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Objetivos de aprendizagem
A esta altura, você já deve ter adquirido um sólido entendimento das seguintes questões:
razões para patentear invenções e o seu impacto econômico; a estrutura de um pedido de
patente; os critérios de patenteabilidade; a lei que rege a concessão das patentes; as
alternativas à proteção por patente; etc. Porém, o panorama das patentes transcende estas
nuances. No nível macro, o contexto social e econômico em que funciona a PI (inclusive as
patentes) pode definir tais nuances. Por isso, este módulo introduz algumas questões
práticas importantes que afetaram o panorama das patentes e ajudaram a definir políticas e
práticas sociais e econômicas repercussivas.
Invenções patenteadas são utilizadas na nossa vida de todos os dias, desde processos
químicos utilizados nos sabonetes até vários tipos de dispositivos utilizados em casa, que
envolvem a utilização de produtos ou processos patenteados. A política de ciência e
tecnologia define a direção estratégica para a transferência de tecnologia das empresas
privadas ou e das universidades para o setor privado, que desenvolve e transforma vários
resultados da pesquisa em produtos tecnológicos que são mais tarde comercializados, deste
modo criando empregos e gerando rendimentos nas diversas fases do processo e, mais
importante, gerando conhecimentos. A utilização de invenções patenteadas na pesquisa, no
contexto da pesquisa universitária, é examinada mais tarde em termos de várias políticas e
da importância de uma política nacional de ciência e tecnologia para estabelecer certas
regras e regulamentos destinados a facilitar o crescimento econômico.
A política de ciência e tecnologia pode ser definida como uma estratégia para desenvolver e
implementar medidas nessas áreas e trabalhar, para esse fim, com o setor privado, o
Estado e os governos locais, as comunidades científicas e de ensino superior, e outras
nações. Este tipo de planejamento estratégico no nível nacional incorpora institutos de PI e
organismos de transferência de tecnologia como parte de um recurso e instrumento
combinados para o avanço tecnológico. Porém, no plano mais básico, a propriedade
intelectual tem uma função significativa através das patentes, especificamente em termos de
avanço tecnológico, no nível institucional.
3
University to industry knowledge transfer: literature review and unanswered questions. Ajay Aggrawal,
http://www.rotman.utoronto.ca/Ajay.Agrawal/Documents/Agrawal-IJMR.pdf
São também necessários vários tipos de competência para uma colaboração bem-sucedida
no processo de transferência de tecnologia. É geralmente preciso um especialista em
estratégia comercial ou em desenvolvimento empresarial, assim como especialistas em
marketing, cientistas (pesquisadores, assistentes, estudantes de pós-graduação e pós-
doutorandos, membros de sociedades científicas e pesquisadores convidados),
especialistas em produção e em finanças, e juristas especializados em propriedade
intelectual, especialmente em patentes. Estas competências seriam necessárias dentro da
instituição. Fora da instituição, há a necessidade de colaboração com patrocinadores
(indústria, governo e outras organizações) e com os institutos nacionais de patentes.
No fim da década de 1990, reproduzindo a mudança de política nos EUA, muitos outros
países da OCDE modificaram os regulamentos de financiamento da pesquisa e/ou as leis
relativas à contratação de funcionários para autorizar as instituições de pesquisa a solicitar e
possuir direitos de PI e a licenciar a PI criada com financiamento público. Na Alemanha, na
Áustria, na Dinamarca e no Japão, o principal efeito destas mudanças foi a abolição do
chamado "privilégio do professor", que dava aos professores universitários o direito de
possuir patentes. O direito de propriedade foi agora transferido para as universidades e, em
troca, os inventores universitários recebem uma parte dos royalties. Na Suécia, também tem
sido debatida a questão de saber se deve ser adotada uma medida semelhante para
transferir a propriedade às instituições. Por enquanto, mantém-se o status quo e as medidas
administrativas concentram-se no desenvolvimento da capacidade das universidades de
apoiar os professores no processo da obtenção de patentes.
No Reino Unido, esta maneira de tratar as questões relativas à propriedade das instituições
foi facilitada pela introdução dos contratos-tipo Lambert.4 Os acordos resultaram de um
processo de revisão pelo Departamento do Comércio e da Indústria. Esta revisão levou ao
desenvolvimento de alguns contratos-tipo para resolver questões de propriedade, custo,
tempo e negociação na colaboração entre universidades e empresas, bem como para
estabelecer um quadro para a negociação de colaborações entre universidades e empresas.
Esta gestão da propriedade intelectual, como resultado de política governamental direta,
estabeleceu um quadro de referência para os organismos universitários de transferência de
tecnologia simplificando, portanto, o procedimento para as universidades no Reino Unido e
fornecendo uma norma de política nacional e um quadro de referência para a transferência
de tecnologia das universidades para o setor privado.
Contratos-tipo Lambert5
Contrato de pesquisa e Termos DPI
colaboração
Contrato 1 O patrocinador tem direitos não exclusivos para utilizar em específica Universidade
área/território; não há sublicenças.
Contrato 2 O patrocinador pode negociar mais licenças relativas a uma parte da PI ou a Universidade
toda a PI da universidade.
Contrato 4 A universidade tem o direito de utilização para fins não comerciais. Patrocinador
Contrato 4A Cada uma das partes tem o direito de explorar alguns dos resultados obtidos Universidade
durante o projeto e obtém a cessão desses resultados. A universidade tem o e patrocinador
direito de utilização para fins acadêmicos e de pesquisa, o patrocinador para
fins de pesquisa.
Contrato 6 A universidade tem o direito de utilização para fins acadêmicos e de pesquisa. Patrocinador
4
http://www.ipo.gov.uk/lambert
5Ver https://www.gov.uk/guidance/university-and-business-collaboration-agreements-lambert-toolkit
para mais informações.
A qualidade é um aspecto essencial do sistema de patentes, para garantir que este preenche
a função de promover a inovação, contribuindo para a disseminação e a transferência de
tecnologia e fomentando o desenvolvimento tecnológico, social e econômico do país em
questão. Erros na concessão de patentes e nos procedimentos administrativos podem causar
incerteza jurídica e aumentar os custos para todos os usuários do sistema de patentes:
titulares de direitos, concorrentes, usuários de informações de patentes e os próprios institutos
de patentes.
Embora não haja uma definição universalmente aceita do que constitui a “qualidade das
patentes”, em geral, do ponto de vista do instituto de patentes, entende-se que o termo
compreende dois aspectos. O primeiro e mais importante é o fato de que a qualidade de
patentes diz respeito à qualidade da patente propriamente dita, isto é, uma patente que
satisfaz os requisitos jurídicos estipulados na lei aplicável, tais como: novidade, etapa
inventiva, aplicabilidade industrial e divulgação suficiente. A patente que satisfaz os requisitos
jurídicos possui uma alta presunção de validade e muito provavelmente não seria revogada
caso viesse a ser contestada. Isto gera certeza jurídica tanto para o titular da patente como
para terceiros.
(i) ao processo de pesquisa e exame – o processo de pesquisa e exame deve ser exaustivo
e abrangente, em conformidade com a lei aplicável e o padrão estabelecido. O processo deve
oferecer produtos e serviços de pesquisa e exame que sejam confiáveis e coerentes. A
identificação do estado da arte e o raciocínio por trás das decisões devem ser relevantes e
abrangentes. Além disso, para garantir uma pesquisa completa sobre a técnica anterior,
durante o processo de concessão da patente, os examinadores precisam ter acesso a
ferramentas de pesquisa e a bancos de dados adequados;
(ii) tempo oportuno – cada etapa processual deve ser realizada e as ações e decisões do
instituto respectivamente efetuadas e emitidas, em tempo oportuno;
Corrigir um erro pode ser algo complicado e oneroso. O fato de não reconhecer a existência
de um erro pode também acarretar custos. Por exemplo, a concessão de uma patente que
não satisfaz os requisitos jurídicos necessários pode fazer com que os concorrentes acreditem
que não podem penetrar no mercado relevante a menos que negociem uma licença com o
titular da patente, ou eles podem ter de se submeter a um litígio oneroso para obter a
revogação da patente e evitar uma ação judicial por violação. O fato de não se atualizar o
registro para mostrar que a patente foi renovada pode significar que a patente expirou, e os
concorrentes podem começar a fazer investimentos para mais tarde descobrir que a patente
ainda se encontra vigente.
Ainda que a configuração de tais mecanismos varie de um país para outro ou de uma região
para outra, o objetivo comum é oferecer um meio simples, rápido e barato de aumentar e
garantir a qualidade e a validade das patentes, com insumos adicionais ao processo. Esses
mecanismos oferecem também uma alternativa aos processo judiciais, em potencial, longos
e onerosos, se o instituto de patente estiver equipado para levar a cabo esses processos de
maneira efetiva e eficaz. Veja abaixo os mecanismos mais comuns.
Um opositor deve alegar pelo menos um motivo de oposição entre aqueles estipulados pela
lei aplicável. Embora os motivos de oposição variem de país para país, a não conformidade
com os principais critérios de patenteabilidade – isto é, matéria patenteável, novidade, etapa
inventiva, aplicabilidade ou utilidade industrial e divulgação suficiente – são motivos que
constam em muitas leis.
A parte terceira que tiver enviado as informações não poderá participar do exame
subsequente ou do processo de revisão. O envio de informações relevantes não desencadeia
nenhum processo específico de revisão (embora o examinador possa levar em consideração,
se apropriado, as informações apresentadas). Essas informações serão simplesmente
incluídas no arquivo que poderá ser consultado pelo público.
Ao longo das últimas décadas, o trabalho dos institutos de patentes vem tornando-se cada
vez mais exigente em muitos aspectos. O número de pedidos de patentes depositados
globalmente cresceu, refletindo a importância da propriedade intelectual na economia global.
Pedidos de patente conexos estão sendo depositados em muitas jurisdições por requerentes
que buscam proteger suas invenções em várias delas. Em tais casos, os pedidos relacionados
com as mesmas invenções são processados separadamente, e muitas vezes
simultaneamente, por vários institutos diferentes, cada um deles conduzindo paralelamente
suas verificações, o que resulta em um grande volume de trabalho duplicado. Além disso, a
Equipados com recursos limitados, institutos de patentes em todo o mundo têm cada vez mais
procurado cooperações internacionais para lidar com esses desafios. Tem havido uma
cooperação extensiva entre os institutos de PI nos níveis bilateral, regional e internacional
visando reduzir a duplicação do trabalho e melhorar a qualidade das patentes. Tal cooperação
existe entre os institutos de países desenvolvidos, entre os institutos de países desenvolvidos
e de países em desenvolvimento ou ainda entre os institutos de países em desenvolvimento.
Há uma vasta gama de cooperações, que inclui: o compartilhamento de informações de
patentes e de ferramentas de pesquisa, a realização de pesquisa e exame para um instituto
por parte de outros institutos, treinamento e capacitação de pessoal por outro instituto, o
compartilhamento dos resultados do trabalho de pesquisa e exame, e a colaboração na
pesquisa e no exame da técnica anterior.
Além disso, foram desenvolvidas várias plataformas multilaterais para utilizar os resultados
do trabalho de pesquisa e exame produzidos por outros institutos. Alguns exemplos são: o
ASEAN Patent Examination Co-operation Program (Programa de Cooperação para o Exame
de Patentes da ASEAN) (ASPEC), cujos Estados membros são Brunei Darussalam, Camboja,
Indonésia, RDP do Laos, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã; e o PROSUR, um
sistema de cooperação técnica entre os institutos de propriedade industrial da Argentina,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Suriname e Uruguai. Podem-se acessar
informações sobre os detalhes dessas e de outras iniciativas a partir da página web da OMPI
Várias iniciativas de pesquisas e exames colaborativos foram levadas a cabo por alguns
institutos. No âmbito de tais iniciativas, os examinadores de diferentes institutos de patentes
com conhecimentos complementares podem trabalhar juntos nos pedidos de patentes
correspondentes, depositados em seus institutos de patentes. Por exemplo, o Instituto de
Patentes e Marcas dos Estados Unidos (USPTO) tem dois programas piloto desse tipo, um
deles com o Instituto de Patentes do Japão (JPO) e outro com o Instituto Coreano de
Propriedade Intelectual (KIPO).8
Ao conduzir pesquisa e exame de patente, podem ser utilizadas a perícia e os recursos para
pesquisa e exame disponíveis em outros institutos. Alguns institutos de patentes usam
recursos externos para efetuar o exame substantivo, parcial ou integralmente, ao mesmo
tempo que mantêm a autonomia do instituto de patentes para tomar uma decisão final sobre
a concessão da patente. Por exemplo, alguns institutos limitam o exame substantivo a certas
áreas tecnológicas estratégicas para o país envolvido, enquanto os pedidos relacionados com
outras áreas tecnológicas podem estar sujeitos apenas ao exame formal ou a um exame
terceirizado ou dentro ou fora do país.
Por exemplo, existe um acordo de cooperação bilateral para o uso da capacidade de pesquisa
e exame e entre o Instituto de Propriedade Intelectual da Papua Nova Guiné (IPOPNG) e o IP
Australia, segundo o IP Australia conduz os exames substantivos de pedidos de patentes em
nome do IPOPNG. Já nos termos do acordo entre o Principado de Mônaco e o Instituto
Europeu de Patentes (IEP), quando é depositado um pedido de patente nacional, e a pedido
expresso do depositante, o IEP produz um relatório de pesquisa de técnica anterior para
permitir ao depositante avaliar suas chances de obter uma patente europeia.
Outros institutos regionais de patentes também prestam assistência para a pesquisa e/ou
exame da técnica anterior de pedidos nacionais de patente depositados em certos institutos
dos Estados membros. Por exemplo, esse serviço é oferecido pelo Instituto Regional Africano
da Propriedade Intelectual (ARIPO) para a Gâmbia e a Zâmbia, bem como pela Organização
de Patentes da Eurásia (EAPO) para o Turquemenistão. Além disso, os institutos de PI da
China, Dinamarca, Egito, Hungria, Federação da Rússia e Reino Unido realizam trabalhos de
pesquisa e/ou exame para o institutos com os quais colaboram.
7 https://www.wipo.int/patents/en/topics/worksharing/sharing-work-products.html
8 https://www.wipo.int/patents/en/topics/worksharing/collaboration.html
Muitos institutos introduziram sistemas de gestão de qualidade para garantir que possuem
procedimentos adequados para a obtenção de resultados de alta qualidade. Os sistemas de
gestão de qualidade de alguns institutos foram certificados de acordo com uma norma
reconhecida, sendo a mais comum a ISSO 9001:2000. Tais normas abrangem os processos
e sistemas de uma organização, em vez da qualidade do serviço realmente prestado, mas
são indicações de que os sistemas implementados incentivam a obtenção de resultados de
alta qualidade e medem a produção para verificar a qualidade do trabalho e resolver quaisquer
problemas, o que, por sua vez, é um incentivo para a melhora continuada dos sistemas.
5. Normas e patentes
Em segundo lugar, se houver alguma patente (ou pedido de patente) que abranja a norma
em consideração, muitos organismos de normalização solicitam que o titular da patente
declare os termos de licenciamento com os quais pode concordar se a norma for adotada,
tais como termos razoáveis e não discriminatórios (licenças RAND) ou termos justos,
razoáveis e não discriminatórios (licenças FRAND). Se o titular de patente não aceitar esta
condição, a norma em consideração pode não ser adotada pelos membros da comissão ou
pode ser revisada.
Por exemplo, a União de Telecomunicações Internacional (ITU), a Organização
Internacional de Normalização (ISO) e a Comissão Eletrotécnica Internacional (IEC) têm
uma Política Comum de Patentes para ITU-T/ITU-R/ISO/IEC, que estabelece uma
abordagem harmonizada para a inclusão nas normas de tecnologia patenteada. A fim de
incentivar a divulgação de tecnologia patenteada antes de o processo de normalização ter
sido concluído, a política afirma que qualquer parte envolvida na normalização deve, o
quanto antes durante o desenvolvimento das normas, trazer à atenção do ITU/ISO/IEC
qualquer patente essencial ou pedido pendente conhecido que possa ser de sua
propriedade ou da propriedade de terceiros. Além disso, qualquer parte que não esteja
envolvida no processo de normalização pode assinalar quaisquer patentes essenciais ou
pedidos relevantes. Ao divulgar patentes essenciais, o titular de patente deve declarar se
está disposto a conceder uma licença gratuita ou uma licença FRAND, ou se não se dispõe
a licenciar suas patentes em nenhum dos casos.
Uma vez que um acordo entre as partes é concluído, as atividades de normalização devem
tentar evitar obstáculos que possam bloquear uma larga difusão da tecnologia. Há mais
atividades de normalização nas áreas técnicas, tais como a tecnologia digital e
telecomunicações, que envolvem várias patentes de maneira complexa. Uma maneira é o
que se chama um "pool" de patentes (grupo de patentes postas à disposição dos
[MPEG-2 patent pool]: MPEG é uma tecnologia padrão que assegura a transmissão, o
armazenamento, e a exposição de sinais vídeo digitais que podem ser utilizados, por exemplo,
através de transmissão por satélite ou em PCs. Um "pool" de patentes foi estabelecido a fim
de assegurar uma maneira justa, razoável e não discriminatória de acessar à tecnologia
patenteada incorporada na norma. Segundo o acordo de constituição do "pool", os titulares
de patentes concedem a uma entidade administrativa, a MPEG LA, licenças relativas às suas
patentes que têm a ver com a norma MPEG-2.10 Esta entidade oferece uma licença que dá
acesso às tecnologias patenteadas incluídas no "pool" de patentes, nas mesmas condições,
a preços fixos, sob uma licença única. Além disso, a MPEG LA examina constantemente
novas tecnologias patenteadas que merecem ser incluídas no "pool". O "pool" abrange mais
de 120 "patentes essenciais" e muitas mais "patentes relacionadas".
10
http://www.mpegla.com
Decisões ulteriores levam também a crer que para que uma invenção relacionada com um
computador seja patenteável, é essencial que ela conduza a um resultado técnico ou
resolva um problema técnico; para ser patenteável, a invenção tal como descrita no pedido
não deve ser um programa de computador como tal, e deve produzir um efeito técnico. Foi
também decidido que uma mistura de elementos técnicos e não técnicos pode ser
patenteável se os elementos interagirem de maneira a resolver um problema técnico. Mais
recentemente, foi decidido que reivindicações de programas de computador podem ser
aceitáveis, desde que o efeito técnico do programa de computador (software) em um
produto (hardware) ultrapasse o efeito técnico previsto no caso de uma tal interação.
Essa abordagem foi definida por duas decisões muito influentes da Câmara de Recursos.
Em T 0641/00 (Duas identidades/ COMVIK) de 26/09/2002 e T 0258/03 (Método de leilão
No processo de 1972 Gottschalk v. Benson 409 U.S. 63 (1972)14, a Suprema Corte dos EUA
declarou que um método, baseado num algoritmo matemático, que funcionava num "registro
de deslocamento" de um computador para converter números decimais codificados em
binário em verdadeiros números binários não era patenteável. Contudo, o processo deu uma
indicação original ao declarar que "a transformação e redução de um artigo “a um novo
estado ou coisa” é a chave para a patenteabilidade de uma reivindicação de processo que
não inclua máquinas particulares". Em termos comuns, este "teste de máquina ou
transformação" afirma que uma reivindicação de um processo pode ser considerada para
patenteação se o processo (1) for implementado com uma máquina particular, isto é,
especificamente concebida e adaptada para executar o processo de uma maneira que
reconhecidamente não é convencional nem banal; ou então (2) transforma um artigo de uma
coisa ou estado para outro.
Depois deste processo, em Parker v. Flook 437 U.S. 584 (1978)15, a Suprema Corte decidiu
que um método para atualizar um "limite de alarme" que era utilizado para assinalar
condições anormais num processo de conversão catalítica também não era matéria
patenteável porque o único elemento novo da invenção era uma fórmula matemática
utilizada para calcular o limite de alarme.
Depois destas duas decisões, pensou-se que o software de computador seria considerado
como algoritmos matemáticos, tornando-o matéria não patenteável. Porém, em 1981, em
Diamond v. Diehr 450 U.S. 175 (1981)16, a Suprema Corte decidiu que um processo
melhorado para curar borracha era patenteável, apesar de o único elemento novo ser a
regulação do tempo controlado no software por computador, num processo para moldar
borracha sintética bruta não curada em produtos curados de precisão. A Suprema Corte
declarou que, neste caso, a invenção não era simplesmente um algoritmo matemático e,
portanto, foi considerada patenteável.
12 Extraído de https://www.epo.org/news-issues/issues/ict/hardware-and-software.html#tab4
13 http://www.bitlaw.com/software-patent/history.html
14
http://caselaw.lp.findlaw.com/scripts/getcase.pl?court=us&vol=409&invol=63
15
http://caselaw.lp.findlaw.com/cgi-bin/getcase.pl?court=US&vol=437&invol=584
16
http://caselaw.lp.findlaw.com/scripts/getcase.pl?court=us&vol=450&invol=175
Em 1998 o Tribunal Itinerante Federal emitiu a sua decisão no processo State Street Bank
and Trust Company v. Signature Financial Group, Inc., 149 F.3d 1368 (Fed. Cir. 1998)17, que
esclareceu melhor a questão da patenteabilidade de software de computador nos Estados
Unidos. Neste caso, a Signature Financial tinha obtido uma patente para um método de tipo
"Hub and Spoke" (radial) para gerir fundos mútuos. Neste método, vários fundos mútuos (ou
"spokes") agrupam os seus ativos de investimento numa única carteira de investimentos (o
"hub"). O software determina então o valor de cada fundo baseado numa participação
percentual de cada um dos ativos na carteira de investimentos. Estas informações são
rastreadas diariamente, e são utilizadas para a fixação dos preços das ações dos fundos de
investimento e da responsabilidade fiscal. O Banco State Street pediu que o Tribunal
declarasse esta invenção não patenteável como simples algoritmo matemático ou como
método comercial. O Tribunal Itinerante Federal rejeitou os argumentos do Banco State
Street e, pelo contrário, defendeu a patente. O Tribunal salientou que o software ou outros
processos que produzem um resultado "útil, concreto e tangível" deveriam ser
considerados patenteáveis. Depois da decisão sobre State Street, há poucas dúvidas de
que softwares de computador e estruturas de dados podem ser considerados matéria
patenteável nos Estados Unidos.
Um dos processos mais proeminentes nos anos recentes é Bilski v. Kappos 561 U.S.
(2010)18. A invenção em questão reivindicava um método de evitar perdas num segmento da
indústria da energia através de investimentos em outros segmentos dessa indústria. A
reivindicação do método incluía maneiras de iniciar uma série de transações a uma primeira
taxa fixa, identificar participantes no mercado com uma posição de limitação do risco, e
iniciar outra série de transações a um segundo preço fixo.
A Suprema Corte rejeitou mais tarde a opinião do Tribunal Itinerante Federal em In re Bilski,
545 F.3d 943, 88 U.S.P.Q.2d 1385 (Fed. Cir. 2008)19, segundo a qual o "teste da máquina
ou transformação" é o único teste para determinar se um processo particular constitui
matéria patenteável. Em vez disso, ele deveria ser considerado como uma "pista" para esta
análise. A maioria decidiu que a invenção de Bilski não era matéria patenteável porque era
uma tentativa de apropriação de uma ideia abstrata.
17http://scholar.google.com/scholar_case?case=4678936614949330705&hl=en&as_sdt=2&as_vis=1&oi=scholarr
18
http://docs.law.gwu.edu/facweb/claw/BilskiKappos.pdf
19
www.cafc.uscourts.gov/sites/default/files/opinions-orders/07-1130.pdf
Uma patente de gene é uma patente que reivindica tipicamente uma sequência genética
especificamente isolada, a sua composição química, os processos para obtê-la ou utilizá-la
para diferentes fins, como em testes de diagnóstico, uma sequência natural que foi alterada
pela junção de um promotor ou outras modificações para torná-la mais útil, ou uma
combinação de tais reivindicações.
A Suprema Corte sempre considerou de forma consistente que as leis da natureza, as ideias
abstratas, e os fenômenos naturais não podem ser patenteados. A Associação para a
Patologia Molecular argumentou que a Myriad apenas isolou, e não modificou, um gene já
existente na natureza, e que este gene isolado executava uma função semelhante à do
gene em forma natural. Em particular, os demandantes afirmaram que as patentes são
inconstitucionais e inválidas – argumentando que os genes humanos não podiam ser
patenteados por serem "produtos clássicos da natureza" que se encontravam dentro dos
nossos corpos, e que as patentes violavam a Primeira Emenda da Constituição e inibiam
valiosos testes de diagnóstico e pesquisa. Inversamente, a Myriad argumentou que os
genes isolados e modificados para os quais detinha patentes nunca ocorriam na natureza e
consequentemente eram matéria patenteável. Além disso, a Myriad argumentou que o
Instituto das Patentes e das Marcas dos EUA tinha concedido mais de 40.000 patentes para
20Fragmentos de http://www.law.cornell.edu/supct/cert/12-398
http://en.wikipedia.org/wiki/Association_for_Molecular_Pathology_v._Myriad_Genetics;
https://dukecpg.wordpress.com/publication-list/
A Myriad interpôs recurso, que foi aceito, e, em julho de 2011, o Tribunal Itinerante Federal
anulou22 a decisão da instância inferior (em parte) – reverteu o parecer segundo o qual uma
sequência de DNA isolada não era patenteável e a decisão do Tribunal de Distrito segundo
a qual os métodos de avaliação do diagnóstico de câncer não eram patenteáveis, e
confirmou a sua decisão (em parte) – concordando com a decisão do Tribunal de Distrito,
segundo a qual as reivindicações da Myriad para comparar sequências de DNA não eram
patenteáveis. O Tribunal declarou que o DNA isolado era quimicamente distinto do estado
natural de um gene no corpo e concluiu que, uma vez que as invenções da Myriad
descreviam sequências de DNA que não existiam na natureza, elas eram patenteáveis.
Em setembro de 2012, foi solicitada a revisão do processo pela Suprema Corte, que aceitou
o recurso relativo à decisão do Tribunal Itinerante Federal. Em 15 de abril de 2013, a
Suprema Corte dos Estados Unidos ouviu os argumentos orais sobre a questão de saber se
os genes humanos podiam ser patenteados neste caso. Em 13 de junho de 2013, numa
decisão unânime23, a Suprema Corte invalidou as reivindicações da Myriad relativas a genes
isolados. O Juiz Clarence Thomas emitiu um parecer unânime (9 - 0). A Suprema Corte
considerou que as sequências genéticas que ocorriam naturalmente e os seus produtos
derivados naturais não eram matéria patenteável e o fato de simplesmente se isolarem
genes que se encontravam na natureza não os tornava patenteáveis. Segundo o §101 da
Lei sobre as patentes, a descoberta de produtos naturais não justifica uma patente. Porém,
21
http://graphics8.nytimes.com/packages/pdf/national/20100329_patent_opinion.pdf?scp=3&sq=Myriad%20Gen
etics&st=cse
22
http://www.aclu.org/files/assets/10-1406.pdf
23
http://www.fr.com/files/uploads/MyriadDecision.pdf
Num caso semelhante ocorrido na Austrália, Cancer Voices Australia v Myriad Genetics
[2013] FCA 6525, o Tribunal considerou pela primeira vez a questão de saber se um ácido
nucleico isolado é matéria patenteável. As reivindicações da Myriad Genetics referem-se a
"um ácido nucleico isolado" abrangendo tanto DNA como RNA. Em particular, a patente
abrange as mutações no gene do câncer da mama BRCA1 associado com um risco
aumentado de câncer da mama. O Tribunal Federal da Austrália considerou que qualquer
ácido nucleico encontrado nas células, seja ele DNA, seja RNA, que tivesse sido retirado do
meio celular em que existia naturalmente (isto é, que tivesse sido isolado) era patenteável.
O Tribunal Federal Pleno julgou um recurso sobre a questão e confirmou que a invenção
era patenteável. No entanto, a Suprema Corte da Austrália anulou essa decisão, alinhando-
se com a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de que uma sequência de gene
específica não era matéria patenteável. A Suprema Corte da Austrália decidiu que o
elemento essencial da invenção reivindicada não era o “ácido nucleico isolado”, como
declarou o Tribunal Federal, mas sim as informações contidas nas sequências de genes,
que existem naturalmente no indivíduo. Portanto, a Suprema Corte da Austrália concluiu que
a extração e o isolamento dos genes não podiam ser considerados uma nova maneira de
fabricação, pois esses genes isolados continham as mesmas informações que aquelas
contidas no DNA do qual foram isoladas.
24
http://www.uspto.gov/patents/law/exam/myriad_20130613.pdf
25
http://patentdocs.typepad.com/files/cancer-voices-australia-v-myriad-genetics-inc-2013-fca-65-15-february-
2013.pdf
A qualidade é um aspecto essencial do sistema de patentes, para garantir que este preenche
a função de promover a inovação, contribuindo para a disseminação e a transferência de
tecnologia e fomentando o desenvolvimento tecnológico, social e econômico do país em
questão. Erros na concessão de patentes e nos procedimentos administrativos podem causar
incerteza jurídica e aumentar os custos para todos os usuários do sistema de patentes:
titulares de direitos, concorrentes, usuários de informações de patentes e os próprios institutos
de patentes.
A qualidade das patentes diz respeito à qualidade da patente propriamente dita, isto é, uma
patente que satisfaz os requisitos jurídicos estipulados na lei aplicável (novidade, etapa
inventiva, aplicabilidade industrial e divulgação suficiente), bem como à qualidade do processo
de concessão.
Michael Heller inventou a frase "tragédia dos anticomuns" (Heller 1998, Heller e Eisenberg
1998), que descreve uma quebra de coordenação quando a existência de muitos titulares de
direitos contraria a realização de um resultado socialmente desejável. No mundo das
patentes, com um número crescente de insumos de pesquisa, o inovador depara-se com uma
acumulação de patentes. Pode ser muito difícil negociar efetivamente com todos os titulares
de patente de uma vez e isto pode criar o risco de uma inovação útil não ser desenvolvida
devido à falta de acordo com os titulares de patente. Quando demasiados agentes têm direitos
de exclusão sobre a utilização de um recurso comum, este recurso tende a ser subutilizado.
5. Normas e patentes
As normas são consideradas vitais para a vasta adoção de novas tecnologias no mercado,
especialmente na área da eletrônica e das telecomunicações. Para além da garantia de
qualidade, as normas facilitam o desenvolvimento de produtos interoperáveis e compatíveis
por empresas concorrentes. Reduzem os custos das transações, pois fornecem uma
plataforma técnica uniforme e economias de escala para todas as empresas envolvidas numa
determinada área técnica.
"Pools" de patentes: uma maneira de lidar com a situação em que diferentes titulares de
patentes detêm muitas patentes pertinentes à norma é o que se chama “pool” de patentes.
Embora cada "pool" de patentes seja organizado de maneira diferente, tipicamente, um
"pool" permite que cada titular de patente participante utilize as patentes postas em comum,
fornece uma licença normalizada relativa a essas patentes a requerentes que não são
membros do "pool" e distribui a cada membro do "pool" uma parte dos direitos de licença em
conformidade com o acordo.
Essa abordagem foi definida por duas decisões da Câmara de Recursos: T 0641/00 (Duas
identidades/ COMVIK), de 26/09/2002, e T 0258/03 (Método de leilão /HITACHI), de
21/04/200.
Uma série de casos de referência nos Estados Unidos estabeleceram a patenteabilidade dos
softwares sob certas condições: Gottschalk v. Benson 409 U.S. 63 (1972), Parker v. Flook 437
U.S. 584 (1978); Diamond v. Diehr 450 U.S. 175 (1981); State Street Bank and Trust Company
v. Signature Financial Group, Inc., 149 F.3d 1368 (Fed. Cir. 1998); Bilski v. Kappos 561 U.S.
(2010); Alice v. CLS Bank, 573 U.S. 208 (2014); Enfish, LLC v. Microsoft Corp., 822 F.3d 1327
(Fed. Cir. 2016).
Uma patente de gene é uma patente que reivindica tipicamente uma sequência genética
especificamente isolada, a sua composição química, os processos para obtê-la ou utilizá-la
para diferentes fins, tais como testes de diagnóstico, uma sequência natural que foi alterada
pela junção de um promotor ou outras modificações para torná-la mais útil, ou uma
combinação de tais reivindicações.
Apesar do resultado do caso Myriad e de seu efeito para a limitação da matéria patenteável
na área das patentes de genes, estas ainda existem e os pedidos relacionados com
materiais genéticos, especificamente a codificação de DNA para uma expressão
industrialmente útil dos resultados, os genes como ferramentas de diagnóstico e os genes
que controla vias biológicas continuam sendo depositados. O mais recente caso de
patenteamento de genes a ser amplamente debatido foi a tecnologia de edição genética
CRISPR-Cas9; o foco não se concentrou tanto na questão da matéria, mas nas questões de
propriedade, direito à prioridade e violação.