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Cadernos PDE
VOLUME I
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009
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Luiz Gering 1
Marco Aurélio M. Pereira 2
RESUMO
Este artigo traz uma reflexão dos valores culturais, vivenciado pela comunidade
sertaneja, e sua conseqüente aculturação, a implementação da pesquisa de campo
constatou alguns problemas sociais com transformações em vários aspectos da
realidade, como a qualidade de vida, educação, saúde, lazer, religiosidade entre
outros, e com um distanciamento entre ricos e pobres e degradação do meio
ambiente. A observação da realidade em que vive a comunidade na qual a escola
Milton Sguário está inserida, nos fez perceber a perda de valores culturais, devido a
aculturação da população. A identidade camponesa, com prática da agricultura
familiar está desaparecendo e cedendo lugar ao cultivo do reflorestamento de pinus.
A constatação de grandes problemas sociais, a partir de certa fragilidade em relação
a qualidade de vida, parece ser natural pelo grande distanciamento entre
privilegiados e desfavorecidos, com destaque do deslocamento da riqueza produzida
para outros locais. O objetivo desse trabalho foi proporcionar espaços de reflexão
sobre a realidade em que vivem os moradores do Sertão de Jaguariaiva, e realizar
atividades escolares de valorização de sua identidade, para que se tornem assim
sujeitos de sua própria história, com maior autonomia. A metodologia adotada foi o
trabalho com a história oral, resgatando a memória cultural, com questionários e
entrevistas com as pessoas mais idosas e com mais conhecimento sobre a
formação e história do Sertão. Com os resultados alcançados, acreditamos ser
possível fazer com que os alunos, moradores do sertão, conheçam e valorizem a
sua identidade e sua história.
ABSTRACT
place to the cultivation of reforestation of pinus. The finding of large social problems,
from a certain fragility in relation to quality of life, seems to be natural by the great
distance between privileged and disadvantaged, in particular the displacement of the
wealth produced in other locations. The goal of this work was to provide spaces for
reflection on the reality in which they live the inhabitants of Sertão Jaguariaiva,
school activities and perform the recovery of your identity, to become so subject to
their own history, with greater autonomy. The methodology adopted was working with
oral history, rescuing cultural memory, with questionnaires and interviews with older
people with more knowledge about the formation and history of the Sertão. With the
results achieved, we believe it is possible to do with students, residents do Sertão,
know and appreciate its identity and its history.
INTRODUÇAO
METODOLOGIA
vivenciadas pela comunidade, após essa etapa tem início a reflexão sobre o
questionário e sua aplicação junto à comunidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A conversa com o Prof. José Axt, foi muito importante para realização desse
artigo. A História do Sertão começa antes da chegada do homem branco, quando os
índios possuíam uma via terrestre que cortava o sertão de cima, no período pré-
colombiana de 200 légua existente no século XVI tida como transitável era o
chamado caminho de Peabiru, percorrido inicialmente pelo explorador espanhol
Dom Alvarez Nuñes “Cabeça de Vaca” em 1541. Era uma rota continental que
ligava o Oceano Atlântico ao Pacífico.
O tronco principal partia de São Vicente ou de Cananéia no litoral paulista,
entrava no território paranaense pelo Vale do Assungüi, seguindo pela região dos
Campos Gerais e pelos cursos dos rios Tibagi, Cantu e Ivaí, atingindo o Rio Paraná,
penetrava em território paraguaio e terminava no Peru pela Cordilheira dos Andes. O
caminho do Peabiru possuía numerosas ramificações para o norte e para o sul com
denominações diferentes. Muitas pessoas transitando por essa via terrestre tiveram
oportunidade de conhecer um dos principais produtos da economia paranaense, a
erva mate.
Com a chegada dos primeiros habitantes na região do sertão, já foi possível
perceber a existência de grande quantidade de erva mate nativa e muito utilizada
pelos povos indígenas, percebendo assim sua importância apesar de ser uma erva
proibida pelas autoridades da igreja Católica. Os primeiros moradores faziam a
coleta da erva e com cargueiros nos lombos dos burros ou mesmo de cavalos
transportavam até a cidade na época não existiam estradas apenas alguns carreiros
de difícil acesso, na cidade as ervas eram comercializadas com objetivo de comprar
os produtos de primeira necessidade não produzidos no sertão como, por exemplo,
o sal, querosene e tecidos.
A pesquisa foi realizada na comunidade dos bairros que compõe o Sertão de
Cima, os quais se localizam no município de jaguariaíva estado do Paraná cidade
que contem aproximadamente 33 mil habitantes, a qual foi elevada à categoria de
freguesia em 1823, no ano de 1875 a categoria de vila, em 1892 a categoria de
município e em 1908 a categoria de cidade.
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como mandioca, feijão milho, alho, cebola, vagem, cenoura, beterraba, couve, frutas
em geral, carnes de frango e porcos, além de outros produtos para promoção da
qualidade de vida, com manutenção da própria identidade além da valorização da
terra. Esta comunidade conhecida como sertaneja é o distrito que primeiramente foi
denominado Jaguaricatu, depois Bertagnoli e finalmente Eduardo Xavier da Silva
composto das seguintes: comunidades3 popularmente conhecidas como sertão.
Em 1915, instalou-se uma serraria de médio porte da firma J. Hauer & Cia.,
no Bairro da Boa Esperança, gerenciada por Francisco Bertagnolli para explorar as
grandes áreas de pinheirais e outras espécies de madeira nobre existentes na Boa
Esperança e em outras áreas do Sertão de Cima, iniciando assim a devastação das
matas, como ocorreu em diferentes partes do território nacional, tendo como
conseqüência o desequilíbrio da natureza com inúmeras catástrofes vivenciadas na
atualidade.
Na Boa Esperança, além da serraria desenvolveu-se um vilarejo que contava
com alguma infraestrutura, como hospedaria, armazém de secos e molhados,
açougue, barbearia, ferraria e farmácia. Ali foi construída uma igreja e um cemitério
e quando tudo fazia crer que o povoado tinha condições de prosperar e até se
transformar em uma vila, a serraria começou a ser desativada com o esgotamento
da matéria prima. Os “desbravadores” ou “devastadores” do Sertão de Cima se
transferiram para outras paragens, o vilarejo entrou em decadência deixando uma
herança protagonizada pela ação do homem que dificilmente será reconstituída pela
natureza.
Outras serrarias de pequeno porte foram instaladas no interior do município e
entre elas a de Domingos Scolaro, em 1928, no Bairro do Gentio, quando foi
inaugurada a “Estrada do Gentio”. Após a exaustão da madeira, muitos
descendentes da família Scolaro se radicaram na cidade e entre eles Antônio,
Humberto e ainda, João Pivovar e Miguel Valenga.
Em 1940, começou a se instalar no Distrito Eduardo Xavier da Silva, no bairro
da Cachoeira a empresa de J. Sguário & Cia., para produzir pasta mecânica. A
empresa tinha entre seus sócios João e Luiz Sguário, Edgard Barbosa, João Lupion,
Rivadávia Vargas e os irmãos João e Alberto Menin. Em 1951, foi iniciada a
construção da fábrica de papelão, no bairro do Jangai (na Barra Brava). A conclusão
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Jangai, Bonsucesso, Boa Esperança, Gentil, Alves, Cadeado, Espigão Alto, Lanças, Cerrado da Roseira,
Morro Azul,Chapadão, Cachoeira , Campina do Elias, barrinha e bairro dos Barretos.
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Segundo a população local seus fundadores foram: Sr. João e Luiz Sguario, com os
filhos do Sr. Luis Sguário o Sr. Celso e Milton Sguário do qual deu origem ao nome
do Colégio Estadual Milton Sguario, para a qual atende todos os bairros do sertão de
cima, comunidades em que se realizou a pesquisa, com a implementação do projeto
de intervenção.
Com a implantação da firma Sguário no local, logo formou uma vila ao redor,
com grande número de casas e construção de alguns sobrados em estilo antigo,
com apenas duas pequenas portas e duas janelinhas cada construção.
Os moradores locais convencionaram chamar de prédio, pois na década de
1940, os habitantes da região desconheciam casas feitas de tijolos e muito menos
sobrados, esse tipo de habitação foi incorporada junto a vida da comunidade,
tornando assim uma nova identidade carregada de aspectos da cidade, com as
tradições locais, associando a vida operária, com a vida agrícola, tirando sua
sobrevivência da terra e do salário recebido na fábrica.
Essas casas foram feitas pelos proprietários da firma para seus próprios
funcionários, para ficarem próximo ao local de trabalho, racionalizando assim o
funcionamento da empresa, oportunizando a excelência na produção de seus
produtos, mas apesar de toda eficácia e preocupação de seus administradores
houve muitos momentos de crises, esse empreendimento constituiu em uma cultura
própria para o local, mas após quase 70 anos de funcionamento a fabrica Sguário
veio fechar as portas.
Os trabalhadores da fábrica, além do trabalho na empresa, também
preservavam sua identidade, e com esses costumes produziam parte dos alimentos
consumidos por seus familiares, o costume vivenciado nas cidades através do
trabalho assalariado vivenciado por parte da população sertaneja durante quase
setenta anos, a qual é incorporada na vida dessas pessoas, assim sendo podemos
perceber que esse ocorrido fará parte do passado dessas pessoas, ou seja, ficara
na memória coletiva da comunidade em documentos históricos para serem refletidos
nos campos de conhecimento para que as futuras gerações possam tomar ciência
de sua própria identidade a esse respeito é interessante relatar os dizeres de José
Antônio Vasconcelos 2007.
Podemos afirmar que a historia enquanto campo de conhecimento, sempre
existiu. Assim como o passado de uma pessoa é importante para que ela
saiba reconhecer sua própria identidade, também os vários povos da terra
buscam narrativos acerca do seu passado, pois as comunidades humanas
também têm identidade. Reconhecemos-nos como brasileiros, por exemplo,
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tema, parece quase impossível, obter uma definição, conceituação pronta e acabada
isto é de forma conclusiva. Pode-se refletir sobre o texto contido no livro de
educação e diversidade de Mario Sérgio 2007, p, 27 e 28, que diz o seguinte:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
FERREIRA, Marieta de Moraes. História, tempo presente e História Oral.
Topoi, Rio de Janeiro, dezembro 2002, pp. 314-332.