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Morfologia
Material Teórico
Introdução à Morfossintaxe
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Introdução à Morfossintaxe
• Introdução;
• Sincronia e Diacronia: Duas Perspectivas de Estudo da Língua;
• O Sistema Linguístico e sua Composição;
• A Morfologia e seu Campo de Estudo;
• Os Elementos Mórficos.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Compreender a sincronia e a diacronia como duas perspectivas de estudo da Língua;
• Perceber como se compõe o Sistema Linguístico e entender a morfossintaxe como o
estudo da relação entre os eixos paradigmático e sintagmático;
• Compreender a morfologia como o estudo dos elementos que compõem o eixo paradig-
mático da Língua;
• Refletir sobre os elementos mórficos e seu papel na estruturação interna das palavras.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Introdução à Morfossintaxe
Introdução
O estudo de qualquer Língua natural prevê sua descrição e descrever uma Lín-
gua, implica, necessariamente, a compreensão e a distinção entre forma, significa-
do e função.
Além disso, é preciso pensar que, para que ocorra a realização de um enuncia-
do concreto, ou seja, para que a Língua assuma sua função, é preciso pensar no
contexto sociocultural e histórico e nos interactantes, ou seja, nas pessoas envol-
vidas no ato comunicativo e nos papéis sociais que assumem no ato de produção
de seus enunciados.
Outro aspecto que deve ser pontuado nesta seção introdutória é o título dado à
Unidade, Introdução à Morfossintaxe.
Agora que você já sabe qual é nosso objeto de estudo, precisamos pensar nas
perspectivas de observação desse objeto.
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O estudo morfológico da Língua pode ser realizado em duas perspectivas
diversas: sincrônica ou diacrônica.
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UNIDADE Introdução à Morfossintaxe
Vamos a um exemplo: vamos tratar das mudanças por que passou o pronome “você”.
Veja:
Figura 1
Neste momento, você pode estar curioso sobre uma questão: por que é impor-
tante diferenciar a análise sincrônica da análise diacrônica?
Como você percebeu, tanto “vinagre” quanto “ourives” têm, em sua origem,
mais de um elemento. Considerando essa análise, portanto, essas palavras seriam
substantivos compostos, como, por exemplo, “guarda-chuva”.
Uma vez que nosso interesse, nesta Disciplina, é o Português atual, optamos por
utilizar apenas análises sincrônicas.
Além disso, como ressalta Mattoso Câmara (2005), toda análise histórica é in-
completa, porque não se conhece toda a história da Língua, mas apenas uma parte
dela, que se obtém nos documentos históricos.
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O Sistema Linguístico e sua Composição
A Língua é um Sistema de possibilidades altamente abstrato. Dominar uma Lín-
gua significa, pois, ter uma espécie de arquivo na memória, não com todas, mas
com boa parte das palavras dessa Língua.
Figura 2
Fonte: Adaptado de Getty Images
Agora que você ficou conhecendo esses dois grupos de palavras da Língua,
vamos adiante, para estudar os dois eixos do Sistema Linguístico. Isso mesmo, o
Sistema Linguístico se organiza em dois eixos, conforme você pode observar na
figura a seguir:
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UNIDADE Introdução à Morfossintaxe
Eixo Paradigmático
Essa menina leu um livro.
Aquela menina ganhou o prêmio.
Uma menina rasgou aquele bilhete.
Eixo sintagmático
Figura 3
Você deve ter percebido que a palavra morfossintaxe presente no nome desta
Unidade indica que os dois eixos são indissociáveis, vez que, como já ressaltamos,
os elementos da Língua não funcionam sozinhos.
Eixo sintagmático
Figura 4
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Como você deve ter percebido no Quadro anterior, é no eixo paradigmático que
o falante da Língua opera as escolhas lexicais no Sistema Linguístico, que pode
ser definido como um sistema abstrato de possibilidades, e que está arquivado na
memória do falante.
A mesma coisa serve para filhote. Dessa mesma forma, o encadeamento sintag-
mático “uma boa mãe sempre alimenta o filho”, pode nos levar a inferir que há um
julgamento de valor, sendo que a mãe que não amamenta o filho é tida como uma
mãe má, no sentido de não cuidadosa.
O enunciado pode tratar-se, então, de uma crítica e não apenas de uma cons-
tatação. Assim, também, vale lembrar que, ao optarmos por usar o artigo definido
“a” ou o indefinido “uma”, podemos produzir sentidos diferentes.
Agora que ficou claro que a morfologia pertence ao eixo paradigmático, vertical,
que é o eixo das escolhas lexicais e mórficas, passemos a tratar mais especifica-
mente da morfologia.
Tomemos a palavra “pedreiro”. Agora, vamos formar um par dessa palavra com
outra, que tenha um significado que associamos a “pedreiro”: “pedreira”.
Ora, então, isso quer dizer que a palavra “pedreira” também pode ser dividida
em “pedreir-” + “-a”.
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UNIDADE Introdução à Morfossintaxe
Tabela 1
-A = PEDRA
PEDR- -O = PEDREIRO
-EIR-
-A = PEDREIRA
Para termos certeza de que entendemos, vamos ver outro exemplo. Tomaremos,
agora, a palavra “cachorrinho”. Repetindo o que fizemos no primeiro exemplo, va-
mos formar um par entre essa palavra e outra da mesma “família”: “cachorrinha”.
Esse par permite-nos dividir “cachorrinho” em “cachorrinh-” + “-o”, assim como “ca-
chorrinha” em “cachorrinh-” + “-a”. Podemos formar mais um par: tomando “cachor-
rinho” e “cachorro”, chegamos ao elemento comum dessas palavras, que é “cachorr-”.
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Concluímos, também, que “cachorrinho” (assim como “cachorrinha”) são divisí-
veis em três morfemas:
Tabela 2
-O = CACHORRO
-A = CACHORRA
CACHORR-
-O = CACHORRINHO
-INH-
-A = CACHORRINHA
Até aqui, vimos que o morfema é o conceito central dos estudos da morfologia.
Agora, vamos avançar mais para compreender e refletir sobre esse conceito.
Os Elementos Mórficos
Agora que você já tem uma noção de qual é o objeto de estudo da Morfologia e
da abordagem que vai guiar nossa análise, vamos iniciar o estudo dos elementos
mórficos ou morfemas.
Figura 5
Fonte: Adaptado de pixabay
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UNIDADE Introdução à Morfossintaxe
A única exceção que podemos encontrar em relação ao -s plural como uma forma livre é
em um enunciado metalinguístico (que trata da própria linguagem), como:
Locutor A: O que marca o plural em Português?
Locutor B: -s.
O linguista brasileiro Mattoso Câmara (2005) incluiu um novo conceito, que comporta formas
Explor
como o artigo em Português. Em “o açúcar”, o artigo “o” não é uma forma livre, pois não ocorre
sozinha, mas também não é uma forma presa, pois é possível intercalar um elemento entre ele
e o substantivo, como em “o puro açúcar”. Daí surgiu o conceito de forma dependente.
Para aprofundar seus conhecimentos sobre esse linguista e os conceitos por ele defendidos,
sugerimos a leitura do artigo da Profa. Margarida Basílio, disponível no link:
https://bit.ly/2SmzPpN
Radical
Vamos retomar nosso primeiro exemplo: “pedreiro”. Entre os elementos que
compõem essa palavra – “pedr-” + “-eir-” + “-o” –, podemos notar que aquele que
contém a significação básica, ao qual se acrescentam os demais, é “pedr-”.
A esse elemento básico, que dá origem a várias palavras de uma mesma família,
dá-se o nome de radical.
Algumas palavras são formadas apenas pelo radical, como “luz”, “mar”, “mel” etc.
Por meio desse par, entendemos que “normalmente” é formado por “normal”
+ “-mente”. Como o elemento que possui a significação básica é “normal”, con-
cluímos que esse é o radical. Podemos, no entanto, formar outro par: “normal” /
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“norma”, a partir do qual chegamos a “norm-” + “-al” (compare com “braçal”, de
“braç-” + “-al”).
Para não ficarmos em dúvida, vamos diferenciá-los. Ao elemento que não po-
demos mais dividir – “norm-” – chamaremos de radical primário, pois ele serve
de base à formação de “normal”, e ao outro elemento “normal-” chamaremos de
radical secundário, e assim por diante.
Tabela 3
Alguns autores também chamam o radical primário de raiz, mas vamos evitar esse
termo, porque ele tem significados diferentes na análise sincrônica e na diacrônica.
Esse problema nos leva a outra pergunta: podemos dizer que “med-” e “medr-”
são dois radicais?
Essa forma variante recebe o nome de alomorfe, que significa exatamente “ou-
tra forma”. Não é só o radical que pode apresentar formas variantes, outros ele-
mentos que veremos mais tarde também podem possuir alomorfes.
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UNIDADE Introdução à Morfossintaxe
Tabela 4
RADICAL + =
Afixos
Os afixos são elementos mórficos que se acrescentam ao radical. São, portanto,
formas presas.
Prefixos
Chama-se prefixo o morfema que vem antes do radical, na palavra.
Veja o Quadro:
Tabela 5
PREFIXO RADICAL =
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Nos exemplos, acrescenta-se o prefixo des-, com sentido de negação, antes do radi-
cal “leal”, formando-se “desleal” (= não leal); e o prefixo sub-, com sentido de posição
inferior, é acrescentado antes de “total”, formando-se “subtotal” (= abaixo do total).
Figura 6
Fonte: Adaptado de pxhere
https://bit.ly/38lY6BX
Com base nessa lista que você encontrou no link do destaque anterior, vamos
fazer um teste?
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UNIDADE Introdução à Morfossintaxe
Você encontrará a resposta ao final dessa página. Mas não vá lá ver antes de
realizar a atividade.
Assim você estará testando a sua aprendizagem! E poderá reler o texto, caso
não acerte!
Sufixos
Chama-se sufixo o morfema que vem depois do radical, na palavra.
Veja o Quadro:
Tabela 6
RADICAL SUFIXO =
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Daí, podemos deduzir que os sufixos têm uma dupla função: o acréscimo semân-
tico (de significado) e a mudança de classe gramatical.
Para aprofundar seus conhecimentos sobre sufixos e sua dupla função, leia a esse respeito a
Explor
seguinte indicação bibliográfica: BASÍLIO, Margarida. Teoria Lexical. São Paulo: Ática, 1987.
Tabela 7
RADICAL SUFIXO =
-ÇÃO SUSTENTAÇÃO
SUSTENTA(R)
-VEL SUSTENTÁVEL
Outros sufixos não servem à mudança de classe gramatical, como os sufixos dimi-
nutivos -inho(a), -ito(a), -ilho(a), -im, -ete(a), -ulo(a), -culo(a), que figuram em “passari-
nho”, “cãozito”, “sapatilha”, “camarim”, “carreta”, “óvulo” e “película”, e os aumenta-
tivos, como -ão, -aço(a), -arro(a), que figuram em “caldeirão”, “barcaça” e “bocarra”.
Alguns sufixos são polissêmicos, isto é, têm vários significados. O sufixo como
-eiro(a) pode acrescentar o significado de “agente” em “pedreiro” e “carpinteiro”, de
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UNIDADE Introdução à Morfossintaxe
diversos sentidos.
Por isso, procure fazer uma ficha resumo, seja manuscrita, seja no computador,
para poder fazer rápidas consultas.
Antes, porém, que tal aprofundar mais os conhecimentos construídos até aqui,
acessando o Material Complementar, especialmente selecionado para você apri-
morá-los?
Contamos com sua proatividade e seu empenho para seu melhor desenvolvi-
mento e aproveitamento nesta Disciplina e no Curso!
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Prática de morfossintaxe: como e por que aprender análise (morfo)sintática
Leitura do o Capítulo 1, da obra a seguir, intitulado “O que é morfossintaxe”. Esse
e-book está disponível em nossa Biblioteca Virtual: SAUTCHUK, I. Prática de
morfossintaxe: como e por que aprender análise (morfo)sintática. São Paulo: Manole,
2010. p. 1- 10. (e-book)
Para conhecer a morfologia
Por fim, para compreender a necessidade de se repensar os estudos tradicionais
da morfologia, apresentados na Gramática Tradicional e, além disso, adquirir um
perfil investigativo ao estudar a Língua, sugerimos a leitura do capítulo “Uma breve
introdução aos problemas clássicos da morfologia”, no e-book a seguir, disponível em
nossa Biblioteca Virtual: SILVA, Maria Cristina Figueiredo; MEDEIROS, Alexandre
Boechat. Para conhecer a morfologia. São Paulo: Contexto, 2016. p. 9-24. (e-book)
Leitura
A expressão da pejoratividade
Para saber mais sobre o sentido pejorativo construído a partir da sufixação, leia o
seguinte Artigo Científico: SANDMANN, Antônio José. A expressão da pejoratividade.
Revista Letras, Curitiba, UFPR, v. 38, 1989b.
https://bit.ly/39twQRV
A morfologia no Brasil: indicadores e questões
Para saber um pouco mais sobre como andam os estudos científicos a respeito da
morfologia do Português contemporâneo, leia o seguinte Artigo, escrito pela Profa.
Dra. Margarida Basílio, grande estudiosa da área: BASILIO, Margarida Maria de Paula.
A morfologia no Brasil: indicadores e questões. DELTA [on-line]. 1999, v. 15, n. esp.,
p. 53-70.
https://bit.ly/2SzJ6tq
O traço de gênero na morfossintaxe do português
Que tal aprofundar os conhecimentos construídos e refletir sobre o traço de gênero
no Português contemporâneo? Você pode fazer isso a partir da seguinte leitura:
CARVALHO, Danniel. O traço de gênero na morfossintaxe do português. DELTA,
São Paulo, v. 34, n. 2, p. 635-660, jun. 2018.
https://bit.ly/2SL2zaO
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Referências
BASÍLIO, M. Teoria lexical. 8.ed. São Paulo: Ática, 2007 (Coleção princípios).
(e-book)
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