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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 5 n.

4 Out/Dez 2000, 5-16

ANÁLISE DA APLICABILIDADE DE PADRÕES DE


CHUVA DE PROJETO A PORTO ALEGRE

Daniela da Costa Bemfica, Joel A. Goldenfum e André L. L. da Silveira


Instituto de Pesquisas Hidráulicas – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Caixa Postal 15029 – CEP 91501-970 Porto Alegre, RS
bemfica@conex.com.br, jag@if.ufrgs.br, silveira@if.ufrgs.br

RESUMO INTRODUÇÃO

As chuvas (ou hietogramas) de projeto são Estruturas hidráulicas são freqüentemente


metodologias de representação simplificada da dimensionadas a partir de uma vazão ou de um
distribuição temporal da precipitação, utilizadas hidrograma de projeto, com determinado risco de
basicamente como entrada em modelos de simula- ocorrência. Como séries longas de descargas ob-
ção chuva-vazão, para dimensionamento de estru- servadas são escassas, os hidrogramas de projeto
turas hidráulicas. são usualmente determinados através de modelos
O objetivo do presente trabalho é analisar a de transformação chuva-vazão, tendo em vista
aplicabilidade de metodologias tradicionais de ob- que, em geral, há disponibilidade de registros mais
tenção de hietogramas de projeto, desenvolvidas longos de precipitação. Além disso, as séries de
em outros países, às características da cidade de vazões, quando existem, estão mais sujeitas a
Porto Alegre. Nessa análise, procurou-se empregar alterações antrópicas, que produzem não-
as condições usualmente adotadas em projetos de estacionariedade.
engenharia. Os modelos chuva-vazão têm como entra-
Para tanto, foram obtidas chuvas de proje- da dados de precipitação. O conhecimento da dis-
to, através da aplicação de diferentes métodos, a tribuição temporal da intensidade da chuva durante
partir dos dados de duas estações pluviográficas as tormentas assume, então, grande importância,
em funcionamento na cidade. A seguir, foram simu- pois condiciona o volume infiltrado e a forma do
ladas vazões, com base nas chuvas de projeto hidrograma de escoamento superficial direto origi-
determinadas e nos maiores eventos chuvosos nado pela chuva excedente.
reais registrados nas estações em análise. Foi O “hietograma” é uma forma gráfica que
ajustada uma distribuição estatística às séries de mostra a intensidade da chuva ao longo de sua
descargas máximas assim determinadas. As va- duração. As “chuvas de projeto” são metodologias
zões máximas geradas pelas diferentes chuvas de de representação simplificada da distribuição tem-
projeto foram, então, comparadas com as vazões poral da precipitação, utilizadas basicamente como
de pico obtidas, a partir do ajuste estatístico, visan- entrada em modelos de simulação chuva-vazão.
do, com isso, avaliar a aplicabilidade dos padrões De acordo com Voorhees & Wenzel (1984),
de chuva de projeto estudados às características uma chuva de projeto, com determinado período de
pluviográficas da cidade de Porto Alegre. retorno, pode ser completamente definida por três
Em ambos os postos pluviográficos, verifi- elementos básicos. São eles:
cou-se, para as menores durações, pequenas su-
perestimações e até, em alguns casos, subesti- a. a altura precipitada ou a intensidade média
mações das vazões geradas por todas as chuvas para a duração e o período de retorno con-
de projeto empregadas, confirmando a prática de siderados;
uso, para pequenas áreas, do Método Racional. b. a duração do evento;
Para as durações mais longas, ao contrário, os
valores de vazões de pico obtidos, a partir das c. a distribuição temporal (ou hietograma) da
chuvas de projeto, foram bastante superiores aos chuva.
determinados pelo ajuste estatístico. Tal superes-
timação já era esperada, tendo em vista que o Também devem ser levadas em considera-
objetivo básico, das metodologias de obtenção de ção, no caso de bacias hidrográficas com áreas
chuvas de projeto, é gerar eventos que tenham permeáveis, as condições antecedentes de umida-
efeitos máximos no escoamento. de do solo.
Segundo o trabalho, apresentado por Aron
& Adl (1992), a utilização de chuvas de projeto, em

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Análise da Aplicabilidade de Padrões de Chuva de Projeto a Porto Alegre

hidrologia urbana, tem como principal vantagem certamente otimizaria os projetos locais de drena-
sua grande simplicidade de obtenção. Como sua gem urbana, possibilitando inclusive uma redução
aplicação depende de poucos dados, esses proce- de custos.
dimentos podem ser utilizados em bacias que não O objetivo do presente trabalho foi analisar
apresentem um bom monitoramento e, em projetos a aplicabilidade de diferentes padrões de chuvas
que não disponham de fundos, ou tempo para ob- de projeto, nenhum deles desenvolvidos em nosso
tenção de registros detalhados de precipitação. Os país, às características pluviográficas da cidade de
mesmos autores apresentam, como uma grande Porto Alegre, utilizando as condições usualmente
desvantagem dessas metodologias, a associação adotadas em projetos de engenharia.
implícita entre os tempos de retorno da chuva e da
vazão, baseada na suposição da linearidade do
sistema. A bacia hidrográfica é, contrariamente a DETERMINAÇÃO DE RELAÇÕES IDF
essa suposição, um sistema não-linear. Desbordes
(1982) salientou ainda que, nos casos das chuvas PARA PORTO ALEGRE
de projeto derivadas de curvas IDF, há uma super-
estimação das vazões de pico e dos volumes es- No presente trabalho, foram utilizados da-
coados, pois todos os elementos do hietograma dos de dois postos pluviográficos localizados em
têm individualmente a probabilidade da curva de Porto Alegre. A estação Aeroporto, situada em uma
onde foram retirados. As curvas IDF representam zona urbanizada da cidade, é a mais antiga em
uma combinação de valores obtidos de diferentes funcionamento na cidade, porém sua série de da-
tormentas e, dificilmente, representam um único dos apresenta falhas. Foram obtidos dados dos
evento crítico. períodos de novembro de 1962 a setembro de
Os atuais modelos computacionais são ca- 1964 e janeiro de 1968 a dezembro de 1987, num
pazes de simulações contínuas de escoamento, a total de 21 anos e 11 meses de registros. A discre-
partir de longas séries de registros de precipitação, tização temporal máxima obtida foi em intervalos
o que dispensaria o uso de simplificações, como as de 10 minutos, apesar de o pluviógrafo ter autono-
chuvas de projeto. Entretanto, as chuvas de projeto mia de 1 dia, pois a qualidade da impressão dos
ainda têm considerável popularidade devido à sua gráficos era bastante baixa. Como critério de sepa-
simplicidade, à pequena quantidade de informação ração de eventos, adotou-se que um período seco
necessária para a sua obtenção, ao alto custo, e (sem chuva) maior ou igual a 4 horas caracterizaria
tempo envolvidos na simulação contínua de esco- um novo evento de chuva. Tal critério foi escolhido
amento. a fim de tentar garantir a independência entre os
Diversas metodologias para a obtenção de eventos.
chuvas de projeto têm sido desenvolvidas e, em O posto 8ª Distrito de Meteorologia (8º
sua grande maioria, não visam à reprodução de DISME) tem registros a partir de setembro de 1974
eventos reais, mas sim de situações com efeitos e, até o presente, não há falhas. Os pluviogramas
críticos ao escoamento. Tais procedimentos são desses 23 anos e 8 meses (setembro de 1974 a
obtidos, a partir da análise de dados observados de abril de 1998) foram digitalizados, com uma discre-
precipitação da região, em estudo e devem ser tização temporal de 5 minutos. O critério adotado
aplicados em projetos dessa mesma região. Esses para separação de eventos foi o mesmo utilizado
métodos poderiam ser utilizados em outras áreas, na série do posto Aeroporto, isto é, períodos de
mesmo que com características climáticas seme- chuva separados por 4 horas ou mais, sem precipi-
lhantes às da região do trabalho original, somente tação, caracterizam eventos distintos.
após a verificação de sua validade local. No presente trabalho, levando em conside-
Isso, entretanto, não é o que geralmente ração o tamanho das séries de registros pluviográ-
ocorre. Poucos estudos foram realizados sobre a ficos disponíveis para cada posto em estudo, foi
distribuição temporal das precipitações na cidade utilizada a técnica das séries anuais, que consiste
de Porto Alegre. Nos projetos desenvolvidos na em, para cada duração de interesse, obter-se a
cidade, quando há necessidade de um hietograma maior intensidade de chuva em cada ano de regis-
de projeto, acabam sendo usadas, por falta de tros, independentemente de seu valor.
opções, metodologias obtidas em outros países e Foram obtidas, para cada um dos postos
que podem não ser aplicáveis às características analisados, séries de máximos anuais. A essas
das tormentas locais. A aplicação de uma chuva de séries foi ajustada uma distribuição estatística de
projeto obtida por procedimentos que se adaptem Gumbel, com parâmetros determinados pelo méto-
às características climáticas da região, ou mesmo do dos momentos. As expressões matemáticas
desenvolvida especificamente para essa área, abaixo foram ajustadas às intensidades fornecidas,

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pelo ajuste Gumbel, para os postos Aeroporto e 8º Aeroporto


DISME, respectivamente. 100,0
Goldenfum et al. (1991)
80,0
0,143
826,806 ´ Tr Presente trabalho

I (mm/h)
i máx = 0,793
(1) 60,0
( td + 13,326 ) Limites do Intervalo de
40,0
Confiança de 90%
20,0
1297,9 ´ Tr 0,171
i máx = (2)
( td + 11,619 ) 0,85 0,0
0 240 480 720 960 1200 1440

duração (min)
onde imáx é a intensidade máxima, em mm/h; Tr o
período de retorno, em anos e td a duração da Figura 1. Comparação de diferentes
chuva, em minutos. formulações IDF, Tr = 5 anos (aeroporto).
A Expressão (1) foi comparada com a cur-
va IDF determinada por Goldenfum et al. (1991). A
Expressão (2) foi comparada com as curvas IDF 90,0
determinadas por Goldenfum et al. (1991) e por Goldenfumet al. (1991)
Silveira (1996). As Tabelas 1 e 2 apresentam essas 75,0
Silveira(1996)
comparações, para diferentes durações e período 60,0
de retorno de 5 anos. Nas Figuras 1 e 2, são apre- I (mm/h) Presentetrabalho
sentadas as curvas IDF calculadas pelas diferentes 45,0
Limites do Intervalode
formulações, para o mesmo tempo de retorno. Para 30,0 Confiançade 90%
os ajustes obtidos no presente trabalho, são tam-
bém fornecidos os intervalos de confiança de 90%. 15,0

Pela análise das Tabelas 1 e 2, percebe-se -


uma boa aproximação entre os valores obtidos 0 40 80 120 160 200 240 280 320 360

pelas diferentes formulações. Para as durações duração(min)


mais longas, a nova expressão fornece valores
ligeiramente mais altos do que os obtidos por Gol- Figura 2. Comparação de diferentes
denfum et al. (1991), para ambos os postos pluvio- formulações IDF, Tr = 5 anos (8º DISME).
gráficos. Tendo em vista que a expressão do
estudo de Goldenfum et al. (1991) foi determinada, Tabela 1. Intensidades (mm/h) obtidas por
com base em séries de durações até 180 minutos, diferentes formulações IDF, para Tr = 5 anos
os baixos valores obtidos encontram-se em seu
(aeroporto).
ramo extrapolado (e de menor confiabilidade).
Para o posto 8º DISME, observa-se que a
IDF de Silveira (1996), subestima os valores para 30’ 60’ 120’ 240’ 360’
as menores durações. Sua representatividade, Goldenfum et al. (1991) 52,6 33,6 20,4 12,1 8,8
contudo, é menor devido ao curto período de da-
Presente trabalho 52,4 34,5 21,5 12,9 9,5
dos utilizado.
Com base nas comparações acima descri-
tas e considerando que, no presente estudo, foram Tabela 2. Intensidades (mm/h) obtidas por
utilizadas séries de dados de precipitação conside- diferentes formulações IDF, para Tr = 5 anos
ravelmente mais longas do que nos trabalhos ante- (8º DISME).
riores, as Expressões (1) e (2) foram adotadas,
quando necessário, nas etapas posteriores desse 30’ 60’ 120’ 240’ 360’
trabalho.
Goldenfum et al. (1991) 68,1 40,8 22,5 11,8 8,0
Silveira (1996) 62,2 38,6 21,2 14,6 11,4
DETERMINAÇÃO DE CHUVAS DE Presente trabalho 71,8 45,3 27,0 15, 6 11,2
PROJETO PARA PORTO ALEGRE
gre, foram analisadas quatro metodologias de ob-
Para a avaliação da aplicabilidade de pa- tenção desses padrões. Os procedimentos selecio-
drões de chuva de projeto, à cidade de Porto Ale- nados foram:

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Análise da Aplicabilidade de Padrões de Chuva de Projeto a Porto Alegre

· método de Chicago (Keifer & Chu, 1957), Já a determinação do coeficiente através


por ser um modelo bastante difundido e a- da análise da posição do pico em eventos reais,
plicado; além de não trabalhar com nenhuma equação es-
pecífica do Método de Chicago, forneceu valores
· método dos Blocos Alternados (citado por
do coeficiente r mais similares aos obtidos para
Zahed & Marcellini, 1995), por ser bastante
outras regiões.
aplicado na prática de projetos de enge-
Levando-se em consideração essas obser-
nharia;
vações, optou-se por aplicar, na obtenção dos hie-
· hietograma Triangular (Yen & Chow, 1980), togramas de projeto para o presente trabalho, o
por sua extrema simplicidade e facilidade valor de r determinado pela análise da posição do
de utilização; pico em tormentas históricas (0,373 para o posto
· método de Pilgrim & Cordery (1975), por Aeroporto e 0,270 para o posto 8º DISME). No
fornecer padrões de chuva bastante diver- cálculo desses valores não foram utilizadas formu-
sos dos citados acima e mais similares aos lações referentes ao Método de Chicago, o que
de eventos reais. viabiliza, inclusive, sua aplicação em outras meto-
dologias de obtenção de chuvas de projeto.

Método de Chicago
Método dos blocos alternados
Esse método parte da premissa de que o
volume de chuva, que cai durante o período de Por esse procedimento, após a definição
máxima intensidade, pode ser obtido a partir da da duração total da chuva a ser obtida e de seu
curva intensidade-duração para uma dada freqüên- tempo de retorno, são calculadas, com base nas
cia, selecionada por critérios de projeto. É gerado, relações IDF, as intensidades médias para a diver-
então, um hietograma sintético, representando uma sas durações até a duração total. Essas intensida-
precipitação “completamente adiantada”, ou seja, des são, então, transformadas em alturas de chuva
cujo pico se encontra no início da chuva. Para a e representam os valores acumulados até o último
localização do pico de intensidade da chuva, é intervalo. Os incrementos entre um valor acumula-
introduzido um coeficiente r, que é uma medida do do e outro são calculados e rearranjados, de forma
adiantamento do padrão de chuva. Segundo Keifer que o maior valor se localize no centro da duração
& Chu (1957), tal coeficiente pode ser determinado total da chuva, e os demais sejam dispostos em
de duas formas. Uma delas é a análise da posição ordem decrescente, sempre um à direita e outro à
do pico em eventos chuvosos históricos críticos. esquerda do bloco central, alternadamente.
A outra é através da determinação da precipita-
ção antecedente ao pico nesses mesmos eventos
históricos. Hietograma triangular
No presente trabalho, as duas formas de
determinação do coeficiente r foram empregadas. O método proposto por Yen & Chow (1980)
Para ambos os postos pluviográficos estudados, os baseia-se numa análise estatística dos momentos
valores obtidos por cada um dos procedimentos que descrevem a geometria (estrutura interna) do
foram bastante distintos, o que levantou a dúvida hietograma. Os autores sugerem a utilização ape-
sobre a validade do segundo deles. Na obtenção nas do primeiro momento, que gera uma distribui-
do valor de r, com base na chuva antecedente a ção triangular da intensidade da chuva. É obtida,
cada duração, supõe-se que as precipitações do então, uma chuva de projeto de forma triangular,
local em estudo sigam a forma proposta por Keifer na qual a posição do pico é dada por um coeficien-
& Chu (1957), pois se empregam formulações do te r, determinado a partir da análise de eventos
método. Essa suposição não é necessariamente históricos reais, e cuja altura é dada por:
verdadeira, o que pode ser percebido pela obser-
vação de registros históricos de precipitação. As 2P
H= (3)
equações propostas foram aplicadas para cada td
evento individualmente, e obtiveram-se valores
superiores à unidade, o que é fisicamente ilógico. onde H é a altura do triângulo e P o total da precipi-
Todos esses problemas encontrados podem ser tação.
uma evidência de que o Método de Chicago não se O coeficiente r utilizado foi o mesmo já cal-
adapta às características pluviográficas da cidade culado para uso no Método de Chicago (0,373 para
de Porto Alegre. o posto Aeroporto e 0,270 para o posto 8º DISME).

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Seu procedimento de cálculo levou em conta apenas


observações da posição do pico em eventos históri- 1 5 .0
cos críticos.
1 2 .0

Método de Pilgrim & Cordery 9 .0

P (mm)
6 .0
Esse método considera que as chuvas de
projeto desenvolvidas, a partir de curvas IDF, não 3 .0
representam as tormentas inteiras, mas sim perío-
0 .0
dos intensos dentro das tormentas, podendo haver
10 50 90 130 170 210
ocorrência de chuva antes ou depois desse período
de pico. du ra çã o (m i n )
Para obtenção dos hietogramas de projeto,
são selecionados eventos históricos críticos do Figura 3. Hietograma de projeto, método de
local em estudo, para cada uma das durações de Chicago, td = 240 minutos e Tr = 2 anos
interesse. Tais eventos são ordenados de acordo (aeroporto).
com o total precipitado e suas durações divididas
em um número igual de intervalos. Esse número é
escolhido segundo as necessidades práticas da
1 5 .0
estimativa de vazões, o que pode resultar em um
número diferente de intervalos para cada duração. 1 2 .0
Para cada evento, os totais precipitados em cada P (mm) 9 .0
intervalo são então obtidos, e lhes é atribuído um
índice, que corresponde à posição do total precipi- 6 .0
tado no período, quando colocados em ordem de-
3 .0
crescente. Quando ocorrem valores iguais de
precipitação em mais de um período, o índice atri- 0 .0
buído é uma média dos índices individuais. A se- 10 50 90 130 170 210
guir é determinada a porcentagem da chuva total du ra çã o (m i n )
que ocorre em cada período.
Esse procedimento é utilizado para deter-
Figura 4. Hietograma de projeto, método dos
minar a ordem cronológica, mais usual, do período
mais intenso de chuva. Para cada duração, a dis- blocos alternados, td = 240 minutos e Tr = 2
tribuição temporal da chuva é, então, obtida pela anos (aeroporto).
média das porcentagens de chuva para cada perí-
odo. A distribuição temporal assim proposta leva
em conta a variabilidade média da chuva intensa,
15 ,0
em contraste à média simples assumida por outros
métodos. 12 ,0
Através da aplicação das quatro metodolo-
P (mm)

9,0
gias, acima expostas, foram determinados hieto- 6,0
gramas de projeto para as durações de 30, 60, 120
3,0
e 240 minutos e períodos de retorno de 2 e 5 anos
(usualmente utilizados para projetos de microdre- 0,0
nagem). As Figuras 3 a 10 apresentam as chuvas 10 50 90 130 170 210
de projeto obtidas para 2 anos de tempo de retorno d u raç ão (m in )
e duração de 240 minutos.
Para ambos os postos pluviográficos, os
Figura 5. Hietograma de projeto, método de
hietogramas de pequena duração apresentaram
Yen & Chow (Triangular), td = 240 minutos e
um padrão razoavelmente semelhante entre si, já
sendo delineada uma tendência, que se acentuou Tr = 2 anos (aeroporto).
nas demais durações, de maiores picos de intensi-
dade nos gráficos, obtidos pelos métodos de Chi- hietogramas de Chicago e dos Blocos Alternados.
cago e dos Blocos Alternados. Basicamente, esses hietogramas diferenciam-se
Para a duração de 60 minutos, novamente pela posição em que esse pico ocorre. Enquanto,
se observou a tendência de maiores picos nos no método dos Blocos Alternados, o intervalo de

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Análise da Aplicabilidade de Padrões de Chuva de Projeto a Porto Alegre

máxima é sempre fixado na metade da duração da Esses padrões distintos acentuaram-se


chuva, no método de Keifer & Chu (1957), ele de- com o aumento da duração, como pode ser obser-
pende do valor de r obtido para cada região. Para vado nas Figuras 3 a 10. Além de surgirem múlti-
essa duração, a chuva de projeto de Pilgrim & Cor- plos picos, a intensidade da chuva mostrou-se mais
dery (1975) já começou a apresentar padrões dis- homogênea no decorrer do evento. No posto Aero-
tintos das demais. porto, o hietograma de Pilgrim & Cordery para a

1 5 .0
2 0 .0
1 2 .0
1 5 .0
P (mm)

9 .0

P (mm)
1 0 .0
6 .0
5 .0
3 .0

0 .0 0 .0
10 50 90 130 170 210 10 60 110 160 210

du ra çã o (m i n ) du ra çã o (m i n )

Figura 6. Hietograma de projeto, método de


Figura 9. Hietograma de projeto, método de
Pilgrim & Cordery, td = 240 minutos e Tr = 2
Yen & Chow (Triangular), td = 240 minutos e
anos (aeroporto).
Tr = 2 anos (8º DISME).

2 0 .0
2 0 .0
1 5 .0
1 5 .0
P (mm)

1 0 .0
P (mm)

1 0 .0
5 .0
5 .0
0 .0
0 .0
10 60 110 160 210
10 60 110 160 210
du ra çã o (m i n )
du ra çã o (m i n )

Figura 7. Hietograma de projeto, método de


Chicago, td = 240 minutos e Tr = 2 anos Figura 10. Hietograma de projeto, método de
(8º DISME). Pilgrim & Cordery, td = 240 minutos e Tr = 2
anos (8º DISME).

2 0 .0
duração de 120 minutos apresentou as maiores
1 5 .0 intensidades em seus intervalos iniciais; já na chu-
va de projeto de duração de 240 minutos, os picos
P (mm)

1 0 .0 de intensidades ocorreram, ao contrário, no final do


5 .0
período chuvoso. Na análise dos resultados da
estação 8º DISME observou-se, para a duração de
0 .0 240 minutos, que o padrão de chuva de Pilgrim &
10 60 110 160 210 Cordery não se assemelha ao obtido para o posto
du ra çã o (m i n ) Aeroporto, apresentando maiores intensidades no
início da duração da chuva. Pode-se perceber que,
com a ocorrência desses múltiplos picos, os hieto-
Figura 8. Hietograma de projeto, método dos gramas de Pilgrim & Cordery passam a ter um
blocos alternados, td = 240 minutos e Tr = 2 aspecto mais condizente com a distribuição tempo-
anos (8º DISME). ral de eventos reais.

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COMPARAÇÃO ENTRE VAZÕES Tabela 3. Características das bacias


hidrográficas hipotéticas adotadas.
SIMULADAS A PARTIR DE
DIFERENTES CHUVAS DE PROJETO 2
Bacia Área (km ) tc (min)
Como o interesse central do presente estu- B1 1,5 30
do é a análise do efeito de padrões de chuva de B2 5,0 60
projeto, e não de diferentes modelos de transfor-
mação chuva-vazão, optou-se pela utilização de B3 20,0 120
um modelo hidrológico bastante simples. A escolha B4 80,0 240
recaiu no modelo apresentado pelo Soil Conserva-
tion Service (SCS, 1957; apud Tucci, 1993), que bastante pequenas, variando entre 0,2 e 1,7%,
propõe a separação do escoamento com o uso do para o posto Aeroporto, e 0,3 e 2,5%, para o posto
parâmetro CN e a modelação do escoamento su- 8º DISME. Isso deve-se ao alto valor do coeficiente
perficial através do hidrograma unitário triangular. CN das bacias hipotéticas utilizadas, que caracteri-
Justamente devido à sua simplicidade, esse é um zam superfícies urbanizadas, nas quais a infiltração
modelo de uso amplamente difundido. não é significativa.
Partindo da premissa de que a duração da As vazões máximas simuladas, ao contrá-
chuva de projeto a ser empregada é igual ao tempo rio, apresentam uma faixa de variação bem mais
de concentração da área contribuinte, optou-se por ampla, com as diferenças crescendo com o aumen-
trabalhar com quatro bacias hidrográficas de forma- to da duração da chuva de projeto. Na estação
to retangular, com declividades da ordem de 1%, Aeroporto, as maiores diferenças foram verificadas
tempos de concentração de 30, 60, 120 e 240 mi- nos hidrogramas gerados a partir dos hietogramas
nutos (durações dos hietogramas de projeto deter- de projeto de duração 60 minutos. A diferença en-
minados no capítulo anterior) e áreas de uma tre as vazões máximas calculadas pelo modelo
ordem de grandeza compatível com essas caracte- SCS chega, para essa duração, a até 13,5%. Vari-
rísticas. Na Tabela 3 são fornecidas as descrições ações consideravelmente superiores foram obser-
das bacias hidrográficas hipotéticas assim defini- vadas nos resultados do posto 8º DISME
das, utilizadas nas simulações chuva-vazão. Ado- chegando, para a duração de 240 minutos, a até
tou-se para o coeficiente CN, que busca retratar as 24%. Percebe-se também que, à exceção da dura-
condições de cobertura e o tipo de solo, um valor ção de 30 minutos, para a qual todas as vazões de
de 90, a fim de representar bacias urbanizadas. pico simuladas foram bastante semelhantes, nas
Foram, portanto, simuladas vazões, pelo demais simulações realizadas a maior vazão de
modelo do SCS, para as quatro bacias acima des- pico foi obtida com o uso da chuva de projeto do
critas. Foram utilizados os hietogramas de projeto método dos Blocos Alternados, enquanto a menor
anteriormente determinados, para as durações de vazão se originou do uso das chuvas de projeto do
30, 60, 120 e 240 minutos e tempos de retorno de método de Pilgrim & Cordery. Esse resultado já
2 e 5 anos, usualmente utilizados no dimensiona- era, até certo ponto esperado, visto que esse mé-
mento de redes primárias de drenagem urbana. todo, ao contrário dos demais, procura a obtenção
As Tabelas 4 a 7 mostram um resumo dos de hietogramas de projeto que tenham relação com
resultados obtidos nas simulações realizadas, for- os padrões de precipitação do local em estudo,
necendo as vazões de pico e os volumes totais gerando, assim, hidrogramas com menores vazões
escoados, para os tempos de retorno de 2 e 5 a- máximas.
nos, bem como a diferença percentual entre as
vazões e volumes máximos e mínimos obtidos,
para todas as bacias em estudo. As Figuras 11 a COMPARAÇÃO ENTRE VAZÕES
14 mostram os hidrogramas gerados a partir das SIMULADAS A PARTIR DE CHUVAS
diferentes chuvas de projeto, para as durações de
chuva de 30 e 240 minutos e o período de retorno DE PROJETO E DE EVENTOS
de 5 anos. HISTÓRICOS
Observando as Tabelas 4 a 7 e as Figuras
11 a 14, pode-se notar que os hidrogramas calcu- Os resultados dessas simulações foram
lados, a partir dos diversos hietogramas de projeto, comparados com as vazões calculadas a partir dos
têm volumes bastante similares para todas as du- maiores eventos chuvosos anuais de cada estação
rações estudadas. As diferenças entre os volumes pluviográfica. Foram utilizadas as mesmas bacias
máximos e mínimos dos hidrogramas obtidos são hipotéticas já descritas. Para cada duração, obte-

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Análise da Aplicabilidade de Padrões de Chuva de Projeto a Porto Alegre

Tabela 4. Volumes e vazões de pico simulados pelo modelo SCS, Tr = 2 anos (aeroporto).

Bacia Chicago Blocos alternados Triangular Pilgrim & Cordery Variação máxima
Pico Volume Pico Volume Pico Volume Pico Volume Pico Volume
3 3 3 3
(m /s) (mm) (m /s) (mm) (m /s) (mm) (m /s) (mm) (%) (%)
B1 4,5 6,4 4,5 6,4 4,5 6,5 4,5 6,5 0,7 0,9
B2 14,5 11,5 14,5 11,4 14,6 11,5 13,9 11,4 5,2 0,6
B3 45,9 16,9 46,6 16,9 45,9 17,0 41,6 17,0 11,9 0,9
B4 128,3 23,0 134,7 23,1 128,2 23,2 127,7 23,2 5,5 0,9

Tabela 5. Volumes e vazões de pico simulados pelo modelo SCS, Tr = 5 anos (aeroporto).

Bacia Chicago Blocos alternados Triangular Pilgrim & Cordery Variação máxima
Pico Volume Pico Volume Pico Volume Pico Volume Pico Volume
3 3 3 3
(m /s) (mm) (m /s) (mm) (m /s) (mm) (m /s) (mm) (%) (%)
B1 5,8 8,4 6,0 8,5 5,9 8,5 5,8 8,5 2,1 1,7
B2 18,4 14,5 18,6 14,5 18,6 14,6 17,7 14,6 5,0 0,2
B3 57,6 21,2 58,6 21,2 57,0 21,2 51,7 21,2 13,5 0,4
B4 160,0 28,7 166,7 28,5 157,3 28,5 155,7 28,5 7,1 0,7

Tabela 6. Volumes e vazões de pico simulados pelo modelo SCS, Tr = 2 anos (8º DISME).

Bacia Chicago Blocos alternados Triangular Pilgrim & Cordery Variação máxima
Pico Volume Pico Volume Pico Volume Pico Volume Pico Volume
3 3 3 3
(m /s) (mm) (m /s) (mm) (m /s) (mm) (m /s) (mm) (%) (%)
B1 8,8 11,6 9,0 11,8 9,0 11,8 8,8 11,8 2,1 1,9
B2 23,1 18,0 24,6 18,0 23,8 17,9 21,9 17,7 12,3 1,3
B3 65,1 24,0 70,1 24,1 65,4 24,1 60,3 24,0 16,2 0,3
B4 164,0 29,7 177,3 29,9 162,1 29,8 145,2 30,0 22,1 0,9

Tabela 7. Volumes e vazões de pico simulados pelo modelo SCS, Tr = 5 anos (8º DISME).

Bacia Chicago Blocos alternados Triangular Pilgrim & Cordery Variação máxima
Pico Volume Pico Volume Pico Volume Pico Volume Pico Volume
3 3 3 3
(m /s) (mm) (m /s) (mm) (m /s) (mm) (m /s) (mm) (%) (%)
B1 11,5 15,3 11,9 15,7 11,9 15,7 11,5 15,6 3,7 2,5
B2 29,6 23,0 31,8 23,1 30,7 23,1 28,5 23,1 11,6 0,4
B3 82,6 30,4 88,6 30,4 82,4 30,3 77,0 30,9 15,1 1,7
B4 210,2 38,0 225,2 37,9 204,0 37,7 181,5 37,7 24,1 0,7

ve-se uma série de vazões de pico geradas pelos A seguir, procedeu-se à comparação entre
maiores eventos chuvosos históricos. hidrogramas de mesmo período de retorno, obtidos
Uma análise de freqüência foi realizada pa- com o uso das diversas metodologias de chuva de
ra cada uma das séries assim obtidas, a fim de projeto e a partir da função estatística ajustada.
determinar os períodos de retorno correspondentes Assumiu-se que os hidrogramas obtidos, a partir
aos hidrogramas calculados. Os valores de vazões das chuvas de projeto, têm o mesmo tempo de
máximas, obtidos através do ajuste da lei estatísti- recorrência das chuvas que os geraram. A diferen-
ca de Gumbel, encontram-se na Tabelas 8 e 9. ça percentual, entre as vazões de pico dos diferen-

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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 5 n.4 Out/Dez 2000, 5-16

7,0 14,0
6,0 Chicago 12,0 Chicago
5,0
Blocos Alternados
10,0 Blocos Alternados
Triangular
Q (m3/s)

Q (m3/s)
4,0 Pilgrim&Cordery 8,0 Triangular
3,0 6,0 Pilgrim&Cordery
2,0 4,0

1,0 2,0

0,0 0,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

t (min) t (min)

Figura 11. Hidrogramas simulados pelo Figura 13. Hidrogramas simulados pelo
modelo SCS, para diferentes chuvas de modelo SCS, para diferentes chuvas de
projeto, td = 30 min, Tr = 5 anos (aeroporto). projeto, td = 30 min, Tr = 5 anos (8º DISME).

200,0 250,0
Chicago
Chicago
160,0 Blocos Alternados 200,0
Triangular Blocos Alternados
Q (m3/s)

120,0 Pilgrim&Cordery Triangular

Q (m3/s)
150,0
Pilgrim&Cordery
80,0
100,0

40,0
50,0

0,0
0,0
0 100 200 300 400 500 600 700
0 100 200 300 400 500 600 700
t (min)
t (min)

Figura 12. Hidrogramas simulados pelo Figura 14. Hidrogramas simulados pelo
modelo SCS, para diferentes chuvas de modelo SCS, para diferentes chuvas de
projeto, td = 240 min, Tr = 5 anos (aeroporto). projeto, td = 240 min, Tr = 5 anos (8º DISME).

tes hidrogramas, foi determinada através da Equa- Tabela 8. Vazões de pico (m3/s) obtidas pelo
ção (4). Tais comparações são apresentadas nas ajuste Gumbel (aeroporto).
Tabelas 10 e 11.
Tr (anos) 30’ 60’ 120’ 240’
qproj - qhist
Dq = ´ 100% (4) 2 4,1 12,2 35,3 101,5
qhist
5 6,1 18,2 52,0 142,4
onde Dq é a diferença percentual entre a vazão de
pico simulada através de chuvas de projeto e ajus- Tabela 9. Vazões de pico (m3/s) obtidas pelo
tada, a partir da série de vazões simuladas, com ajuste Gumbel (8º DISME).
base em eventos históricos; qproj a vazão de pico
simulada através de chuvas de projeto e qhist a Tr (anos) 30’ 60’ 120’ 240’
vazão de pico ajustada, a partir da série de vazões
simuladas, com base em eventos históricos. 2 7,2 18,9 48,2 119,6
Analisando os resultados referentes ao 5 11,7 28,8 73,1 173,2
posto Aeroporto, observa-se que as diferenças
encontradas variam entre -4% e +33%, isto é, a torno de 2 anos, revelou-se 33% superior à obtida
vazão de pico obtida a partir das chuvas de projeto pelo ajuste estatístico. Já para a estação
de Pilgrim & Cordery, para a bacia hipotética B1 e 8º DISME, as diferenças encontradas situam-se
o período de retorno de 5 anos, mostrou-se 4% entre -1% (chuvas de projeto de Chicago e de Pil-
inferior à calculada pelo ajuste Gumbel, enquanto a grim & Cordery, bacia hipotética B1 e período de
vazão determinada, com base no método dos Blo- retorno de 5 anos) e +48% (Blocos Alternados,
cos Alternados, para a bacia B4 e o tempo de re- bacia B4 e tempo de retorno de 2 anos). Essas

13
Análise da Aplicabilidade de Padrões de Chuva de Projeto a Porto Alegre

Tabela 10. Diferença percentual entre vazões máximas simuladas a partir de


chuvas de projeto e eventos históricos, em % (aeroporto).

Bacia Chicago Blocos alternados Triangular Pilgrim & Cordery


Tr = 2 Tr = 5 Tr = 2 Tr = 5 Tr = 2 Tr = 5 Tr = 2 Tr = 5
anos anos anos anos anos anos anos anos
B1 9,3 -3,7 9,6 -1,9 9,1 -3,4 8,9 -3,9
B2 18,6 0,9 19,2 2,0 20,2 2,3 14,3 -2,6
B3 30,0 10,8 32,0 12,8 30,1 9,7 17,9 -0,6
B4 26,4 12,3 32,7 17,1 26,3 10,5 25,8 9,3

Tabela 11. Diferença percentual entre vazões máximas simuladas a partir de


chuvas de projeto e eventos históricos, em % (8º DISME).

Bacia Chicago Blocos alternados Triangular Pilgrim & Cordery


Tr = 2 Tr = 5 Tr = 2 Tr = 5 Tr = 2 Tr = 5 Tr = 2 Tr = 5
anos anos anos anos anos anos anos anos
B1 21,8 -1,4 24,3 2,0 24,2 2,3 22,0 -1,4
B2 21,7 2,7 30,0 10,4 25,3 6,3 15,7 -1,1
B3 35,0 12,9 45,4 21,2 35,7 12,7 25,1 5,3
B4 37,1 21,4 48,3 30,1 35,6 17,8 21,5 4,8

variações são função da chuva de projeto aplicada, tos históricos. Isso pode-se dever ao fato de que o
de sua duração e de seu período de retorno. hietograma proposto por esses autores não apre-
Observando os valores citados nessas ta- senta um único pico, mas sim flutuações no decor-
belas, pode-se perceber que as diferenças entre as rer do tempo, com o aparecimento de diversos
vazões calculadas através das chuvas de projeto e, valores máximos. Esse padrão se assemelha ao
a partir de eventos históricos, é maior para o tempo verificado nas chuvas observadas em Porto Alegre:
de retorno de 2 anos. Isso pode ser decorrência de as precipitações reais não seguem uma forma
problemas nos ajustes estatísticos efetuados, pois constante, apresentando diversos picos de intensi-
a qualidade do ajuste de distribuições estatísticas dade no decorrer de sua duração total. Em contra-
tende a ser menor para freqüências extremas. partida, nota-se que os hietogramas de Chicago,
Também se nota que, para durações pequenas, as dos Blocos Alternados e Triangular, geraram va-
vazões obtidas, a partir das chuvas de projeto, zões máximas até 48% maiores do que as precipi-
apresentam menor diferença percentual com rela- tações históricas. Tal diferença é explicada pelo
ção às vazões determinadas com base nos even- fato de que essas metodologias não buscam repre-
tos históricos, sendo, em alguns casos, até sentar padrões reais de chuva, mas sim criar situa-
inferiores a essas. Isso foi observado nos resulta- ções críticas de escoamento. Portanto, o uso das
dos obtidos a partir de todas as chuvas de projeto, chuvas de projeto de Chicago, dos Blocos Alterna-
visto que, para pequenas durações, todos os hie- dos e Triangular em projetos de drenagem urbana,
2
togramas estudados seguem padrões semelhan- para bacias acima de 20 km , tende a gerar resul-
tes. Esse fato pode confirmar a prática usual em tados conservadores, se comparados à aplicação
projetos de drenagem, que é o uso, para pequenas de eventos pluviográficos observados ou, até
áreas, do Método Racional, que tende a fornecer mesmo, do método de Pilgrim & Cordery (que bus-
valores superestimados de vazão. ca recriar tais eventos).
Verifica-se ainda que, para maiores dura-
ções, ocorre uma grande superestimação das va-
zões oriundas dos hietogramas de projeto com CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
relação às originárias das precipitações históricas.
Essa característica mostrou-se menos acentuada O presente trabalho apresentou uma análi-
no método proposto por Pilgrim & Cordery (1975), se da aplicação de diferentes padrões de chuvas
que, para as maiores durações, originou valores de de projeto à cidade de Porto Alegre. As curvas IDF
vazões mais próximos aos calculados pelos even- das estações pluviográficas Aeroporto e 8º DISME

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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 5 n.4 Out/Dez 2000, 5-16

foram atualizadas e foram determinados hietogra- e sua declividade, diferentes valores do parâmetro
mas de projeto, pelos métodos de Chicago (Keifer CN, além da heterogeneidade espacial da precipi-
& Chu, 1957), Blocos Alternados (citado por Zahed tação, sejam avaliados, tendo em vista que esses
& Marcellini, 1995), Triangular (Yen & Chow, 1980) aspectos podem assumir considerável influência
e Pilgrim & Cordery (1975), para diferentes dura- nos hidrogramas gerados a partir dos diferentes
ções e períodos de retorno. Foram realizadas simu- hietogramas de projeto.
lações chuva-vazão, através do método do Soil Por fim, ressalta-se que o presente traba-
Conservation Service (McCuen, 1957; apud Tucci, lho buscou, basicamente, analisar condições usu-
1993), para quatro bacias hidrográficas hipotéticas, almente adotadas em projetos de engenharia.
com diferentes áreas e tempos de concentração, Foram, portanto, aceitas diversas simplificações,
visando comparar os hidrogramas provocados tendo em vista ser essa a prática corrente no di-
pelas diferentes chuvas de projeto com escoamen- mensionamento de estruturas hidráulicas de dre-
tos causados por chuvas reais observadas nos nagem urbana.
respectivos postos.
Os hidrogramas simulados, a partir das di-
ferentes chuvas de projeto, apresentaram volumes AGRADECIMENTOS
bastante similares, principalmente devido ao alto
valor do coeficiente CN utilizado, que caracteriza Os autores agradecem ao CNPq e
uma superfície urbanizada, em que as perdas inici- aos programas RECOPE-REHIDRO (FINEP) e
ais e a infiltração são bastante pequenas. Porém, PRONEX, pelo apoio financeiro recebido, bem
as vazões de pico simuladas com estes hidrogra- como ao Centro Tecnológico da Aeronáutica e ao
mas apresentaram uma variação mais ampla, sen- 8º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia,
do as menores vazões máximas geradas a partir pela disponibilização dos dados pluviográficos das
das chuvas de projeto de Pilgrim & Cordery (1975), estações Aeroporto Salgado Filho e 8º DISME,
e as maiores descargas de pico obtidas com base respectivamente.
nos hietogramas dos métodos de Chicago e dos
Blocos Alternados. Estes resultados são coerentes
com as filosofias dos métodos: o de Pilgrim & Cor- REFERÊNCIAS
dery (1975), busca basicamente reproduzir padrões
de chuva observados, enquanto que os demais ARON, G.; ADL, I. (1992) Effects of Storm Patterns on
tentam obter condições críticas para o escoamento Runoff Hydrographs. Water Resources Bulletin,
superficial. vol. 28 n° 3 p. 569-75.
As vazões de pico geradas pelas diferentes DESBORDES, M. (1982) Modelisation en Hydrologie
chuvas de projeto foram comparadas com vazões Urbaine: Rechèrches et Applications . Laboratoire
de pico de mesmo período de retorno, obtidas a d’Hydrologie Mathématique - Université des
Sciences et Techniques du Languedoc.
partir de ajuste de distribuições de Gumbel a séries
de vazões geradas com chuvas observadas. Em GOLDENFUM, J. A.; CAMAÑO, B.; SILVESTRINI, J.
(1991) Análise das Chuvas Intensas em Porto
ambos os postos pluviográficos, para as menores Alegre. Não publicado.
durações, as vazões obtidas, a partir das chuvas KEIFER, C. J.; CHU, H. H. (1957) Synthetic Storm
de projeto, apresentam pequena diferença percen- Pattern for Drainage Design. Journal of the
tual com relação às vazões determinadas com Hydraulics Division, 83, HY5, p. 1332-1/1332-25.
base nos eventos históricos, sendo, em alguns PILGRIM, D. H.; CORDERY, I. (1975) Rainfall Temporal
casos, até inferiores a essas. Esse fato pode con- Patterns for Design Floods. Journal of the
firmar a prática usual em projetos de drenagem, Hydraulics Division, 101, HY1, p. 81-95.
que é o uso, para pequenas áreas, do método Ra- SILVEIRA, A. L. L. (1996) Contribution à l’Etude
cional, que fornece valores superestimados de Hydrologique d’un Bassin Semi-Urbanisé dans le
vazão. Para as maiores durações, ao contrário, Brésil Subtropical – Bassin de l’Arroio Dilúvio à
observou-se que o uso das chuvas de projeto de Porto Alegre. Thèse, Université Montpellier II.
Chicago, dos Blocos Alternados e Triangular, em TUCCI, C. E. M. (1993) Escoamento Superficial. In:
projetos de drenagem urbana, tende a gerar resul- Tucci, C. E. M. (organizador); Hidrologia - Ciência e
Aplicação. Editora da Universidade. ABRH.
tados conservadores, se comparados à aplicação
VOORHEES, M. L.; WENZEL, H. G. (1984) Urban
de eventos pluviográficos observados ou, até
Design-Storm Sensitivity and Reliability. Journal of
mesmo, do método de Pilgrim & Cordery (que bus- Hydrology, 38, p. 39-60.
ca recriar tais eventos). YEN, B. C.; CHOW, V. T. (1980) Design Hyetographs for
Sugere-se que os efeitos da variação de Small Drainage Structures. Journal of the
outros fatores, como a forma da bacia hidrográfica Hydraulics Division, 106, HY6, p. 1055-76.

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Análise da Aplicabilidade de Padrões de Chuva de Projeto a Porto Alegre

ZAHED F°. K.; MARCELLINI, S. S. (1995) Precipitações Analysis of the Applicability of


Máximas. In: Tucci, C. E. M.; Porto, R. L.; Barros,
M. T. (organizadores); Drenagem Urbana, Coleção Traditional Design-Storm
ABRH de Recursos Hídricos, vol. 5, Editora da Hyetographs to Porto Alegre
Universidade, Porto Alegre.

ABSTRACT

Design rainfall hyetographs are simplified


methodologies used to represent the precipitation
time distribution. They are used as input in rainfall-
runoff simulation models, in order to design hydrau-
lic structures.
The objective of this work is to analyze the
applicability of traditional design rainfall hyeto-
graphs to the city of Porto Alegre, adopting usual
engineering design techniques.
Data sets from two rain-gaging stations
(Aeroporto and 8º DISME) were used to adjust IDF
relations and four different methodologies of design
rainfall hyetographs: Chicago (Keifer & Chu, 1957),
SCS Type II, Triangular (Yen & Chow, 1980) and
Pilgrim & Cordery (1975). Significant differences in
the hyetographs were not observed for the 30 and
60 minutes durations. On the contrary, for longer
durations (120 and 240 minutes), Chicago and SCS
Type II hyetographs presented much higher intensi-
ties.
Runoff was simulated with the well-known
SCS method, using the four different design hyeto-
graphs and also critical observed events for each
selected duration. Gumbel statistical distribution
was adjusted to each peak flow series. Peak dis-
charges determined by the use of design hyeto-
graphs were then compared with discharges
obtained from the statistical adjustment, for 2 and
5-year return periods. Significant differences were
observed. For shorter durations, the discharges
obtained from the selected design hyetographs
showed a small overestimation and sometimes
even an underestimation, confirming the use of the
Rational Method in engineering practice. For longer
durations, however, an overestimation was noted.
This fact was already expected, since the purpose
of the design hyetographs method is to create criti-
cal effects on runoff.

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