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AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E LÍQUIDOS DE UM


LATICÍNIO DO NORTE DO PARANÁ

Chapter · July 2019


DOI: 10.22533/at.ed.0061924072

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Ana Paula Jambers Scandelai Danielly Cruz Campos Martins


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Luiz Roberto Taboni Junior Cristhiane Okawa


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Helenton Carlos Da Silva
(Organizador)

Engenharia Sanitária e Ambiental

Atena Editora
2019
2019 by Atena Editora
Copyright © Atena Editora
Copyright do Texto © 2019 Os Autores
Copyright da Edição © 2019 Atena Editora
Editora Executiva: Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira
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(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

E57 Engenharia sanitária e ambiental [recurso eletrônico] / Organizador


Helenton Carlos da Silva. – Ponta Grossa, PR: Atena Editora,
2019.

Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7247-500-6
DOI 10.22533/at.ed.006192407

1. Engenharia sanitária. 2. Engenharia ambiental. 3. Meio


ambiente. 4. Saneamento. I. Silva, Helenton Carlos da.
CDD 363.7

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

Atena Editora
Ponta Grossa – Paraná - Brasil
www.atenaeditora.com.br
contato@atenaeditora.com.br
APRESENTAÇÃO

A obra “Engenharia Sanitária e Ambiental” publicada pela Atena Editora


apresenta, em seus 22 capítulos, discussões de diversas abordagens acerca do
saneamento ambiental.
Resíduos Sólidos são produtos de qualquer atividade humana, seja ela de
pequeno ou grande porte. Estes podem se tornar uma problemática quando, dentro
de um contexto operacional, a sua gestão não é correspondida de maneira absoluta,
na qual venha garantir o controle do seu volume de geração.
Desta forma, faz-se uma importante ferramenta de estudo, uma vez que invoca
a necessidade de investigação que levem a resultados que garantam a aplicação de
novas técnicas que minimizem ou abortem as problemáticas dos resíduos sólidos
gerados que afetam a tríplice ambiental, social e econômica.
Os resíduos sólidos, por sua vez, se não manejados, segregados e destinados
corretamente, podem contribuir com a poluição do solo e da água.
As estratégias de gestão de resíduos sólidos direcionam para a minimização
da produção de resíduos; o emprego de sistemas de reaproveitamento, reciclagem
e tratamento para os resíduos gerados, e a disposição final em aterros sanitários.
Dentro deste contexto, as atividades de educação ambiental, visando à
conscientização da população para a minimização da geração de resíduos, e os
processos de reciclagem surgem, dentro de um sistema integrado de gestão de
resíduos, como importantes etapas, por constituírem processos pautados em
princípios ecológicos de preservação ambiental e participação social.
Neste sentido, este livro é dedicado aos trabalhos relacionados ao saneamento
ambiental, compreendendo a gestão de resíduos sólidos, ao tratamento de efluentes
e a gestão hídrica, além do sensoriamento remoto ambiental. A importância dos
estudos dessa vertente é notada no cerne da produção do conhecimento, tendo
em vista o volume de artigos publicados. Nota-se também uma preocupação dos
profissionais de áreas afins em contribuir para o desenvolvimento e disseminação
do conhecimento.
Os organizadores da Atena Editora agradecem especialmente os autores dos
diversos capítulos apresentados, parabenizam a dedicação e esforço de cada um,
os quais viabilizaram a construção dessa obra no viés da temática apresentada.
Por fim, desejamos que esta obra, fruto do esforço de muitos, seja seminal para
todos que vierem a utilizá-la.

Helenton Carlos da Silva


SUMÁRIO

CAPÍTULO 1................................................................................................................. 1
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS ENCONTRADOS NA REDE DE DRENAGEM DA ÁREA CENTRAL
DO MUNÍCIPIO DE CONCÓRDIA EM SANTA CATARINA
Julio Cesar Rech
Ana Paula Gasperin
Susane Deparis
Mariana Pereira
Luana Aparecida Paganini
Ediana Dianei de Oliveira
Patrique Savi
Aline Schuk Rech
DOI 10.22533/at.ed.0061924071

CAPÍTULO 2............................................................................................................... 15
AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E LÍQUIDOS DE UM LATICÍNIO DO NORTE DO
PARANÁ
Ana Paula Jambers Scandelai
Danielly Cruz Campos Martins
Luiz Roberto Taboni Junior
Murilo Keith Umada
Fernanda de Oliveira Tavares
Cristhiane Michiko Passos Okawa
DOI 10.22533/at.ed.0061924072

CAPÍTULO 3............................................................................................................... 27
DEPOSIÇÃO DE RESÍDUOS DE ROCHAS ORNAMENTAIS EM ÁREA URBANO-INDUSTRIAL E
ALTERAÇÕES NA QUALIDADE DA ÁGUA
Mirna A. Neves
Eduardo B. Duarte
Valerio Raymundo
Fabricia B. Oliveira
DOI 10.22533/at.ed.0061924073

CAPÍTULO 4............................................................................................................... 37
PROBLEMÁTICA DA GERAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO
Lara Rita Albuquerque Câmara
Darlann Weskley Sousa Silva,
Marília da Cruz dos Santos
Joicy Araujo Soares
George Vinicius Oliveira Gonçalves
DOI 10.22533/at.ed.0061924074

CAPÍTULO 5............................................................................................................... 52
IMPLEMENTAÇÃO DA COLETA SELETIVA DE PAPEL NO CAMPUS UFSCAR LAGOA DO SINO
Anne Alessandra Cardoso Neves
Ubaldo Martins das Neves
Isabella Christina Athayde Sfair
DOI 10.22533/at.ed.0061924075

SUMÁRIO
CAPÍTULO 6............................................................................................................... 60
MODELAGEM FUZZY COMO FERRAMENTA DE APOIO À DECISÃO NO GERENCIAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO AMAZONAS
Benone Otávio Souza de Oliveira
Ediléa Cristina Barros Michel
José Arnaldo Frutuoso Roveda
Sandra Regina Monteiro Masalskiene Roveda
DOI 10.22533/at.ed.0061924076

CAPÍTULO 7............................................................................................................... 71
MODELAGEM DE TAXAS DE EROSÃO DE ESTRADA NÃO PAVIMENTADA DA REGIÃO
METROPOLITANA DE FORTALEZA-CE
Mayara da Silva Lima
Teresa Raquel Lima Farias
Waleska Martins Eloi
Mariano da Franca Alencar Neto
Francisco das Chagas Soares
DOI 10.22533/at.ed.0061924077

CAPÍTULO 8............................................................................................................... 85
ABORDAGEM COMPARATIVA DE DRAGAS MECÂNICAS E HIDRÁULICAS PARA REMOÇÃO DE
DIFERENTES TIPOS DE SEDIMENTOS EM ÁREAS PORTUÁRIAS
Marcio Pagano Aragona
Celso Elias Corradi
DOI 10.22533/at.ed.0061924078

CAPÍTULO 9............................................................................................................... 93
ESTUDO GEOQUÍMICO DE ÁGUAS E SEDIMENTOS PROVENIENTES DE PROCESSOS DE LAVRA
DE CALCÁRIO
Anelise Marlene Schmidt
Cristiane Heredia Gomes
Joseane Kolzer Schroeder
Guilherme Pacheco Casa Nova
Bruno Acosta Flores
DOI 10.22533/at.ed.0061924079

CAPÍTULO 10........................................................................................................... 101


AVALIAÇÃO DO ESTÁGIO DO SANEAMENTO COM BASE NO EMPREGO DE INDICADORES:
ESTUDO DE CASO EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO HIDROGRÁFICA III – MÉDIO PARAÍBA DO SUL
Marcelo Obraczka
Carine Ferreira Marques
Sofya de Oliveira Machado Pinto
Alfredo Akira Ohnuma Jr
Kelly de Oliveira
Bruno Cabral Muricy
DOI 10.22533/at.ed.00619240710

SUMÁRIO
CAPÍTULO 11........................................................................................................... 115
GESTÃO PARTICIPATIVA COMO ELEMENTO NORTEADOR NA ELABORAÇÃO DE TERMOS DE
REFERÊNCIA PARA PROJETOS HIDROAMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS
VELHAS
Thais Cristina Pereira da Silva
Fabiana de Cerqueira Martins
Lívia Cristina da Silva Lobato
Raissa Vitareli Assunção Dias
DOI 10.22533/at.ed.00619240711

CAPÍTULO 12........................................................................................................... 126


INDICADORES DE GESTÃO HÍDRICA PARA A REGIÃO HIDROGRÁFICA GUANDU (RH II), RJ
Amparo de Jesus Barros Damasceno Cavalcante
DOI 10.22533/at.ed.00619240712

CAPÍTULO 13........................................................................................................... 140


SANEAMENTO, MOBILIZAÇÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA
NA COMUNIDADE RURAL DE MOCAMBO (SEABRA-BA)
Renavan Andrade Sobrinho
Gabriela Marques de Oliveira Vieira
Gislene Esquivel de Siqueira
Ravine Trindade Galliza
Luana Karina dos Santos Pereira
DOI 10.22533/at.ed.00619240713

CAPÍTULO 14........................................................................................................... 151


AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO COMPOSTO RESIDUAL DA PRODUÇÃO DE FUNGO PLEUROTUS
OSTREATUS NA REMOÇÃO DE CORANTES EM EFLUENTES TÊXTEIS
André Aguiar Battistelli
Luigi Luckner Bogoni
Rodrigo Felipe Bedim Godoy
Maria Eliza Nagel Hassemer
Flávio Rubens Lapolli
DOI 10.22533/at.ed.00619240714

CAPÍTULO 15........................................................................................................... 164


ANÁLISE DO USO DE FÔRMAS GEOTÊXTEIS PARA A CONTENÇÃO DA EROSÃO NA MARGEM
DO RIO MADEIRA
Emanuele Correia Barros
Suelen Ferreira de Souza
Ana Cristina Santos Strava Correa
DOI 10.22533/at.ed.00619240715

CAPÍTULO 16........................................................................................................... 173


AVALIAÇÃO DE DEGRADAÇÃO E FITOSSANIDADE DE PASTAGENS USANDO SÉRIES
TEMPORAIS DE IMAGENS DE SATÉLITE
Marcos Cicarini Hott
Ricardo Guimarães Andrade
Walter Coelho Pereira de Magalhães Junior
DOI 10.22533/at.ed.00619240716

SUMÁRIO
CAPÍTULO 17........................................................................................................... 183
COMPOSTAGEM DE LODO DE ETA
Regina Teresa Rosim Monteiro
Elaine Contiero Ribeiro
Gabriel Teodoro Batista
Patrick Oliveira Nunes da Silva
Cassia Conrado Souto
DOI 10.22533/at.ed.00619240717

CAPÍTULO 18........................................................................................................... 192


EFEITOS DA DISPOSIÇÃO DE LODO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA (ETA) SOBRE
ÁGUAS SUPERFICIAIS: UMA ABORDAGEM TEÓRICA
Luiz Roberto Taboni Junior
Ana Paula Jambers Scandelai
Bruna Schmitt Schuster
Aline Naiara Zito
Hugo Gabriel Fernandes Viotto
DOI 10.22533/at.ed.00619240718

CAPÍTULO 19........................................................................................................... 202


LEVANTAMENTO DE MATERIAIS COMPATÍVEIS PARA APLICAÇÃO EM ACESSÓRIOS DE UM
BIODIGESTOR
Matheus Von Biveniczko Tomio
Vanessa Aparecida de Sá Machado
Ana Carolina Tedeschi Gomes Abrantes
DOI 10.22533/at.ed.00619240719

CAPÍTULO 20........................................................................................................... 213


AVALIAÇÃO DO BIOGÁS PRODUZIDO EM REATORES UASB EM ETE
Carolina Bayer Gomes Cabral
Christoph Julius Platzer
Carlos Augusto de Lemos Chernicharo
Paulo Belli Filho
Heike Hoffmann
DOI 10.22533/at.ed.00619240720

CAPÍTULO 21........................................................................................................... 225


USO DE VEÍCULO AÉREO NÃO TRIPULADO (VANT) NO MONITORAMENTO DOS ESTÁDIOS DE
DESENVOLVIMENTO DA CULTURA DO MILHO
Ricardo Guimarães Andrade
Marcos Cicarini Hott
Walter Coelho Pereira de Magalhães Junior
Pérsio Sandir D’Oliveira
Jackson Silva e Oliveira
DOI 10.22533/at.ed.00619240721

SUMÁRIO
CAPÍTULO 22........................................................................................................... 235
USO DE VEÍCULO AÉREO NÃO TRIPULADO (VANT) PARA ESTIMATIVA DE VIGOR E DE
CORRELAÇÕES AGRONÔMICAS EM GENÓTIPOS DE CAPIM CYNODON
Marcos Cicarini Hott
Ricardo Guimarães Andrade
Walter Coelho Pereira de Magalhães Junior
Flávio Rodrigo Gandolfi Benites
DOI 10.22533/at.ed.00619240722

SOBRE O ORGANIZADOR...................................................................................... 245

ÍNDICE REMISSIVO................................................................................................. 246

SUMÁRIO
CAPÍTULO 1

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS ENCONTRADOS NA


REDE DE DRENAGEM DA ÁREA CENTRAL DO MUNÍCIPIO
DE CONCÓRDIA EM SANTA CATARINA

Julio Cesar Rech Concórdia – Santa Catarina


Universidade do Contestado, curso de Engenharia
Civil
Concórdia – Santa Catarina
RESUMO: Algumas cidades brasileiras se
Ana Paula Gasperin desenvolveram próximo ou muito próximo
Universidade do Contestado, curso de Engenharia
de cursos hídricos, desta forma, em períodos
Civil
de intensa precipitação ocorrem problemas
Concórdia – Santa Catarina
de alagamentos e enchentes. As redes de
Susane Deparis drenagem existentes, muitas vezes não
Universidade do Contestado, curso de Engenharia
são projetadas adequadamente, sendo
Civil
subdimensionadas e também se tornam
Concórdia – Santa Catarina
pontos de acúmulo de resíduos urbanos
Mariana Pereira descartados inadequadamente. Muitas
Universidade do Contestado, curso de Engenharia
dessas características estão presentes na
Ambiental e Sanitária
área de estudo desta pesquisa. O município
Concórdia – Santa Catarina
de Concórdia se desenvolveu nas margens
Luana Aparecida Paganini
de rios e córregos, com planejamento urbano
Universidade do Contestado, curso de Engenharia
desordenado e possui topografia irregular,
Ambiental e Sanitária
resultando em constantes casos de alagamentos
Concórdia – Santa Catarina
e enchentes. Algumas medidas podem ser
Ediana Dianei de Oliveira
adotadas para minimização desses impactos
Universidade do Contestado, curso de Engenharia
Ambiental e Sanitária e garantir que as redes de drenagem operem
em sua capacidade efetiva. Essas medidas
Concórdia – Santa Catarina
sugeridas envolvem o impedimento da entrada
Patrique Savi
dos resíduos nas estruturas de drenagem.
Universidade do Contestado, curso de Engenharia
Ambiental e Sanitária Partindo deste contexto, o objetivo desse artigo
Concórdia – Santa Catarina é identificar os resíduos sólidos carreados
pelo escoamento pluvial para o sistema de
Aline Schuk Rech
Universidade do Contestado, curso de Engenharia drenagem no município. Para isso, foram
Ambiental e Sanitária instalados filtros de malha de aço maleável em
três bocas de lobo na região central. A escolha

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 1


das bocas de lobo é em virtude do local ter incidência de inundações e o filtro é devido
a falta de padronização no tamanho das bocas de lobo. Após determinado tempo de
permanência dos filtros nas estruturas pode-se identificar a presença predominante
de matéria orgânica (folhas e solos) resultante da ineficiência dos serviços de poda e
varrição no local. Esse material obstrutivo precisa ser removido com frequência das
tubulações, assim garante a funcionalidade da estrutura. Há necessidade também de
aplicar um conjunto de medidas envolvendo a educação ambiental, cronograma anual
de manutenção e cuidados com a execução de determinados serviços, a exemplo da
varrição e podas com o recolhimento imediato dos resíduos. Os resíduos encontrados
nas bocas de lobo somado ao alto índice de impermeabilização central, e o relevo
acidentado são fatores agravantes para aumento de inundações no município de
Concórdia.
PALAVRAS-CHAVE: Urbanização. Drenagem urbana. Resíduos. Alagamentos.

ABSTRACT: In Brazil, cities grew near rivers. Problems with flooding are frequent and
are aggravated by the irregular disposition of urban solid waste. Solid urban waste
obstructs the drainage network. These characteristics are present in the study area of​​
this research. The municipality of Concordia is next to rivers and streams, has disorderly
urban planning and irregular topography, resulting in constant flooding. Some measures
can be taken to minimize these impacts and ensure that drainage networks operate
at their effective capacity. These suggested measures involve preventing the entry of
waste into drainage structures. The objective of this article is to identify the solid wastes
carried by the rainwater to the drainage system in the municipality. For this, filters of
malleable steel mesh were installed in three storm drain in the central region. The storm
drain are located in flood area and the filter is due to lack of standardization in the size
of the storm drain. After a time of residence of the filters in the structures it is possible
to identify the predominant presence of organic matter (leaves and soils) resulting from
the inefficiency of pruning and sweeping services at the site. This obstructive material
needs to be frequently removed from the piping, thus ensuring the functionality of the
structure. There is also a need to apply a set of measures involving environmental
education, annual maintenance and care with the execution of certain services, such
as sweeping and pruning with the immediate collection of waste. The residues found
in the mouths of storm drain added to the high index of central waterproofing, and the
rugged relief are aggravating factors for flood increase in the municipality of Concordia.
KEYWORDS: Urbanization. Urban drainage. Solid waste. Flooding.

1 | INTRODUÇÃO

A drenagem urbana quando realizada de forma tradicional, sem integrar


soluções ambientais com as tecnológicas, conduz o problema de acúmulo de água
para a jusante, visto que somente propõe-se a realizar o escoamento rápido das
águas priorizando a melhoria do fluxo. A melhor solução é conciliar as tecnologias

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 2


eficientes e de menor custo levando em consideração o ciclo hidrológico local, a
gestão correta da água no meio urbano, a educação ambiental, a participação ativa
da sociedade e a regulamentação adequada do zoneamento urbano (POMPÊO,
2000).
A urbanização acelerada em determinadas regiões urbanas nos últimos anos,
trouxe problemas executivos e de manutenção nos sistemas de drenagem pluviais.
Estes fatores são agravados quando relacionados com a localização das cidades na
bacia hidrográfica. Inúmeras cidades brasileiras foram construídas nas proximidades
de margens de rios e sofrem constantemente com alagamentos, perdas financeiras
e conforme a intensidade pode haver perda de vidas humanas.
O município de Concórdia possui alta taxa de impermeabilização do solo,
especialmente nas proximidades de margens de rios e córregos (DEPARIS, 2014).
A impermeabilização está relacionada à falta de planejamento ocorrido no início da
formação do município, à fragmentação da vegetação, além do descumprimento
das leis municipais em relação ao surgimento de novas edificações, favorecendo a
abertura de ruas e construções de residências e prédios. Outra relação abordada
refere-se às características físicas do relevo, que favorece a resposta rápida ao
tempo de concentração na bacia hidrográfica (VICENTE JUNIOR, 2014).
Além da urbanização, existem outros fatores que auxiliam no agravamento das
inundações em algumas regiões, sendo eles, o acondicionamento inadequado dos
resíduos urbanos, incluindo resíduos domiciliares, de poda, varrição e resíduos da
construção civil, etc., e as ligações clandestinas de esgoto nas redes, aumentando
a vazão e reduzindo a capacidade de drenagem. Apesar de todos os trabalhos
voltados para a educação ambiental ressaltando a importância da disposição e
armazenamento adequado, estes resíduos são comumente encontrados nas redes
de drenagem. Em períodos de elevadas precipitações, tais resíduos são carreados e
retidos nos sistemas de microdrenagem, fazendo-se necessária a limpeza periódica
do material acumulado, à medida que aumenta a concentração de resíduos nos
componentes estruturais.
A manutenção dos sistemas de micro e macrodrenagem são de responsabilidade
dos órgãos públicos. No entanto, as secretarias de obras municipais estão
sobrecarregadas de tarefas, sendo a realização da desobstrução das redes
de drenagem realizada de acordo com a urgência e roteiros, prejudicando o
funcionamento do sistema. Além destes fatores interferentes, a grave situação do
saneamento básico, principalmente em relação à drenagem e manejo das águas
pluviais e esgotamento sanitário, soma-se à disposição inadequada dos resíduos,
e falta de manutenção e limpeza da rede, provocando perdas materiais para a
população (VICENTE JUNIOR, 2014).
A problemática desta pesquisa envolve o acondicionamento inadequado dos
resíduos sólidos urbanos pela população, somado a ineficiência dos serviços de
manutenção e desobstrução dos sistemas de drenagem pelos órgãos gestores,
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 3
causando a deficiência no funcionamento das tubulações. O município de
Concórdia está localizado em torno do rio dos Queimados, sendo a área central
urbanizada, sofrendo com constantes alagamentos setoriais quando da ocorrência
de precipitações elevadas na bacia hidrográfica. Desta forma, esta pesquisa buscou
através da instalação de filtros em bocas de lobo coletar os resíduos para posterior
caracterização e avaliar as fontes dos resíduos capturados, e propor medidas
mitigadoras de controle, seja elas estruturais ou não estruturais.

2 | DRENAGEM URBANA

A drenagem urbana é um dos eixos do saneamento básico promulgado pela


Lei 11.445/2007 sendo um direito adquirido pela população. O termo drenagem
refere-se ao ato de escoar as águas por meio de canais presentes em rodovias,
áreas rurais ou urbanas. Por muitos anos, as estruturas convencionais não levavam
em consideração o ciclo hidrológico, transferindo o problema para a jusante que
frequentemente sofre com problemas de inundação (DIAS e ANTUNES, 2010).
O sistema de drenagem recebe resíduos de diferentes fontes (BARRASS, 1977).
Os poluentes frequentemente transportados pelo escoamento são: sedimentos,
nutrientes, substâncias que consomem oxigênio, metais pesados, hidrocarbonetos
do petróleo, bactérias e vírus patogênicos (TUCCI, 2008). Este tipo de poluição é
classificado como difusa, sendo que é proveniente de diversas atividades distribuídas
ao longo da bacia hidrográfica (GAVA & FINOTTI, 2012).
Os sistemas de drenagem podem ser definidos em microdrenagem e
macrodrenagem. Os sistemas de microdrenagem são os sistemas primários que
realizam a coleta e condução das águas. São compostos por pavimentos de ruas,
bocas de lobo, sarjetas, guias, galerias, usualmente enterradas, com um período de
retorno de 2 a 10 anos (BAPTISTA et al., 2005; DIAS e ANTUNES, 2010). Sistemas
de macrodrenagem estão relacionados a canais, rios, galerias, etc. Na figura 1 são
ilustrados de forma clara alguns componentes básicos de microdrenagem.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 4


Figura 1 - Componentes do sistema de micro drenagem.
Fonte: A autora (2016).

No Brasil as obras de macrodrenagem geralmente são do tipo canal aberto


coberto pelo sistema viário e edificações, porém, essas implantações demandam
maior tempo e custos elevados, assim como a necessidade de vastas áreas
livres, resultando em diversos problemas, como dificuldade de manutenção, alta
impermeabilização do solo, recorrentes inundações e escoamento extremamente
rápido (TUCCI, 2000; PHILIPP JUNIOR; ARLINDO, 2005). Na figura 2 ilustra um
trecho canalizado do rio Queimados, localizado no centro de Concórdia.

Figura 2 - Canalização do rio Queimados em Concórdia coberto por edificações.


Fonte: A autora (2016).

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 5


O município de Concórdia há tempos vem sofrendo com a alta taxa de
impermeabilização do solo e falta de planejamento das áreas urbanizadas,
acarretando problemas quanto ao escoamento das águas, favorecendo constantes
casos de enchentes e inundações (PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO DE
CONCÓRDIA, 2013).

3 | SISTEMAS ALTERNATIVOS PARA CAPTURA DE RESÍDUOS

Cruz, Souza & Tucci (1997) definem como sistemas de drenagem sustentáveis,
as alternativas que busquem minimizar os efeitos negativos infligidos aos processos
naturais e sociais, assim como os problemas causados ao município em relação à
manutenção dos sistemas e ampliação das infraestruturas. De acordo com Tucci
(2002) as soluções sustentáveis frequentemente são constituídas por medidas não
estruturais. O papel da educação ambiental é essencial para a conscientização da
população e auxiliam na conservação dos sistemas de drenagem, muitos municípios
utilizam dessa ferramenta para evitar o lançamento de lixos e entulhos em vias
públicas, corpos d’água, lotes e demais localidades, incentivando o respeito aos
dias e horários da coleta do lixo (SCHUCK et al., 2015). Na figura 3 é ilustrado
o folder distribuído pela prefeitura de Concórdia para os munícipes buscando a
conscientização ambiental, voltado à coleta, armazenamento e disposição de
resíduos sólidos.

Figura 3 – Folder de incentivo do município à educação ambiental.


Fonte: Prefeitura Municipal de Concórdia (2016).

Uma alternativa viável e de baixo custo, é a instalação de filtros nas entradas das
bocas de lobo para retenção dos materiais sólidos antes que os mesmos cheguem
às redes de macro drenagem. Os filtros geralmente com diâmetro de 5 a 20 mm são
colocados abaixo das grelhas e permitem a passagem da água. O material retido deve
ser retirado periodicamente a cada 4 ou 6 semanas por uma equipe de manutenção,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 6


sendo que o tempo para a manutenção do equipamento deve ser estimado de
acordo com o tamanho da malha e a natureza do resíduo, visto que quanto menor
o diâmetro, maior o número de partículas e materiais retidos, aumentando a chance
de bloquear a passagem da água, tornando o sistema ineficiente (ALLISON et al.,
1998).
A importância dos investimentos na manutenção dos equipamentos, realização
de obras, reparos, limpezas, vistorias e constantes fiscalizações, deve ser ressaltada
e deverão ser realizadas periodicamente para garantir a eficiência e vida útil das
estruturas (SCHUCK et al., 2015). No estudo realizado por Schuck et al. (2015) foi
realizada a análise de bocas de lobo em dois loteamentos no município de Concórdia,
onde foram encontrados plásticos e papéis, que provavelmente foram carreados
durante os eventos de precipitação. Ainda de acordo com os autores, tais resíduos
são predominantes nas redes de micro e macro drenagem, aumentando nos períodos
de precipitações intensas, sendo sua origem possivelmente do acondicionamento e
disposição inadequados nas vias públicas.
Devido à alta exigência de manutenção dos filtros e a grande quantidade
de bocas de lobo, a instalação somente é recomendada em áreas comerciais e
industriais. Os modelos de filtros podem diferenciar, sendo de plástico ou aço, com
tamanhos de poros distintos e técnicas de limpeza manuais ou automatizadas. Os
filtros de plástico possuem limpeza facilitada e menor tendência de emaranhamento
da malha, porém, a limpeza exige um aspirador especial (ALLISON et al., 1998).
As bocas de lobo devem ser limpas periodicamente, sendo que a limpeza pode
ser realizada de forma manual ou mecânica consistindo na remoção de resíduos
que se acumulam nas caixas. Os materiais procedentes devem ser dispostos em
um local adequado e em seguida encaminhados ao aterro sanitário, para verificar
se podem se enquadrar na categoria de resíduos ou rejeitos, sendo que alguns
elementos podem virar insumos e voltar a ser reutilizados (SCHUCK et al., 2015).
De acordo com o Plano Municipal de Saneamento (PMS) de Concórdia (2013), não
existe um cronograma que determine a frequência da limpeza e desobstrução das
galerias de águas pluviais, o procedimento é apenas realizado quando os problemas
se tornam evidentes e de forma pontual.

4 | APLICAÇÃO DOS COLETORES DE RESÍDUOS

Esta pesquisa foi conduzida no município de Concórdia que está localizado


na região oeste do estado de Santa Catarina. De acordo com o IBGE (2016) está
localizado entre as coordenadas de 27º13’55’’ Latitude e 52º00’26’’ Longitude, com
população estimada de 74.106 habitantes, área de 799,194 km², precipitação média
entre 1413 a 2000 mm ano, altitude 550 metros acima do nível do mar, IDH de 0,800
e um PIB per capita de R$ 39.910,16. O município pertence a região da AMAUC –
Associação dos Municípios do Alto Uruguai Catarinense (Figura 4).

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 7


O município é banhado pelos rios dos Queimados, Uruguai, Jacutinga, Rancho
Grande, Suruvi e contribuições independentes. A maior parte de sua área urbanizada
está localizada na Bacia do Rio dos Queimados, sendo o principal corpo hídrico
dos sistemas de microdrenagem. O rio dos Queimados nasce e deságua dentro do
município, com a nascente localizada na comunidade de Linha São José e deságue
no Rio Uruguai, o seu leito se desenvolveu sinuosamente pela malha urbana.

Figura 4 – Municípios da AMAUC.


Fonte: GEDEQ (2018).

Na região em que o rio dos Queimados passa pela cidade, existe um histórico
de inundações, onde cheias provocaram danos aos comerciantes e moradores. Há
relatos de inundações nos seguintes meses e anos: agosto de 1982, maio e julho de
1983, agosto de 1984, maio de 1987, janeiro de 1988, maio de 1992, junho de 1998,
setembro de 2000, julho de 2007 e 25 de abril de 2010 (PMS, 2013). Devido esse
histórico de inundações e pelo município estar localizado próximo às margens de um

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 8


importante curso hídrico para a região, tornou-se indagatório qual a quantidade de
resíduos em área urbana é disposta nos sistemas de drenagem e esta chegando a
estas fontes hídricas.
Desta forma, foi delimitada a área de estudo considerando as seguintes
características: área com alto índice de registro de inundações, ruas com intenso
movimento de veículos e pedestres, bocas de lobo que permita a instalação dos
filtros, permanência dos filtros instalados no mínimo uma semana. Após aplicação
foram definidas 3 bocas de lobos para a aplicação dos filtros. Essas bocas de lobo
estão ilustradas na figura 5.

Figura 5. Localização das três bocas de lobo com a instalação do filtro.

1ª boca de lobo monitorada; 2ª boca de lobo monitorada; 3ª boca de lobo monitorada. Fonte:
Autor (2016).

Os resíduos retidos na malha foram recolhidos e transportados até o Laboratório


de Engenharia Civil da Universidade do Contestado – UnC. O material retido foi
separado, classificado e pesado em equipamentos calibrados após secagem em
estufa por 24 horas a 105ºC. A coleta foi realizada após a permanência de no mínimo
uma semana nas bocas de lobo no período de agosto à outubro de 2016. Após
a quantificação dos resíduos encontrados, foram analisadas a funcionalidade dos
filtros, e a real situação do volume carreado para o rio dos Queimados.
Para as coletas de dados foram realizadas visitas aos locais aonde se
encontram as bocas de lobo com maior incidência de inundações no município,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 9


para isso foram realizadas observações diretas e registros fotográficos. Após a
verificação da característica da construção do dispositivo, analisou-se quais seriam
os mecanismos que poderiam ser instalados a fim de reter os resíduos sólidos
dispostos irregularmente nas vias públicas. Devido às bocas de lobo não possuírem
formato padronizado e estarem com o sistema de grelhas (grades) concretado, a
melhor escolha adaptada foi a instalação de filtros maleáveis. O filtro consiste em
uma malha de polímero plástico que servirá para retenção tornando-se possível
realizar o monitoramento dos resíduos sólidos drenados junto com o escoamento
pelas bocas de lobo.
Primeiramente foram definidas ruas com alto índice de inundação na região
central do município. Dentre elas, selecionaram-se três ruas de maior trafegabilidade
e frequência de casos de inundações que possuem características semelhantes às
demais. Em seguida, houve a instalação do primeiro filtro em uma boca de lobo
localizada na Rua Adolfo Konder em frente a um colégio com grande movimentação
de transeuntes. A localização da boca de lobo está nas coordenadas E 398633.45
m S 6987735.43 m. Esse filtro foi identificado nesta pesquisa como ponto de
monitoramento nº 1 (figura 6).

Figura 6 - Boca de lobo identificada como ponto de monitoramento nº 1.

*Área circundada em branco na imagem é a localização da boca de lobo. Fonte: Autor (2016).

A segunda boca de lobo escolhida para a instalação do filtro está localizada na


Rua Doutor Maruri, a qual conta com grande movimentação de pessoas e carros,
região de constantes alagamentos que está inserida nas coordenadas E 398435.27m
S 6987449.17m (figura 7). Esse filtro foi identificado como ponto de monitoramento
nº 2.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 10


Figura 7 - Boca de lobo identificado como ponto de monitoramento nº 2.

*Área circundada em branco na imagem é a localização da boca de lobo. Fonte: Autor (2016).

A terceira e última boca de lobo encontra-se localizada na Rua Guilherme


Hemult Arendt e é descarregada diretamente no sistema de macrodrenagem (rio dos
Queimados) localizada nas coordenadas E 398721.02 m S 6987827.77 m. A figura 8
ilustra a boca de lobo, identificada como o ponto de monitoramento nº 3.

Figura 8 - Boca de lobo identificado como ponto de monitoramento nº 3.


Fonte: Autor (2016).

Foram obtidas informações de três períodos distintos, denominados de


amostragem 1, 2 e 3. Em cada amostragem houve um tempo de permeância
dos filtros e foram coletados diferentes resíduos. A seguir serão apresentados os
resultados obtidos nesses monitoramentos.
- Amostragem nº1: Os filtros permaneceram instalados nas três bocas de lobo
por dez dias no mês de Julho de 2016. O total acumulado de precipitação é de 34
mm, disposto em três dias chuvosos.
- Amostragem nº2: A segunda instalação dos filtros aconteceu também no

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 11


mês de julho permanecendo instalado por dez dias. Nesse período foram registrados
06 eventos consideráveis com precipitação acumulada de 136 mm.
- Amostragem nº3: Na terceira instalação dos filtros, o período de permanência
foi de dez dias no mês de outubro, totalizando 07 eventos de precipitação com
precipitação acumulada de 158 mm.
Os resultados sobre os resíduos retidos no filtro instalado nas três bocas de
lobo, durante três períodos de amostragem estão ilustrados na tabela 4.

Material preso no filtro úmido


Precipitação Monitoramento/
Amostragem Orgânico Plástico
acum. (mm) boca de lobo Vidro (kg)
(kg) (kg)
1 5,780 0,000 0,000
1ª 34 2 2,520 0,000 0,000
3 2,230 0,000 0,000
1 2,080 0,360 0,340
2ª 136 2 2,180 0,040 0,000
3 0,880 0,000 0,000
1 2,710 0,093 0,000
3ª 158 2 6,870 0,000 0,000
3 1,150 0,150 0,000

Tabela 4- Registro de temperatura e precipitação durante na 3ª amostragem.


Fonte: Autor (2016).

O material orgânico descrito neste artigo esta relacionado a folhas, solo,


galhadas, papel e bituca de cigarro. O plástico refere-se à plástico em geral,
sacola plásticas, plástico de doces, salgadinhos, etc. As bocas de lobos nº1 e nº2
apresentaram maior retenção de resíduos sólidos em relação à boca de lobo nº3. O
peso total recolhido na boca de lobo nº1 é 10,570kg, boca de lobo nº2 é 11,570kg
e a boca de lobo nº3 é 4,260kg. A matéria orgânica foi o resíduo predominante em
todas as coletas. Estes valores podem ser justificados devido à presença de árvores,
movimentação frequente de veículos e transeuntes, disposição incorreta de resíduos
de poda e varrição ou tais serviços realizados de forma ineficiente. Já a boca de
lobo 3 apresentou retenção de apenas 4,260 kg de material úmido, sendo justificado
devido à menor movimentação de transeuntes e veículos e ausência de árvores
próxima à essa boca de lobo.
A disposição inadequada dos resíduos afeta diretamente a qualidade e
escoamento da água, exigindo esforços em conjunto com a população e poder
público, sendo a Prefeitura Municipal a detentora da maior responsabilidade, devendo
garantir a limpeza das vias e manutenção dos sistemas de drenagem. A geração de
resíduos é interligada ao estilo de vida levado pela população e características do

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 12


zoneamento do local.

5 | CONCLUSÃO

Os resíduos capturados pelos filtros são principalmente material orgânico,


mesmo com os serviços de varrição sendo realizados diariamente nas regiões
centrais. O volume de resíduos que chega as bocas de lobo aumenta a incidência
de obstruções podendo sedimentar no fundo dos canais dificultando o escoamento,
tornando indispensável a limpeza e manutenção dos sistemas de drenagem. A
quantidade de resíduos (plástico e vidro) capturados nas bocas de lobo é praticamente
inexistente, porém através de constatação visual realizada nas galerias observou-se
quantidade considerável de materiais rejeitados pela população.
Portanto constata-se que a coleta de lixo e os serviços de poda e varrição
que são de responsabilidade dos órgãos públicos estão sendo ineficientes, devendo
haver uma maior conscientização dos funcionários, neste caso a educação ambiental
enquadra-se como uma medida não estrutural altamente eficaz e de baixo custo. A
melhor solução para o município é um conjunto de medidas de controle, alternando
entre estruturais e não estruturais, a princípio alterando o dispositivo de drenagem
que são compostos por grades fixas, para grades semi fixas facilitando a limpeza,
aumentando também a frequência e eficiência das manutenções, para evitar
problemas no futuro. A educação ambiental deve ser realizada com os funcionários
e população no geral, sendo uma ferramenta imprescindível para a conservação do
meio.

REFERÊNCIAS
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Drenagem Urbana. 2. ed. Porto Alegre: Abrh, 2011. 318 p.

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DRENAGEM DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO MEIO, FLORIANÓPOLIS. Geas - Revista de
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Drenagem Urbana: Aspectos Conceituais. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 13, n. 3, p.1-
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CONCÓRDIA/SC E SUAS PROPOSIÇÕES AMBIENTAIS. 2014. 57 f. Monografia (Especialização)
- Curso de M Gestão Ambiental em Municípios, Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Medianeira, 2014.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 1 14


CAPÍTULO 2

AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E


LÍQUIDOS DE UM LATICÍNIO DO NORTE DO PARANÁ

Ana Paula Jambers Scandelai consequência dessa produção, surgem os


Universidade Estadual de Maringá, Departamento problemas relacionados à poluição ambiental,
de Engenharia Química sendo os principais impactos ambientais
Maringá – Paraná causados por este setor os referentes ao
Danielly Cruz Campos Martins lançamento dos efluentes, à geração de
Universidade Estadual de Maringá, Departamento resíduos sólidos e às emissões atmosféricas.
de Engenharia Química
Diante do exposto, o objetivo deste estudo
Maringá – Paraná foi identificar os resíduos sólidos e líquidos
Luiz Roberto Taboni Junior inerentes à produção de leite um laticínio de
Universidade Estadual de Maringá, Departamento grande porte, localizado no norte do estado do
de Engenharia Civil
Paraná. Foi realizada uma avaliação do atual
Maringá – Paraná
sistema de gestão, tratamento e/ou destinação
Murilo Keith Umada destes resíduos. Também foi efetuado o
Universidade Estadual de Maringá, Departamento
levantamento e a descrição dos processos de
de Engenharia Civil
tratamento de efluente adotado pela empresa,
Maringá – Paraná
bem como uma análise da qualidade do efluente
Fernanda de Oliveira Tavares antes e após o seu tratamento. Por fim, foram
Universidade Estadual de Maringá, Departamento
identificados pontos de melhorias e medidas
de Engenharia Química
foram propostas para a progressão na gestão
Maringá – Paraná
dos resíduos sólidos e líquidos, com a finalidade
Cristhiane Michiko Passos Okawa de reduzir os poluentes e o impacto ambiental
Universidade Estadual de Maringá, Departamento
provocado pela produção de leite. Os dados
de Engenharia Civil
mostraram que a organização tem cumprido
Maringá – Paraná
os requisitos impostos pelas legislações
ambientais, resultando em um efluente tratado
com parâmetros físico-químicos dentro dos
RESUMO: O Brasil é um dos maiores produtores padrões estabelecidos. A gestão dos resíduos
mundiais de leite, tendo produzido em 2017 sólidos também se apresentou eficaz, sendo
mais de 35 bilhões de litros, sendo o sul do país, feita a destinação adequada dos mesmos.
a região mais produtora, responsável por 37% Visando à maior qualidade ambiental, medidas
da produção nacional de leite em 2016. Como de melhorias foram propostas, em relação,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 2 15


principalmente, à gestão do lodo gerado durante o tratamento terciário de efluentes,
bem como da gestão da água potável.
PALAVRAS-CHAVE: Efluente Lácteo, Tratamento de Efluentes, Monitoramento de
Resíduos, Redução de Impacto Ambiental, Medidas de Melhorias.

EVALUATION OF SOLID AND LIQUID WASTE MANAGEMENT IN A DAIRY FROM


THE NORTH OF PARANÁ

ABSTRACT: Brazil is one of the world’s largest producers of milk, having produced in
2017 more than 35 billion liters. The south of the country is the most productive region,
responsible for 37% of the milk production in 2016. As a consequence of this production
problems related to environmental pollution emerge. The main environmental impacts
caused by this sector are related to wastewater discharge, solid waste generation and
atmospheric emissions. In view of this, this study aimed to identify the solid and liquid
residues inherent to milk production in a large dairy located in the north of Paraná state.
An evaluation of the current system of management, treatment and/or disposal of these
wastes was carried out. It was also accomplished a survey and a description of the
wastewater treatment processes adopted by the company, as well as an analysis of
the wastewater quality before and after its treatment. Finally, improvement points were
identified and measures were proposed for solid and liquid waste advancement, in order
to reduce pollutants and the environmental impact caused by milk production. The data
showed that the organization has met the requirements imposed by environmental
legislation, resulting in a treated wastewater with physicochemical parameters below
the established standards. The solid waste management was also effective, with its
proper destination being made. Aiming the highest environmental quality, improvement
measures were proposed, mainly in relation to the drinking water and the wastewater
treatment sludge management.
KEYWORDS: Dairy Wastewater, Wastewater Treatment, Waste Monitoring,
Environmental Impact Reduction, Improvement Measures.

1 | INTRODUÇÃO

A indústria de laticínios representa um importante setor para o Brasil, não


somente pelo seu valor econômico, com elevados faturamentos, geração de
empregos e interação econômica entre os setores rural e industrial, como também
pelo suprimento de produtos de elevado valor nutricional (LIMA; PEREZ; CHAVES,
2017).
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de leite, produzindo nos anos
de 2016 e 2017, 33 e 35,1 bilhões de litros, respectivamente, dos quais 70,4% foram
destinados ao processamento nas fábricas de laticínio registradas. Tamanha a
versatilidade dos produtos derivados de leite, em 2017 esse setor industrial faturou
R$ 70,2 bilhões de reais, ficando apenas atrás do segmento de derivados de carne
(COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO, 2017; EMBRAPA, 2018).

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 2 16


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2016), a região sul
do país foi a maior produtora de leite em 2016, responsável por 37% da produção
nacional, seguida pelas regiões sudeste, centro-oeste, nordeste e norte. Na cidade
em que se localiza o laticínio investigado neste estudo, foram produzidos mais de
2,3 milhões de litros de leite em 2016.
Devido à indústria de laticínios ser um setor de grande importância e com
crescente produção, surgem também problemas relativos à poluição ambiental. Nesse
sentido, Matos (2005), aborda que as atividades agropecuárias e de processamento
de produtos agropecuários, como é o caso das indústrias de processamento de leite,
têm promovido sérios problemas de poluição não somente no solo como também
nas águas superficiais e subterrâneas.
Os principais impactos ambientais causados pelas fábricas de laticínios estão
relacionados, sequencialmente, ao lançamento dos efluentes, à geração de resíduos
sólidos e às emissões atmosféricas que, em muitos casos, ocorre sem nenhum tipo
de controle ou tratamento (BARBOSA et al., 2009; SARAIVA; MEDONÇA; PEREIRA,
2009). Todos esses resíduos produzidos indicam a necessidade de atenção a esse
setor produtivo.
A crescente preocupação com o recurso natural água ocorre em função de
seu comprometimento tanto em quantidade, sendo escasso em algumas regiões do
país, quanto em qualidade. Neste panorama, o setor de alimentos se destaca pelo
elevado consumo de água em seus processos produtivos e, consequentemente,
pela geração de grandes volumes de efluentes, além da elevada geração de lodo
nas estações que utilizam processos de tratamento biológicos.
Segundo Buss e Henkes (2015), os efluentes líquidos são os principais
responsáveis pela poluição causada pela indústria de laticínios. Esses abrangem
as águas de limpeza e higienização de equipamentos e pisos, as quais carreiam
resíduos de leite e seus derivados, assim como resíduos líquidos inerentes ao
processo de produção, como o soro do leite, o qual apresenta elevada carga
orgânica (SILVA; SIQUEIRA; NOGUEIRA, 2018). Já os resíduos sólidos gerados
em laticínios, de acordo com Jerônimo et al. (2012), se constituem de sobras do
processo, embalagens plásticas e de papel, cinzas de caldeira, gorduras e resíduos
provenientes de pátios e refeitórios.
Dadas às características e os grandes volumes dos resíduos gerados nas
indústrias de laticínios, é necessário que haja um correto gerenciamento dos
mesmos, a fim de mitigar a severidade dos impactos ambientais.
Os efluentes, por possuírem elevado teor de matéria orgânica, se lançados aos
corpos receptores sem tratamento prévio adequado, podem alterar a qualidade de
suas águas, impactando todo o ecossistema aquático e inviabilizando seu múltiplo
uso à jusante do lançamento (AZZOLINI; FABRO, 2013). Devido a isso, os efluentes
necessitam ser tratados antes de lançados nos corpos hídricos, de forma a atender
a Resolução CONAMA nº 430/2011 (BRASIL, 2011), a qual dispõe de condições e
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 2 17
padrões de seu lançamento.
Os resíduos sólidos, por sua vez, se não manejados, segregados e destinados
corretamente, podem contribuir com a poluição do solo e da água e, por esse motivo,
devem atender às especificações da Lei nº 12.305/2010 (BRASIL, 2010), a qual
estabelece diretrizes para sua correta destinação.
Diante do exposto, o presente trabalho objetivou identificar os resíduos sólidos
e líquidos gerados em um laticínio de grande porte, localizado no norte do estado do
Paraná, bem como realizar a avaliação da atual situação da gestão, tratamento e/ou
destinação destes resíduos.

2 | MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Local de estudo


A presente pesquisa foi conduzida em uma indústria de laticínios, localizada
no norte do estado do Paraná, a qual possui, aproximadamente, 400 colaboradores.
Além desta unidade, a empresa possui filial nos estados de Espírito Santo, Minas
Gerais e São Paulo.
A unidade investigada fabrica e comercializa as seguintes bebidas ultra high
temperature (UHT): leite (desnatado, semidesnatado, integral e zero lactose), bebida
láctea (de aveia, achocolatado e vitaminada), sucos e leite com soja, néctar (sabores
diversos), além do creme de leite.
Diariamente, são produzidos, aproximadamente, 40 mil litros de leite
UHT, principal produto da unidade, os quais são industrializados por meio dos
processos sequenciais de: recepção, controle analítico, resfriamento e estocagem,
pasteurização, centrifugação, ultrapasteurização, esterilização, empacotamento e
estocagem.

2.2 Coleta de dados


Foi realizado o levantamento in loco dos principais resíduos sólidos gerados
pela organização, associando-os às suas atividades geradoras, bem como a sua
quantificação e informações relacionadas ao seu armazenamento e destinação final,
mediante o monitoramento do setor de triagem de resíduos sólidos.
A fim de avaliar as características físico-químicas do efluente produzido
pela organização, foi realizado o levantamento e a descrição dos processos de
tratamento utilizados, assim como a análise da qualidade do efluente antes e após
o seu tratamento. A partir dos dados levantados, foram identificados os pontos de
melhorias e medidas foram propostas para a progressão na gestão dos resíduos
sólidos e líquidos, com o intuito de reduzir os poluentes e o impacto ambiental
provocado pela organização.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 2 18


3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Resíduos líquidos

Foi verificado que as águas residuais geradas na indústria estudada são


compostas por sobras do processo produtivo, como o leite e seus derivados, açúcar,
pedaços de frutas, essências e águas de lavagem de equipamentos, tubulações,
pisos e demais instalações, as quais carreiam areia, lubrificantes; detergentes e
desinfetantes. A cada litro de leite processado são gerados, em média, três litros de
efluente.
As etapas identificadas como menores geradoras de efluente foram a
pasteurização e a ultrapasteurização, em decorrência desses processos ocorrerem
em circuito fechado, permitindo que a água seja ciclicamente utilizada tanto no
aquecimento quanto no resfriamento do processo. Por outro lado, a etapa de
centrifugação do leite foi identificada como o processo de maior geração de efluente.
Nessa etapa, a cada 10 mil litros de leite produzido, são gerados entre oito e 12 litros
de efluente, decorrentes de uma descarga realizada a cada 40 minutos. Na Figura
1 são apresentados os processos utilizados pela organização para tratamento do
efluente líquido gerado em seus processos produtivos.

Figura 1: Etapas do processo de tratamento do efluente

Nota: PAC = policloreto de alumínio (coagulante) e PC = polímero catiônico (floculante).

O sistema de tratamento de efluente utilizado pelo laticínio é composto por


métodos convencionais, isto é, físico-químicos e biológicos. Estes compreendem
os seguintes processos sequenciais: tratamento preliminar (desengordurador e
tanque de equalização), tratamento secundário (lagoas de estabilização anaeróbia e
facultativas) e polimento físico-químico (coagulação-floculação-sedimentação).
O tratamento secundário, principal etapa do sistema, é composto por três
lagoas de tratamento, sendo, sequencialmente, uma anaeróbia e duas facultativas.
A primeira é revestida de geomembrana de polietileno de alta densidade (PEAD)
para proteção do solo e de águas subterrâneas. Possui comprimento, largura e
profundidade de 100 m, 25 m e 4 m, respectivamente; e degrada o efluente por meio

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 2 19


da ação de microrganismos anaeróbios. A segunda lagoa (facultativa) possui 100
m de comprimento, 25 m de largura e 3 m de profundidade e a sua ação se dá por
meio das algas, as quais se proliferam em função da sua maior taxa fotossintética,
contribuindo com a redução da matéria orgânica do efluente parcialmente degradado.
A terceira e última lagoa (facultativa) tem a finalidade de aumentar a fotossíntese
e, consequentemente, melhorar a degradação do efluente. Possui comprimento,
largura e profundidade de 100 m, 18 m e 2 m, respectivamente.
Para se adequar à legislação ambiental, a organização adota o tratamento
físico-químico como processo de polimento. Na coagulação, adiciona-se coagulante
químico com o fim de neutralizar as cargas elétricas que mantém as partículas em
suspensão afastadas umas das outras. Na floculação, por sua vez, promove-se a
colisão dessas partículas já neutralizadas, formando flocos passíveis de separação
por sedimentação. Nesse processo de tratamento são adicionados policloreto de
alumínio (coagulante) e polímero catiônico (floculante).
A coagulação-floculação, dentro da estação em estudo, ocorre mediante
agitação mecânica e por passagem do efluente em uma série de obstáculos
existentes nas paredes da caneleta, que obrigam o líquido a mudar constantemente
de direção, descrevendo uma trajetória em ziguezague. A reação dos químicos com
o efluente promove a aglutinação das partículas em suspensão ou em dispersão
coloidal, facilitando a sua disposição em forma de flocos densos. Em seguida, o
efluente coagulado e floculado segue lentamente para o tanque de sedimentação,
onde permanece por aproximadamente quatro horas, tempo este suficiente para que
os flocos decantem. O material sedimentado no fundo do tanque (lodo gelatinoso) é
periodicamente removido por uma bomba, para que não comprometa a boa qualidade
do efluente final, sendo direcionado para a primeira lagoa, visto que a mesma possui
proteção, permitindo que o material biológico seja reaproveitado no processo.
Com o intuito de avaliar a eficiência do sistema de tratamento presente na
indústria de laticínio, os parâmetros de demanda química de oxigênio (DQO), demanda
bioquímica de oxigênio (DBO), ambos representantes da matéria orgânica presente
no efluente, pH e temperatura foram avaliados de acordo com o Standard Methods for
Examination of Water and Wastewater (APHA/AWWA/WEF, 1998). As características
físico-químicas do efluente bruto e após tratamento estão apresentados na Tabela 1.

T (°C) pH DQO (mg L-1) DBO (mg L-1)


Efluente bruto 32 10,1 2000 1000
1ª Lagoa (Anaeróbia) 25 7,6 500 300
2ª Lagoa (Facultativa) 23 7,3 200 100
3ª Lagoa (Facultativa) 21 8,1 110 50
Lagoa de Polimento 25 7,0 36 23
Limite Permitido1 <40a 5,0-9,0a 75b 30b

Tabela 1: Características físico-químicas do efluente lácteo bruto e após cada processo de


tratamento

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 2 20


Notas: DQO = demanda química de oxigênio; DBO = demanda bioquímica de oxigênio; pH
= potencial hidrogeniônico; (1) Limite estabelecido como permissível pela (a) Portaria IAP n°
256/2013 (PARANÁ, 2013) e (b) Resolução CONAMA n° 430/2011 (BRASIL, 2011).

A partir da Tabela 1 é possível verificar que a água residual gerada no laticínio


estudado é composta de alta carga orgânica (DQO e DBO), em decorrência da
presença de resíduos do leite e seus derivados. A degradação da matéria orgânica
do efluente do laticínio ocorre, inicialmente e majoritariamente, por algas e
microrganismos anaeróbios, os quais foram capazes de reduzir a concentração de
DQO e DBO em 75% e 70%, respectivamente.
Na segunda lagoa (facultativa) ocorre a proliferação das algas e microrganismos,
auxiliando na redução das concentrações dos compostos orgânicos, resultando em
uma eficiência de 90% para ambos os parâmetros.
A terceira lagoa (facultativa), por sua vez, por ser mais rasa que as anteriores,
promove maior eficiência no processo fotossintético, resultando em uma degradação
complementar do efluente. Dessa forma, o conjunto dos processos biológicos
promovem reduções cumulativas de DQO e DBO de 95%.
Apesar das elevadas reduções do material orgânico inicialmente presente no
efluente lácteo, os processos biológicos não são suficientes para produzir um efluente
cuja qualidade atenda aos limites de lançamento em corpo receptor estabelecidos
pelas legislações brasileiras (BRASIL, 2011; PARANÁ, 2013). Em vista disso, se faz
necessário a utilização do tratamento terciário, o qual consiste em um tratamento de
polimento físico-químico. O sistema de tratamento como um todo resultou em um
efluente final com concentração de DQO e DBO de 98,2% e 97,7% menores que
aquelas inicialmente presentes no efluente bruto, fazendo-se então cumprir com os
limites estabelecidos pela legislação.
As atividades poluidoras, para fins de auto monitoramento, são classificadas
pela Portaria IAP n° 256/2013 (PARANÁ, 2013) em função da vazão do efluente final
(m3 dia-1) e da carga orgânica poluidora (kg DBO dia-1), considerando a atividade
ou tipologia industrial. Segundo a referida portaria, a atividade desenvolvida pela
empresa em estudo é pertencente à “Classe E”, a qual se enquadram as atividades
(industriais, agropecuárias, serviços, aterros para resíduos industriais e urbanos)
lançadoras de efluente com vazões de 501 a 1000 m³ dia-1.
Dessa forma, segundo a referida portaria, torna-se necessário o monitoramento
mensal dos parâmetros avaliados neste trabalho (pH, DBO, DQO e temperatura),
além da vazão, concentração de sólidos totais suspensos e sedimentáveis, nitrogênio
amoniacal, fósforo e outras substâncias passíveis de estarem presentes no efluente
ou serem formadas no processo produtivo, bem como análise bimestral da toxicidade
do efluente.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 2 21


3.2 Resíduos sólidos

A partir da investigação da gestão de resíduos sólidos gerados pela empresa,


foi verificado que os mesmos são constituídos, em sua maior parte, por materiais
recicláveis. São gerados, como resíduos: embalagens diversas (embalagem longa
vida, papel de escritório, caixas e tubos de papelão (tubetes), sacarias, plásticos
(tambores, galões, contêineres), pallets de madeira e sucatas de ferro), os quais são
prensados, ou não, e vendidos a parceiros licenciados pelo Instituto Ambiental do
Paraná (IAP) para a reciclagem. Anualmente, são comercializados, em média, 200
toneladas de resíduos passíveis de reciclagem.
Na Tabela 2 estão apresentadas as quantidades médias, em toneladas,
de materiais comercializados para as empresas de reciclagem licenciadas. A
comercialização de materiais passíveis de reciclagem, além de contribuir com
a destinação correta dos mesmos, reduz a extração de recursos naturais em
decorrência do reaproveitamento dos mesmos e, ainda, gera renda para a empresa,
mediante a valorização destes resíduos.

Tipo de resíduo Peso comercializado (t)


Papelão 72,2
Embalagem longa
51,2
vida
Tubos de papelão 46,8
Plástico 27,6
Papel misto 10,2
Total 208,0

Tabela 2: Média anual dos principais materiais enviados para a reciclagem

Além desses, são coletados resíduos orgânicos gerados no refeitório, resíduos


oriundos da limpeza externa e do descarte de equipamentos de proteção individual, os
quais são encaminhados para o aterro municipal. As cinzas geradas na caldeira são
distribuídas a produtores rurais, os quais as utilizam como fertilizante na pastagem.
Ainda, há a geração de resíduos que ainda não possuem destinação final,
como vidrarias e resíduos sólidos perigosos (RSP) (baterias, pilhas e lâmpadas),
os quais são armazenados na própria empresa. Cabe ressaltar que os RSP, como
pilhas, lâmpadas, baterias, pneus e óleo usado são resíduos obrigatórios de logística
reversa, a partir da criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010).
Alguns resíduos sólidos também são gerados no sistema de tratamento de
efluentes. Na etapa inicial, de remoção de gorduras, é gerado um resíduo composto,
basicamente, por matéria oleosa, o qual é recolhido e disposto no aterro municipal.
O processo terciário, por sua vez, gera um subproduto sólido gelatinoso (lodo),
o qual é recirculado, a cada três dias, para o início do processo biológico (lagoa

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 2 22


anaeróbia) para não comprometer a qualidade do efluente final. Embora este lodo
contenha microrganismos biológicos ativos, cabe ressaltar que, devido à utilização
do coagulante PAC, o mesmo contém traços residuais de alumínio, o que inviabiliza
seu uso para outros fins, como aplicação na agricultura ou em pastagens. Ambos
os subprodutos, sólidos e semissólidos, gerados no sistema de tratamento de
efluente, são classificados como resíduo sólido classe II – não perigoso, conforme a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004).
Constatou-se ainda que, para os resíduos sólidos, óleos e lodo da estação de
tratamento de efluentes, há a obrigatoriedade da elaboração anual do Inventário
Estadual de Resíduos Sólidos Industriais e posterior apresentação ao Instituto
Ambiental do Paraná (IAP), devendo conter o tipo e quantidade de resíduo gerado,
bem como a sua destinação externa (tratamento, reutilização, reciclagem ou
disposição final). Este procedimento acorda com a Resolução CONAMA n° 313/2002
(BRASIL, 2002), a qual estabelece a obrigatoriedade da realização deste inventário
estadual para compor o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais, e tem
sido cumprido pela empresa.
Durante o acompanhamento à organização, foram visualizadas diversas lixeiras
de separação de resíduos, devidamente identificadas (papel, plástico, vidro, metal
e orgânico) e dispostas em toda a agroindústria, ação esta que induz a colaboração
dos funcionários e facilita à separação dos seus resíduos. No entanto, não são
realizadas campanhas de educação ambiental com os colaboradores da unidade, o
que reduz a eficácia da coleta seletiva.

4 | CONCLUSÕES

Foi possível observar que a organização estudada demonstrou estar não apenas
preocupada com a legislação vigente, mas também com a qualidade ambiental,
contando, assim, com um eficaz tratamento de seu efluente líquido resultante do
seu processo produtivo e boa gestão dos resíduos sólidos por ela produzidos. No
entanto, visando à maior qualidade ambiental, medidas de melhorias são propostas
em relação, principalmente, à gestão do lodo gerado durante o tratamento terciário
de efluentes, bem como da gestão da água potável.
Devido à eficiência do seu processo de tratamento de efluente, fazendo-se
cumprir os limites permitidos pelas legislações ambientais, propõe-se como medida
mitigadora ao consumo de água potável, a adoção da prática de reuso nas instalações
da organização que exigem fins menos nobres, como o reuso de águas pluviais e
do efluente tratado para irrigação de jardins, limpeza de áreas externas, descargas
em vasos sanitários e uso em torres de resfriamento. Apesar de não existir uma
legislação para os limites dos parâmetros físico-químicos e biológicos em águas de
reuso, para os usos mencionados, existem recomendações nacionais que podem ser
seguidas, como o guia da ANA/FIESP/SINDUSCON (2005) e a NBR 13969:1997 da

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 2 23


Associação Brasileira de Normas Técnicas (1997) e o guia “Conservação e Reuso da
Água em Edificações” elaborado pela Agência Nacional das Águas/Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo/Sindicato da Indústria de Construção do Estado
de São Paulo (2005), os quais apresentam os limites para alguns parâmetros, de
acordo com os tipos de reuso pretendido.
Caso a opção seja o reuso do efluente tratado para fins agrícolas devem-
se considerar as características físico-químicas do efluente. No caso de efluente
lácteo, devem ser considerados os seus teores de nitrogênio e fósforo e estes serem
associados às necessidades das nutricionais das culturas sugeridas. Em ambos os
casos, apesar de a organização cumprir com a frequência de monitoramento analítico
dos parâmetros estabelecidos pelo órgão ambiental estadual, é recomendável que
se realize uma avaliação físico-química, biológica e toxicológica mais afunda e
frequente do efluente tratado.
A atual recirculação do lodo produzido é considerada fácil e eficaz em curto
prazo; porém, levando-se em consideração o aumento na sua produção, em médio
prazo, esse processo poderá não ser o suficiente, visto a maior quantidade de lodo
armazenado na lagoa anaeróbia, podendo interferir na eficiência de todo sistema
de tratamento. Assim, se torna necessária a adoção de uma alternativa para este
resíduo, que seja viável tanto para a empresa quanto para o ambiente. Uma vez que,
devido à presença do alumínio, o lodo gerado na empresa em estudo não é passível
de reuso agrícola, sugere-se a possibilidade de substituição do coagulante químico
por outros de origem natural, como Moringa oleifera Lam, quiabo, mandioca, entre
outros.
Apesar da boa gestão dos resíduos sólidos realizada pela organização, ainda
há melhorias a serem implantadas. Recomenda-se a destinação adequada aos
resíduos sólidos perigosos, bem como a minimização da geração dos resíduos,
pelo controle do processo produtivo, principalmente do empacotamento. Também
se recomenda que sejam realizadas campanhas de educação ambiental com os
colaboradores quanto à redução de resíduos no setor administrativo, como proceder
a correta segregação dos materiais recicláveis, bem como evitar o desperdício de
alimentos no refeitório.
Tais medidas objetivam reduzir tanto o impacto ambiental gerado pela empresa
quanto os custos com tratamento e disposição final destes resíduos.

REFERÊNCIAS
ANA (AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS), FIESP (FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE
SÃO PAULO), SINDUSCON (SINDICATO DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO DO ESTADO DE SÃO
PAULO). Conservação e reuso da água em edificações. São Paulo: Prol Editora Gráfica, 2005.

APHA (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION), AWWA (AMERICAN WATER WORKS


ASSOCIATION), WEF (WATER ENVIRONMENT FEDERATION). Standard methods for the
examination of water and wastewater. 20th ed. USA: APHA, 1998.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 2 24


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004: Resíduos sólidos: classificação.
Rio de Janeiro, RJ, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13969: Tanques sépticos - Unidades de


tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos - Projeto, construção e operação.
Rio de Janeiro, RJ, 1997.

AZZOLINI, J. C.; FABRO, L. F. Monitoramento da eficiência do sistema de tratamento de efluentes de


um laticínio da região meio-oeste de Santa Catarina. Unoesc e Ciência, v. 4, n. 1, p. 43-60, 2013.

BARBOSA, C. S. et al. Aspectos e impactos ambientais envolvidos em um laticínio de pequeno porte.


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BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e dá outras providências. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, de 3 ago. 2010.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução CONAMA
n° 313, de 29 de outubro de 2002. Dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos
Industriais. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, DOU nº 226, de 22 nov.
2002.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução n°


430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes,
complementa e altera a Resolução nº 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente-CONAMA. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, DOU nº 92, de 16
maio 2011.

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Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 2 26


CAPÍTULO 3

DEPOSIÇÃO DE RESÍDUOS DE ROCHAS


ORNAMENTAIS EM ÁREA URBANO-INDUSTRIAL E
ALTERAÇÕES NA QUALIDADE DA ÁGUA

Mirna A. Neves medidas de proteção ambiental, em contato


Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, com a água e o solo. Essas áreas são passivos
Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde, ambientais da indústria de rochas ornamentais
Departamento de Geologia
e ainda não foram estudadas em detalhe, o que
Alegre - ES
motivou o desenvolvimento desse trabalho. O
Eduardo B. Duarte objetivo dessa pesquisa foi o monitoramento da
Universidade Federal do Espírito Santo - UFES,
água superficial e subterrânea no entorno de
Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde,
um depósito de resíduos de rochas ornamentais
Curso de Pós-Graduação em Agroquímica
abandonado no município de Cachoeiro de
Alegre - ES
Itapemirim, Sul do estado do Espírito Santo.
Valerio Raymundo
Foram analisados: o potencial hidrogeniônico
Associação de Desenvolvimento Ambiental do
(pH), condutividade elétrica (CE), sólidos totais
Mármore e Granito - ADAMAG
dissolvidos (STD), alcalinidade, fenóis, cloretos
Cachoeiro de Itapemirim - ES
e metais. O estudo mostrou que o depósito
Fabricia B. Oliveira
de resíduos, situado em uma área urbano-
Universidade Federal do Espírito Santo - UFES,
Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde,
industrial com lançamento de esgotos sem
Departamento de Geologia tratamento, interfere de forma secundária na
Alegre - ES qualidade da água subterrânea, mas o efluente
urbano é o principal fator que contribui para
alteração da qualidade das águas superficiais
e subterrâneas.
RESUMO: O Brasil possui posição de destaque
PALAVRAS-CHAVE: mármore e granito, lama
no mercado internacional de rochas ornamentais
abrasiva, Espírito Santo.
e o estado do Espírito Santo é o principal
produtor brasileiro. O processamento dessas
rochas gera grande quantidade de resíduos, a DIMENSION STONE WASTE DEPOSITION IN
URBAN-INDUSTRIAL AREA AND CHANGES
maioria deles compostos por uma mistura de
IN WATER QUALITY
água, fragmentos de granalha de aço, cal e
outros compostos químicos, tais como abrasivos ABSTRACT: Brazil has high position in the
e resinas fenólicas. O armazenamento desses dimension stone international market, and the
materiais tem sido, por longo tempo, feito sem State of Espírito Santo is the main Brazilian

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 3 27


producer. The processing of these rocks generates great amount of wastes, the
major part composed by a mixture of water, steel fragments, lime and other chemical
compounds, such as abrasives and phenolic resins. The storage of these materials
was, for a long time, made without environmental protection measures, in contact
with water and soil. These areas are environmental liabilities of the dimension stone
industry and were not still incisively studied, what motivated the development of this
work. This research aimed the monitoring of surficial water and groundwater around an
abandoned deposit of dimension stone waste in the Cachoeiro de Itapemirim County,
South of Espírito Santo State. The hydrogen potential (pH), electrical conductivity (CE),
total dissolved solids (TDS), alkalinity, phenol, chloride and metals were analyzed. The
study showed that the waste deposit, located at an urban-industrial area with sewage
discharge without treatment, interfere secondarily on water quality, but the urban
effluent is the main factor that contributes for altering the quality of the surficial and
groundwater.
KEYWORDS: granite and marble, abrasive slurry, Espírito Santo.

1 | INTRODUÇÃO

As rochas ornamentais brasileiras, principalmente mármores e granitos usados


na construção civil, têm destaque no mercado internacional, sendo que o estado
do Espírito Santo é responsável por cerca de 82% das exportações (ABIROCHAS,
2018). A importante contribuição econômica do setor traz consigo o ônus dos
impactos ambientais negativos, onde se destaca a produção de resíduos.
A serragem de blocos rochosos para produção de chapas de revestimento
é feita em teares que usam fios diamantados ou lâminas de aço. Estes últimos,
também chamados teares convencionais, ainda são os mais utilizados, embora
a tendência moderna seja sua substituição pelos teares multifios. Nos teares
convencionais, utiliza-se uma mistura de água, granalha de aço e cal que propicia o
atrito entre as lâminas e o bloco. Esta polpa de serragem, também chamada “lama
abrasiva” é descartada após o desgaste, gerando um resíduo fino que contém, além
dos insumos utilizados, o pó da rocha serrada, que é agregado à lama. Após a
serragem, procede-se ao polimento das chapas brutas para lhes conferir brilho; esse
processo também gera um resíduo fino composto por água e abrasivos, podendo
conter resinas fenólicas e outros insumos. Os resíduos gerados são armazenados
em lagoas de secagem ou em aterros, que podem oferecer riscos de contaminação
ambiental (BRAGA et al., 2010).
Alguns trabalhos mostram que é possível o uso destes resíduos como matéria-
prima em outros processos produtivos (por exemplo, MENEZES et al., 2005; ACCHAR
et al., 2006; ALMEIDA et al., 2007; MOURA e LEITE, 2011; KABAS et al., 2012;
TAGUCHI et al., 2012), o que poderia minimizar impactos ambientais além de gerar
renda. Porém, esses procedimentos ainda não foram incorporados pelas empresas,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 3 28


que não assimilaram as vantagens que poderiam advir do aproveitamento desses
materiais.
Raros trabalhos são direcionados ao estudo de alterações da água e do solo
no entorno dos depósitos de resíduos. A principal dificuldade para a elaboração de
diretrizes e normas que disciplinem a disposição desses resíduos é o desconhecimento
quanto ao seu verdadeiro poder de impacto ambiental. O licenciamento ambiental
dos empreendimentos precisa ser apoiado em critérios técnicos adequados, o que
não tem acontecido pela falta de conhecimento do comportamento ambiental deste
tipo de material. Buscando contribuir com este conhecimento, este trabalho tem
como objetivo avaliar possíveis alterações na qualidade das águas superficiais e
subterrâneas no entorno de um antigo depósito de resíduos.

2 | MATERIAIS E MÉTODOS

A área estudada localiza-se no município de Cachoeiro de Itapemirim, no sul


do estado do Espírito Santo, Região Sudeste do Brasil. Foram coletadas amostras
de água subterrânea em poços de monitoramento perfurados de acordo com a
NBR 15495-1 (ABNT, 2007). Os poços foram posicionados a montante e a jusante
do depósito de resíduos estudado, conforme orientações da Norma nº 6410 da
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB (SÃO PAULO, 1988)
(Figura 1). Para definição do sentido de fluxo da água subterrânea, foram realizadas
medidas da profundidade do nível d’água (NA) utilizando-se um medidor de nível
com fita flexível graduada e um sensor na extremidade que emite sinal sonoro ao
entrar em contato com a água. Assim, confeccionou-se o mapa potenciométrico do
freático, mostrando o sentido do fluxo da água subterrânea.
Amostras de águas superficiais e subterrâneas foram coletadas em 8 pontos
(Figura 1). Considerando-se o fluxo geral das águas, o poço situado a montante
(PM) do depósito de resíduo teve como objetivo possibilitar a amostragem de água
subterrânea sem a interferência do passivo ambiental estudado. A norma prevê
também, pelo menos, 3 poços de jusante (PJ), de forma a interceptar o fluxo de
poluentes proveniente do passivo estudado. Estes poços foram nomeados Jusante
Central (PJC), Jusante Esquerdo (PJE) e Jusante Direito (PJD). Além desses poços
previstos na normatização, também foi perfurado 1 poço no centro do depósito
(PC), para coletar a água armazenada e em contato direto com os resíduos. As
águas superficiais foram coletadas em um ponto a montante (RM) e outro a jusante
(RJ) do depósito. Para fins de comparação, também foi feita amostragem em um
canal de drenagem que atravessa a área de deposição e recebe lançamentos de
esgoto urbano (DE). Salienta-se que a área estudada está inserida em uma região
urbanizada de baixa renda, onde é comum a presença de lançamento de esgotos
sem tratamento.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 3 29


Figura 1: Localização dos pontos de amostragem de águas superficiais e subterrâneas na área
estudada.

Foi realizado um monitoramento com medidas dos seguintes parâmetros ao


longo de 24 meses: Potencial Hidrogeniônico (pH), Condutividade Elétrica (CE) e
Sólidos Totais Dissolvidos (STD). Durante três meses foram coletadas e preservadas
amostras conforme a NBR 9898 (ABNT, 1987) para análises laboratoriais. Em
laboratório foram analisados os parâmetros: alcalinidade, por titulometria; fenóis e
cloretos, em espectrofotômetro UV-VIS. Para análise de metais, as amostras foram
filtradas em membrana de 0,45 μm e acidificadas com ácido nítrico ultrapuro (HNO3)
até pH < 2; em seguida foram encaminhadas para leitura por ICP-OES.
Os parâmetros regulados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA
foram comparados com os valores máximos permitidos (VMPs) pela Resolução
357/05 (BRASIL, 2005), para água superficial, e pela Resolução 396/08 (BRASIL,
2008), para água subterrânea. No primeiro caso, considerou-se os VMPs para rios
de Classe 2 e, no segundo, foram adotados os VMPs do uso mais restritivo. Utilizou-
se a análise de Cluster buscando agrupar os pontos de amostragem em grupos e
subgrupos homogêneos ou similares.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 3 30


3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Parâmetros monitorados na água superficial e subterrânea


O pH das amostras (Figura 2a) variou de 4,7 a 8,01, com média de 6,14 ± 1,87.
Tais valores ficaram dentro da faixa considerada normal para águas superficiais e
subterrâneas, com exceção da água coletada no PM (poço a montante do depósito),
onde alguns valores ficaram abaixo do esperado para águas subterrâneas. Os
valores de pH no PJC e no PJE foram mais elevados do que no PC, que capta água
dentro do depósito. Nas águas superficiais, o pH a montante e a jusante do depósito
(RM e RJ) ficaram em intervalos semelhantes e acima daqueles observados no
PC. Essa distribuição de valores mostra que o padrão de pH mais elevado ocorre
possivelmente em função do lançamento de esgotos in natura.
Os sólidos totais dissolvidos (STD) (Figura 2b) variaram de 99,6 a 341,6 mg L-1;
com média de 220,5 ± 121,0 mg L-1. Para a água subterrânea, a menor concentração
de STD ocorreu no PM e a maior no PJE que, inclusive, apresenta concentração
de STD maior do que o PC, que capta água dentro do depósito de resíduos. Para
a água superficial, o ponto com as menores concentrações de STD foi o RJ e as
maiores ficaram no DE, que apresentou STD mais elevados do que todos os pontos
analisados. Assim, pode-se afirmar que o resíduo não interfere no aumento de STD
nas águas superficiais. A drenagem de esgotos é a possível fonte de fluidos que
contribuem, também, com o aumento de STD na água subterrânea do PJE. Não
obstante, comparando-se os valores medidos com os valores máximos permitidos
pela Legislação, todas as amostras de água superficial e subterrânea apresentaram
valores abaixo dos VMPs.
A alcalinidade (Figura 2c) variou de 4,49 a 478,5 mg L-1, com média de 151,94 ±
112,20 mg L-1. Comparando-se os dados obtidos para as águas subterrâneas, o PM
apresentou o menor valor de alcalinidade frente ao PC e aos PJs. O PC apresentou
distribuição de valores semelhantes aos dos PJs, embora o PJE tenha apresentado
novamente a tendência de valores mais elevados. Para as águas superficiais (RM,
RJ e DE), o DE apresentou os maiores valores de alcalinidade, inclusive valores
superiores aos do PC. As águas superficiais a montante e a jusante do depósito (RM
e RJ) apresentaram padrão de distribuição semelhante. Desta forma, o resíduo deve
estar causando o aumento de alcalinidade das águas subterrâneas, mas não das
superficiais.
Os valores de condutividade elétrica (CE) (Figura 2d) variaram de 159 a 640
µS cm-1, com média de 326,22 ± 28,43 µS cm-1. As águas superficiais apresentaram
valores maiores de CE, destacando-se entre elas o ponto DE. Entre as amostras
de água subterrânea, destacaram-se o PC e o PJE; porém, nestes, os valores
ainda ficaram abaixo daqueles medidos no DE, mostrando que o depósito não é a
principal fonte de sais na área e, sim, a drenagem de esgoto urbano. A distribuição

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 3 31


dos valores da CE nos pontos amostrados evidencia o sentido do movimento das
águas subterrâneas na área.

Figura 2: Concentração dos parâmetros analisados em amostras de água subterrânea e água


superficial coletada no entorno dos depósitos estudados. (a) Potencial Hidrogeniônico - pH, (b)
Total de Sólidos Dissolvidos - TSD, (c) Alcalinidade, (d) Condutividade Elétrica - EC, (e) Fenol
total e (f) Cloretos.

A concentração de fenóis totais (Figura 2e) variou de 0,00 a 2,83 mg L-1, com
média de 0,16 ± 0,40 mg L-1. Comparando-se os dados obtidos para as águas
subterrâneas, o PC apresentou valores superiores aos demais. Porém, os PJs não
apresentaram valores muito discrepantes do PM, indicando que no caso dos fenóis
pode haver outra fonte da substância atingindo as águas subterrâneas a montante
da área estudada. Pelas características da área urbana existente no local, a fonte de
poluentes deve estar vinculada ao lançamento de esgotos in natura. Corroborando
o fato, os teores de fenóis medidos nas águas superficiais (RM, RJ e DE) foram
mais elevados do que nas águas subterrâneas, inclusive ficaram acima dos níveis

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 3 32


medidos no PC. Os pontos de monitoramento da água superficial a montante e a
jusante do depósito apresentaram valores semelhantes, enquanto o DE apresentou
os maiores valores. Em todos os pontos, os teores de fenol ficaram acima dos limites
estabelecidos pelas Resoluções CONAMA, o que denota um ambiente com águas
impactadas pelo uso antrópico.
A concentração de cloretos (Figura 2f) variou de 22,72 a 153,95 mg L-1 com
média de 56,09 ± 25,28 mg L-1. Para a água subterrânea, a menor concentração foi
medida no PJD e a maior no PC, mas a distribuição de valores em todos os pontos
ocupou faixa semelhante. Com relação à água superficial, o ponto com a menor
concentração foi o RM e o de maior concentração, o DE que, inclusive, apresentou
valor superior ao PC. Os pontos de monitoramento da água superficial a montante
(RM) e a jusante (RJ) do depósito não apresentaram diferenças significativas.
Desta forma, o resíduo não interfere no aumento de cloretos nas águas superficiais
e subterrâneas, havendo possibilidade de que o PJE esteja recebendo aporte de
substâncias provenientes da drenagem de esgoto (DE). Entretanto, todos os valores
medidos ficaram abaixo dos limites estabelecidos pelas Resoluções CONAMA.

3.2 Agrupamento dos pontos amostrais


Existem dois grupos principais (Figura 3): o das águas subterrâneas e o das
águas superficiais. No primeiro grupo, o conjunto de amostras coletadas no PM
se distancia das demais, comprovando que o poço a montante possui pouca ou
nenhuma relação com a área onde há fonte(s) de poluentes. Ainda no primeiro
grupo, as amostras do PC e do PJE formaram um subgrupo, da mesma forma que
as amostras do PJC e do PJD. As primeiras se destacam com níveis mais elevados
dos parâmetros analisados, comprovando que a fonte de poluentes exerce maior
influência neste conjunto (PC e PJE). Dentro deste subgrupo, o PJE apresentou
ocasionalmente valores mais elevados, mostrando que a infiltração de esgotos in
natura altera a qualidade da água subterrânea neste ponto.
No segundo grupo estão as amostras de águas superficiais, divididas em dois
subgrupos, um composto apenas pelo DE e o outro com o RM e o RJ. As amostras
do RM e RJ possuem uma similaridade muito grande, mostrando que a drenagem
superficial é afetada por poluentes provindos de uma fonte desconhecida a montante
da área de estudo. As águas do ponto DE, que se destacam no contexto de vários
parâmetros estudados na área, devem causar a elevação nos valores observados
no PJE, considerando-se a proximidade dos pontos de amostragem e o sentido do
fluxo subterrâneo.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 3 33


33,78

55,85

Similaridade 77,93

100,00
PM PC PJE PJC PJD RM RJ DE

Pontos de Amostragem

Figura 3: Agrupamento dos pontos de coleta de acordo com a similaridade entre os parâmetros
analisados (PM = poço de montante, PC = poço central, PJE = poço de jusante esquerdo,
PJC = poço de jusante central, PJD = poço de jusante direito, RM = rio a montante, RJ = rio a
jusante, DE = drenagem de esgoto).

3.3 Análise de metais e comparação com resoluções do CONAMA


As concentrações de metais (Tabela 1) mostram que o Fe e o Mn estão acima
do valor máximo permitido (VMP) para águas superficiais (BRASIL, 2005) e para
águas subterrâneas (BRASIL, 2008) em alguns pontos de amostragem. O Fe está
acima do VMP no PC e nos pontos de amostragem de águas superficiais (RM, RJ e
DE). O Mn está acima do VMP nos mesmos casos, mas também no PM e no PJE,
lembrando que o primeiro se situa a montante do depósito de resíduos e o segundo
é afetado pelo fluxo subterrâneo a partir do depósito e, principalmente, da drenagem
de esgoto urbano.

PONTO PM PC PJD PJC PJE RM RJ DE VMP-1 VMP-2


Fe 0,02 1,17 ND 0,04 0,02 0,78 0,48 1,40 0,30 0,30
Mn 0,16 0,40 0,02 0,01 0,06 0,19 0,08 0,36 0,10 0,05
Al 0,01 ND ND ND ND 0,03 0,04 0,04 0,10 0,20
Cu 0,008 0,008 0,004 0,005 0,006 0,004 0,005 0,007 0,009 0,200
Pb ND ND ND ND ND ND ND ND 0,01 0,01
Zn 0,03 0,01 ND ND ND 0,03 ND ND 0,18 2,00
Ca 1,75 10,19 5,92 8,17 23,83 24,16 25,93 31,00 NR NR
Mg 4,52 6,03 3,49 6,67 13,60 8,62 8,00 13,47 NR NR

ND = Não Detectado; NR = não regulado; Valores em vermelho = acima do VMP - CONAMA.

Tabela 1: Concentração de metais nas amostras coletadas nos pontos de amostragem de


águas superficiais e subterrâneas no entorno do depósito de resíduos (VMP-1: valor máximo
permitido pelo CONAMA para águas superficiais; VMP-2: valor máximo permitido para águas
subterrâneas; todos os valores estão em mg L-1)

O Al, Cu, e Zn estão abaixo do VMP em todos os casos e o Pb não foi detectado

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 3 34


em nenhuma amostra. O Ca e o Mg, embora não constem nas resoluções utilizadas
na análise de qualidade da água, mostram, na água subterrânea, valores mais
altos no PJE, seguindo a tendência já observada nos demais parâmetros. Na água
superficial, o DE apresentou os maiores valores e os pontos RM e RJ apresentaram
valores muito próximos.

4 | CONCLUSÕES

Alguns dos parâmetros analisados, especialmente a CE, alcalinidade, fenol total,


Fe e Mn mostram que a qualidade das águas na área estudada está comprometida,
tornando-se imprópria para usos nobres, como o consumo por humanos. A presença
de concentrações acima do valor máximo permitido pela Legislação, tanto a montante
quanto a jusante do depósito de resíduo, mostra a existência de outras fontes de
contaminação na área do passivo e a montante dela. A drenagem de esgoto é a
principal fonte de poluentes, embora o depósito de resíduos também contribua, mas
de forma secundária.

5 | AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq pelo financiamento sob a forma de auxílio à


pesquisa e bolsas de estudo (Processo 571780/2008-3).

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amostragem de efluentes líquidos e corpos receptores. Rio de Janeiro: ABNT, 1987.

ASSOCIAÇÃO BRASILERIA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 15495-1: Poços de


Monitoramento de Águas Subterrâneas em Aquíferos Granulares - parte 1. Rio de Janeiro: ABNT,
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS – ABIROCHAS. Balanço


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Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 3 35


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tecnológicas de cerâmica vermelha incorporada com resíduo de rocha ornamental proveniente do tear
de fio diamantado. Cerâmica, v. 60, p. 291-296, 2014.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 3 36


CAPÍTULO 4

PROBLEMÁTICA DA GERAÇÃO DOS RESÍDUOS


SÓLIDOS EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO

Lara Rita Albuquerque Câmara da universidade em todos os turnos que o


Graduada em Engenharia Ambiental, Faculdade curso é lecionado e com funcionários do setor
Pitágoras de São Luís de limpeza. Constatou a carência de um plano
Darlann Weskley Sousa Silva, de gerenciamento que rege as atividades da
Professor Orientador, Faculdade Pitágoras de São instituição, principalmente faltas de ações e
Luís.
intervenções que incite a educação ambiental
Marília da Cruz dos Santos à todo corpo colaborativo e acadêmico, além
Graduanda em Engenharia Ambiental, Faculdade
de medidas que controlem e minimizem gastos
Pitágoras de São Luís
supérfluos de recursos financeiros e materiais.
Joicy Araujo Soares Conclui-se que apesar das instituições de
Graduanda em Engenharia Ambiental, Faculdade
ensino superior realizarem diversas atividades
Pitágoras de São Luís
que gerem resíduos sólidos variados que
George Vinicius Oliveira Gonçalves
refletem à toda sociedade, realizam de forma
Graduado em Engenharia Ambiental, Faculdade
Pitágoras de São Luís
tímida a coleta seletiva no campo, contudo, sem
a preocupação necessária com a destinação
final.
PALAVRAS-CHAVE: Resíduos sólidos.
RESUMO: Este artigo aborda uma pesquisa Instituição de ensino superior. Gerenciamento.
conduzida dentro de uma instituição de ensino Política Nacional de Resíduos Sólidos.
superior com vista na quantidade de volume de
resíduos sólidos gerados pela mesma. Partindo ABSTRACT: This article addresses a research
do contexto a Política Nacional dos Resíduos conducted within a higher education institution
sólidos (PNRS), onde convoca setor público e with a view to the amount of solid waste generated
privado e toda a sociedade à responsabilidade by it. Starting from the context of the National
com resíduos sólidos gerados, pretendeu-se Solid Waste Policy (PNRS), where it calls the
identificar as intervenções, isto é, a aplicação public and private sector and the whole society
de um plano de gerenciamento de resíduos to the responsibility for solid waste generated, it
adequado a cada setor educacional com vista was intended to identify the interventions, that
na destinação final adequada e/ou logística is, the implementation of an adequate waste
reversa. A pesquisa deu-se em especial a management plan to each educational sector
estudantes do curso de engenharia ambiental with a view to proper final destination and / or

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 37


reverse logistics. The research was given in particular to students of the environmental
engineering course of the university in all the shifts that the course is taught and
with employees of the cleaning sector. He noted the lack of a management plan that
governs the activities of the institution, especially the lack of actions and interventions
that encourage environmental education to the entire collaborative and academic body,
as well as measures that control and minimize superfluous expenditures of financial
and material resources. It is concluded that although the higher education institutions
carry out several activities that generate diverse solid residues that reflect to the
whole society, they make a timely selective collection in the field, however, without the
necessary concern with the final destination.
KEYWORDS: Solid waste. Institution of higher education. Management. National
Policy on Solid Waste.

1 | INTRODUÇÃO

Resíduos Sólidos são produtos de qualquer atividade humana seja ela de


pequeno ou grande porte. Estes podem se tornar uma problemática quando, dentro
de um contexto operacional, a sua gestão não é correspondida de maneira absoluta,
na qual venha garantir o controle do seu volume de geração. Desta forma, faz-se uma
importante ferramenta de estudo, uma vez que invoca a necessidade de investigação
que levem a resultados que garantam a aplicação de novas técnicas que minimizem
ou abortem as problemáticas dos resíduos sólidos gerados que afetam a tríplice
ambiental, social e econômica. A relevância desta pesquisa contribui, diretamente,
para estudos e mudanças de estratégias que auxiliarão no diagnóstico das vantagens
que o Programa de Gestão de Resíduos Sólidos, implementado de forma adequada,
minimiza a produção de resíduos e proporciona a destinação segura e eficiente, com
intuito de reduzir os impactos negativos decorrentes do descarte inadequado, bem
como preservar a saúde pública e os recursos naturais do meio ambiente.
Diante desse intempérie, uma instituição de ensino superior, área do estudo,
pode vir a ser considerada como grande geradora de resíduos sólidos em virtude das
diferentes atividades desenvolvidas por ela, uma vez que a falta de planejamento
ambiental adequado para gerenciar os resíduos sólidos de cada setor do ambiente
educacional e, principalmente o controle do seu volume, coopera negativamente nos
desperdícios de recursos financeiros e materiais.
Com base nesse problema, devolveu-se o estudo com objetivo descrever a
problemática da geração de resíduos sólidos gerados pela instituição de ensino
superior, além de analisar seu comportamento quanto a sua responsabilidade
na gestão adequada dos mesmos, como também conhecer como a instituição
compartilha essa responsabilidade à sociedade acadêmica que ali se formam.
Utiliza-se nessa pesquisa uma análise qualitativa através do número amostral
de usuários e resíduos, projetar o consumo total, mensal e anual, com o propósito

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 38


de reduzir custos e desenvolver iniciativas sustentáveis na instituição, observar as
condições da atual coleta, classificar e quantificar os resíduos gerados, bem como a
destinação destes na instituição apontando as problemática da gestão de resíduos
sólidos insuficiente, assim como discutir o resultado da implementação da gestão de
resíduos sólidos em uma instituição de ensino, ambos a partir de bases científicas,
normativas e legais.

2 | MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Área de estudo


Com base na problemática da geração de resíduos e seu descarte inadequado,
tem-se por objetivo analisar as condições da atual coleta, classificar e quantificar
os resíduos gerados, bem como a destinação destes na instituição. Assim como
a priorização da redução na geração de resíduos, sugerindo uma estratégia que
envolva a comunidade universitária de modo qualificado tendo o resíduo como
responsabilidade compartilhada.
Propõem-se reduzir a todas as formas de desperdício de recursos através de
uma gestão adequada de todos os resíduos gerados e sensibilização dos usuários em
relação aos aspectos ambientais e de melhoria da qualidade do ambiente de ensino.
Assim como para estudar e diagnosticar a problemática relacionada a geração de
resíduos para a realização de diagnóstico da situação, identificando pontos críticos
e avaliando os desperdícios gerados; a elaboração do planejamento integrado tem
com a finalidade de propor um plano de ação para melhoria contínua da gestão,
baseada nos padrões da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Para a coleta de dados, foi realizada a aplicação de questionário nas turmas de
engenharia ambiental no turno matutino e noturno e funcionários do setor de limpeza
da instituição. O pré-requisito de seleção das turmas de engenharia ambiental se
deu por questionamento se esses, que deveriam ter maior conhecimento sobre o
gerenciamento de resíduos sólidos, estavam efetivando o descarte adequado. A
coleta foi realizada através da aplicação de uma lista com 13 questões, divididas 9
aos alunos e 4 aos funcionários.
Os questionários foram aplicados em um período de 2 dias (09/10/2018 e
11/10/2018), onde no primeiro dia foi entregue o questionário específico ao setor
de limpeza e outro específico aos alunos líderes de turma no turno noturno e no
segundo dia foi entregue aos do turno matutino, contemplando 21 questionário. Após
recolhimento de todos os questionários, foram separados por turno, sala e do setor
de limpeza. A partir desta triagem foram analisadas e contabilizadas as informações
em planilhas, gerando gráficos visando sua melhor interpretação.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 39


2.2 Análise de dados
A partir desta triagem será analisada e contabilizada as informações em
planilhas, gerando gráficos visando sua melhor interpretação e assim desenvolver
o material informativo que deve ser repassado aos alunos e funcionários. Neste
material deve conter informações relacionadas ao consumo consciente e anexado
aos resultados dos questionários. Para melhores resultados deve ser implementada
a proposta de coleta seletiva em todos os corredores e aos andares da escada interna
de espiral que permite acesso a sala dos professores, laboratórios e demais setores.
A busca por empresas terceirizadas que trabalhem com reciclagem é fundamental
para que o processo siga em constante progresso. Outro ponto a ser proposto a
instituição são matérias econômicos e sustentáveis, como torneiras com sensores e
armazenadores de papéis mais econômicos.
Esse método, estudo de caso, se destaca por possuir menor custo e maior
significância nos dados, uma vez que a realidade é presenciada por todos os
usuários, como, por exemplo, boa parte das instituições comerciais privadas possuem
uma empresa privada para a coleta de seus resíduos ou utiliza a coleta municipal
convencional, porém os usuários não sabem qual destinação final dos resíduos.
Segundo AMARO et al (2005), um questionário é um instrumento de
investigação e permite recolher uma amostra dos conhecimentos, atitudes, valores
e comportamentos, sendo assim, visamos recolher informações de natureza social,
econômica, familiar, profissional, relativos às suas opiniões sobre temas relacionados
ao meio ambiente e ao ambiente ao qual vivem, à atitude em relação às problemáticas
expostas e suas expectativas, ao seu nível de conhecimentos ou de consciência.
Para medir os aspectos dos entrevistados, utilizamos a escala normal e
ordinais. Segundo STEWART et al (2015), escala normal fornece variáveis exclusivas
pedindo ao entrevistado que a responda adequadamente e a escala ordinária pede
ao entrevistado que classifique e estabeleça hierarquias de opções.
A coleta de dados para o estudo de caso, possui característica primária, uma
vez que foi feita in loco na instituição. Seguindo a metodologia de RICHARDSON
(1999), o estudo possui abordagem quali-quantitativa, envolvendo dados estatísticos
e qualitativos para descrever a complexidade de determinado problema, analisar a
interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos
por grupos sociais.
Para a revisão de literatura, adotaram-se leis e sites renomados como fontes
de informação para melhor destroncamento do estudo e exposição adequada dos
resultados, uma vez que o estudo possui uma linha complexa devido ter ocorrido
poucos estudos, desta forma, preocupou-se em selecionar um linha de pesquisa e
por fim efetuar buscas de assuntos relacionados instituição de ensino, leis e normas
e Gestão de Resíduos Sólidos.
Ao decorrer do processo de iniciação de projeto para geração do estudo,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 40


houve uma trajetória dividida em fases: significância do estudo, desenvolvimento de
processos de execução, elaboração de questionário, aplicação in loco de questionário
na instituição selecionada, relatório de coleta, revisão teórica e elaboração final do
estudo com o objetivo de publicação.
A pesquisa foi dividida em: elaboração de projeto básico, levantamento de
viabilidade, elaboração de questionário com objetivo de adquirir informações para
o gerenciamento de resíduos sólidos, assim como o conhecimento dos usuários
funcionários da instituição sobre as normas de descarte, destinação final etc. Durante
a implementação do questionário, foi utilizado a menor quantidade de termos técnicos
para se adquirir um diálogo compreensivo e objetivo com os entrevistados; pós
coleta de dados, com o auxílio do programa Excel passou-se todas as informações
adquiridas em campo através de tabelas ilustrativas. Tais tabelas foram fundamentais
para geração de gráficos e por fim filtração dos dados mais relevantes para o com o
objetivo da pesquisa.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Alunos entrevistados

No processo de aplicação do questionário se obteve um pouco de dificuldade


com relação à colaboração dos entrevistados, muitos alunos não quiseram participar
da pesquisa ou simplesmente relataram que não achavam coerência entre a
pesquisa e seu curso ou que os assuntos abordados não eram significantes. Dessa
forma, dos alunos matriculados no curso de engenharia ambiental em ambos os
turnos, somente 75 se dispuseram a participar e se comoveram ao tema, relatando
já ter observado falhas de gestão na instituição, porém que as práticas diárias são
aceitáveis relatando observar melhoras.
A pesquisa foi proposta para alunos da instituição de todos os períodos, contudo
apenas do 2º ao 7º e 10º período a realizaram-na, no total foram entrevistados
42 mulheres e 33 homens. Para a leitura de dados de forma mais precisa, foi-se
adotados percentuais, sendo 100% igual a 75 alunos, desta forma obtivemos 44% de
entrevistados do sexo feminino e 56% do sexo masculino no total de ambos turnos.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 41


Gráfico 1: Percentual de entrevistados por gênero
Fonte: dos autores

Dos entrevistados, a sua maioria eram jovens de 18 anos, presentes no 1º e 2º


período do curso, ocupando um percentual de 46% do total de entrevistados da faixa
etária de 18 a 25 anos que se obteve 56% de entrevistados de ambos os sexos e
períodos. De todos os entrevistados, notou-se que somente os da faixa etária de 26
a 30 anos e os de 31 a 40 anos estão na faculdade sem auxílio estudantil oferecidos
pela faculdade ou governamental, em geral, boa parte não possuem renda própria
e moram com parentes ou amigos, ocupando um percentual de aproximadamente
96% dos entrevistados e uma minoria trabalha e possui casa própria, representando
o 4% restante.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 42


Gráfico 2: Percentual de entrevistados por faixa etária
Fonte: dos Autores

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 10.305/10, conceitua resíduos


sólidos como material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades
humanas em sociedade e cuja destinação final se procede ou pode preceder, nos
estados sólidos ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos
com qualidade inviável para lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos
d’água, ou que exijam soluções técnicas ou economicamente inviável em face da
melhor tecnologia disponível. (NBR 10520).
Notou-se certa dificuldade dos entrevistados em responder questões onde os
mesmos teriam que descrever ou classificar com suas próprias palavras: “O que é
lixo?”. Como resultado da análise, em determinado momento da pesquisa, alguns
entrevistados não souberam se expressar a respeito da pergunta, os que souberam
responder o que era lixo classificaram que é tudo o que não possui mais utilidade,
ocupando um percentual de 80% do total de entrevistados. Tal resposta é ressaltada
na cartilha “Lixo”, do Ministério do Meio Ambiente que é uma expressão comum
das pessoas e destaca a importância de segregar os resíduos para um manejo
diferenciado.
Contudo, deve-se salientar que devido a carência de conhecimento sobre o
meio ambiente e de educação ambiental as pessoas não sabem diferenciar lixo
de resíduos sólidos. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define
lixo como os restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como
inúteis, indesejáveis ou descartáveis, sendo resíduo então definido como tudo aquilo
que pode ser reutilizado e reciclado e, para isto, este material precisa ser separado
por tipo, o que permite a sua destinação para outros fins. (ABNT NBR 10004)

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 43


Gráfico 3: Conhecimento dos entrevistados sobre o que é lixo.
Fonte: dos autores

Ao se questionar sobre a destinação dos resíduos da instituição, notou-se que


tal informação não é repassada aos alunos, com isso, consideraram através das
alternativas presentes no questionário que os resíduos estão divididos entre lixões
com 31% e aterro sanitário com 45%, os que não souberam responder representam
16% dos entrevistados.
Embora existam progressos nos últimos anos no Brasil (ABRELPE, 2014), ainda
se depara com formas inadequadas e ilegais de acomodação de Resíduos Sólidos
Urbanos (RSUs), principalmente em cidades no interior dos estados brasileiros, com
justificativas que permeiam as condições econômico-financeiras das comunas, falta
de operadores capacitados e habilitados, etc., persistindo os lixões ou vazadouros,
que resultam da simples descarga do lixo a céu aberto, sem levar em consideração:
a percolação dos líquidos derivados da decomposição do lixo, a liberação de gases
para a atmosfera e a proliferação de vetores, como: insetos, roedores e outros animais
que podem transmitir doenças ao homem (SERRA et al., 1998 apud MUÑOZ, 2002).

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 44


Gráfico 4: Conhecimento sobre o encaminhamento dos resíduos recolhidos na instituição
Fonte: Dos autores.

É fundamental, portanto, nos preocupar com esses impactos e saibamos que


o manejo adequado dos resíduos é uma importante estratégia de preservação do
ambiente natural, assim como de promoção e proteção à saúde. Assim, é necessário
obter-se, por intermédio da organização da sociedade, a gestão adequada dos RSUs
no meio ambiente, a discussão de caminhos para o enfrentamento dessa questão e
a implantação de alternativas que minimizem os seus impactos (GOUVEIA, 2012).
Durante a pesquisa foram propostas várias soluções pelos alunos, entre essas a mais
citada foi a promoção de consciência através de palestras ou incentivos, uma forma
que fazer a informação chegar a todos os usuários da instituição e não somente a
um grupo específico.

Opções Total %
Destinação Final Adequada 11%
Consciência 57%
Poluição 5%
O que cada aluno pode Segregação 15%
fazer para diminuir os Reutilizar 13%
problemas causados Evitar desperdícios 4%
pelo lixo? Usar as lixeiras 3%
Reduzir 7%
Educação Ambiental 8%
Projetos 12%
Reciclagem 11%
Nenhuma opção 3%
Quadro 1: Propostas de iniciativa de redução de resíduos
Fonte: Dos autores

Os impactos ambientais causados pelo descarte inadequado de Resíduos

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 45


Sólidos Urbanos em terrenos a céu aberto estão presentes na vida da população. Peres
(2005) apresenta alguns critérios básicos que foram estabelecidos pela Resolução
nº 001/1986 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em que constam
as definições e as diretrizes gerais de medidas administrativas, bem como o conceito
de impacto ambiental, que é mencionado no artigo 1º da referida resolução: Impacto
ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do
meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante de
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: a saúde, a segurança e o
bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições
estéticas e sanitárias e o meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais.
(CONAMA, 1986). Uma gestão de resíduos executada de forma inadequada ou
simplesmente inexistente facilita a proliferação de vetores e consequentemente
de doenças infectocontagiosas. Entre os entrevistados notou-se que 92% sabia
exatamente esse ponto e foram além, citando poluição visual e ambiental em caso
de lixiviação do chorume.

Gráfico 5: Conhecimento sobre os problemas causados pelo lixo


Fonte: Dos autores

Tendo em vista os problemas difusos ocasionados pela falta de controle da


geração e manejo adequado dos resíduos sólidos, que tem refletido na qualidade
de vida das pessoas e na manutenção da biodiversidade do país, além da
responsabilidade de cuidar do meio ambiente compartilhada à toda esfera de
poder público e privado e a sociedade em geral, a propagação da conscientização
ambiental para a grande massa esmagadora se torna vital para a preservação do
meio ambiente.
As escolas e os meios de comunicação cooperam de maneira excepcional para

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 46


a difusão dessa consciência ambiental, apresentado campanhas governamentais ou
não que incentivam, educam e demonstram muitas vezes as causas, problemas e
soluções para os impactos ambientais decorrentes, principalmente da ação humana
e descaso do poder público, porém, contribuem para adoção de novas práticas pela
sociedade como exemplo: a prática da reciclagem, que coopera para diminuição
do volume e depósitos irregular dos resíduos, além de ensinar os cidadãos seu
direito ao meio ambiente equilibrado, como também seu dever na manutenção da
sua qualidade.
Em uma pesquisa concluída pelo Ministério do Meio Ambiente no ano de
2012, na qual media o nível de conhecimento do brasileiro sobre o meio ambiente,
chegaram a conclusão que: “na prática, portanto, os brasileiros ainda apresentam
hábitos bastante predatórios ao meio ambiente e à sua própria qualidade de
vida, mas aumenta a disposição para atitudes proativas, assim como aumentou
significativamente o conhecimento sobre os problemas. Políticas como a Nacional
de Resíduos Sólidos e campanhas como “Saco é um Saco” já repercutem nos
questionamentos e hábitos da população (MMA, 2012).

Opções Total %
Escola 63%
Jornal 7%
A primeira vez Rádio 1%
que soube Televisão 25%
dos problemas
Revistas 3%
causados pelo
Palestras 20%
lixo, onde
Outros 11%
obteve estas
informações? Poluição 3%
Quais Enchentes 4%
Vetores transmissores de doenças 4%
Nenhuma opção 19%

Quadro 2: Meio de comunicação que proporcionou o primeiro contato com a problemática


Fonte: Dos autores

A Lei 12305/10, diz que o poder público, o setor empresarial e a coletividade são
os responsáveis pelo gerenciamento dos diferentes tipos de resíduos. Ressalvando
que a Prefeitura é responsável por coletar pequenas quantidades (geralmente menos
que 50 kg/dia), e de acordo com a legislação municipal específica.
Com base nisso, notou-se uma consciência a respeito da responsabilidade
dos resíduos gerados, observando que 89% dos entrevistados relatam que todos
possuem responsabilidade quão ao resíduo gerado. Fundamentado o conceito de
responsabilidade compartilhada, a sociedade passou a ser responsável pela gestão
ambientalmente apropriada dos resíduos sólidos. Tornando o cidadão responsável
pela disposição correta dos resíduos que gera, repensando e revendo o seu papel
como consumidor.
O setor privado, passa a ser responsável pelo gerenciamento apropriado

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 47


dos resíduos sólidos, bem como sua reincorporação na cadeia produtiva e pelas
inovações nos produtos que acarretem benefícios socioambientais, deixando os
entes federados responsáveis pela elaboração e implementação dos planos de
gestão de resíduos sólidos, assim como dos demais instrumentos previstos na
PNRS. (Ministério do Meio Ambiente, Política de Resíduos Sólidos Lei nº 12.305/10).

Gráfico 6: Conhecimento sobre responsabilidade pelos resíduos gerados

Fonte: Dos autores

Segundo TAUCHEN & BRANDLI (2006), faculdades e universidades podem


ser comparadas com pequenos núcleos urbanos, uma vez que envolvem diversas
atividades de ensino, pesquisa, extensão e atividades referentes à sua operação,
como restaurantes e locais de convivência. Dessa forma, a preocupação com a
produção de resíduos deve ser levada em questão e, com isso, pequenas atitudes
contribuem para diminuição dos problemas causados pelos resíduos sólidos em
todos os aspectos sociais, como exemplo de intervenção a consciência ambiental
obteve destaque como resposta na pesquisa, conforme demonstra o quadro 3, logo
em seguida a reciclagem e a reutilização. Contudo, a construção de uma consciência
ambiental é fundamentada a partir de politicas públicas que partem do principio de
incentivar e formar a educação ambiental na sociedade, conforme dita Zacarias
(2000):

“[...] a partir de um enfoque crítico, a Educação Ambiental poderá contribuir para


a formação de cidadãos conscientes, aptos para se decidirem a atuar na realidade
socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada
um e da sociedade local e global.” (ZACARIAS, 2000).

A educação ambiental favorece conhecimento, compreensão e consciência


de valor por parte da sociedade a respeito do meio ambiente, nosso lar comum e

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 48


sua influência nas esferas sociais, econômicas e políticas. A educação ambiental
tem como estratégia a construção de um modelo socioambiental sustentável que
demandam de políticas específicas para levar a tomada de decisões procurando
ampliar o número de atores sociais, fazendo com que entendam a responsabilidade
de todos dentro da “Governança”, com a participação da sociedade na tomada de
decisões, mobilização e estruturação social para sua inclusão no processo levando o
indivíduo a exercer sua cidadania e obter um desenvolvimento sustentável, realizado
através do processo de planejamento efetivo e alcançando resultados palpáveis e
duradouros. (FERNANDES, et al, 2012).

Opções Total %
Consciência 59%
O que cada
Coleta Seletiva 13%
pessoa poderia
Reduzir 17%
fazer para
Destinação Final Adequada 9%
diminuir os
Reciclagem 19%
problemas
causados pelo Segregação 13%
lixo? Reutilizar 19%
Educação Ambiental 8%
Nenhuma opção 5%

Quadro 3: O que cada pessoa poderia fazer para diminuir os problemas causados pelo lixo
Fonte: Dos autores

3.3 Dados coletados com os funcionários da limpeza


De acordo com a pesquisa realizada, por amostragem, questionando os
funcionários do setor de limpeza da instituição sobre a variedade de resíduos
sólidos que eram mais gerados no ambiente da faculdade, constata-se que essa
variedade está relacionada com o comportamento dos alunos e outros funcionário
com base nos seus respectivos turnos. Neste certame papel, embalagens de pipoca
e garrafas pets ganham destaque como os mais gerados nas alas administrativas,
salas e lanchonete.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 49


Gráfico 7: Resíduos Sólidos produzidos pela instituição de ensino
Fonte: Dos autores.

4 | CONCLUSÃO

Numa análise descritiva da pesquisa desenvolvida na Instituição de Ensino


Superior, foi constatado se faz necessário ações de educação ambiental e projetos
dentro da faculdade que incentivam alunos e funcionários ao consumo consciente
e a utilizarem os 3R tanto no âmbito da faculdade como no seu cotidiano fora dela,
além de externalizar informações que mostram o desempenho com resultados da
faculdade no que se diz respeito a diminuição de custo através da implantação de
uma gestão adequada dos resíduos sólidos.

REFERÊNCIAS
AMARO, A.; AL, E. A arte de fazer questionários. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Porto. 2004. Disponível em:< http://nautilus.fis.uc.pt/cec/esjf/wpcontent/uploads/2009/11/elab_quest_
quimica_up.pdf>. Acesso em: Novembro de 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004 - 2004 - Classificação de


Resíduos Sólidos. Acesso em: 01 de Novembro de 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. Norma brasileira ABNT NBR


10520:2002. Informação e documentação – Citações em documentos – Apresentação. Rio de
Janeiro: ABNT, 2002. Acesso em: Novembro de 2018.

BRASIL. Lei nº 12.305/10. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos altera a Lei n.º
9.605/98 e dá outras providências. Disponívelem:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato20072010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: Novembro de 2018.

SILVA & JERÔNIMO, Educação Ambiental, uma questão de “sobrevivência”: estudo de caso para
o município de Bom Jesus/RN. v(9), nº 9, p. 1992 – 2009, 2012. (e-ISSN: 2236-1308). Acesso em:
Janeiro de 2019.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 50


FERNANDES, E. S. G. et al. MASP no controle de desperdício: um estudo de caso em uma
gráfica. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO – ENEGEP, 32., 2012.
Bento Gonçalves, Anais. Bento Gonçalves: Enegep, 2012. Acesso em: Janeiro de 2019.

GOUVEIA, N. Resíduos sólidos urbanos: impactos socioambientais e perspectiva demanejo


sustentável com inclusão social. Ciência & Saúde Coletiva,v.17,n.6,p.15031510,2012.
Disponívelem:<http://dx.doi.org/10.1590/S141381232012000600014>. Doi: 10.1590/S1413-
81232012000600014. Acesso em: 15 de janeiro de 2019. Acesso em: Janeiro de 2019.

Ministério do Meio Ambiente, Google Analytics. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/informma/


item/8386-o-que-o-brasileiro-pensa-do-meio-ambiente-e-do-consumo-sustent%C3%A1vel >. Acesso
em: 7 de Março de 2019.

MMA - Ministério do Meio Ambiente. Taxa média de desmatamento anual dos biomas brasileiros.
Brasília, DF, 2012. Disponível em:<http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.
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RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas,1999. Janeiro de
2019.

SERRA et al, apud MUÑOZ. Impacto ambiental na área do aterro sanitário e incineradorde
resíduos sólidos de Ribeirão Preto, SP: avaliação dos níveis de metais pesados. 2002. 159
f. Tese (Doutorado em Enfermagem/Saúde Pública). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. p. 35. Acesso em: Janeiro de 2019.

Stewart, R. C., Umar, E., Tomenson, B., & Creed, F. (2014).Validation of the multi-dimensional
scale of perceived social support (MSPSS) and the relationship between social support,
intimate partner violence and antenatal depression in Malawi. BioMed Central Psychiatry, 14(1),1-
11. doi: 10.1186/1471-244X-14-180. Acesso em: Novembro de 2018.

TAUCHEN, J.; BRANDLI, L. L. A gestão ambiental em instituições de ensino superior: modelo


para implantação em campus universitário. Gestão & Produção, São Carlos, v.13, n.3, p.503-515,
2006. Acesso em: Novembro de 2018.

ZACARIAS, R. Consumo, lixo e educação ambiental: uma abordagem crítica. Juiz de Fora: ed.
FEME, 2000ABRELPE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil. Associação Brasileira de Empresas
de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. 2014. Acesso em: Novembro de 2018.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 4 51


CAPÍTULO 5

IMPLEMENTAÇÃO DA COLETA SELETIVA DE PAPEL


NO CAMPUS UFSCAR LAGOA DO SINO

Anne Alessandra Cardoso Neves que viabilize a gestão e o gerenciamento


Engenheira Química, Doutora em Ciências da de atividades que busquem reciclar papéis
Engenharia Ambiental, Docente do Curso de que porventura não se tenha conseguido
Engenharia Ambiental.
evitar que fossem utilizados. Este projeto
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
teve como objetivo coletar resíduos de papel
Campus Lagoa do Sino, Centro de Ciências da
gerados dentro do campus, proporcionando a
Natureza (CCN), Buri – SP.
correta destinação destes materiais para que
Ubaldo Martins das Neves
pudessem ser reciclados. Vinculada a essa
Físico, Doutor em Física Aplicada, Docente dos
Cursos de Administração e Biologia.
ação, houve a implementação da educação
ambiental junto à comunidade acadêmica.
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
Campus Lagoa do Sino, Centro de Ciências da Foram elaborados materiais informativos
Natureza (CCN), Buri – SP. sobre educação ambiental e reciclagem
Isabella Christina Athayde Sfair embasando a coleta seletiva, e também foram
Discente do Curso de Engenharia Ambiental apresentadas estratégias que minimizem
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar o uso de papel (ambiente virtual). Com a
Campus Lagoa do Sino, Centro de Ciências da execução do projeto, cerca de 700 membros da
Natureza (CCN), Buri – SP. comunidade acadêmica, incluindo estudantes,
servidores e prestadores de serviços, foram
contemplados com um trabalho dirigido de
educação ambiental, e possivelmente atuarão
RESUMO: Frequentemente grande quantidade
como agentes multiplicadores em comunidades
de papel é descartada de maneira inadequada
externas das quais participem.
em ambientes universitários como a UFSCar.
PALAVRAS-CHAVE: Resíduos sólidos, Coleta
Menos de 50% do papel gerado no campus
seletiva, Reciclagem de papel.
é reciclado, o que reflete o cenário do Brasil,
cuja taxa máxima de recuperação de papel
foi de 58,9% em 2013, segundo o relatório da SELECTIVE COLLECTION OF PAPER IN THE
Associação Nacional dos Aparistas de Papel. UFSCAR LAGOA DO SINO CAMPUS
Nos períodos que compreendem finais de ABSTRACT: A large amount of paper has
semestres, a quantidade gerada é ainda maior. often been discarded improperly in University
Assim, torna-se relevante um planejamento environments like UFSCar. Less than 50%

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 5 52


of paper waste generated on campus is recycled. This reflects the Brazil landscape
whose maximum rate of paper recovery was 58.9% in 2013, according to the report by
National Association of Paper Aparistas. The amount of waste in the semesters end is
even greater. With that in mind it becomes relevant an enable management planning
and managing activities that aim to recycle papers waste. This project aimed to collect
paper waste generated within the campus and provide the correct disposal of these
materials allowing them to be recycled. Linked to this action was the implementation
of environmental education in the academic community. Informational materials about
environmental education and recycling were prepared to base the selective collection.
Strategies to minimize the use of paper (virtual environment) were also presented.
With the execution of the project about 700 members of the academic community were
awarded a work directed to environmental education. This will enable that students,
servers and service providers act as multiplier agents in external communities.
KEYWORDS: Solid waste, selective collection, paper recycling

1 | INTRODUÇÃO

Devido ao aumento da população e do consumo, a quantidade de resíduos


gerados vem aumentando de forma alarmante, e este é um ponto de grande
preocupação mundial (MARSH et al., 1996). A disposição desses materiais apresenta
implicações econômicas, pois o seu armazenamento requer a utilização de espaços
físicos especiais e seu tratamento é, em geral, dispendioso. Esses resíduos são
dispostos então de maneira inadequada, causando sérios problemas ambientais.
O ideal seria que o ciclo se estabelecesse, ou seja, o resíduo gerado retornasse
de forma sustentável ao ambiente. Por outro lado, esse descaso com relação à
destinação adequada para os resíduos sólidos tem gerado situações irreversíveis
de risco para a saúde pública e ambiental. Desta forma, torna-se urgente que o
equacionamento da questão dos resíduos sólidos contemple aspectos ambientais,
sociais, de saúde pública, bem como as formas de gestão estejam de acordo
com a realidade tecnológica, econômica e social. Isso exige soluções eficientes,
ecocompatíveis e envolvimento social (AZEVEDO, 1996).
As estratégias de gestão de resíduos sólidos, propostas por organizações
internacionais como a ISWA (Internacional Solid Waste Association), a CE (Comissão
Europeia) e o Programa Ambiental das Nações Unidas, direcionam a gestão dos
resíduos sólidos para os seguintes aspectos em ordem decrescente de prioridade: a
minimização da produção de resíduos; o emprego de sistemas de reaproveitamento,
reciclagem e tratamento para os resíduos gerados, e a disposição final em aterros
sanitários (AZEVEDO, 1997).
Dentro deste contexto, as atividades de educação ambiental, visando à
conscientização da população para a minimização da geração de resíduos, e os
processos de reciclagem surgem, dentro de um sistema integrado de gestão de
resíduos, como importantes etapas, por constituírem processos pautados em
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 5 53
princípios ecológicos de preservação ambiental e participação social (PUSCHMANN,
2004).
Um melhor aproveitamento dos resíduos sólidos descartados tem sido
empreendido, de forma mais sistemática, a partir de 1970, por países mais
desenvolvidos. As iniciativas estão relacionadas ao surgimento de tecnologias de
reaproveitamento, bem como do desenvolvimento de um mercado que possibilite
o retorno dos materiais ao ciclo de produção, e sobretudo a uma sociedade atenta
aos efeitos nocivos ao meio ambiente provenientes de um descarte inadequado e
excessivo (TONELOTO, 2011). As indústrias de reciclagem de papéis contribuem
com o meio ambiente de forma sistêmica e atuante, pois usam como matéria prima
somente papéis usados (ABIRP, 2014). A reciclagem e/ou reutilização de materiais
recicláveis proporciona inúmeros benefícios econômicos, sociais e ambientais na
busca por sustentabilidade ambiental, principalmente nas grandes cidades, onde o
volume gerado de resíduos é maior (Tabela 1).

Economia obtida com a Reciclagem


1000 kg Papel reciclado = 20 árvores poupadas
1000 kg Vidro reciclado = 1300 kg de areia extraída poupada
1000 kg Plástico reciclado = milhares de litros de petróleo poupados
1000 kg Alumínio reciclado = 5000 kg de minérios extraídos poupados

Tabela 1– Importância da reciclagem e sua economia para o meio ambiente.


Fonte: SANTANA, 2016.

Diante do panorama apresentado, o presente projeto buscou estratégias de


gestão para redução da quantidade de papel descartada no aterro sanitário, bem
como redução na demanda de matéria prima primária para a produção de papel,
tomando como principal ferramenta a educação ambiental. Diariamente grande
quantidade de papel é descartada de maneira inadequada no Campus da UFSCar
Lagoa do Sino. Nos períodos que compreendem finais de semestres, a quantidade
gerada é ainda maior. Assim, torna-se relevante um planejamento que viabilize a
gestão e o gerenciamento de atividades que busquem reciclar papéis que porventura
não se tenha conseguido evitar que fossem utilizados. Com a execução do projeto,
cerca de 700 membros da comunidade acadêmica, incluindo alunos, servidores e
prestadores de serviços, foram contemplados com um trabalho dirigido de educação
ambiental.

2 | OBJETIVOS

O projeto teve como objetivo principal orientar a comunidade acadêmica sobre a


importância da gestão e gerenciamento da coleta seletiva, levando em consideração

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 5 54


aspectos ambientais, sociais e econômicos. Vinculada a essa ação uma ênfase maior
à educação ambiental vem sendo implementada junto aos membros da comunidade
acadêmica.
Os objetivos secundários foram: coletar resíduos de papel gerados dentro do
Campus, proporcionando a correta destinação destes materiais para que pudessem
ser reciclados; propagar conceitos fundamentais de educação ambiental em
comunidades externas ao campus; compor um banco de dados que possa servir de
apoio a pesquisas futuras.

3 | METODOLOGIA

Foram elaborados materiais informativos sobre educação ambiental e


reciclagem (folders, cartazes e palestras), embasando a coleta seletiva de papel,
que foram direcionados à comunidade acadêmica, buscando assim implementar a
conscientização quanto a questões socioambientais e consequentemente a adesão
ao projeto. Neste contexto foram apresentadas estratégias que minimizem o uso de
papel, por exemplo, disponibilizando maior quantidade de materiais informativos via
ambiente virtual. Esse trabalho de conscientização vem permanecendo durante todo
o período no qual o projeto continua ativo.
Ao envolver na equipe de pesquisa membros da comunidade universitária de
diferentes setores buscou-se um envolvimento maior da comunidade universitária.
Os acadêmicos envolvidos no projeto receberam um treinamento sobre mobilização
popular e coleta seletiva para a elaboração de todo o material de divulgação e
mobilização comunitária a ser desenvolvida pelo projeto, além de terem função de
agentes multiplicadores do projeto, em seus respectivos grupos de convivência.
A conscientização do setor de limpeza também foi viabilizada com material
educativo e palestras. Desta forma pretendia-se ampliar a adesão desses funcionários
que são de extrema importância ao bom andamento do projeto.
Após avaliação prévia, pontos de coleta estratégicos foram implantados.
Foram distribuídas caixas coletoras identificadas (adesivos) para coleta dos
papéis recicláveis nas salas de aula, laboratórios, salas de professores e setores
administrativos do Campus. Foram reutilizadas caixas de papel para impressão
previamente descartadas.
O gerenciamento dos pontos de coleta tem sido realizado no decorrer do projeto
incluindo-se a reposição de caixas e adesivos. Um acompanhamento vem sendo
realizado a partir da quantificação do papel coletado e posteriormente direcionado
à reciclagem. Além disso, tem sido realizada a gestão dos níveis de adesão da
comunidade acadêmica bem como o estudo de possíveis estratégias para melhorar
essa adesão. Uma ferramenta importante na busca destas informações tem sido a
aplicação de questionários à comunidade acadêmica.
Junto à execução do projeto, num trabalho de pesquisa piloto, pretende-se

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 5 55


realizar reciclagem de papel, em escala experimental, no Laboratório de Processos
Biológicos e Ambientais do campus. Esses dados também servirão de base para
projetos futuros que busquem a sustentabilidade do Campus.

4 | RESULTADOS OBTIDOS

Obteve-se a quantificação de resíduos de papel gerados no campus Lagoa


do Sino, levando-se em consideração o período do ano letivo e o tipo de papel
mais utilizado. Houve ainda um melhor entendimento do que é reciclagem e sua
importância, por parte do setor de limpeza, fazendo com que o projeto ocorresse e
se desenvolvesse de forma adequada.
Através de um questionário, aplicado a membros da comunidade acadêmica,
foi possível obter dados que podem servir de base para projetos futuros que também
possuam a sustentabilidade ambiental como foco principal. Ao todo 37 pessoas
foram entrevistadas, incluindo docentes, discentes e técnicos da UFSCar Campus
Lagoa do Sino.
A quantidade de papel utilizado pelos mesmos, por mês, é de 1140 folhas.
Questionados sobre o período do ano letivo em que mais utilizam papel, obteve-se
os dados do gráfico observado na Figura 1. Esse resultado já era o esperado uma
vez que a maior parte de trabalhos e avaliações integradoras se concentram no
final do ano letivo. Cabe ressaltar que apesar disso, muitos professores preferem
organizar no início do ano seus documentos encerrados no final do ano letivo, por
isso um valor tão significativo também no início do ano.

O gráfico da Figura 2 informa o tipo de papel mais utilizado, sendo 97% papel
branco e 2% colorido. Apenas 1% dos entrevistados utiliza papel reciclado. Este
dado evidencia a dificuldade em encontrar papéis reciclados na cidade e também o

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 5 56


seu alto custo.

Quanto ao conhecimento sobre a origem e produção do papel apenas 57% dos


entrevistados responderam satisfatoriamente, o que evidencia grande carência de
conceitos básicos em educação ambiental (Figura 3).

Questionados sobre a correta destinação dos materiais orgânicos e inorgânicos,


apenas 11% contribuem com a reciclagem (Figura 4). Este resultado mostra a
proporção de pessoas que ainda não se preocupam com a correta destinação dos
materiais orgânicos e inorgânicos. O campus em que os entrevistados se encontram
é baseado no tripé sustentabilidade, agricultura familiar e segurança alimentar, e
este dado se mostra antagônico ao resultado esperado.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 5 57


Foram pesados ao todo cerca de 87 kg de papel descartado, o que não reflete
a quantidade real de papéis utilizados por período letivo. Isso porque um trabalho
direcionado de conscientização ambiental ainda vem sendo realizado junto a toda
a comunidade acadêmica, buscando maior adesão ao projeto. Além disso certa
resistência vem sendo encontrada por parte de professores, sobretudo por receio
em descartar seus papéis utilizados em lugar comum a toda comunidade acadêmica.
Acredita-se que uma picotadeira de papel traria mais conforto a esses professores,
quanto aos conteúdos dos documentos dispostos.

5 | CONCLUSÕES

Este projeto proporcionou maior compreensão, e posterior adesão ao projeto,


por parte do setor de limpeza, fundamental para a implantação do projeto. Isso foi
viabilizado ministrando-se palestras e orientações com foco em educação ambiental.
Com os resultados dos questionários, foi possível perceber a necessidade de uma
maior orientação sobre sustentabilidade aos membros do campus. Cabe ressaltar
que trata-se de um processo contínuo, uma vez que a cada ano cerca de 230 novos
alunos ingressam no campus, e por isso espera-se continuar com o projeto buscando
ainda obter dados temporais comparativos.

REFERÊNCIAS
ABIRP- Associação Brasileira das Indústrias Recicladoras de Papel, 2014 http://www.abirp.org.br/

AZEVEDO, M. A. Estratégias para implantação de programas de coleta seletiva em pequenos


municípios do Estado Minas Gerais. In: Encontro para a Conservação da Natureza, UFV, Viçosa,
1997.

MARSH, W.M.; GROSSA JR., J.M. Environmental Geography, New York, John Willey, p.426, 1996.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 5 58


PUSCHMANN, R.; AZEVEDO, M.A.; MOLINO, D.B.; CRUZ, M.C.C.; PINHEIRO, R. Projeto Reciclar
Implantação da Coleta Seletiva no Campus da Universidade Federal de Viçosa UFV, Anais do 2º
Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, Belo Horizonte, 2004.

SANTANA, S. Reciclagem do Papel, 2016. Disponível em: http://www.sosquimica.com.br/textos/


reciclar_papel.pdf

TONELOTO, C. Reciclagem: preocupação antiga, problema novo, 2011. Disponível em: http://www.
globalgarbage.org/praia/2011/11/05/reciclagem-preocupacao-antiga-problema-novo/

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 5 59


CAPÍTULO 6

MODELAGEM FUZZY COMO FERRAMENTA DE


APOIO À DECISÃO NO GERENCIAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO AMAZONAS

Benone Otávio Souza de Oliveira trabalho tem como objetivo propor um estudo
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto para desenvolver um Índice de Gestão de
de Ciência e Tecnologia, Programa de Pós- Resíduos Sólidos Urbanos para os municípios
Graduação em Ciências Ambientais.
do estado do Amazonas. Utilizando o Toolbox
Sorocaba – São Paulo
Fuzzy do software MATLAB, versão 7.14.0 -
Ediléa Cristina Barros Michel R2012a foi elaborado um sistema de Inferência,
UNISO - Universidade de Sorocaba, Programa de
o qual é composto por três variáveis de entrada
Pós-Graduação em Educação.
e uma de saída, sendo que foram atribuídos
Sorocaba – São Paulo
três valores linguísticos para as variáveis de
José Arnaldo Frutuoso Roveda entrada e quatro para a variável de saída. A
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto
base de regras com regras do tipo “se-então” foi
de Ciência e Tecnologia, Programa de Pós-
construída por meio da combinação de todas as
Graduação em Ciências Ambientais.
variáveis de entrada, contendo assim 27 regras.
Sorocaba – São Paulo
A inferência do sistema foi segundo o método de
Sandra Regina Monteiro Masalskiene
Mamdani e por meio do operador matemático
Roveda
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto Máx-Min e para a defuzzificação utilizou-se o
de Ciência e Tecnologia, Programa de Pós- método do centroide. Os resultados mostraram
Graduação em Ciências Ambientais. que o valor do índice proposto está compatível
Sorocaba – São Paulo com a realidade do objeto de estudo. O IGRF
mostrou-se um indicador útil para uma análise
comparativa da qualidade da gestão praticada.
PALAVRAS-CHAVE: Lógica Fuzzy; Resíduos
RESUMO: O crescimento acelerado da
Sólidos Urbanos; Gestão de Resíduos Sólidos
população e o alto índice de consumo da
Urbanos.
sociedade tem proporcionado o aumento na
quantidade e na diversidade dos resíduos sólidos
urbanos gerados, tendo como consequência MODELING FUZZY AS A TOOL FOR
a poluição do ar, do solo e da água, além de DECISION SUPPORT IN MANAGEMENT OF
WASTE SOLID URBAN IN THE AMAZONAS
problemas na saúde humana, tornando-se um
fator de preocupação para vários municípios. ABSTRACT: Accelerated population growth
Baseado na teoria dos conjuntos fuzzy, este and the high level of consumption in society

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 6 60


have led to an increase in the quantity and diversity of municipal solid waste generated,
resulting in pollution of air, soil, and water, as well as human health problems, making it
a factor of concern for several municipalities. Based on the fuzzy set theory, this paper
aims to propose a study to develop an Urban Solid Waste Management Index for the
municipalities of the state of Amazonas. Using the Fuzzy Toolbox of MATLAB software,
version 7.14.0 - R2012a, an Inference system was elaborated, which consists of three
input and one output variables. Three linguistic values were assigned for the input
variables and four for the output variables. The rule base was constructed by combining
all the input variables, thus containing 27 rules. This work was developed according to
Mamdani method and max-min inference. For defuzzification the centroid method was
used. The results showed that the value of the proposed index is compatible with the
reality of the object of study. The IGRF proved to be a useful indicator for a comparative
analysis of the quality of management practiced.
KEYWORDS: Fuzzy Logic; Solids Waste; Solid waste management.

1 | INTRODUÇÃO

O crescimento acelerado da população e o alto índice de consumo da sociedade


tem proporcionado o aumento na quantidade e na diversidade dos resíduos sólidos
urbanos gerados, tendo como consequência a poluição do ar, solo e da água, além
de problemas na saúde humana, tornando-se um fator de preocupação para vários
municípios (FRANÇA; RUARO, 2008; MEIRA, 2009; FARIA, 2012; OLIVEIRA et
al., 2016; LI; CHEN, 2011). Na Amazônia foram registradas as maiores taxas de
crescimento urbano do Brasil. Nas últimas décadas, a população vem se concentrando
em todo território sem dispor de serviços básicos adequados, proporcionando assim
sérias consequências ambientais e sociais (GIATTI et al., 2010).
Embora a maioria dos municípios brasileiros disponha de serviços de coleta dos
resíduos sólidos, mais da metade (50,8%) o destina para vazadouros a céu aberto
(lixões). Apesar disto, houve um decréscimo em relação ao ano de 2000, quando o
percentual era 72,3% (IBGE, 2011). Entretanto, o cenário em 2015, segundo dados
divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente do Brasil, somente 40% dos municípios
dispõem seus resíduos em aterros e 60% em lixão e aterro controlado (MMA, 2017).
Enquanto que, em países desenvolvidos, como os da União Europeia composta
por vinte e oito Estados Membros, observa-se que, a partir do ano de 2008, a geração
per capita média de resíduos vem sendo reduzida, como mostra, por exemplo, a
média anual de resíduos gerados por pessoa era de 520 Kg (1,42kg hab./dia), em
2012 passou a 492 kg (1,35 kg hab./dia) e em 2014 para 414 kg. Destes, 15%
foram transformados em compostagem, 24% são incineração, 27% em reciclagem
e 34% destinam-se para aterros sanitários. Tais resultados podem ser atribuídos em
grande parte à legislação local, estabelecida por via de metas dos países membros
(EUROSTAT, 2017).
E, no Brasil, apesar da aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 6 61
instituída pela Lei no. 12.305, de 02 de agosto de 2010 (BRASIL, 2010), a gestão
dos resíduos sólidos urbanos está longe de atingir o nível adequado.
Nessa perspectiva, as mudanças da sociedade brasileira em relação à natureza
ainda são precárias, principalmente na solução dos problemas causados pela
geração e o manejo inadequado dos resíduos sólidos. Para tanto, com o aumento
desses resíduos e a preocupação com os impactos ambientais e de saúde, ainda
que as tecnologias estejam se tornando mais sofisticadas diante deste cenário, onde
o gerenciamento dos Resíduos Sólidos tornou-se de suma importância (LI; HUANG,
2011; LIU; WENA; XUC, 2013; ALVES, 2011; FERREIRA et al., 2014).
Em razão de apresentar incerteza em muitos parâmetros do sistema e nas
suas inter-relações na gestão dos resíduos sólidos urbanos (LI; HUANG, 2011),
essas incertezas não se limitam a informações incompletas, erros na amostragem,
julgamento subjetivo, variações aleatórias, interações dinâmicas entre fatores
operacionais, aproximações e pressupostos de medição e mudanças (LI; HUANG,
2011; HUANG et al., 1993; LI; CHEN, 2011; LIU; WENA; XUC, 2013), mas levam às
dificuldades no desenvolvimento de métodos e modelos para apoiar a tomada de
decisões.
A Teoria dos Conjuntos Fuzzy, introduzida por Zadeh (1965) tem se mostrado
como um método bastante apropriado para lidar com as incertezas (HUANG et al.,
1993; LI; CHEN, 2011). Uma das principais vantagens da teoria é a capacidade de
trabalhar com variáveis linguísticas e incorporar variáveis de diferentes naturezas
(ZADEH, 1965; MCKONE; DESHPANDE, 2005; CABANILLAS et al., 2012). Tem sido
aplicada com sucesso em uma variedade de áreas, incluindo proteção ambiental,
gestão de resíduos, qualidade da água e em várias áreas de aplicação ambiental
(MILUTINOVIC et al., 2016).
Dessa forma, este trabalho teve como objetivo desenvolver um sistema de
Inferência Fuzzy baseado em regras gerando um Índice de Gestão de Resíduos
Sólidos para os municípios do estado do Amazonas.

2 | MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Área de Estudo


O Estado do Amazonas é o maior em área territorial do País, com 1.559.149,074
quilômetros quadrados, detém um dos mais baixos índices de densidade demográfica
do país, com 2,23 habitantes por quilômetro quadrado, sua população estimada para
2016 foi de 4.001,667 habitantes, dos quais 2.094.391 vivem na capital (Manaus) e
os demais nos 61 municípios do estado conforme dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2016) (Figura 01).

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 6 62


Figura 01. Estado do Amazonas
Fonte: Autores, 2017.

O clima da região, segundo o critério de classificação de Koppen, pertence


ao grupo A (Clima Tropical Chuvoso) e tipo climático AM (chuvas do tipo monção),
apresentando um período seco de pequena duração (BRASIL, 1978).

2.2 Tratamento dos Dados


Para determinar o Índice de Gestão de Resíduos Sólidos no Estado do Amazonas
foram utilizados dados referentes ao período de 2008 a 2015 (IBGE, 2011; ABRELPE,
2015), respectivamente, levando em consideração as seguintes dimensões: Coleta,
Tratamento e Destinação Final, as quais são operadas por empresas privadas e/ou
autarquias municipais e que serviram de base para a realização desse estudo.

2.3 Elaboração do Índice de Gestão de Resíduos Fuzzy


A elaboração do Índice de Gestão de Resíduos Fuzzy (IGRF) baseou-se no uso
de três variáveis: coleta, tratamento e destinação final de resíduos. Tais variáveis
foram escolhidas de acordo com a determinação do índice de gestão de resíduos
sólidos urbanos no estado de São Paulo (FERRAZ, 2008). Na figura 02 apresenta-se
a estrutura geral do sistema:

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 6 63


Figura 02. Fluxograma do sistema de inferência Fuzzy utilizado para desenvolvimento do Índice
de Gestão de Resíduos Fuzzy.
Fonte: Autores, 2017.

Utilizando o Toolbox Fuzzy do software MATLAB, versão 7.14.0 - R2012a


desenvolveu-se as seguintes etapas:
1. Fuzzificação: O sistema é composto por três variáveis de entrada e para
cada variável atribuiu-se três valores linguísticos: Ruim; Regular e Bom. A saída
teve como resposta o Índice de Gestão de Resíduos Fuzzy (IGRF) e são atribuídos
quatro valores linguísticos: Inadequado (I); Adequado (A); Parcialmente Adequado
(PA) e Muito Adequado (MA).
Na tabela 01 é possível identificar os domínios e uma descrição de cada variável
do sistema.

Variáveis Domínios Descrição


Ruim [0 0 20 50] As informações sobre a coleta e transporte
Regular [20 50 80] dos resíduos sólidos urbanos são de suma
Bom [50 80 100 importância, em razão de apresentar dados
100] de caracterização e análise dos resíduos, da
manutenção e de veículos (IBGE, 2011; FERRAZ,
Coleta 2008; ABRELPE, 2015). Para tanto, ressalta-se
que as informações levantadas são de caráter
quantitativo, ou seja, dados de quantidade de
resíduos coletados, quantidade de resíduos
gerados, os tipos de caminhões utilizados na
coleta e etc.
Ruim [0 0 20 50] Trata-se de um indicador importante para alcançar
Regular [20 50 80] a universalização do serviço quanto: a coleta
Bom [50 80 100 seletiva, usinas de triagem e compostagem,
Tratamento
100] análise quali-quantitativa. Além do mais, os
dados independem de qualquer será o tipo de
tratamento.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 6 64


Ruim [0 0 20 50] Trata-se de um indicador importante para
Regular [20 50 80] alcançar a universalização do serviço quanto: aos
Bom [50 80 100 impactos ambientais, tratamento de efluentes,
Destinação
100] implementação de aterros sanitários. Os dados
Final
são de caráter quali-quantitativo, uma vez que
mostram o percentual de disposição final de
resíduos em lixões e aterros.
I [0 0 1.5 3.5]
Índice de PA [1.5 3.5 5.5]
Gestão A [3.5 5.5 8] -
MA [5.5 8 10 10]

Tabela 01 – Domínio e descrição de cada variável.


Fonte: Autores, 2017.

Na Figura 03, observam-se as funções de entrada e saída. Ressalta-se que as


faixas de delimitações para cada função foram adaptadas e definidas com base em
outros estudos (IBGE, 2011; FERRAZ, 2008; ABRELPE, 2015).

Figura 03. Representação das funções de pertinência para os parâmetros de entrada e


saída. A: Variável linguística Coleta; B: Variável linguística Tratamento; C: Variável linguística
Destinação; D: Variável de saída (IGRF).
Fonte: Autores, 2017.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 6 65


2. Base de Regras: As regras do tipo “se-então” têm a função de definir as
relações entre os subconjuntos Fuzzy de entrada e saída. Deste modo o modelo
conta com 27 regras que expressam todas as relações possíveis, em razão de possuir
três variáveis de entrada com três valores linguísticos associados a cada variável.
Ressalta-se ainda que para a elaboração das regras, baseou-se na metodologia
Delphi, a qual se definiu a coleta como de maior de importância. Algumas regras são
apresentadas abaixo:

“R1: Se coleta = Ruim; tratamento = Ruim; destinação = Ruim, ENTÃO [IGRF]


= Inadequado”.
“R5: Se coleta = Ruim; tratamento = Regular; destinação = Regular, ENTÃO
[IGRF] = Inadequado”.
“R10: Se coleta = Regular; tratamento = Ruim; destinação = Ruim, ENTÃO
[IGRF] = Inadequado”.
“R17: Se coleta = Regular; tratamento = Bom; destinação = Regular, ENTÃO
[IGRF] = Parcialmente Adequado”.
“R22: Se coleta = Bom; tratamento = Regular; destinação = Ruim, ENTÃO
[IGRF] = Inadequado”.
“R27: Se coleta = Bom; tratamento = Bom; destinação = Bom, ENTÃO [IGRF]
= Muito Adequado”.

3. Sistema de Inferência Fuzzy e Defuzzificação: Este trabalho foi


desenvolvido segundo método Mamdani que utiliza a inferência Max-Min. Para a
defuzzificação utilizou-se o centroide na determinação do valor do IGRF (Ross, 2010
apud Oliveira et al., 2014).

3 | RESULTADOS E DISCUSSÕES

O IGRF infere a qualidade do gerenciamento de resíduos sólidos a partir das


informações sobre coleta, tratamento e disposição final. A Figura 04 apresenta a
superfície de saída para o sistema plotando o valor do índice IGRF em relação às
variáveis de coleta e tratamento.
O resultado final do processo foi obtido através da defuzzificação, que forneceu
um valor numérico entre 0 e 10, representando desta forma o nível do índice de
gestão de resíduos sólidos urbanos.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 6 66


Figura 04. Superfície da relação coleta e tratamento.
Fonte: Autores, 2017.

Já a figura 05 mostra o conjunto de 27 regras fuzzy elaborado para expressar


a relação entre as variáveis de entrada e saída que definem Índice de Gestão de
Resíduos Sólidos Urbanos. A participação do especialista foi fundamental para traduzir
em regras do tipo “se-então” a relação entre os antecedentes e o consequente.
A Figura 05 exibe também a inferência para um conjunto particular de dados
sendo que para os valores de 50 para cada variável de entrada o IGRF é igual a 1,29
indicando que o sistema pode ser classificado no conjunto Inadequado (I).

Figura 05. Regras fuzzy aplicadas.


Fonte: Autores, 2017.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 6 67


O banco de dados foi composto a partir dos dados disponibilizados em IBGE
(2011); MMA (2017); ABRELPE (2015) e são apresentados na Figura 06.

Figura 06. Dados para as variáveis de entrada coleta, tratamento e Destinação no período em
que o índice está sendo avaliado.
Fonte: Autores, 2017.

Os valores determinados para o IGRF estão dispostos na Figura 07. Os resultados


mostraram que o cenário de gerenciamento tem, no geral, sido classificados como
adequado.

Figura 07. Índice de Gestão de Resíduos Fuzzy conforme a compilação dos dados do IBGE
(2011); MMA (2017); ABRELPE (2015).
Fonte: Autores, 2017.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 6 68


4 | CONCLUSÃO

A aplicação da modelagem fuzzy implica no estabelecimento de uma ferramenta


amplamente flexível, objetivando explorar as incertezas de um objeto de estudo e que
pode ser aplicada a um universo amostral reduzido, podendo ainda ser facilmente
ajustável às condições experimentais. Deste modo, o modelo fuzzy para determinar
um Índice de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos no estado do Amazonas elaborado
com base em dados literários e consulta de especialistas, tem se mostrado com
potencial efetivo para avaliar as condições do gerenciamento de resíduos.
A partir de dados das variáveis de entrada foi possível realizar um diagnóstico da
condição em que se encontra a gestão dos resíduos sólidos urbanos nos municípios
do estado do Amazonas.
Estudos futuros deverão ser empreendidos para investigar o comportamento
do IGRF ao se considerar na elaboração da base de regras as três variáveis com
mesmo grau de importância, o que deve resultar um instrumento um pouco mais
rigoroso.
Em suma, o IGRF apresenta-se como um indicador potencialmente útil para
uma análise comparativa da qualidade da gestão praticada nos municípios do estado
do Amazonas, oferecendo às autoridades governamentais informações importantes
para um processo de melhoria da Gestão dos Resíduos Sólidos.

REFERÊNCIAS
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aterros sanitários em escala real. In: II Simpósio Sobre Resíduos Sólidos –USP - II SIRS, São
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS.


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altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de1998; e dá outras providências. 2010.

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1978. 556 p.

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index.php/Waste_statistics/pt>. Acesso em: 07 maio 2017.

FARIA, A. B. Estimativa de impactos ambientais causados pelo descarte de sacolas plásticas


em Belo Horizonte, Minas Gerais. Dissertação (Programa de Pós – Graduação em Engenharia
Ambiental) Universidade Federal de Santa Catarina, 2012. 140 p.

FERRAZ, J. L. Modelo para avaliação da gestão municipal integrada de resíduos sólidos urbanos.
Tese (Programa de Pós – Engenharia Mecânica) Universidade Estadual de Campinas, 2008. 241

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 6 69


p.

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GIATTI, L. L.; NEVES, N. L. S.; SARAIVA, G. N. M.; TOLEDO, R. F. Exposição à água contaminada:
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v.28, n.5, p.337-343, 2010.

HUANG, G. H.; BAETZ, B. W.; PATRY, G. G.; A grey fuzzy linear programming approach for municipal
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ZADEH, L. A. Fuzzy sets. Information and Control. Information and Crontrol, n.8, p.338- 353, 1965.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 6 70


CAPÍTULO 7

MODELAGEM DE TAXAS DE EROSÃO DE ESTRADA


NÃO PAVIMENTADA DA REGIÃO METROPOLITANA
DE FORTALEZA-CE

Mayara da Silva Lima aborda-se a aplicabilidade desta equação para


Instituto Federal de Educação, Ciência e a estimativa de taxas de erosão provenientes
Tecnologia do Ceará – IFCE Fortaleza-Ceará da superfície de estrada não pavimentada,
Teresa Raquel Lima Farias através de comparativo com taxas de erosão
Instituto Federal de Educação, Ciência e quantificadas por meio de levantamentos
Tecnologia do Ceará – IFCE Fortaleza-Ceará
topográficos sucessivos, realizados em um
Waleska Martins Eloi segmento de estrada, localizada na região
Instituto Federal de Educação, Ciência e
metropolitana de Fortaleza-CE. Os resultados
Tecnologia do Ceará – IFCE Fortaleza-Ceará
da análise sugerem que a EUPS apresenta-
Mariano da Franca Alencar Neto se como uma ferramenta útil para predição de
Instituto Federal de Educação, Ciência e
taxas de erosão de estradas com leito em solo
Tecnologia do Ceará – IFCE Fortaleza-Ceará
natural. Porém, é necessário o desenvolvimento
Francisco das Chagas Soares
de modelagem preditiva de erosão em estradas
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará – IFCE Fortaleza-Ceará que leve em consideração fatores com trânsito e
atividades de manutenção que ocorrem nessas
vias. Com base nos resultados desse estudo,
busca destacar a importância de se investir na
RESUMO: Estradas não pavimentadas
adequação das estradas não pavimentadas
correspondem a 80% da malha rodoviária
tendo como justificativa, além de melhorias para
brasileira, são geralmente construídas com
a própria infraestrutura, a questão do ganho
materiais locais e apresentam superfície com
ambiental através da redução de impactos
solo exposto. A perda de solo por erosão
dessas sobre processos erosivos.
hídrica acelerada é um dos sérios problemas
PALAVRAS-CHAVE: erosão hídrica, predição
ambientais, cansando degradação dos
de erosão, estradas não pavimentadas.
recursos naturais, especialmente solo e água.
A Equação Universal de Perda de Solo (EUPS)
MODELING OF UNPAVED ROAD EROSION
foi desenvolvida por Wischmeier e Smith
RATES OF THE METROPOLITAN REGION
(1965) para estimar taxas de erosão anuais em OF FORTALEZA-CE
parcelas agrícolas. No entanto, o modelo tem
sido aplicado na estimativa de taxas de erosão ABSTRACT: Unpaved roads correspond to
bruta em bacias hidrográficas. Nesse estudo 80% of the Brazilian road network, are generally

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 71


constructed with local materials and have exposed soil surface. The loss of soil
by accelerated water erosion is one of the serious environmental problems, weary
degradation of natural resources, especially soil and water. The Soil Loss Universal
Equation (USLE) was developed by Wischmeier and Smith (1965) to estimate annual
erosion rates in agricultural plots. However, the model has been applied in estimating
gross erosion rates in river basins. This study addresses the applicability of this equation
to the estimation of erosion rates from the unpaved road surface, comparing it with
erosion rates quantified by means of successive topographic surveys carried out on
a road segment located in the metropolitan region of Fortaleza-CE. The results of the
analysis suggest that the USLE presents itself as a useful tool for predicting soil erosion
rates with natural soil bed. However, it is necessary to develop predictive road erosion
modeling that takes into account factors with traffic and maintenance activities that occur
in these roads. Based on the results of this study, it seeks to highlight the importance
of investing in the adequacy of unpaved roads, justifying, besides improvements to the
infrastructure itself, the issue of environmental gain through the reduction of impacts
on erosion processes.
KEYWORDS: Water erosion, prediction of erosion, unpaved roads.

1 | INTRODUÇÃO

O Brasil possui aproximadamente 1.720.700 quilômetros de malha rodoviária,


sendo que 78% (1.349.939 km) não possuem pavimentação, segundo dados da
Confederação Nacional de Transportes (CNT, 2018). As estradas não pavimentadas
no país, têm grande importância no âmbito econômico, social e ambiental. Do ponto
de vista econômico, são responsáveis pelo escoamento de produções agrícolas e
agropecuárias, contribuindo para o crescimento do país. No aspecto ambiental, um
dos problemas mais comuns nessas estradas, são os processos erosivos existentes
nessas vias, causados por intempéries ao solo exposto e por ineficiência ou ausência
do sistema de drenagem, contribuindo para o assoreamento de cursos d’água.
A perda de solo por erosão é um dos problemas ambientais mais sérios
da atualidade e que tem causado a degradação de vários recursos naturais,
principalmente, de solo e água. A Equação Universal de Perdas do Solo - EUPS
(Universal Soil Loss Equation - USLE) foi desenvolvida por Wischmeier e Smith (1965)
para estimativa de erosão em parcelas agrícolas, entretanto, tem sido aplicada na
estimativa de taxas de erosão bruta em bacias hidrográficas (Ruhoff et al. 2006;
Casarin, 2008; Medeiros et al. 2009) e até mesmo em estradas vicinais (Castro et.
al., 2009; Farias et al., 2017).
Rijsdijk et al. (2007) destacam que a importância potencial das estradas para
a produção de sedimentos em áreas tropicais é cada vez mais reconhecida, porém
raramente monitorada. Entretanto, modelos de estimativa de perda de solos precisam
ser parametrizados e validados com base em observações dos processos em campo.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 72


Quando um modelo é selecionado para aplicação, existem pelo menos dois pontos
de incertezas relacionados a este, de acordo Haan et al. (1994). A primeira incerteza
esta associada ao próprio modelo, com relação à representação dos processos. A
segunda fonte de incerteza está associada aos parâmetros utilizados na modelagem.
Dessa forma, medidas e observações em campo são necessárias e importantes
para se obter informações que permitam caracterizar adequadamente os processos
hidrossedimentológicos.
Aborda-se, nesse estudo, a aplicabilidade da equação Equação Universal de
Perda de Solos para a estimativa de taxas de erosão provenientes de superfície de
estrada não pavimentada, através de comparativo com taxas de erosão avaliadas por
Gomes et al. (2011), por meio de levantamentos topográficos sucessivos, realizados
em um segmento de estrada, situado na comunidade de Boa Vista (Município de
Aquiraz), região metropolitana de Fortaleza, estado do Ceará.

2 | EROSÃO HÍDRICA EM ESTRADAS NÃO PAVIMENTADAS

De acordo com Zoccal (2007) a erosão é um fenômeno que engloba a


desagregação e o transporte de solos, sendo ativado e propagado por meio de
mecanismos próprios da natureza e acelerada por ações antrópicas no espaço,
transportando grande quantidade de sedimentos, chegando a assorear os cursos
d’águas.
As estradas rurais apresentam destaque com sua função social nas regiões
onde estão inseridas, pois favorecem as condições de acesso para as populações
dessas regiões, sendo de extrema importância para a agricultura e para as economias
municipais, bem como para o acesso às escolas, a saúde e contribuem para uma
maior variedade de bens de consumo que possam chegar a localidade (JACOBY,
1998).
Nesse contexto, Bertolini et al. (1993), comentam que as estradas rurais devem
ser dimensionadas de forma que atendam as demandas de tráfego e possibilitem o
acesso a áreas cultivadas nas diversas condições climáticas. Devendo-se atentar
às questões ambientais, visando proteger e conduzir as águas de tal modo que haja
diminuição da degradação do meio ambiente, pelo excessivo assoreamento de rios
e cursos de águas, e pela contaminação delas por produtos químicos arrastados
pela erosão, o que dificulta o tratamento das águas quando destinadas ao consumo
humano.
Casarin (2008) comenta que no leito de estradas rurais de terra observa-se
concentração de volume de água nas sarjetas ocasionando desagregação de solo
e carreamento deste para pontos mais baixos a jusante com aberturas de leiras,
formando pequenos cursos por onde os desagregados de solo e água escoam e se
depositam nas áreas a jusante gerando impacto ambiental nos recursos hídricos da
bacia hidrográfica.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 73


De acordo com Luce (1993) a produção de sedimentos em estradas rurais
está correlacionada com: a) tipo de solo; b) comprimento e inclinação da rampa; c)
a inclinação e altura dos taludes de corte do aterro. Dadalto et al. (1990) em uma
análise sobre os mesmos aspectos, comentam que a construção de estradas promove
a retirada da cobertura vegetal, a movimentação do solo e a compactação de seu
leito, tornando tais vias muito vulneráveis à erosão ocasionada pela precipitação, e
essa erosão será maior com o aumento da declividade e do comprimento de rampa,
fatores que aceleram a velocidade da enxurrada.
De acordo com Pruski et al. (2009) faz-se necessário a realização de estimativas
de perda de solos por erosão, visando a tomada de decisão, para uma intervenção
buscando reduzir os impactos gerados pela erosão. Destarte, a estimativa da erosão
é de fundamental importância para que seja adotado o melhor programa de manejo
e conservação do solo.

3 | LOCAL DE ESTUDO

A área de estudo corresponde a um segmento de estrada não pavimentada,


situado na comunidade Boa Vista, no Município de Aquiraz, localizado na região
metropolitana de Fortaleza, estado do Ceará. Dista trinta e cinco quilômetros de
Fortaleza. A estrada possui uma extensão de três quilômetros. O segmento avaliado
possui uma extensão de 160 metros, com largura aproximada de 5 metros, cujas
coordenadas geográficas do inicio e fim, são respectivamente -3°59’04.474” de
latitude sul e -38°29’42,61” de longitude oeste e -3°59’01.64” de latitude sul e
-38°29’46.57” de longitude oeste (Figura 1).

Figura 1 – Localização do Mue Aquiraz e da Estrada Vicinal em relação ao Estado do Ceará


(fonte: Gomes et. al., 2011).

Com base em observações realizadas no local verificou-se que o trecho


apresenta irregularidade superficial o que provoca a formação de grotas no eixo da

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 74


estrada. Como não existe um abaulamento desta, o escoamento superficial no período
de chuvas tende a ser desordenado provocando em alguns pontos carreamento de
solo e em outros sedimentação.
A partir da avaliação em campo pode-se constatar que os maiores problemas
surgem devido à seção transversal inadequada e a ausência de sistema de drenagem.
Essas características, juntamente com a ação do tráfego e de intempéries, acabam
acelerando o processo de deterioração da superfície da estrada, conforme observado
nas imagens da Figura 2 que apresenta processos erosivos e defeitos observados
na estrada avaliada.

Figura 2 – Processo erosivo em seção transversal abaulada (a), defeito do tipo atoleiro (b)
erosão lateral (c) e afundamento causado pela ausência de sistema de drenagem lateral (d)
(fonte: adaptado de Gomes, 2011).

4 | MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Levantamentos Topográficos Sucessivos


Gomes et al. (2011) realizaram dois Levantamentos Topográficos (utilizando
Estação Total Nikon DTM 332) em um segmento de 160 m de superfície de estrada,
selecionado aleatoriamente, a fim de se quantificar a perda de solo por erosão

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 75


hídrica, no ano de 2011. O primeiro levantamento foi realizado no mês de fevereiro
e o segundo no mês de julho.
A partir do levantamento topográfico do segmento de 160 metros, Gomes et al.
(2011) selecionaram para análise 100 metros do segmento original, dividindo-o em
dois trechos, denominados A e B, contendo respectivamente 55 metros e 45 metros
de extensão (Figura 3). A divisão foi necessária, pois a partir da avaliação em campo
após o período chuvoso, foi constatado que cerca de 30 metros do trecho havia
sido alterado com colocação de entulho, impossibilitando o levantamento de pontos
nessa região.
A estimativa da perda de solo por erosão hídrica foi calculada por meio da
Equação 01. Para o trecho A, com 55 m de extensão, considerando que a massa
específica aparente seca média do solo determinada em campo foi de 2035 kg.m-
³ e a diferença média de volume no período em estudo 1,413 m³, logo a massa
de solo erodida no trecho foi de 2.875,46 kg ou 17,42 Kg.m-². Já para o trecho B,
considerando que a mesma massa específica aparente seca de 2035 kg.m-³ e a
diferença média de volume no período em estudo 1,287 m³, a massa de solo erodida
no trecho foi de 2.619,05 kg ou 19,40 Kg.m-².

Em que: M é a massa de solo erodido, em kg; γ é a massa específica aparente


seca do solo, em kg.m-³ e V é o volume de material erodido, em m³.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 76


Figura 3 – Trechos A e B analisados (a) e pontos obtidos durante a realização dos
levantamentos topográficos (b) antes da quadra chuvosa e (c) final do período de chuvas (fonte:
Adaptado de Gomes et al., 2011).

4.2 Modelagem com a Equação Universal de Perdas do Solo (EUPS)


Para a predição da taxas de erosão anuais dos segmentos de estrada
monitorados, aplicou-se a Equação Universal de Perdas do Solo (EUPS) (02).

Em que: ε corresponde a taxa de erosão bruta (Mg ha-¹); R é o fator de erosividade


da chuva em (MJ mm ha-¹ h-¹); K o fator de erodibilidade do solo em (Mg ha h MJ-¹
mm-¹ ha-¹); os demais fatores são adimensionais. Há dois fatores topográficos: L, que
representa o comprimento de rampa e S representa a declividade. O fator C representa
a vegetação e usos do solo e o fator P representa as práticas conservacionistas. A
obtenção dos parâmetros dessa equação é descrita com maiores detalhes em Haan
et. al. (1994).
Para cálculo do fator de erosividade, foram utilizadas as equações 03 e 04 e
dados pluviométricos do município de Aquiraz de 2011 à 2018, disponíveis na página

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 77


da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos.

Em que: Rj corresponde a média mensal do índice de erosividade, em MJ mm


ha-1.h-1; Pm é a precipitação total mensal, em mm e Pa corresponde a precipitação
anual média da série histórica, em mm.
O fator K de erodibilidade, que de acordo com Bastos (1999) é definida como
a propriedade do solo que expressa a maior ou menor facilidade com que suas
partículas são desprendidas e transportadas por um agente erosivo, foi adotado
0,019 Mg.ha.h.MJ-¹.mm-¹.ha-¹. Corresponde a média aritmética dos valores obtidos
por Gomes (2011) a partir de amostras de solo coletadas na estrada e aplicação do
nomograma de erodibilidade Wischmeier et al (1971), que tem como variáveis os
percentuais de argila, silte e areia fina, teor de matéria orgânica, além de parâmetros
que descrevem a estrutura do solo e a permeabilidade do material.
Os parâmetros relacionados à fisiografia ou características geométricas da
área foram estimados a partir do levantamento topográfico das parcelas. O fator
combinado L.S, que representa comprimento de rampa e declividade, foi calculado
pela equação 05, em que, LR é o comprimento de rampa (m) e DM corresponde à
declividade média (%) do segmento, conforme proposta de Bertoni e Lombardi Neto
(1990).

A declividade dos trechos obtida através do levantamento topográfico foi de 4%


e o comprimento de rampa (L) dos trechos A e B, com 55 m e 45 m respectivamente.
Logo, os valores de LS(A) e LS(B) obtidos através da equação 05 foram 0,631 e
0,556.
Com relação ao fator C, que representa o efeito da cobertura vegetal e usos
do solo, considerou-se este constante e admitiu-se valor igual a 1 em ambas as
parcelas, uma vez que o solo da superfície de estradas não pavimentadas encontra-
se desnudo. O fator P, que representa as práticas conservacionistas, também foi
admitido igual 1 devido à ausência destas na área.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 78


5 | TAXAS DE EROSÃO OBSERVADAS E MODELADAS

Conforme pode-se verificar na Figura 4, obtida a partir de resultado do


levantamento topográfico realizado na via por Gomes et al. (2011), são observadas
ondulações ou corrugações em intervalos regulares ou irregulares no sentido
perpendicular à direção do tráfego. As ondulações provocam trepidações, causando
desconforto para os usuários da via.
O valor total da massa de solo erodido no trecho avaliado por Gomes et al.
(2011) foi obtido pela somatória da massa de solo erodido do trecho A e do trecho
B, o que equivale a 5.494,50 kg. Considerando uma área de superfície de 300 m²
a perda de solo no trecho em estudo foi de 18,32 Kg.m-², corresponde também
a uma perda de solo de 4,71 mm (1,413 m3 de solo em 300 m2 de área). Além
disso, a precipitação pluviométrica ocorrida no período do levantamento topográfico
(26/02/2011 a 02/07/2011) foi de de 919 mm, distribuidos em 23 eventos de chuva.
O maior evento ocorreu no dia 11/03/2011, com acumulado de 90 mm. A erosividade
total do período foi avaliada em 7.143 MJ.mm.ha-1.h-1.
O período de chuvas na região tem inicio em janeiro e se estende até julho. A
precipitação pluviométrica anual do município nos anos de 2011 à 2018 compreende
variações de 575 mm.ano-1 até 1.873 mm.ano-1, com média anual de 1.126 mm.
Os valores foram obtidos da série histórica do posto Aquiraz, disponibilizada por
FUNCEME (2018). Na Figura 5 apresenta-se distribuição da precipitação anual e da
erosividade calculada por meio das equações 03 e 04. A erosividade anual variou de
4.785 MJ mm ha-¹ h-¹ a 13.709 MJ mm ha-¹ h-¹, com valor médio anual de 8818 MJ
mm ha-¹ h-¹.

Figura 4 - Perfil da superfície da estrada obtido a partir do levantamento topográfico.


Fonte: Adaptada de Gomes et al. (2011)

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 79


Com base nos valores de erosividade e nos demais parâmetros da EUPS
apresentados no item 3.2 realizou-se modelagem de taxas de erosão dos trechos
A e B do segmento de estrada. A estimativa foi realizada para o período de 2011 à
2018. Para o ano de 2011 também foi realizada modelagem somente do período
observado por Gomes et al. (2011), para fins de comparação entre taxas observadas e
modeladas. Na Tabela 1 encontram-se os valores de precipitação anual, erosividade,
erosão modelada nos trechos A e B, e erosão média.

Precipitação Erosividade Taxa de Erosão (kg.m-2)


Ano base
anual (mm) (MJ.mm.ha-¹.h-¹) Trecho A Trecho B Média
2011* 919 7.143 8,6 7,5 8,1
2011 1.873 13.709 16,4 14,5 15,5
2012 575 6.339 7,6 6,7 7,1
2013 663 4.785 5,7 5,1 5,4
2014 973 7.942 9,5 8,4 9,0
2015 1.209 9.563 11,5 10,1 10,8
2016 1.080 10.593 12,7 11,2 11,9
2017 1.327 9.705 11,6 10,2 10,9
2018 1.306 7.912 9,5 8,4 8,9
2011* 919 7.143 8,6 7,5 8,1

Tabela 1 – Precipitação anual, Erosividade e taxas de erosão modeladas com aplicação da


Equação Universal de Perdas do Solo
*Período avaliado por Gomes et. al. (2011)

Figura 5 – Distribuição da precipitação pluviométrica anual e erosovidade (Posto Aquiraz, 2011


– 2018). Fonte: elaborada com base em FUNCEME (2018).

Na Figura 6 apresenta-se comparativo de taxas de erosão medidas por meio


de levantamentos topográficos sucessivos e modeladas com a Equação Universal

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 80


de Perdas do Solo, dos trechos A e B do segmento de estrada não pavimentada em
estudo para os anos de 2011 a 2018.Lima e Lopes (2009) apresentam classificação
de taxas de erosão, em que consideram baixas aquelas entre 0 e 10 Mg.ha-1.ano-1,
entre 10 e 50 Mg.ha-1.ano-1 moderadas e entre 50 e 200 Mg.ha-1.ano-1 como altas a
muito altas. Tendo como referência essa classificação e os valores apresentados na
Figura 6 todas as taxas de erosão obtidas nesta avaliação se classificam com altas.

Figura 6 – Taxas de erosão do segmento de estrada não pavimentada, medidas por meio de
levantamentos topográficos sucessivos por Gomes et al. (2011) e modeladas com a Equação
Universal de Perdas do Solo.

De forma geral, ao se comparar as taxas de erosão modeladas e observadas


verifica-se que a modelagem apresentou tendência de subestimativa em relação
aos valores medidos, uma vez que o valor medido no trecho A foi de 17,42 Kg.m-
² e o modelado foi de 8,60 Kg.m-², este valor corresponde a 49% do medido. Já
para o trecho B a taxa de erosão medida foi de 19,40 Kg.m-² e a modelada foi de
7,5 Kg.m-², correspondendo a 39% da medida, porém encontram-se em ordens de
grandeza bastante aproximadas. Infere-se também que os valores de perda de solo
modelados para os anos subsequentes à medição, não apresentaram discrepância
em relação ao valores observados.
Quanto à reprentatividade das taxas de erosão obtidas neste estudo para
estradas não pavimentadas comparam-se com àqueles obtidos em estudos anteriores
como o de MacDonald et al. (2001) que observaram nas Ilhas Virgens Americanas
que as estradas não pavimentadas produziam taxas de sedimentos de 10 a 15 kg.
m-2.ano-1. Já o U.S. Geológica Survey apud Navarro (2002) avaliaram em Scott Run
nos EUA que estradas eram responsáveis por 85% dos sedimentos gerados apesar
de ocuparem apenas 11% da área controlada da bacia, com taxas de erosão de 168

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 81


t.ha-1.ano-1 (16,8 kg.m-2.ano-1). Também Rijsdijk et al. (2007) em estudo na Ilha de
Java (Indonésia) avaliaram também taxas de erosão em parcelas de estradas não
pavimentadas, com base em monitoramento do escoamento superficial. As estradas
avaliadas produziram taxas médias de sedimentos de 7 kg.m-2 por ano, em uma bacia
hidrográfica com precipitação anual de 1.877 mm. Os três estudos apresentaram
taxas de erosão na mesma ordem de grandeza dos obtidos nessa pesquisa.
Já Castro et al. (2009), utilizando a Equação Universal de Perdas de Solo,
quantificaram perdas de solo no período de 1969 a 2006, em um segmento da
estrada vicinal com extensão de 5,25 km e largura média de 11,68 m, no município
de Presidente Prudente (SP). Obtiveram valores de 3.077 t.ha-1.ano-1 (307,7 kg.m-2)
para uma erosividade média anual de 7.982 MJ mm ha-¹ h-¹.
Lima Farias et al. (2019) e Farias et al. (2017) avaliaram taxas de erosão
de estradas não pavimentadas, em bacia do semiárido Cearense, por meio de
monitoramento do escoamento superficial de parcelas em superfícies de estradas
e modelagem. Obtiveram taxas de erosão baixas, inferiores a 0,1 Kg.m-2, por se
tratar de região semiárida, onde as estradas ocupam apenas 0,7% da área da bacia
hidrográfica que apresenta precipitação pluviométrica baixa, de apenas 550 mm
ano-1.
Ao se modelar processos de erosão e transporte de sedimentos incertezas
estão associadas à representação dos processos físicos. No caso de estradas não
pavimentadas, além dos fatores naturais, há ainda o aspecto do trânsito que interfere
no processo. Este fator não é levado em consideração no equacionamento de EUPS,
uma vez que está foi desenvolvida para áreas agrícolas. A interferência do trânsito
pode explicar o fato da modelagem ter apresentado valores aproximadamente 50%
inferiores àqueles medidos.
Farias et al. (2017) ao compararem taxas de erosão modeladas em estradas
não pavimentadas com e sem a presença de trânsito no semiárido cearense
verificaram maior erro na modelagem para a estrada com trânsito. Destacam que
os processos hidrossedimentológicos da estrada sem trânsito se aproximam mais
daqueles que ocorrem em uma área para qual a abordagem da modelagem utilizada
(EUPS+eaquação de Maner) foi desenvolvida, ou seja, sem influências externas
de trânsito e manutenções. Os autores destacam que os resultados observados
podem ter relação com processos que ocorrem na superfície da estrada devido a
influências externas, como tráfego de veículos e atividades de manutenção, que
influenciam na variação da disponibilidade de material solto, na erodibilidade do solo
e no processo de geração de sedimentos, não considerados nos parâmetros da
modelagem utilizada.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 82


6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os esforços de medidas e modelagem realizados no âmbito dessa pesquisa


permitem inferir que a EUPS consegue representar a erosão que ocorre na
superfície de estradas não pavimentadas, visto que os resultados obtidos através
desta equação está em ordem de grandeza similar àqueles quantificados em campo
por meio de levantamentos topográficos sucessivos, além de ambos valores serem
classificados como altos. Além disso, comparativamente a estudos em outras áreas
que quantificaram taxas de erosão provenientes de estradas os valores obtidos
também foram similares. Porém, faz-se necessário ainda o desenvolvimento de
modelagem preditiva de erosão em estradas que leve em consideração fatores com
trânsito e atividades de manutenção que ocorrem nessas vias.
Com base nos resultados desse estudo, busca destacar a importância de se
investir na adequação das estradas não pavimentadas tendo como justificativa, além
de melhorias para a própria infraestrutura, a questão do ganho ambiental através da
redução de impactos dessas sobre processos erosivos.
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Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 7 84


CAPÍTULO 8

ABORDAGEM COMPARATIVA DE DRAGAS


MECÂNICAS E HIDRÁULICAS PARA REMOÇÃO DE
DIFERENTES TIPOS DE SEDIMENTOS EM ÁREAS
PORTUÁRIAS

Marcio Pagano Aragona com alta produção de sedimentos e capacidade


Universidade Federal de Pelotas (UFPel), de transporte, podendo atuar em presença
Engenharia Hídrica de rochas, em sedimentos coesivos e não
Pelotas – Rio Grande do Sul coesivos.
Celso Elias Corradi PALAVRAS-CHAVE: Portos, Dragagem,
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Gestão Sedimentos.
Ambiental
Pelotas – Rio Grande do Sul
A COMPARISON OF MECHANICAL AND
HYDRAULIC DREDGING EQUIPMENT
FOR REMOVAL OF DIFFERENT TYPES OF
RESUMO: Os processos de sedimentação que SEDIMENTS IN PORT AREAS
ocorrem em vias navegáveis situadas em áreas ABSTRACT: Sedimentation processes
portuárias remetem a serviços de dragagem occurring on waterways located in port areas
para manterem as condições adequadas refer to dredging services in order to maintain
de navegabilidade devido à sua importante adequate navigability due to their important role
função no desenvolvimento socioeconômico. in the socioeconomic development. In order to
Para a retirada do material sedimentar são remove the sediment located in the bed load,
utilizadas dragas mecânicas e/ou hidráulicas. mechanical and/or hydraulic dredges are used.
Desta forma, o presente trabalho propõe a Therefore, this paper aims to approach the
abordagem dos principais equipamentos de main dredging equipments and their respective
dragagem e suas respectivas características, characteristics, as well as the different types of
assim como os diferentes tipos de sedimentos sediments and places of performance in which
e locais de atuação em que apresentam they will perform better. Based on the information
melhor desempenho. O estudo demonstrou obtained, it is concluded that mechanical
que as dragas mecânicas tem preferência de dredgers have a preference of application
aplicação em áreas de maior dificuldade de in areas of greater difficulty of access and in
acesso e perante sedimentos não coesivos non-cohesive sediments with presence of silt,
com presença de silte, argila e cascalhos. Já clay and gravel. On the other hand, hydraulic
as dragas hidráulicas melhor se adequam em dredgers are better suited to large-scale projects
projetos de maiores dimensões em que há a where there is a need for continuous dredging,
necessidade de dragagem de forma contínua,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 8 85


with high sediment production and transport capacity, acting in the presence of rocks,
in cohesive and non-cohesive sediments.
KEYWORDS: Ports, Dredging, Sediments.

1 | INTRODUÇÃO

A navegabilidade através do canal de acesso e da bacia evolução, vias estas


componentes da área portuária, tem um papel fundamental no desenvolvimento
socioeconômico ao considerarmos o histórico mundial de transporte de bens e
pessoas pelo modal aquaviário (International Association of Dredging Companies -
IADC, 2005). Para possibilitá-la em condições desejáveis, o aumento da profundidade
destas vias pode ocorrer pelos processos de dragagem de aprofundamento,
manutenção e remediação ou ambiental.
A retirada de solo, este caracterizado pela heterogeneidade de partículas
quanto a mineralogia, formato e tamanho, é realizado por dragas mecânicas e/ou
hidráulicas por procedimento de escavação de fundo para posterior transporte e
disposição (ALFREDINI, 2013). Vlasblom (2003) enfatiza que a determinação do tipo
de draga a ser utilizada deve não apenas se restringir ao atendimento do volume
de projeto, mas também as condições de acessibilidade ao local, as condições
climáticas inerentes, de ancoragem e acurácia exigida.
De acordo com Goes Filho (2004), as dragas mecânicas foram as primeiras
desenvolvidas. Estas são compostas por caçambas que escavam o material
de fundo e o eleva a superfície para armazenamento (ALFREDINI, 2013). As
principais conforme a IADC (2005), são: Alcatruzes (Bucket-ladder dredgers);
Retroescavadeiras (Backhoes); e Mandíbulas (Grab Dredgers). Conforme a IADC
(2011) as dragas hidráulicas na escavação utilizam da força proveniente de bombas
centrífugas. As principais conforme a IADC (2005), são: Estacionárias de Sucção
e Recalque (Stationary Suction Dredgers); Estacionárias de Sucção e Recalque
com Desagregador (Cutter Suction Dredgers); e Draga Autotransportadora (Trailing
Suction Hopper Dredgers).
Neste contexto, o presente trabalho objetiva relacionar os principais
equipamentos de dragagem e suas respectivas características frente a adequabilidade
do sedimento a ser dragado em áreas portuárias.

2 | METODOLOGIA

Este trabalho foi elaborado a partir de uma revisão bibliográfica e documental.


As obras consultadas são publicações nacionais e internacionais. Na composição
deste trabalho, utilizou-se como base as definições de dragagem por Alfredini e
Arasaki (2013). As características e funções dos equipamentos, assim como seu
funcionamento e comportamento frente ao tipo de sedimento se baseou nas obras

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 8 86


de Goes Filho (2004), Alfredini e Arasaki (2013), Vlasblom (2003) e IADC (2005,
2011, 2014 e 2015). O arcabouço legal envolvido no processo de caracterização do
sedimento de dragagem se fundamenta na legislação vigente do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA), referente a Resolução CONAMA nº 454 de 01 de
Novembro de 2012. Tendo em vista a abordagem sedimentológica, contribuem para
este trabalho as obras de Horowitz (1991) e Simpson et al. (2005).

3 | DRAGAS MECÂNICAS

3.1 Alcatruzes (Bucket-ladder dredgers)


A draga de Alcatruzes marca o início das operações de retirada de material
de fundo por caçambas de forma contínua (GOES FILHO, 2004). Esta é uma
draga estacionária que realiza seu trabalho retirando o material de fundo de forma
rotativa por uma série de caçambas acopladas à estrutura que vai ao fundo. Alfredini
(2013) destaca a importância do trabalho contínuo frente aos outros tipos de dragas
mecânicas, assim como sua alta força de corte, mínima diluição e boa capacidade
de escavação. Por esta draga necessitar auxílio no seu deslocamento e em virtude
do material grosseiro e abrasivo na sua operação, reflete um alto custo na sua
manutenção (ALFREDINI, 2013). Os limites de profundidade variam de oito a trinta
metros (VLASBLOM, 2003).

3.1.1 ÁREA DE APLICAÇÃO

Devido as características mencionadas, esta draga pode ser utilizada para


grandes projetos de implantação (ALFREDINI, 2013). Alfredini (2013) enfatiza que o
maior rendimento desta draga está associado a maior capacidade de armazenamento
e a homogeneidade do sedimento escavado, e portanto os projetos desenvolvidos
em trechos fluviais, marítimos e estuarianos são mais atrativos. Vlasblom (2003)
destaca sua aplicação em quase todos os tipos de solo, desde silte e argila de menor
coesão até rochas com pouca resistência ao impacto da caçamba.

3.2 Retroescavadeiras (Backhoes)


As dragas retroescavadeiras não trabalham de forma contínua. Estas possuem
duas formas de atuação, para frente ou para trás, conforme a posição de sua única
caçamba (GOES FILHO, 2004). A retroescavadeira pode ser parte integral da
embarcação ou ser acoplada a ela e depois retirada para outras funções, sendo que
este tipo de equipamento também é utilizado em obras de terraplanagem (IADC,
2014). Na realização do trabalho, a embarcação é ancorada e seu deslocamento
é auxiliado por outras outras embarcações (VLASBLOM, 2003). Vlasblom (2003)
define os limites de profundidade de atuação que variam de 15 a 25 metros.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 8 87


3.2.1 ÁREA DE APLICAÇÃO

Conforme seus diferentes tamanhos, Vlasblom (2003) destaca a aplicação das


dragas de menores dimensões em áreas portuárias com maiores dificuldades de
acesso, para pequenas quantidades de sedimento a serem removidos, trabalhos nas
paredes do cais onde a caçamba consegue atingir o determinado local de retirada.
Vlasblom (2003) afirma que seu maior rendimento está atrelado a areias,
cascalhos e argila de fácil desagregação. Alfredini (2013) destaca também o
bom rendimento do equipamento com pedregulhos e materiais duros maiores e
desagregados.

3.3 Mandíbulas (Grab Dredgers)


A draga de mandíbulas é um equipamento que opera de forma não contínua
através de um guindaste acoplado, onde a caçamba atua verticalmente na retirada de
material de fundo (GOES FILHO, 2004). As caçambas leves (Clamshell) são utilizadas
em solos facilmente desagregáveis e caçambas pesadas (Orange Peel) em solos
coesivos (ALFREDINI, 2013). As dragas de mandíbulas quando autotransportadoras
apresentam um custo maior em função das exigências de navegação marítima e de
despejo do material dragado. A profundidade atingida depende do comprimento dos
cabos do guindaste que leva a caçamba ao fundo (VLASBLOM, 2003).

3.3.1 ÁREA DE APLICAÇÃO

Alfredini (2013), destaca o uso da draga autotransportadora para trabalhar em


canais com bastante movimento devido seu sistema de autopropulsão, evitando o
bloqueio da via. O uso do equipamento é contraindicado em locais com bastante
agitação, porém possui baixo rendimento ao trabalhar com material saturado.
A escavadeira é indicada para trabalhar com sedimentos arenosos (ALFREDINI,
2013), cascalhos e argila de fácil desagregação (VLASBLOM, 2003).

4 | | DRAGAS HIDRÁULICAS

4.1 Estacionárias de Sucção e Recalque (Stationary Suction Dredgers)

As dragas estacionárias de sucção e recalque realizam o trabalho de sucção do


fluido misturado com o sedimento de forma contínua e conduz, através de condutos
forçados, até as cisternas para transporte e disposição (ALFREDINI, 2013). Em
sua maioria, estas dragas possuem uma bomba de injeção de água para facilitar a
mistura a ser conduzida às cisternas (VLASBLOM, 2003). Vlasblom (2003) destaca
que a profundidade a ser atingida chega até 100 metros.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 8 88


4.1.1 ÁREA DE APLICAÇÃO

Este tipo de draga não possui desagregador, portanto se limita a trabalhar com
solos arenosos de fácil desagregação (VLASBLOM, 2003). A preferência de atuação
desta draga é em áreas marítimas (ALFREDINI, 2013).
4.2 Estacionária de Sucção e Recalque com Desagregador (Cutter Suction
Dredgers)

As dragas estacionárias de sucção e recalque com desagregador possuem


sistema de autopropulsão e tem o mesmo princípio de funcionamento, porém na
boca de dragagem há o equipamento denominado desagregador, que atua na
escavação do solo e formando lama, mistura de água com sedimento, que será
succionada pela bomba e transportada às cisternas ou por recalque diretamente
para terra (VLASBLOM, 2003). Desta forma, as dragas com desagregador se tornam
mais atrativas, devido a sua versatilidade (ALFREDINI, 2013) e maior rendimento
nas operações de dragagem (GOES FILHO, 2004).
Goes Filho (2004) salienta a pluma de dispersão ocasianada pela dispersão
de sedimentos oriundos da turbulência causada pelo desagregador em movimento,
sendo este um potencial causador de impacto ambiental negativo.

4.2.1 ÁREA DE APLICAÇÃO

A existência do desagregador nesta draga possibilita ao equipamento lidar com


solos mais coesivos e materiais duros, sendo possível dragar rochas (VLASBLOM,
2003). Vlasblom (2003) enfatiza a aplicabilidade deste equipamento em áreas
portuárias, canais e áreas de recuperação pois pode dragar qualquer tipo de solo e
com precisão na produção de sedimentos.

4.3 Draga Autotransportadora (Trailing Suction Hopper Dredgers)

As dragas autotransportadoras realizam o transporte de sedimento de forma


contínua através de adaptações da boca de dragagem para o tipo de sedimento a ser
dragado e então conduzir, através de condutos forçados, o material dragado até as
cisternas e posterior disposição (GOES FILHO, 2004). Nos bordos da embarcação,
encontram-se braços articulados que realizam a sucção do material, e devido ao
sistema de autopropulsão, torna a operação não estacionária (VLASBLOM, 2003). A
profundidade atingida chega até 29 metros (ALFREDINI, 2013).
Alfredini (2013) destaca o fenômeno de overflow associado ao transporte
realizado pelas dragas autotransportadoras. Este fenômeno consiste nas perdas de
sedimentos durante a viagem para despejo do material dragado, formando uma pluma
de dispersão, ocasiando impactos ambientais e econômicos, ambos negativos.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 8 89


4.3.1 ÁREA DE APLICAÇÃO

A versatilidade deste tipo de draga favorece sua utilização em áreas portuárias


em projetos de dragagem de manutenção de canais de acesso e bacias de evolução
(GOES FILHO, 2004). O sedimento em que esta draga melhor se adequa são argilas
de fácil desagregação devido ao entupimento das bocas de dragagem, silte, areia
e cascalhos (VLASBLOM, 2003). Vlasblom (2003) destaca a perda econômica ao
dragar rochas com este tipo de draga devido a necessidade de adaptação das bocas
de dragagem e pelo alto tempo demandado na operação.

5 | SEDIMENTOS DE DRAGAGEM

A viabilidade da obra de dragagem, tanto nas questões técnicas, quanto


econômicas e ambientais, depende da análise do tipo de sedimento a ser dragado
(Costaras et al., 2011). Este componente dos ambientes aquáticos, influencia
na qualidade das águas por ser fonte de contaminantes para a cadeia alimentar
bentônica (Simpson et al., 2005). Desta maneira, o monitoramento quantitativo e
qualitativo dos sedimentos é fundamental na gestão dos recursos hídricos, tendo em
vista a necessidade da avaliação das condições ambientais e a potencialidade dos
contaminantes terem efeitos poluentes (HOROWITZ, 1991). Ademais, os níveis de
turbidez gerados pelas dragas, tanto na retirada do material quanto no transporte,
conhecidos como pluma de dispersão, dependendo dos níveis de concentração de
silte e areia, podem ter efeitos negativos na biota marinha (IADC, 2015).
Costaras et al. (2011) salientam a importância das coletas de amostras
e de caracterização do material também na determinação das dragas que serão
utilizadas no projeto. No Brasil, as caracterizações física, química e ecotoxicológica
do sedimento estão previstas na Resolução CONAMA nº 454 de 01 de Novembro de
2012, que estabelece os parâmetros granulométricos de avaliação das concentrações
de contaminantes nas amostras de solo e suas implicações na vida aquática, assim
como os procedimentos de gerenciamento do material a ser dragado.

6 | ANÁLISE E DISCUSSÃO

Fadda (2012) destaca a responsabilidade quanto ao planejamento minucioso


dos materiais e métodos aplicados nos serviços de dragagem, assim como dos
recursos financeiros disponíveis para a atividade. Sendo assim, a determinação dos
equipamentos e procedimentos a serem adotados não estão somente associados à
questões técnicas e econômicas, mas também à questões ambientais. Este tripé é
indissociável e nortea as tomadas de decisão de projeto.
Os serviços de dragagem podem ser contratados para realizarem atividades
em diferentes locais em uma mesma região. A escolha do tipo de draga não se dá

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 8 90


única e exclusivamente ao tipo de região, mas também às características técnicas e
ambientais dos locais.
O canal de acesso e a bacia de evolução são componentes da área do
Porto Organizado que estão sujeitos a obras de dragagem. Para estes locais da
região portuária, há mais de uma draga apta a realizar o serviço, porém algumas
características tornam o equipamento mais atrativo para a situação, seja pela
acessibilidade ao local, a profundidade que atinge, o tipo de sedimento adequado às
forças mecânicas do equipamento, sua forma de deslocamento e armazenamento,
a rapidez do serviço que engloba a forma de dragar e a prevenção de transtornos
nas vias navegáveis. Desta forma, pelo grande espaço físico de atuação, as dragas
hidráulicas em geral se tornam bastante convenientes. Estas são capazes de trabalhar
de forma contínua com alto rendimento, aptas a desagregar rochas e sedimentos
mais coesivos, e atingem grandes profundidades. Suas características as permitem
atuarem em grandes projetos, e devido sua alta produção de sedimentos, realizam
obras mais rapidamente que as dragas mecânicas, evitando transtornos na área de
navegação. Dentre as dragas disponíveis, destaca-se a Draga Autotransportadora,
que atua principalmente com material solto, possui sistema de autopropulsão e
grande capacidade de armazenamento, de 2.320 a 46.000 m³ (JAN DE NUL, 2018).
Sendo assim, é bastante utilizada em dragagens de manutenção (IADC, 2014).
Em trabalhos específicos em que há dificuldade de acesso, as dragas mecânicas
podem ser a solução. A retirada de material em um certo ponto como a beira de um
cáis exige uma draga que fisicamente possa atingir um determinado ponto, com
precisão. Nesta situação, a profundidade, o tipo de deslocamento da draga e a forma
não contínua de retirada de sedimentos não são mais características primordiais de
projeto, mas a acessibilidade e a precisão das dragas mecânicas às tornam mais
adequadas, considerando também que os sedimentos que alí se depositam provém
de processos de assoreamento e portanto são de fácil desagragação. Considerando
as dragas mecânicas disponíveis, destaca-se a Draga de Alcatruzes, pois se
diferencia por trabalhar de forma contínua, tem boa capacidade de escavação e
mínima diluição. Ademais, se adapta bem aos tipos de solo, desde silte e argila de
menor coesão até rochas desagregáveis.

7 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

As obras de dragagem devem ser planejadas com as visões técnica, ambiental


e econômica alinhadas, de forma a minimizar os impactos ambientais negativos
inerentes ao processo. Cada local a ser dragado deve ser caracterizado e identificadas
suas peculiaridades, a fim de se encontrar a draga mais adequada para o serviço com
base nas suas especificações técnicas. A caracterização do material sedimentar é
fundamental no fornecimento de dados para o planejamento e tomada de decisão na
execução do serviço. Sendo assim, o monitoramento contínuo em áreas portuárias

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 8 91


se apresenta como uma ferramenta imprescindível na agilização e clareza dos
procedimentos de dragagem. Entende-se oportuno sugerir a obrigatoriedade do
monitoramento contínuo, principalmente dos sedimentos, em áreas portuárias.

REFERÊNCIAS
ALFREDINI, P; ARASAKI, E. (2013). Engenharia Portuária: a técnica aliada ao enfoque logístico.
Edgard Blücher, São Paulo/SP, 1290 p.

COSTARAS, M.P.; BRAY, R N.; LEWIS, R.P.; LEE, M.W.E. (2011). “The Importance of Bed Material
Characterisation in Planning Dredging Contracts.”. Proceedings of 19th World Dredging Congress,
Beijing, China.

FADDA, E. (2012). “Instrumentos Legais Aplicados à Dragagem no Brasil”. Revista Direito Aduaneiro,
Marítimo e Portuário. v.1, n.6, p. 64–77, jan./fev.

GOES FILHO, H. A. (2004). “Dragagem e Gestão dos Sedimentos”. Dissertação (Tese de Mestrado) -
COPPE/UFRJ. RJ. Out. 2004

HOROWITZ, A. J. (1991). “A Primer on Sediment-Trace Element Chemistry”. 2 ed. Chelsea, EUA:


Lewis Publishers. 136 p.

INTERNATIONAL ASSOCIATION OF DREDGING COMPANIES (IADC). (2005). “Dredging: The


Facts”. IADC, Netherlands. 8 p.

INTERNATIONAL ASSOCIATION OF DREDGING COMPANIES (IADC). (2011). “Facts About:


Dredging Plant and Equipment”. IADC, Netherlands. 4 p.

INTERNATIONAL ASSOCIATION OF DREDGING COMPANIES (IADC). (2014). “Backhoe Dredgers”.


IADC, Netherlands. 4 p.

INTERNATIONAL ASSOCIATION OF DREDGING COMPANIES (IADC). (2014). “Trailing Suction


Hopper Dredgers”. IADC, Netherlands. 4 p.

INTERNATIONAL ASSOCIATION OF DREDGING COMPANIES (IADC). (2015). “Facts About:


Turbidity & Dredging”. IADC, Netherlands. 4 p.

JAN DE NUL GROUP (JDN). (2018). “Technical Specifications”. v.2018-9, 4 p.

SIMPSON, S. L.; BATLEY, G. E.; CHARITON, A. A.; STRAUBER, J. L.; KING, C. K.; CHAPMAN, J.
C.; HYNE, R. V.; GALE, S. A.; ROACH, A. C.; MAHER, W. A. (2005). “Handbook for Sediment Quality
Assessment”. (CSIRO: Bangor, NSW). 68 p.

VLASBLOM, W. J. (2003). “Introduction to Dredging Equipment”. CEDA. 27 p.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 8 92


CAPÍTULO 9

ESTUDO GEOQUÍMICO DE ÁGUAS E SEDIMENTOS


PROVENIENTES DE PROCESSOS DE LAVRA DE
CALCÁRIO

Anelise Marlene Schmidt coletados nos mesmos pontos das águas foram
UNIPAMPA, Universidade Federal do Pampa, avaliados por Fluorescência de raios-X onde
Caçapava do Sul, RS a presença de cádmio foi detectada mas seu
Cristiane Heredia Gomes teor está dentro do padrão estabelecido pela
UNIPAMPA, Universidade Federal do Pampa, legislação vigente. As quantidades de alumínio,
Caçapava do Sul, RS
cálcio, ferro, magnésio e sílica são compatíveis
Joseane Kolzer Schroeder com os minerais constituintes das rochas na
DAGOBERTO BARCELLOS S/A, Caçapava do
região.
Sul, RS
PALAVRAS-CHAVE: metacalcário, geoquímica,
Guilherme Pacheco Casa Nova águas, sedimentos
UNIPAMPA, Universidade Federal do Pampa,
Caçapava do Sul, RS
Bruno Acosta Flores GEOCHEMICAL STUDY OF WASTE WATERS
DAGOBERTO BARCELLOS S/A, Caçapava do AND SEDIMENTS FROM LIMESTONE
Sul, RS
MINING PROCESSES

ABSTRACT: The present work presents the


results of a research project, developed at
RESUMO: Este trabalho apresenta os Federal University of Pampa, whose objective
resultados de um projeto de pesquisa, was to investigate the surface water quality and
desenvolvido na Universidade Federal do sediments of a limestone mining company in the
Pampa, cujo objetivo foi investigar a qualidade municipality of Caçapava do Sul, RS, through
de águas superficiais e sedimentos de uma physical-chemical analysis and geological study.
mineradora de calcário no município de Waters from streams, wells and wastewater
Caçapava do Sul, RS, através de análises containment basins from the limestone mining
físico-químicas e estudo geológico. Águas processes were analysed. These waters have
de arroios, cavas e bacias de contenção dos alkaline character with values of pH above
processos de mineração de calcário apresentam 7.0 and high values of alkalinity and hardness
caráter alcalino com valores de pH acima de compatible with processes of carbonates
7,0 e valores altos de alcalinidade e dureza dissolution. Some elements in the sediments of
compatíveis com processos de dissolução de the same points of the waters were evaluated
carbonatos. Alguns elementos dos sedimentos by X-ray fluorescence where the presence

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 9 93


of cadmium was detected, but their contents are within those established by the
environmental legislation. The amounts of aluminum, calcium, iron, magnesium and
silica are compatible with the minerals forming the rocks of the study area.
KEYWORDS: limestone, geochemistry, waters, sediments

1 | INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta os resultados de projeto de pesquisa executado


na Universidade Federal do Pampa e que teve por objetivo avaliar as águas e os
sedimentos dentro de uma empresa mineradora de metacalcários no município de
Caçapava do Sul, RS. Para tanto, foram realizadas análises físico-químicas das
águas superficiais de arroios e cavas a céu aberto, bem como de alguns elementos
nos sedimentos. O estudo foi complementado com avaliação geológica do local
para avaliar as interações possíveis entre as rochas, as águas e os sedimentos
analisados. Os resultados foram apresentados no XIII ENES (SCHMIDT, et al 2018).
O município de Caçapava do Sul (Figura 1) é conhecido por ser um grande
polo industrial na área de exploração e lavra de metacalcários, responsável pela
produção de mais de 85% do pó de rocha do Estado do Rio Grande do Sul, onde
as rochas extraídas na região são essencialmente os mármores dolomíticos. Estas
rochas são destinadas à produção de argamassa e cal, utilizadas em diversas áreas
como da construção civil e na agricultura essencialmente para correção de acidez
dos solos [SCHMIDT et al, 2017].

Figura 1: Localização e geologia da área de estudo (Fonte CPRM 2010 adaptado)

As principais etapas da lavra a céu aberto incluem: remoção do capeamento,


perfuração, desmonte por explosivos, e transporte até a usina de processamento.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 9 94


Apesar de todos os benefícios e seus subprodutos, sua extração gera inúmeros
impactos negativos ao meio ambiente, ao acabar com os afloramentos naturais de
calcário e sua vegetação natural característica (SCHMIDT et al, 2017).
A qualidade das águas dos rios e reservatórios, a jusante dos empreendimentos,
pode ser prejudicada em razão da turbidez provocada pelos sedimentos finos em
suspensão, assim como por substâncias carreadas ou contidas nos efluentes das
áreas de mineração. Na mineração, os dois principais tipos de resíduos sólidos gerados
são os estéreis e os rejeitos. Os rejeitos são resíduos resultantes dos processos de
beneficiamento e estéreis compreendem os materiais escavados que não tem valor
econômico agregado. Ambos são dispostos em pilhas, e as quantidades geradas
desses resíduos são sempre muito grandes e dependem dentre outros fatores, do
processo utilizado para extração do minério e da localização da jazida em relação à
superfície (MECHI, 2010).
Em estudo prévio de impacto ambiental de processos de lavras de calcário em
recursos hídricos (SCHMIDT et al, 2015 e 2017), encontrou-se valores de Arsênio
entre 0,4 e 3,9 µg/L e Selênio de 0,1 a 1,437 µg/L, além de valores de pH acima
de 10 e alta condutividade elétrica com pico de 450 µS/cm. As análises indicaram
águas de caráter básico compatível com os processos de dissolução/precipitação de
carbonatos de cálcio e magnésio. Já valores dos elementos arsênio e selênio estão
dentro dos valores aceitáveis pela Resolução 128 (CONSEMA, 2006), indicando
que o impacto ambiental se deve principalmente às variações de pH. Análises de
sedimentos nas cavas, por Fluorescência de raios-X por dispersão de energia
(EDXRF) indicaram teores de cádmio em torno de 0,15% que estão abaixo do limite
máximo permitido para solos segundo Resolução 420 (CONAMA, 2009).

2 | MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Área de Estudo


A área de estudo compreende, aproximadamente, 1,7 km por 2,1 km, onde se
encontra o Granito Caçapava do Sul e os metacalcários da Formação Passo Feio. Nos
pontos estudados essas litologias estão intensamente fraturadas e o contato entre
ambas é concordante ou de baixo ângulo com lineação de estiramento dos granitoides
concordante com a foliação principal da sequência metamórfica e sem evidências
de metamorfismo de contato. Os granitoides observados são predominantemente
equigranulares médios a finos. Nas poucas ocorrências aflorantes do Granito
Caçapava do Sul observa-se a dominância da fácies biotita granitoide, de coloração
cinza e rósea quando intemperizada, cuja mineralogia principal está representada
por feldspato alcalino, quartzo e plagioclásio. Como mineral máfico se desenvolve a
biotita subédrica a euédrica e minerais secundários como clorita, epídoto, muscovita,
carbonato e raros opacos. Os metacalcários têm variedades abundantes de cor

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 9 95


branca, compostas principalmente por dolomita e secundariamente por calcita.
Variedades de coloração esverdeadas compõem as fases com serpentina, tremolita,
talco e diopsídio, geralmente em veios ou disseminadas nos metacalcários. As
variedades avermelhadas apresentam hematita distribuída em veios ou disseminada
em regiões sem extensão lateral.

2.2 Análises de Águas e Sedimentos


A Figura 2 e a Tabela 1 indicam os sete pontos selecionados para coletas
mensais de amostras de águas superficiais e sedimentos em cavas e arroios dentro
e fora da empresa. Os pontos 1 e 2 referem-se a bacias de decantação que recebem
águas residuais que percolam dos rejeitos estéreis; as demais bacias recebem
contribuição das águas da chuva e as que percolam das cavas; os pontos 4, 5 e 6
correspondem a arroios dentro e fora da empresa.
Após a coleta foram medidos o pH e a condutividade em aparelhos de
bancada no laboratório de Química da Universidade Federal do Pampa-UNIPAMPA.
Análises de alcalinidade total (Equação 1) foram efetuadas através de volumetria
de neutralização utilizando solução 0,02 N ácido sulfúrico e indicador misto verde
bromocresol/vermelho de metila (FUNASA, 2006). Dureza, cálcio e magnésio
foram determinados por volumetria de complexação, utilizando EDTA e indicadores
eriocromo-black e murexida (ROCHA, 2009). Também foram investigados alguns
elementos por espectroscopia de absorção no laboratório Química Pura, de Porto
Alegre, RS.

Alcalinidade Total: mg/L CO3 = Va x 20 (1)


Onde Va: volume do ácido sulfúrico em ml gasto na titulação da amostra
Dureza, cálcio e magnésio foram calculados segundo as equações 2, 3 e 4.
CaCO3 mg/L = (V1 – Vb) x 100000 / Vamostra (2)
Onde V1 = volume EDTA gasto na titulação da amostra com eriocromo-black
Vb = volume EDTA gasto na titulação da prova em branco
Ca mg/L = (V2 – Vb) x 40,08 x 1000 / Vamostra (3)
Onde V2 = volume EDTA gasto na titulação da amostra com murexida
Vb = volume EDTA gasto na titulação da prova em branco
Vamostra = volume da amostra em ml
Mg mg/L = (V1 – V2) x 24,3 x 1000 / Vamostra (4)

Os sedimentos dos arroios e das bacias foram coletados superficialmente no


corpo de fundo dos mesmos. Foram investigados alguns elementos por fluorescência
de raios-X em Espectrômetro Portátil de Fluorescência de raio-X por Dispersão de
energia (EDXRF), da marca Bruker, no Laboratório de Planejamento e Tratamento
de Minérios (LATRAM), da UNIPAMPA.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 9 96


Figura 2: Imagem com a localização dos pontos de coleta de água e sedimentos.
Fonte: Google earth

Os pontos nomeados com P seguidos da numeração referem-se aos locais


de coleta de água onde as bacias indicam os locais de armazenamento de águas
provenientes dos processos de lavra do calcário nas cavas. A bacia do ponto P2
recolhe águas que fluem de uma pilha de rejeitos. O arroio do Salso localiza-se
dentro da área da empresa e o arroio Mangueirão em área externa à empresa. Os
pontos nomeados com SE seguidos da numeração, referem-se aos locais de coleta
de sedimento.

Águas Sedimentos Descrição


P1 SE1 Bacia cava desativada
P2 SE2 Bacia pilha de rejeito R8
P3 SE3 Bacia cava Mangueirão
P4 SE4 Arroio do Salso a jusante
P5 - Arroio do Salso a montante
P6 SE5 Arroio Mangueirão
P7 SE6 Bacia cava Mato Grande

Tabela 1: Descrição dos pontos de coleta de águas e sedimentos.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Análises das Águas

As Figuras 3 e 4 apresentam os resultados de pH e condutividade das águas.


Os valores de pH acima de 7,0 para a maioria dos pontos são compatíveis com
os processos de dissolução de carbonatos de cálcio e magnésio. Valores altos de
condutividade para as bacias confirmam o pressuposto, sendo que a bacia R8 (ponto
P2) apresentou os maiores valores em função de ser uma amostra com característica

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 9 97


de efluente.

Figura 3: Valores de pH das amostras de água com os limites estabelecidos pela resolução 128
(CONSEMA)

Figura 4: Valores de condutividade, em µS/cm, das amostras de água.

Os valores de Alcalinidade total (Figura 5) confirmam águas com caráter básico


e uma vez mais os maiores valores correspondem à bacia R8. Os valores de dureza,
da Figura 6, são característicos de águas classificadas como duras no caso das
bacias. Todos estes resultados podem estar relacionados com a dissolução de
carbonatos provenientes dos processos da lavra.

Figura 5: Valores de Alcalinidade total, em mg/L CO3, das amostras de águas.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 9 98


Figura 6: Valores de Dureza total, em mg/L CaCO3, das amostras de águas.

3.2 Análises dos Sedimentos

A Tabela 2 apresenta os teores de alguns elementos investigados por EDXRF.


Observa-se a presença de alguns elementos como cádmio, mas os valores estão
dentro do limite estabelecido pela resolução 420/2009 (CONAMA). O restante
dos elementos obtidos reflete a geologia da área, uma vez que os granitoides são
constituídos por minerais variados, tipo feldspato alcalino (KnaAlSi3O8), plagioclásio
(Ca, Na) Al (Al,Si) Si2O8, quartzo (SiO2) e micas (biotita e/ou muscovita), tendo como
minerais acessórios a hornblenda (Ca2 Na (Mg,Fe)4 (Al,Fe,Ti) AlSi8AlO22 (OH,O)2) e o piroxênio
(Ca,Na) (Mg,Fe,Al,Ti) (Si2O6). Já os metacalcários contêm minerais ricos em carbonato
de cálcio, tipo calcita (CaCO3), dolomita (CaMg(CO3)2) e aragonita (CaCO3).

Ponto Al Ca Cd Fe Mg Mn Si

SE-1 12,5 34,4 0,08 3,1 10,3 0,1 21,3

SE-2 17,2 19,5 0,15 3,9 6,4 0,08 26

SE-3 15,8 26,1 0,1 2,5 8,4 0,03 27,6

SE-4 19,9 2,2 0,12 1,3 1,3 0,03 55,5

SE-5 18,9 7,8 0,13 2,1 2,4 0,05 43,9

SE-6 12,4 34,9 0,1 2,6 9,9 0,08 15,7

Tabela 2: Teores de alguns elementos, em %, das amostras de sedimentos obtidos por EDXRF

4 | CONCLUSÕES

As amostras de água analisadas nesse projeto apresentaram valores


correspondentes às características geológicas do local. Os valores de pH acima
de 7,0 são compatíveis com os processos de dissolução de carbonatos de cálcio e
magnésio assim como os valores elevados de alcalinidade e dureza principalmente

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 9 99


nas amostras das bacias e cavas. A bacia da pilha de rejeitos R8 (Ponto 2) apresentou
os maiores valores para todos os parâmetros por ser um local de retenção de águas
residuais que percolam dos rejeitos.
Quanto aos elementos detectados nos sedimentos destaca-se o cádmio
encontrado em todas amostras, no entanto apresenta teores dentro dos limites
estabelecidos pela legislação vigente. Os teores dos demais elementos são
compatíveis com os minerais formadores das rochas da área de estudo.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Estadual, 1986. Resolução CONSEMA nº128. Padrões de Emissão de efluentes
líquidos para fontes de emissão que lancem seus efluentes em águas superficiais no Rio
Grande do Sul. Estado do Rio Grande do Sul, 2006.

BRASIL. Resolução nº420. CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente, dispõe sobre critérios e
valores da qualidade de solos, 2009.

BITENCOURT, M. F.; Metamorfitos da Região de Caçapava do Sul, RS –Geologia e Relações com


o Corpo Granítico. In: I SIMPÓSIO SUL-BRASILEIRO DE GEOLOGIA, Porto Alegre, RS. p.37-47,
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65, 1987.
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de Impacto Ambiental da Disposição de Rejeitos e Estéreis em Mineradora de Calcário. Anais 2o
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SCHMIDT, A. M., SCHROEDER, J. K., GOMES, C. H., CASA NOVA, G. P. Estudo Geoquímico de
Águas e Sedimentos Provenientes de Lavras de Calcário. Anais XIII ENCONTRO NACIONAL DE
ENGENHARIA DE SEDIMENTOS, Vitória, ES, 2018.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 9 100


CAPÍTULO 10

AVALIAÇÃO DO ESTÁGIO DO SANEAMENTO COM


BASE NO EMPREGO DE INDICADORES: ESTUDO DE
CASO EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO HIDROGRÁFICA
III – MÉDIO PARAÍBA DO SUL

Marcelo Obraczka RESUMO: No Brasil, cerca de 55% dos


Universidade do Estado do Rio de Janeiro, esgotos é lançada nos rios, sem tratamento.
Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Para enfrentamento do problema, a moderna
Ambiente
gestão dos recursos hídricos vem utilizando
Rio de Janeiro - RJ
instrumentos de gestão e planejamento tais
Carine Ferreira Marques como indicadores, na avaliação de questões
Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
estratégicas, entre elas, a abrangência
Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio
e eficiência dos serviços de saneamento
Ambiente
prestados. Assim, são gerados subsídios
Rio de Janeiro - RJ
para tomadas de decisão e implementação
Sofya de Oliveira Machado Pinto
de ações, podendo apontar eventual correção
Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
de rumo para aperfeiçoamento do sistema.
Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio
Ambiente O presente trabalho se estrutura a partir do
Rio de Janeiro - RJ estudo de caso da bacia hidrográfica do Médio
Paraíba do Sul, região Sudeste do Brasil,
Alfredo Akira Ohnuma Jr
Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
empregando indicadores de saneamento e
Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio de saúde para avaliação do estágio/situação
Ambiente em termos da universalização do saneamento
Rio de Janeiro – RJ nos seus 19 municípios. Apesar de não ser
Kelly de Oliveira possível identificar uma correlação direta entre
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, os indicadores de saneamento e os de saúde
Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio levantados, a metodologia permite comparar os
Ambiente índices dos municípios da bacia, constatando-
Rio de Janeiro – RJ se que todos estão inseridos na categoria/
Bruno Cabral Muricy estágio inicial de universalização, com exceção
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, de Quatis. No presente caso, municípios de
Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio maior porte e capacidade econômica como
Ambiente Valença, Resende e Barra do Piraí apresentam
Rio de Janeiro – RJ desempenho/ indicadores piores do que
municípios de pequeno porte como Quatis,
Porto Real e Pinheiral. Entre outras proposições,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 101


recomenda-se o aumento da abrangência dessa tipologia de estudo para demais
bacias do Paraíba do Sul, cujos resultados poderão ajudar na definição de prioridades
nas futuras ações dos Comitês e das respectivas Agências de Bacia.
PALAVRAS-CHAVE: Recursos hídricos, Universalização do Saneamento, Gestão de
Bacia Hidrográfica.

EVALUATION OF THE SANITATION STAGE BASED ON THE USE OF


INDICATORS: CASE STUDY IN MUNICIPALITIES OF THE WATERSHED REGION
III - MEDIO PARAÍBA DO SUL

ABSTRACT: In Brazil, about 55% of sewage is still dumped in rivers without treatment.
The modern management of water resources has been increasingly employing
management and planning tools to assess strategic issues such as the sewer system/
services, including its coverage and efficiency. Those aspects can be measured,
monitored by using indicators as well as defining pre-defined goals to be achieved by
the sewer system operator. The information obtained may help both decision making
and implementation of measures to achieve those goals. By taking the Paraiba do Sul
watershed as a case study, this research builds up a ranking based on both sanitation
services and health indicators concerning the 19 municipalities involved. Based on
the results obtained is possible to verify that 18 of them are currently in a category
which corresponds to the earliest stage of sanitation situation, in a three step scale,
exemption to municipality of Quatis, which handles a middle term position. Some of the
most important municipalities in the basin are situated among the worst performances
although some of the smallest are situated in the first ranking places. Authors highlight
the importance of increasing the scope of this study typology to other watershed basins
in the Paraiba do Sul River. The results may be utilized in the definition of priorities
for further actions of the Basin Committees and their respective watershed executive
Agencies.
KEYWORDS: Water resources, Sewer system/services coverage, Watershed
Management.

1 | INTRODUÇÃO

A definição de saneamento é baseada na formulação da Organização Mundial


da Saúde (OMS), como sendo o controle de todo e qualquer fator do meio físico do
homem que pode exercer ou exerce efeito prejudicial a respeito ao seu bem-estar
físico, mental ou social (Heller e Möller, 1995) A qualidade da água é relacionada
diretamente a várias doenças e aos índices de qualidade de vida das populações e
do meio ambiente, de uma forma geral (Heller, 1998). Com base nesses conceitos,
a importância do saneamento como uma abordagem preventiva e na promoção da
saúde da população é amplamente reconhecida. De acordo com o Relatório sobre o
Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, divulgado a cada três anos, cerca de 10%
das doenças já registradas mundialmente poderiam ser evitadas caso os governos

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 102


investissem mais em saneamento básico (ONU-ÁGUA, 2012).
Por muitos anos o paradigma de abundância que caracterizava a gestão de
recursos hídricos no Brasil gerou certa desvalorização no sistema de planejamento/
gerenciamento destes recursos, tanto pelos órgãos responsáveis como por grande
parte da população. Porém, após vários eventos de excessos extremos de água,
traduzidos em enchentes de grandes proporções em áreas urbanas, por um lado,
e severa escassez de outro, e culminando em 2014 com uma das mais acentuadas
crises hídricas na história de sua Região Sudeste, foram aceleradas as discussões
sobre a necessidade de uma gestão mais eficaz visando promover maior segurança
hídrica e garantia de abastecimento de setores estratégicos. Um dos principais focos
é a melhoria dos sistemas de saneamento básico, como o esgotamento e tratamento
adequado dos esgotos. Dessa forma, é possível assegurar uma melhor qualidade da
água em corpos hídricos, gerando maior sustentabilidade, e comprometer-se com
disponibilidade desses recursos hídricos em quantidade e qualidade necessárias
a fruição pelas gerações futuras (Plano Nacional de Recursos Hídricos, 1997).
Como consequência na mudança de foco, diversos instrumentos de planejamento
importantes foram implementados nos últimos anos, tais como o Plano Nacional
de Saneamento Básico (PLANSAB) e o Sistema Nacional de Informação sobre
Saneamento Básico (SNIS).
A ampliação do acesso da população ao saneamento básico visando a
universalização dos sistemas de saneamento é um dos pontos chave da Lei
n°11.445/07 (LNSB, 2007). Previsto e regulamentado pela mesma lei, o PLANSAB
foi o instrumento adotado para implementação da PNSB, se apoiando em quatro
pilares básicos, abordados de maneira integrada: abastecimento de água potável,
esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e drenagem das águas
pluviais urbanas (LNSB, 2007). Dispondo de metas de curto, médio e longo prazo,
considerando as especificidades e distinguindo as regiões do país, o PNSB possui
como metas que até 2033 todo o território nacional possua abastecimento de água
potável e coleta de lixo, além de 87% de todo esgoto gerado sendo adequadamente
disposto (e 93% deste sendo tratado) (Ministério das Cidades, 2013).
No que se refere ao esgotamento sanitário, a situação é ainda bem precária:
apenas 46% dos domicílios possuem coleta de esgoto, mesmo tendo sido constatado
um aumento de 4,4 milhões de habitantes, correspondendo a acréscimo de 4,4%
em termos de população total atendida (ITB, 2017). No caso do RJ, em média
somente 45% do esgoto é tratado em relação à água consumida, embora 83% da
população sejam abrangidos pela coleta de esgotos (ITB, 2017). Na cidade do RJ,
de forma análoga ao cenário do restante do país, houve também avanços quanto a
redução desse déficit, que caiu 8% entre 2005 a 2015. Mesmo assim, ainda havia
147 milhões de m³ de esgoto que não receberam qualquer tipo de tratamento antes
de seu descarte (ITB/EXANTE, 2017).
Segundo dados da CNI (2016) e da FIRJAN (2017), apesar de poderem ser
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 103
constatados alguns avanços, eles vêm se demonstrando muito lentos em relação
às demandas discriminadas pela PNSB no que se refere à universalização do
saneamento no país. Passados cerca de 10 anos da LNSB e 4 anos do PLANSAB,
os avanços são tímidos perante o tamanho do desafio e boa parte da população
brasileira continua ainda sem acesso ao saneamento básico adequado; números
apresentados por diversas fontes (ITB, 2017; CNI, 2016) se situam ainda bem
distantes das metas estabelecidas pelo PLANSAB (Ministério das Cidades, 2013).
De acordo com estudos do ITB (2017), a seguir esse ritmo e se forem mantidos os
níveis atuais de investimentos em saneamento, as metas do PLANSAB somente
serão alcançadas a partir da 2ª metade do século XXI, por volta de 2060, ou seja,
com um atraso de pelo menos 30 anos.
O uso de Indicadores vem se popularizando como ferramenta estratégica na
avaliação da prestação dos serviços de saneamento (Von Sperling, 2013; Obraczka
e Leal, 2016). De acordo com Von Sperling & Von Sperling (2013), o uso de
Indicadores de Saneamento se tornou uma prática crescente, citando como exemplo
a Lei Nacional de Saneamento Básico 11.445/2007, considerada como o novo marco
regulatório do setor por ter institucionalizado o uso de indicadores de desempenho,
que passaram a integrar o processo de planejamento, regulação e fiscalização dos
serviços. A institucionalização de sistemas como o SNIS gerou a disponibilização
de um banco de dados e de índices padronizados relacionados ao saneamento que
são constantemente atualizados, implementando sua utilização pelos operadores e
gestores do setor com a finalidade de planejar e aferir a eficiência dos sistemas de
saneamento, além de proporcionar uma maior transparência e permitir o exercício
do controle social (Obraczka e Leal, 2016). A utilização criteriosa desses índices
pode também servir de suporte no direcionamento de ações e investimentos,
visando aumentar o atendimento e a eficiência dos referidos sistemas e, dessa
forma, contribuir no sentido da almejada universalização, não necessariamente
somente através da ampliação do sistema através da construção de novas redes de
esgoto (OBRACZKA e LEAL, 2016). Esses mesmos autores ressaltam, por outro
lado, a importância de se dispor de indicadores calculados/definidos em bases mais
próximas a realidade, já que índices obtidos por meio de dados não empíricos, sejam
baseados em estimativas ou ainda, aferidos de forma não precisa, podem levar a
valores não confiáveis e, portanto, a tomada equivocada de decisões.
Sob essa ótica atual de maior empoderamento de instrumentos de planejamento
e gestão, e em especial na utilização de Indicadores, ABES publicou um estudo
(Ranking ABES da Universalização do Saneamento) que avalia conjuntamente
indicadores de saneamento (base de dados do SNIS) e de saúde pública (base
de dados DATASUS), definindo um ranking para quase 2 mil municípios (ABES,
2018). Entre alguns dos aspectos avaliados, o estudo apontou o estágio em que os
municípios se encontram frente à universalização da água, apresentando-os em sua
ultima versão em quatro categorias. De acordo com o Ranking, apenas 4,22% do
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 104
total de municípios avaliados atingiram a pontuação de enquadramento na categoria
Rumo à Universalização, 10,61% estão em Compromisso com a Universalização,
70,86% estão em Empenho para a universalização e 14,31% dos municípios na
categoria Primeiros Passos para a Universalização, o que demonstra o quão distante
estamos da universalização (ABES, 2017). De acordo com esse estudo, foi identificado
que os municípios melhor posicionados no ranking apresentaram menores taxas
de internações por Doenças Relacionadas ao Saneamento Inadequado (DRSAI),
enquanto que municípios com as menores pontuações obtiveram taxas maiores de
internações e de mortalidade (ABES, 2017).
Segundo Honji et al (2017), a bacia do rio Paraíba do Sul possui uma área de
57 mil km2 abrangendo os estados de São Paulo (SP) (38%), Rio de Janeiro (RJ)
(38%) e Minas Gerais (MG) (24%) (HILSDORF e PETRERE, 2002). Sua extensão
lhe assegura a posição de segunda maior bacia do leste brasileiro (Polaz et al.,
2011). O seu principal rio é o Paraíba do Sul, com cerca de 1.000 km de extensão,
considerado o maior rio de várzeas do Sudeste (HILSDORF e PETRERE, 2002).
Trata-se de rio de competência federal, que abastece as principais capitais e regiões
metropolitanas em território nacional, movimentando ainda indústrias e estratégicos
sistemas de fornecimento de água e energia a estados da importância de São Paulo
e Rio de Janeiro (SEBRAE, 2015).
A presente pesquisa enfoca a Região Hidrográfica do Médio Paraíba do Sul (RH-
III), que se encontra inserida em macrorregião responsável por boa parte do Produto
Interno Bruto (PIB) e da atividade econômica nacional, além de considerável parcela
da população brasileira (IBGE, 2011). Além de se tratar de uma das mais importantes
regiões/bacias no cenário regional/nacional, nela o uso múltiplo e estratégico da água
se encontra bastante caracterizado, estando, entre outros aspectos, diretamente
relacionada disponibilidade hídrica do principal manancial fluminense, viabilizando
o abastecimento da maior parte da população da RMRJ através da transposição
do Paraíba do Sul para a bacia do Rio Guandu. A bacia é também caracterizada
pela intensa poluição de suas águas provocadas pelo grande número de atividades
antrópicas nela situadas que, mesmo dependendo diretamente dessas águas para
seu funcionamento, paradoxalmente contribuem para a degradação ambiental e
piora da qualidade dos seus corpos hídricos (OBRACZKA et al, 2018; OBRACZKA
et al, 2019).

A Bacia do Médio Paraíba do Sul

Considerando a divisão proposta pelo CERHI-RJ, na Bacia do Rio Paraíba do


Sul estão compreendidas, em território do estado do RJ, as Regiões Hidrográficas
do Médio Paraíba (RH III), Piabanha (RH IV), Rio Dois Rios (RH VII) e Baixo Paraíba
do Sul e Itabapoana (RH IX) (INEA).De acordo com a Resolução n° 18/2006 do
Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI), a Região Hidrográfica do Médio

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 105


Paraíba do Sul compreende de forma integral os Municípios fluminenses de Itatiaia,
Resende, Porto Real, Quatis, Barra Mansa, Volta Redonda, Pinheiral, Valença, Rio
das Flores, Comendador Levy Gasparian e, parcialmente, os Municípios de Rio
Claro, Piraí, Barra do Piraí, Vassouras, Miguel Pereira, Paty do Alferes, Paraíba do
Sul, Três Rios e Mendes, abrangendo uma área total de drenagem de 6.517 km².
De acordo com o INEA, as principais práticas econômicas da região são as
atividades industriais e agropecuárias, além do turismo. Segundo o mesmo portal,
deve ser destacada a formação do segundo maior parque industrial da bacia do rio
Paraíba do Sul, com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda.
Nesta Região Hidrográfica é realizada a importante transposição das águas da bacia
do rio Paraíba do Sul para a bacia do rio Guandu, através da Estação Elevatória
de Santa Cecília, em Barra do Piraí, que atende ao Sistema Light, gerando energia
elétrica, bem como à CEDAE, fornecendo água para o abastecimento de cerca de 9
milhões de pessoas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro através do Sistema
Guandu (CEIVAP, 2016).
Segundo o Relatório de Gestão elaborado pelo Comitê Médio Paraíba do Sul
(2014), essa sub-bacia possui os melhores percentuais de cobertura florestal e de
extensão de florestas de toda a bacia do rio Paraíba do Sul. Porém, em suas áreas
urbanas são constatados diversos processos erosivos de relevância ocasionados
pela falta de preservação e conservação do solo, sendo carentes de sistemas de
esgotamento sanitário e de aterros sanitários adequados. Em conjunto com a forte
presença de atividades industriais, há deste modo um favorecimento a degradação
ambiental e da qualidade de sua água (CBH Médio Paraíba do Sul, 2011).
O estudo de Honji et al (2017) destaca vários exemplos desse problema de
poluição hídrica (efluentes domésticos), e apesar da bacia do rio Paraíba do Sul
possuir índices de coleta de esgotos acima de 90% no estado de SP, constata-se
que o índice de tratamento é em torno de 60% (São Paulo, 2013/2014). Já no que
se refere aos efluentes industriais, esta bacia merece especial atenção devido às
ações antrópicas relacionadas direta e indiretamente a instalação/funcionamento da
Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda (RJ).
A necessidade de melhoria não somente quanto à disponibilidade, mas
especialmente em relação à qualidade da água pode ser constatada pela importância
a ela atribuída pelo sistema de gestão e planejamento da bacia, no qual vários
quesitos apresentados como ações prioritárias refletem direta ou indiretamente
tal preocupação. De acordo com as prioridades definidas pelo Caderno de Ações
na Área de Atuação da AMPAS (Associação de Usuários das águas do Médio
Paraíba do Sul), referente ao Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Paraíba
do Sul (AGEVAP, 2007), foram listadas os ações/programas para melhoria quali-
quantitativa dos recursos hídricos, agrupados em sete recortes temáticos: Redução
de cargas poluidoras; Aproveitamento e racionalização de uso dos recursos hídricos;
Drenagem urbana e controle de cheias; Planejamento de recursos hídricos; Projetos
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 106
para ampliação da base de dados e informações; Plano de proteção de mananciais e
sustentabilidade no uso do solo; e Ferramentas de construção da gestão participativa.
Outro importante instrumento de planejamento e gestão é o monitoramento
de parâmetros e o estabelecimento de índices de qualidade de água dos corpos
hídricos que, no caso do Rio de Janeiro, são de competência do INEA. Segundo o
referido Instituto, o monitoramento sistemático da qualidade dos principais corpos
de água doce do Estado do Rio de Janeiro fornece informações necessárias para a
avaliação das águas e o manejo adequado dos ecossistemas aquáticos bem como
para a produção de documentos sobre as condições dos corpos hídricos. Esse
acompanhamento contínuo possibilita melhor compreensão do ambiente e eficaz
alocação de investimentos e ações. (INEA, 2016).
No caso da RH III – Médio Paraíba do Sul foram identificados 22 pontos de
monitoramento em seis rios (Córrego Água Branca, Rios Bananal, Pirapetinga,
Paraibuna, Paraíba do Sul e Preto) e em dois reservatórios (Funil e Santa Cecilia),
sendo que cerca de 50% desses pontos se localizam no Rio Paraíba do Sul. De
acordo com dados do INEA referentes ao ano de 2017, no Rio Paraíba do Sul os
índices de IQA NSF do Paraíba do Sul variam de uma condição RUIM a MÉDIA, com
exceção de quatro pontos de condição BOA, sendo três em Resende (nos meses
de abril, novembro e dezembro) e outro em Porto Real (em maio). Somente em 11
casos, de um total geral de 93 análises realizadas em 2017, a condição se apresentou
como BOA, pontos esses basicamente concentrados no Rio Preto, localizados nos
municípios de Itatiaia e Resende, na porção mais a montante da bacia. Pontos mais
próximos aos centros urbanos e industriais como Volta Redonda apresentam índices
piores e condições de risco ambiental elevado.

2 | OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral


O presente trabalho visa avaliar a situação do saneamento na Bacia do Médio
Paraíba do Sul, a partir da análise e da correlação de indicadores de saneamento
e saúde, a luz da metodologia que foi adotada pelo estudo da ABES, definindo um
“ranking” para os municípios que integram essa bacia com base nesses indicadores.

2.2 Objetivos Específicos


Como objetivos específicos podem ser elencados: 1) aprofundar o conhecimento
sobre a região em estudo com base em um levantamento de referências e de estudos
técnicos que possuam com aderência ao tema adotado; 2) realizar um levantamento
dos indicadores de saneamento e saúde adotados pelo estudo da ABES para os
municípios da bacia em estudo, procedendo aos cálculos dos índices necessários
a elaboração do ranking e ; 3) com base nos resultados, identificar alguns aspectos

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 107


estratégicos e sugerir prioridades de ação visando implementar o processo de
universalização do saneamento e de melhoria das condições ambientais dos corpos
hídricos locais.

3 | MATERIAIS E MÉTODOS

Primeiramente foram levantados estudos e referências sobre o tema e sobre a


região/bacia objeto da pesquisa, além de informações dos bancos de dados do SNIS
e do DATASUS. Em sequência, o presente estudo se baseou na metodologia do
estudo divulgado da ABES (2018) que correlaciona indicadores de saneamento do
SNIS aos indicadores de saúde (DATASUS), em função do número de notificações
de internações/mortalidade relacionadas à categoria feco-oral das DRSAI (Tabela
2), adotadas como base por serem dentre todas aquelas de maior incidência (IBGE,
2017). Neste trabalho foram considerados os mesmos cinco indicadores adotados
pelo estudo da ABES (ABES, 2018), bem como as respectivas metodologias de
cálculo, além das taxas referentes às DRSAI, para a análise e “ranqueamento”
em quatro categorias relacionadas ao seu estágio quanto à universalização do
saneamento, englobando os 19 municípios que integram a bacia do Médio Paraíba
do Sul. Os cinco indicadores de saneamento adotados são: abastecimento de água,
coleta de esgoto, tratamento de esgoto, coleta de lixo e destinação adequada de
resíduos sólidos.
A classificação se baseou nas Faixas de Pontuação, calculada pelo somatório
das porcentagens de abrangência dos serviços prestados referentes aos cinco
indicadores de saneamento adotados, e correlacionadas às respectivas Categorias
estabelecidas pelo estudo da ABES (Tabela 1).

Categoria Faixas de Pontuação


Rumo à universalização Acima de 489
Compromisso com a universalização 450 – 489
Empenho para a universalização 200 – 449,99
Primeiros Passos para a
Abaixo de 200
universalização

Tabela 1 - Categorias definidas pelo estudo da ABES e respectivas faixas de pontuação


Fonte: ABES, 2018

As doenças DRSAI adotadas são da Categoria Transmissão feco-oral e os


grupos de doenças são as Diarreias, Febre Entérica e a Hepatite A (Tabela 2).

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 108


Categoria Grupo de Doenças Doenças CID - 10
1.1 Cólera A00
1.2 Infecções por Salmonella A02
Transmissão 1. Diarreias 1.3 Shingelose A03
feco-oral 1.4 Outras infecções intestinais bacterianas
(Escherichia coli, Compylobacter, Yersinia
enterocolitica, Clastridium difficile, outras e as A04
não especificadas) A06
1.5 Amebíase
1.6 Outas doenças intestinais por protozoários A07
(Balantidlase, Giardíase, Criptosporidiose) A07
1.7 Isoporíase, outras e as não específicadas
1.8 Doenças Intestinais por vírus (Enterite, p/
rotavírus, gastroenteropatia aguda p/agente A08
de Norwalk, enterite p/adenovírus, outras
doenças e as não específicadas)
2. Febre Entérica 2.1 Febre Tifóide A01
2.2 Febre Paratifóide A01
Hepatite A1 B15

Tabela 2: Doenças Relacionadas ao Saneamento Básico Inadequado (DRSAI) da Categoria e


Transmissão Feco-oral
Fonte: ABES, 2017.

1
No relatório divulgado pela ABES (2018), os indicadores de saúde foram calculados a partir
do número de internações por DRSAI de toda a categoria de transmissão feco-orais, exceto
Hepatite A, pois no DATASUS não são divulgados dados para cada tipo.

4 | RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos para os municípios integrantes


da Região Hidrográfica do Médio Paraíba do Sul, para os cinco indicadores de
saneamento considerados. Em alguns casos (municípios de L. Gasparian, Paraíba
do Sul e R. Claro), onde não foi possível definir a pontuação de um determinado
indicador para alguns dos sistemas de infraestrutura em análise pela indisponibilidade
dos dados necessários, geralmente relacionados a destinação adequada ou não
dos Resíduos Sólidos, foram considerando os valores mínimo (0%, pior cenário) e
máximo (100%, melhor cenário) possíveis para esse índice e calculada/adotada uma
faixa de pontuação total, de forma a possibilitar a inserção de todos os municípios no
“ranking” e as análises de todos possíveis resultados.

Município Abast. Coleta de Trat. de Coleta Dest.Adeq. Faixa de


de Água Esgoto Esgoto Res. Resíduos Pontuação
(%) (%) (%) Sólidos Sólidos(%)
(%)
Barra do Piraí 2 100 96,7 0 98,78 100 395,48
Barra Mansa 98,72 88,97 4,93 99,7 100 392,32
C. Levy 99,7 99,7 0 100 0 ou 100 299,4 ou
Gasparian2 399,4
Itatiaia 100 6,81 0 96,63 0 203,44
Mendes 97,74 21,42 0 98,7 100 317,86
Miguel Pereira 99,9 45,46 34,54 100 100 379,9

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 109


Paraíba do Sul2 95 81,6 0 100 0 ou 100 276,6 ou
376,6
Paty dos Alferes2 72,5 65,11 0 90,61 0 ou 100 228,22
Pinheiral 92,32 100 0 100 100 392,32
Piraí 95,86 35,33 22,54 97 100 350,73
Porto Real 96,31 95,31 68,04 100 100 459,66
Quatis 100 100 66,8 94,03 100 460,83
Resende 95,53 95,3 77,5 99,87 0 368,2
Rio Claro 2
0 ou 100 65 0 ou 100 (5)
100 100 265 ou 465
Rio das Flores2 69,6 69,6 65,27 69,6 0 274,07
Três Rios 100 99,84 5,51 98,45 0 303,8
Valença 90,03 40,05 0 99,63 100 329,71
Vassouras 97,01 59,24 5,91 90 100 352,16
Volta Redonda 99,95 98,95 21,11 99,95 100 419,96

Tabela 3: Resultados obtidos para os indicadores de saneamento dos municípios da RH III,


respectivas pontuações e posição no ranking de acordo com ABES (2018)
Fonte: ABES, 2018 e SNIS, 2017 e 2015.

2
Municípios com dados de 2017 não divulgados pelo SNIS, utilizado os de 2015.

A Tabela 4 apresenta as pontuações totais para os somatórios dos indicadores


de saneamento, as taxas referentes às DRSAI para os municípios do Médio Paraíba,
bem como as respectivas classificações no ranking e definição de suas categorias,
de acordo com ABES (2017).

Município Pontuação Pontuação Taxa de Ranking Ranking Ranking


Melhor Pior Internações Melhor Pior Taxa de
Cenário Cenário Cenário Cenário Internações
Rio Claro 465 265 9,99 1° 17° 3°
Quatis 460,83 460,83 197,57 2° 1° 18°
Porto Real 459,66 459,66 5,39 3° 2° 1°
Volta Redonda 419,96 419,96 12,14 4° 3° 4°
C. Levy Gasparian 399,4 299,4 não informado 5° 14° não informado
Barra do Piraí 395,48 395,48 190 6° 4° 17°
Barra Mansa 392,32 392,32 9,99 7° 5° 2°
Pinheiral 392,32 392,32 16,61 8° 6° 5°
Miguel Pereira 379,9 379,9 128,75 9° 7° 16°
Paraíba do Sul 376,6 276,6 29,85 10° 15° 10°
Resende 368,2 368,2 32,52 11° 8° 11°
Vassouras 352,16 352,16 16,84 12° 9° 6°
Piraí 350,73 350,73 17,8 13° 10° 7°
Valença 329,71 329,71 98,65 14° 11° 13°
Mendes 317,86 317,86 27,61 15° 12° 9°
Três Rios 303,8 303,8 107,28 16° 13° 15°
Rio das Flores 274,07 274,07 99,75 17° 16° 14°
Paty dos Alferes 228,22 228,22 79,82 18° 18° 12°
Itatiaia 203,44 203,44 19,69 19° 19° 8°

Tabela 4: Pontuação Total obtida pelos indicadores e taxas de internações por município e

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 110


respectiva categoria no ranking ABES
Fonte: ABES, 2018 e SNIS, 2017 e 2015.

Dos 19 municípios avaliados, Quatis e Porto Real se apresentam respectivamente


como 1º e 2º colocados uma vez que somente seriam ultrapassados por Rio Claro
se este apresentasse indicadores de abastecimento de água e tratamento de esgoto
de quase 100%, o que não parece ser possível considerando que o de coleta de
esgoto atinge a somente 65%. Tanto Quatis como Porto Real se inserem no estágio
intermediário, o de “Compromisso com a universalização”, ficando os demais com o
status de Empenho para Universalização, faixa/categoria essa criada na versão mais
recente do estudo da ABES (2018). Esse cenário pouco se altera, mesmo se forem
adotados valores mais otimistas possíveis para os índices (100%) nos municípios
onde não se dispõe de dados sobre determinados indicadores (conforme mencionado
anteriormente, o município de Rio Claro poderia chegar a uma pontuação máxima de
430, mantendo-se na categoria de “Empenho para a Universalização”).
Vale destacar que entre os cinco municípios mais bem situados no ranking, três
podem ser considerados como de menor porte, possuindo população inferior a 20
mil habitantes (além dos dois já citados, L. Gasparian é o 5º colocado). Entre os mais
densamente habitados, com população próxima ou acima de 100 mil habitantes,
somente os municípios de Barra Mansa, Barra do Pirai e Volta Redonda se destacaram
positivamente. Resende, Três Rios e Valença ocupam posição apenas intermediária
no ranking, com desempenho inferior ao de municípios muito menos expressivos em
termos sócio econômicos, como Pinheiral. Dos mais populosos, Resende detém
a pior classificação (8° lugar no melhor cenário), com indicadores e desempenho
inferiores aos do município de Porto Real, por exemplo, que representa apenas 14%
de sua população.
Como já era de se esperar, o indicador/aspecto “Tratamento de Esgotos”
é o que apresenta no geral piores índices enquanto os melhores se concentram
em “Abastecimento de Água”, corroborando os dados levantados nas referências
consultadas no início da pesquisa (CNI, EXANTE, ITB). Tal constatação aponta
para um problema crônico e cíclico de causa e efeito: ao mesmo tempo em que se
disponibiliza mais água a população, por outro lado não há a infraestrutura adequada
de esgotamento sanitário para atender o consequente aumento da vazão de efluentes
gerados, os quais, via de regra, acabam sendo lançados nos corpos hídricos sem o
tratamento adequado, causando uma piora da qualidade desses rios.
Com base nos presentes resultados, verifica-se ainda que não se pode a princípio
estabelecer uma correlação direta entre as pontuações/taxas dos municípios nos
setores de saneamento e saúde, diferentemente do que ocorreu no estudo da ABES
(2017). Tome-se o exemplo do município de Quatis: é o 1º no ranking de saneamento
e o 18º (último) no critério de taxa de internações por doenças DRSAI. Por sua vez,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 111


Barra do Pirai se encontra em 4º (ou 6º) em desempenho nos somatórios dos índices
de saneamento, enquanto que apresenta, após Quatis, a pior taxa de internação por
DRSAI entre todos os municípios da RH III.
Vale destacar que não foi possível avaliar o município de L. Gasparian quanto
aos índices de saúde (DRSAI) pela indisponibilidade de dados, reduzindo-se nesse
caso o universo avaliado para 18 municípios.
No cômputo geral, os destaques negativos ficam por conta dos municípios de
Rio das Flores, Rezende, Três Rios, Paty do Alferes e Valença, por apresentarem
desempenhos piores que os demais, tanto no que se refere aos indicadores de
saneamento como aos de saúde.

5 | CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A metodologia utilizada pode ser considerada como uma simplificação, pois se


baseia na adoção de um critério de somatório simples de cinco indicadores do SNIS
para cálculo da pontuação, categoria e da posição no ranking de saneamento de
cada município. Os indicadores utilizados também não captam aspectos referentes
a outras importantes fontes de poluição como os efluentes e resíduos industriais.
Por outro lado, ela pode ser também avaliada como uma importante ferramenta/
contribuição no sentido da melhoria da situação do saneamento ambiental da bacia,
no geral, e em cada município, em particular, já que promove uma comparação de
desempenho entre fontes de poluição doméstica que contribuem para um mesmo
rio/bacia. Esse viés comparativo assume ainda maior importância em função do
paradigma de abordagem por bacia hidrográfica, já consagrada pela “Lei das Águas”
(9433/97) e outros instrumentos de planejamento e gestão de recursos hídricos
correlatos. A melhoria ou piora da qualidade de um corpo hídrico não depende
somente de uma fonte de poluição (os efluentes de um sistema de esgotos de um
município, por exemplo), mas de todos os demais geradores (os efluentes de outros
sistemas de saneamento que não somente o de esgotos, produzidos por todos os
demais municípios envolvidos) que se situem na mesma bacia de contribuição. A
abordagem e o planejamento devem ser, portanto sistêmicos e integrados, ou seja,
observando uma ótica similar àquela que permeia o presente trabalho.
A possibilidade de atualizar e avaliar a situação/ranking de forma simples e
direta, a partir das revisões anuais periódicas (e oficiais) dos dados do SNIS, confere
a metodologia de análise uma simplicidade/funcionalidade que pode ser bem
aproveitada por técnicos e gestores locais, sem maiores demandas de capacitação
e de aprofundamento do conhecimento. Esse aspecto pode ser de grande valia
especialmente em comitês de bacias e municípios de menor porte/relevância, que
dispõem de menos recursos materiais e humanos.
Entre as recomendações, têm-se: 1) Aprofundamento dos estudos, pesquisando
e re-ratificando os dados que serviram de base na definição dos valores dos

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 112


indicadores, avaliando outras bacias hidrográficas vizinhas e outros aspectos/
critérios, como a qualidade das águas dos seus rios; e 2) Levantamento e avaliação
de outras fontes de dados/informações relevantes, além do SNIS.

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO PRÓ-GESTÃO DAS ÁGUAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA DO SUL
– AGEVAP. Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Paraíba do Sul - Gestão Integrada das
Águas e Florestas.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITÁRIA (ABES), 2018. Ranking ABES da


Universalização do Saneamento. <http://abes-dn.org.br/wp-content/uploads/2018/06/Apresenta_
Ranking.pdf> Acesso em: Maio, 2019.

BRASIL, 2007. Lei de Nacional de Saneamento Básico, LNSB (11.445/2007). Pres.da República.
Casa Civil.Subchefia p/ Ass. Jurídicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm>. Acesso : Março, 2018.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - CNI, 2016. O financiamento do investimento em


infraestrutura no Brasil: uma agenda para sua expansão sustentada. Brasília.

CEIVAP. Disponível em: <http://www.ceivap.org.br/ >. Acesso em: Março, 2018.

COMITÊ DO MÉDIO PARAÍBA DO SUL. Disponível em: <http://www.cbhmedioparaiba.org.br/ >.


Acesso em: Março, 2018.

HONGIL, R.M, TOLUSSI, C.E, CANEPPELED, POLAZC.N.M, HILSDORFA.W.S, MOREIRAR.G,


2017. Biodiversidade e conservação da ictiofauna ameaçada de extinção da bacia do R. P. do
Sul. Biologia 17(2):18-30

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IBGE. O Brasil em Síntese. Disponível


em: <https://cidades.ibge.gov.br>. Acesso em: Abril, 2018.

INSTITUTO TRATA BRASIL – ITB. Disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/ >.Abril, 2018.

INSTITUTO ESTADUAL DO AMBIENTE (INEA). Disponível em:<http://www.inea.rj.gov.br/>. Abril,


2018.

MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2013. Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) - (Versão
para apreciação do CNS, CONAMA, CNRH e CONCIDADES). Secretaria Nacional de Saneamento
Ambiental.

MINISTÉRIO DAS CIDADES,2015.Sist. Nac. de Inf. Sobre Saneamento (SNIS). Disponível em:
<http://www.snis.gov.br/ >. Acesso em: Março, 2018.

OBRACZKA, M.; LEAL, I.F. 2015. Ligações domiciliares: Desafios a cobertura das redes de
esgoto. Revista Hydro.

SEBRAE. Painel Regional Médio Paraíba, 2015. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/>.


Acesso em: Abril, 2018.

VON SPERLING, M. Introdução à Qualidade das Águas e ao Tratamento dos Esgotos Vol.1. BH,
UFMG, 1995.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 113


VON SPERLING T.L. e VON SPERLING M., 2013.Proposição de sistema de indicadores de
desempenho p/ avaliação da qualidade dos serviços de esgotamento sanitário. Enga. Sanitária e
Ambiental |v.18 n.4 | 313-322.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 10 114


CAPÍTULO 11

GESTÃO PARTICIPATIVA COMO ELEMENTO


NORTEADOR NA ELABORAÇÃO DE TERMOS DE
REFERÊNCIA PARA PROJETOS HIDROAMBIENTAIS
NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS VELHAS

Thais Cristina Pereira da Silva das atividades de comunicação e mobilização


Técnica em Mobilização Social da Companhia social no processo de elaboração dos TDR
Brasileira de Projetos e Empreendimentos de projetos hidroambientais para a bacia do
(COBRAPE). Belo Horizonte – Minas Gerais.
Rio das Velhas. Ao todo foram realizados 30
Fabiana de Cerqueira Martins (trinta) encontros, entre reuniões introdutórias,
Consultora em Engenharia e Biologia Sanitária e
reuniões de alinhamento, visitas de campo e
Ambiental da HidroBR. Belo Horizonte – Minas
reuniões de apresentação, os quais contaram,
Gerais.
no total, com a participação de 437 pessoas.
Lívia Cristina da Silva Lobato
Foram elaborados e enviados aos demandantes
Pesquisadora na Universidade Federal de Minas
Gerais. Belo Horizonte – Minas Gerais. e demais interessados 21 Boletins Informativos,
14 convites virtuais e 07 comunicados de
Raissa Vitareli Assunção Dias
Consultora em Engenharia e Biologia Sanitária e encerramento. Constatou-se que a maior
Ambiental da COBRAPE. Belo Horizonte – Minas participação social durante o processo de
Gerais. elaboração dos TDR culminava na concepção
de projetos/estudos mais bem estruturados,
detalhados e objetivos.
PALAVRAS-CHAVE: Bacia Hidrográfica do
RESUMO: Atendendo a demandas espontâneas
Rio das Velhas, Gestão Participativa, Projetos
de projetos hidroambientais submetidos pelos
Hidroambientais, Recursos Hídricos, Termos de
Subcomitês de Bacia Hidrográfica do Rio das
Referência.
Velhas para aprovação do Comitê de Bacia
Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das
ABSTRACT: Given the spontaneous demands
Velhas) e contratação pela Agência Peixe
of hydroenvironmental projects submitted
Vivo, foram elaborados 10 (dez) Termos de
by subcommittees River Basin of the Old to
Referência (TDR) para contratação de projetos
the approval of the Watershed Committee
hidroambientais nas Unidades Territoriais
of Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) and
Estratégicas (UTEs) Águas da Moeda,
contracted by the Agency Live Fish, ten (10)
Carste, Nascentes, Ribeirão Arrudas, Ribeirão
Terms of Reference have been drawn up (TDR)
Jequitibá, Ribeirão Onça e Rio Itabirito, entre
for hiring hydroenvironmental Strategic projects
os meses de junho de 2016 e março de 2017.
in territorial units (TPPs) Water Mint, Karst,
O presente trabalho discute a importância
springs, Arrudas Ribeirão, Jequitibá Ribeirao,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 11 115


Ribeirão Oz and Rio Itabirito, between the months of June 2016 and March 2017. this
work discusses the importance of communication and social mobilization activities in
the process of elaboration of TDR for hydro-environmental projects for the Rio das
Velhas basin. Altogether they were made thirty (30) meetings between introductory
meetings, alignment meetings, field visits and presentation meetings, which counted
in the total, with the participation of 437 people. 21 Informative Bulletins, 14 virtual
invitations and 7 closure announcements were prepared and sent to the applicants
and other interested parties. It was found that the greater social participation during
the process of drafting the TOR culminated in the design of projects / better structured
studies, detailed and objective.
KEYWORDS: Rio das Velhas Hydrographic Basin, Participatory Management, Hydro-
Environmental Projects, Water Resources, Terms of Reference..

1 | INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

Compreende-se que mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de


um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados.
A mobilização não se confunde com propaganda ou divulgação, mas exige ações
de comunicação no seu sentido amplo, enquanto processo de compartilhamento de
discurso, visões e informações (TORO & WERNECK, 2004).
Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho consistiu em avaliar a importância
da gestão participativa no desenvolvimento de Termos de Referência (TDR) para
contratações de projetos hidroambientais na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas
(BHRV), buscando mostrar a relevância dessa modalidade de mobilização social no
âmbito da gestão dos recursos hídricos em bacias hidrográficas.
Assim, entre os meses de maio e julho de 2015, o Comitê de Bacia Hidrográfica
do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) realizou chamamento público convidando
instituições ambientais e Subcomitês de Bacia Hidrográfica (SCBH) vinculados
ao Comitê e aos municípios inseridos na bacia a apresentarem demandas para
a elaboração de projetos e ações hidroambientais nas Unidades Territoriais
Estratégicas (UTE) em que se subdivide a BHRV. Estes eram chamados, portanto,
de demandantes.
Este chamamento foi realizado por meio da Agência Peixe Vivo e visa a atender
ao disposto na Deliberação Normativa (DN) nº. 01, de 11 de fevereiro de 2015 (CBH
RIO DAS VELHAS, 2015), que dispõe sobre os mecanismos para a seleção de
demandas espontâneas de estudos, projetos e obras que poderão ser beneficiados
com os recursos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos na bacia do Rio das
Velhas. O desenvolvimento de projetos hidroambientais na BHRV está previsto na
DN do CBH Rio das Velhas nº. 010, de 15 de dezembro de 2014, que aprovou o
Plano Plurianual de Aplicação (PPA) dos recursos da cobrança na bacia do Rio das
Velhas, referente aos exercícios de 2015 a 2017.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 11 116


Tendo como objetivo a execução da Política de Recursos Hídricos deliberada
pelos CBH a ela integrados, a Agência Peixe Vivo é uma associação civil de direito
privado composta por empresas usuárias de recursos hídricos e organizações da
sociedade civil, estando legalmente habilitada a exercer as funções de Agência de
Bacia do CBH do Rio São Francisco (CBHSF) e de dois Comitês estaduais mineiros,
CBH Rio das Velhas e CBH Rio Pará. Cabe à Agência, dentre outras funções, a de
Secretaria Executiva desses Comitês e de apoio à gestão financeira dos recursos
da cobrança pelo uso dos recursos hídricos arrecadado nessas bacias hidrográficas.
O objetivo principal dessas demandas foi promover a racionalização do
uso e a melhoria dos recursos hídricos no tocante à quantidade e qualidade, em
consonância com o Plano Diretor de Recursos Hídricos da BHRV aprovado em 2015
(CONSÓRCIO ECOPLAN/SKILL, 2015). Foram apresentadas 42 (quarenta e duas)
demandas espontâneas, das quais 26 (vinte e seis) foram submetidas à contratação
imediata – 17 (dezessete) classificadas como projetos hidroambientais e 09 (nove)
como projetos de saneamento básico.
Após o encerramento dessas análises e da definição dos encaminhamentos,
a Agência Peixe Vivo lançou, em 2016, três Atos Convocatórios voltados para a
“Contratação de Consultoria Especializada para Desenvolvimento e Elaboração de
Termos de Referências para Contratações de Projetos Hidroambientais na BHRV”.
Nesse contexto, o presente trabalho teve como referência os TDR elaborados
pela Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (COBRAPE) que venceu
o processo licitatório referente ao Ato Convocatório nº. 001/2016, firmando contrato
para a elaboração de TDRs que possibilitassem a aquisição de serviços e consultorias
referentes a, inicialmente, 06 (seis) projetos priorizados pelo CBH Rio das Velhas e
pela Agência Peixe Vivo para a revitalização da bacia, que tornaram-se, na verdade,
08 (oito), pois houve desdobramentos de algumas demandas. Inicialmente, as
demandas que seriam atendidas partiram dos Subcomitês Águas da Moeda, Carste,
Nascentes, Ribeirão Arrudas, Ribeirão Onça e Rio Itabirito. Por demanda da Agência
Peixe Vivo, entretanto, um aditivo de contrato foi estabelecido para atender a mais
uma demanda do Subcomitê Águas da Moeda e também a demanda do Subcomitê
Ribeirão Jequitibá. No total, foram contemplados, portanto, 10 (dez) projetos
hidroambientais na BHRV, ao longo de 09 (nove) meses de execução do trabalho.

2 | MATERIAL E MÉTODOS

O desenvolvimento e elaboração de Termos de Referência para contratações de


projetos hidroambientais na BHRV ocorreu durante o período de 22 de junho de 2016 a
22 de março de 2017. A premissa básica adotada ao longo das atividades executadas
consistiu no envolvimento contínuo dos demandantes dos projetos, com o intuito de
que os mesmos se sentissem mobilizados e protagonistas e, consequentemente,
participassem ativamente ao longo de todo o processo de elaboração dos projetos.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 11 117


O trabalho foi desenvolvido em 03 (três) etapas, as quais serão detalhadas a
seguir.

2.1 Conhecimento das demandas


Inicialmente, a Agência Peixe Vivo encaminhou para a Cobrape as demandas
dos projetos hidroambientais de cada uma das UTEs contempladas no trabalho.
Em seguida foram realizadas reuniões junto ao CBH Rio das Velhas e à Agência
Peixe Vivo com o intuito de discutir e conhecer melhor as demandas de projetos
hidroambientais aprovadas previamente pelo Comitê. Essa etapa foi extremamente
importante para orientar os técnicos da empresa sobre os principais enfoques de
atuação em cada uma das 07 (sete) UTEs contempladas.
Para exemplificar, na Figura 1 está ilustrada uma das reuniões realizadas para
conhecimento das demandas do SCBH Águas da Moeda, junto a representantes do
Comitê e da Agência Peixe Vivo.

Figura 1 – Reunião com representantes do CBH Rio das Velhas, da Agência Peixe Vivo e do
SCBH Águas da Moeda para discussão das demandas de projetos hidroambientais na UTE
Águas da Moeda

2.2 Planejamento
Após o conhecimento das demandas, fez-se necessário o levantamento das
principais informações, características e estudos sobre cada UTE envolvida por
meio de visitas de campo iniciais e avaliação de dados secundários. Em seguida,
foi elaborado e entregue um Plano de Trabalho, que foi submetido à Agência,
contendo o detalhamento das ações que seriam executadas, bem como as principais
estratégias de comunicação e mobilização social junto aos demandantes. Além
disso, foram planejadas reuniões de alinhamento para garantir que os demandantes
e interessados pudessem colaborar com sugestões e críticas aos TDR.
Após cada reunião a empresa analisava os encaminhamentos e, quando
aprovados, os mesmos eram inseridos no documento final.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 11 118


2.3 Realização das atividades
O desenvolvimento e elaboração dos TDR junto aos demandantes e comunidades
contempladas com os projetos hidroambientais foram divididos em 09 (nove) etapas,
conforme apresentado na Tabela 1.

Etapa Descrição
Reuniões realizadas com a Agência Peixe Vivo e com o CBH Rio das Velhas, com
Reuniões
1 o objetivo de esclarecer o escopo dos serviços a serem executados e discutir a
Introdutórias
metodologia que seria adotada na condução dos trabalhos.

Reuniões realizadas com os membros de cada SCBH envolvido para


Reuniões de conhecimento das demandas dos projetos hidroambientais e alinhamento das
2 alinhamento com diretrizes gerais de execução dos trabalhos. Ao longo da elaboração dos TDR,
os demandantes quando necessário, também eram realizadas novas reuniões para adequação das
propostas aos anseios dos demandantes.

Consolidação de informações por meio de banco de dados secundários, contendo


planos, mapas, estudos, pesquisas etc., que abordassem as características
Organização de
3 físicas, bióticas e socioeconômicas das regiões que seriam contempladas com os
banco de dados
projetos hidroambientais. Esses dados serviram como subsídio para a elaboração
dos TDR e para orientar o que deveria ser checado em campo.

Boletim Informativo: Ferramenta de comunicação auxiliar com o objetivo de


ampliar o contato com os demandantes dos projetos hidroambientais, contendo
as principais informações sobre o trabalho, breve relato das atividades realizadas,
seguido de registro fotográfico das reuniões e visitas de campo. Esses boletins
eram distribuídos como mensagem eletrônica, via e-mail, para todos os membros
e suplentes dos SCBH, membros do CBH Rio das Velhas, assessoria técnica da
Ferramentas de Agência Peixe Vivo e demais interessados de cada UTE.
4 comunicação Convites: Envio de convites virtuais para reuniões aos demandantes e demais
social interessados nos projetos.
Central para contatos: Disponibilização de contato telefônico e via e-mail para
esclarecimentos de dúvidas e contribuições aos TDR pelos demandantes e
demais interessados nos projetos.
Informativo de Encerramento: Envio de Informativo de Encerramento, ao final
do processo de elaboração de cada TDR, para os respectivos SCBH e demais
interessados nos projetos.

Visitas de campo com representantes dos SCBH envolvidos e instituições


interessadas nos projetos hidroambientais, possibilitando o levantamento de
Reconheci-mento
5 dados e informações, a definição, dimensionamento e avaliação da viabilidade
in loco
técnica e econômico-financeira das intervenções e/ou estudos propostos nas
demandas dos projetos.
Elaboração A elaboração dos TDR foi conduzida principalmente no escritório da Contratada,
6 dos Termos de sendo, sempre que necessário, realizados contatos telefônicos e via e-mail com
Referência os demandantes para eventuais ajustes.

Avaliação das Ao término da elaboração dos TDR e após anuência da Agência Peixe Vivo e do
minutas dos CBH Rio das Velhas, as minutas dos Termos foram enviadas para os membros de
7
Termos de cada Subcomitê e demais atores envolvidos no processo, de forma a compartilhar
Referência o trabalho realizado e receber um parecer prévio sobre o mesmo.

Reunião de Após todos os alinhamentos necessários, foram realizadas reuniões com os SCBH
8 aprovação/ e demais interessados para apresentação e consequente aprovação/validação
validação dos TDR elaborados.

Entrega da versão Após a apresentação de cada Termo de Referência, as versões finais dos mesmos
9 final dos Termos também foram encaminhadas aos demandantes e demais interessados. Em
de Referência seguida, foram repassados para aprovação final pela Agência Peixe Vivo.

Tabela 1 – Descrição das etapas de desenvolvimento do processo participativo na elaboração


dos TDR para contratação de projetos hidroambientais na BHRV

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 11 119


Em suma, as atividades de comunicação e mobilização social desenvolvidas no
contexto da elaboração dos Termos de Referência de projetos hidroambientais estão
esquematizadas na Figura 2.

Figura 2 – Etapas estratégicas de comunicação e mobilização durante a elaboração e


desenvolvimento dos Termos de Referência dos projetos hidroambientais

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir das reuniões realizadas com a Agência Peixe Vivo, o CBH Rio das Velhas
e os respectivos SCBH, as demandas dos projetos hidroambientais puderam ser
compreendidas, analisadas, trabalhadas e transformadas em Termos de Referência
adequados à realidade de cada UTE, conforme apresentado na Tabela 2.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 11 120


População
UTE Município(s) Nome do projeto Atuação do projeto
(IBGE, 2016)

Elaboração de Diagnóstico
Hidroambiental de
Nascentes, Focos Erosivos
Microbacias dos Córregos Fechos,
e Áreas Degradadas na
Tamanduá e Marumbé, em Nova
Área de Influência Hídrica
Lima-MG
da Estação Ecológica de
Fechos, Nova Lima, Minas
Gerais

Serviços de Comunicação Região de influência hídrica


Social e Mobilização Social da Estação Ecológica de
e Comunitária em torno Fechos – centro-sul de Belo
Águas da Nova Lima- da Importância Hídrica Horizonte, condomínios e bairros
91.069 hab.
Moeda MG da Estação Ecológica de que margeiam a Unidade de
Fechos, em Nova Lima, Conservação, centro de Nova
Minas Gerais, e sua Lima, distritos São Sebastião de
Expansão Águas Claras e Honório Bicalho

Implementação do Projeto
Hidroambiental denominado
9 (nove) Sub-Bacias Hidrográficas
“Por Aqui Passa um Rio”,
da UTE Águas da Moeda
UTE Águas da Moeda,
Minas Gerais

Revitalização da Lagoa do
Fluminense, no Município
Lagoa do Fluminense, distrito de
de Matozinhos, Estado de
Mocambeiro, Matozinhos-MG
Minas Gerais

Matozinhos-
Carste 37.040 hab. Elaboração de Diagnóstico
MG
e Plano de Ações
de Lagoas Cársticas
Visando a Recuperação Lagoas Cársticas de Matozinhos-
Hidroambiental da Lagoa do MG
Fluminense, no Município
de Matozinhos, Estado de
Minas Gerais
Revitalização de Quatro
Microbacias Inseridas na Ouro Preto-MG – Microbacias dos
Ouro Preto-
Nascentes 74.356 hab. Bacia Hidrográfica do rio córregos do Andaime, Jequeti,
MG
das Velhas e na APA das Afogador e São Bartolomeu
Andorinhas

Belo 2.513.451
Horizonte-MG hab. Execução de Projeto
de Recuperação e
Sub-bacias Hidrográficas Sem
Conservação de Nascentes
Ribeirão Nome 1, dos Córregos Jatobá e
Urbanas na Bacia
Arrudas Leitão e de contribuição direta do
Hidrográfica do Ribeirão
Sabará-MG 135.196 hab. Ribeirão Arrudas
Arrudas, em Belo Horizonte
e Sabará, Minas Gerais

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 11 121


População
UTE Município(s) Nome do projeto Atuação do projeto
(IBGE, 2016)

Implementação do Projeto
Ribeirão Sete Lagoas- Hidroambiental, na UTE Sub-Bacia do Córrego Marinheiro,
234.221 hab.
Jequitibá MG Ribeirão Jequitibá, Minas em Sete Lagoas-MG
Gerais

Elaboração de Diagnóstico Bacia Hidrográfica do Ribeirão


de Nascentes Urbanas Onça – Sub-bacias do Ribeirão
Ribeirão Belo 2.513.451
na Bacia Hidrográfica do Isidoro, do Córrego Vilarinho e de
Onça Horizonte-MG hab.
Ribeirão Onça, em Belo contribuição direta do Ribeirão
Horizonte, Minas Gerais Onça

Elaboração de Diagnóstico
de Propriedades Rurais
na Sub-Bacia do Ribeirão
Sub-Bacia do Ribeirão Carioca,
Rio Itabirito Itabirito-MG 50.305 hab. Carioca, em Itabirito-MG,
em Itabirito-MG
para Subsidiar o Pagamento
por Serviços Ambientais aos
Proprietários

Legenda: IBGE = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Tabela 2 – Descrição dos projetos hidroambientais elaborados a partir das demandas por
Unidade Territorial Estratégica (UTE)

Todo o processo de mobilização social realizado durante o desenvolvimento


e a elaboração dos TDR para contratações de projetos hidroambientais na Bacia
Hidrográfica do Rio das Velhas transcorreu com bastante tranquilidade, permitindo
um trabalho mais próximo com os demandantes e com as comunidades.
Para elaboração e desenvolvimento dos Termos de Referência foram realizados
diversos encontros, contando com a participação de 437 pessoas, conforme
apresentado na Figura 3 e discutido a seguir.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 11 122


Figura 3 – Participação social nas atividades de elaboração dos Termos de Referência de
projetos hidroambientais na BHRV

Ao todo foram realizados 30 (trinta) encontros, divididos da seguinte forma:

• 2 (duas) reuniões introdutórias, 1 (uma) na Agência Peixe Vivo, que contou


com a participação de 7 pessoas, e 1 (uma) no CBH Rio das Velhas, com
participação de 9 pessoas;
• 12 (doze) reuniões de alinhamento: 4 (quatro) na UTE Águas da Moeda,
2 (duas) nas UTEs Ribeirão Arrudas e Rio Itabirito e 1 (uma) nas demais
UTEs;
• 6 (seis) visitas de campo, sendo 2 (duas) na UTE Ribeirão Arrudas e 1 (uma)
nas UTEs Águas da Moeda, Carste, Nascentes e Rio Itabirito. Nas UTEs
Ribeirão Onça e Ribeirão Jequitibá não houve necessidade de realização de
visita de campo, pois não havia previsão de intervenção física nas respecti-
vas áreas de abrangência dos projetos;
• 10 (dez) reuniões de apresentação, tendo havido necessidade de 2 (duas)
apresentações para as UTEs Águas da Moeda, Ribeirão Arrudas e Ribeirão
Onça, conforme solicitação dos respectivos SCBH.

Todos os TDR foram elaborados prezando-se a adequação à realidade local e


aos anseios dos demandantes e demais interessados, porém, por meio das reuniões
e visitas de campo pôde-se constatar que os TDR das UTEs Águas da Moeda,
Nascentes, Ribeirão Arrudas, Ribeirão Onça e Rio Itabirito foram os que mais tiveram
especificações e diretrizes mais detalhadas e objetivas, pois partiram de demandas
melhor estruturadas e, principalmente, porque contaram com a colaboração de maior
número de participantes nas atividades de mobilização social, e, portanto, contaram
com maiores contribuições dos membros dos subcomitês e comunidade em geral,
como pode ser observado na Figura 3.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 11 123


Como ferramentas de comunicação social, foram elaborados e enviados aos
demandantes e demais interessados 21 Boletins Informativos, 14 convites virtuais
e 07 comunicados de encerramento. Todas essas iniciativas foram elogiadas pelos
demandantes e demais interessados e mostraram-se bastante importantes na
divulgação do andamento das atividades, bem como dos resultados e encerramento
do trabalho.

4 | CONCLUSÃO

A aplicação dos recursos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos em bacias
hidrográficas deve priorizar a recuperação das mesmas, promovendo a melhoria da
quantidade e qualidade das águas nas bacias. Dessa forma, o presente trabalho
apresenta uma das maneiras apropriadas de utilização desses recursos através da
elaboração de projetos hidroambientais.
A iniciativa do CBH Rio das Velhas e da Agência Peixe Vivo em abrir espaço
aos SCBH e demais interessados em submeter demandas espontâneas desses tipos
de projetos é louvável e apresenta-se bastante eficiente na aplicação dos recursos
da cobrança naquilo que realmente mais afetam as comunidades e o meio ambiente
da bacia do Rio das Velhas.
Porém, a elaboração desses projetos só se mostra realmente eficiente e eficaz
quando há envolvimento de diversos atores que vivenciam a realidade de cada
bacia, o que pôde ser observado neste trabalho, o qual prezou pelo envolvimento
constante dos diversos atores-chave atuantes em cada uma das UTEs. Nesse
sentido, constatou-se que uma maior participação social contribui e muito para o
desenvolvimento de trabalhos coerentes e detalhados, em conformidade com a
realidade de cada local e com os desejos e interesses de cada comunidade.
Conclui-se, portanto, que quando há diálogo entre os responsáveis pela
gestão dos recursos hídricos e aqueles que dele dependem e querem proteger, são
apresentadas soluções social e ambientalmente mais adequadas para recuperação
das bacias hidrográficas.

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO EXECUTIVA DE APOIO À GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS PEIXE VIVO
(AGB PEIXE VIVO). (2016). Ato Convocatório no. 001/2016. Contrato de Gestão IGAM no.
002/2012. Contratação de consultoria especializada para desenvolvimento e elaboração de termos
de referências para contratações de projetos hidroambientais na bacia hidrográfica do rio das velhas.
Disponível em: <http://www.agbpeixevivo.org.br>. Acessado em: Fevereiro de 2017.

COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA RIO DAS VELHAS (CBH RIO DAS VELHAS). Deliberação
CBH Rio das Velhas nº. 10, de 15 de dezembro de 2014. Aprova o Plano Plurianual de Aplicação
dos recursos da cobrança pelo uso de recursos hídricos na bacia hidrográfica do Rio das Velhas,
referente aos exercícios 2015 a 2017 e dá outras providências. Disponível em: <http://cbhvelhas.org.
br/images/CBHVELHAS/deliberacoes/DN_010_2014_Aprova%20PPA%20_201 5_2017_CBH_Rio_
das_Velhas.pdf >. Acessado em: Maio de 2017.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 11 124


COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS VELHAS (CBH RIO DAS VELHAS). (2015).
Deliberação CBHVELHAS nº. 01, de 11 de fevereiro de 2015. Dispõe sobre os mecanismos para
a seleção de demandas espontâneas de estudos, projetos e obras que poderão ser beneficiados
com os recursos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, no âmbito do CBH Rio das Velhas,
detalhados no Plano Plurianual de Aplicação, para execução em 2015 a 2017. Disponível em: <http://
cbhvelhas.org.br/images/CBHVELHAS/deliberacoes/DN_01_2015_Dispoe_sobre_mecanismos_para_
selecao_de_demandas_espontaneas_de_estudos_projetos_e_obras.pdf>. Acessado em: Março de
2017.

CONSÓRCIO ECOPLAN ENGENHARIA, SKILL ENGENHARIA (CONSÓRCIO ECOPLAN/SKILL).


Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas 2015: Resumo
Executivo. CBH Rio das Velhas: Belo Horizonte, 2015. 233 p.

TORO, J. B.; WERNECK, N. M. Mobilização Social: um modo de construir a democracia e a


participação. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 11 125


CAPÍTULO 12

INDICADORES DE GESTÃO HÍDRICA PARA A


REGIÃO HIDROGRÁFICA GUANDU (RH II), RJ

Amparo de Jesus Barros Damasceno INDICATORS OF WATER MANAGEMENT


Cavalcante FOR THE HYDROGRAPHIC REGION
Universidade Federal Fluminense (UFF) GUANDU (RH II), RJ
Niterói, RJ
ABSTRACT: The applied research aims at the
presentation of indicators as instruments for the
proper decision making about the water resources
RESUMO: A pesquisa aplicada tem como in the Guandu Hydrographic Region (RH II).
objetivo a apresentação de indicadores como The applied methodology at the development of
instrumentos para a tomada de decisão this work was based on three stages, the first
adequada acerca dos recursos hídricos one focused on the survey of social, economic,
na Região Hidrográfica Guandu (RH II). A institutional and environmental indicators; the
metodologia aplicada no desenvolvimento second for the analysis of the indicators raised;
deste trabalho baseou-se em três etapas, sendo and the third to the result of the indicators. The
a primeira voltada para o levantamento de results showed a negative impact related to the
indicadores sociais, econômicos, institucionais current water demands and the average water
e ambientais; a segunda para a análise dos quality index of their rivers presented in most of
indicadores levantados; e a terceira para o them in bad conditions, so there is a need for
resultado dos indicadores. Os resultados improvements in the water management under
apontaram impacto negativo com relação study.
as atuais demandas hídricas e a média do KEYWORDS: Indicators, water management,
índice de qualidade da água de seus rios se hydrographic region.
apresentou na sua maioria em condições ruins,
logo existem necessidades de melhorias na
gestão hídrica em estudo. 1 | INTRODUÇÃO
PALAVRAS-CHAVE: Indicadores, gestão O processo de ocupação e uso do solo
hídrica, região hidrográfica. nas bacias dos rios Guandu, da Guarda e
Guandu-Mirim segue historicamente um
padrão semelhante ao processo de ocupação
da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Desde o período colonial, com a expansão

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 126


da lavoura canavieira e instalação de portos fluviais e marítimos, a ocupação e as
grandes intervenções estruturais nessas bacias têm ocorrido preferencialmente
sobre as planícies fluviais e flúvio-marinhas e sempre próximas às margens dos rios,
estendendo-se com menor intensidade para as colinas e encostas mais íngremes
(ANA, 2006).
Nesse processo de expansão urbana, atrelado ao crescimento da Região
Metropolitana, a extração mineral para a construção civil (de areia, principalmente)
tornou-se um grave problema socioambiental, especialmente na bacia do rio da
Guarda.
Em toda a região houve incremento de área urbana, especialmente a partir
dos núcleos situados ao longo dos vetores de crescimento da Região Metropolitana.
Destacam-se, nesse processo de urbanização, as regiões sob influência da Estrada
de Madureira (entre Comendador Soares e Cabuçu – Nova Iguaçu) e da Avenida Brasil
(Campo Grande – Rio de Janeiro). Nesta última, o avanço da urbanização consolida
a bacia do rio Guandu-Mirim como a mais afetada por este uso, proporcionalmente
às outras formas de uso do solo existentes.
Nos anos 90 a Agenda 21 reconheceu os indicadores como ferramentas
adequadas para a avaliação da sustentabilidade (JÚNIOR, 2012).
O uso de indicadores como ferramenta para o manejo adequado dos recursos
hídricos da RH II justifica-se pela importância da água tanto para a sobrevivência das
espécies quanto para o equilíbrio do meio ambiente como um todo. Sua utilização
mensura como e quanto à gestão dos recursos hídricos está caminhando sob a
ótica da sustentabilidade, observando os reflexos das ações de preservação e
conservação implementadas na região em estudo.
Essa pesquisa tem por objetivo geral apresentar indicadores como instrumentos
para a tomada de decisão adequada dos recursos hídricos da Região Hidrográfica
Guandu (RH II). Possui os seguintes objetivos específicos: expor o estado atual da
gestão hídrica na RH II, analisar e apresentar indicadores voltados para a melhor
gestão de suas águas.

2 | CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA GUANDU

A Região Hidrográfica Guandu (RH II) compreende as bacias hidrográficas dos


rios Guandu, da Guarda, Guandu-Mirim e demais bacias contribuintes à Baía de
Sepetiba, situada a oeste da bacia da Baia de Guanabara, no estado do Rio de
Janeiro. Além destas, também estão inseridas na Região a bacia hidrográfica do rio
Piraí, afluente natural do rio Paraíba do Sul, que em função da transposição de suas
águas contribui atualmente para o rio Guandu (Figura 1).
A RH II abrange 15 municípios, sendo 6 integralmente: Engenheiro Paulo de
Frontin, Itaguaí, Japeri, Paracambi, Queimados e Seropédica; e 9 parcialmente:
Barra do Piraí, Mangaratiba, Mendes, Miguel Pereira, Nova Iguaçu, Piraí, Rio Claro,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 127


Rio de Janeiro e Vassouras.
A maior singularidade dessa Região Hidrográfica se deve à transposição das
águas da Bacia do rio Paraíba do Sul para a Bacia do rio Guandu, das quais dependem
a população e indústrias ali situadas e, principalmente, a quase totalidade da região
metropolitana do Rio de Janeiro (COMITÊ GUANDU, 2017).

Figura 1 – Região Hidrográfica Guandu (RH II).


Fonte – COMITÊ GUANDU, 2017.

3 | PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Desenvolveu uma pesquisa aplicada, quantitativa e explicativa na Região


Hidrográfica Guandu (RH II), localizada no Estado do Rio de Janeiro. A RH II
abrange 15 municípios e possui uma população de aproximadamente um milhão e
meio de habitantes. e a quase totalidade da grande metrópole do Rio de Janeiro com
aproximadamente 6 milhões de habitantes.
A pesquisa realizou o levantamento, a análise e o resultado de indicadores
sociais, econômicos, institucionais e ambientais para a Região Hidrográfica Guandu
(RH II). Esses indicadores foram levantados no Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), no Instituto Estadual do Ambiente (INEA), no Comitê Guandu;
uma revisão bibliográfica em literatura específica, sites especializados e consultas a
jornais e tablóides regionais e artigos científicos.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 128


4 | DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO DA ÁGUA NO BRASIL

Na Constituição Federal de 1988, estabeleceu-se que “a conservação do meio


ambiente está diretamente ligada ao processo de desenvolvimento do país”. Nessa
constituição, a gestão da água é fundamentada legalmente, a qual determina o
regime jurídico dos cursos d’água e as competências legislativas e administrativas
das unidade das federação (JOHNSON, 1998).
O Sistema Nacional de gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH) pela Lei
9.433/97 abriu caminho para as novas bases da gestão participativa no Brasil. Os
Comitês de Bacias Hidrográficas passaram a ser importantes instâncias democráticas
de gestão da água no país, agregando diversos setores da sociedade.
O Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos do Rio de
Janeiro (SIEGRHI) foi instituído pela Lei Estadual nº 3.239/1999 visando implementar
a Política Estadual de Recursos Hídricos, arbitrar administrativamente os conflitos
relacionados com os recursos hídricos e coordenar a gestão integrada das águas,
com vista a planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos
recursos hídricos (INEA, 2017).
O Comitê Guandu criado, pelo Decreto nº 31.178 de 03 de abril de 2002, “é um
órgão colegiado, vinculado ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI),
com atribuições consultivas, normativas e deliberativas, de nível regional, integrante
do Sistema Estadual de Recursos Hídricos (SEGRHI), nos termos da Lei Estadual
nº 3.239/99”.
A área de atuação do Comitê Guandu compreende a Região Hidrográfica II
(RH II) definida, através da Resolução do CERHI-RJ nº 107, de 22 de maio de 2013.
Cabe ao Comitê Guandu “a coordenação, na sua área de atuação, das atividades
dos agente públicos e privados, relacionados aos recursos hídricos e ambientais,
compatibilizando-as com as metas e diretrizes no Plano de Bacia, bem como do
Plano Estadual de Recursos Hídricos.
A partir da criação de uma agência delegatária e da implementação do Plano
Estratégico de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas dos Rios Guandu, da
Guarda e Guandu-Mirim (PERH GUANDU), vem sendo possível desenvolver as
ações necessárias para a gestão das demandas, da quantidade e qualidade da água
e da conservação e recuperação das florestas.

5 | RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os indicadores ambientais de gestão dos recursos hídricos apontaram impactos


negativos com relação as atuais demandas de água na bacia hidrográfica do rio
Guandu, com saldo hídrico negativo de aproximadamente 23,00 m3/s. Outro impacto
negativo foi a média do índice de qualidade da água (IQANSF) dos corpos hídricos
que se apresentou na sua maioria em condições ruins, em especial o rio Queimados
e a foz do Guandu que revelou condições muito ruins (Tabela 1). O IQANSF classifica

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 129


as concentrações em: excelente (100 ≥ IQA ≥ 90), boa (90 > IQA ≥ 70, média (70 >
IQA ≥ 50), ruim (50 > IQA ≥ 25) e muito ruim (25 > IQA ≥90).
O impacto negativo na demanda hídrica apresentado na região em estudo revela
problemas de gestão na quantidade de água, logo existe a necessidade de ações
de melhorias para solucionar essa problemática, visto que atualmente o Rio Guandu
tem sido a única solução viável para o abastecimento da Região Metropolitana do Rio
de Janeiro (RMRJ), que teve sua vazão natural mínima ampliada com a transposição
dos rios Piraí e Paraíba do Sul (COELHO, 2012).
Os rios Queimados e Ipiranga também necessitam de soluções emergenciais,
visto que esses rios contaminados por efluentes domésticos e industriais deságuam
na Lagoa Guandu, localizada acima da captação da Estação de Tratamento de
Água Guandu (ETA Guandu) responsável pelo abastecimento de uma população de
aproximadamente um milhão e meio de habitantes e a quase totalidade da grande
metrópole do Rio de Janeiro com aproximadamente 6 milhões de habitantes
Segundo Júnior, 2012 o dimensionamento e o aumento dos estoques hídricos
em quantidade e qualidade foram evidenciadas no processo de avaliação de
indicadores em nível nacional, baseado na Técnica Delphi, como as linhas mestras
da valorização dos indicadores no Brasil.
Os indicadores ambientais de saneamento básico apontaram necessidades de
melhoria no saneamento básico da região em estudo, visto que os municípios em
sua totalidade apresentam apenas uma unidade que coleta e/ou recebe resíduos
sólidos de serviços de saúde séptica e uma unidade com serviço de abastecimento
de água, de esgotamento sanitário, de manejo das águas pluviais e manejo dos
resíduos sólidos. Vale ressaltar uma atenção especial ao município de Eng. Paulo
de Frontin que apresentou as menores condições de saneamento com 28,80%
adequado, 0,5% inadequado e 70,70 % semi-adequado (Tabela 2 e 3).
A região em estudo apresenta ineficiência no sistema de saneamento básico,
indicando ações de melhorias, visto que a má gestão desse sistema tem levado ao
comprometimento da qualidade da água dos corpos hídricos (rios Poços, Queimados,
Ipiranga, foz do Guandu, etc.) da RH II.
É importante destacar que o indicador de sistema de esgotamento sanitário
é irregular em toda a bacia dos rios Queimados e Ipiranga, ou seja, apenas fossas
sépticas individuais operando na faixa de 30% de eficiência de remoção de carga
orgânica (COELHO, 2012).
Apesar de não fazer parte das competências do Comitê Guandu, o setor de
saneamento está diretamente relacionado com suas funções, pois determinam o
sucesso das políticas de controle das demandas e poluição de suas águas.
Os indicadores ambientais agropecuários revelaram também necessidades
de melhorias nas maiores pastagens degradadas com 2.165 ha e maiores terras
degradadas (erodidas, desertificadas, salinizadas, etc.) com 167 ha, localizadas no
município de Piraí. Por outro lado é eficaz a preservação e conservação das maiores
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 130
áreas de matas e florestas naturais destinadas à preservação permanente com
15.356 ha e das maiores áreas de pastagens em boa condição com 8.540 ha que
estão em Rio Claro, bem como, das áreas de maior pastagens naturais com 10.825
ha em Vassouras e em Piraí (10.755,00 ha), visto sua correlação com aumento da
demanda hídrica na região em estudo que nessa pesquisa apresentou-se com saldo
negativo (Tabela 4 e 5).
Segundo Vilar, 2012 a RH II é marcada pela exploração de seus recursos
naturais, com o predomínio da pecuária leiteira de baixa produtividade que resultaram
na degradação do ambiente (desmatamentos, deterioração do solo e dos seus
recursos hídricos, assoreamento, etc.).
Os indicadores sociais, econômicos e institucionais apontou que a maior
densidade populacional (hab./km2) foi no Rio de Janeiro (5265,82 hab./km2), em
Japeri (1.166,37 hab./km2), Queimados (1.822,60 hab./km2), e Nova Iguaçu (1.527,60
hab./km2). A maior taxa de analfabetismo para pessoas com 15 anos ou mais de
idade foi de 10,20 % em Rio Claro e a menor foi no Rio de Janeiro com 2,9%, os
demais municípios apresentaram taxas aproximadas de 7% a 5%. Quanto ao índice
de desenvolvimento humano municipal na maioria dos municípios analisados se
apresentaram em condições adequadas (0,7). O rendimento médio mensal domiciliar
per capita nominal foi maior no Rio de Janeiro (1.204,00 R$), em Miguel Pereira
(718,00 R$), e Mangaratiba. (704,00 R$). Vale ressaltar que a região em estudo
contém investimentos federais no valor de 6.276.330,20 R$ e estaduais no valor
de 33.381.378,12 R$ para melhorias da gestão hídrica da RH II. Sua composição
institucional apresentou-se de forma equilibrada, sendo composta por 12 usuários
de água, 12 sociedades civis e 2 órgãos do governo federal, 3 órgãos estadual e 12
órgãos municipal (Tabela 6 e 7).
A taxa de analfabetismo nos municípios da RH II apresentou dados relevantes,
logo ressalto uma atenção especial, visto que a falta de educação, ocasiona uma
ausência de consciência ambiental, proporcionando assim uma maior degradação
de seus corpos hídricos.
Mesmo com o índice de desenvolvimento humano adequado na maioria dos
municípios analisados , a RH II apresentou ineficiências na qualidade e quantidade
de suas águas que afetam diretamente o bem estar e a saúde da população habitante
nesta Região.
A densidade populacional nos municípios do Rio de Janeiro, Japeri, Queimados
e Nova Iguaçu apresentaram valores consideráveis. Dessa maneira é de extrema
importância o acompanhamento desse indicador, no intuito de mitigar seu impacto
negativo sobre suas águas.
Apesar dos rendimentos e investimentos aplicados na região em estudo, a
gestão hídrica apresentou problemas e necessidades de melhorias. Diante deste
fato é necessário uma aplicação maior de verbas para a melhor gestão de suas
águas.
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 131
A RH II apresenta um grande vínculo com a bacia hidrográfica do rio Paraíba do
Sul, em função da transposição de vazão de até 160 m3/s, para a geração de energia
e abastecimento da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Logo em
função deste vínculo, o acompanhamento do indicador institucional é necessário,
visto que o estreitamento do relacionamento entre seus atores é quase condicionante
à integração da gestão destas bacias.

INDICADORES AMBIENTAIS DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

INEA 2017

Consórcio CBH GUANDU


CBH GUANDU 2012
ETEP-ECOLOGUS-SM 1998 2012
Corpo Hídrico

Situação Atual dos Usos da Água

Qualidade da Água
Precipitação Média

Vazão (m3/s)

Poços
Vazão Outorgável

Média Índice de
Vazão Média

Anual (mm)
Anua (m3/s)
Área (km2)

(IQA NSF)

Situação

Lançamento
(m3/s)

Captação
Usos

(+)
(-)
Vazão
(m3/s)
_ _ _ _ _ _

Abastecimento e lazer
Rio Paraíba 0,40 -0,05764 0,00000
do Sul (Santa
Cecília)
_ _ _ _
Rio Piraí 43,60 Ruim
(Tocos de
Santana)

_
Ribeirão das 333,80 5,90 1.460,80 73,20 Boa Abastecimento -64,49672 0,00000
Lajes público
_ _ _ _
UHE Pereira 163,00 120,00
Passos (a
jusante)

2,20 _ _
Ribeirão da 12,50 0,22 1.449,10 3,35 0,00000 0,02319
Esgotamento

Floresta
Sanitário

_ _ _
Rio Cacaria 74,00 1,31 1.458,90

_ _ _
Rio da Onça 54,10 0,95 1.455,00 -0,01042 0,00833
Extração de

_ _ _
Areia

Córrego dos 49,70 0,87 1.450,00


Macacos

_
Rio Macaco 76,30 1,34 1.456,10 36,50 Ruim -211,92083 211,21250
Geração de
Energia

_ _ _
Valão da 27,40 0,52 1.550,00
Areia

321,00 6,09 1.556,40 _ 58,10


Rio Santana Média
Industrial

-5,53222 0,10860
Rio São
99,70 1,88 1.547,70 _ 64,60 Média
Pedro

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 132


Poços, 243,20 3,89 1.334,30 _ _ 30,30; Ruim;
Queimados, 20,75 e Muito -0,00249 0,00082

Outros Usos
Ipiranga 30,60 Ruim e
Ruim
_ _
Guandu 93,70 1,59 1.410,50 64,80 Média
(Incremental)

-18,00000 0,00000
Guandu (Foz) 1.385,00 24,57 1.464,30 _ _ _ _

Produção de energia
1.340,70 2,16 1.340,70
Valão dos
Bois
_ _ _ _

Rio Piloto 1.309,80 1,67 1.309,80 _ _ _ _ -3,66667 0,00000

Refrigeração
Sistema de
Rio Cai Tudo 1.428,30 1,01 1.428,30
_ _ _ _

Outras demandas
Vale do 1.306,70 0,20 1.306,70 _ _ 23,00 Ruim -0,44000 0,00000
Sangue

Rio Itaguaí 1.250,00 0,10 1.250,00 _ _ 29,90 Ruim

Rio da 1.336,80 5,53 1.336,80 -60,00000 0,00000

Demanda
ambiental
Guarda (Foz) _ _ 32,40 Ruim

Rio Capenga 1.235,50 0,45 1.235,50 _ _ _ _


Total
Rio 1.250,00 0,58 1.250,00 -364,12699 211,35344
_ _ _ _
Campinho
Outorga disponível

Guandu- 1.249,00 1,22 1.249,00 130,02000


Mirim
(Montante da _ _ _ _
confluência
do rio
Campinho)
Saldo -22,75355
Guandu- 1.228,00 2,77 1.228,00 Hídrico
Mirim (Foz) _ _ 15,50 Ruim

Tabela 1 – Indicadores Ambientais de Gestão Hídrica para a RH II.

INDICADORES AMBIENTAIS DE SANAMENTO BÁSICO

CENSO IBGE 2010 CENSO IBGE 2008


Tipo de Saneamento por
Domicílios Particulares Manejo de Águas
Permanentes Abastecimento de Água Pluviais
Abastecimento de Água
Inadequado (%)

Semi Adequado

Águas Pluviais
Adequado (%)

Municípios
Com Serviços
de Drenagem

de Manejo de
Água Tratada

Com Serviço

Subterrâneo
Abastecidas
Número de
Economias

Distribuída
Volume de

(unidades)

(unidades)
(unidades)

Urbano
por Dia
(m3)
(%)

Barra do Piraí 64,30 1,20 34,50 19.672,00 15.691,00 1 1

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 133


Piraí 71,50 3,90 24,60 5.938,00 7.972,00 1 1

Eng. Paulo de 28,80 0,50 70,70 2.811,00 1.858,00 1 1


Frontin

Rio Claro 50,70 8,60 0,70 4.063,00 2.831,00 1 1

Vassouras 62,00 2,10 35,90 9.360,00 7.856,00 1 1

Mendes 43,30 1,70 55,00 _ 8.342,00 1 1

Paracambi 61,80 3,10 35,10 6.871,00 _ 1 1

Seropédica 62,00 2,50 35,60 10.407,00 _ 1 1

Itaguaí 67,00 1,40 31,60 23.655,00 42.300,00 1 1

Japeri 55,90 2,50 41,70 8.260,00 28.940,00 1 1

Miguel Pereira 39,80 1,60 58,60 6.881,00 7.603,00 1 1

Queimados 70,70 1,60 27,70 17.786,00 56.280,00 1 1

Mangaratiba 48,60 1,00 50,40 10.832,00 10.540,00 1 1

Nova Iguaçu 64,70 1,70 33,60 _ 330.000,00 1 1

Rio de Janeiro 93,50 0,00 6,50 1.894.440,00 2.877.120,00 1 1

Tabela 2 – Indicadores Ambientais de Saneamento Básico para a RH II.

INDICADORES AMBIENTAIS DE SANAMENTO BÁSICO

CENSO
CENSO IBGE 2008
IBGE 2010

Manejo de Resíduos Sólidos Gestão Municipal do Saneamento Básico


Águas Pluviais (unidades)
Serviço de Esgotamento
Coletam e/ou Recebem

Coleta Seletiva
Serviço de Manejo de
Resíduos Sólidos de

de Resíduos Sólidos
Sanitário (unidades)
Séptica (unidades)
Serviços de Saúde

Serviço de Manejo
Abastecimento de
Toda Área Urbana

Serviço de

(unidades)

(unidades)
Municípios
Todo o Município

ou Outras Áreas
Sede Municipal

Alguns Bairros
(unidades)

(unidades)

(unidades)

Barra do
_ _ 1 1 1 1 1 1
Piraí

Piraí _ _ _ 1 1 1 1 1

Eng. Paulo
_ _ _ _ 1 1 1 1
de Frontin

Rio Claro _ _ _ 1 1 1 1 1

Vassouras _ _ _ _ 1 1 1 1

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 134


Mendes _ _ 1 1 1 1 1 1

Paracambi _ 1 _ _ 1 1 1 1

Seropédica 1 _ _ 1 1 1 1 1

Itaguaí _ _ 1 1 1 1 1 1

Japeri _ _ _ 1 1 _ 1 1

Miguel
_ _ _ 1 1 1 1 1
Pereira

Queimados _ _ _ 1 1 1 1 1

Mangaratiba _ _ _ 1 1 _ 1 1

Nova Iguaçu 1 _ _ 1 1 1 1 1

Rio de
_ _ 1 1 1 1 1 1
Janeiro

Tabela 3 – Indicadores Ambientais de Saneamento Básico para a RH II.

INDICADORES AMBIENTAIS AGROPECUÁRIOS

CENSO
CENSO IBGE 2006
IBGE 2010

ÁREA DOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS


Construções, Benfeitorias ou

Lavouras Matas e Florestas


Municípios

Caminhos (ha)

Forrageira para Corte

Naturais Destinadas

Florestas Plantadas
Área Plantada com

Reserva Legal (ha)


Área de Cultivo de

Agroflorestais (ha)
Permanente (ha)

Naturais (Exceto

as em Sistemas
Temporária (ha)

Permanente ou

com Essências
Florestais (ha)
à Preservação

à Preservação
as Destinadas

Permanente e
Flores (ha)

(ha)

Barra do
844,00 _ 2.138,00 973,00 127,00 2.692,00 864,00 _
Piraí

Piraí 1.807,00 _ 661,00 2.502,00 578,00 2.376,00 1.604,00 227,00

Eng. Paulo
627,00 _ 213,00 23,00 31,00 679,00 1.030,00 _
de Frontin

Rio Claro 1.205,00 _ 2.054,00 432,00 448,00 8.540,00 11.768,00 _

Vassouras 743,00 13,00 1.341,00 222,00 624,00 2.628,00 1.632,00 124,00

Mendes 16,00 _ 418,00 _ 5,00 35,00 15,00 _

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 135


Paracambi 110,00 _ 129,00 655,00 227,00 712,00 133,00 _

Seropédica 872,00 _ 264,00 2.185,00 1.932,00 118,00 288,00 _

Itaguaí 315,00 _ 133,00 1.843,00 210,00 1.071,00 38,00 _

Japeri 558,00 _ 387,00 458,00 2.829,00 25,00 34,00 3,00

Miguel
270,00 13,00 385,00 79,00 180,00 434,00 98,00 _
Pereira

Queimados 32,00 _ 7,00 124,00 77,00 6,00 3,00 2,00

Mangaratiba 95,00 3,00 64,00 1.940,00 359,00 1.409,00 312,00 _

Nova Iguaçu 221,00 _ 53,00 268,00 303,00 724,00 91,00 _

Rio de
444,00 715,00 183,00 2.571,00 1.764,00 849,00 606,00 8,00
Janeiro

Tabela 4 – Indicadores Ambientais Agropecuários para RH II.

INDICADORES AMBIENTAIS AGROPECUÁRIOS

CENSO IBGE
CENSO IBGE 2006
2010

ÁREA DOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS

Sistemas
Pastagens
Agroflorestais Terras
Degradadas
Municípios (Erodidas,
Áreas com Espécies
Plantadas Desertificadas,
Plantadas Florestais Variadas
Naturais em Boa Salinizadas,
Degradadas para Lavoura e
(ha) Condição etc.) (ha)
(ha) Criação de Animais
(ha)
(ha)

Barra do Piraí 8.250,00 153,00 3.034,00 1.732,00 86,00

Piraí 10.755,00 2.165,00 1.212,00 527,00 167,00

Eng. Paulo de
510,00 249,00 227,00 223,00 _
Frontin

Rio Claro 10.059,00 850,00 15.356,00 1.369,00 9,00

Vassouras 10.825,00 1.087,00 11.573,00 149,00 67,00

Mendes 253,00 _ 25,00 115,00 _

Paracambi 1.317,00 _ 602,00 146,00 19,00

Seropédica 3.351,00 32,00 483,00 42,00 47,00

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 136


Itaguaí 1.417,00 778,00 1.461,00 77,00 8,00

Japeri 227,00 5,00 42,00 1.223,00 1,00

Miguel Pereira 1.273,00 232,00 2.214,00 145,00 14,00

Queimados 162,00 7,00 8,00 292,00 4,00

Mangaratiba 3.570,00 100,00 449,00 88,00 21,00

Nova Iguaçu 1.562,00 _ 26,00 8,00 _

Rio de Janeiro 1.030,00 48,00 891,00 26,00 34,00

Tabela 5 – Indicadores Ambientais Agropecuários para RH II.

INDICADORES SOCIAIS E ECONÔMICOS

Social Econômico

CENSO IBGE 2010 COMITÊ


GUANDU 2017
Densidade Populacional Total (hab/

Domiciliar Per Capita Nominal (R$)


População
(15

Rendimento Médio Mensal


Investimentos
Anos ou Mais de Idade)

PIB PER CAPITA (R$)


(R$)
Taxa de Analfabetismo
Município

Urbana (hab.)

IDH-M
km2)
Rural (hab.)

Total (hab.)

(%)

Estadual
Federal
91.957,00 2.821,00 94.778,00 163,70 4,50 0,73 15.531,96 614,00
Barra do Piraí
20.836,00 5.478,00 26.314,00 52,07 7,20 0,71 39.725,35 567,00
Piraí

Eng. Paulo de 9.523,00 3.714,00 13.237,00 99,57 5,80 0,72 12.740,93 505,00
Frontin
13.769,00 3.656,00 17.425,00 20,81 10,20 0,68 11.860,14 541,00
Rio Claro
23.199,00 11.211,00 34.410,00 63,94 7,70 0,71 14.258,57 609,00
Vassouras
17.701,00 234,00 17.935,00 184,83 5,50 0,74 9.613,84 583,00
Mendes
33381378,12
6276330,20

41.722,00 5.402,00 47.124,00 262,27 5,50 0,72 9.573,28 517,00


Paracambi
64.285,00 13.901,00 78.186,00 275,53 5,90 0,71 10.754,58 528,00
Seropédica
104.209,00 4.882,00 109.091,00 395,45 5,40 0,72 42.595,30 546,00
Itaguaí
95.492,00 _ 95.492,00 1.166,37 7,10 0,66 7.264,49 368,00
Japeri
21.501,00 3.141,00 24.642,00 85,21 6,80 0,75 14.596,66 718,00
Miguel Pereira
137.962,00 _ 137.962,00 1.822,60 5,70 0,68 14.734,67 432,00
Queimados
32.120,00 4.336,00 36.456,00 102,29 4,10 0,75 48.810,75 704,00
Mangaratiba
787.563,00 8.694,00 796.257,00 1.527,60 4,60 0,71 12.754,86 493,00
Nova Iguaçu
632.046,00 _ 6.320.446,00 5.265,82 2,90 0,80 32.919,88 1.204,00
Rio de Janeiro
Tabela 6 – Indicadores Sociais e Econômicos para RH II.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 137


Não consta informação os dados com (_).

INDICADORES INSTITUCIONAIS

Base Legal Sociedade Civil Usuários Órgãos de Governo

Federal Estadual Municipal

130 UEZO - Centro Universitário CEDAE- CREA-RJ INEA- Prefeituras


Resoluções da Zona Oeste; UFRRJ- Sistema Guandu e ICMBIO- Instituto Municipais:
Universidade Federal Rural Abastecimento; Instituto Chico Estadual do Queimados;
do Rio de Janeiro; FAETERJ CEDAE-Companhia Mendes de Ambiente; Barra do
Paracambi; TNC-The Nature Estadual de Água Conservação da EMATER- Piraí; Piraí;
Conservancy; APEDEMA- e Esgoto do Rio de Biodiversidade. Rio/Itaguaí; Rio Claro;
RJ-Assembléia Permanente Janeiro; FIRJAN- FIPERJ- Japeri;
de Entidades em Defesa do Federação das Fundação Mangaratiba;
Meio Ambiente; CI- Indústrias do Instituto Nova Iguaçu;
Brasil-Conservação Rio de Janeiro; de Pesca Seropédica;
Internacional Brasil; ONG O Thyssenkrupp do Estado Paracambi;
Nosso Vale, a nossa Vida; CSA; FCC S.A- do Rio de Itaguaí;
Acampar-RJ-Associacão dos Fábrica Carioca Janeiro Miguel
Criadores de Abelhas Nativas de Catalizadores; e SEA- Pereira e
e Exóticasdo Médio Paraíba, ASDINQ-Associação Secretaria Mendes.
Sul, Centro-Sul e Baixada das Empresas do de Estado
Fluminense; OMA Brasil; Distrito Industrial do
ABES-Associacão Brasileira de Queimados; Ambiente.
de Engenharia Sanitária e Associacão dos
Ambiental e SINTSAMA-RJ. Produtores Rurais de
Guaratiba; FURNAS
Centrais Elétricas
S.A; Lajes Energia
S.A; LIGHT Energia
S.A e SIMARJ-
Sindicato dos
Mineradores de Areia
do Rio de Janeiro.

Tabela 7 – Indicadores Institucionais para a RH II.

6 | CONCLUSÃO

Os indicadores apresentados revelam a atual situação da gestão hídrica na RH


II e mostraram-se eficaz para o monitoramento do bem-estar social, das relações
de integração institucional e dos investimentos aplicados na RH II. Além disso,
esse indicadores subsidiarão o Comitê Guandu na tomada de decisão adequada a
cerca de seus recursos hídricos e na atualização do Plano Estratégico de Recursos
Hídricos das Bacias Hidrográficas dos Rios Guandu, da Guarda e Guandu-Mirim.

REFERÊNCIAS
ANA – Agência Nacional de Águas. Relatório do Plano Estratégico de Recursos Hídricos das
Bacias Hidrográficas dos Rios Guandu, da Guarda e Guandu-Mirim. Volume 1. Brasília, DF, 2006.
260 p.;

COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA GUANDU. “Bacia Hidrográfica dos Rios Guandu, da Guarda
e Guandu-Mirim – Experiências para a gestão dos recursos hídricos”, In: Coelho, F, M.; Antunes,
J, C, O.; et al., Balanço hídrico da bacia hidrográfica do rio Guandu com as novas demandas por água

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 138


e com a expansão prevista. INEA: Rio de Janeiro, 2012. 340 p.;

COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA GUANDU., “Bacia Hidrográfica dos Rios Guandu, da


Guarda e Guandu-Mirim – Experiências para a gestão dos recursos hídricos”, In: Vilar, M, B.;
Bustamante, J., Ruiz, M.; et al., Produtores de Água e Floresta, Rio Claro, Rio de Janeiro, INEA, Rio
de Janeiro, 2012, 340 p.;

COMITE GUANDU. Apresentação. Disponível em: http://www.comiteguandu.org.br/apresentacao.


php. Acesso em: 15/03/2017.;

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Disponível em http://cidades.ibge.gov.


br/xtras/home.php. Acessado em: 15/03/2017.;

INEA – Instituto Estadual do Ambiente. Institucional. Disponível em: http://www.inea.rj.gov.br/Portal/


MegaDropDown/Institucional/OqueeoINEA/index.htm&lang. Acesso em: 15/03/2017.;

JOHNSSON, R. M. F. Lês Eaux Brésiliennes: Analyse du Passage à une Gestion Integrée dans
l’État de São Paulo. Paris: Sciences et Techniques de l’ Environnement, Université Paris XII, Tese de
D.Sc., 1998. 275-302 p.; e

JÚNIOR, A. P. M. Indicadores ambientais e recursos hídricos: realidade e perspectivas para o


Brasil a partir da experiência francesa. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. 688 p.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 12 139


CAPÍTULO 13

SANEAMENTO, MOBILIZAÇÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO


AMBIENTAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA NA
COMUNIDADE RURAL DE MOCAMBO (SEABRA-BA)

Renavan Andrade Sobrinho Dialética. Atua como psicóloga clínica, realiza


Engenheiro Civil e Engenheiro Sanitarista e acompanhamento psicológico em consultório
Ambiental pela Universidade Federal da Bahia. particular e na instituição social “ICTS - Instituição
Pós-graduado em Gestão Empresarial pela de Cidadania, Trabalho e Responsabilidade
Fundação Getúlio Vargas – FGV e em Engenharia Social”.
de Segurança do Trabalho pela Faculdade de
Tecnologia e Ciências – FTC. Mestre em Meio
Ambiente, Águas e Saneamento pela UFBA.
RESUMO: Diante do atual cenário cujo déficit
Professor Assistente da Universidade Federal
da Bahia e Engenheiro da Empresa Baiana de dos serviços essenciais atinge principalmente
Águas e Saneamento S/A. Ex-Superintendente de a zona rural, como também a zona urbana
Saneamento do Estado da Bahia (2011-2014). Ex- periférica, faz-se necessária a constante busca
presidente da ABES Seção Bahia (2011-2014). pela universalização do saneamento, de forma
Endereço (1): Rua Professor Aristídes Novis, 2 equitativa, com o uso de tecnologias apropriadas
- Federação, Salvador - BA, 40210-630 - Brasil - para comunidades rurais e tradicionais. As
e-mail: renavansobrinho@gmail.com atividades foram realizadas para a comunidade
Gabriela Marques de Oliveira Vieira de Mocambo (Seabra-Ba). Foi preciso identificar
Engenheira Sanitarista e Ambiental pela o problema do local no âmbito do saneamento
Universidade Federal da Bahia. Gerente Geral
ambiental, inclusive do ponto de vista dos
da Central de Associações Comunitárias para
moradores, para que todas as intervenções
Manutenção dos Sistemas de Saneamento de
Seabra (Ba).
ocorressem em consonância com os interesses
de quem vive na comunidade. Para tal fim, a
Gislene Esquivel de Siqueira
Engenheira Ambiental e Sanitarista pela
equipe buscou métodos convidativos para
Faculdade de Ciência e Tecnologia - Área 1 – conduzir a comunicação com a comunidade, tais
DeVry Brasil. Pós graduanda em Engenharia de como conversas em grupo, entrevistas com as
segurança do Trabalho. famílias para preenchimento de questionários
Ravine Trindade Galliza pré-estruturados, dinâmicas de grupo, oficinas,
Engenheira Sanitarista e Ambiental pela dentre outras atividades. É notório o resultado
Universidade Federal da Bahia. das atividades realizadas na comunidade de
Luana Karina dos Santos Pereira Mocambo, pois os moradores já participam em
Psicóloga pela Universidade Federal da Bahia. maior número das atividades realizadas pela
Membro do GT Terapia Comportamental equipe, o que resultou numa maior adesão dos

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 13 140


mesmos na associação comunitária existente, mostrando a elevação da auto-estima
da comunidade e o engajamento na coletividade, em busca do desenvolvimento local.
PALAVRAS-CHAVE: Saneamento rural, Gestão comunitária, Mocambo, Seabra

SANITATION, SOCIAL MOBILIZATION AND ENVIRONMENTAL EDUCATION:


REPORT OF EXPERIENCE IN THE RURAL COMMUNITY OF MOCAMBO
(SEABRA-BA)

ABSTRACT: In the face of the current scenario where the deficit of essential services
reaches mainly the rural area, as well as the peripheral urban area, a constant search
for the universalization of sanitation, equitably, is necessary with the use of appropriate
technologies for rural and traditional communities. The activities were carried out for the
community of Mocambo (Seabra-Ba). It was necessary to identify the local problem in
the area of environmental sanitation, including from the point of view of the residents, so
that all interventions occurred in line with the interests of those living in the community.
To this end, the team looked for inviting methods to conduct communication with the
community, such as group conversations, interviews with families to fill in pre-structured
questionnaires, group dynamics, workshops, among other activities. The results of the
activities carried out in the community of Mocambo are notorious, since the residents
already participate in a greater number of activities carried out by the team, which
resulted in a greater adherence to the existing community association, showing the
elevation of community self-esteem and engagement in the community, in search of
local development.
KEYWORDS: Rural sanitation, Community management, Mocambo, Seabra

INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

A carência na cobertura e qualidade dos serviços públicos de saneamento


básico é evidente em quase todo o Brasil, principalmente na zona rural. Tais serviços
são fundamentais na qualidade de vida da população, tendo influência no ambiente,
saúde e educação. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, “Saneamento
é o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem
exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar físico, mental e social” (OMS, 2016). E em
conformidade com a FUNASA (2006), saneamento é “o conjunto de medidas que
visam à modificação das condições do meio ambiente com a finalidade de promover
a saúde e prevenir as doenças”.
Tais serviços encontram-se preconizados na Lei Nacional de Saneamento
Básico no. 11.445/2007, em seu Artigo 3º, que traz saneamento básico como “o
conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de: abastecimento de
água potável; esgotamento sanitário; limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos;
drenagem e manejo das águas pluviais urbanas” (BRASIL, 2007, p.02). Diante do
atual cenário cujo déficit desses serviços essenciais atinge principalmente a zona
rural, como também a zona urbana periférica, faz-se necessária a constante busca

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 13 141


pela universalização do saneamento, de forma equitativa, com o uso de tecnologias
apropriadas para comunidades rurais e tradicionais.
De acordo com Brasil (1999) em seu artigo1º, entende-se por educação
ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para
a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade. Assim sendo, para a eficiência de qualquer
processo de educação ambiental faz-se necessária uma comunicação adequada com
o indivíduo ou o coletivo com o qual se trabalha. Dessa forma, o projeto de extensão,
caracteriza uma importante ferramenta de transformação social, possibilitando uma
construção de espaço de interação e produção de conhecimentos, representando
um salto expressivo nas atividades extramuros.
Outrossim, Scisleski e Tittoni (2006) destacam que a escuta é um importante
instrumento no trabalho com a comunidade, mostra-se como um instrumento que dá
visibilidade ao outro, respeitando a legitimidade de suas peculiaridades, permitindo
que as diferenças presentes nos modos de existir sejam reconhecidas, legitimadas e
problematizadas, sendo importante para recriar processos de singularização. O projeto
da ACCS (Ação Curricular em Comunidade e Sociedade) intitulado “Saneamento,
Mobilização Social e Educação Ambiental em Comunidades Rurais” atua com ações
junto à comunidade rural de Mocambo, município de Seabra na Bahia, visando
promover interação dos estudantes com os moradores da comunidade no sentido de
aprimorar as condições de saneamento local, através de ações educativas ligadas
à educação ambiental e sanitária; buscar melhorias na saúde da população e por
consequência na qualidade de vida; fomentar a participação social fortalecendo o
modelo Central de Associações Comunitárias na gestão dos serviços de saneamento;
bem como fortalecer a atuação no saneamento rural.

METODOLOGIA

O trabalho objeto de estudo foi desenvolvido pela turma da ACCS ENGM20,


que é formada por uma equipe multidisciplinar de discentes da Universidade Federal
da Bahia juntamente com a equipe de monitoria, sendo que a primeira turma teve
início no semestre letivo de 2015.2, onde os alunos juntamente com o professor
orientador realizam encontros semanais. A ACCS atua na comunidade de Mocambo,
que encontra-se localizada na zona rural, no município de Seabra-BA (Figura 1).
As visitas à área de estudo ocorrem mensalmente onde a equipe interage com os
moradores, realizando atividades lúdicas de mobilização social, além de atividades
específicas para tratar das questões do saneamento local e permitindo a troca de
saberes, entre estudantes e comunidade.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 13 142


Figura 1 - Localização da área de estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A ACCS em questão possui uma equipe multidisciplinar com discentes dos


cursos de saúde, engenharias, serviço social, psicologia, geografia, bacharelado
interdisciplinar em saúde, filosofia, dentre outros. Essa formação proporciona contato
com diferentes áreas de conhecimento e visões diferenciadas sobre o mesmo
tema, o que considera-se uma grande vantagem para essa atividade. Os encontros
semanais ocorrem aos sábados e são construídos de forma coletiva, os monitores
junto com o professor orientador guiam esses momentos, onde ocorrem leituras e
debates de textos orientadores, aulas técnicas, dinâmicas e outras atividades de
preparação da equipe para as visitas na comunidade.
Inicialmente objetivou-se a realização de diagnóstico da comunidade, para
isso foram obtidos dados primários através de um questionário pré-estruturado
elaborado pelos alunos da disciplina que constava com 45 questões, divididas em
quatro blocos tais como: dados de identificação das residências e dos moradores,
condições socioambientais, de saúde e de saneamento. A partir da obtenção das
informações sobre a comunidade pôde-se realizar as atividades de acordo com as
necessidades da comunidade.
Fez-se necessário também levantar o conhecimento da comunidade, seus
moradores, seu lugar e costumes. Além disso, foi preciso identificar o problema do
local no âmbito do saneamento ambiental, inclusive do ponto de vista dos moradores,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 13 143


para que todas as intervenções ocorressem em consonância com os interesses de
quem vive na comunidade de Mocambo. Para tal fim, a equipe buscou métodos
convidativos para conduzir a comunicação com a comunidade, tais como conversas
em grupo, entrevistas com as famílias para preenchimento de questionários pré-
estruturados, dinâmicas de grupo, oficinas, dentre outras atividades. Algumas das
atividades realizadas pela turma de estudantes, juntamente com a comunidade
foram:

• Visita a Central de Associações Comunitárias de Seabra (Ba);


• Visita ao vazadouro a céu aberto de Seabra;
• Visita a locais de venda de materiais recicláveis;
• Oficina de reutilização de garrafa PET;
• Oficina de segregação de resíduos (pintura de tonéis);
• Oficina de limpeza de filtros de barro;
• Amostragem para controle de qualidade da água
• Realização de implantação de descarga na rede de instalação de água;
• Mapeamento da área de estudo;
• Estudos iniciais para reflorestamento das matas ciliares;
• Dinâmicas interativas;
• Oficina de limpeza de reservatórios e respectiva limpeza do reservatório da
comunidade;
• Atividades sobre coleta seletiva;
• Atividades sobre saneamento básico e saúde;
• Atividades lúdicas com as crianças em todas as descidas relacionadas ao
saneamento básico, saúde e meio ambiente.

As Figuras 2 a 8 representam algumas dessas atividades.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 13 144


Figura 2 - Visita a Central de Associações Comunitárias de Seabra.

Figura 3 - Oficina de reutilização de garrafa PET

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 13 145


Figura 4 - Amostragem de qualidade da água

Figura 5 - Limpeza de reservatórios

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 13 146


Figura 6 - Implantação de descarga em rede de distribuição

Figura 7 - Oficina sobre Saneamento e Saúde

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 13 147


Figura 8 - Atividades sobre reciclagem e coleta seletiva com crianças

Dentre os resultados preliminares foi possível identificar a necessidade de uma


maior mobilização da comunidade, assim como do fortalecimento da associação
comunitária para decidir questões, sobre o saneamento ambiental local. Dois aspectos
críticos foram a distribuição e qualidade da água e o manejo de resíduos sólidos.
Além de se tratar de um direito garantido por lei, tendo em vista a essencialidade dos
serviços de saneamento básico, a universalização, qualidade e equidade se tornam
fundamentais, visto que influenciam na qualidade de vida da população e do meio
ambiente.
O abastecimento de água é fornecido pela Central de Associações Comunitárias
(CENTRAL) com sede em Seabra. Existem queixas de alguns moradores sobre a
qualidade da água fornecida, a qual é extraída de um poço artesiano antigo que
será desativado, assim que for perfurado um novo. Essa pesquisa já está sendo
realizada pela responsável administrativa, visando a melhoria da qualidade da água
para abastecimento da comunidade, inclusive com a possibilidade de perfuração de
um novo poço.
Muitos alunos tiveram as suas primeiras experiências com o trabalho com
comunidade rural e com o saneamento rural. Os mesmos estudaram e aprenderam
sobre educação popular, formas de como se comportar em trabalhos com
comunidade rural, além de desenvolverem técnicas para realização de atividades
mais específicas, as quais eram realizadas na comunidade por meio de oficinas.
Houve também uma troca de conhecimento interessante entre os estudantes de
engenharia e os estudantes da área de ciências humanas. Os estudantes das áreas
de ciências humanas conseguiram passar e desenvolver atividades de mobilização
social e os de engenharia também conseguiram passar para os demais estudantes
os conhecimentos relacionados ao saneamento básico proporcionando uma troca de

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 13 148


saberes entre eles. É importante ressaltar que apesar da afinidade dos estudantes
por áreas específicas, no desenvolvimento da comunidade todos os estudantes
trabalharam em diferentes áreas, aumentando dessa forma o aprendizado.
O desenvolvimento do trabalho com as crianças da comunidade foi um fato
a destacar, pois eram feitas oficinas separadas em todos os turnos das visitas na
comunidade, porém relacionadas, em sua maioria, com os temas discutidos com os
adultos, com foco em saneamento básico, saúde e meio ambiente.
Os ganhos para a comunidade aumentam a cada visita. Ao final do ano de 2016
a Central, entidade responsável pelos serviços de abastecimento de água, buscou
a instalação de um novo poço, o que será um imenso ganho para a comunidade.
Além disso, está em processo de inicialização a coleta de lixo por parte de uma
cooperativa, portanto, os resíduos sólidos não serão mais encaminhados para o
vazadouro a céu aberto (lixão).
Segundo os próprios moradores, a comunidade está mais mobilizada e confiante
no trabalho. As reuniões da associação estão sempre cheias e cada dia que passa
mais pessoas se filiam à associação, percebendo a importância da solução coletiva
dos seus problemas.
Paulo Freire (1982) cita que “estar com os outros significa necessariamente
respeitar nos outros o direito de dizer a palavra” e completa dizendo “isso significa
então que é preciso eu também saber ouvir”. Esse é um dos ensinamentos que
baseiam a relação da equipe com a comunidade. Cada atividade é desenvolvida
com respeito, compromisso e envolvimento com a população, onde a monitoria
(docente e discentes) entendem que é necessário que haja confiança mútua para
que o trabalho em conjunto alcance os resultados esperados.

CONCLUSÃO

A Universidade defende o tripé ensino, pesquisa e extensão, por entender a


função dessas ações integradas na formação de um profissional mais completo e
preparado. Dessa forma, faz-se necessário que durante a graduação, os discentes
sejam sensibilizados e preparados para lidar com a pluralidade presente nos diferentes
contextos, contribuindo assim para uma formação diferenciada e humanizada. A
educação dos discentes deve ir além de atividades desenvolvidas dentro das salas
de aula na Universidade. A prática educativa deve promover o contato direto com
situações cotidianas nos determinantes culturais, sociais, políticos e econômicos.
Nessa perspectiva, as atividades com comunidades contribuem com esse objetivo.
É esperado que as intervenções realizadas na comunidade não soem como
assistencialismo, mas como contribuição para uma melhor gestão e manutenção do
projeto iniciado pela equipe da ACCS, desenvolvido em conjunto com a comunidade,
e consequente melhoria da saúde e da qualidade de vida dos moradores, além do
fortalecimento da associação comunitária, da compreensão e fortalecimento do

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 13 149


modelo Central de Associações e empoderamento da comunidade local.
É notório o resultado das atividades realizadas na comunidade de Mocambo.
Os moradores já participam em maior número das atividades realizadas pela
equipe, sejam eles crianças, jovens, adultos e idosos, vivenciando-se o despertar
para o exercício da cidadania, o que resultou numa maior adesão de moradores na
associação comunitária existente, com novas perspectivas acerca da participação em
cooperativas, mostrando a elevação da autoestima da comunidade e o engajamento
na coletividade, em busca do desenvolvimento local.

REFERÊNCIAS
FREIRE, P. Ação Cultural para a Liberdade: e outros escritos. 6° ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1982.

BRASIL Lei Federal N° 9.795, de 27 de abril de 1999. Estabelece a Política Nacional de Educação
Ambiental. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9795.htm>. Brasília, DF, 1999.
Acesso em: 11 janeiro de 2017.

BRASIL. Lei Federal no 11.445, de 05 de jan. de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o
saneamento básico. Brasília, DF, 2007.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – OMS. Disponível em: <http://www.who.int/en/>. Acesso em:


08 de janeiro de 2017.

SCISLESKI, A.C.C.; MARASCHIN, C.; TITTONI, J. A psicologia social e o trabalho em


comunidades: limites e possibilidades. Revista Interamericana de Psicologia, v.40, n.1, p.51-58,
2006.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 13 150


CAPÍTULO 14

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO COMPOSTO


RESIDUAL DA PRODUÇÃO DE FUNGO PLEUROTUS
OSTREATUS NA REMOÇÃO DE CORANTES EM
EFLUENTES TÊXTEIS

André Aguiar Battistelli de resíduos da produção de fungos para


Pós-doutorando no programa de pós-graduação degradação e adsorção de corantes. Para
em Engenharia Ambiental da Universidade tanto, testes laboratoriais foram realizados
Federal de Santa Catarina – Florianópolis, Santa
buscando avaliar a capacidade de remoção de
Catarina.
corantes nestes efluentes a partir do emprego
Luigi Luckner Bogoni de um composto residual (CR) da produção do
Graduado em Engenharia Sanitária e Ambiental
fungo Pleurotus ostreatus, o qual foi aplicado
pela Universidade Federal de Santa Catarina –
Florianópolis, Santa Catarina. diretamente sobre o efluente sob agitação
constante em diversas concentrações (10, 50,
Rodrigo Felipe Bedim Godoy
Mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e 55, 100 e 150 g L-1), temperaturas (25, 45 e
Ambiental pela Universidade Federal do Paraná - 65 oC), e faixas de pH (5, 7 e 9). Além disso,
Curitiba, Paraná após a determinação da melhor condição
Maria Eliza Nagel Hassemer experimental, também foram estudados os
Professora Adjunta do departamento de possíveis mecanismos de remoção ocorridos.
Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Verificou-se que a condição operacional
Santa Catarina - Florianópolis, Santa Catarina. considerada ótima foi obtida com pH 9 e
Flávio Rubens Lapolli concentração de substrato de 150 g L-1. Sob tal
Professor Titular do departamento de Engenharia condição a eficiência de remoção de cor obtida
Ambiental da Universidade Federal de Santa foi próxima a 80%. Constatou-se ainda, que o
Catarina - Florianópolis, Santa Catarina.
principal mecanismo de remoção ocorrido foi o
processo de adsorção, entretanto, o processo
de degradação enzimática também contribuiu
RESUMO: A preocupação ambiental existente para o aumento da eficiência observada. Assim,
em torno da indústria têxtil, principalmente por de maneira geral, tais resultados demonstram o
conta de seus efluentes com alta carga de elevado potencial da utilização de um resíduo
corantes e substâncias tóxicas, exige sistemas agroindustrial como uma tecnologia sustentável
de tratamento capazes de remover cor para para o tratamento de efluentes da industrial
atendimento da legislação. Neste contexto, têxtil.
este trabalho teve por objetivo estudar um PALAVRAS-CHAVE: Corantes, Pleurotus
meio alternativo aos métodos físico-químicos ostreatus, efluente têxtil.
aplicados atualmente, baseado na utilização

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 151


ASESSMENT OF RESIDUAL COMPOST EFFICIENCY OF PLEUROTUS
OSTREATUS FUNGI PRODUCTION IN THE REMOVAL OF DYES IN TEXTILE
EFFLUENTS

ABSTRACT: The environmental concern surrounding the textile industry is mainly due
to its effluents with high loading of dyes and toxic substances. Therefore, it requires
treatment systems capable of removing color to comply with the legislation. In this context,
the objective of this work was to study an alternative medium to the physicochemical
methods currently applied, based on the use of residues from the production of fungi
for degradation and adsorption of dyes. For this purpose, laboratory tests were carried
out to evaluate the dye removal ability of these effluents from the use of a residual
compound (CR) of the Pleurotus ostreatus fungus, which was applied directly to the
effluent under constant agitation at various concentrations (10, 50, 55, 100 and 150 g
L-1), temperatures (25, 45 and 65 oC), and pH ranges (5, 7 and 9). In addition, after the
determination of the best experimental condition, the possible mechanisms of removal
were also studied. It was verified that the operational condition considered optimal was
obtained with pH 9 and substrate concentration of 150 g L-1. Under such condition the
obtained color removal efficiency was close to 80%. It was also observed that the main
removal mechanism occurred was the adsorption process, however, the enzymatic
degradation process also contributed to the increased efficiency observed. Thus, in
general, these results demonstrate the high potential of the use of agroindustrial waste
as a sustainable technology for the treatment of effluents from the textile industry.
KEYWORDS: Dyes, Pleurotus ostreatus, Textile effluent.

1 | INTRODUÇÃO

O elevado consumo de água e, consequentemente, a alta geração de despejos,


são características das várias etapas do beneficiamento de tecidos das indústrias
têxteis. Durante tais processos, são utilizados diferentes produtos químicos, os
quais são dispostos de maneira imprópria nos corpos hídricos, podendo ocasionar,
além da poluição visual, diversos danos ao ambiente, uma vez que tais compostos
apresentam alta carga orgânica e presença de poluentes persistentes de estruturas
complexas, como os corantes (CPRH, 2001).
Nesse viés, é notável um interesse considerável com o problema da cor
nos cursos de água nas últimas décadas. Embora parte dessa cor normalmente
se apresente de origens “naturais” como por exemplo, as águas provenientes de
regiões pantanosas, uma proporção considerável se origina de efluentes industriais,
especialmente em rios que drenam grandes conurbações industriais (METCALF;
EDDY, 2014). Dentre estes efluentes, alguns estão associados à produção e uso
de corantes, nesse caso, além do problema da cor, existe a preocupação de que
alguns corantes azóicos sejam tóxicos ou possam ser biologicamente modificados
para compostos tóxicos ou carcinogênicos (CLARK, 1995).
Diante deste cenário, é importante destacar que os processos biológicos de

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 152


lodos ativados, que são os sistemas normalmente empregados para o tratamento
de efluentes contendo corantes, geralmente apresentam grande dificuldade na
degradação desses compostos, provavelmente devido à sua estrutura química
complexa e muito variada (SOARES et al., 2014). Da mesma forma, os métodos
químicos ou físico-químicos são geralmente caros e de aplicabilidade limitada
(SENGIL; OZACAR, 2009). Assim, é evidente a necessidade do desenvolvimento
de um método biológico prático de tratamento de resíduos contendo corantes que
possa ser usado para uma ampla gama de resíduos.
Nesse contexto, apesar da maioria dos corantes não apresentarem sensibilidade
ao ataque de microrganismos usados convencionalmente (tratamento aeróbio e
anaeróbio), muitos pesquisadores têm apontado a biodegradação – por meio de
enzimas de fungos e bactérias – e a biomassa (material capaz de retirar o corante
dissolvido) como técnicas promissoras para remoção e / ou degradação de efluentes
têxteis (ZANONI; CARNEIRO, 2001). De acordo com Stamets (2005) esta condição
é possível devido à elevada capacidade de determinadas espécies de fungos
degradarem uma ampla gama de substâncias químicas sintéticas, muitas das quais
são recalcitrantes à biodegradação, tal qual os corantes.
Dentre os fungos que possuem capacidade de degradar compostos
recalcitrantes, destaque pode ser dados aos basidiomicetos degradadores de lignina,
os quais têm sido amplamente produzidos para fins comestíveis, como é o caso
do Pleurotus Ostreatus (STAMETS, 2005). Entretanto, é importante salientar que,
atualmente, os produtores não possuem destinação rentável para seu composto
usado (meio de cultivo), assim, uma vez que os cogumelos tenham sido colhidos, ele
se torna um material sem utilidade. Dessa forma, acredita-se que a utilização deste
substrato colonizado pelos fungos pode ser uma alternativa eficiente para a remoção
de corantes. Destaca-se, ainda, que tal condição é bastante interessante do ponto
de vista ambiental, uma vez que alia a utilização de um resíduo agroindustrial ao
desenvolvimento de uma tecnologia sustentável para o tratamento de efluentes da
industrial têxtil.
Nesse contexto, o presente trabalho teve por objetivo avaliar a remoção de cor
de efluente sintético simulando efluente têxtil real empregando composto residual
da produção do fungo Pleurotus ostreatus. Buscou-se, ainda, determinar a melhor
condição experimental para remoção de cor, empregando diferentes concentrações
de substrato, bem como diferentes métodos de extração de enzimas, além de
avaliar as possíveis rotas de remoção de cor de efluente têxtil empregando substrato
colonizado por fungo pleorotus.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 153


2 | METODOLOGIA

2.1 Efluente têxtil sintético


A preparação do efluente têxtil sintético utilizado nos ensaios seguiu a
metodologia de Mo et al. (2007), contento dois corantes reativos (LevafixBrilliantRed
E4BA e Remazol Preto B 133%) e substâncias químicas auxiliares, preparados em
três faixas de pH; 5,0, 7,0, e 8,0. Tais corantes representam uma classe importante
de poluentes orgânicos, no qual, frequentemente são tóxicos e recalcitrantes
(CARDOSO et al., 2011).
As concentrações dos corantes foram definidas para não haver saturação no
Espectrofotômetro de Absorção UV/Vis de varredura, onde foram realizadas as
leituras para obtenção da cor. A concentração de Cloreto de sódio (NaCl) baseou-se
na quantidade média encontrada no efluente têxtil industrial real.
O corante LevafixBrilliantRed E4BA 1, de fórmula empírica C29H22ClN7O11S3,
e peso molecular de 776,16 g mol-1, apresenta ligações fortes contendo grupo
electrofílico (reativo) capaz de formar ligações covalentes com os grupos hidroxila
das fibras celulósicas, os grupos amino, hidroxilo e tióis das fibras proteicas e
também com os grupos amino das poliamidas (GAN; ALLEN; MATTHEWS, 2004).
Já o corante Remazol Preto B 133%, de fórmula empírica C26H21N5Na4O17S6, e peso
molecular 959 g mol-1, apresenta estrutura química bastante complexa, com duas
ligações azo, dois grupamentos reativos e quatro grupos sulfonados. Neste tipo de
corante, a reação química se processa diretamente através da substituição do grupo
nucleofílico pelo grupo hidroxila da celulose (GUARATINI; ZANONI, 2000).
De acordo com Guaratini e Zanoni (2000), os corantes reativos caracterizam-
se por apresentarem grupos quimicamente ativos, com alta estabilidade hidrolítica
em meio neutro, capaz de reagir covalentemente com celulose na indústria têxtil
e estendida na bioquímica para purificação de proteínas por comprovada reação
com moléculas biologicamente importantes nos seres vivos. Deste modo, resíduos
destes corantes são altamente nocivos quando presentes em qualquer organismo
vivo e apresentam tempo de vida de 50 anos em ambientes aquáticos (CARDOSO
et al., 2011).

2.2 Resíduo da produção de fungo pleurotus ostreatus


O material adicionado ao efluente têxtil utilizado nos experimentos é um
composto residual da produção de fungo pleurotus ostreatus (CR), cedido por uma
produção local de cogumelos e é composto por 76% de serragem, 12% de farelo
de trigo, 4% de carbonato de cálcio, e 4% de grãos de trigo inoculado com o fungo
Pleurotus ostreatus. Este material é disposto na forma de blocos, é utilizado no
cultivo de cogumelos comestíveis, após completar o ciclo de produção este fica
completamente colonizado pelo micélio do fungo, contendo grande quantidade de
enzimas extracelulares (STAMETS, 2005). Destaca-se que estes blocos não têm

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 154


utilidade para a empresa e atualmente estão sendo descartados, ou usados em
processos de compostagem.

2.3 Procedimento experimental


Os ensaios foram realizados em escala de bancada laboratorial, empregando-
se erlenmeyers com volume de 1 L, nos quais o CR foi colocado em contato com
o efluente têxtil sintético sob agitação constante promovida por agitador magnético
(180 rpm).
A eficiência do processo foi avaliada com base na porcentagem de descoloração
(GUPTA; TRIPATHI; HARSH, 2011). Para tanto, foram realizadas varreduras
espectrais no efluente bruto entre os comprimentos de onda de 380 a 740 nm
(luz visível), a fim de obter-se o comprimento de onda relativo ao pico de maior
absorbância (548 nm). Em seguida, as amostras submetidas ao tratamento foram
filtradas em membrana porosa de 0,45 μm e a absorbância foi medida no referido
comprimento de onda (548 nm), possibilitando, assim, o cálculo da descoloração
em relação ao efluente bruto. As leituras foram realizadas em um espectrofotômetro
Hach modelo DR/5000.
Ao longo dos ensaios, diversas condições operacionais foram testadas, as
quais são apresentadas a seguir.

2.4 Planejamento experimental preliminar


A fim de avaliar o efeito das variáveis (Concentração de substrato e pH)
simultaneamente, bem como a correlação entre tais variáveis, foi realizado inicialmente
um planejamento fatorial 22 com ponto central em triplicata. Um planejamento fatorial
consiste em selecionar as variáveis e determinar os níveis (valores assumidos
pelas variáveis) durante os experimentos. A utilização do planejamento fatorial é
interessante neste caso, pois, permite determinar a condição operacional otimizada
do processo, com um número mínimo de experimentos.
Foram adotados valores dos níveis para as variáveis com base em testes
preliminares simples e também na metodologia de Silva, Coelho e Cammarota (2010).
Assim, os experimentos foram realizados mediante três concentrações de substrato
(10, 55, e 100 g L-1) e três valores de pH diferentes (5, 7, e 9). Cada condição foi
avaliada durante 6h. Na Tabela 1 é apresentado o planejamento fatorial, bem como
a distribuição dos ensaios com as respectivas condições operacionais utilizadas. No
presente estudo, adotou-se a simbologia de níveis máximos (+) e níveis mínimos (-),
além do ponto central (0).

Nível
Variável
- 0 +
A. Concentração de substrato (g L-1) 10 55 100
B. pH 5 7 9
Variáveis
Ensaio
A B AxB

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 155


1 - - +
2 + - -
3 - + -
4 + + +
5 0 0 0
6 0 0 0
7 0 0 0
AxB: Efeito combinado entre duas variáveis

Tabela 1 – Planejamento fatorial 2² realizado para otimização das condições operacionais

A partir do planejamento fatorial preliminar proposto, foi possível determinar


faixas ideais de pH e concentração, possibilitando a otimização da remoção de cor
do efluente.

2.5 PLANEJAMENTO FATORIAL PARA OTIMIZAÇÃO DA REMOÇÃO DE COR


Com o objetivo de atingir níveis mais altos de descoloração, e fixar parâmetros
base para a aplicação mais eficiente do CR no efluente, realizou-se um segundo
planejamento fatorial onde as variáveis foram; temperatura (25, 45 e 65 oC), e
concentração (50, 100 e 150 g L-1).
Para realização desta etapa, primeiramente o efluente foi colocado em contato
com o CR, e a mistura foi aquecida até as faixas de temperatura desejadas, uma
vez que este fator influencia a solubilidade dos componentes da parede celular do
fungo, o que pode facilitar a extração de enzimas intracelulares, bem como o acesso
aos sítios ativos na superfície do micélio (STAMETS, 2005). Outro fator que levou
ao aquecimento das amostras é o fato dos efluentes da indústria têxtil normalmente
apresentarem altas temperaturas (MERZOUK et al., 2011).
Destaca-se que a temperatura máxima utilizada no aquecimento foi de 65 °C
durante uma hora, baseada na metodologia de Ball e Jackson (1995), que definem
este valor para a máxima atividade de uma enzima lignocelulósica extraída de
composto residual da produção de cogumelos. Na Tabela 2 são apresentadas as
condições utilizadas para cada ensaio do planejamento proposto.

Nível
Variável
- 0 +
A. Concentração de substrato (g L ) -1
50 100 150
B. Temperatura (oC) 25 45 65
Ensaio Variáveis
A B AxB
1 - - +
2 + - -
3 - + -
4 + + +
5 0 0 0
6 0 0 0
7 0 0 0
AxB: Efeito combinado entre duas variáveis

Tabela 2 - Planejamento fatorial para otimização da remoção de cor

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 156


2.6 ENSAIOS COMPLEMENTARES
A partir dos resultados obtidos nos ensaios descritos nos itens anteriores foi
possível determinar a condição operacional otimizada do processo para a remoção
de cor, considerando as variáveis concentração, pH e temperatura.
Em seguida, foram realizados ensaios complementares objetivando avaliar
as possíveis rotas de remoção de cor do efluente têxtil, sendo considerados os
processos de oxidação química, adsorção no substrato, adsorção na estrutura do
fungo e degradação enzimática. Dessa forma, a partir da comparação entre diferentes
condições operacionais, foi possível estimar a contribuição da remoção por cada
um destes processos. Para tanto, a condição operacional otimizada foi replicada de
acordo com os diferentes cenários, à saber:
Condição I: O sistema foi operado sob as mesmas condições operacionais da
condição otimizada.
Condição II: Não foi utilizado qualquer substrato, ou seja, inseriu-se somente a
amostra de efluente têxtil sintético no sistema. Dessa forma, excluiu-se a possibilidade
da ocorrência dos processos remoção por adsorção e de degradação enzimática.
Condição III: Utilizou-se uma amostra de substrato não colonizada por fungos,
excluindo-se, assim, a possibilidade de ocorrência dos processos de remoção por
degradação enzimática e por adsorção na estrutura dos fungos.
Condição IV: Aplicou-se sulfito de sódio (Na2SO3) (160 mg L-1) e cloreto de
cobalto (CoCl2) (2 mg L-1) como catalisador, de modo que a concentração de oxigênio
dissolvido no sistema atingisse um valor próximo de 0,00 mg/L (PUSKEILER;
WEUSTER-BOTZ, 2005). Além disso, aplicou-se durante todo o ensaio um fluxo
de nitrogênio gasoso (N2) na amostra, objetivando manter a concentração de OD
próxima a 0,0 mg/L ao longo de todo o ensaio. Esta metodologia foi empregada
considerando que o processo de degradação enzimática necessita de oxigênio
disponível para ocorrer (AKSU et al., 2007; KAUSHIK e MALIK, 2009). Assim, foi
possível avaliar a remoção de cor sob ausência de oxigênio e compará-la com as
demais condições.
Condição V: O efluente foi substituído por água destilada, assim foi possível
verificar uma possível liberação de cor por parte do composto residual quando o
mesmo entra em contato com o efluente.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1 é apresentado o gráfico de superfície de resposta elaborado com


base nos resultados do planejamento experimental.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 157


Figura 1 - Gráfico de superfície de resposta elaborado em função da remoção de cor

É possível observar que as melhores condições operacionais foram obtidas


com a variável concentração no nível superior, ou seja, com 100 g L-1. Destaca-se
que, sob tal condição, a remoção de cor do efluente têxtil foi próxima a 70%. Além
disso, verifica-se que a variável pH parece não ter influenciado expressivamente
a eficiência do processo, uma vez que esta manteve-se estável nos diferentes pH
estudados. Tais resultados indicam que a condição ótima do processo poderia ser
obtida com qualquer pH testado, porém, com a concentração máxima de substrato.
Entretanto, ao realizar um planejamento fatorial é importante identificar ainda,
a influência que o aumento de cada variável apresenta sobre a resposta, assim
como determinar a interação entre elas. Para este fim, é apresentada na Figura 2 a
influência dos efeitos principais e de suas interações através do diagrama de Pareto,
para um intervalo de confiança de 95% (p≤ 0,05).

Figura 2 - Diagrama de Pareto dos efeitos de cada variável e da interação entre as variáveis

Observa-se que, de forma semelhante aos resultados apresentados no gráfico

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 158


de superfície de resposta, o diagrama de Pareto indica que a única variável que
apresentou efeito estaticamente significativo no processo foi a concentração de
substrato. Ou seja, o efeito do pH e da interação entre as variáveis possui pouca
influência na capacidade de remoção de cor do efluente.
Em função disto, considerando que grande parte dos efluentes têxteis
apresentam pH mais alcalino (CPRH, 2001), optou-se por determinar a condição
com as duas variáveis no nível superior como a condição ótima do processo, ou seja,
com pH de 9 e concentração de substrato de 100 mg L-1.

3.1 RESULTADOS DA OTIMIZAÇÃO DA REMOÇÃO DE COR

Levando-se em consideração os resultados obtidos nos ensaios preliminares,


realizou-se outro planejamento experimental buscando-se a otimização do processo
de descoloração. Para este ensaio empregou-se o pH considerado ideal (9), porém,
optou-se por ampliar a faixa de concentração utilizada (50, 100 e 150 g L-1), a fim
de avaliar se ocorreria um aumento da eficiência do processo. Além disso, foram
testadas diferentes temperaturas (25, 45 e 65°C), uma vez que este pode ser um
fator importante da degradação enzimática do corante (STAMETS, 2005).
Na Figura 3 é apresentado o gráfico de superfície de resposta elaborado com
base nos resultados do planejamento para a otimização da remoção de cor.

Figura 3 - Gráfico de superfície de resposta elaborado variando concentração e temperatura,


em função da remoção de cor

Nota-se que o aumento da variável concentração para 150 g.L-1 acarretou em


uma remoção ainda maior em relação ao planejamento preliminar. Sob tal condição,
a remoção de cor do efluente têxtil foi próxima a 80%. Por outro lado, a variação
de temperatura não influenciou expressivamente a eficiência do processo, uma vez
que esta manteve-se estável nas diferentes temperaturas estudadas. Portanto, os

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 159


resultados obtidos mostram que a remoção de cor não está ligada ao aumento da
temperatura como esperado, e é diretamente proporcional à concentração de CR.
A influência dos efeitos principais e de suas interações é apresentada na Figura
4 através do diagrama de Pareto, para um intervalo de confiança de 95% (p≤ 0,05).

Figura 4 - Diagrama de Pareto dos efeitos da variação da concentração e da temperatura e da


interação entre elas

De forma semelhante aos resultados observados no gráfico de superfície


de resposta, este diagrama indica que a única variável que apresentou efeito
estaticamente significativo no processo foi a concentração de substrato. Estes
resultados indicam que um aumento da concentração de CR poderia proporcionar
eficiências de remoção ainda maiores ao processo. Entretanto, cabe destacar, que
esta variável apresenta um limite máximo de aplicação devido às suas características
físicas, o que tornaria inviável sua aplicação em sistemas em escala real. Sendo
assim, foi considerada como condição ideal de operação: 150 g L-1 de concentração,
pH 9,0 e temperatura ambiente.

3.2 RESULTADOS COMPLEMENTARES

Após a realização dos ensaios para determinação das melhores condições


operacionais, foram realizados ensaios complementares para avaliar as possíveis
rotas de remoção de cor do efluente. Todas as condições propostas foram testadas
em triplicata e seus resultados são apresentados na Tabela 3.

Desvio Eficiência de remoção


Condição Descrição Abs. Média
Padrão (%)
Condição
I 0,143 0,005 80,5
otimizada (6h)
II Efluente Bruto 0,734 0,000 0,0
Serragem não
III 0,227 0,005 69,1
colonizada
IV Ausência de O2 0,225 0,009 69,4

V Água destilada 0,060 0,002 --

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 160


Tabela 3 - Resultados complementares

A partir dos resultados obtidos no ensaio V, é possível observar que a liberação


de cor por parte do composto residual foi bastante baixa, indicando que este não
foi um fator com influência expressiva no processo. Observa-se, ainda, que a
eficiência de remoção obtida no ensaio II (efluente sem qualquer substrato) foi nula,
indicando que a remoção de cor por meio do processo de oxidação química pode
ser considerada desprezível no presente estudo. Resultados semelhantes foram
observados por Silva, Coelho e Cammarota (2010), que avaliaram a remoção de
cor de efluentes têxteis empregando cogumelos e verificaram que a liberação de
cor pelos fungos é desprezível, além disso, estes autores também não constaram a
ocorrência do processo de oxidação química.
Destaca-se, também, que as eficiências de remoção obtidas nos ensaios III e
IV (69,1 e 69,4%, respectivamente) foram bastante semelhantes. Considerando que
em ambos os ensaios não seria possível a ocorrência do processo de degradação
enzimática, uma vez que no ensaio III o substrato não era colonizado por fungos e
que no ensaio IV a ausência de oxigênio impossibilita a ocorrência desse processo
(KAUSHIK e MALIK, 2009), acredita-se que o processo de adsorção foi o principal
mecanismo responsável pelo processo de remoção de cor ocorrido sob tais condições.
É importante salientar, ainda, que a presença dos fungos não potencializou a eficiência
de remoção de cor pelo processo de adsorção, indicando que tal processo ocorre,
sobretudo, na superfície da serragem. Resultados semelhantes foram obtidos por
Antunes et al. (2010), que avaliaram a remoção de corantes empregando serragem
com concentração de 10 g L-1 e tempo de contato de 60 horas e obtiveram eficiências
de remoção de até 78%. De acordo com estes autores, a capacidade de adsorção da
serragem é superior à de outros adsorventes normalmente utilizados, o que, aliado
a seu baixo custo, demonstra a potencialidade de sua utilização para o tratamento
de efluentes têxteis.
Por fim, avaliando-se comparativamente os resultados de remoção obtidos no
ensaio I (condição otimizada) e os resultados obtidos nos ensaios III (serragem não
colonizada) e IV (ausência de O2), observa-se um aumento de cerca de 10% na
eficiência do processo no ensaio com a presença do fungo e disponibilidade de
oxigênio. Dessa forma, acredita-se que tal aumento pode ser atribuído a ocorrência
do processo de degradação enzimática realizado pelos fungos. Balan e Monteiro
(2001) estudaram a remoção de corantes empregando fungos Pleurotus e obtiveram
eficiência de remoção de até 94%, entretanto, tais resultados foram obtidos após 4
dias de contato. Estes autores atribuíram a elevada eficiência obtida ao processo
de degradação enzimática. Kamida et al. (2005), por sua vez, avaliaram a remoção
de cor de efluentes têxteis empregando fungos Pleurotus e constataram a produção
de enzimas ligninolíticas durante os ensaios, o que os levou a concluir que, de fato,
as enzimas produzidas estão envolvidas no processo de descoloração. Segundo

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 161


Stamets (2005), a eficácia dos cogumelos Pleurotus na remoção de vários tipos
corantes pode ser atribuída à atividade das enzimas lignina peroxidase, manganês
peroxidase e, sobretudo, à lacase.

4 | CONCLUSÕES

A utilização do composto residual da produção do fungo Pleurotus ostreatus


mostrou-se eficiente para remoção de cor de efluente sintético simulando efluente
têxtil real. De acordo com os ensaios para otimização do processo, verificou-se que
a condição operacional considerada ótima foi obtida com pH 9 e concentração de
substrato de 150 g L-1. Destaca-se que, sob tal condição, a eficiência de remoção
de cor obtida foi próxima a 80%. Verificou-se, ainda, que o processo de adsorção
no substrato foi o principal mecanismo de remoção de cor observado. Entretanto, o
processo de degradação enzimática permitiu um aumento da eficiência do processo,
o que indica sua potencialidade de aplicação mediante a realização de estudos mais
detalhados. Dessa forma, de maneira geral, tais resultados demonstram o elevado
potencial da utilização de um resíduo agroindustrial como uma tecnologia sustentável
para o tratamento de efluentes da industrial têxtil.

REFERÊNCIAS
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Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 14 163


CAPÍTULO 15

ANÁLISE DO USO DE FÔRMAS GEOTÊXTEIS PARA


A CONTENÇÃO DA EROSÃO NA MARGEM DO RIO
MADEIRA

Emanuele Correia Barros do rio, obstruíssem os poros da fôrma geotêxtil


Faculdade de Rondônia – FARO, Departamento SoilTain® DW, foi adicionado polímeros C-492
de Engenharia Civil KEMIRA® para auxiliar a floculação do solo e
Porto Velho – RO facilitar a drenagem. Foram realizados testes
Suelen Ferreira de Souza para analisar a percolação de água durante o
Faculdade de Rondônia – FARO, Departamento enchimento de cada alternativa de SoilTain®, a
de Engenharia Civil
fim se sugerir a melhor opção. A fôrma geotêxtil
Porto Velho – RO SoilTain® CP, foi escolhida como a melhor
Ana Cristina Santos Strava Correa alternativa para ser utilizada em um projeto de
Faculdade de Rondônia – FARO, Departamento controle de erosão, pois apresentou melhor
de Engenharia Civil
desempenho, devido a eficiência na drenagem
Porto Velho – RO
da água, e a facilidade de preenchimento
com a areia.
PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos,
RESUMO: O fenômeno natural denominado geotêxteis, erosão fluvial, Rio Madeira.
“terras caídas” é um problema que afeta
as estruturas urbanas sobre o rio Madeira, GEOTEXTILE FORMS ANALISYS TO
em Porto Velho (RO). Portanto, este artigo EROSION CONTENTION ON MADEIRA’S
propôs avaliar soluções de contenção usando RIVER BORDER
materiais geossintéticos comercialmente
ABSTRACT: The natural phenomenon called
disponíveis. Analisou-se a viabilidade técnica
“terras caídas” is a problem that affects the
para o preenchimento de dois tipos de fômas
urban structures over the Madeira River’s bank,
geotêxteis, o SoilTain® DW e o SoilTain® CP,
in Porto Velho (RO). Therefore, this paper
produzidos pela HUESKER, a fim de sugerir
proposed to evaluate containment solutions
a melhor opção a ser utilizada em um projeto
using commercially available geosynthetic
de controle de erosão na margem direita
materials. Technical viability for the filling two
do rio. De acordo com as normas do DNIT,
kind of geotextile tubes was analyzed, the
foram realizados testes laboratoriais para a
SoilTain® DW and the SoilTain® CP, produced
caracterização do solo do rio, que foi utilizado
by HUESKER, in order to suggest the best
para encher uma das fôrmas. Para evitar que as
option to be used in an erosion control project
partículas finas, que compõem o solo do leito

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 15 164


on the right bank of the river. According to the norms of DNIT, laboratory tests were
carried out for the characterization of the river ground, which was used to fill one of the
tubes. In order to avoid that fines particles, that compose the riverbed ground, would
obstruct the pores of the SoilTain® DW geotextile tubes, C-492 KEMIRA® polymer was
addicted in order to assist the flocculation of the ground and facilitate drainage. Tests
were carried out to analyze the water percolation during the filling of each SoilTain®
alternative. The SoilTain® CP tube, was chosen as the best alternative to be used in an
erosion control project because it presented better performance, due to its efficiency in
water’s drainage, and the ease of filling it with the ground.
KEYWORDS: Geosyntetics, Geotextiles, Fluvial erosion, Madeira river.

1 | INTRODUÇÃO

O Rio Madeira é a segunda via de transporte mais importante da região


amazônica, ficando atrás apenas do Rio Amazonas (DNIT, 2011), e por suas águas
correm grande parte da economia de Rondônia através do modal hidroviário, o qual
viabiliza o transporte dos mais variados tipos de carga, tais como granéis sólidos
e líquidos, eletrônicos, eletrodomésticos, automóveis, alimentos refrigerados, entre
outros, representa também fonte de abastecimento de água e alimentação para a
população, além de contribuir com o comércio local, como por exemplo, o de peixes.
Apesar de toda a sua importância para a população adjacente, a dinâmica fluvial
do rio Madeira tem provocado diversos problemas de erosão em suas margens,
colocando em risco principalmente a segurança de muitas famílias ribeirinhas, assim
como de bens e patrimônios urbanos.
Os processos de erosão fluvial que vem afetando as margens do rio Madeira
é um processo natural que tem como consequência a ruptura, o solapamento e
desmanche das margens do rio por processos denominados de escorregamento,
tais processos são popularmente denominados de “terras caídas” (LABADESSA,
2011).
Tendo em vista que o rio em questão possui padrão meandrante, e seu
comportamento é caracterizado por uma ampla migração lateral e extensas planícies
de inundação (ADAMY, 2016), torna-se necessário uma opção de contenção que
seja capaz de suportar a ação fluvial, condicionando a direção do fluxo do rio, sem
causar grandes impactos ao meio ambiente, e garantindo, desta forma, a segurança
das famílias ribeirinhas e evitando impactos à economia local.
Neste contexto aparecem os materiais geossintéticos, alternativas de materiais
de construção que vêm ganhando cada vez mais destaque na Engenharia Civil,
devido as inúmeras vantagens oferecidas para os mais diversos tipos de obras,
como é o caso das fôrmas geotêxteis SoilTain® CP e DW, que dentre outras funções
podem ser utilizadas como proteção ao avanço da erosão de margens e canais,
e considerando sua flexibilidade, durabilidade, e por apresentarem-se como uma

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 15 165


alternativa capaz de reduzir custos e garantir melhores resultados, estes materiais
foram escolhidos para serem analisados como proposta para a contenção da erosão
nas margens do Rio Madeira, e através de ensaios laboratoriais definir qual das duas
opções geotêxteis SoilTain® pode ser utilizada como melhor opção econômica para
proteção contra os avanços dos processos erosivos.
Considerando-se a importância da região portuária de Porto Velho, e a
intensidade do avanço da erosão, que já atinge grande parte da Estrada de Belmont,
as amostras utilizadas para a caracterização geotécnica e uso no preenchimento da
fôrma SoilTain® DW, foram coletadas nesta região (Figura 1).

Figura 1 - Localização do ponto de coleta de amostras. Fonte: O autor

2 | METODOLOGIA

A amostra de solo coletada para preenchimento da fôrma geotêxtil SoilTain®


DW foi preparada de acordo com a norma DNER-ME 041/94, posterioemente foram
determinados o Limite de Liquidez (LL), o Limite de Plasticidade (LP), a densidade real
do solo e a análise granulométrica, para que pudesse ser efetuada o preenchimento
da fôrma geotêxtil.

2.1 LIMITE DE LIQUIDEZ – LL


Utilizando 70g da amostra seca, o LL foi determinado seguindo as
recomendações da norma DNER-ME 122/94, através do método de referência e
obtendo os resultados através da curva de fluidez produzida através de uma reta
com os valores de umidade, marcados em abcissas como os números de golpes
correspondentes, marcados em ordenadas.
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 15 166
2.2 LIMITE DE PLASTICIDADE – LP
Utilizando 50g da amostra seca, o LP foi determinado de acordo com o método
da norma DNER-ME 082/94. O limite de plasticidade foi expresso pela média dos
teores de umidades de 4 (quatro) amostras. Calcula-se o índice de plasticidade (IP)
de um solo pela diferença numérica entre o limite de liquidez e o limite de plasticidade.

2.3 DENSIDADE REAL


A densidade real de um solo é determinada à temperatura de 20 °C, realizada
pelas recomendações da norma DNER-ME 093/94. Foi dada pela média de 3 (três)
amostras, determinada pela equação 1:

Como a temperatura ambiente diferia dos 20 °C foi feito o cálculo de correção,


com um valor K, determinado na Tabela presente nesta norma, pela equação 2:

2.4 ANÁLISE GRANULOMÉTRICA – SEDIMENTAÇÃO


A análise tátil visual da amostra coletada indicou a presença de grandes
porcentagens de partículas finas no solo, o que tornou necessário a opção pela
realização do ensaio de sedimentação.
Para este ensaio, foi necessária a utilização de reagentes - hexametafosfato
de sódio (defloculante) e carbonato de cálcio (para elevar o PH da solução) – como
sugerido pela norma DNER-ME 051/94, adotada para a realização deste ensaio. O
ensaio foi realizado em um período total de 25h, no qual foram coletados dados de
variação da densidade da solução e, posteriormente calculadas as porcentagens de
material em suspenção para cada leitura, expresso por Q, de acordo com a equação
3:

Já para a determinação dos diâmetros das partículas em suspensão, foi aplicada


a equação 4, baseada na Lei de Stokes:

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 15 167


Com base nos dados obtidos neste ensaio, foi elaborada uma curva de
distribuição granulométrica, marcando-se em abcissas (escala logarítmica) os
diâmetros das partículas em ordenadas (escala aritmética) as percentagens das
partículas maiores do que os diâmetros considerados.

2.5 ENSAIO DE FLOCULAÇÃO


A presença de material fino pode ocasionar a colmatação dos poros do
material do SoilTain DW, sendo assim, torna-se necessária a utilização de polímeros
que auxiliem a floculação do material. Foram testados quatro tipos de polímeros
superfloculantes da marca KEMIRA, o C-492, o C-494, o A-130 e o N-300. Para
a realização do ensaio de floculação, os polímeros foram diluídos em água, numa
proporção de 1g/L, separadamente, com o auxílio de agitadores magnéticos. Após a
diluição, foi adicionada uma quantidade de 200g da amostra de solo coletado para
cada solução a fim de se analisar o desempenho de cada polímero no processo de
floculação do solo.
Além de apresentar uma boa floculação, é importante que o polímero utilizado
apresente uma boa velocidade de percolação pelo material geossintético, e para tal
análise, cada solução foi passada por um funil moldado com uma amostra do SoilTain®
DW. Assim, pôde-se analisar qual dos polímeros teve o melhor desempenho nessa
floculação, sendo o C-492 escolhido pelo melhor resultado na filtração.

2.6 PREENCHIMENTO DO TUBO GEOTÊXTIL SOILTAIN® CP COM AREIA LAVADA


Para testar a percolação da água na fôrma geotêxtil SoilTain® CP, foi necessário
o uso de areia lavada e água. Para tanto, foi preparada uma solução em 1 bécher
com capacidade de 2L com uma medida de ½ bécher com areia e o restante de
água, agitando o máximo possível a solução, com a mão, e lançando imediatamente
na fôrma como auxílio de um tubo PVC e um funil improvisado de garrafa plástica,
até o seu completo preenchimento com material sólido.

2.7 PREENCHIMENTO DO TUBO GEOTÊXTIL SOILTAIN® DW COM SOLO DO RIO


O preenchimento da fôrma geotêxtil SoilTain® DW foi realizada com material
coletado in loco, no rio Madeira, e para isto, preliminarmente preparou-se uma
solução com a diluição de 30g do polímero C-492 KEMIRA® em 50 litros de água,
ou seja, uma diluição de 1g para cada 1,5L de água, e posteriormente preparada a
solução com o solo do rio para o preenchimento da fôrma.
A adição de polímeros foi necessário devido à presença de partículas finas na

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 15 168


composição do solo. O lodo resultante da solução de polímeros juntamente com
o solo foi lançado na fôrma geotêxtil SoilTain® DW com o auxílio de um tubo de
PVC e um funil improvisado de garrafa PET. Devido à baixa permeabilidade do
material utilizado para o preenchimento desta fôrma, estipulou-se dois tempos de
dessecagem, ambos de 11 minutos, para que fosse drenada uma quantidade de
água que permitisse a continuidade do processo de preenchimento apenas com
material sólido.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

A densidade real do solo é igual a 1,227 mg/L. Seu índice de plasticidade foi
determinado pela diferença do limite de liquidez, que apresentou 28% e do limite
de plasticidade, que foi de 26%. Com um IP igual a 2%, foi classificado como um
solo de baixa plasticidade.
Através da análise tátil-visual, constatou-se que o solo era constituído, em sua
maior parte, por partículas finas, dado este confirmado pelo ensaio de sedimentação.
De acordo com a curva granulométrica (Figura 2), observou-se que o solo analisado é
constituído por 55% de silte e 45% de argila, classificação granulométrica de acordo
com ABNT 6502/95, deste modo, pode ser classificado como um solo silte-argiloso
de baixa plasticidade.

Figura 2 - Curva Granulométrica da amostra de solo. Fonte: O autor.

Para se atingir o completo preenchimento da fôrma geotêxtil SoilTain® DW


com material sólido, necessitou-se de um tempo para a dessecagem do lodo

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 15 169


dentro da fôrma, devido a baixa permeabilidade do material silte-argiloso. O
tempo de dessecagem do lodo dentro da fôrma geotêxtil, para que esta pudesse ser
completamente preenchida apenas como solo, está apresentado na Figura 3.

Figura 3- Curva de dessecagem do lodo dentro do SoilTain® DW. Fonte: O autor.

Para a elaboração da curva de dessecagem, foram estipulados 2 (dois) tempos,


de acordo com a observação do processo de dessecagem do lodo. Após 11 minutos
do primeiro preenchimento total, conseguiu-se acrescentar 4.000 cm³ (4 litros) do
lodo. No 2º tempo de dessecagem, após 11 minutos do 2º preenchimento total, foi
possível acrescentar mais 1000 cm³ (1 litro) do lodo.
A capacidade total de volume da fôrma geotêxtil SoilTain® DW, foi de 31,5 kg
de material sólido, dado este obtido após a drenagem completa da fôrma.
Para o preenchimento da fôrma geotêxtil SoilTain® CP não houve a necessidade
de adição de polímeros, tornando o processo de preenchimento mais fácil e rápido
que o anterior, a drenagem da água ocorreu com maior velocidade, em comparação
com a SoilTain® DW, sem necessidade de um tempo de dessecagem, decorrente
da alta permeabilidade do material arenoso. A capacidade total de volume da fôrma
geotêxtil SoilTain® CP, obtida após a drenagem completa da fôrma, foi de 51,5 kg de
material sólido (areia).
O preenchimento da fôrma geotêxtil SoilTain® DW com material coletado no
rio Madeira pode representar uma alternativa de menor custo, por não necessitar
a importação de material sólido. Em contrapartida, no processo de preenchimento
da fôrma geotêxtil SoilTain® CP, não é necessário a adição de polímeros para o
processo, o que facilita a execução, além do material utilizado (areia lavada) apresenta
maior permeabilidade em comparação com o material silte-argiloso encontrado no

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 15 170


local de estudo que foi utilizado no preenchimento da fôrma SoilTain® DW, sem
a necessidade de tempo de dessecagem. Assim, a fôrma geotêxtil SoilTain® CP
apresenta-se como uma alternativa mais viável em comparação a fôrma SoilTain®
DW.

4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os processos de erosão que atingem níveis alarmantes na margem do rio


Madeira são processos naturais, cuja tendência é avançar cada dia mais em direção
às regiões urbanas do município de Porto Velho. Diante deste ato, a necessidade
de um projeto de contenção com intuito de preservar as margens do rio das ações
fluviais atinge caráter emergencial.
Constatou-se que, o uso de fôrmas geotêxteis SoilTain® como alternativa para
conter o problema da erosão no rio Madeira apresenta-se como uma solução prática
e versátil devido a flexibilidade do produto, o qual pode ser produzido de forma a
atender as características reais da obra, inclusive com a utilização de material local,
e fornecem essas vantagens sem alterar as características do solo.
Ambas as opções geotêxteis SoilTain® analisadas nesta pesquisa apresentaram
um bom desempenho nos ensaios realizados, no entanto, a opção SoilTain®
CP, apresenta-se como melhor opção para ser utilizada de forma permanente na
contenção da erosão nas margens do rio Madeira pois, apresentou uma drenagem
mais eficiente (sem necessidade de tempo de dessacagem), o que tornou o processo
de preenchimento mais ágil, aliada ao fato de não ser necessário o uso de polímeros
para realizar o flocular o material, o que facilitou o processo de preenchimento.
Portanto, o uso da fôrma geotêxtil SoilTain® CP como contenção da erosão
na margem do rio Madeira garantiria uma barreira contínua, mesmo em grandes
extensões como é o caso do local de estudo, economia devido à redução significativa
dos volumes requeridos de recursos naturais e flexibilidade para atender requisitos
específicos do projeto. No entanto, considerando a possibilidade de vandalismo,
caso recorrente no Brasil, e a possibilidade de acidentes com embarcações, seria
necessário a utilização de um material de proteção acima das fôrmas geotêxteis
SoilTain® CP, como as geomembranas, por exemplo, o que diminuiria os riscos
de danos à qualidade do produto e elevaria o tempo de vida útil da obra para
aproximadamente 120 anos, prazo este garantido pelo fabricante.

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preparação de amostras para ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 1994.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGEM – DNER. DNER-ME 051/94: Solos –


análise granulométrica. Rio de Janeiro, 1994.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGEM – DNER. DNER-ME 082/94: Solos –


determinação do limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 1994.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGEM – DNER. DNER-ME 093/94: Solos –


determinação da densidade real. Rio de Janeiro, 1994.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGEM – DNER. DNER-ME 122/94: Solos –


determinação do limite de liquidez. Rio de Janeiro, 1994.

DNIT. (2011). Hidrovia do Madeira. http://www.dnit.gov.br/hidrovias/hidrovias-interiores/hidrovia-do-


madeira, acessado em 05/2018.

LABADESSA, A. S. (2011). “’Terras Caídas’”, as causas naturais e antrópicas: uma ocorrência na


comunidade São Carlos – médio Madeira/RO”. Geoingá: Revista do Programa de Pós-Graduação
em Geografia. Maringá, v. 3, n. 1, pp.45 - 61.

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www.huesker.com.br/fileadmin/Media/Reports/BR/JR_SoilTain-Jirau_BR.pdf, acessado em 05/2018.

HUESKER, (2018). SoilTain® CP. https://www.huesker.com.br/produtos/geossinteticos/formas-texteis/


soiltain-cp.html, acessado em 05/2018.

QUEIROZ, R. C. (2016). “Noção sobre geossintéticos na Engenharia Civil”, in Geologia e Geotecnia


Básica para Engenharia Civil. Org. por Queiroz, R.C., Blucher, ed. 1, São Paulo – SP, pp.386 - 389.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 15 172


CAPÍTULO 16

AVALIAÇÃO DE DEGRADAÇÃO E FITOSSANIDADE


DE PASTAGENS USANDO SÉRIES TEMPORAIS DE
IMAGENS DE SATÉLITE

Marcos Cicarini Hott PALAVRAS-CHAVE: Pastagens; series


Embrapa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – temporais; NDVI; degradação; imagens de
Embrapa – Juiz de Fora-MG satélite
Ricardo Guimarães Andrade
Embrapa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
Embrapa – Juiz de Fora-MG EVALUATION OF DEGRADATION AND
PLANT PROTECTION IN GRASSLANDS
Walter Coelho Pereira de Magalhães Junior USING TIME SERIES OF SATELLITE
Embrapa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – IMAGES
Embrapa – Juiz de Fora-MG
ABSTRACT: The objective of this work was to
evaluate the degradation and health aspects of
grasslands in large regions in the State of Minas
RESUMO: O objetivo do presente trabalho foi
Gerais, using time series of satellite images
avaliar a degradação e aspectos de fitossanidade
and growth index method. From MODIS sensor
de pastagens em grandes regiões no Estado
images, estimates of pasture growth through
de Minas Gerais, usando séries temporais de
NDVI it were used as indicator of degradation
imagens de satélites e método do índice de
aspects, based on the samples obtained of field
crescimento. A partir de imagens do sensor
campaign. The results indicated an accuracy of
MODIS realizou-se estimativas do crescimento
90% in the mapping and growth indexes (IC) for
das pastagens pelo NDVI como indicador de
the growing season, which denoted degradation
aspectos de degradação, usando como base,
in 60% of the study area. The relief presents
levantamento de amostras de campo. Os
high slope and grassland vegetation poorly
resultados apontaram uma acurácia de 90%
managed, with the presence of overgrazing,
no mapeamento e índices de crescimento
weedy plants and insect pests, which probably
(IC), para a estação de crescimento, que
favored the condition showed in the series of
denotaram degradação em 60% da área de
satellite images.
estudo. A topografia apresenta alta declividade
KEYWORDS: Grasslands; time series; NDVI;
e vegetação de pastagens pouco manejadas,
degradation; satellite images.
com a presença de superpastejo, plantas
e insetos invasores, o que, provavelmente
favoreceu a condição retratada nas séries de
imagens de satélite.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 16 173


1 | INTRODUÇÃO

As pastagens cobrem uma extensa área de cultivo no Estado de Minas Gerais,


destinadas, principalmente, à bovinocultura de leite. A produção leiteira no Estado
é bastante heterogênea, correspondendo a, aproximadamente, 8,9 bilhões de litros
de leite (26,5%) dos 33,49 bilhões de litros da produção nacional em 2017 (IBGE,
2019), cuja representatividade em levantamentos de campo acerca da produção e
condições das forragens perpassa por observar áreas dedicadas ao leite (Figura 1).
Com objetivo de retratar a condição das pastagens em relação a aspectos
inerentes ao crescimento ou perda de potencial produtivo no decorrer das duas
últimas décadas, utilizou-se o espaço amostral da mesorregião mineira da Zona
da Mata, em virtude de sua condição geográfica, climática e topográfica, além de
sua tradição na atividade. Essa região detém atualmente 8% da produção mineira
de leite, apresentando extensão, qualificação física e ambiental que a torna apta a
estudos de investigação de aspectos de degradação da vegetação (NASCIMENTO
et al., 2006).
Em razão das dimensões territoriais relativas às áreas em cultivo, o uso de
técnicas envolvendo sensoriamento remoto orbital com séries de imagens de satélites
se apresenta como ferramenta de suma importância para contornar os custos de
levantamentos de campo, ralis de safras ou grandes campanhas de amostragens.
Dessa forma, modificações na cobertura ou condições das pastagens, originárias
de diversos fatores, podem ser avaliadas quali-quantitativamente por indicadores de
resposta ao espectro eletromagnético produzido pela superfície terrestre, índices de
vegetação ou composições de imagens de satélites (REEVES; BAGGET, 2014), cuja
reflectância representada é uma propriedade física da reflexão da luz ou radiação
eletromagnética dos objetos ou alvos.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 16 174


Figura 1 – Distribuição da produção leiteira e das áreas de observação.

Inúmeros cientistas da área de sensoriamento remoto têm estudado a relação


entre dados de campo sobre a vegetação e sua relação com a reflectância obtida
a partir de vários sensores de satélites (SANO et al, 2002; LIU, 2006; PONZONI;
SHIMABUKURO, 2010). Maior reflectância da vegetação no infravermelho próximo,
onde o comprimento de onda é particularmente próximo ao vermelho, pode indicar
condições mais saudáveis das plantas. A partir disto, constroem-se índices, tal como
o NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) o qual denota o vigor de uma
vegetação, principalmente de características herbácea e herbáceo-arbustiva, como
é o caso de pastagens, computando a diferença entre o infravermelho e o vermelho.
Aspectos fitossanitários, relacionados a doenças ou pragas, as quais muitas
vezes infestam o cultivo de forrageiras destinadas à bovinocultura de leite ou carne,
introduzem perdas significativas ao setor agropecuário anualmente. O conhecimento
sobre a sanidade das pastagens é um fator de importância crucial no planejamento
de ações de manejo e em políticas públicas de investimento e proteção a serem
adotadas de modo a antever-se o fenômeno da degradação.
As séries de imagens de satélites publicadas periodicamente, denominadas
séries temporais, são dotadas de grande volume de dados, permitem a análise das
condições edafoclimáticas e do vigor vegetativo, além de possibilitar um contínuo
monitoramento das áreas ou alvos de interesse. A partir de uma metodologia
adequadamente equalizada e testada, tornam-se possíveis a elaboração de cenários

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 16 175


para as pastagens monitoradas. Dessa forma, apesar do presente estudo ter como
foco a mesorregião da Zona da Mata do Estado de Minas Gerais, a metodologia a
ser desenvolvida poderá ser aplicada em outras regiões geográficas do país, sem
prejuízo em qualidade de resultados.

2 | MATERIAIS E MÉTODOS

Os produtos do sensor MODIS (Moderate-resolution Imaging Spectroradiometer)


(Figura 2), o qual está a bordo do satélite Terra, cobrem uma extensa coleção de
imagens, desde fevereiro de 2000. Assim, é possível a realização de estudos espaço-
temporais e monitoramento para avaliação da vegetação, usando estimativas
sustentáveis, pois as imagens são disponibilizadas de forma gratuita.
Os índices a serem utilizados nesta análise é o NDVI, cujo produto é
disponibilizado pelo MOD13Q1, em uma série periódica que sintetiza o índice de
vegetação no intervalo de 16 dias. Este produto possibilita o monitoramento com
base na anomalia do crescimento no período da estação do ano que representa
o incremento em biomassa, vista por correlação com o índice de vegetação, entre
setembro e dezembro do ano de estudo, frente os resultados deste mesmo período
em anos anteriores.
Os índices são calculados a partir das bandas dos satélites no espectro do
vermelho ( ) e infravermelho próximo ( ), os quais tem respectivamente um nível
baixo e alto na descrição da vegetação, bem como de fatores específicos, fornecendo
como resultado, um índice que demonstra o grau de atividade fotossintética no tempo
e no espaço (JENSEN, 2009):

O método do índice de crescimento (IC) já empregado por Xu et al. (2013)


e Hott et al. (2016), é sintetizado nesse trabalho, o qual é objeto de aplicação em
metodologia espaço-temporal, podendo envolver várias métricas em sensoriamento
remoto e fenologia de pastagens. Nessa abordagem foi utilizada a seguinte equação
para o IC:

Em que, IC é o índice de crescimento das pastagens, NDVIm é o índice no


período de interesse e NDVIn é a média no período equivalente ao atual, mas em
anos anteriores.
Entre a primeira quinzena de setembro e a última de dezembro tem-se as

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 16 176


métricas do início da estação (em inglês start-of-season - SOS) e do máximo da
estação (em inglês, peak-of-season - POS), a partir das quais pode-se inferir sobre a
capacidade de recuperação da vegetação. Para a caracterização dos perfis temporais
de NDVI em períodos de dezesseis dias, amostras foram obtidas a partir de áreas
reconhecidamente cobertas por pastagens nas últimas duas décadas. Dessa forma,
análise de correlação foi aplicada para consisti-las e, posteriormente, centenas de
amostras de campo foram analisadas quanto à classe pastagem e em relação às
condições de vigor e fitossanidade apresentadas nos períodos seco e chuvoso. Para
fins tabulares, os dados foram normalizados para base cem, com intuito de fornecer
uma melhor compreensão da matriz de confusão.

Figura 2 – Interface de pesquisa das imagens MODIS. Fonte: USGS (2019).

A partir da série de imagens MODIS, as estimativas foram realizadas célula a


célula no decorrer do tempo (Figura 3), resultando no IC respectivo, o qual representa
a anomalia, classificada de acordo com os valores distribuídos entre crescimento
muito baixo, baixo, estável, alto e muito alto. Para tanto, foram empregados métodos
de detecção de outliers para eliminação de dados espúrios e suavizar-se os perfis
temporais, e após a estimativa do IC, apoiado por dados de campo, utilizou-se
limiares tomados e testados pela tabela qui-quadradado ( ²), resultando em classes
ou intervalos com diferenças significativas a um nível de 95%.
A região de estudo abarca uma área de 1,2 milhões de hectares de pastagens,
concentrando-se na mesorregião da Zona da Mata do Estado de Minas Gerais, a

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 16 177


qual detém 36 mil km² de área total. Os resultados obtidos nessa região podem
ser extrapolados, como metodologia, para outras regiões de Minas Gerais ou do
País, pois o clima, solos e topografia dessa mesorregião são representativos para
adoção de procedimentos em sensoriamento remoto a outros ambientes e sistemas
produtivos, notadamente, a pecuária de leite.

Figura 3 – Esquema que ilustra a forma de análise e estimativa para cada célula
correspondente à série de mais de 300 imagens MODIS.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após as observações em campo com vários pontos coletados por meio de


GPS juntamente com anotações acerca das condições vegetativas, solos e classes
de degradação, adotou-se procedimento de correlacionar esses resultados com a
distribuição dos valores de IC obtidos, também para áreas amostrais. Para tanto,
uma máscara ou mapa de pastagens foi obtida por classificação digital, tendo
como referência os intervalos de índices de vegetação e imagem-interpretação. Os
resultados desta classificação foram estabelecidos em base cem, onde os números
são frações arredondadas do total e que podem ser visualizados na Tabela 1.
Extenso trabalho de associação entre as condições de campo, datas das
coletas, imagens de alta resolução e dados censitários foram computados para
auxiliar nas atividades futuras de monitoramento e verificação de tendências no
crescimento vegetativo e surgimento ou avanço de estágios de degradação. Questões
referentes ao manejo adotado também foram importantes para depreender-se sobre
a dinâmica das terras. Todos os dados foram considerados e analisados com relação
às alterações edafoclimáticas, tendo em vista que foram realizadas observações
nas estações seca e chuvosa. Ainda, de acordo com a matriz de confusão, obteve-
se um índice Kappa de 0,91, aproximadamente 90% de acertos, ou seja, com uma
excelente acurácia para o mapa de pastagem, base para os resultados a serem
apresentados.
Houve excelente separação na classificação entre as classes pastagem e

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 16 178


outras áreas. Entretanto, alguns erros de omissão e comissão foram observados
nas áreas classificadas como pastos, haja vista que as áreas de pastagens podem
apresentar confusão espectral com outros cultivos e usos das terras.

Referência de Campo

Classes Pastagens Outros Total


Pastagens 25 0 25
Outros 9 66 75
Total 34 66 100
Índice Kappa 0,91

Tabela 1. Matriz de confusão e dados sobre a classificação das áreas de pastagens.

Uma tarefa importante foi relacionada à análise de células ou pixels puros, ou


seja, avaliou-se o grau de confiabilidade de uma determinada célula se manter como
pastagem ao longo de todo o período da série de dados (> 300 imagens). Esse
perfil temporal puro apoiou a filtragem necessária para eliminação de ruídos, efeitos
atmosféricos, mínimos locais ou pontos de máximos espúrios, além da reclassificação
dos IC’s para obtenção do resultado final quanto à condição das pastagens, verdor,
crescimento ou degradação. Essa análise hiper-temporal foi de suma importância,
em decorrência do clima, pousio e outras práticas de manejo, as quais favorecem
uma rápida regeneração arbóreo-arbustiva e que promovem uma confusão maior
para classificação de imagens de satélite (WONDRADE et al., 2014).
Com base na metodologia adotada, 14% das áreas de pastagens foram
classificadas como áreas de muito baixo crescimento e 46% como áreas de baixo
crescimento vegetativo. Dessa forma, a partir, da classificação espaço-temporal para
a região de estudo, aproximadamente, 60% apresentaram aspectos de degradação,
considerando as classes de baixo e de muito baixo crescimento pelo IC (Tabela
2). Destaca-se que, de acordo com alguns estudos no Brasil, estima-se que entre
50% e 70% das pastagens estejam degradadas ou em processo de degradação
(NASCIMENTO et al., 2006; CHAGAS et al., 2009; DIAS-FILHO et al., 2014).
O IC se torna um indicador de aspectos de degradação da vegetação, haja
vista que outras medidas são necessárias para denotarem a perda de produtividade
vegetal, retração ou ganho em vigor por meio de imagens de satélite e procedimentos
em sensoriamento remoto. Também, para a região estudada, 36% da área apresentou
crescimento estável, 3,5% na classe de alto crescimento e 0,5% com IC muito alto.

Área de Pastagens

Índice de Crescimento Área (ha) Área (%)


Muito baixo 177.322 14.61
Baixo 557.698 45.96

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 16 179


Estável 433.475 35.72
Alto 39.980 3.29
Muito Alto 5.032 0.42
Total 1.213.507 100

Tabela 2 - IC para a região de estudo


Fonte: Hott et al. (2016).

Na Figura 4 observam-se resultados de IC obtido pela metodologia, onde o


verde escuro indica pastagem em boas condições, ou classe de IC “muito alto”, e o
vermelho escuro denota pastagens muito degradadas, ou classe de IC “muito baixo”.
Em gradientes intermediários (cor amarela) estão classificadas as pastagens em
condições estáveis do índice de crescimento na mesorregião da Zona da Mata de
Minas Gerais.

Figura 4 – Classificação pelo IC na mesorregião da Zona da Mata do Estado de Minas Gerais.

A mesorregião utilizada delimitação da área de pastagem a ser estudada


apresenta fatores físico-ambientais típicos de uma grande variedade de microclimas,
relevo, solos e de práticas adotadas no manejo de pastagens. Dessa forma, os
resultados obtidos para áreas observadas em campanha de campo e equivalentes
nas séries temporais de imagens podem ser comparáveis às diversas regiões de
pastagens no Estado de Minas Gerais. Os componentes que atribuem complexidade

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 16 180


ao longo do tempo, tais como uso do fogo, pousio, super pastejo, ocorrência de plantas
invasoras, térmitas e fraco trato cultural podem estar presentes em vários sistemas
de produção no Estado de Minas Gerais. Assim, os métodos empregados para a
composição metodológica se adequam a, praticamente, todo o espaço geográfico
estadual, assim como em outros Estados ou regiões geográficas do Brasil.

4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foram produzidos mapas quinzenais referente ao período de setembro a


outubro, com IC’s respectivos, onde cada resultado representa uma fenologia
específica ou um estágio vegetativo típico. Tais planos de informação trazem muito
acerca do comportamento da pastagem no decorrer do tempo. Entretanto, foi gerado
um plano de informação que denota a média para o período, com o intuito de fornecer
introspecção necessária ao entendimento do processo de crescimento da vegetação
de pastagens e revelarem informações sobre a qualificação das pastagens. Outras
medidas são essenciais para nivelar-se o conhecimento, ao nível da fenologia por
sensoriamento remoto. Contudo, o IC já introduz uma boa aproximação do que ocorre
na vegetação de pastagens, independente do comportamento de cada perfil temporal
em específico, o que poderia ser obtido com medidas de estatísticas descritivas.

REFERÊNCIAS
CHAGAS, C.S.; VIEIRA, C.A. O.; FILHO FERNANDES, E.I.; JÚNIOR, W.C. Utilização de redes
neurais artificiais na classificação de níveis de degradação em pastagens. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 13, p. 319-327, 2009.

DIAS-FILHO, M. B. Diagnóstico das pastagens no Brasil. Belém: EMBRAPA Amazônia Oriental,


2014. 36 p. (Documentos, 402).

HOTT, M. C.; CARVALHO, L. M. T.; ANTUNES, M. A. H.; SANTOS, P. A.; ARANTES, T. B.; RESENDE,
J. C.; ROCHA, W. S. D. Vegetative growth of grasslands based on hyper-temporal NDVI data from the
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www.ibge.gov.br>. Acesso em: 02 mai. 2019.
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Tradução (INPE): Epiphanio, J.C.N.; Formaggio, A.R.; Santos, A.R.; Rudorff, B.F.T; Almeida, C.M.;
Galvão, L.S. São José dos Campos: Parêntese, 2009. 598 p.

NASCIMENTO, M.C.; RIVA, R.D.D.; CHAGAS, C.S.; OLIVEIRA, H.; DIAS, L.E.; FERNANDES FILHO,
E.I.; SOARES, V.P. Uso de imagens do sensor ASTER na identificação de níveis de degradação em
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PONZONI, F. J.; SHIMABUKURO, Y. E. Sensoriamento remoto no estudo da vegetação. São José


dos Campos: Parêntese, 2010. 127 p.

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Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 16 181


Planaltina: Embrapa Cerrados, 2002. 22 p. (Boletim de Pesquisa, 70).

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USGS - Land Processes Distributed Active Archive Center. MODIS data pool holdings. 2019.
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XU, B. et al. MODIS-based remote-sensing monitoring of the spatiotemporal patterns of China’s


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3867-3878, 2013.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 16 182


CAPÍTULO 17

COMPOSTAGEM DE LODO DE ETA

Regina Teresa Rosim Monteiro resíduos de cogumelos, 150 g de amônio (45%


Universidade de São Paulo, Centro de Energia de N) e 260 L do lodo do decantador úmido,
Nuclear na Agricultura, Piracicaba, SP. recém coletado. A umidade permaneceu em
Elaine Contiero Ribeiro média 70% e temperatura 31°C, durante o
Serviço Municipal de Água e Esgoto de processo. Foram retiradas amostras de 30 kg
Piracicaba, SP
aos 30 e 60 dias, secas em estufa a 60°C. O lodo
Gabriel Teodoro Batista tratado foi misturado ao solo, na concentração
Universidade de São Paulo – Escola Superior de
de 10 g Kg-1 (20t ha-1). Os resultados mostraram
Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, SP.
positivos para germinação e crescimento de
Patrick Oliveira Nunes da Silva milho, o peso úmido, das raízes aumentou em
Universidade de São Paulo – Escola Superior de
44 e 70%, com 30 e 60 dias, respectivamente,
Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, SP.
em relação ao solo controle e, ao redor de
Cassia Conrado Souto
14% maior do peso seco. O lodo tratado aos
Universidade de São Paulo – Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, SP. 60 dias misturado 50%, à substrato comercial
para germinação de sementes de Eucalyptus
Urograndis, proporcionou aumento de 1,25
vezes ou 25% na germinação das sementes
RESUMO: O tratamento da água em estações
comparado com substrato comercial, aos 8
de tratamento gera resíduo de aspecto pastoso,
dias da semeadura. Os resultados mostram
na proporção de 0,3 a 1% da água tratada. Esse
o bom potencial da utilização da técnica para
resíduo chamado de lodo é de difícil tratamento
tratamento do lodo.
bem como a sua disposição no ambiente. A
PALAVRAS-CHAVE: lodo de ETA; fertilizante;
composição está relacionada com a qualidade
condicionador; Pleurotus
do manancial utilizado, com os insumos e as
metodologias aplicadas ao tratamento da
COMPOSTING OF ETA SLUDGE
água. Com o objetivo de tratar o lodo oriundo
da ETA Capim Fino, Piracicaba, SP, para ABSTRACT: The treatment of water in treatment
transforma-lo em substrato ou fertilizante, foi plants generates residue of paste appearance,
realizado compostagem adicionando resíduos in the proportion of 0.3 to 1% of the treated
da produção de cogumelos Pleurotus ostreatus water. This residue called sludge is difficult to
var. shimeji. A leira foi formada com 135 kg de treat as well as its disposal in the environment.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 17 183


Its composition is related to the quality of the spring used, with the inputs and the
methodologies applied to the water treatment. In order to treat sludge from ETA Capim
Fino, Piracicaba, SP, to convert it into a substrate or fertilizer, composting was carried
out by adding residues from the production of mushrooms Pleurotus ostreatus var.
shimeji. The litter was formed with 135 kg of mushroom residues, 150 g ammonium
(45% N) and 260 L of freshly collected sludge from the decanter. The humidity remained
on average 70% and temperature 31 ° C during the process. Samples of 30 kg were
taken at 30 and 60 days, oven dried at 60 ° C. The treated sludge was mixed to the soil
at the concentration of 10 g Kg-1 (20 t ha-1). The results showed positive for germination
and corn growth, the wet weight of the roots increased in 44 and 70%, with 30 and 60
days, respectively, in relation to the control soil and, around 14% higher dry weight. The
sludge treated at 60 days mixed 50%, to the commercial substrate for germination of
Eucalyptus Urograndis seeds, provided a 1.25 fold or 25% increase in seed germination
compared to commercial substrate at 8 days of sowing. The results show the good
potential of the sludge treatment technique.
KEYWORDS: ETA sludge; fertilizer; conditioner; Pleurotus

1 | INTRODUÇÃO

Os lodos de ETAs têm sido classificados, de acordo com a ABNT NBR 10.004
(2004), como Resíduo classe II A não inerte, com solubilidade em água. A ausência
de tratamento adequado de resíduos leva a degradação dos ambientes, necessitando
buscar soluções diversificadas, com viabilidades técnicas e econômicas. A
composição do lodo das Estações de Tratamento de Água (ETA) está relacionada
com a qualidade do manancial utilizado, com os insumos e as metodologias
aplicadas ao tratamento da água. Em geral, o lodo de ETA apresenta granulometria
fina de aspecto pastoso. Seu destino nos corpos d’água tem se mostrado tóxico
para os organismos aquáticos e quando armazenado é um passivo ambiental com
problemas de disposição (Tsutiya e Hirata, 2001; Messias, 2013). Quando tratado e
misturado a outros materiais tem se mostrado de grande utilidade. Os possíveis usos
foram discutidos por Wagner e Pedroso (2014), tendo como alternativas: disposição
em aterro, aplicação controlada no solo, compostagem, fabricação de cimento,
aplicação em concreto, recuperação de coagulantes, controle de liberação de H2S e
seu tratamento em estações de tratamento de esgoto (Tsutiya e Hirata, 2001; Wagner
e Pedroso, 2014; Iwaki, 2017). A Norma técnica L1.022 (CETESB, 2007) versa
sobre avaliação do uso de produtos biotecnológicos para tratamento de efluentes
líquidos, resíduos sólidos e remediação de solos e águas, ressaltando a utilização de
microrganismos para o tratamento. Os fungos do gênero Pleurotus, são comestíveis
e reconhecidos como grandes produtores de enzimas que catalisam a transformação
de compostos orgânicos e inorgânicos. Têm sido utilizados para recuperação
de solos degradados e tratamentos de efluentes (Silva e Esposito 2004). Santos
(2014) incubou o lodo de ETA Capim Fino, Piracicaba, SP, inoculado com Pleurotus,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 17 184


desenvolvido em bagaço de cana-de-açúcar, alcançando valores de germinação
e crescimento de plantas de milho e girassol, superiores ao controle testados em
substrato comercial. O lodo, de mesma origem, foi tratado por Bitencourt (2016), com
as mesmas espécies de fungos, incubados por 60 dias e então incorporado ao solo,
em diversas concentrações, registrando que a concentração de 10 g kg-1 (20 t/ha)
resulta em um bom desenvolvimento de plantas de milho, sem causar toxicidade ou
acumulo de elementos químicos indesejáveis. A utilização da norma ABNT NBR ISO
11269-2 (2014) facilita a avaliação de fitoxicidade para plântulas desenvolvidas em
solos contaminados ou remediados, medindo a emergência e o desenvolvimento de
plântulas de pelo menos duas espécies vegetais. O resultado do tratamento do lodo
da ETA Capim Fino, Piracicaba-SP, utilizando a técnica de compostagem e adição do
resíduo da produção comercial de cogumelos Pleurotus ostreatus var. shimeji, para
produção de fertilizante e/ou substrato aplicando a norma técnica L1.022 (CETESB,
2007) e testando a fitotoxicidade pela norma ABNT NBR ISO 11269-2 (2014), serão
então apresentados.

2 | MATERIAL

2.1 MICRORGANISMO: O resíduo da produção de cogumelos, foi doado por


empresa local, após 90 dias de produção e consiste de um bloco sólido, úmido,
contido em sacos plásticos escuros de cerca de 4 kg, composto de bagaço de cana-
de-açúcar e micélio do fungo Pleurotus ostreatus var. shimeji, com os micélios vivos
e enzimas ativas: lacase e manganês peroxidase, entre outras.
2.2 LODO DE ETA: No momento da formação da leira o lodo da ETA Capim
Fino, Piracicaba, SP, foi coletado no decantador, quando desativado para limpeza,
com balde inox de 10 L.
2.3 SOLO: O solo para incorporação do lodo tratado (10 g kg-1) foi coletado
na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” ESALQ/USP, Piracicaba, SP,
seco ao ar, seguido de peneiramento a 2 mm, analisado em termos de fertilidade
e classificado como tipo Latossolo Vermelho distrófico típico (Tabela 1). O pH foi
acertado para neutralidade com carbonato de cálcio.

3 | METODOLOGIA

A implantação do experimento foi baseada nas normas técnicas da CETESB


L1.022 (2007) e na ABNT NBR ISO 11269-2 (2014). O tratamento do lodo foi
realizado na forma de leira, baseado na técnica de compostagem, para produção de
fertilizante e/ou substrato. A leira foi formada com 135 kg de resíduos de cogumelos
e adicionados 150 g de amônio com 45% de nitrogênio e 260 L do lodo. Foi realizada
a mistura com ajuda de pá e enxada, no pátio de secagem de lodo da ETA, sendo

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 17 185


uma área aberta, cimentada, livre de circulação de máquinas e equipamentos.
Foram coletadas três amostras para medição de umidade no tempo zero, trinta e
60 dias, resultando médias de 76,21; 67,00 e 69,02%, respectivamente. Aos trinta
dias a leira foi revirada e homogeneizada, com pá e enxada. Foi então acrescentado
cerca de 30 kg de serragem antes da revirada. A temperatura da leira foi medida
em 20 pontos, com termômetro digital tipo espeto, e ficou ao redor de 31,4°C,
durante o processo. Foram retiradas amostras com cerca de 30 kg aos 30 e 60 dias,
secas em estufa a 65°C com circulação de ar, passadas por peneiras de 7 mm de
malha para posterior análises e testes com plantas e enviado para análise para sua
caracterização como composto (Tabela 1). O lodo tratado foi misturado ao solo na
proporção de 10 g kg-1.Testes de germinação de sementes e desenvolvimento de
plântulas de girassol e milho, foram realizados, seguindo a norma ABNT NBR ISO
11269-2 (2014). Foram utilizados vasos plásticos contendo 400 g de solo/substrato
em quatro repetições. Foram calculados a porcentagem de germinação e velocidade
de germinação (Maguire, 1962), durante sete dias. Após 14 dias da germinação de
50% das sementes, nos vasos controles, as plântulas foram colhidas e analisadas
quanto ao comprimento das raízes e parte aérea e secas a 65°C para análise de
biomassa.
Testes de germinação de sementes de eucaliptos da espécie Eucalyptus
Urograndis, foram realizados em condições comerciais utilizando o lodo compostado
por 60 dias, como substrato, a zero, 50 e 100% de concentrações, em tubetes,
nas instalações do Viveiro do Departamento de Ciências Florestais da, ESALQ/
USP/Piracicaba. As sementes de Eucalyptus urophylla x Eucalyptus grandis, foram
fornecidas pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPFE), cultivar RIP01,
lote AN0391N01, safra 2016, com nível de melhoramento de PSM (F3). Foram
semeadas em média 10 sementes por tubete, utilizando um medidor, cobrindo as
sementes com cerca de 0,5 cm de cada substrato. A contagem da emergência das
plântulas foi diária, do primeiro ao quinto dia, quando 50% das sementes germinaram
no controle.

4 | RESULTADOS/DISCUSSÃO

O tratamento do lodo seguiu por 60 dias de forma aeróbia (Figura 1), não
havendo formação de compostos com enxofre, que conferem odor característico de
anaerobiose (Kiehl, 2012). Amostras retiradas aos 30 e 60 dias mostram um composto
de cheiro e aparência agradável e coloração escura, com as características físicas e
químicas mostradas na Tabela 1.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 17 186


Figura 1 - Foto da leira de tratamento do lodo ao primeiro, 30 e 60 dias de incubação

60
Característica Solo 30dias Característica Solo 30 dias 60 dias
dias
Mg total (%) - 1,19 1,16
pH CaCl2 4,3 8,1 8,3
(mmolc dc-3) 1,0
Densidade (g S total (%) - 0,12 0,09
- 0,61 0,53
cm3) (SO4) mg/kg 25
Umidade (%) - 3,53 3,35 Relação Co/Nt - 22 27
MOt comb. (%) - 47,04 45,18
Cu t (mg kg-1) 0,1 14 16
(g kg-1) 7
C orgânico (%) - 25,19 24,17 Mn t (mg kg-1) 2,2 561 655

Res. Min. t (%) - 45,02 43,29 Zn t (mg kg-1) 0,2 74 62

Res. Min. S (%) - 19,21 18,93 Fe t (mg kg-1) 3,0 11642 11763

N t (%) - 1,14 0,90 B t (mg kg-1) 0,14 6 4


P t (P2O5 %) - 1,53 1,53
Na t (mg kg-1) - 310 298
(mg kg-1) 8,2
K t (K2O %) - 0,25 0,20 CTC
41 710 620
(mmolc dc-3) 0,6 (mmolc kg-1)
Ca t (%) - 3,70 3,84
CE (ds m -1) - 2,05 1,66
(mmolc dc-3) 5

Solo analisado Fertilidade por Pirasolo. Composto analisado por Dep. Solos ESALQ/USP/
Piracicaba.

Abreviações: MOt= matéria orgânica total, Res.Min.= resíduo mineral, total e solúvel, CE=
condutividade elétrica

Tabela 1 - Características físicas e químicas do solo, e do lodo de decantadores da ETA do rio


Corumbataí (SEMAE, Piracicaba, SP), tratado por 30 e 60 dias

A Resolução do CONAMA 313/2002 (Brasil, 2012) define lodo de ETA como


resíduo sólido industrial. A Lei 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos
(Brasil, 2010), em seu Capítulo II, artigo 3º, incisos XV e XVI diferencia resíduos de
rejeitos, sendo definido como rejeitos os resíduos sólidos que, depois de esgotadas
todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos
disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não
a disposição final ambientalmente adequada. Messias (2013) avaliou a toxicidade

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 17 187


dos diferentes tipos de lodos produzidos pela ETA Capim Fino, Piracicaba,
encontrando toxicidade para os organismos aquáticos e quando aplicado em
diferentes concentrações no solo, não verificou toxicidade para plantas de milho e
girassol, nas concentrações de 50% e inferiores. Bitencourt (2016) tratou durante
60 dias, o lodo de mesma origem, com duas espécies de Pleurotus e encontrou
que a aplicação de 10 g kg-1 de solo, foi benéfica para o desenvolvimento de
plantas de milho. Análises dos elementos químicos do lodo mostraram a presença
de altas concentrações de ferro, alumínio, manganês, magnésio, potássio e cálcio.
(Messias, 2013; Bitencourt, 2016). Utilizando a Norma P.4.230 (CETESB, 2009), a
concentração dos elementos químicos encontrados no lodo da ETA Capim Fino, são
inferiores aos limites estabelecidos aos metais constantes na Norma, sendo possível
sua compostagem. Nos experimentos realizados com girassol e milho os elementos
ficaram concentrados nas raízes das plantas, sugerindo o potencial da utilização do
lodo em áreas agrícolas.
Conforme apresentado na Tabela 1 o composto formado após 30 e 60 dias
da formação da leira, mostrou características de um bom material, tendo matéria
orgânica superior a 30%, pH entre 5,5 e 8,5, livre de Salmonella spp. e Escherichia
coli (cloração na entrada da água a ser tratada pela ETA), podendo ser aplicado em
base seca de 20 t ha-1, com as concentrações de metais menores que os limites de
concentração sugeridos pela Norma P4.230 (CETESB, 2009).
Os resultados de porcentagem e velocidade de germinação, das sementes de
girassol e milho, são apresentados nos gráficos da Figura 2. Em associação com a
maior porcentagem de germinação está a velocidade de germinação, mostrando que
a adição do lodo compostado ao solo proporcionou um ganho no desenvolvimento
das sementes, não apresentando toxicidade. As biomassas úmidas e secas das
plântulas são apresentadas na Tabela 2. Devido a época de plantio (fevereiro-
março), o interior da casa de vegetação alcançou temperaturas médias de 45°C,
indesejáveis para a germinação e/ou desenvolvimento das plântulas, assim os
valores alcançados ficaram abaixo do esperado, mesmo no controle, sobretudo para
o Girassol. A germinação das sementes de girassol nos tratamentos, não diferiram
do controle, sendo de 63 a 65% (Figura 2). Já a velocidade de germinação foi melhor
nos tratamentos com adição do lodo tratado, durante 30 e 60 dias, apresentando
velocidade 1,2 e 1,4 maior, respectivamente (Figura 2). A germinação do milho
(Figura 2) foi maior nos tratamentos com o composto, sendo a germinação de 93%
no tratamento com lodo 30 dias, e a velocidade de germinação de 1,4 e 1,3 maior
que o controle, nos tratamentos 30 e 60 dias, respectivamente. O efeito na melhora
da germinação e crescimento de milho foi bastante visível, no peso úmido, as raízes
tiveram o peso aumentado em 44 e 70%, aos 30 e 60 dias, respectivamente, em
relação ao solo controle e ao redor de 14% maior do peso seco (Tabela 2).

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 17 188


Figura 2 - Porcentagem e velocidade média (dias-1) de germinação de sementes de milho e
girassol em solo e, em solo com aplicação de 10 g kg-1 de lodo tratado

Parte Parte
Raiz (g) Raiz (g) Total (g) Total (g)
aérea (g) aérea (g)
úmido seco úmido seco
úmido seco
Controle 2,97 B 1,27 A 3,93 A 0,50 A 6,90 B 1,77 A

Tratado 30 4,30 A 1,46 A 3,62 A 0,51 A 7,92 BA 1,97 A

Tratado 60 5,05 A 1,45 A 4,17 A 0,54 A 9,22 A 1,99 A

Médias com letras maiúsculas diferentes na vertical, indicam diferença pelo teste de Tukey a
5%.

Tabela 2 - Média de biomassa úmida e seca (g) de raiz e parte aérea e de plântulas inteiras de
milho desenvolvidas em solo, solo com adição de lodo compostado por 30 e 60 dias

A utilização do composto aos 60 dias como substrato para germinação de


sementes de eucaliptos mostrou que a mistura de substrato comercial com 50%
do lodo compostado proporcionou aumento de 1,25 vezes maior ou seja 25% na
germinação das sementes comparado com substrato comercial, aos 8 dias da
semeadura, quando se foi atingida a proporção de germinação média de 50% das
sementes, no substrato comercial, considerado controle (Tabela 3). O composto
comercial tem as condições ideais de porosidade, balanço de nutrientes e outras
propriedades para proporcionar às sementes expressarem seus potenciais máximos
de desenvolvimento. A Figura 3 mostra as plântulas de Eucalyptus desenvolvidas em
substrato comercial, substrato comercial com 50% de composto e 100% composto.
Para o desenvolvimento das plântulas o substrato comercial mostrou ser mais
apropriado do que o composto, entretanto em termos de custo benefício pode-
se utilizar misturado a 50% ou menor quantidade para bom desenvolvimento das
plântulas.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 17 189


SUBSTRATO COMPOSTO
AVALIAÇÕES
100% 50% 100%

Germinação (%) em 8 dias 54,18 67,63 48,00

Velocidade Germinação Média


154,00 207,86 143,38
(Sementes por dia)
Tempo médio de Germinação em
0,20 0,25 0,16
5 dias (Dia-1)

Tabela 3 - Germinação de sementes Eucalyptus Urograndis em substrato e em lodo tratado


por 60 dias (composto)

FIGURA 3: Plântulas de Eucalyptus desenvolvidas no substrato de lodo compostado, zero, 50%


e 100%

5 | CONCLUSÃO

O tratamento do lodo com os resíduos de produção de cogumelos Pleurotus


ostreatus, var. shimeji, mostra ser adequado e ter potencial para ser utilizado
como fertilizante na germinação e crescimento de plantas como girassol, milho. O
tratamento por 60 dias mostra ser promissor para o tratamento de lodo de ETA e sua
utilização como mistura em substrato para germinação de sementes de Eucalyptus
Urograndis.

REFERENCIAS
ABNT (2004). ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: Resíduos sólidos -
Classificação. Rio de Janeiro, 71 p.

ABNT (2014). ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR ISSO 11269-2, Qualidade
do solo - Determinação dos efeitos de poluentes na flora terrestre
Parte 2: Efeitos do solo contaminado na emergência e no crescimento inicial de vegetais superiores,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 17 190


Rio de Janeiro, 23 p.

BITENCOURT, G.A. (2016). Caracterização ecotoxicológica de lodo gerado em estação de


tratamento de água. Tese (Doutorado em Ciências) – Centro de Energia Nuclear na Agricultura,
Universidade de São Paulo, Piracicaba, 125 p.

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Oficial da União, Brasília, DF.

BRASIL (2012). Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional de Meio Ambiente, CONAMA.
RESOLUÇÃO nº 313, de 29 de outubro de 2002 Publicada no DOU no 226, de 22 de novembro de
2002, Seção 1, páginas 85-91 Correlações: · Revoga a Resolução CONAMA no 6/88 Dispõe sobre o
Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais.

CETESB (2009). COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL. Norma P4.230:


Aplicação de lodos de sistemas de tratamento biológico em áreas agrícolas – Critérios para
projeto e operação: manual técnico. São Paulo, 32 p.

CETESB (2007). COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL. Norma L1.022:


Avaliação do uso de produtos biotecnológicos para tratamento de efluentes líquidos, resíduos
sólidos e remediação de solos e águas. São Paulo, 21 p.
IWAKI, G. (2017) Destinação final de lodos de ETAs e ETEs. Portal do tratamento de água. Publicado
em 19/01/2017. Digital: http://www.tratamentodeagua.com.br/artigo. Acesso 22/02/2017.

KIEHL, R. J. (2012). Manual de Compostagem: Maturação e Qualidade do composto. 6ed.


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MAGUIRE, J.D. (1962). Speed of germination aid in selection and evaluation for seedling emergence
and vigor. Crop Science, v.2, n.1, p.176-177.

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água. 163 f. Tese (Doutorado em Ciências) – Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Universidade
de São Paulo, Piracicaba, SP, 163 p.

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e Ambiental. Rio de Janeiro: ABES, 2001.

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Revista Technoeng vol.1, n.9, digital: http://www.faculdadespontagrossa.com.br/revistas. Acesso em
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Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 17 191


CAPÍTULO 18

EFEITOS DA DISPOSIÇÃO DE LODO DE ESTAÇÃO


DE TRATAMENTO DE ÁGUA (ETA) SOBRE ÁGUAS
SUPERFICIAIS: UMA ABORDAGEM TEÓRICA

Luiz Roberto Taboni Junior Saúde. Assim como todo processo de produção
Universidade Estadual de Maringá, Departamento convencional de água, o tratamento de água
de Engenharia Urbana potável gera subprodutos sólidos, ou seja,
Maringá – Paraná lodos, que, normalmente, são constituídos por
Ana Paula Jambers Scandelai matérias orgânica e inorgânica. Diante desse
Universidade Estadual de Maringá, Departamento contexto, o objetivo deste estudo é apresentar
de Engenharia Química
os principais impactos gerados pela disposição
Maringá – Paraná de lodo produzido em ETAs sobre as águas
Bruna Schmitt Schuster superficiais, bem como as soluções existentes
Universidade Estadual de Maringá, Departamento para mitigar tal disposição. Como resultado,
de Engenharia Urbana
foi possível verificar que, além de reduzir a
Maringá – Paraná
disponibilidade de água para o consumo, o
Aline Naiara Zito lançamento de lodo em corpos hídricos aumenta
Universidade Estadual de Maringá, Departamento
o custo do tratamento da água a ser fornecido
de Engenharia Urbana
para a população e reduz a biodiversidade
Maringá – Paraná
no ambiente de lançamento. Em relação às
Hugo Gabriel Fernandes Viotto soluções alternativas à disposição do lodo,
Universidade Estadual de Maringá, Departamento
verifica-se que as ETAs têm buscado tratar
de Engenharia Urbana
esse material, iniciando-se com a instalação
Maringá – Paraná
de equipamentos de adensamento, como
filtro prensa de placas, centrífugas e leitos de
secagem.
RESUMO: As estações de tratamento de água PALAVRAS-CHAVE: Geração de Lodo.
(ETA) têm, como função, converter a água in Impacto Ambiental. Tratamento de Lodo.
natura em potável. Em território brasileiro,
a tecnologia mais usual para realizar essa
EFFECTS OF SLUDGE DISPOSAL FROM
conversão é a de ciclo completo (coagulação- WATER TREATMENT PLANTS (WTPS)
floculação-decantação-filtração), permitindo ON SURFACE WATERS: A THEORETICAL
uma água potável com parâmetros que atendem APPROACH
aos apresentados pelo Anexo XX da Portaria
ABSTRACT: Water Treatment Plants (WTPs)
de Consolidação n°. 5/2017, do Ministério da

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 18 192


are responsible for turning raw water into drinking water. The most common technology
in Brazil is the complete cycle, (coagulation-flocculation-decantation-filtration), which
results in drinking water following the parameters from Annex XX of the Consolidation
Ordinance n. 5/2017 of the Ministry of Health. Any conventional water treatment
process generates wastes such as sludge, which is usually composed of organic and
inorganic matter. In view of this context, the objective of this study is to present the main
impacts resulting on the disposal of sludge produced in WTPs on surface waters, as
well as presenting the existing solutions to mitigate such an arrangement. As a result,
it was verified that in addition to reducing the availability of water for consumption, the
disposal of sludge into water surfaces increases the cost of water treatment and reduces
biodiversity in the environment. As an alternative solution to the sludge disposal, WTPs
have tried to treat such waste by installing some densification equipment, such as plate
press filter, centrifuges and drying beds.
KEYWORDS: Sludge Generation. Environmental Impact. Treatment of Sludge.

1 | INTRODUÇÃO

As estações de tratamento de água (ETA) são responsáveis por tratarem a


água in natura, fornecendo aos consumidores um produto com qualidade potável
que segue a Portaria de Consolidação n°. 5, de 28 de setembro de 2017, Anexo XX,
do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017).
No Brasil, o sistema mais comum de tratamento de água in natura é o de ciclo
completo, formado pelas etapas de coagulação, floculação, decantação e filtração.
De acordo com Ribeiro (2007), além do fornecimento de água potável, as ETAs
são responsáveis por gerarem resíduos sólidos (lodo), resultante do processo de
decantação e filtração.
Estima-se que, diariamente, as ETAs brasileiras produzam, aproximadamente,
200 toneladas de resíduos sólidos que, em sua maioria, são lançados sobre galerias
de águas pluviais e em estações de tratamento de esgoto (ETEs), sem prévio
tratamento (CORDEIRO, 2002). Deste modo, é imprescindível que se desenvolva
um sistema de gestão e gerenciamento que promova a disposição final do lodo e o
mínimo de consequências ambientais e sociais.
Segundo Barbosa (2000), o lodo produzido em ETA apresenta características
de baixa biodegradabilidade, alta concentração de sólidos totais, e de metais, que
podem causar toxicidade à vida aquática e diminuir o potencial de autodepuração do
corpo receptor.
No âmbito urbano, o lançamento de lodo sobre corpos hídricos reduzem a
quantidade de áreas disponíveis para o lazer e aumentam o custo do tratamento para
converter em água potável a água bruta. Além disso, o contato de seres humanos
com o lodo contendo metais pesados pode gerar problemas de saúde crônicos.
Diante desta contextualização, este estudo tem, como objetivo, realizar uma
revisão de literatura, demonstrando os principais impactos ambientais gerados pela
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 18 193
disposição irregular de resíduo de ETA (lodo) sobre os corpos hídricos e apresentar
as soluções existentes quanto à sua gestão e gerenciamento.

2 | MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo é configurado com base na realização de uma pesquisa


descritiva, apanhando um panorama histórico sobre os impactos ambientais, sociais
e econômicos ocasionados pelo lançamento de resíduos de ETAs sobre águas
superficiais. Como base teórica, foram utilizadas dissertações, teses e artigos
relacionados à temática de estudo.
Gil (1989) defende que o objetivo de uma pesquisa descritiva se concentra,
principalmente, na caracterização de identificação de determinada população ou
objeto de estudo, o qual tende a se apresentar soluções para os possíveis problemas
identificados durante o decorrer da pesquisa.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Impactos ambientais da disposição irregular de lodo


Ribeiro (2007) desenvolveu sua pesquisa buscando demonstrar os impactos
visuais estabelecidos pela disposição irregular de lodo sobre o córrego da cidade
de Itabirito, Minas Gerais, Brasil. Como resultado, concluiu que o impacto visual
sobre a via hídrica é perceptível ao longo dos 8 km do córrego. A Figura 1 mostra
a diferença de cor aparente e turbidez da água antes e depois do lançamento do
resíduo. Além destas alterações, o autor identificou modificações no ciclo de vida do
córrego, principalmente no ponto inicial de lançamento de lodo.

Figura 1 – Córrego Carioca antes e depois do ponto de lançamento de lodo


Fonte: Ribeiro (2007)

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 18 194


Com relação às características microbiológicas do lodo, Scalize (1997) afirma
que a existência das larvas de Strongiloides e Acylostomidae e elevadas taxas de
coliformes fecais e totais reduzem a biodiversidade do corpo receptor. Nos seres
humanos, o efeito está relacionado à disfunção do sistema intestinal e respiratório.
De acordo com Batalha (2006), outro impacto gerado aos seres humanos,
está relacionado a futuras lesões cerebrais, características do mal de Alzheimer,
que pode estar associada à presença do alumínio no lodo lançado sobre os corpos
hídricos, uma vez que as ETAs fazem o uso do sulfato de alumínio ou do policloreto
de alumínio como coagulante, os quais são de origem inorgânica.
Do mesmo modo, Barbosa (2000) destaca o efeito do lodo gerado em estações
que utilizam o sulfato de alumínio e o cloreto férrico como coagulante. Com seu
estudo, foi identificado que, em ETAs que utilizam o sulfato férrico, o impacto sobre
os corpos hídricos são maiores, principalmente em relação aos neonatos (recém-
nascidos) e ao aumento da taxa de mortalidade dos organismos existentes no local.
Segundo Machado et al. (2002), a disposição final de lodo de ETA pode
causar, ainda, a redução da concentração de oxigênio dissolvido no ambiente de
lançamento, tornando-o um ambiente aeróbico, com camadas de material sólido ao
fundo, diminuindo a profundidade do corpo hídrico, e odores desagradáveis.
Atualmente, presencia-se a existência de políticas públicas que vem visando à
proteção e a regularização do uso das águas subterrâneas e superficiais. No Brasil,
as ETAs que realizam o lançamento de lodo sobre os corpos hídricos devem seguir
a Resolução CONAMA n°. 430/2011 (BRASIL, 2011), que se refere às condições de
lançamento de efluentes em corpos de água.
Entretanto, é necessário ressaltar que o lodo é considerado um resíduo sólido
pela NBR 10004:2004 (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2004a), a qual
não permite o lançamento de matéria sólida e semissólida em vias hídricas. Caso
for constatado o aumento na concentração de substâncias tóxicas no corpo hídrico,
diminuição da luminosidade do meio aquático e ascensão na taxa de assoreamento
da área receptora, a companhia de saneamento pode ser punida pela Política de
Crimes Ambientais, segundo a Lei Federal n°. 9.605/1998 (BRASIL, 1998).
No caso do estado do Paraná, a normativa responsável por estabelecer
critérios e procedimentos sobre os resíduos gerados em ETAs e ETEs é a Resolução
SEMA n°. 021/2009 (PARANÁ, 2009). A normativa constitui-se de prazos para que
as concessionárias de abastecimento desenvolvam espaços capazes de tratarem
e disporem o lodo de modo a não gerarem danos ao meio urbano. O Quadro 1
apresenta os prazos estabelecidos pela normativa para a implantação do sistema de
intervenção.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 18 195


Vazão de tratamento Período de adequação
Vazão igual ou superior a 2.500 L/s 5 anos após a publicação da resolução
Vazão superior a 500 l/s e inferior a
7 anos após a publicação da resolução
2.500 L/s
Vazão superior a 30 l/s e inferior a
10 anos após a publicação da resolução
500 L/s

Quadro 1 – Prazos para implantação do sistema de tratamento de lodo no estado do Paraná


Fonte: Adaptado de SEMA n°. 021/2009 (PARANÁ, 2009)

Mesmo a referida resolução estando em vigor desde o ano 2009, uma década
depois ainda é comum verificar o lançamento de lodo sobre os corpos hídricos no
estado. De acordo com Gervasoni (2014), a previsão inicial era que, até o início de
2019, todas as estações tivessem uma área responsável por tratar o lodo, o que não
ocorreu na totalidade de ETAs existentes no estado.

3.2 Tratamento de lodo de ETA


O tratamento de lodo originário de ETAs pode ser realizado mediante a
utilização de métodos mecânicos e manuais, os quais objetivam reduzir o teor de
água sobre o lodo, atingindo, geralmente, um percentual de umidade acima dos 95%
sobre seu peso total (LIBÂNIO, 2010). Ainda de acordo com o autor, os decantadores
são responsáveis por gerarem a maior quantidade de resíduo dentre os processos
utilizados para o adensamento do lodo, quando comparado com os filtros, que
produzem um lodo com menor quantidade de partículas sólidas.
O Quadro 2 apresenta os principais métodos de desaguamento de lodo
existentes e as suas principais características, que servem como base para iniciar o
tratamento do lodo.

Método Vantagem Desvantagem


Baixo consumo de energia; Causa poluição visual;
Não necessita de mão-de-obra Depende das condições
qualificada; climáticas;
Lagoa de lodo Não requer a aplicação de insumos Menor eficiência no período de
químicos, como cal; chuvas;
Menor custo em relação ao sistema Ocupa grandes áreas;
mecânico. Causa impacto visual.
Baixo consumo de energia;
Recomendável para regiões quentes; Depende de fatores climáticos;
Leito de secagem
Não é necessario mão-de-obra Pode causar poluição visual.
qualificada.
Não possui proteção contra
Alta eficiência na formação da torta
Prensa proliferação de vetores;
de lodo, com baixa umidade;
desaguadora Causam poluição visual na área
Baixo investimento de manutenção.
de instalação.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 18 196


Não emite aerossol; Alto consumo de eletricidade;
Centrífuga Fornece uma torta de lodo com Necessita de mão-de-obra
menor umidade. qualificada.
Fornece uma torta de lodo com teor
de sólidos superiores a 25%;
Não causa impacto visual na região Requer grandes investimentos
Filtro prensa de
de instalação. iniciais;
placas
Podem ser utilizadas placas Requer manutenção periódica.
auxiliares para melhorar a eficiência
do sistema.

Quadro 2 – Métodos de desaguamento de lodo de ETA


Fonte: Adaptado de Jordão e Pessoa (2006) e TUROVSKIY e MATHAI (2006)

Nos dias atuais, as lagoas de lodo têm sido inutilizadas, devido ao conjunto de
impactos visuais que causam e à necessidade de grandes áreas que essa técnica
requer para a sua implantação. Assim, os métodos mecânicos têm se destacado,
gerando poucos impactos em sua área de implantação e fornecendo, em sua maioria,
uma torta de lodo com teores de sólidos acima dos 25%.
Após a etapa de desaguamento do lodo, cabe à concessionária de abastecimento
destinar o resíduo gerado na ETA de sua responsabilidade, seja por doação a
terceiros ou pela disposição em aterros sanitários. Em seu estudo, Hoppen et al.
(2006) afirmam que, quando se opta pela disposição do lodo em aterros, é necessário
se comprovar que a área possui licença ambiental para receber esse tipo de resíduo,
além de se realizar o monitoramento das águas subterrâneas da região e das águas
de lixiviação, mitigando-se qualquer risco de contaminação ao ambiente.
Quando se refere à destinação final, o lodo pode ser doado para que sejam
realizados estudos sobre a sua incorporação na fabricação de outros produtos, como
cerâmica vermelha e cimento, ou até mesmo como selagem de aterros sanitários
(TABONI et al., 2018). No entanto, existem fatores que podem limitar essa destinação,
destacando-se a distância entre as ETAs e as indústrias e a instabilidade química e
física do lodo. Portanto, é necessário que sejam feitas análises físico-químicas do
lodo para garantir a qualidade do produto final, conforme os métodos exemplificados
no Quadro 3.

Análise do lodo in natura Método comumente utilizado Referência do método

Ensaio de lixiviação Lixiviação NBR 10005:2004 (ABNT, 1994b)

Ensaio de solubilização Extração NBR 10006:2004 (ABNT, 1994c)

pH Potenciométrico Manual do equipamento

Turbidez (UNT) Nefelométrico Manual do equipamento

Cor aparente e verdadeira (uH) Método platina-cobalto (λ = 455 nm) Manual do equipamento

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 18 197


Demanda química de oxigênio
Colorimétrico APHA (1998) - Método 5220 D
(DQO) (mg/L)
Demanda bioquímica de
Respirométrico APHA (1998) - Método 5210 D
oxigênio (DBO) (mg/L)
Sólidos totais (mg/L) Gravimétrico APHA (1998) - Método 2540 B
Sólidos dissolvidos (mg/L) Gravimétrico APHA (1998) - Método 2540 C
Sólidos suspensos (mg/L) Secagem a 103-105 °C APHA (1998) - Método 2540 D
Sólidos totais fixos e voláteis
Aquecimento a 550 °C APHA (1998) - Método 2540 E
(mg/L)
Sólidos sedimentáveis (mg/L) Gravimétrico APHA (1998) - Método 2540 F
Alcalinidade (mg CaCO3/L) Titulométrico APHA (1998) - Método 2320 B
Espectroscopia de absorção
Metais totais (mg/L) APHA (1998) - Método 3111
atômica
Nitrato (mg N-NO3-/L) Redução por cádmio HACH (1996) - Método 8039
Sulfatos (mg SO42-/L) SulfaVer 4 Powder Pillows HACH (1996) - Método 8051
Fósforo total (mg P/L) Digestão por ácido persulfato HACH (1996) - Método 8190
Procedimento do método
Coliformes totais (NMP/100 mL) Substrato cromogênico
ColilertTM (marca IDEXX)
Coliformes fecais (E. coli) Procedimento do método
Substrato cromogênico
(NMP/100 mL) ColilertTM (marca IDEXX)

Notas: uH = unidade de Hazen, que é equivalente à uC (unidade de cor) e à mg Pt-Co/L; UNT =


unidade nefelométrica de turbidez.

Quadro 3 – Análises físico-químicas do lodo de ETA necessárias anteriormente à sua


destinação

A partir dos resultados obtidos pelos ensaios de caracterização físico-química


do lodo, é possível conhecer as características do resíduo gerado e tomar a decisão
se o mesmo pode ser destinado diretamente em corpos hídricos ou se a melhor
forma de garantir a qualidade ambiental, social e econômica é por meio da sua
disposição final em aterros sanitários.
É importante ressaltar que, para a determinação de algumas das características
físico-químicas do lodo, é necessário realizar preliminarmente os ensaios de
lixiviação e solubilização, conforme o procedimento recomendado pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas, em sua NBR 10005:2004 e NBR 10006:2004. Os
resultados dos parâmetros obtidos para os extratos lixiviado e solubilizado devem
atender aos limites estabelecidos pela NBR 10004: 2004 (Associação Brasileira de
Normas Técnicas, 2004a).

3.3 Alternativas ambientalmente corretas de destinação do lodo de ETA


Diante da crescente busca pela preservação ambiental, soluções
economicamente viáveis e ambientalmente vantajosas para a reutilização do lodo de
ETA têm sido buscadas, a fim de reinseri-lo no ao ciclo produtivo de outros materiais.
Diversas são as soluções de reaproveitamento do lodo de ETA, sobretudo na
fabricação de novos produtos da construção civil, dentre os quais, tijolo, cimento,
cerâmica vermelha e blocos não estruturais. Segundo Iwaki (2017), esse lodo

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 18 198


pode, ainda, dependendo de suas características, ser utilizado para a melhoria
da sedimentabilidade de águas de baixa turbidez, recuperação de coagulantes e
controle de ácido sulfídrico (H2S).
Por outro lado, o lodo de ETA não tem sido utilizado para a disposição no
solo e aplicação em culturas, em função, principalmente, do coagulante comumente
utilizado, o qual contém elevado teor de alumínio. Entretanto, se a companhia de
abastecimento de água utiliza coagulantes e floculantes naturais, o uso de lodo para
esses fins poderá ser viável, a depender das legislações específicas, as quais devem
ser atendidas.
A questão do reaproveitamento de lodo de ETA ainda é recente no Brasil e
demanda de pesquisa e legislação. Para a sua reintegração em novos produtos, é
necessário, inicialmente, que seja realizada a sua caracterização. Posteriormente,
devem ser analisadas as legislações ambientais estaduais, quando existentes, e
nacionais, a fim de analisar a viabilidade da disposição final desejada. Além disso, é
necessário avaliar a legislação específica para o uso pretendido.
Iwaki (2017) reforça que, ainda, é imprescindível a realização de uma pesquisa
de mercado, a fim de identificar a sua aceitação por fabricantes e consumidor final,
além da viabilidade da comercialização do produto.

4 | CONCLUSÃO

Nas últimas décadas a questão ambiental tem ganhado uma maior importância,
tanto em função do maior cumprimento da legislação e maior fiscalização, quanto
pela consciência da população.
Com o desenvolvimento desta pesquisa, foi verificado que os resíduos
produzidos durante a conversão da água bruta em potável é considerado nocivo às
águas superficiais. Assim, é necessário que as concessionárias de abastecimento
desenvolvam um sistema de gestão e gerenciamento que vise o tratamento e a
disposição ou destinação deste tipo de resíduo gerado diariamente em ETAs.
Entre os principais locais para dispor o material, destaca-se os aterros sanitários,
que são estruturas licenciadas perante aos órgãos Federais, Estaduais e Municipais.
Com relação à destinação, pesquisas já desenvolvidas mostram que o lodo pode
ser aplicado com insumo para a fabricação de materiais diversos, como cerâmica
vermelha, cimento e blocos não estruturais.

REFERÊNCIAS
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wastewater. 20 ed. APHA: USA, 1998.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 10004: Classificação de Resíduos Sólidos.
Rio de Janeiro, 2004a.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 18 199


Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 10005: Procedimento para obtenção de
extrato lixiviado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004b.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 10006: Procedimento para obtenção de
extrato solubilizado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004c.

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Meio Ambiente. Brasília, DF, 2005.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Resolução
n°. 430, 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes,
complementa e altera a Resolução n°. 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio
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BRASIL. Ministério de Estado da Saúde. Portaria de Consolidação n° 5, de 28 de Setembro de


2017. Consolidação das normas sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde.
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2006.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 18 201


CAPÍTULO 19

LEVANTAMENTO DE MATERIAIS COMPATÍVEIS PARA


APLICAÇÃO EM ACESSÓRIOS DE UM BIODIGESTOR

Matheus Von Biveniczko Tomio que está sendo preparado para processar
Centro Universitário Internacional UNINTER, resíduos de palmito pupunha em larga escala.
Escola Superior Politécnica Durante o processo de biodigestão, serão
Curitiba-PR liberados alguns gases que são extremamente
Vanessa Aparecida de Sá Machado corrosivos, como gás sulfídrico e dióxido de
Centro Universitário Internacional UNINTER, carbono. Nesse processo também poderão
Escola Superior Politécnica
ser adicionados bicarbonato de sódio e soda
Volta Redonda - RJ cáustica para controle do pH. Esses agentes
Ana Carolina Tedeschi Gomes Abrantes criam um ambiente extremamente corrosivo
Centro Universitário Internacional UNINTER, para diversos materiais. Assim, o objetivo deste
Escola Superior Politécnica
estudo é determinar um material compatível com
Curitiba-PR
o processo para ser utilizado nos instrumentos
medidores de H2, pH e temperatura, com o
intuito de resguardá-los de processos corrosivos
RESUMO: Devido à crise energética e a que podem danificá-los. A metodologia utilizada
escassez de recursos, a produção de energia baseou-se no levantamento bibliográfico e no
limpa tem sido muito pesquisada. A geração estudo de caso. Após o estudo, concluiu-se
de energia renovável a partir de biodigestores que o material mais apropriado à atmosfera
é uma excelente solução, principalmente corrosiva do biodigestor é o aço inoxidável AISI
para ambientes rurais. Biodigestores são 316L devido às suas propriedades mecânicas e
equipamentos herméticos e impermeáveis, principalmente químicas.
dentro dos quais ocorre a fermentação de PALAVRAS-CHAVE: Biodigestor, Corrosão,
material orgânico por um processo bioquímico Aço Inoxidável, Instrumentação.
denominado biodigestão anaeróbica. Como
resultado tem-se a formação de biofertilizante STUDY OF COMPATIBLE MATERIALS
e produtos gasosos, principalmente o metano FOR APPLICATION IN BIODIGESTOR
e o dióxido de carbono. Este biogás pode ser ACCESSORIES
canalizado para ser utilizado em aplicações
ABSTRACT: Due to the energy crisis and
diversas, como processos de aquecimento,
scarce resources, the production of clean
resfriamento e na geração de energia elétrica. O
energy has been much researched. The
objeto de estudo deste trabalho é um biodigestor

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 19 202


generation of renewable energy from biodigestors is an excellent solution, especially
for rural environments. Biodigesters are hermetic and impermeable equipment, where
the fermentation of organic material occurs through a biochemical process called
anaerobic biodigestion. As a result, there is the formation of biofertilizer and gaseous
products, mainly methane and carbon dioxide. This biogas can be channeled to be
used in various applications, such as heating processes, cooling and in the generation
of electric energy. The object of study of this work is a biodigestor that is being prepared
to process residues of pupunha palm on a large scale. During the biodigestion process,
some produced gases are extremely corrosive, such as hydrogen sulfide and carbon
dioxide. In this process, sodium bicarbonate and caustic soda may also be added for pH
control. These agents create an extremely corrosive environment for various materials.
Thus, the objective of this study is to determine a process compatible material to be
used in H2, pH and temperature measuring instruments, in order to protect them from
corrosive processes that can damage them. The methodology used was based on the
literature review and the case study. After the study, it was concluded that the most
appropriate material to the corrosive atmosphere of the biodigestor is the AISI 316L
stainless steel due to its mechanical and chemical properties.
KEYWORDS: biodigestor, corrosion, stainless steel, instrumentation.

1 | INTRODUÇÃO

Devido à crise energética e a escassez de recursos, a produção de energia


limpa tem sido muito pesquisada. Gerar energia renovável a partir da tecnologia dos
Biodigestores é uma excelente solução, principalmente para ambientes rurais.
Biodigestores são equipamentos herméticos e impermeáveis dentro dos quais
se deposita material orgânico para fermentação através de um processo bioquímico
denominado biodigestão anaeróbica. Como resultado, tem-se a formação de
biofertilizante e produtos gasosos, principalmente o metano e o dióxido de carbono.
O objetivo deste estudo foi selecionar o material para os equipamentos
medidores de pressão, pH e temperatura que ficam em contato com o meio líquido
e gasoso do biodigestor. Estes instrumentos devem resistir a esse ambiente
corrosivo. Durante o processo de biodigestão, são liberados alguns gases que são
extremamente corrosivos, como gás sulfídrico (H2S) e dióxido de carbono (CO2).
Nesse processo, também são adicionados bicarbonato de sódio (NaHCO3), soda
cáustica (NaOH) e bactérias Hidrolíticas, acetogênicas e archeas para ajudarem
no processo de decomposição da matéria orgânica. Essas substâncias e bactérias
criam um ambiente extremamente corrosivo para diversos materiais.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 19 203


2 | ESTADO DA ARTE

2.1 BIODIGESTORES E BIODIGESTÃO


A biodigestão anaeróbica é um processo natural de fermentação no qual
microrganismos anaeróbios produzem o biogás. Para produzir e armazenar o biogás,
utiliza-se equipamentos conhecidos como biodigestores. Estes equipamentos são
uma alternativa para o tratamento de dejetos produzidos na criação animal e na
cultura vegetal, os quais representam uma grande quantidade de biomassa. A
reciclagem deste material é de suma importância quando se avalia os aspectos
econômicos e ambientais.
O biogás é produzido em meio anaeróbico através da ação de bactérias sobre
material orgânico, o qual é fermentado com controle de temperatura umidade e
acidez. Este gás pode ser obtido por diversas fontes, como: lixo, resíduos agrícolas,
excrementos de animais, esgoto, restos de frutas e verduras.
A mistura do biogás é formada por aproximadamente 30% dióxido de carbono
(CO2), 55% de metano (CH4) e o restantes de outros gases como o nitrogênio (N2),
oxigênio (O2), hidrogênio (H2) e gás sulfídrico (H2S).
Os biodigestores chegaram no Brasil a pelo menos vinte anos. A aplicação iniciou
por volta dos anos 80 com modelos provenientes da China e Índia. Porém, houveram
algumas dificuldades na sua implantação, fazendo com que esta tecnologia caísse
em descrédito no meio rural. Nos últimos tempos, houveram avanços tecnológicos
significativos que possibilitaram obter um modelo mais econômico e de manejo mais
simples.
O funcionamento dos biodigestores é explicado por MAGALHÃES (1986, apud
ALVES, et al., 2010),

“Biodigestores são equipamentos herméticos e impermeáveis dentro dos quais se


deposita material orgânico para fermentar por um determinado tempo de retenção,
no qual ocorre um processo bioquímico denominado biodigestão anaeróbica, que
tem como resultado a formação de biofertilizante e produtos gasosos, principalmente
o metano e o dióxido de carbono”.

De acordo com SILVA (1998, apud FERREIRA, 2013),

“O uso de biodigestores na produção animal é visto como uma importante


ferramenta, pois, além de promover o tratamento dos resíduos, retorna ao sistema
produtivo parte da energia que seria perdida, por meio do biogás“.

Durante a fermentação, a concentração das substâncias orgânicas é reduzida


em 30 a 50%. Este processo possui quatro fases: hidrólise, acidogênica, acetogênica
e metanogênica. Na Hidrólise, os resíduos orgânicos são quebrados em partículas
menores e mais simples pelas bactérias hidrolíticas. Na acidogênese, os produtos
solúveis da hidrólise são fermentados e acidificados, formando ácidos orgânicos,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 19 204


CO2, alcoóis etc. Na acetogênese, as bactérias acetogênicas convertem os produtos
da acidogênese em hidrogênio, dióxido de carbono e acetato. O valor do pH no meio
aquoso diminui. A metanogênese é a etapa final, em que são produzidos o metano e
o dióxido de carbono a partir dos compostos orgânicos oriundos da fase acetogênica.
O biodigestor cria, portanto, um ambiente propício para que as bactérias
metanogênicas ataquem a matéria orgânica e produzam o combustível. Para criar
essa condição, deve-se monitorar a temperatura, o pH e a acidez para que as
condições sejam favoráveis para o aumento da população de bactérias.
Os biodigestores podem ser classificados de acordo com seu carregamento,
conforme abaixo:

• Processo descontínuo (batelada)


Modelo mais simples, utilizado para pequenas produções de gás. Recebe um
carregamento de matéria orgânica, que só é substituído após um período adequado
à digestão de todo o lote. Depois de utilizado todo o gás, o biodigestor é aberto,
descarregado, limpo e novamente recarregado, para reiniciar o processo.

• Processo contínuo (batelada)


Operam com cargas de matéria orgânica alimentadas continuamente no
biodigestor, de modo a fornecer o biogás sem interrupções durante um determinado
período.
Os biodigestores também podem ser classificados de acordo com sua estrutura:

• Vertical
Seu maior comprimento é no sentido vertical, podendo ser cilíndrico ou cúbico,
de alvenaria, polietileno, fibra ou outros materiais. Grande parte da câmara digestora
fica enterrada no solo, o que confere uma maior conservação do calor e menor
oscilação da temperatura durante o dia.

• Horizontal
Consiste de uma câmara, geralmente retangular, com uma altura menor do
que o comprimento e a largura. Geralmente é um modelo de carga contínua, com as
caixas de entrada e saída de resíduos nas extremidades.

• Biodigestor modelo Chinês


Esse modelo apresenta baixo custo de construção. Não possui partes móveis,
nem partes metálicas que podem ser oxidadas, sendo, portanto, mais durável. Como
pode ser visualizado na Figura 1, estes biodigestores são construídos enterrados
e ocupam pouco espaço fora do solo. Dessa forma, são mais protegidos contra

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 19 205


as variações climáticas da superfície, principalmente em regiões que apresentam
baixas temperaturas no inverno. Em sua construção, geralmente ocupam mão-
de-obra e materiais locais. A cúpula de armazenamento do gás do modelo chinês
apresenta, muitas vezes, vazamento devido à porosidade dos materiais de construção
geralmente utilizados e ao aparecimento de fissuras.

Figura 01: Modelo de biodigestores (Fonte: Oliver et al., 2008).

• Biodigestor Modelo Indiano


Esse modelo é composto de uma câmara de digestão e de um depósito de
gás móvel (Figura 1). Este modelo pode ser operado como um biodigestor contínuo
com descarga automática, dispensando o tanque de compensação. Apresentam alto
custo de construção, devido à necessidade da campânula, geralmente metálica que
sofre corrosão, resultando uma vida útil curta, em torno de cinco anos. Isso acarreta
altos custos de manutenção com a necessidade periódica de pintura da campânula.
Considera-se o modelo de biodigestor indiano como o mais apropriado para o
sistema de alimentação contínua, de acordo com a disponibilidade dos resíduos dos
pequenos produtores rurais.

2.2 CORROSÂO EM BIOGIGESTORES


A corrosão é um processo espontâneo que transforma os materiais metálicos,
afetando a durabilidade e o desempenho destes. Esta deterioração pode ser ação
física, química ou eletroquímica. A deterioração entre o material e o meio em que
este se encontra, leva a alterações prejudiciais, como: desgaste, transformações
químicas ou modificações estruturais, tornando o material inadequado para o uso.
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 19 206
Segundo FRAUCHES-SANTOS, et al. (2014, apud PORTO, et al., 2015),

“Esse fenômeno pode ser acelerado com o aumento da temperatura, da pressão


e de altas concentrações do meio corrosivo. Conhecendo os meios agressivos
e suas características responsáveis pela deterioração dos materiais, podem
ser desenvolvidos métodos eficazes para combater à corrosão, que devem ser
escolhidos dependendo da natureza do material que será protegido e do eletrólito
(meio corrosivo). O custo e o tempo necessários para o emprego do método em
questão devem ser considerados.”

Na atmosfera do biodigestor existem diversos gases extremamente corrosivos,


como gás sulfídrico (H2S) e dióxido de carbono (CO2). Dentre esses gases, o gás
sulfídrico é encontrado em maior quantidade, sendo altamente agressivo. Esse
agente é altamente oxidante e sua concentração em excesso pode acarretar em um
agravamento da corrosão no equipamento.
De acordo com Mainer, et al. (UFSC, 2010, apud Álvaro Guzmán Mercado),

“Corrosão química provocada pela presença de H2S ocorre quando o metal fica
em contato com um eletrólito. O H2S anidro reage com o material metálico, sem a
presença de água e sem transferência de elétrons. O H2S se liga na superfície de
metal e pouco depois ocorre o ataque, formando uma película de sulfeto”.

Em contra partida, Cetés (UFSC, 2010, apud Álvaro Guzmán Mercado) afirma
que,

“A corrosão eletroquímica provocada pela presença de H2S ocorre quando o metal


fica em contato com um eletrólito, onde acontecem, simultaneamente, as reações
anódicas e catódicas”.

Este tipo de corrosão eletroquímica é caracterizado por pite.

3 | MATERIAIS E MÉTODOS

O biodigestor, objeto desse estudo, opera em batelada e é de construção


simples. Nesse tipo de biodigestor, é feita a adição de todo o resíduo orgânico de
uma só vez na câmara digestora. Esse modelo é indicado quando se tem resíduos
em grandes quantidades para processamento em um curto espaço de tempo, como
o proposto para o biodigestor deste projeto, com processamento de resíduos de
palmito pupunha em larga escala.
O biodigestor possui um sistema computacional de monitoramento da produção
do biogás por meio de sensores eletrônicos e arduíno, para controle da produção
de biogás, da temperatura interna do biodigestor e do pH durante todo o processo.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 19 207


Figura 02- Biodigestor de fluxo descontínuo para digestão anaeróbia (Fonte: os autores)

Este equipamento deve processar resíduo de palmito pupunha (bainha externa,


média e interna), obtido de área de cultivo na Região de Morretes-PR. Esse material
será autoclavado para remoção de qualquer outro microrganismo presente na amostra
e, posteriormente, será submetido à secagem e cominuição (partículas com tamanho
de até 6 mm). A seguir, é realizado o pré-tratamento da biomassa lignocelulósica
através de hidrólise ácida com o objetivo de reduzir o poder recalcitrante da lignina.
O abastecimento do biodigestor será realizado em fluxo descontínuo ou batelada
com a biomassa pré-tratada (H2O e biomassa triturada) e diluída. Esse abastecimento
será realizado pela parte de cima do biodigestor (entrada do substrato). É necessário
o acompanhamento da temperatura e do pH durante todo o processo, com instalação
do termômetro digital na região mediana do tanque, assim como o sensor de pH.
Para que a ocorrência da hidrólise, o abastecimento do primeiro grupo de
microrganismos (bactérias hidrolíticas) é realizado juntamente com uma pequena
entrada de O2. Esse fluxo garante a agitação do sistema. A temperatura deve ser
mantida entre 30 – 40° C e o pH entre 4,5 – 6,0. O ajuste do pH é realizado através
de bombas para dosagem de ácidos e bases.
Na etapa de acetogênese, o material resultante da etapa anterior é transformado
em ácido etanóico, hidrogênio e gás carbônico por bactérias acetogênicas. Esta fase
é a mais delicada do processo, pois o hidrogênio gerado deve ser consumido pelas
bactérias Archeas responsáveis pela metanogênese. A temperatura deve oscilar
entre 30 – 45° C e o pH nesta etapa entre 6,5 – 8,0.
O objetivo deste projeto é a determinação de um material compatível com o
processo para ser utilizado nos instrumentos medidores de H2, pH e temperatura,
com o intuito de resguardá-los de processos corrosivos que poderiam danificá-

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 19 208


los. Além do dano físico, a corrosão poder afetar o sinal da variável monitorada,
prejudicando o controle das condições de fermentação. Buscou-se, então, selecionar
um material com características mecânicas e químicas que resistam a corrosão
dentro do biodigestor.
A metodologia utilizada baseou-se no levantamento bibliográfico e no estudo
de caso. Primeiramente, fez-se um estudo dos processos corrosivos e buscou-
se referências de trabalhos semelhantes em artigos nacionais e internacionais
publicados em congressos e revistas da área. Em seguida, fez-se um estudo de
campo, onde analisou-se a configuração e a operação de um biodigestor localizado
em uma instituição de ensino na cidade de Curitiba.

4 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para determinar o material compatível com o processo a ser utilizado nos


instrumentos medidores de H2, pH e temperatura, diversos materiais foram analisados.
As propriedades mecânicas e químicas devem resistir a corrosão causada por
agentes químicos, como: gás sulfídrico (H2S), dióxido de carbono (CO2), bicarbonato
de sódio (NaHCO3) e soda cáustica (NaOH), além das bactérias hidrolíticas.
Para selecionar esse material, foram estudados os aços inoxidáveis, que são
ligas constituídas principalmente por ferro e cromo, além de outros elementos,
como níquel e molibdênio. Estes aços apresentam propriedades físico-químicas
superiores aos aços comuns, apresentando alta resistência à oxidação atmosférica
e a diversos tipos de corrosão.
O Aço Inoxidável AISI 316 é um aço cromo-níquel-molibdênio, inoxidável
austenítico, não temperável e não magnético. Possui boa ductilidade, mesmo em
baixas temperaturas. Resiste à oxidação até 875 ºC e a presença de Mo (molibdênio)
melhora a sua resistência ao ataque corrosivo em meios clorados e não oxidantes,
além de elevar a resistência mecânica. Em relação as propriedades químicas possuem
grande resistência a corrosão química, sendo muito utilizado em equipamentos da
indústria química. Com estas características, as chapas de Aço Inox AISI 316 são
indicadas como uma das melhores ligas para aplicação em sistemas de biodigestão.
Uma variação a este tipo de aço é o AISI 316L, o qual possui menor teor de carbono,
aumentando a resistência a corrosão intercristalina.
O aço inoxidável AISI 416 é um aço martensítico, sendo conhecido pela sua
excelente resistência à corrosão atmosférica. Outros elementos como molibdênio,
titânio e nióbio, se adicionados, podem melhorar a resistência à corrosão e minimizar
a corrosão intergranular por estabilização dos carbonetos presentes. Estes aços
possuem uma ampla faixa de propriedades mecânicas, oferecendo boa ductilidade
e resistência a altas e/ou baixíssimas temperaturas.
A comparação entre os aços AISI 316L e 416 encontra nas Tabelas 1 e 2.
Verifica-se que o aço AISI 316L é resistente a diferentes níveis de agressividade,

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 19 209


enquanto o aço AISI 416 é indicado somente à ambientes brandos, com baixa
corrosividade.

Tabela1: Comparação entre os aços inoxidáveis.


(Fonte: Uso de diferentes ligas metálicas para construção de reatores anaeróbios, um estudo de caso, Lirio
Schaeffer et al., 2011)

Tabela 2: Comparação entre os aços inoxidáveis.


(Fonte: Uso de diferentes ligas metálicas para construção de reatores anaeróbios, um estudo de caso, Lirio
Schaeffer et al., 2011)

5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo foi selecionar o material para fabricação de equipamentos


medidores de pressão, pH e temperatura que ficarão no meio líquido e gasoso de
um biodigestor.
Esses equipamentos podem sofrer grande corrosão devido ao meio agressivo
do biodigestor, pois, durante o processo de biodigestão, são liberados alguns gases
que são extremamente corrosivos, como gás sulfídrico (H2S) e dióxido de carbono
(CO2). Nesse processo, também são adicionados bicarbonato de sódio (NaHCO3),
soda caústica (NaOH) e bactérias hidrolíticas, acetogênicas e archeas para ajudarem
no processo de decomposição da matéria orgânica. Esses gases e bactérias criam
um ambiente extremamente corrosivo.
Desta forma, diversos materiais foram analisados em suas características

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 19 210


mecânicas e químicas de maneira que fossem capazes de resistir a corrosão de todos
os gases e as bactérias. Optou-se por aços inoxidáveis devido as suas propriedades
de alta resistência à oxidação atmosférica e a diversos tipos de corrosão. Foi
analisado o aço inoxidável 316 L e o 416.
Conclui-se que o material mais apropriado à atmosfera corrosiva do biodigestor
é o aço inox AISI 316L devido as suas propriedades mecânicas e principalmente
químicas, entre elas: resistência a corrosão a atmosfera química branda, oxidante e
redutora, assim como à corrosão por gás sulfídrico (H2S). Assim, o material escolhido
para a fabricação dos instrumentos de medição foi o aço inoxidável 316L.

REFERÊNCIAS
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2010.

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da atual crise de energia elétrica brasileira e na perspectiva da sustentabilidade ambiental.
Coordenadoria de gestão ambiental da UFSC.

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Contexto da Atual Crise de Energia Elétrica Brasileira e na Perspectiva da Sustentabilidade
Ambiental. Coordenadoria de Gestão Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina.

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Trabalho de Conclusão de Curso. Especialização no Ensino de Ciências. UTFPR, 2013.

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em Biodigestores. I Simpósio de Bionergia e Bicombustível do Mercosul, 2010. Foz de Iguaçu, PR.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 19 211


SOUZA, J., BORBA, A. P., SCHAEFFER, L. Ferramentas computacionais aplicadas em processos
de fabricação de plantas de biodigestão. Universidade FEEVALE

ZANETTI, A.; ARRIECHE, L. S.; SARTORI, D. J. M. Estudo da Composição Ótima de diferentes


resíduos orgânicos para a produção de biogás. Universidade Federal do Espírito Santo,
Congresso Brasileiro de Engenharia Química, COBEQ, 2014. Florianópolis/SC.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 19 212


CAPÍTULO 20

AVALIAÇÃO DO BIOGÁS PRODUZIDO EM REATORES


UASB EM ETE

Carolina Bayer Gomes Cabral RESUMO: O artigo apresenta os resultados da


Engenheira Sanitarista e Ambiental. Mestre em medição de vazão e composição de biogás em
Engenharia Ambiental pela UFSC. Engenheira um UASB em escala plena durante um período
da Rotária do Brasil. Doutoranda em Engenharia
de 11 meses. Para relacionar a produção do
Sanitária pela Universidade Técnica de Berlin (TU
biogás com as demais variáveis intervenientes
Berlin). Florianópolis – SC.
também foram realizadas medições de
Christoph Julius Platzer
vazão de esgoto, DQO afluente e efluente ao
Engenheiro civil pela Universidade Técnica de
Munique. Doutor em Engenharia Sanitária pela UASB e coletados dados como pluviometria e
Universidade Técnica de Berlim. Sócio diretor da temperatura. A partir dos dados coletados, foi
empresa Rotária do Brasil. realizada a análise relacionando a produção do
Carlos Augusto de Lemos Chernicharo gás com carga orgânica removida, a influência
Engenheiro Civil e Sanitarista. Doutor em do clima e temperatura, e por fim estimativas
Engenharia Ambiental pela Universidade de de geração de energia. Observou-se que a
Newcastle upon Tyne – UK. Professor Associado produção de biogás oscilou durante o período
do Departamento de Engenharia Sanitária e analisado, tendo diminuído em meses com
Ambiental da UFMG.
maior precipitação e vazão de esgoto. Durante o
Paulo Belli Filho período de medição, os valores médios de vazão
Engenheiro Sanitarista e Ambiental pela UFSC.
de esgoto e de concentração de DQO afluente
Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola
foram de 434 l/s e 575 mg/l, respectivamente, o
de São Carlos. Doutor em Química Industrial e
Ambiental – Université de Rennes I. Professor que possibilitou a geração de uma vazão média
do Departamento de Engenharia Sanitária e de biogás de 137 Nm3/h contendo 79,5% de
Ambiental da Universidade Federal de Santa metano. A partir da eficiência média de remoção
Catarina. de DQO no reator (88%), obteve-se a produção
Heike Hoffmann unitária de 142 NL de metano por quilo de DQO
Biológa pela Universidade de Greifswald. removida. Já o potencial de geração de energia
Doutora em Ecologia dos Sistemas Aquáticos calculado foi de 9.525 kWh/d, que possibilitaria
pela Universidade de Rostock. Sócia diretora da a instalação de um conjunto motogerador com
empresa Rotária do Brasil.
potência de 397 kW.
PALAVRAS-CHAVE: biogás, energia,
tratamento anaeróbio, UASB, esgoto sanitário.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 213


EVALUATION OF THE BIOGAS PRODUCED IN UASB REACTORS IN WWTP

ABSTRACT: The article presents the results of flow and biogas composition
measurement in a full-scale UASB over a period of 11 months. In order to relate the
biogas production to the other intervening variables, measurements of sewage flow, in
and outcoming COD were also performed, and data such as rainfall and temperature
were collected. From the collected data, the analysis was carried out relating the gas
production with the organic load removed, the influence of climate and temperature,
and finally estimates of energy generation. It was observed that the biogas production
fluctuated during the analyzed period, having decreased in months with higher
precipitation and sewage flow. During the measurement period, the mean values ​​of
sewage flow and of the COD concentration were 434 l/s and 575 mg/l, respectively,
which allowed the generation of an average biogas flow of 137 Nm3/h containing 79,5%
methane. From the average COD removal efficiency in the reactor (88%), the unitary
production of 142 NL of methane per kilogram of COD was obtained. The calculated
power generation potential was 9,525 kWh / d, which would allow the installation of a
motor generator set with a power of 397 kW.
KEYWORDS: biogas, energy, anaerobic treatment, UASB, domestic wastewater.

INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

O tratamento anaeróbio gera como subproduto o biogás, constituído em sua


quase totalidade de metano (CH4) e gás carbônico (CO2), apresentando ainda traços
de outros elementos tais como CO, N2, NH3 e H2S. O aproveitamento energético do
biogás pode oferecer importantes benefícios ambientais, econômicos, energéticos e
sociais, representando uma fonte alternativa e renovável de energia cada vez mais
utilizada em todo o mundo. No Brasil, a elevada população e sua concentração em
grandes centros urbanos indicam um potencial significativo de produção de biogás
no tratamento anaeróbio de esgotos (ZANETTE, 2009), especialmente em reatores
UASB.
Entretanto, os reatores UASB ainda apresentam algumas limitações de projeto,
construção e operação que devem ser solucionadas para que essa tecnologia não
venha a ser desacreditada e a sua aplicação reduzida. Boa parte dos UASB no
Brasil não possuem um queimador de gás em funcionamento contínuo, e alguns
nem mesmo coleta de gás. Além disso, tampas mal vedadas e fissuras no topo
do reator são comuns e servem como pontos de fugas de gás para atmosfera.
Tendo em vista que o metano tem potencial de aquecimento 25 vezes maior que o
CO2 (IPCC,2007), esse é um fator preocupante. Na busca pelo desenvolvimento
de um sistema de tratamento autossuficiente, é de fundamental importância o
gerenciamento integrado dos subprodutos gerados no processo - como o biogás
- otimizando os seus benefícios (potencial energético) e minimizando os impactos
(redução de odores e da emissão de gases de efeito estufa). Para tanto, busca-se

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 214


entender o verdadeiro potencial combustível que se pode esperar destes reatores,
formas para maximizá-lo e minimizar fugas de biogás ao ambiente.
É nesse sentido que se insere a presente pesquisa, que tem como objetivo
principal aprofundar o entendimento sobre a produção de biogás em reatores
anaeróbios, em escala plena, tendo em vista que no Brasil são ainda incipientes
estudos que tratem da caracterização quantitativa e qualitativa do biogás para
reatores UASB em escala real, principalmente alimentados com esgoto doméstico.

MATERIAL E MÉTODOS

As medições recentes de quantidade de biogás mostraram que os valores


tendem a ser abaixo da estimativa mais conservadora do modelo de Lobato (2011),
o modelo mais recente de estimativas de produção de gás. Além disso, confirmaram
que variáveis como precipitação, mudanças das condições operacionais da ETE,
condições construtivas e de manutenção do reator anaeróbio e variações das
propriedades físicas e químicas do esgoto têm influência nas taxas de produção de
metano e, consequentemente, de energia, que variam significativamente em relação
aos valores médios (POSSETTI et. al., 2013) (SILVA, 2015).
A presente pesquisa integra-se ao projeto PROBIOGÁS, fruto de cooperação
técnica entre a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das
Cidades e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH (GIZ -
Alemanha) visando o fomento ao aproveitamento energétido de biogás no Brasil. O
projeto de medição de Biogás em ETE tem parceria com a Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) e consultoria da empresa Rotária do Brasil. Com equipamentos
de medição in loco e em tempo real estão sendo realizadas medições sistemáticas
de biogás em 10 Estações de Tratamento de Esgotos distribuídas pelo país.
Este trabalho apresenta parte dos resultados de medições realizadas em uma
das estações que integram o projeto. Durante um período de 11 meses (janeiro a
dezembro de 2015), foi feita a medição on line dos seguintes parâmetros:

• Vazão de esgoto, medido por meio de medidor ultrassônico;


• Vazão de biogás, por medidor tipo Vortex;
• Composição do biogás, por meio de equipamento de medição dos teores
de CH4 e CO2 (método infravermelho) , H2S e O2 (método eletroquímico);

Adicionalmente, foram utilizados resultados de análises laboratoriais de DQO


enviados pela companhia de saneamento.
Os medidores utilizados e sua instalação estão descritos em maior detalhe no
trabalho de Cabral et. al. (2015). Os valores medidos foram transmitidos através de
banco de dados online (Komvex-Scadaweb) e posteriormente tratados em planilha

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 215


eletrônica. Em seguida, foi utilizado o programa “Statistica 12” para elaboração da
estatística descritiva e gráficos como Box-plot. Para auxílio na interpretação dos
dados foram utilizadas também as séries históricas de pluviometria.
Os resultados aqui apresentados são das medições realizadas em uma ETE
com sistema de tratamento UASB seguido de lodos ativados, com as características
a seguir (Tabela 1).

DQO afluente - Vazão de esgoto - População


Temp média anual Pluviometria
média anual média anual de projeto
(oC) (mm/a)
(mg/L) (l/s) (hab.)
470 433,6 250.000 20,00 1350

Tabela 1 – Principais características da estação monitorada

Em decorrência de alguns problemas de medição durante a pesquisa, houve


a necessidade de seleção de períodos em que os parâmetros medidos foram
consistentes. Na Tabela 2 pode-se visualizar os períodos selecionados para análise
de cada parâmetro.

2015
PARÂMETRO
Jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Composição biogás
Qesgoto e Qbiogás
DQO lab

Tabela 2 - Períodos de análise selecionados

Quanto ao período menor de análise da composição do biogás, destaca-se


que o medidor teve de ser calibrado e que algumas peças tiveram que ser trocadas
devido ao desgaste, desta maneira optou-se por apresentar os resultados dos 3
meses após a calibração e troca dos componentes devido a maior confiabilidade dos
dados.
Do conjunto de dados recebidos foram excluídos os períodos de dados
excêntricos devido a entrada de ar na tubulação ou mal funcionamento do sistema
de medição e transmissão.
Os objetivos foram avaliar a potencialidade de geração de biogás, metano
e energia da ETE e analisar o comportamento da produção e qualidade do
biogás, estabelecendo relações unitárias de produção de gás, como: NL CH4/kg
DQO removida, NL CH4/m3 esgoto tratado, NL CH4/hab.d, kWh/m3 esgoto, kWh/
kgDQOremov, kWh/Nm3 biogás.
O potencial de geração de energia foi estimado com base na vazão de metano,
calculada multiplicando-se a vazão de biogás medida pela concentração de metano
média de cada ETE. Assim, com um teor energético de 10 kWh/m3CH4 e a eficiência
elétrica típica de um conjunto moto-gerador de 36 %, é possível obter a energia

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 216


elétrica a ser gerada pela equação:

A potência elétrica do motor calcula-se dividindo por 24h, no caso de utilização


contínua.
Os resultados foram comparados com o modelo de Lobato (2011), o mais
recente e que considera o maior número de variáveis para estimativa de produção
de biogás em reatores UASB tratando esgoto sanitário.

RESULTADOS/DISCUSSÃO

Composição do biogás

A variação da composição do biogás de agosto a novembro de 2015 pode ser


visualizada no gráfico a seguir (Figura 1).

Figura 1 – Composição do biogás gerado na ETE

Destaca-se que os trechos vazios foram excluídos por não serem confiáveis.
Na Figura 2 a seguir pode-se observar a variação dos gases CH4, H2S e CO2
com os gráficos box-plot.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 217


Figura 2 – Variação ao longo do período analisado de a) CH4 e CO2; b) H2S.

O biogás apresentou elevadas concentrações de metano (de 71% a 85%), com


um range muito fechado estando em 50% dos casos entre 78 e 81%, H2S de 342
a 4400 ppm, 9 a 14% de CO2 e 0% de O2. Os valores confirmam a faixa reportada
na literatura para biogás de reatores UASB (SILVEIRA, et al., 2015) sendo que a
concentração de metano está no limite superior. Já no caso dos valores do H2S
observa se uma variação grande (342 a 4400 ppm), porém com 50% dos valores
variando ±350ppm ao redor da média de cerca de 2000ppm. A concentração desse
último constituinte no biogás é de grande interesse, uma vez que é necessária a
sua sua remoção do biogás antes do componente de aproveitamento energético,
principalmente no caso de utilização de motogeradores, devido ao alto potencial
corrosivo do H2S.
Assim como reportado por Cabral et. al. (2015), a soma do CH4 com o CO2 é
menor que 100%. Portanto, conforme apresentam os autores Noyola et. al. (2006),
o biogás de reatores UASB pode possuir concentrações de N2 de 10 a 25%, que é
provavelmente o gás complementar para atingir os 100%.

VAZÃO DE ESGOTO E BIOGÁS

A Figura 3 a seguir apresenta a série histórica da vazão de esgoto afluente ao


UASB e a produção de biogás para o período monitorado.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 218


Figura 3 – Médias horárias da vazão de esgoto e biogás de 11/12/2014 a 18/11/2015

Durante o período monitorado a estação apresentou vazão média de esgoto


em torno de 430 l/s e vazão média de biogás de 137 Nm3/h. No entanto, foi ampla
a variação da produção de biogás (entre 64 e 202 Nm3/h), uma vez que esta é
influenciada pelas diversas condições operacionais e ambientais. Para melhor
visualização das variações ao longo do tempo, foi elaborado o gráfico com as médias
diárias apresentado na Figura 4.

Figura 4 – Médias diárias da vazão de esgoto e biogás de 11/12/2014 a 18/11/2015

Ao analisar a Figura 4, percebe-se períodos em que a vazão de esgoto aumentou


(janeiro a março) mas a vazão de biogás diminuiu. Teoricamente, quando aumenta-
se a quantidade de substrato a ser digerido a produção de biogás deveria aumentar,
principalmente em períodos de temperaturas mais elevadas que contribuem para

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 219


aumentar a eficiência da digestão anaeróbia. Autores como Possetti, et al. (2013),
Silva (2015) e Waiss e Posseti (2015) realizaram medições de biogás em escala
real e indentificaram que um dos fatores que motivou a diminuição da produção de
biogás foram os eventos de chuva. Assim, foram utilizados os dados de precipitação
apresentados na Figura 5 para comparar os períodos.

Figura 5 – Precipitação acumulada mensal de janeiro a novembro

Observando os gráficos percebe-se que de janeiro a março a precipitação


acumulada mensal aumentou gradativamente, assim como a vazão de esgoto, ao
contrário da vazão de biogás, que diminuiu. Uma possível explicação para este evento
é que a vazão afluente aumenta devido as precipitações e, em decorrência, ocorre
a diluição do esgoto e a redução do aporte de matéria orgânica a ser digerida no
reator UASB, ocasionando assim a diminuição da produção de biogás. Além disso, o
aumento da vazão de esgoto causa a diminuição do tempo de detenção hidráulica e por
vezes, pode ocasionar também a perda de sólidos (lodo) no reator, ocasionando em
uma diminução da eficiência do reator (menor atividade metanogênica), impactando
inclusive na produção de gás nos períodos consecutivos as chuvas.
Outro possível motivo é que com o aumento da vazão devido às chuvas a
quantidade de metano dissolvido no meio líquido também tende a aumentar,
diminuindo, assim, a quantidade de gás coletada e medida.
Devido aos motivos supracitados, nos meses de chuva, a relação da produção
de biogás por m3 de esgoto tenderia a apresentar um comportarmento diferente da
dos meses mais secos. A comparação da produção de biogás entre os meses de
estiagem e de chuva é apresentada nos gráficos de distribuição (scatterplots) da
Figura 6 a seguir.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 220


Figura 6 – Gráficos de distribuição da vazão média diária de biogás com relação a vazão de
esgoto para a)Meses de estiagem (junho a agosto) b)Meses de chuva (janeiro a março)

Na Figura 6a, para os meses de estiagem, observa-se que o aumento da vazão


de esgoto pouco altera a vazão de biogás. Assim infere-se que a vazão de esgoto
aumentou na mesma proporção em que a concentração DQO diminuiu, ocasionando
assim com que a carga orgânica de entrada permanecesse aproximadamente
constante. Nesse período a vazão de esgoto média foi de 417 l/s e a vazão de biogás
151 Nm3/h. Já para os meses chuvosos, de janeiro a março, a média da vazão de
esgoto e biogás foi de 441 l/s e 121 Nm3/h, respectivamente. Sendo que a tendência
da produção de gás foi diminuir com o aumento da vazão de esgoto, confirmando o
que foi explicado anteriormente.
Destaca-se que para uma afirmação mais conclusiva seria necessário o
acompanhamento diário da concentração de DQO, o que não foi possível obter de
maneira confiável para essa estação para os meses de análise em questão.
Para uma avaliação de desempenho da produção de biogás de maneira geral,
optou-se por resumir as principais relações obtidas para o período analisado e sua
comparação com o modelo mais atual para UASB na Tabela 3 a seguir.

Situação típica (LOBATO, ETE (a partir dos valores


Relação 2011) medidos)
Unidade
unitária
Máximo Mínimo Média Máximo Mínimo Média

Volume NL.hab-1.dia-1 13,3 7,4 10,2 19,1 6,1 13,3


unitário de CH4 NL.m esgoto
-3
103,7 34,8 64,2 99,2 28,9 71,2
produzido NL.kgDQO -1
185,8 124,2 158,3 198,4 57,9 142,4
remov

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 221


Volume unitário NL.hab-1.dia-1 17,7 9,9 13,6 24,5 7,7 16,7
de biogás NL.m esgoto
-3
138,3 46,4 85,6 124,9 36,2 89,3
produzido NL.kgDQO -1
247,8 165,6 211,1 249,7 72,4 178,6
remov

kWh.m esgoto
-3
1 0,3 0,6 1,0 0,3 0,7
Potencial
energético kWh.kgDQOremov-1 1,9 1,2 1,6 1,9 0,6 1,4
unitário
kWh.Nm-3 biogás 7,5 7,5 7,5 8,0 8,0 8,0

Tabela 3 – Relações unitárias obtidas no estudo em comparação com o modelo de Lobato


(2011).

Observa-se que a estação se aproximou da situação típica de UASB modelada


por Lobato (2011), que é a situação intermediária entre a pior situação, onde o potencial
energético é menor (sistemas operando com esgoto mais diluído, concentrações de
sulfato maiores, menor eficiência de remoção de DQO e maiores índices de perda
de metano) e a melhor situação (potencial energético é maior, sistemas operando
com esgoto mais concentrado, menores concentrações de sulfato, maior eficiência
de remoção de DQO e menores índices de perda de metano).
Deve-se levar em consideração que a estação está em operação há mais de 10
anos e ponderar que esta não foi projetada pensando no aproveitamento de biogás
e demais peculiaridades da operação de um UASB, como dispositivos de remoção
de escuma. Porém, foi reformada recentemente, incluindo reparos de vazamentos e
conta com operação e manutenção constante dos reatores.
Para uma ETE que contemple a maximização da produção e coleta de biogás
desde o projeto, passando por execução e operação sugere-se que esta seria capaz
de atingir a melhor situação do modelo. Portanto, juntamente com os resultados das
estimativas de geração de energia elétrica e potência do conjunto motogerador para
a situação medida, foram apresentados também os valores que seriam atingidos
para uma ETE de mesmo porte caso esta se aproximasse dos índices obtidos na
melhor situação.
A seguir pode-se visualizar os resultados das estimativas supracitadas.

Parâmetro Situação atual Melhor situação Diferença %


Pot. Instalada
397 535 138 35%
(kWel)
Geração de En.
9.525 12.835 3.310 35%
Elétrica (kWh/d)

Tabela 4 – Estimativa de Potência do motogerador e quantidade de energia elétrica

Esses valores indicam que novas estações, caso sigam as premissas


supracitadas, poderiam ter uma quantidade 35% maior de biogás disponível para
aproveitamento do que a estação em questão. De qualquer maneira para os dois
casos a quantidade de biogás gerada e consequentemente a potência estimada
está acima da quantidade mínima para atingir a viabilidade de instalação de um

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 222


conjunto motogerador, indicadas por Rosenfeldt et al. (2015) e Valente (2015).
Considerando o dado de consumo de energia elétrica de 2013 dessa estação,
equivalente a 473.000 kWh/mês, destaca-se que a energia a ser gerada pelo biogás
atualmente poderia fornecer aproximadamente 60% do consumo total.

CONCLUSÃO

Os resultados apresentados apontam de maneira realística o potencial de


geração energia, já que se baseia em medições em escala real. O teor de metano
encontrado é próprio para o aproveitamento em unidades de co-geração de energia.
Destaca-se que os valores de vazão de biogás oscilam durante o ano e observou-se
uma dimuição com o aumento da vazão de esgoto devido a chuvas.
O fato dos valores se aproximarem da situação típica do modelo de Lobato
(2011) indica que este modelo pode ser utilizado como estimativa da produção de gás
e energia para essa estação e que as perdas indicadas pelo autor (metano dissolvido
no efluente, vazamentos por meio de fissuras para a atmosfera) estão presentes
mesmo em um reator recém-reformado e não podem ser negligenciados na análise
de viabilidade econômica do investimento em uma unidade de aproveitamento
energético do biogás de UASB.
Com a medição em escala e tempo real do biogás produzido, foi possível
estimar um potencial de autossuficiência da estação de 60%. O que pode significar
uma importante fonte de economia para a ETE em questão e despertar a consciência
das demais companhias de saneamento para essa forma de geração distribuída.
Destaca-se que são valores indicativos e que estimativas para cada caso devem
ser realizadas, considerando os valores de investimento (CAPEX), de operação
(OPEX) e de receitas, considerando os valores de tarifa de energia em cada local.
Recomenda-se ainda uma investigação detalhada do parâmetros do meio
líquido de entrada e saída do UASB em questão, visando comprovar a existência de
perda de sólidos e real diminuição de eficiência do reator durante eventos de chuva.

REFERÊNCIAS
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Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 223


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(mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Planejamento Energético, 2009. 97 p. Rio de Janeiro.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 20 224


CAPÍTULO 21

USO DE VEÍCULO AÉREO NÃO TRIPULADO


(VANT) NO MONITORAMENTO DOS ESTÁDIOS DE
DESENVOLVIMENTO DA CULTURA DO MILHO

Ricardo Guimarães Andrade e apoio à tomada de decisão quanto ao


Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - aperfeiçoamento do manejo de lavouras e de
EMBRAPA rebanhos em propriedades rurais de qualquer
Juiz de Fora - Minas Gerais escala de produção. Índices de vegetação
Marcos Cicarini Hott são utilizados no mapeamento da condição
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - vegetativa, principalmente, em larga escala com
EMBRAPA
o uso de imagens de satélites. No entanto, a
Juiz de Fora - Minas Gerais partir de sensores embarcados em plataformas
Walter Coelho Pereira de Magalhães Junior VANT, outros índices podem ser aplicados em
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - estudos envolvendo a identificação de estresses
EMBRAPA
da vegetação em escalas espaciais mais
Juiz de Fora - Minas Gerais
precisas. Verificou-se que os índices VARI e GLI
Pérsio Sandir D’Oliveira apresentaram desempenhos semelhantes nos
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -
estádios vegetativos iniciais da cultura do milho.
EMBRAPA
Estes índices foram sensíveis na discriminação
Juiz de Fora - Minas Gerais
das classes em intervalos que indicam desde
Jackson Silva e Oliveira a exposição de solo e o baixo vigor (tons de
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -
vermelho, laranja e amarelo) até a condição
EMBRAPA
de alto vigor da vegetação (tons de verde). Os
Juiz de Fora - Minas Gerais
resultados dos índices de vegetação, na faixa
do espectro visível, comprovam a aplicabilidade
do método na obtenção de dados e extração
RESUMO: Existem grandes desafios ao de informações relacionadas aos aspectos de
aumento da produção agrícola, além do desenvolvimento e crescimento das lavouras.
aumento de áreas agricultáveis, transgenia e De forma geral, os índices VARI e GLI surgem
impactos socioambientais: aumentar a produção como potencial alternativa para o monitoramento
sustentável, com menor custo e maior precisão. da lavoura por meio de sensores RGB de baixo
Por meio de plataformas de aerolevantamento custo a bordo de plataformas VANT.
denominadas VANT (sigla para Veículo Aéreo PALAVRAS-CHAVE: Milho, VANT, Índice de
Não Tripulado) ou drone, é possível a execução vegetação, sensoriamento remoto.
de atividades de monitoramento, avaliação

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 21 225


ABSTRACT: There are major challenges to increase agricultural production, in addition
to the increase of agricultural areas, transgenics and socio-environmental impacts:
to increase sustainable production, with lower cost and greater precision. By means
of airborne platforms called UAV (Unmanned Aerial Vehicle) or drone, it is possible
to carry out monitoring, evaluation and decision-making support activities in order to
improve the management of crops and herds in rural properties with different production
scale. Vegetation indexes are used in the mapping of the vegetative condition, mainly,
in large scale with the use of satellite images. However, from sensors embedded in
UAV platforms, several indices can be applied in studies involving the identification of
vegetation stresses at more precise spatial scales. It was found that the VARI and GLI
indices presented similar performances in the initial vegetative stages of the maize
crop. The indices were sensitive in the class discrimination in intervals that indicate
from the soil exposure and the low vigor (red, orange and yellow tones) to the high
vegetation vigor condition (green tones). The results of the vegetation indices, in the
visible spectrum range, demonstrate the applicability of the method in obtaining data
and extracting information related to aspects of development and growth of crops. In
general, the VARI and GLI indices appear as a potential alternative for monitoring the
crop by means of low cost RGB sensors on board UAV platforms.
KEYWORDS: Maize, UAV, Vegetation Index, Remote Sensing.

1 | INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, há um crescente interesse no uso de técnicas e procedimentos


autômatos para monitorar o crescimento e o desenvolvimento das lavouras. Tudo
indica que a próxima revolução agrícola será impulsionada pelo uso inteligente
de dados que poderão impactar no aumento da produtividade e contribuir para a
sustentabilidade ambiental por meio do uso racional dos recursos, especialmente
no campo da produção de alimentos e uso do solo. Haja vista que no setor agrícola
torna-se cada vez mais nítido o grande salto da robótica, fornecendo soluções
interessantes e eficazes para o aumento da produtividade a partir do monitoramento
das lavouras (Tripicchio et al., 2015).
Na propriedade rural, é cada vez mais evidente o uso de drones ou Veículos
Aéreos Não Tripulados (VANTs). Tais equipamentos emergiram de um passado militar
e, atualmente, vem auxiliando o agricultor e o pecuarista em diversas atividades
como: transporte de cargas (fertilizantes ou pesticidas), monitoramento do gado e
das lavouras em diferentes estádios de crescimento e desenvolvimento. Em relação
às plataformas orbitais, os VANTs têm se destacado nas denominadas fazendas
inteligentes, pois são eficazes na geração de dados para extração de conhecimento
a partir de uma visão panorâmica próxima dos campos, ou seja, possibilitando
avaliações mais precisas das condições das lavouras (Andrade et al., 2019).
O uso de VANT no monitoramento da lavoura pode auxiliar o agricultor nos
planejamentos e tomadas de decisões ao atentar-se às peculiaridades do plantio
Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 21 226
e as condições edafoclimáticas. A variabilidade da produtividade pode ocorrer em
razão de fatores como a época de semeadura, características climáticas, manejo e
heterogeneidade do solo, na identificação do grau de infestação por ervas daninhas
e sua distribuição no espaço com vistas para aplicações de herbicida apenas no
local infestado; identificação do melhor período de colheita com otimização logística,
estresse hídrico (Gago et al., 2015), falhas de plantio (Pontes e Freitas), doenças
(Zhang et al., 2018), entre outras.
As plataformas VANTs são aeronaves leves e de baixo custo operadas a partir
do solo e que podem embarcar sensores para imageamento. Os sensores mais
comuns são os que coletam dados na faixa do visível (sensores RGB), no entanto,
há uma diversidade de sensores tais como os que captam informações apenas
na banda do infravermelho próximo e termal ou aqueles que são multiespectrais
e possibilitam obter informações em diversas faixas do espectro eletromagnético.
Os sensores RGB são interessantes pelo custo benefício, ou seja, possibilita a
geração de índices espectrais na faixa do visível e ainda permite extrair, a partir dos
softwares de geoprocessamento, outros produtos como modelo digital de terreno
(MDT), modelo 3D, ortomosaico de imagens, estimativa de volume e precisas curvas
de nível.
Os avanços alcançados em anos recentes criaram inúmeras possibilidades de
uso que denotam a importância dessa tecnologia para gerenciamento dos recursos
empregados no campo. Diante do exposto, o presente estudo objetivou o uso de
plataforma VANT e sensor RGB embarcado para monitorar a cultura do milho em
diferentes estádios de desenvolvimento.

2 | CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo situa-se no município de Coronel Pacheco-MG, mais


precisamente, no Campo Experimental José Henrique Bruschi (CEJHB) da Embrapa
Gado de Leite. A área destinada ao plantio do milho forrageiro pode ser visualizada
na Figura 1.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 21 227


Figura 1 - Localização da área de estudo no Campo Experimental José Henrique Bruschi
(CEJHB), Embrapa Gado de Leite, município de Coronel Pacheco, MG.

O plantio do milho foi efetuado em uma área que predomina o Neossolo Flúvico
(terraço) distrófico de relevo plano e textura variada. Solos característicos de várzeas
colúvio-aluviais. De acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger, a região
é de clima Aw, ou seja, clima tropical com estação seca de inverno. Com base nas
normais climatológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) para o período
de 1981 a 2010, a média anual de temperatura do ar é de 21,4ºC e o volume médio
de precipitação anual é de 1620,6 mm. Os meses de julho (12,6 mm) e janeiro (355,1
mm) são os de menor e maior precipitação, respectivamente.
Em termos de relevo, o município de Coronel Pacheco, MG, possui 10% de
relevo plano, outros 10% considerado como montanhoso e 80% de relevo ondulado.
As máximas e mínimas altitudes são de 1.070 m e 409 m, respectivamente. A sede
municipal possui altitude de 484 m. A área do plantio do milho possui altitude ao
redor da mínima do município (Figura 2). A partir dos dados coletados pela câmera
RGB a bordo da plataforma VANT, foram geradas curvas de nível de 2 em 2 metros.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 21 228


Figura 2 - Visualização das curvas de nível geradas a partir de dados VANT.

3 | PLANTIO DO MILHO, EQUIPAMENTOS E PLANEJAMENTO DOS VOOS

Efetuou-se a semeadura do milho em 07/04/18, tendo como escolha de plantio


o híbrido RB 9308 VTPRO da Riber KWS. Para tanto, definiu-se espaçamento entre
linhas de 80 cm e o plantio de 4,6 sementes por metro, com o objetivo de obter o
estande de 57,5 mil plantas por hectare, totalizando cerca de 310.000 sementes na
área de 5,39 hectares. Os aerolevantamentos foram realizados nos dias 26/04/18 e
24/05/18.
As atividades de aerolevantamento foram executadas por VANT de asas
rotativas, tipo quadricóptero, modelo Inspire 1 Pro (Figura 3), que permite o
intercâmbio de câmeras com sensores RGB (Red, Green, Blue) e multiespectral.
Para o imageamento na faixa do visível, utilizou-se de uma câmera RGB modelo DJI
Zenmuze X5. Os sensores RGB de alta precisão permitiram avaliar as condições
do plantio a partir de procedimentos para mensurações quantitativas da vegetação,
como também, nas avaliações qualitativas realizadas por meio de índices de
vegetação que operam na faixa visível do espectro eletromagnético.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 21 229


Figura 3 – Visualização do VANT, modelo Inspire 1 Pro, em voo sobre a cultura do milho. Foto:
Marcos La Falce.

Os planos de voo foram realizados sob conformidade técnica padronizada, a fim


de que os resultados ou produtos do aerolevantamento pudessem ser comparados
em bases semelhantes, equalizando variáveis como: altura do voo, tamanho do pixel
das imagens no solo (Ground Sample Distance - GSD), calibração dos sensores,
percentual de sobreposição das imagens, velocidade dos ventos, luminosidade,
posicionamento das sombras, hora do dia, ângulo de visada, posicionamento do sol,
etc.
O plano de voo foi parametrizado da seguinte forma: (i) altura de voo de 90
m; GSD de 2,27 cm; velocidade máxima de 15 m/s, tempo de voo de 9,5 minutos
no uso de uma bateria; sobreposição lateral e frontal das imagens de 75% e 85%,
respectivamente. Com base nessa configuração de plano de voo, foram necessárias
7 linhas de voo e 146 imagens para cobrir toda a área e, posteriormente, gerar o
ortomosaico por meio de processamento no software Pix4D Mapper Pro 4.125.

4 | ÍNDICES DE VEGETAÇÃO

As análises de vigor do plantio, plantas invasoras, falhas de plantio e


produtividade, foram realizadas a partir de índices de vegetação pré-selecionados
de acordo com suas características e aplicabilidade que utilizam as bandas Red-
Green-Blue (RGB) do espectro visível.
Os índices de vegetação são muito utilizados em estudos envolvendo a
identificação de estresses da vegetação. Consequentemente, esses índices podem
auxiliar na classificação dos alvos, por exemplo, na discriminação da vegetação em
desenvolvimento dentro da normalidade e áreas de plantio afetadas por pragas,
doenças, deficiências nutricionais da vegetação e do solo, perdas causadas por
invasão de animais silvestres como capivaras entre outros (Andrade et al., 2019).
No presente estudo, foram usados os índices VARI (Visible Atmospherically

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 21 230


Resistant (Gitelson et al., 2002)) e GLI (Green Leaf Index (Hunt Jr. et al., 2013)). O
VARI foi desenvolvido para levar em consideração a redução de possíveis influências
dos constituintes atmosféricos por meio da subtração da banda espectral referente
ao canal azul no denominador da equação 1. Já o índice GLI, equação 2, tem sido
aplicado na distinção entre vegetação fotossinteticamente ativa e vegetação seca
com exposição de solo.

Em que, P
r Green , Pr Re d e Pr Blue são as bandas espectrais referentes aos canais do
verde (Green), vermelho (Red) e azul (Blue), respectivamente.

5 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os índices de vegetação revelaram a condição ou estado de saúde das


plantas nas datas do imageamento. A seguir são apresentados os resultados do
imageamento efetuado com câmeras RGB a bordo de plataforma VANT. Para cada
intervalo de classe definidos para os índices de vegetação, foram estimadas a
área (ha) e a porcentagem (%) de abrangência em relação à área total do plantio.
Conforme Tabela 1 nota-se que o índice VARI apresentou, na maior parte da área
(~90%), intervalos de valores negativos. Já o índice GLI teve apenas um intervalo
de classe de valores negativos, porém, com abrangência de 1,38 ha ou 25,58%
da área total. Estes valores indicam que havia pouca cobertura vegetal ou ampla
exposição de solo. No dia 26/04/18 o milho se apresentava com 19 dias após
semeadura, ou seja, entre os estádios fenológicos de segunda folha (V2) e quarta
folha (V4). As subdivisões V1 a Vn (ultima folha completamente expandida anterior
ao pendoamento) são considerados estádios vegetativos. Posteriormente, tem-se
os estádios reprodutivos definidos como: pendoamento (R1), grão leitoso (R2), grão
pastoso (R3), grão farináceo (R4), grão farináceo duro (R5) e maturação fisiológica
(R6). No entanto, no presente estudo monitorou a cultura do milho apenas nos
estádios vegetativos iniciais.

Índices de Vegetação
VARI GLI
Classes
Intervalo de Área Cobertura Intervalo de Área Cobertura
classes (ha) (%) classes (ha) (%)
0,02 a 0,53 0,08 1,56 0,10 a 0,48 0,04 0,66
-0,05 a 0,01 0,60 11,09 0,04 a 0,09 0,21 3,84
-0,09 a -0,06 2,14 39,41 0,02 a 0,03 1,12 20,66
-0,12 a -0,10 1,96 36,18 0,00 a 0,01 2,67 49,26

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 21 231


-0,62 a -0,13 0,64 11,75 -0,27 a -0,01 1,38 25,58

Tabela 1. Intervalos de classes de índices de vegetação VARI (Visible Atmospherically


Resistant) e GLI (Green Leaf Index) com suas respectivas áreas, em porcentagem, para o
aerolevantamento do dia 26 de abril de 2018

Na Figura 4A tem-se o mosaico de imagens RGB (bandas do visível). Observa-


se que predominam áreas com exposição de solo. Visualmente, as linhas de plantio
do milho começam a se definir em pequenas áreas nas bordas norte e sul. A região
central é a que concentra boa parte dos valores negativos de intervalos de classes
dos índices VARI e GLI, representados pelas classes em tons de amarelo, laranja
e vermelho no índice VARI (Figura 4B) e laranja e vermelho no índice GLI (Figura
4C). Os índices indicam a heterogeneidade de desenvolvimento da cultura desde os
estádios vegetativos iniciais. Neste caso, pode ter sido influenciado pela variabilidade
hídrica ou pelos constituintes químicos e físicos do solo. Análises de solos poderão
elucidar esta questão.

Figura 4 - Imagem mosaico RGB (A) e visualização da abrangência dos intervalos de classes
dos índices de vegetação VARI (B) e GLI (C), para o dia 26 de abril de 2018.

Os índices de vegetação podem auxiliar na identificação de áreas do plantio


que apresentam desenvolvimento dentro da normalidade ou com alguma deficiência.
De acordo com Hunt Jr. et al. (2013), os índices de vegetação possuem fundamental
aplicação na extração de informações a partir dos dados de sensoriamento remoto,
porém, estes métodos podem reduzir, mas não eliminar, os efeitos dos solos, da
topografia e do ângulo de visada.
Para o aerolevantamento realizado em 24/05/18 verificou-se que os índices de
vegetação VARI e GLI apresentaram intervalos de classes positivos em mais de 85%
da área de plantio (Tabela 2). Da área total (5,39 ha), apenas 13,13% (0,72 ha) e
14,78% (0,78 ha) foram classificados com intervalos negativos por meio dos índices

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 21 232


VARI e GLI, respectivamente.

Índices de Vegetação
VARI GLI
Classes
Intervalo de Área Cobertura Intervalo de Área Cobertura
classes (ha) (%) classes (ha) (%)
0,24 a 0,60 0,76 13,96 0,20 a 0,50 0,53 9,81
0,18 a 0,23 1,70 31,14 0,16 a 0,19 1,12 20,50
0,11 a 0,17 1,31 24,05 0,12 a 0,15 1,53 28,10
0,02 a 0,10 0,97 17,72 0,07 a 0,11 1,49 27,31
-0,21 a 0,01 0,72 13,13 -0,06 a 0,06 0,78 14,78

Tabela 2. Intervalos de classes de índices de vegetação VARI (Visible Atmospherically


Resistant) e GLI (Green Leaf Index) com suas respectivas áreas, em porcentagem, para o
aerolevantamento do dia 24 de maio de 2018

Na Figura 5A pode-se observar que a cultura do milho apresenta o dossel mais


desenvolvido (47 dias após semeadura, entre estádio V8 e V9). No entanto, falhas
de plantio são visíveis, principalmente na parte central da área. Ao comparar os
mapas dos índices VARI (Figura 5B) e GLI (Figura 5C) nota-se que o índice GLI se
mostra mais sensível à vegetação verde, neste caso, a formulação do índice pode
evidenciar uma possível explicação, devido ao fato da banda espectral do verde ter
peso 2 em relação às bandas do azul e vermelho. Assim, os valores positivos de GLI
representam características de folhas e caules verdes.

Figura 5 - Imagem mosaico RGB (A) e visualização da abrangência dos intervalos de classes
dos índices de vegetação VARI (B) e GLI (C), para o dia 24 de maio de 2018.

6 | CONCLUSÕES

Os índices VARI e GLI apresentaram desempenho semelhantes nos estádios


vegetativos iniciais da cultura do milho. Os índices foram sensíveis na discriminação

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 21 233


das classes em intervalos que indicam desde a exposição de solo e baixo vigor
(tons de vermelho, laranja e amarelo) até o alto vigor da vegetação (tons de verde).
De forma geral, os índices VARI e GLI surgem como potencial alternativa para o
monitoramento da lavoura por meio de sensores RGB de baixo custo a bordo de
plataformas VANT.

REFERÊNCIAS
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Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 21 234


CAPÍTULO 22

USO DE VEÍCULO AÉREO NÃO TRIPULADO (VANT)


PARA ESTIMATIVA DE VIGOR E DE CORRELAÇÕES
AGRONÔMICAS EM GENÓTIPOS DE CAPIM
CYNODON

Marcos Cicarini Hott antecipatórias no manejo da área experimental.


Embrapa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – O objetivo deste trabalho é estabelecer um
EMBRAPA – Juiz de Fora – Minas Gerais estudo de viabilidade técnica da plataforma
Ricardo Guimarães Andrade de Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) para
Embrapa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – estimativa da biomassa, da altura do dossel
EMBRAPA – Juiz de Fora– Juiz de Fora – Minas
forrageiro e das condições gerais de capins
Gerais
do gênero Cynodon, em parcelas, usando
Walter Coelho Pereira de Magalhães Junior volume e vigor pelo método i-Health&Height-
Embrapa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
Plants, por índice NDRE e modelo de terreno
EMBRAPA – Juiz de Fora– Juiz de Fora – Minas
Gerais e superfície (MDT). Foram utilizadas câmeras
de imageamento na faixa do visível (RGB),
Flávio Rodrigo Gandolfi Benites
Embrapa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – borda do vermelho (RedEdge) e infravermelho
EMBRAPA – Juiz de Fora – Minas Gerais próximo (NIR) para monitoramento contínuo
da área experimental, aproximadamente,
3.800 m2, conduzido no Campo Experimental
José Henrique Bruschi (CEJHB) na cidade de
RESUMO: Os procedimentos tradicionais
Coronel Pacheco-MG. Após o imageamento
de estimativa de biomassa em pastagens
por VANT foram selecionados 12 clones do
normalmente utilizam métodos destrutivos com
gênero Cynodon que apresentaram maior vigor
grande demanda de tempo, recursos e mão-de-
em relação aos dados obtidos no experimento
obra. Este contexto usual dificulta a execução
de campo e com os dados obtidos por VANT.
destes procedimentos em campo, ocasionando
PALAVRAS-CHAVE: Melhoramento genético
erros de precisão e não permitindo avaliar a área
de plantas, vigor vegetativo, pastagem, VANT.
experimental como um todo quanto à aspectos
fitossanitários, infestação de pragas e doenças,
ABSTRACT: The traditional methods of
assim como deficiências minerais iniciais. O
estimating biomass in pastures usually use
desenvolvimento de modelos para estimativa
destructive ways with great demand of time,
automatizada da biomassa e do índice de área
resources and labor. This usual context
foliar das pastagens, particularmente a partir
difficulties to perform these procedures in the
das imagens captadas por VANT, propicia
field, causing errors of precision and not allowing
economia de recursos e adoção de medidas
to evaluate the experimental area as a whole in

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 22 235


relation to phytosanitary aspects, pest infestation and diseases, as well as initial mineral
deficiencies. The development of models for automated estimation of biomass and
foliar area index of pastures, particularly from the images captured by VANT, provides
resource savings and adoption of anticipatory measures in the management of the
experimental area. The objective of this work is to establish a technical feasibility study
of the Unmanned Aerial Vehicle (UAV) platform to estimate biomass, forage canopy
height and vigor of Cynodon grasses using volume and vigor by the i-Health&Height-
Plants method, congregating index NDRE, and model of terrain and surface (MDT).
We used image cameras in the visible (RGB), red border (RedEdge) and near infrared
(NIR) cameras to continuously monitor the pasture area of ​​approximately 3,800 m²,
conducted at the José Henrique Bruschi Experimental Field (CEJHB) at city ​​of Coronel
Pacheco-MG. From the imaging by VANT, only as essay through images and field data,
the 12 clonal cultivars of the genus Cynodon pasture it were selected, which had better
vigor in the presence of biotic and abiotic adverse conditions.
KEYWORDS: Plant breeding, vegetative vigor, pasture, UAV.

1 | INTRODUÇÃO

Com o surgimento e avanço das tecnologias de levantamento por


aerofotogrametria com veículos aéreos não tripulados (VANT) incontáveis aplicações
em trabalhos de infraestrutura, transporte e em pesquisas agropecuárias são
vislumbradas cotidianamente. A facilidade, rapidez e versatilidade na aquisição
de dados, imagens e métricas acerca de alvos na superfície terrestre permite que
atividades de caráter rotineiro e de interpretação no campo sejam realizadas com
enorme eficiência. Somam-se às novas tecnologias em sensoriamento remoto e
geoprocessamento, essa categoria de VANT’s de pequeno porte com câmeras e
sensores multiespectrais, o que flexibiliza levantamentos aéreos visando detectar
diversos aspectos biofísicos com periodicidade definida pelo usuário e de acordo com
o ciclo fenológico (ANDERSON; GASTON, 2013). O trabalho de seleção genética,
fenotipagem e a mensuração de parâmetros agronômicos em forrageiras, antes
efetivados com a utilização de equipamentos diversos e com a demanda de uma
equipe permanente em campo, poderá ser concretizado com ortofotos obtidas por
câmeras dotadas de sensores óticos a partir de voos programados em VANTs, sem
a necessidade de remoção da forragem para estimativas de biomassa, por exemplo.
Entretanto, para que essa tarefa possa ser realizada com segurança e significância
estatística, diversos levantamentos experimentais e testes devem ser realizados
para que os dados obtidos por sensoriamento remoto aerofotogramétrico possam
apoiar ou até substituírem o corte de clones de espécies forrageiras e medidas de
laboratório e campo. A base para as análises e ensaios de campo, com os sobrevoos,
são levantamentos de pontos de controle com GPS geodésico, visando boa precisão
e definição das transformações no SIG (Sistema de Informações Geográficas) para
estimativas nas parcelas de Cynodon. Os índices de vegetação desempenham

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 22 236


um importante papel ao destacarem fenômenos de estresses na forragem. Nestes
ensaios foram utilizados os seguintes índices de vegetação, cujas equações estão
a seguir:

Em que Pr Green , Pr Re d , Pr Blue , P


r rededge e P
r nir são as bandas espectrais referentes aos
canais do verde (Green), vermelho (Red), azul (Blue), infravermelho (NIR) e borda
do vermelho (Red Edge), respectivamente.
O NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) (Rouse et al., 1973), VARI
(Visible Atmospherically Resistant) (GITELSON et al., 2002), GLI (Green Leaf Index)
(HUNT JR. et al., 2013), CIgreen (Green Clorophyl Index) e NDRE (Normalized
Difference Red Edge) (GITELSON et al., 2003) foram utilizados como forma de
obter-se o mapas que indiquem os estresses pertinentes à problemas de sanidade,
deficiência mineral, infestações de pragas, dentre outros, em diversos tratamentos
experimentais aplicados aos clones de Cynodon pertencentes ao programa de
melhoramento genético da Embrapa. Por meio de estereoscopia, sobreposição de
imagens e informações altimétricas são produzidos modelos digitais de superfície e de
terreno (MDT), e, assim, é possível obter-se informações altimétricas e volumétricas,
com as quais pode-se obter o volume de biomassa vegetal. Informações dos índices
de vegetação e volume de forragem conjugadas originaram um método para estimar-
se a condição do vigor das forrageiras, denominado i-Health&Height-Plants, visando
congregar a resposta espectral com a altura ou volume das plantas. O VARI foi
desenvolvido para levar em consideração a redução de possíveis influências dos
constituintes atmosféricos por meio da subtração da banda espectral referente ao
canal azul no denominador da equação 1. Já o índice GLI, equação 2, tem sido
aplicado na distinção entre vegetação fotossinteticamente ativa e vegetação seca

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 22 237


com exposição de solo. O NDVI foi originalmente desenvolvido para o realce da
vegetação herbáceo-arbustiva, principalmente, tendo em vista aspectos de saturação
para vegetação densa, enquanto que o NDRE permite a distinção de nuances entre
as forragens com vigor distintos e o ruído representado pelos solos. O CIgreen
realça aspectos relevantes para vegetação verde, o que, muitas vezes, não ocorre
com eficiência quando a vegetação reflete muito, ou de forma importante, no azul ou
vermelho.

2 | MATERIAIS E MÉTODOS

Foram realizados testes no Campo Experimental José Henrique Bruschi, em


Coronel Pacheco (MG), a partir de plano de voo para o VANT Inpire 1, visando alta
precisão com o uso de pontos de controle coletados através de GPS geodésico. Por
meio de câmera multiespectral foram realizados ensaios com o VARI, GLI, CIgreen,
NDVI e NDRE.
Foi utilizado o método i-Health&Height-Plants, desenvolvido para uso de
estereoscopia por VANT, altura e volume da forragem, bem como da resposta espectral
e índices de vegetação, em conjunto com dados de levantamentos em campo. O
método i-Health&Height-Plants é um diferencial nas estimativas de correlações
agronômicas, visando substituir a percepção do intérprete na determinação do
vigor do capim, o que pode variar de acordo com o conhecimento e experiências do
técnico. Assim, esse método desenvolvido para uso dos equipamentos embarcados
poderá padronizar a estimativa, utilizando procedimento automatizado, fornecendo
resultados do processamento das imagens com o uso de um procedimento
multicritério, pois toma-se por base diversas camadas de dados relacionados
ao vigor do capim, peso verde, nota do intérprete técnico, índice de vegetação e
volume da forragem. Foi empregada essa metodologia em experimento pertencente
ao programa de melhoramento genético do gênero Cynodon, instalado em blocos
aumentados de Federer. O experimento em blocos aumentados foi constituído por 8
blocos, avaliando-se em cada bloco 48 tratamentos não comuns e duas testemunhas
(tratamentos comuns Tifton 85 e Grama Estrela Roxa), com excessão do último bloco
que foi constituído de 47 tratamentos não comuns mais os dois tratamentos comuns,
totalizando 399 parcelas. No momento do corte do experimento, foram dadas notas
relacionadas ao vigor das parcelas, foi mensurada a altura, além do peso de matéria
verde de cada parcela.
O objetivo deste trabalho é estabelecer um estudo de viabilidade técnica da
plataforma de Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) para estimativa da correlação
da produção de matéria verde, altura do dossel forrageiro e do vigor das parcelas
do gênero Cynodon, usando volume e vigor pelo método i-Health&Height-Plants,
por índice NDRE e modelo de terreno e superfície (MDT). Foram utilizadas
câmeras de imageamento na faixa do visível (RGB), borda do vermelho (RedEdge)

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 22 238


e infravermelho próximo (NIR) para monitoramento contínuo do experimento de
Cynodon conduzido no Campo Experimental José Henrique Bruschi (CEJHB)
na cidade de Coronel Pacheco-MG. Há procedimento padrão na execução dos
levantamentos, com o planejamento de voo na área equivalente e adjacências, em
decorrência da necessidade de informações fora dos limites da área de interesse,
além de serem necessários o estabelecimento de uma série de parâmetros quanto à
configuração do sistema utilizado para o VANT (Figura 1).

Figura 1 – Etapa de planejamento do voo com VANT na área experimental e visualização do


ambiente de configuração.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 22 239


3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do planejamento das operações para imageamento por VANT realizou-


se acurado sobrevoo, para o qual foram observadas as condições atmosféricas,
como velocidade do vento, pluviosidade, dentre outras, privilegiando boa iluminação
solar, objetivando uma padronização dos levantamentos em áreas experimentais.
Umas das fases mais importantes, pré-levantamento, se tratou da marcação
geodésica dos pontos de controle, fundamentais para uma boa precisão final (Figura
2). A partir desses pontos pode-se obter um GSD (resolução espacial) de 2,6 cm no
terreno e excelente precisão posicional, o que viabiliza cruzamento com imagens do
mesmo experimento em futuros sobrevoos.

Figura 2 – Localização dos pontos de controle.

Após o processamento das imagens, por estereoscopia de imagens, e


reamostradas para 15 cm, obteve-se o MDT com a estimativa altimétrica e volumétrica
das parcelas (Figura 3). Selecionou-se o NDRE como o índice de vegetação mais
adequado às estimativas do vigor, frente aos outros índices testados (Figura 4). A
partir das correlações entre a classificação do peso verde dos clones das parcelas
do capim Cynodon , nota atribuída, NDRE e volume estabeleceu-se um multicritério
para a reunião dos clones com melhor pontuação. Esta pontuação, extraída das
medidas de vigor, corroborou para a construção de um ranking, a partir do qual
selecionou-se as melhores forragens em termos de condições vegetativas, porte e
vigor.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 22 240


Figura 3 – MDT (volume em m²) das áreas com experimentos.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 22 241


Figura 4 – NDRE das áreas com experimentos.

O NDRE não possibilitou por si só uma boa correlação com as notas e peso
verde, conforme os dados da Tabela 1 (notas atribuídas estão em parênteses e a
letra T representa a testemunha, a qual é o capim Tifton 85 cv). Nota-se que sem
a totalidade dos parâmetros, o qual incluiria a informação volumétrica (MDT), as
parcelas de Tifton surgem nesta classificação, mesmo sendo o capim testemunha,
usado para efeito de comparação com os tratamentos aplicados às forrageiras
no melhoramento genético. Assim, com o uso do multicritério, o qual preconiza o
cruzamento de várias camadas de informações, obteve-se uma melhor correlação, e,
por conseguinte, a seleção mais adequada dessas forrageiras (Tabela 2). Na Figura
5, a distribuição geográfica das parcelas com os resultados do método empregado,
assim como a posição das forrageiras na classificação adotada, considerando as 12
melhores ranqueadas.

Ranking das parcelas selecionadas pelo índice de vegetação NDRE


Classificação Nº Parcela Peso verde Classificação Nº Parcela Peso verde
(kg) (kg)
1º 385 (4) (T) 1,38 7º 309 (4) (T) 1,45
2º 68 (5) (T) 3,6 8º 265 (5) 2,68
3º 270 (4) (T) 2,04 9º 269 (5) 3,10
4º 305 (4,5) 2,44 10º 268 (5) 2,64
5º 206 (4) 1,60 11º 31 (5) 3,45
6º 213 (3,5)(T) 1,38 12º 148 (4,5) 2,52

Tabela 1 – NDRE para as forragens nas parcelas do experimento.

Aferição do peso verde das plantas a partir do ranking das doze melhores parcelas de
Cynodon spp. selecionadas pelo i-HEALTH&HEIGHT-PLANTS

Classificação Nº Parcela Peso verde Classificação Nº Peso verde


(kg) Parcela (kg)
1º 269 (5) 3,10 7º 3 (3) 1,71
2º 305 (4,5) 2,44 8º 319 (5) 1,50
3º 277 (5) 2,44 9º 343 (4) 1,80
4º 268 (5) 2,64 10º 341 (4) 1,28
5º 265 (5) 2,68 11º 86 (4) 1,60
6º 342 (4) 1,30 12º 266 1,50
(4,5)

Tabela 2 – Peso verde das forragens nas parcelas do experimento.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 22 242


Figura 5 – Resultado final com a composição NDRE e MDT, seleção teste por VANT das
melhores forragens nas parcelas.

4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

O VANT permitiu, em uma primeira abordagem, uma rápida e eficiente captura


de informações por sensoriamento remoto das parcelas em campo, e, por meio da
metodologia i-Health&Height-Plants, estabeleceu-se um padrão nas estimativas de
parâmetros de cunho agronômico em melhoramento genético de clones de capim
Cynodon. Isto pode contribuir sobremaneira, por exemplo, na fenotipagem de alto
rendimento em programas de melhoramento de plantas. Esta, provavelmente, se
constitui em uma nova fronteira do conhecimento para aplicações em levantamentos
aerofotogramétricos e de extração de parâmetros biofísicos em lavouras, aspectos
fitossanitários e antecipação de estresses que possam ocorrer do ponto de vista
hídrico, mineral, nutricional ou entomológico. As aplicações em infraestrutura e
mapeamento exploratório irão surgir à medida em que o VANT se popularizar no
meio acadêmico e rural.

REFERÊNCIAS
ANDERSON, K.; GASTON, K. J. Lightweight unmanned aerial vehicles will revolutionize spatial
ecology. Frontiers in Ecology and the Environment, v. 11, n. 3, p. 138-146, 2013.

GITELSON, A. A.; STARK, R.; GRITS, U.; RUNDQUIST, D.; KAUFMAN, Y.; DERRY, D. Vegetation
and soil lines in visible spectral space: a concept and technique for remote estimation of vegetation
fraction. International Journal of Remote Sensing, v. 23, n. 13, p. 2537-2562, 2002.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 22 243


GITELSON, A.A.; GRITZ, Y.; MERZLYAK, M.N. Relationships between leaf chlorophyll content and
spectral reflectance and algorithms for non-destructive chlorophyll assessment in higher plant leaves.
Journal of Plant Physiology. v. 160, p. 271-282, 2003.

HUNT JR., E. R.; DORAISWAMY, P. C.; MCMURTREY, J. E.; DAUGHTRY, C. S. T.; PERRY, E. M. A
visible band index for remote sensing leaf chlorophyll content at the canopy scale. International Journal
of Applied Earth Observation and Geoinformation, v. 21, p. 103-112, 2013.

ROUSE, J. W. et al. Monitoring vegetation systems in the Great Plains with ERTS. In: Earth resources
technology satellite-1 Symposium, 3., 1973, Greenbelt. Proceedings… Greenbelt: NASA SP-351 I,
1973. p. 309-317.

Engenharia Sanitária e Ambiental Capítulo 22 244


SOBRE O ORGANIZADOR

Helenton Carlos Da Silva: Possui graduação em Engenharia Civil pela


Universidade Estadual de Ponta Grossa (2007), especialização em Gestão
Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pelo Centro de Ensino Superior dos
Campos Gerais (2010) é MBA em Engenharia Urbana pelo Centro de Ensino
Superior dos Campos Gerais (2014), é Mestre em Engenharia Sanitária e Ambiental
na Universidade Estadual de Ponta Grossa (2016), doutorando em Engenharia e
Ciência dos Materiais pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e pós-graduando
em Engenharia e Segurança do Trabalho. A linha de pesquisa traçada na formação
refere-se à área ambiental, com foco em desenvolvimento sem deixar de lado a
preocupação com o meio ambiente, buscando a inovação em todos os seus projetos.
Atualmente é Engenheiro Civil autônomo e professor universitário. Atuou como
coordenador de curso de Engenharia Civil e Engenharia Mecânica. Tem experiência
na área de Engenharia Civil, com ênfase em projetos e acompanhamento de obras,
planejamento urbano e fiscalização de obras, gestão de contratos e convênios,
e como professor na graduação atua nas seguintes áreas: Instalações Elétricas,
Instalações Prediais, Construção Civil, Energia, Sustentabilidade na Construção
Civil, Planejamento Urbano, Desenho Técnico, Construções Rurais, Mecânica dos
Solos, Gestão Ambiental e Ergonomia e Segurança do Trabalho. Como professor de
pós-graduação atua na área de gerência de riscos e gerência de projetos.

Engenharia Sanitária e Ambiental Sobre o Organizador 245


ÍNDICE REMISSIVO

Água 13, 24, 70, 100, 107, 109, 111, 129, 130, 132, 133, 138, 139, 160, 183, 184,
200
Análise 34, 40, 90, 100, 197, 224
Avaliação 36, 70, 84, 100, 119, 191, 224
B

Biodigestor 202, 205, 206, 208


Biogás 215, 223, 224
C

Coleta seletiva 52
D

Drenagem urbana 2, 106


E

Eficiência 160
Efluente 16, 20, 154, 160
Erosão 80, 83, 84
G

Gerenciamento 37, 129


I

Impacto ambiental 46, 51


Indicadores 8, 25, 104, 126, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139
L

Lodo 192, 200


M

Monitoramento 12, 16, 25, 35, 234


R

Reciclagem 45, 49, 52, 54, 59


Recursos hídricos 102
Referência 115, 116, 117, 119, 120, 122, 123, 179, 197
Resíduos sólidos 22, 25, 37, 51, 52, 70, 190

Engenharia Sanitária e Ambiental Índice Remissivo 246


S

Saneamento 7, 13, 29, 70, 102, 103, 104, 105, 109, 113, 133, 134, 135, 140, 141,
142, 147, 201, 213, 215, 223
Sedimentos 85, 90, 92, 96, 97, 99, 100
Sensoriamento remoto 181
T

Tratamento 16, 25, 63, 64, 65, 96, 111, 113, 130, 184, 192, 196, 200, 211, 215, 224
U

Urbanização 2

Engenharia Sanitária e Ambiental Índice Remissivo 247


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