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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA

INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO

MESTRADO EM GESTÃO – MBA

CONTRIBUIÇÃO DA PROTECÇÃO POR PATENTE

PARA O SUCESSO DAS INVENÇÕES

MARISA DE JESUS LUÍS

Orientação: Professor Dr. Jaime Serrão Andrez

Júri:
Presidente: Doutor António José de Castro Guerra, professor associado
com agregação do Instituto Superior de Economia e Gestão
da Universidade Técnica de Lisboa;
Vogais: Doutor Albertino José Santana, professor associado
convidado do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e
da Empresa;
Licenciado Dr. Jaime Serrão Andrez, professor convidado
do Instituto Superior de Economia e Gestão da
Universidade Técnica de Lisboa.

Junho/2007
RESUMO

Os activos intangíveis assumem, hoje em dia, uma importância crescente, dado neles

assentarem grande parte dos factores competitivos associados às competências de

negócio das empresas, sendo representados, e protegidos, sobre a forma de direitos de

propriedade industrial. As patentes constituem precisamente um destes direitos de

propriedade que legitimam a posse e a utilização exclusiva de uma dada invenção por

um dado indivíduo ou organização, durante um certo tempo. O domínio destes activos e

a sua boa gestão merecem, neste contexto, uma atenção estratégica por parte das

empresas.

O objectivo deste estudo é analisar o contributo das patentes para o sucesso comercial

das invenções, pretendendo-se investigar se a protecção por patente, apesar de

importante, representa por si só uma garantia para esse sucesso ou se, noutra

perspectiva, poderá constituir um factor de insucesso em caso de não utilização. Com

este intento será efectuada uma análise teórica e um estudo empírico da situação de

algumas das empresas portuguesas mais patenteadoras.

As conclusões mostram que não é possível estabelecer uma relação unívoca entre

protecção por patente e o sucesso comercial das invenções; aliás, em alguns casos,

poderá haver, mesmo, vantagem em não proteger. Foi ainda possível observar que o

contributo da patente é menos para o sucesso da inovação e mais para a protecção dos

direitos a ela associados, quando isso o justificar. A protecção por patente impõe-se para

obter a exclusividade do usufruto da invenção e de um prémio de preço.

Palavras Chave: Invenção; Inovação; Patente; Propriedade Industrial, Sucesso

Comercial.

2
ABSTRACT

Intangible assets assume, in nowadays, a growing importance, since they support a great

deal of competitive factors associated to business competences of the enterprises, being

represented, and protected, under the form of Industrial Property Rights.

Patents constitute precisely one of these property rights that legitimate the ownership

and the exclusive utilization of a certain invention by an individual or an organization,

for a certain period of time. The domain of such assets and its proper management

deserve, in this context, a strategic attention by the enterprises.

The goal of this study is to analyse the contribution of patents to the business success of

inventions, intending to investigate if the protection by patent, besides its importance,

represents by itself a guarantee for success, or, if, in another perspective, could

constitute a factor of failure in case of non use. With this intention, it will be elaborated

a theoretic analysis and an empiric study of the situation of some of the most patenting

portuguese companies.

Conclusions show that is not possible to establish a univocal relation between patent

protection and business success of inventions; in fact, in some cases, there could be an

advantage not to protect. It was also possible to observe that the contribution of the

patent is less important to the success of the invention, than to the protection of

associated rights, whenever justified. Protection by patent imposes to obtain exclusivity

of use of an invention as well as a certain premium price.

Key Words: Invention; Innovation; Patent; Industrial Property, Business Success.

3
ÍNDICE

RESUMO .................................................................................................................2

ABSTRACT .............................................................................................................3

LISTA DE FIGURAS ...............................................................................................6

LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................6

LISTA DE QUADROS .............................................................................................6

AGRADECIMENTOS ..............................................................................................7

INTRODUÇÃO ........................................................................................................8

CAPÍTULO 1. ENQUADRAMENTO NA PROBLEMÁTICA DA INOVAÇÃO.........11


1.1. INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO. PRINCIPAIS
CONCEITOS................................................................................................................ 12
1.1.1. CIÊNCIA E TECNOLOGIA ................................................................................... 13
1.1.2. INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ............................................................. 14
1.1.3. INVENÇÃO E INOVAÇÃO ................................................................................... 15
1.1.4. MODELOS DO PROCESSO DE INOVAÇÃO ........................................................... 17

1.2. INCENTIVOS À INOVAÇÃO ............................................................................... 20


1.2.1. FUNDAMENTOS DO SISTEMA DE PATENTES ...................................................... 21
1.2.2. O PROBLEMA DA IMITAÇÃO ............................................................................. 24
1.2.3. DIREITOS DE PROPRIEDADE VERSUS DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL 27

CAPÍTULO 2. A PROPRIEDADE INDUSTRIAL – ENQUADRAMENTO GERAL 31


2.1. APRESENTAÇÃO DOS CONCEITOS CENTRAIS NO DOMÍNIO DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL .................................................................................... 32
2.1.1. PROPRIEDADE INTELECTUAL E PROPRIEDADE INDUSTRIAL .............................. 32
2.1.2. PATENTE .......................................................................................................... 34
2.1.3. OUTROS DIREITOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL ........................................... 36

2.2. A LÓGICA BÁSICA DO SISTEMA DE PATENTES ............................................ 38


2.2.1. A PATENTE COMO INCENTIVO MÚLTIPLO DA ESTRATÉGIA EMPRESARIAL ....... 39
2.2.2. A PATENTE COMO DIREITO DE MONOPÓLIO..................................................... 42
2.2.3. DURAÇÃO, AMPLITUDE E ALTURA DA PATENTE .............................................. 47

2.3. INFLUÊNCIAS DAS PATENTES NA DIFUSÃO DA INOVAÇÃO ........................ 54


2.3.1. FACTORES REDUTORES E DIFUSORES DA INOVAÇÃO ....................................... 55

4
2.3.2. MODOS DO DETENTOR DA PATENTE INFLUENCIAR A DIFUSÃO DA INOVAÇÃO . 58

2.4. APRESENTAÇÃO DE ALGUNS DADOS SOBRE O NÍVEL DE


PATENTEAMENTO EM PORTUGAL. COMPARAÇÕES COM OUTROS PAÍSES. .. 61
2.4.1. ESTATÍSTICAS GENÉRICAS ............................................................................... 61
2.4.2. RESULTADOS DE UM INQUÉRITO REALIZADO PELO CISEP (2003) ................... 66

CAPÍTULO 3. A IMPORTÂNCIA DAS PATENTES PARA A ESTRATÉGIA DE


NEGÓCIO DA EMPRESA .....................................................................................69
3.1. ESTRATÉGIAS PARA CAPTAR OS BENEFÍCIOS FINANCEIROS DAS
INOVAÇÕES ................................................................................................................ 70
3.1.1. OS DIFERENTES MECANISMOS DE APROPRIAÇÃO ............................................ 70
3.1.2. AS PATENTES COMO MECANISMO DE APROPRIAÇÃO ....................................... 72
3.1.3. CONDICIONANTES DA EFICÁCIA DAS PATENTES ............................................... 75
3.1.4. A DIMENSÃO DA EMPRESA E A IMPORTÂNCIA DAS PATENTES ......................... 82

3.2. IMPORTÂNCIA DAS PATENTES ESTRATÉGICA GLOBAL DA EMPRESA .... 86


3.2.1. POSICIONAMENTO DA EMPRESA NO MERCADO ................................................ 87
3.2.2. IMPACTO NO DESEMPENHO FINANCEIRO DA EMPRESA .................................... 90
3.2.3. IMPACTO NA COMPETITIVIDADE DA EMPRESA ................................................. 95

3.3. ESTRATÉGIAS DE PATENTEAMENTO ............................................................. 99


3.3.1. ESTRATÉGIAS DEFENSIVAS .............................................................................. 99
3.3.2. ESTRATÉGIAS OFENSIVAS .............................................................................. 102

CAPÍTULO 4. ANÁLISE EMPÍRICA - ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE


ALGUMAS EMPRESAS PORTUGUESAS PATENTEADORAS............................104
4.1. METODOLOGIA DO TRABALHO .................................................................... 104

4.2. CARACTERIZAÇÃO GENÉRICA DAS EMPRESAS ESTUDADAS .................. 106

4.3. ATITUDES PERANTE A PROTECÇÃO POR PATENTE .................................. 109

4.4. ANÁLISE DO CONTRIBUTO DA PATENTE PARA O SUCESSO COMERCIAL


DAS INVENÇÕES ...................................................................................................... 114

CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES .............................................................................129

BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................140

BIBLIOGRAFIA NÃO REFERENCIADA ............................................................148

ANEXOS .............................................................................................................149

5
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: TECHNOLOGY PUSH - MODELO LINEAR DE INOVAÇÃO .................................... 18


FIGURA 2: NEED PULL - MODELO LINEAR DE INOVAÇÃO ................................................ 18
FIGURA 3: MODELO INTERACTIVO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DA INOVAÇÃO ............. 19
FIGURA 4: INCENTIVOS A INOVAR EM CONCORRÊNCIA PERFEITA – INOVAÇÃO DE
PROCESSO ........................................................................................................ 43
FIGURA 5: INCENTIVOS A INOVAR – INOVAÇÃO RADICAL DE PRODUTO .......................... 45
FIGURA 6: DIFUSÃO JUNTO DOS COMPRADORES E DOS VENDEDORES COM UM
MONOPÓLIO TEMPORÁRIO .............................................................................. 60
FIGURA 7: FACILIDADE DE INVENT AROUND................................................................... 100
FIGURA 8: PATENT FENCE .............................................................................................. 100

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1: EVOLUÇÃO DOS PEDIDOS DE PATENTE DA VIA NACIONAL POR


RESIDENTES E NÃO RESIDENTES EM PORTUGAL.............................................. 62
GRÁFICO 2: % DE PEDIDOS DE PATENTE POR ESTRANGEIROS FACE AOS PEDIDOS
NACIONAIS TOTAIS.......................................................................................... 63
GRÁFICO 3: NÚMERO DE PEDIDOS DE PATENTE NO INSTITUTO EUROPEU DE PATENTES
POR MILHÃO DE HABITANTES ......................................................................... 64

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: TITULARES DE PATENTES NACIONAIS POR TIPO DE ENTIDADE ENTRE 1980


E O 1º SEMESTRE DE 2002 ................................................................................ 65

QUADRO 2: IMPORTÂNCIA PRESENTE OU FUTURA DE UM CONJUNTO DE FACTORES PARA


A PROTECÇÃO POR PATENTES E/OU MODELOS DE UTILIDADE ....................... 110

6
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a grande receptividade e colaboração das

empresas tratadas no estudo e, em particular, aos seus responsáveis e representantes nas

entrevistas – Dr. Alcino Flores, Dra. Ana Pereira, Dra. Cristina Rodrigues, Eng. José

Pacheco, Prof. Doutor Pedro Correia, Dr. Peter Villax e Dr. Ricardo Chorão - por toda a

informação disponibilizada e pelo apoio e cooperação manifestados.

Uma palavra muito especial de agradecimento ao Professor Dr. Jaime Andrez pela

forma atenta e crítica como orientou e acompanhou a elaboração desta dissertação,

transmitindo-me, sem reservas, a sua experiência profissional e conselho pessoal, tão

preciosos para o meu trabalho. Agradeço, ainda, todo o estímulo que me deu ao longo

da evolução do mesmo.

Ao INPI no seu todo e, em especial, ao Dr. José Maurício, ao Dr. Elpídio Santos e à

Dra. Maria José Silva por todo o apoio e compreensão nas alturas mais difíceis, ao Dr.

António Branco, ao Dr. Henrique Figueiredo e aos colegas do Departamento de

Inovação pelas palavras de estímulo e pela cooperação técnica, aos colegas com quem

trabalho, mais directamente, pelo apoio sempre presente.

Agradeço, ainda, aos meus pais pela motivação que me transmitiram e pela

compreensão das minhas longas ausências. Também, uma menção, a todos os amigos

que, de alguma forma, contribuíram para este estudo.

Por último, ao Beto pela imensa paciência nos momentos críticos e por sempre ter

acreditado.

7
INTRODUÇÃO

No contexto de uma economia global e orientada pelo conhecimento, potenciada pela

evolução das tecnologias de informação e comunicação que sustentam a Sociedade de

Informação, os factores competitivos assentam sobretudo em activos intangíveis, de

importância crescente, muitos deles sobre a forma de direitos de propriedade industrial,

transmissíveis, a par dos conhecimentos associados, entre diferentes pontos do planeta

numa questão de segundos.

Neste contexto, hoje em dia, na maioria dos sectores, mesmo nos tradicionais, as

vantagens competitivas das empresas são obtidas através do domínio de activos

intangíveis e sustentadas através da sua boa gestão.

Na verdade, cada vez mais as empresas constróem a sua estratégia de diferenciação com

base na criação de activos de conhecimento difíceis de reproduzir pelos concorrentes,

tanto por segredos bem guardados quer por conhecimentos bem protegidos legalmente.

As patentes constituem precisamente direitos de propriedade que legitimam a posse e a

utilização de um dado conhecimento por um dado indivíduo ou organização, durante um

certo tempo. Assim, as patentes possibilitam não só a protecção dos resultados da sua

estratégia de diferenciação, muitas vezes sustentada com base numa aposta na inovação,

como também colocam a empresa numa situação de vantagem sobre os seus

concorrentes, uma vez que atribuem um monopólio sobre a exploração de uma dada

invenção.

8
Tal como o título da dissertação sugere, constitui o seu objectivo estudar o contributo

das patentes para o sucesso comercial das invenções.

Influenciou a escolha deste tema, não só o seu potencial académico-teórico, mas

também a experiência profissional e a curiosidade da autora, já que esta é colaboradora

do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, o qual tem por objecto a promoção e a

protecção da Propriedade Industrial.

Desde de que desempenha funções neste instituto sempre lhe foi transmitida a ideia de

que a patente é sempre muito importante para o sucesso comercial das invenções, sendo

que a intuição da própria e a percepção obtida através dos contactos com algumas

empresas não iam neste sentido, a autora considerou que seria interessante compreender

melhor o papel que as patentes representam para o sucesso comercial das invenções.

Assim, com este trabalho pretende-se analisar se a protecção por patente, pela sua

importância, representa por si só uma garantia de sucesso, e, por outro lado, se a não

protecção pode constituir um factor de insucesso.

Procurar-se-á averiguar, no mínimo, se a protecção por patente, não sendo uma

condição suficiente para o sucesso comercial das invenções, pode ser, na maioria dos

casos, uma condição necessária.

O sucesso comercial das invenções tem de ser construído em função de um conjunto de

factores, entre os quais a protecção por patente, que têm pesos diferentes segundo o

sector de actividade que se esteja a considerar e o quadro ambiental. Por sua vez, a

9
eficácia da protecção por patente também se encontra dependente de vários factores,

também influenciados por situações tecnológicas e por factores ambientais. Assim, ao

longo deste trabalho procurar-se-á evidenciar as funções que a protecção por patente

poderá desempenhar na construção deste sucesso.

No Capítulo 1 iniciar-se-á a abordagem teórica, tratando-se a problemática da inovação

e a sua interacção com a propriedade intelectual, incluindo os conceitos envolvidos; no

Capítulo 2 introduzir-se-ão os conceitos associados à propriedade industrial, em

particular os ligados à protecção por patente; no Capítulo 3 tratar-se-ão as estratégias

competitivas da protecção por patente, procurando-se explicitar o papel que esta pode

desempenhar na estratégia de negócio das empresas.

No Capítulo 4 aprofundar-se-á a análise empírica procedendo-se a um estudo da

situação de algumas das empresas portuguesas mais patenteadoras, com o objectivo

específico de compreender o papel da patente no sucesso ou insucesso comercial de

determinadas invenções; com este intento serão utilizados os resultados de entrevistas

realizadas a essas empresas.

Finalmente, no capítulo 5 pretende-se extrair conclusões a partir de constatações da

análise teórica apresentada, de alguns estudos empíricos sobre a matéria, bem como do

estudo dos casos. Neste sentido, será confrontado o pensamento teórico sobre a

importância das patentes com a prática de algumas das empresas portuguesas mais

utilizadores de patentes.

10
CAPÍTULO 1. ENQUADRAMENTO NA PROBLEMÁTICA DA INOVAÇÃO

“If you took away everything in the world that had to be invented, there’d be

nothing left except a lot of people getting rained on.”

Tom Stoppard

A força da inovação reside no facto de permitir a constante evolução das tecnologias,

dos mercados e da própria Sociedade, possibilitando a melhoria do Bem Estar Social.

Diversas são as entidades que desenvolvem invenções, entre as quais as universidades,

os institutos de investigação e desenvolvimento, os inventores particulares e as

empresas. No entanto, é sobretudo pela mão destas últimas que as invenções chegam ao

mercado e se tornam inovações, ou seja, são, na maioria dos casos, as empresas que

conferem uma utilidade prática aos novos conhecimentos, incorporando-os em produtos

ou serviços novos ou melhorados que permitem aumentar o Bem Estar Social.

Na verdade, a investigação e o desenvolvimento de produtos novos ou melhorados

implica muitas vezes a realização de elevados investimentos com um elevado nível de

risco que, quando bem sucedidos, conferem vantagens não só às empresas que os

desenvolveram e efectuaram a sua implementação no mercado, mas também a outras

empresas e à Sociedade como um todo.

Assim, neste capítulo procurar-se-á explorar as razões que fundamentam a necessidade

da existência de um sistema que forneça um incentivo para a realização de invenções,

procurando compensar as diversas entidades que as desenvolvem pelos investimentos e

pelo risco que assumem, isto é, justificar a existência do sistema de patentes.

11
Ainda neste âmbito importa conhecer como o problema da imitação torna importante a

existência de um sistema de apropriação dos resultados da I&D.

Por último, serão exploradas as razões que fundamentam a que, com vista à protecção

da propriedade intelectual, sejam atribuídos direitos mais fortes que os direitos de

propriedade convencionais.

Para este efeito será necessário, antes de mais, apresentar os principais conceitos no

domínio da inovação e do desenvolvimento tecnológico que serão usados ao longo de

todo este trabalho, procurando-se ilustrar da melhor a forma o processo de

transformação das invenções em inovações.

1.1. INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO. PRINCIPAIS

CONCEITOS.

Neste ponto procurar-se-á clarificar alguns dos principais conceitos a usar ao longo

deste trabalho, nomeadamente os de ciência e tecnologia, investigação e

desenvolvimento e de invenção e inovação. Com o objectivo de permitir a melhor

compreensão das interacções entre estes conceitos serão ainda apresentados alguns dos

modelos que ilustram o processo de inovação.

12
1.1.1. CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Importa antes de mais distinguir dois conceitos que são muitas vezes confundidos na

sua utilização comum, os de ciência e de tecnologia.

A ciência pode ser definida como um conjunto organizado de conhecimentos sobre os

mecanismos de causalidade dos factos observáveis, obtido através do estudo objectivo

dos fenómenos empíricos. (CISEP, 2000)

Dussauge et al. (1997) definem tecnologia como um processo que, através de uma fase

implícita ou explícita de investigação e desenvolvimento (a aplicação do conhecimento

científico), possibilita a produção comercial de bens e serviços.

Enquanto a essência da tecnologia é a aplicação, a ciência envolve “informação pura”,

desprovida em si de qualquer utilização prática, e muito menos da conversão de inputs

em outputs. O objectivo da actividade científica é a produção de conhecimentos novos,

enquanto que o objectivo do esforço tecnológico é a obtenção de resultados produtivos.

O conhecimento tecnológico, ao contrário do conhecimento científico, pode ser

apropriado e ser objecto de transacções no mercado. De facto, o principal incentivo,

como será analisado em pontos subsequentes, ao comprometimento de recursos com a

actividade inovadora provém da perspectiva de obtenção lucros económicos,

constituindo os direitos de propriedade intelectual, e em particular as patentes, uma

forma de apropriação destes lucros.

13
1.1.2. INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

No que respeita à investigação e desenvolvimento, existem três conceitos que importa

distinguir, a investigação fundamental, a investigação aplicada e o desenvolvimento

experimental.

De acordo com Burgelman et al. (1996), a investigação fundamental refere-se a

actividades que envolvem a geração de novos conhecimentos sobre fenómenos físicos,

biológicos e sociais, enquanto que a investigação aplicada é direccionada para a

resolução de problemas técnicos específicos.

A distinção entre estes dois tipos de investigação é realizada sobretudo em termos do

objectivo que orienta a procura de novos conhecimentos, ou seja, se existe ou não

referência a uma aplicação prática específica.

Por último, o desenvolvimento experimental compreende todos os trabalhos

sistemáticos, baseados em conhecimentos existentes, obtidos quer pela investigação,

quer pela experiência prática, com vista à produção e ao estabelecimento de novos

materiais, dispositivos, processos ou produtos, ou o melhoramento dos já existentes.

(CISEP, 2000)

No desenvolvimento experimental são utilizados os conhecimentos científicos e os

resultados da investigação para obter produtos, processos ou sistemas novos ou para

melhorar os existentes.

14
1.1.3. INVENÇÃO E INOVAÇÃO

A primeira distinção entre invenção e inovação devemo-la a Schumpeter. Este autor

define invenção como uma ideia, um desenho ou um modelo para um produto ou

processo novo ou melhorado. Uma inovação é conseguida apenas com a primeira

transacção comercial que envolva o produto ou o processo novo, apesar da palavra ser

usada também para descrever todo o processo. (Freeman, 1997)

As invenções podem muitas vezes ser protegidas por patente, mas não conduzem

necessariamente a inovações. Na verdade, como referem Burgelman et al. (1996), pode

existir um desfasamento temporal significativo (10 anos ou mais) entre a realização de

investigação fundamental e a utilização das invenções por forma a criar inovações bem

sucedidas.

Muitas invenções não passam o estado conceptual, enquanto outras permanecem

“adormecidas” por longos períodos, quer por a sua aplicação requerer conhecimentos

adicionais que ainda não se encontram disponíveis, quer por o seu desenvolvimento

ainda não ser economicamente atractivo, ou, ainda, por o mercado não estar receptivo.

No Manual de Oslo (OCDE, 1996) considera-se que foi realizada uma inovação quando

uma invenção foi introduzida no mercado (inovação de produto) ou utilizada num

processo de produção (inovação de processo).

15
As inovações de produto são as relativas à implementação/comercialização de produtos

com características de desempenho novas ou melhoradas, tais como a disponibilização

de serviços novos ou melhorados ao consumidor (OCDE, 1996).

Por outro lado, considera-se como inovação de processo a implementação/adopção de

métodos de produção novos ou significativamente melhorados (OCDE, 1996). Estes

métodos podem implicar mudanças no equipamento, na organização da produção ou

uma combinação destas alterações, e podem advir do uso de novos conhecimentos.

As inovações de processo podem ter por objectivo a produção de produtos novos ou

melhorados, que não possam ser produzidos através do uso dos métodos de produção

convencionais, ou o aumento da eficiência dos métodos de produção existentes.

Burgelman et al. (1996) distiguem ainda dois tipos de inovação, as incrementais e as

radicais. As inovações incrementais envolvem a adaptação, o refinamento e a melhoria

de produtos ou serviços existentes e/ou de sistemas de produção. Enquanto que, as

inovações radicais envolvem categorias de produtos ou serviços completamente novos

e, ou, novos sistemas de produção.

Em termos de inovação e com um carácter mais vasto existe um outro conceito que

importa referir o de sistema de inovação que, utilizando a definição de Lundvall (1992),

é constituído pelo conjunto de elementos e de relações que interagem na produção,

difusão e utilização de conhecimentos novos e economicamente úteis.

16
No âmbito deste trabalho será dado particular atenção a dois elementos deste sistema,

isto é, às empresas, por um lado, e às instituições que lhes permitem a apropriação dos

resultados da inovação, por outro, sendo explorado o papel destes elementos e a forma

como interagem na produção, difusão e utilização de novos conhecimentos.

1.1.4. MODELOS DO PROCESSO DE INOVAÇÃO

Com o objectivo de articular os conceitos apresentados nos pontos anteriores, e de

melhor ilustrar o processo de inovação - procurando explicar o processo de

transformação de invenções (novas ideias) em inovações (novos produtos ou processos)

- serão aqui expostas algumas perspectivas sobre a forma como o processo de inovação

decorre ou deve decorrer.

De acordo com Rothwell (1994), o modelo de inovação dominante evoluiu ao longo das

últimas décadas, sendo esta evolução visível nas cinco gerações do modelo do processo

de inovação:

1 - Technology Push;

2 - Need Pull;

3 - Interactivo;

4 - Integrado;

5 - Integração de Sistemas e Redes;

As duas primeiras gerações correspondem a modelos lineares, ilustrados nas figuras 1 e

2. No primeiro é realçado o papel da investigação, assume-se uma progressão da

17
descoberta científica através da investigação aplicada, ao desenvolvimento tecnológico

e às actividades de produção da empresa, o que conduz a um conjunto de novos

produtos no mercado. Os conhecimentos produzidos em cada uma das fases são

transferidos para a fase seguinte e implicam o refinamento contínuo das teorias gerais

em aplicações específicas.

FIGURA 1: Technology Push - Modelo Linear de Inovação

Investigação Investigação Desenvolvimento Produção Comercialização


Básica Aplicada do Produto (ou
7 Processo)

Fonte: Adaptado de Rothwell (1994)

No modelo linear de need pull, as inovações resultam das necessidades percebidas dos

consumidores, neste caso o mercado é visto como uma fonte de ideias que orientam a

I&D.

FIGURA 2: Need Pull - Modelo Linear de Inovação

Necessidade Investigação e Produção Comercialização


do Mercado Desenvolvimento

Fonte: (Rothwell, 1994)

Estes modelos lineares foram objecto de diversas críticas, sendo estas perspectivas

consideradas demasiado redutoras. A inovação foi comparada por Schmookler às

lâminas de uma tesoura (in Freeman, 1997). Por um lado, o processo de inovação

envolve o reconhecimento de um mercado potencial para um novo produto ou processo.

Por outro lado, implica conhecimentos técnicos, que podem estar disponíveis, mas

18
também pode incluir novos conhecimentos científicos e tecnológicos, o resultado de

actividades de investigação.

Freeman (1997) destaca o facto da inovação ser essencialmente uma actividade com

dois lados. Assim, estas abordagens devem ser consideradas como complementares e

não como mutuamente exclusivas.

Para além destes aspectos reconheceu-se ainda a existência, no processo de inovação, de

diversos feedbacks, tendo-se verificado que a realidade seria melhor reflectida num

modelo que destacasse o seu papel, o modelo interactivo representado na figura 3.

FIGURA 3: Modelo Interactivo do Processo de Produção da Inovação

Nova Necessidades da Sociedade e do Mercado


Necessidade

Concepção I&D Protótipo Produção Marketing e Mercado


da Ideia Comercializ.

Novas Estado da Arte da Tecnologia e das Técnicas de Produção


Capacidades
Tecnológicas

Fonte: (Rothwell, 1994)

O surgimento do modelo integrado teve como principal contributo o facto de reconhecer

a existência de um elevado nível de sobreposição funcional durante o processo de

desenvolvimento da inovação, enquanto que o modelo interactivo, apesar de considerar

a existência de interacções funcionais e de coordenação, na essência manteve-se

sequencial.

19
Modelos mais recentes do processo de inovação realçam a integração de sistema e

redes. Nestes modelos são consideradas as ligações com entidades exteriores à empresa,

tais como os fornecedores, e é destacada a flexibilidade e a velocidade de

desenvolvimento.

Assim, foi possível constatar a complexidade do processo de inovação, o que implica,

desde a concepção da ideia até à sua implementação no mercado, a passagem por

diversos estádios que nem sempre são lineares e contínuos, sendo muitas vezes

necessárias interacções e regressões no processo. Torna-se, deste modo, visível os

elevados investimentos que o processo acarreta e o alto grau de incerteza e, como tal de

risco, que o envolve. É necessário ter ainda presente que, em muitos casos, e por

diversas razões, as invenções nunca chegam a inovações, terminando o processo nalgum

estádio intermédio.

1.2. INCENTIVOS À INOVAÇÃO

A importância que as inovações representam para a Sociedade, os elevados

investimentos e a incerteza e, portanto, o risco que o processo de inovação acarreta para

as entidades intervenientes, são alguns dos aspectos que levam a que a atribuição de

incentivos à inovação seja particularmente importante.

Assim, neste ponto do trabalho procurar-se-á expor os argumentos que fundamentam a

existência de um sistema de incentivos à inovação, e em particular de um sistema de

patentes. Neste âmbito, afigura-se ainda como relevante explorar um problema com

20
algum impacto para as empresas que apostam na inovação, isto é, o problema da

imitação das suas invenções. Por último, importa apresentar as razões que levam a que

seja atribuída à propriedade intelectual direitos com características diferentes dos

direitos de propriedade convencionais.

1.2.1. FUNDAMENTOS DO SISTEMA DE PATENTES

Os principais fundamentos do sistema de propriedade intelectual residem nas

características do “bem” que pretende proteger, o conhecimento que é, de acordo com

Arrow1 (1962), “um bem com características especiais”.

A produção de conhecimento implica muitas vezes elevados investimentos e, uma vez

obtido, pode ser facilmente reproduzido com custos muito baixos ou nulos, ao contrário

de um qualquer outro bem.

Durante o processo de geração de conhecimento ocorrem externalidades, isto é, a

obtenção de informação sem que outros tenham que pagar por isso. Assim, a empresa

geradora de nova informação técnica tem poucos ou nenhum incentivo para gerá-la,

uma vez que esta dificilmente consegue apropriar-se da informação e dos resultados a

ela associados (Van Dijk, 1994).

Na verdade, o conhecimento deve ser considerado um bem colectivo, uma vez que

satisfaz as duas características deste tipo de bens, a não rivalidade e a não exclusão. Por

1
in (Albuquerque, 1998)

21
um lado, o consumo de conhecimento por um indivíduo não afecta o consumo dos

outros, cumprindo o princípio da não rivalidade e, por outro, é difícil excluir os outros

do consumo de conhecimento, ou seja, a não exclusão. Assim, se, por um lado, a

disponibilização gratuita, ao público, destes conhecimentos permitiria maximizar o Bem

Estar Social, por outro lado, não forneceria qualquer incentivo à sua geração.

Para que o sistema capitalista opere de forma eficiente é necessário que os mercados de

produtos e serviços funcionem, mas o mercado do conhecimento, da informação, dos

produtos intelectuais, de uma foram geral, têm, como vimos, dificuldades em operar.

É difícil vender uma ideia sem a divulgar, de tal forma que outros podem usá-la sem ter

de efectuar qualquer pagamento, o que tem subjacente o problema da não-exclusão. Do

ponto de vista da Sociedade isto pode resultar num sub-investimento no trabalho

criativo e na produção de conhecimento, uma vez que os criadores e os inovadores não

são suficientemente recompensados através dos lucros da venda das suas criações no

mercado, o que envolve a questão da dificuldade de apropriação.

Por um lado, a existência de externalidades na produção de novos conhecimentos e, por

outro lado, o facto do conhecimento, de uma forma geral, ser um bem colectivo,

determinam a necessidade de um sistema que permita ao inventor apropriar-se dos

resultados do seu investimento e que, em simultâneo, constitua um estímulo à realização

de I&D e à divulgação dos seus produtos.

22
O valor social dos novos conhecimentos é muitas vezes superior ao valor privado. Na

ausência de tal sistema o resultado, segundo Arrow2 (1962), seria a sub-provisão,

mesmo num mercado de concorrência perfeita.

Desta forma, o sistema de propriedade intelectual constitui-se como um instrumento que

permite corrigir um funcionamento deficiente do mercado, ao aumentar o valor privado

das invenções, de forma a que a diferença entre o valor privado e valor social diminua

ou até desapareça. O resultado pretendido é uma menor ou nenhuma sub-provisão no

mercado de nova informação técnica (van Dijk, 1994).

Acresce que, as empresas ou organizações apenas irão incorrer nos custos de geração de

conhecimento (que podem ser desproporcionalmente elevados em comparação com os

custos de reprodução), caso consigam prever lucros sobre eles. Segundo Bainbridge

(1999), a única maneira pela qual isto pode ser assegurado é através de alguma forma de

protecção legal que garanta que isto é uma possibilidade prática.

Sem este tipo de protecção outra empresa poderia roubar a ideia e vender o produto por

um preço muito inferior àquele que a empresa originadora poderia alguma vez praticar.

A outra empresa produtora teria, assim, uma vantagem considerável, uma vez que não

teria nenhum dos custos (de desenvolvimento do produto), excepto talvez, alguns custos

de marketing. (Bainbridge, 1999)

O sistema de propriedade intelectual evoluiu como um mecanismo de apropriação e,

adicionalmente, encorajou o mercado das ideias. Em particular as patentes

2
in (Van Dijk, 1994)

23
desenvolveram um mercado para o conhecimento tecnológico. A actividade inventiva é

encorajada, e a informação resultante é divulgada, aumentando o Bem Estar Social.

(ETAN, 1999)

De acordo com Andrez 1 (2002), se a propriedade intelectual é vital para estimular o

progresso científico e tecnológico, conferindo as condições necessárias para rentabilizar

o investimento a ele associado, também é importante, para a qualidade do modelo de

desenvolvimento, que esse progresso seja partilhado pela Sociedade a favor do Bem

Estar Social.

A partilha do progresso científico e tecnológico é de facto assegurada pelo Sistema de

Propriedade Intelectual. Por um lado, o sistema exige a divulgação dos conhecimentos,

o que permite evitar a duplicação da I&D e possibilita a outras empresas a realização de

I&D tomando estes como ponto de partida. Por outro lado, ao atribuir direitos

temporários de utilização, o sistema garante que os novos conhecimentos serão

disponibilizados ao público a custo zero após o seu término.

1.2.2. O PROBLEMA DA IMITAÇÃO

A capacidade de protecção contra a imitação é uma questão de maior relevância para a

empresa inovadora, dados os elevados investimentos, e os graus de incerteza e de risco

associados ao processo de inovação.

24
Na sequência da realização de um estudo sobre esta matéria, Mansfield et al. (1981)

estimaram que os custos de imitação representam em média apenas 65% dos custos de

inovação. A análise por Levin et al. (1987) dos resultados de um inquérito a gestores de

topo de I&D em 130 linhas de negócio revelou que, mesmo nos casos em que as

melhorias introduzidas não são apenas pequenas melhorias incrementais, muitas

empresas são capazes de duplicar a inovação. Para um típico produto novo, em 70% dos

casos, 6 ou mais empresas são capazes de produzir uma imitação. Estes estudos revelam

a importância de uma boa protecção contra as imitações.

Se a contribuição tecnológica é fácil de copiar, os concorrentes que não inovam estão

muitas vezes em posição de canalizar, para si, os lucros decorrentes da inovação.

Neste âmbito existem dois aspectos importantes, o tempo e o custo de imitação. Quanto

maiores forem os custos de imitação face aos custos da inovação, e quanto maior for o

tempo de imitação, menor será a rapidez com que a inovação será imitada. Assim, para

a empresa inovadora torna-se imprescindível encontrar instrumentos que lhe permitam

aumentar o custo e/ou o tempo de imitação.

As patentes constituem um dos instrumentos ao dispor das empresas que lhes pode

possibilitar aumentar os custos e o tempo de imitação. Contudo, tendo em conta que a

obtenção de uma patente implica divulgação de informação, a empresa terá de analisar

cuidadosamente o que proteger através de patente e que informação deverá ser mantida

em segredo.

25
Outro aspecto a considerar, que será abordado com maior detalhe em pontos

subsequentes, é a facilidade com que os concorrentes poderão fazer o inventing around

da patente. Por forma a prevenir a entrada de rivais, o inventor/inovador poderá obter

patentes sobre inovações similares que podem não ser usadas, mas que podem evitar

que outros obtenham patentes sobre produtos similares.

Quanto melhor a estratégia de patenteamento da empresa, mais difícil será para os

concorrentes imitarem as suas inovações. Uma carteira de patentes bem gerida poderá

ter aqui um importante papel.

Mansfield3 (1968) refere que, nos EUA, o tempo que medeia entre o primeiro uso de

uma grande inovação e a altura em que 60% de todos os produtos relacionados imitaram

a inovação pode ser tão curto quanto um mês ou um ano, ou tão longo quanto várias

décadas.

No estudo de Mansfield et al. (1981), os resultados revelam que, de 48 empresas

entrevistadas, a média estimada do aumento nos custos de imitação devido às patentes é

de 11% para a totalidade das empresas estudadas, de 30% nas farmacêuticas, de 10%

nas químicas e 7% na electrónica e maquinaria.

De forma similar, o inquérito de Levin et al. (1987) revelou que o custo de duplicação

de uma inovação, como percentagem dos custos dos inovadores, é mais elevado para

processos ou produtos patenteados, com melhorias incrementais ou radicais, do que não

3
in (Carlton et. al., 1999)

26
patenteados. Como resultado, apesar de obter uma patente requerer revelar informação a

imitadores potenciais, muitas empresas obtêm patentes.

Deste modo é possível afirmar que mesmo que as restrições das patentes possam ser

contornadas, as patentes aumentam os custos de imitação ou, pelo menos, normalmente

adiam a entrada dos imitadores no mercado.

Mansfield (1984) destaca o impacto que as patentes parecem ter, em particular na

indústria farmacêutica; de acordo com o estudo supramencionado (Mansfield et al.,

1981), cerca de metade das inovações patenteadas não teria sido introduzida sem a

protecção das patentes, o que se fica a dever sobretudo às inovações ocorridas na

indústria farmacêutica.

1.2.3. DIREITOS DE PROPRIEDADE VERSUS DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL

Os direitos de propriedade intelectual são direitos de propriedade especiais que se

fundamentam no facto de se destinarem a proteger a propriedade de bens intelectuais

que, tal como exposto anteriormente, tem características distintas da propriedade de

bens físicos.

A posse dos “bens” intelectuais difere substancialmente da dos bens físicos, o que

resulta da impossibilidade de desempossar alguém dos bens intelectuais. Enquanto que,

caso ocorra o furto de um bem físico a situação inicial poderá ser reposta e o bem

devolvido ao seu legítimo dono, o mesmo não é possível concretizar no caso dos bens

27
intelectuais. Um antigo provérbio chinês expressa bem o fundamento desta questão: se

dois indivíduos, cada um com um pão, trocam os pães cada um segue com um pão; mas

se dois indivíduos se cruzam, cada um com uma ideia, e trocam as ideias, cada um

segue com duas ideias.

Qualquer transferência de conhecimento é mais ou menos irreversível, o que torna

difícil basear o conceito de propriedade intelectual na posse do conhecimento, da

mesma forma que o conceito de propriedade física pode ser baseado na posse dos bens

físicos.

Ao contrário do que se passa com os bens físicos, o conhecimento pode ser partilhado a

custos nulos ou praticamente nulos, após gerado, e de forma quase ilimitada entre os

indivíduos. O conhecimento é um bem não rival, e o seu consumo por indivíduo não

interfere com o consumo de outros.

A exploração do conhecimento implica muitas vezes que este seja revelado, por isso a

exclusão do uso do conhecimento por outros também implica custos indirectos para o

detentor da informação.

O conhecimento, ao contrário dos bens económicos tradicionais, não se transforma

facilmente em propriedade privada. (Arrow, 1994)4

Tal como formalizado por Nordhaus5 (1969), no caso de bens não rivais, os direitos de

propriedade fracos levam à sua sub-provisão.

4
in (Albuquerque, 1998)
5
in (Van Dijk, 1994)

28
Os direitos de propriedade intelectual, e especificamente as patentes, apresentam duas

características básicas que os distinguem dos direitos de propriedade convencionais, a

exclusividade do direito e o seu carácter temporário.

Considerando a exclusividade do direito, os direitos de propriedade intelectual também

protegem a empresa de outras empresas ainda que estas tenham gerado a invenção de

forma independente; os direitos de propriedade convencionais não têm esta capacidade.

A necessidade deste tipo de exclusão pode ser fundamentada com dois argumentos. Por

um lado, o facto de os custos para comprovar que a outra invenção foi de facto gerada

de forma independente poderem ser demasiado elevados. Por outro lado, a adopção de

direitos de propriedade convencionais levaria a que o incentivo à inovação fosse apenas

determinado pela vantagem de custos da entidade que realizasse a I&D, enquanto que,

com direitos de exclusão fortes a realização de I&D é orientada pelo valor social da

invenção.

Assim, do ponto de vista social, a distribuição dos resultados da I&D é mais favorável

com fortes direitos de exclusão. (van Dijk, 1994)

Outro aspecto a considerar é o facto dos direitos de propriedade intelectual, associados à

protecção de invenções ou criações, serem direitos temporários, o que não se verifica no

caso de direitos convencionais. Este ajustamento fundamenta-se no facto da nova

informação técnica ser um bem colectivo que, como tal, deveria ser disponibilizado a

custo zero o que, no entanto, não é possível se se pretender dar um incentivo à inovação.

Assim, ao fazer dos direitos de propriedade intelectual direitos temporários, é dado um

29
incentivo à inovação e a nova informação técnica será disponibilizada ao público a

custo zero após os direitos terem expirado.

É oferecido aos inventores um direito de propriedade mais forte e mais efectivo do que

o seu direito natural, sobre a condição de que estes percam todos os direitos sobre a

invenção quando a patente expirar. (Bainbridge, 1999)

Albuquerque (1998) ao referir-se ao sistema de patentes expressa que este “visa

transformar o conhecimento em propriedade privada”. As características do “bem” que

pretende privatizar determinam, tal como foi visto neste ponto, que as patentes sejam

direitos com características especiais e diferentes dos direitos de propriedade

convencionais, nomeadamente que a transformação do conhecimento em propriedade

privada tenha um carácter temporário com a total exclusividade durante esse período.

30
CAPÍTULO 2. A PROPRIEDADE INDUSTRIAL – ENQUADRAMENTO GERAL

“My focus is intellectual property. … Increasingly, companies that are good

at managing intellectual property will win. The ones that aren’t will lose.”

Richard Thoman, CEO of Xerox Corporation

A propriedade industrial e, em particular, as patentes têm vindo a assumir um papel

cada vez mais importante nas estratégias das empresas a nível mundial, sobretudo no

que diz respeito ao reforço dos seus factores competitivos.

Neste capítulo importa - a par da apresentação de alguns conceitos centrais no domínio

da propriedade industrial - procurar mostrar a lógica básica do funcionamento do

sistema de patentes. Neste sentido, afigura-se como importante explorar as seguintes

questões: a forma como este sistema pretende funcionar como um incentivo múltiplo da

estratégia empresarial; as oportunidades e ameaças da atribuição deste direito de

monopólio; e os aspectos mais relevantes em termos de duração, amplitude e altura da

patente, que se considera poderem ser contributos importantes para a construção de

estratégias empresariais cada vez mais eficientes.

A difusão da inovação é outra das temáticas tratadas, com bastante significado quer para

as empresas quer para a Sociedade; neste capítulo procurar-se-á explorar as influências

que as patentes têm neste processo, sendo apresentadas duas perspectivas da influência

da patente no processo de difusão da inovação, uma que a considera como um bloqueio

e outra na qual esta é tida como um estímulo à difusão; neste contexto, serão abordados

os factores redutores e difusores da inovação, no âmbito das patentes. Outro aspecto a

31
considerar, ainda neste âmbito, são as formas como o detentor da patente poderá

influenciar a difusão da inovação em seu benefício.

Por último, serão ainda apresentados alguns dados sobre o nível de patenteamento em

Portugal, por forma a possibilitar uma melhor compreensão da realidade portuguesa,

para o que serão efectuadas algumas comparações com outros países.

2.1. APRESENTAÇÃO DOS CONCEITOS CENTRAIS NO DOMÍNIO DA

PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Neste ponto procurar-se-á apresentar alguns dos conceitos mais relevantes na área da

Propriedade Industrial e que serão usados nos pontos subsequentes deste trabalho.

Inicialmente, serão expostos os conceitos de Propriedade Intelectual e de Propriedade

Industrial e, de seguida, serão abordadas algumas modalidades de Propriedade Industrial

com maior relevância para o âmbito deste trabalho, sendo dada particular atenção às

patentes.

2.1.1. PROPRIEDADE INTELECTUAL E PROPRIEDADE INDUSTRIAL

De uma forma genérica, a propriedade intelectual refere-se aos direitos legais de

utilização que resultam da actividade intelectual nos campos da actividade industrial,

científica, literária e artística.

32
De acordo com Bainbridge (1999), os direitos de propriedade intelectual correspondem

à área da lei que diz respeito aos direitos legais associados ao esforço criativo, à

reputação comercial e ao valor dos activos.

A concessão de direitos de propriedade intelectual tem como objectivo proteger os

criadores e outros produtores de bens e serviços intelectuais, ao conceder-lhes direitos

de exclusividade, alguns limitados no tempo, do uso dado às suas produções. (WIPO,

2001)

A política de propriedade intelectual procura estabelecer um equilíbrio entre dois

objectivos. Por um lado, recompensar os criadores e os inventores pelo esforço ou

investimento em inovação e, por outro, prover o acesso das empresas e do público à

ciência, à tecnologia e à cultura.

A propriedade intelectual encontra-se tradicionalmente dividida em dois ramos

principais: os direitos de autor e a propriedade industrial.

Os trabalhos literários, artísticos e científicos são protegidos pelos direitos de autor; são

ainda protegidos neste ramo da propriedade intelectual os chamados “direitos conexos”,

isto é, as representações artísticas, gravações sonoras e difusões radiofónicas.

De acordo com Andrez 2 (2002), a propriedade industrial tem por objectivo a protecção

das invenções e das criações estéticas, com aplicação industrial, e dos sinais distintivos

do comércio, cobrindo, assim, a protecção de um amplo leque de resultados de

investimentos em inovação, tanto de carácter tecnológico como comercial.

33
Ao nível da propriedade industrial é possível proteger as invenções através das patentes

ou dos modelos de utilidade, as configurações estéticas dos produtos através dos

desenhos ou modelos e os sinais que distinguem os produtos ou serviços de uma

empresa através das marcas.

Os diversos direitos não são necessariamente mutuamente exclusivos, podendo dois ou

mais direitos coexistirem em relação a um determinado “objecto”.

2.1.2. PATENTE

O termo patente provém da primeira Litterae Patentes6 através da qual se concedia, em

Inglaterra, no século XIV, a um inventor ou a um importador de uma nova tecnologia, o

direito de usá-la por um período suficientemente longo para estabelecer o seu negócio.

O inventor e, ou, o importador beneficiava de uma vantagem em relação à concorrência,

devido ao uso exclusivo, e o Estado beneficiava com o progresso tecnológico, com a

maior independência da indústria e com o aumento da capacidade de exportação.

(OCDE, 1997)

A patente é um direito, disponível para qualquer invenção, quer seja de produto ou de

processo, em todos os domínios da tecnologia, concedido pelo Estado, com uma dada

6
Esta expressão em latim pode ser traduzida como “cartas abertas”. As “cartas abertas” continham o selo
do rei no seu interior, o que lhes permitia serem usadas mais do que uma vez, em oposição às “cartas
fechadas” que concediam direitos especiais e apenas podiam ser usadas uma vez, porque após quebrado o
selo real estes perdiam o seu valor. (Van Dijk, 1994)

34
duração, para evitar que terceiros realizem dentro desse território determinadas

actividades que se encontram delimitadas pelas reivindicações7 da patente (Cook, 2002).

A patente concede um monopólio em relação a uma invenção em troca da divulgação da

descrição da invenção. A descrição da invenção será disponibilizada ao público e deverá

ser suficientemente compreensível para que qualquer pessoa com conhecimentos nessa

área particular possa ser capaz de dar utilidade prática à invenção. (Bainbridge, 1999)

O objectivo fundamental do sistema de patentes é promover a criação e difusão da

tecnologia ao conceder ao inventor um monopólio limitado (no tempo e em amplitude)

sobre uma solução tecnológica, permitindo-lhe a rendibilização do investimento

realizado, em troca da completa divulgação da invenção.

A concessão destes direitos exige que a invenção cumpra em simultâneo os seguintes

requisitos de patenteabilidade: 1) tem de ser nova; 2) tem de envolver actividade

inventiva; 3) tem de ser passível de aplicação industrial; 4) tem de incidir dentro do

âmbito das matérias que podem ser objecto de protecção.

A novidade é um requisito fundamental, considerando que uma invenção é nova quando

não está compreendida no estado da técnica. O conceito de estado da técnica não é

universal, existindo algum debate sobre esta matéria. Em Portugal, e em muitos outros

países, é considerado estado da técnica tudo o que foi tornado público, dentro ou fora do

país, antes da data do pedido de patente, considerando-se igualmente outros pedidos de

patente efectuados em data anterior e ainda não publicados.

7
As reivindicações constituem um dos elementos necessários ao pedido de uma patente, no qual é
efectuada uma descrição do que é considerado novo e que caracteriza a invenção (INPI, 2003). As
reivindicações definem a área do monopólio.

35
O segundo requisito enunciado diz respeito à exigência de que a invenção implique

actividade inventiva, ou seja, que esta não resulte, para um perito na especialidade, de

uma maneira evidente do estado da técnica.

Para que uma invenção seja patenteável tem de ser passível de aplicação industrial, o

que significa que é necessário que exista a possibilidade de fabricar ou utilizar o seu

objecto em qualquer género de indústria ou agricultura.

Por último, é necessário que a invenção incida dentro do âmbito das matérias que

podem ser objecto de protecção. Neste sentido, constituem limites ao objecto de

protecção os casos das descobertas, teorias científicas, métodos matemáticos, materiais

e substâncias existentes na natureza, criações estéticas, apresentações de informação,

bem como os métodos de tratamento terapêutico ou cirúrgico do corpo humano ou

animal, incluindo os processos de clonagem de seres humanos, de modificação de

entidade genética humana, ou dos animais quando lhe provocarem sofrimento.

2.1.3. OUTROS DIREITOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Neste ponto, procurar-se-á apenas abordar de forma resumida alguns dos principais

direitos de propriedade industrial, que, no caso dos desenhos ou modelos e das marcas,

podem ser usados pelas empresas nas suas estratégias de diferenciação de forma

complementar à protecção conferida pelas patentes. Assim, neste ponto apenas será feita

referência aos modelos de utilidade, aos modelos ou desenhos e às marcas.

36
Em muitos países as invenções também podem ser protegidas sob a forma de modelos

de utilidade.

As invenções protegidas como modelos de utilidade diferem das invenções para as

quais a protecção por patente está disponível essencialmente em dois aspectos: em

primeiro lugar, e em geral, o nível progresso tecnológico exigido é menor (a actividade

inventiva), admitindo-se, na maior parte das vezes, uma melhoria para conferir maior

utilidade ou facilitar a utilização de uma invenção anterior; em segundo, o período de

tempo máximo de protecção conferida por este direito é normalmente menor.

Os desenhos ou modelos protegem, temporariamente, a configuração estética dos

produtos. Na terminologia jurídica, os desenhos ou modelos referem-se aos direitos para

protecção das características estéticas e não funcionais de um artigo ou produto

industrial, associadas à sua representação a duas ou três dimensões.

A escolha entre diversos produtos - particularmente em sectores em que se encontram

disponíveis no mercado um vasto conjunto de produtos que desempenham a mesma

função - é muitas vezes determinada pela aparência visual do produto. Quando o

desempenho técnico dos produtos, das diversas empresas concorrentes num dado

mercado, é muito semelhante, a escolha será determinada, sobretudo pelo aspecto

estético do produto e pelo seu custo. A aparência visual dos produtos pode funcionar

como elemento de diferenciação, possibilitando, inclusivamente, diferenças em relação

aos preços praticados pelos concorrentes.

37
Desta forma, a protecção legal conferida pelos desenhos ou modelos pode ter uma

importante função ao proteger elementos distintivos através dos quais as empresas

atingem sucesso comercial.

O desenvolvimento de uma economia orientada para o mercado permitiu aos produtores

e comerciantes oferecer aos consumidores uma diversidade de produtos da mesma

categoria. Muitas vezes estes produtos não dispõem, para o consumidor, de diferenças

aparentes, embora difiram na qualidade, no preço ou noutras características.

A marca é qualquer sinal que individualiza os produtos ou serviços de uma dada

empresa e os distingue dos produtos e serviços dos concorrentes. (WIPO, 2001)

Desta forma, a marca possibilita ao consumidor identificar e distinguir os diversos

produtos disponíveis no mercado, e funciona também como um incentivo para os seus

detentores manterem ou melhorarem a qualidade dos seus serviços, por forma a

responder às expectativas dos consumidores.

2.2. A LÓGICA BÁSICA DO SISTEMA DE PATENTES

Neste ponto serão explorados os elementos que estão subjacentes ao modo de

funcionamento do sistema de patentes, ou seja, a lógica básica deste sistema. Com este

objectivo, será a abordada, inicialmente, a forma como o sistema de patentes procura

constituir-se como um incentivo múltiplo à estratégia empresarial, para além de um

incentivo à inovação. Posteriormente, será detalhada a questão da atribuição de direitos

38
de monopólio através das patentes, sendo explorados os seus custos e benefícios para as

empresas e para a Sociedade. Por último, procurar-se-á transmitir as questões mais

relevantes no âmbito da atribuição de uma patente óptima, para o que serão analisadas a

duração, a amplitude e a altura da patente.

2.2.1. A PATENTE COMO INCENTIVO MÚLTIPLO DA ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

A lógica básica do sistema de patentes está directamente associada à necessidade de

assegurar a existência de incentivos diversos, para além daquele para inovar e fomentar

a difusão da tecnologia.

No que se refere à promoção da inovação, Rosegger (1986) identifica três formas

através das quais um sistema de patentes eficiente contribui para esse objectivo:

ƒ Uma patente concede, ao inventor, o direito exclusivo de uso da invenção,

por um determinado período de tempo, possibilitando, desta forma, a

recuperação dos investimentos iniciais (em particular dos custos da I&D);

por esta razão o sistema de patentes actua como um estímulo à investigação e

às actividades inovadoras;

ƒ O período de tempo durante o qual o direito exclusivo é concedido ao

inventor cria um ambiente económico favorável ao desenvolvimento da

invenção em produtos comercializáveis;

ƒ O sistema de patentes cria uma estrutura para a recolha, classificação e

disseminação da maior loja mundial de informação tecnológica.

39
A referência de Rosegger (1986) à importância das patentes na criação de um ambiente

económico favorável à transformação da invenção em produtos comercializáveis é

particularmente importante, uma vez que realça o contributo que as patentes podem

representar para o sucesso comercial da invenção.

Da mesma forma, Granstrand (1999) destaca que o “sistema de patentes pretende ser

não só um estímulo ao investimento em I&D mas também à produção e ao marketing”.

Este autor identifica o estímulo à exploração comercial das invenções, através do

investimento directo na produção e no marketing e/ou da comercialização da tecnologia

(licensing in e out), como um dos principais fundamentos do sistema de patente.

De acordo com esta perspectiva a posse de uma patente confere uma garantia de que, se

o desenvolvimento da invenção for tecnologicamente bem sucedido, os seus benefícios

económicos poderão ser apropriados, o que sugere que um papel importante das

patentes é induzir as empresas a canalizar recursos para o desenvolvimento dos

produtos.

Do referido deriva um outro aspecto, o papel da posse de uma patente caso o inventor

necessite recorrer ao mercado de capitais, por forma a assegurar o financiamento do

desenvolvimento do produto. Esta capacidade pode ser crucial no caso de pequenas ou

novas empresas que se vêem confrontadas com elevados custos de desenvolvimento

antes de conseguirem fazer chegar as suas invenções ao mercado. Naturalmente que,

este argumento é especialmente verdadeiro para determinados mercados que facilitam a

comercialização de tecnologias.

40
Mazzoleni e Nelson (1998) fazem referência a um outro contributo das patentes, isto é,

o facto destas possibilitarem o desenvolvimento orientado da prospectiva geral. De

acordo com esta visão, a invenção inicial é vista como o surgir de um vasto leque de

futuros desenvolvimentos ou invenções, pelo que a existência de patentes sobre uma

invenção faz com que o desenvolvimento de prospectivas ocorra de forma orientada. Se

não houvesse uma patente para servir como mecanismo de controlo, uma série de

entidades identificariam a mesma oportunidade e como consequência haveriam corridas,

para objectivos específicos de oportunidade, com excesso de exploração da prospectiva.

No modelo clássico de Nordhaus (1969) sobre como encorajar uma inovação

incremental (redução de custos), este autor assume que quanto maior for o grau de

protecção por patente, maior será o volume de recursos que a empresa irá destinar à

procura de inovações e maior a probalidade de descoberta (apesar da probalidade

aumentar a uma taxa decrescente com o montante de I&D despendido).

Os resultados de um estudo efectuado por Lerner (2002), sobre o impacto de alterações

na política de patentes sobre a inovação, sugerem que o aumento da protecção por

patente é mais eficaz quando a protecção por patente inicialmente é fraca e nos países

em que o desenvolvimento económico é maior.

Uma outra função da patente consiste em reforçar a credibilidade da imagem da

empresa inovadora, no mercado, surgindo como uma empresa com competências

tecnológicas, capacidade de desenvolvimento e possibilidade de participação em

parcerias, incluindo com concorrentes, no desenvolvimento de projectos de I&D e de

investimento inovador.

41
2.2.2. A PATENTE COMO DIREITO DE MONOPÓLIO

Alguns autores, como Bainbridge (1999) e Granstrand (1999), vêem a patente como

uma transacção, um contrato, entre o detentor dos direitos e o Estado, na sequência de

um pedido voluntário de um inventor que observa determinados requisitos e para o qual

ambas as partes trazem considerações. O Estado concede um direito temporário e

exclusivo de evitar que outros explorem comercialmente a invenção e em troca o

detentor dos direitos aceita divulgar a informação, relativa a essa invenção, ao público.

Considerando a exclusividade do direito, o aspecto mais importante não é a

possibilidade de explorar o direito, mas o facto de evitar que os outros o façam. Na

essência, a patente é um direito negativo.

A concessão deste direito exclusivo traduz-se na atribuição de um monopólio limitado,

uma vez que o direito é temporário. Uma característica básica da actividade inovadora é

a incerteza, não existindo à priori qualquer garantia de que o investimento realizado

gerará inovação. A atribuição de monopólios procura recompensar os inventores e os

investidores pelo tempo, trabalho e risco do capital investido.

Assim, a obtenção de um monopólio permite ao inventor usufruir de uma vantagem

competitiva em relação aos concorrentes, tendo a possibilidade de auferir de uma renda

derivada da sua posição monopolística. O direito de exclusividade confere ao detentor

da patente poder de mercado, ou poder de monopólio, e, portanto, mais receitas que

aquelas que poderia obter sem a patente.

42
Por forma a melhor ilustrar, do ponto de vista teórico, a lógica do funcionamento das

patentes apresenta-se a figura 4, tendo por base o modelo desenvolvido por Arrow8

(1962).

Arrow (1962) apresenta um modelo simples no qual uma mercadoria X é produzida em

condições de concorrência perfeita, segundo um processo tradicional. Em concorrência

perfeita o preço (P) iguala o custo marginal (Cmg) do produto. Inicialmente, as

empresas presentes no mercado vendem a mercadoria ao preço P1 e a quantidade Q1

(ver figura 4). Após a introdução de uma inovação de processo pela empresa Y que lhe

permite reduzir os seus custos, o custo marginal desta empresa passa a ser de Cmg2.

FIGURA 4: Incentivos a Inovar em Concorrência Perfeita – Inovação de Processo

P, Cmg

P1 A Cmg 1

P2 B
Cmg 2
C

Rmg Procura

Q1 Q2 Q

Fonte: Adaptado de Arrow (1962) retirado de (Albuquerque, 1998)

Numa situação de concorrência perfeita, admitindo informação perfeita, as outras

empresas rapidamente teriam acesso à informação relativa ao novo processo. Uma

descida dos preços pela empresa Y seria acompanhada pelas outras empresas, não sendo

possível a empresa captar um lucro supra-normal que a compensasse pelos

8
in (Albuquerque, 1998)

43
investimentos realizados em I&D. No entanto, a descida do preço de P1 para P2

possibilitaria aumentar o Bem Estar Social (área ABC), dado que seria possível adquirir

maiores quantidades do produto a um preço inferior.

Por outro lado, a manutenção dos preços significaria que todas as empresas iriam

usufruir de um lucro adicional, apesar de só a empresa Y ter tido os custos de I&D, e a

sociedade não iria captar nenhum dos benefícios da inovação, uma vez que o preço e

quantidade seriam os mesmos.

Com a concessão de uma patente à empresa Y, o seu novo processo não poderá ser

copiado e a empresa pode baixar o seu preço, de forma a eliminar toda a concorrência,

auferindo de um lucro correspondente à área do quadrado P1P2AC, ou poderá licenciar

a tecnologia auferindo uma renda equivalente. Esta situação permite um aumento do

Bem Estar Social equivalente à área (ABC).

Neste esquema simplificado é possível visualizar a forma como as patentes, através de

um monopólio temporário, viabilizam a geração de uma renda ao inovador. Essa renda

significa, simultaneamente, um incentivo a inovar e uma retribuição ao esforço inovador

da empresa (Albuquerque, 1998).

No caso de uma inovação radical de produto a análise seria diferente, uma vez que a

atribuição de uma patente, ao criar um monopólio (ver figura 5), possibilitaria que o

produto fosse vendido ao preço P1 e à quantidade Q1, uma vez que na determinação do

preço o monopolista igualaria a receita marginal (Rmg) ao custo marginal (Cmg). Em

concorrência perfeita o produto seria comercializado ao preço P2 e quantidade Q2, dado

44
que o preço seria equivalente ao custo marginal (Cmg). A atribuição do monopólio

levaria a uma perda de Bem Estar Social equivalente à área ABC.

FIGURA 5: Incentivos a Inovar – Inovação Radical de Produto

P, Cmg

P1 A

P2 B Cmg 1
C

Rmg Procura

Q1 Q2 Q

Na verdade, o preço e a quantidade efectivamente praticados no mercado iriam

depender da existência ou não de produtos substitutos, da capacidade das outras

empresas para criar produtos similares, da capacidade da empresa para manter a

diferenciação do seu produto, entre outros aspectos.

Uma questão que preocupa muitos economistas é se os custos sociais da criação de

monopólios são superados pelos benefícios que servem para justificar a concessão de

patentes, nomeadamente os benefícios para a sociedade decorrentes do estímulo ao

investimento e ao emprego e dado que a descrição da invenção é acrescentada ao

conjunto de conhecimentos existentes (estado da técnica). Apesar de terem sido

realizados muitos esforços para investigar esta temática, os resultados não são

conclusivos (Rosegger, 1986).

45
Bainbridge (1999) sustenta que o interesse público, apesar de aparentemente

prejudicado pela atribuição de um monopólio, é assegurado pelo aumento da actividade

industrial, pelo desenvolvimento de novas tecnologias e pela divulgação de invenções

novas e úteis.

De acordo com Carlton and Perloff (1999), a principal vantagem da atribuição de

direitos de exclusividade é que a possibilidade de obter lucros de monopólio encoraja a

actividade inventiva. A principal desvantagem é que os novos produtos podem ser

vendidos a preços excessivamente elevados se não existirem produtos substitutos.

Tal como acima exposto as patentes ao atribuírem monopólios podem levar a perdas do

Bem Estar Social, relativamente a situações em que o mercado funciona normalmente.

Contudo, é conveniente realçar alguns aspectos:

ƒ A patente pretende ser um incentivo à inovação; na ausência de uma

compensação pelo trabalho, tempo e custos envolvidos na realização de I&D

da inovação o número de novos processos, de novos produtos, de novos

desenvolvimentos, no mercado, poderia ser muito menor.

ƒ A patente concede monopólios temporários; após a extinção dos direitos as

invenções estarão disponíveis para o uso público a custo zero.

ƒ A atribuição de patentes não gera monopólios completos, uma vez que as

características do “bem especial” associadas à sua capacidade de gerar

informação impedem a sua apropriação completa (Albuquerque, 1998); neste

âmbito, outro aspecto a considerar é o facto de, como será analisado em

46
pontos subsequentes deste trabalho, as patentes não serem o único

mecanismo de apropriação dos retornos inovadores disponível.

ƒ Ao estabelecer como “moeda de troca”, a divulgação da descrição da

invenção, o sistema de patentes assegura a rápida difusão dos novos

conhecimentos permitindo, entre outros aspectos, a não duplicação de I&D e

que a I&D já realizada seja usada para a obtenção de novos conhecimentos.

É importante não esquecer que “o intento económico fundamental da atribuição de

patentes é reduzir ou, preferencialmente, eliminar o gap entre os valores social e

privado de uma invenção.” (van Dijk, 1994)

Apesar de as patentes não produzirem apenas efeitos positivos sobre o Bem Estar

Social, muitos dos estudos económicos concluem que o trade-off entre benefícios e

desvantagens do sistema de patentes é positivo. (Verspagen, 1999)

2.2.3. DURAÇÃO, AMPLITUDE E ALTURA DA PATENTE

Uma patente óptima é uma patente que maximiza os benefícios da invenção a que

respeita, ou, por outras palavras, uma patente que consegue obter o melhor equilíbrio

entre os efeitos positivos e negativos referenciados anteriormente. Neste âmbito são

analisados a duração, a amplitude e a altura da patente.

47
Estes aspectos têm sido objecto de análise e discussão por diversos autores; tendo em

conta os objectivos deste trabalho, neste ponto procurar-se-á apenas transmitir algumas

das questões mais importantes subjacentes a esta temática.

DURAÇÃO DA PATENTE

Na análise da duração da patente há dois aspectos a considerar, o aumento da duração

leva, por um lado, a um aumento dos lucros que o inventor pode obter com a invenção,

e, por outro, aumenta as perdas de bem estar decorrentes do poder de monopólio.

Nordhaus9 (1969) foi o primeiro autor a abordar esta problemática do ponto de vista

formal. Na sua análise, a duração óptima da patente depende da elasticidade do preço da

procura e da elasticidade da extensão das melhorias técnicas em relação às despesas de

I&D. Com uma maior elasticidade do preço da procura do novo produto, a duração

óptima da patente é menor, uma vez que o preço de monopólio mais elevado implica

uma maior perda de Bem Estar.

Por outro lado, se são obtidos ganhos de produtividade mais elevados com um dado

nível de I&D, a duração da patente também será menor, uma vez que a I&D é mais

barata e como tal o incentivo pode ser menor.

A análise de Nordhaus10 (1969) pressupõe a existência de perfeita protecção durante o

período de vida da patente. O trade-off ocorre entre a força do incentivo à inovação e a

9
in (Verspagen, 1999)
10
in (Verspagen, 1999)

48
dimensão da perda de bem estar social. A duração socialmente óptima é obtida quando

estas duas forças estão em equilíbrio.

Para Sherer11 (1972) o ideal seria uma política que procurasse definir a duração de cada

patente em função das características económicas da invenção em questão.

Nordhaus (1972) responde argumentando que, embora um período fixo de vida da

patente não seja óptimo do ponto de vista teórico, este é, no entanto, inevitável na

prática.

Nas suas conclusões Nordhaus (1972) sugere que uma patente de maior duração é

preferível a uma patente de menor duração, acrescentando que não deviam ser

concedidas patentes para inovações triviais, por forma a evitar o abuso do sistema. Este

autor considera ainda que as complicações que surgem, em função do reconhecimento

de fenómenos como o inventing around, risco e inovações radicais, apontam para

patentes mais longas.

Mais recentemente David e Olsen (1992) mencionam outro aspecto a considerar na

análise da duração da patente. Quanto maior a duração mais facilmente as

externalidades de aprendizagem podem ser internalizadas. Para estes autores os aspectos

positivos da aprendizagem podem compensar as perdas de bem estar causadas pelo

monopólio.

11
in (Albuquerque, 1998)

49
Apesar de ser dado um grande ênfase à duração da protecção da patente, a evidência

empírica parece indicar que a relevância desta dimensão poderá ser menor do que é

muitas vezes considerado. Pakes and Schankerman (1986) efectuaram um estudo que

demonstra que muitas vezes a duração efectiva das patentes é inferior à sua duração

legal.

AMPLITUDE DA PATENTE

A patente fornece ao inventor um monopólio que lhe possibilita a obtenção de lucros,

proporcionando, assim, um incentivo à realização de investigação, mas permite também

que determinados aspectos do conhecimento tecnológico sejam explorados por outros.

O que é deixado para outros explorarem, não sendo apropriado pelo inventor, depende

da amplitude da patente. São as reivindicações da patente que determinam a amplitude

da sua protecção.

Assim, a amplitude da patente determina qual o grau de diferenciação de que um novo

produto deve dispor por forma a não infringir o produto patenteado.

Seguindo a abordagem de Klemperer (1990), a literatura formal12 considera a questão

da amplitude da patente, sobretudo, num contexto da chamada diferenciação horizontal

do produto13.

12
in (Verspagen, 1999)
13
Com diferenciação horizontal, os produtos são diferenciados em variantes que não podem ser
hierarquizadas em termos de uma medida de qualidade objectiva, mas que, no entanto, são distintos.

50
De acordo com esta abordagem, a inovação tecnológica é tida como um processo no

qual são produzidas diversas variantes de um dado bem de consumo. As diferentes

preferências dos consumidores permitem que cada nova variante crie a sua própria

procura, sem capturarem completamente o mercado. Assim, uma patente mais ampla

capta uma parcela maior do espaço de diferenciação horizontal do produto.

À semelhança da duração das patentes, a amplitude óptima depende de um conjunto de

parâmetros, tais como as diversas elasticidades, sendo de considerar que patentes mais

amplas aumentam o pagamento potencial ao seu detentor, potenciando, assim, o

incentivo ao aumento da invenção, mas reduzindo, por outro lado, as externalidades

positivas para outras empresas.

Embora, em princípio, estas externalidades possam ser internalizadas pelo detentor da

patente, isto é, os benefícios da invenção futura possam ser captados pelo detentor da

patente, é pouco provável que esta internalização seja completa.

Na opinião de Verspagen (1999), não é necessário que o sistema de patentes procure

internalizar todas as externalidades de uma invenção numa única empresa. Nenhuma

empresa tem dimensão suficiente para esgotar todas as possibilidades de obtenção de

invenções importantes numa determinada área tecnológica, pelo que patentes muito

amplas resultariam na eliminação de uma parte substancial dos benefícios potenciais

para a economia como um todo. O objectivo do sistema de patentes deverá ser

possibilitar às empresas a obtenção um lucro adequado, por forma a recuperar os

investimentos realizados em I&D.

51
Também Mazzoleni e Nelson (1998) alertam para os perigos de uma tendência para

patentes de maior amplitude. Estes autores consideram que uma patente ampla numa

determinada área cria uma barreira à entrada a outras empresas que não têm acesso a

esta patente, sobretudo se os custos de transacção para o licenciamento forem elevados.

As patentes têm uma importância crucial para o crescimento económico, mas, em

particular em áreas em que as externalidades sejam elevadas, as patentes não devem ser

muito amplas. (Verspagen, 1999)

ALTURA DA PATENTE

A altura das patentes aborda o problema da relação entre inovações subsequentes, entre

gerações de inovações.

A introdução no mercado de melhorias a um produto patenteado por empresas

concorrentes pode resultar na perda de lucros por parte do detentor da patente. O

impacto destas melhorias nos lucros do detentor da patente depende em primeira

instância dos requisitos de novidade. Quanto mais exigentes forem estes requisitos e,

portanto, menor o número de patentes concedidas sobre melhoramentos, mais protegido

se encontra o detentor da patente. Até agora poucas análises teóricas têm sido realizadas

a esta dimensão.

Van Dijk (1994) considera que a altura da protecção pode ser descrita num modelo de

diferenciação vertical do produto. Por definição, os melhoramentos são diferenciações

52
verticais, esperando-se que todos os consumidores preferiram, a preço iguais, o produto

melhorado ao produto inicial.

Num modelo de duopólio com o detentor de uma patente e um concorrente que

desenvolveu uma inovação incremental ao produto, Van Dijk (1992)14 examina a forma

como a altura das patentes afecta a concorrência. As conclusões são que “baixas”

patentes não afectam a livre concorrência, uma patente intermédia pode beneficiar o

detentor da patente e o seu concorrente, e patentes “altas”, ao bloquearem a entrada,

apenas beneficiam o detentor da patente conferindo-lhe um poder de monopólio

absoluto.

Dado o carácter cumulativo do processo inovador, uma determinada inovação tem um

impacto social positivo ao possibilitar inovações posteriores, reduzindo o custo da

segunda inovação, acelerando-a ou constituindo-se como o seu pressuposto básico.

Segundo Scotchmer (1991), por um lado, uma protecção muito ampla à primeira

inovação pode levar a incentivos deficientes para o desenvolvimento de uma segunda

geração de produtos. Por outro lado, uma protecção fraca não recompensa

suficientemente o primeiro inovador.

Do exposto é possível verificar que a atribuição de uma patente óptima implicaria uma

apreciação das três dimensões caso a caso, o que na prática é impraticável. Os critérios

adoptados pelo sistema de patentes apenas podem procurar atingir o melhor equilíbrio

possível, entre benefícios e custos, ainda que o equilíbrio obtido não seja o óptimo.

14
in (Van Dijk, 1994)

53
No entanto, as considerações abordadas, e outras não apresentadas aqui, acerca das três

dimensões da patente constituem contributos importantes para a edificação de sistemas

de patentes cada vez mais eficientes.

Aliás, estas considerações constituem, também, contributos importantes para a

construção de estratégias empresariais cada vez mais eficientes, por forma às empresas

tirarem o maior proveito e reduzirem ao mínimo as desvantagens da utilização do

sistema de patentes.

2.3. INFLUÊNCIAS DAS PATENTES NA DIFUSÃO DA INOVAÇÃO

O objectivo primeiro do sistema de patentes é, tal como apresentado no ponto anterior,

incentivar a inovação, para tal é concedido um direito de monopólio ao

inventor/inovador.

Contudo, ao atribuir um monopólio a patente pode ser, e de facto é por diversos autores,

considerada como um bloqueio à difusão da inovação. Neste contexto, a difusão da

tecnologia é o processo pelo qual as inovações, sejam estas relativas a novos produtos,

novos processos ou novos métodos de gestão, são divulgadas dentro e ao longo das

indústrias (Stoneman, 1986)15.

Noutra perspectiva o sistema de patentes pode ser tido não como um elemento de

bloqueio da difusão, mas sim como um estímulo, sendo na verdade este o segundo

15
in (Baptista, 1999)

54
objectivo do sistema, promover a difusão da inovação. Neste ponto procurar-se-á

explorar estas duas perspectivas.

Finalmente, será abordada a forma como as patentes podem permitir ao seu detentor

influenciar a difusão da inovação, por forma a maximizar os seus benefícios.

2.3.1. FACTORES REDUTORES E DIFUSORES DA INOVAÇÃO

Apesar da inovação ser o factor chave do processo de mudança tecnológica, o impacto

económico dos novos produtos e processos depende da velocidade com que são

difundidos entre os potenciais detentores e utilizadores. (Rosegger, 1986) Em última

análise, o efeito das mudanças tecnológicas no bem estar económico depende do grau de

difusão das inovações.

Rosegger (1986) agrupou - na sequência da análise dos factores mais referenciados nos

estudos existentes sobre difusão da inovação - os factores que influenciam as taxas ou

graus de difusão em quatro categorias:

1. Factores relacionados com as características da inovação;

2. Factores atribuíveis às características estruturais dos adoptantes e não

adoptantes;

3. Factores relacionados com os mecanismos através dos quais a difusão tem lugar;

4. Factores que têm origem no ambiente institucional no qual as empresas e as

indústrias se inserem.

55
Neste âmbito, Rosegger (1986) enquadrou o papel do sistema de patentes nesta última

categoria de factores, referindo que, por um lado, se espera que a existência de fortes

direitos de patente impeçam a difusão de uma nova inovação base, durante o período da

protecção legal. Por outro lado, refere que a ausência desta protecção para um

inventor/inovador de um produto ou processo bem sucedido levaria, presumivelmente, à

rápida adopção por outros.

À semelhança de Rosegger (1986), Albuquerque (1998) também refere que os poderes

monopolísticos concedidos pela patente bloqueiam a difusão da inovação, mas realça

um outro aspecto a existência de um trade-off entre a difusão e o incentivo a inovar,

uma vez que a patente incentiva o surgimento da inovação.

Por outro lado, há que considerar que o monopólio concedido é limitado no tempo e não

renovável, pelo que as invenções poderão ser exploradas livremente após o período de

vigência da patente. Acresce ainda que, as patentes fornecem um incentivo para tornar

conhecimento tácito em conhecimento codificado, ao exigirem a descrição completa da

invenção. A codificação do conhecimento apresenta como vantagens o facto de facilitar

o armazenamento, a partilha e a transferência deste conhecimento.

Os requisitos acima descritos conjugados com o facto de uma das contrapartidas da

concessão da patente ser a divulgação da invenção protegida, permite que seja

disponibilizada informação e dadas a conhecer invenções, a uma velocidade e a

empresas, que de outra forma poderiam nunca ter acesso a ela.

56
Na opinião de Park (2003), as políticas e as instituições de protecção da propriedade

intelectual são importantes para a actividade inovadora e para a subsequente difusão das

inovações. O patenteamento em diferentes países é uma importante fonte de difusão da

tecnologia a nível internacional, envolvendo não apenas a difusão de novos produtos e

processos, mas também das externalidades da informação divulgada pelos inventores

em troca da protecção da patente que recebem.

Segundo Baumol16 (1991), a disseminação da tecnologia é o principal contribuidor para

o crescimento da produtividade, sendo certo que durante o período de vigência da

patente o uso da invenção por terceiros permanece condicionado, no entanto dever-se-á

destacar que:

1. A descrição da invenção é divulgada e disponibilizada à escala mundial, no

entanto, dificilmente o inventor/inovador solicitará a protecção da patente em

todo o mundo;

2. Nos territórios em que a invenção se encontra protegida será sempre possível

serem concedidas licenças, permitindo assim que outros possam explorar a

invenção, ainda que sobre a prestação de contrapartidas ao detentor da patente,

não esquecendo que foi este último quem efectuou os investimentos, em tempo e

recursos, necessários à obtenção da mesma;

3. Durante o processo de difusão da inovação o produto e a tecnologia continuam a

sofrer alterações e desenvolvimentos que também poderão ser objecto de

protecção por patente; outras empresas têm a possibilidade de usufruir da

informação da I&D já realizada e, ainda que não possam sem autorização do

16
in (Baptista, 1999)

57
detentor da patente comercializar ou produzir a invenção nos territórios em que

esta se encontra protegida, podem utilizá-la como base para desenvolvimentos

futuros.

2.3.2. MODOS DO DETENTOR DA PATENTE INFLUENCIAR A DIFUSÃO DA INOVAÇÃO

Importa agora analisar o modo como a patente pode permitir ao seu detentor influenciar

a difusão, maximizando os benefícios de que dela pode extrair.

Nas economias contemporâneas muitas vezes é imprescindível que as empresas sejam

inovadoras para que possam manter-se competitivas. No entanto, não basta introduzir e

comercializar continuamente novos produtos, é necessário que estes sejam bem

sucedidos; para tal é forçoso que os novos produtos sejam comercializados em

quantidades e com margens de lucro suficientes para compensar os investimentos totais

efectuados. Para este efeito a penetração no mercado e a difusão da inovação é crítica.

Deste modo, a possibilidade de poder influenciar a difusão da inovação, não só junto

dos concorrentes actuais e/ou potenciais, mas também junto dos potenciais

compradores, torna-se particularmente relevante.

Do ponto de vista da empresa inovadora é importante procurar criar uma rápida difusão

do lado dos compradores, procurando, em simultâneo, evitar a difusão do lado dos

vendedores. As patentes podem ser utilizadas para este efeito (Granstrand, 1999). Por

um lado, a empresa pode utilizar as patentes como um instrumento de marketing,

58
sinalizando a sua superioridade técnica junto dos potenciais compradores, aumentando

assim a difusão do lado dos compradores. Por outro lado, as patentes podem servir de

barreira à entrada ou como forma de bloquear a acção de outros vendedores, deste

modo, limitando ou retardando a difusão do lado dos vendedores.

De referir que outros direitos de propriedade industrial, como as marcas e/ou os

modelos ou desenhos, podem ser instrumentos de marketing igualmente importantes,

aumentando a difusão do lado dos compradores. Efectivamente, a utilização das

patentes, dos modelos ou desenhos e das marcas de forma integrada pode potenciar os

efeitos de diferenciação de uma patente; nomeadamente os modelos ou desenhos

poderão contribuir para melhor transmitir aos utilizadores os benefícios da inovação

protegida, dando-lhe um aspecto único, que não poderá ser usado pelos concorrentes.

Por outro lado, através da utilização da marca a empresa pode distinguir um produto do

dos seus concorrentes, sendo que constitui um direito que pode ser continuamente

renovado conferindo à empresa a possibilidade distinguir aquele produto no mercado,

mesmo após os direitos da patente e/ou do modelo ou desenho terem expirado,

prolongando assim a imagem de empresa inovadora e a sua diferenciação.

Outro aspecto a referir é que o aumento da difusão do lado dos vendedores também

poderá ser vantajosa para a empresa, uma vez que poderá permitir aumentar a dimensão

do mercado. A concessão de licenças pode ser uma forma de concretizar este objectivo.

59
De acordo com Granstrand (1999), as patentes possibilitam ao seu detentor criar um

monopólio temporário no mercado e no caso de uma forte protecção por patente a

difusão poderá apresentar o seguinte padrão (figura 6):

FIGURA 6: Difusão junto dos Compradores e dos Vendedores com um Monopólio


Temporário
Volume de Vendas do Imitador
Vendas

Vendas do Inovador

Tempo (em anos)


1

Avanço tecnológico no
Número de mercado através da
Vendedores patente

Fonte: (Granstrand, 1999)

Na figura 6 é visível a vantagem que o detentor da patente pode usufruir, em termos de

avanço tecnológico no mercado. Esta vantagem pode permitir à empresa recuperar os

seus investimentos, bem como ser usada para construir uma estrutura sólida, de modo a

que, após o término da patente, a empresa consiga manter uma importante posição no

mercado.

De salientar que, ainda que a empresa tenha um elevado registo de invenções, se não

difundir devidamente as inovações que introduz, poderá permanecer sempre atrás dos

seus concorrentes.

60
Assim, os processos de difusão junto de compradores e vendedores, bem como a sua

interacção, determinam o sucesso económico e, como tal, devem ser tidos em

consideração no planeamento e comercialização de novos produtos e processos.

Os direitos de propriedade intelectual podem ser usados em ambos os tipos de difusão.

2.4. APRESENTAÇÃO DE ALGUNS DADOS SOBRE O NÍVEL DE PATENTEAMENTO


EM PORTUGAL. COMPARAÇÕES COM OUTROS PAÍSES.

Por forma a permitir uma melhor compreensão da realidade portuguesa em termos do

uso das patentes, e com vista a enquadrar o estudo de casos a realizar no capítulo 4,

considerou-se relevante apresentar alguns dados estatísticos que permitem caracterizar o

recurso às patentes em Portugal, procurando-se também efectuar algumas comparações

com outros países.

2.4.1. ESTATÍSTICAS GENÉRICAS

Tal como é possível verificar no Gráfico 1, os pedidos de patente efectuados por

residentes em Portugal, pela via nacional, não registaram, num período de 10 anos,

grandes alterações, sendo que os valores flutuam próximo dos 100 pedidos por ano.

61
GRÁFICO 1: Evolução dos Pedidos de Patente da Via Nacional por Residentes e Não
Residentes em Portugal

1200

1000
Nº de pedidos

800

600
Residentes
400 Não Residentes

200 Total

0
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Fonte: Base de Dados do INPI

Já os valores relativos aos pedidos, pela via nacional, por não residentes sofreram uma

redução abrupta a partir do ano de 1992, o que se explica pela entrada em vigor, em

Portugal, do Tratado PCT e da Convenção de Munique, que se traduziram na existência

de mais duas vias alternativas (via europeia e via PCT) para a realização de pedidos de

patente. A existência de mais duas vias alternativas, que permitiam a protecção em

vários países através de um único pedido, veio facilitar o acesso e a entrada de pedidos

de patente em Portugal sem que os utilizadores tivessem de recorrer directamente ao

país.

No entanto, tal como é visível no gráfico referido, isto não levou a alterações no número

de pedidos efectuados por residentes, o que pode ser explicado pelo facto de muitas

vezes os requerentes optarem por efectuar primeiro por um pedido pela via nacional,

beneficiando da sua data de prioridade no caso de optarem mais tarde por uma das

outras vias de protecção legal da invenção a nível europeu ou internacional.

62
Um indicador, usado pela OCDE, do nível de dependência tecnológica consiste na razão

entre o número de pedidos de não residentes de um país e o número de pedidos de

residentes nesse mesmo país. No gráfico 2 procura-se justamente mostrar a posição de

Portugal em relação a outros países da OCDE, o que permite verificar que o nosso país

apresenta, no ano de 2001, um índice muito elevado, de quase 100%, o valor mais

elevado de entre este conjunto de países, apenas equiparado pelo Luxemburgo. No

entanto, a maioria destes países têm níveis superiores a 95%, apenas os Estados Unidos

e o Japão dispõem de índices inferiores a 50%.

GRÁFICO 2: % de Pedidos de Patente por Estrangeiros face aos Pedidos Nacionais


Totais

Portugal 99,9

Luxemburgo 99,9

Irlanda 99,1

Dinamarca 98,6

Espanha 98,0

Finlândia 97,8

Holanda 97,7

Noruega 97,0

Suécia 96,4

França 89,1

Reino Unido 85,6

Alemanha 68,4

EUA 47,7

Japão 17,7

Fonte: OECD in Figures, 2001 retirado de (INPI, 2002)

Por forma a ilustrar o reduzido grau de utilização das patentes em Portugal, junta-se

ainda o Gráfico 3, no qual se encontram representados os pedidos de patentes

efectuados junto do Instituto Europeu de Patentes pelos residentes dos países da União

Europeia, pelos EUA e pelo Japão, utilizando como ponderador a dimensão das

economias em termos populacionais. Chega-se à conclusão que Portugal, quando

63
comparado com outras economias desenvolvidas, em particular na União Europeia,

aparece como o menor utilizador do sistema de patentes.

GRÁFICO 3: Número de Pedidos de Patente no Instituto Europeu de Patentes por Milhão


de Habitantes

375 367
338
310
300
243
211 211
225
174 170 175
152 161
155 145 133
143
150
86 109 109 97
91 96 75 90 92
74 84 81
75
75 46
8 24
25 5
4 9 1
0 1992
1992
da
ca

do
ha

al

15

A
o
a

2001
nd

rg
nh

EU
ug
ar

an

ni
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bu
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pa
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rt

U
ol
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Ir

Po
Es

no
le
in

xe
A

ei
D

Lu

Fonte: Eurostat - www.europa.eu.int/comm/eurostat

Apesar de se notar um aumento dos pedidos de residentes em Portugal, verifica-se que

outros países, tais como a Grécia, a Espanha ou a Irlanda, que há 10 anos atrás também

tinham um número de pedidos muito reduzido conseguiram uma melhoria mais

significativa da sua situação neste período, em particular a Irlanda.

Para a caracterização dos pedidos efectuados em Portugal serão utilizados dados

constantes num estudo, sobre a utilização da Propriedade Industrial em Portugal,

realizado pelo CISEP (2003), para o INPI. Neste estudo é efectuada uma análise

retrospectiva do uso da propriedade industrial, na qual foram tratados os dados

64
existentes em bases de dados do INPI, considerando o período de 1980 a 2001, e num

dos quadros de 1980 ao 1º semestre de 2002.

Ao nível dos países de origem dos pedidos, pela via nacional, de não residentes é

possível afirmar que os mais importantes são os EUA com 35% dos pedidos, a França

(16,3%) e o Reino Unido (10,8%), acresce ainda que cerca de metade dos pedidos de

não residentes tiveram origem na UE-15.

O mesmo estudo revela que os principais utilizadores do sistema de patentes são os

inventores independentes, com 67% do número de concessões, o que reflecte a elevada

actividade de inventores independentes, mas também é consequência dos níveis globais

de patenteamento em Portugal. Das patentes atribuídas neste período apenas 22% foram

a empresas.

QUADRO 1: Titulares de Patentes Nacionais por Tipo de Entidade entre 1980 e o 1º


Semestre de 2002

TITULARES % CONCESSÕES

Inventores Independentes 67%

Empresas 22%

Instituições de Investigação 11%

Fonte: (CISEP, 2003)

No que respeita às áreas tecnológicas em que o número de pedidos, por residentes, é

maior são de destacar, no período, as Técnicas Industriais Diversas e Transportes com

23%, as Necessidades Humanas e Agricultura com 17,4% e a Engenharia Mecânica

65
com 16,8%. De referir que, a classificação utilizada corresponde às secções da

Classificação Internacional de Patentes.

2.4.2. RESULTADOS DE UM INQUÉRITO REALIZADO PELO CISEP (2003)

No âmbito do estudo realizado pelo CISEP (2003) e, já referenciado, foi ainda realizado

um inquérito a 724 empresas, as quais foram consideradas uma amostra representativa

da população empresarial portuguesa, que contempla alguns resultados cuja referência

neste trabalho se considerou como pertinente, uma vez que permite perceber melhor a

atitude da generalidade das empresas portuguesas perante o sistema de patentes.

Assim, os resultados que foram tidos como os mais relevantes, para os objectivos deste

trabalho, foram os seguintes:

ƒ A maioria das empresas inquiridas (73,1%) atribui uma importância baixa às

patentes e modelos de utilidade, apenas 17,4% atribui uma importância média e

9,5% elevada; não se notando, que para o futuro, haja uma alteração substancial

desta atitude.

ƒ Uma percentagem muito reduzida de empresas (4,2%) afirmam ter efectuado

pedidos de patente ou de modelos de utilidade desde 1990, e apenas 9,6% dizem

tencionar vir a efectuar pedidos a médio prazo.

ƒ Detectou-se uma proporção substancial de empresas inovadoras que não estão a

recorrer à protecção por patente.

66
ƒ As indústrias de alta e média intensidade tecnológica revelam um interesse

superior à média do universo.

ƒ As empresas inquiridas consideraram que as razões que mais dificultaram o

recurso a novos pedidos, ou à manutenção dos direitos existentes, de patentes,

modelos de utilidade e de desenhos ou modelos, nos últimos 5 anos foram, os

custos de pedido e/ou manutenção demasiado elevados (29,1%), a não existência

de elementos protegíveis através desses direitos (28,4%) e o facto da empresa

não dispor de informação suficiente sobre o Sistema de Propriedade Industrial

(25,6%).

O CISEP (2003) realizou ainda um inquérito específico a um conjunto de 15 empresas,

que foi considerado como representativo dos utilizadores efectivos ou potenciais do

sistema de patentes, que contempla alguns resultados cuja referência se afigura

igualmente pertinente. Deste modo para estas empresas:

ƒ As patentes são geralmente consideradas importantes para a diferenciação

competitiva no seu sector e estão associadas a grande “prestígio, reputação e

imagem” da empresa.

ƒ O factor “internacionalização” parece ser relevante para a constituição de

estratégias de propriedade industrial do grupo potencialmente utilizador de

patentes.

ƒ As patentes não se têm distinguido por permitir uma política de preços mais

elevada.

ƒ As patentes podem surgir como importantes para reposicionar a oferta e ajudar à

mudança de estratégia.

67
Tal como se pôde verificar, ao longo deste ponto, o uso do sistema de patentes em

Portugal é bastante reduzido, o que é particularmente visível nas comparações

efectuadas com outros países desenvolvidos. Através dos resultados do inquérito

realizado pelo CISEP (2003), foi ainda possível identificar o desconhecimento do

sistema, nomeadamente das suas vantagens e desvantagens, como uma das causas

principais dessa fraca utilização.

68
CAPÍTULO 3. A IMPORTÂNCIA DAS PATENTES PARA A ESTRATÉGIA DE

NEGÓCIO DA EMPRESA

“... a gestão estratégica e o uso das patentes pode aumentar

significativamente o sucesso de uma empresa...”

(Rivette and Kline, 2000)

Com a evolução das tecnologias e dos mercados, a concorrência é cada vez mais

aguerrida, pelo que as exigências em termos de adopção de complexas estratégias de

protecção dos seus activos intangíveis são, também, crescentes, em particular daqueles

que resultam da investigação e desenvolvimento de produtos ou processos novos ou

melhorados.

Neste capítulo procurar-se-á abordar os diferentes mecanismos existentes de

apropriação desses resultados, destacando as diversas combinações possíveis. Serão

tratadas em especial as patentes, enquanto mecanismo de apropriação por excelência,

procurando-se, neste âmbito, explorar também os diversos aspectos que podem

condicionar a sua eficácia.

A importância da patente, não se restringindo ao objecto que pretende proteger, assume

uma crescente relevância na estratégia global da empresa, sendo aqui explorada a sua

influência no posicionamento no mercado, no desempenho financeiro e na

competitividade em geral.

Num último ponto procurar-se-á abordar alguns aspectos de duas das principais

estratégias de patenteamento.

69
3.1. ESTRATÉGIAS PARA CAPTAR OS BENEFÍCIOS FINANCEIROS DAS

INOVAÇÕES

As estratégias para captar os benefícios financeiros das inovações ao longo dos tempos,

e nas diversas indústrias, são diversificadas e implicam um maior ou menor recurso às

patentes. Na verdade, as patentes são usadas em estratégias mais simples ou mais

complexas, conjugadas com outros mecanismos de apropriação, como o segrego ou o

evolução tecnológica contínua, em que asseguram aos seus detentores a recuperação dos

investimentos realizados em I&D, a possibilidade de financiamento de investigação

futura, o domínio de nichos de mercado ou outras vantagens.

Por último, considerou-se ainda que seria relevante o estudo da importância das patentes

para empresas de diferentes dimensões, pelo que se procurará num último ponto analisar

as vantagens e as desvantagens do uso das patentes por pequenas e médias empresas e

por empresas de grandes dimensões.

3.1.1. OS DIFERENTES MECANISMOS DE APROPRIAÇÃO

Com base num inquérito realizado, em 1994, a 1478 laboratórios de I&D da indústria

transformadora nos EUA, Cohen, Nelson e Walsh (2000) verificaram que as empresas

normalmente protegem os lucros das invenções com uma série de mecanismos,

incluindo as patentes, o segredo, as vantagens da evolução tecnológica contínua e o uso

de capacidades complementares de produção e marketing.

70
No estudo de Cohen et al. (2000), o segredo e a evolução tecnológica contínua foram

considerados os dois mecanismos de apropriação mais eficazes para cerca de 50% das

inovações de produto. As patentes foram reconhecidas como um mecanismo eficaz na

protecção de cerca de 35% das inovações de produto.

O papel do segredo é mais evidente no caso de inovações de processo, uma vez que nas

inovações de produto os concorrentes podem recorrer ao reverse-engeneering assim que

o produto chega ao mercado.

O segredo pode ser utilizado durante a fase de desenvolvimento (antes da entrada no

mercado), o que dá à empresa tempo para melhorar a invenção e construir uma

vantagem de evolução tecnológica sobre os concorrentes. Estes usos possíveis do

segredo para inovações de produto demonstram que as patentes e o segredo nem sempre

são métodos de apropriação mutuamente exclusivos. A empresa pode usar o segredo

durante a fase de desenvolvimento e quando a inovação chegar ao mercado usar as

patentes ou outros mecanismos de apropriação. A empresa também pode usar o segredo

para algumas invenções e as patentes para outras. (Arundel, 2000)

Os mecanismos a usar nos diversos estádios do processo de inovação podem diferir. As

empresas podem preferir o segredo, antes da comercialização de um novo produto, para

numa fase mais avançada procurar obter uma vantagem competitiva através do uso de

uma patente e/ou de uma estratégia de marketing agressiva e de avanço tecnológico.

Podem inclusivamente ser utilizados diferentes mecanismos em simultâneo quando a

inovação é composta por componentes que podem ser protegidos separadamente.

(Cohen et al., 2000)

71
3.1.2. AS PATENTES COMO MECANISMO DE APROPRIAÇÃO

É do conhecimento geral na indústria que as estratégias de protecção por patente sempre

diferiram entre empresas e nos diferentes sectores. Algumas empresas (como a Michelin

em França) têm uma tradição há muito estabelecida de preferir o segredo e de evitar a

protecção por patente sempre que possível: isto é visto como uma estratégia por forma a

evitar que os concorrentes antecipem futuros produtos e opções de mercado. (OCDE,

1997)

Por outro lado, outras empresas, como a IBM, exploram ao máximo as vantagens das

patentes e, entre outros benefícios, recebem royalties das licenças concedidas sobre

patentes que representavam no ano 2000 cerca de um nono dos seus lucros anuais (antes

de impostos). (Rivette and Kline, 2000)

Alguns sectores (por exemplo o farmacêutico e de uma forma mais geral os químicos)

tendem a atribuir a prioridade às patentes. A um nível mais agregado, uma regra geral

parece ser a de que quanto maior for o investimento em I&D num dado sector, maior é a

probabilidade de comportamentos a favor das patentes. (OCDE, 1997)

Num estudo realizado, nos EUA, por Levin, Klevorick, Nelson e Winter, em 1987, as

patentes foram consideradas como um mecanismo eficaz na protecção de novos

produtos nas indústrias de químicos inorgânicos, químicos orgânicos, medicamentos e

materiais plásticos.

72
No estudo realizado por Cohen et al. (2000) foi possível observar que as patentes não

são o mecanismo de apropriação mais central. No entanto, uma série de indústrias

distinguem-se por revelar uma preferência superior por patentes. Nos equipamentos

médicos e nos medicamentos, as patentes são consideradas eficazes para mais de 50%

das inovações de produto, e nos equipamentos muito especializados, computadores e

automatismos, os níveis de preferência vão de 40 a 50%, para as inovações de produto.

Também nos estudos realizados por Arundel e Kabla (1998) e por Brouwer e

Kleinknecht (1999), com base em inquéritos e entrevistas realizadas a empresas

europeias, a propensão para patentear inovações de produto acima da média verifica-se,

sobretudo, nos produtos químicos e farmacêuticos, na engenharia mecânica, no

equipamento de escritório e de computação, no equipamento eléctrico e nos

instrumentos de precisão.

No estudo de Arundel e Kabla (1998) registaram-se taxas de patenteamento para

inovações combinadas de produto e de processo superiores a 50% em quatro sectores,

nomeadamente, as farmacêuticas, os químicos, a maquinaria, e os instrumentos de

precisão.

Uma comparação entre o estudo de Levin et al. (1987) e o de Cohen et al. (2000) revela

um aumento na eficácia percebida das patentes pelo menos em algumas indústrias. Os

resultados do estudo de Cohen et al. sugerem que entre 1983 e 1994 as patentes

ocuparam, num crescente número de indústrias, um papel mais central nos esforços das

grandes empresas para proteger as suas inovações de produto.

73
No estudo efectuado por Arundel e Kabla (1998), em que os dados são relativos a um

inquérito realizado a grandes empresas europeias em 1993, verificou-se que a propensão

para patentear inovações de produto é de cerca de 35,9%, variando entre 8,1% no caso

da indústria têxtil e de 79,2% no caso das farmacêuticas. Em média a propensão para

patentear inovações de processo é de 24,8%, variando entre 8,1% nos têxteis e 46,8%

nos instrumentos de precisão.

Os resultados de vários estudos realizados quer na Europa (Arundel e Kabla, 1998;

Brouwer e Kleinknecht, 1999) quer nos EUA (Cohen et al., 2000; Levin et al., 1987)

são consistentes na demonstração de que as inovações de processo têm, de modo geral,

uma menor probabilidade de serem patenteadas.

Verifica-se, assim, alguma consistência nos diversos estudos empíricos quanto aos

sectores em que o recurso às patentes assume maior importância.

O relativo maior ênfase do segredo para a protecção de inovações de processo não é

surpreendente, uma vez que as inovações de processo estão menos sujeitas ao escrutínio

público pelo que podem ser mais facilmente mantidas em segredo.

Por outro lado, as patentes são consideradas menos eficazes para a protecção das

inovações de processo do que para as de produto, o que também não é surpreendente,

uma vez que as infracções são mais difíceis de detectar nas inovações de processo dado

que estas são menos conhecidas.

74
Em jeito de uma primeira conclusão, dir-se-ia que as patentes podem contribuir de

forma significativa para o sucesso comercial da inovação e para obtenção e manutenção

de uma vantagem competitiva; contudo, verifica-se que não é indiferente o sector de

actividade que se considere, dado que a sua eficácia está também dependente de

diversos factores e condicionantes que serão analisados em detalhe no ponto seguinte, e

mesmo nos sectores que mais a ela recorrem, esse recurso não é universal.

3.1.3. CONDICIONANTES DA EFICÁCIA DAS PATENTES

Uma das primeiras condicionantes é a própria eficácia da protecção. Na verdade “os

inovadores que tentam entrar em mercados em que a protecção conferida pelos direitos

de propriedade intelectual é eficaz têm uma boa probabilidade de ter sucesso

comercial.” (Teece, 1992)

A eficácia dos diferentes mecanismos de apropriação dos benefícios financeiros da

inovação, depende de um conjunto de factores. Neste ponto procurar-se-á analisar, de

forma mais detalhada, as condicionantes que determinam a maior ou menor eficácia das

patentes enquanto mecanismo de apropriação.

De acordo com Cohen et al. (2000), a eficácia e o uso de um dado mecanismo de

apropriação é pelo menos parcialmente determinado pela tecnologia em si, pela

complexidade do produto, pela natureza da invenção, pela natureza do processo de

produção (i.e., uma produção complexa, contínua e capital intensiva pode depender

fortemente das capacidades de produção), pela natureza e intensidade da competição

75
dentro da indústria (i.e., a importância relativa do preço versus “estar na linha da

frente”), entre outros.

Para Arundel (2000), três grupos de factores podem influenciar a importância relativa

das patentes em relação a outros mecanismos de apropriação, como o segredo: a

estratégia de inovação da empresa (nomeadamente a intensidade de I&D, e o maior ou

menor focus na inovação de produto ou de processo); a influência de diferentes tipos de

fontes de informação nas actividades inovadoras da empresa (maior ou menor uso de

fontes externas de informação, que implicam a partilha de informação valiosa); e os

efeitos da tecnologia associados ao sector de actividade da empresa (patentes com maior

valor para empresas que comercializam produtos cujo desenvolvimento é muito

dispendioso).

Simões (2002) considera que a protecção das patentes está longe de ser absoluta e que

ela é condicionada por factores diversos de que se destacam os seguintes: a velocidade

da mudança (que torna irrelevante a manutenção de certas posições); o âmbito

(correspondente à amplitude dos direitos atribuídos); a intensidade e eficácia da

protecção e as trajectórias tecnológicas das indústrias (que influenciam as possibilidades

de replicação e cópia das soluções protegidas e a viabilidade do inventing around).

Cabe agora analisar com maior detalhe alguns factores agrupados pelos diversos autores

em categorias mais amplas.

76
Um primeiro aspecto refere-se à facilidade com que um produto pode ser reverse

engineered; se isto for simples, a protecção por patente será provavelmente preferida.

(OCDE, 1997)

Um outro aspecto tem ver com a capacidade de defender o direito após a sua concessão,

o que envolve não só a capacidade das instituições para assegurar o respeito dos

concorrentes pelos direitos atribuídos a uma dada empresa, mas também a capacidade

da empresa para assegurar a vigilância tecnológica. Não podem ainda ser

menosprezados os custos financeiros que a defesa dos direitos pode envolver, factor

esse que, para empresas de menor dimensão, pode ser determinante.

Num inquérito realizado, em 1994, a pequenas e médias empresas na Alemanha com

actividades de I&D, apenas um terço dos inquiridos disse usar as patentes para proteger

a propriedade intelectual enquanto outro terço confiava no segredo, assinalando os

elevados custos dos litígios. (Fest, 1996)17

Para Teece (1992), a eficácia legal dos mecanismos de protecção e a natureza da

tecnologia são os factores ambientais de maior relevância que actuam como

condicionantes da capacidade das empresas para se apropriarem dos benefícios

económicos das suas ideias e dos seus conceitos de produto e/ ou processos.

Um outro aspecto a considerar é o ciclo de vida do produto. A aposta nas patentes para a

protecção de produtos cujos ciclos de vida são curtos poderá não trazer grandes

vantagens, sendo que o avanço tecnológico poderá ser mais benéfico. Por outro lado, no

17
in (OCDE, 1997)

77
caso de produtos com ciclos de vida longos a posse de uma patente poderá ser

determinante, uma vez que esta poderá proporcionar ao seu detentor exclusividade

durante um período de cerca de 20 anos. Durante o período de vigência da patente, a

empresa poderá não só recuperar investimentos, como também consolidar uma posição

no mercado e adquirir outras vantagens competitivas que subsistam após a caducidade

da patente.

No inquérito realizado na Alemanha, e supramencionado, um terço dos entrevistados

respondeu que introduziam inovações mais rapidamente que os concorrentes, uma vez

que o ciclo de vida dos seus produtos era em média pouco mais longo do que o tempo

necessário para um pedido de patente bem sucedido na Europa (cerca de 2,5 a 3,5 anos)

(Fest, 1996)18

De acordo com Abernathy e Utterback (1978), as melhores estratégias de entrada no

mercado para inovadores com boas ideias comercializáveis dependem não só dos

regimes de apropriação mas também da posição da indústria no ciclo de

desenvolvimento.

Nos estádios iniciais de desenvolvimento de muitas indústrias e famílias de produto, os

desenhos são fluídos, os processos de produção ainda não estão consolidados e estão

organizados de forma adaptativa, o capital fixo usado na produção é o previamente

existente. A concorrência entre as empresas manifesta-se na concorrência entre

desenhos, que são marcadamente diferentes uns dos outros. A dada altura no tempo,

após consideráveis tentativas e erros no mercado, começa a emergir um desenho ou uma

18
in (OCDE, 1997)

78
classe mais limitada de desenhos, quer de forma natural ou patrocinada, como a mais

promissora. (Teece, 1992)

Assim, a associação do design à própria invenção poderá ser bastante vantajosa na

defesa desta última, sendo que o design poderá constituir uma importante forma da

empresa transmitir os benefícios da invenção aos consumidores. No entanto, na

construção do design é importante ter em consideração os desejos e aspirações dos

consumidores efectuando adaptações sempre que necessário.

Importa aqui referir que a existência de um design dominante é de grande significado

para as posições estratégicas do inovador e dos seus concorrentes, sobretudo nos

mercados de consumo de massa. Após o surgimento do design dominante, a

concorrência migra do design para o preço. Para além disso, após a estabilização do

design dominante, é provável que surjam inovações de processo à medida que os

produtores procuram diminuir os custos de produção do novo produto. O ciclo de

inovações de produto/processo não caracteriza todas as indústrias, parece mais

adequado aos mercados de consumo de massa em que os gostos dos consumidores são

relativamente homogéneos. (Teece, 1992)

Os melhores conceitos iniciais de design muitas vezes acabam por não ser os correctos,

mas se o inovador possuir uma patente forte ou se possui tecnologia que é simplesmente

difícil de copiar, então o mercado pode perfeitamente dar ao inovador o tempo

necessário para definir o melhor design sem ser eclipsado pelos imitadores que corrigem

as falhas iniciais no design. O inovador pode então ultrapassar esta fase inicial de

desenvolvimento da indústria confiante, concentrando o conjunto do seu pensamento

79
estratégico na forma de ser bem sucedido após o surgimento do design dominante.

(Teece, 1992)

Uma importante desvantagem, para o inventor, já que constitui a contrapartida para a

Sociedade, das patentes é o facto destas exigirem a divulgação da invenção, uma vez

que a informação divulgada pode revelar aos concorrentes informação importante sobre

áreas de investigação potencialmente lucrativas ou sobre obter o como inventing around

da patente.

No estudo de Cohen et al. (2000), a razão mais citada pelas empresas para não patentear

as invenções foi a facilidade de inventing around, assumindo também a divulgação um

peso importante. Analisando os resultados dos estudos de Levin et al. (1987) e o de

Cohen et al. (2000) verifica-se, inclusivamente, que a preocupação com a divulgação da

informação parece ter aumentado.

Também no estudo efectuado por Arundel (2000), os resultados empíricos suportam a

literatura teórica que considera que as empresas usam o segredo quando a divulgação é

uma grande desvantagem do patenteamento.

O problema da exigência de divulgação, naturalmente, leva ao surgimento de uma outra

questão que está relacionada com a importância da decisão sobre o que proteger através

das patentes, ou seja, que informação revelar de forma a conferir um grau razoável de

protecção à invenção sem, contudo, revelar elementos estratégicos da mesma.

80
Também a importância da exigência de divulgação e dos limites à eficácia das patentes

na prevenção da imitação, enquanto factores condicionantes da sua eficácia, deverão

variar por sector de actividade. Por exemplo, a capacidade de uma empresa de inventing

around de uma patente dependerá, em parte, do número de diferentes soluções técnicas

para um dado problema e do nível de progresso técnico. De forma similar, muitos

sectores de baixa tecnologia com poucas oportunidades tecnológicas, tais como os

metais de base, também considerarão as patentes pouco eficazes na prevenção da

imitação, uma vez que muitas tecnologias têm por base princípios gerais de engenharia

que não são patenteáveis. (Arundel, 2000)

Por último, há ainda que considerar a existência de uma relação estratégica entre as

patentes e outras decisões (marketing, substituição dos produtos, etc.). (OCDE, 1997)

Do exposto é possível constatar que as estratégias a adoptar pelas empresas, por forma a

maximizar os lucros com as suas invenções, são diversas e dependem de um conjunto

diversificado de factores.

Tal como explorado neste ponto, os principais factores a ter em conta, pelas empresas,

na definição da estratégia de protecção dos resultados da sua invenção, são a facilidade

com que o produto pode ser objecto de reverse engineered, a eficácia legal dos

mecanismos de protecção e a capacidade da empresa e das instituições para defender os

direitos após a sua concessão, o ciclo de vida do produto, a posição da indústria no ciclo

de desenvolvimento e a facilidade com que os concorrentes desenvolvem invenções

similares. Este último aspecto dependerá em grande medida da própria estratégia de

patenteamento da empresa, tal como será analisado em pontos subsequentes, sendo por

81
vezes possível desenvolver uma estratégia que bloquei a entrada dos concorrentes na

área da invenção que se pretende defender.

Outro aspecto muito importante aqui analisado e que importa realçar, e que deverá ser

sempre analisado em conjugação com os outros factores, é a relevância da decisão da

empresa sobre que elementos proteger através da patente, tendo em conta que essa

informação será divulgada, e que elementos manter em segredo.

3.1.4. A DIMENSÃO DA EMPRESA E A IMPORTÂNCIA DAS PATENTES

Neste ponto procurar-se-á analisar a importância das patentes para empresas de

diferentes dimensões, apresentando possíveis vantagens e desvantagens do recurso a

este direito, recorrendo aos resultados de estudos empíricos realizados sobre esta

matéria.

Por um lado, pode argumentar-se que as grandes empresas têm uma maior capacidade

de defesa dos direitos adquiridos, quer em termos de capacidades para assegurar a

vigilância tecnológica, quer em termos de recursos financeiros necessários em caso de

infracção dos mesmos. Poder-se-á ainda considerar que, atendendo à sua dimensão e ao

seu âmbito de acção, que muitas vezes tem um cariz mundial, estas empresas têm uma

maior capacidade e necessidade de deter competências na área da gestão estratégica dos

direitos de propriedade industrial.

82
Por outro lado, as grandes empresas poderiam depender menos das patentes, quer por

poderem usar as suas capacidades ao nível do marketing para criar vantagens de avanço

tecnológico, quer porque os grandes mercados aumentam os retornos financeiros do

investimento no processo de inovação. (Cohen and Klepper, 1992; Klepper, 1996)

No que diz respeito às pequenas empresas, estas frequentemente não dispõem de

capacidades de produção ou de redes de marketing que lhes permitam recuperar,

rapidamente, os seus investimentos, através da venda dos seus produtos.

Consequentemente, estas empresas poderiam contar com as patentes para criar um

espaço que as protegesse da concorrência enquanto elas constróem as suas capacidades

de produção e de marketing. (Cohen and Klepper, 1992; Klepper, 1996)

No entanto, também existem razões que podem levar as pequenas empresas a considerar

as patentes menos atractivas do que outros mecanismos de apropriação. Para além dos

custos com o pedido da patente, que podem ser uma barreira maior para as pequenas

empresas do que para as grandes, para as pequenas empresas pode ser muito mais difícil

proteger as suas patentes de infracções.

Num estudo realizado pela Berger Consultants19 (1994) concluíram que os custos de

patenteamento e a falta de informação sobre as possibilidades do sistema de patentes

têm provavelmente um impacto negativo nas decisões de patentear das pequenas

empresas.

19
in (Brouwer e Kleinknecht, 1999)

83
Outra possibilidade é o facto de a maioria das pequenas empresas, com excepção

daquelas que têm uma estratégia de alta-tecnologia, ter uma menor probabilidade de

desenvolver inovações patenteáveis do que as grandes empresas. Muitas das suas

inovações poderão constituir pequenos melhoramentos incrementais que não vale a pena

patentear.

No documento da OCDE de 1997 são apresentadas como principais dificuldades das

PME:

ƒ a incerteza, no contexto das práticas existentes no sistema nacional de patentes,

em relação ao valor real do pequeno número de patentes estratégicas no qual o

seu futuro está baseado;

ƒ os elevados custos e as dificuldades práticas dos pedidos de patente e da sua

manutenção a nível internacional; e

ƒ os elevados custos dos litígios e a incerteza em relação ao resultado.

Contudo, a concorrência mundial, e o aparecimento de diversas novas tecnologias,

sugere que as patentes podem ser de maior valor do que outros mecanismos de

apropriação para muitas empresas inovadoras, particularmente para pequenas empresas

que são incapazes de usar o poder de mercado ou outros factores para se apropriarem

dos seus investimentos na inovação.

Perante o actual movimento de divisão da actividade inovadora em diversos sectores de

alta tecnologia e de afirmação competitiva de pequenas empresas emergentes,

especializadas em segmentos tecnológicos específicos - e na ausência de activos

complementares e de dimensão para se projectarem no mercado internacional dos

84
produtos - estas empresas utilizam crescentemente os direitos de propriedade intelectual

como base para estratégias de comercialização de tecnologia à escala mundial. A

detenção de patentes tem, para estas empresas, outro valor relevante: credibilidade junto

de grandes parceiros para desenvolvimento de projectos conjuntos. (Simões, 2002)

No estudo levado a cabo por Cohen et al. (2000) foi possível observar, em relação ao

conjunto das empresas entrevistadas, que as grandes empresas consideram as patentes

como mais eficazes.

Os estudos realizados na Europa por Arundel e Kabla (1998) e também Brouwer e

Kleinknecht (1999) são consistentes em demonstrar que a propensão para patentear

aumenta com a dimensão da empresa. Brouwer e Kleinknecht (1999) verificaram ainda

que para um dado output de inovação, os inovadores mais pequenos têm uma menor

probabilidade de pedir uma patente. Contudo, os inovadores de menor dimensão que

efectuam pedidos de patente tendem a ter um número mais elevado de pedidos de

patente do que empresas de maior dimensão.

Nos estudos realizados por Arundel (2000) os resultados revelam que a probabilidade

de uma empresa valorizar mais as patentes que o segredo aumenta com um aumento na

dimensão da empresa para inovações de produto, enquanto que não há qualquer relação

para inovações de processo.

Os estudos empíricos demonstram que se verifica um maior uso das patentes nas

grandes empresas comparativamente às de menor dimensão. Contudo, é possível

encontrar vantagens consideráveis no uso das patentes quer pelas grandes quer pelas

85
pequenas empresas. Tal como analisado anteriormente neste capítulo, as vantagens que

podem ser obtidas através do uso das patentes são diversas, cabendo às empresas

explorá-las da melhor forma, adequando a estratégia a adoptar à sua realidade e às suas

necessidades competitivas.

Tendo em conta os resultados dos estudos, no que respeita ao recurso às patentes por

parte das pequenas empresas, e considerando as vantagens que estas empresas podem

extrair destes activos intangíveis, poder-se-á admitir que a propriedade industrial, e em

especial as patentes, poderá representar um enorme potencial de crescimento e

sobrevivência para estas empresas, num mercado cada vez competitivo.

3.2. IMPORTÂNCIA DAS PATENTES ESTRATÉGICA GLOBAL DA EMPRESA

No ponto anterior foi possível verificar que existem um conjunto de mecanismos a que

as empresas podem recorrer de forma individual ou combinada nos diversos estádios de

desenvolvimento da inovação, por forma assegurar a captação dos benefícios

financeiros das inovações. As patentes são um desses mecanismos, sendo considerado

extremamente eficaz em determinadas indústrias e sendo a sua utilização preterida a

favor de outros noutras indústrias.

Neste ponto do trabalho pretende-se evidenciar que as patentes podem ser um activo

estratégico para as empresas e que as suas potencialidades de uso vão muito para além

do simples uso para exploração directa da mesma. Assim, será analisada a sua

importância em termos do posicionamento da empresa no mercado, do impacto que esta

86
pode ter, directa e indirectamente, nos resultados financeiros e a sua importância para a

competitividade de uma forma geral.

Espera-se com este ponto conseguir evidenciar de que forma o uso das patentes pode

aumentar significativamente o sucesso global da empresa.

3.2.1. POSICIONAMENTO DA EMPRESA NO MERCADO

Num mundo em que as batalhas são cada vez menos travadas pelo controlo dos

mercados ou das matérias primas, e mais pelos direitos das novas ideias e inovações, a

gestão da propriedade industrial deverá tornar-se uma core competence das empresas de

sucesso.

Ao estabelecer uma vantagem de propriedade no mercado a patente pode conferir ao seu

detentor uma importante vantagem competitiva face aos seus concorrentes. Quando bem

exploradas as patentes podem traduzir-se em produtos líderes de mercado, possibilitar a

obtenção de boas quotas de mercado e de boas margens. Em alguns casos, as patentes

podem inclusivamente constituir as fundações de uma nova indústria. (Rivette and

Kline, 2000)

A obtenção de uma ou várias patentes pode ser uma importante forma de obter poder de

mercado, uma vez que estas conferem aos seus detentores direitos de exclusividade.

87
Por um lado, cada vez mais o “sucesso competitivo depende fortemente de estratégias

de valorização dos factores de diferenciação, quase todas associadas, por sua vez às

estratégias de inovação” (Andrez 1, 2002). Através do uso das patentes a estratégia de

diferenciação sai reforçada, uma vez que ao proteger as inovações da empresa as

patentes asseguram também a protecção da própria estratégia de diferenciação.

Por outro lado, mesmo as estratégias de competição pelos preços podem sair reforçadas

pelas patentes, uma vez que, estas asseguram também a protecção de inovações de

processo, que podem constituir novas formas de obter um dado produto com menores

custos. Contudo, dever-se-á realçar que, tal como visto no ponto 3.1, por vezes as

patentes são consideradas menos eficazes na protecção de inovações de processo do que

nas de produto.

O argumento de Schumpeter é que a inovação é mais importante do que a competição

pelos preços, uma vez que é um meio mais eficaz de obter uma vantagem sobre os

concorrentes. (Carlton and Perloff, 1999)

De destacar a existência de duas ligações entre a estrutura de mercado e a inovação.

Primeiro, as patentes possibilitam a obtenção de poder de mercado ao inovar. Segundo,

uma empresa com poder de mercado pode ser capaz de evitar a entrada de concorrentes

e a imitação através de patentes defensivas, ou manter o seu poder de mercado através

da introdução de novos produtos. (Carlton and Perloff, 1999)

88
Assim, assegurar a protecção das tecnologias centrais do negócio pode ser um factor

crítico de sucesso dos produtos que as empresas comercializam e, naturalmente, da

empresa como um todo.

As empresas devem assegurar a protecção e a ampliação das vantagens de tudo o que

acrescente maior valor ao negócio e represente as fontes vitais da sua vantagem

competitiva. (Rivette and Kline, 2000)

No entanto, não importa proteger todas as invenções da empresa de forma

indisciplinada; pelo contrário, o planeamento estratégico das invenções a proteger é

determinante. Importa decidir que inovações proteger e, no âmbito de cada inovação,

decidir que elementos proteger.

Para que o poder de mercado conferido pelas patentes possa ser explorado da melhor

forma é necessário que as empresas procurem aumentar a eficácia da I&D realizada,

nomeadamente através do focus no desenvolvimento de produtos e processos para os

quais as patentes podem contribuir para estabelecer e preservar uma quota de mercado

dominante.

Ao nível do posicionamento das empresas no mercado há ainda um importante

contributo que as patentes podem dar, nomeadamente através do importante acervo

documental que estas disponibilizam. A monitorização das patentes pode permitir a

antecipação de alterações no mercado e na tecnologia e, deste modo, não só inspirar a

actividade inventiva como também efectuar reavaliações estratégicas da mesma e do

posicionamento da empresa no mercado.

89
Por último, dever-se-á ainda referenciar as potencialidades das patentes em termos da

melhoria e consolidação da imagem da empresa, nomeadamente quando esta procura

posicionar-se como uma empresa inovadora. A patente pode ser vista em última análise

como uma certificação de que aquela empresa realiza I&D numa determinada área e que

possui know-how que mais nenhuma empresa detém.

Assim, as patentes podem ser usadas também como mecanismos de informação aos

clientes actuais e potenciais, quer estes sejam outras empresas ou consumidores finais,

de que a empresa possui expertise nesta ou naquela área e, que possui algo de valioso

que a diferencia de outras empresas.

3.2.2. IMPACTO NO DESEMPENHO FINANCEIRO DA EMPRESA

As patentes devem ser encaradas não só como instrumentos legais, mas também como

poderosos activos financeiros e como forças competitivas que podem ampliar o seu

sucesso comercial e aumentar a riqueza dos accionistas.

Os mais importantes activos das empresas, hoje em dia, são os activos intangíveis, entre

os quais se encontram as patentes. O peso da propriedade industrial nos activos assume,

nas empresas inovadoras, percentagens médias que excedem os 50%, podendo, em

algumas actividades (farmacêutica, por exemplo) ultrapassar os 80% (Andrez 1, 2002).

90
Desta forma, as patentes podem ter um impacto considerável no desempenho financeiro

da empresa, podendo, inclusivamente, uma boa gestão destes activos melhorar este

desempenho.

Em termos de melhoria do desempenho financeiro da empresa algumas das

potencialidades das patentes são não só a tradicional obtenção de receitas através da

exploração comercial dos produtos, ou das receitas obtidas por via do licenciamento,

mas também o aumento do valor de mercado das empresas.

As patentes ajudam as empresas a transmitir aos investidores e à comunidade financeira

informação sobre qualidade dos activos que detêm, bem como sobre o potencial da

empresa para obter lucros. Estudos levados a cabo por diversos economistas têm

contribuído, nomeadamente nos Estados Unidos, para transmitir aos mercados bolsistas

a importância da consideração do valor das patentes. À medida que cada vez mais

investidores adoptam esta perspectiva, o efeito de uma carteira de patentes bem gerida

só tenderá a aumentar. (Rivette and Kline, 2000)

Assim, as patentes podem servir como um meio de aumentar o gap entre o valor

contabilístico das empresas e o seu valor de mercado, e também como uma forma de

atrair capital para as empresas ou de obter financiamento para as suas actividades.

Contudo, para tal importa que a empresa constitua uma carteira de patentes bem gerida.

“Acredita-se que as patentes como qualquer outro activo da empresa, deve

obrigatoriamente gerar receitas.” (Rivette and Kline, 2000) Como qualquer outro activo

a aquisição e manutenção de patentes deve reger-se por critérios de avaliação de custo-

91
benefício e, como tal só se deverá adquirir ou manter uma patente enquanto os

benefícios esperados forem superiores aos custos (Andrez 1, 2002).

Desta forma, através de uma gestão adequada da carteira de patentes será possível

minimizar os custos de manutenção da mesma.

Um desiderato de muitas das empresas japonesas é constituir uma forte carteira de

patentes que permita fortalecer a reputação tecnológica da empresa, e na área de

investigação e desenvolvimento de uma forma geral. Esta poderá melhorar a confiança

dos investidores na empresa e facilitar a obtenção de novos capitais. (Bainbridge, 1999)

A conjugação com marcas bem conhecidas, poderá gerar uma combinação poderosa,

que encorajará outras empresas a procurar obter licenças para explorar as tecnologias da

empresa. Uma forte carteira de direitos de propriedade industrial é central para uma

estratégia de licenciamento de patentes. (Bainbridge, 1999)

Tal como já referido o licenciamento das patentes é uma das formas de obter receitas

através da patentes. Contudo, importa que a empresa licencie por razões pró-activas e

não por razões reactivas (Rivette and Kline, 2000), ou seja que a empresa tenha uma

estratégia de licenciamento das patentes. Esta pode ser uma forma de obter receitas em

mercados geográficos em que a inovação esteja protegida, mas que a empresa não tenha

capacidade de explorar, ou em áreas de negócio que não façam parte das opções

estratégicas da empresa.

92
As receitas do licenciamento dos direitos das patentes aumentaram de forma

exponencial na última década, passando de 15 biliões de dólares em 1990 para mais de

110 biliões em 2000. (Rivette and Kline, 2000)

Tal como disse Jan Jaferian20, vice-presidente da propriedade intelectual na Xerox, “se

apenas se usar as patentes para se proteger os produtos, o que é o antigo paradigma,

estar-se-á a ignorar uma série de formas de geração de receita e outras oportunidades”.

As patentes são de facto um importante mecanismo de protecção das invenções das

empresas, no entanto, as suas potencialidades de uso vão claramente muito para além

desta perspectiva tradicional.

Importa ainda analisar o impacto das patentes nas vendas e o nos preços dos produtos.

O impacto das patentes no output deverá resultar numa correlação positiva e desfasada

no tempo entre a patente e as variáveis de performance. (Griliches, 1990) As

actividades de patenteamento levam a subsequentes alterações na performance da

empresa, tal como nas vendas ou no aumento dos lucros (Griliches and Pakes, 1984;

Brockhoff21, 1999).

Um estudo realizado por Ernst (2001), a 50 empresas alemãs produtoras de máquinas,

revelou que os pedidos de patente nacional levam a aumentos das vendas com um

desfasamento temporal de 2 a 3 anos, após a data de prioridade. Os pedidos de patente

europeia, que possuem uma qualidade superior à dos pedidos de patente nacional, têm

20
in (Rivette and Kline, 2000)
21
in (Ernst, 2001)

93
um impacto ainda maior no aumento das vendas com desfasamento de 3 anos após a

data de prioridade.

Os efeitos das patentes nos preços são complexos. Se uma empresa é capaz de patentear

um processo que reduz ligeiramente os custos, essa empresa pode captar o valor da

invenção e evitar que os preços baixem ao cobrar royalties às outras empresas. Grandes

inovações na redução de custos podem levar a reduções de preço mesmo se patenteadas.

Patentes para melhoramentos de produto podem resultar num aumento dos preços pela

melhor qualidade do produto. (Carlton and Perloff, 1999)

Mais uma vez é possível verificar que os impactos e as potencialidades do uso das

patentes, neste caso considerando apenas uma perspectiva financeira, são diversos. As

patentes devem ser encaradas na empresa como um activo estratégico que não importa

apenas obter, mas que também e, sobretudo, exige uma gestão cuidada, para que a

empresa possa explorar todas as potencialidades que estas lhe oferecem, no contexto da

sua realidade competitiva.

94
3.2.3. IMPACTO NA COMPETITIVIDADE DA EMPRESA

“Se as patentes são as smart bombs das guerras de negócio de amanhã,

então as empresas que falhem no desenvolvimento de estratégias ofensivas e

defensivas para o seu uso, fá-lo-ão em seu próprio prejuízo”.

(Rivette and Kline, 2000)

Numa época em que o domínio da informação e do conhecimento constitui um

elemento determinante para a sobrevivência e para o sucesso de muitas empresas, os

activos intangíveis e, em particular, as patentes assumem um papel decisivo.

As patentes, tal como visto anteriormente, podem ter uma importância estratégica ao

nível do posicionamento da empresa no mercado e em termos dos resultados financeiros

da mesma, mas, para além destes aspectos, a posse de uma patente ou de uma carteira

de patentes pode representar um importante contributo para competitividade da

empresa.

Várias empresas americanas e japonesas tornaram-se particularmente activas na

construção de carteiras de patentes, bem como desenvolveram competências no uso do

sistema de propriedade intelectual que incluem o uso da informação contida nas

patentes como fonte de technologic e competitive intelligence. (ETAN, 1999)

Num contexto de globalização, em que a concorrência já não é feita apenas ao nível de

local ou regional, mas sim mundial, com todas as potencialidades conferidas pelas

novas tecnologias da informação, a gestão da informação disponibilizada aos e pelos

actuais ou potenciais concorrentes assume cada vez maior importância. Neste contexto,

95
“as patentes constituem provavelmente a fonte mais potente de competitive

intelligence” (Rivette and Kline, 2000).

As patentes são um veículo de informação que pode permitir às empresas ter acesso à

informação detalhada de sobre o perfile dos concorrentes, suas forças e respectiva

posição nas tecnologias e nos mercados, podem ainda permitir a identificação de novos

ou potenciais concorrentes, ou de agrupamentos estratégicos de empresas.

A adequação da informação contida nas patentes para o planeamento estratégico da

I&D, para a monitorização tecnológica dos concorrentes e para a realização de

previsões sobre os desenvolvimentos futuros da tecnologia, recebe ainda maior suporte

com o estudo realizado por Ersnt (2001), e já referenciado no ponto anterior, uma vez

que este demonstra que a actividade das patentes precede a alterações significativas no

mercado.

Por isso mesmo, o estudo contínuo das actividades de patenteamento dos concorrentes é

de grande importância, uma vez que a informação pode ser usada para traçar conclusões

preliminares sobre alterações futuras no ambiente competitivo.

O acervo documental das patentes permite ainda “a vigilância tecnológica e comercial

dos direitos adquiridos, possibilitando iniciativas de defesa desses mesmos direitos”

(Andrez 1, 2002).

96
A redução do risco é outro aspecto importante a considerar. Como uma fonte vital de

competitive intelligence, a informação contida nas patentes pode também ajudar as

empresas a direccionar a sua I&D por forma a contornar infracções.

Apesar de em algumas indústrias a vida dos produtos poder ser muitas vezes inferior ao

tempo necessário para obter uma patente, o dispêndio de tempo e recursos para

encontrar o caminho que evite os riscos da infracção de direitos de propriedade

industrial pode, também nestes casos, ser vital.

Os casos da Kodak ou da General Electric são bons exemplos dos perigos que podem

representar ignorar os direitos de patente de outras empresas. Estas empresas foram

forçadas a pagar milhões de dólares de indemnização à Polaroid e Fonar Corporation,

respectivamente, sendo esta última uma empresa de menor dimensão que recebeu um

montante equivalente a dez vezes as suas receitas anuais na altura (Rivette and Kline,

2000).

Tal como Andrez 1 (2002) adverte “erros graves, contraproducentes, poder-se-ão

incorrer caso um cuidado estratégico não seja assegurado.”

Ao permitir identificar as condições tecnológicas e as tendências de uma forma geral, as

patentes possibilitam analisar aspectos como a idade da base tecnológica, as

interdependências existentes entre tecnologias e empresas, os padrões de evolução da

I&D e a concentração da actividade inventiva nas diversas indústrias, permitindo assim

adopção de orientações de I&D férteis.

97
Outro aspecto ainda pouco explorado são as potencialidades das patentes como

instrumento para identificar as estratégias de marketing internacional dos concorrentes,

bem como ferramenta de ajuda nas decisões de localização da produção.

Desta forma, é possível explorar novas oportunidades de mercado, sendo, por vezes,

possível a entrada, protegida por patentes, em mercados novos e lucrativos.

A entrada em novas áreas de negócio pode também ser efectuada através de fusões,

aquisições, joint ventures, alianças ou simplesmente através do licencise in, para o que a

informação contida nas patentes pode mais uma vez contribuir para a selecção dos alvos

adequados.

Em sectores como o das tecnologias da informação e o farmacêutico, as patentes, cada

vez mais, são usadas como “cartas de trunfo”, com as empresas a pedirem a protecção

para a usarem como “moeda de troca” para negociar licenças ou alianças com

concorrentes, em vez de assumirem a exploração directa da invenção. (OCDE, 1997)

A gestão tem-se tornado mais consciente do valor das patentes como fonte de

rendimento e como um activo estratégico no estabelecimento da cooperação com outras

empresas, de modo a que o patenteamento é cada vez mais encorajado. (OCDE, 1997)

Assim, as patentes são usadas como mecanismos de sinalização que permitem às

empresas mais facilmente identificar e serem identificadas por parceiros com quem

cooperar na realização de I&D conjunta, bem como das oportunidades de realizar

licenciamento cruzado.

98
“A detenção de patentes pode ter um efeito de sinalização e de credibilização

importante para estimular o estabelecimento de relações com o tecido empresarial.”

(Simões, 2002)

3.3. ESTRATÉGIAS DE PATENTEAMENTO

Para além da tradicional motivação para o uso das patentes, isto é, como forma de

protecção, existem, como atrás se desenvolveu, outras motivações que levam as

empresas a patentear, nomeadamente as de bloqueio do acesso a invenções relacionadas

por parte dos concorrentes, de modo a evitar o inventing around da invenção protegida,

e para assegurar à empresa uma posição favorável nas negociações sobre tecnologia.

Estas motivações tomam a forma, no primeiro caso, de estratégias defensivas e, no

segundo, de estratégias ofensivas, ambas de seguida abordadas em detalhe.

3.3.1. ESTRATÉGIAS DEFENSIVAS

“We created a patent wall with 22 patents. And they were all interlocking so

no one could duplicate that product.”

(John Bush, Gillette’s former vice-president of corporate R&D)

As estratégias de patenteamento defensivas constituem-se, fundamentalmente, como

formas de evitar o inventing around da patente por parte dos concorrentes. De salientar

99
que, a facilidade de inventing around, ilustrada pela figura 7, foi no estudo de Cohen et

al. (2000) referida pelas empresas inquiridas como a principal razão para não patentear

as suas invenções de produto.

FIGURA 7: Facilidade de Invent Around

Patente x

Direcção da I&D dos concorrentes

Este tipo de estratégia pode ser útil sobretudo nas indústrias ou tecnologias em que é

possível a protecção por patente de invenções substitutas. Neste cenário, as empresas,

que pretendem proteger uma invenção importante já patenteada, podem patentear

substitutos para eliminar essa possibilidade aos rivais, construindo o que é por vezes

chamado de patent fence (Figura 8).

FIGURA 8: Patent Fence

Patentes da
empresa

Direcção da I&D dos concorrentes

Fonte: (Granstrand, 1999)

De acordo com Cohen et al. (2000), este tipo de estratégias é adoptada sobretudo nas

indústrias de produtos discretos, isto é, em que os produtos são constituídos por

relativamente poucos elementos patenteáveis.

100
Nas indústrias de produtos discretos, tais como os medicamentos, as patentes são

consideradas na maioria das vezes eficazes, estas conferem às invenções protecção

suficiente para conferir rendas de monopólio através quer da comercialização da

invenção pela empresa directamente ou quer do licenciamento (Cohen et al., 2000).

Contudo, em algumas das indústrias de produtos discretos, em que a facilidade de

inventing around é maior, a eficácia das patentes é menor, e, como tal, o uso de patent

fences para impedir o desenvolvimento de alternativas competitivas pode ser uma forma

de aumentar a eficácia das patentes e assegurar a protecção da invenção.

No estudo de Cohen et al. (2000), a um nível agregado, 82% dos inquiridos indicaram

como razão que motivava as suas decisões mais recentes para pedir a protecção por

patente (para inovações de produto), bloquear as patentes dos rivais em inovações

relacionadas, apenas ultrapassada pela necessidade de prevenir a cópia (96%).

Também os japoneses usam as patentes de uma forma defensiva para evitar conflitos e

litígios desnecessários ao proteger a invenção com uma rede de pedidos de patente,

procurando prever pedidos futuros e melhoramentos da invenção base, com o propósito

de “pré-esvaziar” os concorrentes e cobrir quaisquer pedidos futuros possíveis.

(Bainbridge, 1999)

Este tipo de estratégias pode ainda ser encarada não só como uma forma de proteger

uma invenção particular (produto ou processo) mas também como um modo de

“reservar” uma parte, tão considerável quanto possível, de um sector de negócio ou de

101
uma tecnologia, na qual a entidade patenteadora pretende estabelecer-se ou fortalecer

uma vantagem competitiva. (OCDE, 1997)

Por último, o uso de patent fences pode servir para garantir o avanço tecnológico em

relação aos concorrentes, ao retardar a entrada no mercado de um concorrente. Uma vez

informado de que uma patente foi concedida, ou que está pendente, o concorrente terá

de ser bastante cuidadoso antes de produzir um produto (ou usar um processo) que

possa infringir a patente. (OCDE, 1997)

Assim, as estratégias defensivas podem permitir ao titular da patente garantir não só a

exploração da invenção, mas também manter os concorrentes fora das áreas próximas

da invenção, constituindo verdadeiras barreiras à entrada de concorrentes. Por um lado,

isto poderá ser útil para tornar legalmente mais difícil o invent around da invenção

protegida. Por outro lado, poderá constituir uma forma de evitar a concorrência, mesmo

de produtos que não infrinjam a invenção, mas cuja comercialização poderá afectar a

imagem da empresa como líder de mercado numa dada área.

3.3.2. ESTRATÉGIAS OFENSIVAS

As estratégias ofensivas são usadas pelas empresas, quer para assegurar um espaço de

exploração própria, quer por forma a reforçar a sua capacidade de negociação face a

terceiros, evitando, por um lado, o bloqueio e assegurando, por outro, a liberdade de

exploração futura da tecnologia. Muitas vezes as patentes afiguram-se como uma

garantia da própria existência da empresa no mercado.

102
Estas estratégias são usadas sobretudo naquelas que são consideradas por Cohen et al.

(2000) como indústrias de produtos complexos. Nestas indústrias muitas vezes as

empresas não têm controlo de propriedade sobre todos os componentes

complementares, essenciais de pelo menos algumas das tecnologias que se encontram a

desenvolver, o que cria uma dependência mútua entre empresas.

Neste caso, possuir uma patente sobre um dos elementos pode bloquear a aquisição de

direitos de propriedade exclusivos sobre a invenção comercializável como um todo. Ao

compelir o acesso à sua tecnologia pelos rivais ou pelo menos proteger-se de litígios,

facilita à empresa a participação num domínio mais vasto da actividade tecnológica.

Esta utilização das patentes constitui aquilo que foi classificado por Simões (2002)

como “proteger para trocar”. As empresas procuram constituir carteiras de patentes que

têm sobretudo como objectivo delimitar o seu território e funcionar como moedas de

troca, num contexto de concorrência oligopolística.

Também neste caso o patenteamento pode tornar-se um veículo para impedir a entrada

de novos concorrentes no mercado.

Assim, as patentes são usadas por forma a assegurar a presença das empresas no

mercado, a fortalecer a sua posição competitiva e a forçar o licenciamento cruzado. Em

última análise, o próprio funcionamento destas empresas está dependente de um certo

grau de cooperação entre elas, uma vez que o licenciamento cruzado é muitas vezes

imprescindível.

103
CAPÍTULO 4. ANÁLISE EMPÍRICA - ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE

ALGUMAS EMPRESAS PORTUGUESAS PATENTEADORAS.

A análise empírica realizada no âmbito deste trabalho será concretizada com base num

estudo de casos de empresas portuguesas com alguma experiência na protecção das suas

invenções por patente.

Assim, com o objectivo de compreender o papel específico da patente no sucesso ou

insucesso comercial de determinadas invenções, foi realizado um conjunto de

entrevistas aos responsáveis, ou ao seu representante, de seis empresas seleccionadas

para o estudo.

Neste capítulo procurar-se-á expor os elementos que estiveram na base da escolha

destas empresas, apresentar uma breve caracterização das mesmas e analisar a sua

política de protecção por meio de patentes. Num último ponto deste capítulo, serão

ainda apresentadas as diversas constatações a que foi possível chegar na sequência da

realização das entrevistas.

4.1. METODOLOGIA DO TRABALHO

A selecção das empresas objecto de estudo teve por base uma consulta efectuada junto

da Direcção de Patentes do INPI, tendo sido solicitada a indicação de um conjunto de

empresas portuguesas com reconhecida história, visão e prática de inovação e no

104
domínio da utilização da Propriedade Industrial, nomeadamente no que respeita ao uso

das patentes.

Desta consulta resultou a indicação de sete empresas, seis das quais serão objecto de

análise no âmbito do presente trabalho, dado que se afiguraram como os casos mais

interessantes para este estudo. A sétima empresa foi inquirida fora do prazo para

inclusão neste estudo.

Por forma a conhecer e compreender o contributo específico da patente para o sucesso

das invenções destas empresas, foi realizada uma entrevista aos responsáveis por cada

uma delas (no caso de uma delas um seu representante).

Cada uma das entrevistas foi orientada por um guião previamente elaborado, que se

encontra em anexo, no qual se organizaram as linhas mestras da conversa a ter com cada

um dos responsáveis das empresas por forma a uniformizar os resultados recolhidos.

As entrevistas tiveram lugar entre o dia 22, de Setembro e o dia 17, de Outubro de 2003.

Este Capítulo foi estruturado da seguinte forma: inicialmente, serão apresentadas as

empresas objecto do estudo e efectuada uma breve caracterização genérica das mesmas.

De seguida, serão analisadas as atitudes destas empresas em relação à utilização das

patentes. Por último, serão expostos os principais aspectos que as entrevistas permitiram

constatar, corroborados por citações, testemunhos e opiniões dos entrevistados em cada

uma das diversas empresas.

105
Desde o primeiro contacto foi assegurado às empresas que as informações por estas

transmitidas seriam tratadas com estrita confidencialidade, tendo estas acedido a que o

seu nome constasse apenas na lista das empresas entrevistadas e na sua caracterização

genérica. Deste modo, as empresas foram numeradas de forma aleatória, sendo que a

partir do ponto 4.3 deste trabalho estas serão designadas apenas pelo número que lhe foi

atribuído e que não corresponde a qualquer apresentação prévia ou posterior.

4.2. CARACTERIZAÇÃO GENÉRICA DAS EMPRESAS ESTUDADAS

As empresas escolhidas têm em comum o facto de todas elas terem experiência na

inovação e no domínio da Propriedade Industrial, sendo que todas possuem patentes e,

ou, pedidos de patente sobre invenções desenvolvidas internamente.

Para além deste aspecto, todas as empresas objecto de estudo têm capital social

maioritariamente português, um dos critérios de escolha das empresas.

De seguida será efectuada uma breve caracterização de cada uma das empresas objecto

do estudo.

A ADIRA – A. Dias Ramos – Máquinas e Ferramentas, Lda é uma empresa sediada

no Porto e, desde a sua fundação em 1956, tem como actividade económica principal a

fabricação de máquinas e ferramentas para metais. Esta empresa não integra nenhum

grupo empresarial e possui apenas um estabelecimento. No ano final de 2002, a ADIRA

tinha cerca de 165 trabalhadores e um volume de negócios de aproximadamente de 15,3

milhões de euros. Dos seus colaboradores cerca de 17% têm educação ao nível do 12º

106
ano e 19,4% são licenciados. O volume de exportações representava no final de 2002

cerca de 57% do seu volume de negócios. No território nacional os seus principais

clientes são os utilizadores finais, sendo que as exportações são realizadas

predominantemente para outras empresas.

A BIAL - Portela & Cª, S.A., com sede em São Mamede do Coronado, foi fundada no

ano de 1920 e a sua actividade principal é a fabricação de medicamentos. A presente

empresa integra um grupo empresarial e dispõe de três estabelecimentos. O seu volume

de negócios ascendeu no ano de 2002 aos 81 milhões de euros, dos quais cerca de 18%

foram provenientes de exportações, sendo os seus clientes outras empresas. No que

respeita ao número de colaboradores, esta empresa dispunha no final de 2002 de 496

funcionários, dos quais 51,2% tinha educação ao nível do 12º ano, 22,4% eram

licenciados e cerca de 3% eram mestrados ou doutorados.

A Gresilva – Metalúrgia Ind. e Electrodomésticos, Lda é uma empresa com sede em

Sintra que iniciou, em 1984, a sua actividade de fabricação de máquinas para a indústria

alimentar. Esta empresa não integra nenhum grupo empresarial e dispõe de apenas um

estabelecimento. Em 2002, o volume de negócio atingiu os 2 milhões de euros,

representando as exportações entre 5 a 9% deste valor. Os clientes da Gresilva são

predominantemente outras empresas. A Gresilva contava no final de 2002 com 15

trabalhadores, sendo que 20% dos quais tinha educação ao nível do 12º ano e cerca de

13% eram licenciados.

A Herbex – Produtos Químicos, S.A. foi fundada em 1984, encontra-se sediada em

Sintra e tem como actividade principal a fabricação de produtos químicos orgânicos de

107
base. Esta empresa não integra nenhum grupo empresarial e detém apenas um

estabelecimento. O volume de negócios da Herbex foi, no ano de 2002, de cerca de 5

milhões de euros, sendo que estes foram quase na totalidade (cerca de 95%) resultantes

de exportações. Os seus clientes são predominantemente outras empresas. A Herbex

contava, no final de 2002, com 25 empregados, dos quais cerca de metade tinha

educação ao nível do 12º ano, 16% dispunha de licenciatura e cerca de 8% eram

doutorados.

A Hovione – FarmaCiência, S.A. foi fundada em 1959, tem sede em Loures, e dedica-

se à fabricação de produtos farmacêuticos de base. Esta empresa não integra nenhum

grupo empresarial. O volume de negócios, em 2002, foi de cerca de 50,4 milhões de

euros, o que resultou na totalidade da exportação e/ou venda de serviços para fora do

país. Os clientes da Hovione são outras empresas. No final de 2002, a empresa dispunha

de 473 trabalhadores, dos quais aproximadamente 19% dispunham de educação ao nível

do 12º ano, cerca de 27% eram licenciados e cerca de 2% eram mestrados ou

doutorados.

O Grupo STAB tem sede em Oeiras e foi fundado em 1996; as empresas que o

compõem têm como principal actividade a investigação e o desenvolvimento das

ciências físicas e naturais. Neste caso, apesar de ter sido seleccionada inicialmente uma

das empresas do grupo a STAB – Vida – Investigação e Serviços Ciência Biológicas,

Lda, verificou-se a possibilidade de entrevistar o presidente do grupo, o que foi bastante

proveitoso, uma vez que permitiu a partilha de uma experiência mais vasta. Assim, os

dados disponibilizados caracterizam o grupo. O capital das empresas do grupo é

maioritariamente português. Em 2002, o volume de negócios foi de cerca de 1,8

108
milhões de euros, sendo que a proporção proveniente de exportações e/ou venda de

serviços foi inferior a 5%. Dos seus clientes cerca de 60% são outras empresas e os

restantes 40% são consumidores finais. O STAB contava, em 2002, com 30

colaboradores, todos eles com educação ao nível do 12º ano ou superior, a maioria eram

licenciados (cerca de 73%), cerca de 23% eram mestrados ou doutorados, dispondo os

restantes de educação ao nível do 12º ano.

Tal como é possível observar, com excepção de uma, todas as empresas estão

estabelecidas no mercado há bem mais de 15 anos.

4.3. ATITUDES PERANTE A PROTECÇÃO POR PATENTE

No presente ponto procurar-se-á caracterizar a atitude das diferentes empresas perante a

protecção das invenções por patente através da análise da importância que as empresas

atribuíram a um conjunto de factores para o pedido de patentes e/ou modelos de

utilidade, quer em termos da realidade actual da empresa, quer considerando uma

perspectiva de futuro.

As respostas dadas pelas diferentes empresas e que serão aqui objecto de análise

encontram-se sintetizadas no quadro 2.

109
QUADRO 2: Importância presente ou futura de um conjunto de factores para a protecção
por Patentes e/ou Modelos de Utilidade

Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3 Empresa 4 Empresa 5 Empresa 6


Factores NI I MI NI I MI NI I MI NI I MI NI I MI NI I MI

a) Diferenciação competitiva 9 9 9 9 9 9
face aos concorrentes

b) Factor de prestígio, reputação 9 9 9 9 9 9


e imagem da empresa

c) Favorecer a estratégia de 9 9 9 9 9 9
internacionalização da empresa
d) Garantir a realização de
parcerias, manter a participação
9 9 9 9 9 9
em redes de colaboração
e) Obtenção de proveitos do 9 9 9 9 9 9
licenciamento a terceiros

f) Permitir cobrar um preço 9 9 9 9 9 9


mais elevado no mercado

g) Indicação/imposição de 9 9 9 9 9 9
parceiros comerciais
h) Protecção das inovações da
empresa contra a imitação por
9 9 9 9 9 9
terceiros
i) Reposicionamento da oferta,
apoiar a mudança da estratégia
9 9 9 9 9 9
da empresa

Legenda:
NI – Não é Importante
I – Importante
MI – Muito Importante

Fonte: Entrevistas

Para a Empresa 1, os factores que assumem maior importância para a protecção por

patente das suas invenções são o facto de estas constituírem um factor de prestígio,

reputação e imagem da empresa, de lhe permitirem a obtenção de proveitos do

licenciamento das patentes a terceiros e de lhe oferecerem a possibilidade de cobrar um

preço mais elevado no mercado. Dos factores apresentados, o único que a empresa

considerou que não tem qualquer relação com a opção pela protecção por patente foi o

de favorecer a estratégia de internacionalização da empresa. Todos os factores foram

110
considerados importantes, alguns deles apenas em determinadas circunstâncias, como é

o caso da indicação/imposição de parceiros comerciais.

Já a Empresa 2 atribui igual importância a todos os factores referenciados. Ao longo da

conversa com o responsável desta empresa foi, no entanto, possível perceber a

importância de dois factores, em particular, o facto da protecção por patente permitir, à

empresa e aos seus distribuidores, cobrar um preço mais elevado e o uso da patente

como instrumento de protecção das inovações contra a imitação por terceiros.

A Empresa 3 considera, “por experiência própria”, a utilidade da protecção das

inovações da empresa para prevenir a imitação por terceiros como o factor crítico para a

protecção por patente das invenções. Do ponto de vista desta empresa, a patente afigura-

se ainda como importante na diferenciação competitiva face aos concorrentes, como

factor de prestígio, reputação e imagem da empresa, e para a obtenção de proveitos do

licenciamento a terceiros. Embora a empresa refira que até agora estes dois últimos

factores não têm sido explorados, existe, no entanto, a intenção de fazer este uso no

futuro.

Para a Empresa 4, os factores críticos para a protecção por patentes das suas invenções

são, por um lado, o facto de permitirem cobrar um preço mais elevado no mercado e,

por outro, a protecção das inovações da empresa contra a imitação por terceiros. Com

excepção da garantia da realização de parcerias, manutenção da participação em redes

de colaboração e do suporte ao reposicionamento da oferta e apoio à mudança da

estratégia da empresa, que para esta empresa são factores que sem relevância, todos os

outros foram considerados como importantes.

111
No caso da Empresa 5 são diversos os factores tidos como muito importantes,

nomeadamente o elemento de diferenciação face aos concorrentes, o facto de garantir a

realização de parcerias e manter a participação em redes de colaboração, a possibilidade

de cobrar um preço mais elevado no mercado, a indicação ou imposição de parceiros

comerciais - para o que a empresa refere “só no caso das patentes muito fortes, uma

patente que seja forte dita as regras” - e, por último, a protecção das inovações da

empresa contra a imitação por terceiros. Para esta empresa o único factor da listagem

apresentada que foi considerado como não sendo importante foi o de reposicionamento

da oferta, apoio à mudança da estratégia da empresa.

Também para Empresa 6 são cinco os factores com mais importância para a protecção

por patente das suas invenções, designadamente a diferenciação competitiva face aos

concorrentes, o factor de prestígio, reputação e imagem da empresa, a possibilidade de

obterem proveitos do licenciamento a terceiros, o facto de permitir à empresa cobrar um

preço mais elevado no mercado, e a protecção das inovações da empresa contra a

imitação por terceiros. Para esta empresa, apenas o reposicionamento da oferta e apoio à

mudança da estratégia da empresa foi considerado sem importância.

No conjunto das empresas os factores que foram considerados como tendo a maior

relevância foram o facto de a patente permitir cobrar um preço mais elevado no

mercado e a protecção das inovações da empresa contra a imitação por terceiros. Estes

factores foram classificados como muito importantes por quatro das empresas

estudadas, e importante pelas restantes, com excepção do primeiro factor que uma

empresa considerou como não importante.

112
Outros três factores importantes para a protecção das invenções por patente, por estas

empresas, que cabe destacar, são o contributo para a diferenciação competitiva face aos

concorrentes, como elemento de prestígio, reputação e imagem da empresa e na

obtenção de proveitos de licenciamento a terceiros. Estes três factores foram

considerados como importantes ou muito importantes por todas as empresas.

Por outro lado, o facto de contribuir para o reposicionamento da oferta e para o apoio à

mudança da estratégia da empresa foi o factor tido como menos relevante, uma vez que

quatro das empresas entrevistadas o consideraram como não importante.

Um outro aspecto a abordar neste ponto são as principais razões que mais dificultaram,

de acordo com a experiência destas empresas, o recurso a novos pedidos de patentes ou

à manutenção dos direitos existentes. Da análise das respostas foi possível extrair três

razões principais:

ƒ Os elevados custos envolvidos no pedido da patente e, sobretudo, na

manutenção da mesma, em particular, quando a empresa opta pela protecção

em diversos países;

ƒ A inexistência de uma patente comunitária;

ƒ Alguma falta de informação sobre o sistema de patentes.

113
4.4. ANÁLISE DO CONTRIBUTO DA PATENTE PARA O SUCESSO COMERCIAL

DAS INVENÇÕES

As entrevistas, realizadas com os diversos responsáveis das empresas objecto de estudo,

ou seu representante, permitiram obter um conjunto de constatações que se considera

vêm clarificar alguns aspectos e contribuir para a melhor compreensão das influências

da patente no sucesso comercial das invenções e, consequentemente, também das

empresas. Assim, neste ponto são apresentadas as referidas constatações, procurando-se

demonstrar o fundamento das mesmas com base no testemunho das empresas em

estudo.

1 – A protecção não é garantia de sucesso, estando o verdadeiro factor de sucesso

mais associado às características do produto e às necessidades do mercado do que

ao facto do produto estar ou não protegido.

Uma primeira constatação retirada das entrevistas tidas com as seis empresas vem no

sentido da leitura teórica de que o verdadeiro factor de sucesso está mais associado às

características do produto e às necessidades do mercado do que ao facto do produto

estar ou não protegido, ou seja, a protecção não é, pelo menos por si só, garantia de

sucesso.

114
Aliás, o responsável pela Empresa 1, por exemplo, considerou mesmo que existem

razões que levam a que invenções protegidas por patente possam não ter sucesso no

mercado, tais como:

ƒ Por um lado, “perceber-se mal o mercado, e o facto de a vantagem

competitiva que esse processo patenteado trazia não ter sido suficientemente

grande para afirmar o produto no mercado”;

ƒ Por outro lado, “a dinâmica competitiva, dado que podemos criar um produto

óptimo, patentear adequadamente e seis meses depois aparecer outro com um

melhor posicionamento no mercado”.

Nestas circunstâncias, e como a própria empresa refere, “fica a vantagem competitiva

invalidada”, não por não estar devidamente protegida, mas por insuficiências próprias.

A Empresa 1 considera ainda, referindo-se a um dos seus produtos não protegidos por

patente mas com sucesso no mercado, como “factores que determinaram o sucesso

desse produto”, nomeadamente “ser um bom produto, com eficácia competitiva e

haver, no mercado, poucos concorrentes”.

A Empresa 2 refere mesmo que “o facto de uma invenção estar protegida não é

nenhuma garantia de sucesso; esta empresa considera que o sucesso comercial do

produto e a protecção por patente “são duas coisas completamente independentes uma

da outra que podem coincidir, é desejável que coincidam, mas que são independentes”.

115
Para esta empresa, “a invenção só tem sucesso se se referir a um produto que seja

comercialmente interessante” estando os factores que determinam o sucesso desse

produto (patenteado) normalmente associados ao facto de “terem consumidores e o

preço ser concorrencial”.

A Empresa 3 admite, relativamente à menor valia comercial dos produtos, que há

“casos de patentes que não tiveram tanto sucesso quanto isso”; mesmo prevendo-se

“que no mercado iriam ter muito impacto, o mercado acabou por não valorizar aquilo

que se apresentava como novidade”.

A mesma empresa identificou produtos protegidos por patente “que não tiveram

sucesso, porque o mercado não pediu esse tipo de produto, tendo havido mesmo outras

patentes que temporariamente tiveram bastante aceitação mas que depois com a

evolução das necessidades do mercado acabou por se trocar essas necessidades por

outras”.

Na opinião deste responsável “a patente per si não resolve, podendo ser uma coisa

nova que não interesse nada ao utilizador; o que é importante para valorizar o produto

é ele perceber que o produto é melhor”.

A Empresa 4, considerando que todos os seus produtos estão patenteados e que

“comercializam produtos próprios, com patente própria”, considera que é “pela

inovação e pelo facto de serem produtos inovadores que têm feito grande sucesso no

mercado”.

116
Neste sentido, esta empresa considera como factores que têm sido determinantes no

sucesso desses produtos (patenteados), não a própria patente, mas a “qualidade, porque,

é assim, os nossos produtos no mercado são considerados, os Ferrari da nossa

actividade, dado que, em termos de qualidade não há igual”. “São as mais valias que o

nosso produto oferece que lhe permite ter o sucesso que tem.”

De acordo com a experiência da Empresa 5 “há invenções que estão patenteadas e que

encontram resistência no mercado, mas isso é pela tecnologia em si”. O responsável

desta empresa refere ainda que “se a tecnologia não é boa, ou se o mercado não está à

espera dela, a sua implementação no mercado é difícil”.

2 – O contributo das patentes para o sucesso não se restringe ao produto que

beneficia da invenção protegida, tendo também impacto sobre a globalidade do

negócio da empresa, em termos de imagem e credibilidade.

Uma outra constatação é que há o reconhecimento, por parte de algumas empresas, de

que a influência das patentes para o sucesso não se restringe ao produto que utiliza a

invenção protegida, mas também tem impacto sobre a globalidade do negócio da

empresa, em termos de imagem e credibilidade.

A Empresa 1 revelou que quando há uns anos entrou numa nova área de negócio,

começando “do zero numa área que desconhecia”, e a desconheciam, “o uso das

patentes foi importante para demonstrar que tinha competência técnica”. Esta empresa

afirma mesmo “que sempre dependeu imenso de patentes, quer para se afirmar como

117
parceiro de credibilidade, quer para impedir outros de fazer a mesma coisa, quer para

conseguir clientes”.

Na opinião do responsável desta empresa, “a patente é, sobretudo na nossa indústria,

um cartão de visita muito importante para ser aceite no mercado, tal como para

conseguir fazer parte de um clube onde é difícil entrar”. “Quem tem patentes, já quer

dizer que aceita o princípio e aceita o sistema, o que é muito importante para ser

aceite”. Acrescenta ainda que, a patente “confere uma determinada aura de

honestidade, credibilidade técnica e de negócios que é importantíssimo”.

A Empresa 5, por outro lado, considera que a posse de patentes “é importantíssimo

para os investidores, sobretudo de capital de risco; exibir um bom portfolio de patentes

é fundamental”, uma vez que “é uma das coisas que eles procuram imediatamente”.

3 – A contribuição da patente para o sucesso da invenção é tanto mais verdadeira

quanto mais complexa for a invenção, nomeadamente quando se referir a

tecnologias e a processos de produção cuja exposição à concorrência não é

evidente.

A terceira constatação obtida através das entrevistas realizadas é de que quanto mais

complexa for a invenção, mais o sucesso do produto estará associado às características

do produto e às necessidades do mercado, e menos ao facto de estar ou não protegido,

particularmente no caso de tecnologias e processos de produção cuja exposição à

concorrência não é evidente.

118
Também esta constatação vem de encontro à leitura teórica e aos diversos estudos

empíricos realizados sobre esta matéria, quer na Europa quer nos Estados Unidos.

A Empresa 1 dá o exemplo de um dos seus produtos que não está protegido por

patente, mas que tem tido sucesso no mercado, afirmando que “não se socorrem de

patentes”, embora já produzam “este produto há décadas, porque a concorrência é

muitíssimo reduzida e é muito difícil de fabricar. A dificuldade não acontece no fim

acontece nalgum sitio”.

Para além de ser “um bom produto”, este responsável considera ainda que, o outro

factor que determinou o seu sucesso foi “a dificuldade do fabrico”, acrescentando que

na sua opinião “as duas coisas que garantem margens elevadas são a patente ou a

dificuldade de fazer, porque se é difícil há pouca gente ou mais ninguém a fazer”.

A Empresa 2 quando questionada sobre quais as razões que podem levar a que

invenções não protegidas por patente tenham sucesso respondeu que “há casos em que

há invenções não protegidas por patente que também têm sucesso e, normalmente na

nossa actividade não se protegem por patente processos de fabrico que tenham

pormenores que a empresa não queira revelar, nem mesmo na patente, porque as

patentes de processo são extremamente difíceis de controlar na concorrência.”

Em termos da evidência na exposição à concorrência, o responsável desta empresa

diferencia a situação das invenções de processo da das invenções de produto afirmando

que “a patente de produto tem características completamente diferentes, porque é

muito fácil verificar no mercado se há uma contrafacção, bastando fazer uma análise

119
ao produto. Enquanto que, no processo é difícil provar se todos os pormenores

patenteados estão ou não a ser copiados.”

Da mesma forma, para a Empresa 6, quando se tem uma invenção que “é tão difícil de

reproduzir não vale a pena gastar dinheiro a patenteá-la.”; embora afirme que na sua

actividade “isso não existe, considero que é fácil desmontar um produto e perceber

como é que é feito ou que passos é que são dados para chegar aquele produto.”

4 – O contributo da patente é menos para o sucesso da inovação e mais para a

protecção dos direitos a ela associados, o que faz depender a bondade da patente

da necessidade do combate à contrafacção.

A quarta constatação extraída das entrevistas efectuadas aos responsáveis das diversas

empresas é que o contributo da patente é menos para o sucesso da inovação e mais para

a protecção dos direitos a ela associados, o que faz depender a bondade da patente da

necessidade do combate à contrafacção.

O responsável pela Empresa 1 refere que, na sua actividade, “uma matéria prima é

transformada em vários passos”, pelo que “se a minha invenção é uma coisa que

ocorre nos passos intermédios de transformação, e no passo final não se consegue

detectar se o concorrente infringiu ou não uma patente, utilizando ou não um processo

protegido, não há maneira de policiar a patente.” “Portanto, para se patentear um

produto neste tipo de indústria, a invenção protegida tem que ser evidente no passo

final.”

120
O responsável desta empresa acrescenta ainda que “quando se lança um produto no

mercado, tem de se ter a possibilidade de policiar a patente respectiva através de

análises de produtos da concorrência para ver se esses produtos estão a infringir o

processo protegido”.

O contributo da patente é mais para a protecção dos direitos a ela associados, tal como

esta empresa expõe dizendo que “as patentes interessam, do ponto vista do

policiamento e do ponto de vista da sua validade, como meio de impedir a concorrência

de utilizar um processo”. A importância de “poder policiar a minha invenção”, é uma

constatação sempre presente nesta empresa.

Para a Empresa 2 “a patente também tem uma dupla função:” por um lado, “tem a

função de impedir que a concorrência copie os nossos processos”, por outro lado, a

patente tem “também a função igualmente importante de impedir que a concorrência

nos possa impedir a nós de fabricar”. “Portanto, se não se patentear o processo corre-

se o risco da concorrência o patentear e depois impedir o seu fabrico.”

A Empresa 4, que tal como referido anteriormente tem todos os seus produtos

protegidos por patente, refere que não têm “sido muito felizes no que respeita à

protecção da patente, o que complica a questão do sucesso dos produtos.

Esta empresa tem sido confrontada com diversas situações em que “as imitações

constituem o grande problema”, tendo revelado algumas das dificuldades que sentiu

perante estas situações, nomeadamente a de ser “difícil os inspectores da IGAE

121
chegarem e verem qual é o original e qual é a cópia, por não serem especialistas, por

ser uma instituição de grandes dimensões”.

Perante esta experiência a empresa afirma que “a protecção das patentes é muito

fraca”, reconhecendo, no entanto, que “as coisas parecem, neste momento, estarem a

ficar melhor encaminhadas”, mas que “tem sido muito difícil”. O responsável desta

empresa acrescenta ainda que “tem de haver um trabalho exaustivo e muito cuidadoso

no sentido da protecção das patentes”.

A Empresa 5 quando questionada sobre as razões que determinaram a protecção das

suas invenções por patente respondeu que “ou se protegia ou se perdia tudo”, isto

porque, tal como a empresa admite “ou se guarda o segredo muito bem guardado -

esperando que ninguém copie a tecnologia, o que é um bocado difícil porque alguém

que se dedique ao assunto em menos de meio ano consegue saber o que é – ou se

protege”.

O responsável desta empresa afirma mesmo que “a propriedade intelectual é muito

importante para inibir” os imitadores.

122
5 – As patentes são mais necessárias quando a expectativa de sucesso é grande e

por isso a possibilidade de cópia é também grande.

A realização deste conjunto de entrevistas permitiu constatar que as patentes são mais

necessárias quando a expectativa de sucesso é grande e que, por isso, também a

possibilidade de cópia é grande.

Aliás, a Empresa 3 perante uma situação em que um produto desenvolvido pela

empresa “tem tido grande sucesso e foi alvo até de cópia” viu-se confrontada com a

dificuldade de fazer valer os seus direitos, uma vez que “não estava protegido, não se

tendo meios legais para contrapor, portanto, perdendo em tribunal.” Tal como a

própria empresa reconheceu “isso implica perdas, porque os outros estão a vender,

logo estão a roubar-nos quotas de mercado.”

Na sequência desta experiência o responsável desta empresa afirma “neste momento

estamos a optar por proteger mais”. Curiosamente, não obstante esta empresa ter já

efectuado a protecção de outros produtos, optaram por não proteger a invenção

incorporada neste produto “porque efectivamente a experiência anterior era a de que as

patentes pareciam ser quase inócuas”.

Contudo, a empresa reconhece agora que “uma vez que outras que não estavam

protegidas foram bem aceites pelo mercado, nós deveríamos ser mais previdentes e

obter a sua protecção, antes de as divulgar e lançar no mercado.” Assim, “para um

novo produto em lançamento está-se já a ter o cuidado de fazer o registo do modelo e o

pedido de patente.”

123
Também a Empresa 4 tem tido produtos desenvolvidos internamente que têm sido

copiados pelos concorrentes, considerando o responsável da empresa que “precisamente

por se ter sucesso é que surgem estas situações extremamente desagradáveis. Ninguém

vai copiar uma coisa que não tem sucesso.”

6 – A patente é determinante para proteger a exclusividade do usufruto do sucesso

e para desfrutar de um prémio de preço - factores estes determinantes quando os

investimentos em I&D são elevados - caso a patente contribua para o sucesso do

produto.

Uma sexta constatação que foi possível retirar das entrevistas é a de que para produtos

bem sucedidos no mercado, considerando que a possibilidade de cópia é maior, a

patente é determinante para proteger a exclusividade do usufruto do sucesso do produto

e para desfrutar de um prémio de preço.

As respostas obtidas permitem ainda acrescentar que a exclusividade e o prémio de

preço são particularmente importantes quando os investimentos em I&D são elevados, o

que vem de encontro à leitura teórica e aos estudos empíricos já referenciados

anteriormente.

Aliás, a propósito de um exemplo de um dos seus produtos patenteados que teve

sucesso no mercado, a Empresa 1, considerou que “na altura os clientes licenciaram o

produto porque era patenteado, porque se vão apostar num produto em que ainda vão

ter que fazer uma série de investimentos (para implementação no mercado), obviamente

124
que têm de ter a certeza que pelo menos durante alguns anos ninguém vai concorrer

com eles”.

O responsável desta empresa afirma ainda “não se gasta muito dinheiro em

investigação e patenteamento se não é para cobrar um preço mais elevado, sendo que

esse preço mais elevado é a parte desejável para a empresa.”

A Empresa 2 admite, relativamente ao contributo da protecção da patente, que “se nós

não tivéssemos protegido os nossos concorrentes poderiam copiar e vender mais

barato”. Acrescentando ainda que “a patente permite manter um preço mais elevado,

por sermos nós os únicos no mercado”.

O responsável desta empresa estabelece uma clara correlação entre a patente, a

exclusividade do usufruto do sucesso do produto e o prémio de preço; na sua opinião

“patente de produto e preço estão directamente relacionados; de facto se se tem

patente, há menos concorrência, e o preço do produto é mais elevado”.

A mesma empresa destaca ainda a relevância da patente para os seus clientes dado ser

“muito importante para um distribuidor saber que pode praticar um preço mais

elevado, porque o produto não tem concorrência”.

Para a Empresa 4, o que lhes permite cobrar um preço mais elevado pelos seus

produtos são “as patentes e a qualidade”.

125
À semelhança de outras empresas já mencionadas, também a Empresa 5 salienta que

“se se gasta” uma quantia muito elevada é para a patente permitir cobrar um preço mais

elevado, o que é considerado por esta empresa como um factor de negócio “muito

importante”.

A Empresa 6 considera mesmo que “não se pode ter I&D na nossa indústria sem estar

protegido, porque gasta-se muito dinheiro e muito tempo” e, “portanto, não vale a

pena investir nesta indústria se não for para proteger os seus resultados.”

De facto, para esta empresa, o que é determinante na patente “é o exclusivo do produto

durante o tempo de vigência da patente, o monopólio de comercialização daquele

produto ou o seu licenciamento”.

Para a Empresa 6 a protecção por patente de uma invenção é “uma sequência lógica”,

considerando que “não faz sentido haver I&D sem protecção”.

7 – A patente possibilita à empresa o acesso a outra via de exploração comercial do

produto, o licenciamento.

Foi ainda possível constatar que há o reconhecimento de que a patente possibilita à

empresa o acesso a outra via de exploração comercial do produto, o licenciamento, que

para algumas das empresas entrevistadas é já uma realidade e para outras é uma

possibilidade importante a explorar no futuro.

126
O responsável da Empresa 1, considera o licenciamento de patentes “muito

importante” apesar de neste momento as receitas provenientes do licenciamento serem

“insipientes”; este responsável revela que está “envolvido no desenvolvimento de um

produto, em que já se decidiu não comercializar ao público o invento, mas licenciar a

terceiros”. Na sequência do referido, a empresa estima que a receita proveniente do

licenciamento de patentes “poderá chegar a 10 a 20%” das vendas da empresa.

A Empresa 5 considera que “o simples facto de ter uma patente na mão faz com que o

produto se transforme num bom activo em termos de mercado”. Para esta empresa

“qualquer coisa que esteja protegida com uma patente passa a ser um segundo

produto”, que lhe confere “uma segunda opção de comercialização que é uma

licença”.

Por outro lado, esta empresa menciona que “sem patente tem que ser a empresa a fazer

o esforço todo de marketing, de validação, ter os seus próprios comerciais a bater o

terreno, convencer as pessoas a utilizar aquele produto”; no entanto, “se tiver

protegido, pode ter sempre um segundo canal de comercialização que é a licença”.

Para a Empresa 6, “ter um produto próprio com patente própria para licenciar a

terceiros é muito importante e permitirá a nível financeiro outras escolhas”,

reconhecendo que neste momento a empresa não está ainda a usufruir deste tipo de

receitas.

127
8 – É notório o uso, por parte de algumas empresas, de estratégias de

patenteamento defensivas, por forma a reduzir a facilidade de inventing around

por parte dos concorrentes.

Foi ainda possível observar que algumas das empresas usam estratégias de

patenteamento defensivas, por forma a reduzir a facilidade de inventing around por

parte dos concorrentes.

Aliás, o responsável da Empresa 1, quando questionado sobre quantas patentes foram

pedidas para proteger um dos seus produtos com bastante sucesso no mercado,

informou serem “uma patente de produto e duas patentes de processo, tendo ainda sido

comprada uma patente a um concorrente para ter a certeza que não haviam portas

abertas para esse produto”.

A Empresa 5 normalmente protege os seus produtos com “duas ou três patentes no

máximo à volta do mesmo produto” e isto apenas porque, tal como refere o seu

responsável, “nós somos muito económicos, porque realmente não dá para mais”.

A Empresa 6 revela que, para um dos seus produtos que espera que venha a ser

implementado no mercado com sucesso, “tem uma patente de produto e dois pedidos de

patente de processo, admitindo que possa haver mais alguma coisa na calha”.

128
CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES

Foi objectivo inicial deste trabalho analisar o contributo das patentes para o sucesso

comercial das invenções, pretendendo-se investigar se a protecção por patente, apesar

de importante, representa por si só uma garantia de sucesso ou, em contrapartida,

poderia constituir um factor de insucesso em caso de não utilização.

Assumiu-se que, no mínimo, seria necessário averiguar se a protecção por patente não é

uma condição suficiente para o sucesso comercial dos invenções, podendo, na maioria

dos casos, ser uma condição necessária. Neste âmbito, afigurou-se ainda como

importante procurar evidenciar as funções que a protecção por patente poderá

desempenhar na construção deste sucesso.

Ao longo da leitura teórica foi possível analisar a complexidade do processo de

inovação, o que tornou notórios os elevados investimentos que este acarreta, bem como

o elevado grau de incerteza e, como tal, de risco, que envolve.

Os investimentos e o risco inerentes ao processo de inovação tornam particularmente

importantes para a empresa as características dos novos conhecimentos técnicos

produzidos. Na verdade, tal como foi visto, a propriedade intelectual é um bem com

características especiais, pelo que existência de externalidades associadas às novas

invenções, por um lado, e o facto do conhecimento ser um bem colectivo, por outro,

determinam a necessidade de um sistema que permita ao inventor, e em particular às

empresas, apropriar-se temporariamente dos resultados do seu investimento,

estimulando a realização de I&D e a divulgação dos seus produtos.

129
Aliás, a lógica básica do sistema de patentes está directamente associada à necessidade

de assegurar a existência de incentivos a inovar e de fomentar a difusão da tecnologia.

Assim, o sistema de patentes procurou constituir-se precisamente como um mecanismo

que assegurasse aos inventores a exclusividade na apropriação dos resultados da

inovação, durante um determinado período, por forma a compensar os inventores e os

inovadores pelos investimentos realizados, protegendo-os contra as imitações.

Acresce que, mesmo que as restrições das patentes possam ser contornadas, as patentes

aumentam os custos de imitação, ou, pelo menos, normalmente adiam a entrada dos

imitadores no mercado, constituindo, assim, um dos instrumentos ao dispor das

empresas para aumentar os custos e o tempo de imitação.

Considerando a exclusividade do direito, o aspecto mais importante para a empresa não

é a possibilidade de explorar o direito, mas o facto de poder evitar que os outros o

façam. A concessão deste direito exclusivo traduz-se na atribuição de um monopólio

limitado.

Deste modo, a obtenção de um monopólio, através da patente, permite ao inventor

usufruir de uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes, tendo a

possibilidade de auferir de uma renda derivada da sua posição monopolística. O direito

de exclusividade confere ao detentor da patente poder de mercado e, portanto, mais

receitas que aquelas que poderia obter sem a patente.

130
A posse de uma patente confere uma garantia de que, se o desenvolvimento da invenção

for tecnologicamente bem sucedido, os seus benefícios económicos poderão ser

apropriados.

Na realidade, através dos direitos de propriedade intelectual e, em particular das

patentes, as empresas têm a possibilidade influenciar os processos de difusão junto de

compradores e vendedores a seu favor, o que pode ser determinante para o sucesso

económico de novos produtos e processos, embora não constituam o único mecanismo

de apropriação dos retornos inovadores disponível.

As estratégias para captar os benefícios financeiros das inovações ao longo dos tempos

e nas diversas indústrias são, de facto, diversificadas e implicam um maior ou menor

recurso às patentes. Na verdade, as patentes são usadas em estratégias mais simples ou

mais complexas, conjugadas com outros mecanismos de apropriação, como o segrego

ou o avanço tecnológico contínuo, em que asseguram aos seus detentores a recuperação

dos investimentos realizados em I&D, a possibilidade de financiamento de investigação

futura, o domínio de nichos de mercado ou outras vantagens.

Mesmo os mecanismos a usar nos diversos estádios do processo de inovação podem

diferir, sendo, inclusivamente, utilizados diferentes mecanismos em simultâneo quando

a inovação pode ser protegida por diversas componentes.

As patentes podem contribuir de forma significativa para o sucesso comercial da

inovação e para obtenção e manutenção de uma vantagem competitiva; contudo,

verifica-se que não é indiferente o sector de actividade que se considere, dado que a sua

131
eficácia está também dependente de diversos factores e condicionantes, e mesmo nos

sectores que mais a ela recorrem, não é universal esse recurso.

Neste âmbito, os principais factores a ter em conta, pelas empresas, na definição da

estratégia de protecção dos resultados da sua invenção, são a facilidade com que o

produto pode ser objecto de reverse engineered, o ciclo de vida do produto, a posição da

indústria no ciclo de desenvolvimento, a facilidade com que os concorrentes

desenvolvem invenções similares, a eficácia legal dos mecanismos de protecção e a

capacidade da empresa e das instituições para defender o direitos após a sua concessão.

Hoje em dia, as grandes empresas usam as patentes extraindo delas vantagens e

defrontando-se com menos dificuldades que as pequenas e médias empresas.

No entanto, considera-se que a propriedade industrial, e em especial as patentes, poderá

representar um enorme potencial de crescimento e sobrevivência, num mercado cada

vez competitivo, facilitando, mesmo a sua credibilidade junto de grandes parceiros de

investigação.

De acordo com a abordagem teórica, o contributo das patentes não é apenas para o

produto que incorpora a invenção protegida, mas também para a estratégia global da

empresa, podendo ser importantes para o posicionamento da empresa no mercado e para

o desempenho financeiro da empresa, reforçando a sua competitividade.

As patentes podem ser usadas também como mecanismos de sinalização, que informam

aos clientes actuais e potenciais, quer estes sejam outras empresas ou consumidores

132
finais, de que a empresa possui expertise numa determinada área e que possui algo de

valioso que mais nenhuma empresa detém.

Não obstante a abordagem teórica desenvolver, de forma aprofundada, os incentivos

que a patente dá à inovação e explorar a existência de diversas estratégias – ofensivas

ou defensivas - para captar os benefícios da inovação, facto é que da análise teórica não

é possível extrair que a patente por si só constitua uma razão para o sucesso da

invenção; aliás, em alguns casos há mesmo vantagem em não proteger.

A vantagem na protecção por patente da invenção encontra-se dependente de vários

factores de que se destaca o tipo de tecnologia e a eficácia legal da protecção, que se

encontram inter-relacionados.

Na verdade conclui-se que a teoria não permite estabelecer uma relação unívoca entre a

protecção por patente e o sucesso comercial do produto.

Neste sentido, não importa proteger todas as invenções da empresa de forma

indisciplinada; pelo contrário, o planeamento estratégico das invenções a proteger é

determinante. Importa decidir que inovações proteger e, no âmbito de cada inovação

decidir que elementos proteger.

133
*

* *

Os diversos estudos empíricos realizados quer na Europa quer nos Estados Unidos

reforçam as constatações teóricas de que não há uma relação directa entre protecção e

sucesso comercial da invenção.

No estudo realizado por Cohen et al. (2000) foi possível observar que as patentes não

são o mecanismo de apropriação mais central. Nomeadamente no que respeita a

inovações de processo, os resultados de vários estudos realizados quer na Europa

(Arundel e Kabla, 1998; Brouwer e Kleinknecht, 1999) quer nos EUA (Cohen et al.,

2000; Levin et al., 1987) são consistentes na demonstração de que, de modo geral, estas

têm uma menor probabilidade de serem patenteadas.

Verifica-se de igual forma alguma consistência nos diversos estudos empíricos

relativamente ao reconhecimento da existência de sectores de actividade em que o

recurso às patentes assume maior importância que outros, nomeadamente quando os

investimentos em I&D são maiores.

Por outro lado, a patente parece ser mais usada para prevenir a imitação do que para

assegurar o sucesso da inovação; em contrapartida, mesmo nestes caso pode não ser

usada se não for eficaz.

No inquérito realizado na Alemanha, um terço dos entrevistados respondeu que uma das

razões para o não recurso ao patenteamento estada associada ao facto do ciclo de vida

134
dos seus produtos ser em média pouco mais longo do que o tempo necessário para um

pedido de patente bem sucedido na Europa (cerca de 2,5 a 3,5 anos). (Fest, 1996)

(OCDE, 1997)

No estudo de Cohen et al. (2000) a razão mais citada pelas empresas para não patentear

as invenções foi a facilidade de inventing around, assumindo também a divulgação um

peso importante. Também no estudo efectuado por Arundel (2000), os resultados

empíricos suportam a literatura teórica que considera que as empresas usam o segredo

quando a divulgação é uma grande desvantagem do patenteamento.

Neste mesmo estudo, a um nível agregado, 82% dos inquiridos indicaram, como razão

que motivava as suas decisões mais recentes para pedir a protecção por patente (para

inovações de produto), bloquear as patentes dos rivais em inovações relacionadas,

apenas ultrapassada pela necessidade de prevenir a cópia (96%).

Permite-se, assim, concluir que a decisão do que proteger representa uma decisão

estratégica para as empresas, uma vez que há invenções cuja opção mais vantajosa para

a empresa será não proteger e outras há em que a opção pela protecção poderá permitir

melhorias no desempenho financeiro da empresa.

135
*

* *

Com o objectivo de testar a existência ou não de uma relação clara entre o sucesso das

invenções e a patente foram seleccionadas um conjunto de empresas claramente

utilizadoras do sistema de patentes, dando lugar a um estudo de casos que permitiu um

conjunto de constatações que corroboram as conclusões extraídas da leitura teórica e

dos estudos empíricos, contribuindo para uma melhor compreensão daqueles que se

julga poderão constituir os contributos mais importantes da patente para o sucesso das

empresas.

No conjunto das empresas, os factores que foram considerados como tendo a maior

relevância foram o facto de a patente permitir cobrar um preço mais elevado no

mercado e o de proteger as inovações da empresa contra a imitação por terceiros.

Outros três factores importantes para a obtenção de patentes, por estas empresas, e que

cabe destacar, são o seu contributo para a diferenciação competitiva face aos

concorrentes, como elemento de prestígio, reputação e imagem da empresa e na

obtenção de proveitos de licenciamento de terceiros.

Por outro lado, a constituição para o reposicionamento da oferta e para o apoio à

mudança da estratégia da empresa foi o factor tido como menos relevante.

De referir, em relação aos aspectos supramencionados, a existência de uma aparente

contradição entre os resultados do inquérito específico realizado pelo CISEP (2003) e os

136
resultados deste estudo de casos. No entanto, deve ter-se em consideração que se tratam

de dois grupos alvo distintos, sendo o do estudo de casos direccionado a um conjunto de

empresas com experiência no domínio da Propriedade Industrial, enquanto que o

inquérito do CISEP (2003) foi dirigido a utilizadores efectivos e potenciais.

Importa, aqui, realçar que foi possível identificar algumas dificuldades no recurso à

obtenção ou à manutenção de patentes: os elevados custos envolvidos, nomeadamente

em caso de protecção em diversos países, e alguma falta de informação sobre o sistema

de patentes.

Finalmente, importa destacar as constatações mais importantes extraídas das entrevistas

efectuadas, nomeadamente:

1. A protecção não é garantia de sucesso, estando o verdadeiro factor de sucesso

mais associado às características do produto e às necessidades do mercado, do

que ao facto do produto estar ou não protegido;

2. Há o reconhecimento de que o contributo das patentes para o sucesso não se

restringe ao produto que utiliza a invenção protegida, tendo também impacto

sobre a globalidade do negócio da empresa, em termos de imagem e

credibilidade;

3. O contributo da patente é menos para o sucesso da inovação e mais para a

protecção dos direitos a ela associados, o que faz depender a bondade da patente

do combate à contrafacção; e

137
4. Se se considerar que com o sucesso do produto aumenta a possibilidade de

cópia, a patente é determinante para proteger a exclusividade do usufruto do

sucesso do produto e para desfrutar de um prémio de preço. A exclusividade e o

prémio de preço são particularmente importantes quando os investimentos em

I&D são elevados.

138
*

* *

Na realização deste estudo, uma das maiores dificuldades acabou por ser o reduzido

número de empresas analisadas, o que impossibilitou a elaboração de análises sectoriais,

por um lado, e a extracção de conclusões mais efectivas quanto ao papel que as patentes

assumem para empresas de diferentes dimensões. A análise teórica e alguns estudos

empíricos indicam, de facto, que o contributo das patentes poderá ser mais marcante

para alguns sectores de actividades e diverso relativamente à dimensão da empresa. Este

é um interesse pessoal que conservo e que me dará bastante satisfação aprofundar no

futuro.

139
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ANEXOS

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