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2023
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INSTITUIÇÕES E EQUIPE TÉCNICA
INSTITUTO PRÍSTINO
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EQUIPE TÉCNICA
DAYANE CAROLINE FREITAS CARVALHO
Geógrafa formada pela UFMG. Mestre em Análise e Modelagem de Sistemas
Ambientais (UFMG). CREA-MG 357520/D.
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1. APRESENTAÇÃO
2. MATERIAL E MÉTODOS
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Para compreensão da área de influência do empreendimento foram consultados os
seguintes sites:
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dos ambientes mais sensíveis à alteração humana. Tais fatos são reconhecidos no Brasil e
globalmente, dada a farta literatura técnico-científica produzida nas últimas décadas4.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(SEMAD), incluindo seus órgãos de regularização ambiental e o Instituto Estadual de
Florestas (IEF), tem conhecimento pleno da vulnerabilidade e da singular importância
ambiental do Campo Rupestre. Cita-se, como exemplo, o parágrafo 7º, inciso XI, Artigo 214
da Constituição do Estado de Minas Gerais de 1989, que os Campos Rupestres são unidades
de relevante interesse ecológico e “constituem patrimônio ambiental no Estado e sua
utilização se fará, na forma da lei, em condições que assegurem sua conservação” (Minas
Gerais, 2023)5. Cita-se ainda, que em 2002, Minas Gerais estabeleceu normas, diretrizes e
critérios para nortear a conservação da Biodiversidade no Estado, citando por exemplo a
Deliberação Normativa COPAM nº 55/20026, a qual considera que:
nortear a conservação da Biodiversidade de Minas Gerais, com base no documento: "Biodiversidade em Minas
Gerais: Um Atlas para sua Conservação”.
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espécies nativas, muitas delas já ameaçadas de extinção; (Grifos
nossos).
7Andrade, M.A. et al. (Org.). 2018. Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço FASE 2, MaB-UNESCO. Belo
Horizonte, Minas Gerais, Brasil. 2018. Disponível em: https://reservasdabiosfera.org.br/wp-
content/uploads/2021/11/Relatorio-2018-RBSE_-_PROPOSAL-PHASE-2_portugues.pdf
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Figura 1 - Considerando toda a Região Norte de Minas Gerais, apenas na região do Pico da
Formosa ocorrem ecossistemas rupestres acima de 1.700 m de altitude. Destaque para a
ADA do empreendimento CGE Gameleiras (polígono verde).
8 Giulietti, A.M. et al. (Orgs.). 2009. Plantas Raras do Brasil. Belo Horizonte: Conservação Internacional, 496 p.
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Tabela 1 - Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade na região onde se
pretende instalar o empreendimento CGE Gameleiras.
9 Biodiversidade em Minas Gerais: um Atlas para a sua conservação. 2005. Drummond, G.M. et al. (Orgs.).
Belo Horizonte - Fundação Biodiversitas, 222 p.
10 Portaria MMA No 223, 21/06/2016. Ficam reconhecidas as Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização
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• “Avaliação da flora e atributos ambientais para criação de áreas protegidas no
extremo norte do Espinhaço Setentrional, nos municípios de Monte Azul,
Mato Verde, Santo Antônio do Retiro, Montezuma e Espinosa” elaborado
por pesquisadores do Laboratório de Sistemática, Biogeografia e Evolução
de Plantas Vasculares do Instituto de Biociências da Universidade de São
Paulo e promovido pelo programa Copaíbas e do PAT Espinhaço (Pró-
espécies, IEF-MG e WWF), financiado pelo Norway's International Climate
and Forest Initiative (NICFI), Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
(FUNBIO) e Governo do Estado de Minas Gerais (Grifos nossos);
• “Contribuições para a proposta de criação de Unidade de Conservação
na região do Pico da Formosa/Serra de Montevideo, no contexto do
PAT Espinhaço Mineiro” elaborado pelo Centro Nacional de Conservação
da Flora do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro
(CNCFlora, 2023)11. (Grifos nossos);
• “Proposta de criação do Monumento Natural Federal Serra Geral de
Minas” elaborado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC), Agência de Desenvolvimento Regional Integrado (ADERI), Reserva
da Biosfera da Serra do Espinhaço (RBSE), Instituto Grande Sertão (IGS),
Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), Centro Excursionista
Mineiro (CEM) e Federação de Montanhismo e Escalada do Estado de Minas
Gerais (FEMEMG) (apud, ICMBIO, 2023)12. (Grifos nossos).
11 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Diretoria de Pesquisa, Centro Nacional de
Conservação da Flora – CNCFlora, Coordenação de Projeto Núcleo Estratégias para Conservação da Flora
Ameaçada de Extinção – NuEC. 2023. Contribuições para a proposta de criação de Unidade de Conservação na região do
Pico da Formosa/Serra de Montevideo, no contexto do PAT Espinhaço Mineiro. Rio de Janeiro, 9p.
12 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Nota Técnica nº 15/2023/CR-Lagoa Santa/GR-
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atualmente está em análise por parte do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade – ICMBio, e cujos objetos de criação estão sintetizados em:
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o cara-dourada (Phylloscartes roquettei), e o lenheiro-da-serra-do-cipó
(Asthenes luizae).
[...] A área em questão apresenta lacunas significativas no
conhecimento científico e possui um alto potencial para pesquisas e
descobertas de novas espécies da flora, como evidenciado por
publicações realizadas entre 2017 e 2023, que descreveram 5 novas
espécies e estão em processo de descrição outras 3 espécies com
base em materiais botânicos coletados na região.
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Figura 2 - Localização da Área diretamente Afetada (ADA em roxo) da Central Geradora
Eólica Gameleiras, do empreendedor Fenix Energias Renováveis e Participações S.A. em
relação aos limites da proposta de criação do Monumento Natural Federal (MONA) da Serra
Geral de Minas (polígono em verde), nos municípios de Monte Azul, Santo Antônio do
Retiro e Espinosa, Minas Gerais.
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4. SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DO EMPREENDIMENTO - DN COPAM
N° 217/2017
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A partir do potencial poluidor/degradador da atividade e do porte, determina-se a
Classe do empreendimento, conforme a Figura 4. No caso da Central Geradora Eólica
Gameleiras a Classe final foi definida como 1.
Por fim, ao aplicar a pontuação dos Critérios Locacionais diante da classificação final
do empreendimento (Classe 1), obteve-se a modalidade de licenciamento para o
empreendedor, tendo como resultado final a modalidade de Licenciamento Ambiental
Simplificado, na modalidade LAS-RAS (Figura 5).
Sendo a modalidade LAS-RAS, a DN Copam nº 217/2017 indica, em seu Art. 8º, §4º
que:
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[...]
II – análise, em uma única fase do Relatório Ambiental Simplificado
– RAS, com expedição da Licença Ambiental Simplificada – LAS,
denominada LAS/RAS.
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km nos topos das serras, o uso de desmonte de rochas, e a abertura de quilômetros de
estradas, por exemplo. Apenas considerando a instalação dos 98 aerogeradores serão
necessárias intensas intervenções ambientais para instalar torres “fabricadas em concreto e
aço, com altura de 125 m, e diâmetro de rotor de 170 m” (Napeia, 2021), com uso de
maquinário pesado. Como exemplo da intensidade de impacto para instalar tais
equipamentos ver Figura 6 (FEAM, 2013)18. Essa situação deveria conduzir o órgão
ambiental a seguir por outra classificação de modalidade de licenciamento, conforme previsto
em normas legais. Conforme já colocado, a própria DN Copam n° 217/2017 estabelece no
Artigo 8, §5º que:
Figura 6 - Exemplo de intensas intervenções ambientais, com uso de maquinário pesado para
a construção da torre eólica. Fonte: FEAM (2013).
18FEAM - Fundação Estadual do Meio Ambiente. 2013. Utilização da energia eólica no Estado de Minas
Gerais: aspectos técnicos e o meio ambiente. Belo Horizonte, 77 p.
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Ratificando a situação na qual o órgão ambiental deveria seguir por outra classificação
de modalidade de licenciamento, cita-se por exemplo, o §3º do Artigo 3º da Resolução
CONAMA 462/201419, em que:
Gameleiras Solicitação de Licença Ambiental Prévia Monte Azul, MG | julho de 2021. 795 p.
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por apresentar maior ocorrência de espécies ameaçadas,
espécies com endemismo restrito, além de espécies de
ocorrência não conhecida, a exemplo da Gomesa bifolia
(Orchidaceae). (Grifos nossos).
De fato, diante das características evolutivas, biogeográficas e ecológicas específicas
dos Campos Rupestres, o licenciamento simplificado mostra-se inadequado. De acordo com
Rapini et al. (2009) 21, autores do livro Plantas Raras do Brasil, os locais onde ocorrem plantas
raras são insubstituíveis, e:
[...] esses sítios devem ser percebidos pelos órgãos ambientais como
os setores mais frágeis do território brasileiro e que por isso exigem
uma atenção maior no que diz respeito ao licenciamento ambiental,
dado que um planejamento inadequado poderá levar à perda de
espécies únicas do patrimônio biológico brasileiro.
21Introdução, p. 26. Plantas Raras do Brasil. 2009. Giulietti, A.M. et al. (Orgs.). Belo Horizonte – Conservação
Internacional, 496 p.
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Para aumentar a probabilidade de que estes empreendimentos
entrarão em operação no prazo estabelecido é que se realiza a
habilitação técnica dos projetos. Nela se verifica, por exemplo,
se o empreendimento possui, no mínimo, a Licença Prévia
(LP) ou equivalente, que atesta a sua viabilidade
socioambiental (SION, 2020, p. 161, grifos nossos).
(Memorando.SEMAD/DEREG.nº 31/2021).
Desta forma, o órgão licenciador não realizou avaliação sobre a viabilidade ambiental
do empreendimento ao ser deferido o certificado nº 4350/2021.
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Figura 7 - Localização da ADA (polígono azul) do empreendimento CGE Gameleiras
inserido no interior da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço. Adaptado de IDE-
SISEMA.
23 Napeia Consultoria e Projetos. 2021. Relatório Ambiental Simplificado | RAS Central Geradora Eólica
Gameleiras Solicitação de Licença Ambiental Prévia Monte Azul, MG | Julho de 2021. 795 p.
24 Instrução de Serviço SISEMA 02/2017. Compensação pelo corte ou supressão de Vegetação primária ou
secundária nos estágios Médio ou avançado de regeneração no bioma Mata Atlântica. Disponível em:
http://www.meioambiente.mg.gov.br/images/stories/2017/ASNOP/Instru%C3%A7%C3%A3o_de_Servi
%C3%A7o_Sisema_n%C2%BA_02-2017_2017.04.07-novo.pdf
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IBGE, a situação de disjunção da vegetação, ou seja, mesmo quando uma dada fitofisionomia
ocorre “fora da sua área de aplicação, ainda recebem o mesmo tratamento jurídico dado à
Mata Atlântica pela Lei Federal nº 11.428/2006”. Para o caso do bioma Cerrado, as
disjunções que devem ser abrangidas pela Lei Federal nº 11.428/2006 são Floresta Estacional
Semidecidual, Floresta Estacional Decidual e Refúgios Vegetacionais. Destaca-se que os
campos rupestres são refúgios vegetacionais, conforme extensa bibliografia técnico-
científica25 e pela Infraestrutura de Dados Espaciais do Sistema Estadual de Meio Ambiente
e Recursos Hídricos (IDE-Sisema) IDE-SISEMA, conforme Figura 8. Tal fato, também foi
omitido tanto pelos estudos elaborados pelo empreendedor, quanto pelo relatório elaborado
pela Supram Norte de Minas.
25 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2012. Manual técnico da vegetação brasileira: sistema
fitogeográfico, inventário das formações florestais e campestres, técnicas e manejo de coleções botânicas,
procedimentos para mapeamentos. Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. - 2. ed., Rio de
Janeiro, 276 p.
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Portanto, o empreendimento Central Geradora Eólica Gameleiras está localizado em
disjunções vegetais de Mata Atlântica (Figura 8), o que também determina que o
licenciamento ambiental não deveria seguir por vias simplificadas. A referida IS SISEMA
02/2017, ratifica o seguinte:
Por fim, como um exemplo retirado de parecer dos órgãos ambientais, cita-se a
conclusão de que os campos rupestres (refúgio vegetacional) são fitofisionomias associadas
a Lei da Mata Atlântica (Despacho nº 209/2023/SEMAD/SUPRAM LESTE-DRRA)26:
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6. DEFERIMENTO DA LICENÇA AMBIENTAL SIMPLIFICADA
27Napeia Consultoria e Projetos. 2021. Relatório Ambiental Simplificado | RAS Central Geradora Eólica
Gameleiras Solicitação de Licença Ambiental Prévia Monte Azul, MG | Julho de 2021. 795 p.
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(EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para
Licenciamento Prévio de atividades gerais, em que se enquadra a
geração de energia a partir de fonte eólica, do Sistema Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Minas Gerais – Sisema
(2021); e as diretrizes expostas na Resolução CONAMA n.º
462/2014 (BRASIL, 2014). (Napeia, 2021, p. 5).
28 Semad. Termo de Referência - Estudo referente aos Critérios Locacionais definidos pela Deliberação
Normativa Copam 217/2017 – Unidades de Conservação, Áreas Prioritárias para a Conservação, Reserva da
Biosfera, Sítio Ramsar e Corredores Ecológicos. Disponível em:
http://www.meioambiente.mg.gov.br/component/content/article/13-informativo/3504-termos-de-
referencia-para-os-criterios-locacionais-de-enquadramento.
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dos quais inseridos a uma distância de 17 km. Tal fato, não foi demonstrado no estudo
elaborado pelo empreendedor, uma vez que a figura que identifica os pontos amostrais da
vegetação não contém a ADA (Napeia, 2021, p. 452) e alguns pontos amostrais foram
inseridos em áreas intensamente antropizadas (Figura 9).
Nenhum ponto amostral foi observado em altitudes acima de 1.350 m, o que consiste
em um erro grave, podendo gerar ausência de informações fundamentais para o diagnóstico
da biodiversidade, como o de não identificar espécies raras e ameaçadas de extinção e
ambientes sensíveis. Destaca-se que uma importante porção da ADA está prevista para ser
instalada em altitudes superiores a 1.350 m, chegando a quase 1.730 m. Portanto, não foi
observado nenhum ponto de amostragem nos ecossistemas naturais localizados acima de
1.350 m.
Outra situação inadequada foi a ausência da participação de botânicos especialistas
em campos rupestres na equipe que elaborou o RAS (Napeia, 2021, pp. 764-766), por tratar-
se de um dos ecossistemas com a maior concentração de espécies endêmicas do mundo. Tal
deficiência pode ter relação direta com a reduzida proporção de plantas identificadas até o
nível de espécies, uma vez que de 430 táxons, 154 não foram identificados até o nível de
espécie. Diante desse subdimensionamento taxonômico, questiona-se se seria possível o
órgão licenciador garantir que o empreendimento não irá gerar impactos irreversíveis a uma
espécie rara e ameaça de extinção ou até mesmo, que na área de influência direta não ocorra
espécie nova para a ciência?
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Figura 9 - Pontos de amostragem para avaliação da cobertura vegetal em relação a ADA (polígono vermelho) do empreendimento. Destaque para alguns
dos pontos (círculos vermelhos) inseridos em áreas antropizadas.
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7.1.1 Ausência de informações sobre espécies raras e recentemente descritas pela ciência na ADA
Figura 10 - Várias espécies de plantas novas para a ciência têm populações naturais com
ocorrência restrita à área de abrangência direta do empreendimento CGE Gameleiras (ADA
em vermelho).
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Tabela 2 - Espécies novas para a ciência que ocorrem exclusivamente no ecossistema
Campo Rupestre e que ocorrem na área de abrangência direta do empreendimento CGE
Gameleiras.
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Considerando que os dados técnico-científicos indicam que a maioria dessas espécies
tem populações naturais com ocorrência restrita à área de abrangência direta da intervenção
pretendida (conforme Figura 10), e que o empreendedor e o PT LAS RAS 179/2021 não
apresentaram nenhuma informação nos estudos sobre eventuais medidas de evitação, ou
mitigação, ou estudos de viabilidade populacional, ou qualquer outra informação
fundamental para a avaliação de impactos e de risco de extinção, conclui-se, portanto, que o
empreendimento CGE Gameleiras, caso seja implementado, irá agravar o risco de
sobrevivência in situ ou até poderá causar a extinção de espécies da flora.
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7.2.1 O empreendimento frente à Deliberação Normativa CONEP 07/2014
29CONEP, 2014. Deliberação Normativa CONEP nº 07/2014. Estabelece normas para a realização de estudos
de impacto no patrimônio cultural no Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: CONEP.
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7.2.2 Licenciamento Cultural do Empreendimento em nível Federal
30 IPHAN, 2015. Instrução Normativa 01/2015: Estabelece procedimentos administrativos a serem observados
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nos processos de licenciamento ambiental dos
quais participe. Brasília, IPHAN. 35p.
31 Disponível em
https://sei.iphan.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?9LibXMqGnN
7gSpLFOOgUQFziRouBJ5VnVL5b7-UrE5SllwaJW-wmOrxqiVwU2TjRj2YNf4iF-
Dnwg5jimlN7UJ4JUvazmsTnBdf8ygqbB_hyYDtlqBIsNn9uCRNcrrKe, acesso em 12/12/2023.
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acordo com a situação atual do Processo IPHAN correlato. Destaca-se o que diz a Portaria
IPHAN 07/198832 acerca do prazo para apresentação de relatórios:
Além da extrapolação dos prazos para conclusão dos estudos prévios (PAPIPA),
cabe ressaltar que o empreendimento não obteve ainda a anuência do IPHAN. Mesmo assim,
o empreendimento obteve a sua Licença Ambiental Simplificada, sendo passível de instalação
e operação antes que sejam concluídos os estudos prévios do Patrimônio Cultural.
Diante do exposto, conclui-se que o empreendimento ainda não finalizou a primeira
fase do licenciamento no âmbito da IN IPHAN 01/2015, pois ainda não foram apresentados
os estudos do patrimônio cultural exigidos pelo IPHAN, incluído o arqueológico. Pelo prazo
da Portaria de autorização e os prazos limites para a apresentação de relatórios técnicos de
12 meses, estão reunidos os elementos para interrupção do processo pelo IPHAN.
Como o empreendimento detém a Licença Ambiental LAS/RAS desde 17/11/2021,
constata-se que o Patrimônio Cultural, particularmente o Arqueológico (protegido pela lei
3.924/196133), está exposto a impactos do empreendimento. Isto decorre da não
apresentação do Relatório de Avaliação de Potencial de Impacto ao Patrimônio
Arqueológico (RAPIPA) que demonstre a realização de estudos prévios até a conclusão do
presente relatório, segundo documentos públicos. Com isso, a proposição de alterações no
layout e de medidas preventivas e mitigatórias relacionadas a possíveis impactos ao
patrimônio cultural ainda não ocorreram apesar do empreendimento já possuir Licença
Vigente. Tal situação demonstra o descompasso entre a fase de estudos prévios relacionados
ao patrimônio cultural acautelado em nível federal que ainda estão em andamento e o
licenciamento ambiental já deferido para o empreendimento. Assim, a equivocada concessão
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da Licença anteriormente à manifestação conclusiva do IPHAN coloca em risco o eventual
patrimônio cultural existente na área do empreendimento.
34Archaios Logos Consultoria Científica. 2021. Relatório de Prospecção Exocárstica da Central Geradora
Eólica Gameleiras. Espinosa, Monte Azul e Santo Antônio do Retiro – MG. Ilhéus, julho de 2021. 83 p.
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e seu entorno de 250 metros, conforme estipulado pela Instrução de Serviço Sisema-IS nº
8/201735, a equipe responsável pelo estudo, ainda assim, concluiu que:
35Instrução de Serviço Sisema nº 08/2017. Revisão 1. Dispõe sobre os procedimentos para a instrução dos
processos de licenciamento ambiental de empreendimentos efetiva ou potencialmente capazes de causar
impactos sobre cavidades naturais subterrâneas e suas áreas de influência. 37 p.
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Figura 11 – Mapa apresentado pelo empreendedor constando as linhas de caminhamento (linhas verdes). A seta indica único trecho da ADA interceptado
pelo caminhamento. Em todo o restante da ADA não foi realizada prospecção. Fonte: Imagem modificada de Archaios Logos Consultoria Científica,
p. 39.
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Consultando o anuário do CECAV (2021)36, foram identificadas 11 (onze) cavidades
cadastradas no ano de 2021 que estão inseridas na AID do empreendimento, sendo 5 (cinco)
no município de Espinosa e 6 (seis) no município de Monte Azul (Tabela 3).
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Figura 12 – Imagem destacando a distribuição das cavidades prospectadas pelo
empreendedor (pontos verdes) e das cavidades cadastradas no CANIE (2021) representadas
pelos pontos amarelos.
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Além disso, verificou-se que existe condições potenciais de impactos negativos nas
cavidades cadastradas no CANIE, assim como em suas áreas de influência, quando da
instalação do empreendimento. Conforme colocado pelo empreendedor, algumas obras
consistem em:
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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS E ENCAMINHAMENTOS
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espeleológicos, assim como um maior adensamento da malha de prospecção na ADA e AID,
o que também poderá corroborar com possíveis impactos negativos irreversíveis nessas
cavidades já registradas no CANIE.
Além disso, destaca-se, por exemplo, que não foram amostradas áreas acima de 1.350
m de altitude, o que consiste em um erro grave, podendo gerar ausência de informações
fundamentais para o diagnóstico da biodiversidade, como o de não identificar espécies raras
e ameaçadas de extinção e ambientes sensíveis como as cavidades naturais subterrâneas.
Sabe-se que uma importante porção da ADA está prevista para ser instalada em altitudes
superiores a 1.350 m, chegando a quase 1.730 m.
O Parecer Técnico SEMAD/SUPRAM NORTE 179/2021 desconsiderou ainda
dois importantes critérios locacionais, a saber: Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço; e
a Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica. Além disso, o órgão licenciador não realizou
avaliação sobre a viabilidade ambiental do empreendimento ao deferir o certificado nº
4350/2021.
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9. ENCERRAMENTO
O presente relatório possui 41 páginas. Pelo presente, por ser verdade, assina a equipe
técnica.
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