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Resumo: Neste trabalho foram obtidas para previsão de chuvas intensas, curvas de Intensidade-Duração-
Frequência-IDF, obtidas a partir de uma base de dados históricos (cerca de 30 anos), estatisticamente tratados.
As curvas IDF relacionam a intensidade máxima das chuvas com sua respectiva duração e período de retorno,
para então definir probabilidade e risco de ocorrência de determinados eventos hidrológicos. Sua utilização é
relevante em obras de engenharia como de drenagem pluvial, determinação de vazões, vertedores de barragens
e canalização de cursos d’água. O presente trabalho apresenta as relações IDF para as cidades de Alta Floresta,
Guarantã do Norte e Sorriso, as quais possuem série de dados históricos maiores de 30 anos e são situadas na
mesorregião norte de Mato Grosso, na mesma microbacia do Rio Teles Pires. Os parâmetros para as equações
IDF obtidos no presente trabalho se apresentaram estatisticamente significativos a um nível de 5% de
significância e analisando-se os hidrogramas unitários para uma bacia de 32 km², estes podem ser separados
em dois grupos: (i) Alta Floresta e Sinop e (ii) Cuiabá, Guarantã do Norte e Sorriso. As vazões de pico do Grupo i
são cerca de 50% maiores do que as do Grupo ii.
Abstract: In this paper were obtained for prediction of intense rainfalls, Intensity-Duration-Frequency-IDF curves,
obtained from a historical database (about 30 years), statistically treated. The IDF curves relate the maximum
intensity of the rainfall with its respective duration and return period, to then define probability and risk of
occurrence of certain hydrological events. Its use is relevant in engineering works such as storm drainage, flow
determination, dam's spillways and canalization of water courses. The present paper presents the IDF relations
for the cities of Alta Floresta, Guarantã do Norte and Sorriso, which have a series of historical data over 30 years
and are located in the northern mesoregion of Mato Grosso, in the same microbasin hydrographic of the Rio
Teles Pires. The parameters for the IDF equations obtained in the present paper were statistically significant at a
5% probability level and the unit hydrographs, analyzed for a 32 km² basin, can be separated into two groups: (i)
Alta Floresta e Sinop and (ii) Cuiabá, Guarantã do Norte and Sorriso. The peak flows of Group i are about 50%
greater than those of Group ii.
necessária.
1 Introdução
É notória a importância de estudos específicos para a
A construção e melhoramento de obras de drenagem, elaboração de projetos de obras hidráulicas. Os dados
prevenção de erosão do solo e determinação de de estações meteorológicas instaladas em várias
vazões de projeto são exemplos de obras de regiões do Brasil são de total relevância, visto que são
engenharia que necessitam de estudo hidrológico a partir do tratamento estatístico desses dados que se
local tendo em vista o monitoramento das máximas de torna viável a elaboração mais precisa de
chuvas. determinados projetos.
A probabilidade de ocorrência de uma chuva é No estado de Mato Grosso, a obtenção de dados que
determinada a partir de uma base de séries históricas caracterizam o comportamento das chuvas é limitada.
que, devidamente tratadas, formam as curvas de Segundo informações dispostas no site da Agência
Intensidade-Duração-Frequência – IDF. As curvas IDF Nacional de Águas – ANA (2016) existe 173 estações
relacionam a intensidade máxima da chuva com a sua com dados de chuvas no estado.
duração e o tempo de retorno (tempo de recorrência)
a partir de séries históricas de postos pluviográficos. A maior parte dos dados disponíveis referentes a
curvas IDF cobrem séries de 15 a 20 anos. No estudo
Quando não há tratamento dos dados hidrológicos da de Oliveira et al (2011), encontraram-se as relações
região através de curvas IDF, costuma-se aplicar IDF para 136 cidades de Mato Grosso, com tempo de
dados estimados empiricamente pela experiência do retorno de 2, 5, 10, 25, 50 e 100 anos, a partir de
próprio engenheiro projetista, ou mesmo basear-se dados de séries históricas com período de 15 anos.
em dados de obras hidráulicas semelhantes Botan e Crispim (2014) obtiveram a curva IDF para o
executadas em regiões mais próximas, o que não município de Sinop-MT abrangendo uma série de 39
demonstra confiabilidade, podendo tanto superestimar anos. O presente trabalho dá continuidade a esses
as condições hídricas quanto não atender a demanda estudos, compreendendo outros municípios.
1
Graduanda em Engenharia Civil, UNEMAT, Sinop, Brasil,
rafaela_mantovani@hotmail.com No presente projeto foi realizado o cálculo das
2
Doutor, Professor Adjunto, UNEMAT, Sinop, Brasil, equações IDF para as cidades de Alta Floresta,
crispim@unemat-net.br Guarantã do Norte e Sorriso, situadas ao norte de
Mato Grosso, e comparação destas entre si e ainda como, Beltrame et al (1991), Damé (2001), Robaina e
com Sinop e Cuiabá. Peiter (1992), Bell (1969), Chen (1983), Hernandez
(1991) e CETESB (1979).
Por conseguinte, foram utilizados dados históricos
maiores de 30 anos objetivando a determinação das De acordo com o Manual de Hidrologia desenvolvido
curvas IDF dos quatro municípios, situados na mesma pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de
sub-bacia do Rio Tapajós, mais precisamente na Transportes – DNIT (2005), quando não existem
Unidade de Planejamento Hídrico – UPH Rio Teles dados pluviográficos disponíveis pode-se
Pires e de Cuiabá, por ser referência para o estado. correlacionar dados de estações pluviométricas, com
o mínimo de 10 anos de observações, a um posto
2 Fundamentação teórica pluviográfico transformando a precipitação de um dia
em uma precipitação equivalente de 24 horas, através
2.1 Curvas IDF do método de desagregação de chuvas utilizando a
Para projetos de obras hidráulicas, tais como sistemas Tabela 1 fornecida pela CETESB (1979), apud
de drenagem, vertedores de barragens, galerias Sampaio (2011).
pluviais, dimensionamento de bueiros, entre outros, é Tabela 1 – Coeficientes de desagregação de chuvas de 24
necessário conhecer as três grandezas que horas
caracterizam as precipitações máximas: intensidade, Relação das durações Coeficientes
duração e frequência (CORDERO, 2013). 5 min/ 30 min 0,34
10 min/ 30 min 0,54
Intensidade, duração e frequência das precipitações 15 min/ 30 min 0,70
são relacionadas nas chamadas curvas IDF obtidas a 25 min/ 30 min 0,91
partir de observações de chuvas intensas durante um 30 min/ 1 hr 0,74
período de tempo suficientemente longo e 1 hr/ 24 hrs 0,42
representativo. Segundo Villela e Mattos (1975), 6 hr/ 24 hrs 0,72
podem ser seguidos dois enfoques alternativos para a 12 hr/ 24 hrs 0,85
análise estatística das séries de chuvas: séries 24 hr/ 1 dia 1,14
parciais ou anuais. Fonte: CETESB (1979) apud Sampaio (2011).
A metodologia das séries parciais é empregada Silveira (2000) obteve a Equação 2 para os
quando o número de anos de registros é menor que coeficientes de desagregação de chuva com base na
12 anos, já a de séries anuais baseia-se na seleção Tabela 1, em que d é a duração em minutos a que se
das maiores precipitações anuais de uma duração refere o coeficiente C24.
escolhida (TUCCI, 2013).
Fixando graficamente os dados das intensidades 1,5ln(lnd⁄7,3)
máximas médias do mesmo período de retorno com C24(d) = e Equação 2
suas respectivas durações, obtém-se uma família de
curvas cujas intensidades decrescem com o aumento Oliveira et al (2011) objetivou seu estudo na obtenção
da duração, para um episódio pluvial isolado (PINTO das relações IDF e do modelo de Bell, utilizando da
et al, 2011). Desta forma, para obtenção da curva IDF metodologia de desagregação de chuvas de 24 horas
faz-se necessária a utilização de uma equação para as observações diárias de 136 estações
empírica a qual relaciona alguns parâmetros para pluviométricas do Estado de Mato Grosso disponível
obtenção da intensidade como, por exemplo, a no banco de dados da ANA, todos com série histórica
Equação 1. de 15 anos. Empregou-se a distribuição de Gumbel
para períodos de retorno de 2, 5 10, 25, 50 e 100
anos e os coeficientes das relações IDF e do modelo
a ∙ Tr b de Bell foram ajustados pelo método dos mínimos
i= Equação 1
(t + c)d quadrados, para todas as estações avaliadas.
No estudo realizado por Santos et al (2009), foram
Em que: determinadas as equações IDF do estado de Mato
i = a intensidade máxima média de precipitação em Grosso do Sul. Foram analisados dados de 109
mm/h; postos pluviométricos, já selecionados por possuírem
t = a duração da chuva em minutos; séries maiores que 15 anos. Esses dados foram
Tr = o tempo de recorrência em anos; submetidos ao método de desagregação de chuvas
a, b, c, d = são parâmetros a serem determinados proposto pelo Departamento de Águas e Energia
para cada localidade em função das precipitações. Elétrica da Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental – DAEE-CETESB/1980, e verificados pelo
2.2 Desagregação de chuvas teste de Kolmogorov-Smirnov para um nível de
significância de 1% relacionados aos dados
A dificuldade na obtenção de equações IDF de chuvas observados na distribuição de Gumbel.
intensas reside na escassez de registros
pluviográficos. Desta forma, podem ser aplicadas Castro, Silva e Silveira (2011), tiveram seu trabalho
metodologias de obtenção de chuvas intensas de relacionado com a determinação da curva IDF para as
durações menores a partir de uma chuva de duração precipitações máximas do município de Cuiabá –MT.
maior, sendo esse procedimento conhecido como Analisando dados pluviométricos de 25 anos, também
coeficiente de desagregação de chuvas (SAMPAIO, utilizaram o método de desagregação de chuvas
2011). fornecido pela DAEE-CETESB/1980 e os coeficientes
de localidade foram ajustados pelo método dos
Sampaio (2011) destaca alguns autores que mínimos quadrados.
desenvolveram metodologias a esse respeito, tais
Para os dados meteorológicos da cidade de Sinop, distribuições contínuas, completamente especificadas,
situada ao norte de Mato Grosso, Botan e Crispim isto é, quando não há parâmetros para estimar
(2014) encontraram a curva IDF também a partir do (PINTO et al, 2011). O uso da análise de regressão
método de desagregação proposto pela linear, do ponto de vista estatístico, consiste em
CETESB/1979 utilizando tempos de retorno de 2, 10 e estabelecer uma relação funcional entre a variável
40 anos. Para garantir a normalidade dos dados, foi dependente Y e a variável independente X,
usado o teste de aderência de Kolmogorov-Smirnov, a verificando se, e como, uma influencia na outra,
um nível de 5% de significância. Desta forma, analisando, portanto, a variância entre as distribuições
observando os resultados dos estudos acima, conclui- (GARCIA e LEITE, 2005).
se que é satisfatório o método de desagregação de
chuvas, tendo em vista que as regiões selecionadas 3 Materiais e métodos
possuíam apenas registros pluviométricos.
3.1 Obtenção dos dados
De maneira geral, as distribuições de valores
extremos das precipitações ajustam-se Os dados obtidos para a análise do presente trabalho
satisfatoriamente à função de Gumbel, também foram retirados do site da Agência Nacional de Águas
conhecida como distribuição de Fisher-Tippett do tipo – ANA (2016), utilizando de suas estações apenas
I (VILLELA E MATTOS, 1975). dados de chuvas.
Conforme DNIT (2005), Gumbel demonstrou que, se o As estações pluviométricas estão todas presentes na
número de vazões máximas anuais tende para o bacia do Rio Amazonas, especificamente na UPH
infinito, a probabilidade P de uma determinada Teles Pires, a qual compõe a sub-bacia do Rio
descarga máxima ser superada é expressa pela Tapajós, conforme mostrado na Figura 1.
Equação 3.
YTr
P = 1 − e−e Equação 3
Em que:
P = probabilidade de um valor extremo da série ser
maior ou igual ao de um determinado evento;
YTr = variável reduzida.
A aplicação da Equação 4 resultou em uma equação Nota-se na Figura 5 a semelhança entre os resultados
de regressão linear, para cada estação, do município de Alta Floresta, enquanto que na Figura
representadas na Tabela 5, juntamente com seu 6, para Guarantã do Norte, os resultados de Oliveira
respectivo coeficiente de determinação R². et al (2011) se mostraram maiores, com vazão de pico
cerca de 34% maior. Na Figura 7, para Sorriso,
Tabela 6 – Coeficientes de regressão linear para as estações percebeu-se uma diferença significativa entre os
pluviométricas analisadas. resultados deste trabalho com os de Oliveira et al
Cidades β0 β1 R² (2011), sendo a vazão de pico deste maior na ordem
Alta Floresta 87,057 27,797 0,9859 de 300%.
Guarantã do Norte 87,86 15,352 0,9721
Sorriso 72,78 24,006 0,9760
Fonte: Os Autores (2016).
150
200
100
q (m³/s)
150
50
0 100
0 200 400 600
t (min) 50
Guarantã do Norte 0
Guarantã do Norte (Oliveira et al, 2011) 0 200 400 600
t (min)
Figura 6 - Hidrograma unitário sintético com comparação de Sorriso
curvas do município de Guarantã do Norte. Fonte: Os
Autores (2016). Sorriso (sem correção 33)
Sorriso (sem correção 15)
250 Sorriso (Oliveira et al, 2011)
150
Pelo que se observa na Figura 8, o resultado de
100 Sorriso com 15 anos de dados e sem a correção de
precipitação máxima, mostrou-se muito próximo ao de
50 Oliveira et al (2011), o que sugere que o dado
incorreto alterou significativamente os parâmetros
0 obtidos por aqueles autores.
0 200 400 600
Comparando entre si os três resultados deste trabalho
t (min)
juntamente com o do município de Sinop, obtido por
Sorriso Sorriso (Oliveira et al, 2011) Botan e Crispim (2014) e o de Cuiabá obtido por
Denardin e Freitas (1982, apud Pluvio 2.1, 2006),
Figura 7 - Hidrograma unitário sintético com comparação de
obteve-se o hidrograma da Figura 9.
curvas do município de Sorriso. Fonte: Os Autores (2016). Percebe-se que, para esta bacia, os hidrogramas
podem ser separados em dois grupos: (i) Alta Floresta
Analisando a série retirada do banco de dados da e Sinop e (ii) Cuiabá, Guarantã do Norte e Sorriso. As
ANA (2016), percebeu-se uma leitura discrepante nos vazões de pico do Grupo i são cerca de 50% maiores
dados da Estação Teles Pires, a qual no dia 20 de do que as do Grupo ii.
dezembro de 2001 possuía uma precipitação de
415,8 mm, que é muito maior do que a segunda mais
alta dos 33 anos (146,2 mm).
Notou-se na série, que ao nível de consistência 1
(dados originais) existe o valor de 415,8 mm, já ao
nível de consistência 2 (dados corrigidos pela ANA),
encontra-se o valor de 45,8 mm. Portanto, para o
presente trabalho, esta leitura específica foi ajustada,
contudo, ao que tudo indica, no trabalho de Oliveira et
735,80 ∙ Tr 0,22
250 i= Equação 17
(t + 10,70)0,74
200
Também pode-se concluir que os hidrogramas
150
q (m³/s)