Você está na página 1de 51

UNIVERSIDADE FUMEC FACULDADE DE ENGENHARIA E

ARQUITETURA - FEA

Nayara Amanda Fernandes

TÍTULO: Sob[re] o Rio

Orientação:

Prof. Dr. Antônio Fernando Batista do Santos

Belo Horizonte,
Junho/2021
Nayara Amanda Fernandes

TÍTULO: Sob[re] o Rio

Trabalho de conclusão de curso apresentado à


Faculdade de Engenharia e Arquitetura da
Universidade Fumec, como requisito para a
conclusão do Curso de Design de moda.

Belo Horizonte,
Junho/2021
_____________________________________________________________
Nayara Amanda Fernandes
1
TÍTULO: Sob[re] o Rio

_______________________________________________________
Profº. Orientador – Antônio Fernando B. Santos

_______________________________________________________
Profª. Convidada Carla Maria Camargo de Mendonça

_______________________________________________________
Profª. Convidada – Andrea de Paula Xavier Vilela

_______________________________________________________
Profº. Coordenador do Curso - Antônio Fernando B. Santos

Belo Horizonte,
Junho/2021

2
Dedico ao meu falecido tio Washington e minha falecida avó

AGRADECIMENTO

3
Eu agradeço primeiramente a Deus, por tudo em minha vida. Em seguida agradeço
ao meu falecido tio Washington e a minhas falecias avós, pessoas que carrego em
meu coração e que sempre estiveram na torcida por mim e minha irmã. Eles
sempre acreditaram em nosso crescimento e sucesso. Agradeço também a minha
família, meu pai, por acreditar em meus sonhos, minha mãe, que nunca me permitiu
deixar a peteca cair e a minha amada irmã, que sempre me ensinou a abrir janelas
quando as portas se fecham, a vocês meu eterno obrigada e meu incondicional
amor.

4
“Precisamos ser criadas para a liberdade. O mundo é grande
demais para sermos o que a gente é.”

(Elza Soares)

5
RESUMO

O seguinte trabalho de conclusão de curso tem como objetivo ilustrar os bens


materiais e imateriais em torno Rio São Francisco através de uma coleção de moda
composta de três look. A coleção mostra a relação intima da cultura sanfranciscana
com as belezas naturais do curso de água. O trabalho também aponta o
sucateamento do rio com secas e ações do homem, apontando a necessidade da
preservação do mesmo.
Palavras-Chaves: Design de Moda, Rio São Francisco, Preservação da Natureza

6
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................8

2 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO...................................................................9
2.1 O Rio.......................................................................................................................9
2.2 Cultura Popular e Identidade Nacional.............................................................11

3 JUSTIFICATIVA.......................................................................................................13

4 PROBLEMA DE DESIGN........................................................................................13

5 OBJETIVO GERAL..................................................................................................14

5.1 Objetivos Específicos.........................................................................................14

6 METODOLOGIA......................................................................................................14

6.1 Painéis icnográficos e desenvolvimento da coleção......................................15

6.2 Público alvo.........................................................................................................17

6.3 Cartela de cor......................................................................................................18

6.4. Materiais..............................................................................................................18

6.5 Tramas especiais/bordado.................................................................................22

6.6 Estamparia digital...............................................................................................23

6.7 Tingimento...........................................................................................................24

6.8 Desenvolvimento dos croquis...........................................................................25

6.9 Modelagem...........................................................................................................28

6.10 Produção das peças piloto..............................................................................38

6.11 Produção das peças no tecido definitivo.......................................................38

6.12 Peças da coleção finalizadas...........................................................................41

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................47

REFERÊNCIAS...........................................................................................................48

7
1 INTRODUÇÃO

O rio São Francisco nasce na Serra da Canastra, no distrito de São Roque de


Minas, a centro-oeste do estado de Minas Gerais. O rio é um dos mais importantes
cursos de água do Brasil e América do Sul, atravessa cinco estados brasileiros e
desaguar no Oceano Atlântico, na divisa dos Estados de Alagoas com Sergipe.

As regiões que o rio atravessa são conhecidas como sertão mineiro e sertão
nordestino, regiões com vegetações bem marcantes no país: a Mata Atlântica,
Caatinga e o Cerrado. Nessas regiões também se desenvolvem culturas diversas e
próprias que podem ser denominadas “cultura sanfranciscana” por ter, em todas as
suas relações, um conjunto de relações intimamente ligada ao Rio.

Há décadas e, sobretudo hoje em dia, essa cultura sanfranciscana hibridiza com


outras culturas e atualmente parece cada vez mais raro haver traços aceitáveis das
identidades tradicionais puras. O que se vê na atualidade é uma cultura híbrida,
mesclada de referência diversificadas.

Este projeto iniciou com reflexões sobre todas as questões referentes ao rio São
Francisco, ainda sobre as referências culturais de regiões ao longo de suas
margens, reflexões voltadas principalmente sobre e a necessidade da promoção e
preservação deste bem natural de significativa importância cultural e
reconhecimento nacional. Essas ações foram concretizadas a partir do
desenvolvimento de uma coleção de moda, com o tema relacionado ao Rio, à
cultura regional e a natureza que desenvolve à sua margem.

A escolha do tema foi feita, para além de uma simples exposição, trazer visibilidade
ao rio, resgatar seus valores como bem de importância para a sociedade e relembrar
sobre a necessidade da sua preservação.

8
2 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

2.1 O Rio

Antes da chegada dos portugueses ao Brasil, o rio que havia recebido o nome de
um santo católico, era antes conhecido pelos nativos como Opará, que significa, na
língua indígena, dos caetés:  rio-mar. Talvez, esse nome esteja relacionado ao rio
pelo fato de ser navegável e que pela sua força empurrava as águas do mar em sua
foz, mas o relevante é que os nativos já sabiam da importância desta bacia
hidrográfica. 

O rio, ao longo da sua história, serpenteia as terras brasileiras, criando formações


geológicas únicas como grandes cânions e dunas douradas. Suas águas, que no
passado foram capazes de moldar o relevo, hoje sofrem com a ação do homem, que
desde o seu descobrimento até o momento atual as utilizam de forma inadequada,
agravando a situação com as mudanças climáticas.1

O rio São Francisco, também conhecido como Velho Chico, foi associado ao santo
católico: São Francisco de Assis, no ano de 1501, por Américo Vespúcio, em uma
de suas expedições, que eram financiadas pela coroa portuguesa. Essas
expedições foram enviadas para um novo mundo, com um dos objetivos de
reconhecimento da costa Brasileira até então desconhecida pela metrópole. Na
época da identificação e reconhecimento do rio, os exploradores não tinham
conhecimento da sua imensidão, porém nos tempos atuais ele já se tem noção da
sua importância sendo até conhecido como o Rio da integração nacional. O rio conta
com aproximadamente 2.830km de extensão, medindo a partir da sua nascente
geográfica, e a sua bacia hidrográfica possui cerca de 641 mil quilômetros
1
MENEZES, MAÍRA. Mudanças climáticas à vista nas margens do Rio São Francisco. 2016.
Disponível em <https://portal.fiocruz.br/noticia/mudancas-climaticas-vista-nas-margens-do-rio-sao-
francisco>. Acesso em 20, junho, 2021.
MUDANÇAS no clima afetam o Rio São Francisco. Jornal da Globo. 8 de agosto de 2019.
Disponível em <https://globoplay.globo.com/v/7829511/>. Acesso em 20, maio, 2020.
RIO São Francisco guarda belezas e muitos problemas. Globo Rural. 5 de fevereiro de 2017.
Disponível em < https://globoplay.globo.com/v/5627070/> Acesso em 20, maio, 2020.
NASCENTE do São Francisco é local de devoção ao santo e o ao rio. Globo reporte. 11 de março de
2016. Disponível em < https://globoplay.globo.com/v/4878100/>. Acessado em 20, maio, 2020

9
quadrados, sendo o terceiro maior rio brasileiro, que se encontra 100% dentro do
território nacional. Recebe águas de rios vindos de Goiás e do Distrito Federal - e
contempla aproximadamente 504 municípios.

O rio é dividido em quatro trechos: Alto Rio São Francisco que vai das nascentes até
Pirapora (MG); Médio São Francisco – de Pirapora até a Represa de Sobradinho;
Sub-médio São Francisco – Trecho de sobradinho até Paulo Afonso; e Baixo São
Francisco – de Paulo Afonso até o Oceano Atlântico. 

Como afirma Sousa2 a importância do Rio São Francisco vai além das águas, pelo
fato de possui valor econômico, social e cultural para o país, pois muitas famílias
dependem dele para sobreviver, assim como mostra o Censo de 2010, cerca de 16
milhões de pessoas dependem dessas águas para sobreviver. Porém, a
necessidade pelo rio vai além dos 16 milhões de pessoas, com a vazão média de
2.846 metros cúbicos por segundo, cerca de 1,58% da vazão média nacional,
segundo a Agência Nacional das Águas, ele é um dos principais geradores de
energia do país com noves usina hidrelétrica entre elas a mais conhece a de três
Marias3.

Para se ter ciência da importância do rio para o estado brasileiro e ter noção que:

O rio é o caminho e o espaço de vida para as comunidades que dele vivem e


que fazem de suas águas estrada, moradia e fonte de subsistência. O São
Francisco é a moldura de seus retratos. É a base para o contexto social,
cultural, econômico, religioso, mítico e vivencial do norte de Minas. (2015,
p.32)

2
SOUSA, Rafaela. "Rio São Francisco"; Brasil Escola. Disponível em:< https://brasilescola.
uol.com.br/brasil/rio-sao-francisco.htm>. Acesso em 28 de maio de 2020
3
CEMIG – Companhia Elétrica de Minas Gerais. USINAS BACIAS DO RIO SÃO FRANCISCO.
Disponível em : http://www.cemig.com.br/pt-br/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_
programas/ambientais/peixe_vivo/Paginas/usinas_sao_francisco.asp Acesso em :28, mar.,2020.
10
2.2 Cultura Popular e Identidade Nacional

Como dito na introdução, este trabalho também aborda aspectos culturais em seu
desenvolvimento. Entretanto, para falar de cultura é necessário entender as
diferenças entre cultura popular e identidade nacional. 

Definir conceitualmente o termo “popular” é quase tão difícil quanto definir “cultura”,
pois como descrito por Almeida (2013) este é um conceito amplo, carregado de
significados e nuances. E segundo Stuart Hall (2009, p.233), as dificuldades de
conceituar tais termos podem se tornar imensas.

Para Canclini (2008, p.221) popular é constituído por processos híbridos e complexo
como afirma Stuart Hall esses processos híbridos nascem de fusões entre diferentes
tradições culturais (HALL 2006, p.91) e tais fusões geram novas formas de cultura e
expressões. Exemplificando esse hibridismo, responsável pela construção do
popular, podemos citar aspectos da região do São Francisco, como observado em
uma pesquisa sobre a cultura, realizada pelo IEPHA – Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico, em 2015, quando informa que existe:

(...) um conjunto de ritos estabelecidos a partir de um sincretismo religioso


que incorporou aspectos da cultura indígena, africana e europeia, e que,
combinado aos modos de vida dos sertanejos e ribeirinhos, alcançou
particularidades regionais. (2015, p.75)

Segundo Stuart Hall (2006), a tradição popular constituía um dos principais locais de
resistência às maneiras de controlar e “reformar” o povo. Ainda de acordo autor, é
por isso que a cultura popular tem sido há tanto tempo associada às questões da
tradição e das formas tradicionais de vida, por isso seu “tradicionalismo” tem sido
mal interpretado como mero impulso conservador, retrógrado e anacrônico. Ainda
afirma Stuart Hall que a cultura popular sempre foi luta e resistência, mas também,
apropriação e expropriação. Por esta razão, segundo o referido autor, no estudo da
cultura popular, devemos sempre começar por aqui: com o duplo movimento de
11
conter e resistir, que inevitavelmente se situa em seu interior. Para concluir a linha
de pensamento entendemos que o popular é o reflexo de uma cultura de resistência,
Antônio Augusto Arantes explica que:

A “cultura popular” surge como uma “outra” cultura que, por contraste ao
saber culto dominante, apresenta-se como “totalidade” embora sendo, na
verdade, construída através da justaposição de elementos residuais e
fragmentários considerados resistentes a um processo “natural” de
deterioração. (ARANTES, 2006:18)

O conceito de identidade nacional já não sofre com muitas nuances como o de


cultura popular, pois ele já é mais bem definido. Para entender esse conceito iremos
usar as análises de Stuart Hall (2006), quando ele explica como as sociedades
modernas ajudaram a construir o sentimento de unificação que mais tarde seria
identificado com identidade nacional. Tal sentimento de unificação nasce
paralelamente com a diversificação das sociedades. As novas formas de sociedades
geram nas mais tradicionais um sentimento de o sentimento de perda e
deslocamento. As comunidades que viam seus símbolos tradições e sofrerem
bruscas mudanças, virão no nascimento da diversificação uma ameaça ao sujeito
único nação. Então, como forma de contraponto, essas sociedades passam a dar
ênfases às tradições e heranças, passando assim a ideia de que:

Os elementos essenciais do caráter nacional permanecem imutáveis, apesar


de todas as vicissitudes da história. Está lá desde o nascimento, unificado e
contínuo, "imutável" ao longo de todas as mudanças, eterno. ” (Hall 2006,
p.53)

Tal narrativa ajudou a construir a ideia de identidade nacional, que ao longo do seu
movimento se apegou a bens materiais e imateriais para criar uma forma de um ser
único e coletivo. Um grande exemplo dessa afirmação é a nacionalidade. A sua
nacionalidade já te define diante do outro, pois a própria palavra já carrega em si
vários traços da cultura natal.
12
Para sintetizar o conceito, iremos usar a reflexão de Ana Julia Melo Almeida (2013),
que faz uma análise sobre esse conceito com base em Stuart Hall (2003:51),
Canclini (2008:190) e Guibernau (1997:83), quando ele descreve que:

A identidade nacional é apresentada como reflexo de uma nação e de sua


cultura. (...) a identidade nacional, é um extrato desse conjunto. Ela é
produzida por meio da redução das ambiguidades e desigualdades, dando
aparência de similaridade ao todo. (Almeida 2013, p.3)

Assim, entendido as diferenças entre os conceitos, podemos discursar como eles


são notados ao longo do nosso objeto de estudo, o rio São Francisco. O rio em si é
o grande responsável pelo desenvolvimento de diversas referências culturais
populares e identitárias, pelo fato de exercer uma influência física e simbólica nas
práticas cotidianas de seus habitantes. Suas referências são inúmeras e complexas
e podem variar entre diversas formas de expressão. (2015, p.55)

Como falado anteriormente o Velho Chico possibilitou, por meio de suas águas, o
contato de diversas culturas e etnias, que totalizou o que hoje se encontra as suas
margens, o hibridismo. O que gerou uma cultura popular exclusiva na região, com
símbolos, signos e tradições únicas, dando a essa região, consequentemente, a sua
própria identidade dentro da grande identidade brasileira.

3 JUSTIFICATIVA

Esse projeto se justifica pela importância da promoção, valorização e proteção do rio


e para contribuir em manter viva as referências culturais das populações que
dependem das suas águas e de tudo o que o Rio lhes proporciona.

4 PROBLEMA DE DESIGN

O maior desafio no desenvolver desse projeto está relacionado ao fato de como


interpretar e traduzir de forma objetiva e clara e não literal os aspectos de identidade
13
do Rio São Francisco e as referências culturais da região sanfranciscana e imprimir
em artigos para uma coleção de moda, de forma a não resultar em uma aculturação.

5 OBJETIVO GERAL

Criar, planejar e desenvolver uma coleção de moda, composta de três looks, tendo
como referência e tema de inspiração o Rio São Francisco.

5.1 Objetivos Específicos

 Pesquisar sobre o rio São Francisco, conhecer suas histórias e a cultura


do rio;

 Entender sua importância para as populações ribeirinhas e para as


manifestações culturais;

 Definir conceitos para o desenvolvimento da coleção;

 Definir público alvo para o direcionamento da coleção;

 Definir uma cartela de cores que represente as manifestações culturais;

 Pesquisar os materiais a serem utilizados e as técnicas tradicionais do


artesanato local com o objetivo de agrega-los às peças e aos acessórios.

 Testar modelagens diferenciadas, com referências aos trajes locais;

 Propor estruturas inovadoras nas peças e nos acessórios da coleção

6 METODOLOGIA

O trabalho, de caráter experimental, teve início com a pesquisa bibliográfica,


partindo para a pesquisa de materiais e resgate de técnicas tradicionais utilizadas
região do vale do Rio São Francisco.

14
A pesquisa bibliográfica teve início na consulta das referências bibliográficas,
acervos virtuais, estudo de material disponível em sites acadêmicos e jornalísticos.
Uma vez que esse projeto tem como foco a cultura das margens do Rio São
Francisco, a consulta a materiais audiovisuais e fotográfico foi de extrema
importância e contribuiu de forma significativa no desenvolvimento do trabalho.

6.1 Painéis icnográficos e desenvolvimento da coleção

No processo de experimentação para a criação da coleção, foi realizada uma


pesquisa iconográfica para a confecção de painéis temáticos com palavras conceitos
subtraídos de um mapa mental. O desenvolvimento do mapa mental partiu da
palavra São Francisco que, por meio de ligações, gerou outras palavras
relacionadas entre si. 

A secção a seguir tem como objetivo mostrar o processo criativo que deu origem a
coleção. Começando pelo desenvolvimento do mapa mental, defifniçãoo das
palavras conceito em torno do Rio São Franciso ( reflexo, místico, eleito pagão). Em
seguida foram extraídas dos painéis as cores para definição da cartela cromática.

Figura 1 – Mapa mental

Fonte: desenvolvida pela autora

15
Figura 2 -– Painel iconografico Rio São Figura 3 – Painel Icnografico Eleito pagão
Fransciso

Fonte: desenvolvida pela autora Fonte: desenvolvida pela autora

Figura 4 – Painel icongrafico Mistico Figura 5 – Painel iconografico Reflexo

16
Fonte: desenvolvida pela autora Fonte: desenvolvida pela autora

Figura 6 – Painel iconografico Manual

17
Fonte: desenvolvida pela autora

6.2 Público alvo

Na etapa seguinte, partiu-se para a definição do público-alvo. Como o trabalho tende


à conversa com o sentimentalismo, o popular e à proteção, o grupo geracional que
trabalha bem com essas características são, de acordo com Morace (2009) os linker
peoples ou linker tens. Esse grupo é conhecido por estar sempre conectado à
internet e às inovações, tentando criar conexões em seus meios vivem a sua
condição real e virtual como uma paisagem integrada (MORACE, 2009, p.47). Os
Linker Peoples por terem Flexible Identity gostam de produtos com emoção estética
e de experimentação sensíveis (MORACE, 2009, p.48) que sejam coerentes com
suas crenças e pensamentos. Além do grupo geracional citado, o projeto pretende
atingir o que WGSN (World Global Style Network) chama de Novos Românticos, que
tem como principal característica a conversa com o interior. Essas pessoas querem

18
criar laços emocionais mais sólidos com seus mundos interior e exterior (2021, p.2)
além de um profundo desejo de se reconectar (2021, p2)

6.3 Cartela de cor

Com os conceitos definidos e representados nos painéis iconográficos, foi realizada


a extração das cores de cada referência cromática e em seguida definiu-se os tons
da cartela de cores, com cada um deles devidamente nomeado.

Figura 13 – cartela de cor

Fonte: desenvolvida pela autora

6.4. Materiais

A partir dessa etapa deu-se início à seleção dos tecidos e materiais que seriam
utilizados e que dariam corpo aos artigos propostos para o desenvolvimento da
coleção de moda, Sob[re] o Rio.

A escolha dos materiais para a produção de cada uma das peças se deu buscando
representar com a maior fidelidade possível os efeitos e shapes da coleção,
pensando em elementos que remetessem aos trabalhos manuais tradicionais das
bordadeiras regionais, e dos pescadores ribeirinhos, e que ao mesmo tempo,
19
agradasse valor às peças e atendesse aos desejos do público alvo. Pensando nisso
foram escolhidos tecidos de fibras naturais como o algodão e a seda, em ligamentos
têxteis básicos, como o tafetá e a sarja. Além destes tecidos foi utilizada uma trama
de fibra sintética, uma trama em crochet de algodão, ambos remetendo às redes de
pesca e ainda têxteis tecnológicos em malha, para as roupas de banho.

As figuras a seguir referem-se aos materiais utilizados na produção da coleção com


as especificações técnicas:

Figura 14 - Fio de algodão – barbante fino

Fábrica: Rayontex
Representante/ Loja: Armarinhos Graciano ( Av. Santos
Drummond, 654, Centro, Belo Horizonte/MG)
Nome do tecido: Barbante especial
Largura:

Composição: 85% algodão e 15% poliéster.


Fio: 8/5
Preço: 18,19 o rolo
Conservação:

Fonte: desenvolvida pela autora

20
Figura 15 - Crepe chiffon de seda pura
Fábrica: --
Representante/ Loja: Visual Tecidos (Goitacazes, Barro
Preto, 1406, Belo Horizonte/MG)
Nome do tecido: Chiffon de seda pura
Largura:1,20m
Composição: 100% seda
Gramatura:
Preço: R$ 69,90 o metro
Conservação:

Fonte: desenvolvida pela autora

Figura 16 - Sarja de algodão

Fábrica: Cedro têxtil


Representante/ Loja: Blle Fashion Comercio de tecidos e
vest. LTDA (Goitacazes,1338, Barro Preto, Belo
Horizonte/MG.)
Nome do tecido: brim drill light
Largura: 1,65m

Composição: 100% algodão


Gramatura:200g/m²
Cores: mata de tucano; folha sagrada; bico de cantador.;
velha reluzente.
Preço: R$19,90 o metro
Conservação:

Fonte: desenvolvida pela autora

21
Figura 17 - Sarja de Lyocel
Fábrica: Doptex indústria e comercio têxtil LTDA
Representante/ Loja: BH comercial têxtil
(Goitacazes,1345, Barro Preto, Belo Horizonte/MG)
Nome do tecido: Sarja de Lyocel Liso
Largura: 1,50m

Composição: 100 Lyocel


Gramatura: 84g/m²
Preço: R$16,90 o metro
Conservação:

Fonte: desenvolvida pela autora

Figura 18 - Tecido de microfibra de poliéster tecnológico


Fábrica: VMF Malharia LTDA (Av. Henry Ford, 354, Parque
da Mooca, São Paulo/SP)
Representante/ Loja: direto com o fabricante
Nome do tecido: Tecido Corsega
Largura: 1,50m

Composição: 82% poliéster 18% elastano


Gramatura: 235g/m²
Cor: 0008 Branco - estampado
Preço: R$ 47,00 o metro
Conservação:

Fonte: desenvolvida pela autora

22
Figura 19 - Tela de cortina de poliéster
Fábrica: Atacado dos cortineiros LTDA ( Goitacazes, 1175,
Barro Preto, Belo Horiozonte/MG)
Representante/ Loja: Direito com fabricante
Nome do tecido: Tela Istambul
Largura: 2,0m

Composição: 100% poliéster


Gramatura: -
Preço: 86,37 o metro
Conservação:

Fonte: desenvolvida pela autora

6.5 Tramas especiais/bordado

O crochê foi utilizado com a finalidade de reproduzir a trama que remete à redes de
pesca, com o bordado em tramado com o fio de algodão em tafetá remetendo aos
remendos que tradicionalmente são agregados às redes.

Figura 20 – técnica de crochê e tafetá

Fonte: desenvolvida pela autora

23
A reprodução da rede, base da característica renda denominada filé, foi interpretada
por meio de uma trama de crochet de algodão, e sobre esta foram aplicados
bordados com fios retramados que remetem aos desenhos e motivos dos remendos
realizados pelos pescadores nas redes rasgadas. Os looks apresentam ainda
babados e franzidos em tecidos fluidos de crepe chiffon de seda, que relembram os
movimentos das águas do rio.

6.6 Estamparia digital

A proposta de estampa se deu buscando referencias nos movimentos das águas do


rio e dos verdes das que o protege.

Figura 21. Estampa digital em sublimação sobre o tecido corsegá branco

Fonte: desenvolvida pela autora

6.7 Tingimento
24
Figura 22. Tingimento da sarja brim drill light nas cores - folha sagrada, mata de tucano e bico de
cantador.

Fonte: desenvolvida pela autora

Figura 23. Tingimento da sarja brim drill light na cor bico de cantador.

Fonte: desenvolvida pela autora

25
6.8 Desenvolvimento dos croquis

Após os estudos de possíveis materiais, desenvolveu-se o estudo de shapes que


apresenta relação direta com o público-alvo definido - modelagens diferenciadas e
amplas de estampas temáticas, e técnicas tradicionais que irão fazer parte do
conjunto total do trabalho.

Consequentemente, esses estudos resultaram um uma proposta de estruturas


inovadoras para toda a coleção. Tais propostas foram organizadas em famílias
distintas e cada família teve o seu material e/ou tecido escolhido e definido, como o
objetivo de diferenciá-las entre si.

Ao final de todo o estudo, foi proposta a coleção final, apresentada em desenhos de


croquis, com a mistura de peças e famílias. Com a criação e o planejamento da
coleção finalizada, foi realizado um breve estudo de possíveis acessórios que irão
compor a ideia total do projeto, tornando assim o trabalho final mais rico.

IFigura 7. Desenvolvimento da familia Mata verde

Fonte: desenvolvida pela autora

Figura 8 – Desenvolvimento da familia Bananeira


26
Fonte: desenvolvida pela autora

Figura 9 – Desenvolvimento da familia Agua benta

Fonte: desenvolvida pela autora

Figura10 – Desenvolvimento da familia Rramando a historia

Fonte: desenvolvida pela autora

Figura 11 – Desenvolvimento da familia Neutra

27
Fonte: desenvolvida pela autora

Figura12 – desenvolvimento da família Básicas

Fonte: desenvolvida pela autora

6.9 Modelagem

Para o desenvolvimento da modelagem foi utilizado o software da Clo Virtual


Fashion® o CLO Standalone OnlineAuth versão 6.1. Esse software trabalha com
modelagem 3d e 2d, o programa permite, também, verificação em tempo real e
virtual o processo da modelagem.

Figura 24. Interface do programa

28
Figura 25. Manequim no programa

Figura 26. Medidas utilizadas

29
Figura 27. As peças da coleção no programa – blusa de crepe

30
Figura 28 – As peças da coleção no programa – Calça de sarja

Figura 29 – As peças da coleção no programa – blusa crepe

31
Figura 30 – As peças da coleção no programa – Calça tela e sarja

Figura 31 – As peças da coleção no programa – Saia Balonê sarja

32
Figura 32 – As peças da coleção no programa – Saia balonê – sarja

Figura 33 – As peças da coleção no programa – moldes saia balorê

33
Figura 34 – As peças da coleção no programa – Saia balonê sarja

Figura 35 – Imagens da modelagem

34
Figura 36. Modelagem da blusa de crepe chiffon

Figura 37. Modelagem da blusa de crepe chiffon

35
Figura 38. Modelagem da calça de tela e sarja

Figura 39. Modelagem do biquini

36
Figuras 40, 41 e 42. Impressão dos moldes de cada uma das peças

37
6.10 Produção das peças piloto

As peças piloto foram cortadas e modeladas em tecido (ligamento tafetá) de algodão


cru, denominado comercialmente de americano cru.

Figura 43 e 44. Modelagem da calça e blusa

Figura 45, 46 e 47. Modelagem da calça e blusa

38
6.11 Produção das peças no tecido definitivo

Figuras 48. Corte da blusa em crepe

Figura 49. Corte da Caça em tela e sarja

39
Figura 50 – Montagem da saia balonê em sarja

40
6.12 Peças da coleção finalizadas

Figura 51. Look 01

41
v
Fonte: Foto da autora

Figura 52. Look 01 - detalhe Figura 53. Look 01 - detalhe

42
Fonte: Foto da autora Fonte: Foto da autora

Figura 54. Look 01 - detalhe

Fonte: Foto da autora

43
Figura 55. Look 02

Fonte: Foto da autora

Figura 56. Look 02 - detalhe

44
Fonte: Foto da autora

Figura 57. Look 02 - detalhe Figura 58. Look 02 - detalhe

Fonte: Foto da autora vFonte: Foto da autora

45
Figura 59. Look 03 - detalhe

Fonte: Foto da autora

Figura 60. Look 03 - detalhe

46
Fonte: Foto da autora

Figura 61. Look 03 - detalhe Figura 62. Look 03 - detalhe

Fonte: Foto da autora Fonte: Foto da autora

47
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, foram pontuados assuntos referentes ao Rio São Francisco, as suas
diversidades naturais e culturais e os desafios ambientais e sociais que o rio
enfrenta. Realizando-se estudos sobre a bacia hidrografia São Francisco que tem
início em Minas Gerais no distrito de São Roque e desagua no Oceano Atlântico
entre os estados de Alagoas e Sergipe. Além de estudos referentes a bacia
hidrográfica também pesquisará sobre os conceitos de cultura popular e identidade
nacional, e o como hibridismo entre as culturas e símbolos da identidade nacional
são os vetores para construção de uma cultura popular e hibrida. Possibilitando
assim uma discursão sobre a construção do hibrido na cultura sanfranciscana, que
provavelmente nasceu devido a navegação no rio permitindo assim as trocas de
elementos culturais entre populações.

Desta forma, pode-se entender a importância do Opará, para o Brasil e como é


importante preservá-lo e consequentemente preservar as culturas sanfranciscanas,
que representam uma porção da expressão da grande cultura brasileira.

48
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Ana Julia Melo. A identidade nacional popular no design de moda


brasileiro. Fortaleza, 2013

ARANTES, A. A. O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 2006.

CANCLINI, N. G. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Editora


Brasiliense, 1983.

CEMIG – Companhia Elétrica de Minas Gerais. USINAS BACIAS DO RIO SÃO


FRANCISCO. Disponível em <http://www.cemig.com.br/pt-br/A_Cemig_e_o_Futuro

/sustentabilidade/nossos_programas/ambientais/peixe_vivo/Paginas/
usinas_sao_francisco.asp>. Acesso em :28, mar.,2020.

CONSUMIDOR do futuro 2023. WGSN (World Global Style Network). 8 de março


de 2021. Londres.[...]

GUIBERNAU, M. M. Nacionalismos: O estado nacional e o nacionalismo no séc.


XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade; tradução Tomaz Tadeu


da Silva, Guaracira Lopes Louro-11. ed. -Rio de Janeiro: DP&A, 2006

Inventário cultural do Rio São Francisco / Instituto Estadual do Patrimônio


Histórico e Artístico de Minas Gerais/IEPHA-MG. Belo Horizonte: Instituto
Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais/IEPHA, 2015.

49
SOUSA, Rafaela. "Rio São Francisco"; Brasil Escola. Disponível em:<
https://brasilescola.uol.com.br/brasil/rio-sao-francisco.htm>. Acesso em 28 de maio
de 2020

MENEZES, MAÍRA. Mudanças climáticas à vista nas margens do Rio São


Francisco. 2016. Disponível em <https://portal.fiocruz.br/noticia/mudancas-
climaticas-vista-nas-margens-do-rio-sao-francisco>. Acesso em 20, junho, 2021.

MORACE, Francesco. Consumidor autoral: as gerações como empresas


criativas. Tradução Kathia Castilho. São Paulo. Estação das letras e cores editoras.
2009.

MUDANÇAS no clima afetam o Rio São Francisco. Jornal da Globo. 8 de agosto de


2019. Disponível em <https://globoplay.globo.com/v/7829511/>. Acesso em 20,
maio, 2020.

NASCENTE do São Francisco é local de devoção ao santo e o ao rio. Globo


reporte. 11 de março de 2016. Disponível em <
https://globoplay.globo.com/v/4878100/>. Acessado em 20, maio, 2020

RIO São Francisco guarda belezas e muitos problemas. Globo Rural. 5 de fevereiro
de 2017. Disponível em < https://globoplay.globo.com/v/5627070/> Acesso em 20,
maio, 2020.

50

Você também pode gostar