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Capítulo 6

POTÊNCIA ELÉTRICA EM CIRCUITOS DE


CORRENTE ALTERNADA

Como se sabe, potência elétrica é dada simplesmente pelo produto da tensão pela corrente.
Em circuitos de corrente contínua, como ambas são constantes, a potência também é
constante ao longo do tempo. Já em circuitos de corrente alternada, as formas de onda
senoidais, tanto da tensão quanto da corrente, e principalmente a defasagem entre elas,
requerem a introdução de novos conceitos de potência que serão tratados a seguir.

Uma visão no domínio do tempo


Nesta seção será discutido como expressar a potência elétrica em circuitos de corrente
alternada representada no domínio do tempo, ou seja, no qual todas as tensões e correntes
são descritas por funções senoidais que envolvem a variável tempo.

Potência aparente

Considere uma fonte ideal de tensão alternada senoidal alimentando uma carga qualquer
formada de resistores, indutores ou capacitores lineares, como ilustra a figura abaixo.

Como já foi visto anteriormente, se a tensão da fonte for expressa por:

então, sem perda de generalidade, a corrente pode ser descrita por:

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Capítulo 6 – Potência Elétrica em Circuitos de Corrente Alternada

em que a tensão é usada como referência angular e a corrente está atrasada de um ângulo
em relação à tensão. Note que Vef e Ief denotam o valor eficaz da tensão e da corrente,
respectivamente.

É natural pensar que basta multiplicar o valor eficaz da tensão pelo valor eficaz da corrente
para se obter a potência elétrica consumida pela carga ou fornecida pela fonte, já que o
conceito de valor eficaz de uma tensão ou corrente alternada foi criado exatamente para
associar a elas um comportamento equivalente na forma contínua. Mas, infelizmente, isso
não é verdadeiro de modo geral. A montagem experimental mostrada na figura abaixo
permite verificar facilmente tal fato.

Na figura, o watímetro mede (em watt) a potência útil entregue à carga, ou seja, a potência
elétrica que esta converte em alguma outra forma de potência, enquanto que o voltímetro
indica o valor eficaz (em volt) da tensão sobre a carga (Vef) e o amperímetro indica o valor
eficaz (em ampére) da corrente na carga (Ief). Ao variar a carga, observa-se
experimentalmente que a leitura do watímetro assinala quase sempre um valor menor que
o produto VefIef das leituras do voltímetro e amperímetro. Somente quando a carga é
puramente resistiva (um resistor ou uma lâmpada incandescente) observa-se a igualdade
das duas grandezas. Na época em que se começou a usar corrente alternada (fim do século
19), esse comportamento pouco intuitivo permaneceu sem explicação durante bastante
tempo. Por essa razão, o produto VefIef recebeu a denominação de potência aparente,
simbolicamente Pap:

A potência aparente entregue a uma carga pode ser entendida como a quantidade de
potência que `` à primeira vista'' ou ``aparentemente'' a carga irá converter em potência útil.
Isso somente acontecerá se a tensão e a corrente estiverem em fase, como nos circuitos
puramente resistivos. Havendo qualquer defasagem entre tensão e corrente, a potência
convertida em trabalho útil será menor que a potência aparente. Note que a potência
aparente não leva em conta a defasagem entre tensão e corrente. A potência aparente
poderia ser expressa em watt, pois seu valor médio não é nulo, mas para deixar claro a qual
grandeza se refere convenciona-se usar o volt-ampere, símbolo VA, para quantificar a
potência aparente. Os equipamentos elétricos são, em geral, especificados por sua potência
aparente em VA, kVA ou MVA, exceto os motores elétricos que são especificados pela sua
potência mecânica de saída no eixo (em CV, HP ou W).

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A propósito, nos casos em que a potência útil é menor que a potência aparente, para onde
vai a diferença ? Pense nisso.

Para compreender esse estranho fenômeno é necessário analisar em detalhe o


comportamento da potência elétrica instantânea em circuitos de corrente alternada.

Potência instantânea

Como já se sabe, o produto da tensão e da corrente em função do tempo é chamado de


potência instantânea:

Considerando o problema definido na seção anterior e usando as expressões que descrevem


a tensão e corrente na carga, a potência instantânea resulta em:

Substituindo por , tem-se:

Substituindo-se agora o termo por , bem como o termo

por , obtém-se a seguinte expressão para a potência


instantânea:

Observe que a expressão da potência instantânea é constituída pela soma de duas parcelas,
que serão chamadas de Parcela 1 e Parcela 2:

O gráfico da potência instantânea, explicitando as duas parcelas, está mostrado na figura


abaixo.

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Observe que a potência instantânea (em azul) é pulsante e tem uma parte negativa, a
Parcela 1 (em vermelho) é sempre positiva, exceto em alguns instantes em que se anula,
enquanto que a Parcela 2 (em verde) é simétrica em relação ao eixo do tempo.
Normalmente se costuma convencionar como positiva a potência fornecida por uma fonte
ou recebida por uma carga. Como a curva da potência instantânea fica negativa em alguns
intervalos, isso pode ser interpretado da seguinte maneira: ora a fonte está fornecendo
energia à carga (intervalo positivo), ora a carga está devolvendo energia para a fonte
(intervalo negativo). Evidentemente, isso ocorrerá somente se a carga puder armazenar
energia de alguma forma para depois devolver, o que acontece nos indutores, que
armazenam energia em um campo magnético, e nos capacitores, que o fazem em um campo
elétrico. Esse curioso fenômeno é causado pela defasagem entre as formas de onda da

tensão e da corrente, expressa pelo ângulo .


Esse fato pode ser evidenciado imaginando-se que a carga do circuito tem caráter resistivo,

ou seja, a defasagem . Nesse caso, a expressão da potência instantânea se torna:

sendo formada somente pela Parcela 1, já que a Parcela 2 se anula e desaparece. A figura
abaixo ilustra a situação. Note que, nesse caso, a potência instantânea nunca fica negativa.

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Imaginando-se, por outro lado, que a carga tem agora um caráter puramente indutivo ou

capacitivo, ou seja, a defasagem , não importando se atrasada ou adiantada, a


potência instantânea será dada por:

em que somente aparece a Parcela 2, pois a Parcela 1 se anula. A figura em seguida ilustra
a situação. Note que a potência instantânea fica positiva durante um semi-ciclo e negativa
no outro e, portanto, seu valor médio em um período é zero.

Potência ativa, útil ou real

Como se viu, a potência instantânea indica como se comporta a potência elétrica em cada
instante de tempo, podendo ser ora positiva, ora negativa. Entretanto, para avaliar-se a
quantidade efetiva de energia que uma carga recebe da fonte e, portanto pode converter em
outra forma de energia (realizando trabalho útil), é importante conhecer, não os valores
instantâneos da potência, mas sim seu valor médio em um período. O valor médio em um
período da potência instantânea é chamado de potência ativa, útil ou real. Os nomes
foram mudando ao longo da História, sendo que potência ativa é o nome mais moderno,
embora indique menos claramente o significado da grandeza.
A potência ativa expressa pelo símbolo P, pode ser obtida calculando-se o valor médio da
potência instantânea em um período T:

Considerando a potência instantânea decomposta nas Parcelas 1 e 2, definidas


anteriormente, pode-se resolver a integral acima por partes. Tomando-se primeiramente a
integral da Parcela 1, tem-se:

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Lembrando que a integral de um cosseno em um período é sempre nula.


A integral da Parcela 2 é sempre igual a zero:

pois corresponde à integral de um seno em um período.


Portanto, a potência ativa, útil ou real pode ser obtida pela expressão geral:

em que indica a defasagem entre a tensão e a corrente. A potência ativa é expressa em


watt ou nas unidades práticas CV e HP.
Observe que a potência ativa coincide com o valor médio da Parcela 1 somente, já que o
valor médio da Parcela 2 é sempre nulo. Desse modo, pode-se dizer que somente a Parcela
1 contribui para a realização de trabalho útil na carga e que a Parcela 2, embora presente,
não realiza nenhum trabalho útil (não pode ser usada pela carga para converter em outra
forma de energia). Em resumo, a potência ativa entregue a uma carga corresponde à
quantidade de potência elétrica que a carga poderá transformar em outra forma de energia.
Em um motor elétrico, por exemplo, a potência ativa elétrica fornecida é convertida em
calor (perdas) e em potência mecânica no eixo (útil). A relação entre potência mecânica no
eixo e potência ativa elétrica é dada pelo rendimento do motor.
A figura abaixo ilustra graficamente o conceito de potência ativa, útil ou real (mostrada
em preto).

Potência reativa ou em quadratura

É importante dimensionar a parcela da potência instantânea que não realiza trabalho útil
(Parcela 2), com o objetivo de tê-la sob controle. Para isso, não adianta calcular seu valor
médio, pois se sabe que será sempre zero. Observando-se a expressão da Parcela 2, nota-se

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que esta é maior quanto maior for a amplitude da senóide , o que ocorrerá quanto

maior for a defasagem entre tensão e corrente:

Desse modo, pode-se dimensionar a quantidade de Parcela 2 pela expressão

. Essa expressão poderia ser chamada simplesmente de “magnitude da


parcela da potência instantânea que não realiza trabalho útil”, mas, como tal nome seria
obviamente muito longo, acabou recebendo nomes “fantasia”, tais como potência reativa
(mais moderno) ou em quadratura (mais antigo) no decorrer da História da Eletricidade.
Portanto, o que se chama de potência reativa não é realmente “potência” na acepção da
palavra, porém o termo será aqui usado, pois tem sido largamente empregado na literatura.
O nome em quadratura foi emprestado da Astronomia e significa “estar em ângulo reto”,
sendo usado para descrever a posição relativa de astros no céu. A razão por ter sido
utilizado para designar potência reativa (aquela que tem a ver com reatâncias) vem do
seguinte fato: as expressões da potência ativa (envolvendo cosseno) e da potência reativa
(envolvendo seno) sugerem que estas estão sempre deslocadas de entre si. Essa antiga
denominação explica por que o símbolo Q é comumente usado para denotar potência
reativa.
Para deixar claro que potência reativa não é uma potência útil, costuma-se usar como
unidade, não o watt, mas sim volt-ampere reativo, símbolo VAr:

A propósito, será que a existência de potência reativa é sempre indesejável ? E no caso dos
capacitores? Pense nisso.

Fator de potência

A eventual discrepância entre potência aparente e potência útil (ativa) em qualquer


elemento de circuito pode ser quantificada por um número adimensional chamado fator de
potência, símbolo fp, definido como o quociente da potência ativa pela potência aparente:

Como o fator de potência varia entre 0 (carga puramente indutiva ou capacitiva) e 1 (carga
puramente resistiva), ele é usualmente expresso em porcentagem. Desse modo, dizer que
uma carga tem fator de potência de 70 %, significa dizer que apenas 70 % de sua potência
aparente corresponde à potência útil.

O fator de potência pode ser associado ao ângulo de defasagem entre tensão e corrente da
seguinte forma:

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Portanto, quanto menor a defasagem entre tensão e corrente, maior será o fator de potência.
Dependendo do tipo da carga, o fator de potência pode ser classificado como indutivo,
resistivo ou capacitivo. Se a carga tiver caráter indutivo, a corrente estará atrasada de um

ângulo em relação à tensão. Nesse caso, o fator de potência será classificado como
indutivo. É o que normalmente acontece em cargas comerciais e industriais, onde existem
muitos motores elétricos, que tendem a apresentar fatores de potência baixos.

Se a carga tiver caráter resistivo, a corrente estará em fase com a tensão, ou seja, .
Nesse caso, o fator de potência será igual a 100 %, sendo classificado como resistivo. As
cargas residenciais, onde predomina o consumo de eletricidade para iluminação, são
classificadas como resistivas.

Por outro lado, se a carga tiver caráter capacitivo, a corrente estará adiantada de um

ângulo em relação à tensão. Nesse caso, o fator de potência será classificado como
capacitivo.

É muito importante para a operação de um sistema de suprimento de energia elétrica manter


o fator de potência das cargas o mais alto possível, pois isso permite utilizar de modo mais
eficiente a capacidade de potência aparente dos equipamentos do sistema, reduzindo os
investimentos necessários para fornecer uma determinada quantidade de potência ativa. Por
essa razão, estabelecem-se, em cada país, valores mínimos de fator de potência para cargas
comerciais e industriais. No Brasil, o valor mínimo é 92 %. Este assunto, por sua grande
importância econômica, será abordado com maiores detalhes mais adiante.

Uma visão no domínio complexo dos fasores


Já foi visto que, utilizando o conceito de fasor e impedância, é possível (e conveniente)
transformar um problema de circuitos de corrente alternada do domínio do tempo para o
domínio dos fasores representados por números complexos. Também foi mostrado que
potência elétrica no domínio do tempo é expressa pela potência instantânea, que pode ser
decomposta em duas parcelas. Como então expressar potência elétrica no domínio dos
fasores? Qual será a expressão correspondente à potência instantânea e às suas
parcelas?

Potência complexa

Como o domínio dos fasores corresponde ao plano de números complexos, somente podem
habitar esse domínio grandezas elétricas que possam ser representadas por meio de
números complexos, tais como fasores de tensão ou corrente, impedâncias e admitâncias,
Portanto, uma potência elétrica neste domínio também deverá ser expressa por um número
complexo, como segue.
A potência complexa, símbolo S, é comumente definida como o produto do fasor da
tensão pelo fasor conjugado da corrente:
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Essa é a expressão no domínio dos fasores que corresponde à potência instantânea no


domínio do tempo. Observe que a potência complexa é formada pelo produto de uma
tensão por uma corrente, porém ambas descritas por fasores. A potência complexa poderia

ser definida de modo alternativo como, por exemplo, ou mesmo . O motivo pelo
qual se utiliza o fasor conjugado da corrente na definição é manter inalterada a
convenção de sinais anteriormente estabelecida no domínio do tempo, ou seja, considerar
positiva a potência reativa associada a uma carga indutiva e negativa a uma carga
capacitiva. Desse modo, mantém-se a coerência e evitam-se confusões.
No domínio dos fasores, o circuito anteriormente utilizado para estudar a potência
instantânea no domínio do tempo transforma-se em:

em que a tensão da fonte e a corrente que circula são representados pelos respectivos
fasores e a carga é representada por sua impedância.

O fasor da tensão e o fasor da corrente (suposta atrasada de um ângulo , por exemplo) são
expressos por números complexos, em coordenadas polares ou exponenciais, como:

Note a maneira como os fasores da tensão e corrente foram escritos acima. Essa é uma
notação compacta muito utilizada para representar fasores, subentendendo-se que estes
estão expressos na forma polar ou exponencial, onde se escreve somente o valor eficaz e a
fase.
Aplicando-se a definição, a potência complexa pode ser obtida por:

lembrando que o produto de dois números complexos na forma polar corresponde ao


produto dos módulos e soma dos ângulos. Evidentemente, se a corrente estiver adiantada,

então a fase será negativa na expressão da potência complexa.

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A potência complexa pode ser representada graficamente no plano complexo da seguinte


forma:

Note que o módulo da potência complexa, |S|, corresponde à potência aparente, enquanto
que sua parte real corresponde à potência ativa e sua parte imaginária corresponde à
potência reativa, permitindo exprimir a potência complexa, na forma retangular, como a
adição de duas parcelas:

em que e . Essas parcelas, P e jQ, correspondem no


domínio dos fasores à Parcela 1 e à Parcela 2 da potência instantânea no domínio do tempo,
respectivamente.
A potência complexa é expressa na unidade volt-ampere, de modo semelhante à potência
aparente.

Triângulo de potências: uma visão à moda grega


Sabe-se que os matemáticos da Grécia Antiga representavam os números e as incógnitas
através de segmentos de reta. Os cálculos eram então realizados utilizando-se a geometria
desses segmentos. Para Euclides, todos os elementos da Matemática, tais como os números
conhecidos, os números desconhecidos (incógnitas), conjuntos e sentenças matemáticos,
deveriam ser representados por elementos geométricos que pudessem ser desenhados. Na
Grécia Clássica, a representação numérica era menosprezada por ser considerada
imperfeita. Uma das razões para isso provinha da principal descoberta da escola pitagórica,
o famoso Teorema de Pitágoras, que é perfeito geometricamente mas impõe a existência do

número , destruindo a continuidade do campo dos números racionais (por isso é


chamado até hoje de número irracional). Essa concepção prevaleceu por quase mil anos,
tendo sido abandonada no Ocidente somente durante o Renascimento.
Muito embora as potências elétricas ativa, reativa e aparente sejam normalmente expressas
através de números, é possível (e útil) representá-las através de segmentos de reta, à moda
da Grécia Antiga: as potência ativa e reativa podem ser associadas aos catetos de um
triângulo retângulo, enquanto que a potência aparente corresponde à hipotenusa. Esse
triângulo é chamado de triângulo de potências, e está ilustrado na figura abaixo.
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A utilização do triângulo de potências permite não só visualizar as relações entre as


potências, facilitando a solução de problemas, como também proporciona o uso de técnicas
de desenho geométrico para resolvê-los. Além disso, o triângulo de potências, sendo
retângulo, possui propriedades que permitem escrever novas relações como, por exemplo, a
que resulta da aplicação do teorema de Pitágoras:

Outra relação muito útil para resolver o problema do ajuste do fator de potência é:

Exemplo de aplicação: fonte senoidal com carga indutiva


Considere novamente o circuito utilizado anteriormente para mostrar a aplicação do método
dos fasores, reproduzido abaixo por facilidade:

A resolução desse circuito mostrou que a tensão e corrente na carga são dadas por:

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Deseja-se agora obter: (a) a expressão da potência instantânea; (b) qual o valor das
potências aparente, ativa e reativa na carga; (c) qual o fator de potência da carga; (d) a
expressão da potência complexa; (e) um esboço do triângulo de potências.
Para responder ao item (a) basta considerar a expressão geral da potência instantânea:

Lembrando das expressões que exprimem a potência ativa (P) e a potência reativa (Q),
pode-se escrever também que:

Desse modo, é melhor obter primeiro as potências do item (b):

Portanto, a expressão numérica da potência instantânea fica sendo:

O gráfico da potência instantânea, mostrando suas duas parcelas, está apresentado abaixo,
completando a resposta ao item (a):

Note que as potências ativa e reativa são numericamente iguais, já que a tensão e a corrente
estão defasadas de , fato evidenciado graficamente pelo tangenciamento da curva da
Parcela 2 (em verde) com a reta que indica a potência ativa (em preto).
O fator de potência da carga pode ser calculado por:

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A expressão da potência complexa é:

em coordenadas polares. Em coordenadas retangulares, fica:

Neste caso, o triângulo de potências pode ser desenhado como segue:

A importância do ajuste do fator de potência


As instalações elétricas industriais e comerciais apresentam, em geral, fator de potência

naturalmente baixo e indutivo, em razão do grande número de motores elétricos


que constituem a carga. No Brasil, cerca de 60 % da carga industrial corresponde a motores
de indução que, por sua vez, respondem por cerca de 40 % da carga total (residencial,
industrial, comercial e rural).
Fator de potência baixo significa pequeno aproveitamento de potência útil em comparação
com um grande fornecimento de potência aparente. Se nada fosse feito, isso exigiria das
empresas de energia elétrica o fornecimento de elevadas correntes com reduzida realização
de trabalho útil. Entretanto, se o fator de potência for, de algum modo, ajustado para
valores elevados (próximos de 100 %), então a mesma quantidade de trabalho útil (potência
ativa) poderá ser extraída com o fornecimento de menores correntes. Na verdade, se o fator
de potência for exatamente 100 %, então a corrente será mínima. Esse fato pode ser
entendido da seguinte maneira.

Considere uma carga cuja potência ativa seja dada por , em que V e I são
valores eficazes. Admitindo que a potência ativa bem como a tensão sejam mantidas
constantes, a relação entre a corrente fornecida à carga e seu fator de potência deve

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obedecer à equação , cujo gráfico tem o formato de uma hipérbole


eqüilátera mostrado abaixo:

Lembre-se que o fator de potência varia entre 0-100 % e pode ser indutivo, resistivo ou
capacitivo. Note no gráfico que fatores de potência baixos, sejam indutivos ou capacitivos,
exigem altas correntes, enquanto que a corrente é mínima para fator de potência resistivo
(100 %).

Fator de potência mínimo legal


São evidentes as vantagens de se trabalhar com fatores de potência elevados, e
conseqüentemente com correntes próximas ao mínimo: menor capacidade em
equipamentos de geração, transformação, transmissão; menores perdas de energia por efeito
Joule; condutores de menor bitola, etc. Para forçar isso, cada país estabelece normas legais
especificando o valor mínimo de fator de potência que as instalações industriais e
comerciais devem ter. No Brasil, esse valor atualmente é 92 %. Em alguns países, como
França e Japão, o fator mínimo é 98 %.
Como ``incentivar'' os consumidores industriais e comerciais a elevarem o fator de potência
? A legislação autoriza as empresas de energia elétrica a cobrarem um adicional na energia
ativa consumida (e na demanda também) se o fator de potência estiver menor que o mínimo
legal, usando a seguinte fórmula:

A aplicação dessa fórmula, no caso de um consumidor industrial com fator de potência de


70 %, corresponde a um acréscimo de 31 % na conta de energia; se o fator de potência for
de somente 50 %, o acréscimo na conta pode chegar a 84 %.

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Como ajustar o fator de potência em instalações


comerciais e industriais
O método mais simples e econômico de elevar o fator de potência é instalar bancos de
capacitores em paralelo com a carga, como ilustra a figura abaixo, lembrando que as
instalações comerciais e industriais são geralmente trifásicas:

O efeito do banco de capacitores consiste em contrabalançar o atraso da corrente em


relação à tensão, ocasionado pelo caráter indutivo da carga, através do fornecimento de
corrente adiantada em relação à tensão. Isso pode ser compreendido considerando-se uma
carga industrial equilibrada (a carga em cada fase é a mesma), fato que permite usar o
modelo por fase do problema, como mostra a figura abaixo:

No modelo por fase, o capacitor representado corresponde ao capacitor equivalente por fase
conectado em paralelo com a carga. A impedância Z representa a carga por fase, na qual
circula a corrente fasorial Im, que é a mesma antes e depois da instalação do capacitor. A
corrente fasorial fornecida pela fonte, após a colocação do capacitor, será a soma fasorial de
Ic e Im, como ilustrado na figura abaixo:

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Note na figura que o fasor da corrente fornecida pelo capacitor estará sempre adiantado de
em relação ao fasor da tensão, e que, portanto, a projeção do fasor da corrente
resultante (fornecida pela fonte) permanecerá sempre a mesma, qualquer que seja a corrente
do capacitor. Em outras palavras, o capacitor somente contribui com potência reativa, não
alterando a potência ativa fornecida à instalação industrial. Em conseqüência, o fator de

potência (dado por ) será tanto maior quanto maior for a corrente fornecida pelo
capacitor. Note finalmente que a corrente resultante tenderá ter amplitude cada vez menor à
medida que o fator de potência for sendo elevado, atingindo valor mínimo quando estiver
em fase com a tensão. Entretanto, deve-se ter o cuidado de não instalar capacitores demais,
pois o fator de potência pode voltar a diminuir, como mostra o diagrama fasorial abaixo:

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Os capacitores necessários para corrigir o fator de potência devem ser especificados em


termos de: nível de tensão, potência reativa e capacitância.
A quantidade de potência reativa a ser fornecida pelo capacitor pode ser facilmente
calculada usando-se o triângulo de potências, como indicado na figura abaixo:

Assumindo que a instalação industrial consome a potência ativa P com fator de potência

indutivo, deseja-se elevar seu fator de potência para indutivo (em geral, para
92 % que é o mínimo legal). O triângulo de potências mostra que a potência reativa que o
capacitor deve fornecer é obtida por:

A capacitância pode ser calculada como segue:

A propósito, por que o capacitor usado para corrigir o fator de potência não é colocado
em série com a carga? Pense nisso.

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Controlador automático do fator de potência


Em grandes instalações comerciais ou industriais, a carga ativa normalmente varia bastante
ao longo do dia, dependendo do ritmo das atividades. Se o consumo de energia elétrica é
significativo, então torna-se compensador instalar um controlador automático do fator de
potência, cujo diagrama esquemático está mostrado na figura abaixo:

O sistema consiste de uma unidade de medição da tensão, corrente e defasagem entre elas
(geralmente um registrador digital de tarifação diferenciada - RDTD), de uma unidade
microprocessada (controlador) que estima a potência ativa, a aparente e o fator de potência
no momento, calcula a potência reativa e capacitância por fase necessárias, determina qual
o arranjo de capacitores a ser feito e comanda as chaves eletrônicas para implementar tal
arranjo. Desse modo, garante-se que o fator de potência estará sempre ajustado no valor
desejado, independentemente do nível de demanda de energia elétrica.

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