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13.

º Congresso da Água

CURVAS IDF PARA A PROVÍNCIA DE CABINDA


Sandra Maria POMBO1; Rodrigo Proença de OLIVEIRA 2
1 - Universidade Lusófona, Campo Grande, 376, 1749 - 024 Lisboa, Portugal.
Aluna de doutoramento do Instituto Superior Técnico e Membro Colaborador do CERIS Investigação e Inovação em
Engenharia Civil para a Sustentabilidade
e-mail:sandra.pombo@netcabo.pt

2 - CERIS Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade, Instituto Superior Técnico (IST).
Avª Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa, Portugal
e-mail: rodrigopoliveira@tecnico.ulisboa.pt

Resumo
O presente trabalho teve por objetivo o estabelecimento de expressões para o cálculo de
precipitações intensas com diferentes durações para a província de Cabinda associadas a
diferentes períodos de retorno. As curvas IDF (intensidade, duração, frequência) foram
estabelecidas tendo por base as séries de precipitação diária máxima anual obtidas nas
estações de monitorização de Cabinda, Landana e Buco Zau, e as estimativas de
precipitação diária máxima anual propostas pelo produto de monitorização remota Tropicall
Rainfall Measuring Mission (TRMM) 3B42. A lei estatística que proporcionou um melhor
ajustamento às séries de precipitação diária máxima anual foi a lei Generalizada de
Extremos (GEV).
As curvas IDF obtidas neste trabalho são, no contexto atual de dados existentes, uma
ferramenta indispensável para a obtenção de precipitações intensas de curta duração tão
importantes para o dimensionamento hidráulico e para um planeamento hídrico e urbano.
Tema: Avaliação, controlo e gestão do risco

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13.º Congresso da Água

1. INTRODUÇÃO
Na ausência de dados hidrométricos, a caracterização das precipitações intensas assume
um papel preponderante na determinação indireta dos caudais de ponta de cheia, uma vez
que, assumindo que o período de retorno associado ao caudal de cheia tem um período de
retorno próximo do da precipitação crítica que lhe dá origem, é possível estimar o
hidrograma de cheia ou o caudal de ponta de cheia a partir da precipitação. A
caracterização do regime de precipitações máximo é assim um passo de base na
quantificação dos fenómenos de cheia e no dimensionamento de obras hidráulicas, como
descarregadores de barragens, obras de regularização fluvial, intervenções de drenagem
urbana, entre outras.
A medição da precipitação em Angola iniciou-se no final do século XIX na estação de João
Capelo, em Luanda. O primeiro grande esforço de criar uma rede udométrica estruturada
data do início da década de 40, quando foram instalados cerca de 83 estações. No final da
década de 40 este número ascendia a 145, em meados da década de 50 contabilizavam-se
271 estações e no final da década de 60 estavam em operação 371 estações. Em 1974
existiam 464 estações com mais de 5 anos de registos completos, mas a guerra que
sucedeu à independência impossibilitou a manutenção desta rede.
A rede existente é da responsabilidade do Instituto de Meteorologia (INAMET) e encontra-se
em reestruturação. Na fase atual apresenta uma rede de estações, que foi designada de
rede mínima, e que inclui um grupo de estações instaladas nas províncias de Benguela,
Luanda, Huambo, Cabinda, Luena e Ondjiva. Face à dimensão do território esta rede é
bastante escassa e os dados de precipitações acessíveis ao público têm, em geral, uma
dimensão temporal bastante curta, o que torna muito difícil e pouco rigorosa qualquer
caracterização do regime de precipitação.
Acresce que os dados relativos às séries históricas estão dispersos e não estão facilmente
acessíveis à maioria dos utilizadores. Apenas dez estações apresentam registos completos
de precipitação diária e são raros os dados com duração inferior à diária. Os registos das
restantes estações do território Angolano, apresentam somente os valores da precipitação
diária máxima anual.
Neste contexto é difícil desenvolver curvas de possibilidade udométrica ou curvas de
intensidade-duração-frequência que permitam calcular os valores da precipitação para
diferentes durações e períodos de retorno.
Este trabalho apresenta uma proposta de relações intensidade-duração-frequência para a
província de Cabinda, calculadas com base nos dados das estações udométricas com mais
de 20 anos de registos e nas relações obtidas entre os valores de precipitação com duração
"d" (Pd) e de precipitação diária máxima (PD), do produto 3B42 do projeto TRMM. O TRMM é
um projeto, desenvolvido em parceria entre a Agência Aeroespacial Norte-americana
(NASA) e a Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), que tem por objetivo a
medição da precipitação tropical e subtropical e a verificação da sua influência no clima
global.
O presente trabalho justifica-se na medida em que não existem relações entre a intensidade,
duração e frequência para a província de Cabinda. A mesma metodologia foi aplicada para
as restantes regiões de Angola, embora os resultados desses estudos não sejam aqui
publicados.

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2. RELAÇÃO ENTRE A PRECIPITAÇÃO, A DURAÇÃO E A FREQUÊNCIA


A precipitação é um fenómeno que possui uma grande variabilidade espacial e temporal. Os
eventos de precipitação intensa, em particular, são bastante específicos de cada região pelo
que o seu estudo exige a análise estatística dos valores históricos da precipitação. A
designação de precipitações intensas está associada à ocorrência de volumes precipitados
significativos, com uma duração, distribuição temporal e distribuição espacial críticas para
uma dada área ou bacia hidrográfica.
O estudo das precipitações máximas é o primeiro passo para determinar o caudal de cheia
numa dada secção de uma rede hidrográfica. Nos estudos expedidos de avaliação do risco
de cheia assume-se que para uma dada intensidade de precipitação, constante e
igualmente distribuída numa bacia hidrográfica, o caudal máximo que pode ocorrer numa
dada secção é atingido a partir de uma duração de precipitação próxima do tempo de
concentração da bacia. Se a intensidade de precipitação se mantiver constante, também o
caudal se mantém sensivelmente constante a partir desse momento. Assim, o
dimensionamento das obras hidráulicas exige o conhecimento da relação entre a
precipitação (ou intensidade de precipitação), a duração e a frequência da precipitação.
Designam-se por curvas IDF (intensidade-frequência-duração) uma família de curvas em
que cada uma relaciona a intensidade média da precipitação num dado intervalo de tempo
com a duração desse intervalo e com a frequência (período de retorno) da precipitação. As
curvas de possibilidade udométrica (CPU) são semelhantes relacionando a precipitação
acumulada com a duração e a frequência. As expressões gerais que traduzem as linhas de
possibilidade udométrica e as curvas IDF são dadas com base nas seguintes expressões:
(1)

(2)
onde P representa a precipitação em mm, t a respetiva duração em min e I, a intensidade
média da precipitação P, em mm/h. Os coeficientes a, b e n são parâmetros das curvas
estabelecidas e são função do período de retorno.
As curvas IDF devem ser deduzidas a partir das observações de precipitação ocorridas
durante um período de tempo suficientemente longo, para que seja possível assumir que as
frequências históricas são uma boa estimativa da probabilidade de ocorrência desses
valores. Os dados de precipitações intensas são obtidos a partir de udogramas, i.e.
diagramas de precipitação acumulada ao longo do tempo produzidos a partir dos registos
dos udógrafos.
Uma vez que em Angola são raros os registos de precipitação máxima com duração inferior
à diária, o uso de dados de monitorização remota para quantificar a precipitação máxima
associada a diferentes durações é extramente útil. Felizmente, existem, atualmente,
produtos de monitorização remota que disponibilizam estimativas de precipitação com
resoluções temporais e espaciais cada vez mais refinadas. Refiram-se, nomeadamente os
produtos TRMM (Huffman et al., 1995, 2007), CMORPH (Joyce et al., 2004) e PERSIANN
(Sorooshian et al., 2000). As estimativas de precipitação do produto TRMM 3B42 estão
disponíveis numa resolução temporal de 3h e uma resolução espacial de 0,25°x0, 25°. Os
produtos PERSIANN e CMORPH apresentam a mesma resolução espacial do TRMM mas a
resolução temporal é de 30 min.

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3. DADOS DE BASE
3.1 O território e o clima de Cabinda
Cabinda é um território costeiro situado na África central, ao sul do Equador, entre as
coordenadas 4° 22’ 30’’ e 5° 48’ de latitude sul e, 12° e 13° 13’ de longitude este. Possui
uma área de 7 132 km² e está limitada ao norte pela República do Congo, a leste e ao sul
pela República Democrática do Congo (Zaire) e a oeste pelo Oceano Atlântico. É uma das
18 províncias da República de Angola e tem como capital a cidade de Cabinda, conhecida
também com o nome de Tchiowa. São quatro os municípios da província de Cabinda:
Cabinda, Cacongo, Buco-Zau e Belize.
A província de Cabinda encontra-se na zona climática equatorial, podendo ser identificados
dois tipos de clima: i) o clima de savana que abrange a área litoral baixa; e ii) o clima tropical
húmido que abrange a área NE da província. Ao longo do ano distinguem-se duas estações.
A estação chuvosa prolonga-se entre novembro e abril (6 meses), no litoral, e entre meados
de outubro a meados de maio (7 meses), no interior. A estação seca ocorre durante os
restantes meses do ano.
A temperatura diária média anual varia entre os 25 e os 30° C. A amplitude da temperatura
média mensal é inferior a 10° C. No mês de março, no litoral, ou no de abril, no interior,
registam-se as temperaturas médias mais elevadas, rondando os 27° C. É na estação seca,
durante os meses de julho e agosto, que se registam as temperaturas mais baixas,
rondando os 21° C.
Os valores da quantidade de pluviosidade vão aumentando do litoral para o interior da
província, acompanhando o aumento de altitude. Na cidade de Cabinda (litoral), onde a
altitude ronda os 20 m, a precipitação anual média é de 791,3 mm, enquanto que no interior,
em Buco-Zau, com altitudes de 350 metros, a precipitação anual média é de 1 258,1 mm.
Em Belize a precipitação anual média atinge os 1 580,5 mm.
Na Figura 1 apresenta-se a distribuição da precipitação mensal ao longo do ano, em termos
médios. Verifica-se que os meses de junho a setembro não apresentam praticamente
precipitação. O mês de março é aquele que apresenta maior precipitação, em termos
médios, em Cabinda e Landana. Em Buco-Zau a maior precipitação ocorre, por regra, em
novembro.

Figura 1. Precipitações mensais médias


(Fonte: Dados colectados pelos autores nos anuários climatológicos)
(valores em mm)

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3.2 Dados das estações climatológicas / estações udométricos


Na província de Cabinda existe uma estação climatológica e duas estações udométricas
com dados de precipitação diária máxima com mais de 20 anos de registos. Na Tabela 1
apresenta-se a localização das referidas estações e o número de anos de cada série. Na
Tabela 2 apresentam-se algumas das propriedades estatísticas das séries de precipitação
diária máxima de cada uma das estações.

Tabela 1. Localização das estações com mais de 20 anos


de dados de precipitações diárias máximas
Coordenadas Número de
Estação
registos de
Climatológica/Udométrica Latitude (°S) Longitude (°E) Altitude (m) Pmáx Diárias
Cabinda 5°33' 12°12' 30 34
Landana 5°13' 12°08' 20 29
Buco-Zau 4°45' 12°32' 350 22

Tabela 2. Parâmetros estatísticos das séries de precipitações diárias máximas.


Dados das estações
Parâmetro / Estação Cabinda Landana Buco-Zau
Média (mm) 83,3 93,9 89,0
Desvio-Padrão (mm) 27,6 43,8 19,7
Coeficiente de variação (-) 0,33 0,47 0,22
Coeficiente de Assimetria (-) 0,837 1,614 0,337
Máximo (mm) 165,3 248,4 128,3
Mínimo (mm) 40,3 18,5 56,0

Apenas para a estação de Cabinda foram encontrados os registos completos de 23 anos de


precipitação diária, a partir dos quais foi possível calcular as estatísticas das séries de
máximos em 48h, 72h, 96h e 120h apresentadas na Tabela 3. Para os restantes 11 anos de
operação da estação de Cabinda e todo o período de operação das outras estações, apenas
se dispõe do registo da precipitação diária máxima anual.
Comparando a Tabela 2 com a Tabela 3, verifica-se que existe um diferencial de 2,5 mm
entre as médias da precipitação diária máxima calculadas, para o período de 34 anos e para
o período de 23 anos. As séries de dados foram sujeitas a testes de homogeneidade de
média (teste t de Student) e de variância (teste F) de forma a verificar se existiam diferenças
significativas entre os dados das duas séries estações. De acordo com os resultados
obtidos, para um nível de significância de 5%, verificou-se que as hipóteses da média e da
variância da precipitação diária máxima anual registada na série com dimensão de 23 anos
ser igual à precipitação diária máxima da série com dimensão de 34 anos, não são
rejeitadas.
Face à grandeza hidrológica em análise e à dimensão das séries, esta diferença é pouco
significativa.

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Tabela 3. Características das séries de precipitações máximas


de Cabinda com durações diária, 48h, 72h, 96h e 120h,
calculadas a partir dos registos de precipitação diária
Parâmetro / Estação Diária 48h 72h 96h 120h
Média (mm) 85,8 97,1 106,3 114,7 124,7
Desvio-Padrão (mm) 28,7 34,7 32,7 33,0 38,9
Coeficiente de variação (-) 0,34 0,36 0,31 0,29 0,31
Coeficiente de Assimetria (-) 0,925 0,603 0,631 0,448 0,350
Máximo (mm) 165,0 181,3 185,5 187,3 197,9
Mínimo (mm) 50,5 54,3 59,9 67,6 70,4

A análise das séries de precipitações máximas associadas às durações de 48h, 72h, 96h e
120h, para a estação de Cabinda, conduz aos rácios médios, calculados pela média dos
rácios entre a precipitação máxima anual associada à duração "d" e a precipitação diária
máxima anual, constantes na Tabela 4.

Tabela 4. Rácios Pd/PD obtidos para a estação de Cabinda


(Pd precipitação máxima anual associada à duração d, PD precipitação diária máxima anual)
Rácios P48h/PD P72h/PD P96h/PD P120h/PD
Cabinda 1,13 1,26 1,36 1,48

3.3 Dados do Produto 3B42 do TRMM


Os dados do produto 3B42, versão 7, produzidos pelo algoritmo TMPA do projeto TRMM
dizem respeito ao período 1998/99-2011/2012 e encontram-se disponíveis numa grelha de
0,25°x0,25°lat/long, com discretização temporal de 3h.
A partir dos dados brutos do produto 3B42, foram calculadas as séries de precipitação
máxima com duração de 3h, 6h, 12h, diária (das 0 UTC de um dia até 0 UTC do dia
seguinte), 24h, 2 dias, 3 dias, 4 dias e 5 dias para cada um dos nós da grelha de dados
adotada pelo TRMM. Com exceção da série de precipitação diária máxima, todos os valores
de precipitação máxima associada a uma duração "d", relativos a cada ano hidrológico,
foram calculados identificando o máximo de precipitação que ocorreu em cada ano
hidrológico e numa janela móvel com a duração temporal "d”.
A conversão das séries de máximos obtidas para cada um dos nós da grelha do TRMM em
séries associadas à localização de cada uma das três estações, foi efetuada recorrendo ao
método IDW (Inverse Distances Weight). O valor em cada estação foi calculado a partir dos
valores dos quatro nós adjacentes da grelha do TRMM, que possui uma resolução de
0,25°x0,25°lat/long.
Na Tabela 5 apresentam-se algumas das propriedades estatísticas das séries de
precipitação diária máxima, obtidas a partir dos dados do produto 3B42 do TRMM, para a
localização de cada uma das estações referidas na Tabela 1 e referentes ao período de
1998/99 a 2011/2012.

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Tabela 5. Parâmetros estatísticos das séries de precipitações diárias máximas.


Dados TRMM
Parâmetro / Estação Cabinda Landana Buco-Zau
Média (mm) 83,9 86,7 82,7
Desvio-Padrão (mm) 28,4 42,1 23,5
Coeficiente de variação (-) 0,34 0,49 0,28
Coeficiente de Assimetria (-) 1,245 3,075 0,883
Máximo (mm) 154,4 224,2 131,1
Mínimo (mm) 55,3 57,2 52,2

Da comparação das Tabelas 2 e 5 verifica-se que os valores obtidos para as várias


estatísticas são bastante similares, em especial para a estação de Cabinda. As séries de
dados foram sujeitas a testes de homogeneidade de média (teste t de Student) e de
variância (teste F) de forma a verificar se existiam diferenças significativas entre os dados
das estações e os dados do TRMM. De acordo com os resultados obtidos, para um nível de
significância de 5%, verificou-se que as hipóteses da média e da variância da precipitação
diária máxima anual registada nas estações ser igual à precipitação diária máxima anual do
TRMM, não são rejeitadas.
Os rácios obtidos entre a precipitação máxima em "d" horas e a precipitação diária máxima
são apresentados na Tabela 6. Refira-se que os rácios apresentados correspondem à média
dos rácios obtidos para cada ano.

Tabela 6. Rácios Pdh/PD


(Pd precipitação máxima em d horas, PD precipitação diária máxima anual)

Rácio / Estação Cabinda Landana Buco-Zau


P3h/PD 0,66 0,73 0,68

P6h/PD 0,85 0,89 0,91

P12h/PD 0,96 1,02 0,99

P24h/PD 1,02 1,07 1,08

P48h/PD 1,15 1,16 1,21

P72h/PD 1,25 1,32 1,34

P96h/PD 1,44 1,39 1,55

P120h/PD 1,47 1,47 1,71

4. RESULTADOS

4.1 Precipitações diárias máximas associadas a diferentes períodos de retorno

As estimativas de precipitação diária máxima anual associadas aos diferentes períodos de


retorno foram obtidas pela lei generalizada de extremos (GEV), uma vez que foi aquela que
apresentou melhor ajustamento, avaliado com base na Figura 2 e pelo teste Filiben. A
Tabela 7 apresenta os valores das precipitações diárias máximas associadas aos períodos
de retorno de 5, 10, 20, 50 e 100 anos.

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Cabinda Landana Buco Zau
180 180 180

160 160 160

140 140 140


Precipitação diária máxima (mm)

Precipitação diária máxima (mm)


Precipitação diária máxima (mm)
120 120 120

100 100 100

80 80 80

60 60 60
Valores Obs. Valores Obs. Valores Obs.
40 Gauss 40 Gauss 40 Gauss
Galton Galton Galton
Gumbel Gumbel Gumbel
20 20 20
Pearson III Pearson III Pearson III
GEV GEV GEV
0 0 0
-3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3
Standard Normal Standard Normal Standard Normal

Figura 2. Ajustamento dos valores de precipitação diária máxima


às várias leis de probabilidade.

Tabela 7. Precipitações diárias máximas para vários períodos de retorno


(valores em mm)

Período de Retorno / Estação Cabinda Landana Buco-Zau


5 anos 101,6 122,4 103,8
10 anos 115,9 143,1 111,5
20 anos 129,1 162,0 117,7
50 anos 145,5 185,3 124,1
100 anos 157,2 201,8 128,0

4.2 Precipitações máximas associadas a diferentes durações e períodos de retorno

As durações frequentemente mais usadas nas estimativas de precipitações extremas variam


entre os 5 min e as 24 horas. Os dados do algoritmo 3B42 do TRMM apresentam um
intervalo de discretização de 3 h, pelo que não é possível, com base nestes dados,
determinar as precipitações com duração inferior a 180 min. Para estas durações
recorreu-se à equação desenvolvida por Bell (1969) (apud Shaw, 1984) que, com base em
dados dos Estados Unidos, da ex-URSS, da Austrália, de Porto Rico, do Alasca e da África
do Sul, desenvolveu relações generalizadas que permitem o cálculo de precipitações
máximas com durações inferiores a 3h, a partir de estimativas da precipitação máxima
horária para o período de retorno de 10 anos. A equação seguinte é representativa de uma
dessas relações e é válida para períodos de retorno entre 2 e 100 anos e para durações da
precipitação entre 5 e 120 min.

(3)

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13.º Congresso da Água

onde representa a precipitação associada à duração t e ao período de retorno T, a


precipitação máxima em 60 min correspondente ao período de retorno de 10 anos.
A precipitação máxima horária foi calculada com recurso à metodologia proposta por
Robaina e Peiter (1992). O método proposto por estes autores supõe que exista uma
expressão que defina matematicamente a relação entre a precipitação com duração t e a
precipitação em 24 h, dada pela seguinte expressão:

(4)
onde
- precipitação associada ao período de retorno T com duração t;
- precipitação máxima média em 24 horas;
- função de desagregação, e
- função do período de retorno.
As funções de desagregação e do período de retorno são obtidas pelas seguintes equações:

(5)

(6)
onde o tempo de duração t é expresso em minutos e o expoente m, função da duração da
precipitação, é obtido por

(7)

A determinação dos parâmetros das linhas de possibilidade udométrica foi feita ajustando-se
a equação geral aos dados pluviométricos, através de uma análise de regressão pelo
método dos mínimos quadrados. Na Figura 3 apresenta-se o referido ajustamento para as
três estações e para os períodos de retorno de 20 e 100 anos.

Cabinda Landana Buco Zau


180 220 160
Precipitação máxima associada à duração "d"
Precipitação máxima associada à duração "d"
Precipitação máxima associada à duração "d"

200 140
160
180
140 120
160
120 140 100
100 120
80
80 100
80 60
60
60 40
40
40
20 20
20
0 0 0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 0 3 6 9 12 15 18 21 24 0 3 6 9 12 15 18 21 24
Duração (horas) Duração (horas) Duração (horas)
Dados pluviométricos, T=20 anos Dados pluviométricos, T=20 anos Dados pluviométricos, T=20 anos
Dados pluviométricos, T=100 anos Dados pluviométricos, T=100 anos Dados pluviométricos, T=100 anos
CPU ajustada, T= 20 anos CPU ajustada, T= 20 anos CPU ajustada, T= 20 anos
CPU ajustada, T= 100 anos CPU ajustada, T= 100 anos CPU ajustada, T= 100 anos

Figura 3. Ajustamento da linha de possibilidade udométrica aos dados


pluviométricos das três estações em análise. Períodos de retorno de 20 e 100 anos.

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Na Tabela 8 apresentam-se os parâmetros das linhas de possibilidade udométrica e na


Tabela 9 as curvas IDF para vários períodos de retorno, estimadas para a estação de
Cabinda.

Tabela 8. Parâmetros a e n da linha de possibilidade udométrica para Cabinda


n
P = a t [P (mm), t (min)]
Período de Retorno (anos)
Duração Parâmetros
5 10 20 50 100
a 6,905 8,077 9,248 10,80 11,97
t  180 min
n 0,432
a 25,01 28,54 31,78 35,80 38,68
180 min < t  24 h
n 0,200
a 15,54 17,73 19,75 22,24 24,03
24 h  t < 5 dias
n 0,254

Tabela 9. Parâmetros a e b das Curvas IDF para Cabinda


b
I = a t [I (mm/h), t (min)]
Período de Retorno (anos)
Duração Parâmetros
5 10 20 50 100
a 414,3 484,6 554,9 647,8 718,1
t  180 min
b -0,568
a 1501 1712 1907 2148 2321
180 min < t  24 h
b -0,800
a 932,3 1064 1185 1335 1442
24 h  t < 5 dias
b -0,746

Na Figura 3 apresentam-se as curvas IDF para Cabinda para os períodos de retorno de 20 e


100 anos para durações de chuvada até 1440 min (24 h).

300 300
T=20anos T=20anos
T=100 anos T=100anos
250 250
Intensidade (mm/h)
Intensidade (mm/h)

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 60 120 180 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Duração (min) Duração (min)

Figura 3. Curvas IDF para Cabinda

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Na Tabela 10 apresentam-se os parâmetros das linhas de possibilidade udométrica e na


Tabela 11 as curvas IDF para vários períodos de retorno, estimadas para a estação de
Landana.

Tabela 10. Parâmetros a e n da linha de possibilidade udométrica para Landana


n
P = a t [P (mm), t (min)]
Período de Retorno (anos)
Duração Parâmetros
5 10 20 50 100
a 8,19 9,58 10,97 12,81 14,20
t  180 min
n 0,432
a 41,45 48,47 54,88 62,75 68,35
180 min < t  24 h
n 0,157
a 28,12 32,88 37,23 42,56 46,36
24 h  t < 5 dias
n 0,208

Tabela 11. Parâmetros a e b das Curvas IDF para Landana


b
I = a t [I (mm/h), t (min)]
Período de Retorno (anos)
Duração Parâmetros
5 10 20 50 100
a 491,5 574,9 658,3 768,6 852,0
t  180 min
b -0,568
a 2487 2908 3293 3765 4101
180 min < t  24 h
b -0,843
a 1687 1973 2234 2554 2781
24 h  t < 5 dias
b -0,792

Na Figura 4 apresentam-se as curvas IDF para Landana para os períodos de retorno de 20


e 100 anos para durações de chuvada até 1440 min (24 h).

350 350
T=20anos T=20anos
300 300
T=100anos T=100anos
Intensidade (mm/h)

Intensidade (mm/h)

250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 60 120 180 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Duração (min) Duração (min)

Figura 4. Curvas IDF para Landana

11
13.º Congresso da Água

Na Tabela 12 apresentam-se os parâmetros das linhas de possibilidade udométrica e na


Tabela 13 as curvas IDF para vários períodos de retorno, estimadas para a estação de Buco
Zau.

Tabela 12. Parâmetros a e n da linha de possibilidade udométrica para Buco Zau


n
P = a t [P (mm), t (min)]
Período de Retorno (anos)
Duração Parâmetros
5 10 20 50 100
a 7,84 9,17 10,50 12,26 13,59
t  180 min
n 0,432
a 29,68 31,91 33,67 35,51 36,63
180 min < t  24 h
n 0,181
a 14,45 15,54 16,40 17,29 17,84
24 h  t < 5 dias
n 0,277

Tabela 13. Parâmetros a e b das Curvas IDF para Buco Zau


b
I = a t [I (mm/h), t (min)]
Período de Retorno (anos)
Duração Parâmetros
5 10 20 50 100
a 470,3 550,1 629,9 735,4 815,2
t  180 min
b -0,568
a 1781 1914 2020 2131 2198
180 min < t  24 h
b -0,819
a 867,3 932,3 983,8 1038 1070
24 h  t < 5 dias
b -0,723

Na Figura 5 apresentam-se as curvas IDF para Buco Zau para os períodos de 20 e 100
anos para durações de chuvada até 1440 min (24 h).

350 350
T=20anos T=20anos
300 300

250 T=100anos 250 T=100anos


Intensidade (mm/h)

Intensidade (mm/h)

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 60 120 180 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Duração (min) Duração (min)

Figura 5. Curvas IDF para Buco Zau

12
13.º Congresso da Água

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As curvas IDF obtidas neste trabalho são, no contexto atual, uma ferramenta indispensável
para a estimativa de precipitações intensas de curta duração tão importantes para o
dimensionamento hidráulico e para um planeamento hídrico e urbano. Contudo, pela
escassez de dados que estiveram na sua base e nas necessárias extrapolações realizadas,
estas curvas deverão ser ajustadas com base em dados medidos em estações, logo que
existam dados suficientes de precipitações máximas com durações inferiores à diária de
forma a minimizar a incerteza associada às metodologias adoptadas.

REFERÊNCIAS
Bell, F. C., 1969. Generalised rainfall-duration-frequency relationships. Proc. ASCE, 95,
HY1,311-327 (Referência consultada em [7]).
Huffman, G.J., Adler, R.F., Bolvin, D.T., Nelkin, E.J. e Kenneth, P. B., 2007. The TRMM
multi-satellite analysis (TMPA): Quasi-global, multiyear, combined-sensor precipitation
estimates at fine scales. Journal of Hydrometeororology, Vol. 8, pp. 38-55.
Huffman, G.J., Adler, R.F., Rudolf, B., Schneider, U. e Kenneth, P.B., 1995. Global
precipitation estimates based on a technique for combining satellite-based estimates, rain
gauge analysis, and NWP model precipitation information. Journal Climate, Vol. 8, pp. 1284-
1295.
Joyce, R.J., Janowiak, J.E., Arkin, P.A. e Xie, P., 2004. CMORPH: A Method that produces
global precipitation estimates from passive microwave and infrared data at high spatial and
temporal resolution. J. Hydrometeorology, Vol.5, pp. 487-503.
Pombo, S. e Oliveira, R., 2012. A utilização de informação de satélite para colmatar a
escassez de dados meteorológicos na avaliação das disponibilidades de água. O caso de
Angola. 11° Congresso da Água, APRH, Porto.
Pombo, S. e Oliveira, R., 2015. Evaluation of extreme precipitation estimates from TRMM in
Angola. Journal of Hydrology, Vol 523, pp. 663-679.
Robaina, A.D.; e Peiter, M.X, 1992. Modelo de desagregação e de geração de chuvas
intensas no RS. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, 21, 1992. pp.746-53.
Serviço Meteorológico, vários anos. Elementos Meteorológicos e Climatológicos. Província
de Angola. Luanda, Imprensa Nacional.
Shaw, E. M., 1984., Hydrology in practice. Third Edition. Van Nostrand Reinhold (UK). Co.
Ltd., England.
Sorooshian, S., Hsu, K., Gao, X. , Gupta, H.V., Imam, B. e Braithwaite, D., 2000. Evolution of
the PERSIANN system satellite-based estimates of tropical rainfall. Bulletin of the American
Meteorology Society, Vol. 81 (9), pp. 2035-2046.

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