Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LÍNGUA ESPANHOLA
Aline Bizello
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-495-3
CDU 811.134.3’367
Introdução
Você já pensou no que significa estudar o funcionamento de uma língua?
Trata-se de estudá-la de forma objetiva, estruturada e reflexiva. Para tanto,
é preciso observar dados, detectar regularidades, formular generalizações.
Dessa forma, pode-se superar a memorização em prol da compreensão
e da atitude investigativa.
Neste capítulo, você vai estudar o funcionamento da língua espanhola
a partir das relações sintagmáticas e paradigmáticas, da diferenciação
entre oração e frase e das diferenças sintáticas entre o português e o
espanhol.
Oração e frase
O par linguístico estudado por Saussure — paradigma e sintagma — sintetiza os
processos de seleção e combinação realizados na comunicação. Esses processos
representam a transmissão do significado de acordo com o que o sistema da
língua estabelece. Dessa forma, relacionam-se às definições de oração e frase.
Para Faraco, Moura e Maruxo (2016), a oração se caracteriza pela presença
de um verbo e pode ter sentido completo ou não. Já a frase é uma palavra ou
um conjunto de palavras que tem sentido completo. De acordo com a Real
Academia Española (2010), as orações são unidades mínimas de predicação,
ou seja, segmentos que põem em relação um sujeito com um predicado. Veja:
1ª oração:
Sujeito: Yo
Objeto direto: Pedro
2ª oração:
Sujeito: Yo
Predicativo: una niña
A oração 1, embora comece com letra maiúscula, não termina com ponto; a
oração 2 não começa com letra maiúscula nem termina com ponto; a oração 3,
embora termine com ponto, não começa com letra maiúscula. Portanto, o ele-
mento fundamental para a ocorrência da oração é o verbo. Analise os seguintes
enunciados:
¡Silencio!
¡Fuego!
Note que nenhum deles apresenta verbo; logo, não são orações. Entretanto,
ambos têm características comuns: começam com letra maiúscula, terminam
com ponto e têm sentido. Essas são as três condições para que um enunciado
seja considerado uma frase.
Funcionamento da língua espanhola 215
Entretanto, enunciados com verbo também podem ser frases, desde que
as condições descritas anteriormente sejam satisfeitas. Veja:
Note que nenhuma das três orações pode, sozinha, ser considerada uma frase.
Apenas a união das três forma um todo coerente que pode ser chamado assim.
Tanto a concretização do sentido da frase quanto a organização dos termos
da oração são fundamentais para identificá-las; porém, a análise do discurso
pode expandir essas características. O enunciado El coche no podia conducir
pode ser tratado como frase (por ter sentido) e oração (porque as informações
giram em torno de um verbo), se considerarmos que há um sujeito oculto (él)
que já teria sido mencionado antes.
Entretanto, se o enunciado for a reprodução de uma situação coloquial,
pode-se imaginar que houve uma construção desordenada que, originalmente,
seria: (?) no pódia conducir el coche. Nesse caso, a ausência do sujeito com-
promete a classificação do enunciado em oração, e a reordenação dos termos
gera uma confusão que tira a garantia de sentido da frase.
Evidencia-se assim a relação entre sintaxe e discurso. Como o início da
oração é tópico (introduz a ideia central a ser desenvolvida), este é interpretado
como direcionamento do discurso, pois orienta o ouvinte para a construção
do significado do enunciado. A abrangência do tópico, então, envolve tanto
a frase quanto o discurso, porque o tópico mantém com a oração o seu papel
ativo na estrutura sintático-semântica dela (RIZZI, 1997).
216 Funcionamento da língua espanhola
A maior parte das diferenças está nas construções com verbo e pronome.
No espanhol, usam-se pronomes oblíquos em início de frase. Veja:
Vi João ontem.
Vi a Juan ayer.
Vi-o ontem.
Lo vi a él ayer.
Note que, em espanhol, usam-se dois pronomes (lo e él). Para García Yebra
(1989), o espanhol é a língua românica mais inclinada ao uso anteposto do
complemento e à sua reiteração mediante um pronome. Em português, usa-
-se apenas o oblíquo o. Além disso, nesse exemplo, há diferenças quanto à
colocação pronominal. Entretanto, a diferença entre as línguas torna-se maior
quando se analisa a construção informal do português brasileiro:
Vi ele ontem.
218 Funcionamento da língua espanhola
https://goo.gl/mMEKbm
Funcionamento da língua espanhola 219
FARACO, C.; MOURA, F.; MARUXO, M. Gramática nova. São Paulo: Ática, 2016.
GARCÍA YEBRA, V. Teoría y práctica de la traducción. Madrid: Gredos, 1989.
REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Nueva gramática de la lengua española. Barcelona: Es-
pasa, 2010.
RIZZI, L. The fine structures of left periphery. In: HAEGEMAN, L. Elements of grammar.
Dordrecht: Springer, 1997.
SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2012.
Leituras recomendadas
MOTA, S. dos S. Portunhol e sua re-territorialização na/pela escrit(ur)a literária: os sentidos
de um gesto político. 2014. 186 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria, 2014. Disponível em: <https://repositorio.ufsm.br/bitstream/
handle/1/3991/MOTA,%20SARA%20DOS%20SANTOS.pdf?sequence=1&isAllowed=y>.
Acesso em: 26 jun. 2018.
NOIMANN, A. Uma proposta de dicionário de regência verbal português espanhol para
aprendizes brasileiros de espanhol. 2015. 204 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.
br/handle/10183/117590>. Acesso em: 26 jun. 2018.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo: