schell, I. 372-374
descarga elétrica 139 Emissões (SRES)455, 456 Schweingruber, F. 439
raios das nuvens para o solo 137 reservatórios globais de carbono 23 scirocco 305-306
relâmpago laminar 138 resfriamento adiabático 110-113 Seattle 418-419
trovão 138 resfriamento por contato 88-89 seca 100-101, 103-104, 439
Rapid City, SD 292-294 resfriamento radiativo 62-63, 88-89, áreas da região central dos EUA
rawinsonde 32-33, 108, 163 226 101-103
razão de Bowen 86 resolução horizontal 207, 211-212, 455 Great Plains 101-102
razão de mistura 225, 487 ressurgência 191-193, 195-199, Ilhas Britânicas 446-447
razão de mistura de massa 80 378-379 fndia 356
recordes mundiais de pluviosidade 93, mecanismos 199-200 Inglaterra e País de Gales 102-103,
380-381 Reunião 80 277
Rede Norte-Americana de Detecção de Reykjavik 415-418 mudanças projetadas 460-461
Raios 140 Richardson, L. F., 215-216 nordeste brasileiro 372-374, 378-379
redemoinhos turbulentos 149 rime 90-91, 136 noroeste da Europa 102-103
redes de radares 217-218 Rind, David 430-431 o Sahel 102-103, 202-203
,
510 lndice

sensibilidade climática 11, 435-437 sondas acústicas 217-218 teleconexões 8-9, 191-192, 374-379
equilibrio 435 sondas de micro-ondas 163 temperatura 33, 34, 438
Serra Leoa 340-342 sorgo em Tempe 398 advecção horizontal 62
Shackleton, N. 430-431, 439 balanço de energja diurno 399 anomalias e extensão da neve
Shurin South Dovms 280 -467-468
chuvas 359 South Wales 280 conversões 482
estaçào 359 Squires Gate 273 nooceano58
Sibéria 261,263,268 Sri Lanka 348-349, 355 planetária efetiva 63-64
Sierra Nevada 97-98, 155 St. Lawrence317 plantação de cevada 398
awnento na neve com semeadura St. Louis411-412 , 420-421 redução com a altitude 73, 75
na encosta oeste 126 St Swithin's Day 274-275 registros instrumentais 427
símbolos sinóticos 484 Steadman , R.G. 479-480 superficial global média 63-64
Simpson, G.C. 439 Strahler, N. 478-479 variações anuais e diurnas 58, 66-69
simulações com modelos 209-212 stratocumulus 117-118, 235-238 variações na atmosfera livre 59-60,
climáticos 209-210, 456, 457 marinha 330-331 62-63
completos 219 subártico 311-313 temperatura de bulbo úmido 358
simulaçôes compostas 216-217 subcontinente indiano 250, 382-383 temperatura do ponto de orvalho 82,
singularidades 274-276, 317 subgeostrófico 147 103-104
de padrões de circulação 274-275, sublimaçào/deposiçào de gelo 85 temperatura potencial constante 108
283-28-4 subsidência 110-113, 256-257 temperatura potencial de bulbo úmido
sistema climático 9-10, 429 Sudano-Saheliano : cinturões e depres- 109, 233-235, 274
Sistema Internacional (SI) 482 sões 365-366 temperatura potencial equivalente
sistema Terra-atmosfera, mudanças de Suécia 133, 269 233-236
energia 179-180, 210-211 Suíça 90-91 temperaturas do solo 55, 58-59
sistemas convectivos de mesoescala "sulco de baixa" 25-4-256 temperaturas médias da superfície
(MCSs) 252-254, 263-264, 274, Sumatra 382-383 oceânica 201
339-341 sumatras 339-340 temperaturas na superflcie do mar
sistemas de baixa pressào 62-63 "super deflagração" de tornados 58-59
inclinaçào dos eixos com a altura 262-263 "teinpestade QE II" 248
16-4 superflcies isobáricas 229 tempestades 92, 134, 140, 263-264,
sistemas de mesoescala 224 superflcies isostéricas 224, 229 274, 362-364
sistemas de nuvens 382-383 superflcies urbanas 414-415 ciclo de tempestades 135
sistemas de nuvens 234-237 albedo 413-414 correntes ascendentes 257, 260-261
convectivos 339-340 calor sensível 415-418 dias com 299-300
sistemas de nuvens convectivas supersaturaçào 115-116, 140 distribuição vertical de cargas
339-340 em nuvens 116-117 eletrostáticas 136, 138
sistemas de pressào 162, 282-286 Sutcliffe, R. C., 215-216 faixas de cargas positivas e negativas
variação vertical 162 S,vakopmund 379-380 138
sistemas de ve.ntos globais 96-97 Sydney, tempestade severa 254-257 formação de 134
sistemas polares de baixa pressào 314 severas 254-257
sistemas sinóticos 224 Taiti 185-186, 372-374 sobre a Europa Ocidental 274
Skagerrak-Kattegat 242 Tamanrasset 305-306 sobre o planeta 140
Smeybe232 Tampa 300, 302 supercélula 256-257
Smith477 dias com tempestades 299-300 tempestades ciclônicas 478-479
smog 410-411 Tanzânia 367-368 tempestades convectivas de verão
Sno,vdon 279 taxa de evaporação 103-104 298-299
Sno,vdonia 281-282 do dossel 404-405 tempestades de poe ira 230
sodar 163 média global 87 tempestades de supercélulas 256-257
Sol mudança projetada 460-461 tempestades de vento, Grà-Bretanha
altura do 46 taxa de evaporação 85 446-4-47
distância do 44-46 taxas climáticas extremas 92 tempestades de vento encosta abaixo
ver também radiação solar taxas de aprofundamento ciclônico 248 158
solo congelado 318 tectônica de placas 430-431 tempestades tropicais 384-385
solos, variação na temperatura diurna tefigrama 1OS-111 tempo de residência médio da água 78
58 caso de ar estável e ar instável tempo em latitudes médias e altas
Somália 110-111 267-318
corre.nte de jato de baixo nível 354 instabilidade condicional 113-114 tempo tropical 7-8, 322-391
costa 374-376 Teisserenc de Bort 35 previsào 382-384
sondagens at.Jnosféricasverticais 163 tela de Steveoson 82 temporal 339-340
Índice 511

tempos das forçantes 209-210 mecanismo 257, 260 tufões 331-339


tempos de armazenamento 209-210 número médio nos EUA 261, 263 Pacifico Ocidental 333-334
tempos de equillbrio 210-211 sobre as Great Plains 256-257 pluviosidade 359, 360
teor de água precipitável 80 superdeflagração 262 rotas sobre a Ásia oriental 359
teor de vapor 95-96 Toronto 58-60 tundra 314, 466-467
teor médio de água na atmosfera 79, 81 trajetória 229 clima 473
teorema de Normand 110-111 transferência de carga não indutiva cobertura de neve 315-316
teorias de coalescência 126, 140, 136 costeira 395-396
235-238 transferências de energia turbulência 256-257
Terjung, W. H. 477, 479-480 circulação geral 69-70
termais 117-118 em direção aos polos 70, 72, 73, 75 últimas condiçÕes glaciais 438, 440-441
termoclina horizontal (advecção) 70, 72 último ciclo glacial 438-441
permanente 191-192 modificação das 399 Último Máximo Glacial 460-461
sazonal 55, 58-59, 191-192, 202-203, mudanças esquemáticas umidade 80
374-376 oceanos 72-73, 75 balanço 291-292, 296-298
termodinâm ica, primeira lei 206 padrões espaciais 70, 72-73, 75 balanço 87-88
termômetro 1 radiação 65-69 classificações por balanço 474, 476
termômetro de bulbo úmido 82 transição glacial-interglacial 438 divergência 79
termosfera 36 transmissividade 414-415 florestas 401-403
Terra Nova 230,288,290, 315-316 transmontana 303-304 medidas da umidade atmosférica
terras altas da Escandinávia 278 transpiração 85, 401-403 103-104
montanhas 242, 277, 317 transporte de calor 68-73, 75 teor80
Territórios do Noroeste 314 calor latente 70, 72 transporte 82
testemunho de gelo 22 calor se11sível70, 72 umidade absoluta 80
testemunho de gelo EPICA 439 oceanos 70, 72-73 umidade específica 80
Texas 292-296 transporte de energia em direção ao umidade relativa 80, 82
Costa do Golfo 154 polo 69-70, 72-73, 182-183 unidade "elo"479-480
Thornthwaite , C. W. 86-88, 474, 476 transporte meridional de vapor de unidades (SI) 482
classificação de climas 5, 86, 474, água 82-83 unidades Dobson (DU) 22
476 Trenberth, K. E. 372-374 United Nations Framework Conven-
Tianjin 358 Trewartha, G. 477 tion on Climate Change (UNFCCC)
Tibesti 305-306 Trier62 429-430
Tibete, sudeste 356 trilhas de tempestades 101-102, urbano, fluxo de ar418-419
Tien Shan 100-101 190-191,248,282-283 balanço de calor, modificação do
tipo de fluxo de ar de oeste (Lamb), África Setentrional 307 413-419, 423-424
frequência 272 sobre a Europa 268 camada limite 415-418
tipos anticiclônicos 271 trombas d'água 257, 260-261 cânion 413-414
tipos ciclônicos 271 Tropical Rainfall Measurement Mis- gases 406-412
tipos climáticos 478-479 sion (TR.i.\1.M) 382-383 ilhas de calor 406-407, 415-419,
tipos climáticos de Kõppen 474,476 Trópico de Câncer 322 423-424
tipos de circulação: condiç.ões clin1áti- Trópico de Capricórnio 322 influências sobre a precipitação
cas médias associadas 273 Trópicos 49-50 419-421, 423-424
de H. H. Lamb 273 fontes de variação climática modificação de características da
sobre as Ilhas Britânicas 317 378-383 superfície 418-419
tipos de clima 5 previsões de curto prazo e expandi- poluição 406-407
antiga União Soviética 313 das 383-384 umidade 419-420
nas Ilhas Britânicas 317 previsões de longo prazo 383-384 velocidades de ventos 419-420,
tipos de escoamento 271 tropopausa 3, 32-33, 344 423-424
características climáticas gerais 272 estrutura meridional 171 Utah 154
de H. H. Lambs 272 falhas na 32-33
massas de ar associadas 272 troposfera 32-33 Vale da Morte, Califórnia 394
sobre as Ilhas Britânicas 272 descoberta 35 Vale de Yangtze 358
Tóquio 417-419 inferior 37 Vale do Ebro 268, 303-304
tornado 147, 259,257,260 , 263-264 redução da temperatura com a vale do Ganges 351
características nos EUA 258 altitude 32-33 Vale do Ródano 268, 302-303
condições sinóticas que favorecem Troup, A. J. 372-374 Valentia 58-60, 270, 271
257, 260 trovões 138 vales da cordilheira 288, 290
formação 254-256 trowal239 Vancouver, balanço de energia diurno
funil 257, 260-261 Tu.cson 62, 296-299 411-413
,
512 lndice

vapor de água (H 2 0) 18-19 , 37 cinturões globais 17 4-178 vorticidade 149,150 , 488


absorção 64- 65 condições dos ventos em nive is vorticidade absoluta 151
armazenamento 80 superiores 164-169 componente vertical da 151
conservação de 206 de leste polares 178, 202 -203 conservação da 165
divergência 82-83 devido a barreiras topográficas 155 vorticidade ciclônica 151,488
efeito estufa 63-64 geostróficos 145, 146, 159, 166, 168, vorticidade potencial, conservação
feedback 434 488 328-330
pressão 103-104 meridionais de oeste 311 vorticidade relativa 151, 194-195
teor na atmosfera 21-22 mistral 268, 302-303 vorticidade vertical absoluta 159
vapor de pressão saturado 31-32 , 80, 85 montanha e vale 152 vorticidade vertical relativa 151, 159
como função da temperatura 31-32 resultantes 488 Vostok 315-316
Vard 311-312 ventos de oeste em latitudes médias testemunho de gelo 439
variabilidade climática 428 177-178
variabilidade na descarga de rios ventos Alísios, cinturão 4, 84, 87, Walker, Sir G. 185-186 , 188- 189,
460-461 176-17 7 372-374
variabilidade no clima regional 436-437 inversão 2, 330-331 , 378- 381 Washington 131-132
variabilidade solar 430-433 , 468-469 sistemas 323-325 Watertown, NY 290-291
variação climática , tipos de 429-430 ventos Alísios 176-177 , 202-203, Wegener, Alfred 430-431
variação da pressão com a altura 37, 370-371 , 374-376 , 380-381,478-479 Western Highlands 279, 281-282
161 estrutura vertical do ar 330-331 windchill 479-480
variação do ozônio total com a latitude ventos catabáticos 152, 315-316 , 318 Wokingham , Inglaterra 252 -254
e a estação 21-22 ventos chinook(fõhn)I52 , 156, 291-292 World Climate Research Programme
variação vertical do teor de vapor ventos de leste : polares 175, 178 (WCRP) 10
ab11osférico 80 ventos de leste na troposfera superior World Weather Watch 211-212
variações de pluviosidade na zona do 349-350
Sudão 446-447 ventos de oeste , níveis baixos 366-367 Yellowknife 311-312
variações na pluviosidade do Sahe- ventos de oeste de latitudes médias
lo-Saara 445 177, 179-180,202-203 Zaire
variações no índice zonal 186- 189 '\rentos de queda " 158 de baixo nível sobre 366-367
varvitos 439 ventos equatoriais de oeste 176-177, ventos de oeste 366-36 7
vegetação e mudança climática 202-203 , 356 , 358 zona de convergência de ar 366-367,
465-468 ventos locais 151, 159, 317 385-386
velocidade angular 145, 150 ventos mistrais 302-303 , 318 zona baroclínica 233-235 , 247 , 250 ,
para a Terra 145, 179-180 no sul da França 303-304 282-283
velocidade do vento ventos polares de leste 178, 202-203 Zona de Convergência do Pacífico Sul
com altitude 161 ventos superfic iais médios 243 (ZCPS ) 325 , 326 , 374-3 76
em plantação de cevada 398 ventos tropicais estratosféricos 383 -384 Zona de Convergência Intertropical
sobre a Europa Ocidental 268 ventos zonais 166, 182 -183 (ZClT) 7-8, 121, 176-1 7 7,231-232,
velocidades dos ventos nas cidades ventos zonais de oeste 34, 358 244 , 308, 323-326, 339-340 , 355,
419-420 ventos zonais médios (de oeste) 34 366-371,374-376 , 385-386
velocidades médias dos ventos 180-181 veranico (Indian Summer ) 283-286 , 317 mudanças projetadas para 459
vento anabático 152 Verkhoyansk 313 sobre a América do Sul 368-369
vento antitríptico 148 vértices de mesoescala 196-197 zona de máxima precipitação 99-100
vento de montanha 152 Virgínia 261 , 263 zonas de ventos globais 175
vento geostrófico 145, 146, 159, 166, viscos idade de vórtices 149 zonas frontais 169, 171, 478-479
168, 488 viscos idade molecular 149 América do Norte
vento gradiente 146, 147, 159 visibilidade, no RU 408-410 árticas 244
vento solar 36 , 40 volume global de gelo 439 atlânticas 242
vento supergeostrófico 147 ciclos 437 -438 barocl.ln..icas225 , 263 -264
vento térmico 168,247 voos de balão pilotados 163 depressões associadas a 285-286
ventos vórtice ciclônico circumpolar 164 Hem isfério Norte 244
Alemanha 403-404 vórtice circumpolar 164 Hemisfério Sul 244
brisas terrestres e marinhas 153-155 vórtice polar 202-203 , 315-316 marítimas (árticas) 283-284
cierzo 268 vórtices de sucção 257 , 260-261 polares 283-284

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