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2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
CURSO: ARQUEOLOGIA E PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL
CAMPUS SERRA DA CAPIVARA
2009
Aos meus pais José Francisco e Albertina
Agradeço Ao Professor Msc. Mauro Farias pela orientação, pela amizade, pelo
companheirismo, pela cumplicidade na construção deste texto;
Aos meus pais, pela confiança, pelo amor a mim destinado durante toda a minha
vida;
Aos meus irmãos Júnior, Neto e Nayra e ao meu Tio Isaias pelo sonho
alimentado, pela energia injetada a cada vez que pensava em desistir, aos meus
sobrinhos Andressa, Ícaro e Alessandra por suas existências;
À Rosangela, Manoel, André Luis, Maria Luiza e Simão Pedro e toda família do
Bairro Galo Branco pelo apoio e pelo interesse em meu bem estar;
Aos amigos do Pró – Arte, do IPHAN, da Cidade de São Raimundo Nonato, pela
forma carinhosa com que sempre me trataram;
À Vera Lúcia de Castro pela amizade ao longo desses 4 anos e 4meses, e pela
correção ortográfica na primeira fase desta pesquisa;
À Prof.ª Dr.ª Niède Guidon por sua obra, que serviu como motivação para minha
caminhada na Arqueologia que ora se inicia e pela correção do resumè.
.EPIGRAFE: Saudosa Maloca – Adoniran Barbosa
RESUMÈ
Apresentação 8
Introdução 9
Considerações finais 61
Apêndice 67
Referência 70
APRESENTAÇÃO
1
Identidade social é o resultado da relação de pertinência da comunidade e seu patrimônio neste caso em
especial o patrimônio edificado da cidade de São Raimundo Nonato.
• Sugerir a educação patrimonial como forma de conscientização por parte da
população de São Raimundo Nonato da importância da preservação e
manutenção do seu patrimônio edificado.
2
Alcovas são cômodos construídos no interior das casas que não possuem nenhuma acesso a área externa
da casa, comumente utilizadas pelas filhas, de forma a protegê-las dos olhares masculinos e também de
possíveis fugas durante a noite com seus pretendentes não gratos a família.
outras se encontram prédios deste período e com essa metragem de lote, pois como já
foi dito anteriormente este era o fator de uniformização da arquitetura colonial.
Figura 01: Casa no estilo vernacular da cidade de São João do Piauí. É uma casa térrea com
10 metros de frente. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN.
Embora seja a medida de frente definida, o traçado das cidades não traziam
consigo ângulos perfeitos, haja vista neste período não se dispunha de equipamentos
eficazes de medição. Na colônia, a delimitação era feita com estacas e cordas.
Nas cidades coloniais brasileiras, as casas eram construídas segundo padrões
contidos em Cartas Régias, desde quantidade de janelas a decoração de fachadas,
ficando a cargo do proprietário a planta interior da casa. Na grande maioria das vezes a
área de circulação do edifício estava restrita a um grande corredor que ligava a porta de
entrada à dos fundos.
A técnica de construção era de pau a pique3, taipa de pilão4 e ou adobe5 nas
residências mais simples enquanto que nas mais sofisticadas empregava-se pedra e sal e
muito raramente tijolos. O telhado se dividia em duas águas, uma voltada para rua e
outras para o quintal, eram evitadas calhas.
Foi a partir destas informações que foram identificadas as casas de arquitetura
vernacular e colonial na cidade de São Raimundo Nonato passíveis de tombamento6.
Como poderia se preservar o patrimônio edificado de São Raimundo Nonato,
diante da derrubada e modificações das fachadas dos edifícios, da ausência de
legislação, do descaso público e do desconhecimento de grande parte da população em
torno da dinâmica conservacionista?
Este processo de entendimento se fez longo e passou por outros
questionamentos. O que motivava a derrubada do patrimônio edificado
sanraimundense? Esta renovação do plano urbanístico da cidade fazia parte de um
movimento isolado em São Raimundo Nonato ou era a continuação de algum processo
de modernização das cidades do interior do nordeste?
Diante de tantos questionamentos buscou-se através da historiografia entender o
processo de modernização empregado no Brasil ainda nos séculos XIX e XX. Tentando
compreender por que as cidades brasileiras se modificaram neste período, procurando
inserir São Raimundo Nonato nesse processo, mas também questionando porque só
agora é que ela assume esse caráter de urgência em se modernizar através da derrubada
do antigo para construção do novo, do moderno.
Alguns historiadores afirmam que as colônias só sentiam a mudança cem anos
depois das metrópoles Rago (1997), talvez possa ter sido esse o fator de determinação
temporal para que São Raimundo Nonato tenha começado a modernizar-se somente um
3
A técnica de construção do pau-a-pique constitui-se em barro aplicado sobre um entramado de vara de
coqueiro
4
A taipa constitui-se de paredes feitas de barro amassado e calcado, por vezes misturado com cal para
controlar a acidez da mistura que vem a ser comprimida entre taipais de madeira desmontáveis,
removidas logo após estar completamente seca, formando assim uma parede de um material
incombustível e isotérmico natural e particularmente barato.
5
Utiliza o barro com pequena quantidade de areia como matéria prima. O barro deve ser bem sovado e
moldado em formas de madeira, sofre o processo de secagem a sombra, e não recebe queima. As
construções antigas sempre tinham a presença do Adobe
6
Tombamento é como um acordo realizado entre o órgão responsável pela preservação do patrimônio em
qualquer instância quer seja nacional, estadual, municipal e local para com o dono do bem a ser protegido
que regerá as interferências realizadas neste para fins de conservação.
século depois da primeira cidade brasileira a fazê-lo, o Rio de Janeiro. No Rio de
Janeiro, o discurso era o da higienização, onde o prefeito Pereira Passos7 e sua equipe
sanitarizaram a cidade que estava infestada de doenças; mas em São Raimundo Nonato
o que incentiva a modernização?
Outro caso que foi estudado para uma comparação foi Teresina, que é a sede
administrativa do Estado do Piauí e, e ficou conhecida “como a cidade que nasceu para
ser moderna”. A modernização da capital piauiense começou no início do século XX
terminando por volta da década de 1940. O fogo foi utilizado para higienizar o centro da
cidade, o que será apresentado de forma mais profícua no capítulo seguinte.
O discurso da sanitarização nos dois casos de modernização das cidades, para
atração de capitais, da preparação de ambas para uma vida mais digna dos cidadãos na
verdade mascaravam a segregação de classes, segundo Chalhoub (1996): “o pobre é
uma classe tão ordinária que não poderia se permitir que as crianças tivessem acesso a
eles, para que essas não se infectassem com sua preguiça e mediocridade.”
Nos dois casos, há um discurso implícito de segregação, pois apenas os pobres
foram retirados da área de convivência urbana. O que em São Raimundo Nonato a
priori não se aplica, pois não há retirada de famílias do centro, o que ocorre é uma
substituição de um prédio de estilo vernacular e/ou colonial por um prédio que buscam
transparecer modernidade no entendimento de quem o troca.
Segundo o IBGE, São Raimundo Nonato compõe com outras doze cidades, a
mesorregião sudoeste do Piauí, atendendo-as financeiro e comercialmente. É possível
que esteja neste fato um dos motivos para as substituições das residências coloniais por
pontos de comércios recém construídos. Surge assim outro questionamento. O comércio
é o responsável pela modernização em São Raimundo Nonato?
7
Francisco Pereira Passos foi um engenheiro e prefeito da cidade do Rio de Janeiro entre 1902 e 1906,
nomeado pelo presidente Rodrigues Alves.
Capítulo I TERESINA E RIO DE JANEIRO: DOIS MODELOS PRÁTICOS
O patrimônio edificado de São Raimundo Nonato por não dispor de uma legislação
que o salvaguarde enfrenta grandes perigos de desaparecer. O capítulo Teresina e Rio de
Janeiro: dois modelos práticos, apresenta duas vertentes de modernização ocorridas no
final do século XIX e início do XX.
8
O terceiro turno é quando o trabalhador escolhe ampliar para três turnos sua jornada de trabalho e não mais
dois, por inúmeros motivos, um deles é o baixo salário.
9
Pessoas que possuem relações consaguíneas.
15
Entendemos tradição, como agregação de culturas. Tradição ao contrário daquilo que antes
era pensado evolui com o tempo, se adapta temporal e espacialmente, porém não é preciso
destruir o velho, o antigo para construir ou remodelar o novo, o moderno, nem tampouco é
necessário negar uma tradição do passado para demonstra-se moderno. Existem modelos
de inúmeras cidades em que se construiu uma nova ao lado da primitiva, sem que para isso
deixe de propiciar benefícios à todos respeitando-se as particularidades.
Em Mumford (1998), Ebenzer Howard pensa a cidade como aquela que evolui em
espaços distintos, o centro e o subúrbio, ele não entende a modificação de uma cidade com
traços totalmente rurais em metrópole e mais, alerta que através desta descaracterização
possa provocar a sensação de não pertencimento entre a comunidade e o cidadão.
Nas cidades cujo traçado urbanístico lembra o início do século XX, isto é uma
cidade com ares de campo, existem os chamados núcleos de famílias, onde seu vizinho é
seu primo, seu irmão, seu pai. A cidade é pequena, todos se conhecem. Com a expansão e
o advento dos subúrbios tudo se recria, agora esse pequeno núcleo familiar vai ser afastado
do centro, pois este será o lugar destinado ao comércio.
A quitandinha continua a existir, mas não será somente nela onde as famílias
adquirirão suas compras, agora será preciso se deslocar a uma longa distância para realizar
compras com fins de manutenção da dispensa, aquela conversinha com o dono, como o
colega enquanto anota as compras no caderno para acertar no final do mês, já não são mais
freqüentes. A cidade que se moderniza sem uma estruturação prévia, leva ao
desaparecimento paulatino dos velhos hábitos, das tradições como um grão de areia no
redemoinho que passa.
10
A Carta de Atenas é o resultado de uma pesquisa com 33 cidades em que se chegou a conclusão de que
faltava planejamento
17
Histórico
categoria de valor em preservação - o valor artístico que será melhor apresentado mais
adiante. Fonseca (1997)
Haussmann se destacou, seu modelo pioneiro se difundiu, chegou ao Brasil, aqui
ele foi sentido nas capitais ainda no início do século XX. As cidades do Rio de Janeiro,
Salvador, São Paulo, Recife entre outras, dentre as quatro citadas de forma mais particular
o Rio de Janeiro será estudado e apresentar-se-a Teresina.
Por questão de cronologia começou-se por Teresina que vislumbrava uma
legislação já em 1867, o que parece ser o primeiro movimento em prol de uma legislação
de higienização de cidades no Brasil.
Teresina
O fato relatado por Iglesias apóia a idéia de que Teresina estava tomada por
construções de palha, além daqueles edificados no centro, elas estendiam-se para todos os
lados da Cidade. Observou a historiadora Teresinha Queiroz (1994)
quando pesquisava o processo de modernização de Teresina:
11
José da Rocha Furtado era médico formado pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do
Brasil, foi governador do Piauí eleito pelo voto direto exercendo o mandato entre 1947 a 1951.
12
Leônidas de Castro Melo, médico formado pela Faculdade Nacional de Medicina foi governador do Estado
do Piauí, perdeu o cargo de governador com a queda de Vargas.
13
Deve-se salientar que este abastecimento de água chegou a pouquíssimas casas e alguns prédios públicos.
22
O engenheiro Saturnino de Brito chegou a conclusão que não se podia mais pensar
uma cidade nos moldes coloniais, era preciso vislumbrar um futuro próximo, não se podia
adiar a estruturação de uma cidade, foi por isso que com Teresina se deu inicio ao processo
de projetar cidades, modelos mais tarde seguidos por Aracaju, Goiânia, Belo Horizonte,
Brasília e outras. Fazia-se necessário pensar o problema antes dele acontecer, solucioná-lo
tornar-se-ia mais difícil, assim surgiu a pretensão de:
Luis Pires Chaves visualizava uma cidade onde o traçado interligasse a cidade e que
estava se preparando para a chegada do automóvel, o símbolo da modernidade em
transportes.
A cidade foi tomada por fogo, este por sua vez, tornou-se presente na vida dos
teresinenses durante muito tempo. O fogo devorou as casas de palha, primeiramente da
área central da cidade, depois seguiu rumo a periferia, começava-se através dele limpar o
centro da cidade. O fogo que atingiu as casas dos pobres expulsou-os da área central,
livrando a cidade de uma paisagem indesejada pelos idealizadores do processo de
higienização, favorecendo o processo de modernização da mesma.
23
14
B R O BRO expressão que se refere aos quatro últimos meses do ano e que é também o período do ano de
temperaturas mais elevadas em Teresina.
15
Casas que compartilham uma parede.
24
O governo decidiu interferir, abriu crédito de auxílio aos moradores atingidos pelos
incêndios, a distribuição deste foi delegada à polícia que a faria depois da realização de
uma sindicância que pormenorizaria as causas dos incêndios, sendo levantada primeiro a
hipótese deles não serem mero acaso.
O grande número de incêndios levou o governo através da portaria n.º 668 de 1941,
que elaborava um amparo social às famílias atingidas. Nesse período a noticia sobre o fogo
em Teresina já havia rompido as fronteiras do Estado, exercendo assim uma pressão em
prol de uma atitude do governo no intuito de controlar a piromania e punir seus praticantes.
O governo com 71 anos de atraso, colocou em prática a sugestão de reconstrução
das casas com material mais seguro, porém se deparou com um grande problema: a
produção ceramista em Teresina não supria uma demanda tão grande assim.
16
Lindolfo Monteiro era médico e foi prefeito de Teresina no período compreendido entre 1936 a 1945.
25
O novo fogo.
relação aos incêndios o que não foi cumprido. Nascimento (2002) não deixa claro quem foi
o culpado pelos incêndios. A prefeitura e o governo estadual de certa forma se
beneficiaram da piromania que assolou a cidade no processo de urbanização.
Rio de Janeiro,
Com o final da escravidão no Brasil surgem nas cidades novos espaços para a
construção da cidadania dos ex-escravos, permitindo novas possibilidades de vida, do
esquecimento das mazelas do campo e das cidades, da memória do cativeiro.
Uma desordem mascarada recebia todos aqueles que viam ascender nas cidades
republicanas, reeditar nelas um passado deixado na sua origem. Enchendo-as de prédios
térreos, cortiços, casas de cômodos e palafitas, a esses miseráveis chamavam-se
“cidadãos”.
Este quadro emergente e desordeiro que se instalara nas cidades republicanas
brasileiras espantava os investidores europeus, acostumados às cidades estruturalmente
mais evoluídas.
Uma a uma, as cidades européias modernizavam-se seguindo o modelo
urbanístico de Paris, implementado por Hausmann. Modelo este onde era construído um
centro político e comercial com poder de gerir a cidade e, atrelado a ela uma boa
vizinhança formada por membros de uma mesma classe, a elite, tentava-se homogeneizar
os bairros de formar a torná-los iguais socialmente.
Esta prática parisiense ganhou adeptos por todo o mundo. A elite republicana
brasileira, ávida por progresso e pelos ideais de modernidade, não se fez de rogada e
programou ou pelo menos tentou pô-la em prática aqui no Brasil Republicano e
27
O Rio de Janeiro, capital do país, foi primeira das grandes cidades brasileiras a
passar pelo processo de urbanização. Porém já em seu limiar, enfrentou um grande
problema a sazonalização da população, prática essa que criava cada dia espaços passíveis
de sanitarização e urbanidade. Paulatinamente, os pomposos palacetes e prédios imperiais
foram ocupados indiscriminadamente pelas camadas mais humildes da população, que
aglomeravam-se nos referidos edifícios transmultando-os em cortiços18. Nas casas térreas
eram erguidas “paredes” com restos de materiais para dividir o público e torná-lo privado.
Eram construídos casebres nos espaços dantes deixados para ventilação, reduzindo estas às
inúmeras janelas das fachadas associadas àquelas voltadas para os quintais.
A insalubridade eminente deflagrou na cidade um surto de doenças oriundas de
uma falta de higiene pessoal, para com as instalações e para com a cidade. Por conseguinte
técnicos, médicos sanitaristas e cientistas, diante da precária condição de trabalho, viram-
se de mãos atadas frente às epidemias e endemias de varíola, malária, cólera-morbo, peste
bubônica entre outras, que por sua vez foram fortificadas pelos problemas sociais e
espaciais por qual passavam o Rio de Janeiro.
O primeiro procedimento na sanitarização do centro do Rio de Janeiro foi
implementado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, que expulsou pobres e
demoliu o cortiço Cabeça de Porco. Posteriormente as demolições, os moradores sem teto
recolheram as sobras das construções para reconstruir seus casebres em outros locais,
17
Palavra latina que designa coisa pública, ou ainda República que é a forma de governar onde o gestor é
eleito pelos cidadãos através do voto direto.
18
Cortiço é uma habitação de pobres, ambiente insalubre, sem idéia de privacidade, abriga a todas as
pessoas da classe pobre, todos são colocados ao um mesmo patamá de miseráveis.
28
próximos do centro. Fato que o prefeito Barata Ribeiro não conseguiu prever. O que
também era garantido por falhas na legislação, nada impedia que seus casebres fossem
reconstruídos nos morros da região central do Rio de Janeiro.
Assim, teve início um advento muito conhecido nas metrópoles brasileiras nos
dias de hoje, as favelas19, nome dado em alusão a grande quantidade de uma planta
encontrada no Morro Santo Antonio pelos homens de Antonio Conselheiro, planta esta
também muito abundante no Arraial de Canudos.
A primeira tentativa de sanitarizar o centro da cidade do Rio de Janeiro e proteger
a elite do infortúnio de conviver com os miseráveis fora frustrada, assim como o sonho de
dar à cidade ares europeus capacitando-a para receber investimentos estrangeiros.
A profilaxia proposta com a campanha de vacinação de 1904 instaurou de vez o
caos, gerando a Revolta das Vacinas. A elite dissidente e temerosa, repensou e optou pela
segurança e comodidade, vendeu ou trocou por títulos públicos propriedades e casas
construídas nas áreas de risco de epidemias ou ainda reconstruiu com o governo tornando
problemas financeiros em investimentos rentáveis. Tudo em nome de uma sociedade
“moderna” capaz de receber o progresso que se espalhava no mundo nas ondas da
industrialização.
Só fora esquecido um pequeno detalhe, o problema do Rio de Janeiro, assim
como nas outras capitais, não era apenas estético, havia muito mais a ser sanitarizado: a
economia, a política, a saúde. Por mais moderno que se pudesse parecer as “novas
instalações” da Cidade, (vale ressaltar que a República não construiu nenhum novo prédio
para abrigar seus governantes, apenas foram realizadas relocações e reformas nos “antigos”
edifícios utilizados pelo Império), eles não estavam prontos como uma metrópole européia.
(...) Certamente não basta obtermos água em abundância e esgostos
regulares para gozarmos de uma perfeita higiene urbana. É necessário
melhorar a higiene domiciliaria, transformar nossas edificações, fomentar
a construção de prédios modernos e esse desideratum somente pode ser
alcançado rasgando-se na cidade algumas avenidas, marcadas de forma a
19
Favela é um aglomerado de casas construídas de taipa, ou de madeira ou de papelão por pessoas pobres.
29
20
Trecho retirado da musica de Fernanda Abreu.
30
Raimundo Nonato, haja vista que todo esse processo aconteceu nas duas cidades no final
do século XIX e início do XX .
Nos dois casos se falou de modernização, progresso, higienização, legislação, ação
do governo, ação da população. São essas as características presentes no Rio de Janeiro e
Teresina que também influenciam ou motivam a derrubada ou mudança das fachadas dos
edifícios de São Raimundo Nonato? Há no sanraimundense um conceito do que venha a
ser patrimônio? Há no sanraimundense o desejo de preservar algum patrimônio? Qual a
relação entre o sanraimundense e o patrimônio edificado tecnicamente identificado?
Capítulo II ANÁLISE DA PAISAG
EM PATRIMONIAL DA CIDADE DE SÃ
O
RAIMU NDO NONATO
São Raimundo de belas paisagens, belas serras, mistério e saber; Serra branca que o
poeta cantará nas estrofes de um grande querer. Quantas serras te enfeitam e contornam
(...).20
20
Trecho do Hino de São Raimundo Nonato. Letra: Teresinha de Castro Ferreira. Musica: Luis Santos
disponível em : http://www.aldeiasrn.net/Hinos.htm acesso: 03/02/2009
32
Figura 3: Área onde um ano depois foi construída a Praça. Getúlio Vargas. Fonte:Solimar - acervo
IPHAN. 1 - Espaço da Praça Getúlio Vargas, onde era montada a feira do final de semana; 2 -
Casa do Senhor Sezernando Baldoíno; 3 - Casa de Dr. Valdir Castro.
Figura 4: Vista da Praça Prof. Júlio Paixão. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN. 1 -
Loja Bomfim Calçados; 2 - Casa do Sr. Valdir Castro; 3 - Caixa Econômica Federal; 4
- Casa do Sr. Sezernando Baldoíno;
Figura 5: Praça. Getúlio Vargas. Fonte: Acervo – IPHAN 1 – Praça Getúlio Vargas –
Rodinha do Bitoso; 2 – Barracão; 3 – Casa de D. Nilde Rosado Baião
Figura 6: Av. Professor João Menezes. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN
Lojas que substituem o casario antigo do centro de São Raimundo Nonato
Figura 8: Prédio da Prefeitura de São Raimundo Nonato, situado à Rua Zeca Coqueiro.
Fonte: Flávio André – acervo IPHAN
O Comércio.
A partir de 1922, com declínio da cultura da maniçoba, o comércio ganhou força
baseado, principalmente, na diversificação dos produtos agrícolas, nas lojas de tecidos e
armarinhos.
Atualmente, a atividade comercial é a principal fonte de divisas. São Raimundo
Nonato é uma cidade pólo fornecendo equipamento sócio-econômico para doze cidades
circunvizinhas: Anísio de Abreu, Bonfim do Piauí, Caracol, Cel. José Dias, Dirceu
Arcoverde, Dom Inocêncio, Fartura do Piauí, Guaribas, Jurema, São Braz do Piauí, São
Lourenço e Várzea Branca. Sua economia é aquecida nos cinco primeiro dias do mês
quando é realizado o pagamento aos aposentados e pensionistas das cidades acima citadas.
A rede formada pelo comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais
e domésticos, constitui-se de 514 unidades empregando cerca de 860 pessoas sendo que
destas, apenas 493 possui salários fixos. Estas empresas movimentam o comércio em
forma de salário pago aos funcionários totalizando R$ 1.980.000; segundo o censo do
IBGE de 2005.
CapítuloIII COMPARANDA21
Figura 9: mapa elaborado por Olavo Pereira, resultado de sua passagem por São
Raimundo Nonato em 1987. Contornado por vermelho, os locais onde ele realizou
uma fase preliminar do inventário. Filho (2007).
21
Em latim significa comparação
37
Olavo Pereira identificou 43 prédios passíveis de tombamento pela região das três
primeiras praças da cidade, alguns desses, ele fez desenhos de fachadas e perfis e
fotografias.
Seguem abaixo apresentados os desenhos e fotografias de Olavo Pereira realizadas
em 1987.
A casa da Srta. Diolinda Rubens de Macedo e Sr.ª Lourdes Reis de Macedo
constituem a sede da fazenda Jenipapo, sendo a segunda edificação da cidade. Baião
(2007).
Figura 10: Fotografia da fachada da antiga sede da Fazenda Jenipapo, situada a rua Com.
Piauilino n.ºs 138 e 138. Filho (2007)
38
Figuras 11: Planta baixa, perfil, detalhes do teto, telhado e da janela da casa situada a rua COM.
Piauilino n.ºs 64-70. Filho (2007).
Figuras 12 e 13: Casa situada a rua COM. Piauilino n.ºs 64-70. Filho (2007).
39
Figura 14: Planta baixa da casa do Sr. Sezernando Baldoino. Filho (2007)
Figura 16: Mapa elaborado pela equipe do caderno de cultura do IPHAN em 2005
O Caderno de Cultura identificou 35 casas distribuídas por toda área urbana de São
Raimundo Nonato, demonstrando um decréscimo no número de edifícios no centro da
cidade em um período de 17 anos em relação a pesquisa de Olavo Pereira.
O trabalho em algumas casas se deu apenas no desenho das fachadas em outras da
planta baixa e ou planta baixa em axiométrica e desenho de perfil.
Assim sendo segue o demonstrativo deste trabalho
Figura 17: Casa sede da Fazenda Jenipapo, hoje pertence a duas proprietárias: Diolinda
Rubens de Macedo e Maria de Lourdes Macedo Reis, situada a Rua COM. Piauilino quadra
40 – Centro. Desenho realizado por Valdecir Negreiros. IPHAN (2007).
41
Figura 18: Casa do Prof. Júlio Paixão, situada à rua Prof. João Menezes quadra 17 - Centro.
Desenho realizado por Nívia Paula. IPHAN(2007)
Figura 19: Casa do Sr. Antonio Martins de Castro, situada à Rua Professor João
Menezes, quadra 21 – Centro. Desenho realizado por Nívia Paula. IPHAN (2007)
Figura 20: Casa de Dona Rosa Teixeira de Castro, situada à Rua Cap. Newton de Rubem
quadra 22(sic) – Centro. Desenho realizado por Dalmir Negreiros. IPHAN (2007).
42
Figura 21: Casa do Sr. Manoel de Negreiros Sobrinho, situada à Rua Cap. Newton Rubem,
quadra 22 (sic)– Centro. Desenho realizado por Dalmir Negreiros. IPHAN (2007).
Figura 22: Casa do Jessé Piauilino da Silva, situada à Praça Francisco Antonio da Silva,
quadra 02 – Centro. Desenho realizado por Crisvanete Aquino. IPHAN (2007).
Figura 23: Casa do Sr. Jose Ferreira Paes Landim, situada a rua Aniceto Bairro
Aldeia. Desenho realizado por Claudeilson de Morais IPHAN(2007)
43
Comparanda
Figura 24: Mapa comparanda, nele estabelece-se uma comparação de identificações de edifícios,
observando semelhanças e diferenças, ausências e presença nos mapas elaborados tanto pelo caderno
de cultura quanto por Olavo Pereira
Capítulo IV AS BELAS PAISAGENS ATUAIS DE SÃO RAIMUNDO NONATO,
PASSIVEIS DE TOMBAMENTO.
A análise deste mapa nos permite afirmar que na região mais antiga da cidade, que
engloba Praça Com. Piauilino representada no mapa pelos balões de cor azul, Praça Prof.
Júlio Paixão representada pelos balões de cor verde, e adjacências são representadas pelos
balões de cor amarela, está concentrado o maior número de edifício, em um total de 15
enquanto que na Praça Francisco Antonio da Silva 05 edifícios representada no mapa pelos
balões de cor rosa e no Bairro Aldeia estão outros 05 totalizando 25 prédios passíveis de
tombamento, alguns deles esta salvaguarda deverá ser efetuada em caráter de urgência.
A partir daqui, organizo um compêndio de dados, plantas baixas, fachadas e fotos
dos edifícios que identifico passíveis de tombamento devido ao estilo arquitetônico
colonial e vernacular em que se enquadram. Em alguns casos consegui anexar dados das
três pesquisas em outros apenas apareceram fotos e georeferenciamento, estes parte da
pesquisa realizada para este trabalho monográfico.
A primeira região apresentada é a da Praça Com. Piauilino representada no mapa
pelos balões de cor azul, como fora referido anteriormente é a região que abriga o maior
número de edifícios passíveis de tombamento.
A historiografia aponta esta área como marco fundado da Cidade de São Raimundo
Nonato. Ao redor da Pça. Com. Piauilino estão a antiga sede da fazenda Jenipapo, a Casa
da Sr.ª Maria Luiza Araújo, da Sr.ª Helena Rubens de Araújo, Igreja Matriz e o Palácio
Episcopal.
Naquilo que fora considerado adjacências refere-se a espaço de intersecção entre as
Praças Com. Piauilino e Prof. Júlio Paixão, onde estão as casas da Sr.ª Socorro Vítor, do
Sr. Osvaldo Paixão, da Srta. Isabel Paixão, o prédio da Micro arte.
Segue abaixo fotos de fachadas, desenhos de fachadas plantas baixas:
Figura 26: Igreja Matriz de São Raimundo Nonato, situada à Praça Com. Piauilino – Centro.
UTM: 23 L 0754309 E 9002822 N. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN.
47
Figura 27: Palácio Episcopal, situada à Rua Prof. José Leandro n.º 185 – Centro. UTM : 23
L 0754278 E 9002792 N . Flávio André – acervo IPHAN.
Figura 28: Palácio Episcopal. Desenho realizado por Luis Raffaello. Acervo IPHAN
Figura 29: Antiga Sede da Fazenda Jenipapo. Hoje residência da Srta. Diolinda Macedo e da Srª
Maria de Lourdes Reis de Macedo, situada à rua Com. Piaulino n.ºs 138 e 130 – Centro. UTM :
23 L 0754253 E 9002834 N. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN.
48
Figura 30: Antiga sede da Fazenda Jenipapo. Desenho realizado por Valdecir Negreiros.
IPHAN (2007).
Figura 31: Planta baixa e perfil da antiga sede da Fazenda Jenipapo. Filho (2007).
Foto 32: Casa de D. Maria Luiza Araújo, situada à rua Com. Piauilino n.º 110 - Centro.
UTM: 23L 0754282 E 9002842 N . Fonte: Flávio André – acervo IPHAN
49
Figura 33: Casa de D. Helena Rubens de Araújo, situada à Rua Com. Piauilino n.º 90 –
Centro. UTM: 23 L 0754297 E 9002848 N. Fonte: Flávio André. Acervo IPHAN
Figura 34: Casa de D. Helena Rubens de Araújo. Desenho realizado por Nívia Paula. Acervo
IPHAN.
50
Figura 35 : Casa do Sr. Osvaldo Paixão, situada à Rua Prof. João Menezes n.º357 – Centro.
UTM: 23 L 0754222 E 9002730 N . Fonte: Flávio André – acervo IPHAN
Figura 36 : casa do Sr. Osvaldo Paixão. Desenho realizado por Gênesis Naum. Acervo
IPHAN.
51
Figura 37: Casa da Srta. Isabel Paixão, situada à Rua Prof. João Menezes n.º 393 – Centro.
UTM: 23L 0754179E 9002718N. Fonte:Flávio André- acervo IPHAN.
Figura 39: Casa onde funciona a Microarte , situada à Rua Prof. João Menezes n. 396 –
Centro. UTM: 23L 0754180E 9002726N. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN.
52
Na área do entorno da Praça Prof. Júlio Paixão foram indicados 6 edifícios entre
que são eles as casas do Sr. Valdir Castro, da Sr.ª Nilde Baião, panificadora Renascer,
Sobrado e casa do Sr. Sezernando Baldoino.
Figura 40: casa do Sr. Valdir Castro, Figura 41 : casa de Sr. ª Nilda Rosado
situada à Rua Prof. João Menezes s/n. – Baião situada à Praça. Prof. Júlio Paixão
Centro. UTM: 23 L 0754135 E n.º 95 – Centro. UTM: 23 L 0754103 E
90022710 N.Fonte: Flávio André – 9002720 N. Fonte: Flávio André –
acervo IPHAN acervo IPHAN
Foto 42: Casa, situada a rua Prof. João Menezes n.º 462 – Centro. UTM: 23 L 0754101E
9002704N. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN.
53
Figura 43: Sobrado, situado à esquina das ruas Prof. Raimundo Araújo Pinheiro com Prof.
José Leandro s/n. UTM: 23L 0754143E 9002762N. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN.
Foto 44: casa, situada à Rua Prof. Foto 45: casa da Sr.ª Socorro Vítor, em
Raimundo Araújo Pinheiro n.º 108 – sua fachada data 1914 como data de
Centro. UTM: 23L 0754146E 9002744N. construção. UTM: 23L 0754182E
Fonte: Flávio André – acervo IPHAN. 9002798N. Fonte: Flávio André- acervo -
IPHAN
54
Figura 46 : Casa do Sr. Sezernando Baldoino, situada à rua Prof. João Menezes n. 411
– Centro. UTM: 23 L 0754161E 9002714N. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN.
Figura 48 Casa do Sr. Raimundo Satu, situada à Av. Prof. João Menezes n.º 718 –
Centro. UTM 0753789E 9002638N. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN.
Figura 49 : Casa da Sr.º Mercês Palmeira, situada à Rua Prof. João Menezes n.º 748 –
Centro. UTM: 23L 0753737E 9002620N. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN.
56
Figura 50: Casa da Sr.ª Rosa Texeira de Castro, situada à Rua Cap. Newton de Rubem n.
804 – Centro. UTM: 23 L 0753645E 9002606N. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN.
Figura 52: Casa do Sr. Manoel de Negreiros Sobrinho, situda à Rua Cap. Newton de Rubem
n.º 810 – Centro. UTM: 23L 0753634E 9002604N. Fonte: Flávio André – acervo - IPHAN
Figura 54: Casa do Jessé Piauilino da Silva, situada à Praça Francisco Antonio da Silva s/n –
Centro. UTM: 23L 0753668E 9002550N. Fonte: Flávio André – acervo IPHAN.
Figura 56: Casa do Sr. Manoel Policarpo de Castro, situada à Rua Rua Cap. Newton de
Rubem s/n. – Centro. UTM: 23L 0753394E 9002544N. Fonte: Flávio André – acervo
IPHAN.
Figura 57: Casa do Senhor Manoel Policarpo de Castro, situada à Rua Cap. Newton de
Rubem, quadra 22 – Centro. Desenho realizado por Luis Raffaello. IPHAN (2007).
Figura 58: Casa do Sr. Gerson Batista de Castro .UTM: 23L 0753671E 9002744N. Fonte:
Flávio André – acervo IPHAN
60
Figura 59: Casa do Sr. José Ferreira Paes Landim, situada à Rua Ancieto Bairro Aldeia. UTM: 23
L 0753362E 9002344N. Flávio André – acervo IPHAN.
Figuras 71 e 72: Colégio Dom Inocêncio localizado no Bairro Aldeia. UTM: 0752970E
9002718N. Fonte: Acervo IPHAN.
Con
sid
eraçõesfin
ais
O patrimônio edificado de São Raimundo Nonato desde 1987 vem sendo analisado
e apontados quais edifícios devem ser salvaguardados. O primeiro foi o arquiteto Olavo
Pereira em 1987 quando ele andou todo o Estado do Piauí reconhecendo os edifícios que
poderiam um dia ser preservados.
Em 2005 a equipe formada pela Universidade Federal do Vale do São Francisco -
UNIVASF, a Universidade Estadual do Piauí - UESPI, o Escritório Técnico I da 19ª S.R.
do IPHAN, a Fundação Museu do Homem Americano – FUMDHAM e o PRÓ-ARTE
FUMDHAM, pesquisaram o patrimônio, segregando os edifícios de arquitetura colonial e
vernacular sanraimundense. Publicando o resultado desta pesquisa no Caderno de Cultura
do IPHAN intitulado: São Raimundo Nonato: Memória e Patrimônio. Serra da Capivara,
em 2007.
Este trabalho monográfico continua as pesquisas sobre o diagnóstico do patrimônio
edificado de São Raimundo Nonato iniciada com o Caderno de Cultura. Seguindo-se
orientação dos professores Elaine Ignácio e Msc. Mauro Farias, ambos da UNIVASF. E
corientado pela Professora Dr.ª Ana Stela Negreiros de Oliveira que irá elaborar um dossiê
sobre os inventários.
Assim sendo, procurou-se estabelecer modelos que servissem de parâmetros para o
entendimento da derrubada do patrimônio edificado sanraimundense, neste tocante
utilizou-se das cidades de Teresina e Rio de Janeiro. Teresina por ser a primeira cidade no
Brasil a criar uma legislação em prol da organização do processo de modernização e
urbanização. O Rio de Janeiro por ser o modelo brasileiro das práticas higienista do Barão
Hausmann.
Em Teresina o processo higienista logrou êxitos dando ao centro uma paisagem que
fugia da significação de cidade rural, ergueram-se edifícios modernos e pomposos que
ocuparam o lugar dos casebres, só habitava a área central a elite, tudo se deu como o
planejado.
Já no Rio de Janeiro, houve um infortúnio, graças a “bondade” do prefeito Barata
Ribeiro. Criou-se a favela, que transformou paisagem da Nova Rio de Janeiro. Enquanto os
pobres possuíam uma visão privilegiada à elite passou a ter como vista de suas janelas os
morros amontoados de casebres. Sob esta óptica ocorreu um deslize no projeto de
urbanização da Cidade Maravilhosa.
62
Depois de ter estabelecido este parâmetro e ter aprofundado na cidade de São Raimundo
Nonato e após ter comparado os mapas apresentados por Olavo Pereira e pelo Caderno de
Cultura, pode-se notar que havia uma diferença no processo de modernização entre as
cidades modelo e São Raimundo Nonato. Enquanto em Teresina e no Rio de Janeiro deu-
se de forma abrupta, teve-se pressa em modernizar, foi uma ação governamental, em São
Raimundo Nonato se fez lento e gradual, e através da iniciativa privada, acompanhando o
crescimento do comércio local. Os prédios antigos principalmente os da região central
estão sendo substituídos por prédios de mais de um piso no intuito de servir ao comércio
em expansão.
Quando une-se a informação da substituição dos prédios antigos por modernos e
comercias às informações da movimentação financeira realizada pelo comércio local,
pode-se afirmar que este é o principal financiador desta substituição de edifícios.
Assim, como reafirma-se aquilo que sugeriu Baião (2007), toda a derrubada do
patrimônio edificado sanraimundense é fruto da falta de legislação que o salvaguarde e por
sua vez, a ausência de legislação é resultado do desconhecimento dos gestores públicos e
de grande parte da população da importância do referido patrimônio que o inoportuniza
uma chance de cumprir plenamente o seu tempo natural de vida e seu papel histórico, de
estreitar laços idenditários entre monumento-história-população.
São esses os fatores que legam ao patrimônio edificado sanraimundense um
descaso que é o caminho mais curto para destruição, para o esquecimento. Em alguns deles
a justificativa para o péssimo estado de conservação é que é um prédio de herança, que são
muitos donos e não há consenso sobre o futuro dos mesmos; em outros, o proprietário
alegam não dispor de recursos para uma manutenção o que os deixa susceptível a
exploração imobiliária patrocinada pelo comércio.
Fatores que balizam o estado de descaso para com o patrimônio edificado
sanraimundense são muitos, poucas são as iniciativas em prol de sua preservação.
Nesse intuito o Escritório Técnico I da 19ª S.R.do IPHAN vem proferindo
palestras sobre o patrimônio cultural do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara e
um dos temas abordados é o Patrimônio Edificado da Cidade São Raimundo Nonato,
dentro do programa de educação patrimonial realizado pelo escritório que é modelo para
todo o Piauí.
Esta é uma das iniciativas de salvaguarda do patrimônio cultural sanraimundense,
assim como essa existem outras poucas ações isoladas enquanto não for elaborada uma
63
legislação municipal que o salvaguarde, e ainda que esta deva ser pautada nas
recomendações do ICOMOS que são elaboradas por especialistas na preservação.
A educação patrimonial neste momento soa como um paliativo urge uma legislação
municipal para salvaguarda deste patrimônio, caso contrário a história de São Raimundo
Nonato existirá apenas na memória daqueles que conseguiram viver antes da expansão do
comércio local.
É preciso colocar em prática as recomendações do Plano Diretor, se este já estiver
sido aceito pela administração municipal, se ainda não fora que se faça o mais rápido
possível, o relógio começa a andar mais rápido para destruição do patrimônio. A destruição
do o patrimônio sanraimundense avança em progressão geométrica enquanto as ações
conservacionistas em progressão aritmética. Faz-se necessário uma mudança nos ritmos.
É no Plano Diretor onde se sugere a área mais adequada às práticas
comercias e a moradia; onde deve-se, por exemplo, colocar um posto de saúde
possibilitando acesso a um número maior de pessoas; de fato através dele a equipe técnica
vai pensar o crescimento ordenado da cidade. É o que recomenda o artigo 2ª do Estatuto
das Cidades:
Figura 73: praça do relógio. Fonte: Figura 74: Rléogio em 1980. Fonte
Acervo IPHAN Acervo IPHAN.
Figura75 : a derrubada do relógio 1980. Figura 76: Praça Prof. Júlio Paixão. Fonte:
Fonte: Acervo IPHAN Acervo IPHAn
22
Deixa-se claro ao descrever como alguém provido de conhecimento, não se fala apenas do conhecimento
científico, mas também de senso comum.
66
carregado. Lúcio Costa: “Desde quando é de boa ética matar gente velha porque estorva o
caminho?” (apud. FONSECA, 2005, P. 82).23
Fatos como a derrubada do relógio podem até ter a intenção de apagar o
monumento fisicamente da história, mas não possui a força de apagá-lo da memória, pois
este já foi assimilado pela comunidade.
Muitos gestores públicos desconhecem a Recomendação de Paris das Obras
Públicas e Privadas de 1968 relegando a segundo plano o patrimônio cultural das cidades.
Assim sendo:
São Raimundo Nonato é mundialmente conhecida como sede do Parque Nacional Serra da
Capivara, modelo de preservação o que acarretou várias premiações à FUMDHAM
cogestora administrativa do PARNA.
Enquanto que os monumentos históricos da cidade que são importantes documentos
históricos tanto para cidade como para o estado, haja vista, a historiografia piauiense
afirmar que, São Raimundo Nonato serviu como porta de entrada para os colonizadores
oriundos da Bahia, não possuírem o direito de salvaguarda por ausência de legislação
municipal; de desconhecimento da gestão pública e grande de parte da população.
23
Quando Lúcio questiona acima, refere-se ao processo de tombamento da Igreja de Bom Jesus dos Martírios
em Recife, Pernambuco.
APÊNDICE
Figura 77 : Tatu construído no anel viário que dá acesso a cidade de São Raimundo Nonato –
PI. Fonte: viasaoraimundo.com.br
Monumento não intencional é quando fora edificado para servir a outras funções e
acabou por ser representativo da comunidade, comumente acontece com as igrejas
matrizes das pequenas cidades e quando acontece é porque está ligado diretamente às
memórias, afinal foi alí que a maioria dos cidadãos foram batizados, crismados, casados
e realizaram as missas de corpo presente e sétimos dias de seus parentes.
Monumento histórico
É uma criação da sociedade moderna, um evento histórico
localizado no tempo e no espaço. Após um período em que não se
conhecia senão os monumentos intencionais, a partir do século XV, na
68
Conservação e restauro
Recomenda-se na carta:
Quanto à conservação;
Artigo 4º - a conservação dos monumentos exige, antes de tudo,
manutenção permanente.
69
Quanto ao restauro;
Artigo 11º - As contribuições válidas de todas as épocas para
edificação do monumento devem ser respeitadas, visto que a unidade
de estilo não é a finalidade a alcançar no curso de uma restauração, a
exibição de uma etapa subjacente só se justifica em circunstâncias
excepcionais e quando o que se elimina é de pouco interesse e o
material que é revelado é de grande valor histórico, arqueológico, ou
estético e seu estado de conservação é considerado satisfatório. O
julgamento dos elementos em causa e a decisão quanto ao que pode
ser eliminado não podem depender somente do autor do projeto.
Artigo 12º - Os elementos destinados a substituir as partes
faltantes devem integra-se harmoniosamente ao conjunto,
distinguindo-se, todavia, das partes originais afim de que a restauração
não falsifique o documento de arte e de história
Artigo 13º - Os acréscimos só poderão ser tolerados na medida
em que respeitarem todas as partes interessantes do edifício, seu
esquema tradicional, o equilíbrio de sua composição e suas relações
com o meio ambiente.
http//www.achetudoeregião.com.br/PI/História_de_teresina.htm. Acesso em : 19 de
outubro de 2008
CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epdemias na Corte Imperial. São Paulo:
Cia da Letras, 1996.
DIAS, Willian Palha. São Raimundo Nonato de distrito-freguesia a vila. 1. ed. Teresina.
2001
IPHAN. São Raimundo Nonato: Memória e Patrimônio – Serra da Capivara. Ana Stela
N de Oliveira, Cristiane de A Buco. Elaine Ignácio (org). Teresina – PI. Editora:
IPHAN, 2001. 40p.
NEIVA, Arthur, PENNA, Belisário. Viagem científca pelo norte da Bahia, sudete de
Pernambuco, sul do Piauí e do norte a sul de Goíáz. IN: Memórias do Instituto Oswaldo
Cruz. Rio de Janeiro: Instituto Oswaldo Cruz, 1916.
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva,
2004.