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Curso de Química Ambiental

CURSO DE QUÍMICA AMBIENTAL

Noções de Toxicologia

Profa. Márcia Valle Real

Profa. Márcia Real 1


Curso de Química Ambiental

Objetivo

Apresentar noções de toxicologia, seus principais


conceitos, caracterizar o processo de riscos e de
gerenciamento, categorizar os tipos de efeitos
tóxicos e os produtos tóxicos mais significativos e
os seus processos de disseminação no meio
ambiente.

Profa. Márcia Real 2


Curso de Química Ambiental

Tópicos
-Definição de toxicologia e ramos de estudo;
- Riscos químicos e riscos ambientais;
- Caracterização do processo de geração de riscos;
- Formas de exposição: ingestão, dérmica, inalação;
-Classificação dos efeitos: imediatos, retardados, reversibilidade;
- Caracterização de Toxidade;
-A Função Dose-Resposta;
-Alguns produtos tóxicos significativos:
Orgânicos: POPs
 Metais Pesados Profa. Márcia Real 3
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Toxicologia
- Toxidade é a capacidade relativa de uma substância provocar um dano a
um sistema biológico. Já a toxicologia é o estudo dos efeitos nocivos de
substâncias estranhas sobre os seres vivos.

- A toxidade de uma substância é determinada por meio de exaustivos


estudos envolvendo organismos biológicos e não pode ser determinada
diretamente utilizando-se os recursos típicos de laboratórios químicos.

Em geral, os efeitos toxicológicos são estudados mediante a


administração oral ou injeção das substâncias em animais, observando-se
como a saúde deles é afetada.

Estudos epidemiológicos são diferentes. Eles derivam de pesquisas


realizadas com grupos de indivíduos específicos expostos a determinados
poluentes, em função de seu local de moradia ou seus hábitos de
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consumo.
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Áreas da
Toxicologia

Toxicologia Toxicologia Toxicologia Toxicologia Toxicologia


de alimentos ambiental de medicamentos ocupacional social

Aspectos
Aspectos

Ilustração: Carlos Rodriguez


Clínico Analítico Legislação Pesquisa

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Conceitos Básicos
• Xenobiótico
Substância estranha, capaz de induzir efeitos deletérios sobre os
organismos.
• Tóxico
Xenobiótico causador de efeitos deletérios.
• Veneno
Tóxico causador de graves efeitos, por vezes mortais.
• Toxina
Substância natural (biotoxina) que provoca efeitos tóxicos.
Periculosidade
É um fator intrínseco ao xenobiótico que mede a sua capacidade
de induzir efeitos adversosProfa.
nos Márcia
sistemas
Real biológicos. 6
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Conceitos Básicos

O toxicologia ambiental estuda os danos provocados aos


organismos pela exposição a xenobióticos presentes no meio
ambiente.

O objetivo principal da toxicologia ambiental é avaliar os impactos


na saúde pública decorrentes da exposição de uma população a um
local contaminado.

É conveniente enfatizar que os efeitos são estudados sobre os seres


humanos, embora eles possam ser provocados também aos
microorganismos, plantas, animais, etc.

Um xenobiótico é qualquer substância que não foi produzida pelo


biota, tal como os produtos industriais, drogas terapêuticas,
conservantes alimentícios, produtos inorgânicos,
Profa. Márcia Real etc. 7
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O que são riscos?
O que são riscos químicos ambientais?
A palavra risco deriva do italiano antigo risicare, que por sua vez
origina-se do baixo-latim risicu, riscu, a qual significa "ousar"
(BERNSTEIN,1997). Seu significado gera controvérsias, pois é
muito comum a utilização dos vocábulos risco e perigo como
sinônimos.
Risco Real - é o estatisticamente medido e calculado, caso se
disponha de todos os dados que conduzem a ocorrência de
determinado evento indesejado. Também é denominado risco
objetivo.
Algumas pessoas apresentam maiores riscos de desenvolver
doenças respiratórias do que outras. O tráfego urbano (fonte de
perigo) representa uma ameaça a elas, pois quando expostas
continuamente a poluição intensa (perigo), podem apresentar asma
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ou bronquite.
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Risco Percebido - é o percebido pelo indivíduo, independente ou não


dos valores encontrados pela análise científica.

Perigo - Conforme GRATT (1987), expressa uma exposição relativa a


uma fonte de perigo.

Fonte de Perigo - Partindo da definição estabelecida no OXFORD


(1995), “é algo que pode ser perigoso ou provocar danos, ou o que
pode expor alguém ao perigo”, ou ainda, segundo REJDA (1995),
uma condição que gera ou aumenta a possibilidade de riscos.

Fonte de Perigo  Riscos

RISCO Probabilidade x Conseqüência


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As fontes de perigo, em função do processo de exposição, têm


potencial para provocar conseqüências danosas sobre aqueles que
a elas se expõem.
A magnitude (extensão) e a severidade (gravidade) dos danos
provocados dependerão das condições da exposição, da
resistência física e da sensibilidade do ente exposto à fonte de
perigo.
Riscos químicos ambientais são os derivados da dispersão de
poluentes no meio ambiente, os quais podem promover efeitos
deletérios sobre os seres vivos.

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Gerenciamento de Riscos

Atividade
Atividade
Poluidora
Poluidora Identificação Fontes de Perigo,
Monitoração; Riscos (probabilidades, conseqüências);
Avaliação de Análise dos Riscos (fatores que
Desempenho contribuem para a ocorrência de eventos
indesejados).

AVALIAÇÃO
AVALIAÇÃO
DE IDENTIFICAÇÃO
IDENTIFICAÇÃO
DE
DESEMPENHO EEANÁLISE
ANÁLISE
DESEMPENHO
DOS
DOSRISCOS
RISCOS

CONTROLEDE
CONTROLE DE Medidas de Prevenção;
RISCOS
RISCOS Medidas de Mitigação;
Fonte: a partir do RSPA (1998)
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CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GERAÇÃO DE RISCOS


Através dos componentes essenciais do risco, é possível consolidar
melhor estes conceitos, pois o processo de estabelecimento de um
risco envolve a conjugação de três condições básicas, a saber:
A  -   Fonte de Perigo;
B  -   Processo de Exposição;
C   -   Efeitos Adversos.
A - Fonte de Perigo
Uma fonte de perigo é uma condição que cria ou aumenta um
risco, ou seja, sem ela não há riscos. Utilizando as classificações de
MERKHOFFER (1987) e REJDA (1995), podem-se distinguir dois tipos
básicos de fontes de perigo:
A1 - Material: Espécie química ou microbiológica
A2 - Moral: Desvios Profa.
de conduta, imprudência ou negligência.
Márcia Real 12
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B - Processo de Exposição

A simples existência de uma fonte de perigo também não se constitui,


obrigatoriamente, em um risco. É necessário que haja um processo de exposição,
voluntário ou não, à fonte de perigo. No que tange aos produtos químicos, são as
características de periculosidade do produto: flamabilidade, explosividade,
radioatividade, toxidade e vias de exposição, bem como as condições da
exposição e a sensibilidade da entidade exposta é que determinam o seu risco.
Toxidade dos produtos químicos  seus efeitos tóxicos
Toxidade ou Toxidez é a capacidade de um material provocar danos biológicos
a um organismo. É uma propriedade de todas as substâncias, inclusive do
açúcar (sacarose), do sal de cozinha (cloreto de sódio) ou até mesmo, da água .

Os efeitos tóxicos dependem da dose, das vias e do tempo de exposição da


entidade ao material.
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Faixas de doses letais de várias substâncias


Dose Letal Substâncias Naturais Substâncias Sintéticas
(g/ kg)
> 10 açúcar
1 NaCl (sal) e etanol malation
0,1 cafeína DDT, tilenol
0,01 -
0,001 nicotina Paration, estricnina
(mg/kg)
0,01 Toxina da cascavel
0,001 Aflatoxina-B (amendoim)
0,00001 Toxina do tétano e do
botulismo

Paracelso: O que diferencia um remédio de um veneno é a dose.


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Categorias de compostos tóxicos
Asfixiantes: compostos que diminuem a absorção de oxigênio pelo
organismo. (nitrogênio, monóxido de carbono, cianetos);
Irritantes: materiais que causam inflamação nas membranas
mucosas (ácido sulfúrico, sulfeto de hidrogênio, HCs aromáticos);
Carcinogênicos: provocam câncer (benzeno, aromáticos
policíclicos);
Neurotóxicos: danos ao sistema nervoso (compostos
organometálicos);
Mutagênicos: causam mutações genéticas;
Teratogênicos: provocam malformações congênitas;
Hepatotóxicos: danos ao fígado (tetracloreto de carbono);
Fitotóxicos: danos a flora. Profa. Márcia Real 15
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Condições de exposição

Exposições crônicas- São as que duram entre 10% a 100% do

período de vida do ser. Para os seres humanos entre 7 e 70 anos.

• Exposições subcrônicas – São aquelas de curta duração, menores


do que 10% do período vital.

• Exposições agudas.- São exposições de um dia ou menos e que


ocorrem em um único evento.

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C - As vias de exposição  
Os efeitos tóxicos podem ser provocados por meios químicos, por radiação ou até
por ruído e dependem das vias de exposição. Elas indicam como as substâncias
penetram nos organismos. Para o ser humano as principais vias são por:
-     Contato com a pele;
-     Inalação;
-     Ingestão.

Existem vários métodos para classificar a toxidade dos materiais, os quais estão
baseados na freqüência e na duração da exposição e podem ser classificados em
três categorias:
1 - Efeitos Tóxicos em Geral

2 - Testes Especiais

3 - Testes em Seres Humanos

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1 - Efeitos Tóxicos em Geral - São estudos realizados para avaliar


os danos que uma substância pode provocar, baseando-se na duração
da exposição. 

2 - Testes Especiais - São estudos específicos para avaliar os efeitos


das exposições aos órgãos-alvo (que são os mais afetados pela
exposição), ou para avaliar efeitos específicos sobre o ser humano.

3 - Testes em Seres Humanos - São testes projetados, controlados e


conduzidos por médicos e toxicologistas para determinar níveis
máximos de exposição de uma substância ao ser humano,
considerando as vias de exposição. Outros estudos são baseados em
dados epidemiológicos e em estatísticas que têm sua origem na
medicina do trabalho. Profa. Márcia Real 18
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Caracterização de Toxidade
(a) Toxidade Aguda
A toxidade aguda é a que deriva de uma bateria de testes de curta
duração, em geral de 14 dias, realizada para caracterizar os efeitos
potenciais agudos de uma substância sobre um organismo.
Os índices utilizados para sua caracterização são a Dose (DL50) ou
Concentração Letal (CL50): dose ou concentração em que 50% dos
organismos submetidos ao teste morrem.
A maioria dos efeitos tóxicos provocados por produtos químicos são
reversíveis, porém a recuperação total pode demorar longos períodos.
No entanto, existem substâncias que podem provocar danos irreversíveis
nos seres vivos. Uma boa ilustração para esse caso são os danos
decorrentes de exposição a altas doses de fontes radioativas que podem
acarretar sérios e irreversíveis danos à saúde. No entanto, exposições
eventuais e controladas a fontes radioativas selecionadas podem se
constituir em tratamento médico.
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(a) Toxidade Aguda Caracterização de Toxidade
Os testes realizados para determinar estes níveis de toxidade são conduzidos
por períodos mais longos e são efetuados mediante repetidas exposições via
oral, dérmica ou inalação.

 Dose Letal (DL50) para a toxidade oral aguda corresponde à dose da


substância que administrada oralmente tem a maior probabilidade de provocar
a morte, num prazo de 14 dias, de 50% dos ratos albinos submetidos ao teste.

Dose Letal (DL50) para a toxidade dérmica aguda corresponde à dose


administrada por contato contínuo com a pele nua de coelhos albinos, por 24
horas, que tem a maior probabilidade de provocar a morte de metade dos
animais testados, em até 14 dias.

Concentração Letal (CL50) para a toxidade aguda por inalação corresponde à


concentração de vapor, neblina ou pó que, administrada por inalação contínua
a ratos albinos por uma hora, Profa.
tem aMárcia
maiorReal
probabilidade de provocar, num
20
prazo de 14 dias, a morte de 50% dos animais testados.
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Caracterização de Toxidade
(b) Toxidade Crônica e Sub-Crônica

Para a toxidade sub-crônica, os testes são realizados durante 30 a 90 dias e para


a crônica, normalmente os estudos levam de 18 a 24 meses.

Os níveis de dose ou concentração obtidos são normalmente, menores do que


para a toxidade crônica.

O propósito destes testes é determinar as doses ou as concentrações em que:

B1) Não se observam quaisquer efeitos ou o NENO - Nível de Efeito Não


Observado, (No Observed Effects Level - NOEL);

B2) Se observam os menores efeitos, como o NEMBO - Nível mais Baixo de


Efeito Observado, (Lowest Observed Level -Real
Profa. Márcia LOEL). 21
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CLASSIFICAÇÃO DE TOXIDADE POR VIA DE EXPOSIÇÃO
 
Diversos são os índices de toxidade disponíveis na literatura técnica
pertinente à toxicologia, e cada um deles destina-se a uma aplicação
relacionada à proteção da saúde humana ou de sistemas ecológicos
específicos. Como já visto anteriormente, a toxidade também depende da
via de exposição. Relacionam-se, a seguir, as principais vias pelas quais
os produtos perigosos podem atingir os seres vivos.
Tabela de Toxidade Relativa por Ingestão
 CLASSE
DE Provável Dose
TOXIDADE Letal Oral
Super Tóxico < 5mg/kg
Extremamente Tóxico 5,1-50 mg/kg
Muito Tóxico 51-500 mg/kg
Moderadamente Tóxico 0,51 - 5 g/kg
Ligeiramente Tóxico 5,1 - 15 g/kg
Praticamente Atóxico Maior
Profa. Márcia Realdo que 15 g/kg 22
Fonte: CROWL,1995
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Principais efeitos deletérios
1. Alterações cardiovasculares e respiratórias;
2. Alterações do sistema nervoso;
3. Lesões orgânicas: ototoxicidade, hepatotoxicidade, nefrotoxicidade, etc;
4. Lesões carcinogênicas / tumorigênicas;
5. Lesões teratogênicas (malformações do feto);
6. Alterações genéticas
aneuploidização - ganho ou perda de um cromossomo inteiro.
clastogênese - aberrações cromossômicas com adições, falhas,
re-arranjos de partes de cromossomos.
mutagênese - alterações hereditárias produzidas na informação
genética armazenada no DNA (ex. radiações
ionizantes).
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7. Infertilidade - masculina, feminina ou mista.


teratogênese - provocada por agentes infecciosos ou drogas.
aborto - precoce ou tardio
8. Alterações da capacidade reprodutora
9- Alguns exemplos:
Vitamina A - Atraso mental; cérebro e coração.
Talidomida - Coração e membros.
Fenobarbital - Palato; coração; atraso mental.
Álcool - Defeitos faciais; atraso mental.
Cloranfenicol - Aplasia medular
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Interações entre substâncias


A exposição simultânea a várias substâncias pode alterar uma série de
fatores (absorção, ligação protéica, metabolização e excreção)que
influem na toxicidade de cada uma delas em separado.
Assim, a resposta final a tóxicos combinados pode ser maior ou menor
que a soma dos efeitos de cada um deles, podendo-se ter:
Efeito Aditivo - efeito final igual à soma dos efeitos de cada um dos
agentes envolvidos;
Efeito Sinérgico - efeito maior que a soma dos efeitos de cada agente
em separado;
Potencialização - o efeito de um agente é aumentado quando em
combinação com outro agente;
Antagonismo - o efeito de um agente é diminuído, inativado ou
Profa. Márcia Real 25
eliminado quando se combina com outro agente.
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Características dos impactos


( Rohde,1998)

FATORES EFEITOS
Desencadeamento Imediato, Diferenciado, Retardado
Freqüência de Temporalidade Contínuo/ Permanente, Descontínuo/Eventual
Extensão Pontual, Linear, Espacial, Regional, Global
Reversibilidade Reversível / Irreversível
Duração Menos de 1 ano, 1 a 10 anos, 10 a 50 anos
Severidade Desprezível, Fraca, Moderada, Significativa
Origem Direta (efeitos 1.os), Indireta (efeitos 2os./ 3os.)
Acumulação Linear, quadrática, exponencial
Sinergia Presente, Ausente
Distribuição Custos/Benefícios Socializados, Privatizados (individual, empresarial)

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Impactos mais preocupantes


• Freqüência da Temporalidade: Contínuos e Permanentes
• Extensão: Espaciais
• Reversibilidade: Irreversível ou de difícil reversão
• Magnitude: Grande
• Acumulação: Exponencial
• Sinergia: Presente
• Distribuição dos Custos: Socializada
Prevenção da Degradação do Meio Ambiente

CONTROLE AMBIENTAL
Profa. Márcia Real 27
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Danos provocados pela poluição à saúde

• Para fazer qualquer afirmação significativa sobre os efeitos da


poluição na saúde do homem, deve-se considerar as dosagens
que os organismos estão recebendo:

Dose =  (Concentração do poluente) x d(tempo)

• Interesse atual na poluição e saúde é mais direcionado para


o longo prazo, baixas concentrações de exposição (que levam
a problemas crônicos).
• Curto prazo, altas concentrações de exposição (que levam a
efeitos agudos) ocorrem somente em acidentes industriais ou
episódios de poluição atmosférica emergenciais.
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A Função Dose-Resposta

- Para determinar qual a dosagem é nociva, é necessária uma curva de


dose-resposta.
- A função dose-resposta mede os danos resultantes de uma atividade
impactante, em um determinado meio. As medidas dos danos são
obtidas a partir das relações físicas entre causa e efeito de um
determinado dano ambiental.
- As “funções de dano” ou “funções dose-resposta” relatam o nível da
atividade impactante, que devem ser associadas ao nível e ao tipo
de poluente, com o grau de impacto sobre o meio ambiente natural
e o construído, ou ainda sobre a saúde da população, por exemplo
em função do aumento de incidência de doenças respiratórias.
Profa. Márcia Real 29
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A Função Dose-Resposta
- A curva dose-resposta deve ser construída para um único
poluente, não para poluição atmosférica como um todo. A
sinergia, ou seja, efeito de dois poluentes juntos, pode ser maior
que a soma do efeito de cada poluente separadamente.
- Os dados para a construção das “funções dose-resposta”
provêm, basicamente de duas fontes (Tolmasquim et al., 1999) a
saber:
– Estudos de campo, como por exemplo, estudos
epidemiológicos relacionando as doenças provocadas
(resposta) pela variação de concentração de poluentes (dose);
– Procedimentos experimentais controlados.
Profa. Márcia Real 30
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A Função Dose-Resposta
• Uma curva dose-resposta hipotética:
Considerando exposição homogênea da população a um
único poluente por um período de tempo específico.
Resposta (danos ao público)

e
os
e
os
D

D
da

da
0

1
ite

it e
m

m
Li

Li

Dose (concentração de poluente no ar)


Profa. Márcia Real 31
Fonte: Nevus, N. (1995)
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Aplicação da Função Dose-Resposta

Para aplicar a “função dose-resposta”, é recomendável seguir


as seguintes etapas :
I - Caracterizar as Emissões:
- Caracterizar os poluentes emitidos, quantificando suas taxas
de emissões;
II - Determinar como ocorrerá a Dispersão de Poluentes:
Determinar através do uso de modelos computacionais:
a) a dispersão e concentração dos poluentes,
b) a distribuição espaço temporal das concentrações.

Profa. Márcia Real 32


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Aplicação da Função Dose-Resposta


III - Determinar o Risco Individual:
A partir das concentrações anuais médias (item II), e no caso
particular das danos relacionados à saúde, buscar os dados de
vulnerabilidade que relacionam às concentrações de poluentes aos
potenciais danos causados à saúde humana, ou seja a mortalidade e
a morbidade (incidência de doenças).
IV - Determinar o Risco Total:
Uma vez determinado do risco individual (calculado no item
anterior) calcular o total, via o produto do individual pela população
total.
ATENÇÃO: No caso se poluentes não regulamentados, lembrar
que: Se existe “jurisprudência” no exterior, as responsabilidades
poderão ser cobradas! Profa. Márcia Real 33
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Espectro de efeitos deletérios sobre populações


Morbidade – Expressão do número de pessoas enfermas ou de
casos de uma doença em relação à população onde ocorre.

- reversível

- mutação de espécies

Mortalidade – Relação entre o número de mortes e o total de


habitantes. Normalmente, expressa em mortos por 1.000
habitantes, também conhecida como taxa de mortalidade.

- grupos populacionais

- extinção de espécies
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Alguns produtos tóxicos significativos


Produtos Orgânicos Persistentes - Poluição invisível e global

Em reunião do Programa das Nações Unidas para o Meio


Ambiente - UNEP, ocorrida em maio de 2001 em Estocolmo,
representantes de 90 países, incluindo o Brasil, assinaram a
Convenção sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, que visa
proibir a produção e o uso de 12 substâncias orgânicas tóxicas,
denominadas “Produtos Orgânicos Persistentes – POPs”.

Profa. Márcia Real 35


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Alguns produtos tóxicos significativos


Produtos Orgânicos Persistentes
Os 12 produtos POPs, conhecidos também como a "dúzia
suja" (dirty dozen) são os:
Pesticidas: Aldrin, clordano, mirex, dieldrin, endrin,
heptacloro, BCH e o toxafeno;
Produtos de uso geral: DDT, PCBs (bifenilas
policloradas);
Produtos não intencionais: Dioxinas, furanos.
Eles provocam doenças graves, em especial o câncer, além de má-
formação em seres vivos, muitas vezes sào encontrados em locais
distantes das fontes emissoras, sendo portanto, um problema de caráter
global. Profa. Márcia Real 36
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Produtos Orgânicos Persistentes


Como tudo começou?
Durante e após a Segunda Guerra Mundial, nas décadas de 1940 e 50,
ocorreu a proliferação destas substâncias. Naquela época era
necessário aumentar a produção de alimentos no mundo, para fazer
frente ao crescimento populacional.
Como está hoje?
A maioria dos 12 compostos da lista já foi banida ou teve seu uso
reduzido em boa parte do mundo, reduzindo o impacto econômico da
ratificação da convenção e facilitando sua entrada em vigor.
O Brasil, por exemplo, não produz diretamente nenhum dos doze
compostos, mas importa três deles para uso industrial. Entretanto, as
dioxinas e os furanos, por serem produzidos de forma não
intencional, demorarão mais a ser eliminados.
Profa. Márcia Real 37
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Produtos Orgânicos Persistentes
Qual é o principal problema dos POPs?
Eles são pouco solúveis em água, mas são solúveis em gorduras.
Os animais têm um ótimo sistema de eliminação de toxinas
solúveis em água, que são expelidas na urina, mas não possuem
mecanismo eficaz de eliminação de substâncias pouco solúveis na
água. Tal efeito é intensificado em animais ditos superiores, que se
alimentam das gorduras de outros animais.
Eles podem percorrem longas distâncias pelas correntes aéreas e
oceânicas. Ou seja, eles não contaminam só o local de emissão,
mas também locais distantes e remotos como o Ártico, cadeias
montanhosas e oceanos.
Eles se evaporam rapidamente em regiões quentes e lentamente
em locais frios. Devido a fatores geográficos e meteorológicos, o
Pólo Norte é um depósito global paraReal
Profa. Márcia contaminantes POPs. 38
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Curiosidades sobre o DDT


O composto 1,1-bis(4-clorofenil)-2,2,2-tricloroetano, mais
conhecido pela sigla DDT, foi sintetizadoem 1874.
Suas propriedades inseticidas só foram descobertas durante a 2a.
Guerra Mundial. Antes das batalhas em regiões quentes, os
Aliados pulverizavam DDT para combater as doenças transmitidas
por mosquitos. Tal descoberta rendeu a Paul Müller o Prêmio
Nobel de Medicina de 1948, pelas milhões de vidas salvas pelo
uso do DDT.
Na década seguinte, começou-se a perceber que o DDT persistia
no ambiente mesmo depois de vários anos da sua aplicação, pois
se acumula no organismo dos animais superiores.
Atualmente, ainda é utilizado no combate a malária.

Profa. Márcia Real 39


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O acidente de Bhopal
• Questões tecnológicas, operacionais e de manutenção da
instalação e organizacionais da empresa.
• Dezembro de 1984, Bhopal - Índia
•Unidade de Pesticidas da Union Carbide;
• Série de falhas mecânicas e erros operacionais;
• Entrada de água no tanque de estocagem;
• Falhas em 4 sistemas de segurança da unidade;
• Vazamento de 25 t metil-isocianato, durante 90 minutos;
• Não havia plano de contingência;
• População afetada: 3.000 – 8.000 mortos/ 200.000 pessoas atendidas

Tema complexo e amplo


Profa. Márcia Real 40
Atividades diversificadas, fontes e poluentes variados
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O acidente de Bhopal
“ Uma das ironias do acidente de Bhopal foi que o praguicida
que estava sendo manufaturado, o Sevin era um substituto do
DDT num intuito de evitar os riscos desse praguicida
organoclorado. Mas, o processo de fabricação do Sevin tem
ocasionado mais danos que o DDT”.
Anônimo. Helping out in Bhopal. Nature nº 312, 579-580, 1984)

Propriedades do isocianato de metila:


- Ponto de ebulição: 39,1º C
- Vapor : duas vezes mais pesado que o ar
Aspectos toxicológicos:
- Irritante dos olhos, nariz e garganta;
- Edema pulmonar;
- Ulceração da córnea
Muitos dos sobreviventes apresentaram efeitos crônicos nos pulmões e nos olhos,
1 ano após a exposição. Profa. Márcia Real 41
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Metais pesados
Os metais pesados não podem ser destruídos e são altamente reativos
do ponto de vista químico, o que explica a dificuldade de serem
encontrados em estado puro na natureza. Normalmente, apresentam-se
em concentrações muito pequenas, associados a outros elementos
químicos, formando minerais em rochas.
Quando lançados na água como resíduos industriais, podem ser
absorvidos pelos tecidos animais e vegetais. Uma vez que alcancem o
mar, estes poluentes podem, em parte, depositar-se no leito oceânico.
Além disso, os metais contidos nos tecidos dos organismos vivos que
habitam os mares acabam também se depositando, cedo ou tarde, nos
sedimentos, representando um estoque permanente de contaminação
para a fauna e a flora aquáticas

Profa. Márcia Real 42


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Metais pesados

A maioria dos organismos vivos só precisa de alguns poucos metais


e em doses muito pequenas, que são chamados de micronutrientes.
É o caso do zinco, do magnésio, do cobalto e do ferro (constituinte
da hemoglobina). Estes metais tornam-se tóxicos e perigosos para a
saúde humana quando ultrapassam determinadas concentrações-
limite.

Já o chumbo, o mercúrio, o cádmio, o cromo e o arsênio são metais


que não existem naturalmente em nenhum organismo. Ou seja: a
presença destes metais em organismos vivos é prejudicial em
qualquer concentração.

Profa. Márcia Real 43


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Metais pesados
Principais Fontes e Impactos de alguns metais pesados
Metal Fontes Principais Impactos na Saúde e no Meio
Ambiente
Chumbo Indústria de baterias automotivas, chapas de Prejudicial ao cérebro e ao sistema
metal semi-acabado, canos de metal, cable nervoso em geral
sheating, aditivos em gasolina, munição. Afeta o sangue, rins, sistema digestivo e
Indústria de reciclagem de sucata de baterias reprodutor
automotivas para reutilização de chumbo Eleva a pressão arterial
Agente teratogênico (que acarreta
mutação genética)
Cádmio Fundição e refinação de metais como zinco, É comprovadamente um agente
chumbo e cobre - derivados de cádmio são cancerígeno, teratogênico e pode causar
utilizados em pigmentos e pinturas, baterias, danos ao sistema reprodutivo.
processos de galvanoplastia, solda,
acumuladores, estabilizadores de PVC, reatores
nucleares
Mercúrio Mineração e o uso de derivados na indústria e Intoxicação aguda: efeitos corrosivos
na agricultura violentos na pele e nas membranas da
Células de eletrólise do sal para produção de mucosa, náuseas violentas, vômito, dor
cloro abdominal, diarréia com sangue, danos
aos rins e morte em um período
aproximado de 10 dias.
Intoxicação crônica: sintomas
neurológicos, tremores, vertigens,
irritabilidade e depressão, associados a
salivação, estomatite e diarréia.;
descoordenação motora progressiva, perda
de visão e audição e deterioração mental
decorrente de uma neuroencefalopatia
tóxica, na qual as células nervosas do
cérebro e do córtex cerebelar são
seletivamente envolvidas.
Zinco Metalurgia (fundição e refinação), indústrias Sensações como paladar adocicado e
recicladoras de chumbo secura na garganta, tosse, fraqueza, dor
generalizada, arrepios, febre, náusea,
vômito

Profa. Márcia Real 44

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