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1 INTRODUÇÃO
Este parecer, elaborado em atendimento a demanda da Dra. Daniela Lopes de
Faria (Titular do 2º Ofício da PR-RO), traz uma análise sobre o laudo pericial contido na Ação
Civil Pública (ACP) nº 1001209-11.2018.4.01.4100, ajuizada em desfavor da Cooperativa
Mineradora dos Garimpeiros de Ariquemes (Coomiga) pelos danos ambientais provocados em
áreas de extração de cassiterita na bacia do Rio Candeias (Braço Direito), município de
Campo Novo de Rondônia.
Para a avaliação do laudo, foram consideradas informações extraídas de outros
documentos incluídos na ACP (em especial, os relatórios de monitoramento ambiental da
cooperativa, produzidos entre 2011 e 20161), bem como de trabalhos técnico-científicos, bases
vetoriais públicas, imagens de satélite e páginas da Internet.
2 ANÁLISE
O laudo pericial em questão2 foi elaborado em 31/8/2017 pelo engenheiro
florestal George Luiz Ribeiro Matheus (Assessor Especial de Proteção Ambiental da
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental – Sedam), no interesse da Ação Civil
Pública nº 0001553-50.2011.8.22.0021 (Poder Judiciário do Estado de Rondônia, 1ª Vara de
Buritis), e teve por objetivo avaliar os danos ambientais gerados pelas atividades da Coomiga
no imóvel denominado “Fazenda Quero Mais” (Figura 1).
FIG. 1 - Área da Fazenda Quero Mais (linha amarela), adotada pelo perito como referência
para a quantificação das áreas degradadas pela Coomiga (polígonos hachurados).
Fonte: Documento eletrônico nº 18060815241812200000006116276 (Laudo Pericial), p. 12.
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FIG. 2 - Discrepância entre a área do processo minerário da Coomiga e a área considerada no laudo pericial
(Fazenda Quero Mais).
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FIG. 3 - Vista panorâmica da região que engloba os pontos fornecidos pelos relatórios de monitoramento ambiental da Coomiga.
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FIG. 8 - Áreas no local “Cassolão”, em 10/6/2013. FIG. 9 - Áreas no local “Cassolão”, em 5/9/2018.
FIG. 10 - Áreas no local “Piçarra”, em 10/6/2013. FIG. 11 - Áreas no local “Piçarra”, em 5/9/2018.
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FIG. 12 - Área sem denominação na fazenda de FIG. 13 - Área sem denominação na fazenda de
Antônio Mineiro, em 11/8/2010. Antônio Mineiro, em 5/9/2018.
3 RIBAS, Luiz Cesar. Metodologia para avaliação de danos ambientais: o caso florestal. 1996. Revisão da
Tese apresentada à Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Engenharia – São Paulo,
1996. Disponível em:
<https://www.fca.unesp.br/Home/Instituicao/Departamentos/Gestaoetecnologia/docentes/metodologia-para-
avaliacao-de-danos-ambientais.pdf> . Acesso em: 11 nov. 2019.
4 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14653-6: Avaliação de bens Parte 6:
Recursos naturais e ambientais. Rio de Janeiro, 2008. 16 p.
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estaduais (por exemplo, do Mato Grosso5, Minas Gerais e Espírito Santo6) para a valoração de
danos decorrentes da ausência de cobertura vegetal nativa.
Assim, entende-se que o método escolhido pelo perito é tecnicamente
adequado à situação em análise. Porém, ao aplicar a expressão matemática do Cate I (Figuras
14-15), o perito utilizou valores bastante questionáveis para alguns parâmetros, conforme
explicações a seguir:
• Os custos considerados para a recuperação da área (variável Cd) foram de R$
2.000,00/ha, contemplando a adubação orgânica (denominada, equivocadamente, de
“compostagem” pelo perito) e o plantio de espécies florestais nativas. Porém, esse
valor está muito abaixo dos apontados por trabalhos técnico-científicos para o
reflorestamento de áreas degradadas com o uso de métodos convencionais. Nas ACPs
do projeto Amazônia Protege7, considera-se um custo de R$ 10.742,00/ha, o qual
inclui o cercamento da área (R$ 5.367,80/km), a semeadura direta de espécies nativas
(R$ 3.350,00/ha) e a manutenção/monitoramento por um período de três anos (R$
2.025,00/ha), conforme nota técnica do Ibama elaborada em 20168. O Instituto
Escolhas aponta custos de R$ 13.904,00/ha e R$ 18.547,00/ha para a recomposição na
Amazônia Ocidental, sem cercas, mediante plantios de sementes e de mudas,
respectivamente9. Silva e Nunes (2017)10 informaram custos de R$ 11.243,00/ha para a
execução de reflorestamentos em área total no estado do Pará, englobando o preparo
da área (R$ 1.192,00/ha), o cercamento (R$ 1.640,00/ha), o plantio de mudas (R$
5.090,00/ha) e a manutenção por dois anos (R$ 3.321,00/ha). Em locais minerados, a
degradação do solo é mais intensa do que em áreas de uso agropecuário (devido à
remoção das camadas superficiais e à compactação provocada por máquinas pesadas),
de modo que os custos de recuperação costumam ser bem maiores do que os citados
acima, podendo alcançar valores da ordem de R$ 50.000,00/ha, conforme Rodrigues
(2016)11. Custos inferiores a R$ 5.000,00/ha são compatíveis apenas com técnicas
5 Valoração do dano ambiental: casos aplicados ao estado de Mato Grosso. Disponível em:
<https://pjedaou.mpmt.mp.br/wp-
content/uploads/2017/10/VALORACAO_DANO_AMBIENTAL_MT_PJEDAOU-1.pdf>. Acesso em: 11 nov.
2019.
6 CARPANEZZI, Fernando Bertol. Estudo de caso: a valoração ambiental no Ministério Público do Estado do
Espírito Santo. 2016. Monografia (Pós-Graduação em Economia e Meio Ambiente) – Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2016. Disponível em: <https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/52666>. Acesso em: 11 nov.
2019.
7 <http://www.amazoniaprotege.mpf.mp.br/>. Acesso em: 12 nov. 2019.
8 Not. Tec. 02001.000483/2016-33 DBFlo/Ibama.
9 <http://quantoefloresta.escolhas.org/>. Acesso em: 12 nov. 2019.
10 SILVA, D.; NUNES, S. Avaliação e modelagem econômica da restauração florestal no estado do Pará.
Belém, PA: Imazon, 2017. Disponível em: <https://imazon.org.br/publicacoes/avaliacao-e-modelagem-
economica-da-restauracao-florestal-no-estado-do-para/>. Acesso em: 14 nov. 2019.
11 RODRIGUES, Nikolas Gebrim. Custo para recuperar uma área degradada: um projeto para a cascalheira
do Parque Sucupira. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Gestão Ambiental) – Universidade
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3 CONCLUSÃO
Considerando todo o exposto, entende-se que o laudo pericial acostado à ACP
possui várias inconsistências técnicas, que implicaram em subestimativa do valor monetário
dos danos ambientais provocados pela Coomiga na bacia do Rio Candeias (Braço Direito).
É o Parecer.
[Assinatura digital]
MARIANA PIACESI BATISTA CHAVES
Analista do MPU/Perita em Engenharia Florestal
Assessoria Nacional de Perícia em Meio Ambiente
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