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Invasoras Sim! Nada Casuais e Jamais Naturalizadas: O Real Panorama da


Tilapicultura no Brasil

Article in Panorama · July 2023

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51 authors, including:

Silvia Maria Millan Gutierre Ivo Gavião Prado


Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) Universidade Federal de Lavras (UFLA)
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Augusto Luís Bentinho Silva Almir M. Cunico


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ISSN 1519-1141 Publicação: 07/07/2023

Invasoras Sim! Nada Casuais e Jamais Naturalizadas: O Real


Panorama da Tilapicultura no Brasil

Autores
Silvia Maria Millan Gutierre – sil.m.gutierre@gmail.com, Ivo Gavião Prado, Augusto Luís Bentinho
Silva, Adriana Castilho Costa Ribeiro de Deus, Almir Manoel Cunico, Ana Clara Sampaio Franco,
Anderson Oliveira Latini, Andre Andrian Padial, André Lincoln Barroso Magalhães, Angelo Antônio
Agostinho, Angelo Rodrigo Manzotti, Axel Makay Katz, Carla Simone Pavanelli, Carlos Bernardo
Mascarenhas Alves, Carolina Ferreira de Souza, Carolina Rodrigues da Costa Doria, Cláudio Luis
Santos Sampaio, Danilo Francisco Corrêa Lopes, Diego Azevedo Zoccal Garcia, Dilermando Pereira
Lima Júnior, Éder André Gubiani, Erick Cristofore Guimarães, Felipe Polivanov Ottoni, Fernando
Cesar Paiva Dagosta, Fernando Mayer Pelicice, Fernando Rogério Carvalho, Gabriel Lourenço Brejão,
José Luís Costa Novaes, José Sabino, Livia Helena Tonella, Luciano Fogaça de Assis Montag, Luís
Reginaldo Ribeiro Rodrigues, Marcelo Fulgêncio Guedes Brito, Matheus Oliveira Freitas, Marina
Lopes Bueno, Marluce Aparecida Mattos de Paula Nogueira, Mário Luís Orsi, Patricia Charvet, Paula
Maria Gênova de Castro Campanha, Paulo Santos Pompeu, Pãmella Silva de Brito, Rodrigo
Fernandes, Roger Paulo Mormul, Rosa Maria Dias, Telton Pedro Anselmo Ramos, Thalles Gomes
Peixoto, Tommaso Giarrizzo, Wagner Martins Santana Sampaio, Welber Senteio Smith, Vinícius
Abilhoa, Jean Ricardo Simões Vitule

Revista Panorama da Aqüicultura Gutierre et al. 2023


1
Assunto
Falta de critério científico e distorções de informações no texto “Invasoras, Casuais ou
Naturalizadas? Buscando uma classificação científica para as tilápias”, publicado na
Revista Panorama da AQÜICULTURA em 20/04/2023, por Sergio Zimmermann, Renata
M. Barroso Bertolini, Bruno M. Queiroz, Bernardo Baldisserotto e Danilo Streit.

Contexto
Considerando a relevância da Revista Panorama da AQÜICULTURA no Brasil, bem
como a abrangência do seu público leitor, nos preocupa que o artigo “Invasoras, Casuais
ou Naturalizadas? Buscando uma classificação científica para as tilápias”, publicado em
20/04/2023, veicule informações equivocadas ou sem bases científicas sobre o cultivo de
tilápias, sua categorização ecológica e em termos de legislações e seu potencial gerador
de prejuízos ecológicos e socioambientais para futuras gerações. Adicionalmente, o texto
pode amplificar algumas reflexões importantes para o setor produtivo e cientistas da área
referentes ao ciclo total deste tipo de produção e seus reais passivos ambientais, diretos e
indiretos, em ampla escala. Portanto, com o intuito de prover mais informações aos
leitores, apresentamos um texto que (i) sumariza o conteúdo científico disponível na
literatura acerca das invasões biológicas referente às tilápias, (ii) aponta e redireciona
informações e argumentos enviesados, e (iii) esclarece informações no contexto da
legislação brasileira e internacional sobre as espécies exóticas invasoras, para os milhares
de leitores da revista, certamente interessados pelo desenvolvimento da aquicultura e sua
sustentabilidade.
As tilápias (tribo Tilapiini; e.g. gêneros Coptodon Gervais, 1853, Oreochromis
Günther, 1889 e seus híbridos) são naturais de drenagens africanas. Devido ao seu longo
tempo de investimento em pesquisa de seleção e melhoramento, apresentam um bom
desempenho em termos zootécnicos. Por essas características, e sobre um prisma
primordialmente produtivista, foram amplamente disseminadas e incentivadas em
atividades de aquicultura de variadas escalas, levando a escapes em diversos ecossistemas
ao redor do mundo, com registros de invasão e impactos negativos em mais de uma
centena de países, incluindo o Brasil (Casal 2006; Figueredo & Giani, 2005; Vitule 2009;
Attayde et al., 2011; Latini et al. 2016; Birck et al 2019; Vitule et al. 2019; Shuai & Li
2022; Fricke et al. 2023; Froese & Pauly 2023; Shuai et al. 2023).
No Brasil, as introduções de tilápias e sua dispersão, para além do confinamento dos
cultivos, têm ocorrido de forma indiscriminada, crescente, massiva e espacialmente
difusa ao longo dos últimos 70 anos (Figueredo & Giani 2005; Attayde et al. 2011; Latini
et al. 2016; Birck et al. 2019; Vitule et al. 2019). Atualmente as tilápias são reconhecidas
como uma das espécies invasoras mais perigosas para a biodiversidade nas regiões
tropicais e subtropicais do mundo (Latini et al. 2016; Birck et al. 2019; Shuai & Li 2022;
Shuai et al. 2023), em virtude dos riscos e impactos ambientais associados ao processo
de colonização, interações ecológicas e dispersão.

Argumento dos autores


O texto de Zimmermann e colaboradores (2023), publicado pela Revista Panorama da
AQÜICULTURA , edição 191, defende uma distinção no status das tilápias introduzidas
no país, de modo a revisar o entendimento e minimizar os riscos associados. Para tanto,
apresentam uma ideia pré-concebida e sem dados analíticos de custo-benefício de que as
tilápias são mais benéficas do que prejudiciais aos locais onde foram introduzidas. Sobre
esse prisma sugerem a “naturalização” das espécies de tilápia para o território nacional,
com base em dados superficiais e enviesados, pontuando somente seus benefícios

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econômicos e argumentam, também sem dados consistentes, que a presença de tilápias
no Brasil se restringe essencialmente a lugares já degradados ou altamente alterados. Os
autores afirmam ainda que não existem evidências científicas sobre os impactos negativos
da invasão dessas espécies, além de solicitarem veementemente a flexibilização de leis
que regulam o cultivo das tilápias no país. De forma geral, os autores deturpam um vasto
conhecimento científico consolidado e ainda apresentam equívocos graves acerca dos
conceitos e terminologias básicas de invasões biológicas, com forte negligência à
literatura científica nacional e internacional sobre os impactos negativos das espécies
exóticas invasoras, incluindo em particular os dados sobre as tilápias. Além disso,
ignoram ou apresentam ideias enviesadas sobre todo o aspecto biogeográfico, ecológico
e o arcabouço legal da introdução de espécies exóticas invasoras e políticas ambientais
nacionais relacionadas aos pilares ambientais e sociais e de sustentabilidade de longo
prazo, especialmente relacionado à conservação da biodiversidade. Dessa maneira, a
seguir esclarecemos pontualmente os principais equívocos e a ausência de acurácia nos
argumentos insustentáveis expostos pelo artigo aqui tecnicamente criticado.

Equívocos na terminologia de biologia das invasões


Apresentar no título: “Invasoras, Casuais ou Naturalizadas? Buscando uma
classificação científica para as tilápias”, demonstra, por parte dos autores, um claro
desconhecimento sobre a vasta literatura em ciência das invasões, disponível de forma
ampla e de fácil acesso sobre os assuntos especulados. Por exemplo, o trabalho de
Blackburn et al. (2011) sumariza e estabelece um consenso sobre as definições e
terminologias relacionadas ao processo de invasão biológica. No caso das tilápias, seu
processo de invasão em território brasileiro, mediado pela aquicultura e peixamentos,
atende, inequivocamente, a todos os critérios para classificá-la como invasora. Em outras
palavras, sobre os aspectos ecológicos, são capazes de reproduzir, dispersar, atingir
elevadas abundâncias, além de causar uma série de efeitos negativos (ver tópico abaixo).
Inclusive, assumindo um discurso negacionista, os autores desconsideram que não existe
a necessidade de registrar os impactos em todo e qualquer sistema em que uma espécie é
introduzida para considerá-la invasora, já que estudos com base no método científico são
extrapoláveis. Além disso, os autores ignoram as evidências existentes e parecem não
compreender que biologicamente o conceito de invasões biológicas vai muito além dos
limites geopolíticos, simplesmente pelo fato das espécies não reconhecerem nem
respeitarem fronteiras estabelecidas politicamente por humanos (Vitule et al. 2019).
Todas as espécies de tilápias presentes no Brasil são oficialmente categorizadas como
espécies exóticas invasoras em diversas bases de dados nacionais e internacionais,
especialmente por apresentarem registros e evidências de impactos negativos e/ou por
estarem bem estabelecidas, alterando a estrutura das comunidades dos ecossistemas
locais. Dessa forma, solicitar a reavaliação de atos normativos que regulamentam a
atividade de cultivo de espécies não-nativas, bem como solicitar leis menos rigorosas em
relação à introdução e uso comercial dessas espécies, é negar o sólido e vasto catálogo de
evidências científicas e enaltecer o interesse político e econômico correlato ao tema, sem
considerar a conservação da biodiversidade e a sustentabilidade em larga escala como
parte do sistema.

Negligência com a literatura científica


Os autores afirmam que não existem trabalhos científicos que comprovem impactos
ambientais e socioeconômicos das tilápias. Entretanto, existe vasta literatura publicada
em revistas científicas consagradas que atestam, descrevem e/ou discutem esses impactos

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negativos provocados direta ou indiretamente pela introdução de tilápias em diversos
tipos de ecossistemas e biomas. Alguns dados que apresentamos aqui são, inclusive,
similares aos presentes na Nota Técnica publicada por Agostinho et al. (2017) e a lista de
Occhi et al. (2021), o que torna a presente seção do texto uma reapresentação de dados já
exaustivamente consolidados na literatura científica há tempos.
Tilápias vêm sendo associadas a diferentes processos de impactos negativos como, por
exemplo, homogeneização biótica (Bittencourt et al. 2014; Daga et al. 2015); redução da
diversidade e/ou substituição de espécies nativas devido à predação e competição
(Bittencourt et al. 2014; Latini et al. 2016; Cassemiro et al. 2018; Yongo et al., 2023);
desaparecimento e possível extinção de espécies endêmicas (Strecker 2006); infecção por
patógenos co-introduzidos (Strecker 2006); sobreposição e competição por nicho (Vitule
2009; Martin et al. 2010; Sanches et al. 2012; Yongo et al. 2023); deslocamento de
espécies nativas que as tornam mais susceptíveis à predação (Martin et al. 2010);
eutrofização e alteração na qualidade da água (Starling et al. 2002; Figueiredo & Giani
2005; Attayde et al. 2007; Demétrio et al. 2012; Latini et al. 2016; Cassemiro et al. 2018;
Yongo et al. 2023); efeitos negativos sobre a densidade do zooplâncton de maior porte
afetando o recrutamento de peixes, que também se alimentam desse item em suas fases
iniciais de desenvolvimento (Attayde et al. 2007); e perturbações e modificações na
estrutura trófica de espécies de peixes nativos (Shuai & Li 2022; Shuai et al. 2023).
Mesmo em reservatórios, onde em alguns estados do Brasil é permitido por lei o cultivo
de tilápia, a pesca da espécie não trouxe necessariamente benefícios socioeconômicos aos
pescadores locais (McKaye et al. 1995; Agostinho et al. 2007; Attayde et al. 2011), como
muitas vezes se argumenta para favorecer peixamentos. Inclusive, ambientes sem
espécies exóticas apresentam maior valor agregado e sustentabilidade da atividade
pesqueira (Novaes & Carvalho 2013). Embora as tilápias tendam, segundo o catálogo
atual, a se alimentarem em níveis tróficos baixos, há também muitas evidências de que
podem se alimentar de ovos, larvas e até mesmo de pequenos peixes (Canonico et al.
2005). Além disso, o deslocamento de habitat por competição pode expor os peixes
nativos à predação e, indiretamente, diminuir as suas taxas de sobrevivência (Martin et
al. 2010). Tudo isso somado a outros impactos elencados por Occhi et al. (2021).
O fato dos reservatórios ou ambientes poluídos já serem ambientes alterados foi
utilizado pelos autores como argumento de que os impactos das invasões de tilápia sobre
a biota nativa seriam irrelevantes. Esse argumento oculta o fato das espécies invasoras
serem poluentes biológicos e, como tal, tanto a sua introdução deliberada quanto os
escapes por negligência, são formas de poluição e um passivo ecológico e social em
potencial para as futuras gerações. Ademais, reservatórios são considerados trampolins
para que espécies invasoras, utilizando a baixa resistência biótica, possam se proliferar e
dispersar para os trechos naturais da bacia (Johnson et al. 2008; Ortega et al. 2015),
incluindo unidades de conservação. Em ambientes onde a poluição é dominante, a tilápia
contribui para piora na qualidade da água (como relatado acima), tornando-se dominante
em detrimento de outras espécies nativas resistentes, além de não contribuir para a
reversão do cenário poluente. Cabe salientar ainda que alguns dos impactos relacionados
ao cultivo da tilápia ocorrem principalmente nesses ambientes antropizados, onde
diferentes fontes de impactos negativos interagem entre si para potencializar ainda mais
os efeitos nocivos sobre a biota e os ecossistemas. Inclusive, vale ressaltar que não
podemos ignorar nossa dificuldade em detectar impactos de longo prazo ou retardos
temporais nos impactos negativos causados por espécies exóticas invasoras, que também
é algo já bem descrito há tempos (ver: Vitule 2009; Vitule et al. 2009; Vitule & Prodocimo
2012). Mesmo a ausência de evidências de registros de alguns tipos de impactos

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indesejados, especialmente os ecológicos de longa escala temporal, não significa que há
uma real ausência de impactos negativos, mas sim que simplesmente ainda não houve
tempo suficiente, ou esforço de campo adequado para tal detecção do impacto negativo
acontecer, ou simplesmente o fato que não tivemos capacidade técnica, logística e
financeira para medir e quantificar tais impactos.
Além disso, é importante destacar que os autores não citam estudos baseados no
método científico que indiquem a ausência de impacto ou a ocorrência de apenas impactos
positivos em algum sistema aquático natural brasileiro. Os autores não parecem ter
realizado nenhum tipo de revisão com um critério científico, por mais simples que fosse
detectar isso. Por isso, é importante destacar que todo o texto aqui criticado, foi
explicitamente construído com base na subjetividade com uma perspectiva limitada e
pessoal dos autores, contrariando o preceito científico da objetividade, o que deveria
inclusive ser destacado e rebatido devidamente pelos editores desta revista, para
simplesmente evitar a transmissão e geração de equívocos dentre os leitores. Ignorar os
dados científicos, propagar informações falaciosas e desconsiderar a grande importância
de explorar o potencial produtivo nacional demonstra uma conduta antiética por parte dos
autores.

Uso incorreto de informações e conceitos


O texto de Zimmermann e colaboradores se utiliza erroneamente da citação de artigos
clássicos para insistir na naturalização das tilápias. O trabalho citado pelos autores, de
Richardson et al. (2000), apesar de ser uma grande base científica para a biologia das
invasões, foi posteriormente revisado por Blackburn et al. (2011), onde o conceito de
invasão e naturalização foram precisamente esclarecidos. Inclusive David Mark
Richardson – um dos co-autores do trabalho de Tim Blackburn – atestou que a atualização
dos conceitos foi feita com a concordância e participação dele, um dos principais
especialistas da área. De forma equivocada, Zimmerman e colaboradores se valem da
definição de “espécie naturalizada” sob uma perspectiva ecológica, em uma escala
temporal erroneamente curta. Segundo Richardson et al. (2000) e Blackburn et al. (2011)
o processo de naturalização de uma espécie se dá ao longo de séculos, 500 anos ou mais.
Considerando que as tilápias foram introduzidas no Brasil há cerca de 60 a 70 anos, é
incompatível tentar aplicar esse conceito às espécies.
No entanto, se valendo desse conceito temporalmente incorreto, existe forte pressão
no Brasil pela “naturalização por decreto” de espécies não-nativas (Pelicice et al. 2014;
Brito et al. 2018). As tilápias são um símbolo icônico de tais pressões de um setor
pequeno, mas politicamente influente, a fim de fomentar o desenvolvimento de uma
aquicultura simplista que considera apenas o ponto de vista econômico e de produção a
curto prazo, sem uma devida preocupação com seus possíveis impactos e riscos para
questões ambientais e sociais em escalas amplas e para futuras gerações (Vitule et al.
2012; Charvet et al. 2021). Vimos, por meio do texto publicado pela Revista Panorama
da Aquicultura, mais um exemplo da ação desse lobby às custas do demérito das pesquisas
sobre o assunto. Reverter o status da tilápia de invasora para “naturalizada” abre brechas
na legislação brasileira que, em geral, regulamenta apenas invasoras. Há também várias
evidências de que o cultivo de tilápias realizado no Brasil, quando devidamente
ponderado nos termos da tríade de sustentabilidade, é bastante fraco e defasado, por
exemplo, comparado à produção de países como a China, especialmente se levando em
consideração a produtividade total e as relações entre essa e o uso e escapes de espécies
exóticas invasoras ao longo do tempo (por exemplo: Lima Junior et al. 2018; Nobile et
al. 2020; Kang et al. 2022).

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Conflitos com a legislação e políticas ambientais
O cultivo de tilápias tradicionalmente registra escapes e, consequentemente, aumenta
o risco de invasões, tornando-se conflitante com diversos aspectos da legislação
ambiental nacional e internacional. Entre os inúmeros exemplos, podemos citar a
Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), aprovada pelo Decreto Legislativo 2 de
1994, sendo promulgada pelo Decreto 2.519/1998 e publicada no Diário Oficial da União
em 17 de março de 1998, sendo, portanto, executória em todo o território brasileiro. A
CDB estabeleceu normas e princípios para o uso e proteção da diversidade biológica. Em
relação às espécies exóticas, a Meta 6 do novo Marco Global visa eliminar, minimizar ou
mitigar os efeitos das espécies exóticas invasoras na biodiversidade e nos serviços
ecossistêmicos, por meio da detecção e gestão das vias de introdução dessas espécies
exóticas invasoras (Lima Junior et al. 2018).
É manifesta a desinformação contida no artigo de Zimmermann e colaboradores
(2023), visto que alegam erroneamente que a tilápia não figura em nenhuma lista Federal
de espécies exóticas. A tilápia é considerada uma das espécies de destaque abrangidas
pela Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras. Tal estratégia, implementada
por meio da Resolução CONABIO 07/2018, resulta na consolidação das diretrizes e
decisões estabelecidas pela CDB, com aplicação em diversas esferas governamentais e
setores de governança ambiental no âmbito nacional. A lista de espécies contidas na
Estratégia (disponível em https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade/fauna-
e-flora/aguas _continentais_final.pdf) foi elaborada por um vasto painel de renomados
especialistas de cada grupo faunístico e revisado pelas entidades públicas vinculadas
(IBAMA, ICMBio e JBRJ), atestando sua pluralidade e embasamento cientifico. Além da
estratégia nacional, diversas unidades da federação têm divulgado recentemente – por
meio de suas Secretarias Estaduais de Meio Ambiente – listas oficiais de espécies exóticas
invasoras com ocorrência registrada em seus limites geográficos. Em todas as listas, a
tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) é apresentada e defendida com todas as bases
teóricas, legais e empíricas de consultas para os melhores especialistas como espécie
exótica invasora.
O meio ambiente, mencionado no Art. 225 da Constituição Federal de 1988, é um bem
intergeracional, ou seja, pertence não apenas à geração atual, mas também às futuras
gerações. Nesse sentido, temas como a introdução e cultivo de espécies invasoras, como
as tilápias, que causam impactos negativos ao meio ambiente, devem ser discutidos com
urgência. Portanto, é necessário intervir para evitar a disseminação e minimizar os efeitos
dessas espécies invasoras, garantindo a proteção do meio ambiente para as presentes e
futuras gerações. Assim, o ordenamento jurídico brasileiro reconhece a importância da
melhoria da qualidade ambiental e adota o princípio da progressividade em matéria
ambiental, como estabelecido no artigo 2°, caput, da Lei 6.938/81 – Política Nacional do
Meio Ambiente. Esse princípio tem respaldo na jurisprudência do STJ e é uma diretriz
normativa e hermenêutica relevante para a resolução de conflitos ecológicos. Cabe
destacar que diversos dos aspectos acima apontados já foram exaustivamente discutidos
em outros artigos de alguns dos autores deste trabalho (por exemplo: Pelicice et al. 2014;
Nobile et al. 2020; Lima Junior et al. 2018 e várias referências contidas dentro deles,
inclusive todos esses publicados em periódicos específicos da área de aquacultura).

Conclusões
As informações apresentadas no texto de Zimmermann e colaboradores parecem
influenciadas pelo interesse daqueles que se beneficiam do cultivo de tilápias, de forma

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direta (comércio do pescado) ou indireta (comércio de suprimentos e insumos, incluindo
a venda de alevinos) com graves juízos de valores envolvidos neste ponto, e obviamente
que invalidam suas argumentações por simples questões éticas a priori. O artigo, portanto,
não tem isenção mínima e tampouco embasamento científico e, por esta razão, tem alto
potencial de induzir os leitores a entendimentos errôneos sobre um cenário complexo de
intensificação das invasões biológicas de peixes, e toda a degradação ambiental
associada.
De maneira inequívoca, a classificação das tilápias como espécies invasoras e
causadoras de impacto em território nacional é amparada em extensa literatura científica
de abrangência internacional. Essa literatura é contundente quanto ao papel das tilápias
na degradação dos ecossistemas, erosão da biodiversidade, e promoção de danos
ambientais no Brasil e no mundo. Neste cenário, textos como o de Zimmermann e
colaboradores fazem mau uso de informação técnica e confundem a sociedade civil por
privilegiar os interesses econômicos de alguns setores produtivos específicos, por vezes
de relevância limitada, mas com forte poder econômico e político. No momento, não
existe conhecimento científico que contradiga esta realidade.
O Brasil baseia sua produção em tilápias e outras espécies exóticas, desvalorizando
nossa biodiversidade e perdendo oportunidades de se fazer algo realmente novo também
em escala local. Temos potencial biológico para produzir espécies nativas em cada grande
bacia do território nacional, valorizando a regionalização dos cultivos e uma menor
pegada ecológica, além de muitos outros pontos importantes relacionados à
sustentabilidade.
Este episódio é mais um dos vários exemplos ruins do setor produtivo e de como uma
pseudo-autoridade científica em escala local e limitada pode ser usada de maneira
inadequada, com baixo compromisso com a verdade, para sustentar interesses de grupos
particulares, no caso, o cultivo indiscriminado de peixes exóticos invasores, com sabidos
escapes e impactos negativos nos ecossistemas nacionais e internacionais. Estes
interesses podem ser legítimos, desde que sejam discutidos de maneira isenta, técnica e
transparente com a sociedade e tenham amparo correto da literatura científica nas
temáticas ambientais. Todos os cientistas aqui envolvidos lamentam novamente ter de
gastar tempos com argumentações já realizadas, mas, ao mesmo tempo, colocam-se à
disposição para um debate aberto e transparente e, inclusive, visando buscar soluções
conjuntas para melhores práticas dentro do setor aquícola, desde que estas considerem
outros aspectos importantes da tríade de sustentabilidade de forma concreta e
transparente.

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Publicação na integra:
https://panoramadaaquicultura.com.br/invasoras-sim-nada-casuais-e-jamais-naturalizadas/

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