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All content following this page was uploaded by Rodolfo Alves Barbosa on 15 October 2021.
RESUMO
Estudar os assuntos relacionados ao escoamento superficial é de fundamental importância para
a conservação de solo e água, levando em consideração o seu potencial de causar erosão, perdas
de nutrientes e água. As revisões de literatura surgem como uma fonte de conhecimento através
do levantamento de trabalhos já publicados sobre esse tema. Uma revisão sistemática da
bibliografia publicada sobre escoamento superficial entre os anos de 2000 e 2020 foi realizada,
com o objetivo de mostrar as principais metodologias utilizadas em seu monitoramento, quais
os principais fatores que o influenciam e quais os principais valores encontrados em diferentes
tipos e usos do solo. Na biblioteca científica SciELO, buscando separadamente as palavras-
chaves: “Escoamento superficial” e “Runoff”, foram encontrados 848 artigos dos quais 22
foram utilizados para a revisão dos resultados obtidos de escoamento superficial sob eventos
de chuva natural. Com base nos resultados encontrados o escoamento superficial foi monitorado
sob eventos de chuva natural utilizando principalmente as parcelas coletoras de escoamento em
formato retangular. A precipitação, cobertura vegetal, relevo e os atributos do solo são os
principais fatores que influenciam nos resultados de escoamento superficial encontrados. Os
valores de escoamento superficial em eventos de chuva natural variaram de 0,06% a 84% em
relação ao total precipitado, para diferentes usos do solo.
PALAVRAS-CHAVE: Cobertura vegetal, escoamento superficial, mineração, reabilitação.
INTRODUÇÃO
Com isso buscamos realizar uma revisão sistemática da bibliografia publicada sobre o
escoamento superficial entre os anos de 2000 e 2020 para diferentes tipos e usos do solo a fim
de levantar as principais metodologias utilizadas no monitoramento de escoamento superficial,
analisar os principais fatores que influenciam no escoamento, analisar os valores de escoamento
superficial encontrados em eventos de chuva natural e entender melhor o processo com base
nas informações obtidas.
MATERIAL E MÉTODOS
Fonte: Os autores.
Foram encontrados 848 artigos no total, os quais foram adicionados à plataforma de
citação e referências Mendeley© para auxiliar no gerenciamento dos trabalhos (ELSEVIER,
2020). Uma filtragem de título e resumo dos trabalhos foi realizada e 61 artigos se adequaram
ao estudo, dos quais após a leitura foram utilizados 22 para a revisão dos resultados. Os demais
artigos foram descartados, pois não quantificaram a perda de água por escoamento superficial,
mas somente a perda de solo a ele associado em eventos de chuva natural.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
ESCOAMENTO SUPERFICIAL
O ciclo da água contém vários processos, dentre eles o escoamento superficial (Figura
2). Esse processo compreende as águas que se deslocam livremente na superfície. Anterior ao
escoamento superficial, parte da água das chuvas é interceptada pela vegetação e outros
obstáculos, a qual é evaporada (PINTO et al., 1976), da água que atinge o solo, parte é retida
em depressões do terreno ou infiltrada (CARVALHO; SILVA, 2006). Após o solo alcançar sua
capacidade de absorver a água, ou seja, quando os espaços nas superfícies retentoras tiverem
sido preenchidos, ocorre o escoamento superficial da água excedente (MARTINS et al., 1976).
Fonte: Os autores.
As águas superficiais se dividem em dois grupos: Águas livres e águas sujeitas. De
acordo com Pinto et al. (1976) as águas livres não possuem caminho preferencial, e são
formadas na fase inicial da precipitação. Já as águas sujeitas formam a micro-rede de drenagem,
posteriormente caminhos preferenciais, que darão origem juntamente com as águas
subterrâneas aos cursos d’água.
De acordo com Mendes (2006), existe uma variedade de tipos e formas de parcelas que
podem ser encontradas na literatura. O tamanho das parcelas pode ser definido pelo tipo de
Conhecer essas variáveis permite adequar as práticas de manejo do solo a cada tipo e
uso do solo. Buscando reduzir a velocidade do escoamento superficial e aumento da capacidade
de infiltração de água no solo, essas práticas devem proporcionar a máxima retenção da água
das chuvas, como construção de terraços e boa cobertura vegetal (CARVALHO et al., 2012).
CARACTERÍSTICAS DA PRECIPITAÇÃO
As maiores perdas de solo e água ocorrem nos padrões intermediário e atrasado, devido
à maior umidade da camada superficial do solo quando ocorre o pico de maior intensidade. Em
solos mais úmidos a capacidade de infiltração tende a ser menor e a desagregação do solo pelo
impacto das gotas da chuva também é favorecida, causando o selamento e o escoamento
superficial (OLIVEIRA et al., 2010).
De acordo com Panachuki et al. (2011) após a eliminação da cobertura vegetal, tanto o
impacto das gotas de chuva quanto a ação cisalhante da enxurrada modificam as condições
físicas da superfície do solo, como a rugosidade e a porosidade, e, consequentemente, a taxa de
infiltração de água. A remoção da vegetação pode reduzir significativamente as taxas de
infiltração de água e aumentar o escoamento superficial e a erosão (SANTOS et al., 2011).
RELEVO
Paz (2004) ressaltou que as características do relevo da bacia têm influência direta sobre
o escoamento superficial, principalmente na velocidade do escoamento e na maior ou menor
tendência ao armazenamento da água na superfície ou depressões do solo. O autor também
destacou que o relevo influencia a evaporação, a precipitação e a temperatura, por serem função
da altitude, dentre outras.
ATRIBUTOS DO SOLO
A porosidade é a fração volumétrica do solo ocupada com ar e, ou, água, sendo, portanto,
o espaço em que ocorrem os processos dinâmicos do ar e solução do solo (NÓBREGA et al.,
2015). A porosidade do solo interfere na aeração, condução e retenção de água, resistência à
penetração e à ramificação de raízes no solo e, consequentemente, no aproveitamento de água
e nutrientes disponíveis (TOGNON, 1991).
A infiltração pode ser definida como o fenômeno pelo qual a água passa da superfície
para o interior do solo (ABID, 1978). Os fatores que influenciam a infiltração de água no solo
interferem, também, no escoamento superficial. Sob uma intensidade constante de chuva, a
infiltração e o escoamento superficial são processos antagônicos: à medida que um diminui
(infiltração) o outro aumenta (escoamento) (SPOHR et al., 2009).
A capacidade de infiltração pode ser entendida como a quantidade máxima que um solo
pode absorver de água (PAZ, 2004). Em contrapartida, a taxa de infiltração refere-se à
quantidade de água que atravessa a unidade de área da superfície do solo por unidade de tempo
(LIBARDI, 2005).
Vinte tipos diferentes de uso do solo (Tabela 1) foram encontrados, sendo plantio de
milho (BRITO et al., 2008; CARVALHO et al., 2009; PINESE JÚNIOR; CRUZ;
RODRIGUES, 2008; RIEGER et al., 2016), algodão (LEITE et al., 2018), mucuna
(CARVALHO et al., 2009), crotalária (CARVALHO et al., 2009), feijão (CARVALHO et al.,
2012), sorgo (PINESE JÚNIOR; CRUZ; RODRIGUES, 2008), soja (PINESE JÚNIOR;
CRUZ; RODRIGUES, 2008; RIEGER et al., 2016), cana-de-açúcar (FERNANDES et al.,
2013), mandioca (COSTA et al., 2013), eucalipto (PADILHA et al., 2018; RIEGER et al.,
2016; SILVA et al., 2011), banana (MENDES; MAHLER; ANDRADE, 2011), olerícolas
(MENDES; MAHLER; ANDRADE, 2011), macaúba (CORRÊA et al., 2018) e pastagem
(ALMEIDA et al., 2017; CARVALHO et al., 2012; COSTA et al., 2013; PINESE JÚNIOR;
CRUZ; RODRIGUES, 2008; RIEGER et al., 2016; SALEMI et al., 2012; SANTOS et al.,
2011, 2017; SILVA et al., 2011; SOUZA et al., 2015), além de usos como estradas florestais
(MACHADO et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2015), solo exposto (CARVALHO et al., 2009;
CARVALHO et al., 2012; PINESE JÚNIOR; CRUZ; RODRIGUES, 2008; RIEGER et al.,
2016; SILVA et al., 2005; SILVA et al., 2011), mata nativa (FERNANDES et al., 2013;
RIEGER et al., 2016; SANTOS et al., 2017; SILVA et al., 2011), sistemas agroflorestais
(COSTA et al., 2013), arborização urbana (ALVES; FORMIGA, 2019) e vegetação espontânea
(ALMEIDA et al., 2017; CORRÊA et al., 2018; MENDES; MAHLER; ANDRADE, 2011;
PINESE JÚNIOR; CRUZ; RODRIGUES, 2008; TARGA; POHL; ALMEIDA, 2019).
Dez tipos de preparo do solo foram encontrados: Guimarães Duque (BRITO et al.,
2008), aração profunda (BRITO et al., 2008), aração parcial (BRITO et al., 2008), sulcos
barrados (BRITO et al., 2008), convencional (BRITO et al., 2008; LEITE et al., 2018; SILVA
et al., 2005), queima e trituração dos restos culturais (COSTA et al., 2013; SANTOS et al.,
Dentre os trabalhos que testaram o preparo em nível, aqueles com plantio de eucalipto
registraram escoamento superficial entre 0,8 e 2,6% (SILVA et al., 2011). Em contrapartida,
plantios de milho registraram 28,50% de escoamento, um valor expressivamente menor do que
os 38,57% obtido na condição de solo exposto (CARVALHO et al., 2009), evidenciando a
contribuição do tipo de preparo na redução do escoamento.
(Continuação)
Período de Área das Tipo de
Referência Local Uso do solo ES
monitoramento parcelas tratamento
Santos et al. Iguatu - Gramíneas e
Jan - Mai de 2009 20 m² 31,28%
(2011) CE arbustos
Floresta
96 m² 4%
nativa
Silva et al. Belo 96 m² Pastagem 2,70%
Out/02 - Dez/08
(2011) Oriente - MG 288 m² Eucalipto Em nível 2,60%
Sentido do
288 m² Eucalipto 2,60%
declive
No estudo de Almeida et al. (2017), uma encosta com pastagem degradada foi
comparada com outra em recuperação, obtendo 22,60% e 14,10% de escoamento para os dois
tratamentos, respectivamente, destacando a influência negativa que uma pastagem degradada
tem sobre a geração de escoamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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