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TRATAMENTO DE EFLUENTES

Professor Me. Maycon Vinícius de Senna Ribeiro

EduFatecie
E D I T O R A
REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira
DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima
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Zineide Pereira dos Santos
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Yasmin Cristina de Miranda Andretta
SETOR TÉCNICO Fernando dos Santos Barbosa

FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

R484t Ribeiro, Maycon Vinícius de Senna


Tratamento de efluentes / Maycon Vinícius de Senna
Ribeiro. Paranavaí: EduFatecie, 2022.
77 p. : il. Color.

ISBN 978-65-5433-038-1

1. Resíduos industriais - Tratamento. 2. Resíduos industriais -


Remoção. 3. Álcool – Indústria. I. Centro Universitário
UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título.

CDD: 23. ed. 641.23

Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

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de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
AUTOR
Professor Maycon Vinícius de Senna Ribeiro

Me chamo Maycon, sou Engenheiro Químico pela Universidade Estadual do Oeste


do Paraná (UNIOESTE) com ênfase em processos catalíticos, e mestre em Engenharia
Química pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com ênfase em processos fermen-
tativos e biocatálise. Sommeliere de Cervejas, pelo Science of Beer Institute, e pesquisador
e produtor caseiro de alimentos e bebidas fermentadas como cervejas, hidromel, kombuchas
e sidras. Também sou professor do quadro de formadores do Centro Universitário de Ma-
ringá (Unicesumar) na modalidade EAD do Curso de Tecnologia em Produção Cervejeira,
nas disciplinas de Bioquímica Cervejeira e na elaboração de materiais. Além disso, também
sou consultor em Qualidade, Produtividade e Meio-ambiente, atuando no desenvolvimento
de produtos relacionados à indústria biotecnológica.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/5538576381987603

3
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Olá aluno (a)! Seja muito bem-vindo à apostila de Tratamento de Efluentes. Nessa
trilha do conhecimento, teremos muitos assuntos a serem compreendidos. Das definições
de um efluente, até os principais processos de tratamentos dos efluentes. Veja só:

● Na Unidade I, vamos compreender o que é de fato um efluente, quais são os prin-


cipais exemplos de efluentes e qual a legislação vigente que deve ser cumprida;
● Na Unidade II, iniciaremos nossa caminhada pelos processos e tipos de trata-
mento de efluentes, com foco em suas características.
● Na Unidade III, iremos mais a fundo nos tratamentos, com maior foco nos tipos
de indústrias e quais os tratamentos mais empregados nelas. Compreendere-
mos como escolher um tipo de tratamento de acordo com a necessidade.
● Por fim, na Unidade IV, daremos um foco mais exclusivo ao processo da indús-
tria sucroalcooleira, descrevendo os tipos de efluentes gerados e quais são os
tratamentos mais empregados.

Tenho certeza que ao fim do material você estará apto e preparado para enfrentar
os desafios relacionados aos efluentes. Vamos lá!

4
SUMÁRIO

UNIDADE 1
Caracterização de Efluentes e Legislação

UNIDADE 2
Processos de Tratamento de
Efluentes: Parte I

UNIDADE 3
Processos de Tratamento de
Efluentes: Parte II

UNIDADE 4
Tratamento de Efluentes
na Indústria Sucroalcooleira

5
CARACTERIZAÇÃO

• Condições de Lançamentos de Efluentes e Legislação.

• Verificar as condições de Lançamentos de Efluentes;


DE EFLUENTES E

• Conceituar e contextualizar o que são efluentes;


Professor Me. Maycon Vinícius de Senna Ribeiro

• Entender os padrões de qualidade necessários;


LEGISLAÇÃO

Objetivos da Aprendizagem

• Compreender a Legislação vigente.


• Definição e Exemplos de Efluentes;
Plano de Estudos

• Padrões de Qualidade;
UNIDADE

1
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INTRODUÇÃO
Olá aluno (a), seja bem-vindo (a) a Unidade I do nosso material. Essa Unidade tem
como objetivo conceituar e estabelecer o que são efluentes, uma palavra que está presente em
muitos momentos quando o assunto é sustentabilidade e uso adequado dos recursos hídricos.
Com a definição de efluentes compreenderemos com maior profundidade como
eles são gerados e quais são as características, ou padrões de qualidade que eles possuem
e que podem adquirir após o tratamento. O tratamento de efluentes será melhor abordado
nas Unidades II e III, porém aqui já partiremos do ponto que o tratamento foi eficaz e os
padrões de lançamento foram atingidos, outro conceito importante que veremos.
Os padrões de lançamento dos efluentes dependem muito das legislações, que esta-
belecem os parâmetros adequados de lançamentos. Todo o projeto de tratamento de efluentes
busca emitir efluentes tratados que atendam à legislação vigente. Dessa forma, é importantís-
simo o conhecimento da legislação vigente para questões de projeto e análises requisitadas.
Aluno (a), de posse desses conhecimentos já poderemos estabelecer nosso ponto
de partida (efluente gerado) e projetar qual o ponto final, ou seja, o lançamento do corpo
hídrico que atende a legislação.

Vamos em frente!

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 7


................
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................

1
TÓPICO
DEFINIÇÃO E
EXEMPLOS DE
EFLUENTES
.
.....
.....
.....

A grande maioria dos processos, sejam eles industriais ou domésticos, utilizam


água. Desde as grandes produções industriais, até mesmo na lavagem de utensílios na
cozinha, a água é utilizada como meio para limpeza e como carreador de partículas. Essa
água é introduzida no processo, ou retirada apenas, e acaba por ser carregada para fora
do mesmo, na forma do que chamamos de efluente.
Um efluente é definido como um resíduo líquido, originado nos processos produ-
tivos de modo a adquirir as características do mesmo. Por exemplo, água utilizada como
resfriamento de um processo que utiliza calor, irá sair do processo quente, adquirindo a
característica do processo. Essa temperatura adquirida, pode causar impactos se destina-
da dessa maneira a um corpo hídrico. A temperatura alta pode causar diversos problemas,
como por exemplo a morte de organismos e o crescimento de bactérias, desequilibrando o
ecossistema (BITTENCOURT e PAULA, 2014).
Os efluentes ainda podem ser classificados de acordo com a sua origem em efluen-
tes domésticos e efluentes industriais.

1.1 Efluentes Domésticos


Os efluentes domésticos são descritos como sendo águas contaminadas, ou que
são incorporados contaminantes, sejam solutos ou líquidos, originários de bares, casas,
hotéis, clubes e comércio em geral. As principais fontes nesse sentido são descargas e
águas de pias e chuveiros de banheiros, água de lavagem de roupas, lavagem de utensílios
de cozinha, fossas assépticas e águas contaminadas com sabão e detergente (BITTEN-
COURT e PAULA, 2014).

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 8


FIGURA 1 – DRENAGEM DE EFLUENTES DOMÉSTICOS EM GALERIA DE ESGOTOS

1.2 Efluentes Industriais


Estes são os efluentes originados a partir dos processos de produção de produtos
e serviços, nas plantas industriais. As principais fontes desses contaminantes estão em
águas de lavagem, desinfecção e resfriamento. Além disso, outros podem surgir como
próprios produtos descartados por problemas de processo e outros.

FIGURA 2 – ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 9


................
...............
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................

2
TÓPICO

PADRÕES
DE QUALIDADE
.
.....
.....
.....

Quando falamos em padrões de qualidade, estamos falando mais a respeito de

caracterização dos efluentes. Esse é um ponto fundamental para definirmos qual o tipo de

tratamento a ser utilizado, pensando em qual o valor do parâmetro que pretendemos atingir,

antes do descarte.

A caracterização apresentará diversos parâmetros a respeito do efluente, que po-

dem até mesmo ser inter-relacionados. A temperatura, por exemplo, tem influência sobre

a quantidade de gases dissolvidos. Outros parâmetros, como por exemplo os biológicos

também podem ser influenciados pela temperatura, relacionado ao aumento ou diminui-

ção da carga microbiana. Abaixo temos uma tabela que descreve alguns constituintes e

suas importâncias.

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 10


TABELA 1 – PRINCIPAIS CONSTITUINTES E SUA
IMPORTÂNCIA NA CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES

Constituintes Importância
Sólidos suspensos podem provocar depósitos de lodo e
Sólidos suspensos condições anaeróbias quando esgoto bruto é descarregado no
ambiente aquático.
Contendo principalmente proteínas, carboidratos e gorduras,
os orgânicos biodegradáveis são mais comumente medidos
em termos de DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e
Orgânicos
DQO (demanda química de oxigênio). Se lançado sem
biodegradáveis
tratamento ao ambiente, suas estabilizações biológicas
podem levar à depleção dos recursos de oxigênio natural e ao
desenvolvimento de condições sépticas.
Doenças transmissíveis podem ser transmitidas por organismos
Patogênicos
patogênicos que podem estar presentes no esgoto.
Associados ao carbono, tanto nitrogênio como fósforo
são elementos essenciais para o crescimento. Quando
descarregados no meio aquático, esses nutrientes podem levar
Nutrientes
ao crescimento de espécies aquáticas indesejáveis. Quando
descarregados no solo em grandes quantidades, podem,
também, provocar a poluição de águas subterrâneas.
Compostos orgânicos e inorgânicos selecionados com
base em suas conhecidas ou suspeitas carcinogenicidade,
Poluentes prioritários
mutagenicidade, teratogenicidade ou elevada toxicidade aguda.
Muitos desses compostos são encontrados nos esgotos.
Esses orgânicos tendem a resistir aos métodos convencionais
Orgânicos refratários de tratamento de esgotos. Exemplos típicos incluem
surfactantes, fenóis e pesticidas utilizados na agricultura.
Metais pesados são, usualmente, adicionados ao esgoto
Metais pesados por atividades comerciais e industriais e poderá haver a
necessidade de removê-los se o esgoto for reutilizado.

Constituintes inorgânicos, como cálcio, sódio e sulfato são


Orgânicos dissolvidos adicionados à água distribuída por sistemas de abastecimento
público e deverão ser removidos se o esgoto for reutilizado.

Fonte: Metcalf (2016).

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 11


2.1 Amostragem

Os parâmetros medidos nos efluentes, que posteriormente são utilizados como

projeto aos sistemas de tratamento, são obtidos através de amostragem. Ou seja, são

coletadas amostras dos efluentes em determinados pontos, de modo que essas amostras

representem o máximo possível os efluentes como um todo. Para uma boa amostragem,

um plano deve ser elaborado, evitando equívocos e conclusões errôneas.

Os planos de amostragem são realizados para fins diversos, como apresentado

na Tabela 2. Porém, é importante compreender que os planos têm como objetivo amostras

representativas, mas que não existem técnicas universais e dependem, muitas vezes, das

características do processo em questão. Cabe à gestão avaliar e identificar esses pontos.

TABELA 2 – TIPOS DE DADOS E SUAS CARACTERÍSTICAS

Tipos de dados Características


Os dados devem representar o efluente ou o ambiente que
Representativos
está sendo monitorado.
Os dados obtidos devem ser reproduzíveis por terceiros que
Reproduzíveis
seguem os mesmos protocolos analíticos e de amostragem.
A documentação deve estar disponível para validar os procedi-
Defensáveis mentos de amostragem. Os dados devem ter níveis conhecidos
de acurácia e de precisão.
Os dados podem ser utilizados para atender os objetivos do
Úteis
plano de monitoramento dos efluentes.

Fonte: Metcalf (2016).

Para que o plano de amostragem aconteça de forma eficaz, deve-se elaborar um

protocolo detalhado para que os resultados sejam condizentes com o esperado. Isso envol-

ve desde o local exato da amostragem, procedimentos e testes analíticos.

● Plano de amostragem: número de pontos de amostragem, tipo de amostras,

intervalos de tempo;

● Tipos e tamanhos de amostras: amostras simples, amostras compostas ou

integradas, amostras separadas para análises diferentes. Tamanho da amostra

requerido;

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 12


● Etiquetagem e cadeia de responsabilidade: etiquetas, selagem das amostras,
livro de notas de campo, anotação da cadeia de responsabilidade, folhas de
requisição de análise de amostras, entrega de amostras no laboratório, recibo e
anotação da amostra e indicação da amostra para análise;
● Métodos de amostragem: técnicas específicas e equipamentos que serão utilizados;
● Armazenamento e preservação de amostras: Tipo de frascos, métodos de
preservação, tempos permitidos entre a coleta e a análise;
● Constituintes da amostra: Lista dos parâmetros a serem medidos;
● Métodos analíticos: Lista de testes e procedimentos de campo e de laboratório
a serem utilizados e os limites de detecção para cada um dos métodos.

A gestão do processo de amostragem permite que, de fato, o efluente seja classificado como ele é na re-
alidade. Isso implica em dizer que uma falha no plano de amostragem pode criar falsas características e,
consequentemente, projetos repletos de erros e que na prática não funcionarão como previsto.

Link de acesso: https://www.vetorial.net/~regissp/amostra.pdf

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 13


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................
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3
TÓPICO
CONDIÇÕES DE
LANÇAMENTOS
DE EFLUENTES
E LEGISLAÇÃO
.
.....
.....
.....

Os efluentes, como previamente descritos, são líquidos oriundos de processos

produtivos e acabam por possuírem as características desses processos. O destino desses

efluentes podem ser os corpos hídricos, desde que não sejam classificados como poluen-

tes. Por essa razão esses efluentes devem ser tratados, de modo a obter parâmetros que

os classifiquem como não poluentes.

O lançamento em corpos hídricos receptores é previsto no Artigo 17, do Decreto nº

8.468/76, prevendo que:


Toda e qualquer forma de matéria ou energia lançada ou liberada nas águas,
no ar ou no solo, com intensidade, em quantidade e concentração em de-
sacordo com os padrões de emissão estabelecidos neste Regulamento ou
norma dele recorrentes”. Isso demonstra como são determinados padrões
específicos para o lançamento em corpos hídricos (BITTENCOURT e PAU-
LA, 2014, p. 81).

A Resolução nº 357/05, CONAMA, Capítulo IV descreve os padrões de qualidade

para o lançamento de efluentes, em seus artigos 24 a 37. A seguir temos a atualização

pela Resolução nº 430/11, que pode ser observada nas Tabelas 3, 4 e 5 (BITTENCOURT

e PAULA, 2014).

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 14


TABELA 3 – CONDIÇÕES DE LANÇAMENTO DE EFLUENTES – PARÂMETROS GERAIS

Parâmetro Resolução nº 430/11 Resolução nº 357/05


pH 5a9 5a9
<40 ºC, variação não poderá <40 ºC, variação não poderá
Temperatura
exceder 3 ºC exceder 3 ºC
Materiais sedimentáveis 1 ml em 1 hora 1 ml em 1 hora
1,5 a vazão média do período de 1,5 a vazão média do período
Vazão máxima
atividade diária de atividade diária
Minerais até 20 mg/L
Minerais até 20 mg/L
Óleos e Graxas Vegetais e gorduras até 50
Vegetais e gorduras até 50 mg/L
mg/L
Materiais flutuantes Ausência Ausência
DBO (5 dias à 20º C) Remoção mínima 60% -

Fonte: Bittencourt e Paula (2014).

TABELA 4 – CONDIÇÕES DE LANÇAMENTO DE EFLUENTES – PARÂMETROS INORGÂNICOS

Parâmetro Resolução nº 430/11 Resolução nº 357/05


Arsênio total 0,5 mg/L As 0,5 mg/L As
Bário total 5,0 mg/L Ba 5,0 mg/L Ba
Boro total (não se aplica
5,0 mg/L B 5,0 mg/L B
a águas salinas)
Cádmio total 0,2 mg/L Cd 0,2 mg/L Cd
Chumbo total 0,5 mg/L Pb 0,5 mg/L Pb
Cianeto total 1,0 mg/L Cn 0,2 mg/L Cn
Cianeto (destilável por
0,2 mg/L Cn -
ácidos fracos)
Cobre dissolvido 1,0 mg/L Cu 1,0 mg/L Cu
Cromo hexavalente 0,1 mg/L Cr+6 -
Cromo trivalente 1,0 mg/L Cr+3 -
Cromo total - 0,5 mg/L
Estanho 4,0 mg/L Sn 4,0 mg/L Sn
Ferro dissolvido 15,0 mg/L Fe 15,0 mg/L Fe
Fluoreto total 10,0 mg/L F 10,0 mg/L F
Manganês dissolvido 1,0 mg/L Mn 1,0 mg/L Mn
Mercúrio total 0,01 mg/L Hg 0,01 mg/L Hg
Níquel total 2,0 mg/L Ni 2,0 mg/L Ni
Nitrogênio amoniacal
20,0 mg/L Ni 20,0 mg/L Ni
total
Prata total 0,1 mg/L Ag 0,1 mg/L Ag
Selênio total 0,30 mg/L Se 0,30 mg/L Se
Sulfeto 1,0 mg/L S 1,0 mg/L S
Zinco total 5,0 mg/L Zn 5,0 mg/L Zn

Fonte: Bittencourt e Paula (2014).

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 15


TABELA 5 – CONDIÇÕES DE LANÇAMENTO DE EFLUENTES – PARÂMETROS ORGÂNICOS

Parâmetro Resolução nº 430/11 Resolução nº 357/05


Benzeno 1,2 mg/L -
Clorofórmio 1,0 mg/L 1,0 mg/L
Dicloroeteno (somatório de
1,0 mg/L 1,0 mg/L
1,1+1,2 cis +1,2 trans)
Estireno 0,07 mg/L -
Etilbenzeno 0,84 mg/L -
Fenóis totais (substâncias
que reagem com 4 aminoan- 0,5 mg/L 0,5 mg/L
tipirina)
Tetracloreto de carbono 1,0 mg/L 1,0 mg/L
Tricloroeteno 1,0 mg/L 1,0 mg/L
Tolueno 1,2 mg/L -
Xileno 1,6 mg/L -

Fonte: Bittencourt e Paula (2014).

3.1 Comparativo entre as Resoluções


A resolução nº 430/11 descreve os principais parâmetros e condições para a gestão
do lançamento de efluentes em corpos hídricos receptores. As alterações em relação à
Resolução nº 357/05, são sobre o avanço no cuidado dos cursos hídricos, do seguinte
modo (BITTENCOURT e PAULA, 2014):

• Melhoria gradativa do sistema público de esgoto;


• Tratamento de efluentes oriundos dos sistema de saúde;
• Lançamento de efluentes por emissários submarinos, sob condições específicas;
• Inserção da qualidade laboratorial em relação aos monitoramentos e laudos
produzidos;
• Busca de práticas racionais do uso de águas, qualidade de efluentes gerados e
o seu reúso.

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 16


Assim como vimos anteriormente, alguns padrões de lançamento estão atrelados à qualidade dos corpos hídricos
receptores. Para conhecermos esses padrões, precisamos compreender a classificação dos corpos hídricos.

Saiba mais em: https://tratamentodeagua.com.br/classificacao-corpos-agua/#:~:text=Os%20corpos%20


h%C3%ADdricos%20nacionais%20s%C3%A3o,alta%20quantidade%20de%20sais%20minerais).

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 17


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Olá aluno (a)!

Chegamos ao fim da nossa primeira Unidade do nosso material de Tratamento de


Efluentes. É com grande satisfação que podemos dizer, que nesse momento já temos fres-
co em nossas cabeças o que são os efluentes que tanto veremos nesse material. Além de
fundamental para o conhecimento das legislações vigentes, é com base nesses conceitos
que seguiremos aprendendo como é realizado o tratamento dos efluentes.
Vimos nessa Unidade como os efluentes são classificados, com base nos procedi-
mentos de amostragem. A amostragem é de grande importância nesse processo, pois ela
é quem determina as características dos efluentes gerados. Verificamos também que nada
disso seria possível sem um plano de amostragem robusto e bem estruturado.
Uma vez com os principais parâmetros dos efluentes classificados, precisamos co-
nhecer o que as legislações vigentes dizem a respeito dessas características. Meu efluente
atende a quais parâmetros? Quais não são atendidos e necessitam de tratamento? Perce-
bemos também que esses parâmetros muitas vezes são dependentes das características
dos corpos receptores, ou seja, dos corpos hídricos que receberão os efluentes tratados.
Com todo esse trabalho, tenho certeza que estamos preparados para projetar
unidades de tratamento de efluentes e atender tanto aos requisitos legais quanto às neces-
sidades dos empreendimentos, em termos de custo e operacionalidade. Com maior foco na
indústria sucroalcooleira, iremos verificar agora quais são os principais tipos de tratamento
de efluentes e todos os aspectos e parâmetros necessários a esse dimensionamento.

Vamos em frente!

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 18


LEITURA COMPLEMENTAR
Poluentes e Efluentes: você sabe o que é Poluição Ambiental?
https://www.aguasustentavel.org.br/conteudo/blog/66-poluentes-e-efluentes-voce-
-sabe-o-que-e-poluicao-ambiental

O que é Estudo de Autodepuração do Corpo Receptor?


https://www.planetasaneamento.com.br/estudo-autodepuracao-corpo-receptor

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 19


Impacto do Lançamento de Efluentes nos Corpos Receptores
https://ctec.ufal.br/professor/elca/Impacto%20do%20Lan%C3%A7amento%20
de%20Efluentes%20nos%20Corpos%20Receptores.pdf

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 20


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Bacias Hidrográficas e Recursos Hídricos
Autor: Cristiano Poleto.
Editora: Interciência.
Sinopse: Mundialmente, busca-se uma nova leitura sobre a im-
portância da água, seja em situações de escassez e conflitos de
uso, ou para abastecimento humano e dessedentação animal.
De uma forma geral, as leis preveem a gestão dos usos da água
por bacias hidrográficas e que a geração de recursos financeiros
devam ser empregados, prioritariamente, na própria bacia, por
meio da cobrança pelo uso da água. Porém, ainda há muito a se
fazer com relação ao entendimento e disseminação do conhe-
cimento quanto às inúmeras variáveis envolvidas no processo
Bacias Hidrográficas x Recursos Hídricos. Assim, o presente livro
vem trazer um novo agrupamento de informações pertinentes
ao gerenciamento dos recursos hídricos e busca ampliar a visão
do leitor, quanto às possibilidades e aplicabilidades de diversos
conhecimentos e estudos em diferentes áreas da Ciência para
preservarmos um bem maior, a Água.

FILME / VÍDEO
Título: Documentário “O Lixo Nosso de Cada Dia”
Ano: 2020.
Sinopse: O documentário provoca reflexões sobre os caminhos
do lixo em Rio Preto e retrata a relação que a sociedade tem
com o lixo que produz. Projeto contemplado pelo Prêmio Nel-
son Seixas 2019, da Secretaria de Cultura de São José do Rio
Preto - SP.
Link do vídeo: https://youtu.be/KWIEnztOXJU

UNIDADE 1 CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES E LEGISLAÇÃO 21


DE EFLUENTES:

• Compreender os processos químicos de tratamento;


TRATAMENTO

• Verificar as principais bases para os tratamentos


PROCESSO DE

• Conceituar os processos físicos de tratamento;


Professor Me. Maycon Vinícius de Senna Ribeiro

• Introdução aos Tratamentos Biológicos.

Objetivos da Aprendizagem
• Processos Químicos de Tratamento;
• Processos Físicos de Tratamento;
PARTE I

Plano de Estudos

biológicos.
UNIDADE

2
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...................... ...................... ................
...................... ...................... ................
...................... ...................... ................
......................
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...................... ...................... ................
...................... ...................... ................
INTRODUÇÃO
Olá aluno (a)!

Seja muito bem-vindo (a) a mais uma Unidade do nosso material. A partir da primei-
ra Unidade nós verificamos o que são tratamentos de efluentes, sua importância e quais
são os principais parâmetros que precisamos estar atentos para que o tratamento seja
eficiente. A partir de agora, aprofundaremos nossos conceitos especificamente em tipos de
tratamento de efluentes, separados e classificados pela forma que são desempenhados.
Nessa Unidade abordaremos os processos físicos de tratamento, ou seja, aqueles
que envolvem a remoção física de contaminantes ou que são realizados a partir de um mé-
todo físico, como sistemas físicos de mistura, de decantação ou de filtração, que possam
auxiliar na redução inicial das cargas de contaminantes.
Após esse processo, veremos como os métodos químicos podem ser empregados
para auxiliar nas etapas de decantação mas também reduzir a carga contaminante de
compostos específicos, como por exemplo os metais pesados. Os processos químicos são
diversos e muito empregados na remoção de contaminantes mais difíceis, como fármacos.
A seguir conheceremos os processos biológicos de tratamento de efluentes, que
utilizam de microrganismos para a redução da carga orgânica desses efluentes. Esse é um
dos métodos mais empregados em todo o mundo no tratamento de efluentes, sendo divididos
em etapas aeróbias e anaeróbias, a depender da carga orgânica envolvida. Nesse processo
são gerados lodos que posteriormente são tratados, reutilizados e sendo destinados a outros
fins, como fertilizante de lavouras.
Nesse grande contexto de informações, peço a você aluno (a) verifique com muita
atenção as especificidades dos tratamentos para que com os diagnósticos corretos dos
efluentes, a escolha do tratamento seja eficaz.

Vamos em frente!

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 23


................
...............
................
................

1
TÓPICO
PROCESSOS
FÍSICOS
DE TRATAMENTO
.
.....
.....
.....

Os processos físicos de tratamento englobam uma grande quantidade de proces-


sos, que incluem desde grades simples para remoção de grandes partículas, até mesmo
processos de filtração com areia e aeração de processos biológicos. Todos os processos
que envolvem forças físicas e conceitos físicos de remoção de contaminantes são consi-
derados processos físicos. O mais simples deles, mas imensamente importante para que a
sequência de tratamento seja eficaz, é o gradeamento que veremos a seguir.

1.1 Gradeamento
As grades são equipamentos telados, com aberturas de tamanhos específicos, com
o objetivo de reter objetos e particulados que sejam maiores do que essas aberturas. São
empregados em coletores de efluentes (principalmente esgotos) e podem ser utilizados nos
locais de despejo das águas tratadas nos corpos hídricos.

Os principais objetivos do gradeamento estão listados abaixo:

● Evitar que os equipamentos subsequentes do tratamento de efluentes como


bombas, filtros, peneiras e bicos dispersores sejam danificados pela entrada de
materiais grosseiros;
● Aumentar a eficiência dos processos subsequentes, uma vez que a energia
envolvida na remoção dos contaminantes pode ser utilizada em sua maioria em
grandes partículas;
● Evitar arrastes e aglomerações que podem vir a se tornar entupimentos e até
rompimentos.

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 24


Além de grades únicas, podemos observar sequência de grades com diferentes
aberturas, com o objetivo de reduzir esses contaminantes ainda mais, principalmente na
entrada de equipamentos ainda mais sensíveis (EDDY, 2016).

1.1.1 Disposição do Material Gradeado


O material retido nas grades deve ser continuamente limpo, seja por métodos auto-
máticos ou manuais. Conforme o processo se dá, o material retido começa a diminuir a área
de retenção e prejudicar as vazões do sistema. Dessa forma, remover o material gradeado
é fundamental.
Os métodos mais comuns envolvem a remoção, compactação (retirada de água e
diminuição do volume) e trituração do material retido. A disposição desse material triturado
depende de dois fatores: tamanho da instalação de tratamento e característica do material. As
disposições podem ir desde o envio à aterros, como incineração e até retorno para o efluente,
em que poderá ser tratado por estar em um menor tamanho de partícula (EDDY, 2016).

1.2 Processos de Mistura


A mistura é um processo importante no tratamento de efluentes, pois ela garante
homogeneidade (o máximo possível) dos volumes de efluente que circulam pelo tratamen-
to. Dessa forma, pontos de maior concentração e de menor concentração são evitados,
garantindo tratamento eficiente e coleta de amostras representativas. Além disso, após
processos químicos muitas partículas são aglomeradas, de modo que os misturadores
proporcionam a decantação. Veremos a seguir os principais tipos de misturas utilizadas.

1.2.1 Mistura contínua


O processo de mistura contínua ocorre principalmente para auxiliar o contato de
substâncias floculantes (aglomerantes) com os particulados do efluente criando grandes
aglomerados pesados, que serão sedimentados sequencialmente. Os principais exempla-
res desses sistemas são os misturadores estáticos. Eles são caracterizados por sistemas
físicos que geram turbulências ao escoamento, auxiliando a mistura dos produtos químicos
com as vazões de efluentes.

1.2.2 Misturadores de turbinas e hélices


São principalmente utilizados em sistemas de tratamento de efluentes que envolvam
tanques, como leitos biológicos. Esses sistemas garantem que o material esteja sempre em
suspensão, aumentando a superfícies de contato (EDDY, 2016).

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 25


FIGURA 1 – MISTURADORES DE HÉLICE

1.3 Processos de Sedimentação


O efluente muitas vezes possui uma grande carga de material particulado peque-
no, não totalmente dissolvido que deve ser removido. Processos químicos aceleram a
aglomeração desses particulados, mas ainda precisam ser removidos. No processo de
sedimentação, partículas são removidas pela força gravitacional, que devido a sistemas
físicos, atinge o fundo do sistema mais rapidamente.

1.3.1 Sedimentação em placas e tubos inclinados


Sedimentadores em placas e tubos inclinados são dispositivos contendo grupos de
bandejas de tubos que envolvem diversas geometrias, com o objetivo de reter partículas
durante o escoamento por eles. Apesar de serem mais empregados no tratamento de água,
esses dispositivos também são utilizados no tratamento de efluentes, retendo partículas
pelo aumento da área de contato.
Geralmente são utilizados ângulos de 45 a 60º, pois é a faixa que evita a diminuição da
eficiência e acúmulo de partículas nas placas. A vazão também deve ser controlada de acordo
com o projeto. O efluente clarificado é coletado no topo, através de canaletas horizontais.

FIGURA 2 – SISTEMA DE SEDIMENTAÇÃO POR PLACAS INCLINADAS

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 26


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................

2
TÓPICO
PROCESSOS
QUÍMICOS DE
TRATAMENTO
.
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.....
.....

Como verificamos no tópico anterior, os processos de sedimentação e remoção


de partículas, muitas das vezes envolvem aglomerações. As aglomerações químicas são
resultado de agentes químicos que unem as partículas em partículas maiores. Além disso,
outros processos químicos são empregados com o objetivo de remover metais pesados e
outras substâncias.

2.1 Coagulação Química


A coagulação química envolve a atração de pequenas partículas, transformando-se
num aglomerado maior e mais pesado de partículas. Esse processo depende das cargas
individuais dos particulados, que em sua maioria são negativas. Agentes químicos coagu-
lantes são empregados para desestabilizar essas partículas, formando o que chamamos de
flocos, que serão decantados nos sistemas que já mencionamos no tópico anterior.
Os principais coagulantes são sais metálicos, pois possuem maiores interações
elétricas com os compostos do efluente. É importante que a mistura seja rápida (está aqui
a importância dos misturadores rápidos) para que a hidrólise dos compostos aconteça.
Os principais sais empregados são sais de alumínio (na forma de sulfato de alumínio ou
policloreto de alumínio) e ferro (cloreto ou sulfato férrico).

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 27


TABELA 1 – PRINCIPAIS AGENTES QUÍMICOS COAGULANTES E SUAS CARACTERÍSTICAS

Composto Químico Fórmula Peso Molecular Forma disponível


Alúmen Al2(SO4)3.αH2O 590-660 Líquido ou Massa
Cloreto de Alumínio AlCl3 133,3 Líquido
Cloreto Férrico FeCl3 162,2 Líquido ou Massa
Sulfato férrico Fe2(SO4)3 400 Granular

α: a quantidade de água ligada pode variar, tipicamente entre 14 e 18.

Fonte: Adaptado de: Eddy (2016).

2.2 Remoção de Metais Pesados


Metais pesados são compostos responsáveis pela contaminação de águas e
efluentes, que podem causar danos aos seres vivos. Em humanos, eles não causam sin-
tomas logo no primeiro momento de exposição, mas vão se acumulando no corpo humano
e sendo relacionados a lesões renais, cerebrais e diretamente ligado a câncer (NAKANO e
AVILA-CAMPOS, s/d).
Com o objetivo de remover os metais pesados de águas e efluentes, são em-
pregadas cal clorada ou cáustica em um pH de solubilidade mínima, precipitando esses
compostos na forma de hidróxidos metálicos. Também podem ser precipitados na forma de
sulfetos, porém também em pH de solubilidade mínima.

TABELA 2 – PRINCIPAIS MÉTODOS DE REMOÇÃO DE METAIS PESADOS EM EFLUENTES

Concentração
Metal no efluente Tecnologia de remoção
(mg/L)
0,05 Precipitação de sulfeto com filtração
Arsênico
0,005 Co-precipitação com hidróxido férrico
0,05 Precipitação com hidróxido a pH 10-11
Cádmio
0,008 Precipitação com sulfeto
0,01-0,02 Precipitação com sulfeto
Mercúrio
0,0005-0,005 Co-precipitação com hidróxido férrico

Fonte: Adaptado de: Eddy (2016).

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 28


Os principais causadores de contaminação de seres vivos por metais pesados é o descarte de resíduos
industriais e da mineração, sem tratamento, em corpos hídricos. Devido a processos de bioacumulação,
essas substâncias são transmitidas através da cadeia alimentar.

Saiba mais em: https://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/contaminacao-da-agua-conse-


quencias-dos-metais-pesados-na-agua/

2.3 Processos de Oxidação Avançada


Os processos de oxidação avançada (POAs) envolvem a utilização de substâncias
para produzir radicais hidroxilas livres (OH-) em fase aquosa, causando quebra de diversos
compostos. Esses radicais podem ser produzidos através de substâncias assistidas à radia-
ção UV, num processo chamado de fotólise. Os principais POAs serão descritos a seguir.

2.3.1 Ozônio/UV
A luz ultravioleta em presença de ozônio na água, produz oxigênio gasoso e ra-
dicais livres hidroxilas, capazes de oxidar diversos compostos orgânicos. O intermediário
produzido é o peróxido de hidrogênio, que é degradado em oxigênio e hidroxilas.
Em todos os processos que envolvem UV, os custos de lâmpadas e/ou precisam da
exposição à luz solar têm custos consideráveis (EDDY, 2016).

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 29


2.3.2 Ozônio/Peróxido de hidrogênio
Em efluentes com dificuldades de absorção do UV ou quando a transmitância do
efluente inibe o UV, sistemas consistentes de ozônio/peróxido de hidrogênio são consi-
derados mais efetivos. Estudos devem ser realizados para a correta dosagem de ambos
os compostos.

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 30


................
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................
................

3
TÓPICO
INTRODUÇÃO AOS
TRATAMENTOS
BIOLÓGICOS
.
.....
.....
.....

Os tratamentos biológicos são aqueles que envolvem a degradação de compostos


presentes no efluente pela ação de microrganismos. Principalmente os esgotos, podem
ser puramente tratados através dos processos biológicos, inclusive pelos próprios micror-
ganismos nele presentes. Outros tipos de efluentes, por sua vez, precisam ser avaliados e
verificar quais são as melhores maneiras de se empregar os tratamentos biológicos.
O emprego dos tratamentos biológicos estão relacionados principalmente a:

● Transformação de constituintes biodegradáveis dissolvidos e particulados em


compostos aceitáveis;
● Captura de sólidos suspensos em biofilmes e em material biológico;
● Conversão de compostos como fósforo e nitrogênio pela ação microbiológica.
Ainda assim, esses microrganismos após cumprirem seu papel, podem ser trans-
formados em fertilizantes e auxiliar no desenvolvimento de cultivares.

3.1 Microrganismos no tratamento biológico


Os microrganismos envolvidos nos processos de tratamento biológico são comuni-
dades que envolvem uma enorme diversidade, que podem ser bactérias, fungos, arquéias e
até mesmo algas. A ação de degradação dos efluentes muitas vezes está atrelada especifica-
mente a determinado grupo de microrganismos, ainda que essas comunidades sejam mistas.
Os principais microrganismos no tratamento biológico são as bactérias e arqueias,
e a elas que daremos maior foco neste momento.

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 31


3.1.1 Fatores ambientais de influência
A temperatura e o pH são os principais fatores de influência na seleção e crescimento
dos microrganismos. Nesse sentido seu crescimento se restringe a faixas estreitas de tempera-
tura e pH, mesmo que alguns microrganismos possam viver em limites mais amplos.
A temperatura exerce enorme influência sobre o crescimento microbiano, principal-
mente quando está dentro da faixa ótima. Nesse momento, a cada 10 ºC a taxa de cresci-
mento celular dobra. De acordo com cada faixa ótima de temperatura, os microrganismos
são classificados em psicrófilos, mesófilos e termófilos.
O pH, assim como a temperatura, também exerce influência no crescimento micro-
biano. A maioria das bactérias vive entre 4,0 e 9,5, porém sua faixa ótima está entre 6,5 e
7,5. Como exceção, algumas arquéias sobrevivem em condições extremas, como pH muito
baixos, temperatura acima de 70 ºC e ambientes com alta salinidade (EDDY, 2016).

TABELA 3 – CLASSIFICAÇÃO DE TEMPERATURA PARA MICRORGANISMOS

Classificação Faixa de temperatura (ºC) Faixa ótima (ºC)

Psicrófilos 10-30 12-18

Mesófilos 20-50 25-40

Termófilos 35-75 55-65

Fonte: Adaptado de: Eddy (2016).

3.1.2 Composição das células


A fim de garantir que o crescimento microbiano ocorra nos tratamentos biológicos,
deve haver disponibilidade de nutrientes para isso. Compreendo quais são os nutrientes que
compõem as células, é mais facilmente compreensível quais elementos são necessários às
células. As bactérias, por exemplo, são compostas de 80% de água, 20% de material seco,
do qual 90% é orgânico e 10% é inorgânico.
Os microrganismos são, em sua maioria, aproximadamente 50% em carbono em
base seca e macronutrientes como o nitrogênio e o fósforo são mais necessários que os
demais. Outros micronutrientes como íons metálicos são também essenciais, como zinco
e manganês.

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 32


TABELA 4 – CLASSIFICAÇÃO DE TEMPERATURA PARA MICRORGANISMOS

Porcentagem em
Elementos
massa seca (%)
Carbono 50,0
Oxigênio 22,0
Nitrogênio 12,0
Hidrogênio 9,0
Fósforo 2,0
Enxofre 1,0
Potássio 1,0
Sódio 1,0
Cálcio 0,5
Magnésio 0,5
Cloro 0,5
Ferro 0,2
Elementos em traço <0,3

Fonte: Adaptado de: Eddy (2016).

3.1.3 Metabolismo microbiano


Para o adequado projeto dos sistemas de tratamento biológico, é necessário com-
preender como é o metabolismo microbiano, com ênfase nas bactérias e arquéias que
estão envolvidas nesses sistemas. O principal cerne do metabolismo são as fontes de
energia e como elas estão disponíveis a esses microrganismos.

3.1.3.1 Fontes de carbono


Os microrganismos precisam de carbono para a síntese celular, ou seja, o cresci-
mento microbiano. A fonte pode ser tanto matéria orgânica (heterotróficos) ou através do
dióxido de carbono (autotróficos).

3.1.3.2 Fontes de energia


A energia para os seres vivos vem de uma oxidação química ou de uma fonte lu-
minosa. Os microrganismos que utilizam a energia luminosa são chamados de fotótrofos,
enquanto os microrganismos que utilizam a energia de reações de oxidação química são
chamados de quimiotróficos.

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 33


3.1.3.3 Utilização do oxigênio
Os microrganismos ainda podem utilizar ou não o oxigênio como receptor final de
elétrons, dividindo os mesmos em aeróbios (utilizam o oxigênio) e anaeróbios (não utilizam
o oxigênio). Essa classificação é importante para distinguir os sistemas de tratamento bio-
lógico que necessitam ou não do oxigênio como fator indispensável para a degradação da
matéria orgânica.

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 34


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro (a) aluno (a)!

Chegamos ao fim de uma unidade muito importante do nosso material. Nesta Unidade
conhecemos as principais classificações de tratamentos de efluentes e suas principais carac-
terísticas. Vimos que todos esses tratamentos estão presentes em sistemas de tratamento de
água e efluentes, principalmente os tratamentos de esgotos das principais cidades.
Conhecemos os tratamentos físicos, com ênfase nas separações de sólidos por
gradeamento que evitam danos às tubulações e equipamentos, e qual a disposição desses
materiais após a limpeza desses dispositivos. Vimos também como esses sistemas estão
localizados principalmente no início dos sistemas de tratamento. Os processos de mistura,
fundamentais para a homogeneidade do tratamento, também foram vistos e sua importân-
cia compreendida.
A seguir conhecemos um pouco mais a respeito dos tratamentos químicos e como
ocorre a adição de agentes coagulantes nos processos de tratamento, auxiliando os efluen-
tes a tornarem-se mais límpidos e a retirarmos os coágulos formados e decantados no
fundo. Vimos como as cargas elétricas dos principais coagulantes devem ser consideradas
e como sais metálicos são amplamente empregados com essa finalidade.
Por fim, verificamos os principais pilares do tratamento biológico, conhecendo
um pouco mais a respeito de microrganismos, suas características e como os fatores
ambientais de temperatura e pH influenciam o seu crescimento. Também compreende-
mos o metabolismo microbiano, como ele é classificado em termos de fonte energética e
utilização de oxigênio.
Agora temos as principais bases para seguir com maior especificidade a respeito dos
principais sistemas de tratamento de efluentes empregados principalmente nas indústrias.

Vamos em frente!

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 35


LEITURA COMPLEMENTAR
Tratamento biológico vs físico-químico:
https://www.teraambiental.com.br/blog-da-tera-ambiental/bid/339074/
a-diferenca-entre-o-tratamento-biologico-e-fisico-quimico.

Principais etapas no tratamento de efluentes:


https://info.opersan.com.br/etapas-tratamento-de-efluentes

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 36


Os microrganismos nas atividades de disposição de esgotos no solo: estudo de caso
https://www.scielo.br/j/esa/a/NTNjyXtHYtMZb8YPYpPWvgg/?lang=pt

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 37


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Princípios básicos do tratamento de esgotos
Autor: Marcos von Sperling.
Editora: UFMG.
Sinopse: O presente volume é o segundo da série intitulada
princípios do tratamento biológico de águas residuárias. Nele
são abordados conceitos e princípios básicos associados aos
diversos processos e sistemas de depuração de efluentes. A
compreensão destes conceitos é de grande importância para
uma visão integrada do tratamento de esgotos, tendo como
elemento de ligação os fundamentos dos principais processos e
operações unitárias componentes das estações de tratamento
biológico. Os tópicos enfocados neste segundo volume da série
são: (a) princípios da microbiologia do tratamento de esgotos;
(b) princípios da cinética de reações e da hidráulica de reatores;
(c) princípios da remoção da matérias orgânica; (d) princípios de
sedimentação; e (e) princípios de aeração.

FILME / VÍDEO
Título: Etapas do Tratamento de Efluentes
Ano: 2021.
Sinopse: Neste vídeo as principais etapas do tratamento de
efluentes são abordadas, como efluentes domésticos, proces-
so preliminar, processo primário, processo secundário, Lodos
ativados e desidratação do lodo, e processos terciários.
Link do vídeo: https://youtu.be/_PqMzjm9rEM

UNIDADE 2 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE I 38


• Compreender o conceito dos tratamentos anaeróbios;
DE EFLUENTES:

• Verificar o tratamento e disposição do lodo ativado.


TRATAMENTO
PROCESSO DE

Professor Me. Maycon Vinícius de Senna Ribeiro

• Processos de tratamento com lodo ativado;

• Processamento e tratamento de lodos.


• Processos de tratamento anaeróbios;

Objetivos da Aprendizagem

tratamentos com lodo ativado;


• Conceituar e contextualizar os
PARTE II

Plano de Estudos
UNIDADE

3
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...................... ...................... ................


...................... ...................... ................
...................... ...................... ................
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INTRODUÇÃO
Olá aluno (a)!

Seja bem-vindo (a) a mais uma Unidade do nosso material. Nas Unidades ante-
riores compreendemos de forma geral como são caracterizados os efluentes e quais os
principais tipos de tratamento de efluentes empregados, separados em físicos, químicos e
biológicos. Nesse contexto, existem muitas aplicações dos processos biológicos e por essa
razão dedicamos uma unidade inteira para especificarmos e compreendermos os principais
tipos de tratamentos biológicos.
Principalmente o esgoto, os efluentes com cargas orgânicas consideráveis podem
ser tratados integralmente por tratamentos biológicos. Alguns, talvez necessitem de outros
tratamentos secundários para remover compostos específicos não removidos pelo proces-
so biológico. Mas em sua maioria, a carga orgânica é reduzida e até mesmo zerada com o
emprego dos microrganismos.
Os processos biológicos são divididos de acordo com a utilização do oxigênio,
ou seja, são classificados em aeróbios e anaeróbios. Cada um tem a particularidade de
receber ou não o oxigênio necessário e são empregados de acordo com a carga orgânica
do efluente. Normalmente maiores cargas orgânicas necessitam de reatores anaeróbios
enquanto menores cargas necessitam de sistemas aeróbios. Mais uma razão para uma boa
caracterização do efluente utilizado.
Esse processo gera uma quantidade considerável de biomassa, ou seja, de massa
de microrganismos que utilizam do efluente como fonte de nutrientes para seu crescimento.
Esse “lodo” deve ser tratado e destinado, pois sem esse trabalho a biomassa cresceria
tanto que prejudicaria o sistema como um todo. Os lodos têm vários tratamentos possíveis
e são utilizados principalmente na agricultura.
Nesta Unidade veremos mais a fundo esses processos e entenderemos como eles
são fundamentais quando se fala em Tratamento de Efluentes.

Vamos lá!

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 40


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...............
................
................

1
TÓPICO
PROCESSOS DE
TRATAMENTO COM
LODO ATIVADO
.
.....
.....
.....

O lodo ativado, nada mais é do que uma cultura de microrganismos, intrínseca ou


não, que tem a capacidade de reduzir a carga poluente do efluente com a utilização do oxi-
gênio, ou seja, pela aeração do sistema. Esses sistemas, são constituídos principalmente
de reatores aerados, em que o efluente é tratado, seguido de um sistema de separação
sólido-líquido e posteriormente a recirculação do sólido de volta para o reator. O líquido
separado é então destinado a tratamentos posteriores de clarificação ou é destinado a
corpos receptores dependendo das condições do efluente tratado.
Normalmente os sistemas de lodo ativado já recebem os efluentes previamente
separados por tratamentos físicos, como vimos na Unidade II. Dessa maneira, o tratamento
biológico é focado em substâncias orgânicas dissolvidas e em compostos coloidais ou em
suspensão que não foram previamente decantados nas etapas primárias.

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 41


FIGURA 1 – SISTEMA DE TRATAMENTO POR LODO ATIVADO

Fonte: Nuvorali (2003).

Durante o tratamento do efluente é gerada biomassa relativa à concentração de


substâncias orgânicas consumidas pelo lodo, de modo que o excesso de lodo deve ser
retirado em sistemas contínuos. Os sistemas de lodos ativados ainda podem ser divididos
da seguinte maneira:
● Quanto a idade do lodo: lodos ativados convencionais e lodos ativados de
aeração prolongada;
● Quanto ao fluxo: fluxo contínuo ou fluxo intermitente.

1.1 Sistemas de lodos ativados convencional


A biomassa de microrganismos (lodo) permanece mais tempo no sistema do que o
líquido, garantindo uma elevada eficiência na remoção da matéria orgânica. O lodo gerado
em excesso deve ser removido na mesma taxa em que é formado, necessitando de esta-
bilização posterior. Além disso, esse sistema geralmente possui um decantador primário
prévio ao reator.

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 42


FIGURA 2 – SISTEMA DE TRATAMENTO COM LODO ATIVADO CONVENCIONAL

Fonte: Nuvorali (2003).

1.2 Sistema de lodos ativados com aeração prolongada


Sistemas muito similares aos convencionais, porém com algumas particularidades:
● Biomassa permanece mais tempo no sistema, de modo que há falta de matéria
orgânica para os microrganismos. Isso força-os a utilizarem a matéria orgânica
contida na biomassa;
● Não há decantadores primários, pois os sólidos ainda podem ser consumidos
no sistema;
● Não há necessidade de estabilização do lodo pois este já sai estável.

FIGURA 3 – SISTEMA DE TRATAMENTO COM LODO ATIVADO COM AERAÇÃO PROLONGADA

Fonte: Nuvorali (2003).

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 43


1.3 Sistemas de aeração
Os sistemas de lodo ativado necessitam da constante adição de oxigênio no siste-
ma, de modo que os microrganismos utilizam desse oxigênio para oxidar a matéria orgânica
do efluente. Dessa forma, são necessários altos suprimentos de oxigênio no sistema, lem-
brando que a ausência do mesmo leva os microrganismos a morte e, consequentemente, a
uma queda ou até interrupção da degradação e tratamentos dos efluentes.

1.3.1 Aeração por ar difuso


Esses sistemas são compostos principalmente por ar comprimido ou oxigênio puro
introduzido no sistema através de difusores no fundo dos reatores aeróbios. Esses difuso-
res garantem uma grande quantidade de bolhas de ar que percolam toda a coluna de água
do tanque, aumentando a superfície de contato e a oxigenação do sistema.

FIGURA 4 – AERAÇÃO POR AR DIFUSO

Fonte: Nuvolari (2003).

1.3.2 Aeração mecânica

São sistemas em que o ar é dissolvido no líquido através da geração de turbilhonamen-

to na superfície do tanque, pela ação mecânica de agitadores superficiais. Esses são métodos

de aeração menos eficientes, pois mantém apenas a superfície do líquido bem aerada.

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 44


FIGURA 5 – SISTEMAS DE AERAÇÃO MECÂNICA

Fonte: Nuvolari (2003).

1.4 Considerações de projeto


A escolha do tipo de tratamento por lodo ativado depende de vários fatores, mas
entre eles destacam-se os principais:

● Características químicas e bioquímicas do efluente;


● Tipo de processo de lodo ativado e configuração do reator;
● Relações cinéticas, ou seja, velocidades de conversão e consumo da matéria
orgânica;
● Tempo de retenção, ou seja, tempo em que as correntes permanecem no reator;
● Taxa de produção de biomassa (lodo);
● Demandas de nutrientes, caso o efluente a ser tratado não forneça tudo que é
necessário;
● Demandas de produtos químicos para viabilizar ou acelerar a remoção de
compostos específicos como nitrogênio e fósforo;
● Características da sedimentação do lodo, para o projeto dos sistemas de
recirculação e remoção do lodo em excesso.

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 45


................
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................
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2
TÓPICO
PROCESSOS DE
TRATAMENTO
ANAERÓBIOS
.
.....
.....
.....

Os processos de tratamento anaeróbios são similares aos processos com lodo

ativado, pois envolvem a degradação dos efluentes através da ação de microrganismos.

Porém, esses sistemas diferenciam-se que os microrganismos aqui presentes não utilizam

o oxigênio, utilizando outros compostos como aceptores finais de elétrons. As principais

aplicações dos sistemas anaeróbios envolvem:

● Processos para a redução de nitrito/nitrato em nitrogênio gasoso;

● Fermentação para a produção de ácidos orgânicos voláteis para uso na

remoção de fósforo;

● Processos anaeróbios para assimilação de acetato e propanoato na remoção

melhorada de fósforo;

● Oxidação anaeróbia de compostos orgânicos em efluentes residenciais e

industriais;

● Digestão anaeróbia de lodos e outros efluentes.

Os tratamentos anaeróbios são empregados desde as baixas até as altas cargas de

matéria orgânica, tendo como principais vantagens baixas produções de biomassa, menor

necessidade de nutrientes e altos volumes de tratamento empregados (METCALF, 2016).

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 46


2.1 Tratamento de Efluentes com Altas e Baixas Cargas Orgânicas
Geralmente os sistemas para tratamento anaeróbios são empregados em efluen-
tes industriais, normalmente seguidos de tratamentos aeróbios, como lodo ativado, visto
anteriormente. A carga orgânica é drasticamente reduzida, porém necessita de sistemas
complementares como o tratamento aeróbio.
Os principais ramos industriais que empregam esses sistemas, são:
● Processamento de açúcar e destilarias de álcool;
● Cervejarias e processamento de alimentos;
● Abatedouros e embalagem de carnes;
● Papel e celulose;
● Tratamentos industriais de efluentes domésticos.

Nesses ramos os principais tipos de processos anaeróbios empregados são os


reatores UASB, EGSB e as lagoas anaeróbias, que veremos em mais detalhes a seguir.

2.1.1 Reator Anaeróbio com Fluxo Ascendente (UASB)


São sistemas constituídos de um reator em que há fluxo ascendente a ser tratado e
geração de biomassa e gás, causando um adequado gradiente de mistura. Lodo anaeróbio
formado nas partes superiores do reator, decantam em direção aos gradientes de con-
centração de matéria orgânica. Um separador é geralmente colocado na parte superior
impedindo que o material sólido atinja a superfície, enquanto o efluente tratado é coletado
em canaletas na parte superior.

FIGURA 6 – TRATAMENTO ANAERÓBIO EM REATOR UASB

Fonte: Metcalf (2016).

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 47


2.1.2 Reator Anaeróbio com manto de Lodo Granular Expandido (EGSB)
O reator EGSB é uma variante do reator UASB, porém com menor relação entre
diâmetro e altura do reator e recirculação do efluente. Como principal vantagem, esse
sistema opera com velocidades ascendentes mais altas que diminuem o volume morto e
aumentam a capacidade de mistura do sistema.

FIGURA 7 – TRATAMENTO ANAERÓBIO EM REATOR EGSB

Fonte: Metcalf (2016).

2.1.3 Lagoas Anaeróbias


São sistemas estáticos principalmente empregados em baixas cargas orgânicas,
que podem tratar diversos tipos de dejetos. Ainda podem ser revestidos com membranas
que permitem a coleta do biogás produzido.

FIGURA 8 – TRATAMENTO ANAERÓBIO EM LAGOA

Fonte: Metcalf (2016).

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 48


As lagoas de estabilização são sistemas de tratamento biológico em que a estabilização da matéria orgâ-
nica é realizada pela oxidação bacteriológica (oxidação aeróbia ou fermentação anaeróbia) e/ou redução
fotossintética das algas.

Saiba mais em: https://tratamentodeagua.com.br/artigo/lagoas-estabilizacao/

2.2 Variáveis de Interesse no Tratamento Anaeróbio


Alguns fatores podem influenciar tanto no projeto quanto na operação dos sistemas
anaeróbios. Veremos em detalhes a seguir.

2.2.1 Variações em vazão de efluente e carga orgânica


Flutuações em vazão e carga orgânica no efluente a ser tratado podem desbalancear
o equilíbrio dos microrganismos, que trabalham na fermentação ácida e na metanogênese.
O aumento da acidez do meio provocado por rápidas reações da fermentação ácida, podem
tornar o pH impróprio e inibir a metanogênese. Nesse sentido é importante a existência de
tanques de equalização, que diminuem os impactos pontuais na vazão e carga orgânica.

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 49


2.2.2 Carga orgânica e Temperatura
Temperaturas entre 25 e 35 ºC são preferíveis, pois aceleram a degradação da
matéria orgânica, o que indica que menores temperaturas podem trazer impactos negativos
como a necessidade do aumento do tempo de residência para a degradação da mesma
carga orgânica.

2.2.3 Alcalinidade do efluente


As reações ocorridas nos reatores anaeróbios tendem a produzir ácidos orgânicos
e gás carbônico, que tendem a diminuir o pH. Caso a alcalinidade do efluente seja muito
pequena, as variações podem ser drásticas e impedir o tratamento eficiente do efluente.
Por essa razão, substâncias alcalinizantes podem se fazer necessárias para manter o pH
em torno de 7,0 (METCALF, 2016).

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 50


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3
TÓPICO
PROCESSAMENTO
E TRATAMENTO
DE LODOS
.
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.....

Os principais resíduos reduzidos ou removidos em estação de tratamento de efluen-


tes, dizem respeito a resíduos de peneiramento, detritos, escuma e biossólidos (lodo). O
lodo está geralmente na forma líquida ou de semi sólidos (entre 0,5 e 12% de sólidos), que
necessita ser estabilizado para atender a parâmetros de biossegurança e assim, ser em-
pregado em outros processos. Ainda que o lodo possa ser destinado corretamente, deve-se
conhecer as características do mesmo para realizar o processamento devido.

3.1 Caracterização do lodo


Os lodos são originados em diferentes tipos de processo, com matérias orgânicas
disponíveis totalmente diferentes. Se os processos são aeróbios ou anaeróbios, se houve
pré-tratamento ou não, e a forma de destino do lodo são as principais variáveis a serem
levadas em conta quando se projeta o processamento.
O lodo deve ser caracterizado em relação aos seus principais constituintes, que au-
xiliarão na forma de disposição final. A presença de metais pesados e agrotóxicos também
deve ser levado em conta. A faixa típica de constituintes do lodo ativado, de forma geral,
está apresentada na Tabela 1 (METCALF, 2016).

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 51


TABELA 1 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE LODOS ATIVADOS NÃO TRATADOS

Composição no lodo
Característica
ativado não tratado
Teor de sólidos secos (%) 0,4-1,2
Sólidos voláteis (%) 60-85
Graxas e gorduras (%) 5-12
Proteínas (%) 32-41
Nitrogênio (%) 2,4-5
Fósforo (%) 2,8-11
Potássio (%) 0,5-0,7
pH 6,5-8
Alcalinidade (mg/L) 580-1100
Ácidos orgânicos (mg/L) 1100-1700

Fonte: Adaptado de: Metcalf (2016).

Principalmente quando o destino final dos lodos tratados é o uso como fertilizantes
na agricultura, esses valores típicos são necessários para compreender os nutrientes que
estão sendo destinados às plantas.

3.2 Processamento de Lodos


O tratamento dos lodos geralmente é precedido por sistemas muito similares
ao tratamento de efluentes, seguindo um fluxo de peneiramento, mistura e retirada de
água excessiva (adensamento). Após esse processo o lodo deve ser estabilizado, pelas
seguintes razões:

● Reduzir a concentração de microrganismos patógenos;


● Eliminar maus odores;
● Inibir, reduzir ou eliminar o processo de putrefação.

Os processos de estabilização mais comuns serão vistos a seguir.

3.2.1 Estabilização Alcalina


Consiste na adição de material alcalino (cal) para tornar o pH do lodo alto e impedir
a sobrevivência de microrganismos. O pH em torno de 12, impede que os processos de
putrefação ocorram, porém também é observada a geração de amônia no processo.

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 52


3.2.2 Digestão anaeróbia
O processo de digestão anaeróbia é basicamente o que ocorre em reatores anaeró-
bios, porém, o lodo é degradado e o gás gerado no processo é coletado e até mesmo em-
pregado como fonte de energia nos próprios motores do sistema. As variáveis de processo
para reatores anaeróbios também se aplicam aqui.

3.2.3 Compostagem
O processo de compostagem caracteriza-se pela estabilização do lodo pela ação de
microrganismos que convertem e estabilizam a matéria orgânica, produzindo um material
similar ao húmus. Essa decomposição pode atingir altas temperaturas causando a morte
de microrganismos patogênicos.

O processo de compostagem pode ser empregado com resíduos alimentícios residenciais, de modo a pro-
duzir material fertilizante e auxiliar na redução de lixo. Produzir a própria compostagem é fácil e barata.

Acesse o material para uma leitura mais aprofundada sobre este assunto: https://portais.univasf.edu.
br/sustentabilidade/noticias-sustentaveis/o-que-e-compostagem-e-como-faze-la-em-casa#:~:text=A%20
compostagem%2C%20conhecida%20como%20o,a%20redu%C3%A7%C3%A3o%20do%20aquecimen-
to%20global.

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 53


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Olá aluno (a)!

Chegamos ao fim de mais uma unidade do nosso material com foco principal nos
sistemas de tratamento de efluentes que utilizam de meios biológicos. Não é à toa que
tenhamos uma Unidade inteiramente dedicada a esse tema, pois além de serem processos
amplamente empregados no mundo todo, há um foco principal no tratamento de efluentes
de diversos ramos da indústria, com altas cargas orgânicas geradas.
Vimos que os processos são classificados de acordo com a utilização do oxigênio
pelos microrganismos, dividindo os processos em aeróbios e anaeróbios. No primeiro, o
processo tem como objetivo reduzir médias a baixas cargas orgânicas pela injeção do
oxigênio, de modo que os microrganismos consumam e reduzam o material orgânico
disponível. Vimos também as particularidades do processo, como métodos de aeração e
também a respeito da recirculação e retirada do que chamamos de lodo ativado.
Os processos anaeróbios, por sua vez, são mais aplicados em altas cargas orgânicas
disponíveis nos efluentes e podem inclusive serem empregados nos processos de tratamento
de esgotos. Os grandes reatores anaeróbios e as lagoas, são grandes redutores de matéria
orgânica e geram quantidades significativas de lodos. Muitos desses processos ainda neces-
sitam de uma etapa aeróbia posterior para completa retirada de material orgânico.
Por fim, os lodos gerados tanto nos processos aeróbios quanto anaeróbios mere-
cem atenção e destino correto. A caracterização do lodo é fundamental para que saibamos
qual o melhor método e a disposição correta do lodo.

Vamos em frente !

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 54


LEITURA COMPLEMENTAR
Caracterização da microfauna em estação de tratamento de esgotos do tipo
lodos ativados: um instrumento de avaliação e controle do processo.
Link de acesso:
https://www.scielo.br/j/esa/a/bhhRxMDqTHjt65sjccH4HRn/abstract/?lang=pt

Montagem, partida e operação de um sistema de lodos ativados para o


tratamento de efluentes: parâmetros físico-químicos e biológicos.
Link de acesso:
https://www.researchgate.net/profile/Livia-Cordi-2/publication/228963520_Monta-
gem_partida_e_operacao_de_um_sistema_de_lodos_ativados_para_o_tratamento_de_
efluentes_parametros_fisico-quimicos_e_biologicos/links/00b4953ab1765a8614000000/
Montagem-partida-e-operacao-de-um-sistema-de-lodos-ativados-para-o-tratamento-de-e-
fluentes-parametros-fisico-quimicos-e-biologicos.pdf

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 55


Coagulação/precipitação de efluentes de reator anaeróbio de leito expandido
e de sistema de lodo ativado precedido de reator UASB, com remoção de
partículas por sedimentação ou flotação.
Link de acesso:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18138/tde-05082006-203331/pt-br.php

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 56


LEITURA COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Princípios Básicos do Tratamento de Esgotos
Autor: Marcos Von Sperling.
Editora: UFMG.
Sinopse: O presente volume é o segundo da série intitulada
princípios do tratamento biológico de águas residuárias. Nele
são abordados conceitos e princípios básicos associados aos
diversos processos e sistemas de depuração de afluentes. A
compreensão destes conceitos é de grande importância para
uma visão integrada do tratamento de esgotos, tendo como
elemento de ligação os fundamentos dos principais processos e
operações unitárias componentes das estações de tratamento
biológico. Os tópicos enfocados neste segundo volume da série
são: (a) princípios da microbiologia do tratamento de esgotos;
(b) princípios da cinética de reações e da hidráulica de reatores;
(c) princípios da remoção da matérias orgânica; (d) princípios de
sedimentação; e (e) princípios de aeração.

FILME / VÍDEO
Título: TRATAMENTO POR LODOS ATIVADOS
Ano: 2021.
Sinopse: Neste conteúdo nós vamos entender como funciona
o tratamento de efluentes por lodo ativado, vantagens, des-
vantagens, crescimento microbiano e parâmetros operacionais
importantes como taxa de reatores, idade, lodo e índice volu-
métrico de lodo (IVL).
Link do vídeo: https://youtu.be/CG7b-b0Dl5w

UNIDADE 3 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES: PARTE II 57


• Verificar outras tecnologias de tratamento na indústria.
SUCROALCOOLEIRA

• Efluentes e Resíduos na Indústria Sucroalcooleira;


Professor Me. Maycon Vinícius de Senna Ribeiro
NA INDÚSTRIA

• Conhecer as especificidades dos efluentes;


DE EFLUENTES
TRATAMENTO

• Compreender os efluentes e resíduos


Objetivos da Aprendizagem
• Outras Tecnologias e Resíduos.
• Águas de lavagem e Bagaço;

na Indústria Sucroalcooleira;
Plano de Estudos
UNIDADE

• Vinhaça;
4
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INTRODUÇÃO
Olá aluno (a)!

Seja bem-vindo (a) a mais uma Unidade do nosso material. Apesar dessa ser nossa
última Unidade, ela é de longe a mais importante, pois agora é hora de reunirmos todos os
conhecimentos das Unidades anteriores e focarmos neste momento.
Na Unidade IV nós veremos mais especificamente os efluentes gerados na indústria
sucroalcooleira, ou seja, a indústria do processamento da cana-de-açúcar, que gera diver-
sos tipos de produtos como o açúcar e o álcool. Assim como vimos anteriormente, diversos
efluentes industriais são tratados através de sistemas físicos, químicos e biológicos. Nesse
ramo não é diferente, e o que vimos nas outras Unidades será a base para essa Unidade.
Teremos o principal foco nas tecnologias empregadas na maioria das indústrias do
ramo, bem como uma descrição genérica do processo produtivo e como o efluente é gerado
naquele momento. O efluente e sua caracterização, faixas típicas a depender do processo
e os volumes médios gerados nesse processo.
Por fim, teremos uma breve explanação de tecnologias mais recentes e ainda
pouco difundidas no ramo. Compreenderemos também como determinadas particulari-
dades de indústrias e suas localização geográfica, necessitam de tecnologias diferentes
para o seu tratamento.
Tenho certeza que ao final desse material você estará não só apto a compreender
os tratamentos de efluentes como um todo, mas com enfoque na indústria do processamen-
to da cana e em seus efluentes. Vamos lá!

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 59


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1
TÓPICO
ELEMENTOS E
RESÍDUOS NA INDÚSTRIA
SUCROALCOOLEIRA
.
.....
.....
.....

Não podemos de nenhuma maneira, desvincular a geração de efluentes do processo


produtivo, principalmente quando uma determinada quantidade de água é empregada no
processo. A indústria sucroalcooleira é uma delas, em que a água é utilizada em diversas
etapas do processo produtivo, como a lavagem da cana, diluição de caldos, processos de
evaporação e uso em caldeiras. Estima-se um consumo de água entre 2 a 20 m³ por tonelada
de cana-de-açúcar esmagada no processo, enquanto 125 toneladas de água são emprega-
das para a produção de uma tonelada de etanol hidratado produzido (ALMEIDA, 2009).
Cada etapa do processo produtivo pode produzir um efluente diferente, este que
deve ser devidamente caracterizado para o destino correto ao sistema de tratamento.
Como exemplo, águas geradas em processos de evaporação têm cargas orgânicas muito
menores comparadas à vinhaça, por exemplo. Por essa razão é importante explicar de
forma genérica (pois não é foco desse material), o processo produtivo em questão.

1.1 Processo Produtivo


O processo produtivo inicial é o mesmo, ou seja, com a chegada da cana-de-açúcar
na usina a mesma é picotada e seu caldo extraído. Porém, o processo se diferencia na
produção de açúcar e na produção de etanol, como veremos a seguir.

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 60


1.2 Produção de Açúcar
A cana-de-açúcar geralmente é plantada nas proximidades das usinas, em ciclos de
12 ou 18 meses. A colheita, em grande parte, ainda é manual e transportada por caminhões
até a usina.

1.2.1 Pesagem, estocagem e lavagem da cana-de-açúcar


A cana-de-açúcar que chega na usina é analisada, pesada e estocada provisoria-
mente para ser esmagada em um tempo curto, que não prejudique sua qualidade. A seguir
ela é lavada para a retirada de resíduos vegetais como terra, pedras e insetos. Essa etapa
gera o efluente da água de lavagem.

1.2.2 Picagem, desfibramento e moagem


A cana devidamente lavada é destinada aos picadores, que trituram a cana para
o processo de moagem. Dessa forma, a cana desfibrada vai à moenda onde é moída
em rolos com altíssima pressão (em torno de 250 kg/cm²). Nesse processo é adicionado
água para aumentar o rendimento da extração do caldo, que forma o caldo extraído e o
bagaço de cana.

1.2.3 Peneiramento, aquecimento e cozimento


O caldo oriundo das moendas é peneirado para retirada de materiais sólidos, recebe
sulfitos e cal, com o objetivo de facilitar a floculação da sacarose. O caldo é então aquecido
(107 ºC) e enviado à clarificadores, formando duas frações: caldo clarificado e lodo.
O lodo é então filtrado em filtros rotativos à vácuo, formando torta de filtro. O
caldo é então retornado ao processo anterior e cozido para que ocorra a formação dos
cristais de açúcar, através de um processo de nucleação. A massa é então centrifugada
e destinada à secagem.

1.2.4 Secagem e ensacamento


O açúcar é então seco em secadores e destinado para o ensacamento, onde é
então destinado ao comércio.

1.3 Produção de álcool


Para a produção do etanol, uma parte do caldo é desviado, sem a adição dos
sulfitos e cal. Dessa forma, o caldo é destinado para a fermentação.

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 61


1.3.1 Tratamento do caldo e preparo do mosto
O caldo desviado do processo de produção de açúcar é aquecido, de modo a ser con-
centrado. Esse processo esteriliza o caldo, auxiliando no processo posterior de fermentação.
Uma mistura chamada de mosto é preparada, com a adição de água, caldo con-
centrado e melaço. O mosto é fermentado de acordo com as variáveis determinadas de
temperatura, concentração de açúcar e vazão.

1.3.2 Fermentação e centrifugação


A fermentação é um processo contínuo de produção de etanol através de uma
levedura Saccharomyces, utilizada para converter os açúcares do mosto em etanol e gás
carbônico. É produzido então, um caldo em torno de 9,5% de álcool e células de fermento
em suspensão.
Após o processo de fermentação, o que chamamos de vinho, que é o caldo fer-
mentado, é centrifugado para a separação do fermento. O fermento pode ser reutilizado
enquanto o vinho é destilado para a concentração do álcool.

1.3.3 Destilação
A destilação promove a concentração do etanol (que atinge em torno de 60%) e
gera o efluente conhecido como vinhaça.

1.3.4 Resíduos e Efluentes


Os principais resíduos e efluentes gerados no processo produtivo da cana-de-açúcar são:
● Água de Lavagem;
● Bagaço;
● Vinhaça;
● Águas de evaporação/concentração.

Veremos mais profundamente cada um desses resíduos e sua forma de tratamento


mais empregada.

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 62


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2
TÓPICO

ÁGUAS DE LAVAGEM
E BAGAÇO
.
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.....
.....

Logo nas primeiras etapas do processo produtivo da cana-de-açúcar, são gerados


os resíduos de bagaço e o efluente oriundo da lavagem da cana. Cada um deles é apro-
veitado de uma maneira, de modo que o bagaço é um resíduo sólido enquanto a água um
efluente líquido. Veremos mais profundamente esses resíduos e efluentes.

2.1 Águas de lavagem


A lavagem da cana tem como objetivo a retirada de materiais estranhos como terra,
pedras e insetos. Isso aumenta a qualidade do caldo gerado e diminui o desgaste dos equi-
pamentos pela retirada dessas sujidades, sendo sempre realizada na cana previamente a
trituração, a fim de evitar perdas de sacarose na água. Esse consumo representa quase
que 25% de toda a água utilizada no processo (ALMEIDA, 2009).
Ainda que o processo seja conduzido dessa maneira, há uma parte de sacarose
perdida na água de lavagem pelo contato com as pontas, assim como material orgânico que
chega até a usina com a cana. Por essa razão é considerado um efluente de médio potencial
poluidor, atingindo valores entre 180 a 500 mg/L de DBO e alta concentração de sólidos.

2.1.1 Caracterização da água de lavagem


Assim como qualquer efluente, a caracterização é necessária para compreender
o potencial poluidor e o tratamento adequado. Na Tabela 1 estão apresentados os valores
típicos para a água de lavagem da indústria sucroalcooleira.

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 63


TABELA 1 – VALORES TÍPICOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA DE LAVAGEM

Característica Valor típico


Temperatura (ºC) 39,5
pH 6,0
Turbidez (NTU) 185
Oxigênio dissolvido (mg/L) 2,5
DBO (mg/L) 388
Potássio (mg/L) 11
Fósforo (mg/L) 2,2

Fonte: Almeida (2009).

2.1.2 Tratamento da Água de Lavagem


A água de lavagem é tratada em sistemas de decantação (devido a alta quantidade
de sólidos) e a seguir passa por lagoas de estabilização, para o destino em corpos hídricos.
A água também pode ser reutilizada após o processo de decantação com a correção do pH
para entre 9 e 10.

2.1.2.1 Decantação
O efluente é destinado a sistemas de decantação, em que os materiais pesados
são sedimentados ao fundo, consequentemente diminuindo a sua DBO. O material sedi-
mentado é destinado em caminhões enquanto que o material líquido é destinado para as
lagoas de estabilização, ou dependendo das características do sobrenadante, o mesmo
pode ser diretamente destinado a fertirrigação da lavoura (ALMEIDA, 2009).

2.1.2.2 Lagoas de Estabilização


Os sistemas de lagoas, assim como visto em Unidades anteriores, são tanques es-
cavados com o objetivo de reduzir a carga orgânica do efluente (representado pela DBO),
através da ação de microrganismos (bactérias, algas, etc.). Quando o processo é anaeróbio
não há adição de oxigênio, são lagoas mais profundas e com ação mais lenta, porém atuam
com altas cargas orgânicas. Os sistemas aeróbios necessitam de aeração constante e
geralmente são empregados como lagoas secundárias.
De tempos em tempos o lodo deve ser removido das lagoas, para aumento da
eficiência que se perde.

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 64


2.2 Bagaço
O bagaço da cana-de-açúcar é o principal resíduo gerado na atividade, pois repre-
senta 280 kg de bagaço para cada tonelada de cana-de-açúcar processada (CARVALHO-
-GONÇALVES, 2021). O bagaço representa um material sólido, rico em fibras constituído
principalmente por celulose, sendo quase que 95% de sua massa utilizada na queima em
processos de geração de energia.

2.2.1 Biomassa do bagaço como combustível


O bagaço é principalmente empregado como fonte de energia térmica, mecânica e
elétrica na usina, reduzindo custos energéticos e impactos ambientais. Os sistemas de co-
geração empregados, utilizam o vapor como força motriz para turbinas produzindo energia
elétrica. O percentual necessário para suprir toda a demanda energética da usina represen-
ta apenas 37,5% de todo o bagaço gerado no processo (CARVALHO-GONÇALVES, 2021).
Isso representa um excedente interessante que a usina pode vender ou utilizar em outros
processos como a geração de energia e venda para concessionárias.

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 65


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3
TÓPICO

VINHAÇA
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.....

A vinhaça é o efluente gerado a partir do processo de destilação do álcool, oriundo


do processo de fermentação. Possui alto impacto devido às suas características como alto
teor de matéria orgânica, acidez e mau cheiro. Além disso, possui um elevado volume
produzido, que representa quase 15 litros de vinhaça para cada litro de álcool (CARVALHO-
-GONÇALVES, 2021).

3.1 Caracterização da vinhaça


As características típicas da vinhaça estão apresentadas na Tabela 2.

TABELA 2 – CARACTERÍSTICAS E VALORES TÍPICOS PARA A VINHAÇA

Característica Valor típico


pH 3,7-4,6
Temperatura (ºC) 80-100
DBO (mg/L) 6000-16500
Sólidos totais (mg/L) 23700
Potássio (mg/L) 1200-2100
Nitrogênio (mg/L) 150-700
Sulfato (mg/L) 600-760

Fonte: Carvalho-Gonçalves (2009).

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 66


As características da vinhaça implicam em tratamentos custosos e difíceis, que du-
rante certo tempo foi descartada diretamente em corpos hídricos. Com o tempo, a solução
mais viável encontrada foi utilizá-la na fertirrigação da cana-de-açúcar.

3.2 Fertirrigação da Vinhaça


A vinhaça é destinada às lavouras de diversas formas, como caminhões tanque
e processos de aspersão com canhões hidráulicos. A vinhaça deve ser destinada com
cautela, pois em excesso, pode acarretar em aumento da salinidade do solo e também
aumento do pH do mesmo pela degradação da vinhaça por parte dos microrganismos
(CARVALHO-GONÇALVES, 2021).

FIGURA 1 – FERTIRRIGAÇÃO DA VINHAÇA NA LAVOURA DE CANA-DE-AÇÚCAR

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 67


A fertirrigação das lavouras com a vinhaça auxilia o solo a recuperar os nutrientes, diminuindo custos
com fertilizantes. A construção de canais pode levar a vinhaça para diversas regiões canavieiras no
entorno da usina.

Saiba mais em:


http://www.canaonline.com.br/conteudo/fertirrigacao-com-vinhaca-nutre-canaviais-salva-socarias-da-
-seca-e-reduz-custo-com-adubo-inflado-pelo-dolar-alto.html

3.3 Biogás a partir da Vinhaça


Outra forma de utilização da vinhaça é a realização do seu tratamento, a fim de
produzir biogás e biofertilizantes com reduzida carga orgânica. Estima-se que a cada 1 m³
de vinhaça seja possível produzir de 7 a 15 Nm³ de biogás, que pode gerar até 78kW de
energia elétrica (CARVALHO-GONÇALVES, 2009).
O biogás é produzido por processos anaeróbios similares aos vistos na Unidade
anterior, em que microrganismos convertem a matéria orgânica em gases e biomassa na
ausência de oxigênio.

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 68


................
...............
................
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4
TÓPICO

OUTRAS TECNOLOGIAS
E RESÍDUOS
.
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.....
.....

Ainda que muitos processos já estejam totalmente estabelecidos, é perfeitamente


possível o tratamento dos efluentes da indústria sucroalcooleira de outras maneiras. O ba-
gaço, por exemplo, quando produzido em excesso pode ser utilizado para os mais diversos
fins que incluem a produção de bioplásticos, carvão ativado e etanol de segunda geração.
A água de lavagem e a vinhaça podem ser tratados em reatores anaeróbios e produzir
biogás, além do emprego de tecnologias mais sofisticadas nesse sentido.
Além do mais, o reuso e a diminuição do consumo são as alternativas mais susten-
táveis quando o assunto é tratamento de efluentes.

4.1 Alternativas ao Bagaço


O bagaço da cana-de-açúcar, que é produzido em excesso ao que é consumido,
pode ser empregado em outros setores, como por exemplo:

● Obtenção de bio-óleo
A produção de bio-óleos envolve o processo de pirólise rápida (entre 450 e 650 ºC
em um curto período de tempo), que converte a biomassa em óleos, podendo ser catali-
sada. Esse processo tem como vantagem a concentração de um combustível, diminuindo
seu volume e facilitando o transporte, além de ser viável industrialmente e com baixo custo.

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 69


● Obtenção de carvão ativado
Também é possível obter carvão ativado a partir do bagaço da cana-de-açúcar,
este é um material extremamente poroso que permite a adsorção de moléculas, sendo
aplicado em diversos processos de remoção de contaminantes.

● Nutrição animal
O bagaço ainda pode ser utilizado na nutrição animal, principalmente em regiões
de escassez de alimentos para ruminantes. Ainda pode ser hidrolisado, para aumentar e
melhorar a biodisponibilidade de nutrientes.

● Bioplásticos
Materiais lignocelulósicos são alternativas importantes na produção de plásticos
biodegradáveis como os bioplásticos. Os bioplásticos podem ser empregados em diversos
ramos da indústria como biocompósitos, modificadores reológicos e aditivos alimentares
(CARVALHO-GONÇALVES, 2009).

Bioprodutos a partir de resíduos celulósicos, como o etanol de segunda geração são uma opção rentável
para o correto destino de resíduos da indústria. Por essa razão, o estudo de tecnologias deve ser constante,
a fim de encontrar alternativas viáveis ao processo.

Leia mais em: https://propeq.com/etanol-de-segunda-geracao/

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 70


4.2 Aproveitamento das Leveduras
As leveduras são retiradas do processo de centrifugação do vinho em determinados
momentos, a fim de evitar problemas relacionados à eficiência pelo reaproveitamento contínuo
do fermento. Devido ao alto potencial nutricional da levedura, ela pode ser destinada para:

● Alimentação Animal
Devido ao alto custo proteico na alimentação de animais, fungos e bactérias podem
ser empregados como suplemento nutricional adicional. Este é utilizado na forma de extrato
seco, inativo, principalmente em frangos de corte e bovinos.

● Alimentação Humana
As leveduras são empregadas principalmente na produção de enzimas, suplemen-
tos vitamínicos humanos e na produção de aditivos alimentares. Também é empregada no
processamento cárneo e na produção de salames, reduzindo o teor de sódio (CARVALHO-
-GONÇALVES, 2021).

4.3 Aproveitamento de cinzas


Como mencionado anteriormente, o bagaço é queimado nas caldeiras da indústria,
gerando energia térmica e elétrica. Com o passar do tempo, junta-se uma quantidade de
cinzas que deve ser retirada periodicamente para evitar perdas de rendimento no processo.
O principal meio de aproveitamento das cinzas é a sua substituição parcial ou su-
plementação no cimento, evitando a extração do calcário da natureza (CARVALHO-GON-
ÇALVES, 2021).

4.4 Aproveitamento da Torta de Filtro


Como também mencionado anteriormente, durante o processo de filtração é gerado
a torta de filtro, que devido a sua grande quantidade de fósforo, pode ser utilizada como
adubo. Ele é majoritariamente composto de bagaço moído e lodo de decantação, contendo
em torno de 75% de umidade e altos teores de nitrogênio, cálcio e micronutrientes.
Dentre as vantagens do uso da torta no processo de adubação, estão:
● Auxiliar na retenção de água no solo;
● Diminuição da perda de nutrientes por lixiviação;
● O uso logo após a retirada da torta auxilia o brotamento das fases iniciais da cana-
de-açúcar.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Olá aluno (a)!

Chegamos ao fim da nossa última Unidade e também do nosso material sobre


Tratamento de Efluentes. Muitos conteúdos foram abordados, mas especialmente nessa
Unidade, entramos a fundo nos principais tipos de resíduos e efluentes da indústria sucroal-
cooleira. Vimos especificamente como cada resíduo é formado no processo e quais são as
alternativas mais viáveis para o seu tratamento.
Os principais resíduos e efluentes da indústria sucroalcooleira como o bagaço da
cana-de-açúcar, águas de lavagem e a vinhaça representam enormes desafios para a in-
dústria. O bagaço é praticamente utilizado inteiramente no processo de geração de energia
térmica, mas pode também ser empregado na produção de bioplásticos, carvão ativado e
até o etanol de segunda geração.
As águas de lavagem são utilizadas na fertirrigação após o processo de decantação
de sólidos, juntamente com a vinhaça oriunda dos processos de destilação. Esses efluen-
tes possuem grande quantidade de nutrientes que serão aproveitados pela lavoura. Porém,
devem ser utilizados com cautela, devido aos altos níveis de carga orgânica, quando estes
não forem estabilizados em lagoas.
Por fim, vimos outros resíduos do processo sucroalcooleiro como as leveduras,
outras alternativas ao bagaço e o aproveitamento das cinzas e do resíduo da torta de
filtro. Muitos outros processos podem ser empregados, aumentando a disponibilidade de
nutrientes para o plantio e diminuindo o potencial poluidor dessas águas.
Sem dúvida alguma, você aluno (a) está totalmente apto a atuar diretamente na
geração e tratamento de efluentes em diversos ramos. Mas lembre-se, o melhor tratamento
é sempre a redução da geração do efluente.

Sucesso !

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 72


LEITURA COMPLEMENTAR
Etanol de segunda geração: o combustível do futuro?
Link de acesso: https://propeq.com/etanol-de-segunda-geracao/

Produtividade e qualidade da cana-de-açúcar irrigada com efluente


de estação de tratamento de esgoto
Link de acesso:https://www.scielo.br/j/pab/a/yNkLqxPTj48mWSsgsrfGkfC/?lang=pt

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 73


Uso de microalgas no tratamento de efluentes da indústria sucroalcooleira
Link de acesso:https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/31408

Estudo do tratamento de efluente de indústria sucroalcooleira empregando


reator anaeróbio de leito fixo em escala piloto
Link de acesso:http://bdtd.unifal-mg.edu.br:8080/handle/tede/1258

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 74


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Elementos de Tecnologia e Engenharia da Produção do
Açúcar, Etanol e Energia
Autor: Afrânio Antônio Delgado, Marco Antônio Azeredo Cesar,
Fábio Cesar da Silva e Luis Guilherme de Abreu e Lima Antoneli.
Editora: Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz.
Sinopse: No presente livro, os autores fazem referências às
operações agrícolas e industriais da fabricação do açúcar e
também do etanol a partir da cana, assim como do etanol a
partir das matérias-primas amiláceas e celulósicas, envolvendo
o uso do milho e do bagaço da citada gramínea e suas folhas
(palhada remanescente).
Nos primeiros capítulos foram abordados os aspectos gerais
das indústrias do álcool, das suas operações, assim como
suas produções agrícolas. As iniciais da fabricação do açúcar,
envolvendo a matéria-prima, colheita, transporte, pesagem,
recepção e seu preparo para extração, tratamento do caldo,
abrangendo a remoção das impurezas, sulfitação, caleagem,
aquecimento, decantação e filtração do lodo. A produção do
xarope e a cristalização da sacarose a partir do caldo clarificado.
As operações finais, envolvendo produção de vácuo, cristaliza-
ção complementar, centrifugação das massas cozidas, secagem
e estocagem do açúcar estão descritas. A produção do etanol
etílico industrial e doméstico, assim como o preparo do levedo
alcoólico, salas e dornas, às operações de fermentação, des-
tilação do vinho e a retificação do álcool e sua desidratação.
Assim como, um capítulo foi especialmente dedicado à geração
de vapor, de energia, água e efluentes e um descritivo sobre
balanço de massas e de águas.

FILME / VÍDEO
Título: Como funciona a usina de cana-de-açúcar
Ano: 2022.
Sinopse: O presente vídeo tem como objetivo explicar resumi-
damente como funciona o processamento da cana-de-açúcar.
Link do vídeo: https://youtu.be/AyBpuRd2J0k

UNIDADE 4 TRATAMENTO DE EFLUENTES NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA 75


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J. C. A Indústria Sucroalcooleira-energética e os Recursos Hídricos: Rio
Santo Antônio Grande, Alagoas. Dissertação (Mestrado em Recursos Hídricos e Sanea-
mento) – Universidade Federal de Alagoas. Maceió, 2009.

BITTENCOURT, Cláudia; PAULA, Maria Aparecida Silva D. Tratamento de Água e Efluen-


tes - Fundamentos de Saneamento Ambiental e Gestão de Recursos Hídricos. Editora
Saraiva, 2014. E-book. 9788536521770. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9788536521770/. Acesso em: 27 ago. 2022.

CARVALHO-GONÇALVES, L. C. T. Introdução à Tecnologia Sucroalcooleira. Editora


UFPB: João Pessoa, 2021.

EDDY, Metcalf. Tratamento de Efluentes e Recuperação de Recursos. Porto Alegre:


AMGH, 2016. E-book. 9788580555240. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9788580555240/. Acesso em: 27 ago. 2022.

METCALF, E. Tratamento de Efluentes e Recuperação de Recursos. Porto Alegre:


AMGH, 2016. E-book. 9788580555240. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9788580555240/. Acesso em: 27 ago. 2022.

NAKANO, V.; AVILA-CAMPOS, M. J. Metais Pesados: um perigo Eminente. Departamento


de Microbiologia, Universidade de São Paulo, s/d. Disponível em: http://www.icb.usp.br/
bmm/mariojac/index.php?option=com_content&view=article&id=33&Itemid=56&lang=br.
Acesso em: 18 set. 2022.

NUVOLARI, A. Esgoto Sanitário: Coleta, Transporte, Tratamento e Reúso Agrícola. Blu-


cher: São Paulo, 2003.

76
CONCLUSÃO GERAL
Chegamos ao fim do nosso material sobre Tratamento de Efluentes. Quanta coisa
vimos nesse período, caro (a) aluno (a)?
Iniciamos nossa caminhada descrevendo o que são efluentes, como são gerados
e quais são suas características em termos de potencial poluidor. Verificamos a existência
de legislações, continuamente atualizadas, trazendo termos e parâmetros de lançamento
de efluentes. Porém, vimos também que precisamos de uma caracterização eficaz dos
efluentes, através de planos de amostragem para adequados projetos de tratamento.
Na segunda Unidade iniciamos nossa caminhada nos processos de tratamento,
classificando-os em relação a forma de tratamento (físico, químico e biológico). Vimos que
muitas vezes os tratamentos reais de efluentes compreendem as três classes de tratamen-
tos, sendo o biológico o mais importante em termos de redução da carga orgânica, principal
responsável pelo potencial poluidor.
Ainda em termos de tratamentos biológicos, conhecemos a fundo os sistemas
aeróbios de lodos ativados, os sistemas anaeróbios e verificamos o potencial das comuni-
dades de microrganismos em consumir a matéria orgânica. Entretanto, os microrganismos
precisam ser retirados desses sistemas com determinada frequência, necessitando de
tratamento também, assim como qualquer outro resíduo.
Por fim, mergulhamos a fundo na produção de açúcar e etanol na indústria do
processamento da cana-de-açúcar, conhecendo o processo produtivo de forma genérica
e sinalizando os principais resíduos e efluentes gerados. Vimos o potencial de utilização
do bagaço e como a vinhaça é o efluente com maior carga orgânica da indústria, sendo
utilizado em fertirrigação e podendo se transformar em biogás. Ao final desse momento,
vimos outros resíduos da indústria e outras formas de tratamento.
Dessa forma, tenho certeza de que com essa apostila, você caro (a) aluno (a),
ampliou seus horizontes e pode agora ser protagonista na caracterização e projeto de
sistemas de tratamento de efluentes.

Sucesso !

77
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