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A UTILIZAÇÃO DE SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO DE

ENERGIA PARA SUAVIZAÇÃO DE POTÊNCIA A PARTIR DA


GERAÇÃO EÓLICA INTERLIGADA À REDE ELÉTRICA

Gustavo Luna* Pedro Rosas


gustavolunafilho@hotmail.com pedro.a.rosas@gmail.com
UFPE UFPE

Gustavo Medeiros Wendell Teixeira


gustavo.msazevedo@ufpe.br wendell@cpfl.com.br
UFPE CPFL Energia

RESUMO

Neste artigo é apresentada uma metodologia para dimensionar um sistema de


armazenamento de energia aplicado à geração eólica, com o objetivo de
suavizar a energia gerada que é fornecida à rede elétrica, reduzindo assim
possíveis níveis de instabilidade, como, por exemplo, desregulação da tensão
na conexão causado pela interconexão de sistemas. O sistema de
armazenamento usado para suavizar a potência eólica gerada são baterias
(Battery Energy Storage Systems - BESS) envolvidas na operação de carga e
descarga, fazendo a compensação gerada pela energia eólica. Para atestar a
metodologia, é apresentado um caso utilizando uma série temporal da energia
gerada em um parque eólico e, em seguida, é feita a análise da variabilidade, a
partir do sinal obtido como resultado da geração do vento rajada.

PALAVRAS-CHAVE: Suavização de potência. Geração eólica. BESS.


Armazenamento de Energia.
A UTILIZAÇÃO DE SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO DE
ENERGIA PARA SUAVIZAÇÃO DE POTÊNCIA A PARTIR DA
GERAÇÃO EÓLICA INTERLIGADA À REDE ELÉTRICA

INTRODUÇÃO

Com a crescente preocupação ambiental, a geração eólica vem aumentando


sua participação na matriz energética, o que, consequentemente, diminui a
capacidade de se adequar a rede a ela conectada, seja na transmissão ou
distribuição de energia, aumentando com isso a preocupação em relação a
essa interligação do sistema eólico, pois, devido à intermitência do vento, o
qual segue um padrão estocástico, como a variação de freqüência, potência e
tensão são intensificados. É importante destacar que a depender da
quantidade e disposição geográfica dos aerogeradores, a potência entregue à
rede (potência de saída) pode ser naturalmente suavizada devido ao
cancelamento de picos de potência, ou seja, quanto mais aerogeradores
estiverem conectados em um único ponto, menor será a variação da potência
de saída registrada.

Objetivando a melhoria da conexão eólica com a rede elétrica, uma opção é a


utilização de sistemas de armazenamento de energia em baterias de íons de
lítio - BESS (Battery Energy Storage System) - Fig.1, já que possui um tempo
de resposta menor para atender a demanda de potência, carregando ou
descarregando conforme solicitação do sistema. O BESS é formado por
acumuladores químicos conectadas através de conversores e sistemas de
controle. Para simular a operação de um BESS aplicado à suavização de
potência, foi proposto um sistema de controle utilizando a ferramenta
computacional MATLAB®, na qual o BESS é configurado para tentar suprir a
diferença entre a potência gerada e prevista. Essa previsão considera uma
rede neural que prevê a potência eólica gerada no próximo passo e o valor do
estado de carga da bateria – SOC (State of Charge), fazendo com que a
bateria possa sofrer carregamento, descarregamento ou manter o mesmo
estado de carga. Como a previsão é realizada a cada hora, se não houver
extrapolação de limites de bateria, a suavização de potência segue na forma de
degraus, evitando picos na rede de transmissão/distribuição. Essa simulação
tem como resposta não só a energia eólica suavizada, mas também a análise
do comportamento da bateria, do SOC, da potência injetada ou absorvida pela
bateria, sua energia processada e sua vida útil. Como a tecnologia de baterias

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utilizada é o íons de lítio, seu tempo de resposta não é considerado porque
este tipo de bateria opera em grande quantidade de ciclos de carga e descarga
em curtos intervalos de tempo.

Fig. 1:
Diagrama do Sistema de

Armazenamento de Energia com Baterias

A utilização de energias renováveis, nomeadamente a energia eólica, registou


um aumento notável no fornecimento de energia elétrica, devido a várias
razões, entre as quais a preocupação ambiental e o efeito de estufa [1].
Embora a energia eólica seja limpa e renovável, seu uso massivo pode resultar
em vários problemas para operar o sistema de energia elétrica. Problemas
como a flutuação de energia podem levar a variações de tensão e oscilações
de frequência, esses efeitos já foram relatados em [2]. O principal motivo
relacionado a todos os problemas das turbinas eólicas ao sistema elétrico é a
intermitência e a variabilidade do vento que, em condições específicas, podem
comprometer o fornecimento de energia elétrica e até mesmo outros
problemas, como a instabilidade do sistema de potência [2-3].

A energia resultante para fornecer energia elétrica provém de outras centrais


elétricas, como a hidroelétrica e o gás natural na Região (Nordeste do Brasil)
[4]. À medida que a participação da energia eólica aumenta na matriz elétrica
local, outras fontes de energia reduzem suas ações, o que leva à redução na
frequência e na regulação de tensão. Isso acaba agravando os impactos da
integração da energia eólica nessa região, e se os projetos de energia solar na
região também forem levados em conta, a intermitência na mesma região pode
se tornar uma preocupação séria para o operador do sistema de energia. Como
esperado, quanto mais diversificado for o mix de fontes de energia, mais o
sistema pode acomodar as flutuações da energia eólica (e solar), mas neste
caso particular, essa não será a condição real.

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Considerando os planos esperados para instalar cada vez mais parques
eólicos na região e as usinas de energia solar projetadas, este trabalho
apresenta uma abordagem para usar o BESS (Battery Energy Storage
Systems) para reduzir a flutuação de energia dos parques eólicos. Como outras
funções, o BESS poderá regular a tensão e a frequência, bem como reduzir os
impactos da aceleração de fontes renováveis.

OBJETIVOS

Neste artigo, o principal objetivo refere-se ao dimensionamento do BESS e seu


uso na redução da flutuação de potência, uma operação conhecida como
suavização de potência. Antes de apresentar a operação do BESS e seu
dimensionamento, aqui é apresentada uma breve descrição do principal
problema: O comportamento do vento. A energia eólica flutua devido à variação
do vento que atua em cada turbina no parque eólico. O vento tem um
comportamento espacial e temporal que no parque eólico leva ao
cancelamento de potência (de picos). Grandes parques eólios com grande
número de turbinas eólicas apresentam menor variação de potência
normalizada quando comparados a parques eólicos com menor número de
turbinas eólicas. Esta é uma consequência do alisamento espacial e do
cancelamento do pico de potência causado pela turbulência que atua em cada
rotor da turbina eólica. Um exemplo deste cancelamento de pico é apresentado
na Fig 2.

Fig. 2: Potência gerada a partir de: Um ciruito com 05 turbinas, um parque eólico com 12 turbinas e
um complexo eólico com 36 turbinas.

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METODOLOGIA

A primeira etapa desse projeto é definir a tecnologia e o tamanho do BESS.


Para definir o tamanho da bateria foi utilizada uma metodologia de curva de
duração. A potência elétrica de saída do complexo eólico, classificada como
potência sincronizada de cada circuito (5-8 turbinas eólicas) foi processada e a
curva resultante usada para definir o tamanho da bateria.Neste primeiro passo,
a bateria é considerada ideal e o tempo de resposta é negligenciável. Nesta
fase, esta aproximação é válida uma vez que íon de lítio é a tecnologia adotada
para a bateria.

Como o orçamento também não permite o tamanho infinito da bateria, optou-se


por um banco de baterias com 2MW/2MWh seguindo os preços-alvo esperados
do mercado. Como um dos objetivos do projeto é identificar os impactos nos
diferentes tamanhos dos parques eólicos, um grande parque eólico com
possíveis configurações também foi escolhido para ser usado como estudo de
caso, veja o próximo tópico.

Como explicado anteriormente, o tamanho do BESS relacionado às flutuações


da energia eólica é feito (também) na base estatística. Para esse propósito, a
flutuação de energia é calculada em cada hora usando os dados disponíveis do
parque eólico. A curva de duração resultante da flutuação de potência é então
computada e os efeitos do BESS são calculados em termos de % dos casos
abaixo de um valor de potência decidido pelo BESS. Na Fig 3, é apresentada a
curva de duração da flutuação de potência e o valor da bateria de 2MW
mostrado.

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Fig. 3: Curva de duração de flutuação de potência em base horária para um circuito em parque
eólico

Assim, um BESS com 2 MW reduziria 98% das flutuações deste circuito, o que
resulta em uma boa operação de suavização. A mesma curva deve ser
aplicada a uma combinação de circuitos e para todo o complexo eólico. Neste
caso, o 2MW BESS reduzirá 65% da flutuação de energia de todo o parque
eólico (potência nominal de 105,6 MW).A Tabela 1 apresenta as especificações
básicas do BESS e a Tabela 2 apresenta os limites operacionais considerando
o Estado da Carga (SOC).

RESULTADOS

Os resultados da operação do BESS e seus impactos na redução da flutuação


de energia são muito eficazes. Na Fig. 4 também é mostrado através de um
zoom a potência da rede elétrica fornecida por este circuito mostrando a
redução na flutuação de energia.

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Fig.4 – Simulação da potência gerada antes e depois da operação do BESS: Em vermelho com
operação do BESS e em azul dados de geração do parque eólico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora a bateria tenha sido considerada ideal, as simulações da aplicação do


método para suavizar a saída de potência mostram resultados satisfatórios. A
maioria dos picos de potência foi reduzida e a maior parte da flutuação
instantânea de energia também foi convertida em níveis elevados de produção
de energia, com variações menores. Outro ponto é que os limites impostos à
operação da bateria foram respeitados durante a simulação, onde o SOC ficou
entre 20 e 80%.As ferramentas e a análise dos resultados corroboram a
aplicação do BESS para reduzir as variações de potência nos parques eólicos.
Também é importante afirmar que os resultados podem levar a impactos
reduzidos na qualidade de tensão da energia eólica. Na sequência do projeto, a
ideia é aplicar o BESS a todo o parque eólico, e depois ao complexo, avaliando
os impactos nos diferentes tamanhos dos parques eólicos.

REFERÊNCIAS

[1] G. Shafiullah, A. M. Oo, A. S. Ali e P. Wolfs, “Potential challenges of


integrating large-scale wind energy into the power grid–A review”.

[2 ] H. Zhao, Q. Wu, S. Hu, H. Xu e C. N. Rasmussen, “Review of energy


storage system for wind power integration support,” 2014.

[3] F.-J. Lin, H.-C. Chiang, J.-K. Chang e Y.-R. Chang, “Intelligent wind power
smoothing control with BESS”.

[4] Mohammad T.Zareifard, Andrey V.Savkin, “Model Predictive Control for


Wind Power Generation Smoothing with controlled Battery Storage Based on A
Nonlinear Battery Mathematical Model” São Paulo, IEEE, 2015.

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BIOGRAFIAS DOS AUTORES

Gustavo José Luna Filho

Graduado em Engenharia Elétrica com habilitação em eletrônica, possui pós


graduação em Engenharia de Suprimentos em petróleo e gás natural com
especialização em classificação de áreas para instalações elétricas em
ambientes com atmosferas explosivas, mestrado em processamento de
energia renovável, doutorado em andamento em utilização de armazenamento
de energia para sistemas híbridos de geração de energia renovável,
transmissão e distribuição conectados à rede elétrica pela UFPE e MBA em
gestão de projetos pela UNESA. Atua em projetos de pesquisa e
desenvolvimento em armazenamento de energia, integração de fontes
renováveis e mobilidade elétrica para empresas de geração, transmissão e
distribuição de energia. É professor de cursos de graduação e pós-graduação
em Engenharia e professor formador no IFPE em sistemas de energia
renovável. 

Pedro André Carvalho Rosas

Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de


Pernambuco (1996), mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade
Federal de Pernambuco (1999) e doutorado em Engenharia Elétrica na
Universidade Técnica da Dinamarca (2003). Atualmente é professor Adjunto 1
da Universidade Federal de Pernambuco. Tem experiência na área de
Engenharia Elétrica, com ênfase em Geração da Energia Elétrica, atuando
principalmente nos seguintes temas: turbinas eólicas, qualidade de energia,
integração elétrica de novas fontes, armazenamento e mobilidade elétrica.
Atualmente coordena o projeto da chamada estratégica 21 da ANEEL sobre
aplicação de armazenamento em centrais eólicas com objetivo de viabilizar
sistemas de armazenamento.

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Wendell William Teixeira

Mestrando em engenharia elétrica pela UNICAMP, possui graduação em


Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (2014). Atualmente é Analista de Inovação do Grupo CPFL Energia. Tem
experiência profissional como Engenheiro Desenvolvedor de Produtos na
França onde estudou Engenharia de Sistemas Industriais pela Ecole
D'ingénieur Du Val de Loire. No Brasil, atua desde 2014 no design,
estruturação, desenvolvimento e gestão de projetos de P&D ANEEL,
especialista em mobilidade elétrica, armazenamento de energia e inteligencia
artificial aplicada aos processos da distribuidora. Foi responsável pela
estratégia e implementação do Living Lab de Mobilidade elétrica do Grupo
CPFL Energia por meio do projeto de P&D ANEEL PA0060 "Emotive", que
contou com mais de 30 Eletropostos e uma Frota de 16 veículos elétricos.

Gustavo Medeiros de Souza Azevedo

Possui graduação (2001-2005), mestrado (2006-2007) e doutorado (2007-


2011) em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Pernambuco.
Trabalhou como pesquisador visitante na Universidade Politécnica da
Catalunha, Espanha, de 2008 a 2009 como parte do programa de doutorado
sanduíche. Desde janeiro de 2014, atua como Professor Adjunto A no
Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de
Pernambuco. Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em
Eletrônica de Potência, atuando principalmente nos seguintes temas:
microrredes, geração distribuída, energias renováveis, sistemas fotovoltaicos e
qualidade de energia.

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