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Resumo:
O Rio São Francisco enfrenta hoje uma de suas piores crises, baixa vazão, seca
constante, construções de barragens e assoreamento constroem um cenário caótico e
desolador. É neste ambiente que vivem hoje milhares de pescadores artesanais que
compõem o baixo São Francisco, preocupados com a situação do rio e com a falta de
seu meio de trabalho, o peixe some cada vez mais de suas redes e canoas. A região vem
sendo alvo de projetos estruturais que dizem promover o desenvolvimento sem ao
menos realizar estudos que calculem os impactos socioambientais nas comunidades
ribeirinhas e sem que muitas vezes os próprios pescadores possam participar desse
desenvolvimento e sejam consultados. Há ainda em meio a todo esse processo, a
questão da Transposição do rio, o que pode piorar ainda mais a situação,
comprometendo toda uma continuidade de saberes e modos de vida. Assim sendo, o
objetivo deste trabalho é entender a atual situação dos pescadores artesanais na cidade
de Pão de Açúcar- Alagoas, quais as principais dificuldades que tornam a tradição da
pesca ainda mais precária, em fase de extinção e o movimento dos pescadores na defesa
do rio e das suas tradições. A pesca artesanal é demarcada pelo Estado como sendo um
tipo de trabalho de uso de técnicas tradicionais, na co nstrução dos seus instrumentos,
bem como pelo aperfeiçoamento do seu trabalho por meio a oralidade transmitida pelas
gerações que constroem suas relações em contato direto com o meio ambiente,
demarcando nas sociedades contemporâneas o seu lugar e territór io, como forma
autônoma de construir sua historia, atrelada as marcas do passado. Para a obtenção dos
resultados a metodologia utilizada se baseou em revisão bibliográfica, análise da
realidade com o uso de entrevistas estruturadas e depoimentos, uso de imagens e dados
secundários, permitindo assim uma compreensão substancial do objeto investigado.
Palavras- Chave: Pesca artesanal; Tradição; Rio São Francisco; Pão de Açúcar;
Sustentabilidade;
1
Mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Sergipe, Técn ico da Superintendência de
Fomento e Apoio à Produção Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de Alagoas. Professor da
Faculdade Raimundo Marinho.
1. Introdução
1.1 Notas Introdutórias:
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Expressão usada corriqueiramente pelos habitantes da cidade de Pão de Açúcar.
acima, é natural. É um movimento que acontece inevitavelmente, ao mesmo tempo em
que acredito ser imprescindível esta interação e posicionamento mais próximo, pois,
como situa Gilberto Velho (idem), ao analisar as questões que se colocam diante das
categorias de exótico e familiar:
No entanto, todos não só fazem parte da minha sociedade, mas são
meus contemporâneos e vizinhos. Encontramo-nos na rua, falo com
alguns, cumprimento outros, há os que só reconheço e, evidentemente,
há desconhecidos também. (VELHO, 2013:72).
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Voltando a discussão iniciada no princip io deste trabalho, os pescadores até recentemente faziam parte
do meu convívio quase que diário, pois dividiamos o mesmo esporte, o mesmo grupo de voleibol, nos
nossos tempos livres, mas nunca tínhamos conversado so bre o assunto que é o ponto principal deste
trabalho, não pela falta de oportunidade, mas como u ma estratégia minha mes mo, de d ivid ir os espaços
que constroem a minha realidade social e por saber que em certo momento essa conversa e esse dia
chegariam.
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Termo utilizado por Silvia Cayubi Noves (2004).
dando assim acesso a informações que dificilmente poderiam ser
obtidas por outros meios ( GURAN, 2002: 99).
1.2 Do Objeto:
O Rio São Francisco é conhecido como Rio da Integração ou Unidade Nacional,
foi sabiamente chamado pelos índios que habitavam as suas margens em toda a sua
extensão, de “Opará”, que na linguagem tupy-guarani, significa “Rio-Mar”. Nasce na
Serra da Canastra, no estado de Minas Gerais e atravessa os estados da Bahia e
Pernambuco, dividindo os estados de Sergipe e Alagoas, até desembocar no Oceano
Atlântico, possui 2800 km de extensão.
Figura 1: Mapa que mostra toda a extensão do Rio São Francisco.
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Fonte: http://racismoambiental.net.br/2014/09/25/
O Rio leva esse nome por ter sido descoberto em 04 de outubro de 1501, um ano
após a descoberta do Brasil, no dia de São Francisco de Assis, por Américo Vespúcio.
É considerado o terceiro maior rio do país, tendo vazão média de
aproximadamente 2850m³/s6 , engloba regiões que apresentam
condições naturais bem diversificadas, a parte superior e inferior da
bacia, apresentam bom índices pluviométricos e fluviometricos,
enquanto os seus afluentes atravessam áreas de climas seco e
semiárido. Em Minas Gerais na nascente do rio tem um grande
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Visitado em 22 de Maio de 2015 às 16:30 minutos.
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Recentemente a CHESF (Co mpahia Hidroeletrica do São Francisco), soltou uma nota na impressa
divulgando que a partir do mês de Julho a vazão das águas do São Francisco vai passar para 900m³/s,
marca histórica para as co munidades que dependem das águas como meio fundamental de sobrevivência.
potencial agrícola, especialmente para a agricultura irrigada.
(FERREIRA, 2012: 03-04).
Fonte: IB GE 7 .
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Visitado em 23 de Maio de 2015, às 22:23 minutos.
tarde, em 1634, as terras que eram ocupadas pelos índios passaram a ser de Cristovão da
Rocha, em 1660, as terras em forma de sesmarias passaram ao domínio do português
Lourenço José de Brito Correia, que transformou as terras em fazenda de gado dando o
nome de Pão de Açúcar. 8
O nome (Pão de Açúcar) vem da forma de um dos morros que era semelhante à
maneira pela qual se purificava o açúcar. Em1815, as terras foram leiloadas e
arrematadas pela família do padre José Rodrigues Delgado, que deu grande impulso ao
desenvolvimento do povoado. A freguesia, criada em 1853, invocou o Sagrado Coração
de Jesus como padroeiro da cidade. Pão de Açúcar ainda era vila, em 1859, quando D.
Pedro II pernoitou lá, em sua viagem para Paulo Afonso.
A localidade foi elevada à condição de cidade em 18 de junho de 1887, através
da Lei 756, desmembrado de Mata Grande. Pão de Açúcar é hoje uma das cidades mais
antigas do estado de Alagoas, de enorme influência no cenário estadual e regional,
através do seu legado cultural, político e econômico. Sua população vive dos recursos
advindos da agricultura, pecuária, da pesca, do funcionalismo público e do comércio em
desenvolvimento, segundo dados do IBGE (Idem).
A pesca se constitui como uma das atividades mais importantes para o
desenvolvimento econômico e social da cidade de Pão de Açúcar. Os pescadores
artesanais se constituem como um grupo social que aliados ao espaço, constroem seus
modos de vida, seu produto de consumo e sobrevivência. É entendido aqui como um
grupo socialmente diferenciado pelo fato de que não estão alinhados aos moldes de
produção e reprodução do capitalismo, pois, pelo contrário, estão realizando suas
atividades pesqueiras de outro modo de produção/reprodução/apropriação do espaço.
Em que o espaço tem função sagrada e possui o valor de uso e não de troca.
Dessa maneira, não se está afirmando que os pescadores artesanais
negam os marcos do capital (aliás, isso nem é uma questão
mencionada pelos pescadores), mas apenas que tais sujeitos sociais
possuem maneiras de lidar com o tempo de trabalho e o de lazer
oriundas de um modo de vida fundamentado em relações materiais e
simbólicas típicas de grupos sociais que se apoiam em uma fecunda
contra-racionalidade (Brandão, 2007, p. 42), distinta da racionalidade
da economia moderna, em que, de acordo com a lógica existencial dos
grupos tradicionais, a própria economia é uma das muitas dimensões
de uma cultura (idem, p. 55), que cruza valores morais, estéticos e
sociais não similares aos do mundo dos negócios. (RAMALHO, 2015:
194).
8
IBGE, consultado em Maio de 2015.
De maneira geral, podemos dizer que a pesca não pode ser tomada como um
acontecimento em estado de isolamento, pois sua construção resulta de aspectos
socioambientais, econômicos e culturais da região em que está inserida; e, além disso, a
pesca artesanal é produto da manifestação cultural de cada comunidade. A pesca
artesanal é fruto da construção histórica da humanidade, e está inserida na atividade
extrativista, como uma atividade de caça que sobrevive ao tempo e a modernização dos
meios de produção.
É notório que, tradicionalmente, as comunidades ribeirinhas que estão situadas
às margens do rio São Francisco, entre Alagoas e Sergipe, têm como uma das principais
fontes de subsistência a pesca e os recursos que são aproveitados de maneira sustentável
e autônoma.
Por consequência desse entendimento, a pesca é compreendida não só
como uma atividade de busca de peixe, mas como uma construção de
relações sociais na terra e no mar, marcadas por identidade, mas
também por conflitos e contradições que envolvem não somente os
grupos pesqueiros, mas outros tantos agentes sociais, com interesses
divergentes, (PEIXOTO, 2011: 110).
Para Rodrigo, quando perguntado por que é um pescador? Assim ele coloca:
“Hoje pra mim manter, mais comecei por esporte e diversão”. (Entrevista no dia 07 de
junho de 2015). Para o pescador Willian, a pesca também exerce essa mesma função, de
ser uma fonte de trabalho e que é prazeroso: “... é uma fonte de trabalho e gosto muito
de pesca”. (Entrevista em 08 de junho de 2015). Além do mais, a pesca se constitui
como uma cultura do trabalho particular, singular, em constante mediação com os
processos capitalistas. Embora nas falas dos dois pescadores, a atividade pesqueira
apareça como um meio de trabalho e de renda, não se alinha aos moldes tradicionais do
capital, de acumulo de riquezas.
No atual estagio de desenvolvimento social e econômico, as novas
tecnologias estão dando cada vez mais condições para o
fortalecimento e consolidação das formas de produção e consumo. A
globalização, ao mesmo tempo em que fortalece os fluxos e altera os
padrões tecnológicos e científicos, interfere diretamente nos valores e
crenças sustentadoras das sociedades e comunidades tradicionais.
(SILVA, 2014: 43).
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Realizei durante 02 anos a pesquisa de mestrado intitulada: “As Margens do São Francisco: um olhar
antropológico sobre os mestres fazedores de canoas na cidade de Pão de Açú car”. Defendida no Núcleo
de Pós-Graduação e Pesquisa em Antropologia da Universidade Federal de Sergipe, em 2014. Neste
sentido, alguns dos mestres que realizavam a feitura de canoas e botes, são também pescadores, como é o
caso do Mestre Bode. Muito deles estão divididos em 02 ou mais atividades ligadas ao rio e ao que ele
pode oferecer. Existe nos estaleiros de Pão de Açúcar não só a presença de mestres canoeiros, mas
também pescadores velhos, novos e que dividem o mesmo espaço de construção de saber e de técnicas
necessárias para a pescaria.
referência tanto ao passado, como tentando se comunicar com o presente, construindo a
atividade diária da pesca, através dos símbolos cognitivos perpetuados pela memória.
As marcas do presente e da vida urbana ofertam aos pescadores artesanais os signos que
constroem proximidades dinâmicas, que tendem a tornar diferente cada vez mais os
usos e práticas dos saberes herdados dos antepassados, das ligações afetivas.
Ligados a essa realidade, as noções de tempo, espaço e território casam-se.
Assim, o tradicional se reinventa para se lançar mais forte para o futuro. Para Cristiano
Ramalho, ao analisar a pesca artesanal em Pernambuco, argumenta:
É oportuno não esquecer que maneiras tidas como tradicionais do
trabalho continuam a sobreviver e recriar-se dentro da sociedade
moderna, compondo-a de singularidades, seja ao manter várias de suas
dinâmicas socioculturais e ambientais com base em suas autonomias
possíveis (Wanderley, 2009), seja reproduzindo processos cada vez
mais intensos de subordinação aos ritmos do capitalismo moderno
(Melo, 1985). (RAMALHO, 2013:203-204).
A apropriação do meio, em parte, também deve ser levada em conta pela seleção
determinada e autoconsciente de elementos significativos, tanto derivado da ação
coletiva, como pela aplicação, ritualização, manipulação dos objetos e saberes
descobertos. Assim sendo, ao escolherem os melhores significados, para representarem
um determinado contexto e os compartilham, estão assim reinventando e perpetuando o
que eles consideram essenciais representação da comunidade, pois ainda, segundo
Wagner (2010: 106), o objetivo da cultura é manter-se viva através da sua continua
reinvenção.
A reinvenção, então, só se realiza quando conscientes de seu posicionamento, os
portadores de tradições entendem o que deve ser o seu alto-reconhecimento tanto ao
grupo, como exteriorizando suas condições se vida. Para Rodrigo, ele acha q ue o seu
trabalho é uma tradição porque na família dele todos realizam a atividade pesqueira.
“Acho. Que na minha família todo mundo pesca”. (Entrevista realizada em 19 de
Junho de 2015). Neste sentido, para o pescador Rodrigo, a pesca em Pão de Açúcar é
tradicional porque é uma atividade familiar, passada de geração para geração.
Rodrigo realiza o seu trabalho com o seu primo, pois é preciso alguém mais para
controlar o barco, no caso de Pão de Açúcar, o barco em questão só pode ser uma canoa
ou bote. “Pesco com meu primo, porque é necessário alguém para controlar o barco”.
(Idem). É importante salientar que no caso da pesca artesanal em Pão de Açúcar, a
pescaria não se constitui ou se realiza tendo a formação, por grupos ou coletividade, até
porque, como coloco acima, a pesca é realizada através de botes e canoas, esses
instrumentos tão característicos do Baixo São Francisco, pois elas não comportam mais
que três pessoas. A pesca realizada em água doce é toda realizada de forma artesanal e
desse modo sofre com a falta de infraestrutura necessária para atender as demandas
econômicas dos pescadores.
Há que se considerar, então, que as pescarias (canoas e redes),
enquanto instrumentos de trabalho, constituem não apenas meios de
produzir peixes, mas também, elementos simbólicos através dos
quais se reproduzem relações sociais especificas. Nesse sentido, pois,
são mediadoras de relacionamentos e por isso, agregam muitos
significados sociais que se transcrevem na própria historia desses
meios materiais de trabalho. (BRITTO, 1999:50).
A pesca feita por ela se dá através da rede (tarrafa) e através do mergulho com
arpão. Os peixes mais encontrados hoje na sua pesca são: chira, piau, pacu, tubarana,
camurim, piranha, traíra, tilápia, tucunaré, cará-boi, piaba, lambarai, etc. Todas as
espécies podem ser pegas, desde que respeitem o tempo da piracema, conforme relata o
pescador: “... e o que não pode ser pego, não temos nenhum tipo de proibição por
espécie, só a piracema que proíbe todo tipo de pesca”. (Entrevista realizada em 19 de
Junho de 2015). Assim, entende-se que a pesca realizada tanto por Willian, por Rodrigo,
está vinculada a uma pescaria autônoma, que se caracteriza por atender ao consumo
familiar e em pequena escala, para comércio.
Figura 3- O Pescador Rodrigo com o peixe Camurupim, com aproximadamente 2,0
metros.
Para dialogar com a análise acima citada, a fala dos pescadores Rodrigo e
William demonstram bem a visão dos pescadores sobre a atual situação do rio. Assim,
para eles:
“O rio mudou muito e hoje ele está quase morto e com a vazão
de mil e cem, o rio está ficando só o leito... Eu acho que a
barragem é a principal problema, tanto que não estão soltando
mais nada...” (Entrevista em 19 de Junho de 2015).
Nesse sentido, percebe-se cada vez mais, que a Região do Baixo São Francisco,
está cada vez mais enfraquecido, a atividade pesqueira em vias de extinção, a
diversidade cultural e as tradições ribeirinhas, os modos de vida socialmente
construídos estão sofrendo alterações irreparáveis, além dessas consequências, a
conclusão do projeto de Transposição promete colocar mais pá de terra sobre o Rio São
Francisco, acelerando sua degradação e por fim, sua morte.
Fonte: http://hiltonfranco.com.br10
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Fonte consulta em 23 de Maio de 2015, as 14:44 minutos.
O mapa mostra o tamanho da obra que está sendo executada, e os dois principais
eixos que vão percorrer os estados beneficiados. Muitos impactos sociais e ambientais
demonstram a grandiosidade e complexidade, entre políticos, especialistas,
ambientalistas e sociedade civil organizada, discordam dessa política de combate à seca,
como também existe uma parcela de cada setor acima citado que estão de acordo com
esse projeto político. Entre os impactos negativos que devem surgir com a transposição
estão:
Aumento da oferta e da garantia hídrica; geração de empregos e renda durante a
implantação; dinamização da economia regional; abastecimento de água das populações
rurais; introdução de tensões e riscos sociais durante a construção, perda temporária de
empregos e renda por efeitos das desapropriações; rupturas de relações sócio-
comunitárias durante a fase da obra; risco de interferência com o Patrimônio Cultural;
possibilidade de interferências com as populações indígenas e interferência sobre a
pesca nos açudes receptores. Segundo Lima (2005), ao todo são 44 (quarenta e quatro)
impactos de caráter social, elencados pelo estudo de impactos ambientais.
Entre os impactos mais visíveis nesse processo de transposição, a interferência
sobre a pesca, atinge não somente as bacias receptoras, mas também e principalmente a
bacia do São Francisco, com a redução do habitat, o volume do rio, a quantidade de
espécies de peixe tendem a desaparecer. Antes de tudo, é preciso destacar que o projeto
pode acarretar vários problemas de ordem estrutural e financeira para os cofres
públicos, pela disponibilidade de recursos pelo Governo Federal.
Para Ferreira (2012), é preciso pensar e planejar uma transposição, de forma que
a sustentabilidade seja viável e eficiente, revitalizando e protegendo os ecossistemas
característicos das margens do rio.
Respeitar o leito do rio e seus afluentes, tentar diminuir a perda de
água potável, manter os sedimentos e seu nível de descargas
controladas, respeitar o sistema biológico do rio e manter a ação da
integração da ação humana com essa bacia hidrográfica. Gerando com
isso a revitalização desse rio [...].
A partir dessa temática existe uma analise dos fatores que precisam
ser respeitado em cada transposição, pois, é de suma importância que
se respeite as comunidades locais, os volumes de água dos rios, a
fauna e a flora da região e a qualidade da água transposta. Podemos
perceber que toda e qualquer transposição resultam em perdas para a
região doadora e ganhos para região receptora, gerando um grande
conflito de interesses entre as partes. (FERREIRA, 2012:06).
4. Notas Conclusivas:
A pesca artesanal é sem duvida uma categoria de trabalho que ultrapassa
as condições usuais e comuns das formas de produção reproduzidas pelo e no
capitalismo, pois, como já foi visto durante todo o trabalho, é uma atividade que
tem como formas de desenvolvimento, a arte milenar da pesca, a construção
manual e artesanal dos seus instrumentos de trabalho, da apropriação dos
espaços e territórios de forma a respeitar o meio ambiente e lutar pela sua
perpetuação, das construções simbólicas de pertencimento e convívio, da
transmissão oral do conhecimento e da luta diária para a manutenção das suas
tradições.
Foi visto também, que o sistema de pesca artesanal está ameaçado, tanto
pelos usos indevidos dos recursos hídricos, tanto pela formulação e
implementação de políticas que procuram fortalecer o desenvolvimento da
região nordeste a qualquer preço e custo. A transposição do Rio São Francisco
que promete levar desenvolvimento para a região mais seca do nordeste, deve
verdadeiramente, promover o maior desastre ambiental para as comunidades
ribeirinhas que estão situadas abaixo da hidroelétrica de Xingó, pois é nessa
região que se percebe os prejuízos causados pelas barragens construídas ao
longo de todo o Velho Chico, um rio seco, com alargamento dos seus leitos,
formação de bancos de areias, desparecimento de espécies nativas e
concomitantemente, o fim da atividade pesqueira.
Em suma, é importante que haja por parte do Estado e da Sociedade Civil
Organizada, promover diálogos e debates que busquem alternativas viáveis para
socorrer e controlar os implacáveis processos destruidores do Rio da Integração
Nacional. O Rio São Francisco pede socorro.
5. Referencias Bibliográficas:
ALVES, José Jackson Amancio; NASCIMENTO, Sebastiana Santos do. Transposição
do Rio São Francisco: (des) caminhos para o semi-arido do Nordeste Brasileiro. – REA,
nº 99, ano IX, 2009.
LIMA, Luiz Cruz. Além das Águas, a Discussão no Nordeste do Rio São Francisco. –
Revista do Departmento de Geografia, ano 17, 2005: 94-100.
NOVAES, Silvia Caiuby.Escrituras da Imagem ( Sylvia Caiuby Novaes [et al]. (orgs) –
São Paulo: Fapesp: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.
SAHLINS, Marshall David. Ilhas de História – Tradução: Barbara Sette, Jorge Zahar
Editor; Rio de Janeiro, 1987.
SILVA, Ana Carolina Aguerri Borges da. A Transposição das Águas do Rio São
Francisco: Interesses e Conflitos. – XI Congresso Luso Afro-Brasileiro de Ciências
Sociais: UFBA, 2011.
SILVA, Igor Luiz Rodrigues da Silva. As Margens do Rio São Francisco: um olhar
antropológico sobre os Mestres fazedores de Canoas na cidade de Pão de Açúcar-
Alagoas.- Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em
Antropologia da UFS, São Cristovão- SE, 2014.