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Esta aula trata da utilização final da energia elétrica, procurando destacar os principais
aspectos relacionados ao consumo da energia gerada. Em outras palavras, focaliza o estudo
das cargas em sistemas elétricos, abordando os principais conceitos associados, sua
natureza, características, formas de conexão e propriedades.
Introdução
Em sistemas elétricos de energia, dá-se o nome genérico de carga a todo elemento ou
conjunto de elementos que absorve energia elétrica e a transforma em outra forma de
energia, por exemplo, mecânica (motores elétricos), luminosa (lâmpadas), ou térmica
(fornos resistivos). Diante disso, dizer que uma carga “consome” energia elétrica tem o
significado de “transforma em outra forma de energia”.
As cargas podem ser quantificadas de duas maneiras: (a) pelo consumo, ou seja, a
quantidade de energia elétrica (kWh) absorvida; ou (b) pela demanda, ou seja, a potência
ativa (kW) absorvida. A segunda forma (por demanda) é geralmente aquela utilizada para
especificar uma carga. Portanto, quando se pergunta qual é a carga de um prédio, por
exemplo, está-se querendo saber quantos kW de potência ativa ele requisita da rede elétrica.
Em uma instalação elétrica residencial, comercial ou industrial é importante conhecer sua
carga instalada, ou seja, a somatória da potência ativa nominal de todos os equipamentos
elétricos existentes na instalação. Por exemplo, uma instalação residencial com 28 tomadas
(2800 W), 10 pontos de luz (1000 W), 2 chuveiros (8000 W), 1 máquina de lavar roupas
(2000 W), e 2 ferros elétricos (2000 W) possui carga instalada de 15,8 kW. Como nem
todos os equipamentos estarão ligados ao mesmo tempo, é necessário estimar a carga
efetiva multiplicando-se a carga instalada por um fator de carga, que indica qual a fração
da carga instalada está de fato em uso. Os fatores de carga (também chamados fatores de
demanda) dependem do tipo e do número de equipamentos existentes na instalação.
Tanto a carga instalada quanto a carga efetiva podem ser expressas como potência aparente
(em kVA), desde que se conheça o fator de potência de cada equipamento da instalação.
Conhecer a carga efetiva é essencial para o correto dimensionamento dos circuitos de
alimentação da instalação.
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Capítulo 7 – Consumo de Energia Elétrica
A propósito, se a curva de carga é um gráfico potência vs. tempo, então a área sob a curva
(integral) em um certo intervalo, o que é ? Pense nisso.
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Capítulo 7 – Consumo de Energia Elétrica
Já os motores elétricos podem ser representados por diversos modelos, dependendo de seu
tipo de construção e nível de detalhamento desejado. Muitas vêzes basta um modelo
genérico indicando que se trata de um motor, seu tipo e seus dados nominais. Os motores
elétricos de corrente alternada podem ser tanto monofásicos (dois fios) quanto trifásicos
(três ou quatro fios), enquanto que uma carga de iluminação (lâmpadas) é naturalmente
monofásica. Fornos resistivos podem ser monofásicos ou trifásicos. A figura abaixo ilustra
as formas genéricas de representação, considerando uma rede trifásica com neutro. Observe
que cargas monofásicas podem estar sendo alimentadas usando-se tanto uma tensão de fase
quanto uma tensão de linha. Se houver necessidade, reveja a aula sobre alternadores e
sistemas trifásicos.
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Capítulo 7 – Consumo de Energia Elétrica
Uma carga monofásica pode ser representada por uma única impedância, enquanto que
uma carga trifásica pode ser representada por uma associação de três impedâncias.
Sistemas trifásicos
Como já foi mencionado na aula sobre alternadores (Aula 4), um conjunto de três tensões
senoidais de mesma amplitude e defasadas de elétricos entre si é denominado sistema
trifásico. Tanto a geração quanto a transmissão e distribuição de energia elétrica utilizam
normalmente sistemas trifásicos, visando explorar suas vantagens em comparação aos
sistemas monofásicos, que são utilizados apenas nas instalações elétricas de baixa tensão
(127 V ou 220 V). Uma das vantagens já citadas de um sistema trifásico refere-se a que um
alternador trifásico possui maior potência específica do que um alternador monofásico de
mesma capacidade de geração. A potência específica de um equipamento, medida em
W/Kg, fornece a relação entre a potência elétrica e a massa do equipamento. No caso de
alternadores, dada uma certa massa de cobre e ferro-silício (que são os principais materiais
necessários), quanto maior a potência específica maior será a potência gerada. Em outras
palavras, um alternador trifásico é mais eficiente que um monofásico de potência
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Capítulo 7 – Consumo de Energia Elétrica
semelhante. Outra vantagem do sistema trifásico é que uma linha de transmissão trifásica
consegue transportar três vezes mais potência ativa que uma linha monofásica com o
mesmo nível de tensão. De modo semelhante um transformador trifásico tem capacidade de
transformação três vezes maior que um monofásico da mesma classe de tensão. Esses fatos
serão claramente entendidos nas aulas subseqüentes.
Já foi mostrado que o sistema trifásico se origina na forma como os três conjuntos de
enrolamentos do estator de um alternador trifásico são conectados. Os três enrolamentos
(aa', bb', cc') do estator são freqüentemente conectados como mostrado na figura abaixo.
Note que os terminais a', b', c' das bobinas foram ligados eletricamente a um ponto
comum, acessível externamente através de um fio chamado neutro. Essa forma é conhecida
como conexão Y ou estrela, por lembrar os respectivos formatos.
Tensões de fase
Na figura anterior, cada bobina do estator corresponde a uma fase do alternador trifásico,
sendo que as fases serão designadas, neste texto, pelas primeiras letras do alfabeto a, b, c.
As normas brasileiras, estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), utilizam as letras R, S, T, seguindo normas européias. A tensão induzida em cada
enrolamento do estator é chamada de tensão de fase, sendo identificada pelo índice inferior
correspondente: Van, Vbn, Vcn. As tensões de fase são alternadas, senoidais e com a mesma
amplitude, porém estão defasadas de elétricos ao longo do tempo, conforme ilustra a
figura abaixo.
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Capítulo 7 – Consumo de Energia Elétrica
No domínio complexo, essas tensões de fase são representadas pelos respectivos fasores na
forma exponencial:
Tensões de linha
Note que a conexão Y com neutro dos enrolamentos do estator estabelece dois tipos de
tensão entre os fios terminais do alternador: um tipo corresponde às já definidas tensões de
fase Van, Vbn, Vcn, existentes entre o neutro e cada respectivo terminal de fase; um outro tipo
corresponde às chamadas tensões de linha Vab, Vbc, Vca, obtidas entre cada dois fios de
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fase. Esse nome, tensão de linha, refere-se ao fato que essa é a tensão existente entre os
cabos de uma linha de transmissão trifásica, onde geralmente são usados somente três fios.
• O valor eficaz de uma tensão de linha é vezes maior que uma tensão de fase;
• A fase de uma tensão de linha está adiantada de em relação à correspondente
tensão de fase.
Esses resultados podem ser facilmente constatados aplicando-se a 2a. lei de Kirchhoff (leis
das malhas) ao circuito elétrico, no domínio dos fasores, formado pelas bobinas do estator
de um alternador trifásico conectadas em Y, conforme ilustra a figura abaixo.
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Note que o fasor de uma tensão de linha corresponde sempre a uma diferença entre os
fasores de duas tensões de fase. A realização dessa subtração fasorial é que justifica a
posição do fasor da tensão de linha Vab no diagrama fasorial, bem como o aparecimento do
Observe que esse diagrama fasorial corresponde ao que se denomina sistema trifásico
simétrico equilibrado, em que:
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Seqüência de fases
Em um sistema trifásico, a ordem em que as tensões de fase (ou linha) são apresentadas é
chamada seqüência de fases. A seqüência de fases mais comum é a ABC, onde a fase a
possui fase zero, a fase b possui fase , e a fase c possui fase , como
mostrado no diagrama fasorial da figura abaixo.
Para entender qual a sequência de fases expressa no diagrama fasorial, imagine que os
fasores das tensões estão girando no sentido anti-horário com a velocidade angular .
Desse modo, um observador fixo percebe que primeiro passa por ele o fasor da fase a,
depois o fasor da fase b e finalmente o fasor da fase c, caracterizando a seqüência ABC.
Note que pode-se dizer que a tensão de fase está atrasada de em relação à
tensão de fase .
Conhecer a correta seqüência de fases (e associá-la corretamente aos fios em um instalação
real) torna-se muito importante na conexão de alternadores em rede (em paralelo), assim
como no estabelecimento do sentido de rotação em motores de indução ou síncronos. Isso
será melhor compreendido no decorrer do curso.
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Essas formas de conexão estão ilustradas nas figuras que se seguem. Note que suas
denominações vêm do formato geométrico das ligações, lembrando a letra Y e a letra grega
ou as figuras geométricas estrela e triângulo. Observe também que, na conexão Y, o fio
neutro pode estar conectado (como mostrado) ou não, criando duas alternativas: conexão Y
com neutro e conexão Y sem neutro.
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A forma de ligação delta estabelece a existência de dois tipos de corrente: as correntes que
circulam pela linha de alimentação da carga, chamadas correntes de linha, e as correntes
que circulam pelas impedâncias da carga, chamadas correntes de fase. Na figura acima, as
Na forma de ligação Y, as correntes de linha e de fase coincidem, pois a corrente que passa
na linha de alimentação é a mesma que atravessa cada impedância da carga.
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As tensões de fase do sistema trifásico (fornecidas pelo gerador) podem ser descritas pelas
Observe que a tensão a que cada impedância da carga fica submetida corresponde
precisamente às tensões de fase Van, Vbn, Vcndo sistema trifásico. Isso é assegurado pela
conexão do fio neutro do gerador ao ponto central (ponto p) da ligação estrela. Portanto,
cada impedância Z1, Z2, Z3, mesmo tendo valores diferentes, recebe o mesmo valor eficaz
de tensão (Vef). Em resumo, a razão de o fio neutro estar conectado em uma ligação Y é
equalizar o nível de tensão sobre cada uma das impedâncias de uma carga trifásica
desequilibrada.
As tensões de linha aplicadas à carga trifásica serão, respectivamente:
Por outro lado, as correntes de linha (ou de fase, já que são iguais) fornecidas à carga
podem ser obtidas simplesmente dividindo os respectivos fasores de cada tensão de fase
pela correspondente impedância, como segue:
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Finalmente, a corrente de neutro pode ser calculada aplicando-se a lei dos nós (Kirchhoff)
ao ponto central p, resultando em:
O diagrama fasorial mostrado abaixo ilustra essa situação particular de carga equilibrada
em Y com neutro.
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A propósito, por que a corrente de neutro é nula na situação descrita acima? Você saberia
provar esse fato? Pense nisso.
Conexão em triângulo
Considere agora uma carga trifásica, desequilibrada, com impedâncias Z1, Z2, Z3 conectadas
em triângulo ( ), sendo alimentada por um gerador CA trifásico, com sequência de fases
abc, como ilustra a figura abaixo.
Note que na ligação triângulo não existe fio neutro e que as tensões de linha e de fase são
coincidentes, ou seja:
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Já as correntes de linha podem ser calculadas aplicando-se a lei dos nós aos pontos a, b e
c da figura, o que resulta nas equações:
Para a obtenção das correntes de linha é necessário realizar as operações indicadas pelas
equações:
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em que .
Note que, nas cargas equilibradas conectadas em triângulo, as correntes de linha têm valor
eficaz igual a vezes o valor eficaz das correntes de fase, bem como estão atrasadas de
em relação às correspondentes correntes de fase, como ilustra o diagrama fasorial da
figura abaixo.
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A resolução desse circuito é mais complicada que os casos anteriores, pois agora não se
conhece, a priori, as tensões aplicadas a cada impedância da carga. Portanto, deve-se
montar um sistema de equações a partir da aplicação das leis de Kirchhoff ao circuito,
considerando conhecidas os fasores das tensões de linha do sistema trifásico. Resolvendo-
se esse sistema de três equações algébricas fasoriais a três incógnitas, obtêm-se as
expressoes que permitem calcular as tensões de fase em cada impedância e as respectivas
correntes de linha, como mostra a figura abaixo.
Observe que, sem o neutro conectado, as tensões de fase sobre cada impedância não têm
mais o mesmo valor eficaz como encontrado no caso da conexão Y com neutro. Cada
tensão de fase tem um valor que depende da respectiva impedância.
Outra diferença importante é que, sem o neutro conectado, existe uma tensão entre o neutro
do sistema trifásico e o ponto p da ligação Y que não é mais nula. Essa tensão é chamada
tensão de deslocamento do neutro e seu valor fornece uma medida do grau de
desequilíbrio da carga. Quanto maior a tensão de deslocamento, maior é o desequilíbrio. Se
a carga for equilibrada, a tensão de deslocamento é nula. Isso pode ser entendido
imaginando-se que a ausência do fio neutro significa que a corrente de neutro é zero. Ora,
corrente de neutro nula é a condição observado na carga equilibrada em Y com neutro
conectado. Se o neutro está fisicamente conectado no ponto central p, a tensão de
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deslocamento, Vpn, é necessariamente nula. Em outras palavras, se uma carga trifásica for
equilibrada e estiver conectada em Y, tanto faz existir a conexão de neutro ou não.
A figura abaixo mostra um diagrama fasorial (os fasores estão deslocados da origem) que
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primária é constituída por alimentadores primários formados por linhas trifásicas a três
fios, que saem de uma subestação de distribuição e seguem pelas ruas das cidades, podendo
ter instalação aérea em postes (mais comum por ser bem mais barata) ou instalação
subterrânea (usada no centro das cidades, porém mais cara). Essa rede primária utiliza 11,9
kV, 13,8 kV ou 23 kV como tensão de linha e opera de forma radial (no caso de redes
aéreas) ou malhada (no caso de redes subterrâneas). Entretanto, é necessário abaixar ainda
mais a tensão para atender aos consumidores residenciais e comerciais de pequeno porte.
Isso é feito através de transformadores trifásicos abaixadores que interconectam a rede
primária à rede de alimentação secundária, formada por alimentadores trifásicos a
quatro fios, ou seja, o fio neutro está presente. Para permitir a conexão do fio neutro, os
transformadores abaixadores têm seus enrolamentos de alta tensão conectados em triângulo
(delta) e os enrolamentos de baixa tensão conectados em estrela (Y). Os níveis de tensão
nessa rede secundária são 380 V ou 220 V como tensão de linha, o que corresponde a
220V ou 127 V como tensão de fase. A rede secundária também pode ser aérea (mais
comum) ou subterrânea. Veja na foto uma ilustração das redes aéreas primária e secundária
tipicamente utilizada. A figura abaixo mostra esquematicamente o sistema de distribuição
urbano normalmente usado no Brasil.
Observe que existem três formas de suprir energia a um consumidor final: monofásica, na
qual fornece-se apenas uma fase e o neutro, usada para cargas ate' 12 kW de capacidade
instalada, permitindo somente dispor de um nível de tensão (127 V); bifásica, em que
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fornecem-se duas fase e o neutro, usada para cargas entre 12 e 25 kW, permitindo tensões
de 127 V e 220 V; e finalmente, a trifásica, usada obrigatoriamente para cargas acima de
25 kW. Note ainda que o fio neutro é aterrado, ou seja, conectado à terra através de hastes
especiais, em toda a extensão da rede secundária. Entretanto, isso não quer dizer que o fio
neutro de uma instalação elétrica interna (residencial, por exemplo) seja a mesma coisa que
o fio terra da instalação. As instalações bem feitas devem ter um sistema de aterramento
próprio, feito com hastes enterradas de modo adequado, como mostrado na figura. As
tomadas de três pinos possuem uma conexão direta para esse fio terra, mas o neutro (outro
pino) está aterrado através da rede secundária em um ponto que pode estar distante,
estabelecendo uma resistência de aterramento, Rat, de valor significativo, o que implica a
existência de uma tensão entre o pino neutro e o pino terra de uma tomada. Isso poderá ser
verificado no laboratório correspondente.
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