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Ação pedagógica: Aprendendo a história local nas redes sociais

Cássio Silva Castanheira 1

Introdução:

A equipe da Escola Estadual Benjamim Guimarães lida, atualmente, com o


desafio do ensino remoto, em virtude das medidas de enfrentamento da pandemia de
COVID-19. O computador, smartphone, a internet e demais novas tecnologias aparecem
como importantes ferramentas pedagógicas para lidar com o ensino remoto na atual
conjuntura. Contudo, o ensino da História local, que é as histórias da cidade, não são
contemplados nos livros didáticos e no ensino remoto.

Para contemplar o estudo da História local nas aulas remotas, surgiu a


necessidade de criar um espaço onde se pudesse compartilhar e construir conhecimento.
Visto que os grupos do Facebook criam um espalho de interação, e assumem um papel
de aglutinador de registros de memórias, viu-se então a possibilidade de utilizar tal
recurso como ferramenta didática.

Nessa rede social, há um grupo denominado Memórias de Bom Sucesso, cidade


onde se localiza a Escola Estadual Benjamim Guimarães. Este grupo, já existente,
passou então a atuar como espaço para o ensino de História no contexto remoto em
decorrência da pandemia. Nesse espaço é possível estabelecer uma rede de colaboração
para o ensino e aprendizagem, na qual o estudante entra para aprender, havendo a
possibilidade de participar ativamente, postando comentários críticos acerca do
conteúdo postado. Além disso, é importante ressaltar que os estudantes entraram em um
grupo onde há um “público geral”, formado por diversos perfis de pessoas, não sendo
um grupo escolar, mas comunitário.

Portanto, pretende-se com este trabalho demonstrar como o uso das redes sociais
se tornou uma ferramenta eficaz para o ensino da história das cidades, articulada com a
história do Brasil e do mundo.

1
Professor Doutor em Ciências da Linguagem, Mestre em Educação e professor da rede estadual
de ensino de Minas Gerais, Escola Estadual Benjamim Guimarães ,Bom Sucesso - MG, Brasil.
(https://orcid.org/0000-0002-4084-318X). cassio.castanheira@educação.mg.gov.br ,
c.silva.castanheira@gmail.com
Justificativa

A ação pedagógica, aqui relatada, parte da necessidade de encontrar novas


estratégias didáticas para contemplar o ensino à distância, devido a pandemia de
COVID-19 que impediu as aulas presenciais no Brasil e no mundo.

Como forma didática, muitos professores de História buscam na memória das


cidades, acontecimentos que se relacionam com os conteúdos do livro didático, com os
acontecimentos “oficiais” da História. Este buscar de memórias envolve a busca de
objetos materiais, como fotografias, que tornam -se digitais à medida que os avanços
tecnológicos permitem sua conservação em um meio não físico. Neste sentido, a BNCC,
ao tratar do ensino de História, traz que:

A utilização de objetos materiais pode auxiliar o professor e os alunos


a colocar em questão o significado das coisas do mundo, estimulando
a produção do conhecimento histórico em âmbito escolar. Por meio
dessa prática, docentes e discentes poderão desempenhar o papel de
agentes do processo de ensino e aprendizagem, assumindo, ambos,
uma “atitude historiadora” diante dos conteúdos propostos, no âmbito
de um processo adequado ao Ensino Fundamental. Os processos de
identificação, comparação, contextualização, interpretação e análise
de um objeto estimulam o pensamento. (BNCC, 2018, p.398)
Assim, aliando o cumprimento do ensino remoto devido ao contexto
pandêmico à necessidade de pensar a história local, pensando numa prática de ensino
que lide com objetos materiais, viu-se a possibilidade de se utilizar um grupo de
Facebook como espaço de construção de conhecimento.

Metodologia

A partir de um acordo com o administrador do grupo, o Sr. Aristeu de Oliveira


Junior disponibilizou todas as fotografias antigas para serem novamente postadas com a
história da cidade. A pesquisa, para o desenvolvimento da ação, teve um perfil
qualitativo, na medida em que foram feitas entrevistas com os moradores mais antigos
da cidade, bem como análise de documentos que também foram postados. Neste tipo de
pesquisa não se admitem versões isoladas. Esta se desenvolve em interação dinâmica,
retroalimentando –se, reformulando constantemente, de maneira que a compreensão dos
dados acompanha o processo de busca de novas informações.

Para as postagens usamos os livros didáticos como parâmetro para estabelecer a


relação da história da cidade com a história do Brasil e do mundo. Como exemplo
podemos citar as fotos e histórias dos ex-combatentes da 2ª Guerra Mundial da cidade,
da professora de canto orfeônico durante o Estado Novo, do coronel da 1ª República e
etc.

Objetivos

Objetivo geral

Objetiva-se, com esta ação pedagógica, criar um espaço onde os estudantes


possam continuar estudando e se interessando pela história, principalmente pela história
da cidade onde residem, durante a pandemia do coronavírus.

Objetivos específicos

- Produzir um instrumental de pesquisa, para que cada estudante possa acessar a


qualquer momento.

- Estabelecer uma co-relação entre a história da cidade e a história do Brasil e do mundo

- Propor uma nova possibilidade do Ensino da História para um novo perfil de aluno, os
“tecnológicos de nascença”.

- Estabelecer um ambiente profícuo para a troca de conhecimentos, onde o professor e


estudante devem ser vistos como indivíduos de uma mesma equipe.

Prática desenvolvida

No início da pandemia, a Secretaria Estadual de Educação, SEE-MG, orientou


os professores sobre como seria estabelecido o ensino remoto e também disponibilizou
os conteúdos das disciplinas, como exercícios online e aulas, nos canais das redes
públicas. Este material não abrangia a história local, portanto viu-se a necessidade de
criar meios para ensinar neste novo cenário.

Buscou-se então um acordo com o administrador do grupo do Facebook


denominado Memórias de Bom Sucesso. Ele ficou muito honrado em poder ajudar a
escola e disponibilizou a maioria das fotografias antigas que pertenciam ao seu avô o Sr.
Augusto Luiz dos Santos, que foi fotógrafo da cidade no final do século XIX e princípio
do século XX. O Conselho do Patrimônio Cultural de Bom Sucesso- COMPAC
também disponibilizou a sua página e as fotografias antigas. A partir de então avisamos
aos alunos que todos os sábados iríamos postar fotos da cidade relacionadas com os
tempos em que eles estavam estudando. Junto às postagens, foram feitas
contextualizações e relações com o período histórico estudado, tornando-se aulas de
História.

Para resgatar a diversidade, o professor entrou em contato com o Asilo, a Igreja,


a sede da Irmandade do Rosário, as capelas da periferia e dos distritos, entrevistando as
pessoas e buscando fotografias e imagem de documentos. O diálogo foi essencial para
se criar um contexto de colaboração entre os entrevistados e o entrevistador. Esta
dinâmica foi também importante para aumentar o número de conteúdo para as
postagens. Buscou-se fazer dessa atividade algo prazeroso, que dialogasse com estes
estudantes que são chamados de “tecnológicos de nascença”.

Considerações finais:

O grupo do Facebook “Memórias de Bom Sucesso” já funcionava como uma


comunidade de divulgação cultural. Porém a história divulgada era uma narrativa das
camadas dirigentes que evidenciavam o poder político e econômico de uma elite e da
classe média. O nosso projeto resgatou novos sujeitos, bem como outras temporalidades
nos processos de didática do passado.

Ao reconhecer as lideranças afro-descendentes e pessoas fora da elite e classe


média, pode-se notar um aumento no número de participantes do grupo: não só de
estudantes, como também de outros segmentos da sociedade. Percebemos um aumento
significativo de “curtidas”, comentários, visualizações e compartilhamentos, o que
demonstra uma maior interação com o conteúdo de História. É importante destacar que
aumentou-se também a rede de colaboração, favorecendo um maior número de
informações sobre a cidade. Deste modo, a ação pedagógica pode dialogar com o
público não escolar, unindo educação e sociedade em um espaço de diálogo.

Em outubro de 2020, a Superintendência Regional de Ensino de São João del


Rei, que supervisionou as escolas da nossa região, promovia a II jornada de capacitação
docente com um projeto denominado “Fala Mestre”. O objetivo desse projeto era
identificar práticas que utilizavam tecnologias educacionais que estavam dando certo
durante o período do ensino remoto. O professor idealizador do projeto Cássio Silva
Castanheira, foi convidado para uma entrevista representando as escolas Escola
Estadual Benjamim Guimarães e Estadual Antônio Carlos de Carvalho,e o Conselho
Municipal do Patrimônio Cultural de Bom Sucesso - MG para relatar e dialogar sobre
esta ação pedagógica. O Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) da S.R.E de São
João del Rei transformou as entrevistas em mini-cursos de formação docente que foram
enviados para todas as escolas da região. Acredita-se assim, que o trabalho em questão
possa trazer uma reflexão para novas possibilidades de ensino na era da virtualidade.

Referencias Bibliográficas

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos.


3 ed. São Paulo. Cortez, 2009.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

Conselho municipal do patrimônio cultural de Bom Sucesso. Grupo: Conselho


municipal do patrimônio cultural de Bom Sucesso. Bom Sucesso, MG. Facebook,
2021. Disponível em:https://www.facebook.com/groups/1445102655777569

FONSECA, Selma Guimarães. Didática e prática de ensino de História: experiências,


reflexões e aprendizados. Campinas. Papirus, 2012.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2ªed. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed
34. 1999

Memórias de Bom Sucesso. Grupo Memórias de Bom Sucesso. Bom Sucesso, MG.
Facebook, 2021. Disponível em:
https://www.facebook.com/groups/memoriasdebomsucesso/

NTE da SRE de São João del Rei. PROJETO FALA MESTRE! Prof. Cássio Silva
Castanheira. Youtube. Disponível em https://www.youtube.com/watch?
v=WMIXIMM_NVE&ab_channel=NTEdaSREdeS%C3%A3oJo
%C3%A3odelReiNTEdaSREdeS%C3%A3oJo%C3%A3odelRei. Acesso em
09/06/2020

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