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XIICURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO INTELECTUAL – 2021

FORMAÇÃO ONLINE EM PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Hallane Raissa dos Santos Cunha

PATENTES: A IMPORTÂNCIA DAS INVENÇÕES E OS TRAÇOS


GERAIS DO REGIME JURÍDICO PORTUGUÊS

Lisboa, 2022
Hallane Raissa dos Santos Cunha

PATENTES: A IMPORTÂNCIA DAS INVENÇÕES E OS TRAÇOS


GERAIS DO REGIME JURÍDICO PORTUGUÊS

Trabalho final de avaliação apresentado como


requisito para obtenção do certificado no XII de
Pós-Graduação em Direito Intelectual (2021) –
Formação online em Propriedade Industrial
realizado pela Associação Portuguesa de Direito
Intelectual da Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa.

Lisboa, 2022
“Há um ditado que ensina, o gênio é uma grande
paciência; sem pretender ser gênio, teimei em ser
um grande paciente. As invenções são, sobretudo, o
resultado de um trabalho teimoso, em que não deve
haver lugar para o esmorecimento.”

Santos Dumont.
RESUMO

O presente trabalho abarca um estudo com ênfase na importância da invenção,


e como a proteção legal, através da propriedade industrial é imprescindível para o
desenvolvimento tecnológico, económico e social. Esse direito ocorre, atualmente, através
do sistema de patentes em que a principal função é remunerar o inventor, por um
determinado período de tempo, pela sua capacidade inventiva de melhorar e/ou
solucionar os problemas da sociedade. Nesse sentido, observa-se os traços gerais do
procedimento de uma patente, utilizando-se o regime jurídico português. Ademais, esse
estudo também retrata pontos sobre as limitações do que pode ou não ser patenteado, e
ainda se debruça sobre os problemas que são enfrentados no âmbito das patentes, em
que atualmente, vem repercutindo em diversas discussões, pelo caráter pandêmico que
ainda vivenciamos.

Palavras-chave: Invenção; Patentes; Propriedade Industrial.

ABSTRATC

The present work encompasses a study with an emphasis on the importance of


invention, and how legal protection through industrial property is essential for
technological, economic and social development. This right currently occurs through the
patent system in which the main function is to remunerate the inventor, for a certain period
of time, for his inventive capacity to improve and/or solve society's problems. In this sense,
the general features of the patent procedure are observed, using the Portuguese legal
regime. In addition, this study also portrays points about the limitations of what can or
cannot be patented, and also addresses the problems that are faced in the field of patents,
in which currently, it has repercussions in several discussions, due to the pandemic
character that we are still experiencing.

Key Words: Invention; Patents; Industrial Property.


ÍNDICE DE CONTEÚDOS

INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------------------1
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA --------------------------------------------------------------------------2
1.1 Invenção e Patente ---------------------------------------------------------------------------------2
1.2 Conceito de Invenção ------------------------------------------------------------------------------2
1.3 Conceito de Patente --------------------------------------------------------------------------------4
1.3.1 O que pode ser patenteado -----------------------------------------------------------------4
1.3.2 Limites quanto ao objecto -------------------------------------------------------------------5
1.3.3 Limitações quanto à patente ----------------------------------------------------------------7
1.4 Requisitos de Patenteabilidade ------------------------------------------------------------------8
1.4.1 Novidade -----------------------------------------------------------------------------------------9
1.4.2 Atividade Inventiva -----------------------------------------------------------------------------9
1.4.3 Aplicação Industrial ---------------------------------------------------------------------------10
2. PROTEÇÃO DA INVENÇÃO ----------------------------------------------------------------------10
2.1 Documentos de uma patente ---------------------------------------------------------------------11
2.2 O direito de patente ---------------------------------------------------------------------------------13
2.3 Limites ao direito de patente ----------------------------------------------------------------------14
2.4 Obrigatoriedade de exploração -------------------------------------------------------------------15
3. PROBLEMAS NO ÂMBITO DAS PATENTES -------------------------------------------------16
3.1 Defesa e crítica das Patents Trolls --------------------------------------------------------------17
3.2 Outros casos de licenças obrigatória em Portugal -------------------------------------------18
CONCLUSÕES FINAIS ----------------------------------------------------------------------------------22
LISTA DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ----------------------------------------------------24
1
INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa explicar a diferenciação entre o conceito de invenção,


que acompanha o homem desde os primórdios e o direito de sua proteção legal emerge
apenas nos finais do século XVIII e, de um modo mais elaborado, durante o século XIX,
após o triunfo dos princípios ligados à revolução francesa e as alterações provocadas
pela revolução industrial.

Nesses termos, analisaremos o conceito de patente, que constituem uma das


mais antigas formas de invenção da propriedade intelectual e, como tal, têm por objetivo
incentivar o desenvolvimento económico e tecnológico recompensando a criatividade.
Elucidaremos como ocorre a concessão de uma patente, mediante solicitação, por um
órgão governamental (geralmente um Escritório de Patentes) e quem pode solicitar uma
patente.
Além disso, destacará as vantagens que podem ser obtidas com uma patente,
as naturezas de proteção, que objetos podem ou não ser patenteados e o prazo de
duração da proteção de uma patente. Explicitará sobre os aspetos da legislação
portuguesa sobre patentes e os aspetos do processamento de um pedido de patente,
conforme o regime jurídico português.

Também mostrará as limitações de uma patente, que existem dois tipos de


limitações a este nível, um que se refere ao objeto da invenção e outro que diz respeito à
patente propriamente dita. Quanto ao primeiro, ficam arredados os programas de
computador, as descobertas, as teorias científicas e os métodos matemáticos, as
apresentações de informação, as criações de cariz estético e os métodos de negócio. No
que concerne ao segundo, temos as invenções contrárias à ordem pública, os processos
de clonagem humana, os processos de modificação da identidade genética germinal de
seres humanos, as variedades vegetais ou animais e os métodos de tratamento e
diagnóstico.

Ademais, abordará os documentos necessários de uma patente, sendo


indispensável a realização de uma pesquisa prévia ao estado da técnica para identificar
divulgações, na mesma área técnica da invenção, que possam opor-se aos requisitos
essenciais de patenteabilidade, deve analisar os resultados da pesquisa, com vista a
aferir o potencial de patenteabilidade da invenção e, caso a pesquisa não revele matéria
oponível aos requisitos essenciais de patenteabilidade, elaborar um texto descritivo da
invenção conforme os requisitos legais estipulados, para subsequente apresentação do
pedido.
Por fim, também relatará sobre os problemas no âmbito da patente, inclusive a
análise da Patent Troll, termo popular criado por uma funcionária da empresa Intel que,
em meados da década de 1990, associou o antigo conto norueguês dos trolls, criaturas
míticas que se escondiam em baixo de pontes e cobravam injustos pedágios de todos que
pretendiam cruzá-las, a um novo tipo de mercado que vinha crescendo nos Estados
Unidos: a litigação de patentes por empresas que não utilizavam estas patentes ou
sequer pretendiam as utilizar. Tais como os trolls da lenda, estas entidades impediriam e
prejudicariam os que pretendessem usar as tecnologias previstas em suas patentes, a
despeito de não as utilizarem e, frequentemente, não sendo sequer as responsáveis por
sua criação. Como também analisará a discussão frente as licenças obrigatórias e a
questão da possibilidade ou não do levantamento de patentes, na situação pandêmica
atual em que vivemos.
2
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Esse capítulo abordará o histórico e a correlação entre invenções e patente,


relatando os conceitos e a importância desses termos para a história da humanidade.

1.1 – Invenção e Patente

Primeiramente, imprescindível entender que a capacidade inventiva faz parte


do património e da história do homem. Todavia, a história das invenções não coincide com
a do direito de patentes.

O ilustre professor COUTO GONÇALVES¹ aduz o seguinte: “Uma coisa é


invenção, outra é a sua proteção ou valorização. A história da invenção confunde-se com
a do homem; a história da proteção legal, sistemática e autónoma da invenção, emerge
apenas nos finais do século XVIII e, de um modo mais elaborado, durante o século XIX,
após o triunfo dos princípios ligados à revolução francesa e as alterações provocadas
pela revolução industrial”.

1.2 – Conceito de Invenção

Sinónimo de invento (do latim inventum), o termo invenção refere-se a toda e


qualquer coisa inventada ou à acção e ao efeito de inventar (achar ou descobrir algo novo
ou desconhecido). A pessoa que dedica o seu tempo a estas descobertas é o inventor.

As invenções podem ter por base, as ideias prévias ou objectos já existentes.


Contudo, o processo de invenção pode incluir modificações ou inovações que resultam
em algo inédito. Ressalta-se que, quando uma criação surge da inventividade da pessoa
e sem antecedentes concretos, o invento constitui uma grande contribuição para o
conhecimento humano.

Além disso, uma invenção pode ser definida como uma nova solução para um
problema técnico específico, dentro de um determinado campo tecnológico. Desse modo,
o homem tem se dedicado à invenção desde as suas origens. O desenvolvimento da
linguagem (um sistema de signos) é considerado o primeiro grande invento da história. A
maioria das invenções físicas (com objectos concretos, palpáveis e reais) que datam da
pré-história foi realizada em pedra, como é o caso das primeiras rodas².

Alguma das principais invenções (e que são de extrema importância para a


humanidade) são a roda, o papel, a lâmpada, a pólvora, o vidro, o avião, o barco, as
lentes ópticas, o prego, a bússola, o motor a vapor, o telefone, a vacinação, os carros, os
métodos contraceptivos que foram fundamentais para que as mulheres pudessem lutar
pelos seus direitos e não apenas serem vistas como “reprodutoras”, entre diversas outras
invenções importantes para o desenvolvimento da sociedade.

_____________________

¹ COUTO GONÇALVES, Luís, em Manual de Direito Industrial: Propriedade industrial e concorrência


desleal; 8ª edição; Coimbra: Almedina; 2019, p.39
² Disponível em: <https://conceito.de/invencao>. Acesso em 05/01/2022.
3

Ressalta-se que, conforme relata COUTO GONÇALVES³, a história da


humanidade, em todas as suas fases, oferece-nos inúmeros exemplos de invenções às
quais estão associadas importantes evoluções históricas. Todavia, a revolução francesa,
num primeiro momento, e a revolução industrial, mais tarde, criaram as condições
objetivas para que se produzisse uma mudança estrutural no modo de encarar as
invenções e uma progressiva autonomização do conhecimento técnico face ao puro
conhecimento científico⁴.

Por um lado, a revolução francesa criou o fundamento político, filosófico e


jurídico para a abolição do sistema medieval dos privilégios e a instituição de um sistema
de reconhecimento do direito de propriedade do inventor (quem inventa) reconhecido
como o direito mais revolucionário.

Por sua vez, a revolução industrial introduziu, no plano económico, um


problema novo: o excesso de oferta em mercado de livre concorrência⁵. Desse modo,
com o surgimento da indústria, da produção mecanizada e em massa, as empresas
passam a carecer de elementos que as diferenciem da concorrência, ou seja, precisam
inovar.

A invenção começa a ser vista, gradualmente, como elemento essencial da


empresa industrial na sua luta para viver em um mercado, cada vez mais, concorrencial.
Nesse sentido, o empresário inicia investimento em inovação e passa a exigir o retorno do
seu investimento.

“Nesse ínterim, o sistema de patentes busca, por um lado, responder aos


interesses do inventor garantindo-lhe um direito exclusivo de exploração do bem
patenteado. E, por outro, procura responder aos interesses da comunidade ao exigir ao
inventor a divulgação da tecnologia patenteada e ao garantir o seu livre acesso no termo
na proteção. Neste aspecto deve, aliás, reconhecer-se que, cada vez mais, o sistema de
patentes serve um conjunto vasto de interesses da sociedade que não se limitam aos
tradicionais interesses económicos e empresariais.

Por contraposição ao sistema de proteção baseado no segredo industrial ou


know-how, o direito de patentes oferece vantagens relativas que o tornam mais
recomendável”, segundo COUTO GONÇALVES⁶.

_____________________

³ COUTO GONÇALVES, Luís, em Manual de Direito Industrial: Propriedade industrial e concorrência


desleal; 8ª edição; Coimbra: Almedina; 2019, p.40.
⁴ A investigação aplicada (técnica) começa a ganhar autonomia em relação à investigação fundamental
(ciência) e a justificar um tratamento jurídico autónomo que passa pelo controlo público dos méritos das
suas aplicações e a consequente atribuição de direitos privativos.
⁵ COUTO GONÇALVES, Luís, idem, p.40.
⁶ COUTO GONÇALVES, Luís, idem, p.41.
4
1.3 – Conceito de Patente

Uma patente é um documento que descreve uma invenção e cria uma situação
legal na qual a invenção pode ser explorada somente com a autorização do titular da
patente. Em outras palavras, uma patente protege uma invenção e garante ao titular os
direitos exclusivos para usar sua invenção por um período limitado de tempo em um
determinado país.

A patente é concedida, mediante solicitação, por um órgão governamental


(geralmente um Escritório de Patentes) e qualquer pessoa física ou colectiva pode
depositar um pedido de patente, desde que tenha legitimidade para obtê-la, sendo
chamado de depositante ou requerente.

Em Portugal, o órgão governamental responsável para verificação e trâmite dos


pedidos de patentes é o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Este Instituto
relata que “a patente permite-lhe proteger uma invenção nova (que ainda não tenha sido
tornada pública) e que não seja óbvia face ao que já foi divulgado⁷”. Também é possível
proteger uma invenção através de um modelo de utilidade, que não será detalhado no
presente, pois não é objeto principal deste trabalho.

1.3.1 – O que pode ser patenteado

No sentido jurídico, para algo ser patenteável é necessário que a invenção seja
legalmente possível, lícita e preencha os três requisitos de patenteabilidade, ou seja, a
novidade, a atividade inventiva e a suscetibilidade de aplicação industrial, os quais
analisaremos minuciosamente no capítulo seguinte.

A noção de invenção patenteável e os requisitos do objeto e de


patenteabilidade são hoje, aliás, praticamente comuns às legislações nacionais dos
diferentes países europeus, situação explicada pela fortíssima influência uniformizadora
da Convenção da Patente Europeia – CPE⁸ (arts. 51º a 56º). Isto significa que as
principais legislações nacionais europeias de patentes, a nível dos grandes princípios, são
muito similares, devido a CPE que tem funcionado como um texto supra-legal do direito
nacional de patentes.

Em âmbito nacional, o Código de Propriedade Industrial Português⁹, em sua


versão mais recente (2018), aduz em seu nº 1 do artigo 50º que:

Podem ser objeto de patente as invenções novas, implicando atividade


inventiva, se forem suscetíveis de aplicação industrial, mesmo quando
incidam sobre um produto composto de matéria biológica, ou que contenha
matéria biológica, ou sobre um processo que permita produzir, tratar ou
utilizar matéria biológica.
____________________

⁷ Conceito disponível em <https://justica.gov.pt/Registos/Propriedade-Industrial/Patente>. Acesso em


06/01/2022.
⁸ A convenção sobre a Patente Europeia (CPE) ou Convenção de Munique é um tratado multilateral que cria
o Instituto Europeu de Patentes e estabelece um sistema jurídico autónomo e um procedimento único de
concessão de patentes para os estados signatários, que, em sua maioria são membros da União Europeia.
A CPE foi estabelecida em 05 de outubro de 1973 e entrou em vigor no dia 7 de outubro de 1977.
⁹ Decreto-Lei nº 110/2018, de 10 de dezembro de 2018.
5

Nessa mesma linha, também podem obter-se patente para quaisquer


invenções, seja de produtos ou processos, em todos os domínios da tecnologia, desde
que essas invenções respeitem os requisitos de patenteabilidade, assim como também os
processos novos de obtenção de produtos, substâncias ou composições já conhecidas,
conforme números 2 e 3 do dispositivo legal supracitado.

1.3.2 – Limites quanto ao objecto

Ressalta-se que existem dois tipos de limitações quanto ao que pode ser
patenteável. Um que se refere ao objeto da invenção e outro que diz respeito à patente
propriamente dita.

O primeiro tipo diz respeito aos programas de computador, as descobertas, as


teorias científicas e os métodos matemáticos, as apresentações de informações, as
criações de cariz estéticos e os métodos de negócios. O CPI/2018 aduz essas limitações
quanto ao objecto na redação do seu artigo 51º. Todavia, deve-se observar algumas
questões importantes.

A alínea a) do nº1 do artigo 51º do CPI/2018 relata que “não são invenções as
descobertas, assim como as teorias científicas e os métodos matemáticos”. Nesse
sentido, afirma COUTO GONÇALVES¹¹ que a invenção não se limita, como a descoberta,
ao plano cognitivo, mas tem de interferir com a realidade prática. A descoberta é um
estado de conhecimento teórico da realidade; a invenção é um estado de conhecimento
prático da realidade. Com a descoberta a realidade não se transforma; com a invenção a
realidade sofre uma transformação técnica.

Porém, a exclusão da patenteabilidade da descoberta só diz respeito à


descoberta enquanto tal sendo admissível a proteção das suas aplicações técnicas.
Assim como se refere no nº2 do mesmo dispositivo lega, a exclusão só tem lugar se o
objeto para que é solicitada a patente se limitar aos elementos neles mencionados.

Isto significa que, por exemplo, que a descoberta de uma nova propriedade de
uma matéria ou objetivo conhecido não é patenteável, mas a utilização dessa propriedade
para fins práticos já pode ser protegida.

Nessa mesma linha de raciocínio, as teorias científicas (como tais) também não
são patenteáveis. Uma teoria física de semi-condutividade não será patenteável. No
entanto, novos dispositivos semicondutores e respetivos processos de fabrico podem ser
objeto de patente.

O mesmo princípio é válido para os métodos matemáticos. Como tais não são
patenteáveis, mas uma máquina calculadora inventada para funcionar com um desses
métodos pode sim ser objeto de patente, como bem explica o Ilustre autor¹².

Desse modo, é imprescindível entender se o objeto de determinada invenção


poderá ser protegida ou não pela Propriedade Industrial.
_____________________

¹¹ COUTO GONÇALVES, Luís, em Manual de Direito Industrial: Propriedade industrial e concorrência


desleal; 8ª edição; Coimbra: Almedina; 2019, p.47.
¹² COUTO GONÇALVES, Luís, idem, p.48
6

Concernente a proibição de patentear os materiais ou as substâncias já


existentes na natureza e as matérias nucleares é um afloramento da exclusão de
patentear descobertas. Em outras palavras, a simples descoberta de uma substância na
natureza não pode ser considerada uma invenção. Todavia, um processo para a
preparação dessa substância é passível de proteção.

Em relação as criações estéticas, por regra, são destituídas de aplicação


prática, não são condicionadas por critérios de natureza técnica e a respetiva apreciação
é de índole subjetiva. Porém, se esse objeto apresentar também particularidades de
ordem técnica pode ser patenteável.

O descrito na letra d) do nº 1 do artigo 51 do CPI/2018 refere-se que não é


patenteável os projetos, os princípios e os métodos do exercício de atividades intelectuais
em matéria de jogo ou no domínio das atividades económicas, assim como programas de
computadores, como tais, sem qualquer contributo.

Nessa lógica, um método de estudo de línguas, um método de resolução de


palavras-cruzadas, um jogo ou um plano de organização comercial não podem ser
objetos de uma patente. Por outro lado, um dispositivo concebido para jogar ou realizar
um projeto já pode ser patenteável.

Relativamente a um programa de computador, como tal, a legislação


expressamente proíbe que seja objeto de patente. O programa de computador “como tal”,
é protegido pelo direito de autor, de acordo com o Decreto-Lei nº 252/1994¹³, de 20 de
outubro (que transpôs a Diretiva nº 91/250/CEE, de 14 de maio, relativa à protecção
jurídica dos programas de computador).

Todavia, pode haver a proteção por patente dos programas que implicam
interações físicas entre as instruções e as máquinas (ou sistemas em linha), que vão para
além das interações “normais” entre um programa e uma máquina. É preciso que haja
uma interação entre o programa e o exterior. Dessa forma, se isso acontecer, há uma
invenção passível de ser patenteada.

Por exemplo, é patenteável o programa de computador que implementa


medidas de segurança para impedir o download de programas piratas ou vírus
informático, ou para impedir a execução de medidas tecnológicas que pretendam aceder
a conteúdos protegidos (como filmes, músicas, livros).

Destaca-se que há discussão na doutrina sobre essa possibilidade ou não da


patenteabilidade dos programas de computador. Para COUTO GONÇALVES, “os
programas de computador não são patenteáveis, precisamente por que são programas de
computador e, acrescentamos nós, só serão patenteáveis per relationem se, e quando,
fizerem parte de uma invenção programável que não seja exclusivamente um
computador. Só quando o programa não se destine a um computador, como tal, é que
deixa de ser um programa de computador como tal.”¹⁴
_____________________

¹³ Disponível em <https://www.pgdlisboa.pt/leis/> Consultado em 12/02/2022.


¹⁴ Para entender melhor sobre o assunto, consultar: COUTO GONÇALVES, Luís, em Manual de Direito
Industrial: Propriedade industrial e concorrência desleal; 8ª edição; Coimbra: Almedina; 2019, pag.49 a
57.
7

Por último, qualquer apresentação de informação¹⁵ caracterizada unicamente


pela informação que ela contém não é patenteável, embora possa ser protegida pelo
direito de autor.

Mas, se o modo de apresentar uma informação revela características técnicas


novas, o suporte de informação, o processo ou o dispositivo destinado à sua
apresentação podem ser elementos patenteáveis.

1.3.3 – Limites quanto à patente

Como mencionado no ponto anterior, o segundo tipo de limitação refere-se a


patente propriamente dita. Nesse viés, temos as invenções contrárias à ordem pública, os
processos de clonagem humana, os processos de modificação da identidade genética
germinal de seres humanos, as variedades vegetais ou animais e os métodos de
tratamento e diagnóstico.

Normalmente, não basta a invenção poder ser contrária à ordem pública ou aos
bons costumes. Dessa forma, não deixará de ser patenteável uma invenção que consista
num método de abrir um cofre apesar de o mesmo poder beneficiar a ladrões. É bastante
apenas para as invenções em relação às quais não seja possível reivindicar qualquer
utilização legítima (por exemplo, uma carta bomba)¹⁶.

Em conformidade com este princípio, há um conjunto de limitações à


patenteabilidade referidas no art. 52º, nºs 2 e 3 que correspondem à transcrição de
soluções constantes dos arts. 4º, 5º e 6º da Diretiva relativa às invenções biotecnológicas
(que inspirou igualmente o disposto nas regras 23b a 23e) do Regulamento de Execução
da CPE)¹⁷.

De acordo com o artigo 52º CPI/2018 não são patenteáveis, nomeadamente:

a) Os processos de clonagem de seres humanos;


b)Os processos de modificação da identidade genética germinal (isto é,
reprodutiva) do ser humano. Isto é, não são permitidas as técnicas de criação
do homem transgénico e o chamado eugenismo (homem geneticamente
manipulado sem doenças e sem defeitos físicos);
c) As utilizações de embriões humanos para fins industriais ou comerciais¹⁸
d) Os processos de modificação de identidade genética que possam causar
sofrimentos aos animais sem utilidade médica substancial para o homem ou
para o animal, bem como os animais obtidos por esses processos;

_____________________

¹⁵ Cf. Alínea e) do nº 1 do artigo 51º do Decreto-Lei nº 110/2018, de 10 de dezembro de 2018.


¹⁶ Exemplo de SCHATZ, in SINGER/STAUDER, The European Patent Convention cit, p.88.
¹⁷ Trecho retirado de COUTO GONÇALVES, Luis, em Manual de Direito Industrial: Propriedade
industrial e concorrência desleal; 8ª edição; Coimbra: Almedina; 2019, p.57.
¹⁸ O Acórdão TJ de 18/10/2011 (Processo C-34/10) considerou que o artigo 6º, nº 2, alínea c), da Diretiva
98/44/CE do Parlamento Europeu e do conselho, de 6 de julho de 1998, relativa à proteção jurídica das
invenções biotecnológicas, deve ser interpretado do seguinte modo: 1) um “embrião humano” é constituído
por todo óvulo humano desde a fase da fecundação, todo o óvulo humano não fecundado no qual foi
implantado o núcleo de uma célula humana amadurecida e todo o óvulo humano não fecundado que foi
8

E o nº 3 do mesmo dispositivo¹⁹ supramencionado aduz que não podem ainda


ser objeto de patente:

a) O corpo humano, nos vários estádios da sua constituição e do seu


desenvolvimento bem como a simples descoberta de um dos seus elementos,
incluindo a sequência ou a sequência parcial de um gene, sem prejuízo do
disposto na alínea c) no nº1 do art. 53º (refere-se aos casos especiais de
patenteabilidade)²⁰;
b) As variedades vegetais ou as raças animais, assim como os processos
essencialmente biológicos de obtenção de vegetais ou animais e os vegetais
ou animais obtidos, exclusivamente através desses processos;
c) Os métodos de tratamento cirúrgico ou terapêutico do corpo humano ou
animal e os métodos de diagnóstico aplicados ao corpo humano ou animal,
podendo ser patenteados os produtos, substâncias ou composições utilizados
em qualquer desses métodos.

Destaca-se que a não patenteabilidade dos métodos é, desde a entrada em


vigor da DL nº 143/2008, uma limitação à patenteabilidade e já não um objeto não
patenteável (cf. Artigo 48º, nº2 – CPI/1995). Esta disposição não se aplica aos produtos,
substâncias ou composições utilizadas em qualquer destes métodos. O significado prático
desta ressalva é a possibilidade de proteção de medicamentos.

Do mesmo modo, salienta-se que são patenteáveis os instrumentos e


aparelhagem cirúrgicos, terapêuticos ou de diagnósticos que devem ser utilizados esses
métodos.

Logo, a legislação apenas exclui os métodos cirúrgicos ou terapêuticos ou de


diagnósticos de tratamento de seres humanos ou de animais vivos.

1.4 – Requisitos de Patenteabilidade

Os requisitos concomitantes de patenteabilidade são a novidade, a atividade


inventiva e a suscetibilidade de aplicação industrial, conforme artigo 54º do CPI/2018.

_____________________

estimulado para efeitos de divisão e desenvolvimento por via de partenogénese. Cabe ao juiz nacional
determinar, à luz dos desenvolvimentos científicos, se uma célula estaminal obtida a partir de um embrião
humano na fase blastocitária constitui um <embrião humano> na aceção do artigo 6º, nº 2, alínea c), da
Diretiva 98/44.; 2) a exclusão da patenteabilidade relativa à utilização de embriões humanos para fins
industriais ou comerciais prevista no artigo 6º, nº 2, alínea c), da Diretiva 98/44 abrange também a utilização
para fins de investigação científica, só podendo ser objeto de uma patente a utilização para fins terapêuticos
ou de diagnósticos aplicável ao embrião humano e que lhe é útil; 3) o artigo 6º, nº2, alínea c), da Diretiva
98/44 exclui a patenteabilidade de uma invenção quando a informação técnica objeto do pedido de patente
implica a prévia destruição de embriões humanos ou a sua utilização como matéria-prima,
independentemente da fase em que estas ocorram e mesmo que a descrição da informação técnica
solicitada não mencione a utilização de embriões humanos.
¹⁹ Disponível no Decreto-Lei nº 110/2018, de 10 de dezembro de 2018.
²⁰ Alínea c), nº1 do art.53: Uma invenção nova, que implique atividade inventiva e seja suscetível de
aplicação industrial, que incida sobre qualquer elemento isolado do corpo humano ou produzido de outra
forma por um processo técnico, incluindo a sequência ou a sequência parcial de um gene, ainda que a
estrutura desse elemento seja idêntica à de um elemento natural, desde que seja observada expressamente
e exposta corretamente no pedido de patente, a aplicação industrial de uma sequência ou de uma
sequência parcial de um gene;
9
1.4.1 – Novidade

O primeiro requisito é que a invenção deve ser nova, o que significa que nunca
deve ter sido realizada, executada ou usada anteriormente, ou seja, uma invenção é
considerada nova quando não está compreendida no estado da técnica²¹.

COUTO GONÇALVES explica que o estado da técnica é constituído por tudo o


que, dentro ou fora do país foi tornado acessível ao público antes da data do pedido de
patente, por descrição, utilização ou qualquer outro meio (art. 55, nº 1 do CPI/2018)²².

Nesse sentido, este quesito é mundial. Por isso é fundamental realizar uma
busca de anterioridades, em bases de patentes, para checar se a invenção é realmente
algo novo. Todavia, ressalta-se, para que uma invenção não seja nova exige-se que todos
os elementos técnicos da invenção reivindicada estejam presentes no estado da técnica.

Portanto, o padrão utilizado para determinar a falta de novidade da invenção é


o da estrita identidade. Assim, uma fonte anterior só antecipa o pedido de patente se
contiver todos os elementos essenciais da invenção.

Em outras palavras, COUTO GONÇALVES exemplifica que, há novidade desde


que o resultado seja novo, ainda que os meios (total ou parcialmente) utilizados sejam
conhecidos. Destaca ainda que é a unidade/síntese inovadora (como um todo) que faz
toda a diferença.

Uma observação importante feita pelo ilustre autor é de que a invenção torna-
se acessível ao público sempre que a divulgação permita a um perito da especialidade
desenvolver a invenção no momento do pedido e que o destinatário não tenho o dever
legal, profissional ou contratual de guardar segredo. Relata que a noção de público não é
quantitativa, por isso uma única pessoa que tenha recebido informação sobre a invenção
e que seja apta para compreendê-la, sem a obrigação de guardar segredo, pode ser o
suficiente para preencher este requisito. Por outro lado, se um conjunto de pessoas não
especializadas que tenham conhecimento prévio verbal da invenção, mas não tenham a
capacidade de a explorar e/ou a compreender não tolhem a novidade da invenção.

1.4.2 – Atividade Inventiva

A invenção deve representar um desenvolvimento suficiente em relação ao


estado da técnica anterior a sua realização para que seja considerada patenteável. A
expressão “não óbvia” é também utilizada se, para um, técnico no assunto, a invenção
decorre de maneira óbvia do estado da técnica, então não reúne as condições
necessárias para ser protegida por uma patente.

_____________________

²¹ O estado da técnica compreende a descrição, utilização ou qualquer outro meio de divulgação, clara e
inequívoca, de uma invenção idêntica, isto é, de uma invenção que represente, substancialmente, a mesma
solução para o mesmo problema técnico. A quebra de novidade pode verificar-se por uma descrição da
invenção feita por qualquer forma, escrita, oral (desde que possa ser comprovada), sonora, áudio visual,
digital, ou por outra forma.
²² Trecho retirado de COUTO GONÇALVES, Luís, em Manual de Direito Industrial: Propriedade
industrial e concorrência desleal; 8ª edição; Coimbra: Almedina; 2019, p.69.
10

Não basta que a invenção seja nova! É necessário ainda que um perito da
especialidade não seja capaz de chegar, de maneira evidente, a um mesmo resultado, no
momento em que a proteção é solicitada. Nesse sentido, quando ocorrer uma mera
escolha ou troca de material cujas propriedades são conhecidas ou mera mudança de
forma e/ou proporção, ou ainda, meras justaposições de meios conhecidos, por exemplo,
não possuem efeito técnico novo, e assim, não são passíveis de proteção por uma
patente.

Por outro ponto, considera-se que existe ato inventivo quando a modificação
introduzida num objeto resulta em melhoria funcional de seu uso ou fabricação, facilitando
a atividade humana, e/ou melhorando sua eficiência. Como possíveis exemplos de ato
inventivo podem ser citados a substituição de parafusos por encaixes de pressão e a
combinação/conjunto de elementos conhecidos (Kits, pré-moldados, etc) ou até de uma
disposição específica de fibras, em se tratando de trama de urdidura e entrelaçamento de
fio (tecido e similares)²³.

1.4.3 – Aplicação Industrial

O terceiro requisito de patenteabilidade refere-se a invenção ser suscetível de


aplicação industrial, isto é, se o seu objeto pode ser fabricado ou utilizado em qualquer
género de indústria ou na agricultura.

Este critério é muito amplo e deve ser assim considerado, visto que tudo quase
tudo pode ser aplicado industrialmente, mesmo que seja em estágio experimental.

Sobre o assunto, COUTO GONÇALVES aduz que “se for uma invenção-
produto, este requisito implica que seja suscetível de execução técnica e reprodução
constante (produzida industrialmente), seja ou não aplicada na indústria em sendo
económico; se for uma invenção-processo, o requisito implica que esta seja
suficientemente clara de maneira que qualquer perito a possa utilizar na resolução de um
problema técnico devendo revestir utilidade prática e contribuir para o desenvolvimento da
atividade económica”²⁴.

2. PROTEÇÃO DA INVENÇÃO

Para obter a proteção por patente, o requerente deve formalizar um pedido


junto ao INPI (via nacional) ou outro gabinete supranacional como o EPO (via europeia)
ou a OMPI (via internacional), descrevendo com detalhes a sua invenção, acompanhando
uma série de reivindicações²⁵ que, constituem o cerne da própria invenção e a matéria
para a qual se visa obter a proteção legal (Ulrich & Eppinger, 2012).
____________________

²³ Trecho retirado DL 101P BR – Módulo 7 – Patentes – (7V) 2020 – OMPI/INPI, pg. 14.
²⁴ COUTO GONÇALVES, LUÍS, em Manual de Direito Industrial: Propriedade industrial e concorrência
desleal; 8ª edição; Coimbra: Almedina; 2019, p.73.
²⁵ “As reivindicações são as especificidades da invenção para as quais a proteção é requerida ( …) os
aspetos particulares que os inventores consideram como novidade em relação ao estado da técnica
existente até aquele momento. Enfim, as reivindicações são de facto a invenção. (…) Delimitam e
estabelecem os direitos do titular da patente sobre a matéria objeto da proteção sendo apenas aquelas
matérias constantes das reivindicações aceites pela autoridade governamental as protegidas pela patente
11

A via nacional corresponde ao sistema tradicional de patentes e significa que é


necessário realizar o pedido de patente em cada país em que se deseja obter proteção. O
interessado que pretender realizar pedido em outros países, poderá fazer de duas formas:
A primeira, dentro de 12 meses, poderá obter direito de prioridade se apresentar pedido
num dos países da “União de Paris” (art. 4º a) 1 e C) 1. CUP²⁶). A segunda forma é pelo
tratado PCT que possui o prazo de 30 meses.

Em 1883, o primeiro Acordo Internacional sobre Propriedade Intelectual foi


assinado por 13 países em Paris. A convenção da União de Paris conhecida pela sigla
CUP, ainda está vigente com algumas emendas.

O Tratado de Cooperação sobre Patentes (PCT) foi assinado em 1970 e tem


como objetivo auxiliar os candidatos na busca de potencial proteção internacional de
patentes para seus inventos, além de ajudar os institutos de patentes com decisões à
concessão de patentes e ainda, facilitar o acesso do público a uma grande quantidade de
informações técnicas relativas a essas invenções. É mediante a apresentação de um
pedido de patente internacional sob o PCT que os candidatos podem procurar
simultaneamente a proteção de uma invenção na maioria dos países do mundo²⁷.

Em âmbito Europeu, em 1973, foi estabelecida a Convenção sobre a Patente


Europeia (CPE) ou Convenção de Munique em que se caracteriza por ser um Instituto
Europeu de Patentes e estabelece um sistema jurídico autônomo e um procedimento
único de concessão de patentes para os estados signatários.

No decurso do processo de registo e concessão de uma patente, os gabinetes


oficiais como o INPI, EPO ou OMPI (no caso de se requerer proteção via PCT), gerarão
um ou mais documentos de índole legal que se designam por literatura de patentes. Já a
informação que estes documentos contêm designa-se por informações de patentes.

Após a publicação do pedido de patente, normalmente 18 meses depois de ter


dado entrada no respetivo gabinete, a concessão da proteção atribuída, faz com que a
informação passe a ser de acesso público para qualquer pessoa que a desejar consultar.

2.1 – Os documentos de uma Patente

O depósito do pedido de patente em Portugal é apresentado em requerimento


redigido em língua portuguesa, de acordo com o art. 61º, nº 1 do CPI/2018, que indique:
a) o nome, firma ou denominação social do requerente, a sua nacionalidade, o seu
domicílio ou o lugar em que está estabelecido, o número de identificação fiscal quando se
trate de um residente em Portugal, e o endereço de correio eletrônico, caso exista; b) a
epígrafe ou o título que sintetize o objeto da invenção; c) o nome e país de residência do
inventor; d) o país onde se tenha apresentado o primeiro pedido, a data e o número dessa
apresentação, no caso do requerente pretender reivindicar o direito de prioridade; e) a
menção de que requereu modelo de utilidade para a mesma invenção, se foi o caso, nos
termos do nº 5 do art. 50º; e f) a assinatura ou identificação eletrónica do requerente ou
do seu mandatário.
____________________

após a concessão. (…) Definem todos os elementos essenciais da invenção dentro dos limites em que esta
funciona.” (M. Macedo & Barbosa, 2000, pp. 42, 43).
²⁶ Decreto n.º 22/75 – Disponível em: <http://gddc.ministeriopublico.pt/>. Acesso em 14/02/2022
²⁷ Disponível em: <https://www.wipo.int/pct/pt/index.html> Acesso em 14/02/2022.
12

Ao requerimento devem juntar-se, em duplicado, em língua portuguesa, os


documentos elencados nas alíneas do art. 62º, nº 1 do CPI/2018, a) reivindicações do que
é considerado novo e que caracteriza a invenção; b) descrição do objeto da invenção; c)
desenhos necessários à perfeita compreensão da descrição; e d) o resumo da invenção.

Os elementos referidos acima respeitarão os requisitos formais fixados por


despacho do Presidente do Conselho Diretivo do INPI, conforme redação do nº 2 do
mesmo dispositivo legal supramencionado.

Segundo afirma COUTO GONÇALVES²⁹, “as reivindicações constituem a peça


mais importante do pedido porquanto definem o objeto do pedido, seja invenção-produto
(aparelho, máquina, dispositivo ou substância), seja invenção-processo (processo
propriamente dito, método ou uso) ou, ainda, invenção de produto e processo. Dito de
outra forma, abrangem tudo o que caracteriza a invenção do ponto de vista técnico, quer
do ponto de vista estrutural, quer do ponto de vista funcional”.

Destarte, os termos e a estruturação das reivindicações definem os limites de


proteção conferidos por uma patente e devem estar fundamentadas no relatório
descritivo, caracterizando as particularidades do pedido e definindo, de modo claro e
preciso, a matéria objeto da patente.

As reivindicações são classificadas em independente ou dependente. As


independentes definem componentes essenciais e específicos da invenção em seu
conceito integral, cabendo a cada categoria de reivindicação pelo menos uma
reivindicação independente. Por outro lado, as reivindicações dependentes, da mesma
categoria da reivindicação independente relacionada, incluem características de outras
reivindicações anteriores e definem detalhamentos destas características e/ou
características técnicas adicionais. Para compreensão da matéria pleiteada, a
reivindicação dependente deve ser lida em conjunto com a correspondente independente.
Utiliza-se a expressão ‘caracterizado por’ para separar o que já é conhecido no estado da
técnica daquilo que foi inventado³⁰.

A descrição visa garantir que a invenção reivindicada representa um contributo


para o enriquecimento técnico da comunidade suficientemente justificativo do direito
privativo atribuído ao respetivo titular pela ordem jurídica. Basicamente, a descrição deve
ensinar a fazer aquilo que se reivindica.

Os desenhos são as representações que sejam imprescindíveis para a


compreensão da invenção.

O resumo é um instrumento eficaz para fins de pequisa em determinado setor


técnico. Segundo o nº 6 do artigo 62º “consiste numa breve exposição do que é referido
na descrição, reivindicações e desenhos, e não deve conter, de preferência, mais de 150
palavras”. O resumo “serve, exclusivamente, para fins de informação técnica e não será
tomado em consideração para qualquer outra finalidade, designadamente para determinar
a extensão da proteção requerida”.

____________________
²⁹ COUTO GONÇALVES, Luís, em Manual de Direito Industrial: Propriedade industrial e concorrência
desleal; 8ª edição; Coimbra: Almedina; 2019, p.79.
³⁰ Trecho retirado DL 101P BR – Módulo 7 – Patentes – (7V) 2020 – OMPI/INPI, pg. 50.
13
2.2 – O Direito de Patente

A patente é um acordo entre o público e o titular da patente. Com a concessão


da patente, cuja premissa é que a invenção preencha todas as condições de
patenteabilidade já mencionadas anteriormente, o titular da patente obtém o direito de
impedir que terceiro produza a invenção reivindicada na patente.

Em contrapartida, ao exigirem o respeito das condições de patenteabilidade e


concederem uma proteção por um prazo determinado, 20 anos contados da data do
depósito do pedido de patente (excetuam-se os medicamentos e os produtos
fitofarmacêuticos cujo Certificado Complementar de Proteção – CPP – amplia esse prazo
por mais 5 anos³¹), as autoridades garantem que as informações referentes à invenção
sejam divulgadas ao público e que a invenção propriamente dita fique disponível e possa
ser usada por qualquer terceiro depois da expiração da patente (domínio publico).

Em todos os países nos quais um titular de patente decide patentear sua


invenção, a questão da observância, ou de como fazer valer a patente, ganha importância
após a concessão desta.

Nesse aspecto, destaca-se que o âmbito de proteção do direito conferido pela


patente é condicionada a limites territoriais, temporais e objetivos.

O direito de patente confere o direito exclusivo de explorar a invenção em


qualquer parte do território português (art. 102º, nº 1). Além disso, o titular tem o direito de
impedir a terceiros, sem o seu consentimento (art. 102, nº 2): a) o fabrico, a oferta, a
armazenagem, a colocação no mercado ou a utilização de um produto objeto de patente,
ou a importação ou posso do mesmo, pra algum dos fins mencionados; b) a utilização do
processo objeto da patente ou, se o terceiro tem ou devia ter conhecimento de que a
utilização do processo é proibida sem o conhecimento do titular da patente, a oferta da
sua utilização; c) a oferta, a armazenagem, a colocação no mercado e a utilização, ou a
importação ou posse para esses fins, de produtos obtidos diretamente pelo processo
objeto da patente.

Um terceiro que desrespeite, qualquer um destes poderes (de fabrico, uso ou


comércio), isolada ou cumulativamente, pratica, em princípio, um ato ilícito criminal de
contrafação, segundo o artigo 318º do CPI/2018.
____________________
³¹ Certificado Complementar de Proteção (CCP). No caso dos produtos farmacêuticos ou fitofarmacêuticos,
em virtude do tempo que demora a obter a aprovação para colocação dos medicamentos no mercado, visa
o aumento num máximo de cinco anos da duração da validade das patentes para além dos 20 anos,
passando a produzir efeitos na data do termo legal da validade da patente a que respeita (Art.º 116.º e 117.º
do CPI/2018). “O tempo que decorre desde que é feito o pedido de patente sobre um medicamento ou
fitofarmacêutico até que é emitida a Autorização de Introdução no Mercado (AIM) desses produtos, pode
diminuir o prazo em que a patente efetivamente protege o produto. Isto porque a vigência da patente
começa a contar na data em que é apresentado o pedido. Isso pode fazer com que os titulares não tenham
tempo suficiente para amortizar os investimentos que fizeram na investigação e no desenvolvimento do
medicamento ou do fitofarmacêutico. O CCP confere a mesma proteção que a patente e só é válido para o
produto identificado na AIM do medicamento ou fitofarmacêutico. Esta proteção complementar foi
criada para dar resposta às necessidades das indústrias de medicamentos e produtos fitofarmacêuticos.  A
validade do CCP pode ainda ser prolongada por um período extra de 6 meses. Isto só é possível se a
patente-base disser respeito a um medicamento que tenha sido alvo de estudos de acordo com um plano de
investigação pediátrico”Disponível em: <https://justica.gov.pt/Registos/Propriedade-Industrial/Patente/Como-
manter-uma-patente> Acesso em 14/02/2022.
14
2.3 – Limites ao Direito de Patente

Importante compreender que há algumas situações em que é possível e lícito,


observando certos requisitos, um terceiro usar uma invenção patenteada. Estas situações
de uso estão previstas nos artigos 103º a 105º do CPI/2018.

O número 1 do artigo 103º aduz o seguinte: - Os direitos conferidos pela


patente não abrangem:
a) Os atos realizados num âmbito privado e sem fins comerciais;
b) A preparação de medicamentos feita no momento e para casos individuais, mediante
receita médica nos laboratórios de farmácia, nem os atos relativos aos medicamentos
assim preparados;
c) Os atos realizados exclusivamente para fins de ensaio ou experimentais, relacionados
com o objeto da invenção patenteada, incluindo experiências para preparação dos
processos administrativos necessários à aprovação de produtos pelos organismos oficiais
competentes, não podendo, contudo, iniciar-se a exploração industrial ou comercial
desses produtos antes de se verificar a caducidade da patente que os protege;
d) A utilização de material biológico para fins de cultivo ou descoberta e desenvolvimento
de novas variedades vegetais;
e) A utilização a bordo de navios dos outros países membros da União ou da OMC do
objeto da invenção patenteada no corpo do navio, nas máquinas, na mastreação, em
aprestos e outros acessórios, quando entrarem, temporária ou acidentalmente, nas águas
do País, desde que a referida invenção seja exclusivamente utilizada para as
necessidades do navio;
f) A utilização do objeto da invenção patenteada na construção ou no funcionamento de
veículos de locomoção aérea, ou terrestre, dos outros países membros da União ou da
OMC, ou de acessórios desses veículos, quando entrarem, temporária ou acidentalmente,
em território nacional;
g) Os atos previstos no artigo 27.º da Convenção de 7 de dezembro de 1944 relativa à
aviação civil internacional se disserem respeito a aeronaves de outro Estado, ao qual,
porém, se aplicam as disposições do referido artigo;
h) A utilização por um agricultor do produto da sua colheita para fins de reprodução ou
multiplicação na sua exploração, desde que o material vegetal de reprodução tenha sido
vendido ou comercializado de outro modo pelo titular da patente, ou com o seu
consentimento, ao agricultor para fins agrícolas;
i) A utilização por um agricultor, para fins agrícolas, de animais protegidos, desde que os
animais de criação ou outro material de reprodução animal tenham sido vendidos ou
comercializados de outro modo ao agricultor pelo titular da patente ou com o seu
consentimento;
j) Os atos e a utilização das informações obtidas nos termos permitidos pela legislação
vigente em matéria de proteção jurídica dos programas de computador, nomeadamente
pelas respetivas disposições em matéria de descompilação e interoperabilidade.

Por sua vez, o artigo 104º do mesmo dispositivo legal refere-se ao


esgotamento do direito, em que, os direitos conferidos pela patente não permitem ao seu
titular proibir os atos relativos aos produtos por ela protegidos, após a sua
comercialização, pelo próprio titular ou com o seu consentimento, no espaço económico
europeu, a menos que existam motivos legítimos para que o titular da patente se oponha
a que os produtos continuem a ser comercializados.
15
Nessa perspectiva, “não se trata do esgotamento (desaparecimento) do direito
de patente, mas apenas de um aspecto do conteúdo desse direito que se relaciona com o
poder de o respetivo titular proibir ou restringir a circulação do produto patenteado original
colocado no mercado por si ou por terceiro com o seu consentimento. (L. Couto
Gonçalves, 2019, p. 115).

A terceira limitação diz respeito à inoponibilidade (art.105º do CPI/2018³²), isto


é, os direitos conferidos pela patente não são oponíveis, no território nacional e antes da
data do pedido ou da data da prioridade, quando esta é reivindicada a quem, de boa-fé,
tenha chegado pelos seus próprios meios ao conhecimento da invenção e a utilizava ou
fazia preparativos, efetivos e sérios, com vista a tal utilização. Todavia, salienta-se que
esta previsão não é aplicável quando o conhecimento resulta de atos ilícitos ou contra os
bons costumes praticados contra o titular da patente.

2.4 – Obrigatoriedade de exploração

É obrigatório que o titular da patente explore a invenção patenteada, que pode


ocorrer diretamente por ele ou por terceiro por ele autorizado, e a comercializar os
resultados obtidos de forma a satisfazer as necessidades do mercado nacional (art. 107,
nº 1). Afinal, a patente tem a função de trazer melhorias para a sociedade.

A exploração deve ter início no prazo de quatro anos a contar da data do


pedido de patente, ou no prazo de três anos a contar data da concessão, aplicando-se o
prazo mais longo (art. 107, nº 2).

Além disso, é possível gozar de direitos de patente sem discriminação quanto


ao local da invenção, ao domínio tecnológico e ao facto de os produtos serem importados
de qualquer país-membro da União Europeia ou da OMC, ou produzidos localmente (art.
107º, nº 3).

Dessa forma, destaca-se que a falta ou insuficiência de exploração da patente


poderá acarretar a imposição de uma licença obrigatória³³.
____________________

³² (…) 3 – O ónus da prova cabe a quem invocar as situações previstas no n.º 1. 4 - A utilização anterior, ou
os preparativos desta, baseados nas informações referidas na alínea a) do n.º 1 do artigo 56.º, não
prejudicam a boa-fé. 5 – Nos casos previstos no n.º 1, o beneficiário tem o direito de prosseguir, ou iniciar, a
utilização da invenção, na medida do conhecimento anterior, para os fins da própria empresa, mas só pode
transmiti-lo conjuntamente com o estabelecimento comercial em que se procede à referida utilização.
³³ Cf. Art..108 do CPI/2018 “1 – Podem ser concedidas licenças obrigatórias sobre uma determinada
patente, quando ocorrer algum dos seguintes casos: a) Falta ou insuficiência de exploração da invenção
patenteada; b) Dependência entre patentes; c) Existência de motivos de interesse público. 2 – As licenças
obrigatórias serão não exclusivas e só podem ser transmitidas com a parte da empresa ou do
estabelecimento que as explore. 3 – As licenças obrigatórias só podem ser concedidas quando o potencial
licenciado tiver desenvolvido esforços no sentido de obter do titular da patente uma licença contratual em
condições comerciais aceitáveis e tais esforços não tenham êxito dentro de um prazo razoável. 4 – A
licença obrigatória pode ser revogada, sem prejuízo de proteção adequada dos legítimos interesses dos
licenciados, se e quando as circunstâncias que lhe deram origem deixarem de existir e não sejam
suscetíveis de se repetir, podendo a autoridade competente reexaminar, mediante pedido fundamentado, a
continuação das referidas circunstâncias. 5 – Quando uma patente tiver por objeto tecnologia de
semicondutores, apenas podem ser concedidas licenças obrigatórias com finalidade pública não comercial.6
– O titular da patente receberá uma remuneração adequada a cada caso concreto, tendo em conta o valor
económico da licença. 7 – A decisão que conceda ou denegue a remuneração é suscetível de recurso
judicial ou arbitral, nos termos dos artigos 47.º a 49.º”
16
3. PROBLEMAS NO ÂMBITO DAS PATENTES

Observamos até o presente ponto as inúmeras vantagens de ter uma patente


de invenção. Visto que, a finalidade da patente é conceder uma forma de proteção aos
progressos tecnológicos e às melhorias funcionais no uso ou na fabricação de uma nova
forma inventada.

Entretanto, há casos de pessoas e/ou entidades que patenteiam certas


invenções, ainda que não façam uso das mesmas, apenas para fazer reserva de mercado
ou exigir prestação pecuniária de quem deseja a explorar, obrigando o interessado a
celebrar um contrato de licença, isto é, são as chamadas Patent Trolls³⁵.

Salienta-se que Patent Trolls podem variar em tamanho de entidades


extremamente pequenas com apenas uma patente a enormes empresas multimilionárias,
com diversos investidores, que detêm um vasto portfólio de patentes. Estas patentes
podem ser adquiridas de diversas formas, incluindo compras diretas, frequentemente de
empresas em dificuldades económicas, leilões de patentes e processos de falência³⁶.

A origem do termo Patent Troll remonta a uma competição proposta aos


funcionários da Intel³⁷, em meados da década de 1990, por Peter Detkin, então vice-
presidente da Companhia, cujo prêmio seria um jantar para dois. A competição consistia
em dar um nome a um novo tipo de modelo de mercado em crescimento nos Estados
Unidos: entidades que não produziam suas patentes ou sequer pretendiam as produzir,
tão somente utilizando seus direitos exclusivos para reivindicá-los contra terceiros.

Em resposta a competição, uma funcionária da empresa à época, denominada


Anna Gundelfinger, relembrou e associou a situação ao antigo conto norueguês sobre as
criaturas míticas que se escondiam em baixo de pontes e cobravam injustos pedágios de
todos que pretendiam cruzá-las, essas criaturas eram os Trolls. Desse modo, tais como
os trolls da lenda, as entidades impediriam e prejudicariam os pretendessem usar as
tecnologias previstas em suas patentes, a despeito de não as utilizarem e,
frequentemente, não sendo sequer as responsáveis por sua criação. A funcionária venceu
a competição, e o termo Patent Troll se solidificou na cultura norte-americana³⁸.

Máster esclarecer que o ordenamento norte-americano permite o não-uso de


direitos de patentes, de forma geral, sem resistência³⁹. Ao contrário de outras legislações,
inclusive a portuguesa que impõe a possibilidade de licença compulsória de patentes em
casos, que analisaremos mais adiante neste trabalho.
____________________

³⁵ De forma geral, “Patent Troll” foi um termo adotado nos Estados Unidos para caracterizar uma entidade
(não necessariamente uma empresa) que em si não produz ou exerce as suas patentes, mas utiliza destas
para reivindicar valores, frequentemente em altas quantidades, contra entidades que efetivamente fornecem
bens ou serviços. Cf. HU, Christopher, Some Observations on the Patent Troll Litigation Problem,
Intellectual Property & Technology Law Journal, v. 26, n. 8, 2014, p. 1.
³⁶ Cf. MANTOVANI, Luca, em dissertação denominada de Patent Trolls: Desdobramentos e eventual
atuação no cenário brasileiro, 2019, p. 28.
³⁷ A Intel Corporation é uma empresa de tecnologia multinacional, fundada em 18 de julho de 1968 na
Califórnia, EUA.. Disponível em: <https://www.intel.com/content/www/us/en/homepage.html> Acesso em
16/02/2022.
³⁸ Trecho retirado de MANTOVANI, Luca, em dissertação denominada de Patent Trolls: Desdobramentos
e eventual atuação no cenário brasileiro, 2019, p. 25.
³⁹ TYLER, Neil S., Patent Nonuse and Technology Suppression: The Use of Compulsory Licensing to
Promote Progress, University of Pennsylvania Law Review, v. 161, p. 451–475, 2014, p. 457–458.
17
3.1 – Defesa e Crítica das Patent Trolls

Destacamos que autores como James F. McDonough sustentam que a


atividade das Patent Trolls, ao promover uma espécie de mercado de patentes, pode
propiciar eficiência e evolução de mercado, concedendo liquidez a patentes na
economia⁴⁰. Nessa mesma linha de raciocínio, Marc Morgan indica que as entidades não
praticantes (NPEs)⁴¹ atuam dentro da esfera da legalidade da legislação de propriedade
intelectual norte-americana, e que estas promovem inovação, liquidez de patentes e
equilíbrio de mercado⁴².

Em resumo, defensores das trolls entendem que NPEs podem facilitar


mercados de tecnologia e incentivar a inovação. NPEs, neste contexto, poderiam agir
como intermediários entre inventores que não tem fundos ou conhecimentos necessários
para adequadamente licenciar ou reivindicar suas patentes, e comerciantes. Dessa forma,
as NPEs promoveriam incentivos ao remunerar pequenos inventores que talvez não
teriam condições de adequadamente reivindicar suas patentes.

Todavia, há problemas com esta assertiva, que são frequentemente apontados


pelos críticos, e da qual, concordamos. A atividade primária das Patent Trolls consiste na
reivindicação das patentes que possuem frente a terceiros, não produzindo as tecnologias
dos quais detém direitos.

Ora, a atividade jurisdicional das Patent Trolls, além de agravar a carga do


sistema judiciário, não produz quaisquer benefícios diretos a sociedade, visto que a
intenção de uma patente é favorecer ao meio social, através das invenções. Uma patente
de invenção tem a finalidade de resolver e/ou melhorar um problema técnico, de modo
eficiente.

Além disso, os custos associados ao litígio podem prejudicar a inovação. Por


certo, a partir de uma análise empírica, James Bessen, Jennifer Ford e Michael J. Meurer
chegam a certas conclusões acerca dos efeitos concretos da atuação das Patent Trolls.
Primeiramente os autores apontam, com base em uma análise do valor das ações de
empresas alvos da litigação de patentes trolls, que, entre 1990 e 2010, processos de
NPEs foram responsáveis por prejuízos aos supostos infringentes no montante de meio
trilhão de dólares, sendo que, entre 2006 e 2010, os prejuízos atingem uma média de 80
bilhões de dólares por ano. A frequência destes litígios é tão extensa que os custos
associados passam a se tornar um custo empresarial inevitável na atividade de pesquisa
e desenvolvimento. Assim sendo, estes processos podem reduzir substancialmente o
incentivo à inovação⁴⁴, ou seja, prejudicam o objetivo central da legislação de proteção à
propriedade intelectual. Por outro lado, estes prejuízos podem ser repassados na cadeia
de produção, acarretando no aumento dos preços para o consumidor final⁴⁵.

____________________

⁴⁰ MCDONOUGH, James, The Myth of the Patent Troll: An Alternative View of the Function of Patent
Dealers in an Idea Economy, Emory Law Journal, v. 56, p. 189–228, 2006, p. 227–228.
⁴¹ NPEs é a sigla para Non-Practicing Entities ou “entidade não praticante” são termos utilizados como
sinônimos de Patent Trolls.
⁴² MORGAN, Marc, Stop Looking Under the Bridge for Imaginary Creatures : A Comment Examining Who
Really Deserves The Title Patent Troll, The Federal Circuit Bar Journal, v. 17, p. 165–180, 2008, p. 179.
⁴⁴ BESSEN; MEURER; FORD, The Private and Social Costs of Patent Trolls, p. 26.
⁴⁵ FELDMAN, Robin; EWING, Thomas, The Giants Among Us, Stanford Technology Law Review, v. 1, 2011,
p. 25.
18

Ademais, uma parcela ínfima destes prejuízos é efetivamente revertida aos


inventores originais das patentes. Logo, a perda do incentivo a inovação das empresas
processadas não seria compensada pelo aumento do incentivo aos inventores clientes
das NPEs. Outrossim, ainda que este sistema aumente o incentivo à invenção de
pequenos inventores, este incentivo é direcionado à aquisição de patentes vagas ou com
alcance excessivo, e não necessariamente a inovação real ⁴⁶.

Relata-se que estas ocorrências são particularmente predominantes nos


Estados Unidos tendo em vista os elevadíssimos custos da “Patent Litigation”.
Consequentemente, grande parte das empresas alvo da litigação das Patent Trolls podem
acabar optando pela resolução extrajudicial, mesmo que a ação não tenha fundamentos
adequados, uma vez que, seguidamente, o acordo de mostra mais célere e económico do
que o processo.

Em Portugal, a legislação não aceita as denominadas Patent Trolls, tanto que o


artigo 107º do CPI relata explicitamente a obrigatoriedade de exploração da patente.
Desse modo, não sendo cumprido esse requisito, no tempo determinado, é possível que o
interessado solicite perante o órgão competente uma licença compulsória, fundamentada
no art. 109º do CPI/2018, que diz:

“Licença por fa lta de exploração da invenção


1 – Expirados os prazos que se referem no n.º 2 do artigo 107.º, o titular que, sem
justo motivo ou base legal, não explorar a invenção, diretamente ou por licença, ou
não o fizer de modo a ocorrer às necessidades nacionais, pode ser obrigado a
conceder licença de exploração da mesma.
2 – Pode, também, ser obrigado a conceder licença de exploração da invenção o
titular que, durante três anos consecutivos e sem justo motivo ou base legal,
deixar de fazer a sua exploração.
3 – São considerados justos motivos as dificuldades objetivas de natureza técnica
ou jurídica, independentes da vontade e da situação do titular da patente, que
tornem impossível ou insuficiente a exploração da invenção, mas não as
dificuldades económicas ou financeiras.
4 – Enquanto uma licença obrigatória se mantiver em vigor, o titular da patente não
pode ser obrigado a conceder outra antes daquela ter sido cancelada.
5 – A licença obrigatória pode ser cancelada se o licenciado não explorar a
invenção por forma a ocorrer às necessidades nacionais.”

Frisa-se que, nesse caso, não há a possibilidade do próprio Instituto


responsável requerer essa licença compulsória. Isto é, a responsabilidade recai sobre o
interessado para requerer esse tipo de licença.

3.2 – Outros casos de Licenças Obrigatórias em Portugal

As licenças obrigatórias serão não exclusivas e só podem ser transmitidas com


a parte da empresa ou estabelecimento que as explore (art.108,nº2). Essas licenças só
poderão ser concedidas quando o potencial licenciado tiver desenvolvido esforços no
sentido de obter do titular da patente uma licença contratual em condições comerciais
aceitáveis e tais esforços não tenham tido êxito dentro de um prazo razoável (art. 108,
nº3).
____________________

⁴⁶ BESSEN; MEURER; FORD, The Private and Social Costs of Patent Trolls, p. 28
19

Ressaltar-se que a licença obrigatória pode ser revogada, sem prejuízo de


proteção adequada dos legítimos interesses dos licenciados, se e quando as
circunstâncias que lhe derem origem deixarem de existir e não sejam suscetíveis de se
repetir, podendo a autoridade competente reexaminar, mediante pedido fundamentado, a
continuação das referidas circunstâncias (art. 108º, nº 4).

Outro fundamento para atribuição de uma licença obrigatória ocorre quando há


uma dependência entre patentes. A patente dependente é aquela que versa sobre uma
invenção que reúne os requisitos de patenteabilidade, mas cuja exploração implica a
utilização de uma patente anterior e que só pode ser utilizada com consentimento do
titular desta última, através de uma licença facultativa ou uma licença obrigatória⁴⁷.

Segundo Luís C. Gonçalves este conceito amplo, apesar de ser aquele que
goza de maior aceitação na doutrina, não se encontra consagrado nas diferentes
legislações. O CPI parece selecionar, expressamente, apenas duas modalidades de
patentes dependentes: as patentes de novo uso para setor diferente (art. 110º, nº1)⁴⁸ e as
patentes de aperfeiçoamento⁴⁹. A invenção de aperfeiçoamento consiste na resolução
diversa e mais conveniente de um problema técnico já resolvido.

Na previsão do nº 2 do mesmo dispositivo legal, pode caber, ainda, a patente


de combinação⁵⁰ ou a patente de novo uso para o mesmo setor⁵¹.

Por último, o titular de uma patente pode ser obrigado a conceder licença para
a exploração da respetiva invenção por motivos de interesse público. Assim, considera-se
que existem motivos de interesse público quando o início, o aumento ou a generalização
da exploração da invenção ou a melhoria das condições em que tal exploração se realizar
sejam de primordial importância para saúde pública⁵² ou para a defesa nacional, conforme
redação do nº 2 do artigo 111º do CPI.
____________________

⁴⁷ Trecho retirado de COUTO GONÇALVES, Luís, em Manual de Direito Industrial: Propriedade


industrial e concorrência desleal; 8ª edição; Coimbra: Almedina; 2019, p.79.
⁴⁸ “Quando não seja possível a exploração de uma invenção, protegida por uma patente, sem prejuízo dos
direitos conferidos por uma patente anterior e ambas as invenções sirvam para fins industriais distintos, a
licença só pode ser concedida se se verificar o caráter indispensável da primeira invenção para a
exploração da segunda e, apenas, na parte necessária à realização desta, tendo o titular da primeira
patente direito a justa indemnização.” (art. 110º, nº 1 do CPI/2018).
⁴⁹ “Quando uma invenção tiver por objeto um processo de preparação de um produto químico, farmacêutico
ou alimentar protegido por uma patente em vigor, e sempre que essa patente de processo representar um
progresso técnico notável em relação à patente anterior, tanto o titular da patente de processo como o titular
da patente de produto têm o direito de exigir uma licença obrigatória sobre a patente do outro titular“.
(art.110, nº 3 do CPI/2018).
⁵⁰ A invenção de combinação é a que resulta da conjugação nova e original de elementos e meios já
conhecidos.
⁵¹ “Quando as invenções, protegidas por patentes dependentes, servirem para os mesmos fins industriais e
tiver lugar a concessão de uma licença obrigatória, o titular da patente anterior também pode exigir a
concessão de licença obrigatória sobre a patente posterior.” (art. 110, nº 2).
⁵² Neste contexto tem pertinência referir que a União Europeia aprovou um Regulamento (Reg. Nº 816/2006
do Parlamento Europeu e do Conselho de 17/5/2006, JO-L157 de 9/6/2006) relativo à concessão obrigatória
de patente (e também de certificados complementares de proteção – CCP) respeitantes ao fabrico de
produtos farmacêuticos destinados à exportação para países com problemas de saúde pública. Sobre este
ponto, cf. REMÉDIO MARQUES, “Licenças (voluntárias e obrigatórias) de direitos de propriedade industrial”
cit. pp.219 e ss e PONS DE VALL ALOMAR, “Los limites de las patentes farmacéuticas”, cit, pp.172 e ss.
20

Nesse viés, recentemente, temos um excelente exemplo, de escala global, que


vai de encontro com a situação supramencionada. No ano de 2020, alastrou-se pelo
mundo a pandemia ocasionado pelo coronavírus, popularmente conhecida como Covid-
19⁵³. Desse modo, a busca por tecnologias que permitam a detecção, profilaxia e
tratamento da doença se intensificaram nesses últimos anos.

Numa circunstância de pandemia como a que vivemos não há, objectivamente,


tempo para encetar negociações cabais com os detentores das patentes. Todavia, sobre
essa questão incide debates que repercutem até os dias atuais.

Discute-se a possibilidade do levantamento das patentes de vacinas, cláusula


inclusive, prevista no Acordo de aspecto de Propriedade Intelectual (TRIPS). Este acordo
foi celebrado pela OMC em 1995,e prevê que os produtos passem a ter uma proteção
mínima da propriedade intelectual.

Na prática, com o levantamento das patentes, qualquer empresa do mundo irá


poder desenvolver vacinas contra a covid-19, sem que isso possa significar um processo
legal por parte da empresa titular do direito de patente original.

Ressalva-se que a África do Sul e Índia foram os primeiros grandes países a


pedirem o levantamento das patentes das vacinas contra a covid-19. Foi precisamente
nesses dois países que surgiram algumas das variantes da doença (a Beta e a Delta,
respetivamente) e mais recentemente, a variante Ómicron também originada na África do
Sul.
Em maio de 2020, os Estados Unidos pediram o levantamento das patentes,
numa decisão que saiu de uma reunião na OMC. Entretanto juntaram-se outras potências
como Rússia e China.

Atualmente, dos membros com maior poder na OMC, apenas a União


Europeia, o Reino Unido e a Suíça mostram resistência ao levantamento de patentes. A
principal razão parece ser a defesa das farmacêuticas e empresas de biotecnologia. É o
caso da Alemanha com a BioNTech, da França com a Sanofi ou do Reino Unido com a
AstraZeneca. Essa mesma razão parece não ter influenciado os Estados Unidos, país
onde estão três das farmacêuticas que distribuem mais vacinas em todo o mundo (Pfizer,
Moderna e Johnson & Johnson). Austrália e Canadá também têm mantido posições
ambíguas nesta matéria⁵⁴.

Em maio de 2021, vários eurodeputados exortaram a Comissão Europeia a


apoiar uma suspensão dos direitos de propriedade intelectual (DPI) para as vacinas
contra a Covid-19 como um elemento essencial para acelerar o lançamento de vacinas de
baixa e média renda.
____________________

⁵³ “Doença respiratória viral causada pelo coranavírus SARS-COV-2, do género Betacoronavirus,


identificado pela primeira vez em 2019, na China, que se transmite sobretudo por contato próximo com
pessoas infetadas (através da inalação de gotículas de secreções respiratórias contendo partículas virais) e
cujos sintomas iniciais incluem febre, tosse e dificuldade respiratória, podendo evoluir para situações de
pneumonia, falência dos rins e de outros órgãos e eventual morte”. Disponível em:
<https://www.infopedia.pt/dicionarios/termos-medicos/COVID-19> Acesso em 16/02/2022.
⁵⁴ Matéria disponível em: <https://cnnportugal.iol.pt/patentes-de-vacinas/os-pros-e-os-contras-do-
levantamento-de-patentes-das-vacinas-contra-a-covid-19/20211206/61aa19c10cf2c7ea0f0bbb39>
Acesso em 16/02/2022.
21

Por outro lado, outros eurodeputados argumentam que a suspensão das


patentes é uma “falsa boa ideia” que não aceleraria o fornecimento de vacinas e
prejudicaria a inovação. Em vez disso, estes parlamentares argumentaram que a
Comissão Europeia deveria pressionar por um licenciamento voluntário somado a partilha
de conhecimento e tecnologia. Também sugeriram aumentar as instalações de produção
em outras regiões, entre estas África. Enfatizaram que esta seria a maneira mais rápida
de permitir uma distribuição global de vacinas mais justa⁵⁵.

Nessa reunião, o vice-presidente da Comissão Europeia e Comissário para o


Comércio, Valdis Dombrovskis, sublinhou que, embora a UE esteja pronta para discutir a
questão da suspensão de patentes, as soluções propostas incluem limitar as restrições à
exportação, resolver os gargalos de produção, examinar o licenciamento obrigatório,
investir na capacidade de produção nos países em desenvolvimento e aumentar as
contribuições para o esquema COVAX⁵⁶.

Além disso, alguns especialistas afirmam que a discussão do levantamento de


patentes é prematura e não vai ajudar a combater no imediato a escassez de vacinas. O
caminho, para estes, deve ser a negociação de licenças voluntárias entre os Estados e as
farmacêuticas, para aumentar realmente a produção industrial.

Diante do exposto, observa-se que a opção por licenças obrigatórias descrita


no CPI envolve procedimentos burocráticos e inexequíveis na situação pandêmica. Deste
modo, países como Canadá e Alemanha enveredaram pela possibilidade do ministério da
saúde isentar temporariamente de licenças as empresas que necessitem de recorrer a
tecnologias patenteadas no âmbito da covid-19, garantindo segurança jurídica a estas
empresas. Os titulares das patentes serão remunerados pelo Estado.

Para Portugal, seria uma via aceitável, desde que haja o compromisso claro e
inequívoco do Estado para compensar os titulares das patentes em termos justos e
razoáveis. Concordamos que a inexistência de compensação traz custos reputacionais
significativos ao país, com impactos imprevisíveis na inovação nacional.

Nessa situação, cabe ao Estado garantir que o sistema de propriedade


industrial funcione devidamente para patentear novas invenções que os titulares desejem
proteger para exploração futura, e que os produtores portugueses tenham acesso à
tecnologia proprietária necessária aos produtos que poderão fabricar, com a certeza e a
segurança que não serão processados.

____________________

⁵⁵ Trecho retirado do Parlamento Europeu, disponível em: <https://www.europarl.europa.eu/news/pt/press-


room/20210517IPR04116/suspensao-das-patentes-das-vacinas-contra-a-covid-19-divide-eurodeputados>
Acesso em 16/02/2022.
⁵⁶ Para saber sobre o esquema, disponível em: <https://www.who.int/initiatives/act-accelerator/covax>
Acesso em 16/02/2022.
22
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a descrição das funções, vantagens e modalidades de proteger uma


invenção, através da Propriedade Industrial, verifica-se a relevância que o sistema de
patentes enseja no desenvolvimento econômico e social da humanidade.

Desde os primórdios, o homem tem a capacidade inventiva afiada, desafiando


a natureza ao prospectar melhorias para sua própria sobrevivência. Obviamente que o
direito legal de proteção foi incrementado com a revolução francesa, num primeiro
momento, e a revolução industrial, mais tarde, em que criaram condições mais objetivas
para que se produzisse uma mudança estrutural no modo de encarar as invenções e uma
progressiva autonomização do conhecimento técnico face ao puro conhecimento
científico.

Desse modo, a proteção da patente tem a finalidade de incentivar o


desenvolvimento tecnológico, econômico e social por meio de uma recompensa da
criatividade intelectual. Frisa-se que, nem tudo pode ser objeto de patente, por isso é
fundamental que além da invenção possuir os 3 (três) requisitos básicos de
patenteabilidade, denominadamente, ser nova; ter atividade inventiva e ser suscetível de
aplicação industrial, é necessário que ela não se enquadrem nas limitações tanto do seu
objeto quanto da patente em si.

Além disso, ressalta-se que a patente constitui um acordo entre o poder


publico e o interesse do privado (inventor). Por isso, é concedida por um tempo
determinado (normalmente, possui vigência de 20 anos depois da data do depósito do
pedido), em que as autoridades garantem uma remuneração ao inventor pela sua
capacidade de explorar o novo. Importante perceber que após a expiração do prazo de
vigência, a invenção cai em “domínio público”, a qual poderá ser utilizada por qualquer
pessoa.

O respeito às patentes é uma questão complexa e compete ao titular da


patente negociar ou litigar judicialmente pela infração de seus direitos. Abordamos
também alguns problemas no âmbito das patentes, nos casos em que pessoas e/ou
entidades que patenteiam certas invenções, ainda que não façam uso das mesmas,
apenas para fazer reserva de mercado ou exigir prestação pecuniária de quem deseja a
explorar, obrigando o interessado a celebrar um contrato de licença, designadamente
conhecidas como “Patent Trolls”.

Entretanto, também há situações específicas em que outros interessados


podem solicitar licenças obrigatórias, quando a falta ou insuficiência de exploração da
invenção patenteada, visto que na legislação portuguesa, a obrigatoriedade de exploração
é fundamental, além de que, a licença obrigatória também pode ser concedida se houver
uma dependência entre patentes e quando existirem motivos de interesse público, o qual
o próprio governo é o interessado.

Nesse sentido, considera-se que existem motivos de interesse público quando


o início, o aumento ou a generalização da exploração da invenção ou melhoria das
condições em que tal exploração se realizar sejam de primordial importância para a saúde
pública ou para a defesa nacional.
23

Salienta-se que, em um contexto pandêmico, no qual ainda vivemos, discute-


se em âmbito global, se o levantamento de patentes é a opção mais acertada, visto que
isso pode acarretar um entrave das farmacêuticas em “guardar segredo” das suas
tecnologias e proteger seus direitos em prol da defesa da invenção. Alguns defendem que
o levantamento é o melhor para disponibilizar informação para todos e produzir a
vacinação em massa para combater de uma vez a Covid-19.

Por outro viés, os críticos afirmam que o assunto é muito mais complexo e
esse levantamento de patentes não vai ajudar a combater no imediato a escassez de
vacinas. O caminho, para estes, deve ser a negociação de licenças voluntárias entre os
Estados e as farmacêuticas, para aumentar realmente a produção industrial.

A verdade é que cabe ao Estado garantir que o sistema de propriedade


Industrial funcione devidamente para patentear novas invenções que os titulares desejem
proteger para exploração futura, e que os produtores portugueses tenham acesso à
tecnologia proprietária necessária aos produtos que poderão fabricar, com a certeza e a
segurança que não serão processados.
24

REFERÊNCIAS

BESSEN, James; MEURER, Michael J.; FORD, Jennifer Laurissa. The Private and Social
Costs of Patent Trolls. Social Science Research Network, v. 1, 2011. Disponível em:
<https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1930272>.Acesso em: 14 de
fevereiro 2022.

COUTO GONÇALVES, Luís; Manual de Direito Industrial: Propriedade industrial e


concorrência desleal; 8ª ed.; Coimbra: Almedina; 2019, pp.39-122.

Documento de PDF de curso online DL 101P BR – Módulo 7 – Patentes – (7V), 2020,


OMPI/INPI, pg. 14.

FELDMAN, Robin; EWING, Thomas, The Giants Among Us, Stanford Technology Law
Review, v. 1, 2011, p. 25. Disponível em: <https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?
abstract_id=1923449>. Acesso em 13 de fevereiro de 2022.

MANTOVANI, Luca, em dissertação denominada de Patent Trolls: Desdobramentos e


eventual atuação no cenário brasileiro, Porto Alegre, 2019, p. 28.

MCDONOUGH, James, The Myth of the Patent Troll: An Alternative View of the
Function of Patent Dealers in an Idea Economy, Emory Law Journal, v. 56, p. 189–228,
2006, p. 227–228. Disponível em: <https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?
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MORGAN, Marc, Stop Looking Under the Bridge for Imaginary Creatures : A Comment
Examining Who Really Deserves The Title Patent Troll, The Federal Circuit Bar
Journal, v. 17, p. 165–180, 2008. Disponível em: <https://heinonline.org/HOL/Page?
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TYLER, Neil S., Patent Nonuse and Technology Suppression: The Use of
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Acesso em 14 de fevereiro de 2022.

Atos legislativos/Orientações/jurisprudência:

Acórdão de Tribunal de Justiça de 18/10/2011 (Processo C-34/10). Disponível em:


http://curia.europa.eu/juris/recherche.jsf?cid=10870163

Código da Propriedade Industrial Português, na atualização mais recente introduzida


pela lei nº 110/2018 de 10 de dezembro de 2018;
25

Decreto n.º 22/75. Disponível em: http://gddc.ministeriopublico.pt/. Acesso em 14 de


fevereiro de 2022.

SITES:

- Website EUIPO: https://euipo.europa.eu/ohimportal/pt;


- Website do Dicionário Macmillan: https://www.macmillandictionary.co;
- Website Justiça.gov.pt: https://justica.gov.pt/;
- Website WIPO: https://www.wipo.int/portal/en/index.html;
- Website INPI Portugal – Instituto Nacional de Propriedade Industrial:
https://inpi.justica.gov.pt/;
- Website da Procuradoria-Geral de Lisboa: https://www.pgdlisboa.pt/leis/;
- Website da Intel: https://www.intel.com/content/www/us/en/homepage.html;
- Website da CNN Portugal: https://cnnportugal.iol.pt/patentes-de-vacinas/os-pros-e-
os-contras-do-levantamento-de-patentes-das-vacinas-contra-a-covid-
19/20211206/61aa19c10cf2c7ea0f0bbb3;
- Website do Parlamento Europeu: https://www.europarl.europa.eu/news/pt/press-
room/20210517IPR04116/suspensao-das-patentes-das-vacinas-contra-a-covid-19-
divide-eurodeputado;

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