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Monitoramento de fumaça preta

Emissões atmosféricas são um dos aspectos ambientais mais negligenciados quanto ao


controle, pois muitas vezes são de difícil detecção e seus impactos associados nem sempre
são imediatamente perceptíveis. Porém, os efeitos de um ar impuro ao organismo podem ser
catastróficos. Neste artigo vamos falar sobre o monitoramento de fumaça preta, por que e
como realizá-lo.
POR QUE MONITORAR A FUMAÇA PRETA?

A fumaça emitida por um veículo ou equipamento é o resultado da combustão do


combustível no motor, ou seja, da reação do combustível com o oxigênio. Quando esta
queima é completa, formam-se gás carbônico e água, que sairão pelo escapamento em
forma de fumaça incolor.

Porém, quando há pouca entrada de oxigênio no motor, a combustão se torna incompleta,


há perda de rendimento e formam-se monóxido de carbono (extremamente tóxico) ou
carbono puro (fuligem), que acaba por escurecer a fumaça do veículo.

Resumindo, a fumaça preta é sinal de que o veículo ou equipamento está com


problemas.

E, não menos importante, o monitoramento de fumaça preta contribui para a


conservação do meio ambiente. Leia o artigo até o final e veja algumas curiosidades sobre
a qualidade do ar respirável.

MAS... HÁ EXIGÊNCIA LEGAL?

A exigência do monitoramento de fumaça preta na esfera federal é um tanto vaga.

Dois instrumentos legais são referenciados neste âmbito para o assunto: a Portaria MINTER
n° 100, de 14 de julho de 1980 e a Portaria IBAMA n°85, de 17 de outubro de 1996.

A Portaria do MINTER (Ministério do Interior) é bem específica quanto à obrigatoriedade do


monitoramento. Porém, o MINTER foi extinto em 1990; a Portaria não foi revogada; e a
SEMA (Secretaria Especial do Meio Ambiente) referenciada na Portaria para estabelecer os
procedimentos para sua aplicação, foi fundida com outros órgãos em 1989 para a criação do
IBAMA.

Logo, a Portaria IBAMA n°85/96 seria o instrumento de controle. Esta Portaria surgiu
justamente desta necessidade de controle de frotas de veículos movidos a diesel. Porém, de
acordo com a coordenação do PROCONVE (Programa de Controle de Poluição do Ar por
Veículos Automotores), o IBAMA não possui a infraestrutura necessária para fiscalizar o
Programa. Ou seja, esta Portaria não está sendo exigida e nem fiscalizada pelo IBAMA.

Portanto, não há sanções por parte do IBAMA relacionadas à emissão de fumaça preta


por veículos.

O fato é que a portaria não foi revogada e acabou se tornando referência (e,
consequentemente, um requisito) para o desenvolvimento de um Programa Interno de
Autofiscalização da Correta Manutenção da Frota de empresas que buscam certificação
ambiental.

Assim sendo, não existe um plano de manutenção especificado pelo IBAMA, mas empresas
que pretendem adquirir ou manter a certificação ambiental devem desenvolver e executar
seu próprio plano, com base nas diretrizes estabelecidas pela Portaria IBAMA nº 85/96.

Apesar do exposto, é importante ressaltar que há instrumentos legais específicos na


esfera municipal e os órgãos ambientais dos municípios (ou outros órgão conveniados,
como polícia e órgão de trânsito) podem realizar fiscalização nas vias públicas e emitir
multas.

POR QUE SÓ SE REALIZA O MONITORAMENTO EM VEÍCULOS MOVIDOS A DIESEL?

A combustão do diesel libera grande quantidade de material particulado (MP), quantidade


muito mais significativa e danosa à saúde do que a liberada pela queima de outros
combustíveis. Por essa razão, considera-se significativo realizar o monitoramento de
fumaça preta apenas em veículos e equipamentos movidos a diesel.

COMO PROCEDER?

De acordo com a Portaria IBAMA n°85/96:

“Art. 1º - Toda Empresa que possuir frota própria de transporte de carga ou de passageiro,
cujos veículos sejam movidos a óleo Diesel, deverão criar e adotar um Programa Interno de
Autofiscalização da Correta Manutenção da Frota quanto a Emissão de Fumaça Preta (...);”
Sem nos atermos à palavra “frota” (quantos elementos há em uma frota???), é aconselhável
o monitoramento sempre que se possua qualquer equipamento movido a Diesel, nem que
seja apenas um. Em uma auditoria de certificação, isto conta muito.

Perceba que neste artigo estamos constantemente nos referindo a “veículos e


equipamentos”. Isto porque, como o objetivo é monitorar as emissões relacionadas à
queima do diesel, temos que nos lembrar de que existem muitos equipamentos movidos a
diesel (como torres de iluminação, geradores, dentre outros). Por isso, é essencial realizar o
monitoramento também nestes equipamentos.

Como dito, a Portaria atualmente serve apenas como referência para empresas que desejam
se certificar. Então, a criação de um “Programa Interno de Autofiscalização da Correta
Manutenção da Frota quanto a Emissão de Fumaça Preta” não é necessária. É claro que,
se a empresa desejar implementar o Programa, isto será muito bem visto. Mas, o
que normalmente é verificado em auditorias, é se a empresa monitora suas emissões, e se
atende aos limites estabelecidos na Portaria.

Portanto, o que sugerimos é a elaboração de um Procedimento que descreva como é


realizado o monitoramento da fumaça preta dentro da empresa (metodologia, periodicidade,
limites de emissão, etc) e a aplicação dele.

LIMITES

De acordo com a Portaria IBAMA n°85/96, os limites de emissão de fumaça preta permitidos
são:

- menor ou igual ao padrão nº 2 (40%) da Escala de Ringelmann, quando medidos em


localidades situadas até 500m de altitude;

- menor ou igual do que o padrão nº 3 (60%) da Escala de Ringelmann, quando medidos


em localidades situadas acima de 500m de altitude; caso o veículo tenha circulação
restrita a centros urbanos, deve apresentar resultado menor ou igual ao padrão n° 2
(40%).

Uma vez observados equipamentos ou veículos com resultados acima dos permitidos por lei,
os mesmos devem ser encaminhados à manutenção.

Após a manutenção, deve ser realizado um novo monitoramento do equipamento ou veículo,


sendo devidamente ser registrado.

 
"NÃO PRECISO ME PREOCUPAR, POIS TERCEIRIZO O SERVIÇO"

Cuidado. Toda empresa contratante de serviços de transporte de carga ou de passageiro


é co-responsável pela correta manutenção dos veículos contratados.

Então, se você não possui veículos ou equipamentos próprios, mas alugados ou


terceirizados, você deve realizar o monitoramento, ou cobrar sua realização pela
contratada.

COMO REALIZAR O MONITORAMENTO DE FUMAÇA PRETA?

A Portaria IBAMA n°85/96 orienta que a medição seja realizada através da Escala de
Ringelmann. Vamos apresentar duas formas para realizar este monitoramento.

 
Escala de Ringelmann

Com o
veículo
parado,
em
“ponto
morto” e
o pedal
de

embreagem não pressionado, o acelerador deverá ser pressionado rapidamente até o final
do seu curso. Esta posição deve ser mantida por aproximadamente 5 segundos. Isto fará
com que a fumaça seja lançada pelo escapamento.

O observador deve segurar a Escala de Ringelmann com o braço esticado e avaliar o grau
de enegrecimento da fumaça através do orifício da escala, comparando-o com os tons
impressos.

Obtido o valor, o acelerador deve ser aliviado, até que o motor retorne à velocidade angular
de marcha lenta.
A sequência acima deve ser repetida por dez vezes, sendo que o período de marcha lenta
não deve ser inferior a 2 e nem superior a 10 segundos.

A partir da quarta aceleração, os valores observados devem ser registrados em uma tabela,
a qual deverá ser assinada e arquivada como evidência. Ela pode ser baixada neste link.
Apresentamos abaixo um exemplo de preenchimento:

O resultado final será a moda (o valor mais frequente) dentro das sete observações.

Como visto, o método exige 10 medições seguidas. Mas o bom senso deve sempre
prevalecer. Equipamentos novos normalmente possuem emissões praticamente incolores.
Então, se na terceira aceleração não for constatada nenhuma alteração na fumaça, não é
necessário efetuar todas as medições. Tenha bom senso e otimize seu tempo. Mas não
confunda bom senso com gambiarra. Faça o trabalho corretamente! Caso note alterações,
efetue as medições conforme o procedimento.

 
Opacímetro

O opacímetro é um equipamento eletrônico que permite, por meio de um feixe de luz, avaliar
a densidade da fumaça, coletada por meio de uma sonda introduzida no tubo de
escapamento, em um compartimento fechado.

Como cada equipamento possui formas de operação específicas, recomenda-se a leitura do


manual para realizar o monitoramento da fumaça preta.

NOSSA RECOMENDAÇÃO

Segundo a NBR 6016:2015:

“2.3 Escala de Ringelmann reduzida

Escala gráfica para avaliação colorimétrica visual , constituída de um cartão  com


tonalidades de cinza correspondentes aos padrões 1 a 5 da escala de Ringelmann,
impressas com tinta preta sobre fundo branco fosco e em reticulado de tamanho
suficientemente pequeno, de modo a serem vistas com coloração uniforme à distância de
40cm.

NOTA Com um reticulado de 55 pontos/cm consegue-se este efeito.

Tabela 1 – Características da escala de Ringelmann

Padrão Ringelmann 0 1 2 3 4
Densidade colorimétrica (%) 0 20 40 60 80
Espessura das linhas (mm) (branco) 1,0 2,3 3,7 5,5

Como você pode perceber, a escala é baseada em tonalidades. É importante que ela seja
composta pelas cores corretas, para que não sejam realizadas medições imprecisas.
Portanto, não é recomendável que a escala seja impressa em impressoras e papéis comuns,
pois a tonalidade do papel e a qualidade da impressão alteram a coloração.

No Brasil, as escalas podem ser adquiridas pelo site da CETESB (link abaixo). NÃO é
recomendado que as escalas sejam plastificadas, pelo mesmo motivo anteriormente descrito.

O opacímetro oferece grande precisão e operação relativamente simples e rápida. O


problema é que o valor de um opacímetro é muito alto para muitos casos, principalmente
para empresas que não possuem frotas muito grandes.

Por isso, nossa recomendação é o uso das escalas de Ringelmann para frotas menores.
Para o caso de frotas maiores, se a empresa tiver recursos para investir, o melhor é adquirir
o opacímetro.

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melhorarmos nosso conteúdo cada vez mais.

OPA! O conteúdo acabou, mas a seguir apresentamos algumas curiosidades sobre o


assunto. Caso se interesse, continue lendo!

Você conhece o projeto World Air Quality Index? Este projeto tem como objetivo promover a
conscientização sobre a poluição do ar e prover informação unificada sobre a qualidade do
ar, em tempo real, pelos sites: https://aqicn.org e https://waqi.info.

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