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ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE PRESIDENTE PRUDENTE:

Um estudo sobre o patrimônio histórico-cultural

COSTA, KORINA; RODRIGUES, LUANA; ALONSO, FLORIAN; POMPEI,


MARIANA; PIFFER, FERNANDO

korina.arq@gmail.com

RESUMO

Este estudo, diz respeito à estação de trem de Presidente Prudente, fazendo parte do Projeto
de Pesquisa sobre as Estações de Trem da Estrada de Ferro Sorocabana, o interesse pela
temática surgiu do fato de muito se falar sobre a colonização da cidade, porém, pouco se
aprofunda nas suas origens, anterior à chegada dos coronéis, entre o final do séc. XIX e
começo do séc. XX, estimulando a vinda de muitas pessoas, bens e serviços, assim como a
venda e aquisição de terras em toda a região. Neste sentido, conforme consta no Arquivo,
Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, a construção da estação do
Município de Presidente Prudente surge para dar suporte à ferrovia neste trecho, contendo
serviços de manutenção da mesma e ao serviço de carga e descarga de mercadorias,
passageiros e animais. Desta forma, em 1919, com o incentivo do Governo Federal, um edifício
sede foi construído na Praça da Bandeira, na Rua Júlio Tiezzi, ao fim da Avenida Washington
Luiz e início do Viaduto Comendador Tannel Abud. Alguns anos mais tarde, o primeiro edifício-
sede foi demolido para dar lugar a uma nova estação, mais moderna em relação ao edifício já
existente e que oferecesse assistência à crescente demanda de transporte de cargas e
pessoas na cidade e região, sendo erigida com novas características arquitetônicas, conhecida
como estilo Art Decô., que hoje encontra-se com outro uso, podendo sofrer degradações, tal
pesquisa visa fomentar as discussões sobre a sua representatividade para a configuração
urbana e cultural do município, assim como a preservação da edificação para que gerações
futuras também possam ter contato com a história local. Objetiva-se pesquisar a relevância da
linha férrea e da estação ferroviária para a formação do município e o valor que foi construído
historicamente para a memória cultural da cidade de Presidente Prudente e apresentar os
estudos sobre a primeira edificação construída, verificando sua importância para a época e
buscan do parâmetros para compreender os condicionantes de sua demolição e substituição
por outra edificação, assim como o da atual, destacando o que ela mantém de original, o que
sofreu intervenções e adaptações e ao fim do estudo, direcionar as possibilidades de
preservação e de conservação do mesmo, para tanto, pesquisar as teorias e conceitos sobre a
preservação do patrimônio histórico cultural, visando compreender quais são os
direcionamentos futuros. Sendo uma pesquisa qualitativa do tipo revisão bibliográfica,
estudando os autores e teóricos da temática, contando com pesquisa em órgãos e instituições
que abrigam as informações técnicas, históricas e documentais da cidade, visitas ao local e
estudos iconográficos. Assim, espera-se com a sequência do estudo, promover a
documentação necessária para se iniciar o processo de tombamento da atual edificação e com
ela a preservação de boa parte da memória coletiva.

Palavras-Chave: Estação Ferroviária, Patrimônio Histórico Cultural, Presidente Prudente.


INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa fazer uma abordagem sobre a significância da


Estrada de Ferro Sorocabana (EFS) e suas construções arquitetônicas, discutindo
sobre a importância e o valor da mesma para história e para a cultura da cidade de
Presidente Prudente – SP, cujo surgimento se dá em meados de 1920, e resulta no
desenvolvimento urbano-territorial da cidade, estimulando também a especulação
imobiliária e valorização das terras da região.

Para apresentar sua significância para a localidade, o presente estudo fará


uma revisão bibliográfica em autores vinculados a conceitos de valorização da
memória e da definição do patrimônio histórico e cultural, assim como daqueles que
promoveram estudos sobre a história da cidade de Presidente Prudente.

Para em seguida destacar a relação da linha férrea e suas edificações para o


crescimento urbano e para a configuração de uma memória cultural representativa,
através da explanação de suas duas estações, uma primeira, que possuía
características de rusticidade e a atual, que possui características Art Déco, esta
deixou de funcionar com a desativação do transporte ferroviário de passageiros na
região, tendo ficado em desuso e hoje abrigando o Procon.

Sobre a manutenção ou não da infraestrutura que a compõe, Vieira (2011) diz


que é considerado o maior crime contra o patrimônio nacional a retirada de trilhos do
leito ferroviário ou a falta de cuidado com as estações de ferro, pois a constituição
determina patrimônio histórico ou artístico o conjunto de bens moveis e imóveis
existentes no pais defendendo que a conservação é de interesse publico, que faz
referencia a fatos memoráveis da historia do Brasil.

Conforme O Tombamento DECRETO-LEI N°25 de Novembro de 1937.


Capitulo 1:

Art. 1º Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto


dos bens móveis e imóveis existentes nopaís e cuja conservação seja
de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da
história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou
etnográfico, bibliográfico ou artístico.

Fazendo parte da Constituição Brasileira conforme cita o Art.1° mencionado


acima a historia da cidade de Presidente Prudente-SP tem como patrimônio histórico e
artístico o edifício pertencente ao (EFS), e tem como ainda patrimônio Nacional
Brasileiro toda linha da estrada da Estrada de Ferro Sorocabana que fez parte da

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historia e progresso deste país segundo a lei Federal que se refere à Definição de
Patrimônio Cultural artigo 215 e 216 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA
DO BRASIL DE 1988.

Segundo a Carta de Veneza definida no ll° Congresso Internacional de


Arquitetos e Técnicos de Monumento Histórico, reunidos em Veneza de 25 a 31 de
maio de 1964 com o principio de transmitir as gerações futuras a riqueza da sua
autenticidade atreves de alguns pontos que nos permite classificar como: Cultural,
Artístico, Histórico, Sociais e Científicos os patrimônios da humanidade.

A (EFS) de Presidente Prudente-SP após seu primeiro edifício sede


construído em meados de 1920 sofreu algumas modificações em 1944, o primeiro
edifício-sede é demolido e dá lugar a uma nova estação desenvolvida nos moldes do
Art Déco

Ao passar dos anos o edifício sofreu algumas pequenas reformas para


conservação e manutenção, porém nada que viesse a comprometer as características
tidas como relevantes para o seu estilo arquitetônico.

Neste intervalo de tempo sem data especificas o edifício é tombado


como Patrimônio Histórico Cultural registrado com o número: NP710685, e em 2009
passa a sediar a Fundação PROCON (Fundação de Proteção e Defesa do
Consumidor) administrada pela Prefeitura Municipal de Presidente Prudente, onde
sofre mais uma reforma sem nenhum cuidado com o tombamento sofrendo algumas
alterações físicas em sua maioria interna, onde sofre com divisórias de fórmica e
gesso, para atender o plano de necessidades da fundação ali implantada, e atendendo
as leis de acessibilidade NBR-9050, estado este, que mantém nos dias atuais.

DISCUSSÃO ACERCA DA RESTAURAÇÃO E DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-


CULTURAL

A cidade desde seus primeiros resquícios é, por excelência, o espaço que


condiciona a vida e as relações sociais de diversas formas, e onde de forma concreta, as
vontades humanas – ocasionadas pelos seus entrecruzamentos – podem atuar em conjunto
encontrando-se a si mesmo e aos outros como uma possibilidade miraculosa no espaço
(CF. ANSAY SCHOONBRODT, 1989:63).

Como resultado das diversas intervenções humanas ao longo da história e do


tempo sobre o espaço urbano, a cidade passa a concentrar um conjunto de patrimônio

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histórico e cultural intrínseco à cultura daquela população ou região, cada qual se tornando
referência simbólica para quem o vivencia, constituindo a imagem e a memória da cidade. O
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (assim conceituado pelo IPHAN), originado através
dos eventos humanos é composto de bens de natureza material e imaterial, que
correspondem respectivamente às obras, edificações e sua ambiência, conjuntos urbanos,
sítios arqueológicos e paisagísticos (bens imóveis) e, ainda, os bens móveis como
documentos, esculturas e quadros; e correspondentes aos saberes de determinado povo,
dos modos de se fazer ou criar, de suas formas de expressão, celebrações e lugares que
são transformados por alguma prática social constante.

A prática da preservação do patrimônio cultural busca manter as marcas e os


remanescentes da cultura e da memória da cidade, como bens de valor afetivo para a
população e que garantam a identidade do local para as diversas gerações futuras. Um dos
meios para a promoção da preservação dos bens é o ato do tombamento, realizado pelo
Poder Público, nos níveis federal, – realizado pelo IPHAN (Instituto do Património Histórico e
Artístico Nacional) – estadual ou municipal, como meio de impedir a destruição ou a perda
das principais características dos bens tombados.

Segundo o Art. 17, do DECRETO-LEI Nº 25, de 30 de Novembro de 1937:

As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas,


demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou
restauradas, sob pena de multa de cincoenta por cento do dano causado.

Quanto à esfera da preservação e manutenção dos conjuntos de patrimônios


históricos e culturais, foi principalmente a partir de meados do séc. XX, que a relativa
preocupação começou a se desenvolver, sendo hoje, não somente uma preocupação
compartilhada pelos meios acadêmicos ou técnicos, pelo intermédio de historiadores,
arquitetos, urbanistas, arqueólogos, antropólogos, etnólogos, cientistas sociais e ainda
psicólogos; mas cada indivíduo faz-se historiador de si mesmo e do grupo em que está
inserido e participando de maneira mais ativa nas discussões relativas à preservação do
patrimônio seja em diversas instâncias (CUNHA, 2004).

À esta discussão acerca dos bens é imprescindível considerar a contribuição de


importantes teóricos que dissertam sobre a questão do restauro e da conservação destes.
Um destes, embasado no positivismo, EugèneViollet Le Duc(1814-1879) passou a
desenvolver um conceito e metodologia específicos para o restauro baseado na razão
científica que o conhecimento da obra em estudo propiciava. Para ele, a análise da obra e
conhecimento minucioso de suas características essenciais, dava ao restaurador a

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possibilidade de refazê-la assim como na época em que foi concebida originalmente,
visando a busca pela “inteireza” da edificação a fim de transmitir seu sentido completo,
aplicando um “modelo ideal” para seu trabalho, mesmo que muitas de suas obras de
restauração resultarem em edifícios completamente diferentes do original (SANTOS, 2005).

Contrário ao pensamento de Le Duc, o romântico John Ruskin (1819-1900)


acreditava que o processo de restauração era a mais completa e bárbara destruição que o
edifício poderia estar sujeito, pregando não ser possível restituir o que foi belo e grandioso
um dia através da suposição de como faria o primeiro construtor, e alegando ainda, que uma
restauração e intervenção de outra época elevaria o edifício a uma nova edificação
(OLIVEIRA, 2008). Ainda segundo Ruskin os edifícios detinham um tempo de vida ao longo
da história, e deveriam, assim como na natureza, envelhecer e até “morrer”, entendendo que
os processos de degradação faziam parte da sua história, e qualquer modo de intervenção
seria considerado uma agressão própria. Em alguns casos, sua teoria prega que pequenas
práticas de intervenção são permitidas para evitar que estruturas prematuras venham a cair
(OLIVEIRA,2008). Por fim, preconizava o uso constante dos edifícios como maneira mais
viável e recomendada para sua manutenção periódica a fim de prolongar o tempo de vida da
edificação.

Camillo Boito (1836-1914) desenvolve sua teoria com base nos dois principais
estudiosos sobre o assunto até a época, Viollet Le Duc e Ruskin, ora distanciando, ora
aproximando-se de algum destes. Boito prega a diferença entre a conservação e a
restauração, explicitando que os conservadores são tidos como “homens necessários e
beneméritos” ao passo que os restauradores são quase sempre “supérfluos e
perigosos”.Sua teoria sugere que se deve agir no sentido de tentar conservar o edifício
como ação preventiva, reservando o edifício ao mínimo possível das intervenções da
restauração, já que a prática está sujeita a arbitrariedades e consequentemente a enganos
(ARAÚJO, 2005). Acredita ainda que, no caso das intervenções feitas nos casos
necessários, não se deve tentar exprimir um caráter antigo tal qual como a obra era na
época de sua concepção, mas transparecer a real época em que a intervenção se deu.

Outra teoria acerca da restauração é a de Cesare Brandi (1906-1988), que divide a


restauração sob as instâncias estética e histórica e atesta os princípios da distinguibilidade.
Para o teórico, os refazimentos só devem acontecer sendo facilmente reconhecidos como
pertencentes à época atual (ou que a integração foi feita), não tentando se passar por
antigo, visto que o alega como falso histórico, e ainda que fossem reversíveis, permitindo
possíveis intervenções futuras (CUNHA, 2004).

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A principal marca da obra de Brandi é o rigor crítico-cultural que situa o ato
derestauro como responsável pelas futuras interpretações estilísticas e históricas da obra-
de-arte. Se for executada sem critérios, a restauração pode causar danos à obra que irão
perpetuar-se por várias gerações.

Neste contexto, a antiga estação ferroviária de Presidente Prudente-SP é


considerada um importante agente na promoção do valor de memória da cidade, haja vista
que sua construção em meados de 1920 propiciou maior desenvolvimento do núcleo urbano
prudentino – originado através da instalação do trecho da Estrada de Ferro Sorocabana – e
da região, condicionando um dos principais meios de locomoção de passageiros e cargas,
quando o automóvel ainda era pouco difundido. O local em si, que hoje sedia a Fundação
PROCON (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) administrada pela Prefeitura
Municipal, na época de seu funcionamento como estação representava um dos principais
pontos de encontros sociais entre as pessoas - da própria cidade ou não - associada à
praça de fronte à edificação, portanto, é cabível enfatizar a importância deste patrimônio,
não só como bem material imóvel, mas também como palco, no auge de sua atividade, de
práticas imateriais a partir do dinamismo social constante que se criava.

PRIMEIROS PASSOS DA ESTAÇÃO SOROCABANA NA REGIÃO

As origens da cidade de Presidente Prudente remontam desde a primeira


iniciativa conhecida da vinda dos trilhos da Sorocabana, em 1870, devido aos
desbravamentos em busca de terras férteis para o cultivo do café. De acordo com
Abreu (1972) apud Silva e Costa (2006), a motivação de sua construção na região
ocorreu devido aos incentivos de Luiz Matheus Maylasky, sendo para a exportação de
ferro produzido pela fábrica São João do Ipanema, abastecendo todo o país.

Segundo Ronaldo Macedo (2006), foi enviado uma planta baixa de São Paulo
pelo Engº Sebastião Ferraz, responsável pelo trecho, para se construir a estação no
local de um telégrafo instalado em um vagão de trem, que já servia como embarque e
desembarque.

Como consta nos registros históricos do município, a primeira estação


ferroviária surgiu no ano de 1919, possuindo um estilo rudimentar, de arquitetura
pioneira, pois contava com a participação da população pra sua execução. Com o
avanço da linha sorocabana na região e pelo motivo de sua estrutura não se adequar
para a nova modernidade da época, além da demanda de passageiros que crescia,
este edifício foi totalmente demolido, em 1941.

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FIGURA 01- Esplanada da estação ferroviária em 1938

Fonte - Acervo Museu Municipal de Presidente Prudente

O local se situa na frente da Avenida Washington Luiz, na Rua Júlio Tiezzi,


com o atual Viaduto Tannel Abud, dividindo dois bairros importantes para a formação
da cidade, a Vila Marcondes, fundada por José Soares Marcondes e a Vila Goulart,
que surgiu através de Francisco de Paula Goulart hoje o Centro Administrativo da
cidade.

O local representa o marco de início do surgimento de Presidente Prudente,


pois possui dominância no local por ser um edifício antigo num local movimentado, o
que o faz se tornar ponto de referência para a população.

Possui um grande valor histórico, juntamente com os demais edifícios em suas


imediações, sendo eles os barracões de carga e descarga que faziam parte da
estação, o Centro Cultural Matarazzo e mais adiante a antiga SANBRA (Sociedade
Algodoeira do Nordeste Brasileiro), formando assim um passeio histórico cultural
situado próximo ao complexo da Estação. Foi um referencial urbano em escala
regional, pois foi o embrião do surgimento da cidade.

Conforme registros históricos e fotográficos, a primeira estação, em 1941, foi


totalmente demolida, dando lugar em 1944 a um novo prédio com a característica
arquitetônica mais influente na época, o Art Decô. O novo prédio foi construído dentro
dos mesmos limites do prédio anterior, porém com especificidades decorrentes do
novo programa de necessidades, como a construção em dois pavimentos, uma
escadaria imponente no saguão e fachada envidraçada contribuindo para o aspecto
moderno da edificação no contexto de sua execução.

FIGURA 2 - A estação atual, recém-construída, 1943. Foto do relatório da Sorocabana, 1944

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Fonte - Acervo Museu Municipal de Presidente Prudente

O novo aspecto apresenta aquela parte da cidade que se sentia


prejudicada em sua estética pelo velho edifício; hoje a impressão é
outra, dado o acabamento de linhas futuristas e sóbria que encerra
o movimentado centro exportação e importação de Presidente
Prudente. (Jornal O Imparcial, 16 de Abril de 1944.)

O edifício compõe uma paisagem juntamente com a Praça da Bandeira, que


abriga o funcionamento de um shopping popular, o Camelódromo. Seu uso atual
abriga a sede do Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), porém
sem qualquer reconhecimento histórico.

A estação se situa num calçamento em paralelepípedos, um dos únicos


restantes da cidade, incluindo o bebedouro de animais, que já foi tombado pelo órgão
municipal, porém este se dissolveu e atualmente o bebedouro está em situação de
abandono.

Houve um tempo em que andarilhos utilizavam o local indevidamente, para


dormir ou consumir drogas. Foi então colocado um gradil, impedindo essa entrada.
Não possui ponto de encontro ou calçada para ônibus, pois estes passam pelo
Viaduto, sendo um ponto de ônibus no Camelódromo, situado à 150m da Estação.

O termo Art Deco, apesar de ter sido assinalado por Maria Lucia Bressan
Pinheiro a partir da década de 1960, é mais apropriado e abrangente para categorizar
uma determinada tendência que se difundiu no país entre a década de 1930 e meados
dos anos 1950, expressada em pinturas, esculturas, prédios, móveis, rádios e objetos.
Na arquitetura, recebeu investidas do cubismo, do futurismo, do expressionismo e de
outros movimentos das artes plásticas, absorvendo influências com outros
movimentos como o ecletismo.

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Na época da construção da nova estação, foi encomendado uma planta baixa
de São Paulo, já influenciada pelo estilo. O edifício ganhou novos materiais, dois
pavimentos e formato arredondado na fachada envidraçada.

Segundo o secretário de obras do município, foram feitas várias reformas,


pela Fepasa e pela ALL para adequação das empresas, e posteriormente em 2009
uma nova reforma foi realizada pela prefeitura municipal para acomodar o Procon e o
anexo onde se localiza a Casa do Artesão, onde foram removidas algumas paredes
internas, mudanças de portas e janelas, adequação do banheiro de deficientes e
colocação de paredes de madeira para divisões internas. O saguão permanece o
original de 1944.

FIGURA 03 – Planta Baixa do saguão principal do edifício

Fonte –Levantamento do local de autoria própria

FIGURA 04- Corte esquemático do edifício, onde se situa o saguão

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Fonte – Levantamento do local de autoria própria

FIGURA 05 - Recorte da fachada principal do edifício, situação atual

Fonte – Levantamento do local de autoria própria

Conforme registros fotográficos e levantamentos no local, seu aspecto físico


consiste numa implantação junto ao lote, sem recuos, possuindo em sua lateral
esquerda um conjunto de galpões que eram utilizados para carga e descarga de grãos
e animais, hoje está funcionando como deposito de materiais da empresa Cimcal.

FIGURA 06 – Planta baixa com setorização

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Fonte – Levantamento do local de autoria própria

Atrás do edifício ficam as linhas de trem e a casa de máquinas. O acesso é


feito diretamente por uma escadaria no centro do edifício tendo outra pela Casa do
Artesão, não há pilotis e possui na fachada elementos escalonados compondo um
arco, com fechamento de vidro. Não possui muros por ser ainda hoje um edifício
público.

O edifício é monolítico com uma torre onde era usada o antigo relógio, com
aproximadamente 4m de pé direito o salão principal e os demais com 3m, pintado
internamente e externamente de tinta branca e azul e o piso com lajotas cerâmicas
quebradas na cor marrom claro.

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As esquadrias são metálicas, as janelas são do tipo basculante na cor azul e
as portas mais novas são de vidro, enquanto as antigas são de madeira. A circulação
interna é na maior parte horizontal, possuindo uma escadaria no saguão que leva às
salas da fiscalização e administração, portanto as pessoas não a utilizam, pois é
setorizado pelo atendimento ao público somente o térreo, com salas de reuniões e
cozinha.

A planta possui simetria com algumas particularidades de cada lado, por


possuir utilidades diferentes. O lado esquerdo é usado para depósito e sala de
reuniões, no centro está o saguão, que funciona como uma sala de espera do Procon,
do lado direito se encontra as dependências da Medicina do Trabalho e a Casa do
Artesão.

O sistema construtivo inicialmente foi alvenaria com revestimento de


concreto, já onde se encontra a Casa do Artesão, foi ampliado uma parede em tijolos
de concreto com um fino revestimento em argamassa e pintado com tinta branca. A
cobertura é de telhas de barro, e na Casa do Artesão são telhas de fibrocimento.

FIGURA 07– Cobertura do antigo pátio da estação. No edifício original era feito com
madeiramento e telhas de barro, porém com as intempéries precisou ser substituído.

Fonte – Levantamento do local de autoria própria


FIGURA 08 –Vagão abandonado nos trilhos ao lado da estação. Foi incendiado criminalmente
em 2008, quando o edifício passou por uma nova reforma, assim abrigando a sede do Procon.

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Fonte – Levantamento do local de autoria própria

FIGURA 09 – Situação do piso do antigo pátio. A camada de cimento foi sobreposta ao antigo
piso, de lajota de cerâmica em cacos.

Fonte – Levantamento do local de autoria própria

FIGURA 10 –A fachada principal do edifício, vista pelo interior.

Fonte – Levantamento do local de autoria própria


FIGURA 11 –Piso do saguão, de lajota de cerâmica em cacos. É um dos poucos locais
totalmente preservados do edifício original.

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Fonte – Levantamento do local de autoria própria

FIGURA 12 –Luminária, seu contorno também permanece preservado originalmente, apenas


com nova pintura.

Fonte – Levantamento do local de autoria própria

CONCLUSÃO

Desde que foi implantada, em 30 de novembro de 1937 com a publicação do


Decreto-Lei nº 25, a chamada Lei do Tombamento, muitos edifícios estão sendo poupados,
porém no Oeste Paulista atualmente pouco se tem conhecimento sobre a necessidade de
preservar um patrimônio.

Para Celso Antônio Bandeira de Mello (2009) apud Holanda (2010), o tombamento
é uma intervenção administrativa destinada a proteger o patrimônio histórico e artístico
nacional, além de restringir certos usos, pois o proprietário pode fazer uso do local, mas não
deve alterá-lo, além de ficar estabelecido no dever de mantê-lo em boa conservação.

Assim como muitas cidades com o mesmo histórico de fundação decorrente da


passagem da linha férrea, Presidente Prudente não possui uma identidade cultural com
seus edifícios mais antigos (HIRAO, 2012). Isso ocorre pela distorção da mentalidade da

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população no chamado “progresso”, além de refletir o “planejamento” dos atores políticos,
que justificam ser a cidade muito recente para acumular as produções das várias gerações
anteriores, procurando sustentar-se em nome desse progresso, em que não há espaço para
a identidade histórica cultural da cidade.

Ainda segundo Hélio Hirao (2012), conjuntos com grandes valores estéticos e
artísticos, incluindo o Art Deco, Protomodernismo e Modernismo são dependentes do
interesse público local para serem preservados.

É extremamente necessário que desperte a consciência de cuidar do já construído,


a fim de mostrar as futuras gerações o surgimento do próprio local de moradia, criando um
sentimento de resguarda, entendendo que a linha férrea promoveu a criação.

Assim como de valorização e conservação da história, da cultura e da memória,


visando garantir às gerações futuras o convívio e conhecimento da importância que a
edificação teve para a configuração da própria cidade.

REFERÊNCIAS

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práticas adotadas no centro do Rio de Janeiro. In: Revista Eletrônica do IPHAN. Nov.
2005.

ANSAY, Pierre et SCHOONBRODT, René. Penserlaville. Choix de textesphilosophiques. Approches


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IPHAN – INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL.


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<http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=12297&retorno=paginaIphan>
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IPHAN – INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Patrimônio


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<http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=20&sigla=Institucional&retorno=paginaIns
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ARAÚJO, Denise Puertas de.O pensamento de Camillo Boito. Resenhas Online, São Paulo, ano
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<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/04.043/3154>. Acesso em: 18 out. 2014.

CUNHA, Claudia dos Reis e. A atualidade do pensamento de Cesare Brandi. Resenhas


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SANTOS, Ana Carolina Melaré dos. Viollet-le-Duc e o conceito moderno de
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OLIVEIRA, Rogério Pinto Dias de. O pensamento de John Ruskin. Resenhas Online, São
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