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Na esfera lexical surgem os falsos amigos ou falsos cognatos (heterossemânticos),

que nada mais são do que palavras de grafia e/ou sonoridade similar, porém com
significados totalmente diferentes.

A causa dos erros de tradução mais comuns PT – ES e ES – PT é exatamente a


falta de conhecimento em relação aos falsos amigos, o que pode acabar gerando a
perda de sentido da mensagem original.

PT ES ES PT

aborrecer aburrir/molestar aborrecer detestar

aceitar aceptar aceitar Lubrificar com óleo

Cena Escena Cena jantar

Doce Dulce Doce doze

Oficina Taller Oficina Escritório

Rato Ratón Rato Momento

Ruivo Pelirrojo Rubio loiro

Os ditongos

Por um lado observa-se no espanhol grande número de ditongos ie e ue,


provenientes da ditongação das vogais e e o abertas do latim vulgar: hierro, cielo,
diente, rueda, cuerda, etc. Por outra lado observam-se em português muitos
ditongos em ei, provenientes de vogal + iode e de ditongação de consoantes:
primariu > primairu > primeiro, esp. primero; lacte > laite > leite, esp. leche; basiu >
beijo, esp. beso. O ditongo latino au deu origem ao português ou, embora
foneticamente se tenha monotongado. Ocorre o mesmo com a ditongação do l. Em
espanhol, este ditongo logo se monotongou: tauru > touro, esp. toro; alteru > outro,
esp. otro; saltu > souto, esp. soto.

Como vemos, o quadro vocálico do português é muito mais rico que o do espanhol,
o que ajuda a explicar a propalada maior dificuldade que têm os falantes do
espanhol em compreender o português falado, o que ocorre em menor grau na
direção inversa.

O quadro consonantal

A realização fonética dos fonemas consonantais coincide em grande parte nas duas
línguas. Apontaremos apenas alguns dos fonemas que mais se afastam:

a) Fonema [b].
Não existe em espanhol o fonema [v] do português. Este fonema representa-se
graficamente por b ou v. A permanência da diferença gráfica obedece apenas a
critérios etimológicos.

b) Fonema [tf], representado graficamente por ch

Este fonema em espanhol tem pronúncia africada [tf] diferente da do fonema fricativo
palatal surdo [f] do português, que pode ser representado graficamente pelo mesmo
dígrafo: Esp. muchacho [mu'tfatfo], chino ['tfino]. Port. chave ['favi], xarope [fa'ropi].

c) Fonema [š] do português.

Fonema fricativo palatal sonoro. Não existe no espanhol.: hoje ['oši], mágico
['mašiku], jaca ['šaka]

d) Fonemas [s] e [z]

Em português existem o fonema sibilante fricativo surdo [s] e o sonoro [z]: passo
['pasu], maço ['masu] (surdo); casa ['kaza], zebra ['zebra] (sonoro).

No espanhol só se conhece o fonema equivalente surdo: casa ['kasa], paso ['paso]

e) Fonemas [f] e [š]

Os fonemas fricativos palatais, surdo [f] chapa ['fapa] e sonoro [š] jato ['šatu], não
ocorrem no espanhol.

f) Fonema [θ]

O fonema fricativo surdo dental [θ] do espanhol: ciento ['θiento], moza ['moθa], não
existe em português. Sua pronúncia assemelha-se ao do th do inglês em think,
three. Nas zonas em que se pratica o seseo, este fonema realiza-se como [s].

g) Fonema [x] (grafado com j em qualquer posição ou com g antes de e, i)

O fonema [x] consonantal fricativo velar surdo não existe no português: caja ['kaxa],
gitano [xi'tano], cojo ['koxo], gente ['xente]. A pronúncia deste fonema assemelha-se
à do h aspirado do inglês em house, horse.

Com relação ao quadro consonantal, verificamos que há realizações diferentes em


ambas as línguas, mas também aqui o português é mais rico que o espanhol,
embora não cause tanta dificuldade para a compreensão, como ocorre com o
quadro vocálico. No que tange à fonologia das duas línguas, podemos observar que
as semelhanças são em maior número que as diferenças. Ambas possuem fonemas
que não são comuns às duas, embora a fonologia portuguesa se apresente mais
rica e, portanto, mais complexa.
Algumas evoluções
fonético-morfológicas diferentes

Entre as evoluções fonético-morfológicas que seguiram rumos diferentes em


português e o espanhol temos:

a) Fonema [f]:

Este fonema do latim vulgar permaneceu em português, mas desapareceu


foneticamente em espanhol, sendo representado graficamente pela letra h: ferru >
ferro, hierro; facere > fazer, hacer; filiu > filho, hijo; folia > folha, hoja.

O f existe em espanhol porque provém de outras origens ou entrou na língua em


outras épocas: forti > forte, fuerte; fabrica > fábrica.

b) Sufixo –ellu:

Este sufixo latino deu em português –elo, -ela e em espanhol –illo, -illa: castellu >
castelo, castillo; cutellu > cutelo, cuchillo; martellu > martelo, martillo; *capella >
capela, capilla; sella > sela, silla.

c) Grupos ct e ult.

Estes grupos evoluíram para it em português e para ch em espanhol: factu > feito,
hecho; lacte > leite, leche; nocte > noite, noche; multu > muito, mucho.

Já vimos que o espanhol ditongou o e e o tônicos do latim vulgar: dente > diente;
porta > puerta, porém essa ditongação não ocorreu antes de consoante palatal:
oculu > oclo > ojo; nocte > noche; tegula > tegla > teja. (olho, noite, telha).

d) Grupos consonantais iniciais com l:

Os grupos pl-, cl- e fl- palatalizaram-se em espanhol em ll- e em português em ch-:


planu > chão, llano; clamare > chamar, llamar; flamma > chama, llama.

e) Grupo –mb-:

Este grupo perde o m em espanhol, mas permanece em português: palumba >


paomba > pomba (port); palumba > paloma (esp). lombu > lombo (port); lombu >
lomo (esp).

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