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Resultados de aprendizagem
2. Indicar as razões principais para adquirir patentes quando se deseja tirar partido das
invenções.
Descobertas e invenções: O termo “invenção” também costuma ser usado como sinônimo de
“descoberta”. Muitas leis de patentes estabelecem que a descoberta não é, em si, uma invenção
patenteável. Para ilustrar a diferença entre descobertas e invenções, vejamos o exemplo do
elemento radioativo rádio, que foi isolado e teve suas propriedades determinadas por Marie Curie.
A descoberta não era patenteável, pois não cumpria os requisitos de novidade (o rádio já existia
na natureza) e não tinha aplicação industrial. Portanto, não era uma invenção. Já a “descoberta”
dos raios X por Rontgen foi considerada uma invenção patenteável, pois se tratava de uma
aplicação com fins médicos das propriedades de um material radioativo. Assim, a distinção
entre objetos patenteáveis e não patenteáveis é fundamental, uma vez que a mera descoberta de
elementos presentes na natureza não é considerada patenteável. Alguns avanços tecnológicos
recentes, em particular na área de biotecnologia, envolvem questões delicadas relativas ao uso de
técnicas de manipulação genética na produção de novos produtos genéticos.
Uma patente é o direito territorial, concedido pelo Estado a um titular de direitos, de excluir as
outras pessoas da exploração comercial da invenção durante um período limitado, em troca da
divulgação da invenção, para que as outras pessoas também possam se beneficiar da invenção.
A divulgação da invenção é, pois, uma consideração importante em qualquer processo de
concessão de patente. Este equilíbrio entre o interesse do titular de direitos de patente e o
interesse de terceiros tem sido discutido recentemente no contexto da política concorrencial, das
políticas de promoção das atividades de pesquisa e da política de saúde pública. É fundamental
encontrar o equilíbrio mais apropriado para a obtenção do máximo de benefício para o público em
geral, tendo em conta todas as políticas pertinentes e as circunstâncias particulares de cada país,
inclusive o contexto econômico, social e jurídico.
1 A Case Book on the Enforcement of Intellectual Property Rights. LTC Harms. Publicação da OMPI nº 791e. Disponível
em: https://www.wipo.int/publications/en/details.jsp?id=4363&plang=EN
2 A promoção da inovação: o bom equilíbrio entre a concorrência e o direito e a política de patentes (Relatório da
Comissão Federal do Comércio dos EUA), 2 (outubro de 2003).
3 Keith E. Maskus, Intellectual Property Rights in the Global Economy (Washington, D.C.: Institute for International
Development.
5 Ibid. Abbott escreveu também: “A proteção de patente pode ter um impacto sobre o desenvolvimento de uma indústria
farmacêutica que é diferente dos seus efeitos sobre o desenvolvimento de uma indústria automobilística. É provável
que a proteção de patente tenha um efeito diferente sobre o desenvolvimento de uma economia recentemente
industrializada em comparação com uma economia menos desenvolvida”.
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Maskus, Intellectual Property Rights in the Global Economy, quadro 4.9, 126 (fonte: Mansfield 1994)
Pedidos de patente de residentes por bilhão de dólares do PIB dos dez principais países de
origem dos pedidos, 2007 e 2017
Fonte: Fundação Nacional de Ciências, estimativas do Centro Nacional para Estatísticas em Ciências e Engenharia, agosto de 2017.
Disponível em: https://nsf.gov/statistics/2018/nsb20181/assets/1387/overview.pdf
7 Os dados da China de 2017 não são comparáveis com os de anos anteriores em razão da forma como o instituto
chinês de PI passou a registrar os novos pedidos de patente. Antes de 2017, eram computados todos os pedidos
recebidos. Deste ano em diante, porém, passaram a ser considerados somente os pedidos acompanhados do
recolhimento das taxas devidas. Por conta dessa interrupção na série de dados e do número elevado de pedidos com
origem na China, é inviável calcular com precisão uma taxa de crescimento em termos mundiais para o ano de 2017
(ver a seção descritiva sobre os dados). Os totais mundiais são estimativas da OMPI com base nos dados fornecidos
por 156 institutos de patentes. Esses totais incluem os pedidos depositados diretamente nos institutos nacionais e
regionais e os pedidos apresentados em fase nacional nos termos do Tratado de Cooperação em matéria de Patentes
(quando aplicável).
Fonte: Relatório Mundial sobre a Propriedade Intelectual: a nova face da inovação, 2011. Disponível em:
https://www.wipo.int/edocs/pubdocs/en/intproperty/944/wipo_pub_944_2011.pdf
8
Pedidos de patente depositados nos termos do Tratado de Cooperação em matéria de Patentes (PCT).
Fonte: Vicki Loise e Ashley J. Stevens, The Bayh-Dole Act turns 30. Science Translational Medicine, vol. 2, nº 52, p. 52cm27, (2010).
Disponível em: https://stm.sciencemag.org/content/2/52/52cm27.abstract
Fonte: Research & Development, Innovation, and the Science and Engineering Workforce, 2012. Disponível em:
http://nsf.gov/nsb/publications/2012/nsb1203.pdf
Pedidos depositados em institutos de patentes de alguns países de baixa e média renda, 2017
Portanto, o papel do sistema de patentes tem menor visibilidade para os usuários nacionais do
sistema de patentes. Diversos fatores, como a falta de informação das empresas, universidades e
institutos de pesquisa locais sobre os potenciais benefícios do sistema de patentes, podem
explicar a razão do nível reduzido de atividades de patenteamento por parte de nacionais e
residentes nos países em desenvolvimento. 9
9 Estudo da OMPI sobre patentes, elaborado por Getachew Mengistie, diretor geral interino do Instituto Etíope da
Propriedade Intelectual, A/39/13 Add.1. Disponível em: http://www.wipo.int/meetings/en/doc_details.jsp?doc_id=17555
- a força ou a fraqueza do sistema de PI (por exemplo, patentes) tem um forte efeito sobre o
investimento estrangeiro direto e um nível baixo de proteção de PI impedirá que sejam
feitos certos tipos de investimento em vários setores da economia.
Ideias inovadoras e criativas são a base das empresas com maior sucesso. Porém, as ideias em
si têm pouco valor. Precisam de ser desenvolvidas, transformadas em produtos ou serviços
inovadores e comercializados com êxito a fim de permitirem que as empresas, especialmente as
pequenas e médias empresas (PMEs), colham os benefícios da inovação e da criatividade. As
patentes podem ser essenciais para transformar ideias inovadoras e invenções em produtos
competitivos que aumentam as margens de lucro significativamente.
• forte posição no mercado: através destes direitos exclusivos, o titular pode se estabelecer no
mercado como ator preeminente;
• uma maior rentabilidade do capital investido: tendo investido muito dinheiro e tempo na criação
de produtos inovadores, o titular de direitos pode, sob a proteção destes direitos exclusivos,
comercializar a invenção, viabilizando a obtenção pelo titular de direitos de um retorno mais
elevado sobre o investimento;
• se você não patentear a sua invenção, seus concorrentes podem aproveitar-se dela: se o
produto fizer sucesso, muitas empresas concorrentes vão querer fabricar o mesmo produto
utilizando a sua invenção, mas sem ter de pagar por essa utilização. Empresas maiores
podem tirar partido de economias de escala para produzir o produto a custos mais baixos e
lançar o produto no mercado a um preço mais favorável. Isto pode reduzir consideravelmente
a participação de mercado da sua empresa para esse produto. Mesmo pequenas empresas
concorrentes poderão produzir o mesmo produto e vendê-lo mais barato pois não têm de
recuperar as despesas de pesquisa e desenvolvimento incorridas pelo titular de direitos.
• Por fim, como se verá mais à frente neste curso, além das patentes, há outros mecanismos
que podem ser usados na proteção de inovações. A proteção de segredos comerciais, por
exemplo, pode oferecer algumas vantagens em relação à proteção de patente. No entanto,
uma das desvantagens da proteção de segredos comerciais é que outra pessoa – que venha
Leia o texto abaixo relativo à estratégia elaborada por uma empresa para proteger e aplicar
seu portfólio de patentes.
A Tesla é uma montadora automotiva e empresa de energia que ficou famosa principalmente pela
fabricação de automóveis elétricos e pela atuação de seu CEO, o empresário Elon Musk. Com um nome
que homenageia o famoso engenheiro do século XIX Nikola Tesla, a montadora se propõe a encontrar
alternativas inovadoras no setor de veículos elétricos para enfrentar a crise do carbono, oferecendo um
meio de transporte sustentável e tecnologia limpa.
Desde sua criação, em 2003, a Tesla vem se valendo da proteção dos direitos de propriedade
intelectual, tendo depositado junto ao Instituto de Marcas e Patentes dos Estados Unidos (USPTO) mais
de 481 patentes1 – e esse número não para de crescer. O relatório anual publicado no fim do ano fiscal
de 2012 descreve a política de propriedade intelectual da empresa, evidenciando uma grande
preocupação com a proteção dos ativos de PI ao afirmar: “Nosso êxito depende, ao menos em parte, de
nossa capacidade de proteger nossas preciosas tecnologias e ativos de propriedade intelectual. Com
esse objetivo, recorremos a uma combinação de patentes, pedidos de patente, segredos comerciais,
incluindo conhecimentos especializados, acordos de confidencialidade firmados com funcionários e
parceiros, leis de direitos de autor, registro de marcas, licenças de propriedade intelectual e outros
direitos contratuais para estabelecer e proteger nossos direitos de propriedade sobre nossas
tecnologias. (...). Pretendemos continuar a depositar pedidos de patente adicionais com relação a
nossas tecnologias. Não sabemos se nossos pedidos de patente pendentes resultarão na concessão de
patentes ou se o processo de exame nos obrigará a restringir nossas reivindicações. Mesmo que
obtenhamos as patentes, não há como garantir que esses pedidos de patente pendentes serão
suficientes para nos oferecer a devida proteção”.
Em 12 de junho de 2014, Elon Musk publicou no blog da Tesla um texto em que dizia que “todas as
nossas patentes pertencem a vocês” e esclarecia que, no espírito do movimento do código aberto, e
com o intuito de incentivar o desenvolvimento da tecnologia dos veículos elétricos, a empresa decidiu
que não iria entrar com ações judiciais por violação de patente contra pessoas que usassem de boa-fé
sua tecnologia. Até então, no saguão da sede da empresa, em Palo Alto, havia uma parede em que
eram exibidas todas as patentes da Tesla. Por isso, o texto de Musk começava com o anúncio de que
essa parede física e metafórica de patentes havia sido derrubada, e embora os pedidos de patente
tivessem por objetivo impedir que outras pessoas copiassem a tecnologia da empresa, a Tesla chegara
à conclusão de que as patentes podem ser usadas para obstruir o progresso. Por fim, o CEO afirmava
que a intenção da empresa era estimular o rápido avanço da tecnologia dos automóveis elétricos e
motivar engenheiros talentosos a inovar com base em sua propriedade intelectual. A expectativa era que
isso contribuísse para expandir o mercado de carros elétricos e para ampliar o interesse na construção
da infraestrutura de que esse mercado necessita, como estações de recarga e tecnologia de baterias.
Daí em diante, como se pode constatar no relatório anual publicado no fim do ano fiscal de 2018, a
empresa incorporou a nova abordagem, afirmando o seguinte: “Como parte do nosso negócio,
procuramos proteger nossos direitos de propriedade intelectual relativos a patentes, marcas, direitos de
autor, segredos comerciais – inclusive por meio de acordos de confidencialidade firmados com
funcionários e parceiros – e outros arranjos contratuais. Além disso, anunciamos anteriormente uma
política de patentes em que nos comprometemos, de forma irrevogável, a não mover ações judiciais
contra quem quer que viole as nossas patentes em atividades relacionadas a veículos elétricos ou
equipamentos a eles associados, desde que isso seja feito de boa-fé. Assumimos esse compromisso
com o intuito de promover a formação de uma plataforma comum, de rápido desenvolvimento, para os
veículos elétricos, o que trará benefícios para a Tesla, para outros fabricantes de veículos elétricos e
para o planeta”.
Ao contrário do que se costuma pensar, a inovação aberta e o sistema de patentes não são mutuamente
excludentes. O titular de uma patente pode usá-la como quiser, inclusive com fins publicitários e
comerciais, como faz a Tesla em benefício de sua reputação e imagem. Evidentemente, a empresa
considera que a decisão de não processar terceiros que, agindo de boa-fé, violem suas patentes traz
mais vantagens para o seu negócio do que qualquer ação judicial. Entre outros benefícios, com a
política a empresa reduz seus gastos com honorários advocatícios, além de promover um avanço do
conhecimento que poderá lhe trazer vantagens no desenvolvimento de novas tecnologias.
O sistema de patentes oferece proteção às invenções, mas também confere aos titulares de
direitos ampla margem de ação para decidir o que fazer com suas patentes, como, por exemplo, a
liberdade de decidir como aplicar os direitos que elas lhes garantem. No caso em questão,
observamos que o sistema de patentes ajudou a empresa a construir um portfólio de patentes
considerável, juntamente com segredos comerciais e conhecimentos especializados, todos
relacionados com a tecnologia de veículos elétricos. Assim, ao continuar a depositar pedidos de
patente, a Tesla demonstra como a proteção da propriedade intelectual é importante para a sua
estratégia de negócios. Ao mesmo tempo, ao decidir não entrar na Justiça contra indivíduos que,
agindo de boa-fé, violem suas patentes, a empresa mostra que as patentes também podem ser
uma ferramenta importante para uma construção colaborativa do conhecimento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) participou como agência executora. A OMPI e a Organização
da Unidade Africana (OUA) também prestaram homenagem à invenção de Ovadje. Em 1995, o médico
foi considerado o melhor cientista africano, tendo sido agraciado também com a medalha de ouro
OMPI/OAU por seus esforços científicos para salvar a vida de mulheres que normalmente morrem em
decorrência de gestações anormais (gravidez ectópica). Ovadje obteve proteção de patente para sua
invenção, e o equipamento EAT-SET já se encontra protegido por patentes em nove países estrangeiros.
A EAT-SET Industries foi criada em abril de 2001, essencialmente com o objetivo de facilitar a
comercialização do dispositivo médico EAT-SET. Embora ainda esteja dando seus primeiros passos, a
empresa já atraiu investidores públicos e privados, com a captação de recursos chegando a quase US$
100 mil. Na opinião de Ovadje, as patentes detidas pela EAT-SET Industries foram fundamentais para
cimentar a confiança dos investidores. Segundo o médico, os investidores estão dispostos a injetar cerca
de US$ 1 milhão na empresa.
Fonte: https://www.wipo.int/ipadvantage/en/details.jsp?id=2545
QAA 3: Explique em poucas palavras em que consiste a invenção e qual problema ela
pretende solucionar.
A invenção consiste em um equipamento médico que permite realizar transfusões de sangue mais
seguras, reutilizando o sangue do próprio paciente, sendo particularmente indicado para mulheres
grávidas que enfrentam complicações associadas a gestações ectópicas. O dispositivo pretende
reduzir os índices de morbidade e mortalidade desse grupo de mulheres. As gestações ectópicas
normalmente causam hemorragias internas, e a invenção representa uma opção de baixo custo
para a realização de transfusões por não depender de doações de sangue, que implicam custos
transacionais.
(a) Carsten Fink e Keith E. Maskus, Intellectual Property and Development - Lessons from Recent
Economic Research, (World Bank e Oxford University Press, 2005). Disponível em:
http://siteresources.worldbank.org/INTRANETTRADE/Resources/Pubs/IPRs-book.pdf.
(b) Carlos A. Primo Braga, Carsten Fink e Claudia Paz Sepúlveda, Intellectual Property Rights and
Economic Development, (1998). Disponível em:
http://www.iatp.org/files/Intellectual_Property_Rights_and_Economic_Deve.pdf .