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VALE DO IVAÍ: Conflitos e ocupação das terras regionais.

Lúcio Boing 1

RESUMO

Este artigo tem como objetivo fazer uma análise do “Folhas”: - Vale do Ivaí: Conflitos e
ocupação das terras regionais, que apresenta a pesquisa sobre a história e ocupação
das terras da região, bem como o quanto dessa história constitui o universo de
conhecimento das gerações que a vivenciaram e o quanto a geração que participou dos
conflitos apropria-se dessa história e a socializa com as novas gerações através da
oralidade, sendo assim discutido o processo de registro da história e mais
especificamente a contribuição da história oral para a base de entendimento e resgate de
fatos que marquem o período de colonização e posse da terra da região central do Estado
do Paraná. Apresenta dados da aplicabilidade desse material didático pedagógico e
discute a interatividade de professores da rede pública através do programa PDE, no
decorrer do Curso: Grupo de Trabalho em Rede, que utiliza com ferramenta de interação
a Plataforma MOODLE.

PALAVRAS CHAVES - MATERIAL DIDATICO PEDAGÓGICO – HISTÓRIA – ORAL

1
This article has as objective to make an analysis of “Leves”: - Valley of the Ivaí: Conflicts

and occupation of the regional lands, that present the research on history and occupation

of lands of the region, as well as how much of this history it constitutes the universe of

knowledge of the generations that had lived deeply it and how much the generation that

participated of the conflicts assumes of this history and it socializes more specifically it with

the new generations through the verbal history, being this argued the process of register of

1
Professor PDE 2007, SEED-PARANÁ- Área de concentração : HISTÓRIA. Especialista em Filosofia Moderna
e Contemporânea-( UEL) e Metodologia do Ensino Superior ( UNOESTE ) graduado em Estudos Sociais
(FEBE). E-mail:lucioboing@hotmail.com.Professor da Rede Pública de ensino desde 1987, professor da
UNIVALE- Ivaiporã desde 1997, atuando nos cursos de Pedagógica e Letras/Português Inglês. Pesquisador
de História local.

1
history and the contribution of verbal history for the agreement base and rescue of facts

that they mark the period of settling and ownership of the land of the region central office

of the State of the Paraná. It presents day of the applicability of this pedagogical didactic

material and argues the “interatividade” of professors of the public net through program

PDE, in elapsing of the Course: Work group in Net, that uses with interaction tool Platform

MOODLE.

Keywords – didactic material – verbal - history ,

1. INTRODUÇÃO

A articulação do trabalho em sala de aula com as produção didático pedagógica é

corriqueira na prática docente, seja na escola pública ou privada, todavia essa prática

raramente é sistematizada e registrada de forma a construir um material que possa

conferir ao professor a sua condição de produtor, sendo muitas vezes fruto da

necessidade diária e tendo como fim o uso em sala de aula com o educando sendo

depois desconsiderado ou somente reutilizado em outra turma em outro ano. Também o

professor poucas vezes, tem oportunidade de dividir sua produção com colegas que a

utilizem e avaliem sua viabilidade. O estado do Paraná em busca de melhoria e qualidade

no ensino público proporcionou aos professores da rede estadual de educação a

oportunidade de participar do PDE - PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL2 e dentro deste programa a proposta de construção de material

pedagógico para a rede pública, uma vez, que o estado do Paraná é pioneiro na produção
2
- PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO PARANÁ. É uma política
pública que estabelece o diálogo entre os professores da Educação Superior e os da Educação Básica,
através de atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e
mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense.
O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, integrado às atividades da formação continuada
em Educação, disciplina a promoção do professor para o Nível III da Carreira, conforme previsto no
Plano de Carreira do Magistério Estadual, Lei Complementar nº 103, de 15 de março de 2004.

2
do LDP – Livro Didático Público, no formato “Folhas” e também na formação continuada

através da Plataforma Moodle, no Grupo de Trabalho em Rede.

A avaliação da prática docente e mais especificamente da sua produção didático

pedagógico seja ela de quaisquer áreas implica em assegurar a diretriz da mantenedora.

2. O ENSINO DE HISTÓRIA

De acordo com as DCE – Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, o ensino de

historia tem por finalidade desenvolver a consciência histórica dos sujeitos históricos, a

mesma DCE de História apresenta o ensino da disciplina através dos conteúdos

estruturantes: as relações de trabalho, as relações de poder e as relações culturais,

sendo que para constituir essas relações faz se necessário a compreensão da relações

locais, isto é tem como ponto de partida a História e da Memória Local articulando

questões locais e questões universais, o grande e o pequeno espaço, um curto e o longo

espaço de tempo.

Outro conceito importante para a história é o da identidade. A identidade de um

grupo se constitui quando os seus membros mantêm um passado comum. Quando há um

sentimento de pertencimento a um agrupamento de indivíduos que ocupam um mesmo

espaço. A experiência de um passado comum faz com que os indivíduos construam uma

memória e uma história comum. Construam memórias que deixam de ser individuais

tornando-se coletivas e vai se constituindo em uma identidade dessa coletividade. Diante

disso é importância e a manutenção, através da pesquisa e narrativa, da história e da

memória dessa coletividade, pois é justamente essa memória que confere aos indivíduos

o sentimento de compartilhamento de um passado comum.

Reconhecendo que indivíduos de culturas diferentes se encontram e estabelecem

relações que como tempo passa a se constituir uma nova identidade se percebe a

dinâmica da história. As relações entre o individual e o coletivo e entre o presente e o

3
passado são dialógicas e acabam por constituir uma espécie de unidade presente a partir

da multiplicidade de culturas, valores e poderes do passado. Por isso é de suma

importância buscar os elementos da memória que compõe essa identidade. A própria

memória das pessoas torna-se uma memória coletiva, uma memória que representa,

além dos elementos individuais, todo o sistema de relações estabelecidas no passado e

no presente. Portanto, compreender a memória de um grupo social é de fundamental

importância para compreender a sua identidade, seja ela, local, regional ou de uma

nação. E, é esta a tarefa do historiador. Sobre isso afirma Arias Neto que “Reintegrar o

passado, perceber a identidade presente e projetar um futuro mais justo e humano

constitui a dimensão política do trabalho do historiador...”(ARIAS NETO, 1995).

Registrar a história e a memória da ocupação das terras do município de Ivaiporã

significa, de certa maneira, buscar o sentido do presente, significa a tentativa de

compreender as relações e representações existentes no presente.

Enfim, pesquisar e referenciar a memória regional são de fundamental importância

para desenvolver nas pessoas um sentimento de origem e de pertencimento ao lugar em

que vivem como também conferir ao indivíduo um ponto de referência, uma cultura

própria que possa se contrapor ao discurso globalizante atual. Um discurso

homogeneizante que se apresenta com uma visão de mundo cosmopolita e único,

incorporando as culturais regionais como mercadoria.

3. O OBJETO DE ESTUDO

O município de Ivaiporã está localizado na região central do estado do Paraná com

aproximadamente 32.000 habitantes. É a cidade pólo da região central do estado e sua

economia gira em torno de produção agropecuária bastante diversificada e pela riqueza

gerada pelo comércio e serviços regionais, também estão situadas neste município

diversas secretarias estaduais as quais geram movimentação de pessoas de todo o

4
entorno em busca desses serviços que por sua natureza registram a historia de munícipes

de todo o Vale do Ivaí.

Há no município uma valorização do pioneirismo na ocupação das terras, no

entanto não há uma narrativa histórica baseada na tradição historiográfica. Contam-se

muitas histórias sobre o processo de ocupação das terras, sobre as dificuldades, conflitos,

sobre a companhia colonizadora, sobre os pioneiros. Há também alguns relatos escritos

que necessitariam de comprovação e análise. O problema seria, portanto, pesquisar e

construir uma narrativa que represente a memória coletiva do processo de ocupação das

terras da região do município de Ivaiporã e dos municípios dele desmembrados que

compunham o antigo Imóvel Ubá.

A primeira questão que surge com o início das pesquisas é de que a história da

região não é conhecida no contexto da História do Paraná, visto que não há registro em

livros. Há que se perguntar então a quem interessa conhecer a História do Vale do Ivaí. Aí

várias questões aparecem como: as lideranças locais trabalhavam para a Companhia

Colonizadora; trata-se de uma região de pouco desenvolvimento econômico; não há

Universidade. A constatação é de que a história da ocupação das terras do imóvel Ubá,

situadas entre os rios Ivai e Corumbataí, onde posteriormente foi construída a cidade de

Ivaiporá3 é praticamente desconhecida e, portanto, não contada nos livros de História do

Paraná. Existem alguns relatos memorialísticos referindo-se a região apenas como um

espaço geográfico e com informações imprecisas como: “no vale do Ivaí, 9.860 alqueires

foram transferidos à Geremias Lunardelli, que iniciou colonização própria, dando origem a

Lunardelli , São João do Ivaí e São Pedro do Ivaí, entre outras cidades”( SHWARTZ, in

STECA, 2002 ); “...entre os rios Corumbataí e Ivaí, em terras ainda em questão com os

antigos concessionários, pretende o governo do estado fundar outra colônia, visando

também a fixar a população já aí radicada”(BERNARDES, 1953) 4. Esses relatos denotam


3
Do município de Ivaiporã foram desmembrados os seguintes municípios: São João do Ivaí, Godoy
Moreira, Lunardelli, Lidianópolis, Jardim Alegre, Arapuá e Ariranha do Ivaí
4
-.Este fragmento do artigo “o problema das ‘frentes pioneiras’ no Estado do Paraná”, escrito em 1953,
demonstra conhecimento dos problema referentes a posse da terra da região, contudo , sem muita
clareza.

5
um desconhecimento sobre a região. Não há menção ao imóvel Ubá, ou da Sociedade

Territorial Ubá Ltda – STUL - ou da Fazenda Ubá e de seus proprietário e

administradores, os Barbosa e àqueles homens e mulheres que cultivavam a terra,

construíram as cidades, isto é, aos personagens principais desta história.

Essa constatação da falta de pesquisa torna este trabalho ainda mais importante

ou necessário.

O objetivo então é compreender o que teria de fato acontecido no processo de

ocupação das terras entre os anos 40 e 50. Os conflitos acontecidos entre os

imigrantes, os posseiros, a companhia colonizadora e o governo na definição ou

indefinição do direito de posse da terra.

Como a ocupação da região deu-se a partir da década de 40 temos ainda a sua

memória viva. Contudo esta memória se não registrada, pode “morrer” e/ou ser

esquecida. Por isso a urgência do registro desta memória através da pesquisa com as

fontes orais.

4. A HISTÓRIA ORAL

A metodologia da História oral amplia a noção de fonte história. Utilizando os dados

orais oferece lugar na história àqueles que não souberam e puderam se expressar.

Os depoimentos orais são importantes para oferecer outras versões, como já fazia

Heródoto, àquela história que se impõe como hegemônica. Proporciona condições de

uma interpretação menos dogmática e mais acolhedora das diferenças culturais do

presente e conseqüentemente do passado e servindo de base para o confronto de

diferentes pontos de vista sobre a mesma realidade.

A história oral é a possibilidade de dar voz aqueles que não são ouvidos, pois a

escrita e a produção das fontes da chamada história oficial estiveram quase sempre a

cargo dos vencedores, ou seus representantes. A coleta de informações ou de histórias

6
de vida significa o registro da palavra de pessoas que, sem a mediação do pesquisador,

não deixariam nenhum testemunho. A riqueza da história oral está no exercício da

pluralidade de testemunhos que mostram uma mesma realidade de diferentes e variados

focos, demonstrando a dinamicidade e a complexidade das relações que compõe a

história, e rompe com visão factual e rígida do passado.

Nos depoimentos orais deve-se tomar devido cuidado com a ação do tempo, pois a

memória humana é passível de esquecimentos, e condicionada pelos desejos não

atingidos e frustrações sofridas que podem provocam omissões e certos exageros. O

passado acaba sendo recriado a partir do presente, a fim de dar justificativa para a vida

atual. Le Goff afirma que ”a memória é um elemento essencial... cuja busca é uma das

atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia.

Mas a memória coletiva é não somente uma conquista, é também um instrumento e um

objeto de poder.” (Le Goff, 1924). Por isso os depoimentos orais terão que ser analisadas

criteriosamente.

Cada Município da região tem sua narrativa histórica, que valoriza algumas datas

oficiais, figuras de “pioneiros”, pessoas ilustres. Essas narrativas precisam ser analisadas

com cuidado, pois, as próprias fontes escritas não são material, objetivo e inocente. Elas

representam as relações de poder estabelecidas no tempo e precisam ser analisadas com

muito cuidado.

5. A OCUPAÇÃO DAS TERRAS DA REGIÃO DE IVAIPORÃ

Estudando a ocupação das terras do Estado do Paraná constata-se que a

ocupação das terras de Ivaiporã e região, ou da Fazenda Ubá podem ser compreendida a

partir do processo de ocupação das terras do Estado Paraná. Processo esse que é

compreendido como um fenômeno que se deu em vários momentos e movimentos de

ocupação através da imigração direta ou da reimigração a partir de outros Estados e de

7
dentro do próprio Estado. Essa ocupação do nosso Estado é explicada por muitos

historiadores como frentes de colonização5: a frente tradicional, a frente do norte e a

frente sulista a partir do que se fala da existência dos três paranás, pois, são culturas

diferentes que ocuparam espaços diferentes.

“Observe o mapa a seguir:”

Mapa demonstrando as frentes de ocupação do Paraná Fonte: LAZIER, Hermógenes. Paraná: terra de todas as gentes. Francisco Beltrão, 2003, p. 154.

(obs. este mapa não tem legenda no original)

Observando o mapa e verificando a origem das pessoas que ocupam a região do

Vale do Ivaí pode-se afirmar que nele há um encontro das três frentes colonizadoras.

Esse encontro das três frentes é importante para conceber a ocupação das terras da

região do vale do Ivaí se observarmos que a região se encontra justamente no espaço de

confluência das três frentes colonizatórias.

5. O MATERIAL DIDÁTICO

O material pedagógico produzido se inicia com a seguinte problematização: foi


5
Frentes de colonização: frente tradicional é a ocupação antiga a partir da mineração na serra do mar e dos
campos gerais com o tropeirismo; as frentes sulista e nortista representam a ocupação mais recente com a
vinda dos gaúchos e catarinenses pelo sul e dos paulistas, mineiros, nordestinos... vindos do norte no
cultivo do café

8
grilagem, posse ou reforma agrária.

Nas entrevistas aparecem muito claramente e de modo constante a questão dos

conflitos entre os imigrantes e a Companhia ubá, isto é, a Sociedade Territorial Ubá Ltda,

de onde se pode concluir que as terras do Imóvel Ubá (STUL) foram sendo ocupadas a

partir de relações bastante conflituosas. Compreender esses conflitos era a questão. Qual

seria a sua origem. E para compreendê-los é necessário voltar no tempo, no processo de

grilagem da terra.

A complementação da problematização do material pedagógico tem a seguinte

questão: de 7(sete) alqueires a 100.000 alqueires. Como 7 (sete) alqueires puderam se

transformar em 100.000 alqueires.

Para compreender esta questão faz-se necessário acompanhar o histórico

documental desse imóvel.

Esta terra ou imóvel, inicialmente, teria pertencido a José de Lima por divisa

cantada. Este a vendeu para Manoel Soares da Silva Lima em 1853 conforme escritura

de 2 de Dezembro de 1853 em Colônia Thereza. Em 05 de dezembro de 1899, Manoel

Soares da Silva Lima vendeu suas terras a João Fordie em escritura lavrada na Villa

Ypiranga, da Comarca de Ponta Grossa. Em 20 de Julho de 1912 João Fordie vendeu

parte da área para o Alberto Landsberg em escritura lavrada em Cartório da Cidade do

Rio de Janeiro que a vendeu para a Sociedade Territorial Ubá Ltda que por sua vez

promoveu o loteamento das terras.

A primeira descrição do terreno de 2 de dezembro de 1853 deixa muitas dúvidas

sobre as divisas do imóvel, deixando margem para que o comprador mudasse com bem

entendesse esses limites. A única coisa que a primeira descrição dizia era que o terreno

ficava na margem esquerda do rio Ivaí num lugar chamado de Salto Grande Isso

possibilitou que os compradores futuros ampliassem os limites, no modelo da dívida

cantada, o máximo possível ocupando toda a margem esquerda do rio Ivaí, até a

confluência com o rio Corumbataí.

9
Conforme o imposto de transmissão ( siza) que foi pago em 8 de dezembro de

1853 na coletoria de Guarapuava, no valor de 28$000( vinte e oito mil de réis ), o terreno

corresponderia a uns sete alqueires. Já o terreno de João Fordie corresponderia a

100.000 alqueires. Ele vendeu uma parte6 para João Alberto Munhoz em 1900 e a outra

parte7 de 80.000 alqueires para Alberto Landsberg, em 1912, que a revendeu para a

STUL em 1929.

A partir de 1913, houve uma série de denúncias contra a ocupação ilegal de vastas

extensões de terras em várias regiões do Estado do Paraná. Sobre “o bendengó do

Ubá” 8 as denúncias eram de que os registros do Imóvel Ubá seriam fraudulentos a partir

de um processo de ampliação da escrituras. Toca Mercer, o autor das denúncias,

afirmava:

“que era uma adaptação de escrituras ao solo ambicionado, ampliando-se as

divisas como se fossem de goma-elástica”, ... “que escrituras e cisas anteriores a

1854 não faltarão”, que “ terrenos que nunca foram habitados, situados em

zonas remotíssimas que nunca produziram um só grão de cereal, são, como por

encanto, ‘ propriedades particulares’, não sujeitas à legitimação porque tem

escritura de venda e siza paga antes de 1854... que as escrituras que servem de

base, com datas remotas, referem-se a lugares que nas respectivas épocas

ainda eram desconhecidos.”... “Que indivíduos sem direito algum vão se

apossando de áreas fabulosamente grandes do nosso território, com o

dispêndio apenas de algum selo e propinas...”(MERCER, 1978, PG. 75) .


6
“ do Salto do Ubá ( ou Salto Grande como é descrito em outras escrituras ) pela margem esquerda do rio
Ivaí, abaixo a rumo de Norte até o salto do Ariranha, deste salto e do aludido salto do Ubá a rumo sudoeste
80º por duas linhas retas até o rio Corumbataí.”) - Escritura de compra e venda; 1900; in relatório do
exame pericial sobre o registro de posse lançado às fls. 79 do livro de Registros nº 3 , de Guarapuava.
7
“à margem esquerda do rio Ivaí, começando da barra do Ribeirão do Veado água abaixo e confrontado
com o rio Corumbataí; a Oeste, à margem direta do rio Corumbataí; ao sul confrontando com as terras de
João Alberto Munhoz entre a barrado Ribeirão do Veado e desemboca na margem do rio Ivaí e rio
Corumbataí, por uma linha reta magnética de 80º SO”.(12) - Escritura de compra e venda; 1912;in “
Ivaiporã, nossa terra nossa gente”.
8
As denúncias sobre “o bendengó do Ubá” foram feitas por Edmundo Alberto Mercer, também chamado
Toca Mercer, no jornal“Diário dos Campos” de Ponta Grossa já em 1913. Essas denuncias estão no livro
de Mercer, Luiz Leopoldo; Edmundo Alberto Mercer - Toca Mercer, um livro só pra nós, 1978.

10
Essas denúncias fizeram com que a Secretaria de Obras públicas e Colonização

realizassem uma verificação administrativa e uma perícia judicial que comprovou a

adulteração de documentos, bem como a inserção de uma falsa transcrição de limites das

posses. E a Portaria nº159, de 16 de abril de 1935 determinou a restauração dos

verdadeiros limites dos registros em questão.

Esse caso demonstra como ocorria o processo de grilagem de terras no Paraná. O

problema da grilagem de terras no Paraná era tão sério “que em 1940 o Interventor

Manoel Ribas afirmou que: ‘precisamos acabar com esses senhores feudais’. Quase toda

a área grilada era ocupada por milhares de posseiros, os quais, como pioneiros,

desbravaram e povoaram, de fato, o Paraná.” (LAZIER, 2005, pg.210)

O dicionário Aurélio define grileiro o indivíduo que procura apossar-se de terras

alheias mediante falsas escrituras de propriedade. Processo que foi muito comum na

ocupação das terras do Estado do Paraná.

A Sociedade Territorial Ubá Ltda adquiriu os 80.000 alqueires de terras do imóvel

denominado Ubá 9 no dia 31 de maio de 1929 a partir do inventário da família Landsberg,

isto é, quando as adquiriu esta estava sob denúncia.

A Sociedade Territorial Ubá Ltda (STUL) fora fundada especificamente para a

aquisição da Fazenda Ubá, denominada terra inculta e que estava em processo de

inventário da viúva e sucessores de Alberto Landsberg o seu antigo proprietário. A STUL,

fundada em 05 de março de 1929 era uma sociedade civil por quotas, com sede na

cidade de Cambará, composta pelos Barbosa, alguns banqueiros e advogados num total

de 16 sócios. A administração da Sociedade ficou a cargo do Sr. Leogivildo Barbosa

Ferraz.
9

Conforme a descrição no Registro Geral de Imóveis e Hipotecas* essas terras tinham os seguintes limites:
“entre os rios Ivahy e Corumbatahy e fechada a pesante ou na parte inferior pela confluência destes dous
cursos d’água a montante ou na parte superior por uma linha recta traçada no primeiro, na barra do
Ribeirão do Veado alcanção o segundo em rumo magnético de oitenta graos sueste, confrontando ao
Norte e Leste pelo Rio Ivahy, que a separa de terras do Estado do Paraná da Inspectoria de índios e da
Inspectoria do Povoamento do Sólo, ao sul pela referida recta magnética que a confina das terras dos
sucessores de João Alberto Munhoz, e ao Oeste pelo Rio Corumbatahy...

11
Ora, como foi demonstrada acima, a escrituração dessas terras, a partir de 1853

até passar as mãos da STUL em 1929, foi fraudulenta e fora contestada definitivamente

pelo governo do Estado em 1939. )

A partir do momento em que o governo do Estado contesta o direito de posse da

STUL, inicia-se um confronto judicial entre eles. Vale lembrar que quando os Barbosa

adquiriram o imóvel, este já se encontrava numa situação suspeita e, a partir de 1939 o

Estado iria considerar o imóvel Ubá como terras devolutas.

Só em fins de 1950 é que a STUL e o Estado chegaram ao seguinte acordo:

“...ficou estabelecido entre as partes contratantes,que a fim de porem termo aos

intermináveis litígios, divergências e discussões entre si, com relação ao imóvel Fazenda

Ubá, os quais cada vez mais se avolumaram, com graves prejuízos, tanto para um como

para outro... ficando em conseqüência estabelecido e aceito irrecorrivelmente que o

primeiro outorgante reconhece a improcedência de suas alegações contra o domínio dos

segundos outorgantes, reconhecendo a continuidade de posse dos mesmos, bem como a

validade das transcrições do referido imóvel, desistindo os segundos de pleitear qualquer

indenização do primeiro outorgante...”10

Observa-se que houve um entendimento amigável entre o governo do Estado e a

STUL.

Começa a ser esclarecido a origem dos conflitos. Os conflitos locais seriam

decorrentes de um conflito entre a STUL11 e o governo do Estado do Paraná pelo direito

de propriedade.

O impasse entre o Governo e a Companhia que durou mais de 10 anos acabou

gerando um clima de instabilidade muito grande na região. Enquanto o governo

considerava as terras devolutas autorizando a entrada de imigrantes, a Companhia dizia

que a terra era sua, e intimidava os imigrantes e posseiros com ameaças de despejo. Os
10
Registro Geral de Imóveis e Hipotecas, Comarca de Guarapuava, em 01 de fevereiro de 1950.
11
STUL – Sociedade Territorial Ubá Ltda. Também é conhecida como Companhia Ubá ou Companhia dos
Barbosa.

12
colonos acreditavam mais no “papel” do Governo e contestavam a credibilidade dos

títulos ofertados pela Companhia.

Mesmo com o fim do litígio entre Companhia e o Governo a situação permanece

instável, pois os posseiros, depois de tantos anos de incertezas não acreditavam nos

administradores da Companhia.

Agora, porém, a STUL tinha respaldo do Governo do Estado e o pronunciamento

favorável do Juiz da Comarca de Pitanga (21/01/1951) para impor o seu direito de

propriedade. 12

Mas com as ameaças de despejo o clima de hostilidade foi de fato aumentando.

Ocorreram emboscadas de ambas as partes; Os posseiros e imigrantes resistindo e a

companhia cumprindo a “ordem de despejo”. A STUL mantinha um “corpo” policial criado

especificamente para fazer o serviço de “limpeza da terra”.

O agravamento da crise, no início da década de 1950, levou à chamada

“revolução”, que foi um movimento dos posseiros, colonos, safristas... que não estavam

satisfeitos com as incertezas e a pressão do pessoal da STUL. Enquanto os

trabalhadores estavam reunidos para forçar uma tomada de posição por parte do governo

do Estado, aparece de surpresa um batalhão da Polícia Militar do Estado que desarma os

trabalhadores e os desmobiliza pois governo do Estado e STUL já haviam chegado a um

acordo que não era de conhecimento dos posseiros, colonos, safristas...

Este fato faz parte da memória coletiva da região. É, portanto um fato histórico

importante foi fundamental para que pouco a pouco os conflitos na região fossem

diminuindo e para o estabelecimento de uma ordem, que favorecia a empresa

colonizadora.

Outra questão a ser respondida é questão da reforma agrária. Em entrevistas com

lideranças locais aparece a defesa da STUL que teria promovido uma verdadeira reforma

agrária. Mas afinal em que se fundamenta essa defesa?

A resposta está nas estratégias de vendas de terras promovidas pela colonizadora


12
Ivaiporã – Nossa terra nossa gente,1994, p. 13.

13
a Sociedade Territorial Ubá Ltda. Sistema esse que não foi diferente do processo de

colonização promovido pelas empresas colonizadoras do norte do Paraná. Os próprios

“Barbosa” já tinham experiência com o loteamento de terras, pois já haviam loteado a

fazenda Congonhas - distrito de Cambará - e, de Leópolis na Região do norte pioneiro do

Paraná. Era um empreendimento particular, capitalista, um negócio imobiliário que visava

lucro a curto e médio prazo.

As empresas desenvolveram uma política de ocupação a partir de pequenas

propriedades, pois para pequenos lotes era mais fácil encontrar compradores. A condição

estabelecida para conseguir a escritura da terra era que o proprietário nela se

estabelecesse e a cultivasse. Pois o desejo ou, a necessidade para que o negócio

prosperasse era a vinda de colonos que comprassem e cultivassem a terra, pois esta

forma de ocupação geraria um comércio local cuja organização faria surgir os centros

urbanos e a venda dos lotes urbanos.

Como se trata de um projeto de investimento imobiliário onde a renda depende da

ocupação efetiva de produtores, a colonizadora concedeu as facilidades de pagamento

para os “pioneiros”. Pois foram estes, com o seu trabalho, que fizeram com que as terras

se valorizassem, garantindo o lucro da empresa colonizadora. Foi uma estratégia para

alavancar os negócios.

Este projeto de colonização das Companhias colonizadoras do Paraná em facilitar

de acesso a terra através do loteamento em pequenas propriedades é considerado por

muitos como uma verdadeira reforma agrária. Essa divisão ou loteamento em pequenas

propriedades conjugado as facilidades de pagamento são os argumentos usados para se

afirmar que a colonizadora desenvolveu um trabalho de reforma agrária.

Enfim pode-se concluir que o Estado e a colonizadora se unem dentro de um

projeto único de desenvolvimento do Paraná onde os interesses de uma elite e do Estado

se aliam prevalecendo-se sobre os interesses do caboclo, do imigrante ou do colono

paranaense, que concebe a terra como um espaço de vida e de trabalho. O conceito de

14
propriedade burguês, onde a terra é vista como uma mercadoria prevaleceu sobre o

conceito caboclo para quem a terra é de quem nela trabalha.

Esse debate sobre o conceito de propriedade continua presente ainda hoje com a

presença do Movimento dos Sem Terra e a Via Campesina. Diante do agronegócio que vê

o campo apenas espaço para especulação financeira e obtenção de lucros, o MST

defende uma reforma agrária onde a terra é um espaço de vida e de produção de

alimentos, que o campo é um espaço diferenciado de vida, com um tempo diferenciado, o

tempo da natureza e não do relógio, com uma cultura própria com outro modo de

enxergar a realidade e a vida, diferente do mundo mercantil urbano. Esse embate sobre a

cultura do campo é feito também pela via campesina que reivindicam inclusive uma

educação diferenciada para o homem do campo e o respeito ao meio ambiente e

produção de alimentos saudáveis.

Mas enfim, o processo de ocupação das terras de Ivaiporã e região foram, com

certeza, conflituosos. Assim, o papel da história é o de perceber nas ações e relações

estabelecidas no passado a compreensão do presente e integrando-as como parte de

uma memória comum, bem como perceber a dinamicidade da vida onde os conflitos

culturais, étnicos, de gênero e de interesses individuais estão sempre presentes, pois,

trata-se de um processo humano. Essa visão integradora do passado favorece um olhar

sobre o presente e o futuro numa perspectiva histórica.

6. AVALIAÇÃO

Finda a pesquisa e a produção da narrativa no formato “folhas” o desafio agora

seria a sua aplicação em sala de aula.

A expectativa era produzir um material que viesse a suprir uma carência existente,

pois, segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para o ensino da disciplina

de História, o ponto de partida deve ser do local para o geral, e o material que tínhamos

15
como ponto de partida era insuficiente, necessitava ser problematizado e organizado

didaticamente.

Sobre o material produzido afirma Arias Neto em seu parecer conclusivo:O Paraná

carece de estudos de caráter regional como este. De fato, a historiografia que trata do

Estado, está fundada em alguns “modelos” que não contemplam a variedade dos

processos de ocupação da terra e da formação das cidades paranaense. De um lado o

modelo do chamado “Paraná Tradicional”, anacrônico sob todos os aspectos, marcado

pelo influxo de um paranismo exclusivista do início do século XX, que faz derivar da

ocupação do sul do Estado, processo bem regionalizado e particular, não geral e

envolvente como querem fazer acreditar os historiadores que buscam “explicar” o Estado

– a formação do Paraná Contemporâneo. De outro lado, o “modelo baseado na expansão

da cafeicultura”, esta sim, responsável pelo fato de o Estado adquirir certa relevância no

conjunto da federação a partir dos anos cinqüenta e sessenta do século XX, mas também

insuficiente para abarcar particularidades locais e regionais como a do Vale do Ivaí, fruto

do encontro das frentes cafeeiras e safristas. Neste estudo bem pesquisado e bem

elaborado, ancorado em metodologias historiográficas renovadas sob o influxo do

neohistoricismo ou neohistorismo derivado da Escola Histórica Alemã ( Leopold Von

Ranke) e da École des Analles ( Marc Bloch, Lucian Febvre), do estruturalismo e

neoestruralismo (Foucault) e da New Left ( Cristopher Hill, E. P. Thompson), Lúcio Boing

produz relevante contribuição aos estudos paranaenses, ao focalizar as particularidades

regionais, no tempo e no espaço, da região conhecida como Vale do Ivaí. História pouco

conhecida, região original que merece atenção dos historiadores, quer quanto à pesquisa

e, especialmente quanto ao ensino de História do Paraná, os processos referentes à

fundação e ocupação do Vale do Ivaí são desvelados por Lucio Boing – trabalho que

bem merece a continuação em nível de especialização e/ou mestrado - cujo evidenciar

das particularidades locais implicou no repensar as relações com outras regiões do

estado e ao mesmo tempo, desvinculando-as de um “modelo geral” baseado na

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ocupação quer do sul, quer do norte, criando assim uma interpretação histórica original.

Assim, o trabalho final vai, do ponto de vista historiográfico, além do inicialmente

proposto, o que evidencia a importância do mesmo para a escola pública do Paraná.

Em sua aplicação o material serviu como ponto de partida para trabalhar toda a

história do Paraná, serve de base para discutir muitos elementos da história do Brasil .

O “folhas” Vale do Ivaí: conflitos e ocupação das terras regionais, é ponto de

partida para refletir sobre várias temáticas propostas pelas Diretrizes Educacionais para o

ensino da disciplina de História da Secretaria de Educação do Estado do Paraná como as

lutas pela posse da terra, a reforma agrária, a lei de terras, as sesmarias...

O material fora produzido para ser trabalhado com alunos do ensino médio,

podendo ser usado no ensino fundamental.

Enfim foi desenvolvido um trabalho a partir dele com alunos da 7ª e 8ª séries do

ensino fundamental e com os alunos do CEEBJA também do ensino fundamental. A

princípio se percebe nos alunos um estranhamento sobre a temática da história pessoal e

local. A impressão que transparecia era de que se tratava de superficialidade e não de

História. O que demonstra uma noção de que a disciplina de História está desvinculada

da realidade vivencial dos estudantes.

Nota-se então a importância de se trabalhar bem as noções básicas da história

como o tempo, o espaço, o próprio conceito de história não como verdade, mas como

interpretação do passado, como o presente olhando para o passado, a função do

historiador e seus métodos e, também a evolução da historiografia.

A princípio os alunos não sentem a história oral como importante. Por isso é

importante apresentar as novas correntes historiográficas que valorizam a história oral e a

história local ou regional como a Nova História Cultural e pela Nova Esquerda Inglesa.

Diante destas questões, duas atividades são propostas para os alunos que são:

Como se constrói a identidade de um povo?

Qual a função da História e do Historiador?

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A partir de então os estudantes passaram a se situar no contexto, como integrantes

da história e como pesquisadores. Então, atividades são propostas para que os alunos

desenvolvam suas pesquisas e construam uma narrativa histórica de sua vida, do

itinerário de sua família até chegarem a nossa região e do histórico da ocupação da terra

em que se encontram ou ocupam, seja ela rural ou urbana. Para construir esta narrativa

os alunos buscaram informações nos seus pais ou avós e documentos pessoais, de terras

e fotos. As atividades propostas são:

Escreva um texto narrando sua história.

Entreviste seus familiares e descubra como chegaram à região? De onde vieram?

Por que vieram? Descubra também quem seriam os pioneiros do lugar.

Você e sua família possuem algum imóvel? Como foi adquirido?

Qual o histórico da terra que você e seus pais ocupam? (buscar nos documentos

da terra - urbano ou rural)

Essas atividades foram muito interessantes, pois serviram para aproximar a história

do aluno, e aprender o seu método.

E a partir do histórico de cada aluno, de sua família, sua migração, o processo de

ocupação e legalização da terra pode-se refletir sobre todo processo de ocupação das

terras do Estado do Paraná e do Brasil e de outros lugares e tempos; com os documentos

das propriedades pode-se perceber o seu histórico e discutir o direito a terra e a

legislação que regulou a ocupação da terra na história do Brasil; o processo de grilagem

de terra permite demonstra a ocupação ilegal de terras por todo Estado e do País; a partir

dos movimentos de mudança das famílias amplia-se para o estudo dos movimentos

migratórios internos e da vinda dos imigrantes europeus para o Brasil, compreendendo-se

a dinâmica de ocupação do Estado do Paraná; E a partir dos relatos dos conflitos

existentes no processo de ocupação das terras da região, podem-se compreender os

vários conflitos de terra que aconteceram no estado e no Brasil.

Muitos conceitos podem ser discutidos com os alunos a partir da temática a

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ocupação das terras regionais como: o conceito burguês de propriedade e o conceito

caboclo de propriedade; o conceito de pioneirismo, quem de fato foram os pioneiros e

porque alguns são considerados pioneiros e outros não; o conceito de caboclo, de sertão,

de grilagem e de reforma agrária.

O “folhas” ainda propõem, em um trabalho interdisciplinar com a disciplina de

língua portuguesa algumas atividades de análise das diversas linguagem utilizadas como

a linguagem falada ou coloquial, a linguagem dos documentos cartoriais nos registros de

terras e uma atividade do uso das aspas dentro dos textos.

O material demonstrou ser muito interessante para se trabalhar com os alunos. Os

alunos tiveram uma participação bastante ativa, pesquisando e produzindo narrativas

históricas de sua realidade, se sentido ao mesmo tempo como integrantes da história e

como historiadores.

O “folhas” foi apresentado a quase totalidade dos professores do Núcleo Regional

de Educação de Ivaiporã, dentro do programa de Universidade Aberta que a UEM

desenvolveu na região com curso de História do Paraná. Fui convidado pelo Professor

organizador Ângelo Aparecido Priori a apresentar a pesquisa aos professores

Alguns colegas professores da região demonstraram interesse na pesquisa e

quiseram trabalhar com seus alunos. Tenho ainda pouco retorno destes, mas já há

depoimentos de professores que estão usando o material como base para trabalhar a

História do Paraná ou para discutir a educação do campo e que estão sentindo um grande

envolvimento por parte dos alunos nas pesquisas indicadas.

7. O GTR- GRUPO DE TRABALHO DE GRUPO

Uma proposta realmente inovadora que consiste em iteração tecnológica o que

proporciona ao educador o aprendizado da Plataforma MOODLE. O professor Tutor

apresenta a proposta de ensino e os colegas interagem através de fóruns, blogs e diários

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que permitem uma participação efetiva e uma comunicação eficiente entre o grupo de

estudos e trabalho, por ser organizado por um colega de trabalho o qual vivencia as

mesmas situações, porém a primeira vista não houve muito interesse do professores

inscritos, pois estes eram professores de outras regiões do Estado e não teriam interesse

em participar de uma pesquisa regional. Por isso muitos deixaram de participar do GTR.

Outro problema foi uma questão estrutural, ou melhor, muitos professores não tinham

acesso ao sistema on line, além, é claro, das dificuldades que muitos professores

apresentam em lidar com a plataforma MOODLE. Mas o grupo que permaneceu se

envolveu nas discussões sobre a história e memória, sobre a história oral e cada um ao

final cada um desenvolveu um projeto de história e memória local de acordo com a sua

realidade. Infelizmente com a retirada das atividades do Gtr da Plataforma Moodle houve

a perda dos depoimentos dos professores sobre a importância de se trabalhar com a

memória local.

8. CONCLUSÃO

É consenso entre os educadores a necessidade de conhecer os sujeitos com

quem se está trabalhando para que se possam estabelecer relações entre a ciência e o

sujeito aprendente. O educador deve buscar conhecer a identidade dos educandos. Ora,

a identidade ou identidades diversas são conceitos caros ao ensino de História e pode ser

determinante na aprendizagem. O “Folhas” têm uma excelente vantagem, pois mobiliza a

partir da história de cada um, e mais, é constituído de uma seqüência de pesquisa que

permite ao aluno buscar fontes e construir narrativas próprias e permite estabelecer

paralelos com outras histórias de outros lugares e de outros tempos. Outro aspecto

importante do Folhas é que ele pelo seu conteúdo é regionalizado, mas

metodologicamente, digamos “genérico” permitindo que em regiões diferentes

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professores e alunos possam utilizá-lo para fazer pesquisa buscando conhecer sua

história através de depoimentos orais e ou fontes escritas e construir suas narrativas

regionais. Ou seja, “o Folhas”: - Vale do Ivaí: Conflitos e ocupação das terras regionais é

um importante material que pode ser usado como ponto de partida para discutir vários

conceitos e temáticas da história. Facilita ao professor estabelecer relações com a

realidade do aluno que é uma dos elementos básicos do processo de ensino, pois facilita

ao aluno dar significação ao conhecimento acadêmico ou escolar. Todavia produzir um

material e colocá-lo a apreciação de outros docentes implica em uma responsabilidade

muito grande, particularmente quando se trata de História local, mas, também representa

um crescimento muito grande buscar conhecer elementos, fatos, dados que não estão a

disposição de forma ampla e construir uma narrativa sobre a historia da região. Essa

busca permitiu que eu me deparasse com os conceitos construídos na academia e

repensasse a prática docente. O debate com os colegas através do Grupo de Trabalho

em Rede ainda foi muito tímido devido a ser a primeira turma do programa, com certeza

terá maior força ao passo que o programa se efetive e uma quantidade maior de colegas

docentes busque esse recurso para discutir e socializar suas práticas e fortalecer a

prática docente.

FONTE CONSULTADAS

FONTES ESCRITAS

Arquivo de entrevistas com Pioneiros do Jornal Paraná Centro; não publicadas.

Revista: Arapuã conta sua história, 2004.( depoimentos).

Mensagem de Governo, 1921.

Mensagem de governo 1928.

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Registro Geral de Imóveis e Hipotecas, Guarapuava, 1950.

Revista: Ivaiporã – Nossa terra nossa gente, 1994.

MERCER, Luiz Leopoldo; Edmundo Alberto Mercer - Toca Mercer, um livro só pra nós,

1978.

AMARAL, Roberto Miguel do (org.). Arapuã conta sua história. Ivaiporã: MR Gráfica &

Editora, 2004.

FONTES ORAIS

Nivaldo Mehl Góes.

Laurindo Gonsalves dos Santos.

BIBLIOGRAFIA

ARIAS NETO, José Miguel. Pioneirismo: Discurso Político e Identidade Regional. In

História e Ensino. Revista do Laboratório de História. Londrina: Editora UEL, nº 01,

1995.

CARVALHO, Márcia S. de FRESCA, Tânia Maria (org.). Geografia e Norte do Paraná:

um resgate histórico. Londrina Edições Humanidades, 2007.

LAZIER, Hermógenes. Paraná: terra de todas as gentes e de muitas histórias;

Francisco Beltrão: ed Grafit;, 2003.

LE GOFF, Jacques,1924. História e Memória; 5ª ed. Campinas, SP, Editora da

UNICAMP, 2003.

QUIEZI, Simone Aparecida, Companhia Ubá: Colonização e Ocupação do Território

entre os Rios Ivaí e Corumbataí (1939-1970). Trabalho apresentado para conclusão do

Curso de Pós-Graduação em Historia da FAFIMAM. Mandaguari, 1999.

STECA, Lucinéia Cunha; FLORES, Mariléia Dias. História do Paraná: do século XVI à

década de 1950. Londrina

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