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FADERGS

EMPREGADOS INVENTORES E AS INDENIZAÇÕES


TRABALHISTAS
Jatyr Ranzolin Junior1*
Fernanda Borghetti Cantali 2**

RESUMO
As relações entre empregador e empregado no âmbito da Propriedade
Industrial, atualmente, estão subordinadas ao julgamento pela
Justiça Especializada do Trabalho. As consequências práticas das
invenções estão sofrendo adaptações durante o tempo desta nova
visão jurídica. É importante avaliar os reflexos da utilização das
invenções de funcionários pelas empresas e a forma que a doutrina
e a jurisprudência estão enfrentando estas questões. O presente
artigo tem por base analisar a atribuição de caráter indenizatório às
criações de funcionários em completa contradição à legislação da
Propriedade Industrial.
Palavras-chave: Invenção. Patente. Contrato de Trabalho.
Competência.

ABSTRACT
The relations between employer and employee regarding Intellectual
Property are currently dependent to the judgment of the Specialized
Labor Courts. During the validity of this legal view, the practical
consequences of the inventions are undergoing adaptations. It’s
important to assess the reflexes of the use of the employees inventions
by the firm, as well as the way the doctrine and jurisprudence are
facing this matters. This article has as it’s main proposition to analyze
the attribution of indemnitory dispositions to the employees inventions
in complete disagreement to Intellectual Property Law.
Keywords: Invention. Patent. Work Contract. Jurisdiction.
*
Advogado. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Pós-
graduando em Direito da Propriedade Intelectual pela Faculdade de Desenvolvimento do Rio
Grande do Sul – FADERGS. Endereço eletrônico: ranzolin@mariodealmeida.com.br.
**
Artigo científico de final de módulo realizado sob a orientação da Prof.ª Me. Fernanda Borghetti
Cantali, Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS
e Professora de Direito Empresarial do Centro Universitário Metodista do IPA, Professora de
Direito da Propriedade Intelectual na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS e na
Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul – FADERGS. Advogada em Porto Alegre.
Endereço eletrônico: fernandaborghetti@hotmail.com.

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REVISTA NOVATIO IURIS

1 INTRODUÇÃO

As relações de trabalho e os reflexos financeiros decorrentes da


exploração de criações e invenções de funcionários pelos seus empregadores,
assim como as possíveis indenizações concedidas pela Justiça do Trabalho
aos funcionários de empresas públicas e privadas em razão de invenções
exploradas pelos empregadores, são o tema da presente pesquisa.
Quando existem discussões sobre o tema qual o embasamento
para eventual condenação das empresas a indenizar seus funcionários ou
ex-funcionários reclamantes em razão das criações são exploradas pelo
empregador?, a dúvida em relação ao posicionamento do Judiciário é sempre
presente, mas não é só este o problema enfrentado pelos empregadores.
Questões preventivas também devem ser avaliadas como: qual caminho
uma empresa deve seguir quando contrata um empregado com potencial
criativo; de que forma uma empresa pode utilizar as invenções de funcionários
diminuindo seus riscos; em que momento do contrato de trabalho a empresa deve
estabelecer regras para funcionários inventores e, se as empresas preparam-
se para contratar seus funcionários para o desenvolvimento de novas soluções
para produtos ou área técnica, qual a consequência deste ato no contrato de
trabalho. E mais, se o funcionário se utiliza dos conhecimentos adquiridos na
empresa para criar estas soluções, a empresa deverá compartilhar os ganhos
desta invenção com o empregado?
É de suma importância analisar, caso ocorram indenizações, de que forma
e qual o embasamento aplicado, se de acordo com a legislação da Propriedade
Intelectual, no que se refere aos requisitos para sua condenação ou apenas o
formato trabalhista para julgar e processar as demandas indenizatórias.
Todas as partes devem ter seus direitos protegidos, ou até mesmo
divulgados, bastando para isso cumprir com a legislação vigente em relação
à remuneração, quando for o caso. A alteração na competência jurisdicional
ocorrida por força da Emenda Constitucional n. 45, em que as demandas
relativas à propriedade industrial que envolvem empregados e empregadores
passou a ser da competência da Justiça do Trabalho, afetou a linha dos
julgamentos nas questões de aplicação de invenções.

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Na Lei da Propriedade Industrial existem regras claras e objetivas que


especificam a forma de remuneração de funcionários, até para que, caso
seja necessária a intervenção do Judiciário, o julgador possa avaliar todas as
provas e os formatos contratados de forma equânime e imparcial. É importante
avaliar a existência ou não de parâmetros que possam gerar indenizações aos
funcionários inventores com contrato de trabalho vigente. E, principalmente, a
forma com que a legislação está sendo analisada pelos julgadores.
Apesar da pouca experiência do Brasil nas questões de desenvolvimento
de tecnologias, as empresas devem estar preparadas para quando decidirem
investir em projeto e desenvolvimento de seus produtos ou processos
produtivos, utilizando a sua mão de obra contratada, devendo ter claro o risco
que pode correr. Porém, mesmo sendo recente, o tema já é objeto de pesquisa
e demandas judiciais.
A doutrina tenta estabelecer critérios embasados na legislação que
ainda não é totalmente clara. A legislação deixa margem para entendimentos
difusos. Os julgados, que não são muitos, levando-se em conta a quantidade
de demandas existentes no País, trazem consigo todas as dúvidas dos
doutrinadores, julgadores e operadores do Direito.
A novidade e o desconhecimento da matéria obrigaram os julgadores
a posicionarem; porém, a aplicação de teorias trabalhistas na Propriedade
Industrial, que já possuía as suas determinações através de legislação própria,
gerou uma insegurança jurídica à sociedade. Assim, a falta de um estudo
específico sobre o tema foi uma das motivações para a elaboração deste artigo.

2 A INVENÇÃO E A PATENTE

As definições e diferenciações entre uma Invenção e uma Patente são


importantes para o presente tema, uma vez que os princípios básicos da autoria
são levados em consideração para qualquer tipo de decisão que for necessária
em caso de litígio. A legislação que norteia a Propriedade Industrial (Lei n°
9.279/96), em seu art. 6°, com bem analisa Maurício Delgado, prescreve que:

“ao autor da invenção ou modelo de utilidade será assegurado


o direito de obter a patente que lhe garanta a propriedade, nas

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condições estabelecidas na lei, o que se está buscando não é


meramente o reconhecimento moral de que a inovação se liga às
ideias e aos esforços do pesquisador, mas a proteção do direito
deste de obter a titularidade de seu invento e de, por conseguinte,
poder explorá-lo economicamente1.

Segundo A .L. Figueira Barbosa, existem duas formas de se chegar a


uma invenção:

As motivações de fundo psicológico e as nascidas de uma


necessidade econômica. No primeiro grupo, temos aquelas
nascidas do “instinto de inovar” e outras, com um maior grau de
racionalização, que, todavia, não resistem à redução, à intenção,
às vontades, às propensões, etc (BARBOSA, 1999, p.106).

Em suma, elas surgem de necessidades. A avaliação de qual tipo


de necessidade e onde será o esteio para basear esta invenção é deveras
importante. No caso do Brasil, a falta de investimento em tecnologia e nos
próprios inventores deixa o País estagnado e muito atrasado em comparação
aos Países considerados desenvolvidos. Isso tudo faz com que os inventores
busquem, através de pesquisas tradicionais, ou até mesmo em internet, suprir
as suas necessidades criativas, ou até melhorar suas invenções2.
Como já dizia o mestre José Carlos Tinoco Soares:

Considerando que o campo de aplicação do direito da Propriedade


Industrial, da Artística e da Literária vai normalmente além das
fronteiras de cada Estado originário, foram firmados inúmeros
acordos, tratados e convenções como intuito de melhor estreitar
os seus interesses, mormente agora que há constante troca
de produtos e de ensinamentos industriais pela facilidade de
comunicações (SOARES, 1972, p16).

Algumas empresas investem, ou até mesmo acreditam na capacidade


criativa dos seus funcionários; porém, precisam da devida cautela no momento
de avaliar as criações, ou até mesmo colocar na prática diária das empresas
as suas ideias. Desta forma, algumas ideias dos funcionários são avaliadas e
levadas a efeito para transformá-las em patentes. Portanto, é obrigatório neste
momento avaliar, além dos direitos do inventor, os direitos que derivam da
Propriedade Intelectual como um todo.

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Existem diversos conceitos para estabelecer os direitos do inventor.


Dentre eles, o que mais se aproxima do tema relacionado ao presente tema é o
do doutrinador Maurício Godinho Delgado que o apresenta da seguinte forma:

Direitos intelectuais - ou direitos derivados da Propriedade


Intelectual – são os que se relacionam à autoria e utilização de
obra decorrente da produção mental da pessoa. São vantagens
jurídicas concernentes aos interesses morais e materiais
resultantes de qualquer produção técnica, científica, literária ou
artística (DELGADO, 1999).

Até entrar em vigor a Lei da Propriedade Industrial, as regras de


convivência entre empregador e empregado estavam na Consolidação das
Leis do Trabalho. Porém, em 1996, a Lei da Propriedade Industrial, lei especial
sobre a temática, alterou os conceitos e as regras relativas às invenções dos
funcionários em relação aos seus empregadores. Passar-se-á a esta análise.

3 O EMPREGADO INVENTOR E O REGRAMENTO APLICADO


À PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Para tratar do empregado inventor a definição do contrato de trabalho e


seus efeitos se fazem importantes para o tema, pois tal contrato irá norteia todas
as relações de trabalho entre empregador e empregado. Cumpre salientar que
todas as questões referentes às obrigações entre empregador e empregado
devem constar deste documento. É através dele que as partes poderão exigir
o bônus e cumprir o ônus do pacto laboral.
A definição encontra-se no artigo 442 da Consolidação das Leis do
Trabalho, o qual determina que o “Contrato Individual de Trabalho p o acordo
tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego “(MICHELLINE,
2012). Acordo é o encontro de vontades entre pessoas para o alcance de um
determinado objetivo. No caso da relação de emprego, ocorre entre aquele que
irá realizar o serviço e o outro que irá receber o serviço prestado.
Analisando a definição, não se verifica qualquer tipo de restrição formal
ao conteúdo do contrato de trabalho. É estabelecido o acordo de vontades
entre as partes, e especialmente buscando determinado objetivo. Este objetivo

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deve ser muito claro para evitar confusões na hora do empregador exigir e do
funcionário se eximir das suas obrigações.
Tão importante quanto à definição são os efeitos de um contrato.
Eles avaliam as consequências existentes e até mesmo as não claramente
explicitadas.

Os efeitos resultantes do contrato de trabalho podem ser


classificados em duas grandes modalidades, segundo sua
vinculação mais ou menos direta ao conteúdo contratual
trabalhista: efeitos próprios ao contrato e efeitos conexos ao
contrato de trabalho.
Próprios: são os efeitos inerentes ao contrato empregatício,
por decorrerem de sua natureza, de seu objeto e do conjunto
natural e recorrente das cláusulas contratuais trabalhistas. São
repercussões obrigacionais inevitáveis à estrutura e dinâmica do
contrato empregatício ou que, ajustadas pelas partes, não se
afastam do conjunto básico do conteúdo do contrato. As mais
importantes são, respectivamente, a obrigação do empregador
de pagar parcelas salariais e a obrigação do empregado de
prestar serviços ou colocar-se profissionalmente à disposição do
empregador.
Conexos: são os efeitos resultantes do contrato empregatício
que não decorrem de sua natureza, de seu objeto e do conjunto
natural e recorrente das cláusulas contratuais trabalhistas,
mas que, por razões de acessoriedade ou conexão, acoplam-
se ao contrato de trabalho. Trata-se, pois, de efeitos que não
têm natureza trabalhista, mas que se submetem à estrutura e
dinâmica do contrato de trabalho, por terem surgido em função ou
em vinculação a ele. São exemplos significativos desses efeitos
conexos os direitos intelectuais devidos ao empregado que
produza invenção ou outra obra intelectual no curso do contrato
e não prevista no objeto contratual. Também ilustra tais efeitos
conexos a indenização por dano moral (DELGADO, 1999).

O mais usual é o efeito próprio, mas não mais importante. É o efeito


originário, onde ficam estabelecidas as normas básicas que tornam o contrato
legal e coberto das obrigações laborais. Do ponto de vista da incidência da
propriedade intelectual nas relações de trabalho, interessam os efeitos conexos
ao contrato de trabalho. Nesta sede ocorre o inusitado, já que a criatividade
e inventividade podem gerar alterações na relação de emprego. A partir dos
direitos conexos que as indenizações são avaliadas em razão das atividades

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efetivadas por um empregado que podem extrapolar as suas obrigações


contratuais próprias, quando eventualmente surge um inventor empregado.
Com o surgimento desta característica de um empregado nos quadros
laborais de uma empresa, é importante descrever os direitos de um inventor ou
criador de ideias. Como bem diz o mestre Denis Barbosa:

Posto pela doutrina clássica brasileira como um direito de autor,


a pretensão à patente nasce efetivamente do ato de criação:
uma vez obtida a solução técnica nova para um problema de
caráter industrial, nasce o direito de pedir patente. Como vimos,
o texto constitucional em vigor assegura primariamente ao autor
da invenção tal pretensão e não a qualquer outro postulante
(erfinderprinzip)(BARBOSA, 2006).

É cristalino que o direito do autor independe de qualquer contrato de


trabalho, ou de prestação de serviço. Este direito nasce da pura e simples
atividade inventiva. Da criação de algo inovador. Não se faz necessário o
ineditismo total, basta trazer uma solução técnica nova.
Além disso, temos a Constituição Federal endossando estes conceitos.
No caso específico do ordenamento jurídico brasileiro, os direitos do inventor
encontram a sua proteção autônoma assegurada já em sede constitucional.
Nesta seara, é preceituado pela Carta Magna de 1988, no inciso XX IX, do art.
5°, que:

a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio


temporário para sua utilização, bem como proteção às criações
industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas
e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e
o desenvolvimento tecnológico e econômico do País (ALMEIDA,
2009).

Uma vez apresentada a definição de inventor sob o ponto de vista da


relação de trabalho, é imperioso tratar do direito do empregador que investe
em tecnologia. O surgimento de tecnologia pode ocorrer de diversas formas,
entre elas tecnologia externa, dos sócios proprietários, ou de seus funcionários.
E esse é o caso que se deve analisar com cautela e especificidade.

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Cabe salientar que os direitos morais da propriedade da invenção são


inalienáveis definidos analogamente aos direitos do autor de obras autorais,
cuja previsão esta na Lei 9.610/98 em seu artigo 7º3. Como refere João da
Gama Cerqueira em sua obra Tratado da Propriedade Industrial:

A propriedade assegurada ao inventor compreende, em seu


aspecto positivo nas faculdades de usar, gozar e dispor de sua
invenção. (...).
A cessão, entretanto, é o modo usual de transferência dos
privilégios de invenção.(...)
O direito que assiste ao inventor de ligar seu nome a todas as
suas criações é suscetível de cessão, mas a cessão da patente
não envolve a do nome. Quando o cedente é o próprio inventor,
pode ele exigir que o cessionário indique seu nome em anúncios
e prospecto, etc.., e no silêncio do contrato, deve o cessionário
mencioná-lo.
Tratando-se de invenção realizada em virtude de contrato de
trabalho, a menção do nome do inventor só é obrigatória na patente
e no respectivo pedido.(...) (CERQUEIRA, 1982, p. 421,432 e 433)

Desta forma, verifica-se que as invenções podem ser transferidas através


de cessão, sempre preservando o direito do autor em qualquer uma das
hipóteses de contratação existentes.
Sobre o direito do inventor, Gama Cerqueira ensina ainda que “é um direito
privado patrimonial, de caráter real, constituindo uma propriedade temporária
e resolúvel que tem por objeto um bem material- a invenção” (CERQUEIRA,
1946, p. 226). Enquanto o doutrinador José Carlos Tinoco Soares afirma que:

“a propriedade do inventor, portanto, é de caráter mobiliário. Dai


resulta que os direitos do inventor estão sujeitos às normas do
direito comum relativos à propriedade móvel e por elas se regulam
quando omissa a lei especial” (SOARES, 1998, p. 108).

Em resumo, são dois os direitos do Inventor, os direitos de criação,


considerados como direitos morais, e os direitos patrimoniais. Destes, apenas
3
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio
ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro,
tais como: BRASIL. Lei 9.610/98. Altera e atualiza a legislação de Direitos autorais.<http://www.
planalto.gov.br/ccivi l_03/l ei s/l 961 0.htm> acesso em 30/06/2014

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os direitos patrimoniais podem ser cedidos a terceiros, não importando quem


quer que seja este interessado em adquirir uma invenção4.
Porém, é importante salientar, como bem diz José Cretella Júnior, a
invenção é muito mais do que algo palpável. Trata-se de um ato criativo e é isso
que o inventor funcionário pode transferir patrimonialmente.

Concretizando ou não o invento industrial em máquinas ou


aparelhos, o objeto de propriedade industrial é o bem incorpóreo, o
objeto ideal, a idéia, o que define o invento, naquilo que é passível de
direito de propriedade industrial (CRETELLA, 1989, p. 405).

Por outro lado, tem-se que avaliar especificamente o direito que o


empregador possa vir a ter sobre os aspectos patrimoniais de uma invenção
realizada por um funcionário.

Para ser de propriedade exclusiva do empregador/contratante, o


resultado obtido pelo trabalho criativo, o objeto desta invenção
deve ser aquele previsto antes de sua realização, ou seja, o
resultado deve decorrer da própria natureza do trabalho acordado.
Por exemplo, se um químico é contratado por um laboratório
farmacêutico para desenvolver um remédio contra a febre aftosa
e, desse vínculo, surge uma nova vacina para tal doença, a
Propriedade Industrial de uma eventual patente é exclusiva do
laboratório, sendo ele o único titular, mas o químico deve ser
reconhecido como inventor/criador, assegurando-lhe o direito
moral. Isto se dá porque o químico foi contratado exatamente
para este fim, cujo resultado, se não era previsto, no mínimo, era
desejado5.

4
O direito de autor compreende, assim, além dos direitos morais de ter reconhecida sua autoria,
e de ter seu nome vinculado, como inventor, à patente (vide CUP, art. 4 ter):
a)a pretensão patrimonial de exigir a prestação estatal de exame,
b)a liberdade, aqui também de conteúdo econômico, de utilizar o invento,
c)o direito de ceder o invento, repassando a terceiros tanto a pretensão à patente quanto a
possibilidade de explorar a solução técnica,
d)o poder jurídico de manter sua invenção em segredo, correlativamente ao direito de manter sua
criação em inédito, do autor literário.
BARBOSA, Denis Borges. O inventor e o Titular da Patente e Invenção.< http://denisbarbosa.addr.
com/113.rtf> acesso em 01/07/201 4.
5
LIMA, João Ademar de Andrade, Titularidade do Direito de Propriedade Industrial, publicado no
Blog de Direito da Propriedade Intel ectual. http://joaoademar.wordpress.com/titulari dade-do-di
reito-de-propriedadeindustrial/ acessado em 15/01/2014

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Tem-se, claramente, dois regramentos sobre o tema: um na lei de


propriedade industrial, a lei especial sobre as questões relativas à propriedade
de patentes, e a legislação trabalhista. Não bastasse a existência de dois
regramentos sobre o tema, eles são diametralmente opostos e a doutrina furta-
se do enfrentamento do tema.

A doutrina silencia a respeito do tema, enquanto que a


Consolidação da Leis do Trabalho, em seu art. 4546, refere
que: a titularidade das invenções podem ser dividas em partes
iguais, entre o empregador e o empregado. Este conceito da
Consolidação das Leis do Trabalho colide diretamente com o que
está previsto na Lei da Propriedade Industrial, onde fica previsto
que a produção inventiva de funcionários é de propriedade da
empregadora, pois os funcionários j á recebem salário mensal
para tanto7.

Conforme a Consolidação das Leis do Trabalho, a partir da regra do


artigo 4548, a propriedade patrimonial de uma invenção criada a partir de uma
relação de emprego é de ambas as partes, empregador e empregado. Já a
Lei da Propriedade Industrial é antagônica, na medida em que se determina
categoricamente que os direitos decorrentes de criação de funcionários são
do empregador e aquele recebe pelo seu labor intelectual apenas o salário
mensal, não fazendo jus a nenhum outro tipo de remuneração.
A Lei da Propriedade Industrial9, que regulou a relação entre empresa
e empregado inventor em alguns de seus dispositivos afastou a hipótese
6
Art. 454, CLT. Na vigência do contrato de trabalho, as invenções do empregado, quando
decorrentes de sua contribuição pessoal e da instalação ou equipamento fornecidos pelo
empregador, serão de propriedade comum, em partes iguais, salvo se o contrato de trabalho tiver
por objeto, implícita ou explicitamente, pesquisa científica.
7
RANZOLIN, Jatyr Junior, Royalties e o salário in natura, Artigo para especialização em
Propriedade Intelectual para Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, NO PRELO
8
Art. 454, CLT. Na vigência do contrato de trabalho, as invenções do empregado, quando
decorrentes de sua contribuição pessoal e da instalação ou equipamento fornecidos pelo
empregador, serão de propriedade comum, em partes iguais, salvo se o contrato de trabalho tiver
por objeto, implícita ou explicitamente, pesquisa científica.
9
Art. 88, LPI. A invenção e o modelo de utilidade pertencem exclusivamente ao empregador
quando decorrerem de contrato de trabalho cuja execução ocorra no Brasil e que tenha por
objeto a pesquisa ou a atividade inventiva, ou resulte esta da natureza dos serviços para os quais
foi o empregado contratado.

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prevista na CLT da proporcionalidade entre as partes no caso de surgimento


de criações dos funcionários.

4 O PASSADO: POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL ATÉ


2004
O entendimento originário dos doutrinadores trabalhistas é que as
invenções seriam de propriedade exclusiva dos empregados, inclusive a própria
legislação deixava isso mais do que claro. Russomano afirma que, “o princípio
geral é de que a invenção pertence ao autor porque é fruto de seu trabalho, de
suas tentativas, de seu raciocínio, de suas pesquisas pessoas, das horas gastas”
(RUSSOMANO, 1957, p.588).
§ 1º Salvo expressa disposição contratual em contrário, a retribuição pelo trabalho a que se
refere este artigo limita-se ao salário ajustado.
§ 2º Salvo prova em contrário, consideram-se desenvolvidos na vigência do contrato a invenção
ou o modelo de utilidade, cuja patente seja requerida pelo empregado até 1 (um) ano após a
extinção do vínculo empregatício. Art. 89. O empregador, titular da patente, poderá conceder
ao empregado, autor de invento ou aperfeiçoamento, participação nos ganhos econômicos
resultantes da exploração da patente, mediante negociação com o interessado ou conforme
disposto em norma da empresa.
Parágrafo único. A participação referida neste artigo não se incorpora, a qualquer título, ao
salário do empregado.
Art. 91. A propriedade de invenção ou de modelo de utilidade será comum, em partes iguais,
quando resultar da contribuição pessoal do empregado e de recursos, dados, meios, materiais,
instalações ou equipamentos do empregador, ressalvada expressa disposição contratual em
contrário.
§ 1º Sendo mais de um empregado, a parte que lhes couber será dividida igualmente entre todos,
salvo ajuste em contrário.
§ 2 º É garantido ao empregador o direito exclusivo de licença de exploração e assegurada ao
empregado a justa remuneração.
Art. 92. O disposto nos artigos anteriores aplica-se, no que couber, às relações entre o trabalhador
autônomo ou o estagiário e a empresa contratante e entre empresas contratantes e contratadas.
Art. 93. Aplica-se o disposto neste Capítulo, no que couber, às entidades da Administração
Pública, direta, indireta e fundacional, federal, estadual ou municipal.
Parágrafo único. Na hipótese do art. 88, será assegurada ao inventor, na forma e condições
previstas no estatuto ou regimento interno da entidade a que se refere este artigo, premiação de
parcela no valor das vantagens auferidas com o pedido ou com a patente, a título de incentivo.
BRASIL. Lei 9.279 de 14 de maio de 1996. Regula os direitos relativos a propriedade industrial.<
http://www .planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9279.htm> acessado em 29/06/2014

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REVISTA NOVATIO IURIS

Contudo, após a entrada em vigor da Lei da Propriedade Industrial,


houve uma alteração significativa de todo o entendimento sobre as criações
dos empregados inventores. A mais importante alteração foi a competência
para processar e julgar as demandas trabalhistas referentes às invenções de
empregados, que foi transferida da Justiça do Trabalho, para a Justiça Comum
Estadual.
O Superior Tribunal de Justiça analisou de forma exemplar uma demanda
na qual o funcionário pleiteava o direito de inventor durante o contrato de
trabalho.

RECURSO ESPECIAL - Propriedade industrial. Art. 42 da Lei nº


5.772/71.
A regra do art. 42 da Lei nº 5.772/71 não autoriza interpretação
que exclua do Poder Judiciário, diante do pedido de depósito
do privilégio de invenção pelo empregador, fixar a remuneração
diante da contribuição pessoal do empregado para o invento.
Recurso especial conhecido e provido10.

Este julgado merece uma análise mais detalhada, pois trata com
profundidade de todos os tópicos de entendimento do Judiciário e legislação
sobre do tema anteriores à alteração da competência jurisdicional antes
anunciada. Sob a égide da anterior legislação sobre propriedade industrial, mais
especificamente o artigo 42 da lei 5.772/7111, o Ministro Relator afirma que,
10
BRASIL. Tribunal Superior de Justiça. Recurso Especial nº REsp 195759 / PR1998/0086570-
5. Recorrente EDEMILSON PERES PENHA. Recorrido PLASTIPAR INDÚSTRIA E COMÉRCIO
LTDA. Ministro CARLOS ALBERTO M ENEZES DIREITO. Julgado em 11 de abril de 2000,
pesquisado em 27/06/2014.
11
Art. 42. Salvo expressa estipulação em contrário, o invento ou aperfeiçoamento realizado pelo
empregado ou pelo prestador de serviços não compreendido no disposto no artigo 40, quando
decorrer de sua contribuição pessoal e também de recursos, dados, meios, materiais, instalações
ou equipamentos do empregador, será de propriedade comum, em partes iguais, garantido ao
empregador o direito exclusivo da licença de exploração, assegurada ao empregado ou prestador
de serviços a remuneração que for fixada.
§ 1º A exploração do objeto da patente deverá ser iniciada pelo empregador dentro do prazo de
um ano, a contar da data da expedição da patente, sob pena de passar à exclusiva propriedade
do empregador ou do prestador de serviços o invento ou o aperfeiçoamento.
§ 2º O empregador poderá ainda requerer privilégio no estrangeiro, desde que assegurada ao
empregado ou prestador de serviços a remuneração que for fixada.
§ 3º Na falta de acôrdo para iniciar a exploração da patente, ou no curso dessa exploração,

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“o empregado não vai obter patente alguma sobre a sua


contribuição pessoal. A licença para exploração, no caso, será
sempre do empregador; o empregado pretende o reconhecimento
de sua participação e a remuneração que for fixada. É a postulação
que está feita, no caso, considerando que a empresa depositou
pedido de privilégio de invenção”12.

A aplicação legal está mais do que clara, tanto na antiga, quanto na


atual legislação da Propriedade Industrial. A propriedade patrimonial de uma
invenção de funcionário, quando este é contratado para tanto é de exclusividade
da empresa contratante e a contraprestação por parte da empresa é apenas
o salário mensal. O julgado buscava determinar ou não o processamento e
julgamento de demanda entre empregado e empresa, em que se disputava a
titularidade e a exploração de uma patente, que sequer havia sido analisada
pelo INPI.
O STJ, apesar de deixar claro o entendimento da propriedade da patente,
admitiu o processamento da ação, admitindo o recurso. Originariamente,
sequer o processamento da ação havia sido permitido nas instâncias
anteriores. A sentença extinguiu o processo e o Tribunal do Paraná manteve a
sentença sob fundamento de não deter o autor da patente, também não detida
pela empresa, que apenas a requereu, sem que o INPI houvesse processado
administrativamente o encaminhamento.
No Rio Grande do Sul, em 1996, houve outro julgamento que referia a
situação onde um funcionário pleiteava direitos financeiros sobre um invento,
conforme a ementa que segue:

PROPRIEDADE INDUSTRIAL. PRIVILEGIO DE INVENCAO.


DIREITOS DO INVENTOR ASSALARIADO. Fixação judicial da
remuneração do empregado co-participe do processo inventivo
relativamente à empresa empregadora. Ocorrido o invento na

qualquer dos co-titulares, em igualdade de condições, poderá exercer a preferência, no prazo


que dispuser a legislação comum. BRASIL. Lei nº 5.772 de 21 de Dezembro de 1971. Institui o
Código da Propriedade Industrial, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/L5772.htm>. acesso em:26/06/201 4
12
BRASIL. Tribunal Superior de Justiça. Recurso Especial nº REsp 195759 / PR1998/0086570-
5. Recorrente EDEMILSON PERES PENHA. Recorrido PLASTIPAR INDÚSTRIA E COMÉRCIO
LTDA. Ministro CARLOS ALBERTO M ENEZES DIREITO. Julgado em 11 de abril de 2000,
pesquisado em 27/06/2014

FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014 151


REVISTA NOVATIO IURIS

vigência de contrato de trabalho, e não prevendo este a atividade


inventiva do assalariado, para o mesmo jus a remuneração fixada
judicialmente, pela sua co-participação no processo inventivo.
Exegese dos artigos 40, 41 e 42 do código da propriedade
industrial (lei 5772/71). A empresa empregadora, assegurar-se-á
pelo menos a metade do lucro liquido decorrente da exploração
da invenção, fracionando-se a metade restante entre todos os
empregos co-participes da invenção. Apelo desprovido, por
maioria13.

A definição legal e a jurisprudência caminhavam no mesmo rumo, não


fazendo discrepâncias na aplicação legal e entendimentos dos tribunais.
A legislação vigente era singular em sua amplitude, sem deixar dúvidas à
sociedade.

5 A EMENDA CONSTITUCIONAL 45 DE 2004 E A AMPLIAÇÃO


DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

A competência é que define os Juízos em que serão processadas e


julgadas as demandas judiciais. A regra de distribuir processos judiciais por
competências é decorrente da legislação infraconstitucional, mas também
das disposições constitucionais. Os critérios para encaminhar um processo
são em razão da matéria, do local e da esfera jurisdicional. Assim, separam-
se as demandas entre a Justiça Federal e a comum. Há também justiças
especializadas, como é o caso da Trabalhista, entre outras.
No tema específico deste trabalho, a competência originária, anterior a
2004, para o processamento e julgamento das ações referentes à Propriedade
Industrial entre empregados e empregadores, era da Justiça Comum. Contudo,
a Emenda Constitucional nº 45, alterando o texto constitucional, ampliou a
competência da justiça do trabalho. Esta passou a ser competente para o
julgamento de todas as demandas que envolvem empregados e empregadores,
mesmo que para além daquelas decorrentes exclusivamente da relação
empregatícia.
13
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível. Processo nº592114326.
Recorrente IRAJA ANTONIO MENDONCA DE OLIVEIRA. Recorrido DEFENSA INDUSTRIA
DE DEFENSIVOS AGRICOLAS S A. Relator Décio Antônio Erpen. Julgado em 16 de dezembro
de 1996. Publicação 10/05/1993. Acessado em 27/06/201 4.

152 FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014


FADERGS

Após a emenda, os artigos 112 e 114 da Constituição Federal passaram


a ter a seguinte redação:
Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas
comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes
de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do
Trabalho. (NR)
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os
entes de direito público externo e da administração pública
direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios;
II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;
III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre
sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;
IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data,
quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;
V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição
trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;
VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial,
decorrentes da relação de trabalho;
VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas
aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de
trabalho;
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas
no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das
sentenças que proferir;
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na
forma da lei14.

Basicamente, o artigo 114 antes do advento da Emenda 45 determinava


que a justiça do trabalho era competente para o julgamento das questões
derivadas da relação de emprego. Já a redação posterior, nos termos do inciso
IX, determinou que a justiça do trabalho passou a ser competente para a análise
de todas as controvérsias decorrente da relação de trabalho. Relações de
emprego é uma expressão mais restrita que relação de trabalho. Nas palavras
de Alice Monteiro de Barros:

Tanto a relação de trabalho como a relação de emprego são


modalidades de relação jurídica, isto p, de “situação da vida
social disciplinada pelo Direito, mediante a atribuição a atribuição
a uma pessoa (em sentido jurídico) de um direito subjetivo e a

14
BRASIL. Emenda Constitucional nº45, de 30 de dezembro de 2004. Disponível em <http://www.
planalto.gov.br/ccivi l_03/constitui cao/Emendas/Emc/emc45.htm>. A cessado em 29/06/2014

FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014 153


REVISTA NOVATIO IURIS

correspondente imposição a outra de um dever ou de uma


sujeição”. Sua estrutura p constituída de sujeitos, objeto, causa
e garantia (sanção).
[...]
A relação de emprego tem natureza contratual exatamente porque
é gerada pelo contrato de trabalho.
Os principais elementos da relação de emprego gerada pelo
contrato de trabalho são: a) a pessoalidade, ou seja, um dos
sujeitos (o empregado) tem o dever jurídico de prestar os serviços
em favor de outrem pessoalmente; b) a natureza não eventual do
serviço, isto é, ele deverá ser necessário à atividade normal do
empregador; c) a remuneração do trabalho a ser executado pelo
empregado; d) finalmente, a subordinação jurídica da prestação
de serviços do empregador.
Não é, portanto, qualquer relação de trabalho que atrai a aplicação
do Direito do Trabalho, mas apenas aquela dotada da configuração
específica mencionada o parágrafo anterior (BARROS, 2010, p.
220-22).

Através desta análise, conclui-se que a relação de trabalho é um gênero e


a relação de trabalho é espécie e, por estas definições, as questões relativas às
relações de trabalho seriam julgadas perante a lei cível, e a relação de emprego
mediante a legislação trabalhista15.
Com a alteração do texto constitucional, ampliando a competência
para tratar de qualquer controvérsia decorrente da relação de trabalho,
inclusive demandas indenizatórias de toda a ordem, quer por danos morais ou
patrimoniais, toda a matéria a ser discutida no âmbito da propriedade intelectual,
desde que decorrente de contrato de trabalho, fica restrita à competência da
Justiça do Trabalho.
A súmula vinculante nº 22 deixa mais do que clara esta questão de
competência, e é utilizada pelo Tribunal Superior do Trabalho para todos os
15
No Brasil há uma correspondência entre contrato de trabalho e relação de trabalho, quando a
CLT define contrato de trabalho como o acordo, tácito ou expresso, correspondente à relação de
trabalho (art. 442 da CLT). Assim, não encontramos dificuldades em afirmar que o contrato de
trabalho é definitivamente uma espécie desse gênero, abrangendo desse modo uma extensa gama
de subespécies contratuais: o trabalho subordinado, o contrato de empreitada, locação de serviço,
trabalho avulso, o estágio, o trabalho autônomo, o trabalho temporário. LIMA, Gabriela Kalif,
Novas Formas de Relação de Trabalho Diante da EC no 45/2004.< http://www.advocaciabarbosa.
com.br/artigos.php?id_not_sel=2191 > acesso em 01/07/2014.

154 FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014


FADERGS

casos análogos referentes a indenizações consideradas trabalhistas, fechando


definitivamente qualquer dúvida sobre o tema.

A justiça do trabalho é competente para processar e julgar


as ações de indenização por danos morais e patrimoniais
decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado
contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam
sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da
emenda constitucional nº 45/0416.

O julgado que em primeiro momento analisou esta questão e definiu


serem prioritariamente a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar
as questões de indenizações na Propriedade Industrial foi assim ementado:

RECURSO DE REVISTA - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO


TRABALHO - INVENÇÃO DO EMPREGADO - CÓDIGO DE
PROPRIEDADE INDUSTRIAL. A fixação da competência da
Justiça do Trabalho se faz pela matéria ou natureza do litígio,
desde que decorrente da relação de trabalho (art. 114 da
CF)17. Não é porque o Código de Propriedade Industrial trata
da invenção, que a matéria seria exclusiva da jurisdição civil
(VANTUIL ABDALA), ainda mais quando há capítulo específico
nessa lei, cuidando “Do invento ocorrido na vigência do contrato
de trabalho”, disso também falando o vetusto art. 454 da CLT. A
competência firma-se em decorrência do contrato de trabalho,
sem o qual essa criação não teria ocorrido18.

Em resumo, até a alteração da Constituição ocorrida em 2004 pela


Emenda Constitucional nº45, a situação era clara, com relação à competência,
sendo a regra de especialização da Justiça apenas nos casos onde a matéria
16
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. http://www .stf .j us.br/portal/j urisprudencia/menuSumari
o.asp?sumula=1 259. Acessado em 29/06/2014
17
BRASIL. Constituição Federal. Lei Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e
da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios; II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; <http://www.planalto.gov.
br/ccivi l_03/constitui cao/constituicao.htm>, acessado em 29/06/2014.
18
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista nº PROC. Nº TST-RR-593.729/99.4
Recorrente RICARDO VANDERLEI MATTJE KRAUSE e Recorrida METALÚRGICA BECKER
LTDA, Ministro VANTUIL ABDALA. Julgado em 13 de dezembro de 2000 publicado em
16/02/2001, pesquisado 16/01/2014

FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014 155


REVISTA NOVATIO IURIS

fosse específica. Quando assim não ocorresse, as demandas deveriam ser


encaminhadas para a Justiça Comum Estadual.
A partir da ampliação da competência provocada pela Emenda
Constitucional nº45, as demandas referentes aos danos materiais e patrimoniais
referentes à Propriedade Industrial passaram a ser de competência da Justiça
do Trabalho.

6 O PRESENTE: MUDANÇA DE POSICIONAMENTO EM


RELAÇÃO AOS DIREITOS DO EMPREGADO INVENTOR

É impossível adentrar esse tópico do trabalho sem citar J. J. Gomes


Canotilho que assevera:

O homem necessita de uma certa segurança para conduzir,


planificar e conformar autônoma e responsavelmente a sua
vida. Por isso, desde cedo se considerou como elementos
constitutivos do Estado de Direito o princípio da segurança
jurídica e o princípio da confiança do cidadão.(...) Os princípios
da protecção da confiança e da segurança jurídica podem
formular-se assim: o cidadão deve poder confiar em que aos seus
actos ou às decisões públicas incidentes sobre os seus direitos,
posições jurídicas e relações, praticados ou tomados de acordo
com as normas jurídicas vigentes, se ligam os efeitos jurídicos
duradouros, previstos e calculados com base nessas mesmas
normas (CANOTILHO, J. J;MOREIRA, 1992, p.375 e 377/378).

Com a necessidade de ampliar o investimento em tecnologia, com o


objetivo de tornar-se mais competitivo em um mercado no qual se disputa espaço
milimetricamente com competidores nacionais e estrangeiros, os empresários
se voltam aos pesquisadores para ampliar sua capacidade competitiva.
Porém, para que isso ocorra sem sobressaltos, estes mesmos
empresários precisam analisar e avaliar de forma minuciosa os riscos e
tendências doutrinárias e jurisprudenciais sobre o tema para evitar danos
incomensuráveis. Mais ainda, observando o entendimento do doutrinador
trabalhista Mozart Victo Russomano, que afirma claramente que “como quer
que seja, a extensão da competência da Justiça do Trabalho não implica
sujeição da relação jurídica às regras materiais trabalhistas” (RUSSOMANO,
1985, p. 737).

156 FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014


FADERGS

O que vale crer que os aspectos que favorecem a análise das questões
trabalhistas podem ser efetivados com o princípio do mais benéfico ao
empregado. Tem-se como exemplo a questão da prescrição que não seria
estabelecida na legislação trabalhista, mas sim a do direito comum.
Enquanto os Tribunais analisam a competência para julgar os temas da
Propriedade Industrial decorrentes dos contratos de trabalho, os empregadores
e empregados ajustam sua forma de remuneração em caso de invenção de
produtos para aplicação na empresa. A fórmula para esta remuneração ainda
é obscura.
Os empresários têm se preocupado com mais afinco com as criações
ou invenções19 que podem ou devem ser levadas a registro junto ao INPI,
mais especificamente patentes de invenção, modelos de utilidade, desenhos
industriais e marcas20. Porém, fica mais do que evidente que a preocupação
extrapola essas limitações.
A criação não se limita aos inventos registráveis junto ao INPI, mas de
uma forma muito mais ampla, a toda e qualquer criação e sugestão que um
empregado com contrato de trabalho simples e sem cláusulas objetivas levar a
efeito ao seu empregador.
Por óbvio, até sugestões básicas de melhorias simples e que possam
trazer qualquer tipo de benefício ao seu empregador são caracterizadas como
19
Art.8º É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva
e aplicação industrial. Art.9º É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso prático,
ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição,
envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação.
Art. 95. Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto
ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado
visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação
industrial. Art. 122. São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente
perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais. BRASIL. Lei 9.279 de 14 de maio de
1996. Regula os direitos relativos a propriedade industrial.< http://www .planalto.gov.br/ccivi l_03/
lei s/l9279.htm> acesso em 29/06/2014
20
Todo o descobrimento, invenção ou aperfeiçoamento nas ciências, nas indústrias ou nas artes;
os novos aparelhos, novos equipamentos mecânicos ou manuais; a descoberta de novos produtos
industriais ou a aplicação nova de meios desconhecidos, porém com fim de obter melhores
resultados. SOARES, José Carlos Tinoco. Comentários a Lei de patentes, marcas e direitos
conexos: Lei 9279-14.05.1996; São Paulo; Editora Revista dos Tribunais; 1 997;pg 30.

FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014 157


REVISTA NOVATIO IURIS

inventos ou criações. Um método inovador de vendas, a adaptação de algo para


reduzir custos, de um logotipo, de uma vitrine, em resumo, qualquer sugestão
que possa interferir positivamente na rentabilidade da empresa ou em sua
exploração visual é encarada como benefício do empregado ao empregador.
Como exemplo o seguinte julgado deixa clara esta situação.

INDENIZAÇÃO PELO INVENTO. PROGRAMA COM NOVAS


TÉCNICAS DE ATENDIMENTO. AUTORIA COMPROVADA. O
eg. TRT consagra tese no sentido de que o reclamante foi o autor
do programa implantado na sede da reclamada, razão pela qual
faz jus à indenização pelo invento sobre o qual a empresa tirou
proveito. Assim, delimitada a autoria do invento, não merecem
prosperar as alegações recursais no sentido de que o demandante
tão somente indicou a utilização de programa já existente no
mercado, ou que não restou comprovado o registro perante o
INPI. Ademais o art. 4º da Lei 9.609/98 remete à contratação de
pessoal expressamente destinada à pesquisa e desenvolvimento
de programas de computador, ou em situação em que essa
atividade decorra dos encargos contratados. No caso dos autos,
não é inerente à função de representante de telemarketing
o desenvolvimento de programas de computador, tampouco
consta premissa no v. julgado a quo, de que tal previsão expressa
no contrato de trabalho do reclamante. Ileso, portanto, o art. 4º da
Lei 9.609/98. Recurso de revista não conhecido21.

Conforme a decisão acima, os julgados variam de acordo com a


contribuição dos empregados para com os empregadores. A questão que
se coloca é de um software desenvolvido por empregado para melhoria
de atendimento. Da mesma forma, a empresa foi condenada a indenizar o
funcionário. Cumpre salientar que, assim como a propriedade industrial, o
registro de softwares22 possui legislação própria e são protegidos, no Brasil,
através do direito moral.
Os empregadores precisam se preparar com mais tenacidade para esta
nova modalidade de demandas judiciais a que estão expostos. Entrar em litígio
21
BRASIL. Tribunal Superior de Trabalho, 6ª Turma RR - 279-17.2010.5.03.0037 Embargante
Brasilcenter Comunicações Ltda Embargado Fabiano Álvaro de Paula Teixeira Julgado em 09
de maio de 2012, publicado em 18/05/2012
22
BRASIL. Lei 9.609 de 19 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a proteção intelectual de programa
de computador, sua comercialização no País e dá outras providências.< http://www .planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l9609.htm > acesso em 30/06/2014.

158 FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014


FADERGS

sem estar devidamente preparado, com provas substanciais sobre o tema,


pode deixá-lo vulnerável perante o Juízo. É o que demonstra o julgado a seguir:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - DESACERTO DO DESPACHO


AGRAVADO - INDICAÇÃO DE VIOLAÇÃO – NECESSIDADE.
O quadro fático descrito pelo Regional é de que o reclamante
participou da criação do invento denominado “aspagidor múltiplo”,
durante o período em que prestava serviços para a reclamada.
Que o referido invento resultou de uma conjugação de esforços do
reclamante e reclamada e, com base na Lei nº 9.279/96(Lei das
Patentes) e no art. 454 da CLT, o Tribunal manteve a condenação
na indenização de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais)23.

E é neste sentido que as decisões oriundas do Judiciário Trabalhista tem


se norteado. As demandas onde se discute Propriedade Intelectual, analisando
criações de empregados, invariavelmente seguem o rumo de pagamento de
indenizações. E, neste tópico, é dos mais variados. Não fica restrito a apenas
um segmento de empresas. Quer nos Direitos Autorais, quer na Propriedade
Industrial, o tema sempre se encaminha para condenações em indenizar os
empregados.
MODELO DE UTILIDADE. ELETRICISTA. NATUREZA DOS
SERVIÇOS. O cargo de eletricista para o qual o reclamante foi
contratado não equivale a de criação de inventos ou modelos de
utilidade, salvo expressa disposição contratual, o que não ficou
demonstrado no caso em tela. O Regional afastou a configuração
do cerceamento do direito de defesa em virtude do indeferimento
de produção de prova, ao argumento de que, diante da confissão
do reclamante no sentido de que a invenção originou-se,
exclusivamente, dos serviços prestados na empresa, evidenciada
estava a desnecessidade de produção de novas provas. Diante
desse quadro, impossível torna-se a configuração de ofensa
direta e literal ao artigo 5º, LV, da Constituição de 198824.

Este último acórdão colacionado demonstra a grande incerteza jurídica em


que vivem as empresas. O funcionário foi confesso, afirmando que utilizou tudo
23
BRASIL Tribunal Superior do Trabalho 4ª Turma, processo TST-AIRR-198600-24.2008.5.18.0013,
Agravante COMPANHIA DE URBANIZAÇÃO DE GOIÂNIA - COM URG e Agravado JOSÉ
DIVINO DOS SANTOS, julgado em 31 de agosto de 2011, publicado em 16/09/2011
24
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. 8ª Turma. Agravo de Instrumento de Recurso de
Revista. PROCESSO Nº TST-A IRR-1 48140-98.2005.5.1 7.0002,Agravante V ale S/A, A gravado
Hélio Ferrei ra da Costa, julgado em 26 de outubro de 2011, publicado em 28/10/2011

FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014 159


REVISTA NOVATIO IURIS

que estava à sua disposição na empresa para desenvolver um produto. Teve a


sua autoria prestigiada na patente. Fez a cessão de seus direitos patrimoniais.
Ainda assim, a decisão foi nos sentido de determinar o pagamento de uma
indenização em favor do Reclamante.

MODELO DE UTILIDADE. INDENIZAÇÃO. Se a lei assegura


“justa remuneração”, não há óbice que se conclua que determinado
percentual do resultado econômico obtido com o invento sirva de
parâmetro para o cálculo dessa indenização, para retribuição da
criação de modelo de utilidade, fruto da capacidade laborativa do
empregado, explorado lucrativamente pelo empregador. A fixação
nesses padrões mostra-se razoável, tendo em vista que faltam
parâmetros objetivos, na lei, para atribuir-se “justa remuneração”
ao inventor de modelos de utilidade. Diante desse contexto, não se
vislumbra a possibilidade de afronta literal ao artigo 91, § 2º, da
Lei nº 9.279/96, na forma preconizada na alínea “c” do artigo 896
da CLT25.

As decisões prolatadas vão se adaptando ao tempo e ao espaço, para


proteger os empregados em relação aos seus direitos de inventores; porém,
desprezando o texto da lei especial que regula a Propriedade Industrial. A única
alternativa que ainda resta aos empregadores é a contratação de equipes
específicas para desenvolvimento de produtos específicos. De nada adianta
funcionários contratados para manutenção desenvolverem facilitação para seu
labor, caso não tenham sido contratados para tanto.

Destarte o já exposto e por ser esta uma área de muita relevância


para o mundo corporativo e que poderá gerar uma quantia
considerável de receita às empresas, é necessário que estas
se cerquem ao máximo das possibilidades a fim de evitar o
compartilhamento ou a indenização aos colaboradores referentes
à invenções e isto poderá ser feito desde a contratação do
colaborador, devendo constar no contrato de trabalho cláusula
que determina a exclusividade da propriedade à empresa
restando ao empregador, em caso de medida judicial movida pelo
colaborador, provar que o invento era inerente à sua função e que
foi possibilitado e resultado exclusivamente de seu posto.
Assim, a propriedade industrial ou o ato inventivo só serão
incontestavelmente pertencentes à empresa caso o colaborador

25
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. 8ª Turma. Agravo de Instrumento de Recurso de
Revista. PROCESSO Nº TST-A IRR-1 48140-98.2005.5.1 7.0002,Agravante V ale S/A, A gravado
Hélio Ferrei ra da Costa, julgado em 26 de outubro de 2011, publicado em 28/10/2011

160 FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014


FADERGS

tenha sido contratado com a finalidade exclusiva de efetuar


referido invento, nos demais casos caberá uma análise mais
aprofundada para se verificar a proveniência do ato inventivo e
a prévia determinação das partes conquanto à propriedade do
invento26.

E esta análise, com base nas decisões do judiciário trabalhista, é uma


posição quase pacífica no meio da Propriedade Intelectual e Trabalhista. Hoje
as decisões encaminham-se para estabelecer regras de contratação rígidas
e levá-las ao seu fiel cumprimento, restando, ainda, a insegurança jurídica
que persiste no meio acadêmico e doutrinário de futuras alterações no
entendimento do judiciário.

7 CONCLUSÕES

O crescimento do País decorre de trabalho, esforço e muito investimento


em conhecimento. Este conhecimento nem sempre é adquirido ou levado à
prática pela mão de proprietários de empresas, ou inventores terceirizados
do setor de produção. O conhecimento está muito além de regras pré-
determinadas, nem sempre totalmente inovador, ou uma patente de invenção.
Em geral, pode ser uma sugestão ou até mesmo uma pequena melhoria com
grandes resultados.
A certeza de um ordenamento jurídico é o que gera a tranquilidade para
maiores saltos de tecnologia e consequente maiores investimentos e melhorias
contínuas. O avanço adquirido com uma legislação moderna e específica
referente à Propriedade Industrial dava a essa estabilidade para um crescimento
sólido e tranquilo. Ao levar a efeito uma alteração de entendimento como foi
a da Emenda Constitucional nº45, sem a devida preparação e conhecimento,
o País arrisca seriamente a sua capacidade de investimento e crescimento
tecnológico.
Os avanços conquistados, tanto na esfera de direitos dos trabalhadores,
quanto das pesquisas científicas, respaldados pela Lei da Propriedade Industrial
26
MARQUES, João Junqueira. Invenção no ambiente de trabalho – De quem é a propriedade
intelectual? Publicado no site Lira e Advogados Associados. Publicado em 25/05/2010,
<http://www .li raa.com .br/conteudo/221 3/invencao-no-ambiente-de-trabalho--de-quem-e-a-
propriedade­intelectual>; acesso em 16/01/2014

FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014 161


REVISTA NOVATIO IURIS

permitiram às indústrias um salto na sua qualidade, pois um regramento claro


permite uma projeção futura em mares não turbulentos.
É necessário que as decisões judiciais sejam equânimes, levem em
consideração aspectos globais e não fiquem restritas a um único foco que, no
presente caso, seria a proteção do trabalhador, considerado hipossuficiente, em
detrimento de qualquer outra possibilidade de direitos conferidos pelo legislador.
De nada adianta o País possuir um regramento específico para
a Propriedade Industrial extremamente moderno se as Cortes, mais
especificamente a Justiça do Trabalho, desprezam-no em razão de uma
legislação que eles entendem ser aplicável, mas que é a especial e, pior, é
retrograda e ultrapassada.
Investimento e crescimento tecnológico estão diretamente relacionados
a sucesso e desenvolvimento. Enquanto o Brasil for um País que exporta
insumos e mão de obra tecnológica, jamais a sociedade alcançará uma
estabilidade social mais igualitária.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Renata Monteiro de. A invenção e o invento do empregado sob a ótica


trabalhista publicado em janeiro de 2009. Disponível em <http://www.maxwell.
lambda.ele.puc rio.br/1 4692/1 4692.PD F> acesso em 15/01/2014.

BARBOSA, Antonio Luiz Figueira. Sobre a Propriedade do trabalho intelectual:


uma perspectiva crítica/Antonio Luiz Figueira Barbosa. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999,
pg. 106.

BARBOSA, Denis Borges. O Inventor e o Titular da Patente de Invenção. Universo


Jurídico, Juiz de Fora, 26 de dez. de 2006. Disponivel em:<http://uj .novaprol i nk.com
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de jan. de 201 4.

BARBOSA, Denis Borges. O inventor e o Titular da Patente e Invenção. Disponível


em < http://denisbarbosa.addr.com/11 3.rtf> acesso em 01/07/2014

BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 6. ed. rev. e ampl. São
Paulo: LTr, 2010.

162 FADERGS - v.6, n. 2, jul..-dez. 2014


FADERGS

BRASIL Tribunal Superior do Trabalho 4ª Turma, processoTST-


AIRR-198600-24.2008.5.18.0013, Agravante COMPANHIA DE URBANIZAÇÃO DE
GOIÂNIA - COM URG e Agravado JOSÉ DIVINO DOS SANTOS, julgado em 31 de
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