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Capítulo 7

CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA

Esta aula trata da utilização final da energia elétrica, procurando destacar os principais
aspectos relacionados ao consumo da energia gerada. Em outras palavras, focaliza o estudo
das cargas em sistemas elétricos, abordando os principais conceitos associados, sua
natureza, características, formas de conexão e propriedades.

Introdução
Em sistemas elétricos de energia, dá-se o nome genérico de carga a todo elemento ou
conjunto de elementos que absorve energia elétrica e a transforma em outra forma de
energia, por exemplo, mecânica (motores elétricos), luminosa (lâmpadas), ou térmica
(fornos resistivos). Diante disso, dizer que uma carga “consome” energia elétrica tem o
significado de “transforma em outra forma de energia”.

As cargas podem ser quantificadas de duas maneiras: (a) pelo consumo, ou seja, a
quantidade de energia elétrica (kWh) absorvida; ou (b) pela demanda, ou seja, a potência
ativa (kW) absorvida. A segunda forma (por demanda) é geralmente aquela utilizada para
especificar uma carga. Portanto, quando se pergunta qual é a carga de um prédio, por
exemplo, está-se querendo saber quantos kW de potência ativa ele requisita da rede elétrica.
Em uma instalação elétrica residencial, comercial ou industrial é importante conhecer sua
carga instalada, ou seja, a somatória da potência ativa nominal de todos os equipamentos
elétricos existentes na instalação. Por exemplo, uma instalação residencial com 28 tomadas
(2800 W), 10 pontos de luz (1000 W), 2 chuveiros (8000 W), 1 máquina de lavar roupas
(2000 W), e 2 ferros elétricos (2000 W) possui carga instalada de 15,8 kW. Como nem
todos os equipamentos estarão ligados ao mesmo tempo, é necessário estimar a carga
efetiva multiplicando-se a carga instalada por um fator de carga, que indica qual a fração
da carga instalada está de fato em uso. Os fatores de carga (também chamados fatores de
demanda) dependem do tipo e do número de equipamentos existentes na instalação.

Tanto a carga instalada quanto a carga efetiva podem ser expressas como potência aparente
(em kVA), desde que se conheça o fator de potência de cada equipamento da instalação.
Conhecer a carga efetiva é essencial para o correto dimensionamento dos circuitos de
alimentação da instalação.

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Capítulo 7 – Consumo de Energia Elétrica

As cargas variam ao longo do tempo


O uso de eletricidade não é uniformemente distribuído ao longo do tempo. Pelo contrário,
varia enormemente conforme a hora do dia, o dia da semana, o mês e estação do ano, a
condição climática, a localização geográfica, a situação econômica e vários outros fatores.
Essa variação é registrada em curvas de carga, que mostram como determinada carga varia
em função do tempo. As curvas de carga podem se referir a um consumidor específico,
um grupo de consumidores, um sistema elétrico estadual, regional, ou mesmo nacional.
Veja na figura uma curva de carga diária típica de um sistema regional (Estado de São
Paulo - maio). Observe como a demanda de energia elétrica varia desde um valor mínimo
durante a madrugada até um valor máximo no início da noite, bem como que a curva de
uma sexta-feira é diferente da curva de um sábado. O período de máxima demanda de
potência é conhecido como horário de pico ou horário da ponta lembrando sua forma.
No Brasil, esse período corresponde geralmente ao intervalo 18-21 horas, em que cresce
rapidamente a utilização de eletricidade para iluminação, sem diminuição significativa de
outros usos finais. Dependendo da região, país ou condições do tempo, o horário de pico
pode acontecer no meio da tarde, devido ao uso intenso de condicionadores de ar. Durante
o horário de pico, o sistema elétrico está sendo utilizado em sua plena capacidade (com
uma pequena reserva para emergências) de geração, transmissão e distribuição, ficando, por
isso mesmo, mais susceptível a panes que podem ocasionar interrupções e até mesmo
blecautes. Por essa razão, esse horário é o período mais temido pelos operadores de um
sistema elétrico. Note que um sistema elétrico precisa ter capacidade instalada para atender
ao horário de ponta, porém fica sub-utilizado o resto do tempo.

A propósito, se a curva de carga é um gráfico potência vs. tempo, então a área sob a curva
(integral) em um certo intervalo, o que é ? Pense nisso.

Horário de verão realmente economiza energia?


Em muitos países costuma-se estabelecer o horário de verão, adiantando-se os relógios em
uma hora. No Brasil, o horário de verão vigora geralmente entre os meses de outubro e
fevereiro, na maior parte do País. Freqüentemente, se pensa que a principal finalidade do
horário de verão é economizar energia elétrica, mas na realidade não é. Embora haja uma

certa economia de energia, ela é relativamente pequena (cerca de do consumo em


kWh). O maior efeito do horário de verão é no horário de pico, provocando um
“achatamento” da ponta, ocasionado por uma distribuição mais uniforme da demanda
obtida ao se atrasar a entrada da carga de iluminação. A redução da demanda no horário de

pico é de , em média, o que correspondeu, por exemplo, a uma potência de 2300 MW


no verão de 2000. Isto significa que pelos menos três alternadores da usina de Itaipu
poderiam deixar de gerar no horário de pico. Desse modo, o grande benefício do horário de
verão é aliviar o estresse da rede de transmissão e, ao mesmo tempo, diminuir o risco de
falta de geração para atender à carga na hora da ponta.

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Representação de cargas monofásicas e trifásicas


As cargas de um sistema elétrico são constituídas por uma grande variedade de dispositivos
com diferentes comportamentos, o que torna a tarefa de representá-las por modelos
adequados um problema bastante complexo. Alguns tipos de carga, como lâmpadas
incandescentes, chuveiros elétricos e fornos elétricos podem ser representados
simplesmente por um resistor. Outras cargas, como lâmpadas fluorescentes e fornos de
indução podem ser representados por uma associação de resistores, indutores e capacitores.

Já os motores elétricos podem ser representados por diversos modelos, dependendo de seu
tipo de construção e nível de detalhamento desejado. Muitas vêzes basta um modelo
genérico indicando que se trata de um motor, seu tipo e seus dados nominais. Os motores
elétricos de corrente alternada podem ser tanto monofásicos (dois fios) quanto trifásicos
(três ou quatro fios), enquanto que uma carga de iluminação (lâmpadas) é naturalmente
monofásica. Fornos resistivos podem ser monofásicos ou trifásicos. A figura abaixo ilustra
as formas genéricas de representação, considerando uma rede trifásica com neutro. Observe
que cargas monofásicas podem estar sendo alimentadas usando-se tanto uma tensão de fase
quanto uma tensão de linha. Se houver necessidade, reveja a aula sobre alternadores e
sistemas trifásicos.

Em sistemas elétricos alternados senoidais, uma forma geral freqüentemente utilizada é


representar as cargas por impedâncias. A representação por admitâncias também pode ser
usada, se for mais conveniente. Evidentemente, essa forma de representação pressupõe
regime permanente senoidal com componentes lineares e a transposição do circuito para o
domínio complexo dos fasores.

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Uma carga monofásica pode ser representada por uma única impedância, enquanto que
uma carga trifásica pode ser representada por uma associação de três impedâncias.

Uso de cargas monofásicas e trifásicas


O quadro abaixo mostra os principais tipos de cargas monofásicas e trifásicas, bem como
seus respectivos modos de ligação.

Sistemas trifásicos
Como já foi mencionado na aula sobre alternadores (Aula 4), um conjunto de três tensões
senoidais de mesma amplitude e defasadas de elétricos entre si é denominado sistema
trifásico. Tanto a geração quanto a transmissão e distribuição de energia elétrica utilizam
normalmente sistemas trifásicos, visando explorar suas vantagens em comparação aos
sistemas monofásicos, que são utilizados apenas nas instalações elétricas de baixa tensão
(127 V ou 220 V). Uma das vantagens já citadas de um sistema trifásico refere-se a que um
alternador trifásico possui maior potência específica do que um alternador monofásico de
mesma capacidade de geração. A potência específica de um equipamento, medida em
W/Kg, fornece a relação entre a potência elétrica e a massa do equipamento. No caso de
alternadores, dada uma certa massa de cobre e ferro-silício (que são os principais materiais
necessários), quanto maior a potência específica maior será a potência gerada. Em outras
palavras, um alternador trifásico é mais eficiente que um monofásico de potência
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semelhante. Outra vantagem do sistema trifásico é que uma linha de transmissão trifásica
consegue transportar três vezes mais potência ativa que uma linha monofásica com o
mesmo nível de tensão. De modo semelhante um transformador trifásico tem capacidade de
transformação três vezes maior que um monofásico da mesma classe de tensão. Esses fatos
serão claramente entendidos nas aulas subseqüentes.
Já foi mostrado que o sistema trifásico se origina na forma como os três conjuntos de
enrolamentos do estator de um alternador trifásico são conectados. Os três enrolamentos
(aa', bb', cc') do estator são freqüentemente conectados como mostrado na figura abaixo.
Note que os terminais a', b', c' das bobinas foram ligados eletricamente a um ponto
comum, acessível externamente através de um fio chamado neutro. Essa forma é conhecida
como conexão Y ou estrela, por lembrar os respectivos formatos.

Tensões de fase
Na figura anterior, cada bobina do estator corresponde a uma fase do alternador trifásico,
sendo que as fases serão designadas, neste texto, pelas primeiras letras do alfabeto a, b, c.
As normas brasileiras, estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), utilizam as letras R, S, T, seguindo normas européias. A tensão induzida em cada
enrolamento do estator é chamada de tensão de fase, sendo identificada pelo índice inferior
correspondente: Van, Vbn, Vcn. As tensões de fase são alternadas, senoidais e com a mesma
amplitude, porém estão defasadas de elétricos ao longo do tempo, conforme ilustra a
figura abaixo.

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No domínio do tempo, as tensões de fase podem ser expressas da seguinte maneira,


escolhendo arbitrariamente a tensão da fase a como referência do ângulo de fase:

No domínio complexo, essas tensões de fase são representadas pelos respectivos fasores na
forma exponencial:

Tensões de linha
Note que a conexão Y com neutro dos enrolamentos do estator estabelece dois tipos de
tensão entre os fios terminais do alternador: um tipo corresponde às já definidas tensões de
fase Van, Vbn, Vcn, existentes entre o neutro e cada respectivo terminal de fase; um outro tipo
corresponde às chamadas tensões de linha Vab, Vbc, Vca, obtidas entre cada dois fios de

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fase. Esse nome, tensão de linha, refere-se ao fato que essa é a tensão existente entre os
cabos de uma linha de transmissão trifásica, onde geralmente são usados somente três fios.

Relação entre tensões de fase e de linha


Em sistemas trifásicos, as tensões de fase e de linha sempre podem ser relacionadas da
seguinte maneira:

• O valor eficaz de uma tensão de linha é vezes maior que uma tensão de fase;
• A fase de uma tensão de linha está adiantada de em relação à correspondente
tensão de fase.

Esses resultados podem ser facilmente constatados aplicando-se a 2a. lei de Kirchhoff (leis
das malhas) ao circuito elétrico, no domínio dos fasores, formado pelas bobinas do estator
de um alternador trifásico conectadas em Y, conforme ilustra a figura abaixo.

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Note que o fasor de uma tensão de linha corresponde sempre a uma diferença entre os
fasores de duas tensões de fase. A realização dessa subtração fasorial é que justifica a
posição do fasor da tensão de linha Vab no diagrama fasorial, bem como o aparecimento do

fator no valor eficaz (módulo) e da defasagem de , como mostrado na figura. Por


exemplo, se em um sistema trifásico, a tensão de linha for escolhida como 220 V, então

necessariamente a tensão de fase será de 127 V, já que . Essa é a razão


pela qual a tensão de 127 V é utilizada como padrão residencial em muitas cidades no
Brasil.
Embora não tenham sido consideradas na figura anterior por simplicidade, as duas outras

tensões de linha e também podem ser obtidas de modo semelhante, resultando no


diagrama fasorial representado abaixo, onde estão mostradas todas as tensões de fase e

tensões de linha, usando como referência a tensão de fase .

Observe que esse diagrama fasorial corresponde ao que se denomina sistema trifásico
simétrico equilibrado, em que:

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A propósito, você sabia que quando se menciona a tensão em qualquer equipamento


trifásico (linha de transmissão, transformador, motor, etc.) está-se referindo à sua tensão
de linha? Não se esqueça disso.

Seqüência de fases
Em um sistema trifásico, a ordem em que as tensões de fase (ou linha) são apresentadas é
chamada seqüência de fases. A seqüência de fases mais comum é a ABC, onde a fase a

possui fase zero, a fase b possui fase , e a fase c possui fase , como
mostrado no diagrama fasorial da figura abaixo.

Para entender qual a sequência de fases expressa no diagrama fasorial, imagine que os
fasores das tensões estão girando no sentido anti-horário com a velocidade angular .
Desse modo, um observador fixo percebe que primeiro passa por ele o fasor da fase a,
depois o fasor da fase b e finalmente o fasor da fase c, caracterizando a seqüência ABC.

Note que pode-se dizer que a tensão de fase está atrasada de em relação à

tensão de fase .
Conhecer a correta seqüência de fases (e associá-la corretamente aos fios em um instalação
real) torna-se muito importante na conexão de alternadores em rede (em paralelo), assim
como no estabelecimento do sentido de rotação em motores de indução ou síncronos. Isso
será melhor compreendido no decorrer do curso.

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Cargas em sistemas trifásicos


Assumindo que uma carga trifásica seja representada por um conjunto de três impedâncias
Z1, Z2, Z3, existem duas possibilidades de conexão dessas impedâncias:

• Conexão em (também chamada estrela)


• Conexão em (também chamada triângulo)

Essas formas de conexão estão ilustradas nas figuras que se seguem. Note que suas
denominações vêm do formato geométrico das ligações, lembrando a letra Y e a letra grega
ou as figuras geométricas estrela e triângulo. Observe também que, na conexão Y, o fio
neutro pode estar conectado (como mostrado) ou não, criando duas alternativas: conexão Y
com neutro e conexão Y sem neutro.

A propósito, as impedâncias de uma conexão Y estão em série ou em paralelo? E de uma


conexão delta? Pense nisso.

Corrente de fase e corrente de linha

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A forma de ligação delta estabelece a existência de dois tipos de corrente: as correntes que
circulam pela linha de alimentação da carga, chamadas correntes de linha, e as correntes
que circulam pelas impedâncias da carga, chamadas correntes de fase. Na figura acima, as

correntes de linha são expressas pelos fasores , enquanto que as correntes de

fase são expressas pelos fasores , respectivamente.

Na forma de ligação Y, as correntes de linha e de fase coincidem, pois a corrente que passa
na linha de alimentação é a mesma que atravessa cada impedância da carga.

Carga equilibrada e desequilibrada


Uma carga trifásica pode ser equilibrada ou desequilibrada. Considera-se equilibrada a
carga em que as impedâncias Z1, Z2, Z3 são iguais entre si. Se uma das impedâncias for
diferente, considera-se a carga como desequilibrada. Às vezes, os termos balanceada e
desbalanceada são utilizados como sinônimos de equilibrada e desequilibrada. As cargas
equilibradas possuem propriedades muito interessantes que serão exploradas mais adiante.

Conexão em estrela com neutro


Considere uma carga trifásica, desequilibrada, com impedâncias Z1, Z2, Z3 conectadas em
estrela (Y), sendo alimentada por um gerador CA trifásico, com seqüência de fases abc e
com o fio neutro conectado, como ilustra a figura abaixo.

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As tensões de fase do sistema trifásico (fornecidas pelo gerador) podem ser descritas pelas

seguintes equações, assumindo que a referência angular seja a tensão de fase :

Observe que a tensão a que cada impedância da carga fica submetida corresponde
precisamente às tensões de fase Van, Vbn, Vcndo sistema trifásico. Isso é assegurado pela
conexão do fio neutro do gerador ao ponto central (ponto p) da ligação estrela. Portanto,
cada impedância Z1, Z2, Z3, mesmo tendo valores diferentes, recebe o mesmo valor eficaz
de tensão (Vef). Em resumo, a razão de o fio neutro estar conectado em uma ligação Y é
equalizar o nível de tensão sobre cada uma das impedâncias de uma carga trifásica
desequilibrada.
As tensões de linha aplicadas à carga trifásica serão, respectivamente:

Por outro lado, as correntes de linha (ou de fase, já que são iguais) fornecidas à carga
podem ser obtidas simplesmente dividindo os respectivos fasores de cada tensão de fase
pela correspondente impedância, como segue:

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Finalmente, a corrente de neutro pode ser calculada aplicando-se a lei dos nós (Kirchhoff)
ao ponto central p, resultando em:

Se a carga conectada em Y for equilibrada, então tem-se que

, ou seja, as impedâncias são iguais e podem ser

representadas por um número complexo de módulo z e ângulo . Nesse caso particular, as


correntes de linha da carga são simétricas e a corrente de neutro é nula:

O diagrama fasorial mostrado abaixo ilustra essa situação particular de carga equilibrada
em Y com neutro.

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A propósito, por que a corrente de neutro é nula na situação descrita acima? Você saberia
provar esse fato? Pense nisso.

Conexão em triângulo
Considere agora uma carga trifásica, desequilibrada, com impedâncias Z1, Z2, Z3 conectadas
em triângulo ( ), sendo alimentada por um gerador CA trifásico, com sequência de fases
abc, como ilustra a figura abaixo.

Note que na ligação triângulo não existe fio neutro e que as tensões de linha e de fase são
coincidentes, ou seja:

As correntes de fase são facilmente obtidas através das equações:

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Já as correntes de linha podem ser calculadas aplicando-se a lei dos nós aos pontos a, b e
c da figura, o que resulta nas equações:

Se a carga conectada em triângulo for equilibrada, então tem-se que

, ou seja, as impedâncias são iguais e podem ser

representadas por um número complexo de módulo z e ângulo . Nesse caso particular, as


correntes de fase da carga são simétricas:

Para a obtenção das correntes de linha é necessário realizar as operações indicadas pelas
equações:

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em que .
Note que, nas cargas equilibradas conectadas em triângulo, as correntes de linha têm valor

eficaz igual a vezes o valor eficaz das correntes de fase, bem como estão atrasadas de
em relação às correspondentes correntes de fase, como ilustra o diagrama fasorial da
figura abaixo.

Conexão em estrela sem neutro


Considere uma carga trifásica, desequilibrada, com impedâncias Z1, Z2, Z3 conectadas em
estrela (Y), sendo alimentada por um gerador CA trifásico, com seqüência de fases abc,
mas agora o fio neutro não está conectado, como ilustra a figura abaixo.

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A resolução desse circuito é mais complicada que os casos anteriores, pois agora não se
conhece, a priori, as tensões aplicadas a cada impedância da carga. Portanto, deve-se
montar um sistema de equações a partir da aplicação das leis de Kirchhoff ao circuito,
considerando conhecidas os fasores das tensões de linha do sistema trifásico. Resolvendo-
se esse sistema de três equações algébricas fasoriais a três incógnitas, obtêm-se as
expressoes que permitem calcular as tensões de fase em cada impedância e as respectivas
correntes de linha, como mostra a figura abaixo.

Observe que, sem o neutro conectado, as tensões de fase sobre cada impedância não têm
mais o mesmo valor eficaz como encontrado no caso da conexão Y com neutro. Cada
tensão de fase tem um valor que depende da respectiva impedância.

Outra diferença importante é que, sem o neutro conectado, existe uma tensão entre o neutro
do sistema trifásico e o ponto p da ligação Y que não é mais nula. Essa tensão é chamada
tensão de deslocamento do neutro e seu valor fornece uma medida do grau de
desequilíbrio da carga. Quanto maior a tensão de deslocamento, maior é o desequilíbrio. Se
a carga for equilibrada, a tensão de deslocamento é nula. Isso pode ser entendido
imaginando-se que a ausência do fio neutro significa que a corrente de neutro é zero. Ora,
corrente de neutro nula é a condição observado na carga equilibrada em Y com neutro
conectado. Se o neutro está fisicamente conectado no ponto central p, a tensão de

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deslocamento, Vpn, é necessariamente nula. Em outras palavras, se uma carga trifásica for
equilibrada e estiver conectada em Y, tanto faz existir a conexão de neutro ou não.
A figura abaixo mostra um diagrama fasorial (os fasores estão deslocados da origem) que

serve para ilustrar o conceito de tensão de deslocamento. Os fasores , ,


(em tracejado) correspondem às tensões de fase se a carga for equilibrada e então o ponto p

coincide com o neutro (ponto n). Os fasores , , (traço cheio) correspondem


às tensões de fase se a carga for desequilibrada e, nesse caso, o ponto p não mais coincide
com o neutro (ponto n), originando a tensão de deslocamento Vpn.

O sistema de distribuição urbano no Brasil


A energia elétrica gerada nas usinas é transmitida até os centros consumidores através de
linhas de transmissão trifásicas em alta tensão (de 230 kV a 765 kV, tensão de linha). Essa
linhas são interligadas por meio de subestações, onde ficam os vários transformadores
necessários para elevar e depois ir abaixando o nível de tensão. Utilizam-se altas tensões
para se reduzirem as perdas ôhmicas durante a transmissão, como mencionado
anteriormente neste curso. Entretanto, à medida que vai-se aproximando dos consumidores
finais é necessário abaixar ainda mais a tensão de tal modo a distribuir a energia em
quantidades menores. Isso é feito a partir das subestações de distribuição, geralmente
localizadas dentro do perímetro urbano das cidades.

Uma subestação de distribuição comumente recebe linhas de transmissão trifásicas que


fornecem energia nas tensões de 69 kV ou 138 kV e abaixa a tensão, usando
transformadores, para níveis padronizados de 11,9 kV, 13,8 kV, ou 23 kV, sempre
considerando tensão de linha. A partir das subestações de distribuição a energia elétrica é
então distribuída aos consumidores através de uma rede elétrica formada por duas sub-
redes: rede de alimentação primária e rede de alimentação secundária. A rede

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primária é constituída por alimentadores primários formados por linhas trifásicas a três
fios, que saem de uma subestação de distribuição e seguem pelas ruas das cidades, podendo
ter instalação aérea em postes (mais comum por ser bem mais barata) ou instalação
subterrânea (usada no centro das cidades, porém mais cara). Essa rede primária utiliza 11,9
kV, 13,8 kV ou 23 kV como tensão de linha e opera de forma radial (no caso de redes
aéreas) ou malhada (no caso de redes subterrâneas). Entretanto, é necessário abaixar ainda
mais a tensão para atender aos consumidores residenciais e comerciais de pequeno porte.
Isso é feito através de transformadores trifásicos abaixadores que interconectam a rede
primária à rede de alimentação secundária, formada por alimentadores trifásicos a
quatro fios, ou seja, o fio neutro está presente. Para permitir a conexão do fio neutro, os
transformadores abaixadores têm seus enrolamentos de alta tensão conectados em triângulo
(delta) e os enrolamentos de baixa tensão conectados em estrela (Y). Os níveis de tensão
nessa rede secundária são 380 V ou 220 V como tensão de linha, o que corresponde a
220V ou 127 V como tensão de fase. A rede secundária também pode ser aérea (mais
comum) ou subterrânea. Veja na foto uma ilustração das redes aéreas primária e secundária
tipicamente utilizada. A figura abaixo mostra esquematicamente o sistema de distribuição
urbano normalmente usado no Brasil.

Observe que existem três formas de suprir energia a um consumidor final: monofásica, na
qual fornece-se apenas uma fase e o neutro, usada para cargas ate' 12 kW de capacidade
instalada, permitindo somente dispor de um nível de tensão (127 V); bifásica, em que

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fornecem-se duas fase e o neutro, usada para cargas entre 12 e 25 kW, permitindo tensões
de 127 V e 220 V; e finalmente, a trifásica, usada obrigatoriamente para cargas acima de
25 kW. Note ainda que o fio neutro é aterrado, ou seja, conectado à terra através de hastes
especiais, em toda a extensão da rede secundária. Entretanto, isso não quer dizer que o fio
neutro de uma instalação elétrica interna (residencial, por exemplo) seja a mesma coisa que
o fio terra da instalação. As instalações bem feitas devem ter um sistema de aterramento
próprio, feito com hastes enterradas de modo adequado, como mostrado na figura. As
tomadas de três pinos possuem uma conexão direta para esse fio terra, mas o neutro (outro
pino) está aterrado através da rede secundária em um ponto que pode estar distante,
estabelecendo uma resistência de aterramento, Rat, de valor significativo, o que implica a
existência de uma tensão entre o pino neutro e o pino terra de uma tomada. Isso poderá ser
verificado no laboratório correspondente.

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