Você está na página 1de 41

IP.161.

2023

Ref.: Procedimento Preparatório n° MPMG 0243.23.000183-2

RELATÓRIO TÉCNICO REFERENTE À ANÁLISE DO


LICENCIAMENTO AMBIENTAL SIMPLIFICADO (LAS) DO
PROCESSO SLA Nº 4350/2021 DO EMPREENDIMENTO FENIX
ENERGIAS RENOVÁVEIS E PARTICIPAÇÕES S.A./CENTRAL
GERADORA EÓLICA GAMELEIRAS, MUNICÍPIOS DE MONTE
AZUL, SANTO ANTÔNIO DO RETIRO E ESPINOSA/MG

Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2023

IP.161.2023 - Página 1 de 41
INSTITUIÇÕES E EQUIPE TÉCNICA

INSTITUTO PRÍSTINO
Endereço: Rua Três de Maio, n° 56, Bairro Santa Helena.
Belo Horizonte, Minas Gerais. CEP 30642-180
Telefone: (31) 3643-0452
E-mail: contato@institutopristino.org.br
Home page: https://institutopristino.org.br/
CNPJ: 16.629.770/0001-38

EQUIPE TÉCNICA
DAYANE CAROLINE FREITAS CARVALHO
Geógrafa formada pela UFMG. Mestre em Análise e Modelagem de Sistemas
Ambientais (UFMG). CREA-MG 357520/D.

FELIPE FONSECA DO CARMO


Biólogo formado pela UFMG. Mestre em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida
Silvestre (UFMG). CRBio 70931/04-D.

FLÁVIO FONSECA DO CARMO


Biólogo formado pela UFMG. Mestre e Doutor em Ecologia, Conservação e Manejo
da Vida Silvestre (UFMG). CRBio 57486/04-D.

LUCIANA HIROMI YOSHINO KAMINO


Bióloga formada pela UFMG. Mestre, Doutora e Pós-doutora em Biologia Vegetal
(UFMG). CRBio 30070/4-D.

ROGÉRIO TOBIAS JUNIOR


Arqueólogo. Historiador formado pela PUC/MG. Doutorando e Mestre em
Antropologia – Arqueologia Pré-Histórica (UFMG). Sócio efetivo nº 1048 da
Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB).

IP.161.2023 - Página 2 de 41
1. APRESENTAÇÃO

O presente relatório foi elaborado em atendimento à demanda do Centro de Apoio


Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, do Patrimônio
Histórico e Cultural e da Habitação e Urbanismo (CAOMA), a fim de dar apoio ao
Procedimento Preparatório n° MPMG 0243.23.000183-2, conduzido conjuntamente pelas
Coordenadoria Regional das Promotorias de Justiça o Meio Ambiente das Bacias dos Rio
Verde Grande e Pardo e das Promotorias de Justiça de Espinosa e de Monte Azul (Portaria
nº 4607/2023). O referido Procedimento Preparatório tem como descrição “Apurar a
legalidade da concessão, pela Superintendência Regional de Meio Ambiente do Norte de
Minas - SUPRAM-NM, de licença ambiental simplificada ao empreendedor Fenix Energias
Renováveis e Participações S/A, relativo ao empreendimento Central Geradora Eólica
Gameleiras”.
A solicitação do MPMG demandou a análise do licenciamento ambiental
simplificado da Central Geradora Eólica (CGE) Gameleiras, do empreendedor Fênix
Energias Renováveis e Participações S.A., nos municípios de Monte Azul, Santo Antônio do
Retiro e Espinosa, região norte de Minas Gerais. Especificamente, o objetivo do presente
relatório foi verificar a adequação do rito de licenciamento ambiental à luz da legislação
vigente e boas práticas consolidadas. Os temas analisados foram referentes à classificação da
modalidade de licenciamento do referido empreendimento; às informações do Patrimônio
Cultural, Arqueológico e Espeleológico, da Flora/Vegetação e às respectivas condicionantes
ambientais.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Para a presente análise foram consultados os documentos do Procedimento


Preparatório (PP) n° MPMG-0243.23.000183-2 (SEI n° 19.16.1532.0114983/2023-35) e do
Processo do Sistema de Licenciamento Ambiental (SLA) nº 4350/2021, disponibilizados na
plataforma Ecossistemas1. Foi consultado ainda o Processo Administrativo IPHAN
nº 01514.00726/2020-76 no Sistema Eletrônico de Informações do IPHAN (SEI IPHAN2).

1 Disponível em https://ecosistemas.meioambiente.mg.gov.br/sla/#/acesso-visitante, acesso em 07/12/2023.


2 Disponível em https://sei.iphan.gov.br/pesquisapublica, acesso em 07/12/2023

IP.161.2023 - Página 3 de 41
Para compreensão da área de influência do empreendimento foram consultados os
seguintes sites:

• Atlas Digital Geoambiental mantido pelo Instituto Prístino. Disponível em


<https://institutopristino.org.br/atlas/>, acesso em 07/12/2023;
• Infraestrutura de Dados Espaciais IDE-SISEMA. Disponível em
<https://idesisema.meioambiente.mg.gov.br/webgis>, acesso em 07/12/2023;
• Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão do IPHAN (SICG). Disponível
em https://sicg.iphan.gov.br/sicg/pesquisarBem acesso em 10/12/2023
• Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas – CECAV. Cadastro
Nacional de Informações Espeleológicas (CANIE). Disponível em
<https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/centros-de-
pesquisa/cecav/cadastro-nacional-de-informacoes-espeleologicas/canie>,
acesso em 07/12/2023.
• Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas – CECAV. Anuário
Estatístico do Patrimônio Espeleológico Brasileiro 2021. Disponível em
<https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/centros-de-
pesquisa/cecav/anuario-estatistico-do-patrimonio-espeleologico-
brasileiro/anuario-estatistico-do-patrimonio-espeleologico-
brasileiro#:~:text=O%20Anu%C3%A1rio%20Estat%C3%ADstico%20do%20
Patrim%C3%B4nio,de%20ocorr%C3%AAncia%20de%2018.358%20cavernas.
>, acesso em 07/12/2023.
Para a análise temporal histórica da área do empreendimento foram utilizadas
imagens de satélites Maxar disponíveis no software Google Earth Pro3.

3. IMPORTÂNCIA AMBIENTAL GLOBAL E REGIONAL DA ÁREA ONDE


ESTÁ PLANEJADO O EMPREENDIMENTO

Dentre todos os tipos de ecossistemas até então conhecidos no Brasil – incluindo os


da região Amazônica – nenhum supera o elevado número de espécies de plantas endêmicas
e ameaçadas de extinção como o que ocorre no Campo Rupestre. Apenas como um exemplo
dessa megadiversidade, o Campo Rupestre cobre menos de 0,8% do território brasileiro,
porém abriga mais de 5 mil espécies de plantas. O Campo Rupestre representa o ecossistema
mais antigo do país, da ordem de dezenas de milhões de anos de evolução, mas constitui um

3 Google Earth Pro 7.3.6.9345 (64-bit). Data da compilação: 29/12/2022.

IP.161.2023 - Página 4 de 41
dos ambientes mais sensíveis à alteração humana. Tais fatos são reconhecidos no Brasil e
globalmente, dada a farta literatura técnico-científica produzida nas últimas décadas4.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(SEMAD), incluindo seus órgãos de regularização ambiental e o Instituto Estadual de
Florestas (IEF), tem conhecimento pleno da vulnerabilidade e da singular importância
ambiental do Campo Rupestre. Cita-se, como exemplo, o parágrafo 7º, inciso XI, Artigo 214
da Constituição do Estado de Minas Gerais de 1989, que os Campos Rupestres são unidades
de relevante interesse ecológico e “constituem patrimônio ambiental no Estado e sua
utilização se fará, na forma da lei, em condições que assegurem sua conservação” (Minas
Gerais, 2023)5. Cita-se ainda, que em 2002, Minas Gerais estabeleceu normas, diretrizes e
critérios para nortear a conservação da Biodiversidade no Estado, citando por exemplo a
Deliberação Normativa COPAM nº 55/20026, a qual considera que:

[...] o Atlas das áreas prioritárias para a conservação da


Biodiversidade apresenta-se como um importante instrumento
norteador da tomada de decisões e do planejamento de ações e
de atividades relacionadas à proteção e à manutenção de

4 Exemplos de literatura de revisão sobre a importância global dos Campos Rupestres:


- Colli‐Silva, M., Vasconcelos, T.N., & Pirani, J.R. 2019. Outstanding plant endemism levels strongly support
the recognition of campo rupestre provinces in mountaintops of eastern South America. Journal of Biogeography,
46(8):1723-1733.
- Silveira, F.A., Negreiros, D., Barbosa, N.P., Buisson, E., Carmo, F.F., Carstensen, D.W., ... & Lambers, H.
2016. Ecology and evolution of plant diversity in the endangered campo rupestre: a neglected conservation
priority. Plant and soil, 403:129-152.
- Rapini, A., Bitencourt, C., Luebert, F., & Cardoso, D. (2021). An escape-to-radiate model for explaining the
high plant diversity and endemism in campos rupestres. Biological Journal of the Linnean Society, 133(2):481-498.
- Fernandes, G.W., Barbosa, N.P.U., Alberton, B., Barbieri, A., Dirzo, R., Goulart, F., ... & Solar, R.R.C. 2018.
The deadly route to collapse and the uncertain fate of Brazilian rupestrian grasslands. Biodiversity and Conservation,
27:2587-2603.
- Giulietti, A.M., Pirani, J.R., Harley, R.M. 1997. Espinhaço Range region—Eastern Brazil In: Davis, S.D.,
Heywood, V.H., Herrera-MacBryde, O., Villa-Lobos, J., Hamilton, A.C., eds. Centres of plant diversity: a guide and
strategy for their conservation. WWF.
- Hopper, S.D., Silveira, F.A., Fiedler, P.L. 2016. Biodiversity hotspots and Ocbil theory. Plant and Soil. 403:167-
216.
- Echternacht, L., Trovó, M., Oliveira, C.T., & Pirani, J.R. 2011. Areas of endemism in the Espinhaço range in
Minas Gerais, Brazil. Flora-Morphology, Distribution, Functional Ecology of Plants. 206(9):782-791.
5 Minas Gerais. 2023. Constituição do Estado de Minas Gerais. 32. ed. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do

Estado de Minas Gerais. 497 p. Disponível em https://www.almg.gov.br/atividade-


parlamentar/leis/constituicao-estadual.
6 COPAM. Deliberação Normativa COPAM nº 55, 13/06/2002. Estabelece normas, diretrizes e critérios para

nortear a conservação da Biodiversidade de Minas Gerais, com base no documento: "Biodiversidade em Minas
Gerais: Um Atlas para sua Conservação”.

IP.161.2023 - Página 5 de 41
espécies nativas, muitas delas já ameaçadas de extinção; (Grifos
nossos).

A área de Campo Rupestre onde se pretende instalar o empreendimento CGE


Gameleiras é uma das mais importantes de Minas Gerais – oficialmente já reconhecida – e
ocorre na região entre a Serra de Montevidéu e o Pico da Formosa (altitude de 1.820 m),
Serra do Espinhaço. A região do Pico da Formosa é insubstituível, dado seu estado de
conservação excepcional e a sua importância evolutiva, ecológica e biogeográfica.
Considerando toda a região Norte de Minas Gerais, apenas na região do Pico da Formosa
ocorrem ecossistemas rupestres acima de 1.700 m de altitude (Figura 1). Ratificando essa
situação, a região da Serra de Montevidéu e o Pico da Formosa integra uma área insubstituível
também reconhecida e integrante da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço (2018)7.

7Andrade, M.A. et al. (Org.). 2018. Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço FASE 2, MaB-UNESCO. Belo
Horizonte, Minas Gerais, Brasil. 2018. Disponível em: https://reservasdabiosfera.org.br/wp-
content/uploads/2021/11/Relatorio-2018-RBSE_-_PROPOSAL-PHASE-2_portugues.pdf

IP.161.2023 - Página 6 de 41
Figura 1 - Considerando toda a Região Norte de Minas Gerais, apenas na região do Pico da
Formosa ocorrem ecossistemas rupestres acima de 1.700 m de altitude. Destaque para a
ADA do empreendimento CGE Gameleiras (polígono verde).

Nestes ecossistemas insubstituíveis é que se pretende instalar o empreendimento


CGE Gameleiras, cuja Área Diretamente Afetada (ADA) foi estimada em cerca de 1.120 ha
ao longo de 24 km nos topos das serras. A ADA localiza-se integralmente em três Áreas
Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade, e para todas elas, um dos mais importantes
objetos de conservação foi a presença do Campo Rupestre (Tabela 1). Além disso, a ADA
do empreendimento CGE Gameleiras está localizada entre duas áreas-chave para a
Conservação de Plantas Raras do Brasil8, a saber: “Monte Azul” e “Serra do Deus-me-livre”,
ou seja, são áreas que abrigam populações de espécies com distribuição restrita e “que por
isso são insubstituíveis e estão vulneráveis à extinção, precisando de proteção
imediata” (Grifos nossos).

8 Giulietti, A.M. et al. (Orgs.). 2009. Plantas Raras do Brasil. Belo Horizonte: Conservação Internacional, 496 p.

IP.161.2023 - Página 7 de 41
Tabela 1 - Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade na região onde se
pretende instalar o empreendimento CGE Gameleiras.

Área Prioritária Esfera/Ano Categoria Ações Prioritárias


Criar unidades de conservação;
Espinhaço Estadual/20059 Especial investigação científica;
Setentrional monitoramento.
Região de
Monte Azul Estadual/2005 Alta Investigação Científica.
(Flora)
Conservação in situ; utilização
sustentável e repartição de benefícios
da biodiversidade; pesquisa e
CA275 Federal/201610 Alta inventários; recuperação da
biodiversidade; valoração econômica
da biodiversidade.

Devido à relevância do Campo Rupestre para a conservação da biodiversidade, a


região foi designada como Área Prioritária reconhecida pela União e pelo Estado para
ampliação de áreas protegidas em Minas Gerais, além de ser considerada uma área de Alta
Importância Biológica dentro do contexto das Áreas Prioritárias para a Conservação da
Biodiversidade brasileira.
Destaca-se ainda que a região onde se pretende instalar o referido empreendimento
representa uma lacuna de conhecimento sobre a flora e outros aspectos de sua diversidade
reconhecida por instituições da União, do Estado, das fundações internacionais, das
instituições do terceiro setor e da comunidade científica. Os resultados de algumas poucas
expedições de campo realizadas em 2022 e 2023 contaram com o ineditismo de coletar
espécies de famílias botânicas antes nunca amostradas na região e o registro de espécies
novas, endêmicas e já consideradas ameaçadas de extinção. Além disso, reconhecem a
necessidade do fomento para pesquisas científicas, monitoramento da biodiversidade, além
de ser uma região alvo para a criação de unidades de conservação, cujas ações estão
estabelecidas em documentos como:

9 Biodiversidade em Minas Gerais: um Atlas para a sua conservação. 2005. Drummond, G.M. et al. (Orgs.).
Belo Horizonte - Fundação Biodiversitas, 222 p.
10 Portaria MMA No 223, 21/06/2016. Ficam reconhecidas as Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização

Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade do Cerrado, do Pantanal e da Caatinga, resultantes da


2ª atualização, para efeito da formulação e implementação de políticas públicas, programas, projetos e
atividades, sob a responsabilidade do Governo Federal.

IP.161.2023 - Página 8 de 41
• “Avaliação da flora e atributos ambientais para criação de áreas protegidas no
extremo norte do Espinhaço Setentrional, nos municípios de Monte Azul,
Mato Verde, Santo Antônio do Retiro, Montezuma e Espinosa” elaborado
por pesquisadores do Laboratório de Sistemática, Biogeografia e Evolução
de Plantas Vasculares do Instituto de Biociências da Universidade de São
Paulo e promovido pelo programa Copaíbas e do PAT Espinhaço (Pró-
espécies, IEF-MG e WWF), financiado pelo Norway's International Climate
and Forest Initiative (NICFI), Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
(FUNBIO) e Governo do Estado de Minas Gerais (Grifos nossos);
• “Contribuições para a proposta de criação de Unidade de Conservação
na região do Pico da Formosa/Serra de Montevideo, no contexto do
PAT Espinhaço Mineiro” elaborado pelo Centro Nacional de Conservação
da Flora do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro
(CNCFlora, 2023)11. (Grifos nossos);
• “Proposta de criação do Monumento Natural Federal Serra Geral de
Minas” elaborado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC), Agência de Desenvolvimento Regional Integrado (ADERI), Reserva
da Biosfera da Serra do Espinhaço (RBSE), Instituto Grande Sertão (IGS),
Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), Centro Excursionista
Mineiro (CEM) e Federação de Montanhismo e Escalada do Estado de Minas
Gerais (FEMEMG) (apud, ICMBIO, 2023)12. (Grifos nossos).

Destacam-se duas iniciativas para a criação de unidade de conservação na região do


Pico da Formosa, uma vez que a ADA do empreendimento CGE Gameleiras está inserida
no interior de ambas. A primeira proposta de criação de unidade de conservação foi
desenvolvida no contexto do Plano de Ação Territorial - PAT Espinhaço Mineiro, sob
responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF)13, o qual tem o objetivo de
“coordenar a elaboração e execução do Plano de Ação Territorial – PAT para Conservação
de Espécies Ameaçadas de Extinção para o território definido como Espinhaço Mineiro”.
A outra proposta de criação de unidade de conservação proteção integral seria o
Monumento Natural Federal (MONA) da Serra Geral de Minas (ver Figura 2), que

11 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Diretoria de Pesquisa, Centro Nacional de
Conservação da Flora – CNCFlora, Coordenação de Projeto Núcleo Estratégias para Conservação da Flora
Ameaçada de Extinção – NuEC. 2023. Contribuições para a proposta de criação de Unidade de Conservação na região do
Pico da Formosa/Serra de Montevideo, no contexto do PAT Espinhaço Mineiro. Rio de Janeiro, 9p.
12 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Nota Técnica nº 15/2023/CR-Lagoa Santa/GR-

4/GABIN/ICMBio. Lagoa Santa-MG, 12 de setembro de 2023. 6p.


13 PAT Espinhaço Mineiro. Disponível em http://www.ief.mg.gov.br/biodiversidade/-pat-espinhaco-mineiro.

IP.161.2023 - Página 9 de 41
atualmente está em análise por parte do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade – ICMBio, e cujos objetos de criação estão sintetizados em:

(1) Conservação da biodiversidade: Espécies ameaçadas de extinção


e recém descritas (e em descrição); (2) Conservação de ecossistemas
naturais: Campos rupestres, florestas estacionais, formações
savânicas; (3) Manutenção dos serviços ecossistêmicos: Produção de
água, estoque e acúmulo de carbono; (4) Proteção de atrativos
naturais: Picos do Formosa, Sucuruiú, Montevideo; (5) Proteção do
patrimônio arqueológico: Sítio arqueológico da Serra do Pau
D’Arco; (6) Promoção do ecoturismo. (ICMBio, 2023. P.3)14

A Coordenação Regional do ICMBio (2023) 15 emitiu uma Nota Técnica se


posicionando a favor da proposta de criação do MONA da Serra Geral de Minas indicada
nos autos do processo 02126.002527/2023-82 (SEI n° 16026581). A decisão foi
fundamentada em constatações, como por exemplo:

A proposta busca ainda convergir o fato de que no norte de Minas


Gerais existem áreas ainda prístinas e prioritárias para a conservação
da biodiversidade (com altíssima relevância para a conservação das
paisagens naturais e culturais) com o fato de existirem ocupações
humanas com alto grau de vulnerabilidade social (indicadores de
baixo IDH, baixo nível de governança, etc.), buscando a
conservação da natureza e da cultura.
[...] Na região existe o registro de aproximadamente 260 espécies de
flora, incluindo 62 endêmicas da Bahia e Minas Gerais, além de 11
espécies ameaçadas de extinção (sendo 3 Criticamente em Perigo, 3
em Perigo e 5 Vulneráveis).
[...] há três espécies de aves ameaçadas de extinção nas proximidades
da área sugerida para a criação da UC: a jacucaca (Penelope jacucaca),

14 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Nota Técnica nº 15/2023/CR-Lagoa Santa/GR-


4/GABIN/ICMBio. Lagoa Santa-MG, 12 de setembro de 2023. 6p.
15 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Nota Técnica nº 15/2023/CR-Lagoa Santa/GR-

4/GABIN/ICMBio. Lagoa Santa-MG, 12 de setembro de 2023. 6p.

IP.161.2023 - Página 10 de 41
o cara-dourada (Phylloscartes roquettei), e o lenheiro-da-serra-do-cipó
(Asthenes luizae).
[...] A área em questão apresenta lacunas significativas no
conhecimento científico e possui um alto potencial para pesquisas e
descobertas de novas espécies da flora, como evidenciado por
publicações realizadas entre 2017 e 2023, que descreveram 5 novas
espécies e estão em processo de descrição outras 3 espécies com
base em materiais botânicos coletados na região.

Os documentos acima listados apresentam informações sobre a importância do


patrimônio natural da região, a proposta de criação de uma unidade de conservação federal
de proteção integral, além de informar que a implementação de parques eólicos na região
apresenta severo potencial de transformação na paisagem e impacto sobre a
biodiversidade.

IP.161.2023 - Página 11 de 41
Figura 2 - Localização da Área diretamente Afetada (ADA em roxo) da Central Geradora
Eólica Gameleiras, do empreendedor Fenix Energias Renováveis e Participações S.A. em
relação aos limites da proposta de criação do Monumento Natural Federal (MONA) da Serra
Geral de Minas (polígono em verde), nos municípios de Monte Azul, Santo Antônio do
Retiro e Espinosa, Minas Gerais.

IP.161.2023 - Página 12 de 41
4. SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DO EMPREENDIMENTO - DN COPAM
N° 217/2017

O empreendimento tem como atividade principal (Supram-Norte, 2021) 16 objeto de


licenciamento o código E-02-05-4 (Usina eólica), conforme definição da Deliberação
Normativa (DN) Copam nº 217/201717. O empreendimento foi enquadrado no seguinte
Critério Locacional: Supressão de vegetação nativa em áreas prioritárias para conservação,
considerada de importância biológica “extrema” ou “especial”, exceto árvores isoladas.
Conforme definido pela DN Copam nº 217/2017, o empreendimento obteve a atribuição
máxima (peso 02) quanto à relevância e à sensibilidade dos componentes ambientais que
caracterizam o critério locacional de enquadramento do empreendimento e da atividade.
Considerando que a principal atividade do empreendimento (Usina eólica) foi
projetada para uma capacidade instalada de 607,6 MW, o Porte do empreendimento é
Grande e seu Potencial poluidor/Degradador é Pequeno, conforme demonstrado na Figura
3.

Figura 3 – Consulta para determinar o Potencial Poluidor/Degradador e do Porte do


empreendimento. Em destaque vermelho são apresentados os enquadramentos do
empreendimento Central Geradora Eólica Gameleiras. Fonte: DN Copam nº 217/2017.

16SEMAD/SUPRAM NORTE-DRRA. Parecer Técnico nº. 179/2021. Datado de 17/11/2021. 35 p.


17Copam. Deliberação Normativa COPAM Nº 217, DE 06 DE DEZEMBRO DE 2017. Estabelece critérios
para classificação, segundo o porte e potencial poluidor, bem como os critérios locacionais a serem utilizados
para definição das modalidades de licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades utilizadores de
recursos ambientais no Estado de Minas Gerais e dá outras providências.

IP.161.2023 - Página 13 de 41
A partir do potencial poluidor/degradador da atividade e do porte, determina-se a
Classe do empreendimento, conforme a Figura 4. No caso da Central Geradora Eólica
Gameleiras a Classe final foi definida como 1.

Figura 4 – Consulta para determinar a classe do empreendimento a partir do Potencial


poluidor/Degradador da atividade e do porte. No caso da Central Geradora Eólica
Gameleiras a Classe final foi 1, conforme destaque em vermelho. Fonte: DN Copam nº
217/2017.

Por fim, ao aplicar a pontuação dos Critérios Locacionais diante da classificação final
do empreendimento (Classe 1), obteve-se a modalidade de licenciamento para o
empreendedor, tendo como resultado final a modalidade de Licenciamento Ambiental
Simplificado, na modalidade LAS-RAS (Figura 5).

Figura 5 – Consulta para determinar a modalidade de licenciamento. No caso da Central


Geradora Eólica Gameleiras a modalidade foi LAS-RAS, conforme destaque em vermelho.
Fonte: DN Copam nº 217/2017.

Sendo a modalidade LAS-RAS, a DN Copam nº 217/2017 indica, em seu Art. 8º, §4º
que:

§4º – Na modalidade de Licenciamento Ambiental Simplificado a


licença será emitida conforme os seguintes procedimentos:

IP.161.2023 - Página 14 de 41
[...]
II – análise, em uma única fase do Relatório Ambiental Simplificado
– RAS, com expedição da Licença Ambiental Simplificada – LAS,
denominada LAS/RAS.

Desta forma, empreendimentos direcionados na modalidade LAS-RAS devem


apresentar estudos sobre a sua viabilidade socioambiental e demais estudos de controle
ambiental, em fase anterior a análise do órgão ambiental para o deferimento ou não da
licença. No mesmo Art. 8º, em seu §5º, a DN Copam nº 217/2017, também é indicado que
o órgão ambiental tem a prerrogativa de alterar a modalidade do empreendimento conforme
julgar a necessidade de mais estudos:

§5º – O órgão ambiental competente, quando o critério técnico


assim o exigir, poderá, justificadamente, determinar que o
licenciamento se proceda em quaisquer de suas modalidades,
independentemente do enquadramento inicial da atividade ou do
empreendimento, observada necessidade de apresentação dos
estudos ambientais especificamente exigidos e respeitado o
contraditório.

Destaca-se que pela aplicação do enquadramento descrito na DN Copam nº


217/2017, atividades que estão sobre o código E-02-05-4 (Usina eólica), a priori, sempre serão
classificados como Classe 1, independente da sua capacidade instalada e, consequentemente,
serão indicadas sempre para o licenciamento ambiental simplificado. Portanto, é fundamental
que o órgão ambiental licenciador tenha uma análise além da classificação estipulada pela
DN Copam nº 217/2017, ou seja, que os técnicos avaliem a região de instalação do
empreendimento para que, caso concluam pela importância ambiental e/ou social da área
proposta para o empreendimento, possam determinar que o licenciamento se proceda em
outra modalidade e exigir estudos ambientais mais robustos, a fim de avaliar a viabilidade
socioambiental da licença pretendida.
No presente caso, a modalidade do licenciamento ambiental simplificado para a
Central Geradora Eólica Gameleiras deveria ter sido ponderada pelo órgão licenciador,
principalmente pelo conjunto robusto de dados sobre a importância ambiental e de políticas
públicas para a conservação da área onde se pretende instalar o empreendimento, e pelas
características de porte do mesmo, como uma ADA estimada em 1.120 ha ao longo de 24

IP.161.2023 - Página 15 de 41
km nos topos das serras, o uso de desmonte de rochas, e a abertura de quilômetros de
estradas, por exemplo. Apenas considerando a instalação dos 98 aerogeradores serão
necessárias intensas intervenções ambientais para instalar torres “fabricadas em concreto e
aço, com altura de 125 m, e diâmetro de rotor de 170 m” (Napeia, 2021), com uso de
maquinário pesado. Como exemplo da intensidade de impacto para instalar tais
equipamentos ver Figura 6 (FEAM, 2013)18. Essa situação deveria conduzir o órgão
ambiental a seguir por outra classificação de modalidade de licenciamento, conforme previsto
em normas legais. Conforme já colocado, a própria DN Copam n° 217/2017 estabelece no
Artigo 8, §5º que:

O órgão ambiental competente, quando o critério técnico assim o


exigir, poderá, justificadamente, determinar que o licenciamento se
proceda em quaisquer de suas modalidades, independentemente do
enquadramento inicial da atividade ou do empreendimento,
observada necessidade de apresentação dos estudos ambientais
especificamente exigidos e respeitado o contraditório.

Figura 6 - Exemplo de intensas intervenções ambientais, com uso de maquinário pesado para
a construção da torre eólica. Fonte: FEAM (2013).

18FEAM - Fundação Estadual do Meio Ambiente. 2013. Utilização da energia eólica no Estado de Minas
Gerais: aspectos técnicos e o meio ambiente. Belo Horizonte, 77 p.

IP.161.2023 - Página 16 de 41
Ratificando a situação na qual o órgão ambiental deveria seguir por outra classificação
de modalidade de licenciamento, cita-se por exemplo, o §3º do Artigo 3º da Resolução
CONAMA 462/201419, em que:

Não será considerado de baixo impacto, exigindo a apresentação de


Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental
(EIA/RIMA), além de audiências públicas, nos termos da legislação
vigente, os empreendimentos eólicos que estejam localizados:
[...]
VII - em áreas de ocorrência de espécies ameaçadas de extinção e
áreas de endemismo restrito, conforme listas oficiais.

Independentemente do porte do empreendimento, mas considerando que o mesmo


foi previsto para ser instalado nos Campos Rupestres, e em sítios de plantas raras e áreas
prioritárias para a conservação, é fato que o licenciamento ambiental simplificado é
inadequado para diagnosticar, avaliar os impactos, prever monitoramento, medidas de
mitigação e compensação ambientais em um dos ecossistemas mais frágeis e diversos do
mundo. Nesse sentido, mais adiante foram elencados erros e omissões graves sobre a
diagnóstico ambiental simplificado, incluindo, por exemplo, a possível extinção de
populações de espécies de plantas raras e ameaçadas (ver item 7.1). Por hora, o
“reconhecimento” da relevância ambiental e elevada sensibilidade frente a impactos
antrópicos pode ser percebido em algumas citações do RAS (Napeia, 202120, pp. 486-487),
por exemplo:
Dentre as fitofisionomias identificadas na área de estudo, a que
sofrerá maior impacto em virtude da implantação da Central
Geradora Eólica Gameleiras será a de Campo Rupestre, visto
que esta formação está localizada, em sua maior porção, nas áreas
de topo de serra, que são as áreas de maior potencial eólico, e logo
de interesse para instalação dos aerogeradores. Cabe destacar que
esta fitofisionomia apresenta maior sensibilidade ambiental

19 Resolução CONAMA 462, de 24/07/2014. Estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental de


empreendimentos de geração de energia elétrica a partir de fonte eólica em superfície terrestre.
20 Napeia Consultoria e Projetos. 2021. Relatório Ambiental Simplificado | RAS Central Geradora Eólica

Gameleiras Solicitação de Licença Ambiental Prévia Monte Azul, MG | julho de 2021. 795 p.

IP.161.2023 - Página 17 de 41
por apresentar maior ocorrência de espécies ameaçadas,
espécies com endemismo restrito, além de espécies de
ocorrência não conhecida, a exemplo da Gomesa bifolia
(Orchidaceae). (Grifos nossos).
De fato, diante das características evolutivas, biogeográficas e ecológicas específicas
dos Campos Rupestres, o licenciamento simplificado mostra-se inadequado. De acordo com
Rapini et al. (2009) 21, autores do livro Plantas Raras do Brasil, os locais onde ocorrem plantas
raras são insubstituíveis, e:

[...] esses sítios devem ser percebidos pelos órgãos ambientais como
os setores mais frágeis do território brasileiro e que por isso exigem
uma atenção maior no que diz respeito ao licenciamento ambiental,
dado que um planejamento inadequado poderá levar à perda de
espécies únicas do patrimônio biológico brasileiro.

Sobre a necessidade de atestar a viabilidade socioambiental da licença, o Parecer


Técnico nº 179/2021, informou que a supressão de vegetação nativa em áreas prioritárias
para conservação “só ocorrerá futuramente, caso o empreendimento seja viabilizado após
participação em leilão”, e que:

Desse modo, a avaliação dos impactos da supressão da vegetação


nativa nessas áreas prioritárias para conservação, bem como a
proposição das medidas reparatórias e compensatórias, conforme
supracitado, deverá ser tratada junto ao processo para intervenção
ambiental junto ao órgão competente por essa análise. (PT nº
179/2021, p. 23). (Grifos nossos).

No entanto, de acordo com o Memorando.SEMAD/DEREG.nº 31/2021, “há


situações nas quais existem empreendimentos, sob regulação administrativa advinda de
outras searas, que passam por exigências quanto à regularidade ambiental prévia para
participarem de processos licitatórios”. De acordo com o memorando:

21Introdução, p. 26. Plantas Raras do Brasil. 2009. Giulietti, A.M. et al. (Orgs.). Belo Horizonte – Conservação
Internacional, 496 p.

IP.161.2023 - Página 18 de 41
Para aumentar a probabilidade de que estes empreendimentos
entrarão em operação no prazo estabelecido é que se realiza a
habilitação técnica dos projetos. Nela se verifica, por exemplo,
se o empreendimento possui, no mínimo, a Licença Prévia
(LP) ou equivalente, que atesta a sua viabilidade
socioambiental (SION, 2020, p. 161, grifos nossos).
(Memorando.SEMAD/DEREG.nº 31/2021).

Desta forma, o órgão licenciador não realizou avaliação sobre a viabilidade ambiental
do empreendimento ao ser deferido o certificado nº 4350/2021.

5. CRITÉRIOS LOCACIONAIS DE ENQUADRAMENTO

Observou-se que o empreendedor e o órgão licenciador (Supram Norte MG)


desconsideraram outros dois importantes critérios locacionais, a saber: Reserva da Biosfera
da Serra do Espinhaço; e a Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica.
Os critérios locacionais de enquadramento referem-se à relevância e à sensibilidade
dos componentes ambientais que os caracterizam, conforme a DN Copam n° 217/2017. De
acordo com o Parecer Técnico (PT) nº 179/2021, incide apenas um critério locacional sobre
a ADA do empreendimento, a saber: Supressão de vegetação nativa em áreas prioritárias para
conservação, considerada de importância biológica “extrema” ou “especial”, exceto árvores
isoladas.
Entretanto, o empreendedor e a Supram Norte de Minas não
consideraram/informaram que o empreendimento também estava inserido no Critério
Locacional Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço. Os limites da Reserva da Biosfera da
Serra do Espinhaço (Figura 7) são constituídos por uma ou várias áreas-núcleo, representadas
pelas unidades de conservação; uma ou várias zonas de amortecimento; e uma ou várias
zonas de transição. Tais informações estão disponibilizadas no IDE-SISEMA pelo menos
desde agosto de 202122.

22 Metadados IDE-SISEMA. Disponível em:


https://idesisema.meioambiente.mg.gov.br/geonetwork/geonetwork/api/records/2c817aa1-80f7-4472-
81bb-b1199d810be7. Acesso em: 19/12/2023.

IP.161.2023 - Página 19 de 41
Figura 7 - Localização da ADA (polígono azul) do empreendimento CGE Gameleiras
inserido no interior da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço. Adaptado de IDE-
SISEMA.

A Supram Norte de Minas também não considerou que o empreendimento previa


supressão de vegetação nativa considerada sob o domínio do Bioma Mata Atlântica (Lei nº
11.428, de 22 de dezembro de 2006), dos tipos “floresta estacional semidecidual montana”,
“floresta estacional decidual montana” e “campos rupestres”. Tais formações vegetais foram
identificadas no estudo elaborado pelo empreendedor, entretanto, foram equivocadamente
desconsideradas como “Mata Atlântica”, pois conforme o RAS (Napeia, 2021)23 “A Central
Geradora Eólica Gameleiras situa-se no bioma Cerrado, sendo a área de implantação não
abrangida pelo Mapa da Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica.”
O equívoco tanto do empreendedor, quanto da Supram Norte de Minas pode ser
verificado, por exemplo, a partir das determinações da Instrução de Serviço (IS) SISEMA
02/201724, em que remete a Nota Explicativa que acompanha o mapa em referência do

23 Napeia Consultoria e Projetos. 2021. Relatório Ambiental Simplificado | RAS Central Geradora Eólica
Gameleiras Solicitação de Licença Ambiental Prévia Monte Azul, MG | Julho de 2021. 795 p.
24 Instrução de Serviço SISEMA 02/2017. Compensação pelo corte ou supressão de Vegetação primária ou

secundária nos estágios Médio ou avançado de regeneração no bioma Mata Atlântica. Disponível em:
http://www.meioambiente.mg.gov.br/images/stories/2017/ASNOP/Instru%C3%A7%C3%A3o_de_Servi
%C3%A7o_Sisema_n%C2%BA_02-2017_2017.04.07-novo.pdf

IP.161.2023 - Página 20 de 41
IBGE, a situação de disjunção da vegetação, ou seja, mesmo quando uma dada fitofisionomia
ocorre “fora da sua área de aplicação, ainda recebem o mesmo tratamento jurídico dado à
Mata Atlântica pela Lei Federal nº 11.428/2006”. Para o caso do bioma Cerrado, as
disjunções que devem ser abrangidas pela Lei Federal nº 11.428/2006 são Floresta Estacional
Semidecidual, Floresta Estacional Decidual e Refúgios Vegetacionais. Destaca-se que os
campos rupestres são refúgios vegetacionais, conforme extensa bibliografia técnico-
científica25 e pela Infraestrutura de Dados Espaciais do Sistema Estadual de Meio Ambiente
e Recursos Hídricos (IDE-Sisema) IDE-SISEMA, conforme Figura 8. Tal fato, também foi
omitido tanto pelos estudos elaborados pelo empreendedor, quanto pelo relatório elaborado
pela Supram Norte de Minas.

Figura 8 - A ADA (polígono azul) do empreendimento Central Geradora Eólica Gameleiras


está sobreposta a formações vegetais disjuntas e abrangidas pela Lei Federal nº 11.428/2006,
conforme disponibilizado no IDE-SISEMA. Adaptado de IDE-SISEMA (2023).

25 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2012. Manual técnico da vegetação brasileira: sistema
fitogeográfico, inventário das formações florestais e campestres, técnicas e manejo de coleções botânicas,
procedimentos para mapeamentos. Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. - 2. ed., Rio de
Janeiro, 276 p.

IP.161.2023 - Página 21 de 41
Portanto, o empreendimento Central Geradora Eólica Gameleiras está localizado em
disjunções vegetais de Mata Atlântica (Figura 8), o que também determina que o
licenciamento ambiental não deveria seguir por vias simplificadas. A referida IS SISEMA
02/2017, ratifica o seguinte:

Tendo em vista que as disjunções vegetais são consideradas para fins


de aplicação da Lei Federal nº 11.428/2006, entende-se que essas
áreas também podem integrar proposta de compensação ambiental,
desde que se obedeçam todos os critérios pertinentes, bem como
sua supressão deve seguir o regime jurídico estabelecido pela mesma
lei.

Por fim, como um exemplo retirado de parecer dos órgãos ambientais, cita-se a
conclusão de que os campos rupestres (refúgio vegetacional) são fitofisionomias associadas
a Lei da Mata Atlântica (Despacho nº 209/2023/SEMAD/SUPRAM LESTE-DRRA)26:

Quanto às fitofisionomias caracterizadas nos estudos, destaca-se


que o campo rupestre trata-se de um ecossistema associado do
bioma Mata Atlântica e, portanto, submetido ao regime
jurídico de proteção da Lei Federal n. 11.428, de 22 de
dezembro de 2006.
De modo a esclarecer a ocorrência espacial da fitofisionomia, foram
verificadas as informações disponíveis relativas ao mapeamento da
cobertura florestal (Vegetação/Mapeamento Florestal - IEF),
destacada a existência de fragmento de cobertura florestal nativa
junto à camada Cobertura da Mata Atlântica (Lote 2)[4] da IDE
SISEMA[5], plataforma esta, instituída pela Resolução Conjunta
SEMAD/FEAM/IEF/IGAM n. 2.466, em 13 de fevereiro de 2017.
(Grifos nossos).

26 Despacho nº 209/2023/SEMAD/SUPRAM LESTE-DRRA. 30/10/2023. Disponível em:


https://sistemas.meioambiente.mg.gov.br/licenciamento/uploads/zA3qScFx9BABN69mQ7ZpfJAluhLNUn
Fz.pdf

IP.161.2023 - Página 22 de 41
6. DEFERIMENTO DA LICENÇA AMBIENTAL SIMPLIFICADA

Em 43 dias o órgão ambiental tramitou todo o Processo SLA nº 4350/2021, referente


a um pedido de Licença Ambiental Simplificada (LAS-RAS). O processo foi formalizado em
06/10/2021 e em 17/11/2021 o Superintendente Regional de Meio Ambiente da Supram
Norte de Minas concedeu ao empreendedor o Certificado nº 4350 de Licenciamento
Ambiental Simplificado, com validade até 17 de novembro de 2031. De acordo com o
Parecer Técnico SEMAD/SUPRAM NORTE-DRRA nº. 179/2021 (PT LAS RAS nº
179/2021), foram apresentadas 11 condicionantes em seu anexo I.

7. ANÁLISE DO PROCESSO SLA Nº 4350/2021 LAS

Observou-se que o Relatório Ambiental Simplificado (2021) elaborado pelo


empreendedor não apresentou informações mínimas suficientes para a avaliação de impactos
ambientais, tampouco diagnosticou adequadamente a condição ambiental original das áreas
pretendidas para a instalação do empreendimento. Os estudos elaborados pelo
empreendedor não amostraram a maior parte da ADA, assim como não consideraram as
premissas básicas estabelecidas em Termos de Referencia SEMAD.
Sobre o Relatório Ambiental Simplificado-RAS27 entregue pelo empreendedor, o
documento indica que utilizou três Termos de Referências como modelo para elaborar os
estudos:

Considerando as informações supracitadas relacionadas a flora e


localização do empreendimento em áreas prioritárias para
conservação, a elaboração deste documento considerou o
atendimento parcial de três diferentes escopos. Esses referem-se ao
Termo de Referência para Elaboração do Relatório Ambiental
Simplificado (RAS) para Licenciamento Prévio de atividades gerais,
em que se enquadra a geração de energia a partir de fonte eólica, da
Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM (1997); ao Termo
de Referência para Elaboração de Estudo de Impacto Ambiental

27Napeia Consultoria e Projetos. 2021. Relatório Ambiental Simplificado | RAS Central Geradora Eólica
Gameleiras Solicitação de Licença Ambiental Prévia Monte Azul, MG | Julho de 2021. 795 p.

IP.161.2023 - Página 23 de 41
(EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para
Licenciamento Prévio de atividades gerais, em que se enquadra a
geração de energia a partir de fonte eólica, do Sistema Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Minas Gerais – Sisema
(2021); e as diretrizes expostas na Resolução CONAMA n.º
462/2014 (BRASIL, 2014). (Napeia, 2021, p. 5).

Entretanto, o empreendedor deveria seguir também o Termo de Referência acerca


dos Critérios Locacionais definidos pela Deliberação Normativa Copam n° 217/2017. O
referido Termo de Referência (TR)28 contém perguntas orientadoras referente ao critério
locacional para o enquadramento de empreendimentos passíveis de regularização ambiental,
incluindo a avaliação dos impactos decorrentes. Entre as perguntas que o empreendedor
deveria responder, cita-se por exemplo: quais as fitofisionomias e estágio sucessional o
empreendimento pretende suprimir? No RAS não foi observado nenhum estudo
demonstrando o inventário florestal e de estrutura das comunidades não-florestais,
imprescindíveis para se analisar o estágio sucessional. Questões especialmente vinculadas a
Reserva da Biosfera (RB) também não foram respondidas pelo empreendedor, como
exemplos: “Avaliar se a vegetação suprimida está inserida em área considerada insubstituível,
segundo documentos oficiais da RB”. Ou ainda, “Demonstrar a aderência, se houver, entre
as medidas de controle estabelecidas no Plano de Controle Ambiental – PCA ou Relatório
Ambiental Simplificado – RAS do empreendimento e os princípios estabelecidos pela RB.”

7.1 Sobre o diagnóstico superficial e inadequado da Flora

Considerando as informações disponibilizadas no RAS (Napeia, 2021), observou-se


que o estudo foi insuficiente para realizar um diagnóstico adequado, fato reconhecido pelo
empreendedor ao se referir como “levantamento florístico expedito”. Como consequência
de um diagnóstico inadequado, também o será a matriz de impactos, e, por conseguinte as
eventuais medidas de mitigação e compensação ambientais. Além disso, a maioria dos pontos
amostrais foram estabelecidos fora da área diretamente afetada do empreendimento, alguns

28 Semad. Termo de Referência - Estudo referente aos Critérios Locacionais definidos pela Deliberação
Normativa Copam 217/2017 – Unidades de Conservação, Áreas Prioritárias para a Conservação, Reserva da
Biosfera, Sítio Ramsar e Corredores Ecológicos. Disponível em:
http://www.meioambiente.mg.gov.br/component/content/article/13-informativo/3504-termos-de-
referencia-para-os-criterios-locacionais-de-enquadramento.

IP.161.2023 - Página 24 de 41
dos quais inseridos a uma distância de 17 km. Tal fato, não foi demonstrado no estudo
elaborado pelo empreendedor, uma vez que a figura que identifica os pontos amostrais da
vegetação não contém a ADA (Napeia, 2021, p. 452) e alguns pontos amostrais foram
inseridos em áreas intensamente antropizadas (Figura 9).
Nenhum ponto amostral foi observado em altitudes acima de 1.350 m, o que consiste
em um erro grave, podendo gerar ausência de informações fundamentais para o diagnóstico
da biodiversidade, como o de não identificar espécies raras e ameaçadas de extinção e
ambientes sensíveis. Destaca-se que uma importante porção da ADA está prevista para ser
instalada em altitudes superiores a 1.350 m, chegando a quase 1.730 m. Portanto, não foi
observado nenhum ponto de amostragem nos ecossistemas naturais localizados acima de
1.350 m.
Outra situação inadequada foi a ausência da participação de botânicos especialistas
em campos rupestres na equipe que elaborou o RAS (Napeia, 2021, pp. 764-766), por tratar-
se de um dos ecossistemas com a maior concentração de espécies endêmicas do mundo. Tal
deficiência pode ter relação direta com a reduzida proporção de plantas identificadas até o
nível de espécies, uma vez que de 430 táxons, 154 não foram identificados até o nível de
espécie. Diante desse subdimensionamento taxonômico, questiona-se se seria possível o
órgão licenciador garantir que o empreendimento não irá gerar impactos irreversíveis a uma
espécie rara e ameaça de extinção ou até mesmo, que na área de influência direta não ocorra
espécie nova para a ciência?

IP.161.2023 - Página 25 de 41
Figura 9 - Pontos de amostragem para avaliação da cobertura vegetal em relação a ADA (polígono vermelho) do empreendimento. Destaque para alguns
dos pontos (círculos vermelhos) inseridos em áreas antropizadas.

IP.161.2023 - Página 26 de 41
7.1.1 Ausência de informações sobre espécies raras e recentemente descritas pela ciência na ADA

Um exemplo da inadequação do diagnóstico da flora apresentado no RAS (Napeia,


2021), incluindo uma relevante porção da área que sequer foi feito diagnóstico, pode ser
constatado pela seguinte situação: Na área de influência direta do empreendimento ocorrem
pelo menos sete espécies de plantas raras e recentemente descritas pela ciência, algumas com
ocorrência exclusiva desta região, ou seja, até então são espécies micro endêmicas. Todas as
sete espécies novas ocorrem exclusivamente no ecossistema Campo Rupestre (Figura 10;
Tabela 2).

Figura 10 - Várias espécies de plantas novas para a ciência têm populações naturais com
ocorrência restrita à área de abrangência direta do empreendimento CGE Gameleiras (ADA
em vermelho).

IP.161.2023 - Página 27 de 41
Tabela 2 - Espécies novas para a ciência que ocorrem exclusivamente no ecossistema
Campo Rupestre e que ocorrem na área de abrangência direta do empreendimento CGE
Gameleiras.

Espécie/Família Classificação Observação dos estudos


de Ameaça
Chionanthus monteazulensis Criticamente Publicado em 2023. Encontrada em uma área
Zavatin & Lombardi, sp. Ameaçada de alta altitude (1.550m). Importante revisar
nov. (Oleaceae). aspectos do licenciamento ambiental,
ampliando os estudos e minimizando os
impactos sobre a flora ameaçada.
Euphorbia tetrangularis Criticamente Publicado em 2018. Encontrada na região da
Hurbath & Cordeiro sp. Ameaçada Serra de Montevidéu.
nov. (Euphorbiaceae)
Lantana speciosa Salimena Em Perigo Publicado em 2017. A espécie foi coletada em
& T. Silva, sp. nov. apenas três localidades até o momento, com
(Verbenaceae) uma extensão de ocorrência de 200 km2.
Ainda não foi observada em área protegida.
Microlicia pumila R.B. Não Publicado em 2023. Aparentemente restrita a
Pacifico & Almeda, sp. informado Serra da Formosa, em altitudes de 1.500 m.
nov. (Melastomataceae)
Microlicia septemtrionalis Dados Publicado em 2023. Espécie formada por
Almeda & R.B.Pacifico, Deficientes uma pequena população de cerca de 10 a 20
sp. nov. indivíduos no cume rochoso do campo
(Melastomataceae) rupestre.
Pleroma congestifolium D. Dados Publicado em 2023. Espécie micro endêmica
Nunes & P.J.F. Guim sp. Deficientes do campo rupestre em altitudes de cerca de
nov. (Melastomataceae) 1.150 m, conhecido até agora apenas para
Serra de Montevidéu.
Stachytarpheta olearyana Criticamente Publicado em 2022. Registros para esta
P.H. Cardoso sp. nov. Ameaçada espécie são em sua maioria recentes e vêm de
(Verbenaceae) um ambiente pouco estudado da Serra do
Espinhaço Setentrional.

IP.161.2023 - Página 28 de 41
Considerando que os dados técnico-científicos indicam que a maioria dessas espécies
tem populações naturais com ocorrência restrita à área de abrangência direta da intervenção
pretendida (conforme Figura 10), e que o empreendedor e o PT LAS RAS 179/2021 não
apresentaram nenhuma informação nos estudos sobre eventuais medidas de evitação, ou
mitigação, ou estudos de viabilidade populacional, ou qualquer outra informação
fundamental para a avaliação de impactos e de risco de extinção, conclui-se, portanto, que o
empreendimento CGE Gameleiras, caso seja implementado, irá agravar o risco de
sobrevivência in situ ou até poderá causar a extinção de espécies da flora.

7.2 PATRIMÔNIO CULTURAL

O RAS do empreendimento, datado de julho de 2021 (Napeia, 2021), contém uma


breve citação sobre consultas realizadas em bases de dados públicas que tratam e localizam
bens culturais. Segundo o documento, o levantamento de dados secundários foi realizado
junto ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) e
no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN).
O relatório informa que no município de Santo Antônio do Retiro há oito sítios
arqueológicos com arte rupestre tombados pelo município, e indicou também o registro de
violeiros, provavelmente relacionado ao bem Violas de Minas, o que não se encontra
indicado. Também referenciou o bem tombado Prédio da Prefeitura Municipal de Monte
Azul.
No IPHAN, foram listados 10 sítios arqueológicos no município de Santo Antônio
do Retiro. Também listaram os seguintes bens registrados em nível Federal: Ofício das
Baianas de Acarajé, Jongo no Sudeste, Modo artesanal de fazer Queijo de Minas nas regiões
do Serro, da Serra da Canastra e Salitre/ Alto Paranaíba, Ofício dos Mestres de Capoeira,
Roda de Capoeira, Formas de Expressão, Ofício de Sineiro e Toque dos Sinos em Minas
Gerais, nos municípios de Espinosa, Monte Azul e Santo Antônio do Retiro.
O referido relatório não informa se foram realizados os estudos do Patrimônio
Cultural exigidos pela legislação vigente. A consulta às bases de dados públicas não é
suficiente para a indicação de medidas de mitigação, compensação e preservação in situ. Por
este motivo, a seção a seguir avalia, de acordo com a legislação vigente, se os estudos prévios
são aplicáveis e se há informações sobre sua realização e obtenção das respectivas anuências
do IEPHA e IPHAN.

IP.161.2023 - Página 29 de 41
7.2.1 O empreendimento frente à Deliberação Normativa CONEP 07/2014

A Deliberação Normativa CONEP 07/201429 estabelece que

Art. 1º A realização de empreendimento, obra ou projeto público


ou privado que tenha efeito real ou potencial, material ou imaterial,
sobre área ou bem identificado como de interesse histórico,
artístico, arquitetônico ou paisagístico pelo Poder Público, depende
da elaboração de Estudo Prévio de Impacto Cultural (EPIC) e da
aprovação do respectivo Relatório de Impacto no Patrimônio
Cultural (RIPC), nos termos desta Deliberação.
2º São considerados empreendimentos, obras e projetos com efeito
real ou potencial, material ou imaterial, no patrimônio cultural, para
os quais se exigirá a elaboração do EPIC e a aprovação do respectivo
RIPC, os constantes no ANEXO 1 desta Deliberação.

O Anexo 1 da DN CONEP 07/2014 dispõe que os empreendimentos que devem


realizar o Estudo de Impacto no Patrimônio Cultural e respectivo relatório (EPIC/RIPC).
Entre os empreendimentos sujeitos à apresentação de EPIC/RIPC, estão “Usinas de geração
de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária do empreendimento”. Deste
modo, o empreendimento em análise, cuja atividade é “Usina Eólica” com produção
energética superior a 150MW, enquadra-se na condição posta na DN CONEP e deveria
contar com estudos de impacto no patrimônio cultural e respectivo relatório. O Parecer
Técnico SEMAD/SUPRAM NORTE-DRRA nº. 179/2021, não menciona se foram
apresentados os EPIC e RIPC nem se houve anuência do IEPHA para o empreendimento.
Nos documentos disponibilizados para a análise, não foram observados estudos do
patrimônio cultural ou manifestação favorável do IEPHA acerca do empreendimento, em
cumprimento ao Art. 10º da Lei Estadual nº 11.726, de 30 de dezembro de 1994. Tal
manifestação favorável do IEPHA deveria preceder a concessão da Licença pelo órgão
ambiental, o que não restou demonstrado na documentação analisada.

29CONEP, 2014. Deliberação Normativa CONEP nº 07/2014. Estabelece normas para a realização de estudos
de impacto no patrimônio cultural no Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: CONEP.

IP.161.2023 - Página 30 de 41
7.2.2 Licenciamento Cultural do Empreendimento em nível Federal

O empreendedor, no RCA (Napeia, 2021), informou o processo IPHAN nº


01514.00726/2020-76, relacionado ao empreendimento aqui analisado. Este processo teve
abertura com a apresentação, pelo empreendedor, do Formulário de Caracterização da
Atividade (FCA) ao IPHAN em 11/05/2021. O IPHAN, após análise da FCA apresentada,
determinou que o empreendimento se enquadra como Nível IV na IN 01/201530. Neste nível
enquadram-se empreendimentos “de média e alta interferência sobre as condições vigentes
do solo e cujo traçado e localização precisos somente serão passíveis de definição após a fase
de Licença Prévia ou equivalente” (IN IPHAN 01/2015 anexo I). Tal enquadramento
pressupõe a flexibilidade locacional do empreendimento de modo a que a preservação in situ
dos sítios arqueológicos seja garantida, mediante realização de estudos prévios.
O Termo de referência emitido pelo IPHAN para o empreendimento31 exigiu assim,
a realização do Projeto de Avaliação Prévia de Impacto ao Patrimônio Arqueológico
(PAPIPA) e apresentação do respectivo Relatório de Avaliação Prévia de Impacto ao
Patrimônio Arqueológico (RAPIPA). Isto significa que, antes da licença do empreendimento,
deve ocorrer uma avaliação prévia dos impactos ao patrimônio arqueológico de forma que,
se necessário, seja possível alterar o projeto executivo do empreendimento, garantindo a
preservação in situ de bens arqueológicos existentes ou potencialmente existentes.
Consta no Referido processo IPHAN que o PAPIPA foi considerado suficiente, o
que resultou na emissão da Portaria 12 de 25 de fevereiro de 2022 autorizando a execução
do Projeto num prazo de quatro meses. Em 01/06/2022 foi apresentada solicitação de
prorrogação de prazo por seis meses adicionais, que resultou na publicação da Portaria 37 de
11 de Julho de 2022, com validade de seis meses (11/01/2023). No processo IPHAN
associado, o último trâmite no momento da conclusão do presente relatório é uma
informação sobre envio de e-mail (Documento Sei nº 3668837), datado de 13/07/2022
referente à publicação da portaria. Assim, esta portaria encontra-se com prazo vencido de

30 IPHAN, 2015. Instrução Normativa 01/2015: Estabelece procedimentos administrativos a serem observados
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nos processos de licenciamento ambiental dos
quais participe. Brasília, IPHAN. 35p.
31 Disponível em
https://sei.iphan.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?9LibXMqGnN
7gSpLFOOgUQFziRouBJ5VnVL5b7-UrE5SllwaJW-wmOrxqiVwU2TjRj2YNf4iF-
Dnwg5jimlN7UJ4JUvazmsTnBdf8ygqbB_hyYDtlqBIsNn9uCRNcrrKe, acesso em 12/12/2023.

IP.161.2023 - Página 31 de 41
acordo com a situação atual do Processo IPHAN correlato. Destaca-se o que diz a Portaria
IPHAN 07/198832 acerca do prazo para apresentação de relatórios:

Artigo 8º - A não apresentação dos relatórios técnicos por período


igual ou superior a doze meses consecutivos acarretará o
cancelamento da permissão e da autorização, ficando o pesquisador
impedido de prosseguir nos trabalhos de campo e a área de pesquisa
liberada para novos projetos.

Além da extrapolação dos prazos para conclusão dos estudos prévios (PAPIPA),
cabe ressaltar que o empreendimento não obteve ainda a anuência do IPHAN. Mesmo assim,
o empreendimento obteve a sua Licença Ambiental Simplificada, sendo passível de instalação
e operação antes que sejam concluídos os estudos prévios do Patrimônio Cultural.
Diante do exposto, conclui-se que o empreendimento ainda não finalizou a primeira
fase do licenciamento no âmbito da IN IPHAN 01/2015, pois ainda não foram apresentados
os estudos do patrimônio cultural exigidos pelo IPHAN, incluído o arqueológico. Pelo prazo
da Portaria de autorização e os prazos limites para a apresentação de relatórios técnicos de
12 meses, estão reunidos os elementos para interrupção do processo pelo IPHAN.
Como o empreendimento detém a Licença Ambiental LAS/RAS desde 17/11/2021,
constata-se que o Patrimônio Cultural, particularmente o Arqueológico (protegido pela lei
3.924/196133), está exposto a impactos do empreendimento. Isto decorre da não
apresentação do Relatório de Avaliação de Potencial de Impacto ao Patrimônio
Arqueológico (RAPIPA) que demonstre a realização de estudos prévios até a conclusão do
presente relatório, segundo documentos públicos. Com isso, a proposição de alterações no
layout e de medidas preventivas e mitigatórias relacionadas a possíveis impactos ao
patrimônio cultural ainda não ocorreram apesar do empreendimento já possuir Licença
Vigente. Tal situação demonstra o descompasso entre a fase de estudos prévios relacionados
ao patrimônio cultural acautelado em nível federal que ainda estão em andamento e o
licenciamento ambiental já deferido para o empreendimento. Assim, a equivocada concessão

32 IPHAN. Portaria IPHAN 07/1988: estabelece os procedimentos necessários à comunicação prévia, às


permissões e às autorizações para pesquisas e escavações arqueológicas em sítios arqueológicos. Brasília:
IPHAN. 4p.
33 Lei 3.924 de 26 de julho de 1961: Dispões sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos

IP.161.2023 - Página 32 de 41
da Licença anteriormente à manifestação conclusiva do IPHAN coloca em risco o eventual
patrimônio cultural existente na área do empreendimento.

7.3 PATRIMÔNIO ESPELEOLÓGICO

Em relação ao patrimônio espeleológico, o empreendedor apresentou um relatório


de prospecção exocárstica34 com esforço amostral insuficiente, que resultou em informações
incompletas e equivocadas. Foi informado no relatório de prospecção que houve trabalho
de campo no período de 24 de fevereiro a 5 de março de 2021 na Área Diretamente Afetada
– ADA e Área de Influência Direta – AID da Central Geradora Eólica Gameleiras. Sobre a
atividade desenvolvida em campo, foi descrito que:

Ao mesmo tempo, a inexistência de estradas ou até mesmo de trilhas


na maior parte da área diretamente impactada pelo
empreendimento, além das fortes chuvas, dificultou o acesso para
algumas áreas, principalmente a linha de crista de algumas
das serras em função do desnível elevado e das escarpas
acentuadas. Assim, a prospecção foi realizada próximo à linha
de meia encosta e possibilitou a localização de três áreas com
concentração de cavernas, a grande maioria composta por cavidades
de pequeno porte (com características de pequenas tocas ou de
pequenos abrigos) ou de pequenos abismos (a maioria não
ultrapassando os 10 m de profundidade. (Archaios Logos
Consultoria Científica, p. 74). (Grifos nossos).

Foi informado que houve “caminhamento georreferenciado com o uso de


equipamento GPS (GPS/GLONASS com Datum SIRGAS 2000) visando delinear e
registrar todo o percurso”, sendo apresentado no documento uma imagem com a linha de
caminhamento da equipe durante a prospecção (Figura 11). Avaliando o mapa de
caminhamento, pode-se constatar que a maior parte do registro se deu em estrada, fora da
ADA do empreendimento, sobre a qual, apenas alguns pontos de caminhamento foram
registrados. Mesmo não apresentando um adensamento da malha de caminhamento na ADA

34Archaios Logos Consultoria Científica. 2021. Relatório de Prospecção Exocárstica da Central Geradora
Eólica Gameleiras. Espinosa, Monte Azul e Santo Antônio do Retiro – MG. Ilhéus, julho de 2021. 83 p.

IP.161.2023 - Página 33 de 41
e seu entorno de 250 metros, conforme estipulado pela Instrução de Serviço Sisema-IS nº
8/201735, a equipe responsável pelo estudo, ainda assim, concluiu que:

Não foram encontradas cavidades na ADA nem na AID do


empreendimento. Foram identificadas quatorze (14) cavidades na
AII do empreendimento e mais oito (08) cavidades fora da AII.
(Archaios Logos Consultoria Científica, p. 75). (Grifos nossos).

De acordo com o estudo elaborado pelo empreendedor, foram identificadas 14


(quatorze) cavidades na Área de Influência Indireta-AII do empreendimento e outras oito
cavidades fora da AII. Diante disso, a análise do órgão ambiental licenciador, através do
Parecer Técnico nº 179/2021, concluiu equivocadamente que:

O empreendedor declara que não intervirá em área cárstica, bem


como, não há cavidades naturais subterrâneas na área do
empreendimento ou em seu entorno na faixa de 250 metros.
Ressalta-se que conforme plataforma IDE-Sisema, o
empreendimento não se sobrepõe a área de alto ou muito alto grau
de potencialidade de ocorrência de cavidades conforme dados
oficiais do CECAVICMBio. (Parecer Técnico nº 179/2021, p. 23).

35Instrução de Serviço Sisema nº 08/2017. Revisão 1. Dispõe sobre os procedimentos para a instrução dos
processos de licenciamento ambiental de empreendimentos efetiva ou potencialmente capazes de causar
impactos sobre cavidades naturais subterrâneas e suas áreas de influência. 37 p.

IP.161.2023 - Página 34 de 41
Figura 11 – Mapa apresentado pelo empreendedor constando as linhas de caminhamento (linhas verdes). A seta indica único trecho da ADA interceptado
pelo caminhamento. Em todo o restante da ADA não foi realizada prospecção. Fonte: Imagem modificada de Archaios Logos Consultoria Científica,
p. 39.

IP.161.2023 - Página 35 de 41
Consultando o anuário do CECAV (2021)36, foram identificadas 11 (onze) cavidades
cadastradas no ano de 2021 que estão inseridas na AID do empreendimento, sendo 5 (cinco)
no município de Espinosa e 6 (seis) no município de Monte Azul (Tabela 3).

Tabela 3 – Lista de cavidades cadastradas no Canie no ano de 2021 para os municípos de


Monte Azul e Espinosa. Fonte: Anuário Estatístico do Patrimônio Espeleológico Brasileiro
2021.

Cavidade Latitude Longitude Altitude Estado Município


FM-001 -15,133377 -42,784885 1261 MG Espinosa
FM-002 -15,133872 -42,785353 1253 MG Espinosa
FM-003 -15,134279 -42,784523 1220 MG Espinosa
FM-004 -15,135331 -42,78493 1198 MG Espinosa
FM-005 -15,135892 -42,785618 1216 MG Espinosa
FM-007 -15,136586 -42,785907 1202 MG Monte Azul
FM-008 -15,136294 -42,786955 1223 MG Monte Azul
FM-009 -15,139449 -42,787975 1168 MG Monte Azul
FM-010 -15,139129 -42,78924 1201 MG Monte Azul
FM-011 -15,137697 -42,789806 1219 MG Monte Azul
FM-012 -15,137126 -42,789109 1237 MG Monte Azul

A Figura 12, abaixo, apresenta a distribuição das cavidades mencionadas no estudo


do empreendedor e as cavidades registradas no banco de dados do CECAV. Pela imagem é
possível concluir que, ao menos 3 (três) áreas de influência iniciais (250 metros) estão
sobrepostas pela ADA do empreendimento e que o ponto de localização da cavidade FM-
001 está a menos de 50 metros da ADA do empreendimento.

36 Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas-CECAV. Anuário Estatístico do Patrimônio


Espeleológico Brasileiro 2021. Disponível em https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/centros-de-
pesquisa/cecav/anuario-estatistico-do-patrimonio-espeleologico-brasileiro/anuario-estatistico-do-patrimonio-
espeleologico-
brasileiro#:~:text=O%20Anu%C3%A1rio%20Estat%C3%ADstico%20do%20Patrim%C3%B4nio,de%20oc
orr%C3%AAncia%20de%2018.358%20cavernas, consultado em 13/12/2023.

IP.161.2023 - Página 36 de 41
Figura 12 – Imagem destacando a distribuição das cavidades prospectadas pelo
empreendedor (pontos verdes) e das cavidades cadastradas no CANIE (2021) representadas
pelos pontos amarelos.

IP.161.2023 - Página 37 de 41
Além disso, verificou-se que existe condições potenciais de impactos negativos nas
cavidades cadastradas no CANIE, assim como em suas áreas de influência, quando da
instalação do empreendimento. Conforme colocado pelo empreendedor, algumas obras
consistem em:

[...] decapagem e remoção da camada vegetal superficial do terreno,


escavação e/ou desmonte de rocha, terraplenagem,
compactação, aplicação de revestimento, execução de obras de
drenagem e sinalização. (Napeia Consultoria e Projetos, p. 41).
(Grifos nossos).

Consequentemente, as intervenções propostas pelo empreendedor, como desmonte


de rocha e escavação, podem gerar impactos negativos irreversíveis nas cavidades. Isto posto,
a IS nº 08/2017 indica que, diante de impactos negativos irreversíveis potenciais, “o
empreendedor deverá apresentar os estudos necessários e adequados para a delimitação da
área de influência real e para a classificação do grau de relevância de todas as cavidades
sujeitas a tais impactos”.
Ademais, considera-se, que os estudos espeleológicos apresentados pelo
empreendedor não foram suficientes para caracterizar o patrimônio espeleológico na área do
empreendimento, principalmente na ADA e AID. O órgão ambiental licenciador, por sua
vez, não exigiu novos estudos espeleológicos, assim como um maior adensamento da malha
de prospecção na ADA e AID, o que também poderá corroborar com possíveis impactos
negativos irreversíveis nessas cavidades já registradas no CANIE.
Por fim, ressalta-se a Premissa 1 da Instrução de Serviço SISEMA nº 08/2017, que
diz: “Até que sejam apresentados todos os estudos e análises espeleológicas pertinentes, toda
cavidade natural subterrânea existente no território de Minas Gerais será considerada,
preliminarmente, como de grau de relevância máximo”.

IP.161.2023 - Página 38 de 41
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS E ENCAMINHAMENTOS

Conclui-se que a modalidade de licenciamento ambiental simplificado é inadequada


para diagnosticar, avaliar os impactos, prever monitoramento, medidas de mitigação e
compensações ambientais em um dos ecossistemas mais frágeis e diversos do mundo:
Campo Rupestre. O local onde se pretende instalar o empreendimento CGE Gameleiras é
um dos mais importantes de Minas Gerais – oficialmente já reconhecido – e ocorre na região
entre a Serra de Montevidéu e o Pico da Formosa (altitude de 1.820 m), Serra do Espinhaço.
A região do Pico da Formosa é insubstituível, dado seu estado de conservação excepcional e
a sua importância evolutiva, ecológica e biogeográfica. De fato, existem pelo menos duas
iniciativas para criação de unidades de conservação de proteção integral na área onde o
empreendedor planeja a instalação da CGE Gameleiras.
Estimou-se que a Área Diretamente Afetada do empreendimento CGE Gameleiras
soma 1.120 ha ao longo de 24 km nos topos das serras, e haverá o uso de desmonte de rochas
e a abertura de quilômetros de estradas, entre diversas outras alterações ambientais. Essa
situação deveria conduzir o órgão ambiental a seguir por outra classificação de modalidade
de licenciamento, conforme previsto em normas legais.
Ainda assim, em 43 dias o órgão ambiental tramitou todo o Processo SLA nº
4350/2021, referente a um pedido de Licença Ambiental Simplificada (LAS-RAS). O
processo foi formalizado em 06/10/2021 e em 17/11/2021 o Superintendente Regional de
Meio Ambiente da Supram Norte de Minas concedeu ao empreendedor o Certificado nº
4350 de Licenciamento Ambiental Simplificado, com validade até 17 de novembro de 2031.
O referido certificado foi concedido sem que o empreendedor fornecesse informações
básicas estabelecidas por Termos de Referencia/SEMAD, fundamentais para a tomada de
decisão.
Não foram identificados estudos prévios do Patrimônio Cultural acautelado em nível
Estadual e Federal, nem a manifestação conclusiva do IEPHA e do IPHAN acerca do
empreendimento. Esta situação expõe o Patrimônio Cultural da região do empreendimento
a ameaça iminente de impactos, pois ainda não foi verificada a existência de bens culturais
nas áreas de influência.
Os estudos espeleológicos apresentados pelo empreendedor não foram suficientes
para caracterizar o patrimônio espeleológico na área do empreendimento, principalmente na
ADA e AID. O órgão ambiental licenciador, por sua vez, não exigiu novos estudos

IP.161.2023 - Página 39 de 41
espeleológicos, assim como um maior adensamento da malha de prospecção na ADA e AID,
o que também poderá corroborar com possíveis impactos negativos irreversíveis nessas
cavidades já registradas no CANIE.
Além disso, destaca-se, por exemplo, que não foram amostradas áreas acima de 1.350
m de altitude, o que consiste em um erro grave, podendo gerar ausência de informações
fundamentais para o diagnóstico da biodiversidade, como o de não identificar espécies raras
e ameaçadas de extinção e ambientes sensíveis como as cavidades naturais subterrâneas.
Sabe-se que uma importante porção da ADA está prevista para ser instalada em altitudes
superiores a 1.350 m, chegando a quase 1.730 m.
O Parecer Técnico SEMAD/SUPRAM NORTE 179/2021 desconsiderou ainda
dois importantes critérios locacionais, a saber: Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço; e
a Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica. Além disso, o órgão licenciador não realizou
avaliação sobre a viabilidade ambiental do empreendimento ao deferir o certificado nº
4350/2021.

IP.161.2023 - Página 40 de 41
9. ENCERRAMENTO

O presente relatório possui 41 páginas. Pelo presente, por ser verdade, assina a equipe
técnica.

DAYANE CAROLINE Digitally signed by DAYANE


CAROLINE FREITAS
FREITAS CARVALHO:07704533681
CARVALHO:07704533681 Date: 2023.12.19 16:25:13 -03'00'
__________________________________________________
DAYANE CAROLINE FREITAS CARVALHO

Assinado de forma digital por


FELIPE FONSECA DO FELIPE FONSECA DO
CARMO:05320912641 CARMO:05320912641
Dados: 2023.12.19 16:03:23 -03'00'
__________________________________________________
FELIPE FONSECA DO CARMO

FLAVIO FONSECA DO DO CARMO:95413626649


Assinado de forma digital por FLAVIO FONSECA

DN: c=BR, o=ICP-Brasil, ou=AC SOLUTI Multipla


CARMO:9541362664 v5, ou=36432307000109, ou=Presencial,
ou=Certificado PF A3, cn=FLAVIO FONSECA DO
9 CARMO:95413626649
Dados: 2023.12.19 16:21:42 -03'00'
__________________________________________________
FLÁVIO FONSECA DO CARMO

Assinado de forma digital por


LUCIANA HIROMI YOSHINO LUCIANA HIROMI YOSHINO
KAMINO:82413916687 KAMINO:82413916687
Dados: 2023.12.19 16:29:14 -03'00'
__________________________________________________
LUCIANA HIROMI YOSHINO KAMINO

ROGERIO TOBIAS Assinado de forma


digital por ROGERIO
JUNIOR:0612306 TOBIAS
0627 JUNIOR:06123060627
__________________________________________________
ROGÉRIO TOBIAS JUNIOR

IP.161.2023 - Página 41 de 41

Você também pode gostar