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º Congresso da Água
2 - CERIS Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade, Instituto Superior Técnico (IST).
Avª Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa, Portugal
e-mail: rodrigopoliveira@tecnico.ulisboa.pt
Resumo
O presente trabalho teve por objetivo o estabelecimento de expressões para o cálculo de
precipitações intensas com diferentes durações para a província de Cabinda associadas a
diferentes períodos de retorno. As curvas IDF (intensidade, duração, frequência) foram
estabelecidas tendo por base as séries de precipitação diária máxima anual obtidas nas
estações de monitorização de Cabinda, Landana e Buco Zau, e as estimativas de
precipitação diária máxima anual propostas pelo produto de monitorização remota Tropicall
Rainfall Measuring Mission (TRMM) 3B42. A lei estatística que proporcionou um melhor
ajustamento às séries de precipitação diária máxima anual foi a lei Generalizada de
Extremos (GEV).
As curvas IDF obtidas neste trabalho são, no contexto atual de dados existentes, uma
ferramenta indispensável para a obtenção de precipitações intensas de curta duração tão
importantes para o dimensionamento hidráulico e para um planeamento hídrico e urbano.
Tema: Avaliação, controlo e gestão do risco
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1. INTRODUÇÃO
Na ausência de dados hidrométricos, a caracterização das precipitações intensas assume
um papel preponderante na determinação indireta dos caudais de ponta de cheia, uma vez
que, assumindo que o período de retorno associado ao caudal de cheia tem um período de
retorno próximo do da precipitação crítica que lhe dá origem, é possível estimar o
hidrograma de cheia ou o caudal de ponta de cheia a partir da precipitação. A
caracterização do regime de precipitações máximo é assim um passo de base na
quantificação dos fenómenos de cheia e no dimensionamento de obras hidráulicas, como
descarregadores de barragens, obras de regularização fluvial, intervenções de drenagem
urbana, entre outras.
A medição da precipitação em Angola iniciou-se no final do século XIX na estação de João
Capelo, em Luanda. O primeiro grande esforço de criar uma rede udométrica estruturada
data do início da década de 40, quando foram instalados cerca de 83 estações. No final da
década de 40 este número ascendia a 145, em meados da década de 50 contabilizavam-se
271 estações e no final da década de 60 estavam em operação 371 estações. Em 1974
existiam 464 estações com mais de 5 anos de registos completos, mas a guerra que
sucedeu à independência impossibilitou a manutenção desta rede.
A rede existente é da responsabilidade do Instituto de Meteorologia (INAMET) e encontra-se
em reestruturação. Na fase atual apresenta uma rede de estações, que foi designada de
rede mínima, e que inclui um grupo de estações instaladas nas províncias de Benguela,
Luanda, Huambo, Cabinda, Luena e Ondjiva. Face à dimensão do território esta rede é
bastante escassa e os dados de precipitações acessíveis ao público têm, em geral, uma
dimensão temporal bastante curta, o que torna muito difícil e pouco rigorosa qualquer
caracterização do regime de precipitação.
Acresce que os dados relativos às séries históricas estão dispersos e não estão facilmente
acessíveis à maioria dos utilizadores. Apenas dez estações apresentam registos completos
de precipitação diária e são raros os dados com duração inferior à diária. Os registos das
restantes estações do território Angolano, apresentam somente os valores da precipitação
diária máxima anual.
Neste contexto é difícil desenvolver curvas de possibilidade udométrica ou curvas de
intensidade-duração-frequência que permitam calcular os valores da precipitação para
diferentes durações e períodos de retorno.
Este trabalho apresenta uma proposta de relações intensidade-duração-frequência para a
província de Cabinda, calculadas com base nos dados das estações udométricas com mais
de 20 anos de registos e nas relações obtidas entre os valores de precipitação com duração
"d" (Pd) e de precipitação diária máxima (PD), do produto 3B42 do projeto TRMM. O TRMM é
um projeto, desenvolvido em parceria entre a Agência Aeroespacial Norte-americana
(NASA) e a Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), que tem por objetivo a
medição da precipitação tropical e subtropical e a verificação da sua influência no clima
global.
O presente trabalho justifica-se na medida em que não existem relações entre a intensidade,
duração e frequência para a província de Cabinda. A mesma metodologia foi aplicada para
as restantes regiões de Angola, embora os resultados desses estudos não sejam aqui
publicados.
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onde P representa a precipitação em mm, t a respetiva duração em min e I, a intensidade
média da precipitação P, em mm/h. Os coeficientes a, b e n são parâmetros das curvas
estabelecidas e são função do período de retorno.
As curvas IDF devem ser deduzidas a partir das observações de precipitação ocorridas
durante um período de tempo suficientemente longo, para que seja possível assumir que as
frequências históricas são uma boa estimativa da probabilidade de ocorrência desses
valores. Os dados de precipitações intensas são obtidos a partir de udogramas, i.e.
diagramas de precipitação acumulada ao longo do tempo produzidos a partir dos registos
dos udógrafos.
Uma vez que em Angola são raros os registos de precipitação máxima com duração inferior
à diária, o uso de dados de monitorização remota para quantificar a precipitação máxima
associada a diferentes durações é extramente útil. Felizmente, existem, atualmente,
produtos de monitorização remota que disponibilizam estimativas de precipitação com
resoluções temporais e espaciais cada vez mais refinadas. Refiram-se, nomeadamente os
produtos TRMM (Huffman et al., 1995, 2007), CMORPH (Joyce et al., 2004) e PERSIANN
(Sorooshian et al., 2000). As estimativas de precipitação do produto TRMM 3B42 estão
disponíveis numa resolução temporal de 3h e uma resolução espacial de 0,25°x0, 25°. Os
produtos PERSIANN e CMORPH apresentam a mesma resolução espacial do TRMM mas a
resolução temporal é de 30 min.
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3. DADOS DE BASE
3.1 O território e o clima de Cabinda
Cabinda é um território costeiro situado na África central, ao sul do Equador, entre as
coordenadas 4° 22’ 30’’ e 5° 48’ de latitude sul e, 12° e 13° 13’ de longitude este. Possui
uma área de 7 132 km² e está limitada ao norte pela República do Congo, a leste e ao sul
pela República Democrática do Congo (Zaire) e a oeste pelo Oceano Atlântico. É uma das
18 províncias da República de Angola e tem como capital a cidade de Cabinda, conhecida
também com o nome de Tchiowa. São quatro os municípios da província de Cabinda:
Cabinda, Cacongo, Buco-Zau e Belize.
A província de Cabinda encontra-se na zona climática equatorial, podendo ser identificados
dois tipos de clima: i) o clima de savana que abrange a área litoral baixa; e ii) o clima tropical
húmido que abrange a área NE da província. Ao longo do ano distinguem-se duas estações.
A estação chuvosa prolonga-se entre novembro e abril (6 meses), no litoral, e entre meados
de outubro a meados de maio (7 meses), no interior. A estação seca ocorre durante os
restantes meses do ano.
A temperatura diária média anual varia entre os 25 e os 30° C. A amplitude da temperatura
média mensal é inferior a 10° C. No mês de março, no litoral, ou no de abril, no interior,
registam-se as temperaturas médias mais elevadas, rondando os 27° C. É na estação seca,
durante os meses de julho e agosto, que se registam as temperaturas mais baixas,
rondando os 21° C.
Os valores da quantidade de pluviosidade vão aumentando do litoral para o interior da
província, acompanhando o aumento de altitude. Na cidade de Cabinda (litoral), onde a
altitude ronda os 20 m, a precipitação anual média é de 791,3 mm, enquanto que no interior,
em Buco-Zau, com altitudes de 350 metros, a precipitação anual média é de 1 258,1 mm.
Em Belize a precipitação anual média atinge os 1 580,5 mm.
Na Figura 1 apresenta-se a distribuição da precipitação mensal ao longo do ano, em termos
médios. Verifica-se que os meses de junho a setembro não apresentam praticamente
precipitação. O mês de março é aquele que apresenta maior precipitação, em termos
médios, em Cabinda e Landana. Em Buco-Zau a maior precipitação ocorre, por regra, em
novembro.
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A análise das séries de precipitações máximas associadas às durações de 48h, 72h, 96h e
120h, para a estação de Cabinda, conduz aos rácios médios, calculados pela média dos
rácios entre a precipitação máxima anual associada à duração "d" e a precipitação diária
máxima anual, constantes na Tabela 4.
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4. RESULTADOS
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Cabinda Landana Buco Zau
180 180 180
80 80 80
60 60 60
Valores Obs. Valores Obs. Valores Obs.
40 Gauss 40 Gauss 40 Gauss
Galton Galton Galton
Gumbel Gumbel Gumbel
20 20 20
Pearson III Pearson III Pearson III
GEV GEV GEV
0 0 0
-3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3
Standard Normal Standard Normal Standard Normal
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onde
- precipitação associada ao período de retorno T com duração t;
- precipitação máxima média em 24 horas;
- função de desagregação, e
- função do período de retorno.
As funções de desagregação e do período de retorno são obtidas pelas seguintes equações:
(5)
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onde o tempo de duração t é expresso em minutos e o expoente m, função da duração da
precipitação, é obtido por
(7)
A determinação dos parâmetros das linhas de possibilidade udométrica foi feita ajustando-se
a equação geral aos dados pluviométricos, através de uma análise de regressão pelo
método dos mínimos quadrados. Na Figura 3 apresenta-se o referido ajustamento para as
três estações e para os períodos de retorno de 20 e 100 anos.
200 140
160
180
140 120
160
120 140 100
100 120
80
80 100
80 60
60
60 40
40
40
20 20
20
0 0 0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 0 3 6 9 12 15 18 21 24 0 3 6 9 12 15 18 21 24
Duração (horas) Duração (horas) Duração (horas)
Dados pluviométricos, T=20 anos Dados pluviométricos, T=20 anos Dados pluviométricos, T=20 anos
Dados pluviométricos, T=100 anos Dados pluviométricos, T=100 anos Dados pluviométricos, T=100 anos
CPU ajustada, T= 20 anos CPU ajustada, T= 20 anos CPU ajustada, T= 20 anos
CPU ajustada, T= 100 anos CPU ajustada, T= 100 anos CPU ajustada, T= 100 anos
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300 300
T=20anos T=20anos
T=100 anos T=100anos
250 250
Intensidade (mm/h)
Intensidade (mm/h)
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
0 60 120 180 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Duração (min) Duração (min)
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350 350
T=20anos T=20anos
300 300
T=100anos T=100anos
Intensidade (mm/h)
Intensidade (mm/h)
250 250
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
0 60 120 180 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Duração (min) Duração (min)
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Na Figura 5 apresentam-se as curvas IDF para Buco Zau para os períodos de 20 e 100
anos para durações de chuvada até 1440 min (24 h).
350 350
T=20anos T=20anos
300 300
Intensidade (mm/h)
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
0 60 120 180 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Duração (min) Duração (min)
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As curvas IDF obtidas neste trabalho são, no contexto atual, uma ferramenta indispensável
para a estimativa de precipitações intensas de curta duração tão importantes para o
dimensionamento hidráulico e para um planeamento hídrico e urbano. Contudo, pela
escassez de dados que estiveram na sua base e nas necessárias extrapolações realizadas,
estas curvas deverão ser ajustadas com base em dados medidos em estações, logo que
existam dados suficientes de precipitações máximas com durações inferiores à diária de
forma a minimizar a incerteza associada às metodologias adoptadas.
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