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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - UESPI


CAMPUS “HERÓIS DO JENIPAPO”
CURSO: LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

ANA CLAUDIA DE SOUSA

NATUREZA E PATRIMÔNIO EM PERCEPÇÃO: OS JARDINS HISTÓRICOS DE CAMPO


MAIOR-PIAUÍ

CAMPO MAIOR
2014
1

ANA CLAUDIA DE SOUSA

NATUREZA E PATRIMÔNIO EM PERCEPÇÃO: OS JARDINS HISTÓRICOS DE


CAMPO MAIOR-PIAUÍ

Monografia apresentada ao curso de


Licenciatura Plena em História, da
Universidade Estadual do Piauí, como
requisito parcial e obrigatório para a obtenção
do grau de Licenciada em História.

Orientador: Prof. Ms. Domingos Alves de


Carvalho Júnior

Campo Maior
2014
2

Ana Claudia de Sousa

NATUREZA E PATRIMÔNIO EM PERCEPÇÃO: OS JARDINS HISTÓRICOS DE


CAMPO MAIOR-PIAUÍ

Monografia apresentada ao curso de


Licenciatura Plena em História, da
Universidade Estadual do Piauí, como
requisito parcial e obrigatório para a obtenção
do grau de Licenciada em História.

Aprovado em ____ de _________de 2014.

BANCA EXAMINADORA

Domingos Alves de Carvalho Júnior – IFPI/São Raimundo Nonato


__________________________________________________________
Prof. Msc. Domingos Alves de Carvalho Júnior
Orientador/Presidente

Fabio Nadson Beserra Mascarenhas – UESPI


_________________________________________________________
XXXXXX
1º Examinador

Patrícia Mendes dos Santos – FUNDAC


________________________________________________________
XXXXXX
2º Examinador

Natalia Maria da Conceição Oliveira – IFPI


__________________________________________________________
XXXXXX
3º Suplente
3

AGRADECIMENTOS

Meu agradecimento primeiro é a Deus, que, durante a minha trajetória, dotou-me de forças
para que, diante dos empecilhos, não desistisse dos meus propósitos. A Ele agradeço pelo
dom da minha vida e por ter-me possibilitado a conquista de mais um sonho;

Ao meu tio Benedito Manoel, que sempre esteve presente na minha vida como pai,
incentivando a não desistir dos meus objetivos, que durante o curso assumiu verdadeiramente
o papel de pai. Meu agradecimento especial a você, meu querido tio, juntamente com minha
tia Maria Francisca Ibiapina, que foi muito importante nesse meu caminho;

À minha mãe Anastácia da Cruz, que, com sua força e determinação, mostrou-me que eu era
capaz de trilhar este caminho. Obrigada pela compreensão e pelo amor que dedicas a mim;
você é minha grande inspiradora;

Aos meus familiares que também contribuíram com suas palavras de incentivo, com
pensamento positivo, em especial à Maria Grazielly, minha prima querida, com quem dividi
momentos de dificuldades e angústia, ajudando-me a superá-las;

Agradeço a todos àqueles que contribuíram para meu amadurecimento intelectual, em


especial ao meu orientador Domingos Carvalho Júnior, o grande responsável por me
apresentar esta temática monográfica, que, com sua dedicação, paciência, sugestões e
compromisso, permitiu-me trilhar este caminho – aprendi com ele lições de
comprometimento, que é preciso dedicar-se às coisas que nos propomos realizar, lições que
levarei para minha vida pessoal e profissional. Obrigada professor por ter-me possibilitado
desenvolver este trabalho. Meus agradecimentos sinceros a você, a quem eu admiro não
somente como profissional, mas como um grande ser humano que é.

Aos professores da UESPI, que, de alguma forma, também contribuíram para a concretização
deste objetivo.

Aos meus amigos de curso, Anadilia Ribeiro, Antonio Fernandes, Antonio Serezo, Jessica
Gadelha e Roniel Ibiapina, que dividiram comigo as dificuldades, as dúvidas e anseios de
desenvolver um bom trabalho e a troca de conhecimento mediante as nossas discussões.
Agradeço também suas palavras de incentivo, de perseverança, os momentos que dividimos e
que estivemos juntos. Obrigada!
4

O jardim não é simplesmente um produto da ociosidade frívola, muito


menos uma capa mágica lançada sobre proporções defeituosas,
massas contraditórias, volumes mal-planejados. Ele é, deve ser uma
parte integrante da vida civilizada, uma necessidade espiritual e
emocional profundamente sentida, profundamente enraizada.

(Roberto Burle Marx, 2004)


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RESUMO

O presente trabalho monográfico analisa a paisagem cultural dos jardins históricos de Campo
Maior-Piauí, correspondente ao final dos anos 1970 ao início de 2013, e, dentro dessa
perspectiva, avalia-se a própria história da cidade, destacando aspectos de quando a mesma
ainda era conhecida como vila, até o momento em que a cidade, impulsionada pelo
extrativismo da cera da carnaúba, começa a passar por significativas mudanças na sua
estrutura física, momento chave para discutir a instalação dos jardins históricos, que surgem
com esse discurso de urbanização, de melhoramento urbano. Percebe-se que estes jardins
fazem parte desse processo de desenvolvimento da cidade, não foram criados aleatoriamente,
possuem estilos, significados e características próprias, não estando isolados da história de
Campo Maior. Pelo contrário, têm uma relação intrínseca com a mesma. Assim, contam
histórias, vivenciadas por outras pessoas, num determinado tempo e espaço, que podem ser
analisadas. Utilizou-se de pesquisas bibliográficas, acervos que tratam dos jardins no Brasil,
como também acervos de trabalhos locais e fontes iconográficas da época em análise. Os
resultados obtidos apontam que estes jardins, mesmo se constituindo em um bem cultural,
possuindo significações artísticas, históricas e culturais, não são igualmente percebidos dessa
forma e tampouco existem medidas para sua preservação.

Palavras-chave: Paisagem cultural. Jardins históricos. Campo Maior-PI.


6

ABSTRACT

This monograph Word analyzes the cultural landscape of the historic gardens of Campo
Maior-Piauí corresponding to the late 1970 to the beginning of 2013, and within that
perspective, evaluated the city’s own story, highlighting aspects of when it was still known as
village, until the moment in which the city, driven by the carnauba wax extraction, begins to
go through significant changes in its physical structure, key moment to discuss the creation of
the historicos gardens, that arise with this speech of urbanization, urban improvement. One
realizes that these gardens are part of that process of development of the city, were not
randomly created, have styles, meanings and own characteristics, not being isolated from
history de Campo Maior, on the contrary has an intrinsic relationship whith the same, so tell
stories, experienced by other person, at a particular time and space, that can be analyzed. Used
bibliographical research, collections dealing with gardens in Brasil, but also collections of
local jobs, iconographic sources of time analysis. The results obtained indicate that these
gardens even if being in a cultural object, possessing artistic, historical and cultural meanings,
are also perceived in this way and so little there are measures for its preservation.

Keywords: Cultural landscape. Historic gardens. Campo Maior-PI.


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LISTA DE SIGLAS

CPRM – Serviço Geológico do Brasil.


IFPI – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí.
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco.
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Desenho da Praça de Casa Forte, 1935............................................................. 22


Figura 2 – Desenho da Praça Euclides da Cunha, 1935..................................................... 23
Figura 3 – Praça Artur Oscar, década de 1930................................................................... 24
Figura 4 – Praça Artur Oscar década de 1930, destacando o canteiro central 24
Figura 5 – Praça Euclides da Cunha, 2004.......................................................................... 30
Figura 6 – Praça do Rosário, 2012...................................................................................... 32
Figura 7 – Praça do Rosário, 2013 – carnaúba, ao centro................................................... 32
Figura 8 – Vista área de Campo Maior datada de 1934...................................................... 35
Figura 9 – Localização do Município de Campo Maior......................................................36
Figura 10 – Praça Bona Primo.............................................................................................41
Figura 11 – Praça Bona Primo, com transformações na composição paisagística.............. 42
Figura 12 – Praça Luiz Miranda, por volta de 1950........................................................... 43
Figura 13 – Praça Luiz Miranda, 2012............................................................................... 45
Figura 14 – Traçado da Praça Luiz Miranda...................................................................... 46
Figura 15 – Traçado da Praça Bona Primo......................................................................... 48
Figura 16 – Praça Bona Primo, 2012.................................................................................. 49
Figura 17 – Praça Valdir Fortes, 2012................................................................................ 50
Figura 18 – Traçado da Praça Valdir Fortes........................................................................51
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 10
2 SENTIR E NARRAR: A HISTÓRIA DOS JARDINS BRASILEIROS................. 13
2.1 INTRODUZINDO A QUESTÃO: OS JARDINS HISTÓRICOS COMO
PATRIMÔNIO CULTURAL......................................................................................... 13
2.2 ARTE NA PAISAGEM: OS JARDINS PÚBLICOS................................................... 19
2.3 DESAFIOS E CRITÉRIOS DE PRESERVAÇÃO DOS JARDINS HISTÓRICOS..... 27
3 UM PASSEIO PELOS JARDINS HISTÓRICOS DE CAMPO MAIOR-PI......... 34
3.1 APRESENTA-SE A CIDADE..................................................................................... 34
3.2 A URBANIZAÇÃO EM CAMPO MAIOR................................................................. 37
3.3 (FOTO)GRAFANDO OS JARDINS PÚBLICOS DE CAMPO MAIOR.................... 44
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 55
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 58
GLOSSÁRIO.................................................................................................................62
10

1 INTRODUÇÃO

A paisagem como objeto de estudo foi, durante algum tempo, abordada mais pela
Geografia, que trabalha com conceitos de espaço, lugar, território e região, para desenvolver
concepções e interpretações sobre a mesma. Porém, as outras áreas do conhecimento, como
História, passaram a refletir sobre a paisagem, adotando-a como objeto de análise, surgindo,
assim, outras abordagens e concepções distintas nesse processo que está pautado em teorias e
metodologias de cada área do conhecimento que se propõe a analisar este objeto de estudo. O
conceito de paisagem está sempre em construção, pois, não se tem um conceito único ou
isolado, e tampouco se pode apreendê-la de forma totalizante. No entanto, as diversas
concepções dialogam entre si. Seu entendimento perpassa tanto pela relação do homem com a
natureza, quanto pelo seu aspecto fisionômico. Nesse caso, seu recorte espacial é o que pode
ser apropriado pela percepção humana. Assim, são várias perspectivas criadas pelos diversos
profissionais para o estudo da paisagem, sendo plausível analisá-la por uma perspectiva
histórica e não somente geográfica.
Para Milton Santos (2006), paisagem é o conjunto de formas, que, num dado
momento, exprime as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre
homem e natureza. A paisagem é comumente pensada como um conjunto que reúne
elementos da natureza com aqueles que foram modificados pelo homem, num determinado
tempo e espaço; seria a união do ambiente natural com o social, na qual se integram na
paisagem as diversas formas de que o homem se relaciona com a natureza. É nessa
perspectiva que será analisada a paisagem, neste trabalho, e ressalta-se que, para se lançar
reflexões sobre a mesma, é de fundamental importância o embasamento teórico, para que suas
concepções não se tornem superficiais e que possam de fato contribuir para seu entendimento.
Alguns trabalhos versam sobre o estudo da paisagem e, obviamente, se apropriam de
métodos e perspectivas distintas, como Carl Sauer (1925), que discorre sobre a paisagem
geográfica como uma área composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo,
físicas e culturais; Roberto Burle Marx (2004), que analisa a paisagem como um todo e
qualquer ambiente do território no domínio visual; e Carlos Sait (2005), que trabalha com a
concepção de que a paisagem é um fragmento do espaço que os olhos abarcam, portanto, é o
que se consegue ver, captar por meio do olhar.
Com efeito, em 1992, a UNESCO adotou a paisagem como bem, constituindo-se
como paisagem cultural, criada intencionalmente pelo homem. Este, por sua vez, parte de uma
sociedade com valores, ideias e padrões sociais específicos, influências que se refletem nessas
11

paisagens, sendo igualmente inseridas na categoria de patrimônio histórico-cultural, após a


reunião do Comitê de Patrimônio Mundial da UNESCO, em La Petite Pierre, na França, no
ano referido.
O caminho trilhado neste trabalho corresponde à análise da paisagem cultural dos
jardins históricos de Campo Maior-PI. Para tanto, apropriou-se da iconografia da década de
1970, momento em que a cidade passava por consideráveis transformações na sua malha
urbana, até o início de 2013, buscando observar como os jardins dessa cidade foram se
constituindo, bem como em que estado encontram-se atualmente. Realiza-se para, além disso,
não apenas uma análise dos jardins históricos, como também tece reflexões sobre os mesmos,
englobando questões que abarcam desde a sua preservação até o conhecimento deste campo
de estudo, pois são poucos os trabalhos realizados sobre os jardins, tanto no Brasil, quanto no
Piauí, que corresponde ao espaço de análise deste trabalho. Assim, analisa-se o município de
Campo Maior a partir de sua paisagem cultural, inserindo nessa observação os aspectos
históricos que culminaram com a criação dos jardins históricos da referida cidade.
Objetivando a realização desta proposta de trabalho, buscou-se dialogar com autores
que versam tanto sobre a paisagem quanto àqueles que lançam reflexões sobre os jardins
históricos no Brasil, para posteriomente lançar reflexões sobre aqueles que se encontram na
cidade de Campo Maior. E, nesse caso, ressalta-se que os jardins que serão abordados nesta
análise correspondem às praças Bona Primo, Luiz Miranda e Valdir Fortes.
Estabeleceu-se, dessa maneira, um diálogo com as Cartas Patrimoniais 1, que discorrem
sobre os jardins históricos, trabalhando o mesmo como monumento vivo. Logo, entende-se
que este é um patrimônio cultural e, por isso, discutem-se as suas medidas de preservação,
análise importante para refletir a respeito dos jardins de Campo Maior.
Para tanto, estudou-se trabalhos de pesquisadores como Roberto Burle Marx (2004),
Ana Rita Sá Carneiro (2009), Aline de Figueirôa Silva (2010), os quais se mostraram
significativos para lançar reflexões sobre o objeto de estudo, sobre questões que, ao longo da
pesquisa, tornaram-se pertinentes, possibilitando avaliar as percepções que serão apresentadas
no decorrer deste trabalho.
No entanto, compreende-se que tal discussão não deve ficar restrita aos jardins
históricos em si, mas torna-se igualmente necessário analisar a história de Campo Maior,
buscando compreender em que período os jardins foram ganhando forma e espaço nessa

1
As cartas Patrimoniais são recomendação para as Nações sobre a salvaguarda do patrimônio histórico
mundial. Não se constitui como medidas punitivas, mas recomendações de preservação.
12

cidade. Por esse motivo, o trabalho apropriou-se também de estudos locais, que evidenciaram
o momento em que isso se procedeu.
Cria-se, portanto, uma relação entre os jardins históricos e a cidade, tornando esses
espaços importantes vias de conhecimento, que situam a história de Campo Maior num tempo
e espaço que remete a outro período histórico. Nesse caso, os jardins se inserem no momento
em que a cidade passava por mudanças na sua malha urbana, impulsionadas pelo extrativismo
da cera da carnaúba, que, segundo Celso Chaves (2007), é um processo teve início na década
de 1940.
Nessa perspectiva, este trabalho dialogou tanto com estudo de autores que lançavam
reflexões sobre os jardins históricos do Brasil, avaliando em que cidades dispõem-se dos
mesmos e, nesse aspecto, buscou-se estabelecer uma ponte de análise, a partir de uma reflexão
dos jardins de Campo Maior, com aqueles que se fazem presente em outras cidades
brasileiras, como também com autores que analisam a história dessa cidade, destacando os
diferentes estilos, sentido e propostas destes jardins.
A temática da monografia é disposta em capítulos, sendo que o primeiro analisa a
história dos primeiros jardins históricos no Brasil, situando-os nas cidades brasileiras e
contextualizando o período de sua criação. Insere-se também nessa discussão o momento em
que o jardim passa a ser percebido como patrimônio cultural e passa-se a refletir sobre as
medidas de preservação, como também os desafios para atender a tal objetivo.
O segundo capítulo tem como foco os jardins históricos de Campo Maior, perpassando
também por uma análise da história dessa cidade, sendo necessária para identificar o
momento em que os jardins começam a fazer parte dessa cidade, como também uma avaliação
seu estado atual, sendo perceptível às transformações causadas pelo tempo e pelo homem.
13

2 SENTIR E NARRAR: A HISTÓRIA DOS JARDINS BRASILEIROS

Jardim, lugar de beleza e arte, campo da sensibilidade, apresenta-se por meio da


natureza transformada pela ação e percepção humana. Os jardins assumem características
artísticas, históricas e culturais, cujas paisagens tornam-se verdadeiras obras de arte. Nesse
contexto, eles não são uma obra acabada, pois é seu principal elemento a vegetação, que, por
sua vez, é perecível e renovável, transforma-se ao longo do tempo, absorvendo características
históricas de cada período em que se inserem. Dessa maneira, esses espaços paisagísticos
revelam muito sobre o homem, suas ações e intenções, pois dificilmente existem jardins que
não estabeleçam uma relação com seu criador – não foram criados aleatoriamente – portanto,
com seu mentor, que os projeta com diferentes estilos e sentidos, assumindo significados e
funções distintas.
Nesse contexto, ressalta-se a fala de Burle Marx (1983), ao apontar que classificar em
tipos os jardins, como se classificam as plantas, pode constituir formas de aproximação. Dizer
que um jardim é pictórico, poético ou abstrato é uma questão didática por vez esclarecedora.
Mas, nos trabalhos de envergadura, além dos tipos mencionados, há um artista e uma escola
em formação.
Este capítulo apresenta uma discussão sobre os jardins históricos brasileiros presentes
em diversas cidades do Brasil, como, por exemplo, a cidade de Campo Maior, que possui seus
jardins com características próprias, sinalizando fatos da história urbana, política e social.
Entende-se, assim, que cada espaço ajardinado traz aspectos diferentes, pois se encontram
vinculados ao local de origem. Todavia, precisa-se igualmente perceber a relação dos jardins
com as pessoas, pois elas apropriam-se de diversas formas desses espaços e são, nesse caso,
fundamentais na preservação desses monumentos vivos.
Mediante essas observações, compreende-se a necessidade de mais discussões sobre a
temática, envolvendo, sobretudo, um maior número de pessoas e pesquisas, incluindo a
população para que a mesma esteja atenta sobre a melhor maneira de preservar os jardins
históricos, como também sobre a forma de se apropriar deles.

2.1 INTRODUZINDO A QUESTÃO: OS JARDINS HISTÓRICOS COMO PATRIMÔNIO


CULTURAL

Para Aline Silva (2010), os jardins estiveram, ao longo da história, associados a


grandes extensões de terras de domínio privado – palácios, vilas, castelos, monastérios,
14

jardins reais, aristocráticos, cortesãos e monásticos, ligados ao poder político e religioso.


Portanto, a existência desses jardins corresponde a um espaço privado, não acessível ao
público em geral, com grandes áreas vegetadas, a exemplo do jardim do palácio de Alhambra,
na Espanha (1492), do Taj Mahal, na Índia (1632), do parque de Friburgo, criado por
Maurício de Nassau, no Recife (1642), e o jardim de Versalhes (desenhado por Le Nôtre,
entre 1661 e 1668), reservado ao rei e à nobreza.
Aos poucos, os jardins chegaram aos espaços públicos. De acordo com Sá Carneiro
(2009), a partir do século XIX, os passeios públicos, modalidades de jardins públicos em
função da modernização urbana, resplandeceram em outras cidades, onde se encontram
vinculados ao discurso de urbanização. Muitas cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de
Janeiro, passaram a discutir planos e intervenções urbanísticas fundamentadas em campanhas
higiênicas, embelezamento e expansão.
Não obstante, essas transformações urbanísticas não ficaram isoladas em determinados
espaços, ou seja, em grandes cidades, mas chegaram também em cidades pequenas como
Campo Maior, que viu sua estrutura urbana mudar a partir de 1940, com a forte influência do
extrativismo vegetal na sua economia. Realizaram-se, assim, obras de saneamento básico,
construções, reformas e ampliações de escolas, postos de saúde, propondo-se uma nova
paisagem para a cidade, com ruas pavimentadas, praças e alamedas ornamentadas com
carnaúbas. Além disso, observa-se que a criação dos jardins de Campo Maior surge a partir de
tais transformações, envolvida por esse discurso de urbanização que influenciou a criação de
vários jardins públicos no país, que assumiam funções estéticas e embelezamento urbano.
Contudo, esse processo de ajardinamento procedeu-se de forma distinta.
Para tanto, toma-se como exemplo que, em 1815, foi implantado um Passeio Público
na Bahia; em 1880, foi inaugurado o Passeio Público de Fortaleza; Curitiba teve seu Passeio
Público em 1886; e, em Belém, porém, os projetos paisagísticos só aconteceram por volta de
1897 a 1912. Jeanne Trindade (2009) reconhece que o Passeio Público do Rio de Janeiro foi o
primeiro jardim público do país, inaugurado por volta de 1783, sendo destinado ao convívio
social da população, e ressalta: “A população do Rio de Janeiro, na segunda metade do século
XIX, utilizava os jardins para passeios e refeições ao ar livre, constituindo uma opção de lazer
que não exigia grandes gastos, nem para os frequentadores nem para o poder público”
(TRIDADE, 2009, p. 52). O responsável por projetar este Passeio Público foi Valentim da
Fonseca e Silva, conhecido como Mestre Valentim, cuja obra é considerada pelos estudiosos
da cultura brasileira uma das mais significativas produções artísticas do Rio de Janeiro, do
século XVIII. Ele projetou outras obras civis como chafariz das Marrecas (1785), o chafariz
15

do Lagarto (1786), o chafariz da Pirâmide (1789) e o chafariz das Saracuras (1795). Sobre os
traçados deste Passeio Público, afirma Carvalho (1999, p. 18):

Valentim projetou o Passeio Público na forma de um hexágono irregular, todo


cortado por aleis, uma reta principal, com vista direta para o fundo, e outras
secundárias, também retilíneas, num traçado barroco de paralelas, perpendiculares e
diagonais [...].

Esse jardim, percebido também como passeio, foi criado para ser um espaço de lazer,
isto é, um jardim público destinado às pessoas de maneira geral, e unia uma vegetação
autóctone e exótica, como a exuberância das mangueiras, tamarineiros, jaqueiras, jambeiros,
fruta-pão, flamboyants, cedros, vinháticos, palmeiras, pinheiros.
Ainda de acordo com Jeanne Trindade (2009), o Passeio Público do Rio de Janeiro do
século XVIII foi um projeto muito arrojado para a época, quer seja pelo traçado original e
solução urbanística, quer pelas obras de arte implantadas e pelos trabalhos de engenharia para
o aterramento da lagoa e a construção do terraço à beira-mar, mas, principalmente, pela
possibilidade de oferecer à população carioca um “jardim de prazer”.
Com isso, os jardins simbolizavam progresso e civilização das cidades que aos poucos
passavam por mudanças impulsionadas pelo processo de urbanização. Assim,

o jardim em todos os tempos, entre todos os povos, surgiu nos momentos máximos
de suas respectivas civilizações, não houve povo que evoluindo não se congregasse
em cidade. Não houve cidade que evoluindo não contivesse jardins (MARX, 1935
apud SILVA, 2010, p. 24).

As práticas de ajardinamento desses espaços públicos foram ultrapassando, aos


poucos, seu mero significado de embelezamento, a estética do lugar, e, nessa perspectiva, os
jardins tornam-se mais do que uma “coleção de plantas ornamentais”. Evidenciam-se na
prática como documentos suscetíveis de análise no campo da história, que identifica por meio
de sua paisagem cultural/urbana, elementos históricos, sendo possível vislumbrar essas
transformações socioculturais, numa dinâmica histórica.
Ao ultrapassar o espaço privado dos palácios e das residências, os jardins abarcaram
uma grande variedade de espaços livres, como praças, alamedas, parques, passeios,
englobando elementos artísticos, históricos e arquitetônicos, onde um dos principais destaques
é sua vegetação. Esta, por sua vez, é percebida como um verde histórico, e, como tal, atenta-
se para sua conservação:
16

A conservação da vegetação de um jardim histórico tem sua particularidade por se


tratar de um verde histórico, que caracteriza o conhecimento da composição
florística inicial e atual configurando um estudo da arqueologia botânica. O estudo
detalhado da vegetação permite considerações diversas sobre o passado, o presente e
o futuro do jardim (SILVA; SÁ CARNEIRO, 2012, p. 1).

No entanto, salienta-se que os jardins brasileiros foram constituídos a partir de uma


forte influência dos ingleses e franceses, compondo os jardins com plantas exóticas oriundas
da Europa e plantas nativas da flora brasileira. Nessa perspectiva, destaca-se o trabalho do
engenheiro e botânico francês Auguste François Marie Glaziou, o paisagista oficial da corte,
que construiu ou reformou diversos jardins públicos, dentre eles o Passeio Público do Rio de
Janeiro, projetado pelo Mestre Valentim, exposto anteriormente e, ao ornamentar esses
espaços, disseminou uma variedade de fontes de arte francesas na capital imperial que
paulatinamente se espalharam por várias cidades brasileiras.

Predominando, portanto, a inspiração nos jardins franceses, pelo traçado mais rígido
e utilização de repuxos com bacias e palmeiras, e figuravam componentes dos
jardins ingleses, como lagos com pedras e pontos rústicos, estátuas em bronze e
luminárias em estilo Art Nouveau (SILVA, 2010, p. 39).

Com relação à estrutura dos jardins públicos, salienta-se que são compostos tanto por
elementos naturais, nesse caso, a vegetação, com suas cores e volumes, quanto também por
elementos arquitetônicos, como os traçados, o perfil do terreno, bancos e canteiros. Estes e
outros objetos decorativos formam o mobiliário desses espaços públicos, entretanto, a
presença desses elementos não serve como modelo único de um jardim público. Existem
variações nos jardins das diversas cidades brasileiras, pois existem trabalhos diversos e com
propostas distintas. Tem-se como exemplo Auguste François Marie Glaziou, que seguia a
proposta de caminhos sinuosos, canteiros assimétricos e recantos pitorescos diferente das
linhas rígidas do Mestre Valentim.
Compreende-se, dessa maneira, que os jardins brasileiros foram concebidos, num
primeiro momento, por um forte discurso de modernização, no qual se observam mudanças na
malha urbana das cidades, modificada ao longo da história, e, para conservação dos jardins,
atualmente muitos desses espaços paisagísticos estão sendo restaurados. É uma das ações que
engloba a conservação, buscando manter e preservar suas características iniciais e atuais
adquiridos ao longo do tempo. Convém enfatizar que a criação desses jardins públicos esteve
presente em muitas cidades, que seguiam essas influências como modismo. Nesse plano,
gradualmente, muitas cidades foram criando seus próprios jardins, que ainda seguiam
modelos europeus. Surgiam assim, aos poucos, vários projetos paisagísticos que mudavam
17

praças, ruas e alamedas, trazendo para esses espaços árvores e plantas de grande e pequeno
porte. Ora se percebia na paisagem aspectos da flora brasileira, ora identificava-se com mais
ênfase elementos característicos dos jardins europeus. Dessa forma, os jardins brasileiros
seguiam e valorizavam aspecto muito mais de fora do que do próprio país, portanto, havia
pouca valorização da paisagem brasileira.
Não obstante, deve-se enfatizar que criar e fazer jardins não significa encher um
espaço com plantas de forma desordenada, dificultando a circulação dos indivíduos. Fazer
jardins é saber associar as diversas espécies vegetais, respeitando suas peculiaridades,
harmonizá-las. Assim, compor um jardim não é aglomerar plantas e sim buscar um equilíbrio
entre as associações.
Os jardins se caracterizam também pela concentração de vegetação e, por isso, analisa-
se igualmente a paisagem. Nesse contexto, ressalta-se a fala de Chiara Vangelista (2012, p.
38), ao afirmar que “Os estudiosos da paisagem, substancialmente, concordam sobre a forma
básica de sua construção: a paisagem é o resultado da interação entre o sujeito e a natureza”.
Assim, a paisagem é resultado da interação e da ação do homem, que a observa e a interpreta
de acordo com sua subjetividade. Para tanto, a paisagem vai ganhando significado e sentido
perante o olhar de quem a observa atentamente.
A paisagem pode ser representada por meio da pintura, da imagem, da poesia. O olhar
atento do observador perceberá que ela se encontra relacionada a elementos naturais e
construídos. Assim, “a palavra paisagem significa ao mesmo tempo, um recorte de natureza
percebido como um fato natural, porém, na realidade moldado pelas sociedades e pelas
culturas ao longo da história” (VANGELISTA, 2012, p. 36). Essa representação da paisagem,
que surge a partir da interpretação de quem a observa, varia de acordo com os saberes, ou
seja, com a cultura que inclui o conhecimento adquirido. Segundo Danilo Cunha (2004), o
termo cultura pode ser identificado por vários enfoques como ideias, crenças, normas,
atitudes, padrões de conduta, instituições, portanto não existe um conceito fechado de cultura,
e são essas variações que influenciam a interpretação da paisagem.
Nessa linha de pensamento, torna-se explícito que a paisagem dos jardins é composta
por aspectos naturais e construídos; são resultantes da ação humana. Como afirma Magalhães
(2009), a paisagem é uma construção humana em que se relacionam questões do ambiente
natural e do ambiente social. Nesse caso, relaciona-se com os aspectos econômicos, sociais,
culturais, históricos e políticos, por isso, quando se analisam os jardins, faz-se necessário ter
no campo da visão essas influências, pois eles não são constituídos separadamente de um
contexto histórico, mas fazem parte da própria sociedade. Por isso, de acordo com essas
18

características, os jardins ligam-se à cultura e à história de um lugar e de um povo, refletindo-


o.
Não somente pelo gosto estético de uma época, como também pelos ideais e
aspirações do homem, situados no espaço e no tempo, os jardins são percebidos como um
bem cultural e como um monumento vivo. Daí adquirirem a conotação de um jardim
histórico, concepção abordada pela Carta de Florença (1981) no art. 1o, onde o jardim
histórico é uma composição arquitetônica e vegetal, que, do ponto de vista da história ou da
arte, apresenta um interesse público.
O sentido de monumento conferido ao jardim foi sugerido inicialmente durante a
reunião de trabalho em Brujas, em 1971, por Jacques Reybroeck, então diretor da
Administração do Patrimônio da Comunidade Francesa na Bélgica, de modo a garantir que o
jardim histórico se beneficiasse das mesmas leis de proteção dos monumentos (LUMMEM,
2001 apud SILVA, 2012).
Nesse sentido, ressalta-se que os jardins históricos são monumentos vivos, em
decorrência da sua vegetação. Segundo Sá Carneiro (2009), a categoria de jardim histórico
fortalece-se ainda mais com a introdução do conceito paisagem cultural, no âmbito do
patrimônio histórico-cultural, na reunião do Comitê de Patrimônio Mundial da UNESCO, em
La Pierre, na França, em 1922. Assim, o jardim encontra-se inserido na categoria de paisagem
cultural, modificada pela ação do homem, e esta faz parte da categoria de Patrimônio, logo, o
jardim histórico também se insere no âmbito do Patrimônio.
Cabe, dessa maneira, refletir sobre o aspecto patrimonial dos jardins para tão somente
discutir sobre as medidas de sua preservação como monumento cultural, assim reconhecendo
que o patrimônio não se restringe apenas aos bens edificados pelo homem, mas abarca
também a paisagem, como a desses jardins, lugares que dizem como o homem se relaciona
com a natureza, com o meio que o cerca. E, nesse contexto, segundo Maria Angélica (2009),
crê-se que uma história da paisagem narra como os homens construíram e constroem seus
lugares na terra geográfica. Portanto, a paisagem cultural corresponde a um patrimônio, que
traz em si significados de um lugar e tempo específicos, sentidos que lhes foram conferidos
por um povo e apropriados por outro ao longo da história. São jardins que trazem em sua
composição uma linguagem visual, aspectos e pensamentos de uma sociedade. Por esses
aspectos, são reconhecidos como patrimônio, pois identificam um povo, uma sociedade que
procurava mudar e, para tanto, na criação desses espaços paisagísticos, a possibilidade de
colocar em prática seus anseios e desejos.
19

Entende-se que, ao fazer parte da categoria do patrimônio cultural, os jardins


históricos parecem ter encontrado mais respaldo, não somente para novas discussões, como
também para conservação, enquanto patrimônio de um povo, de um lugar que traz em si
memórias de um passado. Isso pode ser perceptível por meio de sua vegetação, de seus
aspectos arquitetônicos. Então, preservá-los significa dar a possibilidade de as gerações
futuras conhecerem a história e cultura de seu povo. Os jardins nos reportam assim a outra
época e outro momento histórico.
Assim, o estudo dos jardins históricos perpassa por questões que se fazem pertinentes
e contribuem de forma significativa para lançar reflexões sobre o mesmo. Por isso, analisa-se
a paisagem cultural, na qual o homem estabelece uma relação com a natureza, com o meio
que o cerca, lançando suas próprias interpretações e ações, alicerçado na sociedade da qual
faz parte e assume funções. Investiga-se também o crescimento urbano das cidades e de que
maneira esse crescimento interfere na paisagem e nos jardins. Avalia-se ainda seu aspecto
patrimonial, estabelecendo avaliações sobre as medidas de preservação. Em síntese, analisar
os jardins históricos é voltar-se a esses elementos influentes na discussão.

2.2 ARTE NA PAISAGEM: OS JARDINS PÚBLICOS

Aos propósitos desta pesquisa, analisou-se a forte influência dos ingleses e franceses
nos jardins públicos do Brasil, cuja composição constituía-se de plantas exóticas oriundas da
Europa e plantas nativas da flora brasileira, realidade essa visível também nos jardins públicos
de Campo Maior, nos quais se observa essa relação da vegetação exótica com a nativa,
compondo assim os jardins da cidade.
Um dos trabalhos que refletem essas influências nos jardins do Brasil corresponde a
do paisagista francês Auguste François Marie Glaziou. Segundo Segawa (1996), os projetos
desse paisagista referem-se à Praça D. Pedro II (atual Praça 15 de Novembro), Praça Duque
de Caxias (atual Largo do Machado), essas duas com intervenções de Glaziou, a Praça da
Constituição (atual Praça Tiradentes), o Passeio Público (também com o seu toque), o Campo
da Aclamação e o Jardim Botânico, igualmente remodelado por esse paisagista.
Entretanto, os jardins passaram a assumir novas funções com o trabalho do paisagista
Roberto Burle Marx2, que traz uma nova forma de projetar os jardins, na qual, em sua

2
Foi um artista plástico brasileiro, renomado internacionalmente ao exercer a profissão de arquiteto-paisagista.
Morou grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde estão localizados seus principais trabalhos, embora sua
obra possa ser encontrada ao redor de todo o mundo. Seu primeiro projeto de jardim públic o foi a Praça de
Casa Forte, localizada no Recife.
20

composição, prioriza os elementos naturais da paisagem regional. Assim, Burle Marx buscou
conhecer a flora brasileira para extrair dela o melhor possível e, quando usou espécies
exóticas, tinha como intenção enriquecer os jardins brasileiros. Estes, por sua vez, vão
assumindo novas funções além de embelezamento e assumem funções educativas, ecológicas,
botânicas, aspectos que identificam seu trabalho.

Roberto Burle Marx iniciou sua carreira no início dos anos 30, época em que o
modernismo estava ganhando forças e ele mostrava para o público a beleza do
jardim brasileiro despertando para o cultivo do jardim privado. Deu-se início,
portanto, a uma nova concepção de jardim, ou seja, do jardim moderno e alheio às
influências europeias (BELTRÃO et al., 2012, p. 1).

Essa forma de projetar os jardins mostra-se um tanto inovadora, possibilitando o


conhecimento da própria flora brasileira e a valorização da mesma, já que poucos exploravam
aspectos dessa paisagem, bem como se começa a olhar para esses jardins para além de
aspectos estéticos; veem-se também como áreas educativas.

O jardim pode e deve ser um meio de conscientização de uma existência, na medida


verdadeira do homem, do que significa estar vivo. Ele é o exemplo da coexistência
pacífica das várias espécies, lugar de respeito pela natureza e pelo outro, pelo
diferente: o jardim é em suma um instrumento de prazer e um meio de educação
(BURLE MARX, 2004, p. 75).

É notável que cada jardim cumpra funções específicas – algumas mais estéticas; outras
sociais e educativas. Assim, não se pode enquadrá-lo em um único modelo, e tão pouco dizer
que todos os jardins cumprem funções educativas. São apenas possibilidades que envolvem os
jardins.
Foi na cidade de Recife que Burle Marx desenvolveu um trabalho bem significativo
nas décadas de 1930 e 1950, quando iniciou sua carreira. De acordo com Joelmir Marques
Silva (2012, p. 37), “ao aceitar o convite do governador de Pernambuco, Carlos de Lima
Cavalcanti, Roberto Burle Marx assume o cargo de Diretor do Setor de Parques e Jardins da
então Diretoria de Arquitetura e Urbanismo em 1935”, projetando treze jardins públicos e
dois privados. Estes são pouco conhecidos e divulgados, o que mostra mais uma vez a
relevância do seu trabalho. Esses jardins privados correspondem ao jardim do Sítio São João
da Várzea (1940), sendo o primeiro projeto de um jardim privado e residencial no Recife e a
Praça Burle Marx (1990), na qual se insere numa nova fase artística e mais madura do
paisagista.
21

Contudo, Roberto Burle Marx buscou inserir nesses jardins elementos da manifestação
artística popular, como esculturas e azulejos, que identificavam aspectos da cultural local.
Nesse caso, convém salientar que os jardins públicos de Campo Maior não se encontram
distantes da proposta desse paisagista, sendo possível identificar nesses espaços ajardinados
da referida cidade obras de artes e esculturas ora voltadas para aspectos políticos, ora para
aspectos religiosos de Campo Maior. Dessa forma, são características que acompanham a
mesma proposta, porém em espaços distintos. Os jardins projetados por esse paisagista
refletem sua preocupação em estar relacionando aspectos da arte, da arquitetura, onde a planta
torna-se elemento de destaque, que divide espaço com tantas outras, todavia sem perder a
beleza e a harmonia nessa interação. Com relação a esses aspectos, destaca a fala de Beltrão:

A concepção de jardins privados de Burle Marx visava ao máximo integrar arte,


arquitetura e paisagismo, projetando o jardim em perfeita harmonia com a edificação
e o seu entorno. Os edifícios para os quais Burle Marx projetou seus jardins, foram
não só modernos, como também clássicos, mostrando a versatilidade do artista para
os diferentes tempos (BELTRÃO et al., 2012, p. 3).

Entretanto, esses mesmos princípios de que o paisagista utilizou-se nos jardins


privados, como o da percepção para buscar a melhor maneira de projetar os jardins como
obras de arte, cujas plantas encontram-se em harmonia com a natureza e o meio circundante,
serão adotados também nos públicos. Nesse caso, ressaltam-se os jardins de Recife, onde o
paisagista projetou os primeiros jardins públicos de sua carreira, correspondendo a projetos
completos e executados:

a Praça de Casa Forte (1935), a Praça Euclides da Cunha (1935), a Praça da


República e Jardim do Palácio do Campo das Princesas (1936), a Praça do Derby
(1936), a Praça Salgado Filho (1957), a Praça de Dois Irmãos (1958), hoje Praça
Faria Neves, Praça Artur Oscar (1936), Praça Dezessete e a Praça Pinto Damaso
(SÁ CARNEIRO et al., 2012, p. 4).

Procura-se, assim, realizar uma breve análise das seguintes praças, que se constituem
jardins históricos de Recife: a Praça de Casa Forte (1935), Euclides da Cunha (1935) e Artur
Oscar (1936). Na Praça de Casa Forte (1935), assim como nas demais praças, Burle Marx
procurou trazer uma diversidade de elementos vegetais da paisagem natural, tendo como
propósito identificá-la com a paisagem de Recife.
Segundo Joelmir Marques Silva (2012), para a Praça de Casa Forte, Roberto Burle
Marx concebe um jardim composto por três partes, onde cada uma representa um grupo
isolado de plantas de acordo com a província geográfica. A primeira e segunda parte foram
22

dedicadas à vegetação de ampla distribuição geográfica brasileira, sendo que a segunda abriga
espécies típicas da região amazônica. Para a terceira parte, o motivo foi a vegetação de outros
continentes, ou seja, plantas exóticas. O objetivo do paisagista era proporcionar à população
meios de distinguir a flora nativa da exótica e, com isso, despertar o amor pela natureza e,
dessa forma, conferir à praça uma função educativa.
Na Figura 1, percebe-se a proposta de Burle Marx para esta Praça de Casa Forte e seu
objetivo de conferir uma função educativa, uma das características do trabalho desenvolvido
por esse paisagista.

Figura 1 – Desenho da Praça de Casa Forte, 1935.

Fonte: Menezes (2012).

Na Figura 2, Roberto Burle Marx projetou a Praça Euclides da Cunha, também


conhecida como cactário da Madalena, procurando valorizar uma paisagem específica, a do
sertão. Apropriando-se das plantas desse lugar, assim abriga a vegetação da caatinga nos
estratos arbóreo, arbustivo e herbáceo, conferindo assim função educativa, ecológica e
artística, o que revela novamente a dedicação do paisagista em estudar a flora brasileira para
assim representá-la nos jardins, trazendo, portanto, uma nova proposta.

A proposta para a Praça Euclides da Cunha acentuou, em seu momento, a discussão.


Para além de seu uso cotidiano, atuou como outro instrumento de desestabilização
da inércia e resistência da população na aceitação do uso das plantas autóctones e
23

com o objeto de reflexão chave, para Burle Marx, na tentativa de construção de uma
linguagem paisagística ao mesmo tempo moderna e brasileira (OLIVEIRA, 2009, p.
198).

Figura 2 – Desenho da Praça Euclides da Cunha, 1935.

Fonte: Menezes (2012).

De acordo com Aline Silva (2010), a Praça Artur Oscar originou-se no século XIX, em
solo decorrente de aterros, no Bairro de Recife, e chamava-se Largo ou Praça dos Voluntários
da Pátria. O motivo principal desse projeto era vicejar plantas típicas de ecossistemas
marinhos em um grande canteiro central. Posteriomente, esse logradouro foi renomeado de
Praça Artur Oscar para homenagear o general Artur Oscar Andrade Guimarães. Com relação
à vegetação, havia espécies vegetais nativas, cuja composição vegetal constitui-se, em sua
maioria, por yucca (Yucca sp.), mangue-da-praia (Clusia fluminensis), espada-de-São Jorge
(Sansevieria trifascicata), babosa (Aloe barbadensis), aloe-vera (Aloe vera), agave (Agave
gusano) (CARNEIRO et al., 2012, p. 7).
Segundo Fátima Maria Alves da Silva Mafra (2013, p. 53), a trajetória da Praça Artur
Oscar (Figuras 3 e 4) está diretamente ligada à história da arte do paisagismo no Brasil. Com
24

a atuação de Burle Marx no Recife, os ideais modernistas de retorno às origens e afirmação da


identidade nacional foram elaborados e revelados por meios dos jardins.

Figura 3 – Praça Artur Oscar, década de 1930.

Fonte: Menezes (2012).

Figura 4 – Praça Artur Oscar década de 1930, destacando o canteiro central.


25

Fonte: Menezes (2012).

Mediante a relevância para a história do paisagismo no Recife, esses jardins projetados


por Burle Marx passaram a ser inventariados pelo Laboratório da Paisagem da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), no qual seis já estão em processo de tombamento na
categoria de Patrimônio Cultural Nacional pelo IPHAN. Isso se procedeu em 2008, porém as
ações desta instituição fazem parte de um processo contínuo, pois, em 2010, foram
inventariados oito jardins públicos e, em 2011, iniciou-se o inventário dos jardins privados.
São ações inovadoras que possibilitam o conhecimento desse campo de estudo, que se
apresenta embrionário.
O trabalho do paisagista Roberto Burle Marx traz certa ruptura com os trabalhos
realizados por outros paisagistas, cuja preocupação era projetar jardins a partir de influências
europeias. Burle Marx, além de priorizar a flora brasileira por meio da paisagem e do uso de
diversas espécies vegetais, com seu trabalho alargou as concepções que se tinham dos jardins
– antes eram vistos apenas pelo víeis da estética, ornamentando os espaços da cidade. Com o
trabalho desse paisagista, além desses aspectos, os jardins passam a assumir funções
educativas, ecológicas e botânicas.

A concepção de jardim moderno de Burle Marx estava apoiada em três suportes:


higiene, educação e arte [...] Relacionado à higiene, o jardim representava uma
concentração de vegetação que proporciona amenização ao clima e à poluição
urbana. Como objeto educativo, o jardim seria um meio de instruir, de transmitir
conhecimento através do conjunto dos seus elementos no qual a vegetação era o
principal. E como arte, o jardim estaria associado a uma forma de expressão
artística, uma manifestação cultural (SÁ CARNEIRO et al., 2007, p. 4).

A partir da observação de Sá Carneiro, compreendem-se as principais características


do trabalho de Burle Marx, que não buscou imitar a natureza e sim representá-la nos seus
jardins, destacando como principais elementos a planta e suas cores, texturas e formas, que se
tornavam assim verdadeiras obras de arte, isso porque Burle Marx utilizou-se de seus
conhecimentos nas áreas da arquitetura, da arte da paisagem, da pintura, da escultura e da
Botânica. Constrói-se, portanto, um trabalho multidisciplinar na concepção dos jardins. Cada
jardim foi proposto e criado com finalidades distintas. É composto por mensagens específicas,
diz muito sobre a mentalidade de um povo, representa o pensamento de uma sociedade e os
anseios do homem, em determinado tempo histórico, sendo esse tempo quem determinará que
aspectos culturais e sociais vão compondo a paisagem dos jardins, pois não se pode afirmar
que esses jardins foram projetados com um mesmo objetivo nas diferentes cidades brasileiras.
26

Todavia, pode-se perceber e analisar o discurso que permeou o cultivo dos jardins públicos,
transmitindo por meio de sua estrutura ideias e concepções diferentes, o que caracteriza e
identifica cada jardim histórico.
O trabalho de Burle Marx tornou-se significativo na medida em que o mesmo trouxe
do exterior uma grande bagagem de conhecimento da arte, arquitetura, urbanismo e
paisagismo e os colocou em prática nos jardins públicos e privados. Para tanto, ou seja, para a
concretização desses espaços ajardinados, ocorreu uma ordenação do espaço físico para o uso
de elementos vegetais. Assim, os jardins públicos tornam-se lugares de sociabilidades,
mediante o surgimento de novas formas de socializar-se, lugares de reflexão, de aproximação
do homem com a natureza, estabelecendo-se assim um diálogo entre ambos.
Com relação aos jardins residenciais/privados, Roberto Burle Marx (2004) diz não
haver dúvidas de que a tendência é a da valorização do jardim público, enquanto o particular
tende a diminuir de importância. No caso dos jardins residenciais, ainda acrescenta que a
árvore frutífera pode entrar na composição e a horta onde plantamos legumes pode ser de
grande beleza, realidade que corresponde a de muitos jardins residenciais de Campo Maior,
em cuja composição também se fazem presentes árvores frutíferas de grande e médio porte.
Nesses jardins residenciais, especificamente nos quintais de residência, a natureza
ganha vida própria, sem precisar de normas específicas, pois a preocupação primeira não é a
beleza estética do lugar, mas a funcionalidade do espaço e a necessidade de aproveitamento
do quintal. Assim, a paisagem será composta mais por plantas medicinais de pequeno porte,
como boldo (Plectranthus barbatus), mastruz (Coronopus didymus), erva cidreira (Melissa
officinalis), e de árvores frutíferas como manga (Mangifera indica L.), caju (Anacardium
occidentale), siriguela (Spondias purpurea), usadas no consumo de sucos, doces e consumo in
natura pelos moradores; são jardins que revelam o apego de seus moradores à planta, tendo
acesso apenas por familiares e amigos e não pelo público em geral. Salienta-se que esses
jardins privados, com essas características, serão bem frequentes na cidade de Campo Maior.
Porém, existem jardins privados mais sofisticados com grande estrutura e projetados
por grandes paisagistas como o próprio Burle Marx. Esses jardins residenciais, segundo
Siomara Lima (2009, p. 159), citando Terra (2000), também assimilavam os modelos
provenientes dos jardins privados da Europa e salienta que, segundo Carlos Terra, na Europa,
“os primeiros jardins privados do século XIX, ainda utilizavam a estrutura inglesa, e aos
poucos incorporam a ela soluções italianas e francesas [...]”. Com relação a esse espaço do
jardim privado, Siomara Lima também destaca características que lhe identificam,
27

evidenciando o contato mais próximo do homem com a natureza, esta organizada por meio de
uma ordem de sentidos e estilos distintos daqueles dos jardins públicos.

O espaço verde construído para local de descanso e lazer, proporcionando um


contato com uma natureza idealizada, era encarado como benefício ao corpo e à
alma, um local para o convívio das famílias, propício também à interrelação entre os
cidadãos (LIMA, 2009, p. 148).

São, portanto, lugares destinados à família que o homem modifica da mesma forma
que nos jardins públicos, porém com outras propostas, funções e estilos diversos. A exemplo
disso, têm-se vários trabalhos realizados em residências por Roberto Burle Marx. Cada
projeto tinha finalidades distintas. Em cada residência buscava-se construir uma ideia
específica, como na residência Couto e Silva (1954). Neste espaço, o paisagista trouxe a
experiência gráfica do desenhista, do pintor, do joalheiro, procurando acrescentar novos
elementos de relação entre o edifício e a vegetação. Contudo, na residência de Odette
Monteiro (1948), a vegetação oferece, numa visão de proximidade, múltiplas espécies florais
de variegados atrativos. Ao longe, manchas de folhagens e árvores foram intercaladas como
elementos de referência até a plena identificação com a beleza natural.

2.3 DESAFIOS E CRITÉRIOS DE PRESERVAÇÃO DOS JARDINS HISTÓRICOS

Para Juan Armada Díez de Rivera (1995, p. 125),

Conservar3, un jardín no consiste tanto en impedir las modificaciones como en


amoldar su desarrollo y acompasarlo sin sobresaltos. Trabajar a largo plazo y
disponer de un conjunto armónico de profesionales, con formación y experiencia,
serían requisitos imprescindibles para una adecuada preservación de nuestros
jardines históricos.

Talvez essa seja uma das grandes dificuldades de se preservar os jardins históricos,
pois necessitam de um grupo multidisciplinar, como arqueólogos, botânicos, historiadores,
geógrafos. Compreende assim um trabalho árduo que requer tempo e verba para que ocorra
em consonância com os princípios das Cartas Patrimoniais. Preservar os jardins é também
discutir medidas como conservação, manutenção, restauração, operações necessárias à defesa

3
Conservar um jardim não consiste somente em impedir as modificações como as estruturas, mas seu
desenvolvimento deve ser em equilíbrio e sem improvisos. Trabalhar a longo prazo e dispor de um conjunto
harmônico de profissionais, com formação e experiência, seriam requisitos imprescindíveis para adequada
preservação de nossos jardins históricos.
28

e salvaguarda de um bem cultural, incluindo também planejamento, administração e outras


ações.
As Cartas Patrimoniais, além de fortalecerem o caráter patrimonial dos jardins
históricos, abordam também a conservação desses monumentos vivos, decorrentes de sua
vegetação. As cartas que trazem à luz essa discussão são a Carta de Veneza (1964), Carta de
Burra (1980), a Carta de Florença (1981) e a Carta dos Jardins Históricos Brasileiros,
conhecida como Carta de Juiz de Fora (2010). A Carta de Florença, relativa à proteção dos
jardins históricos, apresenta-se como uma complementação da Carta de Veneza, porém, em
ambas, a questão da conservação é tratada de maneira pontual, estabelecendo algumas ações,
no entanto, sem deixar claro uma definição para o verbete, assim como de Juiz de Fora.
Entretanto, na Carta de Burra (1980), observa-se um maior entendimento da conservação de
bens patrimoniais, bem como suas ações para garantia da preservação da significância
cultural.

O termo conservação designará os cuidados a serem dispensados a um bem para


preservar-lhe as características que apresentem uma significação cultural. De acordo
com as circunstâncias, a conservação implicará ou não a preservação ou a
restauração, além da manutenção; ela poderá, igualmente, compreender obras
mínimas de reconstrução ou adaptação que atendam às necessidades e existências
práticas. [...] O objetivo da conservação é preservar a significação cultural de um
bem; ela deve implicar medidas de segurança e manutenção, assim como
disposições que prevejam sua futura destinação. [...] A conservação se baseia no
respeito à substância existente e não deve deturpar o testemunho nela presente
(CARTA DE BURRA, 1980, Art. 1; 2 e 3).

Assim, torna-se relevante conhecer as diversas estratégias de conservação de um


jardim histórico, pois cada medida deve-se proceder mediante uma análise da real situação
desses espaços ajardinados para que ações inadequadas não venham a ser tomadas,
prejudicando a significância desse bem cultural. Convém enfatizar que a conservação não
vem para dar outro sentido aos jardins e sim manter/preservar seus aspectos originais, seu
sentido, por meio de seus traçados, sem deixar de destacar os sentidos atuais que foram sendo
assimilados ao longo do tempo. Mas, se deve reconhecer que cada bem cultural determina as
suas próprias necessidades, ou seja, seus critérios de intervenção, pois existem jardins que
irão exigir um maior esforço, seja para restaurá-lo, seja para reconstruí-lo ou até mesmo
apenas uma manutenção. É preciso assim conhecer a necessidade de cada jardim para que
possa tomar as decisões mais adequadas. Sobre isso, Maria Marcondes ressalta:

[...] Estabelece que a proteção dos jardins históricos exige que eles sejam
identificados e inventariados e impõe intervenções diferenciadas, que são a
29

manutenção, a conservação e a restauração, podendo-se, eventualmente, recomendar


a reconstituição (MARCONDES, 2009, p. 280).

No entanto, para se realizar qualquer intervenção nos jardins, é primordial que haja um
estudo aprofundado do mesmo, conhecendo sua estrutura como um todo.

para a garantia de uma prática correta de conservação, o jardim tem que passar por
uma investigação que abarque suas características históricas, artísticas e ecológicas
que se configuram no ato de inventariar (SÁ CARNEIRO et al., 2012, p. 5).

Pode-se recorrer a documentos, arquivos, desenhos e, se for possível, ao projeto


original. Nesse casso, reside a problemática da pouca e até mesmo, em alguns casos, da falta
de documentações, iconografias desses jardins. Assim, logo evidencia os desafios que
envolvem a preservação desses espaços paisagísticos.
Alguns jardins brasileiros passaram por um processo de restauração, seguindo as
recomendações da Carta de Florença (1981), que, no art. 16, expõe que a intervenção de
restauração deve respeitar a evolução do respectivo jardim. Com isso, o Passeio Público do
Rio de Janeiro passou por uma restauração, sendo acompanhado por técnicos da Fundação
Parques e Jardins, RIO-PARQUES – órgão municipal responsável pela implantação e
conservação das áreas verdes da cidade – e técnicos do IPHAN, cujo objetivo do trabalho de
restauração foi a garantia da unidade, da integridade e da permanência dos valores
característicos desse jardim histórico, além de melhorar sua legibilidade.
Não se pode negar que a ação do tempo e as intervenções humanas trazem muitas
vezes consequências negativas paras os jardins, que se agravam com o abandono, o
vandalismo para com esses lugares e o uso inadequado da população. Todos esses fatores
prejudicam não somente os elementos naturais e arquitetônicos dos jardins, mas também se
tornam mais desafiadoras as medidas de conservação dos mesmos.
Convém enfatizar, que a conservação dos jardins históricos como patrimônio deve ser
um trabalho realizado tanto pelos órgãos federais, estaduais e municipais, em conjunto com a
população, que poderá contribuir, de forma significante, com ações que perpassam desde o
ato de não sujar esses espaços até a forma como se apropriam deles, pois a proposta não é
restringir o acesso das pessoas aos jardins. Pelo contrário, é usufruir dos mesmos. Porém é
necessário preservar. Nessa perspectiva, os jardins históricos tornam-se lugares que contam
muitas histórias. São espaços modificados pela ação do homem, sendo esse influenciado por
ideias, valores e padrões da sociedade da qual faz parte, influências essas que se fazem
presentes no momento em que se projetam os jardins. Assim, eles são reflexos da cultural
30

local, como também faz parte da história de cada cidade que possui esses espaços
paisagísticos.
De acordo com Trindade, quando um jardim histórico encontra-se mal conservado,
impossibilita o cidadão de conhecer um pouco mais da sua cultura. “[...] Recuperar a imagem
simbólica dos jardins e seu testemunho cultural no desenvolvimento de uma região é
reescrever a história das sociedades, por um viés ainda pouco percorrido no Brasil”
(TRINDADE, 2009, p. 71).
Outro exemplo de restauração relaciona-se à Praça Euclides da Cunha (Figura 5), de
Roberto Burle Marx, que pode contar com uma equipe de profissionais como paisagistas,
arquitetos, engenheiros, agrônomos e botânicos. Os desafios foram inevitáveis, na medida em
que buscavam resgatar um patrimônio cultural, sendo necessária a retirada de 25 árvores.
Entretanto, restaurar um jardim não é trazê-lo a sua forma original, mas buscar resgatar seu
significado, seus elementos que os identificam num tempo histórico, adequando a sua nova
forma.

Figura 5 – Praça Euclides da Cunha, 2004.

Fonte: Acervo do Laboratório da Paisagem/UFPE.

Para a realização desse trabalho, os profissionais tiveram acesso a desenhos e


entrevistas de Burle Marx, entre 1935-37, fotografias e iconografias antigas, necessitando de
uma análise mais profunda da vegetação. Segundo Sá Carneiro,
31

A base do projeto, portanto, foi uma interpretação detalhada dos desenhos do


paisagista na época do projeto, ou seja, 1935, complementados pelos vestígios dos
canteiros gramados que compunham o canteiro central onde ficavam as cactáceas, os
bancos menores e um banco maior ondulado, em concreto que, segundo entrevistas,
foi colocado na década de 1970 (SÁ CARNEIRO, 2009, p. 226).

Para tanto, o trabalho não termina nesse ponto. Torna-se necessário continuar os
cuidados com a Praça Euclides da Cunha, pois é um trabalho constante, já que seu principal
elemento é o vegetal e, por isso, requer medidas específicas para que a autenticidade dos
jardins seja mantida, autenticidade essa que, segundo a Carta de Florença (1981), no art. 9,
“[...] corresponde aos jardins históricos que diz respeito ao desenho e o volume das partes,
quanto ao seu décor ou escolha dos vegetais ou de minerais que os constituem”.
Por isso, a ação de conservar os jardins brasileiros deve ser constante, como ressalta
Joelmir Marques Silva (2012). Para que se garanta a conservação de um jardim, é necessário o
empenho constante, de tal forma que esforços sejam direcionados no sentido de acompanhar
sua natural transformação. Com isso, surgem os desafios que abarcam desde a necessidade de
um grupo de profissionais capacitados e habilitados a realizarem as medidas necessárias até o
envolvimento dos órgãos federais para que possibilite a verba e para que tais modificações
sejam feitas, pois reconhece que as Cartas Patrimoniais são apenas recomendações, que
trazem no seu conteúdo medidas, regras, buscando a melhor forma de se relacionar com esses
jardins. Portanto, não são somente leis, como também o envolvimento da população que faz
uso desses espaços, desafios que não são diferentes dos jardins públicos do município de
Campo Maior, que buscam também um maior envolvimento da população campomaiorense.
Mediante essas análises, entende-se a relevância das ações de conservação dos jardins
históricos para manter seus valores patrimoniais, valores que são gerados a partir da relação
intrínseca com o contexto histórico no qual ele foi produzido, em que o conjunto de valores
atribuídos confere a significância cultural. De acordo com Sá Carneiro (et al., 2012), quando
se fala em jardins, a esses valores juntam-se o ecológico e o botânico. No âmbito do
patrimônio histórico e cultural, valores como educativo, social, ecológico e espiritual que
envolvem a população são referenciados em trabalhos científicos.
Entretanto, quando tais medidas são inexistentes, os jardins históricos tornam-se mais
suscetíveis a mudanças negativas, resvalando na sua estrutura física, bem como na sua
vegetação. A exemplo, destaca-se o caso da Praça do Rosário, situada em Campo Maior, na
qual se observou a inexistência de tais medidas.
Na Figura 6, a seguir, visualiza-se, no fundo, a igreja de Nossa Senhora do Rosário,
juntamente com a vegetação da Praça, que, em sua maioria, é composta por carnaúbas,
32

dispostas também nas alamedas. Contudo, atenta-se para um caso raro da carnaúba 4 que se
encontra no centro da imagem, um caso difícil de se encontrar. Porém, a realidade de hoje é
que um dos elementos que compõem um jardim histórico, nesse caso específico, passou por
transformação, e essa mesma não foi benéfica para esse jardim, afetando assim, sua
vegetação.

Figura 6 – Praça do Rosário, 2012.

Fonte: Acervo do IFPI (2012).

Na Figura 7, abaixo, verifica-se que a mesma carnaúba que tinha alteração genética
encontra-se sem vida. Isso é o resultado da falta de ações necessárias e adequadas a sua
conservação, pois se as ações não forem adequadas, se não estiverem de acordo com a
necessidade do jardim, não se poderá obter êxito na sua conservação, e entende-se que a
árvore também tem seu processo evolutivo, o que torna essas ações mais indispensáveis.
Porém, é preciso conhecê-las para atuar e não agir sem esse conhecimento.

Figura 7 – Praça do Rosário, 2013 – carnaúba, ao centro.

4
A carnaúba apresenta alterações genéticas, uma espécie de anomalia, fazendo com que a mesma possua
galhos, um caso difícil de encontrar.
33

Fonte: Acervo pessoal do Autor (2013).


Nessa perspectiva, entende-se que os jardins históricos são dinâmicos, alteram-se ao
longo do tempo, passam por transformações e, por esta razão, atenta-se para a questão de sua
conservação. Com que ações bem planejadas, esses jardins tornam-se primordiais para manter
seus valores históricos, culturais e artísticos. Não obstante, observou-se que, no caso da Praça
do Rosário, essas ações estão sendo ineficientes, realidade essa percebida por meio de sua
composição paisagística. Assim, esses mesmos problemas também podem afetar os demais
jardins públicos de Campo Maior, que, no futuro não distante, poderão não possuir mais tais
valores, deixando de ser mais uma via de conhecimento da cidade, bem como um bem
cultural da mesma.
Pontua-se, que os mesmos desafios que cercam os jardins de outras cidades brasileiras
são os mesmos enfrentados pelos jardins públicos da cidade em análise, evidenciando que
estes se encontram em espaços físicos diferentes, porém comungam a mesma realidade e os
mesmos desafios de se manterem vivos na história para que gerações futuras possam também
ter acesso a esses bens culturais. Na prática, existe a necessidade de se conhecer mais sobre o
assunto, a partir do entendimento de que o cuidado com o jardim não se restringe apenas a
não sujar esse espaço, mas envolve a necessidade de cuidar dele como um todo, e, assim,
incluindo sua vegetação, só assim, poderão se planejar ações adequadas e pautadas na sua
realidade.
34

3 UM PASSEIO PELOS JARDINS HISTÓRICOS DE CAMPO MAIOR-PI

As discussões referentes aos jardins históricos, pautados nos questionamentos de


conservação, seu aspecto patrimonial, analisados até o momento, mostram-se relevantes para
as próximas análises dos jardins públicos de Campo Maior. Mesmo existindo diferenças de
estilos, sentidos e significados, as reflexões são válidas na medida em que se abordam
também espaços ajardinados. Logo, reflete-se também sobre sua conservação, sobre a
participação da população nesses questionamentos, conhecendo-se melhor os jardins públicos
da referida cidade.
Os jardins públicos de Campo Maior são mais modestos em comparação com os que já
foram analisados anteriormente. Isso, contudo, não exclui seus valores históricos e culturais e
tampouco deixam de ser documentos suscetíveis de reflexões. Pelo contrário, esses jardins
revelam muito sobre a história do município de Campo Maior, seus aspectos sociais e
políticos, bem como culturais. Assim, ao se analisar esses espaços ajardinados, faz-se também
necessário olhar a cidade como um todo, perceber em que contexto histórico os jardins
surgem como parte da sociedade campomaiorense.
Nessa análise, observou-se que esses espaços ajardinados são compostos, em sua
maioria, por carnaúbas. Isso não é um fato isolado, pois a cidade, especificamente quando
ainda era vila, cresceu e prosperou em decorrência do extrativismo vegetal. Assim, avalia-se
que a presença das carnaúbas nesses espaços evidencia uma ligação com a própria história da
cidade, fortalecendo a concepção de que os jardins históricos fazem parte de um contexto
suscetível de reflexões e o estabelecimento de ideias.
35

3.1 APRESENTA-SE A CIDADE

Alguns autores, como Pe. Cláudio Melo (1983), Celson Chaves (2007) e Reginaldo
Lima (1995), fazem análises da história de Campo Maior, enfocando aspectos políticos,
econômicos, bem como o período em que a cidade ainda era chamada de vila. Segundo Pe.
Cláudio Melo (1983), o descobrimento daquela parte do norte piauiense, que veio a ser
freguesia do Surubim, deu-se nos primeiros anos do século XVII e seu total desbravamento só
se completou no primeiro quartel do século XVIII. Assim foi o momento em que a Freguesia
do Surubim passava à categoria de vila. Isso se procedeu em 08 de agosto de 1762, com a
presença do primeiro governador do Piauí, João Pereira Caldas. Com relação a esse
acontecimento, Olavo Silva Filho (2007, p. 68) salienta que
nessa ocasião, foi levantado o pelourinho da vila, que ficou no pátio da matriz, e
constava de um pilar quadrado sobre degraus de pedra, o qual se conservou até
1844, quando foi desfeito por se achar desmoronando pelo tempo.

Dessa forma, surgiu a vila de Campo Maior, “[...] naquele território chamado Longá,
suavemente estendida na planície de perpétuas, fincada de carnaubeiras prateadas, entre a
serra azul de perfil preciso e arestas cortantes [...]” (SILVA FILHO, 2007, p. 72). Surgiam,
então, as primeiras casas, que seguiam como referência de adensamento a igreja matriz de
Santo Antônio. Foi assim, ao redor da igreja Santo Antônio, que teve o surgimento da área
urbana de Campo Maior, com as construções de casas, que paulatinamente tomaram toda a
extensão dessa área, como se vê na imagem (Figura 8) a seguir.

Figura 8 – Vista área de Campo Maior datada de 1934.


36

Fonte: Silva Filho (2007).

Contudo, ainda se observam mudanças nessa categoria. “Foi ao dia 28 de dezembro


de 1889, que Campo Maior passava de vila à cidade, pelo decreto no 01 do primeiro
governador republicano do Piauí, Taumaturgo de Azevedo” (LIMA, 2008, p. 18). Assim, aos
poucos, aquela vila passava a incorporar desejos de crescer e desenvolver-se de acordo com o
novo momento, pois agora era vista não como uma vila, mas como uma cidade que tinha
muito a oferecer. Criavam-se muitas perspectivas pautadas na capacidade de desenvolvimento
da cidade. Dessa maneira, salienta-se que, segundo Marielly Mascarenhas (2012), consta na
história piauiense que, assim que foi instalada, Campo Maior era a quarta vila mais extensa da
Capitania de São José do Piauí, com a área de 28.022Km 2, sendo ultrapassada apenas por
Jerumenha, Oeiras e Parnaguá. Era a segunda em população, com 1.867 habitantes, entre
cidadãos livres e escravos, espalhados na zona urbana e no interior, superada somente por
Oeiras, com 3.615 habitantes. Ainda de acordo com Mascarenhas (2012, p. 37),

hoje, Campo Maior, pertence à Mesorregião do Centro-Norte Piauiense e integra a


microrregião do mesmo nome. Em face dos sucessivos desmembramentos havidos
entre os séculos XVII e fins do século XIX, o antigo território de Campo Maior
reduziu-se para uma área de 1.699,466Km2 de acordo com último censo do IBGE.

Na Figura 9, pode-se visualizar a localização de Campo Maior. Já com relação a sua


população, no censo de 2010, realizado pelo IBGE, a cidade compõe-se de uma população de
45.177 habitantes. Dentre as diversas atividades cívicas e culturais desenvolvidas neste
município, a mais importante é a do dia 13 de março, que rememora o acontecimento
37

histórico referente à Batalha do Jenipapo, em defesa da independência do Brasil. Nas


comemorações, com a presença de várias autoridades do Estado, dentre elas o próprio
Governador, são realizadas homenagens àqueles que são considerados heróis por lutarem
bravamente contra as tropas do Major Fidié.

Figura 9 – Localização do Município de Campo Maior.

Fonte: CPRM.
Portanto, a história de Campo Maior perpassa por esses acontecimentos históricos de
significância nacional, porém tem muito mais a destacar, como no seu campo religioso, a
exemplo do festejo de Santo Antonio, festividade que reúne um grande número de fiéis.

A festa de Santo Antonio é considerada o mais popular e mais concorrido


acontecimento religioso do Estado do Piauí desde muitas décadas. Durante o período
festivo, a cidade recebe dezenas de milhares de pessoas vindas de todas as partes do
Piauí e de vários lugares do Brasil (LIMA, 1995, p. 79).

Assim, a cidade é percebida por esse outro lado, o campo da religião, destacando-se a
religiosidade e as crenças das pessoas, que, nesse período, encontram-se voltadas para
realização de promessas e agradecimentos pelas graças alcançadas, ou até mesmo para pedir
casamento ao santo casamenteiro, como é conhecido o Santo Antônio. Esse compõe mais um
38

dos aspectos culturais da cidade, que envolve um grande número de pessoas, cada uma com
seus próprios desejos e anseios.
Essa cidade cresceu e se desenvolveu, e, com essas mudanças, foi se constituindo com
seus próprios aspectos, seus pontos atrativos, suas festividades e crenças, suas tradições, que
desempenham um papel relevante na economia piauiense. Inicialmente, a economia era
baseada na criação de gado e, posteriomente, o extrativismo da cera da carnaúba, e, desse
período do desenvolvimento da pecuária, herdaram-se alguns aspectos. Segundo Mascarenhas
(2012), dessa época, tem-se a herança das casas de fazenda avarandadas, das humildes
choupanas dos vaqueiros, dos currais, entre outras edificações. Dessa maneira, Campo Maior
destacou-se por suas contribuições, não restritas apenas ao aspecto econômico, como também
se impõe por suas histórias, passa a ser percebida como um lugar de tradição, com belezas
naturais e também construídas pelo homem, como os jardins históricos, que trazem em sua
composição aspectos da história da cidade. Observa-se muito da cultura de Campo Maior
nesses espaços ajardinados, contudo, torna-se igualmente necessário analisar outro momento,
especificamente quando a cidade começa a passar por consideráveis transformações na sua
estrutura urbana, momento-chave para refletir sobre seus jardins.

3.2 A URBANIZAÇÃO EM CAMPO MAIOR

Segundo Teresinha Queiroz (2006, p. 19),

a economia piauiense, durante a segunda metade do século XIX, ainda poderia ser
definida como um domínio da pecuária. A maior parte da receita provincial derivava
daquela atividade, responsável, também, pela ocupação de grande parte da
população e pela dinâmica do comércio.

Nesse contexto, influenciada por esta atividade, a vila de Campo Maior cresceu e
prosperou com o ciclo do gado e posteriomente com o ciclo da carnaúba, existindo atualmente
a intensa atividade do comércio.
Com esta atividade econômica, as pessoas concentravam-se mais na área rural do que
na área urbana. Esta, por sua vez, não possuía muitos atrativos convidativos a ponto de fazer
com que as pessoas mudassem sua moradia.

No ano de 1772 existiam no Piauí 3.034 fogos, de modo que os 360 fogos “urbanos”
representavam apenas 11,8% do total dos domicílios desta capitania. Os 88,2%
fogos restantes estavam distribuídos entre 930 propriedades rurais, das quais 578
eram apontadas como “fazendas de gado” e 352 como “sítios de lavoura”... Da
39

população [...] 14,1% viviam nas vilas ou nos seus subúrbios (SILVA FILHO, 2007,
p. 34).

Analisa-se que a população concentrava-se mais no campo, devido à prosperidade das


fazendas de gados, tornando a pecuária uma atividade econômica relevante para o Piauí, pois
fortalecia assim o mercado regional. Entretanto, observa-se que, mesmo exercendo toda essa
significância, a pecuária não trouxe na mesma medida de sua importância mudanças de
grande porte que pudessem modificar a estrutura física de Campo Maior.

Durante a segunda metade do século XIX, as atividades agrícolas e pecuárias, na


forma como foram desenvolvidas, não se mostram capazes de possibilitar mudanças
econômico-sociais de peso, como ocorreu, no mesmo período, em determinadas
áreas do centro-sul (QUEIROZ, 2006, p. 52).

De acordo com a autora, percebe-se que, quando se refere a mudanças de grande porte,
ou seja, àquelas que poderiam proporcionar grandes transformações na estrutura física das
cidades, a pecuária não se mostrou tão eficiente, talvez porque os lucros dessa atividade
concentravam-se nas mãos de poucas pessoas e não tinham como destino outros propósitos
como o desenvolvimento daqueles espaços.
No entanto, exerceu-se uma determinada influência no processo de urbanização em
muitas regiões. Por isso, Olavo Silva Filho (2007) salienta que, no Piauí, o fenômeno da
urbanização não foi diferente de outras tantas regiões interioranas, onde os caminhos do gado
fizeram surgir nucleações lineares, estruturando espaços com funções sociais, econômicas e
religiosas. Não obstante, em fins do século XIX, a pecuária mostrava-se debilitada, e no
princípio do XX, muitas fazendas passaram a se envolver com a atividade do extrativismo
vegetal.

As contingências que contribuíram para a sobrevivência do homem nas veredas


rurais, notadamente o intercâmbio de produtos e mercadorias relacionadas ao gado,
vão se transferindo para a exploração da cera da carnaúba, que passa a ser o novo
ativo econômico, notadamente no período entre as duas grandes guerras (SILVA
FILHO, 2007, p. 77).

Essa nova atividade econômica apresenta-se como elemento primordial para o


processo de urbanização ocorrido na cidade de Campo Maior por volta da década de 1940.
Por meio dela, será possível identificar várias mudanças na malha urbana da cidade,
entretanto, são transformações lentas, pois, como ressalta Marcus Paixão (2010),
40

Até a década de 30, a economia da cidade ainda encontrava-se fragilizada, o que


impedia a mesma de progredir em diversos setores, continuava sendo um espaço
modesto com uma infraestrutura pouca desenvolvida, não havia, portanto, nesse
momento renovações e ampliação desse espaço; as ruas continuavam toscas, os
transportes da época eram feitos a cavalo e a carroça puxada a asno (PAIXÃO,
2010, p. 93).

Nesse aspecto, destaca-se a análise de Celson Chaves (2007), ao salientar que o


município de Campo Maior possuía um primitivo sistema de distribuição de água e luz, tinha
poucas ruas pavimentadas, as casas, em sua maioria, eram de taipas para os pobres e de adobe
para os ricos, tinha também um rústico serviço de transporte, necessitava de um plano urbano
que pudesse modernizar o município e tornar-se assim, uma cidade moderna.
Essa modernização teve como base de sustentação a economia, não por meio da
pecuária, pois esta se encontrava em decadência, e sim do extrativismo da cera da carnaúba. A
carnaúba, segundo Zózimo Tavares (2003, p. 59), “é uma palmeira nativa dos Estados do
Piauí, Ceará, Maranhão e Rio Grande do Norte”. Compreende-se, dessa forma, que, por meio
da carnaúba, Campo Maior passa por várias mudanças. Obviamente corresponde a um
processo lento, mas notório.

Campo Maior passou então de uma cidade com uma tímida infraestrutura e tornou-
se um grande canteiro de obras. Prédios novos eram erigidos, ruas novas foram
abertas e calçadas, bem como as ruas que já existiam, muitas delas receberam nova
roupagem de calçamento (PAIXÃO, 2010, p. 93).

Entende-se assim que os resultados providos do extrativismo da cera da carnaúba


foram benéficos para o melhoramento da malha urbana desta cidade, como ressalta Fabrícia
Medeiros da Silva (2011). O dinheiro provindo da cera da carnaúba ajudava na construção de
obras públicas e benfeitorias na cidade, como a melhoria do saneamento básico de Campo
Maior, reconstrução de escolas e construções de postos de saúde. Essas mudanças surgiam aos
poucos, de forma gradual, pois, ainda de acordo com Fabrícia Medeiros (2011), havia
problemas com o abastecimento de água e ainda não havia iluminação elétrica na cidade. Essa
iluminação foi implantada somente na década de 1940. Portanto, são transformações que
fazem parte de um processo lento, que paulatinamente vão fazendo parte da nova
infraestrutura da cidade.
Surgem, como se observam, as primeiras mudanças em Campo Maior. A cidade, por
sua vez, passa a ser moldada, tornando-se urbanizada. O poder público também exerceu um
papel importante como agente modernizador. Realizaram-se várias obras públicas,
construções de prédios para usinas elétricas, melhoramento no abastecimento de água. No
41

entanto, deve-se compreender a importância da cera da carnaúba nessas ações realizadas pelo
poder público:

Empreendimentos deste porte, concretizado por parte do poder municipal, só pode


ser realizado graças ao aumento notável da produção e da venda extrativista da cera
da carnaúba, que correspondia por 2/3 da receita local e seu bom preço no mercado
internacional, propiciando um revigoramento urbano (CHAVES, 2007, p. 34).

A carnaúba proporcionou, mesmo tendo sua produção passada por ascensões e quedas,
fazendo seu preço oscilar, grandes mudanças urbanas em Campo Maior. Essas mudanças
englobavam a paisagem, pois essa passou também a ser moldada, ordenada em determinados
espaços da cidade, com destaque para as inúmeras carnaúbas, nas ruas, nas praças e até
mesmo em torno do açude grande, constituindo assim uma nova paisagem para Campo Maior,
com espaços ornamentados pelas carnaúbas e outras plantas e que variam de grande e
pequeno porte.
Na Figura 10, a Praça Bona Primo, observa-se o surgimento dos primeiros traços de
um jardim, uma praça ajardinada, composta de inúmeras árvores, constituindo uma paisagem
verde desse espaço e também das casas que se encontram no entorno. Ainda com relação a
essa praça, Fabrícia Medeiros (2011, p. 48) destaca:

na Praça Bona Primo, um dos pontos mais importantes da cidade datada desde a
fundação de Campo Maior, quando ainda era apenas freguesia, foi palco de vários
acontecimentos históricos, e ao longo dos anos recebeu vários nomes.

Foi nessa Praça que tudo acontecia: o centro comercial, a cadeia pública, sem deixar
de ressaltar a igreja de Santo Antônio – que também passou por muitas transformações e
reformas – e também as casas, com influências da arquitetura portuguesa. Assim se constituía
a Praça Bona Primo, um espaço importante e de referência para a cidade.
A criação do jardim insere-se no momento em que a cidade se urbanizava, onde um
conjunto de melhorias estava sendo colocado em prática. A cidade passava por um processo
de desenvolvimento, de modificações no cenário físico e social, por isso os jardins de Campo
Maior vão se constituindo nesse contexto histórico, vivenciado por muitas pessoas, que
observaram essas transformações, como também o surgimento desses espaços ajardinados,
que ornamentavam e deixavam a cidade mais atrativa aos olhos de quem via.

Figura 10 – Praça Bona Primo.


42

Fonte: Silva Filho (2007).

Na Figura 10, apresenta-se a Praça Bona Primo com algumas mudanças de ordem
estrutural, de iluminação e percebe-se que, na sua composição paisagística, foram
acrescentadas mais espécies arbóreas, como as carnaúbas que se encontram no centro da
Praça. A Figura 11 mostra que havia apenas a disposição das mesmas e outras espécies não
identificadas. Observa-se também o surgimento e o aumento do número de casas no entorno
desse espaço, juntamente com a vegetação, que passa a fazer parte não somente da Praça, mas
das casas e dos quintais residenciais. Por meio desta análise, percebeu-se como este jardim ao
longo do tempo passou por transformações na sua estrutura física, como também na sua
composição paisagística, cujas mudanças são de ordem natural, em decorrência da vegetação,
e outras são resultados da intervenção do homem.

Figura 11 – Praça Bona Primo, com transformações na composição paisagística.


43

Fonte: IPHAN.

Analisa-se o surgimento de outros jardins na cidade, contudo vale ressaltar que esses
espaços ajardinados foram mudando de acordo com as transformações que ocorriam em
Campo Maior. De cada período, os jardins foram absorvendo aspectos que hoje revelam
muitas histórias, trazem na sua estrutura uma dinâmica histórica, sendo possível perceber cada
período que os compõem. A Figura 12, por exemplo, refere-se à Praça Luiz Miranda, que,
segundo os antigos moradores da cidade, já foi um mercado de muita movimentação. Para
além disso, percebe-se que a mesma está se constituindo em um jardim, que a princípio possui
pouca vegetação. Contudo, passado algum tempo, a mesma será composta por inúmeras
árvores, a exemplo da carnaúba, plantas nativas e algumas outras exóticas, e, no seu conjunto
mobiliário, terá a sua disposição bancos e busto, este fazendo referência à política local.

Figura 12 – Praça Luiz Miranda, por volta de 1950.


44

Fonte: Silva Filho (2007).

Foi, portanto, nesse contexto histórico, de mudanças impulsionadas pela economia


baseada no extrativismo da cera da carnaúba, que a cidade passou por notórias
transformações. Segundo Thyago Santos (2011, p. 24), o extrativismo da carnaúba é uma
atividade desenvolvida há várias décadas no Nordeste brasileiro, mantendo sua importância
socioeconômica na geração de emprego e renda para os municípios, especialmente no estado
do Piauí. No caso específico de Campo Maior, essa importância ressaltada no que tange ao
extrativismo da carnaúba significou na prática a possibilidade de a cidade desenvolver-se em
um cenário em que os espaços foram sendo estruturados e ornamentados, surgindo uma nova
paisagem com ruas pavimentadas e cercadas de carnaúbas.
Assim, a carnaúba foi fazendo parte da cidade e de seus diversos espaços. Estava
presente não somente nas ruas, praças, mas também no entorno de casas e prédios,
evidenciando assim esse momento em que se buscava incessantemente por mudanças, visto
que muitas outras cidades também estavam se urbanizando, e Campo Maior não fugiu à regra
nesses anseios de modernização. Por isso, foram várias as mudanças na estrutura física da
cidade, isso proveniente do comércio da cera da carnaúba.
3.3 (FOTO)GRAFANDO OS JARDINS PÚBLICOS DE CAMPO MAIOR
45

Campo Maior ficou conhecida como cidade das carnaúbas devido a sua história ligada
ao comércio desse vegetal. As análises acima evidenciaram a participação da carnaúba na
transformação da estrutura física da cidade e atualmente se faz presente em seus diversos
espaços, a exemplo das praças, alamedas, ruas, quintais residenciais, espaços que foram sendo
arborizados com essa planta, compondo assim a paisagem cultural de Campo Maior. Esta
análise correspondente à paisagem da cidade será realizada a partir dos jardins públicos,
especificamente de três jardins: a Praça Luiz Miranda, a Praça Bona Primo e a Praça do
Complexo Valdir Fortes. Eles estão situados em pontos estratégicos da cidade, nos quais há
uma maior circulação de pessoas. Assim, estão mais visíveis ao olhar de quem passa. Buscou-
se analisar tais jardins públicos mediante a percepção de suas características, englobando sua
estrutura física, sua vegetação, seu mobiliário, portanto os aspectos que formam cada um
desses jardins. Destaca-se que esses não são os únicos espaços ajardinados, existindo também
outros na cidade. A partir desta delimitação do espaço da pesquisa, faz-se as análises de cada
jardim iniciando pela Praça Luiz Miranda, localizada no centro da cidade. Sua construção
ocorreu em 1976 e foi inaugurada no dia 1o de maio do mesmo ano. É também conhecida
como Praça da Prefeitura e tem um aspecto mais político, devido as suas instalações. Para
Reginaldo (1995), tanto os prédios do complexo administrativo como a Praça Luiz Miranda,
em pleno coração da cidade, oferecem destaques especiais, onde o “Palácio das Carnaúbas” se
sobressai imponentemente e se estabelece tacitamente o divisor do poder, atraindo a atenção e
transformando-se em cartão postal de Campo Maior.
Com relação à estrutura desse jardim, entendido como praça, possui traços sinuosos.
Segundo Aline de Figueirôa Silva (2010), esse traçado sinuoso resulta da divisão do terreno
em canteiros, com vegetação de pequeno e médio porte, entremeados por bancos. Essas são
características que correspondem ao traçado desse jardim, Praça Luiz Miranda, composto por
quatro canteiros: um circular e os demais triangulares. A vegetação varia de pequeno e médio
porte. Com relação ao mobiliário contido nesse jardim público, é composto por banco em
madeira e um busto do prefeito José Olympio da Paz (*04-09-1912 +14-04-1977), onde está
grafada a seguinte frase: “Homenagem do povo de Campo Maior a seu líder José Olympio da
Paz, como prefeito municipal, ‘os ricos menos poderosos e os pobres menos sofredores’”.
José Olympio assumiu dois mandatos no município de Campo Maior, sua terra natal, porém,
observou-se, nesse mesmo espaço, outra homenagem de aspecto político, referente ao
Raimundo Nonato Bona Carbureto, cuja frase exposta no monumento é: “Administração III
milênio, ‘Fala Povão’, 1o prefeito do Século XXI”. A partir do exposto, é possível notar que
46

esse jardim tem um aspecto mais político, evidenciado pelas suas instalações e as peças que
compõem seu mobiliário, referentes a gestões políticas de Campo Maior, no entanto não
exclui a possibilidade de se tornar um lugar de lazer. Essa constatação foi perceptível por
meio da pesquisa de campo no lugar, onde se observou a presença de pessoas com faixa etária
de quarenta a sessenta anos de idade, que usam esse espaço para encontrar amigos e se distrair
jogando dominó, baralho ou simplesmente conversar. Assim, esse jardim público é usado de
diversas maneiras, englobando ações que perpassam questões políticas como também lugar de
sociabilidade, de encontro com os amigos, sem deixar de destacar que funciona neste mesmo
jardim ponto de táxis e mototáxis, o que torna o lugar movimentado.
A paisagem desse jardim é composta tanto por plantas nativas, quanto por plantas
exóticas (Figura 13), destacando-se árvores de grande porte como as Carnaúbas (Copernicia
prurífera), as Oiticicas (Licania rigida), Jamelão (Syzygium cumini), Angico Branco
(Anadenthera colubrina), Flamboyants (Delonix regia), como também plantas de pequeno
porte, que estão mais presentes no canteiro circular, a exemplo da Boa-noite (Catharanthus
roseus). Essas plantas ornamentam a Praça Luiz Miranda e amenizam as altas temperaturas,
atraindo não só os visitantes, mas também a própria população local.

Figura 13 – Praça Luiz Miranda, 2012.

Fonte: Acervo IFPI/2012.


47

Entende-se que a Praça Luiz Miranda, enquanto jardim público, foi projetada não
apenas com caráter político, mas também disponível para a população campomaiorense,
sendo detectadas rampas para a locomoção de cadeirantes, o que demonstra que os jardins
históricos, como esse analisado, não são criados para ficar isolado ou apenas para ser visto,
mas para que a própria população faça uso desse espaço, obviamente de forma adequada, para
que não possa colocar em risco esse bem cultural. Na Figura 14, observa-se o traçado desse
jardim público, a sua composição paisagística, composta em sua maioria por carnaúbas e
algumas plantas não identificadas, as construções no entorno, a localização do prédio da
prefeitura e o palácio das carnaúbas, bem como as peças do mobiliário.

Figura 14 – Traçado da Praça Luiz Miranda.

Fonte: Desenho da Autora.

* Legenda: VERDE: Carnaúba VERMELHO: Oiticica RC: Monumento Raimundo Nonato Bona Carbureto
AZUL: Boa-noite AMARELO: Flamboyants JO: Monumento José Olympio da Paz
PRETO: planta não identificada
48

Em relação à Praça Bona Primo, segundo espaço de jardim proposto como objeto
deste estudo, afirma Reginaldo Lima (1995, p. 101),

[...] na Praça Bona Prima encontra-se a Catedral de Santo Antônio, os mais antigos
casarões que pertenceram a várias personalidades e tradicionais famílias
campomaiorenses, os quais, na sua quase totalidade, conservam os traços originais.
Na Praça, localizam-se também a residência oficial do Bispo da Diocese de Campo
Maior e a Casa Paroquial.

Algumas dessas construções referem-se ao antigo sobrado do Major Honório Bona,


que atendia à função comercial nos dois pavimentos. Segundo Mascarenhas (2012), esse
sobrado teria sido construído no início do século XX, em meados de 1912, sendo uma das
primeiras edificações da área. Entretanto, atualmente, este casarão passou por reformas na sua
fachada, mas sem perder suas características originais, e funciona como espaço de venda de
terreno. Encontra-se também nesse espaço a Academia de Letras. Convém mencionar que
essa Praça passou por mudanças ao longo do tempo, ganhando iluminação, calçamento e
servindo de local para grandes eventos como os festejos de Santo Antônio, que reúnem todos
os anos, no mês de junho, um número significativo de pessoas, dentre as quais turistas,
devotos e a população local.
Ao analisar essa Praça enquanto jardim público, entende-se que o traçado desse jardim
é axial. De acordo com Aline de Figueirôa Silva (2010), o traçado axial é configurado por
passeios arborizados e um ponto focal, por vezes marcado por um elemento aquático. No
entanto, este último elemento não se insere nesse jardim. Quanto ao seu conjunto mobiliário,
possui bancos em cimento bem distribuídos pela praça. Tem-se também o Memorial do
Monsenhor Mateus, homenagem ao padre Mateus Cortez Rufino, reconhecido como
personagem que exerceu de forma coerente e carismática a sua função de sacerdote, e o painel
sobre o vaqueiro e a Batalha do Jenipapo, obra de arte de Ducilas e execução de Luiz
Domingues, Recife-PE. No entanto, deve-se observar que estas peças que fazem parte do
mobiliário desse jardim encontram-se relacionadas com aspectos da história, como o painel
que encena a histórica Batalha do Jenipapo, luta pela independência que teve Campo Maior
como um dos palcos. É por isso que os jardins refletem histórias de um lugar, de um povo
com seus costumes, culturas e mentalidades e relacionam-se com a própria história. Sendo
assim, não se encontram separados da sociedade, mas fazem parte dela, como esse jardim que
faz parte de Campo Maior.
Assim, o traçado deste jardim público (Figura 15) será composto por caminhos
sinuosos, tendo um ponto focal, um círculo ornamentado por inúmeras carnaúbas e bancos de
49

cimento, contendo também oito canteiros triangulares e simétricos, cuja vegetação varia de
pequeno e médio porte, configurando recantos de estar. Convém enfatizar que, na atualidade,
cada espaço que compõe este jardim possui rampas para cadeirantes, para que todos possam
usufruir do mesmo, não restringindo assim o seu acesso a poucos. Porém, este jardim tem um
aspecto mais religioso devido às influências do entorno, como a Catedral de Santo Antônio e
a estátua do Monsenhor Mateus, que terminam refletindo esses aspectos nessa praça,
percebida como jardim histórico. Percebe-se, nessa mesma imagem (Figura 15), a disposição
das peças mobiliárias da Praça, o Painel de arte (P) e o Memorial ao Monsenhor Mateus (M),
bem como as alamedas que compõem a Praça Bona Primo.

Figura 15 – Traçado da Praça Bona Primo.

Fonte: Desenho da Autora.

*Legenda: VERDE: Carnaúba ROXO: Faveira VERMELHO: Oiticica


AZUL: Boa-noite P: Painel de arte PRETO: Planta não identificada
M: Memorial ao Monsenhor Mateus
50

Com relação a sua composição florística, foi possível perceber a vinculação das
plantas nativas com as exóticas, destacando como tais plantas a Acácia Amarela (Acacia
farnesiana), a Faveira (Parkia multijuga), as Oiticicas (Licania rigida), a Boa-Noite
(Catharanthus roseu), as Carnaúbas (Copernicia prurífera), que estão no centro da Praça
formando um círculo (Figura 16), estando igualmente nos canteiros triangulares, e a planta da
Índia, como é conhecida popularmente, que, como um modismo, esta planta se espalha pelas
praças, calçadas e quintais residenciais de Campo Maior.

Figura 16 – Praça Bona Primo, 2012.

Fonte: Acervo do IFPI/2012.

Dessa maneira, esse espaço ajardinado revela aspectos da história da cidade, pois,
situados em um tempo e espaço, foi sendo modificado até chegar ao seu estado atual,
constituindo-se em um jardim histórico, e cada transformação reflete a própria mudança pela
qual Campo Maior passou. Portanto, analisar esse jardim é, ao mesmo tempo, compreender e
estabelecer uma ponte de diálogo com o período histórico dessa cidade, e, como a mesma
mudou e continua mudando. Assim, esse mesmo espaço, no futuro, terá outros
acontecimentos para narrar.
51

Analisa-se agora a Praça Valdir Fortes (Figura 17), conhecida também como
Complexo Cultural. É um espaço destinado mais a eventos culturais, como o Sabor Maior,
realizado geralmente no mês de setembro, uma exposição do potencial culinário de Campo
Maior, predominando assim um aspecto mais cultural. No entanto, oferece outros pontos
atrativos, como a Secretaria Municipal de Assistência Social, a Cooperativa Artecam, a
Galeria de arte, o Artesanato Santo Antônio, a Cafeteria Bitorocara, o Boteco Lanches e a
Arte da Estação. Quanto à estrutura, esse jardim público possui um amplo espaço, porém sem
traços sinuosos (Figura 16). Observam-se inúmeras carnaúbas bem alinhadas, demonstrando
que o homem as dispôs de forma intencional, criando uma ordem e sentido para este lugar.
Nesse jardim, há três canteiros, dois com formatos triangulares e o terceiro com alguns
aspectos sinuosos, linhas irregulares, e vegetação variando de pequeno a médio porte,
predominando a Boa-Noite em conjunto com as carnaúbas e algumas não identificadas.
Convém enfatizar que, em cada canteiro, há algumas placas com o seguinte enunciado:
“Ambiente limpo não é o que limpamos, mas sim o que não sujamos”, “Praça limpa; povo
educado. Povo consciente; praça conservada”. Essas frases não são aleatórias. Elas remetem a
uma das funções dos jardins. Nesse caso, atenta-se para a função educativa, de uma relação
equilibrada do homem com a natureza. Esse aspecto é bem característico do trabalho do
paisagista Roberto Burle Marx.

Figura 17 – Praça Valdir Fortes, 2012.

Fonte: Acervo IFPI/2012.


52

Compondo o mobiliário do jardim estão os bancos em madeira e de cimento, pedras de


arenito na ornamentação dos canteiros, outros objetos não identificados e também uma prensa
que antigamente era usada na extração do pó da carnaúba e, por fim, uma locomotiva PUCO-
PUCO correspondente ao ano de 1960. São peças que ora estão relacionadas à história de
Campo Maior, ora servem apenas como elementos a mais para ornamentar esse jardim
público. Essas peças do mobiliário podem ser identificadas na Figura 18, que evidencia em
que canteiros as mesmas estão dispostas. Para tanto, visualiza-se o lugar onde se encontra a
estátua da Iemanjá no açude grande e o Hotel Pousada do Lago, que, durante as festividades
realizadas na cidade, torna-se um lugar movimentado.

Figura 18 – Traçado da Praça Valdir Fortes.

Fonte: Desenho da Autora.


*Legenda: VERDE: Carnaúba. PA: Pedras de arenito PRETO: Planta não identificada
AZUL: Boa- Noite. PR: Prensa L: Locomotiva
I: Iemanjá
53

No entanto, a paisagem desse jardim não se compõe apenas por carnaúbas ou Boa-
Noite, mas também se faz presente o Açude Grande, que está cercado por carnaúbas e
algumas plantas não identificadas, formando um cinturão. Segundo Fabrícia Medeiros (2011),
foi no governo de Eurípedes de Aguiar (1916-1920) que se deu início a construção do Açude
Grande em Campo Maior.
De forma geral, percebe-se que cada jardim público que foi analisado possui suas
próprias características e revela diferentes aspectos da cidade em diferentes períodos, e que
sua paisagem é um dos elementos que identificam Campo Maior, principalmente pela
predominância da carnaúba nos diferentes espaços da cidade. Assim, muitos a conhecem
como “cidade das carnaúbas”. Como se observa, nessa interação entre o homem e meio
encontra-se a própria paisagem, onde ações e transformações podem ser avaliadas pela
história, estabelecendo, portanto, um dialógo entre si, dialógo esse estabelecido neste trabalho
entre a paisagem e a história de Campo Maior.
Ressalta-se que esses jardins públicos são espaços cujas paisagens contribuem para
amenizar as altas temperaturas. Tornam-se lugares convidativos a encontros, a lazer, espaços
arborizados dos quais a população pode desfrutar, e que atualmente se faz tão necessário,
mediante a correria do dia-dia, as rápidas transformações. De acordo com Roberto Burle Marx
(2004, p. 74),

Nesta época em que o homem da cidade está mais do que esprimido e sufocado em
sua moradia, onde a ordem é “mínimo standards”, há necessidade de se criar
grandes espaços livres, onde se possa respirar, entrar em contado com a natureza, ter
a oportunidade de poder meditar, contemplar uma flor ou uma forma vegetal num
lugar sossegado, dar a juventude o prazer de desfrutar despreocupadamente o
esporte e a vida ao ar livre.

Com relação à contribuição desses espaços arborizados para amenizar as altas


temperaturas, enfatiza-se que isso se efetiva na prática, o que revela mais um dos aspectos da
paisagem. No tocante à paisagem, Carlos Andrade (2005) discorre sobre como esta pode
contribuir para amenizar o calor em Teresina, destacando que as paisagens representadas pelo
verde público, nesse caso, correspondem ao espaço público das ruas, praças, avenidas e
parques de Teresina, e o privado contribuem para a superação do calor.
Nessa linha de pensamento, convém enfatizar que a cidade de Teresina, também
possui alguns trabalhos realizados por Roberto Burle Marx: os jardins do Palácio de Karnak,
sede do Governo do Estado do Piauí, participando desse projeto o arquiteto José Tabacow, a
Praça Monumento Da Costa e Silva, e os jardins do Rio Poty Hotel, que se tratam de um
54

espaço privado. Com relação à Praça Monumento da Costa e Silva, Wilza Lopes et al (2013,
p. 192) salientam que

O governador do Piauí, Dirceu Arcorvede, convidou o arquiteto Acácio Gil Borbosi


e o paisagista Roberto Burle Marx para criarem uma praça-monumento, com a
intenção de homenagear um dos mais fomosos poetas do estado, autor da letra do
Hino do Piauí, Antonio Fracisco da Costa e Silva.

No momento em que surge a proposta de projetar esse jardim público em Teresina não
se pensou apenas em uma área de lazer e sim também em ser um monumento em homenagem
ao poeta Da Costa e Silva, uma das referências culturais da cidade, na qual pontua-se a
participação do paisagista Roberto Burle Marx, que fez uso de diversas espécies para a
composição florística dessa Praça, tais como a Carnaúba, Abricó-de-macaco (Couropita
guianensis Aubl), Boa-noite, Ipê-amarelo (Handranthus chrysotrichus), Bacuri (Platonia
insignis Mart), dentre outras espécies que permitiram ao paisagista relacionar os ritmos, as
texturas e volumes nas massas vegetais.
Verifica-se a criação da praça-monumento, cujo espaço foi aproveitado por muitas
pessoas de diferentes segmentos sociais, contudo ressalta-se que a mesma passou por
mudanças, pois a própria sociedade modificou-se, e atualmente a Praça apresenta algumas
modificações com relação ao projeto original, a exemplo das espécies, que hoje existem
apenas em número de 6 das 34 especificadas no projeto original, o que evidencia que algumas
foram retiradas e outras foram acrescentadas a esse jardim público.

O traçado original do projeto foi pouco modificado, permanecendo quase inalterado.


Foram acrescidos caminhos com piso concreto, seguindo as linhas de desejo
existentes. Ainda foram inseridos alguns bancos, do mesmo padrão dos já existentes,
mas em outros locais, acompanhando a circulação, e foi colocado um busto do poeta
homenageado (LOPES et al., 2013, p. 205).

Essas são as mudaças pelas quais passou esse jardim público, no qual Burle Marx
criou um “ambiente contemplativo, que explora a vegetação local distribuída no entorno do
espelho d’água central [...]. O espelho d’água reflete a beleza e os detalhes da vegetação,
atraindo os olhares dos visitantes” (SÁ CARNEIRO, 2010 apud LOPES et al., p. 208).
A participação do paisagista Roberto Burle Marx nesse projeto foi muito importante,
sendo que ele usou os mesmos princípios e concepções que usava ao projetar os jardins em
outras cidades, buscando uma relação das espécies com a paisagem local, bem como
relacionando aspectos e elementos dos jardins com a história da cidade, e, nesse caso,
55

enfatiza-se que esta praça-monumento comunga muitos aspectos dos jardins de Campo Maior,
cujos elementos apresentam também relação com a história e cultura da cidade.
Numa visão geral, observa-se que os jardins públicos abordados neste trabalho,
mesmo possuindo características e aspectos próprios, relacionados a seus lugares de origem,
estabelecem uma relação com a história e cultura local. Mesmo estando em espaços fisicos
diferentes e com necessidades de conservação próprias de cada um, pode-se visualizar que os
jardins têm em comum alguns aspectos correlacionados com sua realidade, problemas e
desafios de conservação, são patrimônios culturais, sinalizando as transformações da
sociedade e do homem. Assim, estabeleceu-se um diálogo, obviamente respeitando seu
espaço de origem e suas características, entre os jardins públicos.
Apresentaram-se, portanto, os jardins históricos de Campo Maior e verificou-se que
cada jardim analisado possui suas próprias dimensões, onde a planta ganha forma, cor, textura
e o artista que o projeta com sua visão de mundo imprime nele suas concepções, transmitindo
assim uma mensagem, sendo mais do que uma associação de plantas; é uma das formas que o
homem utilizou-se para se expressar a visão que tem do mundo e de si mesmo. E, ao conhecer
mais sobre os referidos jardins, conheceu-se mais sobre a própria história da cidade. A partir
da análise dos mesmos, dos seus elementos constituintes foi possível estabelecer relações e
conexões com fatos que se procederam na cidade.
56

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A paisagem como objeto de estudo e sua amplitude para outras áreas do conhecimento
possibilitaram o surgimento de novas concepções e perspectivas sobre a mesma, obviamente
pautados a partir de um embasamento teórico e metodológico específico. A paisagem, assim,
pode ser lida como um documento que expressa a relação do homem com seu meio,
mostrando as transformações que ocorreram ao longo do tempo, bem como pode ser
testemunha da história dos grupos humanos que ocuparam determinado espaço. Para cada
abordagem, seja da Geografia ou da História, constrói-se o entendimento sobre a paisagem, e
como essa paisagem passou por mudanças, estas algumas vezes são resultados das ações do
homem e, dessa forma, a paisagem também é um produto da sociedade da qual está inserida.
Pontua-se que, nesse caso, avalia-se a paisagem cultural como resultante da interação
do homem com o meio, na qual a UNESCO, em 1992, instituiu como patrimônio cultural,
abrindo um campo fértil de discussões, que podem ser direcionadas, dentre outros aspectos,
para a preservação desse patrimônio cultural, suscitando novas discussões e análises.
Com relação ao seu conceito, entende-se que seria inviável apreendê-lo em um único
conceito, restringindo e delimitando seu entendimento, pois até mesmo a UNESCO apresenta
vários entendimentos sobre a paisagem cultural. Têm-se as “paisagens claramente definidas”,
aquelas que surgem de uma intenção própria; “paisagem evoluída organicamente”, aquela que
acontece com o tempo; e a “paisagem cultural associativa”, aquela que adquire um significado
próprio.
Mediante esses entendimentos que possibilitaram o embasamento teórico, partiu-se
para análise dos jardins históricos do Brasil e posteriomente de Campo Maior. Analisou-se
desde a sua criação – e, nesse caso, contextualizou-se o momento em que isso se procedeu,
destacando as primeiras cidades que receberam seus jardins, bem como o contexto histórico e
os discursos que permearam sua criação – e avaliou-se também sua estrutura como um todo,
incluindo a paisagem cultural dos mesmos. Por isso, fez-se necessário um entendimento sobre
paisagem até chegar aos jardins históricos de Campo Maior, foco deste trabalho.
Campo Maior, “cidade das carnaúbas”, é assim conhecida pelos seus vastos campos
verdes, palco de acontecimentos históricos, a exemplo da Batalha do Jenipapo, acontecimento
de significância nacional. Cresceu e prosperou com o ciclo do gado e posteriomente com mais
ênfase com o ciclo da carnaúba. Essa planta possibilitou inúmeras mudanças na malha urbana
da cidade: realizaram-se novas construções, como postos de saúde, melhoramentos e
reconstruções de escolas. Tais fatos são resultantes da cera da carnaúba, que, mesmo
57

apresentando oscilações na sua produção, foi de fundamental importância para o


desenvolvimento da cidade.
Acontecia, assim, a urbanização em Campo Maior, no entanto fazia parte de um
processo lento, em que as mudanças procediam-se de forma gradual, modificando a cidade
aos poucos, pois ainda tinha muito o que melhorar, o que posteriomente se efetivou na prática.
Foi nesse momento de crescimento e urbanização que surgiram os seus jardins históricos, e,
inseridos nesse contexto, os jardins tornam-se fontes, documentos que possibilitam conhecer
Campo Maior, pois os mesmos fazem parte tanto da cidade quanto da sua história.
Assim, analisaram-se essas relações e conexões entre os jardins históricos e a cidade
de Campo Maior, em que foi possível verificar que esses espaços ajardinados são constituídos
de elementos que sinalizam para diversos aspectos da cidade, que ora revelam fatos de cunho
social, ora apontam para a cultural local.
Para tecer essas avaliações e posteriomente lançar reflexões, delimitaram-se os jardins
públicos da cidade, correspondentes aos seguintes espaços ajardinados: a Praça Bona Primo, a
Praça Luiz Miranda e a Praça Valdir Fortes. Mas, convém enfatizar que esses foram
importantes objetos de estudo porque, apesar de não serem os únicos presentes em Campo
Maior, são contudo os que estão localizados em pontos estratégicos da cidade, onde há uma
maior circulação das pessoas e consequentemente uma maior movimentação.
Realizaram-se as análises desses jardins históricos baseadas, dentre outras leituras, nas
Cartas Patrimoniais para refletir sobre seu aspecto patrimonial. A Carta de Florença (1891),
no artigo 23, explicita que cabe às autoridades responsáveis adotar, sob a orientação de peritos
competentes, as disposições legais e administrativas apropriadas a identificar, inventariar e
proteger os jardins históricos. Para tanto, não existe um órgão na cidade de Campo Maior com
essas atribuições que possa auxiliar na conservação dos mesmos, ficando assim a cargo de
terceiros tomar tais decisões.
Compreendeu-se, ao longo dessa pesquisa, que também foi realizada em paralelo
com a história de Campo Maior, a dimensão desses jardins enquanto patrimônio cultural, e,
como tal, torna-se necessário ampliar as discussões sobre sua preservação, pois se entende que
os desafios são muitos e as mudanças constantes, afetando os mesmos. Porém, não significa
que as medidas de preservação sejam impossíveis de serem colocadas em prática. Contudo, é
de fundamental importância conhecê-las para poder atuar de forma adequada.
A despeito disso, observou-se a inexistência de cuidados adequados com os jardins de
Campo Maior, o que inevitavelmente causa danos negativos a eles, e, para além disso, os
jardins perdem seus elementos constituintes, suas características e aspectos que os ligam com
58

a história da cidade, prejudicando também seu aspecto patrimonial. Por isso, torna-se
necessária uma maior discussão sobre esses espaços ajardinados, que, a cada instante, estão
suscetíveis de transformações, causadas pelo tempo e pelas ações humanas, e ressalta-se que a
vegetação, um dos elementos que compõem os jardins, possui seu próprio ciclo evolutivo, o
que implica medidas específicas.
Dessa maneira, os jardins históricos de Campo Maior tornaram-se documentos de
análises, permitindo conhecer as mudanças pelas quais a cidade passou. Dialogou-se com
cada elemento que constituía os jardins públicos, com sua vegetação, em sua maioria
composta por carnaúbas, com seus aspectos arquitetônicos, incluindo seus traços sinuosos e
irregulares, o entorno das praças, com suas construções que formavam uma paisagem
específica para cada jardim. Nessa perspectiva, olhou-se para a praça como um todo.
Mediante essa observação, avaliou-se sua paisagem cultural, que, ao longo do tempo, foi
ganhando sentido e significados, pois é resultante da ação do homem e esse, por sua vez, parte
de um lugar, de uma sociedade com ideais, valores e cultura própria.
59

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63

GLOSSÁRIO

Ajardinar: Transforma em jardim.


Alameda: Rua ou avenida marginada de árvores.
Arbóreo: Relativo ou semelhante à árvore.
Arbustivo: Da natureza do arbusto.
Arborizado: Plantado ou cheio de árvores.
Autóctone: Que é oriundo da terra onde se encontra.
Axial: Eixo principal.
Canteiro: Porção delimitada de terreno cultivado de plantas.
Chafariz: Construção de alvenaria, com bica (s) por onde jorra água.
Entremeados: Mistura
Exótico: Não é originário do mesmo País.
Flora: Conjunto das espécies vegetais duma região.
Florística: É uma disciplina da botânica que estuda a distribuição de espécies de plantas e
suas relações.
Frutífera: Que dar frutos.
Jardim: Terreno onde se cultiva plantas ou vegetais de toda natureza.
Herbáceo: Que tem a consistência e o porte de erva.
Mobiliário: Conjunto de moveis, mobília.
Ornamentar: Enfeitar.
Paisagista: Pessoa que projeta áreas verdes e jardins.
Paisagística: A arte do paisagista.
Porte: Aspecto físico.
Repuxos: Ato ou efeito de repuxar.
Rígido: Inflexível, rigoroso.
Sinuoso: Que apresenta curvas irregulares em sentidos diferentes.
Traço: Aspecto, delineamento.
Vegetação: O conjunto de plantas de uma determinada região.
64

S725n Sousa, Ana Claudia de

Natureza e patrimônio em percepção: os jardins históricos de


Campo Maior-Piauí. / Ana Claúdia de Sousa, 2014.
63 f. il.
Monografia (Graduação em História) – Universidade Estadual do
Piauí; 2014.
Orientador: Domingos Alves de Carvalho Júnior
1. Paisagem cultural. 2. Jardins históricos. 3. Campo Maior-PI.

I. Título
CDD 306.09

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