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BAURU
2005
1. Que língua é essa?
O português falado no Brasil não é um bloco hermético, mas um conjunto de variantes repletas de
semelhanças e diferenças. As principais são:
Português não-padrão (PNP): engloba todas as variantes do português de acordo com as áreas
geográficas, classes sociais, faixas etárias e níveis de escolarização em que se encontram os falantes.
PP PNP
Velho Véio
Trabalho Trabaio
Colher Cuié
Globo Grobo
Bloco Broco
PP PNP
Flauta Frauta
Pluma Pruma
Publica Pubrica
Flecha Frecha
Planta Pranta
Floco Froco
Inglês Ingrês ou
Ingreis
Globo Grobo
Bloco Broco
Chiclete Chicrete
Marcas redundantes de plural: No português padrão, para indicar que estamos nos referindo a mais de
uma coisa, várias classes de palavras são modificadas para reforçar este sentido. Isto não acontece na
variedade não-padrão, na qual, para indicar a mesma idéia de plural, apenas um substantivo ou adjetivo
são modificados.
Assimilação do lh: o som deste dígrafo // é produzido na mesma região que a semivogal /y/. Por ser
mais fácil pronunciar esta última, é comum encontrarmos na variedade não-padrão palavras que
tiveram o // trocado por /y/.
PP PNP
Abelha Abêia
Alho Ai
Batalha Bataia
Colher (subst.) Cuié
Falha Falha
Filha Fia
Palha Paia
Trabalhar Trabaiá
Assimilação: força que tenta fazer com que dois sons diferentes, mas com algum parentesco, tornem-se
iguais ou semelhantes. Ex: falando-falano, cantando-cantano, comendo-comeno, quando-quano,
também-tamém, bocado-mucado, pouco-poco, louro-loro, roupa-ropa.
Monotongação: ocorre quando dois sons fundem-se em um só. No caso do ditongo ei, o fenômeno
acontece quando ele está atrás das consoantes j, x e r.
8. Música, maestro
Vogais pretônicas: aparecem antes da sílaba tônica. Se estas vogais forem e e o e a sílaba tônica
contiver um i ou u, elas serão pronunciadas como i e u, respectivamente.
Postônicas: quando e e o são postônicas, ou seja, vem após a sílaba tônica, acontece o mesmo
fenômeno – chamado de redução. Ex: bebe-bébi, ovo-ôvu.
9. Que coisa mais esdrúxula
PP PNP
Árvore Arvre
Córrego Corgo
Cubículo Cuvico
Fósforo Fósfro
Glândula Landra
Música Musga
Pássaro Passo
Sábado Sabo
Tábua Tauba
Víbora Briba
Arcaísmos: palavras ou variações de palavras que a norma padrão considera antigas, ultrapassadas.
Em várias regiões do Brasil, principalmente no interior, é muito comum a presença de formas arcaicas
no português não-padrão falado por lá. Os exemplos mais dignos de nota são os verbos começados
com a-. Ex: abastar, alimpar, aquentar, arrodear, ajuntar, alumiar, arrecear, assentar, alembrar,
amostrar, arrenegar, assoprar, alevantar, aqueixar, arreparar, avoar.
Outros arcaísmos: entonce, despois, escuitar, uso da preposição em para reger verbos em movimento
(Vou em casa), da preposição de para reger o verbo chamar (Ele me chamou de ignorante) e o uso do
gerúndio (Estou falando com você).
Substantivo Verbo
Almôço Almóço
Apêgo Apégo
Carrêgo Carrégo
Chôro Chóro
Dôbro Dóbro
Esmêro Esméro
Fôrro Fórro
Gêlo Gélo
Gôsto Gósto
Jôgo Jógo
Namôro Namóro
Pêso Péso
Rôlo Rólo
Sêlo Sélo
Sôco Sóco
Sossêgo Sosségo
Trôco Tróco
Zêlo Zélo
Espêlho Espélho
Estôro Estóro
Fêcho Fécho
Pôso Póso
Rôbo Róbo
Hipercorreção: aplicação do particípio irregular em verbos que só apresentam o particípio regular. Ex:
Quando eu saí, você ainda não tinha chego; Ele já havia trago o livro que pedi.
Infinitivo PP PNP
Abrir Aberto Abrido
Cobrir Coberto Cobrido
Dizer Dito Dizido
Escrever Escrito Escrivido
Fazer Feito Fazido
O português não-padrão consagrou o pronome oblíquo mim como sujeito do infinitivo, embora a
norma padrão afirme que, neste caso, deva-se usar o pronome pessoal eu. Ex: Para mim fazer o que
você pediu, vou precisar de sua ajuda (PNP). Para eu fazer o que você pediu, vou precisar de sua
ajuda (PP).
Hipótese do cruzamento sintático: na tentativa de reunir duas informações em uma frase só, há um
cruzamento que gera uma terceira frase que contemple essa expectativa:
Hipótese do “ganha quem chega primeiro”: quando, em uma situação, há duas regras para serem
obedecidas, vale aquela que foi acionada em primeiro lugar. No exemplo abaixo, as regras são: a)
depois de preposição, pronome oblíquo; b) na função de sujeito de um verbo, o pronome deve figurar
no caso reto.
Na “disputa” entre regras, a primeira a ser
acionada tornou-se válida.
João trouxe um monte de livros para mim escolher
Hipótese dos deslocamentos possíveis: o deslocamento do trecho para mim ao longo do enunciado
demonstra que ele pode coexistir em uma frase com um verbo no infinitivo, sem haver prejuízo no
sentido. Segundo o livro, não há como separar o para mim de um verbo no infinitivo.
O português herdou do latim os prefixos pre-, per- e pro-. Muitas palavras escritas com base neles
apresentam duas ou mais versões, todas aceitas pela norma padrão. Isto acontece porque essas
partículas não possuem um significado definido, como ocorria no idioma de origem.
Ex: perguntar-preguntar, perfumada-prefumada, procurar-precurar-procurar, professora-prefessora-
perfessora, prejudicar-projudicar, perseguir-prissiguir.