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Júri:
Presidente: Doutor António José de Castro Guerra, professor associado
com agregação do Instituto Superior de Economia e Gestão
da Universidade Técnica de Lisboa;
Vogais: Doutor Albertino José Santana, professor associado
convidado do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e
da Empresa;
Licenciado Dr. Jaime Serrão Andrez, professor convidado
do Instituto Superior de Economia e Gestão da
Universidade Técnica de Lisboa.
Junho/2007
RESUMO
Os activos intangíveis assumem, hoje em dia, uma importância crescente, dado neles
propriedade que legitimam a posse e a utilização exclusiva de uma dada invenção por
a sua boa gestão merecem, neste contexto, uma atenção estratégica por parte das
empresas.
O objectivo deste estudo é analisar o contributo das patentes para o sucesso comercial
importante, representa por si só uma garantia para esse sucesso ou se, noutra
este intento será efectuada uma análise teórica e um estudo empírico da situação de
As conclusões mostram que não é possível estabelecer uma relação unívoca entre
protecção por patente e o sucesso comercial das invenções; aliás, em alguns casos,
poderá haver, mesmo, vantagem em não proteger. Foi ainda possível observar que o
contributo da patente é menos para o sucesso da inovação e mais para a protecção dos
direitos a ela associados, quando isso o justificar. A protecção por patente impõe-se para
Comercial.
2
ABSTRACT
Intangible assets assume, in nowadays, a growing importance, since they support a great
Patents constitute precisely one of these property rights that legitimate the ownership
for a certain period of time. The domain of such assets and its proper management
The goal of this study is to analyse the contribution of patents to the business success of
represents by itself a guarantee for success, or, if, in another perspective, could
constitute a factor of failure in case of non use. With this intention, it will be elaborated
a theoretic analysis and an empiric study of the situation of some of the most patenting
portuguese companies.
Conclusions show that is not possible to establish a univocal relation between patent
protection and business success of inventions; in fact, in some cases, there could be an
advantage not to protect. It was also possible to observe that the contribution of the
patent is less important to the success of the invention, than to the protection of
3
ÍNDICE
RESUMO .................................................................................................................2
ABSTRACT .............................................................................................................3
AGRADECIMENTOS ..............................................................................................7
INTRODUÇÃO ........................................................................................................8
4
2.3.2. MODOS DO DETENTOR DA PATENTE INFLUENCIAR A DIFUSÃO DA INOVAÇÃO . 58
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................140
ANEXOS .............................................................................................................149
5
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE QUADROS
6
AGRADECIMENTOS
entrevistas – Dr. Alcino Flores, Dra. Ana Pereira, Dra. Cristina Rodrigues, Eng. José
Pacheco, Prof. Doutor Pedro Correia, Dr. Peter Villax e Dr. Ricardo Chorão - por toda a
Uma palavra muito especial de agradecimento ao Professor Dr. Jaime Andrez pela
preciosos para o meu trabalho. Agradeço, ainda, todo o estímulo que me deu ao longo
da evolução do mesmo.
Ao INPI no seu todo e, em especial, ao Dr. José Maurício, ao Dr. Elpídio Santos e à
Dra. Maria José Silva por todo o apoio e compreensão nas alturas mais difíceis, ao Dr.
Inovação pelas palavras de estímulo e pela cooperação técnica, aos colegas com quem
Agradeço, ainda, aos meus pais pela motivação que me transmitiram e pela
compreensão das minhas longas ausências. Também, uma menção, a todos os amigos
Por último, ao Beto pela imensa paciência nos momentos críticos e por sempre ter
acreditado.
7
INTRODUÇÃO
Neste contexto, hoje em dia, na maioria dos sectores, mesmo nos tradicionais, as
Na verdade, cada vez mais as empresas constróem a sua estratégia de diferenciação com
tanto por segredos bem guardados quer por conhecimentos bem protegidos legalmente.
certo tempo. Assim, as patentes possibilitam não só a protecção dos resultados da sua
estratégia de diferenciação, muitas vezes sustentada com base numa aposta na inovação,
concorrentes, uma vez que atribuem um monopólio sobre a exploração de uma dada
invenção.
8
Tal como o título da dissertação sugere, constitui o seu objectivo estudar o contributo
Desde de que desempenha funções neste instituto sempre lhe foi transmitida a ideia de
que a patente é sempre muito importante para o sucesso comercial das invenções, sendo
que a intuição da própria e a percepção obtida através dos contactos com algumas
empresas não iam neste sentido, a autora considerou que seria interessante compreender
melhor o papel que as patentes representam para o sucesso comercial das invenções.
Assim, com este trabalho pretende-se analisar se a protecção por patente, pela sua
importância, representa por si só uma garantia de sucesso, e, por outro lado, se a não
condição suficiente para o sucesso comercial das invenções, pode ser, na maioria dos
factores, entre os quais a protecção por patente, que têm pesos diferentes segundo o
sector de actividade que se esteja a considerar e o quadro ambiental. Por sua vez, a
9
eficácia da protecção por patente também se encontra dependente de vários factores,
longo deste trabalho procurar-se-á evidenciar as funções que a protecção por patente
competitivas da protecção por patente, procurando-se explicitar o papel que esta pode
análise teórica apresentada, de alguns estudos empíricos sobre a matéria, bem como do
estudo dos casos. Neste sentido, será confrontado o pensamento teórico sobre a
importância das patentes com a prática de algumas das empresas portuguesas mais
utilizadores de patentes.
10
CAPÍTULO 1. ENQUADRAMENTO NA PROBLEMÁTICA DA INOVAÇÃO
“If you took away everything in the world that had to be invented, there’d be
Tom Stoppard
empresas. No entanto, é sobretudo pela mão destas últimas que as invenções chegam ao
mercado e se tornam inovações, ou seja, são, na maioria dos casos, as empresas que
risco que, quando bem sucedidos, conferem vantagens não só às empresas que os
11
Ainda neste âmbito importa conhecer como o problema da imitação torna importante a
Por último, serão exploradas as razões que fundamentam a que, com vista à protecção
propriedade convencionais.
Para este efeito será necessário, antes de mais, apresentar os principais conceitos no
CONCEITOS.
Neste ponto procurar-se-á clarificar alguns dos principais conceitos a usar ao longo
compreensão das interacções entre estes conceitos serão ainda apresentados alguns dos
12
1.1.1. CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Importa antes de mais distinguir dois conceitos que são muitas vezes confundidos na
Dussauge et al. (1997) definem tecnologia como um processo que, através de uma fase
13
1.1.2. INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
experimental.
(CISEP, 2000)
melhorar os existentes.
14
1.1.3. INVENÇÃO E INOVAÇÃO
transacção comercial que envolva o produto ou o processo novo, apesar da palavra ser
As invenções podem muitas vezes ser protegidas por patente, mas não conduzem
investigação fundamental e a utilização das invenções por forma a criar inovações bem
sucedidas.
“adormecidas” por longos períodos, quer por a sua aplicação requerer conhecimentos
adicionais que ainda não se encontram disponíveis, quer por o seu desenvolvimento
ainda não ser economicamente atractivo, ou, ainda, por o mercado não estar receptivo.
No Manual de Oslo (OCDE, 1996) considera-se que foi realizada uma inovação quando
15
As inovações de produto são as relativas à implementação/comercialização de produtos
melhorados, que não possam ser produzidos através do uso dos métodos de produção
Em termos de inovação e com um carácter mais vasto existe um outro conceito que
16
No âmbito deste trabalho será dado particular atenção a dois elementos deste sistema,
isto é, às empresas, por um lado, e às instituições que lhes permitem a apropriação dos
resultados da inovação, por outro, sendo explorado o papel destes elementos e a forma
- serão aqui expostas algumas perspectivas sobre a forma como o processo de inovação
De acordo com Rothwell (1994), o modelo de inovação dominante evoluiu ao longo das
últimas décadas, sendo esta evolução visível nas cinco gerações do modelo do processo
de inovação:
1 - Technology Push;
2 - Need Pull;
3 - Interactivo;
4 - Integrado;
17
descoberta científica através da investigação aplicada, ao desenvolvimento tecnológico
transferidos para a fase seguinte e implicam o refinamento contínuo das teorias gerais
em aplicações específicas.
No modelo linear de need pull, as inovações resultam das necessidades percebidas dos
consumidores, neste caso o mercado é visto como uma fonte de ideias que orientam a
I&D.
Estes modelos lineares foram objecto de diversas críticas, sendo estas perspectivas
lâminas de uma tesoura (in Freeman, 1997). Por um lado, o processo de inovação
Por outro lado, implica conhecimentos técnicos, que podem estar disponíveis, mas
18
também pode incluir novos conhecimentos científicos e tecnológicos, o resultado de
actividades de investigação.
Freeman (1997) destaca o facto da inovação ser essencialmente uma actividade com
dois lados. Assim, estas abordagens devem ser consideradas como complementares e
diversos feedbacks, tendo-se verificado que a realidade seria melhor reflectida num
sequencial.
19
Modelos mais recentes do processo de inovação realçam a integração de sistema e
redes. Nestes modelos são consideradas as ligações com entidades exteriores à empresa,
desenvolvimento.
diversos estádios que nem sempre são lineares e contínuos, sendo muitas vezes
elevados investimentos que o processo acarreta e o alto grau de incerteza e, como tal de
risco, que o envolve. É necessário ter ainda presente que, em muitos casos, e por
estádio intermédio.
as entidades intervenientes, são alguns dos aspectos que levam a que a atribuição de
patentes. Neste âmbito, afigura-se ainda como relevante explorar um problema com
20
algum impacto para as empresas que apostam na inovação, isto é, o problema da
imitação das suas invenções. Por último, importa apresentar as razões que levam a que
obtido, pode ser facilmente reproduzido com custos muito baixos ou nulos, ao contrário
obtenção de informação sem que outros tenham que pagar por isso. Assim, a empresa
geradora de nova informação técnica tem poucos ou nenhum incentivo para gerá-la,
uma vez que esta dificilmente consegue apropriar-se da informação e dos resultados a
Na verdade, o conhecimento deve ser considerado um bem colectivo, uma vez que
satisfaz as duas características deste tipo de bens, a não rivalidade e a não exclusão. Por
1
in (Albuquerque, 1998)
21
um lado, o consumo de conhecimento por um indivíduo não afecta o consumo dos
outros, cumprindo o princípio da não rivalidade e, por outro, é difícil excluir os outros
Estar Social, por outro lado, não forneceria qualquer incentivo à sua geração.
Para que o sistema capitalista opere de forma eficiente é necessário que os mercados de
produtos intelectuais, de uma foram geral, têm, como vimos, dificuldades em operar.
É difícil vender uma ideia sem a divulgar, de tal forma que outros podem usá-la sem ter
são suficientemente recompensados através dos lucros da venda das suas criações no
outro lado, o facto do conhecimento, de uma forma geral, ser um bem colectivo,
22
O valor social dos novos conhecimentos é muitas vezes superior ao valor privado. Na
das invenções, de forma a que a diferença entre o valor privado e valor social diminua
Acresce que, as empresas ou organizações apenas irão incorrer nos custos de geração de
custos de reprodução), caso consigam prever lucros sobre eles. Segundo Bainbridge
(1999), a única maneira pela qual isto pode ser assegurado é através de alguma forma de
Sem este tipo de protecção outra empresa poderia roubar a ideia e vender o produto por
um preço muito inferior àquele que a empresa originadora poderia alguma vez praticar.
A outra empresa produtora teria, assim, uma vantagem considerável, uma vez que não
teria nenhum dos custos (de desenvolvimento do produto), excepto talvez, alguns custos
2
in (Van Dijk, 1994)
23
desenvolveram um mercado para o conhecimento tecnológico. A actividade inventiva é
(ETAN, 1999)
desenvolvimento, que esse progresso seja partilhado pela Sociedade a favor do Bem
Estar Social.
I&D tomando estes como ponto de partida. Por outro lado, ao atribuir direitos
24
Na sequência da realização de um estudo sobre esta matéria, Mansfield et al. (1981)
estimaram que os custos de imitação representam em média apenas 65% dos custos de
inovação. A análise por Levin et al. (1987) dos resultados de um inquérito a gestores de
topo de I&D em 130 linhas de negócio revelou que, mesmo nos casos em que as
empresas são capazes de duplicar a inovação. Para um típico produto novo, em 70% dos
casos, 6 ou mais empresas são capazes de produzir uma imitação. Estes estudos revelam
Neste âmbito existem dois aspectos importantes, o tempo e o custo de imitação. Quanto
maiores forem os custos de imitação face aos custos da inovação, e quanto maior for o
tempo de imitação, menor será a rapidez com que a inovação será imitada. Assim, para
As patentes constituem um dos instrumentos ao dispor das empresas que lhes pode
cuidadosamente o que proteger através de patente e que informação deverá ser mantida
em segredo.
25
Outro aspecto a considerar, que será abordado com maior detalhe em pontos
patentes sobre inovações similares que podem não ser usadas, mas que podem evitar
concorrentes imitarem as suas inovações. Uma carteira de patentes bem gerida poderá
Mansfield3 (1968) refere que, nos EUA, o tempo que medeia entre o primeiro uso de
uma grande inovação e a altura em que 60% de todos os produtos relacionados imitaram
a inovação pode ser tão curto quanto um mês ou um ano, ou tão longo quanto várias
décadas.
de 11% para a totalidade das empresas estudadas, de 30% nas farmacêuticas, de 10%
De forma similar, o inquérito de Levin et al. (1987) revelou que o custo de duplicação
de uma inovação, como percentagem dos custos dos inovadores, é mais elevado para
3
in (Carlton et. al., 1999)
26
patenteados. Como resultado, apesar de obter uma patente requerer revelar informação a
Deste modo é possível afirmar que mesmo que as restrições das patentes possam ser
1981), cerca de metade das inovações patenteadas não teria sido introduzida sem a
indústria farmacêutica.
bens físicos.
A posse dos “bens” intelectuais difere substancialmente da dos bens físicos, o que
caso ocorra o furto de um bem físico a situação inicial poderá ser reposta e o bem
devolvido ao seu legítimo dono, o mesmo não é possível concretizar no caso dos bens
27
intelectuais. Um antigo provérbio chinês expressa bem o fundamento desta questão: se
dois indivíduos, cada um com um pão, trocam os pães cada um segue com um pão; mas
se dois indivíduos se cruzam, cada um com uma ideia, e trocam as ideias, cada um
mesma forma que o conceito de propriedade física pode ser baseado na posse dos bens
físicos.
Ao contrário do que se passa com os bens físicos, o conhecimento pode ser partilhado a
custos nulos ou praticamente nulos, após gerado, e de forma quase ilimitada entre os
indivíduos. O conhecimento é um bem não rival, e o seu consumo por indivíduo não
A exploração do conhecimento implica muitas vezes que este seja revelado, por isso a
exclusão do uso do conhecimento por outros também implica custos indirectos para o
detentor da informação.
Tal como formalizado por Nordhaus5 (1969), no caso de bens não rivais, os direitos de
4
in (Albuquerque, 1998)
5
in (Van Dijk, 1994)
28
Os direitos de propriedade intelectual, e especificamente as patentes, apresentam duas
protegem a empresa de outras empresas ainda que estas tenham gerado a invenção de
A necessidade deste tipo de exclusão pode ser fundamentada com dois argumentos. Por
um lado, o facto de os custos para comprovar que a outra invenção foi de facto gerada
de forma independente poderem ser demasiado elevados. Por outro lado, a adopção de
determinado pela vantagem de custos da entidade que realizasse a I&D, enquanto que,
com direitos de exclusão fortes a realização de I&D é orientada pelo valor social da
invenção.
Assim, do ponto de vista social, a distribuição dos resultados da I&D é mais favorável
informação técnica ser um bem colectivo que, como tal, deveria ser disponibilizado a
custo zero o que, no entanto, não é possível se se pretender dar um incentivo à inovação.
29
incentivo à inovação e a nova informação técnica será disponibilizada ao público a
É oferecido aos inventores um direito de propriedade mais forte e mais efectivo do que
o seu direito natural, sobre a condição de que estes percam todos os direitos sobre a
pretende privatizar determinam, tal como foi visto neste ponto, que as patentes sejam
privada tenha um carácter temporário com a total exclusividade durante esse período.
30
CAPÍTULO 2. A PROPRIEDADE INDUSTRIAL – ENQUADRAMENTO GERAL
at managing intellectual property will win. The ones that aren’t will lose.”
cada vez mais importante nas estratégias das empresas a nível mundial, sobretudo no
questões: a forma como este sistema pretende funcionar como um incentivo múltiplo da
A difusão da inovação é outra das temáticas tratadas, com bastante significado quer para
que as patentes têm neste processo, sendo apresentadas duas perspectivas da influência
e outra na qual esta é tida como um estímulo à difusão; neste contexto, serão abordados
31
considerar, ainda neste âmbito, são as formas como o detentor da patente poderá
Por último, serão ainda apresentados alguns dados sobre o nível de patenteamento em
PROPRIEDADE INDUSTRIAL
Neste ponto procurar-se-á apresentar alguns dos conceitos mais relevantes na área da
Propriedade Industrial e que serão usados nos pontos subsequentes deste trabalho.
com maior relevância para o âmbito deste trabalho, sendo dada particular atenção às
patentes.
32
De acordo com Bainbridge (1999), os direitos de propriedade intelectual correspondem
à área da lei que diz respeito aos direitos legais associados ao esforço criativo, à
2001)
Os trabalhos literários, artísticos e científicos são protegidos pelos direitos de autor; são
De acordo com Andrez 2 (2002), a propriedade industrial tem por objectivo a protecção
das invenções e das criações estéticas, com aplicação industrial, e dos sinais distintivos
33
Ao nível da propriedade industrial é possível proteger as invenções através das patentes
2.1.2. PATENTE
direito de usá-la por um período suficientemente longo para estabelecer o seu negócio.
(OCDE, 1997)
processo, em todos os domínios da tecnologia, concedido pelo Estado, com uma dada
6
Esta expressão em latim pode ser traduzida como “cartas abertas”. As “cartas abertas” continham o selo
do rei no seu interior, o que lhes permitia serem usadas mais do que uma vez, em oposição às “cartas
fechadas” que concediam direitos especiais e apenas podiam ser usadas uma vez, porque após quebrado o
selo real estes perdiam o seu valor. (Van Dijk, 1994)
34
duração, para evitar que terceiros realizem dentro desse território determinadas
ser suficientemente compreensível para que qualquer pessoa com conhecimentos nessa
área particular possa ser capaz de dar utilidade prática à invenção. (Bainbridge, 1999)
universal, existindo algum debate sobre esta matéria. Em Portugal, e em muitos outros
países, é considerado estado da técnica tudo o que foi tornado público, dentro ou fora do
7
As reivindicações constituem um dos elementos necessários ao pedido de uma patente, no qual é
efectuada uma descrição do que é considerado novo e que caracteriza a invenção (INPI, 2003). As
reivindicações definem a área do monopólio.
35
O segundo requisito enunciado diz respeito à exigência de que a invenção implique
actividade inventiva, ou seja, que esta não resulte, para um perito na especialidade, de
Para que uma invenção seja patenteável tem de ser passível de aplicação industrial, o
que significa que é necessário que exista a possibilidade de fabricar ou utilizar o seu
Por último, é necessário que a invenção incida dentro do âmbito das matérias que
Neste ponto, procurar-se-á apenas abordar de forma resumida alguns dos principais
direitos de propriedade industrial, que, no caso dos desenhos ou modelos e das marcas,
podem ser usados pelas empresas nas suas estratégias de diferenciação de forma
complementar à protecção conferida pelas patentes. Assim, neste ponto apenas será feita
36
Em muitos países as invenções também podem ser protegidas sob a forma de modelos
de utilidade.
inventiva), admitindo-se, na maior parte das vezes, uma melhoria para conferir maior
desempenho técnico dos produtos, das diversas empresas concorrentes num dado
estético do produto e pelo seu custo. A aparência visual dos produtos pode funcionar
37
Desta forma, a protecção legal conferida pelos desenhos ou modelos pode ter uma
categoria. Muitas vezes estes produtos não dispõem, para o consumidor, de diferenças
funcionamento do sistema de patentes, ou seja, a lógica básica deste sistema. Com este
38
de monopólio através das patentes, sendo explorados os seus custos e benefícios para as
relevantes no âmbito da atribuição de uma patente óptima, para o que serão analisadas a
assegurar a existência de incentivos diversos, para além daquele para inovar e fomentar
a difusão da tecnologia.
através das quais um sistema de patentes eficiente contribui para esse objectivo:
às actividades inovadoras;
39
A referência de Rosegger (1986) à importância das patentes na criação de um ambiente
particularmente importante, uma vez que realça o contributo que as patentes podem
Da mesma forma, Granstrand (1999) destaca que o “sistema de patentes pretende ser
De acordo com esta perspectiva a posse de uma patente confere uma garantia de que, se
económicos poderão ser apropriados, o que sugere que um papel importante das
produtos.
Do referido deriva um outro aspecto, o papel da posse de uma patente caso o inventor
comercialização de tecnologias.
40
Mazzoleni e Nelson (1998) fazem referência a um outro contributo das patentes, isto é,
acordo com esta visão, a invenção inicial é vista como o surgir de um vasto leque de
não houvesse uma patente para servir como mecanismo de controlo, uma série de
incremental (redução de custos), este autor assume que quanto maior for o grau de
protecção por patente, maior será o volume de recursos que a empresa irá destinar à
patente é mais eficaz quando a protecção por patente inicialmente é fraca e nos países
investimento inovador.
41
2.2.2. A PATENTE COMO DIREITO DE MONOPÓLIO
Alguns autores, como Bainbridge (1999) e Granstrand (1999), vêem a patente como
detentor dos direitos aceita divulgar a informação, relativa a essa invenção, ao público.
uma vez que o direito é temporário. Uma característica básica da actividade inovadora é
42
Por forma a melhor ilustrar, do ponto de vista teórico, a lógica do funcionamento das
patentes apresenta-se a figura 4, tendo por base o modelo desenvolvido por Arrow8
(1962).
(ver figura 4). Após a introdução de uma inovação de processo pela empresa Y que lhe
permite reduzir os seus custos, o custo marginal desta empresa passa a ser de Cmg2.
P, Cmg
P1 A Cmg 1
P2 B
Cmg 2
C
Rmg Procura
Q1 Q2 Q
descida dos preços pela empresa Y seria acompanhada pelas outras empresas, não sendo
8
in (Albuquerque, 1998)
43
investimentos realizados em I&D. No entanto, a descida do preço de P1 para P2
possibilitaria aumentar o Bem Estar Social (área ABC), dado que seria possível adquirir
Por outro lado, a manutenção dos preços significaria que todas as empresas iriam
sociedade não iria captar nenhum dos benefícios da inovação, uma vez que o preço e
Com a concessão de uma patente à empresa Y, o seu novo processo não poderá ser
copiado e a empresa pode baixar o seu preço, de forma a eliminar toda a concorrência,
No caso de uma inovação radical de produto a análise seria diferente, uma vez que a
atribuição de uma patente, ao criar um monopólio (ver figura 5), possibilitaria que o
produto fosse vendido ao preço P1 e à quantidade Q1, uma vez que na determinação do
44
que o preço seria equivalente ao custo marginal (Cmg). A atribuição do monopólio
P, Cmg
P1 A
P2 B Cmg 1
C
Rmg Procura
Q1 Q2 Q
monopólios são superados pelos benefícios que servem para justificar a concessão de
realizados muitos esforços para investigar esta temática, os resultados não são
45
Bainbridge (1999) sustenta que o interesse público, apesar de aparentemente
novas e úteis.
Tal como acima exposto as patentes ao atribuírem monopólios podem levar a perdas do
46
pontos subsequentes deste trabalho, as patentes não serem o único
Apesar de as patentes não produzirem apenas efeitos positivos sobre o Bem Estar
Social, muitos dos estudos económicos concluem que o trade-off entre benefícios e
Uma patente óptima é uma patente que maximiza os benefícios da invenção a que
respeita, ou, por outras palavras, uma patente que consegue obter o melhor equilíbrio
47
Estes aspectos têm sido objecto de análise e discussão por diversos autores; tendo em
conta os objectivos deste trabalho, neste ponto procurar-se-á apenas transmitir algumas
DURAÇÃO DA PATENTE
leva, por um lado, a um aumento dos lucros que o inventor pode obter com a invenção,
Nordhaus9 (1969) foi o primeiro autor a abordar esta problemática do ponto de vista
I&D. Com uma maior elasticidade do preço da procura do novo produto, a duração
óptima da patente é menor, uma vez que o preço de monopólio mais elevado implica
Por outro lado, se são obtidos ganhos de produtividade mais elevados com um dado
nível de I&D, a duração da patente também será menor, uma vez que a I&D é mais
9
in (Verspagen, 1999)
10
in (Verspagen, 1999)
48
dimensão da perda de bem estar social. A duração socialmente óptima é obtida quando
Para Sherer11 (1972) o ideal seria uma política que procurasse definir a duração de cada
patente não seja óptimo do ponto de vista teórico, este é, no entanto, inevitável na
prática.
Nas suas conclusões Nordhaus (1972) sugere que uma patente de maior duração é
preferível a uma patente de menor duração, acrescentando que não deviam ser
concedidas patentes para inovações triviais, por forma a evitar o abuso do sistema. Este
monopólio.
11
in (Albuquerque, 1998)
49
Apesar de ser dado um grande ênfase à duração da protecção da patente, a evidência
empírica parece indicar que a relevância desta dimensão poderá ser menor do que é
muitas vezes considerado. Pakes and Schankerman (1986) efectuaram um estudo que
demonstra que muitas vezes a duração efectiva das patentes é inferior à sua duração
legal.
AMPLITUDE DA PATENTE
O que é deixado para outros explorarem, não sendo apropriado pelo inventor, depende
da sua protecção.
do produto13.
12
in (Verspagen, 1999)
13
Com diferenciação horizontal, os produtos são diferenciados em variantes que não podem ser
hierarquizadas em termos de uma medida de qualidade objectiva, mas que, no entanto, são distintos.
50
De acordo com esta abordagem, a inovação tecnológica é tida como um processo no
preferências dos consumidores permitem que cada nova variante crie a sua própria
procura, sem capturarem completamente o mercado. Assim, uma patente mais ampla
parâmetros, tais como as diversas elasticidades, sendo de considerar que patentes mais
patente, isto é, os benefícios da invenção futura possam ser captados pelo detentor da
invenções importantes numa determinada área tecnológica, pelo que patentes muito
51
Também Mazzoleni e Nelson (1998) alertam para os perigos de uma tendência para
patentes de maior amplitude. Estes autores consideram que uma patente ampla numa
determinada área cria uma barreira à entrada a outras empresas que não têm acesso a
particular em áreas em que as externalidades sejam elevadas, as patentes não devem ser
ALTURA DA PATENTE
A altura das patentes aborda o problema da relação entre inovações subsequentes, entre
gerações de inovações.
instância dos requisitos de novidade. Quanto mais exigentes forem estes requisitos e,
se encontra o detentor da patente. Até agora poucas análises teóricas têm sido realizadas
a esta dimensão.
Van Dijk (1994) considera que a altura da protecção pode ser descrita num modelo de
52
verticais, esperando-se que todos os consumidores preferiram, a preço iguais, o produto
desenvolveu uma inovação incremental ao produto, Van Dijk (1992)14 examina a forma
como a altura das patentes afecta a concorrência. As conclusões são que “baixas”
patentes não afectam a livre concorrência, uma patente intermédia pode beneficiar o
absoluto.
Segundo Scotchmer (1991), por um lado, uma protecção muito ampla à primeira
geração de produtos. Por outro lado, uma protecção fraca não recompensa
Do exposto é possível verificar que a atribuição de uma patente óptima implicaria uma
apreciação das três dimensões caso a caso, o que na prática é impraticável. Os critérios
adoptados pelo sistema de patentes apenas podem procurar atingir o melhor equilíbrio
possível, entre benefícios e custos, ainda que o equilíbrio obtido não seja o óptimo.
14
in (Van Dijk, 1994)
53
No entanto, as considerações abordadas, e outras não apresentadas aqui, acerca das três
construção de estratégias empresariais cada vez mais eficientes, por forma às empresas
sistema de patentes.
inventor/inovador.
Contudo, ao atribuir um monopólio a patente pode ser, e de facto é por diversos autores,
tecnologia é o processo pelo qual as inovações, sejam estas relativas a novos produtos,
novos processos ou novos métodos de gestão, são divulgadas dentro e ao longo das
Noutra perspectiva o sistema de patentes pode ser tido não como um elemento de
bloqueio da difusão, mas sim como um estímulo, sendo na verdade este o segundo
15
in (Baptista, 1999)
54
objectivo do sistema, promover a difusão da inovação. Neste ponto procurar-se-á
Finalmente, será abordada a forma como as patentes podem permitir ao seu detentor
económico dos novos produtos e processos depende da velocidade com que são
análise, o efeito das mudanças tecnológicas no bem estar económico depende do grau de
Rosegger (1986) agrupou - na sequência da análise dos factores mais referenciados nos
adoptantes;
3. Factores relacionados com os mecanismos através dos quais a difusão tem lugar;
indústrias se inserem.
55
Neste âmbito, Rosegger (1986) enquadrou o papel do sistema de patentes nesta última
categoria de factores, referindo que, por um lado, se espera que a existência de fortes
direitos de patente impeçam a difusão de uma nova inovação base, durante o período da
protecção legal. Por outro lado, refere que a ausência desta protecção para um
Por outro lado, há que considerar que o monopólio concedido é limitado no tempo e não
renovável, pelo que as invenções poderão ser exploradas livremente após o período de
vigência da patente. Acresce ainda que, as patentes fornecem um incentivo para tornar
56
Na opinião de Park (2003), as políticas e as instituições de protecção da propriedade
intelectual são importantes para a actividade inovadora e para a subsequente difusão das
destacar que:
todo o mundo;
não esquecendo que foi este último quem efectuou os investimentos, em tempo e
16
in (Baptista, 1999)
57
detentor da patente comercializar ou produzir a invenção nos territórios em que
futuros.
Importa agora analisar o modo como a patente pode permitir ao seu detentor influenciar
inovadoras para que possam manter-se competitivas. No entanto, não basta introduzir e
dos concorrentes actuais e/ou potenciais, mas também junto dos potenciais
Do ponto de vista da empresa inovadora é importante procurar criar uma rápida difusão
vendedores. As patentes podem ser utilizadas para este efeito (Granstrand, 1999). Por
58
sinalizando a sua superioridade técnica junto dos potenciais compradores, aumentando
assim a difusão do lado dos compradores. Por outro lado, as patentes podem servir de
patentes, dos modelos ou desenhos e das marcas de forma integrada pode potenciar os
protegida, dando-lhe um aspecto único, que não poderá ser usado pelos concorrentes.
Por outro lado, através da utilização da marca a empresa pode distinguir um produto do
dos seus concorrentes, sendo que constitui um direito que pode ser continuamente
Outro aspecto a referir é que o aumento da difusão do lado dos vendedores também
poderá ser vantajosa para a empresa, uma vez que poderá permitir aumentar a dimensão
do mercado. A concessão de licenças pode ser uma forma de concretizar este objectivo.
59
De acordo com Granstrand (1999), as patentes possibilitam ao seu detentor criar um
Vendas do Inovador
Avanço tecnológico no
Número de mercado através da
Vendedores patente
seus investimentos, bem como ser usada para construir uma estrutura sólida, de modo a
que, após o término da patente, a empresa consiga manter uma importante posição no
mercado.
De salientar que, ainda que a empresa tenha um elevado registo de invenções, se não
difundir devidamente as inovações que introduz, poderá permanecer sempre atrás dos
seus concorrentes.
60
Assim, os processos de difusão junto de compradores e vendedores, bem como a sua
uso das patentes, e com vista a enquadrar o estudo de casos a realizar no capítulo 4,
residentes em Portugal, pela via nacional, não registaram, num período de 10 anos,
grandes alterações, sendo que os valores flutuam próximo dos 100 pedidos por ano.
61
GRÁFICO 1: Evolução dos Pedidos de Patente da Via Nacional por Residentes e Não
Residentes em Portugal
1200
1000
Nº de pedidos
800
600
Residentes
400 Não Residentes
200 Total
0
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Já os valores relativos aos pedidos, pela via nacional, por não residentes sofreram uma
redução abrupta a partir do ano de 1992, o que se explica pela entrada em vigor, em
de mais duas vias alternativas (via europeia e via PCT) para a realização de pedidos de
vários países através de um único pedido, veio facilitar o acesso e a entrada de pedidos
país.
No entanto, tal como é visível no gráfico referido, isto não levou a alterações no número
de pedidos efectuados por residentes, o que pode ser explicado pelo facto de muitas
vezes os requerentes optarem por efectuar primeiro por um pedido pela via nacional,
beneficiando da sua data de prioridade no caso de optarem mais tarde por uma das
62
Um indicador, usado pela OCDE, do nível de dependência tecnológica consiste na razão
Portugal em relação a outros países da OCDE, o que permite verificar que o nosso país
apresenta, no ano de 2001, um índice muito elevado, de quase 100%, o valor mais
entanto, a maioria destes países têm níveis superiores a 95%, apenas os Estados Unidos
Portugal 99,9
Luxemburgo 99,9
Irlanda 99,1
Dinamarca 98,6
Espanha 98,0
Finlândia 97,8
Holanda 97,7
Noruega 97,0
Suécia 96,4
França 89,1
Alemanha 68,4
EUA 47,7
Japão 17,7
Por forma a ilustrar o reduzido grau de utilização das patentes em Portugal, junta-se
efectuados junto do Instituto Europeu de Patentes pelos residentes dos países da União
Europeia, pelos EUA e pelo Japão, utilizando como ponderador a dimensão das
63
comparado com outras economias desenvolvidas, em particular na União Europeia,
375 367
338
310
300
243
211 211
225
174 170 175
152 161
155 145 133
143
150
86 109 109 97
91 96 75 90 92
74 84 81
75
75 46
8 24
25 5
4 9 1
0 1992
1992
da
ca
do
ha
al
15
A
o
a
2001
nd
rg
nh
EU
ug
ar
an
ni
an
E
bu
la
pa
am
rt
U
ol
m
Ir
Po
Es
no
le
in
xe
A
ei
D
Lu
outros países, tais como a Grécia, a Espanha ou a Irlanda, que há 10 anos atrás também
realizado pelo CISEP (2003), para o INPI. Neste estudo é efectuada uma análise
64
existentes em bases de dados do INPI, considerando o período de 1980 a 2001, e num
Ao nível dos países de origem dos pedidos, pela via nacional, de não residentes é
possível afirmar que os mais importantes são os EUA com 35% dos pedidos, a França
(16,3%) e o Reino Unido (10,8%), acresce ainda que cerca de metade dos pedidos de
de patenteamento em Portugal. Das patentes atribuídas neste período apenas 22% foram
a empresas.
TITULARES % CONCESSÕES
Empresas 22%
65
com 16,8%. De referir que, a classificação utilizada corresponde às secções da
No âmbito do estudo realizado pelo CISEP (2003) e, já referenciado, foi ainda realizado
neste trabalho se considerou como pertinente, uma vez que permite perceber melhor a
Assim, os resultados que foram tidos como os mais relevantes, para os objectivos deste
9,5% elevada; não se notando, que para o futuro, haja uma alteração substancial
desta atitude.
66
As indústrias de alta e média intensidade tecnológica revelam um interesse
(25,6%).
imagem” da empresa.
patentes.
As patentes não se têm distinguido por permitir uma política de preços mais
elevada.
mudança de estratégia.
67
Tal como se pôde verificar, ao longo deste ponto, o uso do sistema de patentes em
sistema, nomeadamente das suas vantagens e desvantagens, como uma das causas
68
CAPÍTULO 3. A IMPORTÂNCIA DAS PATENTES PARA A ESTRATÉGIA DE
NEGÓCIO DA EMPRESA
Com a evolução das tecnologias e dos mercados, a concorrência é cada vez mais
protecção dos seus activos intangíveis são, também, crescentes, em particular daqueles
melhorados.
uma crescente relevância na estratégia global da empresa, sendo aqui explorada a sua
competitividade em geral.
Num último ponto procurar-se-á abordar alguns aspectos de duas das principais
estratégias de patenteamento.
69
3.1. ESTRATÉGIAS PARA CAPTAR OS BENEFÍCIOS FINANCEIROS DAS
INOVAÇÕES
As estratégias para captar os benefícios financeiros das inovações ao longo dos tempos,
evolução tecnológica contínua, em que asseguram aos seus detentores a recuperação dos
Por último, considerou-se ainda que seria relevante o estudo da importância das patentes
para empresas de diferentes dimensões, pelo que se procurará num último ponto analisar
Com base num inquérito realizado, em 1994, a 1478 laboratórios de I&D da indústria
transformadora nos EUA, Cohen, Nelson e Walsh (2000) verificaram que as empresas
70
No estudo de Cohen et al. (2000), o segredo e a evolução tecnológica contínua foram
considerados os dois mecanismos de apropriação mais eficazes para cerca de 50% das
O papel do segredo é mais evidente no caso de inovações de processo, uma vez que nas
segredo para inovações de produto demonstram que as patentes e o segredo nem sempre
numa fase mais avançada procurar obter uma vantagem competitiva através do uso de
71
3.1.2. AS PATENTES COMO MECANISMO DE APROPRIAÇÃO
diferiram entre empresas e nos diferentes sectores. Algumas empresas (como a Michelin
protecção por patente sempre que possível: isto é visto como uma estratégia por forma a
1997)
Por outro lado, outras empresas, como a IBM, exploram ao máximo as vantagens das
patentes e, entre outros benefícios, recebem royalties das licenças concedidas sobre
patentes que representavam no ano 2000 cerca de um nono dos seus lucros anuais (antes
Alguns sectores (por exemplo o farmacêutico e de uma forma mais geral os químicos)
tendem a atribuir a prioridade às patentes. A um nível mais agregado, uma regra geral
parece ser a de que quanto maior for o investimento em I&D num dado sector, maior é a
Num estudo realizado, nos EUA, por Levin, Klevorick, Nelson e Winter, em 1987, as
materiais plásticos.
72
No estudo realizado por Cohen et al. (2000) foi possível observar que as patentes não
distinguem-se por revelar uma preferência superior por patentes. Nos equipamentos
médicos e nos medicamentos, as patentes são consideradas eficazes para mais de 50%
Também nos estudos realizados por Arundel e Kabla (1998) e por Brouwer e
instrumentos de precisão.
precisão.
Uma comparação entre o estudo de Levin et al. (1987) e o de Cohen et al. (2000) revela
resultados do estudo de Cohen et al. sugerem que entre 1983 e 1994 as patentes
ocuparam, num crescente número de indústrias, um papel mais central nos esforços das
73
No estudo efectuado por Arundel e Kabla (1998), em que os dados são relativos a um
para patentear inovações de produto é de cerca de 35,9%, variando entre 8,1% no caso
patentear inovações de processo é de 24,8%, variando entre 8,1% nos têxteis e 46,8%
Brouwer e Kleinknecht, 1999) quer nos EUA (Cohen et al., 2000; Levin et al., 1987)
Verifica-se, assim, alguma consistência nos diversos estudos empíricos quanto aos
surpreendente, uma vez que as inovações de processo estão menos sujeitas ao escrutínio
Por outro lado, as patentes são consideradas menos eficazes para a protecção das
uma vez que as infracções são mais difíceis de detectar nas inovações de processo dado
74
Em jeito de uma primeira conclusão, dir-se-ia que as patentes podem contribuir de
actividade que se considere, dado que a sua eficácia está também dependente de
mesmo nos sectores que mais a ela recorrem, esse recurso não é universal.
inovadores que tentam entrar em mercados em que a protecção conferida pelos direitos
forma mais detalhada, as condicionantes que determinam a maior ou menor eficácia das
produção (i.e., uma produção complexa, contínua e capital intensiva pode depender
75
dentro da indústria (i.e., a importância relativa do preço versus “estar na linha da
Para Arundel (2000), três grupos de factores podem influenciar a importância relativa
dispendioso).
Simões (2002) considera que a protecção das patentes está longe de ser absoluta e que
Cabe agora analisar com maior detalhe alguns factores agrupados pelos diversos autores
76
Um primeiro aspecto refere-se à facilidade com que um produto pode ser reverse
engineered; se isto for simples, a protecção por patente será provavelmente preferida.
(OCDE, 1997)
Um outro aspecto tem ver com a capacidade de defender o direito após a sua concessão,
o que envolve não só a capacidade das instituições para assegurar o respeito dos
concorrentes pelos direitos atribuídos a uma dada empresa, mas também a capacidade
menosprezados os custos financeiros que a defesa dos direitos pode envolver, factor
actividades de I&D, apenas um terço dos inquiridos disse usar as patentes para proteger
Um outro aspecto a considerar é o ciclo de vida do produto. A aposta nas patentes para a
protecção de produtos cujos ciclos de vida são curtos poderá não trazer grandes
vantagens, sendo que o avanço tecnológico poderá ser mais benéfico. Por outro lado, no
17
in (OCDE, 1997)
77
caso de produtos com ciclos de vida longos a posse de uma patente poderá ser
determinante, uma vez que esta poderá proporcionar ao seu detentor exclusividade
empresa poderá não só recuperar investimentos, como também consolidar uma posição
da patente.
respondeu que introduziam inovações mais rapidamente que os concorrentes, uma vez
que o ciclo de vida dos seus produtos era em média pouco mais longo do que o tempo
necessário para um pedido de patente bem sucedido na Europa (cerca de 2,5 a 3,5 anos)
(Fest, 1996)18
mercado para inovadores com boas ideias comercializáveis dependem não só dos
desenvolvimento.
desenhos são fluídos, os processos de produção ainda não estão consolidados e estão
desenhos, que são marcadamente diferentes uns dos outros. A dada altura no tempo,
18
in (OCDE, 1997)
78
classe mais limitada de desenhos, quer de forma natural ou patrocinada, como a mais
defesa desta última, sendo que o design poderá constituir uma importante forma da
concorrência migra do design para o preço. Para além disso, após a estabilização do
adequado aos mercados de consumo de massa em que os gostos dos consumidores são
Os melhores conceitos iniciais de design muitas vezes acabam por não ser os correctos,
mas se o inovador possuir uma patente forte ou se possui tecnologia que é simplesmente
necessário para definir o melhor design sem ser eclipsado pelos imitadores que corrigem
as falhas iniciais no design. O inovador pode então ultrapassar esta fase inicial de
79
estratégico na forma de ser bem sucedido após o surgimento do design dominante.
(Teece, 1992)
Sociedade, das patentes é o facto destas exigirem a divulgação da invenção, uma vez
que a informação divulgada pode revelar aos concorrentes informação importante sobre
da patente.
No estudo de Cohen et al. (2000), a razão mais citada pelas empresas para não patentear
literatura teórica que considera que as empresas usam o segredo quando a divulgação é
questão que está relacionada com a importância da decisão sobre o que proteger através
das patentes, ou seja, que informação revelar de forma a conferir um grau razoável de
80
Também a importância da exigência de divulgação e dos limites à eficácia das patentes
variar por sector de actividade. Por exemplo, a capacidade de uma empresa de inventing
imitação, uma vez que muitas tecnologias têm por base princípios gerais de engenharia
Por último, há ainda que considerar a existência de uma relação estratégica entre as
patentes e outras decisões (marketing, substituição dos produtos, etc.). (OCDE, 1997)
Do exposto é possível constatar que as estratégias a adoptar pelas empresas, por forma a
diversificado de factores.
Tal como explorado neste ponto, os principais factores a ter em conta, pelas empresas,
com que o produto pode ser objecto de reverse engineered, a eficácia legal dos
direitos após a sua concessão, o ciclo de vida do produto, a posição da indústria no ciclo
patenteamento da empresa, tal como será analisado em pontos subsequentes, sendo por
81
vezes possível desenvolver uma estratégia que bloquei a entrada dos concorrentes na
Outro aspecto muito importante aqui analisado e que importa realçar, e que deverá ser
empresa sobre que elementos proteger através da patente, tendo em conta que essa
este direito, recorrendo aos resultados de estudos empíricos realizados sobre esta
matéria.
Por um lado, pode argumentar-se que as grandes empresas têm uma maior capacidade
infracção dos mesmos. Poder-se-á ainda considerar que, atendendo à sua dimensão e ao
seu âmbito de acção, que muitas vezes tem um cariz mundial, estas empresas têm uma
82
Por outro lado, as grandes empresas poderiam depender menos das patentes, quer por
poderem usar as suas capacidades ao nível do marketing para criar vantagens de avanço
No entanto, também existem razões que podem levar as pequenas empresas a considerar
as patentes menos atractivas do que outros mecanismos de apropriação. Para além dos
custos com o pedido da patente, que podem ser uma barreira maior para as pequenas
empresas do que para as grandes, para as pequenas empresas pode ser muito mais difícil
Num estudo realizado pela Berger Consultants19 (1994) concluíram que os custos de
empresas.
19
in (Brouwer e Kleinknecht, 1999)
83
Outra possibilidade é o facto de a maioria das pequenas empresas, com excepção
daquelas que têm uma estratégia de alta-tecnologia, ter uma menor probabilidade de
inovações poderão constituir pequenos melhoramentos incrementais que não vale a pena
patentear.
PME:
sugere que as patentes podem ser de maior valor do que outros mecanismos de
que são incapazes de usar o poder de mercado ou outros factores para se apropriarem
84
produtos - estas empresas utilizam crescentemente os direitos de propriedade intelectual
detenção de patentes tem, para estas empresas, outro valor relevante: credibilidade junto
No estudo levado a cabo por Cohen et al. (2000) foi possível observar, em relação ao
que para um dado output de inovação, os inovadores mais pequenos têm uma menor
Nos estudos realizados por Arundel (2000) os resultados revelam que a probabilidade
de uma empresa valorizar mais as patentes que o segredo aumenta com um aumento na
dimensão da empresa para inovações de produto, enquanto que não há qualquer relação
Os estudos empíricos demonstram que se verifica um maior uso das patentes nas
encontrar vantagens consideráveis no uso das patentes quer pelas grandes quer pelas
85
pequenas empresas. Tal como analisado anteriormente neste capítulo, as vantagens que
podem ser obtidas através do uso das patentes são diversas, cabendo às empresas
necessidades competitivas.
Tendo em conta os resultados dos estudos, no que respeita ao recurso às patentes por
parte das pequenas empresas, e considerando as vantagens que estas empresas podem
No ponto anterior foi possível verificar que existem um conjunto de mecanismos a que
Neste ponto do trabalho pretende-se evidenciar que as patentes podem ser um activo
estratégico para as empresas e que as suas potencialidades de uso vão muito para além
do simples uso para exploração directa da mesma. Assim, será analisada a sua
86
pode ter, directa e indirectamente, nos resultados financeiros e a sua importância para a
Espera-se com este ponto conseguir evidenciar de que forma o uso das patentes pode
Num mundo em que as batalhas são cada vez menos travadas pelo controlo dos
mercados ou das matérias primas, e mais pelos direitos das novas ideias e inovações, a
gestão da propriedade industrial deverá tornar-se uma core competence das empresas de
sucesso.
detentor uma importante vantagem competitiva face aos seus concorrentes. Quando bem
Kline, 2000)
A obtenção de uma ou várias patentes pode ser uma importante forma de obter poder de
mercado, uma vez que estas conferem aos seus detentores direitos de exclusividade.
87
Por um lado, cada vez mais o “sucesso competitivo depende fortemente de estratégias
de valorização dos factores de diferenciação, quase todas associadas, por sua vez às
Por outro lado, mesmo as estratégias de competição pelos preços podem sair reforçadas
pelas patentes, uma vez que, estas asseguram também a protecção de inovações de
processo, que podem constituir novas formas de obter um dado produto com menores
custos. Contudo, dever-se-á realçar que, tal como visto no ponto 3.1, por vezes as
nas de produto.
pelos preços, uma vez que é um meio mais eficaz de obter uma vantagem sobre os
uma empresa com poder de mercado pode ser capaz de evitar a entrada de concorrentes
88
Assim, assegurar a protecção das tecnologias centrais do negócio pode ser um factor
Para que o poder de mercado conferido pelas patentes possa ser explorado da melhor
quais as patentes podem contribuir para estabelecer e preservar uma quota de mercado
dominante.
89
Por último, dever-se-á ainda referenciar as potencialidades das patentes em termos da
posicionar-se como uma empresa inovadora. A patente pode ser vista em última análise
como uma certificação de que aquela empresa realiza I&D numa determinada área e que
Assim, as patentes podem ser usadas também como mecanismos de informação aos
clientes actuais e potenciais, quer estes sejam outras empresas ou consumidores finais,
de que a empresa possui expertise nesta ou naquela área e, que possui algo de valioso
As patentes devem ser encaradas não só como instrumentos legais, mas também como
poderosos activos financeiros e como forças competitivas que podem ampliar o seu
Os mais importantes activos das empresas, hoje em dia, são os activos intangíveis, entre
90
Desta forma, as patentes podem ter um impacto considerável no desempenho financeiro
da empresa, podendo, inclusivamente, uma boa gestão destes activos melhorar este
desempenho.
exploração comercial dos produtos, ou das receitas obtidas por via do licenciamento,
informação sobre qualidade dos activos que detêm, bem como sobre o potencial da
empresa para obter lucros. Estudos levados a cabo por diversos economistas têm
contribuído, nomeadamente nos Estados Unidos, para transmitir aos mercados bolsistas
a importância da consideração do valor das patentes. À medida que cada vez mais
investidores adoptam esta perspectiva, o efeito de uma carteira de patentes bem gerida
Assim, as patentes podem servir como um meio de aumentar o gap entre o valor
contabilístico das empresas e o seu valor de mercado, e também como uma forma de
Contudo, para tal importa que a empresa constitua uma carteira de patentes bem gerida.
obrigatoriamente gerar receitas.” (Rivette and Kline, 2000) Como qualquer outro activo
91
benefício e, como tal só se deverá adquirir ou manter uma patente enquanto os
Desta forma, através de uma gestão adequada da carteira de patentes será possível
A conjugação com marcas bem conhecidas, poderá gerar uma combinação poderosa,
que encorajará outras empresas a procurar obter licenças para explorar as tecnologias da
empresa. Uma forte carteira de direitos de propriedade industrial é central para uma
Tal como já referido o licenciamento das patentes é uma das formas de obter receitas
através da patentes. Contudo, importa que a empresa licencie por razões pró-activas e
não por razões reactivas (Rivette and Kline, 2000), ou seja que a empresa tenha uma
estratégia de licenciamento das patentes. Esta pode ser uma forma de obter receitas em
mercados geográficos em que a inovação esteja protegida, mas que a empresa não tenha
capacidade de explorar, ou em áreas de negócio que não façam parte das opções
estratégicas da empresa.
92
As receitas do licenciamento dos direitos das patentes aumentaram de forma
Tal como disse Jan Jaferian20, vice-presidente da propriedade intelectual na Xerox, “se
empresas, no entanto, as suas potencialidades de uso vão claramente muito para além
Importa ainda analisar o impacto das patentes nas vendas e o nos preços dos produtos.
O impacto das patentes no output deverá resultar numa correlação positiva e desfasada
empresa, tal como nas vendas ou no aumento dos lucros (Griliches and Pakes, 1984;
Brockhoff21, 1999).
revelou que os pedidos de patente nacional levam a aumentos das vendas com um
europeia, que possuem uma qualidade superior à dos pedidos de patente nacional, têm
20
in (Rivette and Kline, 2000)
21
in (Ernst, 2001)
93
um impacto ainda maior no aumento das vendas com desfasamento de 3 anos após a
data de prioridade.
Os efeitos das patentes nos preços são complexos. Se uma empresa é capaz de patentear
um processo que reduz ligeiramente os custos, essa empresa pode captar o valor da
invenção e evitar que os preços baixem ao cobrar royalties às outras empresas. Grandes
Patentes para melhoramentos de produto podem resultar num aumento dos preços pela
Mais uma vez é possível verificar que os impactos e as potencialidades do uso das
patentes, neste caso considerando apenas uma perspectiva financeira, são diversos. As
patentes devem ser encaradas na empresa como um activo estratégico que não importa
apenas obter, mas que também e, sobretudo, exige uma gestão cuidada, para que a
empresa possa explorar todas as potencialidades que estas lhe oferecem, no contexto da
94
3.2.3. IMPACTO NA COMPETITIVIDADE DA EMPRESA
As patentes, tal como visto anteriormente, podem ter uma importância estratégica ao
da mesma, mas, para além destes aspectos, a posse de uma patente ou de uma carteira
empresa.
local ou regional, mas sim mundial, com todas as potencialidades conferidas pelas
actuais ou potenciais concorrentes assume cada vez maior importância. Neste contexto,
95
“as patentes constituem provavelmente a fonte mais potente de competitive
As patentes são um veículo de informação que pode permitir às empresas ter acesso à
posição nas tecnologias e nos mercados, podem ainda permitir a identificação de novos
com o estudo realizado por Ersnt (2001), e já referenciado no ponto anterior, uma vez
que este demonstra que a actividade das patentes precede a alterações significativas no
mercado.
Por isso mesmo, o estudo contínuo das actividades de patenteamento dos concorrentes é
de grande importância, uma vez que a informação pode ser usada para traçar conclusões
(Andrez 1, 2002).
96
A redução do risco é outro aspecto importante a considerar. Como uma fonte vital de
Apesar de em algumas indústrias a vida dos produtos poder ser muitas vezes inferior ao
tempo necessário para obter uma patente, o dispêndio de tempo e recursos para
Os casos da Kodak ou da General Electric são bons exemplos dos perigos que podem
respectivamente, sendo esta última uma empresa de menor dimensão que recebeu um
montante equivalente a dez vezes as suas receitas anuais na altura (Rivette and Kline,
2000).
97
Outro aspecto ainda pouco explorado são as potencialidades das patentes como
Desta forma, é possível explorar novas oportunidades de mercado, sendo, por vezes,
A entrada em novas áreas de negócio pode também ser efectuada através de fusões,
aquisições, joint ventures, alianças ou simplesmente através do licencise in, para o que a
informação contida nas patentes pode mais uma vez contribuir para a selecção dos alvos
adequados.
vez mais, são usadas como “cartas de trunfo”, com as empresas a pedirem a protecção
para a usarem como “moeda de troca” para negociar licenças ou alianças com
A gestão tem-se tornado mais consciente do valor das patentes como fonte de
empresas, de modo a que o patenteamento é cada vez mais encorajado. (OCDE, 1997)
empresas mais facilmente identificar e serem identificadas por parceiros com quem
licenciamento cruzado.
98
“A detenção de patentes pode ter um efeito de sinalização e de credibilização
(Simões, 2002)
Para além da tradicional motivação para o uso das patentes, isto é, como forma de
por parte dos concorrentes, de modo a evitar o inventing around da invenção protegida,
e para assegurar à empresa uma posição favorável nas negociações sobre tecnologia.
“We created a patent wall with 22 patents. And they were all interlocking so
formas de evitar o inventing around da patente por parte dos concorrentes. De salientar
99
que, a facilidade de inventing around, ilustrada pela figura 7, foi no estudo de Cohen et
al. (2000) referida pelas empresas inquiridas como a principal razão para não patentear
Patente x
Este tipo de estratégia pode ser útil sobretudo nas indústrias ou tecnologias em que é
substitutos para eliminar essa possibilidade aos rivais, construindo o que é por vezes
Patentes da
empresa
De acordo com Cohen et al. (2000), este tipo de estratégias é adoptada sobretudo nas
100
Nas indústrias de produtos discretos, tais como os medicamentos, as patentes são
inventing around é maior, a eficácia das patentes é menor, e, como tal, o uso de patent
fences para impedir o desenvolvimento de alternativas competitivas pode ser uma forma
No estudo de Cohen et al. (2000), a um nível agregado, 82% dos inquiridos indicaram
como razão que motivava as suas decisões mais recentes para pedir a protecção por
Também os japoneses usam as patentes de uma forma defensiva para evitar conflitos e
(Bainbridge, 1999)
Este tipo de estratégias pode ainda ser encarada não só como uma forma de proteger
101
uma tecnologia, na qual a entidade patenteadora pretende estabelecer-se ou fortalecer
Por último, o uso de patent fences pode servir para garantir o avanço tecnológico em
informado de que uma patente foi concedida, ou que está pendente, o concorrente terá
de ser bastante cuidadoso antes de produzir um produto (ou usar um processo) que
exploração da invenção, mas também manter os concorrentes fora das áreas próximas
isto poderá ser útil para tornar legalmente mais difícil o invent around da invenção
protegida. Por outro lado, poderá constituir uma forma de evitar a concorrência, mesmo
de produtos que não infrinjam a invenção, mas cuja comercialização poderá afectar a
As estratégias ofensivas são usadas pelas empresas, quer para assegurar um espaço de
exploração própria, quer por forma a reforçar a sua capacidade de negociação face a
102
Estas estratégias são usadas sobretudo naquelas que são consideradas por Cohen et al.
Neste caso, possuir uma patente sobre um dos elementos pode bloquear a aquisição de
compelir o acesso à sua tecnologia pelos rivais ou pelo menos proteger-se de litígios,
Esta utilização das patentes constitui aquilo que foi classificado por Simões (2002)
como “proteger para trocar”. As empresas procuram constituir carteiras de patentes que
têm sobretudo como objectivo delimitar o seu território e funcionar como moedas de
Também neste caso o patenteamento pode tornar-se um veículo para impedir a entrada
Assim, as patentes são usadas por forma a assegurar a presença das empresas no
grau de cooperação entre elas, uma vez que o licenciamento cruzado é muitas vezes
imprescindível.
103
CAPÍTULO 4. ANÁLISE EMPÍRICA - ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE
A análise empírica realizada no âmbito deste trabalho será concretizada com base num
estudo de casos de empresas portuguesas com alguma experiência na protecção das suas
para o estudo.
destas empresas, apresentar uma breve caracterização das mesmas e analisar a sua
política de protecção por meio de patentes. Num último ponto deste capítulo, serão
A selecção das empresas objecto de estudo teve por base uma consulta efectuada junto
104
domínio da utilização da Propriedade Industrial, nomeadamente no que respeita ao uso
das patentes.
Desta consulta resultou a indicação de sete empresas, seis das quais serão objecto de
análise no âmbito do presente trabalho, dado que se afiguraram como os casos mais
interessantes para este estudo. A sétima empresa foi inquirida fora do prazo para
das invenções destas empresas, foi realizada uma entrevista aos responsáveis por cada
Cada uma das entrevistas foi orientada por um guião previamente elaborado, que se
encontra em anexo, no qual se organizaram as linhas mestras da conversa a ter com cada
As entrevistas tiveram lugar entre o dia 22, de Setembro e o dia 17, de Outubro de 2003.
empresas objecto do estudo e efectuada uma breve caracterização genérica das mesmas.
patentes. Por último, serão expostos os principais aspectos que as entrevistas permitiram
105
Desde o primeiro contacto foi assegurado às empresas que as informações por estas
transmitidas seriam tratadas com estrita confidencialidade, tendo estas acedido a que o
seu nome constasse apenas na lista das empresas entrevistadas e na sua caracterização
genérica. Deste modo, as empresas foram numeradas de forma aleatória, sendo que a
partir do ponto 4.3 deste trabalho estas serão designadas apenas pelo número que lhe foi
Para além deste aspecto, todas as empresas objecto de estudo têm capital social
De seguida será efectuada uma breve caracterização de cada uma das empresas objecto
do estudo.
no Porto e, desde a sua fundação em 1956, tem como actividade económica principal a
fabricação de máquinas e ferramentas para metais. Esta empresa não integra nenhum
milhões de euros. Dos seus colaboradores cerca de 17% têm educação ao nível do 12º
106
ano e 19,4% são licenciados. O volume de exportações representava no final de 2002
A BIAL - Portela & Cª, S.A., com sede em São Mamede do Coronado, foi fundada no
de negócios ascendeu no ano de 2002 aos 81 milhões de euros, dos quais cerca de 18%
funcionários, dos quais 51,2% tinha educação ao nível do 12º ano, 22,4% eram
Sintra que iniciou, em 1984, a sua actividade de fabricação de máquinas para a indústria
alimentar. Esta empresa não integra nenhum grupo empresarial e dispõe de apenas um
trabalhadores, sendo que 20% dos quais tinha educação ao nível do 12º ano e cerca de
107
base. Esta empresa não integra nenhum grupo empresarial e detém apenas um
milhões de euros, sendo que estes foram quase na totalidade (cerca de 95%) resultantes
contava, no final de 2002, com 25 empregados, dos quais cerca de metade tinha
doutorados.
A Hovione – FarmaCiência, S.A. foi fundada em 1959, tem sede em Loures, e dedica-
euros, o que resultou na totalidade da exportação e/ou venda de serviços para fora do
país. Os clientes da Hovione são outras empresas. No final de 2002, a empresa dispunha
doutorados.
O Grupo STAB tem sede em Oeiras e foi fundado em 1996; as empresas que o
ciências físicas e naturais. Neste caso, apesar de ter sido seleccionada inicialmente uma
proveitoso, uma vez que permitiu a partilha de uma experiência mais vasta. Assim, os
108
milhões de euros, sendo que a proporção proveniente de exportações e/ou venda de
serviços foi inferior a 5%. Dos seus clientes cerca de 60% são outras empresas e os
colaboradores, todos eles com educação ao nível do 12º ano ou superior, a maioria eram
Tal como é possível observar, com excepção de uma, todas as empresas estão
protecção das invenções por patente através da análise da importância que as empresas
perspectiva de futuro.
As respostas dadas pelas diferentes empresas e que serão aqui objecto de análise
109
QUADRO 2: Importância presente ou futura de um conjunto de factores para a protecção
por Patentes e/ou Modelos de Utilidade
a) Diferenciação competitiva 9 9 9 9 9 9
face aos concorrentes
c) Favorecer a estratégia de 9 9 9 9 9 9
internacionalização da empresa
d) Garantir a realização de
parcerias, manter a participação
9 9 9 9 9 9
em redes de colaboração
e) Obtenção de proveitos do 9 9 9 9 9 9
licenciamento a terceiros
g) Indicação/imposição de 9 9 9 9 9 9
parceiros comerciais
h) Protecção das inovações da
empresa contra a imitação por
9 9 9 9 9 9
terceiros
i) Reposicionamento da oferta,
apoiar a mudança da estratégia
9 9 9 9 9 9
da empresa
Legenda:
NI – Não é Importante
I – Importante
MI – Muito Importante
Fonte: Entrevistas
Para a Empresa 1, os factores que assumem maior importância para a protecção por
patente das suas invenções são o facto de estas constituírem um factor de prestígio,
preço mais elevado no mercado. Dos factores apresentados, o único que a empresa
considerou que não tem qualquer relação com a opção pela protecção por patente foi o
110
considerados importantes, alguns deles apenas em determinadas circunstâncias, como é
empresa e aos seus distribuidores, cobrar um preço mais elevado e o uso da patente
inovações da empresa para prevenir a imitação por terceiros como o factor crítico para a
protecção por patente das invenções. Do ponto de vista desta empresa, a patente afigura-
licenciamento a terceiros. Embora a empresa refira que até agora estes dois últimos
factores não têm sido explorados, existe, no entanto, a intenção de fazer este uso no
futuro.
Para a Empresa 4, os factores críticos para a protecção por patentes das suas invenções
são, por um lado, o facto de permitirem cobrar um preço mais elevado no mercado e,
por outro, a protecção das inovações da empresa contra a imitação por terceiros. Com
estratégia da empresa, que para esta empresa são factores que sem relevância, todos os
111
No caso da Empresa 5 são diversos os factores tidos como muito importantes,
comerciais - para o que a empresa refere “só no caso das patentes muito fortes, uma
patente que seja forte dita as regras” - e, por último, a protecção das inovações da
empresa contra a imitação por terceiros. Para esta empresa o único factor da listagem
apresentada que foi considerado como não sendo importante foi o de reposicionamento
Também para Empresa 6 são cinco os factores com mais importância para a protecção
por patente das suas invenções, designadamente a diferenciação competitiva face aos
imitação por terceiros. Para esta empresa, apenas o reposicionamento da oferta e apoio à
No conjunto das empresas os factores que foram considerados como tendo a maior
mercado e a protecção das inovações da empresa contra a imitação por terceiros. Estes
factores foram classificados como muito importantes por quatro das empresas
estudadas, e importante pelas restantes, com excepção do primeiro factor que uma
112
Outros três factores importantes para a protecção das invenções por patente, por estas
empresas, que cabe destacar, são o contributo para a diferenciação competitiva face aos
Por outro lado, o facto de contribuir para o reposicionamento da oferta e para o apoio à
mudança da estratégia da empresa foi o factor tido como menos relevante, uma vez que
Um outro aspecto a abordar neste ponto são as principais razões que mais dificultaram,
à manutenção dos direitos existentes. Da análise das respostas foi possível extrair três
razões principais:
em diversos países;
113
4.4. ANÁLISE DO CONTRIBUTO DA PATENTE PARA O SUCESSO COMERCIAL
DAS INVENÇÕES
vêm clarificar alguns aspectos e contribuir para a melhor compreensão das influências
estudo.
Uma primeira constatação retirada das entrevistas tidas com as seis empresas vem no
sentido da leitura teórica de que o verdadeiro factor de sucesso está mais associado às
estar ou não protegido, ou seja, a protecção não é, pelo menos por si só, garantia de
sucesso.
114
Aliás, o responsável pela Empresa 1, por exemplo, considerou mesmo que existem
razões que levam a que invenções protegidas por patente possam não ter sucesso no
competitiva que esse processo patenteado trazia não ter sido suficientemente
Por outro lado, “a dinâmica competitiva, dado que podemos criar um produto
invalidada”, não por não estar devidamente protegida, mas por insuficiências próprias.
A Empresa 1 considera ainda, referindo-se a um dos seus produtos não protegidos por
patente mas com sucesso no mercado, como “factores que determinaram o sucesso
A Empresa 2 refere mesmo que “o facto de uma invenção estar protegida não é
produto e a protecção por patente “são duas coisas completamente independentes uma
da outra que podem coincidir, é desejável que coincidam, mas que são independentes”.
115
Para esta empresa, “a invenção só tem sucesso se se referir a um produto que seja
“casos de patentes que não tiveram tanto sucesso quanto isso”; mesmo prevendo-se
“que no mercado iriam ter muito impacto, o mercado acabou por não valorizar aquilo
A mesma empresa identificou produtos protegidos por patente “que não tiveram
sucesso, porque o mercado não pediu esse tipo de produto, tendo havido mesmo outras
patentes que temporariamente tiveram bastante aceitação mas que depois com a
evolução das necessidades do mercado acabou por se trocar essas necessidades por
outras”.
Na opinião deste responsável “a patente per si não resolve, podendo ser uma coisa
nova que não interesse nada ao utilizador; o que é importante para valorizar o produto
inovação e pelo facto de serem produtos inovadores que têm feito grande sucesso no
mercado”.
116
Neste sentido, esta empresa considera como factores que têm sido determinantes no
sucesso desses produtos (patenteados), não a própria patente, mas a “qualidade, porque,
actividade, dado que, em termos de qualidade não há igual”. “São as mais valias que o
nosso produto oferece que lhe permite ter o sucesso que tem.”
De acordo com a experiência da Empresa 5 “há invenções que estão patenteadas e que
desta empresa refere ainda que “se a tecnologia não é boa, ou se o mercado não está à
que a influência das patentes para o sucesso não se restringe ao produto que utiliza a
A Empresa 1 revelou que quando há uns anos entrou numa nova área de negócio,
começando “do zero numa área que desconhecia”, e a desconheciam, “o uso das
patentes foi importante para demonstrar que tinha competência técnica”. Esta empresa
afirma mesmo “que sempre dependeu imenso de patentes, quer para se afirmar como
117
parceiro de credibilidade, quer para impedir outros de fazer a mesma coisa, quer para
conseguir clientes”.
um cartão de visita muito importante para ser aceite no mercado, tal como para
conseguir fazer parte de um clube onde é difícil entrar”. “Quem tem patentes, já quer
dizer que aceita o princípio e aceita o sistema, o que é muito importante para ser
é fundamental”, uma vez que “é uma das coisas que eles procuram imediatamente”.
evidente.
A terceira constatação obtida através das entrevistas realizadas é de que quanto mais
118
Também esta constatação vem de encontro à leitura teórica e aos diversos estudos
empíricos realizados sobre esta matéria, quer na Europa quer nos Estados Unidos.
A Empresa 1 dá o exemplo de um dos seus produtos que não está protegido por
patente, mas que tem tido sucesso no mercado, afirmando que “não se socorrem de
Para além de ser “um bom produto”, este responsável considera ainda que, o outro
factor que determinou o seu sucesso foi “a dificuldade do fabrico”, acrescentando que
na sua opinião “as duas coisas que garantem margens elevadas são a patente ou a
A Empresa 2 quando questionada sobre quais as razões que podem levar a que
invenções não protegidas por patente tenham sucesso respondeu que “há casos em que
há invenções não protegidas por patente que também têm sucesso e, normalmente na
nossa actividade não se protegem por patente processos de fabrico que tenham
pormenores que a empresa não queira revelar, nem mesmo na patente, porque as
muito fácil verificar no mercado se há uma contrafacção, bastando fazer uma análise
119
ao produto. Enquanto que, no processo é difícil provar se todos os pormenores
Da mesma forma, para a Empresa 6, quando se tem uma invenção que “é tão difícil de
reproduzir não vale a pena gastar dinheiro a patenteá-la.”; embora afirme que na sua
actividade “isso não existe, considero que é fácil desmontar um produto e perceber
como é que é feito ou que passos é que são dados para chegar aquele produto.”
protecção dos direitos a ela associados, o que faz depender a bondade da patente
A quarta constatação extraída das entrevistas efectuadas aos responsáveis das diversas
empresas é que o contributo da patente é menos para o sucesso da inovação e mais para
a protecção dos direitos a ela associados, o que faz depender a bondade da patente da
O responsável pela Empresa 1 refere que, na sua actividade, “uma matéria prima é
transformada em vários passos”, pelo que “se a minha invenção é uma coisa que
produto neste tipo de indústria, a invenção protegida tem que ser evidente no passo
final.”
120
O responsável desta empresa acrescenta ainda que “quando se lança um produto no
processo protegido”.
O contributo da patente é mais para a protecção dos direitos a ela associados, tal como
esta empresa expõe dizendo que “as patentes interessam, do ponto vista do
Para a Empresa 2 “a patente também tem uma dupla função:” por um lado, “tem a
função de impedir que a concorrência copie os nossos processos”, por outro lado, a
nos possa impedir a nós de fabricar”. “Portanto, se não se patentear o processo corre-
A Empresa 4, que tal como referido anteriormente tem todos os seus produtos
protegidos por patente, refere que não têm “sido muito felizes no que respeita à
Esta empresa tem sido confrontada com diversas situações em que “as imitações
constituem o grande problema”, tendo revelado algumas das dificuldades que sentiu
121
chegarem e verem qual é o original e qual é a cópia, por não serem especialistas, por
Perante esta experiência a empresa afirma que “a protecção das patentes é muito
fraca”, reconhecendo, no entanto, que “as coisas parecem, neste momento, estarem a
ficar melhor encaminhadas”, mas que “tem sido muito difícil”. O responsável desta
empresa acrescenta ainda que “tem de haver um trabalho exaustivo e muito cuidadoso
suas invenções por patente respondeu que “ou se protegia ou se perdia tudo”, isto
porque, tal como a empresa admite “ou se guarda o segredo muito bem guardado -
esperando que ninguém copie a tecnologia, o que é um bocado difícil porque alguém
protege”.
122
5 – As patentes são mais necessárias quando a expectativa de sucesso é grande e
A realização deste conjunto de entrevistas permitiu constatar que as patentes são mais
empresa “tem tido grande sucesso e foi alvo até de cópia” viu-se confrontada com a
dificuldade de fazer valer os seus direitos, uma vez que “não estava protegido, não se
tendo meios legais para contrapor, portanto, perdendo em tribunal.” Tal como a
própria empresa reconheceu “isso implica perdas, porque os outros estão a vender,
estamos a optar por proteger mais”. Curiosamente, não obstante esta empresa ter já
Contudo, a empresa reconhece agora que “uma vez que outras que não estavam
protegidas foram bem aceites pelo mercado, nós deveríamos ser mais previdentes e
pedido de patente.”
123
Também a Empresa 4 tem tido produtos desenvolvidos internamente que têm sido
por se ter sucesso é que surgem estas situações extremamente desagradáveis. Ninguém
produto.
Uma sexta constatação que foi possível retirar das entrevistas é a de que para produtos
anteriormente.
produto porque era patenteado, porque se vão apostar num produto em que ainda vão
ter que fazer uma série de investimentos (para implementação no mercado), obviamente
124
que têm de ter a certeza que pelo menos durante alguns anos ninguém vai concorrer
com eles”.
investigação e patenteamento se não é para cobrar um preço mais elevado, sendo que
barato”. Acrescentando ainda que “a patente permite manter um preço mais elevado,
A mesma empresa destaca ainda a relevância da patente para os seus clientes dado ser
“muito importante para um distribuidor saber que pode praticar um preço mais
Para a Empresa 4, o que lhes permite cobrar um preço mais elevado pelos seus
125
À semelhança de outras empresas já mencionadas, também a Empresa 5 salienta que
“se se gasta” uma quantia muito elevada é para a patente permitir cobrar um preço mais
elevado, o que é considerado por esta empresa como um factor de negócio “muito
importante”.
A Empresa 6 considera mesmo que “não se pode ter I&D na nossa indústria sem estar
protegido, porque gasta-se muito dinheiro e muito tempo” e, “portanto, não vale a
pena investir nesta indústria se não for para proteger os seus resultados.”
Para a Empresa 6 a protecção por patente de uma invenção é “uma sequência lógica”,
produto, o licenciamento.
para algumas das empresas entrevistadas é já uma realidade e para outras é uma
126
O responsável da Empresa 1, considera o licenciamento de patentes “muito
A Empresa 5 considera que “o simples facto de ter uma patente na mão faz com que o
produto se transforme num bom activo em termos de mercado”. Para esta empresa
“qualquer coisa que esteja protegida com uma patente passa a ser um segundo
produto”, que lhe confere “uma segunda opção de comercialização que é uma
licença”.
Por outro lado, esta empresa menciona que “sem patente tem que ser a empresa a fazer
Para a Empresa 6, “ter um produto próprio com patente própria para licenciar a
reconhecendo que neste momento a empresa não está ainda a usufruir deste tipo de
receitas.
127
8 – É notório o uso, por parte de algumas empresas, de estratégias de
Foi ainda possível observar que algumas das empresas usam estratégias de
pedidas para proteger um dos seus produtos com bastante sucesso no mercado,
informou serem “uma patente de produto e duas patentes de processo, tendo ainda sido
comprada uma patente a um concorrente para ter a certeza que não haviam portas
máximo à volta do mesmo produto” e isto apenas porque, tal como refere o seu
responsável, “nós somos muito económicos, porque realmente não dá para mais”.
A Empresa 6 revela que, para um dos seus produtos que espera que venha a ser
implementado no mercado com sucesso, “tem uma patente de produto e dois pedidos de
patente de processo, admitindo que possa haver mais alguma coisa na calha”.
128
CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES
Foi objectivo inicial deste trabalho analisar o contributo das patentes para o sucesso
Assumiu-se que, no mínimo, seria necessário averiguar se a protecção por patente não é
uma condição suficiente para o sucesso comercial dos invenções, podendo, na maioria
dos casos, ser uma condição necessária. Neste âmbito, afigurou-se ainda como
inovação, o que tornou notórios os elevados investimentos que este acarreta, bem como
produzidos. Na verdade, tal como foi visto, a propriedade intelectual é um bem com
invenções, por um lado, e o facto do conhecimento ser um bem colectivo, por outro,
129
Aliás, a lógica básica do sistema de patentes está directamente associada à necessidade
Acresce que, mesmo que as restrições das patentes possam ser contornadas, as patentes
aumentam os custos de imitação, ou, pelo menos, normalmente adiam a entrada dos
limitado.
130
A posse de uma patente confere uma garantia de que, se o desenvolvimento da invenção
apropriados.
compradores e vendedores a seu favor, o que pode ser determinante para o sucesso
As estratégias para captar os benefícios financeiros das inovações ao longo dos tempos
verifica-se que não é indiferente o sector de actividade que se considere, dado que a sua
131
eficácia está também dependente de diversos factores e condicionantes, e mesmo nos
estratégia de protecção dos resultados da sua invenção, são a facilidade com que o
produto pode ser objecto de reverse engineered, o ciclo de vida do produto, a posição da
capacidade da empresa e das instituições para defender o direitos após a sua concessão.
investigação.
De acordo com a abordagem teórica, o contributo das patentes não é apenas para o
produto que incorpora a invenção protegida, mas também para a estratégia global da
As patentes podem ser usadas também como mecanismos de sinalização, que informam
aos clientes actuais e potenciais, quer estes sejam outras empresas ou consumidores
132
finais, de que a empresa possui expertise numa determinada área e que possui algo de
ou defensivas - para captar os benefícios da inovação, facto é que da análise teórica não
é possível extrair que a patente por si só constitua uma razão para o sucesso da
encontram inter-relacionados.
Na verdade conclui-se que a teoria não permite estabelecer uma relação unívoca entre a
133
*
* *
Os diversos estudos empíricos realizados quer na Europa quer nos Estados Unidos
reforçam as constatações teóricas de que não há uma relação directa entre protecção e
No estudo realizado por Cohen et al. (2000) foi possível observar que as patentes não
(Arundel e Kabla, 1998; Brouwer e Kleinknecht, 1999) quer nos EUA (Cohen et al.,
2000; Levin et al., 1987) são consistentes na demonstração de que, de modo geral, estas
Por outro lado, a patente parece ser mais usada para prevenir a imitação do que para
assegurar o sucesso da inovação; em contrapartida, mesmo nestes caso pode não ser
No inquérito realizado na Alemanha, um terço dos entrevistados respondeu que uma das
razões para o não recurso ao patenteamento estada associada ao facto do ciclo de vida
134
dos seus produtos ser em média pouco mais longo do que o tempo necessário para um
pedido de patente bem sucedido na Europa (cerca de 2,5 a 3,5 anos). (Fest, 1996)
(OCDE, 1997)
No estudo de Cohen et al. (2000) a razão mais citada pelas empresas para não patentear
empíricos suportam a literatura teórica que considera que as empresas usam o segredo
Neste mesmo estudo, a um nível agregado, 82% dos inquiridos indicaram, como razão
que motivava as suas decisões mais recentes para pedir a protecção por patente (para
Permite-se, assim, concluir que a decisão do que proteger representa uma decisão
estratégica para as empresas, uma vez que há invenções cuja opção mais vantajosa para
a empresa será não proteger e outras há em que a opção pela protecção poderá permitir
135
*
* *
Com o objectivo de testar a existência ou não de uma relação clara entre o sucesso das
dos estudos empíricos, contribuindo para uma melhor compreensão daqueles que se
julga poderão constituir os contributos mais importantes da patente para o sucesso das
empresas.
No conjunto das empresas, os factores que foram considerados como tendo a maior
Outros três factores importantes para a obtenção de patentes, por estas empresas, e que
cabe destacar, são o seu contributo para a diferenciação competitiva face aos
136
resultados deste estudo de casos. No entanto, deve ter-se em consideração que se tratam
Importa, aqui, realçar que foi possível identificar algumas dificuldades no recurso à
de patentes.
efectuadas, nomeadamente:
credibilidade;
protecção dos direitos a ela associados, o que faz depender a bondade da patente
do combate à contrafacção; e
137
4. Se se considerar que com o sucesso do produto aumenta a possibilidade de
138
*
* *
Na realização deste estudo, uma das maiores dificuldades acabou por ser o reduzido
por um lado, e a extracção de conclusões mais efectivas quanto ao papel que as patentes
empíricos indicam, de facto, que o contributo das patentes poderá ser mais marcante
futuro.
139
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