Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
A proposta compartilhada diz respeito à promoção de roteiro pedagógico baseado em um espaço não-formal de
ensino, a saber, o Museu Hugo Simões Lagranha, localizado em Canoas/RS. A partir do acompanhamento da
exposição pictórica Ricardo Schulz: paisagens familiares, realizada no museu, o projeto tem o intuito de iluminar
aspectos sobre um período pouco conhecido da história do Município – seu uso como um destino para veraneio
no limiar do século XIX para o XX – diante às referências mais populares, de cidade-dormitório e cidade-industrial.
Nesse sentido, o estudo se justifica devido à carência de disseminação do patrimônio histórico local, tendo em
vista que Canoas teve seus primeiros bens tombados apenas no ano 2009. A obra de Ricardo Schulz, sob guarda
do Museu municipal, em cruzamento com a visitação in-loco de alguns dos locais retratados nas pinturas, oferece
uma profícua oportunidade para a problematização de aspectos relacionados à história da cidade, tais como sua
relação com a ferrovia. Além da antiga estação de trem, retratada na pintura, compõem o roteiro pedagógico outras
edificações arroladas como patrimônio, como a mansão Vila Mimosa e a Casa Wittrock, localizados no centro
histórico de Canoas. Destaca-se a importância do uso de locais não-formais de ensino para a diversificação do
ensino relacionado ao patrimônio e à história local.
Palavras-chave: Patrimônio Cultural; Espaços Não-formais de Ensino; História de Canoas/RS.
ABSTRACT
The proposal concerns of the promotion of a pedagogical itinerary based on an out-of-school space called Hugo
Simões Lagranha Museum, located in Canoas city, Rio Grande do Sul. From the pictorial exhibition Ricardo
Schulz: familiar landscapes, held in the museum, the project aims to enlighten aspects about a non-famous period
of the history of the city – when it used to be a summer destination on the threshold of the XX century - before the
well-known references, city-dormitory and city-industrial. In this way, the research is justified in view of the lack
of dissemination of the local historical heritage, considering that Canoas city had its first heritages listed only in
2009. The work of Ricardo Schulz under guard of the Municipal Museum crossing with the visitation of some of
the places depicted in the paintings offers a profitable opportunity to the problematization of aspects related to the
city's history, such as its relation with the railroad. In addition to the old train station, depicted in the painting, the
pedagogic itinerary compiles other buildings listed as heritage, such as Vila Mimosa mansion and Wittrock’s
House, located in the down town. We highlighted the importance of the use of non-formal educational sites for the
diversification of teaching related to heritage and local history.
Keywords: Cultural Heritage; non-formal learning spaces; history of Canoas city
Introdução
O presente texto é referente a um projeto em desenvolvimento que diz respeito à
promoção de um roteiro pedagógico baseado em um espaço não-formal de ensino, o museu
Hugo Simões Lagranha, localizado no Parque dos Rosa na cidade de Canoas/RS. Foi pensado
a partir de uma experiência de estágio obrigatório, por meio do qual foi possível o
acompanhamento da exposição pictórica Ricardo Schulz: Paisagens Familiares, realizada no
museu citado durante os meses de maio e junho de 2017.
A partir da exposição Paisagens Familiares, vislumbrou-se um roteiro pedagógico que
procurou iluminar aspectos sobre um período pouco conhecido da história de Canoas – seu uso
como um destino para veraneio no limiar do século XIX para o XX – ante às referências mais
populares, de cidade-dormitório e cidade-industrial. O estudo se justifica diante da carência de
disseminação do patrimônio histórico local, tendo em vista que Canoas teve seus primeiros bens
tombados apenas no ano de 2009.
Nesse sentido, o texto tem a intenção de relatar os objetivos do roteiro proposto. Para
isso, está dividido da seguinte forma: em um primeiro momento, se apresenta a justificativa,
ligada à história de Canoas e a promoção do quesito patrimonial na cidade por meio de um
espaço informal de ensino. A seguir, a exposição em foco é detalhada, bem como a biografia do
artista. Sequencialmente, são compartilhados os locais sugeridos para visitação no roteiro, que
incluem, além do próprio Museu que abriga da exposição, as seguintes instituições: antiga
estação ferroviária, Vila Mimosa e a Casa Wittrock. Complementarmente, são expostos alguns
aportes teóricos e algumas inferências finais sobre o projeto em desenvolvimento.
Vila Mimosa
Propriedade de Frederico Ludwig e Arminda Genuína Kessler, a chamada Dona Mimosa
- a qual deu nome à edificação, refere-se a uma mansão localizada no centro da cidade de
Canoas. Por meio da pesquisa de Viegas (2011) é possível conhecer um pouco da trajetória da
família narrada por Oswaldo Ludwig. Por volta de 1890, a família adquiriu uma chácara perto
da estação férrea, para fins de veraneio e que veio a se tornar residência fixa em 1905, onde
veio a se instalar um pequeno armazém. A partir do depoimento de Oswaldo Ludwig, pode-se
conhecer além do período de veraneio de Canoas mas, também, a instalação definitiva de
grandes famílias na região mais próxima à estação ferroviária, e que a partir dessa instalação
dão início a expansão do povoado que mais tarde se tornaria o Município de Canoas.
A partir de todos esses movimentos pelo desenvolvimento e urbanização de Canoas
articulados pela família Ludwig, a Vila Mimosa tornou-se um monumento histórico-cultural
simbólico para o Município. Foi através desse reconhecimento que no ano de 2007 fez-se um
parecer técnico que tinha como objetivo mostrar a importância da edificação e de sua
preservação para a história da cidade. Apesar do parecer técnico, no ano de 2008 o terreno e a
edificação foram passados pela prefeitura de Canoas para uma empreiteira que tinha como
objetivo a construção de um condomínio vertical no local.
A fim de impedir o projeto de demolição da casa, tomaram-se provisões. Contudo,
somente depois de um longo embate judicial, é que, no ano de 2009 , a empreiteira transferiu
um lote para a prefeitura para que se dê a preservação do monumento e da flora relacionada à
edificação: “Assim, a casa transformou-se em Casa das Artes Vila Mimosa e Canoas ganhou
seu primeiro imóvel tombado e seu primeiro equipamento cultural multiuso” (GRAEBIN,
GRAEFF E GRACIANO, 2014, p.15).
A Casa Wittrock
A família Wittrock veio a se estabelecer em Canoas no ano de 1812, quando Jorge
Gothel Henrique Wittrock, o patriarca da família, já se encontrava no Capão das Canoas antes
mesmo da inauguração de sua Estação Férrea. Como descreve João Palma da Silva (1978, p.30):
“Jorge Gothel Henrique Wittrock comprou uma grande área de terra também defronte à Estação,
[...] na qual em seguida construiu um grande prédio de alvenaria, térreo, com sótão habitável”.
A família se estabeleceu para uso de descanso e fundou o Garten Reustaurant und Hotel, ao
qual inúmeras pessoas vinham conhecer e acabavam se estabelecendo, acelerando a
urbanização e a economia do Capão das Canoas.
A relação da família com Antiga Estação Ferroviária, entretanto, não para por aí. Ernesto
Wittrock foi nomeado, em 20 de abril de 1894, agente local, sendo responsável pala direção da
Viação Férrea dos trens adicionais entre Canoas e Porto Alegre. Ernesto possuiu um papel
indispensável no andamento da linha férrea, sua manutenção e desenvolvimento, tendo
inaugurado no ano de 1914 a fábrica de cadeiras Silveira & Wittrock. Walter Galvani, em
entrevista ao projeto Canoas- Para lembrar quem somos, narrou um pouco dessa trajetória.
Eram a sociedade Silveira e Wittrock que produzia cadeiras de palinha. Eram cadeiras
com assento e o encosto de palinhas traçada. Essas cadeiras eram exportadas para todos pais.
Saíam seus carregamentos pela Viação Férrea, da estação central de canoas, onde hoje está
situada a fundação cultural Canoas. (PENNA, 2004, p.99)
Por conta desses elementos, a casa que abrigou a família foi tombada no ano de 2010 .
Apesar disso, atualmente não está sendo utilizada para fins culturais pelo poder público
municipal.
Figura 1: proposta de roteiro para visitação das edificações do projeto, a partir do Museu Hugo Simões
Lagranha, que abriga o quadro “A Estação”.
Fonte: elaboração da autora a partir do Google Maps.
Considerações finais
Considerou-se que a obra de Ricardo Schulz, sob guarda do Museu municipal, em
cruzamento com a visitação in-loco de alguns dos locais retratados nas pinturas oferece uma
profícua oportunidade para a problematização de aspectos relacionados à história da cidade,
tais como sua relação com a ferrovia, pouco explorada pela historiografia e problematizada nas
escolas locais de Canoas.
Destacou-se, a partir da proposta do projeto, a importância do uso de locais não-formais
de ensino para a diversificação do ensino relacionado ao patrimônio e à história local. O projeto
vem como propósito de, justamente, tentar amenizar a ausência do ensino da história local nas
instituições escolares do município e buscar a contextualização dos patrimônios em foco. Ainda
que as edificações em foco se refiram a um passado da cidade ligado às famílias socialmente
privilegiadas, considera-se a dinâmica na qual o desenvolvimento territorial de Canoas está
envolto.
Acredita-se que o ensino de história, assim como qualquer outra disciplina pode ser
eficaz quando tratado fora da sala de aula, principalmente ao se trabalhar patrimônio, é
indispensável o uso de recursos didáticos que estão fora dos espaços tradicionais. O educador,
ao sair da sala de aula para fazer utilização dos ditos espaços informais de ensino, proporciona
aos alunos uma ampliação de sua visão de mundo e da relação de ensino-aprendizagem, fazendo
com que os alunos busquem por sua identidade e leitura própria do passado e do presente da
cidade, criando-se, assim, aprendizagens significativas no que que tange à cidadania e ao
reconhecimento e uso do espaço público urbano.
Referências
CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Unesp. 2016.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas
colegiadas nas escolas do Rio de Janeiro. ENSAIO: AVAL. POL. PÚBL. EDUC., RIO DE
JANEIRO, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006.
GRAEBIN, Cleusa M. G.; GRAEFF, Lucas; GRACIANO, Sandra S. De residência da família
Ludwig à casa das artes: trajetória do primeiro patrimônio tombado de Canoas (RS). Revista
Memória em Rede, Pelotas, v.4, n.10, jan-jun., 2014.
KARAWEJCSZK, Tamara C. Aprendendo e inovando com os outros no local de trabalho: a
inserção das comunidades de práticas e da aprendizagem informal na gestão do patrimônio
artístico. IN: BERND, Zilá; WEBER, Nádia. Patrimônio Artístico: Caminhos, Memórias e
Preservação. Canoas: Unilasalle, 2012.
MONTEIRO, Charles. Porto Alegre: Urbanização e Modernidade: a construção social do
espaço urbano. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
PFEIL, Antonio Jesus. Canoas: anatomia de uma cidade. Canoas: Ed. Ponto e Vírgula
Assessoria de Comunicação Ltda, 1992, v.01.
PENNA, R.; CORBELLINI, D.; GAYESKI, M. (org.). Canoas para lembrar quem somos –
Centro. 2ª. Ed. Canoas: Ed. La Salle, 2004. V. 3.
ROSA, Alexandre Rafael da. Ricardo Schulz: O Poeta das cores. Canoas: Tecnocópias, 2009.
SILVA, João Palma da. Pequena História de Canoas: cronologia. Canoas: Ed. La Salle, 1978.
VIEGAS, Danielle Heberle. Entre o(s) passado(s) e o(s) futuro(s) da cidade: um estudo sobre
a urbanização de Canoas/RS (1929-1959). Programa de Pós-Graduação em História, PUCRS.
Porto Alegre, 2011.